“obesidade vale quanto pesa: uma análise sobre · 2014-06-05 · obeso benigno, obeso maligno....

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Caio Capella Ribeiro Santos ¹, Daniela Sanches. Frozi², Denise Oliveira e Silva². ¹ DAN, Departamento de Antropologia, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, ² FIOCRUZ, Fundação Instituto Oswaldo Cruz, Brasília, Brasil. Tenho acompanhado semanalmente as reuniões do PROBEM, realizado em um centro de Saúde do Distrito Federal, às terças-feiras. O grupo funciona de maneira ritualizada, os pacientes passam primeiro pelo atendimento com a enfermeira onde tiram as medidas antropométricas e são pesads. Após isso são atendidas pelo educador físico. Logo são orientadas pela nutricionista quanto a alimentação e por fim a médica checa os exames de colesterol, pressão entre outros. Todo mês esse ritual se repete. “Obesidade vale quanto pesa: uma análise sobre inovação em saúde “Só não emagrece quem não quer” Objeto e Objetivos Metologia Acompanhei D. Carmen, 69 anos participante do PROBEM, Durante a 1ª Caminhada da Saúde “Eu pesei 110 quilos, mas hoje estou só com 80. Só não emagrece quem não quer”. Disse orgulhosa. “Todo dia eu faço 30 minutos de esteira, mas faço no meu ritmo na velocidade 5 porque eu não aguento correr muito e depois disso eu vou para a bicicleta e faço mais 30 minutos.Objeto: PROBEM (Programa obesidade embora), Objetivo: Compreender o significado da obesidade entre os pacientes e profissionais de saúde. M 2 3 4 1 “Isso não é alimento” “A obesidade as vezes vem da praticidade do alimento industrializado, a pessoa perde o prazer de fazer a comida em prol de comer tudo pronto”. Fala a Nutricionista durante uma das Reuniões do PROBEM, na qual estava orientando os Pacientes sobre a escolha alimentar. Sua fala gira sempre em torno da prescrição de hábitos corretos, sem tentar compreender os hábitos que as pessoas tem. Foto 01: Centro de Saúde. Foto 02: Estande da Nutrição durante a 1ª Caminhada da Saúde. Foto 03: Saída dos participantes para a 1ª Caminhada da Saúde. A obesidade vale o quanto pesa O objetivo do grupo é a mudança de hábitos alimentares de obesos. Apesar da inovação, o grupo não leva em conta a relação entre os hábitos alimentares das pessoas e a construção de se seu self (MINTZ, 2001). Na fala da Nutricionista transparece a forma como o obeso é visto e tratado pela sociedade: de forma ambígua (FISCHLER, 1995) e estigmatizado (GOFFMAN, 1963; GOMES, 2006), culpado por seu estado corporal. D. Carmen se (re)apropria deste discurso como quem diz, se a culpa é minha eu posso até caminhar para perder o peso, porém em meu “ritmo”. “A pessoa deixa de ser vista por ela mesma e passa a ser observada pela obesidade.A obesidade na prática dos profissionais de saúde vale o quanto pesa, e o indivíduo passa a ser observado pelo seu corpo estigmatizado e é incentivado a perder peso para fugir deste estigma. Bibliografia A FIOCRUZ/BRASÍLIA e a FINEP pelo financiamento e oportunidade de inserir-me neste campo. Agradecimentos FISCHLER, Claude. Obeso Benigno, Obeso Maligno. In: Políticas do corpo. São Paulo Estação Liberdade, 1995. GOFFMAN, Erwing Estigma. notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 1963 Rio de Janeiro GOMES, Ivan Marcelo. Obesidade como metáfora contemporânea: uma “Cruzada Saudável” em nome do consumo e do risco. Revista Movimento, v.12, n.03, p.45-71. Porto Alegre 2006. Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de agosto de 2014, Natal/RN

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Page 1: “Obesidade vale quanto pesa: uma análise sobre · 2014-06-05 · Obeso Benigno, Obeso Maligno. In: Políticas do corpo. São Paulo Estação Liberdade, 1995. GOFFMAN, Erwing Estigma

Caio Capella Ribeiro Santos ¹, Daniela Sanches. Frozi², Denise Oliveira e Silva².

