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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Universidade Federal de Ouro Preto Escola de Minas Departamento de Engenharia Civil Programa de Pós-Graduação em Construção Metálica Mestrado Profissional em Construção Metálica (MECOM) Aplicabilidade de Coberturas em Cúpulas Metálicas em Edificações Religiosas Estudos de Caso Ouro Preto 2018

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MINISTRIO DA EDUCAO

Universidade Federal de Ouro Preto Escola de Minas Departamento de Engenharia Civil Programa de Ps-Graduao em Construo Metlica

Mestrado Profissional em Construo Metlica (MECOM)

Aplicabilidade de Coberturas em Cpulas Metlicas em Edificaes Religiosas

Estudos de Caso

Ouro Preto 2018

MINISTRIO DA EDUCAO

Universidade Federal de Ouro Preto Escola de Minas Departamento de Engenharia Civil Programa de Ps-Graduao em Construo Metlica

Mestrado Profissional em Construo Metlica (MECOM)

Bernardo Meira Souza Braz de Matos

Aplicabilidade de Coberturas em Cpulas Metlicas em Edificaes Religiosas

Estudos de Caso

Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Construo Metlica do Departamento de Engenharia Civil da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto como requisito para a obteno do ttulo de Mestre em Construo Metlica.

Orientadora: Prof. Rovadvia Aline de Jesus Ribas, D.Sc. Coorientador: Prof. Geraldo Donizetti de Paula, D.Sc.

Ouro Preto 2018

Aos meus pais, Fbio e Eliana,

Meu irmo Fernando, avs Ndia e Terezinha (in memoriam) e Ailana.

AGRADECIMENTOS

Agradeo a Deus por ter me dado fora e coragem para no desistir perante as dificuldades

enfrentadas durante esse percurso, principalmente no me deixando desanimar com o

cansao das idas de toda semana Ouro Preto.

Ao meu pai Fbio, meu grande espelho de engenheiro, por ser meu maior exemplo como

profissional e, principalmente, como pessoa. minha me Eliana pela pacincia,

compreenso, carinho e por estar sempre do meu lado me apoiando. Ao meu irmo Fernando

pela amizade e parceria.

minha namorada Ailana pelo amor, carinho, sorrisos e companheirismo em todos os

momentos dessa caminhada, com seu apoio incansvel.

minha av Terezinha que foi uma grande motivadora na realizao dessa etapa que foi o

mestrado, com carinhos, ateno, oraes, perguntas e incentivos. Infelizmente a senhora

no est do meu lado fisicamente para comemorar essa vitria, mas tenho certeza que est

vibrando do cu.

minha av Ndia pelas constantes oraes, que tenho certeza que me deram mais fora

para enfrentar as dificuldades enfrentadas.

Aos meus amigos, aqui representados pelo Fernando Chiodi e Lucas Moura, pelos momentos

de alegria, lazer e diverso, que aliviaram a tenso durante todo o curso.

Aos professores pelo conhecimento repassado a mim, pelas horas de convivncia e sempre

com disponibilidade quando necessrio. Aos amigos e colegas do MECOM que durante todo

esse perodo foram companhias excepcionais ajudando no aprendizado.

minha orientadora, Professora Dra. Rovadvia Aline de Jesus Ribas, que sempre se

mostrou disponvel com conhecimento, dedicao e ateno, facilitando meu aprendizado e

meu trabalho com excelentes orientaes.

Universidade Federal de Ouro Preto, em especial ao Departamento de Engenharia Civil

da Escola de Minas que disponibilizou o mestrado profissional bem como excelentes

professores e uma estrutura que proporcionou maior conhecimento.

Ao arquiteto Gferson Diogo de Oliveira, meu parceiro na FADIBRAMA Itaguara, que me

ajudou com grande material para a concluso desse trabalho bem como a amizade e

aprendizado para ajudar a vencer essa etapa.

Ao arquiteto Edson Vilela e ao padre Jos Raimundo Bechelaine, pela disponibilidade

apresentada, por se mostrarem extremamente atenciosos, me apresentando e fornecendo

dados e materiais sobre a Igreja Nossa Senhora do Lbano.

s minhas companheiras da FADIBRAMA que entenderam a minha ausncia durante todo

o perodo de aulas e no deixaram a empresa desamparada.

RESUMO

A utilizao do ao como material estrutural apresenta vantagens sobre o concreto armado

em comparao com os demais materiais, tais como velocidade e facilidade de montagem,

estruturas e fundaes mais leves e relativo baixo custo em funo de sua elevada resistncia

estrutural. Tambm, a estrutura metlica vem sendo bastante utilizada em construes leves

e com grandes reas livres, devido sua elevada resistncia mecnica e s formas

geomtricas que as barras podem adquirir. Assim, tm-se optado por essa concepo

estrutural na construo de grandes obras de reunies de pblico que necessitam de extensas

reas livres, como estdios, templos religiosos e ginsios. Nesse contexto, esse estudo teve

como objetivo avaliar a aplicabilidade da estrutura metlica em cpulas de coberturas de

edificaes destinadas a celebraes religiosas atuais, apresentando as vantagens e

dificuldades decorrentes desse uso. Fazendo uso de materiais de referncia, analisou-se a

crescente utilizao da estrutura metlica em coberturas de obras religiosas, em dois estudos

de caso, a Igreja Sagrada Famlia de Nazar, localizada em Itaguara, MG, e a Igreja Nossa

Senhora do Lbano, localizada em Carmo do Cajuru, MG, cujas cpulas so estruturadas em

ao. Tambm foram apresentados os materiais utilizados como fechamento das cpulas.

Diante disso, foi realizada uma anlise comparativa em relao ao gasto financeiro com

materiais caso a viga de concreto armado de sustentao da cpula metlica da Igreja

Sagrada Famlia de Nazar fosse executada em perfil metlico. A partir dos resultados

obtidos, pode-se inferir que a substituio do concreto armado pelo perfil metlico, mesmo

apresentando um valor mais alto, pode ser uma alternativa interessante em se tratando de

valores absolutos em relao obra como um todo, que foi de aproximadamente 0,26% do

valor da construo, o que no representa um valor significativo em uma obra desse porte.

Palavras-chave: Estrutura metlica. Cpula metlica. Construo religiosa.

ABSTRACT

The use of steel as a structural material has advantages over reinforced concrete compared

to other materials such as speed and ease of assembly, lighter structures and foundations and

relatively low cost due to its high structural strength. Also, the metallic structure has been

used extensively in light constructions and with large free areas, due to its high mechanical

resistance and the geometric shapes that the bars can acquire. Thus, this structural conception

has been chosen in the construction of large works of public meetings that need extensive

free areas such as stadiums, religious temples and gymnasiums. In this context, this study

had as objective to approach the applicability of the metallic structure in domes of roofs of

buildings destined to present religious celebrations, presenting the advantages and

difficulties resulting from this use. Using reference materials, we have analyzed the growing

use of the metallic structure in covers of religious works, in two case studies, the Igreja

Sagrada Famlia de Nazar, located in Itaguara, MG, and the Igreja Nossa Senhora do

Lbano, located in Carmo do Cajuru, MG, whose domes are structured in steel. Also

presented were the materials used as closure of the domes. Therefore, a comparative analysis

was carried out in relation to the financial expense with materials in case the reinforced

concrete beam of support of the metal dome of the Igreja Sagrada Famlia de Nazar was

executed in metallic profile. From the obtained results, it can be inferred that the substitution

of the reinforced concrete by the metallic profile, even presenting a higher value, can be an

interesting alternative when dealing with absolute values in relation to the work as a whole,

which was approximately 0.26% of the value of the construction, which does not represent

a significant value in a construction of this size.

Keywords: Metal structure. Metal dome. Religious building.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Conjunto de monumentos em pedra conhecido como Stonehenge, Inglaterra .... 13

Figura 2. Baslica de So Pedro, Vaticano .......................................................................... 14

Figura 3. Cpula metlica, Igreja de Itaguara - MG ............................................................ 16

Figura 4. Estrutura metlica utilizada na Igreja de Itaguara - MG ...................................... 17

Figura 5. Igreja Sagrada Famlia de Nazar, Itaguara - MG ............................................... 18

Figura 6. Cpula metlica da Igreja Nossa Senhora do Lbano, Carmo do Cajuru - MG ... 19

Figura 7. Montagem da cpula metlica da Igreja Sagrada Famlia de Nazar, Itaguara -

MG ....................................................................................................................................... 20

Figura 8. Palcio de Latro, Roma ..................................................................................... 30

Figura 9. Igreja de So Francisco de Assis, Ouro Preto - MG ............................................ 33

Figura 10. Igreja de Nossa Senhora Me dos Homens, em estilo neogtico, Catas Altas -

MG ....................................................................................................................................... 34

Figura 11. Igreja de So Francisco de Assis, Belo Horizonte - MG ................................... 35

Figura 12. Cpula metlica, Shopping Flamboyant, Curitiba - PR ..................................... 46

Figura 13. Componentes de uma cpula ............................................................................. 48

Figura 14. Classificao das cpulas quanto forma em planta ......................................... 50

Figura 15. Classificao das cpulas quanto forma dos meridianos ................................ 50

Figura 16. Classificao das cpulas quanto disposio do vrtice ................................. 51

Figura 17. Representao grfica em 3D do projeto arquitetnico ..................................... 55

Figura 18. Cidade de Itaguara - MG .................................................................................... 56

Figura 19. Diocese de Oliveira - MG .................................................................................. 57

Figura 20. Projeto arquitetnico do subsolo ........................................................................ 59

Figura 21. Projeto arquitetnico do trreo ........................................................................... 59

Figura 22. Projeto arquitetnico do coro ............................................................................. 60

Figura 23. Localizao dos furos de sondagem ................................................................... 61

Figura 24. Resultado do SPT do Furo 1 .............................................................................. 61

Figura 25. Resultado do Furo 2 ........................................................................................... 62

Figura 26. Cintas de travamento em concreto armado ........................................................ 62

