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Anais do III Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí: História e Diversidade Cultural. Textos Completos.
Realização Curso de História – ISSN 2178-1281
ANÁLISES DE RESUMOS DE TESES DE DOUTORADO EM EDUCAÇÃO DO
BANCO DE TESES DA CAPES: EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E
EDUCAÇÃO POPULAR
Andréa Porto Ribeiro1
Rafael Domingues da Silva2
Gercina Santana Novais (Orientadora) 3
RESUMO:
O texto apresenta resultados parciais de um projeto amplo de investigação sobre Educação de
Jovens e Adultos - EJA, desenvolvida por membros do Grupo de Pesquisa em Educação e
Culturas Populares do Programa de Pós Graduação da Universidade Federal de Uberlândia.
Essa investigação foi ancorada nas elaborações de Freire (1978), Brandão (1984), Haddad
(2005) e Novais e Cicillini (2005, 2009), de Di Pierro (2001) e de Ribeiro (1999). Os
resultados obtidos guiaram-se pelas seguintes questões: quais são as produções acadêmicas
dos programas de pós-graduação cadastradas no banco de teses da Coordenação
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, que abordam a EJA nos últimos cinco anos e
tem interfaces com a educação popular? Para melhor compreender as questões eleitas para
estudo, realizou-se pesquisa bibliográfica e documental, teses, PCNs, Constituição Federal de
1988, Declaração Universal dos Direitos Humanos, A LDB de 1996, utilizando procedimento
de análise de conteúdo (Bardin, 2010). Constatamos que é preciso fomentar mais a produção
de pesquisas, estudos sobre as questões ligadas a EJA e à Educação Popular para que
tenhamos mais claro em que momento estas duas vertentes se articulam e se distanciam para
avançarmos na melhoria da qualidade da educação para os sujeitos populares.
PALAVRAS-CHAVE: Educação de Jovens e Adultos, Educação Popular, Formação de
Professores, EJA, Teses de Doutorado.
INTRODUÇÃO:
Este texto apresenta resultados parciais de um projeto amplo de investigação sobre
Educação de Jovens e Adultos - EJA, desenvolvida por membros do Grupo de Pesquisa em
Educação e Culturas Populares do Programa de Pós Graduação da Universidade Federal de
1 Graduando em Pedagogia - FACED/UFU – Membro do Grupo de Pesquisa em Educação e Culturas Populares,
e-mail: [email protected].
2 Graduado em História pela UFU e Mestrando em Educação – PPGED/UFU - Membro do Grupo de Pesquisa
em Educação e Culturas Populares, e-mail: [email protected].
3 Doutora em Educação pela USP. Professora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal de Uberlândia e membro do Grupo de Pesquisa em Educação e Culturas Populares.
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Uberlândia. Essa investigação foi ancorada nas elaborações de Freire (1978), Brandão
(1984), Haddad (2005) e Novais e Cicillini (2005, 2009) sobre a escolarização das classes
populares no Brasil, de Di Pierro (2001) sobre políticas de alfabetização de jovens e adultos
(EJA) e de Ribeiro (1999) sobre as representações acerca da EJA e também sobre os aspectos
pedagógicos a serem considerados na formação de professores (as) que atuam ou vão atuar na
Educação de Jovens e Adultos. O referido projeto trata da EJA e também da formação de
professores que atuam profissionalmente nesta modalidade de ensino.
Neste texto, apresentamos resultados parciais da investigação que foi orientada pelas
seguintes questões: quais são as produções acadêmicas dos programas de pós-graduação
cadastradas no banco de teses da Coordenação Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
- CAPES que abordam a Educação de Jovens e Adultos (EJA) nos últimos cinco anos e tem
interfaces com a educação popular? Quais são os conhecimentos, temas e base teórica que
emergem dessas teses?
Para melhor compreender as questões eleitas para estudo, foram realizadas pesquisa
bibliográfica e documental. Os documentos analisados foram: teses, PCNs, Constituição
Federal de 1988, Declaração Universal dos Direitos Humanos, Lei de Diretrizes e Bases da
Educação de 1996, utilizando procedimentos de análise de conteúdo (Bardin, 2010).
