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Antônio José Medina Lima Júnior
Determinantes do Investimento Direto Estrangeiro no Brasil
Belo Horizonte, MG UFMG/Cedeplar
2005
Livros Grátis
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Antônio José Medina Lima Júnior
Determinantes do Investimento Direto Estrangeiro no Brasil
Dissertação apresentada ao curso de mestrado do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do Título de Mestre em Economia.
Orientador: Prof. Dr. Frederico Gonzaga
Jayme Júnior
Belo Horizonte, MG Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional
Faculdade de Ciências Econômicas – UFMG 2005
ii
iii
Para meus pais, Medina e Vera
iv
AGRADECIMENTOS
Desejo externar a minha profunda gratidão a todas as pessoas que direta ou
indiretamente me ajudaram para que este trabalho acadêmico chegasse ao final.
Inicialmente, gostaria de agradecer a Deus por me conceder a oportunidade de realizar
este trabalho.
Ao meu orientador Frederico Gonzaga Jayme Júnior, agradeço pela sua segura
orientação. Nos momentos de dificuldade e indecisão, sua contribuição e experiência foram
fundamentais para que eu não perdesse o “pique”.
Aos professores Fernando Sarti (IE/UNICAMP) e Marco Flávio da Cunha Rezende
(IPEA/DF), pela participação em minha banca examinadora. Agradeço, ainda às suas
sugestões e críticas, que em muito contribuirão para o aprimoramento de meus trabalhos
futuros.
Agradeço ao meu orientador técnico, do Banco Central do Brasil, Danniel Lafetá
Machado, pelas dicas e sugestões.
Aos funcionários do CEDEPLAR/UFMG que contribuíram de diversas formas.
Agradeço o apoio e o suporte que recebi da minha família. Aos meus pais, Medina e
Vera, pelo amor, dedicação e acima de tudo pelos valores que cuidaram de transmitir. Às
minhas irmãs, Carolina e Gabriela, pelo carinho e pela torcida. À minha namorada, Sulamita,
pela compreensão, pelo companheirismo e pela dedicação ao nosso filho. Ao meu filho, José
Gabriel, o qual seu sorriso e alegria me lembravam que a vida não se resumia a esta
dissertação.
Também expresso minha gratidão pela amizade e pela torcida de toda a turma de
mestrado e doutorado de 2002, 2003 e 2004, em especial aos meus companheiros de turma:
Rubens, Isabel, Paulo, Marina, Pedro, Jonas, Tharsila, Mariângela, Gustavo, Dani, Héder,
Ana, Felipe, Ângelo e Eduardo.
Aos companheiros de “república” Ângelo, Josué e Virgílio, pela amizade e pelo
companheirismo. Aos amigos fraternos que mesmo apesar da distância contribuíram e
contribuem para o meu aprendizado.
Agradeço o apoio institucional recebido pelo Banco Central do Brasil e ao mesmo por
ter me financiado ao longo do curso de mestrado.
v
Por fim, é importante mencionar que a permanência no texto final de eventuais
equívocos e omissões é, entretanto, de minha inteira e exclusiva responsabilidade.
vi
SUMÁRIO
Lista de tabelas.........................................................................................................................vii
Lista de gráficos......................................................................................................................viii
Resumo.......................................................................................................................................ix
Abstract.......................................................................................................................................x
1 – Introdução..........................................................................................................................01
2 – Investimento direto estrangeiro: teoria e evidência empírica internacional................04
2.1 – A teoria..................................................................................................................04
2.2 – Trabalhos empíricos..............................................................................................12
2.3 – Conclusão..............................................................................................................22
3 – O investimento direto estrangeiro na economia brasileira............................................23
3.1 – O recente comportamento do IDE na economia mundial.....................................23
3.2 – O IDE na economia brasileira...............................................................................29
3.2.1 – A evolução dos investimentos................................................................29
3.2.2 – As fusões e aquisições e as privatizações ..............................................32
3.2.3 – O destino setorial do IDE.......................................................................34
3.3 – Os impactos macroeconômicos de atuação das EMNs.........................................37
3.3.1 – Formação bruta de capital fixo...............................................................37
3.3.2 – Impactos sobre o balanço de pagamentos..............................................39
3.4 – Conclusão..............................................................................................................46
4 – Determinantes do investimento direto estrangeiro no Brasil: 1996-2003.....................48
4.1 – O modelo ..............................................................................................................48
4.2 – Fonte de dados .....................................................................................................51
4.3 – Procedimentos econométricos...............................................................................54
4.4 – Análise dos resultados...........................................................................................59
5 – Conclusão............................................................................................................................67
6 – Bibliografia.........................................................................................................................71
Anexos.......................................................................................................................................75
vii
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1 – Indicadores selecionados de IDE na economia mundial, 1982 – 2003.................24
Tabela 3.2 – Média anual de entrada de IDE por região, 1970 – 2003.....................................25
Tabela 3.3 – Influxos de IDE para as economias em desenvolvimento, 1970 – 2003..............27
Tabela 3.4 – Relação entre investimentos em fusão e aquisição e IDE por região, 1992 –
2003............................................................................................................................................28
Tabela 3.5 – Fusão e aquisição e IDE, 1993 – 2003..................................................................32
Tabela 3.6 – Privatização e IDE, 1995 – 2003..........................................................................33
Tabela 3.7 – Distribuição do IDE por atividade econômica......................................................34
Tabela 3.8 – Coeficiente de comércio das empresas estrangeiras e das nacionais nas 500
maiores empresas da economia brasileira..................................................................................40
Tabela 3.9 – Saldo em trans. correntes e necessidade de financiamento, 1994 – 2003.............45
Tabela 3.10 – Remessas brutas de lucros e dividendos e IDE, 1990 – 2003.............................46
Tabela 4.1 – Modelo de dados longitudinais para o investimento direto estrangeiro, 1996-
2003............................................................................................................................................60
Tabela 4.2 – Modelo de dados longitudinais para o investimento direto estrangeiro, 1996-
2003............................................................................................................................................63
Tabela 4.3 – Modelo em painel de efeitos fixos para o IDE, 1996-2003..................................64
Tabela A.1 – Distribuição por atividade econômica de aplicação dos recursos........................76
Tabela A.3 – Correlação entre as variáveis do modelo.............................................................79
Tabela A.4 – Modelo de dados longitudinais para o investimento direto estrangeiro, 1996-
2003............................................................................................................................................80
Tabela A.5 – Modelo de dados longitudinais para o investimento direto estrangeiro, 1996-
2003............................................................................................................................................81
viii
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 3.1 – Participação por região no total dos fluxos mundiais de IDE, 1989 – 2003.......25
Gráfico 3.2 – Participação no total dos fluxos absorvidos de IDE pelos países em
desenvolvimento, 1975 – 2003..................................................................................................26
Gráfico 3.3 – Fluxo de entrada de IDE por setor.......................................................................29
Gráfico 3.4 – Ingressos brutos de IDE no Brasil, 1965 – 1993.................................................30
Gráfico 3.5 – Ingressos brutos de IDE e grau de internacionalização, 1989 – 2003.................31
Gráfico 3.6 – Setor industrial: investimentos por subsetor de destino......................................35
Gráfico 3.7 – Setor de serviços: investimentos por subsetor de destino....................................36
Gráfico 3.8 – IDE, PIB e FBKF, 1990 – 2003...........................................................................38
Gráfico 3.9 – Coeficientes de comércio das filiais por tipo de padrão de internacionalização
ponderadas pelas vendas – 2000................................................................................................43
ix
RESUMO
Ao longo da década de 1990, uma das transformações mais visíveis ocorridas na
economia brasileira foram os influxos de investimento direto estrangeiro (IDE) que
apresentaram um crescimento expressivo. Nesse sentido, o propósito central deste estudo é
estimar, com base em dados em painel para 49 setores no período 1996-2003, os principais
determinantes dos influxos de IDEs em direção à economia brasileira. Os resultados obtidos
apontam que fatores tradicionais tais como o tamanho e o ritmo de crescimento do produto e o
coeficiente de abertura comercial são os principais determinantes dos investimentos externos
no Brasil. Além desses fatores, a taxa de inflação, o desempenho das bolsas de valores e o
estoque de investimento direto estrangeiro também exercem influência sobre os influxos de
IDE.
x
ABSTRACT
During the 1990s, there was a significant growth in Foreign Direct Investment (FDI) to
Brazil. The central purpose of this study is to estimate, with panel data for 49 sectors between
1996-2003, the main determinants of FDI inflows to Brazil. The results suggest that traditional
factors like GDP, GDP growth as well as the coefficient of openness are the main
determinants of external investments in Brazil. Moreover, the inflation rate, the performance
of stock market and the foreign direct investment stock also influenced the inflows of FDI.
1
1 – INTRODUÇÃO
A década de 1990 foi caracterizada por importantes transformações tanto para a
economia brasileira no âmbito interno, quanto no contexto internacional. No plano
internacional, a globalização financeira provocou uma grande integração dos sistemas
financeiros mundiais e uma expansão no movimento de capitais internacionais. No início da
década de 1990, a condução da política macroeconômica pelas economias desenvolvidas é
marcada por um afrouxamento da política monetária, culminando numa significativa redução
das taxas de juros internacionais. Essa redução dos juros, associada à elevada liquidez
internacional e a recessão enfrentada por alguns países desenvolvidos, fizeram com que os
mercados emergentes se constituíssem como uma alternativa para os capitais internacionais.
Nos países em desenvolvimento1, por exemplo, a média do fluxo anual de entrada de
investimentos diretos foi de US$ 63 bilhões, entre 1990 e 1994. Já no período seguinte, entre
1995 e 1998, a média desse fluxo elevou-se para US$ 145 bilhões, ou seja, o volume de
investimentos diretos mais que dobrou com relação ao período anterior.
No contexto brasileiro, a última década foi marcada pela consolidação do cenário de
estabilidade econômica no país e por significativas reformas estruturais de inspiração liberal,
tais como a abertura comercial e financeira, a desregulamentação, a internacionalização da
estrutura produtiva, a disciplina fiscal e o processo de privatizações. Nesse contexto, a
economia brasileira aparece como um dos principais países receptores do fluxo de capitais
internacionais, sobretudo após a implementação do Plano Real. Dentre esses recursos
externos, destaca-se o papel do investimento direto estrangeiro (IDE), cujo volume, a partir da
segunda metade da década, supera o volume de entrada de capitais de curto prazo,
constituindo uma alteração significativa na estrutura de propriedade de capital no Brasil.
No Brasil, o volume de IDE bruto aumentou consideravelmente, passando de uma
média de US$ 2,4 bilhões entre 1991 e 1995 para US$ 22,3 bilhões entre 1996 e 1999. A
participação do Brasil nos fluxos mundiais esteve em ascensão por quase toda a década de
1990, desde 1990 até 1998, onde os investimentos no país representaram 4,2% do total
mundial. A partir de 1999 a participação brasileira inicia uma trajetória de queda, culminando
em 2003 com uma participação de apenas 1,8% dos fluxos mundiais de investimentos.
1 Esses dados são referentes aos países da África e da América Latina basicamente.
2
Os crescentes ingressos de IDEs na economia brasileira tiveram um papel primordial
ao longo da década de 1990, uma vez que sustentavam os volumosos déficits na balança de
transações correntes e viabilizavam a valorização cambial ocorrida após o Plano Real.
A maior parcela desses investimentos diretos externos foi direcionada para o setor de
serviços, resultado sobretudo do processo de privatizações e de desregulamentação realizado
pelo governo brasileiro. Neste processo de expansão dos investimentos diretos estrangeiros
para o país é importante destacar que a principal forma de realização dos mesmos foram as
fusões e aquisições transfronteiras. Configurou-se, assim, um novo perfil para os fluxos de
IDE, caracterizado pela compra de ativos já existentes, e, sem uma contribuição significativa
do ponto de vista do aprofundamento da estrutura industrial2.
Diferentemente dos investimentos em portfólio, o IDE apresenta uma contrapartida de
longo prazo, aumentando os níveis de poupança e de investimento de um país. No entanto,
crescentes ingressos de IDE podem elevar a vulnerabilidade externa de uma economia,
especialmente se este processo não for acompanhado de um aumento na receita das
exportações.
Nos últimos 50 anos, os estudiosos da literatura sobre IDE vêem buscando uma teoria
que explique quais seriam os determinantes dos IDEs, ou seja, por que empresas localizadas
num país inserem sua atividade no exterior e por que elas escolhem um país e não outro.
Atualmente, os movimentos nos fluxos de IDEs são bastante complexos e estão ligados
não apenas a uma série de fatores que rodeiam o ambiente competitivo em que as firmas
atuam, mas também às características econômicas dos países hospedeiros e remetentes. Por
essa razão, compreender as razões que determinam a entrada de IDE no Brasil é uma área de
estudo importante.
Esse trabalho tem o objetivo de contribuir para essa análise, procurando estimar, com
base em dados em painel para 49 setores no período 1996-2003, os principais determinantes
dos fluxos de IDEs em direção à economia brasileira. Variáveis como o tamanho e o
crescimento do produto na economia brasileira, a taxa de inflação, o coeficiente de abertura
comercial, o risco-país, o diferencial de taxa de juros, a quantidade consumida de energia
2 Esse novo perfil do IDE contrasta com aquele observado na década de 1970, onde os investimentos concentravam-se na indústria, além de serem investimentos novos (greenfield). Na década de 1970, os investimentos realizados pelas EMNs representaram importante contribuição para o processo de substituição de importações, sobretudo nos setores de bens de capital e bens de consumo durável.(NONNENBERG e MENDONÇA, 2003)
3
elétrica, o índice Dow Jones, o crescimento do produto nos países desenvolvidos e o estoque
de IDE serão testadas no intuito de verificar se estes fatores exercem algum efeito sobre o
investimento externo. Além disso, também procurar-se-á analisar o desempenho do IDE,
retratando o montante e o perfil desse tipo de investimento na economia brasileira e sua
contribuição ao balanço de pagamentos e ao crescimento da economia.
A hipótese básica do estudo é que os investimentos diretos estrangeiros ingressam no
país devido, em grade parte, ao tamanho do mercado brasileiro, ou seja, seria a busca de
mercados – market-seeking – a principal atratividade para as empresas multinacionais
alocarem suas atividades no Brasil.
O trabalho está estruturado em cinco capítulos, incluindo essa introdução. O segundo
capítulo apresenta uma breve resenha da literatura teórica e empírica relativa aos
determinantes do investimento direto estrangeiro. Busca-se, inicialmente, caracterizar algumas
das correntes de estudo mais importantes sobre a atuação das empresas multinacionais
(EMNs), enquanto que posteriormente são apresentados alguns trabalhos empíricos relativos
aos determinantes do IDE.
O terceiro capítulo analisa o desempenho do investimento estrangeiro direto no mundo
e no Brasil, procurando identificar o montante e o perfil desse tipo de investimento, sobretudo
ao longo da década de noventa. Também são apresentados os impactos que as empresas
multinacionais exerceram sobre o crescimento e o balanço de pagamentos do país.
O quarto capítulo apresenta o modelo que será utilizado para testar empiricamente o
grau de influência de algumas variáveis sobre o montante de investimento direto estrangeiro
direcionado aos setores secundário e terciário. No final do capítulo são analisados os
resultados econométricos obtidos para o modelo de determinante de IDE estimado através da
metodologia de dados em painel.
Por fim, apresentam-se as conclusões finais, resumindo as discussões de cada capítulo
e expondo os resultados encontrados sobre os principais fatores determinantes do ingresso dos
investimentos estrangeiros para o período 1996-2003.
4
2 – INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO: TEORIA E EVIDÊNCIA
EMPÍRICA INTERNACIONAL
Este capítulo apresenta o referencial teórico a ser utilizado na análise dos
determinantes do investimento direto estrangeiro. Busca-se, na primeira seção, caracterizar
algumas das correntes de estudo mais importantes sobre a atuação das empresas
multinacionais. Não se pretende aqui analisar sucintamente cada teoria, mas sim compreender
a importância de cada uma delas, além de entendê-las como explicações complementares para
as atividades das firmas fora de suas fronteiras.
Na segunda seção são apresentados alguns trabalhos empíricos relativos aos
determinantes do IDE3. São abordados diversos estudos realizados a partir de uma variedade
de técnicas econométricas. Inicialmente serão examinados alguns estudos envolvendo
determinantes de IDE dirigidos a um conjunto de países em desenvolvimento. Posteriormente,
também são analisados trabalhos em que o investimento externo é dirigido para um país
específico. Por fim, são apresentados alguns trabalhos sobre o IDE dirigido ao Brasil.
2.1 – A TEORIA
Os estudos iniciais sobre uma teoria de investimento direto estrangeiro e das empresas
multinacionais surgiram a partir da década de 19604. Antes, não havia nenhuma teoria
estabelecida que retratasse as atividades das firmas fora de suas fronteiras. Na verdade, o que
existia eram alguns trabalhos que analisavam especificamente evidências sobre os
determinantes do comércio internacional dos países, tais como os modelos de Heckscher e
Ohlin desenvolvidos até os anos 1950.
De acordo com DUNNING (1993), as primeiras tentativas5 em explicar as atividades
das firmas fora de suas fronteiras referiam-se aos trabalhos de Iversen (1935) que formalizou
uma teoria para os movimentos de capital de portfólio, a alguns estudos empíricos sobre a
localidade de uma EMN (Southard, 1931; Dunning, 1958), a um reconhecimento no trabalho
3 Estes estudos empíricos representam apenas uma pequena fração de uma volumosa literatura. 4 Apesar de vários economistas mercantilistas e clássicos já terem se referido ao tema, segundo DUNNING (1993). 5 Eram estudos isolados que não representavam nenhuma teoria.
5
de Williams (1929) que a internacionalização de algumas indústrias requeria uma modificação
nas teorias de comércio neoclássica, e a alguns estudos (Penrose, 1956, 1958; Bye, 1958) que
mostravam que as atividades da empresa multinacional promoviam ganhos na integração
vertical e horizontal.
A primeira importante contribuição ao estudo sobre empresas multinacionais foi a tese
de Stephen Hymer, publicada em 19766. Neste trabalho, o autor isolou a teoria do
investimento direto estrangeiro das teorias de comércio clássicas e da teoria de finanças, uma
vez que o diferencial de taxas de juros não seria o fator determinante para o investimento
internacional. A empresa multinacional era vista por Hymer como uma instituição voltada
para a produção internacional em vez do comércio internacional, baseando o foco da análise
da EMN para a teoria da organização industrial.
Para HYMER (1968, 1976), as firmas estrangeiras, para operar internacionalmente,
necessitavam possuir alguns tipos de privilégios, sob a forma de patentes, de produtos
específicos, de melhores conhecimentos técnicos, de maiores facilidades de financiamento
etc., a fim de que pudessem competir eficazmente com as empresas locais. O surgimento
dessas vantagens exclusivas a algumas firmas implicava na existência de algum tipo de falha
de mercado estrutural.
HYMER (1968) ainda analisou as vantagens e desvantagens da atuação das EMNs. Do
lado positivo, as empresas multinacionais utilizam seu acesso aos mercados internacionais de
bens, serviços e capitais, assim como seu acesso à tecnologia, de forma a contribuir para a
integração da economia mundial, além de atuar como um substituto de mercados imperfeitos,
repartindo de maneira eficaz os produtos e fatores no mundo. Por outro lado, essas mesmas
empresas poderiam provocar sérios problemas econômicos pela eliminação da concorrência, e
colocar graves problemas políticos, ao concentrar o poder de decisão e a potência financeira.
KINDLEBERGER (1969) desenvolveu um trabalho na mesma linha da visão de
Hymer. Segundo o autor, em um mundo de competição perfeita de bens e fatores, e sem
qualquer interferência governamental, o investimento direto não poderia existir, uma vez que,
nessas condições, as firmas locais teriam uma vantagem em relação às firmas estrangeiras com
relação à proximidade de suas operações com os centros de tomada de decisão. Para que o
investidor estrangeiro conseguisse competir com o investidor local seria necessário que a
6 A tese de Hymer foi concluída em 1960.
6
firma multinacional possuísse alguma vantagem compensatória, e estas surgiriam em
decorrência das falhas estruturais de mercado.
Conforme KINDLEBERGER (1969), para que o investimento direto exista deveria
haver algumas imperfeições nos mercados de bens ou fatores, ou alguma interferência na
competição por parte do governo ou por parte das firmas. Essa foi a diferença fundamental dos
trabalhos do autor em relação ao trabalho pioneiro de Hymer. Para KINDLEBERGER (1969)
era a estrutura de certos mercados que determinava o aparecimento do investimento direto
estrangeiro, ou seja, era a estrutura – competição monopolística – que iria determinar a
conduta da firma que irá internacionalizar sua produção.
A natureza das vantagens monopolísticas que produziriam o investimento direto
estrangeiro poderiam ser indicadas da seguinte forma:
• concorrência imperfeita no mercado de bens, dada por diferenciação de produto,
habilidades especiais de marketing, preços administrados etc.;
• competição imperfeita no mercado de fatores, incluindo discriminação no acesso de
capital, tecnologia não disponível, existência de patentes etc.;
• intervenção governamental, como por exemplo, através da imposição de tarifas que
encorajem a entrada de novas firmas estrangeiras;
• economias de escala internas e externas, incluindo as dadas por integração vertical.
CAVES (1971) também retratou um argumento semelhante aos autores anteriores,
ressaltando, assim como Kindleberger, que era a estrutura dos mercados que ditava a conduta
da EMN. Para CAVES (1971), a existência de IDE estaria relacionada sobretudo à
diferenciação de produto, ao conhecimento patenteado e às barreiras a entrada de novas
firmas. De acordo com autor o IDE poderia ser de dois tipos: investimento horizontal,
caracterizado pela produção dos mesmos bens produzidos na matriz e investimento vertical,
caracterizado pela produção de matérias-primas. O autor também analisou em seu artigo a
distribuição dos ganhos de bem estar oriundos do investimento direto tanto para a economia
receptora quanto para a economia remetente.