Figura 27. Vigas e pilares em concreto armado .................................................................. 63

Figura 28. viga balco em concreto armado .................................................................... 63

Figura 29. Dimenses da cpula (dimenses em mm) ........................................................ 64

Figura 30. Estrutura metlica da cpula da Igreja Sagrada Famlia de Nazar, Itaguara -

MG ....................................................................................................................................... 66

Figura 31. Vista externa da cpula da Igreja Sagrada Famlia de Nazar - Itaguara - MG . 66

Figura 32. Maquete eletrnica da Igreja Nossa Senhora do Lbano, Carmo do Cajuru - MG

............................................................................................................................................. 67

Figura 33. Cidade de Carmo do Cajuru MG .................................................................... 68

Figura 34. Diocese de Divinpolis ...................................................................................... 69

Figura 35. Cpula metlica da Igreja Nossa Senhora do Lbano ........................................ 71

Figura 36. Trelias principais .............................................................................................. 72

Figura 37. Sistema estrutural da Igreja Nossa Senhora do Lbano (dimenses em mm) .... 73

Figura 38. Processo de pintura das peas metlicas ............................................................ 76

Figura 39. Iamento da estrutura metlica........................................................................... 76

Figura 40. Fechamento em policarbonato ........................................................................... 77

Figura 41. Aplicao da borracha lquida ............................................................................ 79

Figura 42. Cpula aps aplicao da borracha lquida ........................................................ 80

Figura 43. Montagem por conjuntos parciais ...................................................................... 82

Figura 44. Resultado da queda da estrutura ......................................................................... 83

Figura 45. Fechamento em ao inox da Igreja Nossa Senhora do Lbano .......................... 84

Figura 46. Viga "balco" em concreto armado .................................................................... 86

Figura 47. Frma da viga em concreto armado ................................................................... 87

Figura 48. Projeto estrutural da viga em concreto armado .................................................. 87

Figura 49. Perfil W410x60 (unidades em mm) ................................................................... 92

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Peso da barra de ao ............................................................................................ 88

Tabela 2. Quantitativos do ao utilizado ............................................................................. 88

Tabela 3. Quantitativo de concreto ...................................................................................... 89

Tabela 4. Custo da viga "balco" em concreto armado ....................................................... 89

Tabela 5. rea de ao por barra ........................................................................................... 90

Tabela 6. Valor da estrutura metlica em perfil W410x60.................................................. 93

Tabela 7. Custos comparativos por material utilizado como estrutura principal ................ 93

SUMRIO

1. INTRODUO .......................................................................................................... 13

1.1 Objetivos ........................................................................................................................ 15

1.2 Justificativa .................................................................................................................... 17

1.3 Metodologia ................................................................................................................... 18

1.4 Estrutura do Trabalho .................................................................................................... 21

2. ARQUITETURA E O AO ...................................................................................... 23

2.1 Histrico da Utilizao do Ao no Brasil ...................................................................... 23

2.2 Vantagens da Utilizao do Ao ................................................................................... 25

2.3 Desvantagens da Utilizao do Ao .............................................................................. 27

3. ARQUITETURA RELIGIOSA ................................................................................ 29

3.1 Arquitetura Religiosa no Brasil ..................................................................................... 31

3.2 Arquitetura Religiosa Mineira Sculo XVIII ............................................................. 32

3.3 Arquitetura Religiosa Mineira Sculo XIX ................................................................ 34

3.4 Arquitetura Religiosa Mineira Sculo XX ................................................................. 35

3.5 Cobertura na Arquitetura Religiosa ............................................................................... 36

3.6 Projetos na Arquitetura Religiosa .................................................................................. 37

3.7 Espaos das Igrejas ........................................................................................................ 38

3.7.1 Presbitrio ................................................................................................................... 39

3.7.1.1 Altar ......................................................................................................................... 39

3.7.1.2 Ambo ..................................................................................................................... 40

3.7.1.3 Batistrio .................................................................................................................. 40

3.7.1.4 Sacrrio .................................................................................................................... 41

3.7.2 Nave ............................................................................................................................ 41

3.7.2.1 Conforto trmico ..................................................................................................... 41

3.7.2.2 Acstica ................................................................................................................... 42

3.7.2.3 Iluminao ............................................................................................................... 43

3.7.2.4 Portas e janelas ........................................................................................................ 43

3.7.3. Sacristia ..................................................................................................................... 44

3.7.4. trio ........................................................................................................................... 44

3.8 Construo ..................................................................................................................... 44

4. CPULAS ................................................................................................................... 45

4.1 Classificaes das Cpulas ............................................................................................ 48

4.1.1 Classificao das cpulas quanto flecha .................................................................. 49

4.1.2 Classificao das cpulas quanto forma em planta ................................................. 49

4.1.3 Classificao das cpulas quanto forma dos meridianos ......................................... 50

4.1.4 Classificao das cpulas quanto forma construtiva ............................................... 50

4.1.5 Classificao das cpulas quanto disposio do vrtice .......................................... 51

4.2 Execuo de Cpulas Metlicas .................................................................................... 51

4.2.1 Fabricao ................................................................................................................... 51

4.2.2 Acabamento ................................................................................................................ 51

4.2.3 Montagem ................................................................................................................... 52

4.2.3.1 Montagem por elemento .......................................................................................... 52

4.2.3.2 Montagem por conjuntos parciais............................................................................ 53

4.2.3.3 Montagem por iamento .......................................................................................... 53

4.3 Patologias em Cpulas................................................................................................... 53

5. ESTUDOS DE CASOS .............................................................................................. 55

5.1 Igreja Sagrada Famlia de Nazar (Itaguara - MG) ....................................................... 55

5.1.1 A cidade de Itaguara - MG ......................................................................................... 56

5.1.2 Parquia Nossa Senhora das Dores - MG .................................................................. 57

5.1.3 O Projeto arquitetnico da Igreja Sagrada Famlia de Nazar ................................... 58

5.1.4 Construo da fundao, pilares e vigas ..................................................................... 60

5.1.4.1 Fundao .................................................................................................................. 60

5.1.4.2 Pilares e vigas .......................................................................................................... 63

5.1.5 A cpula metlica da Igreja Sagrada Famlia de Nazar ............................................ 64

5.1.5.1 Sistema estrutural .................................................................................................... 64

5.2 Igreja Nossa Senhora do Lbano (Carmo do Cajuru - MG) .......................................... 67

5.2.1 A cidade de Carmo do Cajuru - MG .......................................................................... 67

5.2.2 Parquia Nossa Senhora do Lbano ............................................................................ 69

5.2.3 O projeto arquitetnico da Igreja Nossa Senhora do Lbano...................................... 70

5.2.4 Pilares ......................................................................................................................... 70

5.2.5 A cpula metlica da Igreja Nossa Senhora do Lbano .............................................. 70

5.2.5.1 O sistema estrutural ................................................................................................. 71

6. AVALIAO DA APLICABILIDADE DAS CPULAS METLICAS ............ 74

6.1 Igreja Sagrada Famlia de Nazar, Itaguara - MG ......................................................... 74

6.1.1 Vantagens da utilizao da estrutura metlica ............................................................ 74

6.1.2 Cuidados no processo construtivo e na montagem ................................................... 75

6.1.3 Fechamento da cobertura .......................................................................................... 77

6.2 Igreja Nossa Senhora do Lbano, Carmo do Cajuru - MG .......................................... 80

6.2.1 Vantagens da utilizao da estrutura metlica .......................................................... 80

6.2.2 Cuidados no processo construtivo e na montagem ................................................... 81

6.2.3 Fechamento da cobertura .......................................................................................... 83

7. ANLISE DE CUSTO DA VIGA BALCO DA IGREJA SAGRADA

FAMLIA DE NAZAR, ITAGUARA - MG ............................................................... 86

8. CONSIDERAES E SUGESTES .................................................................... 94

8.1 Consideraes Finais ................................................................................................... 94

8.2 Sugestes para Trabalhos Futuros ............................................................................... 95

REFERNCIAS .............................................................................................................. 96

Anexo A - Valores de Kc e Ks para o ao CA-50 - fck < 50 MPa .............................. 100

Anexo B - Perfil VS ........................................................................................................ 101

Anexo C - Perfil Laminado Gerdau ............................................................................. 102

13

1. INTRODUO

A arquitetura uma forma de arte que se relaciona diretamente com a histria do homem e

respectivamente com sua evoluo. Deu-se incio nos primeiros tempos como uma forma do

ser humano se proteger dos grandes predadores e de fenmenos naturais, como tempestades,

furaces etc. Apesar de ter sua base como funo de proteo, fatores vivenciados pelos

homens posteriormente, como o crescimento das civilizaes e formao de cidades ou a

simples busca por formas agradveis aos olhos foraram a humanidade a buscar novos

materiais, novas ferramentas e tcnicas de construo. Assim, a arquitetura passa por um

processo evolutivo constante at hoje.

Na pr-histria, surgiram os primeiros monumentos arquitetnicos, tendo como material

principal a utilizao de pedras, como por exemplo, Stonehenge, localizado na Inglaterra

(Figura 1).

Figura 1. Conjunto de monumentos em pedra conhecido como Stonehenge, Inglaterra

Fonte: STONEHENGE (2017)

No perodo conhecido como Antiguidade, surgem residncias construdas principalmente

por argila, tijolos de lama e madeira. Nessa poca histrica, a arquitetura comea a tambm

se tornar uma arte para templos e tumbas, como por exemplo, as pirmides do Egito, em que

suas inspiraes so em formas geomtricas e novas tcnicas construtivas, como a utilizao

14

de encaixes, so introduzidas. Glancey (2001) ressalta que a arquitetura do Egito possui

originalidade, alm de ser misteriosa, coerente com seus princpios, rica e bem organizada.

Na Antiguidade ainda aparecem outras duas vertentes da arquitetura, a grega e a romana. Os

gregos buscavam a perfeio por meio da geometria, propores e perspectiva. Os romanos

utilizavam arcos e se tornaram importantes no que diz respeito construo de estradas em

linha reta.