O texto que segue apresenta os resultados da investigação por meio de três seções: I.
Apontamentos sobre a Educação de Jovens e Adultos; II. Caminhos metodológicos da
pesquisa, III. Resultados da pesquisa e Considerações Finais.
III. Apontamentos sobre a Educação de Jovens e Adultos
No Brasil, a Educação de Jovens e Adultos recebeu pela primeira vez um tratamento
particular na Constituição de 1934, a qual designava como dever da União oferecer ensino
primário também aos adultos, mas esta modalidade de ensino firmou-se como um problema
de política nacional somente ao final dos anos 1940 como aponta Haddad (2005). A partir da
década de 1940, o governo lança diversos programas a fim de erradicar o analfabetismo na
camada jovem e adulta da população brasileira - em 1947: Serviço de Educação de Adultos e
Campanha de Educação de Adultos, 1958: Campanha Nacional de Erradicação do
Analfabetismo, 1964: Programa Nacional de Alfabetização, 1969: Movimento Brasileiro de
Alfabetização denominado Mobral, dentre outras ações. Todos os planos, programas e
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medidas fracassaram na tentativa de eliminar o analfabetismo e elevar a escolaridade dos
brasileiros devido às constantes mudanças que não acompanhavam a real necessidade de
escolaridade dos jovens e adultos brasileiros, além disso, as mudanças no governo do país –
como a ditadura – influenciaram negativamente a implementação dos programas e ações
destinadas a EJA .
Na década de 1990, a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 1996)
expressa na Seção V, artigo 37 que a Educação de Jovens e Adultos “será destinada àqueles
que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade
própria”, ou seja, os sujeitos que hoje freqüentam a EJA foram, em algum momento,
excluídos da escola regular por diversas razões – fracasso escolar, condição econômica,
práticas de avaliação, evasão – gerando assim a escolarização tardia. De acordo com Di Pierro
(2001), nos anos 1990 houve uma entrada considerável de jovens das camadas populares na
escola, transformando a demanda, antes voltada somente à população adulta. Estes jovens das
periferias das cidades, já tinham entrado na triste porcentagem de evasão escolar. Quando
ingressam no mercado de trabalho, se deparam com as exigências de qualificação
profissional, obrigando os juvenis desistentes a retornarem à escola. Essa nova realidade
refletiu em mudanças pedagógicas, adaptando o ensino de suplência ao novo público.
Cabe ainda citar que a atual Carta Magna do Estado Brasileiro (1988) insere o direito à
educação no rol dos direitos sociais em seu Capítulo II: “Art. 6º São direitos sociais a
educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados...”.
Reforçamos, portanto, que, o acesso à educação escolar é um direito de todo sujeito,
permitindo a ele posicionar-se no ambiente de interesse, exercendo sua cidadania. Após um
período de mais de duas décadas de ditadura militar, os anseios e demandas da sociedade civil
resultaram de certa maneira, no texto que conhecemos hoje com suas emendas. Já no seu
nascimento nos anos 1960, a “Educação Popular” foi caracterizada como Subalterna, de
iniciativa da classe popular, que decidiu caminhar “pelas suas próprias pernas”, na construção
de uma outra sociedade, contrapondo-se à realidade agudamente desigual, excludente.
Para todos os envolvidos neste projeto, a EJA não pode ser uma ação compensatória,
ou uma “dádiva” estatal. O acesso à educação deve ser universal, não importando a idade,
classe social. Nossa posição política é de lutar para que todos tenham acesso ao
conhecimento.
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Se a vocação ontológica do homem é a de ser sujeito e não objeto, só poderá
desenvolvê-la na medida em que, refletindo sobre suas condições espaço -temporais,
introduz-se nelas de maneira crítica. Quanto mais for levado a refletir sobre sua
situacionalidade, sobre seu enraizamento espaço – temporal, mais “emergirá” dela
conscientemente “carregado” de compromisso com sua realidade, da qual porque é
sujeito, não deve ser simples espectador, mas deve intervir cada vez mais (Freire,
1981, p. 61).