Segundo NONNENBERG e MENDONÇA (2004), os trabalhos de Hymer,
Kindleberger e Caves, ao proporem que a empresa multinacional necessitava possuir alguns
ativos específicos para poderem competir com as empresas locais, passaram a constituir na
literatura a tradição HKC de investimento direto estrangeiro, em homenagem a esses autores.
7
MARKUSEN e VENABLES (1995), na mesma linha da tradição HKC, elaboraram um
modelo em que buscavam mostrar a importância das firmas multinacionais para as novas
teorias de comércio. Os resultados encontrados pelos autores mostraram que a introdução das
EMNs em um respectivo país elevava o bem estar de ambos os países se eles fossem parecidos
em termos de renda, de dotação de fatores e de tecnologia, e se os custos de transporte fossem
relativamente elevados. Entretanto, se os custos de transporte fossem pequenos e se eles não
fossem parecidos com relação às características ditas acima, a presença da EMN iria elevar o
bem estar apenas da economia em que a mesma estivesse hospedada. Assim, o modelo
sugeriria que a empresa multinacional seria um veículo de transferência de benefícios dos
países ricos para as nações pobres.
Uma segunda corrente de estudos sobre a produção internacional foi a representada
pelo modelo de ciclo de produto de VERNON (1966)7. De acordo com os trabalhos desse
autor, inicialmente a produção e a venda das firmas seria totalmente doméstica uma vez que o
produto ainda não estaria padronizado (primeiro estágio). Como as inovações são poupadoras
de mão-de-obra, elas surgiriam inicialmente nos países mais intensivos em capital8.
Gradualmente, devido à combinação das vantagens de produção e inovação oferecidas pela
economia doméstica, as firmas passariam a exportar seus produtos para outros países9
(segundo estágio).
Na visão de VERNON (1966), com a padronização do produto, o amadurecimento da
tecnologia e a rotinização da produção, juntamente com a entrada de novos concorrentes na
economia doméstica, as empresas passariam a optar pela abertura de subsidiárias em outros
países (terceiro estágio). De acordo com HIRATUKA (2002), essa opção ocorreria tanto pela
avaliação de que os custos de produção seriam menores no exterior, como pela ameaça de
perda dos ganhos monopólicos da inovação com a entrada de novos concorrentes locais.
Assim, a teoria do ciclo de produto descrevia a seqüência de expansão das empresas,
ou seja, inicialmente atendendo a demanda local, posteriormente atendendo aos mercados
7 Também conhecido como modelo de ciclo de produto de três estágios. 8 O estudo foi realizado para as firmas norte-americanas em meados da década de 1960 e, segundo o autor, as condições da economia americana no pós-guerra dariam às empresas daquele país a liderança tecnológica na inovação de produtos. 9 Inicialmente a firma optaria por exportar seu produto para países que apresentassem padrão de demanda semelhante ao da economia doméstica.
8
através das exportações e dos representantes comerciais e, finalmente, produzindo nos
mercados de destino por meio de filiais.
Uma outra linha de estudos para a explicação da produção internacional da EMN está
baseado na teoria da internalização. A teoria da internalização estava direcionada em explicar
por que algumas atividades internacionais de produtos intermediários eram organizadas por
meio de hierarquias e não através de forças de mercados, sendo que sua ênfase se dá nos
mercados de produtos intermediários. De acordo com DUNNING (1993),
“The core prediction of internalization theory is that, given a particular distribution of factor endowments, MNE activity will be positively related to the costs of organizing cross-border markets in intermediate products” (p.75).
Entre os trabalhos baseados nessa teoria destacavam-se os de BUCKEY e CASSON
(1976, 1981). Segundo BUCKEY e CASSON (1976), as imperfeições de mercado eram
inicialmente exógenas à EMN, e para superar tal fato elas criavam um mercado interno
alternativo para repor a falha externa. Assim, a firma poderia internalizar uma vantagem
específica no intuito de estabelecer um mercado onde anteriormente não existia um mercado
específico. A internalização seria uma reação à imperfeição do mercado. Para esses autores,
como os mercados de produtos intermediários eram imperfeitos, a integração desses mercados
através do investimento direto estrangeiro minimizaria os custos de transação.
Em outro artigo, tendo também como pano de fundo a teoria da internalização,
BUCKEY e CASSON (1981) analisaram o tempo ótimo das decisões de investimento direto
externo das firmas em termos do custo do mercado externo, das condições de demanda e do
padrão de crescimento daquele mercado. Considerando que as firmas poderiam servir aos
mercados através da exportação, de licenciamento e do investimento direto estrangeiro, os
autores concluíram que essas escolhas dependeriam das variáveis acima, e geralmente
corresponderiam a diversos estágios da internacionalização da produção. De acordo com a
teoria da internalização, o investimento direto estrangeiro seria uma alternativa às exportações
e ao licenciamento.
Em um outro tipo de explicação para a atuação no exterior das firmas, numa visão
microeconômica, estão os trabalhos de John Dunning. Através do seu autodenominado
paradigma eclético, o autor procurou elaborar um modelo amplo para explicar as atividades
das empresas multinacionais unindo a teoria da produção internacional com algumas teorias
do comércio internacional.
9
De acordo com DUNNING (1993, 2001), o paradigma eclético apresentava três tipos
de forças para as firmas na inserção das suas atividades no mercado internacional, quais
sejam:
1. as vantagens da propriedade privilegiada de alguns ativos, tangíveis ou intangíveis, tais
como, o poder de mercado, as habilidades empresariais, o marketing, os sistemas
organizacionais etc., que estivessem disponíveis para a firma de uma nacionalidade em
relação a seus concorrentes;
2. as vantagens de internalização de determinados ativos, ou seja a firma adicionava valor
ao seu ativo internalizando-o, ao invés de vendê-lo no mercado;
3. as vantagens de localização que as firmas asseguravam ao direcionar sua produção
para um determinado país, tais como vantagens relacionadas às legislações e às
políticas governamentais, às estruturas de mercado, ao ambiente institucional, político,
jurídico e cultural etc.10.
DUNNING (1993) assegurava que a principal hipótese do seu paradigma eclético da
produção internacional era que o nível e a estrutura da produção da firma estrangeira iria
depender de quatro condições que deveriam ser satisfeitas:
i. a firma estrangeira deveria possuir vantagens de propriedade de alguns ativos em
relação a seus concorrentes locais;
ii. a firma estrangeira deveria internalizar essas vantagens de propriedade;
iii. assumindo as condições (i) e (ii), a firma estrangeira deveria produzir onde as
vantagens locacionais são suficientes para garantir a produção;
iv. assumindo as três vantagens acima, a firma ainda deveria considerar que a produção
externa fosse compatível com uma estratégia de direção/administração de longo prazo.
Segundo o autor, o paradigma podia ser expresso em uma forma dinâmica, uma vez
que cada uma dessas vantagens eram específicas de cada firma/indústria/país e podiam variar
de acordo com a estratégia da EMN. Assim, mudanças na entrada ou na saída de investimento
estrangeiro de uma determinada nação podiam ser explicadas em termos de mudanças nas
vantagens de propriedade de suas empresas relativas às de outras nações, em termos de
mudanças na internalização dessas vantagens de propriedade por parte das firmas, em termos
10 As vantagens de propriedade, locacionais e de internalização são conhecidas como configuração/vantagens PLI.
10
de mudanças nas vantagens locacionais oferecidas por um determinado país e em termos de
mudanças nas estratégias das firmas.
DUNNING (2001) também procurou aplicar o paradigma eclético no intuito de
examinar as mudanças na posição internacional dos países a medida que eles iam passando por
diversos estágios de desenvolvimento. Segundo o autor, o caminho do desenvolvimento do
investimento por que passam os países apresentava como hipótese básica o fato que à medida
que um país desenvolve, as vantagens de propriedade, locacionais e de internalização –
configuração PLI – das firmas estrangeiras que investem nesse país e das firmas nativas que
investem em outros países também vão se modificando, sendo possível identificar os efeitos
dessas mudanças nas trajetórias de desenvolvimento dos países.
Na visão de DUNNING (2001) o primeiro estágio de desenvolvimento seria a pré-
industrialização, em que o país não apresenta nem entrada nem saída de investimento, uma vez
que não detinha vantagens locacionais e as vantagens de propriedade das firmas eram
insuficientes. Num segundo estágio de desenvolvimento, o país passaria a atrair a entrada de
investimento inicialmente em busca de recursos e em setores manufatureiros tradicionais e
intensivos em trabalho.
Dependendo da disposição do país em prover melhores vantagens locacionais e da
política governamental em relação ao IDE, juntamente com a maior experiência na manufatura
de bens e serviços, fazia com que a entrada de investimento direto não pare de crescer. Por
outro lado, a melhora das vantagens locacionais por parte dos países fazia com que as firmas
nativas passassem a apresentar cada vez melhores vantagens de propriedade.
Essas modificações na configuração PLI das firmas fazia com que a entrada e a saída
de investidores continuasse sendo alterada. Com o passar do tempo e a medida que essas
firmas desenvolvessem suas vantagens de propriedade, elas começariam a atuar como
exportadoras de capital.
A partir do momento em que os países atingissem um certo grau de maturidade, e as
modificações na configuração PLI das firmas continuassem ocorrendo11, as firmas nativas
passariam a investir em outros países, e com o tempo a saída de investimento direto passaria a
11 Segundo DUNNING (2001), as mudanças na configuração PLI, assim como na entrada e saída de investimento direto, ao longo do ciclo do desenvolvimento do investimento dependem sobretudo das estratégias das firmas e das políticas governamentais.
11
exceder a entrada. O último estágio do caminho do desenvolvimento do investimento ocorreria
quando houvesse um balanço entre a entrada e a saída de investimento direto12.
Além do paradigma eclético, DUNNING (1993) também apresentou as razões para
uma empresa produzir no mercado internacional. Uma primeira razão seria a busca de
recursos, uma vez que as firmas usualmente investem no exterior para adquirir recursos
específicos não disponíveis no mercado doméstico, tais como os recursos naturais, as
matérias-prima, a mão-de-obra barata etc. Uma segunda razão seria a busca de mercados, pois
as empresas muitas vezes investem em um país no intuito de ofertar bens e serviços para
aquele mercado. O tamanho do mercado e a possibilidade de crescimento do mercado são as
principais razões para esse tipo de investimento externo.
Outra razão para o investimento direto estrangeiro seria a busca de eficiência por parte
das firmas. Através da dispersão racional (eficiente) de suas atividades, as EMNs podem obter
ganhos decorrentes da presença de economias de escala e escopo e da diversificação de risco.
Por fim, a busca de ativos estratégicos seria uma alternativa as EMNs engajarem em
atividades trans-fronteiras. As firmas usualmente adquirem ativos de corporações externas a
fim de sustentar ou de fortalecer sua competitividade externa e de enfraquecer seus
concorrentes. Além disso, as EMNs esperam que a aquisição ou fusão de ativos traga
benefícios para a organização como um todo. De acordo com o autor, nas duas últimas
décadas, vem ocorrendo um grande deslocamento das empresas multinacionais para os países
em desenvolvimento em busca de recursos e em busca de mercados, enquanto que nos países
desenvolvidos o principal investimento das EMN é em busca de eficiência e de ativos
estratégicos.
Na linha da internacionalização da produção – assim como Vernon – encontram-se os
trabalhos de Graham. Os estudos de GRAHAM (1978,1998) caracterizaram-se pelo fato das
empresas multinacionais operarem em mercados imperfeitos constituídos pelo oligopólio.
GRAHAM (1978) busca explicar que o comportamento rival entre as firmas é uma
característica importante nas explicações sobre as EMNs. Segundo o autor,
“...the entry of the foreign firm into a stable oligopoly might disrupt patterns of oligopoly conduct and stimulate rivalrous behavior on the
12 De acordo com DUNNING et al. (2001), o conceito do caminho do desenvolvimento do investimento é bastante relevante para explicar o crescimento recente ocorrido na saída de investimento direto oriundo de países como Korea e Taiwan. Nesses dois países passou a haver um balanço entre a entrada e a saída de investimento direto estrangeiro.
12
part of local firms, manifested in the home market of the local firms and the home market of foreign firm”(GRAHAM, 1978, p.89).
Para GRAHAM (1978), essa era a razão para a entrada das firmas européias nos
Estados Unidos. Ainda de acordo com o autor, seria o comportamento rival das firmas que
desencadearia as fusões intra-indústrias, o comportamento retaliatório dos preços e a agressiva
diferenciação de produto.
Em outro trabalho, GRAHAM (1998) desenvolveu um modelo buscando demonstrar
como certos conceitos, baseados na teoria dos jogos, poderiam ser usados para entender o
comportamento das EMNs. O autor concluiu neste trabalho que o fato das firmas terem baixo
custo em relação a suas rivais é uma condição necessária, mas não suficiente, para que a
mesma se torne uma empresa multinacional.
Ainda na linha da internacionalização da produção encontram-se os trabalhos de John
Cantwell. De acordo com CANTWELL e NARULA (2001) as empresas multinacionais
montam subsidiárias externas não apenas para explorar sua própria tecnologia mas também
para enriquecê-la. Ao contrário da literatura tradicional onde a tecnologia é uma vantagem
específica da firma que guia a sua internacionalização, as contribuições recentes acreditam que
o IDE causa uma reversão na transferência de tecnologia.
Assim a tecnologia adquirida por uma filial externa pode ser aplicada em combinação
com a tecnologia da matriz em todos os mercados onde a firma multinacional opera. Nota-se
assim, segundo CANTWELL (2000), citado por NONNENBERG e MENDONÇA (2004),
que a acumulação tecnológica seria um processo interno à firma e cumulativo e a firma iria
desenvolver seu conhecimento em redes internacionais de tecnologia no intuito de ter acesso
cada vez mais a novos conhecimentos.
2.2 – TRABALHOS EMPÍRICOS
Os trabalhos examinados a seguir referem-se assim, a determinantes de IDEs dirigidos
a países em desenvolvimento. SCHNEIDER e FREY (1985) estimaram os fatores
determinantes do fluxo líquido de investimento direto externo de 54 países em
desenvolvimento13 utilizando regressão múltipla para os anos de 1976, 1979 e 1980. O
13 Essas economias são referentes a América Latina, a África e a Ásia.
13
objetivo dos autores foi o de examinar a importância das variáveis políticas e econômicas na
determinação do IDE.
Segundo os autores, as variáveis econômicas seriam o PIB percapita, a taxa de
crescimento do PIB, a taxa de inflação, o balanço de pagamentos, o custo salarial dos
trabalhadores e a qualificação da força de trabalho. Já as variáveis políticas seriam a
instabilidade política, uma dummy que represente a ideologia do governo (se é de esquerda ou
de direita), uma variável que represente a ajuda dos estados comunistas e uma outra que
represente o auxílio das nações do ocidente.
Os resultados encontrados pelos autores revelaram que tanto as variáveis econômicas
quanto as políticas foram significativas. Do lado econômico, quanto maior o PIB percapita e
quanto menor o déficit no balanço de pagamentos maior a atração de investimento direto
estrangeiro. Do lado político, quanto maior a ajuda dos países do ocidente maior o estímulo ao
investimento estrangeiro e quanto maior a instabilidade política menor o influxo de IDE14.
LOREE e GUISINGER (1995) examinaram os fatores determinantes do investimento
direto estrangeiro dos Estados Unidos tanto para países desenvolvidos quanto para países em
desenvolvimento em 1977 e em 1982. O objetivo do estudo foi o de verificar se seriam as
variáveis de política nos países hospedeiros mais importantes que as demais variáveis para os
investidores nas suas escolhas de alocação de um investimento.
Segundo os autores, as variáveis de ação nos países hospedeiros seriam: uma
correspondente aos incentivos para investimento oferecidos para uma filial estrangeira; uma
referente à performance requerida para uma subsidiária estrangeira; e uma que represente a
efetiva taxa de imposto sobre a renda da corporação estrangeira. Já as demais variáveis seriam
a estabilidade política, a distância cultural, a infraestrutura, as taxas de salário e o tamanho do
mercado15.
Os resultados encontrados pelos autores mostram que ambos conjuntos de variáveis
são importantes para os investidores. Entretanto, num caso especial, as variáveis de ação nos
países hospedeiros seriam mais importantes uma vez que o governo não teria tanta influência
14 Essas foram as variáveis mais importantes a partir da estimação do autor. Todas elas foram fortemente significativas e com os respectivos sinais preditos pela teoria. 15 Todas essas variáveis são explicadas de maneira mais detalhadas em Loree e Guisinger (1995). Os autores também especificaram os diversos problemas metodológicos da estimação.
14
sobre elas. O principal determinante de acordo com o estudo foi a infraestrutura que se
apresentou significativa e com o sinal esperado nos dois anos de análise.
Com relação aos determinantes do IDE destaca-se o trabalho de LANE e MILESI-
FERRETTI (2000). Neste artigo, os autores estimaram um modelo de determinação de estoque
de obrigações externas para 132 países em 1997, separando as nações em economias
industriais e em desenvolvimento, e desagregando os capitais externos em IDE, investimentos
em portfólio e empréstimos externos.
As variáveis utilizadas foram o tamanho do país, o grau de abertura comercial16, o
nível do PNB percapita, assim como algumas dummies continentais. Posteriormente, foram
adicionadas uma por uma novas variáveis, tais como a fração dos recursos naturais exportáveis
(“natural resource exports”) em relação ao PNB, a fração da receita das privatizações em
relação ao PNB, uma proxy para o grau de desenvolvimento do sistema financeiro, a fração de
capitalização do mercado de capitais (“stock market capitalization”) em relação ao PNB e por
fim um índice para as restrições externas.
Diferenças entre países industriais e em desenvolvimento foram aparentes nos
resultados para os determinantes de IDE. Para os países industriais a renda percapita, o grau
de abertura comercial e a capitalização do mercado de capitais foram as variáveis que
explicaram grande parte das obrigações em IDE. Já para as economias em desenvolvimento a
fração dos recursos naturais exportáveis e a fração da privatização, além da abertura
comercial, foram as variáveis significativas e positivamente correlacionadas com as
obrigações de IDE.
GARIBALDI et alii (2001) estudaram os fatores determinantes tanto do fluxo de
investimento direto externo quanto do investimento de portfólio para 26 economias em
transição17 com base em um painel dinâmico para o período compreendido entre 1990 e 1999.
O objetivo do trabalho foi o de verificar a magnitude e a composição de cada tipo de capital e
examinar um grande número de potenciais variáveis determinantes de ambos os tipos de
capital.
16 Na maior parte dos trabalhos o grau de abertura comercial é medido pela somatório das exportações e das importações em relação ao PIB. Caso em algum trabalho, esta variável seja medida de forma diferente, será especificada a maneira de calculá-la. 17 Essas economias foram agregadas em cinco grupos: Centro e Leste Europeu, Sudoeste Europeu, países do Báltico, Rússia e os países que formaram a antiga União Soviética.
15
De acordo com os autores, as seguintes variáveis foram classificadas como
determinantes gerais de qualquer tipo de fluxo de capital: fundamentos macroeconômicos,
reformas estruturais, quadro legal e institucional, condições iniciais e percepção de risco de
mercado. Por outro lado, os determinantes específicos do investimento direto foram um
indicador de competitividade, a liberalização comercial, as restrições ao investimento direto e
alguns indicadores de privatização18.
GARIBALDI et alii (2001) concluíram que com relação à entrada de investimento
direto, estes podem ser explicados através de um conjunto de fundamentos econômicos.
Variáveis como tamanho de mercado, déficit fiscal, regime cambial, liberalização comercial,
reformas estruturais, restrições ao investimento direto, indicador de privatização, dotação de
recursos naturais, percepção de risco e burocracia apresentaram o sinal esperado e foram
significativas.
NUNNENKAMP e SPATZ (2002) analisaram os fatores determinantes tanto do fluxo
quanto do estoque de IDE de 28 países em desenvolvimento19 utilizando dados20 em painel e
coeficientes de correlação de Spearman para o período entre 1987 e 2000. O principal objetivo
do artigo foi o de examinar se a globalização induziu a uma mudança nos determinantes de
IDE, ou seja, se os fatores tradicionais tornaram-se menos importantes e os não tradicionais
mais importantes na determinação dos investimentos externos.
Segundo os autores, as seguintes variáveis foram classificadas como determinantes
tradicionais: a população, o PIB percapita e o crescimento do PIB nos países hospedeiros, os
fatores de risco, as restrições à entrada de firmas e os gargalos administrativos. Já as variáveis
não tradicionais foram os fatores complementares de produção, a média de anos na escola, os
fatores de custo e as restrições ao comércio externo. As variáveis restrições após a entrada e
regulação relacionada à tecnologia não pertenceram a nenhuma das classificações acima21.
NUNNENKAMP e SPATZ (2002) encontraram correlações de Spearman
significativas entre fluxos22 de IDE e PIB percapita, gargalos administrativos, fatores de risco,
fatores complementares de produção, anos de escolaridade, fatores de custo e restrições ao 18 Todas as variáveis são detalhadamente explicadas na referida obra. 19 Os países examinados foram: Argentina, Bangladesh, Brasil, China, Colômbia, Equador, Egito, Gana, Guatemala, Índia, Indonésia, Irã, Kênia, Malásia, México, Nigéria Paquistão Filipinas, Korea, Arábia Saudita, Sri Lanka, Síria, Taiwan, Tailândia, Tunísia, Turquia, Vietnã e Zimbábue. 20 Os dados foram oriundos do European Round Table of Industrialists. 21 Todas as variáveis são detalhadamente explicadas no anexo do referido trabalho. 22 Os resultados encontrados para o estoque de IDE foram bastante semelhantes aos de fluxo.
16
comércio externo. Por outro lado, a população, o crescimento do PIB, as restrições à entrada
de firmas, as restrições após a entrada e a regulação relacionada à tecnologia não foram
significativas.
Com relação aos resultados das regressões, usando como controles os fatores
tradicionais – população e PIB percapita – e fazendo a regressão para os demais fatores
encontram-se apenas os fatores de custo23 como variável significativa e ainda assim apenas no
período 1997-2000. Assim, os resultados obtidos pelos autores revelaram que a importância
das variáveis não tradicionais tem crescido de forma apenas modesta, mesmo com o advento
da globalização, enquanto que os fatores tradicionais continuam sendo os principais
determinantes do IDE.