A Idade Mdia um perodo em que a arquitetura religiosa se sobressai com monumentos

conhecidos e que servem de referncia at hoje. Foi uma poca marcada pelo estilo gtico,

e tambm de inovaes construtivas, em que atravs de arcobotantes foi possvel aumentar

a altura das edificaes. Outra caracterstica marcante desse perodo que a arquitetura

tambm foi utilizada como forma de organizao urbana.

Aps a Idade Mdia, veio o perodo conhecido como Renascimento, em que as cpulas, as

quais so objetos desse trabalho, comearam a serem utilizadas e tendo bastante destaque na

forma arquitetnica das edificaes. A grande obra desse perodo e que a cpula tem bastante

importncia esttica e religiosa, a Baslica de So Pedro, localizada no Vaticano (Figura

2).

Figura 2. Baslica de So Pedro, Vaticano

Fonte: INFOESCOLA: NAVEGANDO E APRENDENDO (2017)

15

A fase conhecida como Arquitetura Moderna tem incio com a Revoluo Industrial e um

dos principais pontos a extensa utilizao do ferro, em que novos materiais como o ao,

passa a ser utilizado, dando mais opes de formas arquitetnicas para as edificaes.

A Arquitetura Ps-Moderna conhecida pelo interesse cultura popular e a insero do

projeto ao ambiente em que for construdo. Chegando at Arquitetura atual, em que o foco

se constitui de edificaes funcionais, com conforto e caracterstica sustentvel, utilizando

diversos materiais para alcanar o resultado de uma obra que seja referncia futuramente.

Assim, por meio da inovao das tcnicas construtivas e utilizao de novos materiais cada

vez mais presente nas edificaes, a arquitetura se moderniza como um todo, incluindo

construes que at h um tempo possuam caractersticas mais conservadoras, como as

igrejas.

Com isso, a busca pela forma esttica aliada ao melhor custo benefcio representa como a

arquitetura religiosa est se transformando, principalmente atravs da utilizao de

coberturas em estruturas metlicas.

Nesse aspecto, as cpulas, que desde muito tempo foram utilizadas em catedrais, igrejas e

templos religiosos, esto cada vez mais sendo executadas em estrutura metlica, pois suas

vantagens em relao a outros materiais proporcionam grandes cpulas que aliam beleza,

robustez, ousadia e a harmonia com o ambiente em que esto sendo inseridas.

1.1 Objetivos

O objetivo geral desse trabalho avaliar a aplicabilidade do uso de cpulas estruturadas em

ao em coberturas de edificaes religiosas.

Como objetivos especficos dessa pesquisa, podem-se enumerar:

Na fase da elaborao dos projetos estruturais:

a) apresentar o tipo de estrutura metlica utilizada como material principal das cpulas

componentes das coberturas de duas igrejas (Figura 3);

b) expor as vantagens obtidas pela utilizao do ao.

16

Na fase de execuo das obras dos estudos de casos:

a) apresentar as dificuldades encontradas na fase de montagem;

b) elencar os problemas de fechamento decorrentes das curvaturas da estrutura metlica;

c) relacionar a soluo encontrada para cada tipo de dificuldade/problema ocorrido durante

a obra;

d) avaliar as vantagens arquitetnicas e funcionais da utilizao de cpulas metlicas em

coberturas.

Figura 3. Cpula metlica, Igreja de Itaguara - MG

Fonte: O autor (2015)

Realizar uma anlise comparativa em relao ao gasto financeiro com materiais caso

uma viga de concreto armado de sustentao de uma das cpulas metlicas fosse executada

em perfil metlico (Figura 4).

17

Figura 4. Estrutura metlica utilizada na Igreja de Itaguara - MG

Fonte: O autor (2014)

1.2 Justificativa

Edificaes destinadas a celebraes religiosas so relevantes, pois constituem monumentos

que relembram Histria e resistem ao tempo, sendo muito presentes na vida das

comunidades. Muitas vezes tambm so pontos tursticos e revelam caractersticas das

sociedades que as circundam. Ento, sua concepo arquitetnica deve ser bem estabelecida

e sua estrutura projetada adequadamente, para que sejam obtidos bons resultados estruturais,

estticos e atrativos. Alm disso, por serem locais de reunio de pblico, devem apresentar

conforto e segurana para quem as frequentam.

Essas construes possuem caractersticas que favorecem o uso de cpulas em arco como

coberturas, que cada vez mais, devido a facilidades construtivas, esto sendo realizadas em

estruturas metlicas. Outro fator que intensifica o uso do ao nessas edificaes se deve

necessidade de se obterem grandes vos, para que no haja pontos cegos e o pblico tenha

viso total do presbitrio.

18

Justifica-se, assim, a proposio desse trabalho que ao estudar a aplicao das estruturas

metlicas em coberturas e cpulas de obras religiosas, destaca as vantagens e problemas

encontrados em dois estudos de caso de edificaes religiosas cujas coberturas so

compostas por cpulas em arco estruturadas em ao (Figura 5).

Figura 5. Igreja Sagrada Famlia de Nazar, Itaguara - MG

Fonte: O autor (2015)

1.3 Metodologia

O desenvolvimento do trabalho compreende quatro etapas: A primeira consiste em uma

pequena reviso de literatura da histria da arquitetura, com foco na arquitetura religiosa,

principalmente referente ao incio do uso do ao como material utilizado nas coberturas de

obras religiosas, at os dias atuais.

A segunda etapa se baseia na apresentao de duas obras religiosas utilizadas como estudos

de casos, que so: Igreja Sagrada Famlia de Nazar, localizada na cidade de Itaguara - MG,

e a Igreja Nossa Senhora do Lbano, situada na cidade de Carmo do Cajuru MG (Figura

6). Para os estudos de casos, so apresentados como o ao foi empregado e aspectos dos

19

projetos estruturais, procurando-se evidenciar as vantagens construtivas obtidas pela

utilizao da estrutura metlica. Para dar suporte a essas avaliaes so observadas as

seguintes questes:

a) qual o tipo de cobertura apresentada em cada igreja?

b) como o projeto estrutural foi elaborado?

c) por que utilizada a estrutura metlica?

d) quais as vantagens apresentadas em relao ao concreto?

e) quais so as principais patologias que o ao pode apresentar?

f) que cuidados so necessrios ao se fazer o uso da estrutura metlica?

g) quais as vantagens funcionais obtidas?

Figura 6. Cpula metlica da Igreja Nossa Senhora do Lbano, Carmo do Cajuru - MG

Fonte: PARQUIA NOSSA SENHORA DO LBANO (2017)

A terceira etapa consiste em uma anlise das dificuldades encontradas durante a montagem

da estrutura metlica, bem como dos problemas apresentados aps a montagem (Figura 7).

Nessa etapa tambm apresentada, a fim de retratar uma consequncia da falta de cuidados

20

na montagem de uma cpula metlica, a igreja localizada na cidade de Carmo do Cajuru,

MG, em que ocorreu um acidente fatal. Alm disso, so apresentadas as diversas solues

adotadas para cada tipo de dificuldade encontrada nas obras, evidenciando que existem

mtodos seguros na utilizao do ao em cpulas e que tambm solues simples podem ser

utilizadas para problemas de fechamento. Para dar suporte anlise so observadas as

seguintes questes.

a) quais os principais problemas encontrados na fase de transporte da estrutura?

b) quais os principais problemas encontrados na fase de montagem?

c) quais foram as solues adotadas para a realizao de uma montagem segura?

d) quais os problemas encontrados nos sistemas de fechamento?

e) qual material utilizado para fazer a vedao e garantir a estanqueidade?

f) que cuidados faltaram na construo da igreja de Carmo do Cajuru que resultaram no

acidente?

Figura 7. Montagem da cpula metlica da Igreja Sagrada Famlia de Nazar, Itaguara - MG

Fonte: O autor (2014)

21

A quarta etapa consiste em uma anlise de custo da utilizao da estrutura metlica de uma

viga balco, executada na Igreja Sagrada Famlia de Nazar em Itaguara - MG,

comparando-o ao custo da mesma estrutura que foi construda em concreto armado, para

verificar a viabilidade econmica da estrutura metlica. Para a anlise da comparao de

custo de uma viga balco, executada em concreto armado, considerando-se a mesma em

perfil metlico, foram aplicadas equaes da norma NBR 6118 (ABNT, 2014) e PFEIL

(2009).

1.4 Estrutura do Trabalho

Com a finalidade de seguir com os objetivos propostos, esse trabalho dividido em oito

captulos, contando com esse captulo introdutrio. Nesse primeiro captulo so feitas

algumas consideraes iniciais, so apresentados os objetivos, justificativa e metodologia

utilizada na execuo da pesquisa.

No captulo dois apresentado o material estrutural que o foco principal desse trabalho, o

ao, bem como suas vantagens e desvantagens.

No terceiro captulo apresentada a histria da arquitetura religiosa, bem como um breve

histrico da arquitetura religiosa brasileira, com foco principalmente no estado de Minas

Gerais.

No quarto captulo mostrado um estudo sobre as cpulas, objeto principal desse trabalho.

feito um breve histrico, como elas so classificadas e alguns aspectos relacionados s

suas execues.

O quinto captulo refere-se aos estudos de casos utilizados para a avaliao da utilizao de

cpulas metlicas como coberturas de construes religiosas. Esse captulo dividido em

duas partes, pois so apresentadas duas igrejas localizadas em Minas Gerais para melhor

exemplificao do uso do ao nesse tipo de estrutura. A primeira parte do captulo quatro se

refere Igreja Sagrada Famlia de Nazar, localizada na cidade de Itaguara MG. Nessa

etapa so apresentadas as caractersticas da cidade e da parquia, alm disso, tambm

apresentada a concepo e a elaborao do projeto arquitetnico, como foram realizadas as

construes da fundao, pilares e vigas, bem como a cpula metlica, destacando-se suas

propriedades e sistema estrutural. Na segunda parte do captulo apresentada a Igreja Nossa

22

Senhora do Lbano, localizada em Carmo do Cajuru MG, suas caractersticas

arquitetnicas, bem como seu sistema estrutural.