Os escritos de Paulo Freire são reveladores no sentido de se combater a tese de pensar
o aluno(a) de EJA como tabula rasa, desprovido de experiência e de saberes. Nessa
perspectiva como citado acima o(a) educador(a) dialógico que prima pela humanização dos
homens deve pensar numa proposta educativa em que ambos – educadores e educando – se
formam orientados pelo “ser mais”, para que o educando possa intervir cada vez mais e assim
sair da situação de expectador e tornar-se sujeito ativo no mundo estabelecendo uma forma
autêntica de pensar e atuar.
A produção acadêmica sobre a Educação de Jovens e Adultos é vasta, dentre os
diversos textos, citamos: Arroyo (2007) que trata dos modos de vida dos sujeitos que
frequentam a EJA, Carrano (2007) sobre o sentido da presença dos jovens e adultos dentro
das instituições escolares, Ribeiro (1999) sobre a formação pedagógica dos profissionais que
atuam ou vão atuar na modalidade EJA, Santos (2003) que discute sobre a exclusão dos
jovens e adultos populares quando retornam a escola, Yannoulas (2009) que procura debater o
tema educação e trabalho na vida dos jovens e adultos. Mas, nesse vasto universo de
produções acadêmicas, a nossa preocupação é identificar as produções que contemplam a
Educação de Jovens e Adultos com interface à Educação Popular, pois se faz necessário a
transformação das relações e processos que acontecem no interior das instituições escolares
públicas com vistas a fortalecer a identidade dos sujeitos que freqüentemente vivenciam
condições desiguais de escolarização. Além disso, buscamos com este texto contribuir com a
formação de professores(as) e com a valorização dos saberes e cultura dos sujeitos que
freqüentam a EJA. Para tanto, elegemos a Educação Popular como opção teórico-prática
entendo assim como Brandão (1985) que a Educação Popular é “um movimento de trabalho
político” (p.61), das classes populares, onde se luta pelo poder popular, em oposição à
sociedade desigual. É uma educação conscientizadora, de luta, de consciência de classe, na
produção de saberes populares voltados para uma educação libertadora.
É fato que a Educação de Jovens e Adultos configura-se como um ato essencialmente
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político e que deve ocorrer em um espaço dialógico e crítico (FREIRE, 1895). Porém,
percebemos que os currículos e a organização tradicional das instituições de ensino não se
configuram como um espaço de acolhimento do saber e da cultura das pessoas que
frequentam a EJA:
[...] a educação tradicional elimina a possibilidade do gesto educativo ser um gesto
criador e comunicador das várias histórias de sujeitos ou grupos sociais, dificultando
a construção e a valorização das identidades socioculturais. Além dissso, parcelas
significativas da instituições de ensino público – via de acesso das camadas
populares ao ensino formal – mantêm práticas pedagógicas fundadas numa
concepção de conhecimento a-histórico, pronto e neutro (NOVAIS, 2002, p.17).
Nessa direção entendemos que o investimento para superar as práticas de retirada de
direitos educacionais dos sujeitos populares deve ser realizado tanto na organização da
estrutura escolar quanto na a formação dos(as) professores(as) com base nos princípios da
Educação Popular, educação emancipatória e transformadora.
A formação de professores(as) para atuar na educação de jovens e adultos deve focar
ações pedagógicas que atenda às reais necessidades dos(as) educandos(as), valorizar o diálogo
e a oralidade, que constitui a principal linguagem utilizada pelos sujeitos que compõem a
EJA. Devemos então transpor o ensino tradicional, repensar a organização dos tempos e
espaços escolares. No item que segue procuraremos explicitar o percurso adotado para
confecção deste texto.