CAMPOS e KINOSHITA (2003) estudaram os fatores determinantes do estoque de
investimento direto externo para 25 economias em transição24 utilizando dados em painel para
o período entre 1990 e 1998. O objetivo foi o de examinar a importância das instituições e das
economias de aglomeração versus as dotações de fatores e as condições iniciais em explicar a
escolha locacional dos investidores externos.
Segundo os autores, os determinantes locacionais do IDE foram classificados em cinco
grupos de variáveis:
• as variáveis clássicas relacionadas às vantagens específicas dos países, ou seja o
tamanho do mercado, o custo do trabalho, a habilidade da força de trabalho, a distância
em relação aos mercados da Europa Ocidental e a infra-estrutura25;
• os fatores relacionados à política macroeconômica e às reformas econômicas, tais quais
a taxa de inflação, um índice de restrição ao IDE e um índice de liberalização externa;
• duas variáveis que representassem a importância das instituições que foram a
qualidade da burocracia e a observância do cumprimento das leis;
• a economia de aglomeração representada pelo estoque de IDE defasado;
23 Os fatores de custo estão relacionados a condições de emprego, poder dos sindicados, regulação do mercado de trabalho etc. 24 Essas economias são referentes ao Centro e Leste Europeu, e aos países que formaram a antiga União Soviética. 25 Para esse primeiro grupo de variáveis as proxies utilizadas na ordem foram o PIB real percapita, a taxa de salário real, as taxas de matrícula na escola secundária, a distância das capitais em relação a Brussels e o número de linhas telefônicas.
17
• por fim, as variáveis que representassem as condições iniciais, que foram
respectivamente a dotação de recursos naturais e a abertura comercial.
As estimações realizadas pelos autores mostraram que os principais determinantes
foram as instituições, as economias de aglomeração, o baixo custo da mão-de-obra e os
recursos naturais abundantes. Além disso, os investidores externos têm preferência por países
que são mais abertos para o comércio, com poucas restrições ao IDE e com progressos na
liberalização externa. Sendo assim, também os resultados obtidos por CAMPOS e
KINOSHITA (2003) demonstram que os fatores tradicionais continuam sendo os principais
determinantes dos IDEs.
NONNENBERG e MENDONÇA (2004) estimaram com base em dados de painel, os
principais determinantes dos investimentos diretos externos em 33 países26 em
desenvolvimento no período de 1975 a 2000. Além disso, os autores também realizaram um
teste de causalidade no contexto de dados em painel no intuito de verificar se o investimento
direto externo tem efeito sobre o PIB.
As variáveis selecionadas para explicar o investimento direto foram o PIB, a taxa
média de crescimento real do PIB nos últimos cinco anos, a qualificação da força de trabalho,
o grau de abertura comercial, a taxa de inflação, a taxa de risco, o consumo percapita de
energia, o índice Dow Jones e o somatório do PIB dos maiores exportadores de capital da
OCDE para países em desenvolvimento. De acordo com NONNENBERG e MENDONÇA
(2004), o principal motivo da pesquisa foi testar a efetividade de alguns fatores
macroeconômicos para a atração de investimentos estrangeiros.
Os resultados encontrados pelos autores demonstraram que fatores como tamanho e
ritmo de crescimento do produto, qualificação da mão-de-obra, risco-país27, desempenho do
mercado de capitais e grau de abertura da economia estão entre os principais determinantes de
IDE, apresentando os sinais esperados e sendo significativos. Já o consumo percapita de
energia e o PIB da OCDE não foram significativos.
No que tange ao teste de causalidade, os autores concluíram que os investimentos
diretos externos não possuem efeito positivo sobre o PIB. Segundo os autores, é o PIB do país
26 Esses países são referentes a América Latina, a África, a Ásia e a Europa e foram detalhados no respectivo trabalho. 27 A taxa de inflação aparece com sinal negativo e significativo apenas quando a variável risco-país não é introduzida.
18
que tem efeito sobre a entrada de investimento, o que corrobora com o fato da China, maior
economia em desenvolvimento do mundo, ter se tornado um dos maiores países receptores de
capital.
Com relação aos trabalhos em que o IDE é dirigido a um país específico destaca-se o
de BARRELL e PAIN (1991). Esses autores construíram um modelo para o estoque de IDE e
examinaram em que extensão o modelo serviria para explicar o nível de saída de investimento
direto das firmas norte-americanas nas décadas de 1970 e 1980, através de uma análise de
cointegração. O modelo construído levou em conta as escolhas da firma multinacional em
relação a onde produzir, como produzir e como financiar os gastos com os fatores de
produção.
As variáveis testadas por BARRELL e PAIN (1991) foram o nível do PIB das sete
maiores economias da OCDE, o custo do trabalho, o custo do capital, a variação da taxa de
câmbio, o volume de bens exportados pelos EUA e o nível de lucros das corporações norte-
americanas.
Os resultados obtidos pelos autores demonstraram que tanto o nível do PIB das
principais economias da OCDE quanto custos relativos dos fatores – capital e trabalho – são
importantes determinantes para a decisão do investimento estrangeiro. Além disso, os
movimentos de curto prazo da taxa de câmbio também foram significativas na determinação
do IDE.
No mesmo ano, FROOT e STEIN (1991) examinaram a relação entre os fluxos de
entrada de investimento direto externo nos EUA e a taxa de câmbio, utilizando regressão
múltipla para o período entre 1973 e 1987 no intuito de mostrar a importância da taxa de
câmbio na determinação do IDE.
Os autores estimaram essa relação para o IDE, e também desagregaram esse
investimento entre os setores industriais (químico, petrolífero, alimentos, etc.) da economia e
entre os tipos de investimento direto (fusões e aquisições, expansão de plantas, novas plantas,
etc.). A maior parte dos resultados obtidos revelaram uma relação negativa e significativa
entre a taxa de câmbio e o investimento direto estrangeiro, significando que uma depreciação
na moeda norte-americana pode levar a uma aquisição dos ativos domésticos por parte dos
investidores externos.
19
Na mesma linha de Barrell e Pain, BAJO-RUBIO e SOSVILLA-RIVERO (1994)
estimaram os fatores determinantes da entrada total bruta de IDE na Espanha entre 1964 e
1989, através de uma análise de cointegração. Além do total de investimento direto recebido
pela economia espanhola, os autores ainda desagregaram o IDE e estimaram separadamente
para os investimentos direcionados para as atividades manufatureiras, para as não
manufatureiras e os oriundos da Comunidade Européia.
O modelo construído pelos autores levou em conta as escolhas da firma multinacional
em relação ao nível de produção e ao mix de insumos para a produção externa. As variáveis
testadas foram o nível do PIB, a taxa de inflação, o custo unitário do trabalho e o custo do
capital referentes à economia espanhola, a taxa de câmbio efetiva real da Espanha em relação
aos países industrializado, um indicador de barreiras comerciais, uma variável dummy que
representasse a entrada da Espanha na Comunidade Européia e o estoque de capital defasado
um período.
Os resultados encontrados demonstraram uma relação de longo prazo entre a entrada
bruta total de IDE e o PIB real, a taxa de inflação, um indicador de barreiras comerciais e o
estoque de capital defasado um período. Quando o investimento direto estrangeiro é dividido
em atividades manufatureiras e não manufatureiras, os resultados obtidos são semelhantes, à
exceção do custo unitário do trabalho e do custo do capital que passam a ser significativos e
com sinais negativos28. Por fim, quando se estima apenas o IDE oriundo da Comunidade
Européia, encontra-se como fatores determinantes além do nível do PIB real e da taxa de
inflação, a variável dummy que representa a integração espanhola na Comunidade Européia.
A partir do modelo derivado no trabalho anterior, LOVE e LAGE-HIDALGO (2000)
analisaram os determinantes dos fluxos de IDE dos Estados Unidos para o México durante o
período compreendido entre 1967 e 1994 procurando investigar o papel da demanda doméstica
e dos custos dos fatores, por meio de uma análise de cointegração. As variáveis testadas foram
o PIB percapita, um diferencial de salário real entre os dois países, um diferencial de custo de
capital entre os dois países e o estoque de investimento direto norte-americano defasado. Além
disso, a volatilidade da taxa de câmbio foi testada apenas para o modelo de correção de erro
(curto prazo).
28 O custo unitário do trabalho é significativo apenas para o IDE não manufatureiro, enquanto o custo de capital é significativo apenas para o investimento direto estrangeiro manufatureiro.
20
Os resultados obtidos pelos autores demonstraram que tanto a partir do modelo básico
quanto a partir do modelo de correção de erros, a hipótese tamanho de mercado – representada
pelo PIB percapita – e a hipótese mão-de-obra barata – representada pelo diferencial de
salários entre a economia receptora e remetente – influenciaram os fluxos de IDE norte-
americanos para a economia mexicana. Por outro lado, o diferencial de custo de capital não foi
significativo no modelo de correção de erro e apresentou um sinal oposto ao predito pela
teoria no longo prazo. A dinâmica de curto prazo do modelo ainda indicou que a volatilidade
da taxa de câmbio tem um efeito sobre o timing das decisões de investimento.
Por fim, entre os trabalhos econométricos de determinantes de investimento estrangeiro
direto no Brasil destaca-se o de HENNINGS (1996). Neste trabalho, a autora teve o cuidado
de desagregar os capitais externos em IDE, empréstimos e investimentos de portfólio, e
estimar os determinantes de cada tipo de capital separadamente. Através da abordagem teórica
da Teoria de Estoques conjugada à Teoria de Decisão de Portfólio de Markowitz e Tobin, a
autora desenvolveu um modelo de regressão múltipla para testar a sensibilidade desses capitais
a fatores internos e externos da economia.
As variáveis testadas foram a produção industrial brasileira, um diferencial de taxas de
juros multiplicado pela riqueza do investidor estrangeiro e uma variável dummy representando
estímulos governamentais ao investimento estrangeiro. Todas as variáveis testadas
apresentaram coeficientes com sinais esperados e estatisticamente significativos. Os resultados
obtidos sugerem, no caso dos investimentos estrangeiros diretos, que estes se mostraram mais
sensíveis em relação ao desempenho da economia do que ao diferencial entre as taxas de
retorno esperadas para o período.
De acordo com HENNINGS (1996), a hipótese básica do estudo é que a diversidade na
natureza de cada capital induz que possuam sensibilidades diferentes a cada variável testada.
Essas diferentes sensibilidades permitiriam ao governo a elaboração de políticas de atração ou
inibição direcionadas especificamente ao capital sobre o qual se deseja exercer influência.
DE NEGRI e ACIOLY (2004) buscaram encontrar novas evidências sobre alguns
determinantes dos investimentos estrangeiros na indústria de transformação brasileira. Através
21
de uma ampla base de dados29, os autores compararam as firmas estrangeiras que entraram,
saíram e permaneceram na indústria durante o período de 1996 a 200030.
Os dados das firmas foram organizados em painel e, através de um modelo de
regressão logística multivariado politômico, procurou-se verificar se a entrada de firmas
estrangeiras na indústria brasileira seria determinada pelo comércio exterior, pela qualificação
da mão-de-obra, pelo salário e pela escala de produção. As variáveis testadas pelos autores
foram: dummies para importação e exportação, faturamento, remuneração média mensal dos
trabalhadores na firma e escolaridade média dos trabalhadores, além de dummies para os anos
e para as divisões da Classificação Nacional da Atividade Econômica (CNAE).
Os resultados encontrados pelos autores indicaram, do ponto de vista do comércio
exterior, que as exportações a partir da indústria brasileira são um dos determinantes da
atração das firmas estrangeiras para o Brasil. A razão de probabilidade estimada indicou que
uma firma exportadora tem 5,06 vezes mais chances de ser estrangeira quando comparada com
uma nacional.
Entretanto, com relação às importações, as estimativas confirmaram que estas são
ainda mais relevantes. A razão de probabilidade estimada indicou que uma firma importadora
tem 7,6 vezes mais chances de ser estrangeira. Comparando esse resultado com o das
exportações, pode ser visto que as firmas estrangeiras têm maior propensão a importar do que
a exportar31.
Os indicadores mostram que um dos fatores determinantes da entrada e da permanência
das firmas estrangeiras foi a possibilidade de dispor de insumos importados para o seu
processo de produção, tendo em vista a inexistência de fornecedores na indústria doméstica.
Nesse caso, cabe observar que a política de atração de investimentos estrangeiros deveria
29 O trabalho foi apoiado no banco de dados do IPEA que contém informações de microdados da Pesquisa Industrial Anual (PIA), da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) e do Censo do Capital Estrangeiro do Banco Central. 30 No intuito de caracterizar as firmas por propriedade de capital, o trabalho dividiu as firmas em nove categorias. Nas categorias categorizadas de Brasileira e Estrangeira foram incluídas as firmas de capital brasileiro e majoritariamente estrangeiro no período. Nas categorias Brasileira-sai e Estrangeira-sai ficaram as firmas que eram brasileiras e estrangeiras e que saíram da indústria entre 1996 e 2000. Por outro lado, nas categorias Brasileira-entra e Estrangeira-entra ficaram as firmas brasileira e estrangeira que entraram na indústria por novas investimentos (sem que tenham acorrido fusões ou aquisições) no período. Por fim, nas categorias Brasileira>Estrangeira e Estrangeira>Brasileira foram classificadas as firmas que mudaram de propriedade de capital entre 1996 e 2000. Detalhamentos adicionais podem ser vistos em DE NEGRI e ACIOLY (2004). 31 Esse resultado corrobora com os resultados encontrados por Laplane e Sarti (2003), Hiratuka (2003) e De Negri (2003), os quais são discutidos e detalhados no capítulo 3.
22
pensar também em atrair para a indústria doméstica fornecedores globais das grandes firmas
produtoras de bens finais.
Além disso, um outro resultado obtido foi que as firmas estrangeiras estariam
demandando mão-de-obra de maior qualificação em relação às nacionais, o que exigira
maiores salários. Por fim, as estimativas indicaram ainda que a capacidade de as empresas
estrangeiras atingirem escala ótima de produção foi um dos determinantes da atração de tais
firmas para o país.
2.3 – CONCLUSÃO
A maior parte da literatura teórica relativa ao investimento direto estrangeiro e às
empresas multinacionais centralizou seu foco de análise nas firmas, ou seja, quais deveriam
ser as vantagens que as firmas deveriam possuir para inserir suas atividades no mercado
internacional e poderem competir com as firmas domésticas. Menor importância foi dada aos
fatores macroeconômicos.
Com relação aos trabalhos empíricos relativos aos determinantes de IDEs, verificou-se
que em grande parte destes, os fatores tradicionais tais como o nível do PIB, sua taxa de
crescimento, os custos de mão-de-obra etc., continuam sendo as principais variáveis que
influenciam os investimentos externos, sobretudo para os países em desenvolvimento. Para
esses países, os investimentos diretos são caracterizados, na maioria das vezes, pela busca de
mercados e de recursos. No entanto, a sensibilidade desses capitais externos a fatores internos
e externos da economia pode variar devido sobretudo ao tipo de IDE.
23
3 – O INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO NA ECONOMIA BRASILEIRA
Este capítulo analisa o desempenho do investimento estrangeiro direto no mundo,
procurando identificar o montante e o perfil desse tipo de investimento. Na primeira seção,
procurar-se-á investigar o montante de investimento direto estrangeiro distribuído na
economia mundial, retratando os fluxos de entrada para os países desenvolvidos e para as
economias em desenvolvimento nas duas últimas décadas. Além disso, também será
identificada a posição do Brasil ao longo desses anos frente às economias em desenvolvimento
como receptor de IDE.
Na segunda seção, buscar-se-á mostrar o desempenho do investimento direto
estrangeiro no Brasil, procurando identificar o montante e o perfil desse tipo de investimento a
partir da década de noventa. Por fim, na última seção do capítulo são apresentados os impactos
que as empresas multinacionais exerceram sobre o crescimento e o balanço de pagamentos do
país.
3.1 – O RECENTE COMPORTAMENTO DO IDE NA ECONOMIA MUNDIAL
Ao longo das duas últimas décadas, o sistema capitalista mundial foi marcado por um
conjunto de transformações nas esferas comercial, produtiva, tecnológica, financeira etc., que
configuraram um processo conhecido como globalização. No campo produtivo e financeiro, a
globalização provocou expansão da internacionalização da produção, elevação da
concorrência nos mercados produtivos, maior desregulamentação financeira, aumento do
movimento internacional de capitais e maior integração dos sistemas financeiros mundiais.
Juntamente com essas transformações verificou-se uma expansão espetacular do fluxo
mundial de IDE, sobretudo a partir da década de 1980.
Na tabela 3.1, encontra-se a evolução de alguns indicadores relacionados ao IDE desde
a década de 1980. Observa-se que de um total mundial de entrada de IDE de aproximadamente
US$ 59 bilhões em 1982, este montante passa para US$ 560 bilhões em 2003, após atingir o
ápice de mais de quase US$ 1,4 trilhão no ano 2000. Não apenas os fluxos de entrada de
investimento estrangeiro, mas também os fluxos de saída assim como os estoques
24
apresentaram significativo crescimento ao longo dos últimos 20 anos32. Na última metade da
década de 1990, por exemplo, enquanto a entrada anual de IDE apresentou um crescimento
médio de quase 40%, os fluxos de saída apresentaram um aumento de cerca de 35%.
Entretanto apesar da elevação espantosa dos fluxos de IDE, nos últimos anos – 2001,
2002 e 2003 – houve um considerável declínio da entrada global de investimento externo.
Entre 2000 e 2001, por exemplo, a taxa de crescimento do fluxo de entrada de IDE foi
negativa em cerca de 41%. O principal fator responsável por esse declínio seria o baixo
crescimento econômico da maior parte das economias do mundo. Além disso, quedas de
valorização do mercado acionário mundial, baixas lucratividades das grandes corporações e
uma diminuição das privatizações realizadas em alguns países em desenvolvimento também
contribuíram para essa redução (United Nations Conference on Trade and Development –
UNCTAD, 2003).
Quanto à distribuição dos ingressos de investimentos diretos externos entre as regiões,
mais de dois terços do total mundial dos fluxos de entrada de IDE ao longo do período
analisado sempre se dirigiram para as economias desenvolvidas, à exceção do período entre
1991-95 (tabela 3.2). Observa-se, através da tabela 3.2, que os países em desenvolvimento
sempre mantiveram cerca de 25% do total mundial de ingresso de investimento estrangeiro, o
que demonstra que a globalização não promoveu um incremento relativo de IDE para essas
economias33. No ano 2000, por exemplo, apenas o montante de IDE recebido pelos Estados
Unidos – US$ 314 bilhões – foi superior aos investimentos realizados pelas transnacionais em
32 De acordo com a metodologia utilizada pela UNCTAD, a entrada de IDE é definida como o fluxo líquido, ou seja, são as transações de capital creditadas menos as debitadas entre os investidores diretos e suas filiais externas, englobando os empréstimos intercompanhias, os reinvestimentos e as participações no capital. 33 A principal alteração de percentual relativo de entrada de IDE é uma crescente participação da Europa Central e Oriental como um importante destino para os investimentos a partir da década de 1990. Apesar da participação desses países ser ainda pequena, a taxa de crescimento de investimento dirigido para essas nações foi muito elevada até a queda em 2003.
Tabela 3.1 - Indicadores selecionados de IDE na economia mundial, 1982-2003 (em US$ bilhões e %)Valores correntes Taxa de crescimento anual (%)
Itens 1982 1990 2003 1986-90 1991-95 1996-00 2000 2001 2002 2003entrada de IDE 59 209 560 22,9 21,5 39,7 27,7 (41,1) (17,0) (17,6) saída de IDE 28 242 612 25,6 16,6 35,1 8,7 (39,2) (17,3) 2,6 estoque de entrada de IDE 796 1.950 8.245 14,7 9,3 16,9 19,1 7,4 12,7 11,8 estoque de saída de IDE 590 1.758 8.197 18,1 10,7 17,1 18,5 5,9 13,8 13,7 Fonte: UNCTAD, World Investment Report 2004
25
todos os países em desenvolvimento – US$ 252 bilhões – e na Europa Central e Oriental –
US$ 28 bilhões – somados.
A participação do Brasil nos fluxos mundiais esteve em ascensão por quase toda a
década de 1990, desde 1990 até 1998, período em que as concessões dos serviços públicos e as
privatizações das empresas estatais, sobretudo do setor de serviços, atraíram grande parcela de
investimentos diretos externos. A partir de 1999 a participação brasileira inicia uma trajetória
de queda, culminando em 2003 com uma participação de apenas 1,8% dos fluxos mundiais de
investimentos (gráfico 3.1). Em 1998, o Brasil ocupava o 5º lugar na lista dos principais países
receptores de IDE. Já em 2002 e 2003 a posição do país caiu para a 11ª e a 16ª entre as
economias que mais receberam investimentos diretos de empresas transnacionais.
No que tange especificamente à distribuição dos fluxos líquidos absorvidos entre os
países em desenvolvimento, verifica-se uma mudança de comportamento ao longo do período
analisado. Durante a década de 1970, observa-se um grande influxo de IDE para os países da
América Latina e Caribe, sendo o Brasil o principal receptor entre as economias em
desenvolvimento. Neste período, cerca de 55% de IDE destinado aos países em
desenvolvimento se dirigiam para as Américas, enquanto que a Ásia era destino de apenas
Gráfico 3.1 - Participação por região no total dos fluxos mundiais de IDE, 1989-2003 (em %)
2,42,6 2,7 2,4 1,84,23,92,81,31,20,70,50,6 0,6 0,80102030405060708090
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Fonte: UNCTAD, FDI/TNC database; World Investment Report 2004 para os anos de 2001 a 2003.