O sexto captulo tambm dividido em duas partes, com cada parte retratando uma igreja,

sendo o foco desse captulo avaliar a aplicabilidade da utilizao de cpulas metlicas como

elemento de cobertura de edificaes religiosas. Assim, a primeira parte se trata da Igreja

Sagrada Famlia de Nazar, em que so avaliadas as vantagens de se ter utilizado a estrutura

metlica, bem como os cuidados no processo construtivo e na montagem, e tambm

ressaltado o fechamento utilizado. A segunda parte do captulo se trata da Igreja Nossa

Senhora do Lbano e so apresentadas as vantagens da utilizao da estrutura metlica, os

problemas durante a montagem da cpula metlica e seu fechamento.

No stimo captulo realizada uma anlise de custo da utilizao da estrutura metlica de

uma viga balco, executada na Igreja Sagrada Famlia de Nazar em Itaguara - MG,

comparando-o ao custo da mesma estrutura que foi construda em concreto armado, para

verificar a viabilidade econmica da estrutura metlica.

No oitavo captulo so apresentadas as consideraes finais do trabalho e sugestes para

trabalhos futuros.

Em seguida esto listadas as referncias e trs anexos, referentes s tabelas utilizadas na

anlise do stimo captulo.

23

2. ARQUITETURA E O AO

Perante o quadro atual de desenvolvimento da construo civil, em especial o setor das

construes metlicas, as indstrias investem em tecnologias e buscam estratgias, como a

aplicao de novos materiais, que correspondem s exigncias do mercado, com o objetivo

de conquistar novos consumidores e a satisfao de seus usurios, tornando a construo em

estrutura metlica mais competitiva, principalmente do ponto de vista econmico (DIAS,

2011).

Mas ao mesmo tempo, Ribas (2006) ressalta que a utilizao do ao como componente da

estrutura de uma edificao traz mtodos especficos que surgem pelo fato desse material

possuir natureza e caractersticas bastante diferenciadas das do concreto armado e da

madeira.

O domnio de um processo construtivo apropriado para sua utilizao ocasionaria uma

aplicao mais segura do mesmo e dificilmente ocorreriam tais problemas, que muitas vezes

so resolvidos de forma inadequada e ineficiente. Ter o conhecimento de como tratar esses

problemas significa manter o desempenho das edificaes em nveis aceitveis durante sua

vida til, evitando patologias e possveis desestabilizaes da estrutura (RIBAS, 2006).

2.1 Histrico da Utilizao do Ao no Brasil

O incio da utilizao e com a evoluo das tcnicas em relao ao uso do ferro

representaram grandes desafios e avanos para a sociedade. Logo, devido ao grande

desenvolvimento alcanado pela humanidade, impossvel imaginar como seria viver sem

o uso do ao. Por isso, a produo de ao uma grande referncia para definir o grau de

desenvolvimento econmico de um pas. Esse material se tornou parte do cotidiano da

comunidade, mas fabric-lo exige uma evoluo contnua da tcnica que deve ser renovada

de forma cclica, o que acarreta um investimento e financiamento de pesquisas constante por

parte das indstrias siderrgicas (AMARAL, 2013).

A Revoluo Industrial, com o incio da utilizao de fornos que possuam caractersticas

no s de corrigir as impurezas do ferro, como tambm de garantir-lhes propriedades como

resistncia ao desgaste, ao impacto e corroso, diferenciou o ferro do ao.

24

O ao passou a representar cerca de 90% de todos os metais consumidos pela civilizao

industrial devido a essas propriedades e tambm ao seu baixo custo. O ao obtido por meio

do derretimento de vrios materiais juntos, sendo basicamente uma liga de ferro e carbono

(AMARAL, 2013).

A siderrgica no Brasil teve seu incio com a descoberta de ouro em Minas Gerais, o que

estimulou esse tipo de indstria, pois as fundies foram sendo criadas para serem utilizadas

no trabalho das minas. Mas houve uma represso dessas indstrias, pois as terras deveriam

ser exploradas ao mximo e comercializar apenas ouro e produtos agrcolas. Assim, Portugal

determinou a proibio da construo de novas fundies e destruio das existentes. Essa

situao s mudaria com a vinda da famlia real portuguesa em 1808, pois diversas indstrias

siderrgicas foram construdas a partir desse perodo, como por exemplo, a usina do Morro

do Pilar (1815), a fbrica de Ipanema (1818), entre outras em Congonhas do Campo, Caet

e So Miguel de Piracicaba, todas em Minas Gerais (INSTITUTO AO BRASIL, 2018).

Ainda segundo o Instituto Ao Brasil (2018), mesmo aps a criao dessas indstrias, houve

um declnio na produo de ferro devido principalmente competio com os produtos

ingleses, que era desigual por causa da poltica de diminuio de impostos de importao

implantada pelo Brasil na poca, e teve como consequncia o impedimento do

desenvolvimento da siderurgia brasileira.

Um importante marco para o posterior progresso da siderurgia brasileira se deu no sculo

XIX: a fundao da Escola de Minas de Ouro Preto em 1876, localizada em Minas Gerais

(INSTITUTO AO BRASIL, 2018).

Castro (1999) verificou que o fator determinante que atrasou o desenvolvimento do ao na

construo no Brasil foi a tardia expanso das indstrias siderrgicas no territrio nacional,

que pode ser corroborado pelo Instituto Ao Brasil (2018), que verificou que essa expanso

se deu principalmente no governo de Getlio Vargas, com a criao da Companhia

Siderrgica Nacional (CSN) em 1946. Esse fato teve como consequncia uma grande

dificuldade no fornecimento de perfis estruturais, que tinham de ser importados, e fez com

que o ao se tornasse invivel tanto tcnica como economicamente para sua utilizao na

construo civil.

At a dcada de 1970, as construes metlicas eram utilizadas praticamente em instalaes

industriais e galpes metlicos. Somente a partir de meados dos anos 1980 a estrutura

25

metlica comeou a ser utilizada em maior quantidade no pas. Existia uma grande

dificuldade em se trabalhar com esse sistema, pois os engenheiros ainda utilizavam o mesmo

procedimento construtivo do concreto para o ao. A primeira coisa para a qual deve-se

atentar o fato de que a estrutura metlica possui um processo construtivo prprio, e a

adoo de uma soluo incompatvel com esse sistema estrutural pode ocorrer por no haver

conhecimento dessa tecnologia. Logo, problemas aparecem, e a estrutura metlica acaba

obtendo uma imagem negativa por um problema que no est diretamente vinculado a ela, e

sim aos projetistas e construtores (CASTRO, 1999).

Devido a isso, a introduo do sistema estrutural utilizando como elemento principal a

estrutura em ao no mercado brasileiro foi relativamente recente e se direcionava

inicialmente a instalaes industriais e edifcios leves. Sendo assim, o desenvolvimento da

tecnologia construtiva para outros tipos de edificaes metlicas ficou em segundo plano, e

as consequncias disso so sentidas ainda hoje. E a uma incapacidade tcnica de construtores

e engenheiros, faz a aplicao da estrutura metlica padecer de alguns males que poderiam

ser facilmente evitados (CASTRO, 1999).

Entretanto, observa-se uma evoluo expansionista da utilizao da estrutura metlica em

diversas edificaes, de diferentes ocupaes. A busca quase sempre da rapidez da

construo faz com que os arquitetos e engenheiros busquem a sua utilizao, mesmo que o

custo seja mais elevado em relao a outros materiais.

Infelizmente, a estrutura em ao ainda utilizada somente em alguns setores de maior poder

aquisitivo do mercado, pois a mo de obra especializada e o seu alto custo ainda torna esse

material menos competitivo em relao a outros, mas percebe-se que pouco a pouco, o ao

vem conseguindo espao nas edificaes e se popularizando, ocupando uma faixa cada vez

maior dentro do mercado (CASTRO, 1999).

2.2 Vantagens da Utilizao do Ao

A utilizao do ao na construo civil apresenta algumas vantagens em relao a outros

materiais. Entre elas, podem-se destacar, de acordo com o Centro Brasileiro da Construo

em Ao (CBCA, 2017):

Menor prazo de execuo: pois se consegue fabricar a estrutura juntamente com a

execuo de outras etapas da obra, como as fundaes, o que possibilita se trabalhar em

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diversas frentes de servios ao mesmo tempo. H a diminuio de frmas e como

consequncia, de escoramentos, e, alm disso, as chuvas no afetam a montagem da

estrutura o que gera uma reduo considervel no tempo de execuo quando comparado

com os processos convencionais.

Garantia de qualidade: o fato de a fabricao da estrutura em ao ocorrer dentro de uma

indstria e contar com mo de obra altamente qualificada, tem como consequncia a

garantia de qualidade superior na obra, que se deve ao fato de haver um rgido controle

em todo o processo industrial.

Organizao do canteiro de obras: existe uma melhor organizao do canteiro, pois a

estrutura em ao fabricada fora da obra. Alm disso, pela ausncia da execuo de

concreto, no h necessidade de haver na obra grandes depsitos de areia, brita, cimento,

madeiras e ferragens, o que ainda tem como consequncia a reduo do desperdcio

desses materiais.

Melhores condies de segurana ao trabalhador: que so oferecidas pelo ambiente limpo

com menor gerao de entulho, o que ainda contribui para a reduo de acidentes em

obra.

Maior facilidade de transporte e manuseio: as peas de ao so menores em funo desse

material possuir maior resistncia e, consequentemente, menor peso relativo, o que

facilita o seu carregamento, transporte e manipulao.