IV. Caminhos da Pesquisa
A trajetória da pesquisa contemplou levantamento bibliográfico, reuniões coletivas –
grupos reflexivos que eram formados pelos integrantes do GPECPOP, especificamente do
subgrupo EJA. Os grupos reflexivos configuram-se como espaço para formação teórico
prática daqueles que o compõem com vistas a tratar de questões ligadas a EJA e à Educação
Popular. Com as reuniões coletivas buscamos refletir sobre assuntos pertinentes as pesquisas
que o subgrupo EJA desenvolve a fim de construir conhecimento para discussão das fontes,
refinamento da pesquisa, elegendo o banco de teses da CAPES, documentos oficiais e análise
dos dados sempre orientados pelos objetivos da pesquisa. Durante o 1º Semestre de 2011,
realizamos um levantamento bibliográfico de artigos acadêmicos, livros e outras publicações
que discutem o ensino de EJA. Mapeando este “mundo” de trabalhos em variadas mídias,
iniciamos a leitura dos textos já citados anteriormente, garantindo a formação teórica do
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grupo e cumprindo com a proposta de trabalho definida no cronograma da pesquisa.
O presente texto traz resultados parciais, baseado nos resumos das teses publicadas na
CAPES, uma vez que o referido banco de teses é o órgão oficial do governo brasileiro, que
por sua vez coordena a os programas de pós graduação strictu senso do país, o que o
configura como uma fonte confiável. A escolha pelas teses de doutoramento foi realizada uma
vez que estas publicações possuem a exigência de trazerem pesquisas inovadoras.
Adotamos metologicamente a análise de conteúdo (Bardin, 2010) para proceder na
análise dos dados coletados. A análise de conteúdo consentiu-se como uma ferramenta para a
compreensão da construção de significado que os sujeitos sociais exteriorizam no discurso.
Dessa forma pretendemos verificar nos resumos das teses o que está por trás da superfície
textual, auxiliados por um “conjunto de técnicas de análise das comunicações” (Bardin, 2010,
p. 70), a fim de responder às nossas perguntas iniciais: quais são as publicações cadastradas
no banco da CAPES que possuem interfaces com a educação popular? Quais são os
conhecimentos, temas e base teórica que emergem dessas teses? Ou seja, quais são as
perspectivas da EJA que vem sendo fomentadas nestas publicações?
Primeiramente procuramos estabelecer um filtro geral na busca pelas teses. Esta
escolha foi realizada para selecionar genericamente aquilo que nos interessava dentro do
banco da CAPES a partir de 2005. Este filtro foi definido conforme as perguntas iniciais da
pesquisa sendo produzido com base em quatro palavras-chave: EJA, Formação de
Professores(as), Educação Popular, Saberes de jovens e adultos das classes populares. Cabe
destacar também que escolhemos as teses que se encontravam vinculadas ao campo de
conhecimento da educação independente da área de concentração do programa de pós-
graduação da tese. Além disso, priorizarmos as publicações que se debruçam sobre o ensino
fundamental.
Após fase inicial de mapeamento panorâmico das teses conforme as palavras-chave -
unitermos. O próximo passo de análise dos dados foi o desdobramento dos títulos e resumos
com o propósito de estabelecer um filtro mais específico a fim de construir um diálogo mais
íntimo com a pesquisa. A seleção realizada no conjunto títulos das teses foi guiada conforme
a afinidade dos mesmos com a nossa pesquisa, ou seja, desconsideramos aqueles que não
dialogavam com nossa investigação.
Os critérios estabelecidos para “filtrar” os resumos dos trabalhos publicados foi buscar
pelas teses que tratassem do tema Educação de Jovens com interface a Educação Popular, a
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fim de compreender qual é a visão de EJA e Educação Popular que vem sendo fomentada em
tais publicações.
V. Resultados da pesquisa
O subgrupo de EJA é apenas uma das várias ramificações do projeto guarda chuva
“Tecendo Redes de Educação Popular”, financiado pela FAPEMIG. Os membros deste
subgrupo tratam da Educação de Jovens e Adultos e também da formação de professores que
atuam profissionalmente nesta modalidade de ensino.