Países Desenvolvidos Países em Desenvolvimento Brasil
Tabela 3.2 - Média anual de entrada de IDE por região, 1970-2003 (em US$ milhões e em %)Regiões 1970-80 1981-90 1991-95 1996-00 2001-03 2002 2003Total Mundial 26.884 108.934 228.199 804.988 685.300 678.751 559.576 Países Desenvolvidos 76,6 78,0 61,9 72,3 69,5 72,2 65,5Países em Desenvolvimento 23,3 21,9 35,0 25,1 26,7 23,2 30,7Europa Central e Oriental 0,1 0,1 3,1 2,6 3,8 4,6 3,7Fonte: UNCTAD, FDI/TNC database; WIR 2004 para os anos de 2001 a 2003. Elaboração própria.
26
25% (gráfico 3.2 e tabela 3.3). Ao longo da década de 1980 essa posição relativa vai sendo
alterada, e na primeira metade da década de 1990 a Ásia já recebia quase 60% do IDE
destinado às economias em desenvolvimento. Essa perda de competitividade por parte dos
países da América Latina na atração do IDE ocorreu sobretudo devido ao baixo crescimento
econômico, à instabilidade macroeconômica e à crise da dívida que assolou essas economias
durante os anos 1980.
A partir de meados da década de 1990, a América Latina reduziu a diferença em
relação às economias asiáticas, sobretudo pela atração dos investidores internacionais pelas
diversas empresas que foram privatizadas nessas economias. Entre 1996 e 2000, em média
40% do IDE para os países em desenvolvimento foi para essa região. Apesar dessa elevação,
em termos percentuais os valores recebidos ainda foram menores aos recebidos durante vários
anos da década de 1970. Entre 1970 e 1980, por exemplo, em média, a América Latina
recebeu cerca de 58% do IDE destinado aos países em desenvolvimento (tabela 3.3).
Nos últimos anos, entretanto, a América Latina voltou a apresentar sucessivas reduções
no montante de IDE absorvido pelas economias em desenvolvimento. Entre 1999 e 2003, por
exemplo, enquanto os investimentos que ingressaram na Ásia passaram de US$ 112 para US$
107 bilhões, na América Latina esses recursos declinaram de US$ 107 para US$ 49,5 bilhões.
Ao longo de todo o período analisado, de acordo com o gráfico 3.2, observa-se um
padrão de comportamento oposto na absorção de recursos externos entre a Ásia e a América
Latina, enquanto que a região africana manteve uma certa estabilidade com uma participação
muito baixa. Os períodos de crescimento no recebimento de investimentos externos por parte
Gráfico 3.2 - Participação no total dos fluxos absorvidos de IDE pelos países em desenvolvimento, 1975-2003 (em %)
0102030405060708090
100
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
Fonte: UNCTAD, FDI/TNC database; World Investment Report 2004 para os anos de 2001 a 2003.África América Latina/Caribe Ásia
27
da Ásia coincidiram com períodos de decréscimo por parte da América Latina e Caribe, e
vice-versa.
Com relação aos países em desenvolvimento, as alterações mais significantes em
termos de influxos de IDE ocorreram no Brasil e na China. Enquanto o Brasil recebia cerca de
20% do investimento destinado às economias em desenvolvimento na década de 1970, esse
percentual caiu pela metade nos anos 1990, ao contrário da China que de um país que
praticamente não recebia IDE passou a ser o maior receptor entre as economias em
desenvolvimento – responsável por mais de 30% do IDE absorvidos pelos países em
desenvolvimento em 2002 – além de ter sido em 2002 o segundo maior país do mundo em
recebimentos de investimentos externos (tabela 3.3). Em 2003, o Brasil que tradicionalmente
era o país latino-americano que mais recebia IDE, exceção feita a 2001, perdeu a posição para
o México no continente, e também foi ultrapassado por outro país emergente – Cingapura.
Neste processo de expansão dos investimentos externos, ocorrido sobretudo ao longo
da década de 1990, é importante destacar que a principal forma de realização dos mesmos
foram as fusões e aquisições transfronteiras, configurando assim um novo perfil para os fluxos
de IDE. Segundo a UNCTAD (1999), o volume de fusões e aquisições de empresas e o valor
das operações cresceram significativamente nos anos noventa em comparação à década de
Tabela 3.3 - Influxos de IDE para as economias em desenvolvimento, 1970-2003 (em %)Países/Regiões 1970-80 1981-90 1991-95 1996-00 2001 2002 2003Países em Desenvolvimento (em US$ bilhões) 6,27 23,83 79,85 201,92 219,72 157,61 172,03 África 16,0 9,9 5,6 4,5 8,9 7,5 8,7 África do Sul 1,3 0,1 0,5 0,8 3,1 0,5 0,4 América Latina 57,8 30,8 28,1 40,5 40,1 32,6 28,9 Argentina 2,9 2,9 4,7 5,8 1,0 0,5 0,3 Brasil 21,2 6,8 2,8 11,9 10,2 10,5 5,9 Chile 1,3 2,0 2,1 2,7 1,9 1,2 1,7 México 11,7 9,0 8,6 6,4 12,2 9,4 6,3 Ásia 24,9 58,5 65,8 54,8 51,0 59,9 62,4 Turquia 0,8 1,0 0,9 0,4 1,5 0,7 0,3 China 0,5 7,8 28,2 20,7 21,3 33,5 31,1 China, Hong Kong 4,9 10,0 6,5 12,2 10,8 6,1 7,9 China, Taiwan 1,2 2,5 1,5 1,2 1,9 0,9 0,3 Índia 0,7 0,5 1,0 1,3 1,5 2,2 2,5 Indonésia 3,1 1,8 2,9 0,3 -1,4 0,1 -0,3 Coréia do Sul 1,3 1,9 1,3 2,9 1,7 1,9 2,2 Malásia 6,1 4,8 6,3 2,4 0,3 2,0 1,4 Cingapura 6,2 9,8 8,0 5,6 6,8 3,6 6,6 Tailândia 1,4 3,1 2,4 2,3 1,7 0,7 1,0Países em Desenvolvimento (excl. China) 99,9 92,2 71,8 79,3 78,7 66,5 68,9Fonte: UNCTAD, FDI/TNC database; WIR 2004 para os anos de 2001 a 2003. Elaboração própria.
28
1980. Uma vez que as empresas multinacionais estão cada vez mais buscando uma maior
eficiência no novo ambiente competitivo exigido pela economia global, as fusões e aquisições
tornaram-se fundamentais. Em vários períodos da década de 1990, a participação das fusões e
aquisições representaram mais de 60% do fluxo mundial de investimento direto (tabela 3.4).
Grande parte do total das F&A transfronteiras – cerca de 80% – foram realizadas nos
países desenvolvidos ao longo da década de 1990. Já a participação das economias em
desenvolvimento, apesar de ter sido menor, não deixou de ser significativa. Em 1998, por
exemplo, as operações de F&A nos países em desenvolvimento representaram cerca de 43%
do total de IDE absorvido na região. Este desempenho só não foi maior devido à participação
dos países do Sul e Sudeste Asiático, que foi baixa no período (18%), ao contrário da América
Latina e Caribe onde 77% do IDE foi na modalidade de F&A (tabela 3.4).
LAPLANE et a.l. (2001) mostra, comparativamente, que para os países do Sul e
Sudeste Asiático a participação da modalidade de F&A nos fluxos de IDE nos anos 1990 foi
menor e muitas vezes sem a perda do controle acionário, enquanto que na América Latina e
sobretudo no Brasil essa participação foi elevada e em muitos casos envolvendo controle
majoritário.
Com relação à distribuição dos influxos de IDE entre os setores da economia observa-
se uma crescente participação do setor terciário (setor de serviços) como principal setor de
atração ao capital estrangeiro. Através do gráfico 3.3, verifica-se que enquanto o setor
industrial foi responsável por cerca de 44% da entrada de IDE em 1988, em 2001 esse número
caiu para aproximadamente 21%, ao contrário do setor de serviços que passou de
aproximadamente 39% em 1988 para cerca de 63% em 2001. Este processo de crescimento
significativo do setor terciário como receptor de IDE ocorreu inicialmente nas economias
Tabela 3.4 - Relação entre investimentos em Fusão e Aquisição e IDE por região, 1992-03 (em %)País/Região 1992-97* 1998 1999 2000 2001 2002 2003Mundo 54,0 76,9 70,5 82,4 72,6 54,5 53,1Países Desenvolvidos 76,6 93,8 82,0 95,3 86,8 62,8 65,6Países em Desenvolvimento 22,0 42,6 31,9 28,0 39,1 28,3 24,5América Latina e Caribe 39,1 77,5 39,1 46,4 40,7 43,7 24,3Sul e Sudeste Asiático 12,0 17,2 26,1 14,8 32,4 19,5 20,8Brasil 54,2 101,8 32,7 70,2 31,2 35,5 52,0Fonte: World Development Indicator ,WIR 2004. Elaboração do autor. * Média anual. Nota: Os dados referem-se a aquisições de mais de 10% dos ativos.
29
desenvolvidas e posteriormente nos países em desenvolvimento34 e foi resultado da abertura
dos países à competição externa, dos programas de privatizações, da desregulamentação,
dentre outros fatores.
3.2 – O IDE NA ECONOMIA BRASILEIRA
3.2.1 – A Evolução dos Investimentos
Até o final dos anos 1970, o Brasil era o principal país hospedeiro de IDE entre os
países em desenvolvimento. Entre 1970 e 1980, o país recebeu em média cerca de 21% dos
investimentos externos destinados às economias emergentes (tabela 3.3). O regime de
crescimento desenvolvimentista foi o principal determinante na atração dos investimentos
externos naquele período. Segundo NONNENBERG e MENDONÇA (2003), a partir de 1969,
com a estabilização da inflação, a retomada do crescimento econômico e a consolidação de um
regime político francamente simpático ao capital estrangeiro, os investimentos externos
começaram a se expandir no país. Além disso, a estratégia de substituição de importações
adotada pelo governo Geisel também facilitava essa expansão. Através do gráfico 3.4,
verifica-se o forte aumento dos fluxos de IDE35 para o Brasil.
34 Cabe destacar, segundo LAPLANE et al. (2001), que durante a década de noventa, embora o crescimento do setor de serviços tenha sido significativo no recebimento de recursos externos, a indústria continuou exercendo uma forte atração nas economias em desenvolvimento, principalmente no caso dos países do Sul e do Sudeste Asiático. 35 Nesta parte do texto, consideramos como IDE as operações em moeda nacional, mercadorias, conversões e reinvestimentos, ao contrário do item anterior onde também eram considerados os empréstimos intercompanhias.
1988
Primário
SecundárioTerciário
2001
Primário
SecundárioTerciário
Gráfico 3.3 – Fluxo de entrada de IDE por setor (em %)
Fonte: UNCTAD, WIR 2003.
30
Entretanto, a década de 1980, caracterizada, de um lado, pela crise da dívida, baixo
crescimento econômico e alta inflação, e, de outro lado, pela grande atratividade dos países
asiáticos em desenvolvimento pelo investimento externo direto, reduziu consideravelmente o
papel global do Brasil como receptor de IDE. Em 1979, por exemplo, cerca de 2,4 bilhões de
dólares ingressaram no país sob a forma de IDE, enquanto que, em média, entre 1986 e 1989
ingressaram cerca de 1,3 bilhões. Até os três primeiros anos da década de 1990 os volumes
absorvidos de IDE continuavam ainda baixos, sendo inclusive menores que os recebidos no
final dos anos 1970.
A partir de meados da década de 1990, assistiu-se no Brasil novamente a uma entrada
expressiva de investimento estrangeiro, transformando o país novamente num dos principais
pólos de atração para o IDE. Para LAPLANE et al (2001) os principais fatores que
contribuíram para o aumento desse fluxo foram, no âmbito interno, a desregulamentação, a
abertura comercial e as privatizações, além do tamanho do mercado interno. GONÇALVES
(1999), por outro lado, enumera outros fatores internos, como o processo de reestruturação
produtiva na indústria e nos serviços, as estratégias empresariais e o tamanho do mercado, aí
compreendidos o nível de renda, o histórico de crescimento, o potencial de crescimento e a
criação do Mercosul. As razões externas dizem respeito ao fato que não apenas o Brasil foi
contemplado com o aumento expressivo dos fluxos de IDE, mas também as economias
desenvolvidas e os países em desenvolvimento de renda média, conforme foi verificado no
subitem anterior.
Gráfico 3.4 - Ingressos brutos de IDE no Brasil, 1965-1993 (em US$ milhões)
0500
100015002000250030003500
1965 1967 1969 1971 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993
Fonte: Banco Central do Brasil
31
O gráfico 3.5 apresenta a evolução dos ingressos brutos de IDE e o grau de
internacionalização da economia brasileira ao longo da década de noventa36. Através do
gráfico, constatam-se as elevações sucessivas dos fluxos de IDE para o Brasil, sobretudo entre
1996 e 2000. Em 2000, por exemplo, o país recebeu cerca de US$ 32 bilhões em
investimentos diretos externos, ou seja, trinta vezes mais do que recebia no início da década de
1990, sendo que esses fluxos corresponderam a quase 5,5% do PIB nacional.
Nesse período, a participação das empresas estrangeiras na economia brasileira
aumentou consideravelmente. Medido pela relação entre o estoque de entrada de investimento
externo e o PIB, o grau de internacionalização da atividade econômica, que entre 1990 e 1995
era de cerca de 8%, alcança aproximadamente cerca de 17% em 2000 e 23% em 2002. É
importante considerar que parte desse aumento da internacionalização da atividade econômica
deveu-se sobretudo ao baixo dinamismo da economia brasileira.
A partir de 2001, iniciou-se um processo de desaceleração dos fluxos de IDE ao Brasil.
Dentre os motivos desta expressiva redução encontra-se no âmbito externo o baixo dinamismo
das economias mundiais no período 2001-2003, fato que reduziu consideravelmente o número
de fusões e aquisições transfronteiras. No caso brasileiro, de acordo com a UNCTAD (2004),
36 O grau de internacionalização medido pela UNCTAD representa a relação entre o estoque de entrada de IDE e o PIB.
Gráfico 3.5 - Ingressos brutos de IDE e grau de internacionalização, 1989-2003 (em US$ milhões e %)
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Fonte: UNCTAD, FDI/TNC database.
0
5
10
15
20
25
30
Nota: Inclui empréstimos intercompanhias.
Ingressos brutos Estoque de entrada em % do PIB
32
esse forte declínio pode ser atribuído à normalização, ou seja, ao retorno das condições que
precediam o programa de privatizações responsável pelo boom de IDE no final dos anos 1990.
Além disso, o baixo dinamismo da economia brasileira, fruto de uma política fiscal e
monetária contracionista, e os baixos níveis de investimentos internos do governo, também
foram fundamentais para essa retração dos investimentos externos.
3.2.2 – As Fusões e Aquisições e as Privatizações
Com relação às operações de fusão e aquisição no Brasil, ao longo da década de 1990,
verificou-se que as mesmas ganharam impulso na segunda metade daquela década com a
privatização dos serviços públicos e com a venda de algumas empresas privadas locais,
sobretudo instituições financeiras. Em 1997, por exemplo, 64% do IDE absorvido pelo país foi
na modalidade de fusão e aquisição, ou seja, dos quase US$ 19 bilhões que ingressaram no
país na forma de IDE, cerca de US$12 bilhões foram destinados à capacidade produtiva já
existente na economia.
A tabela 3.5 demonstra que a diferença entre o total dos fluxos para o Brasil e as fusões
e aquisições atribui-se às decisões de investir em novas plantas (greenfield) e/ou na ampliação
de capacidade instalada. Assim, a concentração dos investimentos em F&A, e não em novas
plantas, não cria no curto prazo capacidade produtiva adicional nas economias. Enquanto um
IDE novo adiciona capital imediatamente ao estoque de capital existente no país recipiente,
uma F&A consiste na mudança de propriedade do ativo adquirido. A possibilidade de adição
de capital ao estoque existente pelo adquirente pode ser imediata ou pode ser mais lenta.
As F&A transfronteiras, como visto, foi uma das formas mais importantes de entrada
de capital estrangeiro no país. Essa entrada envolvia negociações não apenas com empresas
Tabela 3.5 - Fusão e Aquisição e IDE, 1993-03 (em milhões e %)1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
IDE líquido (A) 1291 2150 4405 10792 18993 28856 28578 32779 22457 16566 10144F&A (B) 624 367 1761 6536 12064 29376 9357 23013 7003 5897 5271B/A 48,3 17,1 40,0 60,6 63,5 101,8 32,7 70,2 31,2 35,5 52,0Fonte: World Investment Report ,WIR 2004. Elaboração própria. * Média anual. Nota: Os dados referem-se as aquisições de mais de 10% dos ativos.
33
privadas de capital nacional, mas também com empresas públicas, por meio do programa de
privatização brasileiro.
As privatizações realizadas pelo governo brasileiro foram decisivas para o forte
ingresso de IDE ao país ao longo da segunda metade da década de 1990. De acordo com
LAPLANE et al. (2001), no início do processo de privatização, em 1991, a participação
estrangeira ainda era muito tímida, quando foram vendidas empresas industriais nos setores de
siderurgia, mineração, petroquímica etc. O pagamento dessas empresas era realizado através
de títulos e certificados públicos representando pouca entrada de recursos em moeda.
Posteriormente, com a estabilidade econômica e com as operações envolvendo
sobretudo os setores elétrico e de telecomunicações a participação estrangeira foi bastante
significativa37. Em 1999, por exemplo, alavancados pelos recursos destinados à privatização
do setor de telecomunicações, os investimentos destinados à aquisição de empresas
privatizadas atingiram um volume de quase US$ 8,8 bilhões, representando quase 30% do IDE
líquido que ingressou no país (tabela 3.6).
A partir de 2001, o volume de investimentos externos em privatização no Brasil
reduziu consideravelmente, juntamente com o início do processo de desaceleração dos fluxos
de IDE destinados ao país, culminando em 2003 com o fim das receitas com privatização.
Esse forte declínio pode ser atribuído ao retorno do país às condições que precediam o
programa de privatização. De acordo com a UNCTAD,
“The recent backlash against privatization in some LAC (Latin America and the Caribbean) countries seems to be due to two factors: governments were seen to have conceded too much to TNCs (Transnational Corporations) in the privatization of some enterprises; and the benefits of some privatization-related FDI in service industries fell short of expectations.”(2004, p.63)
37Segundo LAPLANE et al. (2001) na privatização do setor de telecomunicações, por exemplo, o capital estrangeiro representou 60 % do capital investido. Já na venda da empresa de energia Gerasul, a participação do capital estrangeiro foi total.
Tabela 3.6 - Privatização e IDE*, 1995-2003 (em US$ milhões e %)1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Privatização (em US$ milhões) 0 2345 5249 6121 8786 7051 1079 280 0% IDE bruto 0,0 22,3 28,0 21,5 28,0 21,1 5,1 1,5 0,0% IDE líquido 0,0 23,7 31,2 24,0 29,3 23,5 5,8 1,6 0,0Fonte: Banco Central do BrasilNota: * Inclui operações em moeda nacional, mercadorias, conversões e reinvestimentos.
34
3.2.3 – O Destino Setorial do IDE
Quanto ao destino do IDE, uma característica importante observada ao longo da
segunda metade da década de 1990 nos fluxos de IDE para o Brasil foi o incremento do setor
de serviços frente ao setor industrial, seguindo a mesma tendência observada nos países
desenvolvidos e alterando o perfil do capital estrangeiro investido no país. Através dos dados
dos censos de capitais estrangeiros realizados pelo Banco Central, verifica-se a perda de
atratividade do setor industrial ao longo da década de noventa. Em 1989, esse setor era
responsável por 71% do estoque de capital estrangeiro absorvido pelo Brasil. Em 1995 essa
participação cai para cerca de 66% e no ano 2000 foi reduzida ainda mais, para quase 34%
(tabela 3.7).
A tabela 3.7, mostra a distribuição setorial em termos de estoque e do fluxo recente de
IDE para a economia brasileira38. Os estoques destinados ao setor primário sempre tiveram
pouca representatividade, praticamente não significando mais que 2,5% do total destinado ao
Brasil ao longo dos anos 1990. Entretanto, a partir do ano 2000, a representatividade desse
setor começa a ganhar destaque. Entre 2002 e 2003 o crescimento do fluxo de IDE para esse
setor foi da ordem de 133%. Ao que tudo indica com a redução do processo de privatizações
no país, os investidores externos começam a direcionar suas atenções para segmentos
exportadores como a agroindústria e a extração mineral39.
38 A tabela completa com a participação de todos os setores e subsetores encontra-se no anexo 1. 39 Como esse fenômeno é bastante recente ainda necessita-se de estudos que comprovem essa alteração de perfil dos recursos externos destinados para o setor primário. Dentre os setores de destaque, entre 2001 e 2003, o setor de extração de petróleo foi responsável por cerca de 62% dos fluxos acumulados destinados ao setor primário, enquanto a extração de minerais e a agricultura/pecuária receberam 30% e 7%, respectivamente, dos recursos externos para esse setor.
Tabela 3.7 - Distribuição do IDE por Atividade Econômica (em US$ milhões e %)Estoque* Fluxos acumulados**
Atividade Econômica 1995 % 2000 % 2001-03 %Agricultura, pecuária e extrativa mineral 925 2.2 2401 2.3 3618 6.9Indústria 27907 66.9 34726 33.7 19062 36.2Serviços 12864 30.9 65888 64.0 30042 57.0Total 41696 100.0 103015 100.0 52722 100.0Fonte: Banco Central do BrasilNotas:* Dados de Censo de Capitais Estrangeiros (datas-base 1995 e 2000) Conversões pela cotação do último dia útil do respectivo período. **Ingressos de investimentos e conversões de empréstimos e financiamentos em IDE. Conversões em dólares às paridades históricas.
35
Com relação aos fluxos de IDE absorvidos pelo setor industrial, observa-se que após
atingir 17% entre as atividades econômicas de aplicação de recursos no ano 2000, o setor
industrial apresentou uma elevação na atratividade nos anos de 2001, 2002 e 2003, ao menos
em termos percentuais, atingindo 36%, uma vez que em termos de valor esses anos foram de
sucessivas quedas.