Maior facilidade de montagem: a equipe responsvel pela montagem j recebe as peas

nos tamanhos definidos, pois a estrutura de ao feita em regime de fabricao industrial,

com as extremidades preparadas adequadamente para receberem ligaes soldadas ou

parafusadas durante a montagem, que, com a utilizao de mo de obra qualificada e

equipamentos leves, costumam ser rpidas e eficientes.

Reciclabilidade e preservao do meio ambiente: o ao um material 100% reciclvel e

pelo fato de suas estruturas poderem ser desmontadas e reaproveitadas h menor gerao

de rejeitos. Alm disso, a estrutura em ao menos agressiva ao meio ambiente, pois h

diminuio da emisso de material particulado e de poluio sonora geradas pelas serras

e outros equipamentos destinados a trabalhar a madeira, cujo consumo reduzido na obra.

Facilidade de vencer grandes vos: h melhores condies para vencer grandes vos, com

menores dimenses das peas e menores pesos devido ao fato do ao possuir maior

27

resistncia em relao a outros materiais.

Preciso construtiva: h uma garantia de uma estrutura perfeitamente aprumada e

nivelada, pois enquanto nas estruturas de concreto a preciso medida em centmetros,

na estrutura em ao a preciso milimtrica. Com isso, tem-se maior facilidade na

execuo de atividades como o assentamento de esquadrias, instalao de elevadores e

reduo no custo dos materiais de revestimento.

Maior facilidade de reforo: a colocao apenas de uma chapa numa viga ou coluna pode

garantir o reforo da estrutura se houver necessidade de aumento de carga.

Reduo da carga nas fundaes: obtm-se enorme alvio de cargas nas fundaes devido

alta resistncia do ao aos esforos de trao, compresso e cisalhamento.

Menores dimenses das peas: que so alcanadas devido elevada resistncia do ao.

Nos pilares, obtm-se maior rea til e menores pesos; com relao s vigas, menores

alturas e menores pesos.

2.3 Desvantagens da Utilizao do Ao

Apesar de muitas vantagens na utilizao do ao na construo civil, algumas desvantagens

ficam evidentes, podendo-se destacar entre elas, de acordo com Pinheiro (2005):

necessria a utilizao de uma equipe tcnica qualificada, pois peas podem ficar

perdidas ocasionando um prejuzo financeiro maior, caso haja erros na execuo,

Corroso, principalmente em reas de litoral, onde se faz necessrio um tratamento

preventivo como, por exemplo, pinturas adequadas e cuidado constante com os perfis

metlicos utilizados no sistema estrutural, com o objetivo de no se reduzir sua vida til.

Custo, mesmo com a expanso da utilizao da estrutura metlica, h um valor maior em

relao a estruturas de concreto armado, somando-se os custos de mo de obra e materiais.

Limitao de sua aplicao em funo do transporte das peas at o local da montagem

final, que dependendo da via em que se encontra, torna-se invivel, pois algumas vias so

estreitas e no comportam a passagem de peas grandes. Alm disso, o custo do transporte

em geral bastante elevado.

Limitao, em algumas ocasies, da disponibilidade de perfis estruturais, sendo sempre

28

prudente antes do incio de projetos estruturais, constatar junto ao mercado fornecedor

que perfis possam estar em falta, principalmente quando se trata de um fornecedor que

trabalha com perfis tabelados.

29

3. ARQUITETURA RELIGIOSA

O incio da busca pelo sagrado confunde-se com o prprio aparecimento do ser humano. E

gradativamente, de acordo com o perodo vivido e a cultura de cada agrupamento, foram se

intensificando os diversos meios de demonstrar esse sentido do sagrado. Houve ento a

necessidade do lugar sagrado e surgiram os templos dedicados adorao, submisso e

celebrao do poder divino (SCOTT, 2010).

As pessoas sempre necessitaram de um espao adequado para orar e fazer o seu encontro

com Deus. Por isso, os primeiros cristos se encontravam em casas comuns emprestadas ou

doadas, conhecidas como Igrejas domsticas (ESCUDEIRO, 2015).

Segundo Scott (2010), por volta de 380 d.C., no perodo governado por Teodsio, em que

o cristianismo se tornara religio obrigatria do Estado romano, juntamente com os auxlios

financeiros dos cristos e do Estado, foi permitido que os cultos fossem realizados em

antigos edifcios adaptados e inmeras construes de igrejas e santurios foram iniciadas.

As celebraes eram realizadas em edifcios com espaos amplos, utilizados como um local

pblico, prximos a lugares de concentrao de pessoas, como os mercados, conhecidos

como baslicas.

Dessa forma, onde havia espao suficiente para abrigar um grande nmero de pessoas e no

possua nenhum significado religioso anterior, era eleito pelos cristos como adequado. As

igrejas que foram construdas a partir de ento foram a base para a arquitetura religiosa

ocidental nos sculos seguintes. A Baslica do Palcio de Latro, em Roma foi o primeiro

local de grandes reunies de cristos (SCOTT, 2010; Figura 8).

Escudeiro (2015) corrobora afirmando que o Palcio de Latro foi oferecido por Constantino

ao Papa para que seu tribunal virasse um salo de culto, e com isso, outros locais foram

executados de mesma forma, com projetos semelhantes a um tpico tribunal de justia

romano e ao mesmo tempo tambm com grandes sales que se destinavam a acomodar

congregaes.

Outro tipo de edificao religiosa citado por Scott (2010) foi o edifcio de planta central,

que teve sua origem nas sepulturas pr-histricas e mais tarde foi adotado pelos gregos para

a venerao dos seus heris e realizao de sacrifcios. Esse tipo de construo possua a

forma de um templo redondo com uma cmara cujo prtico era circular e onde se encontrava

30

a imagem da divindade principal da poca e local. No governo do Imperador Justiniano, no

sculo VI, como uma forma de representar a imponncia da Igreja e de seu imprio, nos

edifcios religiosos, foram adotadas as cpulas devido ao seu efeito espacial.

O tipo baslica e o edifcio de planta central foram desenvolvidos nos sculos IV e V de

maneira independente. A baslica atendia, com sua forma simples, as premissas litrgicas

das Igrejas Paroquiais e Episcopais. O edifcio de planta central, com sua composio mais

elaborada, no cumpria essas exigncias (SCOTT, 2010).

Figura 8. Palcio de Latro, Roma

Fonte: ARQHYS (2017)

Ainda no sculo V, foram edificadas as baslicas de cpulas, que representavam a unificao

dos dois estilos. Passados alguns sculos, os arquitetos continuaram com suas obras e

experimentos, unificando estilos e criando um novo no sculo XI, por meio da insero de

galeria transversal nave da igreja, que gerava uma cruz, criando o estilo cruciforme.

O sculo XIII foi um perodo marcado pelo aumento da riqueza e do progresso cultural, o

que levou a Igreja Catlica a procurar um estilo arquitetnico que representasse as ideias de

uma nova poca, surgindo assim o estilo Gtico que tem como elementos principais, o seu

formato vertical, demonstrando a proximidade com o cu e Deus. Possuam fachadas

esculpidas, apresentando, na parte inferior, trs grandes portas e, ao centro, grandes janelas,

que para proporcionar uma maior iluminao no interior, eram feitas com vitrais coloridos.

31

Usavam o plano cruciforme, com uma nave central longa e outras laterais. Os tetos das naves

possuam um formato de ogiva de grande altura, os quais eram apoiados em pilastras

compostas por vrias colunas finas que proporcionavam resistncia e elasticidade. Assim,

estas Igrejas eram construes complexas, requintadas e ricas (ESCUDEIRO, 2015).

Entre os sculos XIII e XVIII, perodo marcado pelo Renascimento, houve avanos culturais.

Com isso, a Igreja Catlica perdeu muito poder, pois o homem passou a ser o centro e no

Deus, como era anteriormente. Mas a Reforma Protestante tambm fez com que o

catolicismo medieval nas Igrejas fosse alterado, tanto no ritual quanto no cerimonial. E, a

partir do sculo XV, a Igreja troca a planta basilical em cruz latina para plantas quadradas

ou de cruz grega e centrada (ESCUDEIRO, 2015).

Segundo Scott (2010), esses tipos (salo, baslico romano, de planta central e cruciforme),

bastante utilizados a partir dos primeiros sculos de culto cristo, seguiram guiando as

construes das igrejas catlicas at o sculo XIX.

No incio do sculo XX, muitos cristos confiavam que no era necessria a procura de uma

nova arquitetura, com o argumento de que as igrejas existentes eram a forma adequada a ser

seguida e repetida. Porm comeou-se a questionar essa prtica em busca de uma adequao

s novas formas arquitetnicas e s novidades em termos de tcnicas de construo, no

somente nas edificaes catlicas, como tambm nas igrejas protestantes (SCOTT, 2010).

O sculo XX, na igreja catlica, foi um perodo marcado por diversas transformaes e

inovaes. Houve tentativas de se aproximar os fiis dos cultos e de dar uma feio mais

moderna, devido aliana de artistas e arquitetos modernos, como por exemplo, Oscar

Niemeyer. Alm disso, nesse perodo houve a aplicao de novos materiais e tcnicas de

construo, que exigiam uma nova organizao do espao interno das igrejas e templos

religiosos.

3.1 Arquitetura Religiosa no Brasil

Viana (2014) ressalta que a arquitetura religiosa, desde o seu surgimento, sempre

representou o relacionamento do homem com o sagrado, ou seja, a sua subordinao e

respeito a um poder superior e divino. No Brasil, a arquitetura religiosa teve incio no sculo

XVI, no perodo colonial, com a chegada dos descobridores portugueses, que, mesmo no

tendo construdo templos, deixaram elementos que deram seguimento sua f.

32

Segundo Frade (2007) os colonizadores portugueses e os missionrios das diversas ordens

que chegaram ao Brasil trouxeram as formas dos espaos de culto que j conheciam,

impondo alguma modificao sua implantao, dada as exigncias colocadas pelo partido

arquitetnico e pela topografia local. As principais exigncias a que as edificaes eram

submetidas foram em relao a tcnicas construtivas, estilo arquitetnico, clima, condies

topogrficas, costumes populares, recursos financeiros e legislao. Entre essas exigncias,

as maiores dificuldades encontradas pelos europeus eram em relao ao clima e escassez de

recursos, principalmente de mo de obra qualificada.