¹ DAN, Departamento de Antropologia, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, ² FIOCRUZ, Fundação Instituto

Oswaldo Cruz, Brasília, Brasil.

Tenho acompanhado semanalmente as reuniões do

PROBEM, realizado em um centro de Saúde do Distrito

Federal, às terças-feiras. O grupo funciona de maneira

ritualizada, os pacientes passam primeiro pelo

atendimento com a enfermeira onde tiram as medidas

antropométricas e são pesads. Após isso são atendidas

pelo educador físico. Logo são orientadas pela

nutricionista quanto a alimentação e por fim a médica

checa os exames de colesterol, pressão entre outros.

Todo mês esse ritual se repete.

“Obesidade vale quanto pesa: uma análise sobre

inovação em saúde

“Só não emagrece quem não quer” Objeto e Objetivos

Metologia

Acompanhei D. Carmen, 69 anos participante do

PROBEM, Durante a 1ª Caminhada da Saúde “Eu já

pesei 110 quilos, mas hoje estou só com 80. Só não

emagrece quem não quer”. Disse orgulhosa. “Todo dia

eu faço 30 minutos de esteira, mas faço no meu ritmo

na velocidade 5 porque eu não aguento correr muito e

depois disso eu vou para a bicicleta e faço mais 30

minutos.”

Objeto: PROBEM (Programa obesidade embora),

Objetivo: Compreender o significado da obesidade entre

os pacientes e profissionais de saúde.

M 2 3 4 1

“Isso não é alimento” “A obesidade as vezes vem da praticidade do alimento

industrializado, a pessoa perde o prazer de fazer a

comida em prol de comer tudo pronto”. Fala a

Nutricionista durante uma das Reuniões do PROBEM,

na qual estava orientando os Pacientes sobre a

escolha alimentar. Sua fala gira sempre em torno da

prescrição de hábitos corretos, sem tentar

compreender os hábitos que as pessoas tem.

Foto 01: Centro de Saúde.

Foto 02: Estande da Nutrição durante a 1ª Caminhada da Saúde.

Foto 03: Saída dos participantes para a 1ª Caminhada da Saúde.

A obesidade vale o quanto pesa O objetivo do grupo é a mudança de hábitos

alimentares de obesos. Apesar da inovação, o grupo

não leva em conta a relação entre os hábitos

alimentares das pessoas e a construção de se seu self

(MINTZ, 2001). Na fala da Nutricionista transparece a

forma como o obeso é visto e tratado pela sociedade:

de forma ambígua (FISCHLER, 1995) e estigmatizado

(GOFFMAN, 1963; GOMES, 2006), culpado por seu

estado corporal. D. Carmen se (re)apropria deste

discurso como quem diz, se a culpa é minha eu posso

até caminhar para perder o peso, porém em meu

“ritmo”. “A pessoa deixa de ser vista por ela mesma e

passa a ser observada pela obesidade.” A obesidade

na prática dos profissionais de saúde vale o quanto

pesa, e o indivíduo passa a ser observado pelo seu

corpo estigmatizado e é incentivado a perder peso

para fugir deste estigma.

Bibliografia

A FIOCRUZ/BRASÍLIA e a FINEP pelo financiamento e

oportunidade de inserir-me neste campo.

Agradecimentos

FISCHLER, Claude. Obeso Benigno, Obeso Maligno. In:

Políticas do corpo. São Paulo Estação Liberdade, 1995.

GOFFMAN, Erwing Estigma. notas sobre a manipulação da

identidade deteriorada. 1963 Rio de Janeiro

GOMES, Ivan Marcelo. Obesidade como metáfora

contemporânea: uma “Cruzada Saudável” em nome do

consumo e do risco. Revista Movimento, v.12, n.03, p.45-71.

Porto Alegre 2006.

Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de agosto de 2014, Natal/RN