Dentre os principais subsetores que mais absorveram recursos externos na indústria de
transformação destacaram-se os setores automotivos, de produtos químicos, de alimentos e
bebidas, de máquinas e equipamentos, de metalurgia básica, de material eletrônico e
equipamento de comunicação e de artigos de borracha e plástico. Juntos esses setores
responderam por cerca de 77% do estoque destinado à indústria de transformação até o ano
2000 (gráfico 3.6). Entre 2001-03, dentre os setores de destaque, apenas os setores de artigos
de borracha e plástico e de máquinas e equipamentos é que apresentaram uma queda
expressiva de percentual – 3% e 5,2% respectivamente – na participação dos fluxos
acumulados para o setor secundário. Por outro lado, os setores de produtos químicos,
automotivo e de alimentos e bebidas aparecem com percentuais bastante significativos neste
período de análise, elevando ainda mais suas participações.
Já o fluxo para o setor de serviços, após atingir 88% em 1998 e 81% em 2000 na
distribuição de recursos entre as atividades econômicas, apresentou uma queda de atratividade
nos anos de 2001, 2002 e 2003. Os fluxos acumulados nesse período representaram 57%. Ao
invés das aplicações em infra-estrutura que predominavam no final da década de 1990 –
conseqüência das privatizações – os investidores internacionais estão direcionando seus
recursos nos últimos anos, ainda que lentamente, em setores vinculados à exportação.
Estoque - 2000
Material eletrônico e equipamentos de
comunicações6%
Máquinas e equipamentos
10% Metalurgia básica7%
Artigos de borracha e plástico
5%
Prods. químicos17%
Outros24%
Alimentos e bebidas13%
Automotivo18%
c
Fluxos acumulados - 2001-03
Metalurgia básica5%
Outros21%
Material eletrônico e equipamentos de
comunicações11%
Alimentos e bebidas
15%
Automotivo22%
Prods. químicos21%
Máquinas e equipamentos
5%
Fonte: Banco Central do Brasil
Gráfico 3.6 – Setor industrial: investimentos por subsetor de destino (em %)
36
Dentre os principais subsetores que mereceram especial atenção por parte dos
investidores estrangeiros destacaram-se os setores de telecomunicações, de intermediação
financeira, de energia elétrica e saneamento básico e de serviços prestados a empresas, além
do comércio varejista e atacadista. Apenas os três primeiros setores responderam por cerca de
61% do estoque do setor terciário no ano 2000 (gráfico 3.7). Setores como o de
telecomunicações e o de eletricidade, gás e água que representavam muito pouco nos estoques
de IDE em 199540 passaram a absorver parcela importante dos fluxos estrangeiros na segunda
metade da década de 1990. Essa crescente participação desses dois subsetores foi resultado
dos ingressos de recursos externos utilizados nos processos de privatização.
Entre 2001 e 2003, dentre os setores de destaque, o setor de telecomunicações
praticamente dobrou sua participação, sendo responsável por cerca de 38% dos fluxos
destinados ao setor de serviços. Por outro lado, apenas o setor de serviços prestados a
empresas é que teve uma queda expressiva de percentual – de 27% para 6% respectivamente –
na participação dos fluxos acumulados para o setor terciário (gráfico 3.7). Setores como de
pesquisa e desenvolvimento, de educação, de saúde e serviços sociais em todo o período de
análise apresentaram participação irrelevante – os fluxos acumulados, por exemplo, entre
2001-03 destes três setores somados foram de 0,2%.
De fato, o capital estrangeiro elevou bastante sua participação na economia brasileira
ao longo da década de 1990, sobretudo em setores industriais já bastante internacionalizados e
40 Esses dois setores somados representavam em estoques de 1995 cerca de 3,1% das aplicações de recursos destinadas ao setor de serviços.
Estoque - 2000
Telecomunicações 28%
Serviços prestados às
empresas17%
Comércio varejista
6%
Comércio por atacado
9%
Atividades de informática
4%
Outros9%
Eletricidade, gás e água
quente11%
Intermediação financeira
16%
Fluxos acumulados - 2001-03
Eletricidade, gás e água quente
12%
Outros15%
Atividades de informática
4%
Comércio varejista
7%
Intermediação financeira
12%
Serviços prestados às
empresas8%
Telecomunicações 37%
Comércio por atacado
5%
Fonte: Banco Central do Brasil
Gráfico 3.7 – Setor de serviços: investimentos por subsetor de destino (em %)
37
na área de serviços e infra-estrutura, onde a presença do capital estrangeiro era historicamente
irrisória. Setores como o de telecomunicações, o elétrico, o de intermediação financeira, o
petroquímico e o automobilístico foram alvo de profundas mudanças reguladoras com relação
ao capital estrangeiro na atividade econômica do país (MATESCO et al. 2001).
A partir do início dos anos 1990, a regulação ao capital estrangeiro sofreu importantes
mudanças que progressivamente foram sendo eliminadas com as restrições a atuação do
capital externo no país41. A flexibilização do monopólio do petróleo, a eliminação da distinção
entre empresa brasileira de capital nacional e de capital estrangeiro, a autorização para as
empresas estrangeiras atuarem na pesquisa e na exploração mineral e os estímulos do Governo
Federal para a participação de sócios estrangeiros na privatização das telecomunicações e da
energia foram algumas medidas que, junto com a abertura comercial, resultaram em um
ambiente econômico mais atrativo para as atividades de internacionalização produtiva e
financeira das empresas multinacionais no Brasil (LAPLANE et al. 2001).
Com relação ao setor de serviços, estas transformações se deram ao longo de um vetor
de liberalização de mercado e, sobretudo, através do programa de privatizações do governo
federal. A concentração desses investimentos em setores não comercializáveis pode vir a
ocasionar no futuro uma maior remessa de lucros e dividendos sem equivalente geração de
receita de exportação o que agravaria os problemas de balanço de pagamentos.
3.3 – OS IMPACTOS MACROECONÔMICOS DE ATUAÇÃO DAS EMNs
3.3.1 – Formação bruta de capital fixo
Os indicadores globais de fusões e aquisições, discutidos acima, refletem algumas
tendências na estrutura produtiva do país. De acordo com estes indicadores, ao longo da
década de 1990, grande parte do IDE destinou-se, no Brasil, na modalidade de operações em
fusões e aquisições42, muitas delas envolvendo controle majoritário e gerando concentração
setorial do capital. Além disso, a baixa participação do IDE na modalidade de novas plantas
41 As alterações produzidas na Lei de Informática em 1991, a Revisão Constitucional de 1993 e as emendas constitucionais a partir de 1995 são exemplos de mudanças na regulação do capital estrangeiro. 42 O período em que a modalidade de F&A tornou-se predominante foi a partir de 1997 com a privatização das empresas de serviços públicos.
38
(greenfield) reduziu a contribuição dos investimentos externos na formação bruta de capital
fixo (FBCF).
O gráfico 3.8 apresenta as relações IDE/PIB, IDE/FBCF e FBCF/PIB. De acordo com
o gráfico, a relação IDE/FBCF apresentou um significativo aumento ao longo da década de
1990, atingindo em 1999 o valor máximo de cerca de 29%. Entretanto, como a relação
FBCF/PIB – taxa de investimento global da economia – se manteve estável ao longo do
período analisado, constata-se que a maior parte dos investimentos realizados foi destinado
para a compra ou participação de investimentos já existentes e não para implantação e/ou
ampliação de nova capacidade produtiva.
Segundo LAPLANE et al. (2001), dois fatores foram fundamentais para explicar essa
estabilidade da taxa global de investimento na economia brasileira. O primeiro foi que o
crescimento da demanda interna – sobretudo a partir do Plano Real – ocorreu principalmente
através da capacidade produtiva ociosa, sem desencadear novos e volumosos investimentos. O
outro fator foi que os encadeamentos produtivos resultantes dos novos investimentos, na
maioria das vezes, foram transferidos para o exterior na forma de maiores importações de bens
de capital. DE NEGRI e ACIOLY (2004) também mostraram que as firmas estrangeiras têm
maior propensão a importar, especialmente na indústria de bens de capital e de eletrônicos43.
43 De acordo com os autores, uma firma importadora na indústria de bens de capital tem 20,5 vezes mais chance de ser estrangeira quando comparada com uma nacional.
Gráfico 3.8 - IDE, PIB e FBKF, 1990-2003 (em %)
05
101520253035
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Fonte: Banco Central do Brasil; IBGE.Nota: * Fluxo líquido de IDE anual, incluindo operações em moeda nacional, mercadorias, conversões e reinvestimentos.
IDE/FBCF* IDE/PIB* FBCF/PIB
39
Desta forma, a contribuição do capital estrangeiro para a formação bruta de capital fixo
é menor do que a indicada pela relação IDE/FBCF, uma vez que uma relação direta entre a
taxa de global de investimento e os fluxos de IDE deve ser analisada com cautela. Segundo
LAPLANE et al.,
“Contribuindo menos para a ampliação da capacidade produtiva e participando mais no estoque de capacidade produtiva já existente, a presença crescente do capital estrangeiro promove menores efeitos em termos de encadeamentos produtivos e de geração adicional de renda e de emprego”.(2001, p.175).
Assim, verifica-se que o capital externo na modalidade de fusão e aquisição contribui
menos para o crescimento econômico do país recipiente, o que contraria a idéia proposta por
Hymer (1968) segundo o qual uma das vantagens da empresa multinacional seria a repartição
de maneira eficaz dos produtos e fatores no mundo de forma a integrar a economia mundial. A
partir do ano 2000, os três índices do gráfico 3.8 começam a declinar em virtude da queda do
fluxo de IDE para a economia brasileira.
3.3.2 – Impactos sobre o Balanço de Pagamentos
• Balança Comercial
O grande fluxo de IDE destinado à economia brasileira ao longo da década de noventa
faz com que os fluxos comerciais brasileiros dependam cada vez mais da estratégia e da
atuação das empresas transnacionais. Nesse sentido, alguns trabalhos buscaram captar o papel
dessas empresas nos fluxos comerciais.
DE NEGRI (2003) analisou a importância da origem do capital (estrangeira ou
nacional) no período entre 1996 e 2000 sobre os fluxos comerciais das firmas individuais na
indústria brasileira. Através da utilização de micro-dados, a autora estimou equações de
importação e de exportação, controlados por outros fatores relevantes44 por meio de um painel
para as empresas pertencentes à indústria de transformação.
Os resultados encontrados pela autora demonstram que as empresas estrangeiras vis-à-
vis as empresas nacionais apresentam um maior grau de abertura especialmente pelo lado das
importações, ou seja, a diferença existente em favor das transnacionais é maior nas
44 Os fatores mais relevantes para explicar as diferenças nas exportações e importações das firmas estariam ligados a escala de produção, a produtividade, a tecnologia e a diferenciação de produto.
40
importações do que nas exportações. A autora constatou, através de seu modelo, “que a
origem do capital das firmas tem impactos maiores sobre suas importações do que sobre suas
exportações” (2003, p.238).
LAPLANE e SARTI (2003) também constataram, através dos coeficientes de
comércios das quinhentas maiores empresas brasileiras, diferenças importantes na inserção
comercial das empresas estrangeiras e das nacionais (tabela 3.8). Para os autores, apesar das
filiais terem elevados coeficientes de exportação, sua maior a propensão a importar tornou a
contribuição ao saldo comercial dessas empresas pouco significativa.
As razões para a elevação das importações das firmas recém-desnacionalizadas seriam
o aproveitamento por parte das novas filiais das redes de distribuição e fornecimento por parte
das empresas multinacionais e a atuação dessas como uma base de comercialização de
produtos fabricados em outros ramos da EMN. Além disso, as maiores importações podem
estar relacionadas às compras de bem de capital, no caso de novos investimentos, e a
modernização/reestruturação da firma no caso de fusão ou aquisição de uma dada empresa
(DE NEGRI, 2003).
HIRATUKA (2003), por outro lado, estudou o desempenho das filiais de empresas
transnacionais (Ets) em termos de comércio exterior, nos anos de 1989, 1997 e 2000, no
intuito de verificar como essas empresas se inserem no novo contexto de abertura comercial
no Brasil nos anos 1990 e qual seria o impacto das mesmas sobre o saldo da balança
comercial, bem como sobre a pauta dos fluxos comerciais.
Através de um painel com 96 empresas, onde estas foram escolhidas de acordo com
sua importância na estrutura econômica e obedecendo a um critério setorial de forma a ter uma
razoável cobertura dos diversos setores, foram analisados dados sobre os valores, origem,
destino e pauta de comércio tanto de exportações quanto de importações, além das propensões
EE EN EE EN EE EN EE ENCoeficiente de Exportação 8,8 6,6 11,9 10,7 9,2 8,0 8,5 11,2Coeficiente de Importação 4,0 2,5 5,8 3,7 9,0 5,2 8,0 5,0
20001989 1992 1997
Tabela 3.8 - Coeficiente de comércio das empresas estrangeiras e das nacionais nas 500 maiores empresas da economia brasileira (em %)
Fonte: Elaboração Neit/IE -UNICAMP a partir de dados da Secex e da revista Exame.[apud LAPLANE e SARTI (2003)]
41
a exportar e a importar dessas empresas. Cada filial ainda foi classificada, de acordo com suas
características comuns em uma tipologia que buscava caracterizar padrões típicos de
integração comercial das filiais presentes no Brasil45.
Os resultados encontrados para as filiais Não Integradas demonstraram que as mesmas
têm uma orientação direcionada para o mercado interno, com reduzidos coeficientes, tanto de
importação quanto de exportação. Como essas empresas,46 ao longo dos três anos de análise,
representaram cerca de 20% de participação de vendas na amostra, HIRATUKA (2003)
concluiu que a orientação no atendimento ao mercado interno é uma característica que envolve
grande parte das filiais brasileiras. Esse resultado encontrado pelo autor, confirma a
idéia/hipótese de DUNNING (1993) na qual uma das razões para as firmas produzirem no
mercado internacional seria a busca de mercados, no intuito de ofertar bens e serviços para um
determinado mercado interno. Mesmo no setor industrial, segundo o autor, “parcela
importante das empresas estrangeiras continuam operando de maneira stand-alone, ao menos
do ponto de vista comercial” (2003, p.186).
As filiais com Integração Exportadora apresentaram saldos comerciais positivos, uma
vez que resultaram de elevada propensão a exportar e de um coeficiente de importação
reduzido. Essas filiais representaram apenas 4% do faturamento da amostra no ano 2000. A
maior parte das exportações desse grupo se concentrou em produtos primários e/ou intensivos
em recursos naturais e com baixo grau de elaboração de produto. Neste grupo fizeram parte as
filiais do setor de mineração, além uma siderurgia, duas empresas do setor de alimentos e um
do setor de papel e celulose.
Por outro lado, as filiais com Integração Importadora tiveram como característica uma
baixa propensão a exportar, juntamente com expressivo crescimento no volume e nos
coeficientes de importação. Essas empresas, ao longo dos três anos de análise, representaram
cerca de 22% de participação de vendas na amostra. Neste grupo, encontram-se filiais
pertencentes aos setores de eletroeletrônica e informática, parte da química, farmacêutica e
equipamentos de telecomunicações. São filiais bastante integradas com as matrizes sobretudo
45 As filiais foram classificadas em não integradas, de integração global, de integração exportadora, de integração importadora, de integração regional e de integração exportadora moderada. As razões e um melhor detalhamento desta tipologia de classificação das filiais pode ser encontrada em HIRATUKA (2003). 46 Fizeram parte desse grupo 21 empresas de doze setores diferentes, havendo uma concentração de empresas do setor de minerais não-metálicos e higiene e limpeza.
42
através da compra de insumos e componentes de conteúdo tecnológico, sem que isso refletisse
em volumes de exportações significativos.
O grupo de filiais com Integração Regional são aquelas que implementaram uma
estratégia de complementação produtiva e comercial dentro do Mercosul, embora a maior
parte das vendas continue sendo o mercado interno. Essas empresas, ao longo dos três anos de
análise, representaram cerca de 38% de participação de vendas na amostra. Para essas filiais
verificou-se um aumento nos coeficientes de importação, sem modificações substantivas nos
coeficientes de exportação. Destacaram-se neste grupo de empresas as filiais pertencentes à
indústria automobilística. Diferentemente das filiais com Integração Importadora, esse grupo
implementou uma forma de operação em que as filiais aumentaram o conteúdo exportado e
importado dentro do bloco.
O grupo de filiais com Integração Exportadora Moderada caracterizou-se pela
orientação exportadora acima da média da amostra e coeficientes de importação um pouco
mais baixos próximos à média da amostra. Essas filiais representaram cerca de 13% do
faturamento da amostra no ano 2000. Na pauta de comércio deste grupo é predominante os
produtos primários e intensivos em recursos naturais e destacam-se as empresas siderúrgicas,
alimentícias e do ramo de papel e celulose.
Por fim, as filiais de Integração Global obtiveram tanto crescimento importante nos
coeficientes de importação quanto nos de exportação, apresentando um elevado grau de
integração comercial. Entretanto, essas filiais47 representaram apenas 1,3% do faturamento da
amostra no ano 2000. Em termos de composição de pauta predominaram os produtos
classificados como de fornecedores especializados tanto para as exportações quanto para as
importações. O autor ressaltou ainda que essas empresas apresentaram um grau relativamente
elevado de capacitação produtiva e tecnológica, sendo competitivas internacionalmente
mesmo antes da abertura.
47 Foram quatro as empresas que compuseram esse grupo, sendo duas do setor de equipamentos de transporte, uma do setor de máquinas e equipamentos mecânicos e uma do setor de autopeças.
43
Os resultados encontrados pelo autor demonstraram que apesar da abertura comercial
ter elevado a integração comercial das filiais de Ets no Brasil48, este resultado foi fortemente
assimétrico, uma vez que essas empresas apresentaram maior propensão a importar do que a
exportar, o que pode ser visualizado através do gráfico acima. Assim, ao invés de reduzir a
vulnerabilidade externa da economia brasileira, o desempenho dessas empresas, muitas vezes,
foi no sentido contrário, agravando os desequilíbrios na balança comercial49. Para
HIRATUKA (2003) a exploração do tamanho do mercado interno continua sendo prioridade
para a maioria das filiais das empresas transnacionais no país. Dos seis padrões de integração
comercial, apenas as filiais com Integração Global apresentaram orientação de comércio
voltado para o mercado externo (gráfico 3.9).
48 Este fato foi comprovado por HIRATUKA (2003) através do crescimento dos fluxos de importação e exportação superiores ao conjunto da economia brasileira. 49 A questão da vulnerabilidade externa da economia brasileira diz respeito ao fato de que os superávits em transações correntes não se sustentam por muito tempo em períodos de crescimento econômico, devido sobretudo à elevação das importações, que, têm uma elasticidade renda muito maior que as exportações [HOLLAND et alli (1998); JAYME JR (2003)]. Além disso, essa deterioração da conta corrente terá que ser compensada pela entrada de capitais. Como esses fluxos são afetados por choques externos, na ocorrência de qualquer choque que modifique a expectativa dos investidores/especuladores haverá uma fuga de capitais do país. O câmbio ficará pressionado e se desvalorizará com a saída de capitais. Essa desvalorização poderá contaminar vários preços da economia e a Autoridade Monetária elevará a taxa de juros da economia, podendo contrair a atividade econômica.
Gráfico 3.9 – Coeficientes de comércio das filiais por tipo de padrão de internacionalização, ponderadas pelas vendas – 2000.
Fonte: Elaboração Neit/IE-UNICAMP a partir de dados da Secex e da revista Exame. [apud HIRATUKA (2003)]. Nota: O tamanho dos círculos representa a participação no total do faturamento do painel.
44
Apesar da maior propensão a importar e da orientação para o mercado interno das filias
das empresas transnacionais no Brasil, ARBIX, DE NEGRI e SALERMO (2004), em um
recente trabalho, ressaltaram que as firmas industriais brasileiras internacionalizadas com foco
na inovação tecnológica exportam mais do que as que não fazem este tipo de
internacionalização. Mesmo estas firmas representando parcela pequena do faturamento do
setor industrial brasileiro, existem benefícios, tais como maior qualificação e remuneração da
mão-de-obra, dentre outros, que resultam da internacionalização da firma com foco da
inovação tecnológica. De acordo com os autores,
...há evidências de que o aumento da competitividade das firmas é influenciado positivamente pelas inovações tecnológicas que são resultantes do processo de internacionalização, e que tal competitividade auxilia nas exportações. A abertura de mercados externos geraria maior potencial de expansão e crescimento da firma e também a própria internacionalização geraria mecanismos de retroalimentação da sua capacitação tecnológica.(ARBIX, DE NEGRI e SALERMO, 2004, p.22).
• Transações Correntes
Os recursos externos que ingressaram no país sob a forma de IDE foram muito
importantes para financiar os sucessivos déficits em transações correntes ao longo da década
de 1990. A partir da fase de estabilidade econômica do Brasil até o período das sucessivas
crises internacionais50 – época de câmbio sobrevalorizado – os déficits em transações
correntes foram financiados não apenas pela crescente entrada de investimentos diretos, mas
também pelos capitais de portfólio e pelos empréstimos e financiamentos externos. Em 1996 e
em 1997, de acordo com a tabela 3.9, o IDE líquido financiou apenas 42% e 55% do déficit da
balança de transações correntes (relação IDE/BTC).
A partir da crise asiática, houve não apenas uma forte saída de capital especulativo do
país como também uma contração das linhas de empréstimos e financiamentos externos,
fazendo com que o papel do investimento direto estrangeiro tenha se tornado mais importante.
Em 1999 e em 2000, por exemplo, os cerca de US$ 30 bilhões de IDE que ingressaram em
cada ano foram mais do que suficientes para financiar os déficits de US$ 25 bilhões e US$ 24
bilhões na balança de transações correntes, respectivamente.