Mesmo com os diversos problemas enfrentados, as solues encontradas em matria de arte

e arquitetura religiosa no Brasil produziram peas com caractersticas nicas, seja pela sua

beleza, ou pela sua originalidade (FRADE, 2007).

3.2 Arquitetura Religiosa Mineira Sculo XVIII

Em Minas Gerais a construo de templos religiosos era um elemento de urbanizao e

fixao do homem na terra. Devido a eles, grandes pores de terras eram mais valorizadas,

e o espao urbano se desenvolvia ao redor. O templo ainda funcionava como principal ponto

de referncia para a populao local, pois missas, casamentos, batizados e procisses

aconteciam no seu interior e redondezas (SENAC, 2018).

Uma caracterstica marcante das construes religiosas mineiras desse perodo foi a

liberdade de criao, devido ao fato de possurem associaes leigas, ao contrrio do que

acontecia com os templos localizados em cidades maiores litorneas, que eram regidos por

regras mais rgidas de congregaes. Assim, Minas Gerais obteve mais construes,

ornamentao da Igreja e contratao de artistas para adaptarem os templos realidade da

regio (SENAC, 2018).

Os primeiros templos religiosos eram capelas, construdas at a dcada de 1720. Possuam

como caractersticas arquitetnicas o fato de terem pequena proporo, fachada plana, planta

retangular, diviso em nave, capela-mor e sacristia colocada lateralmente, alm da sineira

ficar ao lado da igreja ou inserida no corpo central da fachada. Sua decorao era muito

ornamentada com talhas, pinturas e douramento, sendo reconhecido o estilo dos Retbulos

como Nacional Portugus, que apresentava colunas torsas ou salomnicas com sulcos

preenchidos de ornatos profusos, coroamento ou arremate em arcos concntricos ou

33

arquivoltas concntricas, revestimento inteiramente em talha dourada e com ocorrncia de

policromia em azul e vermelho (SENAC, 2018).

Diferentemente das construes que foram desenvolvidas no litoral do Brasil, as edificaes

mineiras eram executadas de forma muito mais simples e modestas. Suas fachadas

diminuram o nmero de aberturas e foram eliminadas as pilastras e arquitraves que

vigoraram na tradio renascentista. Mas, com a introduo e assimilao do barroco na

capitania, novas solues para os frontispcios foram adotadas e a ornamentao passou a

ser um elemento principal nas edificaes (CHAGAS, 2014).

A partir da metade do sculo XVIII, perodo marcado por diversas crises, como por exemplo,

a Inconfidncia Mineira, houve falta de ouro, mas ao mesmo tempo uma evoluo da

arquitetura, devido presena de grandes mestres como Aleijadinho, autor da fachada

saliente, das torres e grande parte da decorao da Igreja de So Francisco de Assis,

localizada em Ouro Preto (CHAGAS, 2014; Figura 9).

Assim foram erguidas diversas igrejas de irmandades, que entre suas caractersticas

arquitetnicas se destacam a utilizao da alvenaria em suas construes e a construo de

torres recuadas e arredondadas, derivadas do barroco europeu e do rococ (CHAGAS, 2014).

Figura 9. Igreja de So Francisco de Assis, Ouro Preto - MG

Fonte: BRASIL (2017)

34

3.3 Arquitetura Religiosa Mineira Sculo XIX

O incio do sculo XIX foi marcado pela vinda da famlia real portuguesa para o Brasil.

Entre as consequncias com efeito na arquitetura estava a vinda de artistas franceses que

estabeleceram uma nova forma, a neoclssica, que foi difundida em todo o territrio

brasileiro, exceto em Minas Gerais, onde esse estilo ficou quase que exclusivamente na

arquitetura civil. A arquitetura religiosa desse perodo foi influenciada pelo estilo neogtico

europeu, com caractersticas como altas torres, vitrais coloridos, arcos de ogivas e colunas

longilneas, como pode ser visto na Figura 10, em que se apresenta a Igreja de Nossa Senhora

Me dos Homens, em estilo neogtico, situada na cidade Catas Altas, MG (SENAC, 2018).

Figura 10. Igreja de Nossa Senhora Me dos Homens, em estilo neogtico, Catas Altas - MG

Fonte: REVISTA SAGARANA (2017)

35

Os estilos que eram utilizados no final do sculo XVIII, o Barroco e o Rococ, durante o

sculo XIX se transformaram em um novo, mais sbrio, com linhas retas predominando,

frontes triangulares, ou seja, o Neoclassicismo (CHAGAS, 2014).

3.4 Arquitetura Religiosa Mineira Sculo XX

As Igrejas do sculo XX tm como principais caractersticas, o presbitrio como elemento

central, o que leva a uma proximidade dos fiis com a assembleia. A evoluo das tcnicas

de engenharia permitiu a existncia de grandes espaos sem pilares, devido utilizao de

materiais como o concreto armado, o ao e o vidro (ESCUDEIRO, 2015).

No sculo XX, a arquitetura religiosa mineira tornou-se um fato marcante que ser

referncia brasileira, com a construo da Igreja de So Francisco de Assis, mais conhecida

como Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte - MG, projetada por Oscar Niemeyer e

retratada na Figura 11. Ela foi um marco da modernidade, e, por meio dela, deu-se incio a

uma nova fase da arquitetura religiosa, com obras modernas, resultantes do avano

tecnolgico (SENAC, 2018).

Iniciava-se assim um perodo de grandes templos, com diversas formas e materiais,

destacando a evoluo do homem juntamente com a arquitetura.

Figura 11. Igreja de So Francisco de Assis, Belo Horizonte - MG

Fonte: ARQUITETRIO (2017)

36

3.5 Cobertura na Arquitetura Religiosa

A cobertura de um edifcio tem como principal objetivo proteg-lo contra as intempries e

proporcionar conforto trmico dentro do espao arquitetnico. Por meio dela se d a

conservao da edificao e dos objetos encontrados no seu interior, devendo a mesma

funcionar de forma adequada para que possa impedir a entrada de gua pluvial, principal

fator de deteriorao de seus componentes (NUNES, 2005).

Desde os primeiros homens, a cobertura em seus abrigos provisrios era executada com

diversos materiais, como folhas, palhas, couro de animais, alm de outros recursos

disponveis em cada regio. Com o passar do tempo, as habitaes comearam a ser mais

estveis, e, com isso, houve evoluo dos materiais e dos sistemas estruturais utilizados,

devido, principalmente, ao avano da tecnologia e descoberta de novos materiais. Segundo

Nunes (2005) as edificaes passam a aplicar em suas coberturas, telhas cermicas, madeira,

ladrilhos vitrificados, chapas de ferro e, atualmente esto sendo utilizados novos materiais,

como telhas de PVC, vidro, policarbonato, fibrocimento, dentre outros. Tambm so

encontradas coberturas com estruturas autoportantes, como cpulas e abbadas de tijolo,

pedra e outros materiais, que so capazes de cobrir grandes vos.

A forma do telhado influenciada pelas condies climticas do local da construo, bem

como da disponibilidade do material a ser aplicado. Telhados que possuem grande

inclinao, por exemplo, so constantemente encontrados em regies que possuem clima

com temperaturas mais baixas, devido ao fato de que, durante o inverno, impedem que a

neve fique depositada no telhado, que poderia ocasionar uma sobrecarga na estrutura de

sustentao. As coberturas horizontais podem ser encontradas em regies de clima seco e

com baixa ocorrncia de chuvas, pois o baixo ndice pluviomtrico no exige o escoamento

rpido das guas, e o telhado ainda pode ser utilizado como ptio (NUNES, 2005).

A farta disponibilidade de materiais como a madeira e o barro fez com que esses materiais

fossem bastante utilizados durante a colonizao do Brasil. Nunes (2005) ressalta que as

primeiras casas foram executadas com madeira e barro e cobertas com palha, porm, de

acordo com a necessidade de se obter edificaes mais durveis, as mesmas foram

reconstrudas em alvenaria de pedra argamassada com estrutura de cobertura em madeira

revestida de telhas cermicas.

Sobre as igrejas brasileiras, Bazin (1956) e Nunes (2005) declaram que geralmente elas

37

possuam cobertura estruturada em madeira, sendo raramente encontradas as que

apresentavam abbadas construdas com outro tipo de material como pedra ou tijolo. Essas

ltimas eram encontradas em grandes igrejas conventuais do Sculo XVII, na arquitetura

religiosa brasileira as abbadas de madeira eram usadas com frequncia em forros, muitas

vezes pintados com grandes painis figurativos (NUNES, 2005).

Santos (1951) refora a observao quando demonstra a pouca ocorrncia de cpulas nas

igrejas brasileiras. Em seu estudo sobre as coberturas das igrejas de Ouro Preto, esse autor

destaca que, no s pela semelhana dos sistemas, mas tambm pela nomenclatura

tecnolgica, pode-se afirmar que a influncia da arquitetura portuguesa sobre a tcnica

construtiva adotada nas coberturas dos templos mineiros certa. Nunes (2005) ressalta que

essas caractersticas observadas em Minas Gerais tambm podem ser encontradas em outras

regies do Brasil e devem ser preservadas para que seja mantido o registro das tcnicas

construtivas antigas.

3.6 Projetos na Arquitetura Religiosa

As igrejas catlicas devem ser construdas de tal forma que a reunio dos fiis seja facilitada,

por isso devem ser funcionais e confortveis tanto para a celebrao da liturgia, como para

obter a participao da comunidade (MILANI, 2006).

Ao projetar um templo, o arquiteto deve pensar primeiro no altar, no sacrrio, no ambo, na

pia batismal, na capela do Santssimo, que devem estar presentes na sua concepo antes

mesmo que ele demonstre sua ideia por meio do desenho (MENEZES, 2006). Para esse

autor, no um p direito elevado, uma janela com estilo gtico, nem uma elevada torre

ou uma decorao rebuscada posterior que transmitiro ao edifcio um carter religioso ou

sagrado.