A leitura do acervo bibliográfico, discussão dos textos em grupos reflexivos nos
permitiu vislumbrar os diversos pontos de vista dos autores. Para exemplificar, o artigo de Di
Pierro, Joia e Ribeiro (2001), chamado “Visões da Educação de Jovens e Adultos no Brasil”,
nos serviu de base para compreender a institucionalização desta modalidade e suas
metamorfoses ao longo da história da educação no Brasil até nossos dias. Haddad (2007),
também segue nesta linha de análise, refletindo sobre a Educação de adultos, que com o
passar do tempo, englobou o público jovem, que deixavam os bancos da escola de maneira
precoce. Devido ao distanciamento entre idade e série, de acordo com a ótica do ensino
escolar regular, a Educação antes destinada aos adultos, passou a receber o público jovem
com defasagem escolar.
O artigo escrito por Marta Khol de Oliveira(1999), “Jovens e Adultos como sujeitos de
conhecimentos e aprendizagem” é instigante no sentido de demonstrar que os (as) alunos(as)
de EJA são os atores e atrizes na / da educação e não podem ser tratados como espectadores
(as) do processo de aprendizagem do conhecimento. Então, seguindo um cronograma pré
definido, realizamos uma pesquisa exploratória orientados pelo tema EJA e Educação
Popular. Então “garimpamos” sites de revistas eletrônicas de educação, como a REVEJA,
Revista de Educação de Jovens e Adultos, que acolhe trabalhos acadêmicos preocupados com
a EJA: formação específica de professores(as), relatos de experiências da prática docente e
participação do alunado no processo educativo.
Um dado bastante interessante encontrado nessa fase da pesquisa diz respeito ao
fluxograma dos Cursos de Licenciatura em Pedagogia, a título de ilustraçãoo fluxograma do
Curso de Licenciatura em Pedagogia da UFPB possui como disciplinas obrigatórias
“Educação de Jovens e Adultos” e “Educação Popular”. A existência destas disciplinas é um
avanço, quando comparamos, por exemplo, com o Fluxograma do Curso de Pedagogia da
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Universidade Federal de Uberlândia que só oferece a disciplina “Educação de Jovens e
Adultos”. Percebemos a partir da comparação entre os dois fluxogramas como se dá
organização e preocupação com a formação dos graduandos do curso citado e possível
perceber também o grau de importância que determinadas disciplinas possuem dentro da
grade curricular de um mesmo curso em diferentes regiões do país.
Outro ponto importante no trabalho que ainda estamos desenvolvendo é analisar o que
a legislação Federal sobre a Educação de Jovens e Adultos. Baseamo-nos na LDB de 1996,
colocada em vigor no Governo Fernando Henrique Cardoso. Deste modo, fizemos um
balanço histórico, contrastando o conjunto de artigos e incisos da Seção V da LDB que trata
da EJA com a realidade atual, pelo menos desde os anos 90. Está claro que a faixa etária do
alunado modificou-se. Na LDB, Seção V, Artigo 37 e Inciso 2º diz que “o poder público
viabilizará e estimulará o acesso e a permanência 'do trabalhador' na escola....” (BRASIL,
2010, p. 32). Analisamos também os Parâmetros Curriculares Nacionais de 1997, onde é
interessante ressaltar que:
A escola, na perspectiva de construção de cidadania, precisa assumir a valorização
da cultura de sua própria comunidade e, ao mesmo tempo, buscar ultrapassar seus
limites, propiciando às crianças pertencentes aos diferentes grupos sociais o acesso
ao saber, tanto no que diz respeito aos conhecimentos socialmente relevantes da
cultura brasileira no âmbito nacional e regional como no que faz parte do patrimônio
universal da humanidade. (BRASIL, 1997, p. 34)
As Propostas Curriculares para o 1º segmento da EJA valorizam a experiência de vida
e dos conhecimentos dos educandos, chamando a atenção para a situacionalidade social,
cultural e econômica dos mesmos (Ribeiro: 2001: p. 37-48). É transferida à escola a missão de
ter um ensino de qualidade, que busca formar cidadãos capazes de interferir criticamente na
realidade para transformá-la, além disso, a formação escolar deve possibilitar aos alunos
condições para desenvolver competência e consciência profissional, mas não restringir-se ao
ensino de habilidades imediatamente demandadas pelo mercado de trabalho. (BRASIL: 1997:
p. 34).