50 Este período vai de 1993 a 1997.
45
Nos anos de 2001, 2002 e 2003, mesmo com a queda nos fluxos de IDE para o Brasil,
a relação IDE/BTC ainda continuou elevada, resultado da melhora da balança comercial
brasileira que proporcionou a redução dos sucessivos déficits em transações correntes. Em
2003, o saldo em conta corrente tornou-se superavitário, resultado da combinação de elevação
das exportações não acompanhado pelo aumento das importações. A demanda interna
reprimida juntamente com o alto preço das commodities brasileiras no mercado internacional
ajudaram a elevar ainda mais a relação IDE/BTC. A utilização do investimento direto
estrangeiro como estímulo às forças produtivas e não para cobrir déficits em transações
correntes é fundamental para a inserção externa da economia brasileira.
• Lucros e Dividendos
Um outro tipo de impacto de atuação das empresas multinacionais sobre o balanço de
pagamentos é através da conta de remessas de lucros e dividendos. Juntamente com a balança
comercial, o volume dessas reservas pode exercer uma pressão sobre o balanço de
pagamentos. Ao longo da primeira metade da década de 1990 as remessas brutas de lucros e
dividendos foram equivalentes aos montantes de IDE que ingressaram no país, chegando
inclusive a superá-lo nos anos de 1993 e 1994. Em 1994, por exemplo, apenas as remessas
brutas de lucros e dividendos resultante de rendas em investimento direto representaram cerca
de 88% do influxo de IDE no período (tabela 3.10).
Nos anos de 1996, 1997 e 1998 essas remessas aumentaram bastante atingindo mais de
US$ 7 bilhões em 1998. Esse crescimento, de acordo com LAPLANE et al (2001), poderia
estar associado à antecipação por parte das empresas devido à desvalorização cambial no ano
Tabela 3.9 - Saldo em Transações Correntes e Necessidade de Financiamento, 1994-2003 (em US$ bilhões e %)1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Saldo na BTC -1811 -18384 -23502 -30452 -33416 -25335 -24225 -23215 -7637 4016IDE líquido* 1972 4239 9893 16817 25479 29983 30016 18765 17118 9320Necessidade de Financiamento** 160 -14145 -13609 -13635 -7937 4648 5792 -4450 9481 13336IDE/BTC 109 23 42 55 76 118 124 81 224 232Fonte: Banco Central do BrasilNotas: * Inclui operações em moeda nacional, mercadorias, conversões e reinvestimentos. **Saldo em transações correntes mais investimento direto estrangeiro.
46
seguinte, ao próprio crescimento dos fluxos de investimentos externos51, às medidas de
desregulamentação editadas pelo governo federal52 e a própria realização de lucros por parte
das empresas para cobrir posições deficitárias em outros mercados, dentre outros fatores.
Apesar das remessas brutas terem se elevado na segunda metade da década, houve uma queda
considerável no percentual dessas remessas em relação ao ingresso de IDE no período.
Em 1999 e 2000, com a desvalorização cambial as remessas brutas reduziram
consideravelmente para US$ 5,5 e US$ 4,2 bilhões, respectivamente. A partir de 2001,
entretanto, elas tornam-se a elevar atingindo em 2003 o patamar de US$ 6,4 bilhões.Apesar do
aumento considerável das remessas brutas desde o início dos anos 1990, a participação das
mesmas no ingresso de IDE declinou bastante a partir de 1995 representando apenas cerca de
13% no ano 2000. A partir de 2001, com a queda nos fluxos de IDE para a economia brasileira
essa participação se eleva, sendo de 50% em 200353.
3.4 – CONCLUSÃO
Ao longo dos últimos vinte anos, o incremento de investimento direto estrangeiro na
economia mundial foi extremamente significativo, sendo que os países em desenvolvimento
sempre receberam em torno de 25% a 30% dos fluxos de IDE ao longo desse período. Neste
processo de expansão dos investimentos externos, ocorrido sobretudo ao longo da década de
51 Enquanto as remessas cresceram cerca de 110% entre 1995 e 1998, a elevação do ingresso de IDE no período foi de mais de 400%. 52 Lei nº9. 249/95 e MP nº1.602. 53 Segundo LAPLANE et al. (2001) as comparações entre as evoluções dos ingressos de IDE e das remessas de lucros e dividendos sofre de duas ressalvas. A primeira que as remessas brutas não estão associadas apenas ao investimento direto, mas também aos investimentos em carteira. O segundo aspecto é que as remessas atuais de lucros e dividendos são conseqüências de decisões de investimento posteriores, havendo uma defasagem entre os dois fluxos.
Tabela 3.10 - Remessa Brutas de Lucros e Dividendos e IDE, 1990-2003 (em US$ milhões e %)1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Remessa Brutas de L&D (A+B=C)* 2051 2883 3396 3727 6181 7163 5515 4253 5226 6020 6403L&D - investimento direto (A) 1631 2290 2581 2705 4707 5093 4221 3105 3702 4891 4836L&D - investimento em carteira (B) 421 593 815 1022 1474 2070 1294 1148 1524 1129 1568% de "A" no ingresso de IDE** 126,1 88,4 47,1 25,8 25,1 17,9 13,5 9,3 17,6 25,8 36,9% de "C" no ingresso de IDE** 158,6 111,3 62,0 35,5 32,9 25,2 17,6 12,7 24,8 31,8 48,9Fonte: Banco Central do BrasilNotas: * A partir de 1979, o total de L&D foi distribuído em rendas de investimentos direto e em carteira. ** Inclui operações em moeda nacional, mercadorias, conversões e reinvestimentos.
47
1990, é importante destacar que a principal forma de realização dos mesmos foram as fusões e
aquisições transfronteiras, configurando assim um novo perfil para os fluxos de IDE. Além
disso, também se observou, ao longo do período, uma crescente participação do setor de
serviços como principal setor de atração ao capital estrangeiro.
Com relação à participação brasileira nos fluxos de IDE, depois de ser durante a
década de 1970 o principal país em desenvolvimento na absorção de IDE, o Brasil assistiu a
queda de sua participação percentual ao longo da década de noventa, apesar da elevação em
termos absolutos. Não diferente da maior parte dos demais países, a concentração dos
investimentos externos na economia brasileira foi através de fusões e aquisições, seja por meio
da privatização dos serviços públicos ou através da venda de empresas privadas locais, o que
reduziu a contribuição do IDE na formação bruta de capital fixo, uma vez que grande parte
dos investimentos realizados não foram para implantação de nova capacidade produtiva.
No que tange aos impactos sobre o balanço de pagamentos brasileiro, diversos
trabalhos retrataram que as firmas estrangeiras apresentaram maior propensão a importar do
que a exportar ao longo da segunda metade da década de noventa, o que gerou uma
contribuição para o saldo comercial pouco significativa. Apesar dessa constatação, os recursos
externos que ingressaram no país sob a forma de IDE foram muito importantes para financiar
os sucessivos déficits em transações correntes.
48
4 – DETERMINANTES DO INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO NO
BRASIL: 1996-2003
O objetivo deste capítulo é estimar um modelo, para identificar e avaliar a relevância
das principais variáveis que determinaram a entrada de investimento direto estrangeiro para a
economia brasileira no período entre 1996 e 2003, através da metodologia de dados em painel.
Na primeira seção, procurar-se-á apresentar o modelo que será utilizado para testar
empiricamente o grau de influência de algumas variáveis sobre o montante de investimento
direto estrangeiro direcionado aos setores secundário e terciário.
Na segunda e terceira seções, buscar-se-á, respectivamente, apresentar as variáveis
selecionadas para explicar os fluxos de IDE que ingressaram no Brasil, examinando as
principais hipóteses sobre o comportamento esperado das mesmas, e especificar os
procedimentos econométricos utilizados para a estimação. Por fim, na última seção do capítulo
são analisados os resultados econométricos obtidos para o modelo de determinantes do IDE
estimado a partir de uma base de dados longitudinais ou em painel.
4.1 – O MODELO
A estrutura do modelo teórico desenvolvido abaixo é similar às versões de LOVE e
LAGE-HIDALGO (2000) e BAJO-RUBIO e SOSVILLA-RIVERO (1994). Neste modelo, o
produtor multinacional deve tomar duas decisões: primeiramente escolher o nível de produção
da firma estrangeira e, posteriormente, o mix de insumos para sua produção externa.
Assuma inicialmente que a primeira decisão de um produtor multinacional é escolher o
nível apropriado da produção estrangeira. O custo total de uma firma pode ser definido como:
21 CTCTCT += (1)
onde as produções doméstica e estrangeira são definidas pelos índices 1 e 2. Sendo
111 QCTc = e 222 QCTc = os respectivos custos unitários de produção, obtêm-se a seguinte
função custo total:
222111 )()( QQcQQcCT += (2)
Assim, a firma minimiza a equação (2) sujeita a restrição de que a produção deva se igualar à
demanda total conforme abaixo:
49
XQQ =+ 21 (3)
Definindo o Lagrangeano tem-se:
)()()( 21222111 QQXQQcQQcL −−−+= λ (4)
que provê as seguintes condições de primeira ordem necessárias para a solução do problema
de otimização:
0)( 111`11 =++=∂∂ λQcQcQL (5)
0)( 222`22 =++=∂∂ λQcQcQL (6)
021 =−−=∂∂ QQXL λ (7)
onde 11`1 / dQdcc = e 22
`2 / dQdcc = . Substituindo a equação (5) em (6) obtêm-se:
22`211
`1 cQccQc +=+ (8)
que mostra que os custos marginais são igualados entre as plantas doméstica e externa.
Resolvendo para 2Q e substituindo na equação (7) obtemos:
)()( 21`12 ccXcQ −+= φφ (9)
onde )(1 `2
`1 cc +=φ é assumido ser positivo. Assim, a produção produzida pela firma
estrangeira é positivamente relacionada com a demanda total e negativamente relacionada com
seu custo unitário de produção.
A segunda decisão do produtor multinacional é selecionar o apropriado mix de insumos
para a sua produção externa. O custo total da planta externa é dado por:
22222 KrLwCT += (10)
onde w e r são respectivamente a taxa de salário real e o custo real do capital.Assuma por
simplicidade que a função de produção da planta externa é do tipo Cobb-Douglas com dois
insumos, capital (K) e trabalho (L), tal que: βα222 LKQ = (11)
O problema da firma é minimizar o custo total sujeita a função de produção acima.
Definindo o Lagrangeano tem-se:
)( 2222222 QLKKrLwL −−+= βαλ (12)
que provê as seguintes condições de primeira ordem:
0)( 12222 =−=∂∂ −βαβλ LKwLL (13)
50
0)( 21
222 =−=∂∂ − βααλ LKrKL (14)
0222 =−=∂∂ βαλ LKQL (15)
Igualando as equações (13) e (14) obtêm-se:
2222 .. wKrL αβ= (16)
e substituindo em (15) resulta em: )(1
2)(
222 )..( βαβαββα ++= QrwK (17)
Substituindo a equação (9) na equação (17) encontra-se: )(1
221`1
)(222 )]()([)..( βαβαβ φφβα ++ −+= ccXcrwK (18)
que representa o nível ótimo de estoque de capital estrangeiro. Esse capital é positivamente
relacionado com a demanda total e negativamente relacionado com seu custo unitário de
produção, da mesma forma que a produção estrangeira.
Entretanto o nível desejado de estoque de capital não é igual ao nível diretamente
observado na economia, devido entre outros motivos a custos de ajustamento, a defasagens
operacionais, etc. Assim, fluxos de IED podem ser demonstrados através de um modelo de
ajustamento parcial, tal como se segue:
10
*1
* )( −=
−−− +−Λ=∑ t
n
iititit KKKIDE δ (19)
onde os fluxos são resultados de decisões passadas acumuladas que modificam o estoque
desejado e onde 1=Λ∑=
n
oii .
Usando a transformação de Koyck e assumindo que as defasagens declinam a uma taxa
geométrica constante54, a equação (19) pode ser reescrita da seguinte forma:
1* )( −−+= ttt KKIDE ηδη (20)
ou seja, o fluxo de IDE depende tanto dos determinantes do estoque de capital ótimo )( *tK –
equação (18) – como do estoque de capital no começo do período )( 1−tK .
As equações (18) e (20) serão a base para a análise empírica, as quais devem ser
estendidas para captar alguns efeitos adicionais, tais como a instabilidade macroeconômica.
54 i
i )1( ηη −=Λ
51
Uma versão modificada das equações (18) e (20) pode ser reescrita na forma log-linear
da seguinte forma para fins de estimação:
tttttit RISCOINFLAÇÃOABERTURATXPIBLPIBLIDE 543210 5 φφφφφφ +++++=
tititttt LKTXJUROSTXPIBINDENERGIADOWJONES ,1,109876 εφφφφφ ++++++ − (21)
onde L significa o logarítmico natural e as variáveis selecionadas para explicar o investimento
direto no Brasil seriam na ordem acima, o nível de produto, a taxa média de crescimento real
do produto nos últimos cinco anos, o coeficiente de abertura comercial, a taxa de inflação, o
risco país, o índice Dow Jones, a quantidade consumida de energia elétrica, a taxa de
crescimento real dos países industrializados, as taxas de juros nacional e internacional55 e o
estoque de investimento estrangeiro do período anterior.
4.2 – FONTE DE DADOS
As variáveis selecionadas para explicar o investimento direto estrangeiro destinado aos
setores industrial e de serviços no Brasil são o nível do produto (PIB) e a taxa média de
crescimento real do PIB dos últimos 5 anos (TXPIB5) na economia brasileira, a taxa de
crescimento real do PIB dos países industrializados (TXPIBIND), a taxa de inflação, o
coeficiente de abertura comercial, a quantidade consumida de energia elétrica (ENERGIA), o
índice Dow Jones, um diferencial entre as taxas de juros brasileira e americana, o risco-país e
o estoque de investimento estrangeiro do período anterior, além de algumas variáveis
dummies. A introdução de variáveis dummies tem a função de captar as heterogeneidades
setoriais e temporais que possam influenciar os fluxos de IDE para cada setor da economia
brasileira.
Inicialmente, mostraremos as principais hipóteses sobre o comportamento esperado de
cada uma das variáveis explicativas do modelo. Com relação ao nível do PIB, acredita-se que
a correlação encontrada seja positiva, assim como em vários outros trabalhos. De acordo com
DUNNING (1993), as empresas muitas vezes investem em um país no intuito de ofertar bens e
serviços para aquele mercado, ou seja, seria a busca de mercados que levaria as empresas a
investirem em atividades transfronteiras. Além disso, caso a lucratividade das firmas seja
relacionada com a demanda doméstica e/ou caso um declínio do produto seja relacionado com 55 As taxas de juros serão estimadas através de um diferencial entre as taxas nacionais e internacionais.
52
períodos instáveis, os investidores irão preferir entrar em uma economia em que o tamanho do
PIB seja considerável. Nesse sentido, o tamanho do mercado seria uma das principais razões
para esse tipo de investimento externo. Foi utilizado o produto interno bruto convertido para
dólares internacionais através da taxa de paridade do poder de compra, divulgado pelo Banco
Mundial.
Além do nível do produto, uma outra importante razão para o investimento externo do
tipo market-seeking é a possibilidade de crescimento do produto. No intuito de captar essa
relação, incluiremos como um dos determinantes de IDE a taxa média de crescimento real do
produto dos últimos cinco anos, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Assim como o nível corrente do PIB, espera-se que a taxa de crescimento real do PIB
também seja positivamente correlacionada com os ingressos de IDEs destinados aos setores
industriais e de serviços na economia brasileira.
Uma outra variável a ser testada é a taxa de inflação. A taxa de inflação serve como
uma proxy para o grau de estabilidade de uma economia. Uma vez que os investidores
estrangeiros preferem economias mais estáveis, com reduzidas taxas de inflação, seria
desejável que se observasse um efeito negativo da taxa de inflação sobre os fluxos de
investimentos externos. A taxa de inflação utilizada foi o índice nacional de preços ao
consumidor amplo (IPCA), divulgada pelo IBGE.
Uma outra importante variável na determinação dos investimentos externos é o
coeficiente de abertura comercial, que será medido pelo somatório das importações e das
exportações dividido pelo PIB. Para o cálculo dessa variável utilizou-se dos dados fornecidos
pelo Boletim do Banco Central do Brasil. O coeficiente de abertura comercial representa uma
boa proxy para o tipo de relação que um país tem com o capital externo. Acredita-se que
quanto maior o grau de abertura comercial da economia brasileira, mais propenso este país se
torna para facilitar a entrada de investimento estrangeiro. Assim, o coeficiente de abertura
comercial deveria ser positivamente correlacionado com os ingressos de IDEs56.
Com o intuito de medir o grau de desenvolvimento da estrutura industrial foi incluída a
variável quantidade consumida de energia elétrica, divulgada pela Eletrobrás. Espera-se que
56 Apesar da correlação esperada entre o coeficiente de abertura comercial e os investimentos externos ser positiva, para alguns setores específicos essa correlação pode ser negativa, uma vez que alguns setores podem se beneficiar de um menor grau de abertura e receberam maiores fluxos de IDE. Entretanto, não é objeto deste trabalho a análise de cada setor especificamente.
53
quanto maior a quantidade consumida de energia elétrica na economia brasileira mais
propenso este país fica aos olhos dos investidores externos para facilitar a entrada de
investimento direto. Portanto, a proxy para medir o grau de desenvolvimento da estrutura
industrial deveria apresentar um sinal positivo, sendo diretamente correlacionado com os
fluxos de IDE57.
O C-Bond, principal título da dívida externa brasileira negociado no mercado
internacional, também pode influenciar o ingresso de IDE. Quanto maior a procura pelo papel,
maior é o seu valor de mercado, ou seja, maior o sinal de confiança dos investidores na
economia do país. O C-Bond – calculado em pontos base e divulgado pelo jornal Valor
Econômico – serve como uma proxy para o risco país58, e quanto menor o valor de mercado
deste título, maior a probabilidade de default da dívida externa e, conseqüentemente de adoção
de medidas de restrição à saída de capitais internacionais. Desta forma, o C-Bond deveria ser
positivamente associado aos ingressos de IDEs. Uma vez que esta variável exerce um efeito de
maior peso sobre os ingressos de capitais de portfólio, a não significância desta variável
também seria esperada ao modelo.
Nos últimos anos, conforme discutido no capítulo anterior, os IDEs destinados à
economia brasileira foram fortemente influenciados pelo grande número de fusões e
aquisições não apenas com a privatização dos serviços públicos, mas também com a venda de
algumas empresas privadas locais. Como os processos de F&A foram fortemente
influenciados pelo desempenho das bolsas de valores internacionais, períodos de euforia nas
bolsas aumentam a propensão dos investidores a realizarem investimentos com maior risco.
Assim, através do índice Dow Jones, espera-se que haja uma correlação positiva entre os
investimentos diretos no Brasil e a evolução dessa variável. A série do índice Dow Jones é
divulgada pelo jornal Gazeta Mercantil, estando também em pontos base.
A taxa de crescimento real do produto dos países industrializados pode ser também
uma importante variável na determinação dos investimentos externos, uma vez que os países
industrializados são os maiores exportadores de IDE para a economia brasileira. Uma relação
57 Como em diversos trabalhos a quantidade de energia é utilizada como proxy para o PIB, seria esperado que esta variável fosse bastante correlacionada com o PIB. No anexo 3, encontram-se as correlações entre todas as variáveis do modelo principal. 58 O risco-país é calculado de acordo com o desempenho de uma cesta de títulos da dívida externa. Quando mais valorizados esses papéis, menor o índice de risco, utilizado como um termômetro da confiança dos investidores no país.
54
positiva entre essa variável e os fluxos de IDEs podem ser explicados pelo aumento de
maiores lucros das empresas, e portanto de mais recursos para a realização de inserção em
atividades transfronteiras. Por outro lado, uma correlação negativa entre essas variáveis pode
ser interpretada como uma diversificação de risco por parte das empresas (NONNENBERG e
MENDONÇA, 2004). A taxa de crescimento real dos países industrializados é divulgada pelo
Fundo Monetário Internacional (FMI).
A variável proxy escolhida para representar o custo do capital foi um diferencial entre
as taxas de juros externa e interna (tx.doméstica/tx.externa). Utilizou-se a libor para os juros
internacionais e a selic para os juros domésticos. Quanto maior a diferença entre essas duas
taxas de juros, ou seja quanto maior a taxa de juros externa maior o ingresso de IDE na
economia receptora, uma vez que o custo de capital na economia remetente se eleva. Portanto,
o sinal esperado para essa variável seria negativo. Por outro lado, se considerarmos o
diferencial de taxa de juros como uma proxy para o retorno dos investimentos, um crescimento
da taxa de juros brasileira vis-à-vis a taxa de juros internacional deveria provocar um influxo
de investimentos diretos para o Brasil. Assim, o sinal esperado para essa variável deveria ser
positivo. Como essa variável está mais relacionada com os capitais de portfólio e devido à
ambigüidade com relação ao sinal esperado da mesma, a não significância dessa variável
poderia até ser esperada para o modelo.
Por fim, com relação ao estoque de investimento direto estrangeiro do ano anterior para
cada setor da economia brasileira, o sinal esperado para essa variável é positivo, ou seja,
quanto maior o estoque de IDE no país, mais os investidores externos tenderão a direcionar
suas decisões de investimento rumo ao Brasil. O estoque de IDE para cada setor foi divulgado
pelo Banco Central para os anos de 1995 e 2000, através do Censo de Capitais Estrangeiros59.
4.3 – PROCEDIMENTOS ECONOMÉTRICOS
Os dados utilizados para a estimação da equação para explicar o investimento direto
estrangeiro caracterizam um painel setorial, analisado em oito anos consecutivos. Uma das
vantagens do modelo de dados em painel é a possibilidade de controlar a heterogeneidade
existente entre os diversos setores através da estimação dos efeitos individuais dos mesmos. O
59 A explicação para a construção desta variável encontra-se no anexo 2.
55
modelo de dados em painel é capaz de captar aspectos dinâmicos relacionados a cada uma das
variáveis explicativas, ou seja, é possível mostrar a influência que a mudança em uma
determinada variável tem sobre a variável dependente, livre de influências individuais das
demais variáveis da regressão. Uma outra vantagem importante dos dados longitudinais em
relação às bases convencionais de cross-sections ou time-series, de acordo com BALTAGI
(1995) e HSIAO (1986) diz respeito ao número de observações, uma vez que, ao acompanhar
a mesma unidade de análise ao longo do tempo, o número de observações é maior que nos
outros tipos de bases o que aumenta os graus de liberdade da estimação, reduzindo a
colineariedade entre as variáveis e, deste modo, aumentando a eficiência das estimativas.