Milani (2006) ressalta que a organizao interna de uma igreja, sua decorao, mobilirio,

arte, visual, ou seja, tudo que a compe, deve ser entendido e submetido a uma realidade

simblica.

Ao visitar templos em que foi utilizado o estilo da arquitetura religiosa do passado, deve-se

considerar a concepo e o estilo do perodo, levando em conta a beleza de suas formas, sua

simplicidade e seu interior, que fazem com que sejam diferentes dos templos religiosos

construdos hoje em dia. A Igreja jamais teve um estilo prprio para cada construo, ela

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sempre se adqua ao estilo que est em vigor na poca de sua construo, por exemplo, se a

Igreja possua um estilo gtico, as casas construdas no perodo, tambm possuam Assim,

se a Igreja era barroca, as casas tambm possuam esse estilo, o que pode ser comprovado

nas construes do sculo XVIII em Minas Gerais.

funo do arquiteto projetar o edifcio sagrado com o mximo cuidado, considerando suas

duas funes, a de acolher o povo que ali se encontra para louvar a Deus e transmitir a ideia

de um lugar de paz e tranquilidade, onde se possa conversar com Deus. Devido a esses

fatores, diversas funes so atribudas a esse lugar, contrapondo ser o mesmo um local de

reunio e cantos, como tambm um lugar de silncio e orao (MENEZES, 2006).

Logo, muito importante, no projeto da arquitetura religiosa, organizar e fazer uma boa

distribuio do espao, diferenciando as zonas dos diversos ministrios de acordo com a

liturgia atual para que os fiis estejam confortveis para a celebrao, sendo que alguns

fatores podem contribuir para isso, como por exemplo, a forma e a ornamentao do espao,

a luz, e as cores (MILANI, 2006).

Assim, devido a esse antagonismo das funes das igrejas, os arquitetos devem projet-las

atendendo seus diversos aspectos, alm de respeitar o desejo da comunidade por meio das

melhores prticas da arquitetura. A parte central do projeto ser o mistrio eucarstico, e,

assim, o arquiteto deve-se atentar em primeiro lugar para o presbitrio.

3.7 Espaos das Igrejas

Toda igreja deve possuir uma organizao adequada de seu espao e de sua liturgia, o que

requer um estudo de sua organizao espacial, das exigncias da celebrao, das oraes

individuais e comunitrias. As celebraes so presididas pelo clero, mas com a participao

de todo o povo reunido em assembleia. Assim, as igrejas devem ser construdas para

atenderem liturgia, sem simbolismo excessivo, e a distribuio de seu espao compreende

no mnimo presbitrio, nave e sacristia. Seu ambiente, alm de oferecer conforto aos fiis,

deve lev-los contemplao e ao recolhimento para as oraes individuais e ao mesmo

tempo motivao para a participao, dependendo da celebrao (MILANI, 2006).

39

3.7.1 Presbitrio

O presbitrio o espao em que ocorre a celebrao, onde atuam o presidente da assembleia

e seus ministros, em que esto inseridas as principais peas litrgicas. O altar e a cadeira da

presidncia e dos ministros ficam nesse espao. Tambm deve transparecer a ideia de que o

clero est inserido na assembleia, para dar a sensao de proximidade com o povo, pelo fato

da celebrao da eucaristia ser a unio dos atos do celebrante e do povo. O presbitrio deve

estar num plano mais elevado, para ter uma figura de destaque e tambm dar boa visibilidade

para os fiis em casos de igrejas grandes, onde se tem um maior nmero deles (MILANI,

2006).

3.7.1.1 Altar

O altar, alm de objeto e local essencial ao culto, o lugar mais importante e destacado de

toda a Igreja. Esse centro litrgico deve ser visvel de todos os pontos da assembleia e ser

uma das principais concepes do arquiteto desde o incio do projeto. Segundo Menezes

(2006) sua concepo deve demonstrar seu carter sagrado e sacrificial, assim o material

utilizado em sua execuo deve ser nobre, sem ser motivo de distrao para os fiis.

O altar a mesa da eucaristia, por isso tem o papel mais importante na igreja. o centro da

celebrao, constituindo-se o foco principal dos fiis. A ao da eucaristia, o local onde o

padre faz leituras, e os objetos necessrios comunho esto localizados nesse espao. O

altar a maior representao do Cristo (MILANI, 2006).

Compe com todo o presbitrio, harmonizando-se com ele, com os demais elementos

presentes nesse sagrado espao, seja a cadeira do celebrante ou dos ministros, seja o ambo.

Deve ser valorizado tambm pelas propores de todo e de cada elemento. Deve-se situar

em um local mais elevado para que seja bem visvel, mas no to elevado a ponto de cortar

a ligao com a comunidade presente. A iluminao deve ser adequada, para que se

sobreponha ao restante do presbitrio, sem que seja, entretanto, uma iluminao teatral.

Deve-se encaminhar para a liturgia, que sobre si se desenvolve toda a ateno da assembleia

(MENEZES, 2006).

A disposio do presidente da assembleia e de seus ministros parte integrante da liturgia

da Palavra e as suas cadeiras, ou ctedras, devem ser colocadas diante da assembleia, de

frente para o povo, mas atrs do altar, de forma que fique mais elevada para que seja vista

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por todos, ou na lateral do altar. Observa-se que a cadeira em forma de trono reservada

somente ao bispo (MENEZES, 2006; MILANI, 2006).

3.7.1.2 Ambo

O ambo constitui-se da plataforma utilizada para leituras e homilias. Desse local, que

conhecido tambm como a mesa da Palavra, utilizando a Bblia, as leituras, o salmo

responsorial, a homilia, a orao dos fiis e o precnio pascal so realizados. A dignidade

conferida ao ambo exige que a ele suba apenas o responsvel pela palavra/liturgia a ser

proferida. A palavra de Deus deve ser proferida exclusivamente no ambo (MENEZES,

2006; MILANI, 2006).

3.7.1.3 Batistrio

O Batistrio o local em que se localiza a fonte batismal e onde se realiza o batismo. A

reformulao da liturgia da Viglia Pascal, com o acrscimo das determinaes ps Conclio

Vaticano II, deu uma nova nfase liturgia batismal, includa novamente em celebrao

solene de ato litrgico. No se trata, portanto, de uma ao proposta para uma pequena

parcela da comunidade, de uma famlia, mas de um ato solene de adoo de mais um membro

da comunidade. Por isso, apenas na sede da comunidade, na igreja paroquial deve existir o

batistrio, no sendo possvel sua execuo mesmo nos grandes santurios de peregrinao

ou nas grandes catedrais, se essas no forem sedes paroquiais, ou se por indulto especial no

forem dotadas pelo Papa desse privilgio (MENEZES, 2006; MILANI, 2006).

Devido ao seu significado especial, deve ser locado de maneira permanente, com estrutura

prpria, sempre visvel e jamais em local de circulao ou situado apenas em um canto da

igreja. Alm disso, a pia batismal deve ser construda de maneira slida e com ornamento

apropriado, pois o centro de um sacramento. Deve ser sempre valorizada devido ao seu

significado de fazer o ingresso de um membro na comunidade religiosa.

41

3.7.1.4 Sacrrio

O Sacrrio consiste de um pequeno cofre que serve para guardar as reservas eucarsticas,

localizado em geral no altar, apresentando por isso, normalmente, uma decorao mais nobre

e diferenciada do restante da igreja. Mas h casos em que o local reservado Reserva

Eucarstica tenha sua localizao fora do Presbitrio, em local nobre e acessvel para que o

Senhor Sacramentado seja devidamente reverenciado. Assim, recomendvel que seja

prevista a construo de uma capela com a funo de abrigar o Santssimo que, dadas as suas

dimenses, ainda permite a orao individual de fiis (MENEZES, 2006).

3.7.2 Nave

A nave o espao no qual os fiis se renem, assim, eles necessitam, no decorrer da

celebrao, sentar-se, ajoelhar-se, ficar de p, circular pela igreja e aproximar-se do altar.

Por isso, deve ser um local que possua boa funcionalidade e favorea a participao da

comunidade na celebrao. Outro fator importante a ideia da unio, sendo assim, na sua

construo deve-se evitar diviso no espao, grupos isolados e lugares privilegiados. Outros

fatores que devem ser considerados so a comodidade e o conforto dos fiis com cadeiras

ou bancos, visibilidade e acstica adequadas, bem como espaos disponveis para circulao

de pessoas (MILANI, 2006).

As tcnicas modernas permitem grandes vos cobertos, proporcionais s necessidades da

nave. Mas, conveniente que se projete sem os exageros mencionados anteriormente, nem

timidez, prevendo maiores afluxos de pessoas em dias normais (MENEZES, 2006).

Um projeto bem elaborado da nave deve contemplar alm da esttica outros aspectos, como

a comodidade, pois o desconforto pode interferir na participao da comunidade nos cultos.

O arquiteto deve colocar ento condies de conforto em relao ao conforto trmico

(aerao/ventilao), acstica, iluminao e abertura de portas e janelas.

3.7.2.1 Conforto trmico

O conforto trmico do usurio, proporcionado por uma aerao (circulao de ar) adequada,

muitas vezes esquecido, impedindo-o de dedicar-se inteiramente ao objetivo para o qual

https://pt.wikipedia.org/wiki/Decora%C3%A7%C3%A3ohttps://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja

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ele foi igreja. Observa-se que comum a simples colocao de grandes ventiladores ou

circuladores de ar o que pode prejudicar as celebraes, seja pelo barulho que produzem,

seja pela ineficincia. No entanto, ao estudar com critrio o projeto arquitetnico, pode-se

sem maiores despesas financeira ou prejuzo na participao dos fiis, encontrar solues

para condicionar o ar naturalmente e proporcionar adequada circulao de ar, melhorando o

conforto ambiental (MENEZES, 2006).