A especificação básica que será utilizada é a seguinte:
ititiit xy εβα ++= ` (22)
onde:
i = 1,2,...,49 (setores);
t = 1996, 1997,..., 2003 (períodos);
ity = fluxo de investimento direto estrangeiro específico para cada setor em um determinado
período;
itx = matriz das variáveis explicativas compostas por k regressores sem a constante;
β = parâmetros a serem estimados;
iα = efeito fixo de setor – representa um termo estocástico próprio dos efeitos setoriais que
busca capturar todas as características não observáveis inerentes a cada setor e invariantes ao
longo do tempo, tal que ( ),0(~ 2ασα i );
e itε é um distúrbio estocástico tal que ),0(~ 2εσε it . Além disso, tem-se que 0][ =Ε iitαε e
0][ =Ε itit xε .
Assim como o termo iα capta os efeitos das unidades individuais, o modelo pode
também captar os efeitos específicos no tempo, assumindo assim a seguinte formulação:
itittiit uxy +++= `βδα (23)
onde o termo tδ – efeito fixo temporal – representa um termo estocástico próprio dos efeitos
temporais que busca capturar todas as características não observáveis inerentes aos períodos e
invariantes para cada setor, tal que ( ),0(~ 2λσλi ).
56
O efeito específico iα pode ou não ser correlacionado com o vetor de variáveis
explicativas itx e o método de estimação dependerá crucialmente dessa hipótese. Duas são as
formulações mais comuns para a estimação de dados em painel. A abordagem de efeitos fixos
assume que diferenças entre as unidades (setores) podem ser capturadas através de diferentes
interceptos para cada membro. Neste modelo, os efeitos específicos podem ser livremente
correlacionados com as demais variáveis explicativas. A estimação deve ser realizada através
de um modelo de regressão múltipla com variáveis binárias para cada uma das n unidades de
análise, o que faz com que o intercepto seja específico para cada uma das unidades captando a
heterogeneidade entre elas. O estimador de mínimos quadrados ordinários (MQO) seria um
estimador consistente e eficiente do modelo, chamado de Least Square Dummy Variable
(LSDV).
No modelo de efeitos aleatórios assume-se que o efeito específico não observável iα é
não correlacionado com cada variável explicativa, ou seja:
0),( =iitxCov α (24)
Supõe-se ainda que as diferenças entre as unidades são aleatoriamente distribuídas e não
estariam presentes na regressão.
Considere o seguinte modelo:
itiitit uxy εβα +++= ` (25)
onde iu é um distúrbio aleatório relacionado com cada unidade de cross-section e constante ao
longo do tempo. Assume-se ainda que:
0][][ == iit uEE ε ,
22 ][ εσε =itE ,
22 ][ uiuE σ= ,
0][ =jit uE ε para todo i, t e j,
0][ =jsitE εε se t ≠ s ou i ≠ j,
0][ =jiuuE se i ≠ j. (26)
O estimador de mínimos quadrados generalizados é o mais apropriado para a estimação
de um modelo de efeitos aleatórios. A variância de cada uma das unidades é diferente da
57
variância do modelo de efeitos fixos uma vez que esta agora é representada pela soma das
variâncias do erro aleatório e do componente aleatório individual.
No que tange à definição sobre qual das duas abordagens deve ser escolhida, alguns
fatores institucionais assim como as características dos dados e o objetivo da estimação podem
ajudar na escolha. De acordo com Greene,
“From a purely practical standpoint, the dummy variable approach is costly in terms of degrees of freedom lost, and in a wide, longitudinal data set, the random effects model has some intuitive appeal. On the other hand, the fixed effects approach has one considerable virtue. There is no justification for treating the individuals effects as uncorrelated with the other regressors, as it assumed in the random effects model. The random effects treatment, therefore, may suffer from the inconsistency due to omitted variables.”(GREENE, 2000, p.576)
A abordagem de efeitos aleatórios é mais apropriada para os casos em que se retiram
amostras exaustivas de uma população. Já a abordagem de efeitos fixos, de acordo com
JUDSON e OWEN (1996) é mais apropriada à generalidade dos estudos macroeconométricos,
por ser impossível ver uma amostra de N setores como uma seleção aleatória de uma
população com dimensão tendencialmente infinita, tanto mais que representará com grande
probabilidade a quase totalidade da população.
Com relação aos testes a serem utilizados na estimação de um modelo de dados em
painel, no intuito de auxiliar na identificação do melhor modelo, três testes são de importante
relevância. O teste F de significância conjunta calculado a partir do modelo de efeitos fixos
tem como hipótese nula o fato de o termo constante ser igual para todos os grupos (setores).
Assim, caso a hipótese nula seja aceita, rejeita-se o modelo por efeitos fixos, uma vez que um
único intercepto é suficiente. O teste é calculado da seguinte forma:
)/()1()1/()(
),1( 2
22
KnnTRnRR
KnnTnFu
pu
−−−
−−=−−− (27)
onde u indica o modelo irrestrito, p indica o modelo restrito com apenas um único valor para a
constante, n indica o número de unidades de cross-sections, T o número de períodos de tempo
e K o número de variáveis explicativas excluindo a constante.
Breusch e Pagan também desenvolveram um teste de multiplicador de Lagrange (LM)
para o modelo de efeitos aleatórios baseado nos resíduos da estimação por MQO. A hipótese
nula do teste é que a variância do componente individual iα é igual a zero. Caso a hipótese
nula seja rejeitada, rejeita-se o modelo de regressão clássico, uma vez que um único intercepto
58
é inapropriado para os respectivos dados. A estatística do teste LM tem distribuição 2χ com
um grau de liberdade, sendo calculado da seguinte forma:
2`
``
]1[)1(2
−−
=ee
eDDeTnTLM (28)
onde e é o vetor de resíduos da regressão por MQO e D representa a matriz de variáveis
dummies definida como no modelo de efeitos fixos.
Por fim, outro teste que também pode ser realizado para tentar escolher o melhor
método de estimação é o teste de Hausman. O teste é baseado na tentativa de verificar se há
correlação entre os efeitos específicos (individuais) e as variáveis explicativas. Sob hipótese
nula os modelos de efeito fixo e aleatório são consistentes mas apenas o modelo de efeito
aleatório é eficiente, uma vez que os efeitos específicos não são correlacionados com as
variáveis explicativas. Sob hipótese alternativa, o estimador de efeito fixo é consistente
enquanto o de efeito aleatório é inconsistente. A estatística do teste de Hausman tem
distribuição 2χ , sendo baseado num critério de Wald da seguinte forma:
][]`[][^1^^
2 ββχ −∑−==−
bbKW (29)
onde b é o vetor de parâmetros da estimação através do LSDV, ^β é o vetor de parâmetros da
estimação através de mínimos quadrados generalizados e 1^ −
∑ é a diferença entre as matrizes
de covariância dos estimadores de efeito fixo e aleatório.
Por fim, uma última observação que deve ser considerada com relação aos dados
longitudinais, diz respeito as observações existentes para cada uma das unidades de análise.
No caso de um painel balanceado, cada unidade específica possui um número de observações
igual ao número de períodos de análise. Já num painel desbalanceado, nem todas essas
observações estão disponíveis. Nesse caso específico, todas as observações para cada setor em
cada ano estavam disponíveis, configurando um painel balanceado. Todos as estimações,
testes e resultados encontrados são apresentados já tendo sido corrigido para
heterocedasticidade. A correção para heterocedasticidade foi feita a partir da estimação da
matriz de variâncias e covariâncias de White, tal que:
1``
,
21` ))](([)()(
)()var( −− ∑∑
∑−
= XXxxuXXKN
Nb itit
tiit
i
i (30)
59
4.4 – ANÁLISE DOS RESULTADOS
Na tabela 4.1 são apresentados os resultados econométricos60 para o modelo de
investimento direto estrangeiro a partir de dados longitudinais de acordo com o já exposto. Os
dados dos fluxos de investimento direto estrangeiro são anuais, referentes a 49 setores
pertencentes à indústria e ao setor de serviços da economia brasileira – CNAE (Classificação
Nacional de Atividade Econômica) a dois dígitos – abrangendo o período de 1996 a 2003.
Optou-se por excluir os setores de extração mineral, agricultura e pecuária uma vez que esses,
em conjunto, sempre tiveram menor representatividade na absorção de IDE. Assim como o
fluxo de investimento direto estrangeiro, o nível de produto (PIB) e o estoque de IDE também
foram transformados em logaritmo natural, o que faz com que o parâmetro estimado seja
definido como a elasticidade dos ingressos de IDE para os setores da economia brasileira em
relação ao nível do PIB e ao estoque de investimento direto estrangeiro do período anterior.
As estimativas foram geradas pelos seguintes modelos: mínimos quadrados ordinários
(pooling ou dados agrupados); painel de efeitos aleatórios; e painel de efeitos fixos.
Posteriormente, estimou-se um painel de efeitos fixos por meio de ponderação. A estimação
por MQO de dados agrupados aparece apenas como referência uma vez que ela pode dar
alguma idéia do ganho de eficiência em se estimar o modelo por dados em painel. Além disso,
a estimação por MQO permite confirmar a existência de multicolineariedade no modelo por
meio da estatística Variance Inflation Factor (VIF). De acordo com JUDGE et alii (1982)
existe indicação de multicolineariedade severa se o valor da estatística VIF exceder o valor 5.
Devido à elevada multicolineariedade com a estimação do modelo completo, as variáveis
risco-país, taxa de crescimento real dos países industrializados e a proxy para o custo de
capital foram estimadas separadamente resultando em três tabelas de resultados.
De acordo com a tabela 4.1, verifica-se que existe um ganho de eficiência na utilização
de estimação de dados em painel. Diversos são os testes que comprovam essa melhora. O teste
F de significância conjunta calculado a partir do modelo de efeitos fixos aponta para a
conveniência da estimação do modelo de efeitos fixos em detrimento ao MQO, uma vez que
se rejeita a hipótese do termo constante ser igual para todos os grupos (setores). Além do valor
de F, o teste de Breusch-Pagan e a estatística RHO também revelam a importância do
60 Os programas estatísticos utilizados foram o E-Views 4.1 e o Stata 7.0.
60
componente individual. O teste de Breusch-Pagan, cuja hipótese nula do teste é que a
variância do componente individual iα é igual a zero, também rejeita a hipótese nula, ou seja,
rejeita o modelo de regressão clássico em detrimento ao modelo de efeito aleatório. A
estatística RHO mostra que a proporção estimada da variância do componente individual em
relação à variância total do distúrbio é alta. Por fim, o teste de Hausman indica uma clara
preferência para a utilização do estimador de efeito fixo, uma vez que a hipótese nula de não
correlação entre os efeitos específicos (individuais) e as variáveis explicativas é rejeitada.
Sendo assim, os testes estatísticos apontam para a conveniência da estimação do modelo de
efeito fixo.
Conforme pode ser observado pela tabela 4.1, os resultados encontrados para o modelo
com a utilização da variável diferencial de taxa de juros não são satisfatórios, uma vez que
apenas no modelo por meio de ponderação (última coluna da tabela) é que algumas variáveis
Tabela 4.1 - Modelo de dados longitudinais para o investimento direto estrangeiro (1996-2003)Variável Dependente = Investimento Direto Estrangeiro (em logs)Variáveis Independentes MQO (pooling ) EFEITO ALEATÓRIO EFEITO FIXO CROSS SECTION WEIGHTSPIB 3.311848 2.871777 2.177935 4.872644(em logs) 0.502 0.4376 0.5180 0.0003 *TXPIB5 0.957815 0.978325 1.010662 0.732845
0.3291 0.1523 0.1125 0.0041 *ABERTURA 0.310763 0.351764 0.416407 0.199588
0.5205 0.2917 0.1861 0.1131INFLAÇÃO 0.011551 0.001918 -0.013269 0.031533
0.8899 0.9755 0.8118 0.1539ENERGIA -0.000007 -0.000003 0.000003 -0.000001
0.7590 0.8506 0.8420 0.928DOW JONES -0.000311 -0.000327 -0.000351 -0.000041
0.6497 0.4920 0.4344 0.8209DIF. TX. JUROS -0.126343 -0.135807 -0.150728 -0.035682
0.6285 0.4497 0.3773 0.6011ESTOQUE 0.791111 * 0.473547 * -0.027142 -0.118403 *(em logs) 0.0000 0.0000 0.7241 0.0005CONSTANTE -95.513380 -83.139980 - -
0.4585 0.3940 - -R2 0.4950 0.6623 0.7440 0.9578VALOR DE F 6.7904 135.8298
VIF 78.57RHO 0.3106 0.7182HAUSMAN 84.29
0.0000BREUSCH-PAGAN 91.74
0.0000NÚM. DE OBSERVAÇÕES 392 392 392 392Nota: (*) significativo a 1%; (**) significativo a 5%; (***) significativo a 10%. Os resultados já foram corrigidos para heterocedasticidade. Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados das regressões
61
– PIB e taxa de crescimento do PIB – tornam-se significativas e com o sinal esperado. Além
disso, o diferencial entre as taxas de juros brasileira e americana, proxy para representar o
custo do capital e/ou retorno dos investimentos, também não apresentou coeficientes
significativos em nenhum dos modelos estimados, corroborando a hipótese que também esta
variável estaria mais condicionada aos capitais de portfólio e não aos fluxos de IDE. Stephen
Hymer, em seu trabalho seminal, já afirmava que o diferencial de taxa de juros não seria fator
determinante para o investimento direto internacional.
Uma possível justificativa para a não significância da variável diferencial entre as taxas
de juros brasileira e americana estaria ligada à liquidez no mercado internacional. Se a oferta
de capital é a mesma em todos os períodos da análise e se existe excesso de liquidez no
mercado internacional, o diferencial entre as taxas de juros poderia influenciar os fluxos de
investimentos externos. Como não foi objetivo deste trabalho, atentar-se para a oferta de
liquidez no mercado externo, a variável diferencial de taxa de juros foi eliminada do modelo.
Os resultados para os modelos com a variável taxa de crescimento real dos países
industrializados e a variável proxy para o risco-país – anexos 4 e 5 – são bastante semelhantes
ao resultado acima, uma vez que os testes apontam para o modelo de efeito fixo como o mais
conveniente a ser estimado e os resultados obtidos também não são satisfatórios, a não ser pela
estimação do modelo de efeito fixo ponderado.
A taxa de crescimento real do produto dos países industrializados (anexo 4) não se
apresentou significativa em nenhum dos modelos estimados, além de ter piorado bastante o
coeficiente das demais variáveis, o que mostra que, de certa forma, o crescimento dos países
industrializados não teve relação alguma com o montante de IDE que ingressou no país entre
1996 e 2003. Esse resultado corrobora aquele encontrado por NONNENBERG e
MENDONÇA (2004), para os países em desenvolvimento, onde na estimação com todas as
variáveis, a média do PIB dos maiores exportadores de capital da OCDE também não foi
significativa. Uma possível hipótese para esse resultado seria que os investidores estariam
mais atentos aos movimentos nos mercados financeiros em detrimento do tamanho do produto
dos países desenvolvidos.
Já o C-Bond, proxy para o risco país, também não se mostrou significativo em nenhum
dos modelos (anexo 5), o que mostra que essa variável é importante apenas para explicar os
62
fluxos financeiros (especulativos) e não para explicar os ingressos de investimentos externos,
conforme a hipótese dita anteriormente.
Tanto o diferencial de taxas de juros quanto o risco-país não exerceram influência
alguma sobre o IDE. Esse resultado diferencia o investimento direto estrangeiro de outros
tipos de capitais uma vez que as variáveis ligadas aos fluxos especulativos não seriam
sensíveis aos fluxos de investimento de longo prazo.
É importante destacar que, tanto no modelo da tabela 4.1, quanto nos modelos dos
anexos 4 e 5, a multicolineariedade, expressa através da estatística VIF, é bastante elevada,
sendo, por exemplo, de 78,6 no modelo com a variável diferencial de taxa de juros. Para
corrigir este problema, foi estimado um novo modelo – tabela 4.2 – onde se optou por excluir
as variáveis risco-país, taxa de crescimento real dos países industrializados e a proxy para o
custo de capital.
Conforme pode ser observado, os resultados encontrados para os modelos melhoraram
sensivelmente. A estatística VIF reduziu consideravelmente para 3,4 não mais indicando um
problema de multicolineariedade severa. Os testes estatísticos também apontaram para o
ganho de eficiência na utilização de estimação de dados em painel (tabela 4.2).
Os resultados encontrados para os modelos, sobretudo para o modelo de efeito fixo,
corrobora algumas das hipóteses formuladas inicialmente. O log do nível de produto (PIB)
mostrou-se positivo e significativo em ambos os modelos. Observou-se também, tal como era
esperado, que a taxa média de crescimento real do produto (TXPIB5) também exerce
influência positiva e significativa sobre o investimento direto estrangeiro. Já o coeficiente de
abertura comercial, apesar de não ser significativo no modelo de dados agrupados, mostrou-se
positivo e significativo nos modelos de efeito aleatório e fixo, sendo neste último significativo
a 1%.
Tendo ainda em vista os resultados da tabela 4.2, a variável inflação, tomada como
proxy para a estabilidade econômica, não foi significativa em nenhum dos três modelos
estimados, apesar de ter apresentado um coeficiente positivo61.
61 Além do IPCA, foram testados o IGP-DI e o IGP-M como proxy para a estabilidade econômica, sendo que os resultados não se alteraram.
63
A quantidade consumida de energia elétrica, proxy para medir o grau de
desenvolvimento da estrutura industrial, mostrou-se significativa nos modelos de pooling e de
efeitos aleatórios, não o sendo no modelo de efeitos fixos. Por outro lado, a variável Dow
Jones não se mostrou significativa em nenhum dos modelos. Tentou-se também substituí-lo
pelo índice Bovespa, mas os resultados dos modelos não se alteraram consideravelmente. Por
fim, o estoque de IDE no período anterior apresentou-se significativo e com sinal positivo nos
modelos de dados agrupados e de efeito aleatório, sendo que no modelo de efeito fixo, essa
variável não foi significativa.
Como dito anteriormente, foram feitos os testes de Hausman e de Breusch-Pagan para
determinar a melhor especificação para o prosseguimento das estimações. Os resultados
Tabela 4.2 - Modelo de dados longitudinais para o investimento direto estrangeiro (1996-2003)Variável Dependente = Investimento Direto Estrangeiro (em logs)Variáveis Independentes MQO (pooling ) EFEITO ALEATÓRIO EFEITO FIXOPIB 5.434001 * 5.158280 ** 4.710547 *(em logs) 0.0079 0.0164 0.005TXPIB5 0.506134 *** 0.493065 ** 0.471844 **
0.0756 0.0339 0.0193ABERTURA 0.078684 0.101848 ** 0.139462 *
0.1600 0.0327 0.0009INFLAÇÃO 0.045784 0.038851 0.027593
0.3407 0.3223 0.4191ENERGIA -0.000018 ** -0.000015 *** -0.000010
0.0331 0.0818 0.1342DOW JONES 0.000019 0.000028 0.000043
0.8297 0.7083 0.4953ESTOQUE 0.791249 * 0.479783 * -0.025993(em logs) 0.0000 0.0000 0.7376CONSTANTE -150.231600 * -142.115500 ** -
0.0077 0.0161 -R2 0.4946 0.6604 0.7434VALOR DE F 6.7891
0.0000VIF 3.38RHO 0.3108 0.7179HAUSMAN 84.07
0.0000BREUSCH-PAGAN 91.46
0.0000NÚM. DE OBSERVAÇÕES 392 392 392Nota: (*) significativo a 1%; (**) significativo a 5%; (***) significativo a 10%. Os resultados já foram corrigidos para heterocedasticidade. Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados das regressões
64
mostraram que os efeitos fixos devem estar presentes na especificação básica, e que os
mesmos encontram-se correlacionados com as variáveis explicativas, o que favorece o método
de efeitos fixos em detrimento do método de efeitos aleatórios. Sendo assim, estimou-se um
modelo em painel de efeitos fixos para o investimento direto estrangeiro onde existe uma
ponderação, no intuito de buscar uma melhora na significância das variáveis.
As mudanças nos coeficientes estimados e na significância dos mesmos foram
importantes, de acordo com a tabela 4.3. Na estimação por efeito fixo sem ponderação apenas
o nível do PIB, a taxa de crescimento do PIB e o coeficiente de a abertura comercial foram
significativos, mesmo ao nível de 10%. Já na estimação de efeito fixo por meio de ponderação,
com a utilização de dummies setoriais62 para captar os referidos efeitos fixos, quase todas
variáveis foram fortemente significativas.
62 O modelo da tabela 4.2 também foi estimado com dummies temporais mas os resultados não foram satisfatórios.
Tabela 4.3 - Modelo em painel de efeitos fixos para o IDE (1996-2003)Variável Dependente = Investimento Direto Estrangeiro (em logs)Variáveis Independentes GLS (CROSS SECTION WEIGHTS)PIB 5.458770 *(em logs) 0.0000TXPIB5 0.605697 *
0.0000ABERTURA 0.134558 *
0.0000INFLAÇÃO 0.041109 *
0.0019ENERGIA -0.000004
0.1411DOW JONES 0.000053 **
0.0281ESTOQUE -0.118561 *(em logs) 0.0004R2 0.9587VALOR DE F 141.6375
0.0000NÚM. DE OBSERVAÇÕES 392Nota: (*) significativo a 1%; (**) significativo a 5%.
Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados das regressões
65
O nível do produto, a taxa de crescimento real do produto e a abertura comercial
continuaram apresentando o sinal esperado além de serem fortemente significativas. Por outro
lado, a quantidade consumida de energia elétrica foi a única variável no modelo por
ponderação que não foi significativa. Como a quantidade consumida de energia elétrica serve
como uma proxy para o PIB, a sua não significância não causa maiores problemas ao modelo.
Com relação ao nível do PIB, por exemplo, sua elasticidade de curto prazo é 5,45, o
que quer dizer que um choque positivo de 1% no nível de produto na economia brasileira (em
logs) levaria a um aumento de 5,4% nos ingressos de IDE.
O índice Dow Jones – proxy para o grande número de fusões e aquisições – apresentou
o sinal esperado no modelo de efeitos fixos por ponderação, sendo significativo ao nível de
5%. Um melhor desempenho dos mercados de capitais, sobretudo nos países desenvolvidos,
realmente atua como um determinante dos fluxos de IDE, aumentando o apetite dos
investidores por investimentos externos.
Já a taxa de inflação comportou-se com sinal positivo e sendo altamente significativa,
ao contrário do sinal esperado inicialmente. Uma hipótese para que o aumento do IPCA tenha
um efeito positivo sobre o IDE é que um setor qualquer da economia brasileira poderia estar se
beneficiando de um diferencial de preços relativos e assim recebendo maiores investimentos
externos63.
Por fim, o estoque de IDE apresentou-se significativo e com sinal negativo,
contrariando o sinal esperado para essa variável64. Os investidores estrangeiros teriam cautela
em suas decisões de investimento no Brasil caso o estoque de investimento direto estrangeiro
fosse elevado no período anterior. Um choque positivo de 1% no nível de estoque de IDE no
período anterior, levaria a uma redução de 0,12% nos ingressos de investimentos externos.
Em síntese, de acordo com os resultados das estimações, ficou evidenciado que a
principal razão que levou os investidores diretos estrangeiros a alocarem seus investimentos na
economia brasileira foi a busca de mercados (market-seeking), uma vez que o tamanho do
mercado interno e seu histórico de crescimento afetaram forte e significativamente os
ingressos de IDE. Além desses dois fatores, o coeficiente de abertura comercial – proxy para a
disposição do país em aceitar investimento externo – também apresentou o sinal esperado
63 São necessárias pesquisas futuras que verifiquem se isto realmente ocorreu na economia brasileira. 64 Conforme já foi dito anteriormente, nos modelos de dados agrupados e de efeito aleatório, o estoque de IDE apresentou-se significativo e com sinal positivo.
66
sendo altamente significativa em todas as estimações. Por fim, quando se estima o modelo de
efeito fixo por ponderação, a taxa de inflação, o índice Dow Jones e o estoque de IDE no ano
anterior também se tornam significativos.
Esse resultado para o período 1996-2003 mostrou que políticas que assegurem o
crescimento econômico sustentado do país ao longo dos próximos anos, juntamente com
políticas que fortaleçam os fluxos de comércio da economia brasileira, são incentivadoras de
um maior ingresso de investimento externo no Brasil.
67
5 – CONCLUSÃO
O objetivo deste trabalho foi o de analisar os fluxos de investimento externos para o
Brasil e colaborar na busca de seus principais determinantes para o período 1996-2003. A
ênfase da análise foi na ótica do cedente dos recursos, que avalia as economias receptoras e a
postura dos governos. A importância foi dada aos fatores macroeconômicos, sobretudo aos
relacionados à economia receptora.
A hipótese básica do estudo foi que os investimentos diretos estrangeiros ingressavam
no país devido, em grade parte, ao tamanho do mercado brasileiro, ou seja, seria a busca de
mercados – market-seeking – a principal atratividade para as empresas multinacionais
alocarem suas atividades no Brasil.
Na seção 2, analisamos diversas correntes de uma volumosa literatura sobre a atuação
das empresas multinacionais, além de apresentarmos alguns trabalhos empíricos sobre
determinantes de IDEs. A maior parte da literatura teórica relativa ao investimento direto
estrangeiro e às empresas multinacionais centralizou seu foco de análise nas firmas, ou seja,
quais deveriam ser as vantagens que as firmas deveriam possuir para inserir suas atividades no
mercado internacional e poderem competir com as firmas domésticas. Pouca importância foi
dada às características econômicas dos países hospedeiros (aos fatores macroeconômicos).
Com relação aos trabalhos empíricos relativos aos determinantes de IDEs, verificou-se que em
grande parte destes, os fatores tradicionais tais como o nível do PIB, a taxa de crescimento do
PIB, os custos de mão-de-obra etc., continuam sendo os principais variáveis que influenciam
os investimentos externos, sobretudo para os países em desenvolvimento. No entanto, a
sensibilidade desses capitais externos a fatores internos e externos da economia pode variar
devido sobretudo ao tipo de IDE.
Na seção 3, identificamos o montante e o perfil do investimento direto estrangeiro na
economia brasileira e mundial, e investigamos o impacto que as empresas multinacionais
exerceram sobre o crescimento e o balanço de pagamentos do país. Ao longo da última
década, o incremento de investimento direto estrangeiro na economia mundial e na economia
brasileira apresenta um crescimento sem precedentes, sendo que os países em
desenvolvimento na maioria das vezes receberam em torno de 25% a 30% dos fluxos de IDE.
Esse aumento foi resultado não apenas das estratégias das empresas multinacionais, mas
68
também da própria expansão do capitalismo e do aumento da competitividade na economia
mundial.
Com relação à participação brasileira nos fluxos de IDE, não diferente da maior parte
dos demais países, a concentração dos investimentos externos no país foi através de fusões e
aquisições, seja por meio da privatização dos serviços públicos ou através da venda de
empresas privadas locais, o que reduziu a contribuição do IDE na formação bruta de capital
fixo, uma vez que grande parte dos investimentos realizados não foi para implantação de nova
capacidade produtiva. Além disso, também se observou, ao longo do período, uma crescente
participação do setor de serviços como principal setor de atração ao capital estrangeiro, o que
reforça a evidência de que o mercado interno constitui a força motivadora das estratégias das
empresas multinacionais que migram para o Brasil.
No que tange aos impactos sobre o balanço de pagamentos brasileiro diversos trabalhos
retrataram que as firmas estrangeiras apresentaram maior propensão a importar do que a
exportar ao longo da segunda metade da década de noventa, o que faz com que a contribuição
das mesmas para o saldo comercial tenha sido pouco significativa. Apesar dessa constatação,
os recursos externos que ingressaram no país sob a forma de IDE foram muito importantes
para financiar os sucessivos déficits em transações correntes, principalmente no período 1994-
2002.
Na seção 4, estimamos um modelo para identificar a relevância das principais variáveis
que determinaram a entrada de IDE no Brasil, sendo esta a principal contribuição deste
trabalho. O período de análise compreendeu os anos de 1996 a 2003 e utilizou-se da
metodologia de dados em painel para os 49 setores da economia brasileira.
Os resultados encontrados evidenciaram que a principal razão que levou os
investidores diretos estrangeiros a alocarem seus investimentos na economia brasileira foi a
busca de mercados (market-seeking)65, uma vez que o tamanho do mercado interno e seu
histórico de crescimento afetaram positiva e significativamente os ingressos de IDE. Além
desses dois fatores, o coeficiente de abertura comercial – proxy para a disposição do país em
65 Apesar dos resultados encontrados evidenciarem que grande parte do IDE que ingressou no Brasil foi em razão da busca de mercados, nos últimos anos – a partir de 2001 – verificou-se uma tendência por parte dos investidores externos na alocação de suas atividades em segmentos exportadores ligados sobretudo à agroindústria e à extração mineral. Esse fenômeno, ainda recente, pode indicar uma opção pela busca de recursos (resource-seeking) por parte dos investidores externos, o que alteraria o perfil dos recursos externos que ingressam na economia brasileira.
69
aceitar investimento externo – também apresentou o sinal esperado sendo altamente
significativo na maioria das estimações. A forte significância dessas três variáveis mostra que
os fatores tradicionais, também no Brasil, são os principais determinantes dos investimento
externos.
Quando se estima o modelo de efeito fixo por ponderação, outras variáveis tornam-se
significativas. A taxa de inflação comportou-se com sinal positivo e sendo altamente
significativa, ao contrário do sinal esperado inicialmente. Uma hipótese para que o aumento
do IPCA tenha um efeito positivo sobre o IDE é que um setor qualquer da economia brasileira
poderia estar se beneficiando de um diferencial de preços relativos e assim recebendo maiores
investimentos externos. O índice Dow Jones – proxy para o grande número de fusões e
aquisições – apresentou o sinal esperado no modelo de efeitos fixos por ponderação, sendo
significativo ao nível de 5%. Um melhor desempenho dos mercados de capitais, sobretudo nos
países desenvolvidos, realmente atua como um determinante dos fluxos de IDE, aumentando o
apetite dos investidores por investimentos externos. Por fim, o estoque de IDE apresentou-se
significativo e com sinal negativo, contrariando o sinal esperado para essa variável. Os
investidores estrangeiros teriam cautela em suas decisões de investimento no Brasil caso o
estoque de investimento direto estrangeiro fosse elevado no período anterior.
Variáveis como o risco-país e o diferencial entre as taxas de juros brasileira e
americana não exerceram influência alguma sobre o IDE. Esse resultado diferencia o
investimento direto estrangeiro de outros tipos de capitais uma vez que as variáveis ligadas aos
fluxos especulativos não foram sensíveis aos fluxos de investimento de longo prazo. Como
cada modalidade de capital – investimentos estrangeiros, investimentos de portfólio e capitais
de crédito – possui sensibilidade diferente em relação a fatores como risco-país, crescimento
da economia, coeficiente de abertura comercial etc., os formuladores de política econômica
poderiam definir políticas dirigidas especificamente ao capital sobre o qual desejariam exercer
influência66.
Uma vez que o comportamento das empresas multinacionais é na maioria das vezes
market-seeking, políticas que assegurem o crescimento econômico sustentado do país ao longo
dos próximos anos, juntamente com políticas que fortaleçam os fluxos de comércio da
66 De acordo com HENNINGS (1994), ao longo da primeira metade da década de 1990, não pode ser afirmado que o governo possuísse uma política de atração de IDE, que indicasse uma opção por essa modalidade de capital como fonte de financiamento do crescimento do país.
70
economia brasileira são incentivadoras de um maior ingresso de investimento externo no
Brasil.
71
6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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74
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75
ANEXOS
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ANEXO 1
Tabela A1 - Distr. por Atividade Econômica de Aplic. dos Recursos (US$ milhões e %)
Atividade Econômica 1995 % 2000 % 2001-03 %
Agricultura, pecuária e extrativa mineral 924.99 2.22 2,401.08 2.33 3,618.42 6.86Agricultura, pecuária e serviços relacionados 207.23 0.50 288.13 0.28 253.33 0.48Silvicultura, exploração florestal e serviços relacionados 30.49 0.07 87.77 0.09 27.56 0.05Pesca, aquicultura e atividades dos servicos relacionados 7.88 0.02 7.69 0.01 14.42 0.03Extração de petróleo e serviços correlatos 72.01 0.17 1,022.48 0.99 2,232.77 4.23
Extração de carvão mineral 0.00 0.00 0.00 0.00 0.23 0.00Extração de minerais metálicos 566.71 1.36 611.19 0.59 1,014.00 1.92Extração de minerais não-metálicos 40.68 0.10 383.82 0.37 76.10 0.14Indústria 27,907.09 66.93 34,725.62 33.71 19,062.30 36.16Fabricação de produtos alimentícios e bebidas 2,827.52 6.78 4,618.65 4.48 2,844.80 5.40Fabricação de produtos do fumo 715.41 1.72 723.84 0.70 79.56 0.15Fabricação de produtos têxteis 529.78 1.27 676.68 0.66 188.56 0.36Confecção de artigos do vestuário e acessórios 78.08 0.19 148.45 0.14 68.30 0.13Prep. de couros, fab. de art. de couro, art. de couro e calç. 428.40 1.03 49.27 0.05 40.14 0.08Fabricação de produtos de madeira 28.99 0.07 239.69 0.23 134.14 0.25Fabricação de celulose, papel e produtos de papel 1,633.66 3.92 1,572.73 1.53 509.08 0.97Edição, impressão e reprodução de gravações 137.97 0.33 190.93 0.19 328.75 0.62Fab. de coque, refino de petróleo, elab. de combustíveis 0.00 0.00 0.69 0.00 6.95 0.01Fabricação de produtos químicos 5,331.12 12.79 6,042.71 5.87 4,034.93 7.65Fabricação de artigos de borracha e plástico 1,538.66 3.69 1,781.93 1.73 563.30 1.07Fabricação de produtos de minerais não-metálicos 853.84 2.05 1,170.25 1.14 304.87 0.58Metalurgia básica 3,004.90 7.21 2,513.35 2.44 919.39 1.74Fabricação de produtos de metal - exclusive máquinas e equip. 572.76 1.37 593.31 0.58 306.72 0.58Fabricação de máquinas e equipamentos 2,345.29 5.62 3,324.35 3.23 991.05 1.88Fab. de máquinas para escritório e equip. de informática 457.86 1.10 281.29 0.27 125.53 0.24Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos 1,100.58 2.64 990.29 0.96 886.34 1.68Fab. de material eletrônico e de apar. e equip. de comunicações 785.42 1.88 2,169.23 2.11 2,035.88 3.86Fab. de equipamentos de instrumentação médico-hospitalar 168.43 0.40 735.93 0.71 82.01 0.16Fab. e montagem de veículos autom., reboques e carrocerias 4,837.70 11.60 6,351.39 6.17 4,272.44 8.10Fabricação de outros equipamentos de transporte 223.00 0.53 355.80 0.35 129.63 0.25Fabricação de móveis e indústrias diversas 294.41 0.71 182.75 0.18 165.47 0.31Reciclagem 13.32 0.03 12.09 0.01 44.46 0.08Serviços 12,863.54 30.85 65,887.81 63.96 30,041.69 56.98Eletricidade, gás e água quente 0.29 0.00 7,116.35 6.91 3,625.19 6.88Captação, tratamento e distribuição de água 1.80 0.00 145.89 0.14 162.75 0.31Construção 202.68 0.49 415.62 0.40 589.55 1.12Comércio e reparação de veículos autom. e motocicletas; 84.39 0.20 429.06 0.42 308.09 0.58Comércio por atacado e intermediários do comércio 2,132.20 5.11 5,918.09 5.74 1,529.09 2.90Comércio varejista e reparação de obj. pessoais e domésticos 669.11 1.60 3,892.99 3.78 2,162.63 4.10Alojamento e alimentação 364.31 0.87 316.64 0.31 572.62 1.09
Estoque 1/ Fluxos Acum. 2/
77
Tabela A1 - Continuação
Atividade Econômica 1995 % 2000 % 2001-03 %Transporte terrestre 6.43 0.02 214.77 0.21 79.76 0.15Transporte aquaviário 90.49 0.22 73.35 0.07 102.72 0.19Transporte aéreo 24.72 0.06 9.50 0.01 32.80 0.06Atividades anexas e aux. do transporte e agências de viagem 71.42 0.17 197.63 0.19 291.07 0.55Correio e telecomunicações 398.74 0.96 18,761.54 18.21 11,129.92 21.11Interm. financeira, exclusive seguros e previdência privada 1,638.38 3.93 10,671.26 10.36 3,533.48 6.70Seguros e previdência privada 149.61 0.36 492.41 0.48 971.72 1.84Atividades auxiliares da intermediação financeira 390.43 0.94 1,487.88 1.44 465.02 0.88Atividades imobiliárias 1,109.24 2.66 798.00 0.77 573.28 1.09Aluguel de veículos, máquinas e equipamentos sem condutores 363.31 0.87 84.38 0.08 75.04 0.14Atividades de informática e conexas 115.11 0.28 2,542.91 2.47 1,104.75 2.10Pesquisa e desenvolvimento 5.54 0.01 734.91 0.71 1.97 0.00Serviços prestados principalmente às empresas 4,952.70 11.88 11,018.53 10.70 2,318.85 4.40Educação 1.08 0.00 5.73 0.01 44.44 0.08Saúde e serviços sociais 17.84 0.04 69.56 0.07 16.99 0.03Limpeza urbana e esgoto; e atividades conexas 2.19 0.01 122.24 0.12 37.74 0.07Atividades associativas 54.42 0.13 7.66 0.01 0.15 0.00Atividades recreativas, culturais e desportivas 15.21 0.04 353.47 0.34 309.18 0.59Serviços pessoais 1.92 0.00 7.43 0.01 2.90 0.01Total 41,695.62 100 103,014.51 100 52,722.41 100
Fonte: Banco Central do Brasil
Notas: 1/ Dados de Censo de Capitais Estrangeiros (datas-base 1995 e 2000)
Conversões pela cotação do último dia útil do respectivo período.
Segundo a atividade econômica principal.
2/ Ingressos de investimentos e conversões de empréstimos e financiamentos em investimento direto.
Conversões em dólares às paridades históricas.
Estoque 1/ Fluxos Acum. 2/
78
ANEXO 2
A série do estoque do investimento direto estrangeiro para cada setor foi construída da
seguinte maneira:
– utilizou-se para 1995 e 2000 os dados de estoque do censo de capitais estrangeiros
publicado pelo Banco Central;
– para os demais anos (para 1996, por exemplo) o cálculo foi feito da seguinte forma:
1. somou-se ao estoque de 1995 de um respectivo setor o fluxo correspondente ao
ano de 1996 para o mesmo setor;
2. como não se tinha dados de saída de IDE por setor da atividade econômica,
mas apenas o fluxo de saída total, utilizou-se a participação percentual de cada
setor no ingresso de IDE como a mesma para a saída de investimento externo,
calculando então a saída correspondente a cada setor;
3. reduziu-se à soma resultante de (1), o fluxo de saída para o ano de 1996 para o
mesmo setor, resultando então no estoque de 1996.
79
ANEXO 3
Tabela A3 - Correlação entre as variáveis do modeloide pib txpib5 abertura inflação dow jones energia estoque
ide 1.0000pib 0.1251 1.0000txpib5 -0.0966 -0.5262 1.0000abertura 0.1428 0.5682 -0.8698 1.0000inflação 0.0677 0.1882 -0.6879 0.5861 1.0000dow jones 0.1046 0.5198 -0.2616 0.4852 -0.0986 1.0000energia 0.1069 0.6872 -0.5818 0.7194 0.2384 0.6348 1.0000estoque 0.6959 0.1216 -0.1524 0.1854 0.0734 0.1303 0.1736 1.0000
80
ANEXO 4
Tabela A4 - Modelo de dados longitudinais para o investimento direto estrangeiro (1996-2003)Variável Dependente = Investimento Direto Estrangeiro (em logs)Variáveis Independentes MQO (pooling ) EFEITO ALEATÓRIO EFEITO FIXO CROSS SECTION W EIGHTSPIB 2.304569 1.789047 0.976245 4.588164 **(em logs) 0.7377 0.7171 0.8319 0.0126TXPIB5 0.135331 0.094232 0.029434 0.500555 **
0.8677 0.8700 0.9570 0.0226ABERTURA -0.075388 -0.063313 -0.044273 0.090529
0.8152 0.7775 0.8360 0.2908INFLAÇÃO 0.060353 0.054376 0.044953 0.045316 *
0.2987 0.2202 0.2671 0.0050ENERGIA -0.000004 0.000000 0.000007 0.000000
0.8842 0.9981 0.7305 0.9714DOW JONES 0.000152 0.000171 0.000201 0.000090
0.6021 0.4001 0.2929 0.2390TXPIBIND -0.375241 -0.403349 -0.447665 -0.105977
0.6285 0.4497 0.3773 0.6011ESTOQUE 0.791111 * 0.473547 * -0.027142 -0.118403 *(em logs) 0.0000 0.0000 0.7241 0.0005CONSTANTE -63.704550 -48.948500 - -
0.7376 0.7196 - -R2 0.4950 0.6623 0.7440 0.9578VALOR DE F 6.7904 135.8298
0.0000VIF 34.60RHO 0.3106 0.7182HAUSMAN 84.29
0.0000BREUSCH-PAGAN 91.74
0.0000NÚM. DE OBSERVAÇÕES 392 392 392 392Nota: (*) significativo a 1%; (**) significativo a 5%; (***) significativo a 10%. Os resultados já foram corrigidos para heterocedasticidade. Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados das regressões
81
ANEXO 5
Tabela A5 - Modelo de dados longitudinais para o investimento direto estrangeiro (1996-2003)Variável Dependente = Investimento Direto Estrangeiro (em logs)Variáveis Independentes MQO (pooling ) EFEITO ALEATÓRIO EFEITO FIXO CROSS SECTION WEIGHTSPIB 2.590999 2.096932 1.317958 4.669059 *(em logs) 0.6818 0.6466 0.7560 0.0059TXPIB5 0.090329 0.045860 -0.024254 0.487846 **
0.9201 0.9424 0.9679 0.0440ABERTURA 0.023719 0.043218 0.073962 0.118519 *
0.8508 0.6364 0.3929 0.0007INFLAÇÃO 0.033023 0.024999 0.012347 0.037597 **
0.5382 0.5627 0.7405 0.0107ENERGIA -0.000028 -0.000026 -0.000022 -0.000006
0.2036 0.1240 0.1520 0.2871DOW JONES 0.000160 0.000179 0.000211 0.000092
0.6027 0.401 0.2958 0.2523RISCO 0.000698 0.000750 0.000832 0.000197
0.6285 0.4497 0.3773 0.6011ESTOQUE 0.791111 * 0.473547 * -0.027142 -0.118403 *(em logs) 0.0000 0.0000 0.7241 0.0005CONSTANTE -67.879900 -53.436600 - -
0.7091 0.6834 - -R2 0.4950 0.6623 0.7440 0.9578VALOR DE F 6.7904 135.8298
VIF 16.36RHO 0.3106 0.7182HAUSMAN 84.29
0.0000BREUSCH-PAGAN 91.74
0.0000NÚM. DE OBSERVAÇÕES 392 392 392 392Nota: (*) significativo a 1%; (**) significativo a 5%; (***) significativo a 10%. Os resultados já foram corrigidos para heterocedasticidade. Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados das regressões
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