Uma soluo que bastante utilizada nesse contexto a colocao de janelas, mas, ao mesmo

tempo, o uso imprprio dessa hiptese, traz problemas como a insolao bem como

iluminao excessiva. Assim, a colocao de janelas deve ser realizada em locais

devidamente planejados.

3.7.2.2 Acstica

As grandes dimenses necessrias para poder acolher de forma adequada os fiis trazem um

problema recorrente nas igrejas, a acstica, que muitas vezes agravada pela utilizao de

amplificadores. Esses instrumentos chegam a ser desnecessrios algumas vezes e em outras

so mal projetados, e ainda so diversas vezes utilizados sem um estudo prvio que, permita

uma distribuio racional do som, que deve alcanar a todos sem reverberaes exageradas.

O volume da igreja, na nave em especial, influencia de maneira essencial na propagao do

som e na ocorrncia da reverberao, que pode ser ajustada com um acabamento ideal dado

s paredes e ao forro (MENEZES, 2006).

Segundo Milani (2006) e Menezes (2006) a msica parte essencial da celebrao litrgica,

e sendo assim necessita de um espao. O grupo dos cantores colocado em local reservado,

denominado de coro, segundo a disposio de cada igreja, devendo, contudo, fazer parte da

assembleia dos fiis, desempenhando um papel particular de modo que a execuo de sua

funo se torne mais fcil e a msica possa ser ouvida de qualquer local do recinto. Com

uma acstica adequada, a msica pode ser ouvida de forma agradvel pelos fiis que tendem

a fazer uma participao mais plena na celebrao.

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3.7.2.3 Iluminao

Conforme Milani (2006) a iluminao no interior de uma igreja pode criar ambincias e

favorecer a meditao do fiel, focalizando com mais brilho o presbitrio, sem, contudo,

afast-lo do povo. Podem ser criados efeitos visuais por meio da iluminao natural ou

artificial. Um discreto efeito de claro-escuro, uma graduao de luz e sombra destacando

locais e detalhes com maior funo com mais brilho tendem a realar a organizao espacial

no ambiente e mostram caminhos (MILANI, 2006).

Para a nave pode ser proporcionada uma iluminao para uso dirio e outra para celebraes

festivas, com maior intensidade de luz nesse local. Em contraposio, o clima de

recolhimento e introspeco ocorre com baixa intensidade de luz. No entanto, alm das

oraes comunitrias, existem as individuais, para as quais uma boa iluminao aquela que

remete as pessoas introspeco. No geral, em celebraes a nave deve possuir uma

iluminao adequada, a fim de que a leitura se faa sem esforo, pois ao participar das

funes litrgicas, os fiis acompanham, em livros prprios, o desenvolvimento das

cerimnias (MENEZES, 2006; MILANI, 2006).

3.7.2.4 Portas e janelas

A porta um componente essencial para a distribuio interna da igreja, devendo atender s

normas exigidas para a segurana dos fiis, seja pela sua quantidade, distribuio e

dimenses, como tambm pela sua utilizao como sada de emergncia, devendo dar acesso

direto e rpido ao exterior, evitando acidentes e pnico em caso de incndio e outras

possveis necessidades de se fazer a evacuao da edificao (MENEZES, 2006).

As janelas devem estar corretamente orientadas em vista da insolao, em especial no Brasil,

devido ao seu clima quente e com grande incidncia de raios solares, bem como devem ter

suas dimenses adequadamente definidas de modo a permitirem que a aerao seja a mais

funcional possvel. Tambm devem ter aberturas que permitam a entrada do ar em sua parte

inferior e a sada do ar quente em sua parte superior, extraindo o ar quente e aliviando a

temperatura no interior do templo de modo natural, sem necessidade de condicionamento

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mecnico. Os vitrais presentes nas janelas, muitas vezes, so usados como elemento

decorativo e contendo cenas bblicas (MENEZES, 2006).

3.7.3. Sacristia

Sacristia um recinto anexo lateral igreja ou situado atrs de seu altar onde so guardados

os paramentos sacerdotais e todos os objetos litrgicos. nesse local que os sacerdotes se

paramentam para realizarem as missas e organizam, juntamente com a equipe litrgica,

comentrios e leituras que so apresentados durante a celebrao.

3.7.4. trio

O trio o local de chegada e encontro ou hall de entrada, significa um lugar de transio,

que separa o exterior e o interior, local de recolhimento e orao. A passagem pelo trio tem

como significado a insero na comunidade da igreja e o ser acolhido por Deus (MILANI,

2006).

Deve assim ser previsto desde o incio da concepo do projeto, em especial no interior de

nossas barulhentas cidades. Menezes (2006) sugere que esse elemento seja revisto e

planejado no mais com a mesma forma, mas com conceitos novos criados pela evoluo

arquitetnica e beneficiados pelos avanos nos processos construtivos, tcnicas e materiais.

3.8 Construo

Segundo Menezes (2006), antes de se iniciar a obra da construo de uma igreja, algumas

etapas devem ser realizadas, como o levantamento e nivelamento topogrficos; elaborao

do projeto arquitetnico; execuo das sondagens; elaborao do projeto de fundaes e

clculo estrutural; dos projetos eltrico, acstico, hidrulico e de incndio, segurana e de

decorao.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Sacerdote

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4. CPULAS

A arquitetura pode ser vista como uma arte que expressa diversos significados para quem a

v. Uma das maneiras de explicit-los se d por meio do uso simblico de determinadas

formas geomtricas (PRADO, 1990).

Dentre os componentes de uma edificao, a cobertura um elemento significante em

relao ao ganho de calor interno, podendo intensificar ou at mesmo amenizar a

temperatura do interior da edificao. Para o bom funcionamento de uma cobertura so

necessrios estudos detalhados que englobem todos os aspectos que relacionem propriedades

termo fsicas do material e capacidade trmica do sistema de cobertura em relao s

condies climticas locais, principalmente no Brasil, que possui temperaturas elevadas

durante o vero (DIAS, 2011).

As coberturas para grandes vos sempre desafiam profissionais da construo civil e as

cpulas, por apresentarem um sistema estrutural eficiente e econmico, vem sendo

frequentemente usadas por projetistas em edificaes religiosas (VENDRAME, 1999).

Santos (2005) assegura que a construo metlica apresenta muitas opes para cobertura

de edificaes que possuem grandes reas, sendo as cpulas uma das sugestes. Segundo

ele, as cpulas so estruturas ditas espaciais ou tridimensionais, pois se desenvolvem no

espao tridimensional por meio da rotao ou translao de elementos unidimensionais,

frequentemente em arco ou em formas poligonais que se aproximam do arco. Apresentam

superfcie convexa, com dupla curvatura, o que as tornam muito propcias para o uso em

coberturas (Figura 12). H registro de utilizao de cpulas metlicas desde o sculo XIX

e, no Brasil, h cpulas com vos cobertos que variam de 30 a 100 m.

Segundo Prado (1990), diversas culturas adotaram o universo de caractersticas similares

para a esfera devido sua imagem de perfeio, unidade e totalidade. Ainda segundo o

mesmo autor, o significado da esfera essencial para entender o significado simblico do

uso das cpulas na arquitetura.

Trs aspectos principais demonstram o uso simblico das cpulas na arquitetura

inicialmente, so eles: a projeo do mundo na arquitetura, a aceitao de um modelo

perfeito revelado pelos deuses e a representao de poder, em que quando o imperador se

sentava ao centro e expressava sua posio de governante do universo (PRADO, 1990).

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Figura 12. Cpula metlica, Shopping Flamboyant, Curitiba - PR

Fonte: METLICA (2017)

As cpulas tiveram razes arquitetnicas e religiosas para serem utilizadas, sendo o

significado do contato com o cu uma das principais. A cpula no era simplesmente uma

forma prtica de utilizar a alvenaria como elemento construtivo, mas que possua um sentido

simblico especial, fazendo dela um fator preponderante de diversas caractersticas de

arquitetura, como Bizantino, Islmico e Indiano, demonstrando o conceito de grandes vos,

associado ao volume construdo (VENDRAME, 1999).

Vendrame (1999) ressalta que o desenvolvimento desse tipo de estrutura est associado aos

materiais e matrias primas disponveis em cada perodo histrico. Na Antiguidade,

utilizavam-se pedras naturais que logo depois foram trocadas por alvenaria de tijolos para se

construrem as cpulas. Na Idade Mdia, a madeira aparece como material principal, sendo

que algumas construes daquela poca ainda podem ser vistas na Europa.

Com o passar do tempo, as cpulas passaram por diversas mudanas na tcnica construtiva

e na arquitetura. Sua construo sofreu adaptaes para os diferentes tipos de materiais

disponveis para execuo, o que tambm ocasionou uma mudana na sua forma, que sofreu

influncias dos estilos arquitetnicos (MACEDO, 2005).

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Macedo (2005) ressalta que a Revoluo Industrial foi um fator de transformao nas

tcnicas construtivas e nos materiais, devido industrializao do ferro, que a partir do

sculo XVIII, fez com que novos conceitos de coberturas fossem aplicados.

As antigas formas em abbadas e cpulas foram reestabelecidas pelo uso na construo do

ferro e, posteriormente, do ao. A utilizao desses materiais levou esse perodo a se chamar

era do ferro e vidro e teve como consequncia a construo de inmeras obras, como o

Palcio de Cristal, em 1851 e a estao ferroviria Paddington, ambas na Inglaterra

(MACEDO, 2005).

O concreto foi bastante aplicado em construes de cpulas, mas, devido a fatores como sua

baixa resistncia trao, eram necessrias grandes espessuras. Cita-se, como exemplo, a

cpula de concreto construda no comeo do sculo XX para cobrir a Catedral Westminster,

em Londres, Inglaterra, cuja espessura era de 0,91 m para um vo de 18,3 m.

A primeira cpula executada em concreto armado como se