Como a escola desempenhará tal missão, quando assistimos cotidianamente a ausência de
estruturas básicas em escolas brasileiras? E ao contrário do que diz os PCNs e também a LDB
citada anteriormente, o Governo Federal tem investido massivamente nos cursos técnicos que
formam mão de obra rápida para suprir as demandas por trabalhadores qualificados para a
entidade chamada “mercado de trabalho”. Então, dentro de nosso cronograma de trabalho,
realizamos um levantamento exaustivo de resumos das Teses de Doutoramento armazenados
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no sítio eletrônico da CAPES que discutem a EJA e formação de professores, localizando
temas relevantes para o grupo e a linha teórica que os(as) autores(as) estão inseridos, tomando
como instrumento a análise de conteúdo qualitativa.
Conforme os critérios da pesquisa, encontramos o total de 62 teses de doutorado que fazem
parte de programas de Pós-Graduação em Educação e que se debruçam sobre o ensino
fundamental. Em seguida, analisamos a distribuição das referidas teses conforme as palavras-
chave da pesquisa, a fim de verificar em qual unitermo se concentra a maior parte das
publicações e vislumbrar quais são os trabalhos que se assemelham com a nossa proposta de
pesquisa. A tabela apresentada abaixo ilustra esse quadro.
TABELA 01
BANCO DE DADOS CAPES - TESES DE DOUTORADO POR PALAVRAS-CHAVE.
UNITERMOS TESES DE DOUTORADO
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS 62
FORMAÇÃO DE PROFESSORES(AS) 29
EDUCAÇÃO POPULAR 8
SABERES DE JOVENS E ADULTOS DAS
CLASSES POPULARES
17
FONTE: Dados obtidos junto a base de dados CAPES – dados organizadas pelos autores(as).
Observando os dados separadamente, verificamos que, existe prevalência nas teses de
doutoramento acerca da “Educação de Jovens e Adultos” que representa um total de 62
trabalhos, em seguida o tema “Formação de Professores” com 29 trabalhos, depois temos os
“Saberes dos jovens e Adultos Populares” com 17 trabalhos e por último “Educação Popular”
com 8 trabalhos. Podemos vislumbrar melhor a distribuição das teses conforme os unitermos
no gráfico que segue abaixo:
GRÁFICO 1
TESES DE DOUTORADO POR PALAVRAS-CHAVE/BANCO DE DADOS CAPES.
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FONTE: Dados obtidos junto a base de dados CAPES – gráfico organizadas pelos autores(as).
Destacamos que os trabalhos que correspondem ao unitermo Educação de Jovens e
Adultos correspondem ao total de teses encontradas, uma vez que esta palavra-chave se
configura como um filtro geral. Os outros unitermos – Formação Professores, Educação
Popular e Saberes de Jovens e Adultos das classes populares – quantitativamente se
apresentam em menor número. O que nos chamou a atenção foi o pequeno número de
publicações com a palavra-chave Educação Popular. Dessa forma nos perguntamos qual é
razão do pequeno número de teses com a palavra-chave Educação Popular?
Após analisar os unitermos – palavras-chave – desdobramos pesquisa na análise dos
títulos. A tabela a seguir exemplifica os títulos que encontramos conforme a afinidade dos
mesmos com a nossa investigação:
TABELA 02
BANCO DE DADOS CAPES - TESES DE DOUTORADO POR TÍTULOS CONFORME
SUBÁREA DE CONHECIMENTO
SUBÁREA DE CONHECIMENTO QUANTIDADE
FORMAÇÃO E EXPERIÊNCIA DE
PROFESSORES DE JOVENS E ADULTOS
24
EDUCAÇÃO POPULAR E EJA 2 FONTE: Dados obtidos junto a base de dados CAPES – dados organizadas pelos autores(as).
Conforme tabela acima, os títulos das teses de doutoramento que correspondem a
Formação e Experiência de Professores de Jovens e Adultos somam ao total de 24 teses e os
títulos que trazem as palavras Educação Popular e EJA constituem o total de 8 trabalhos. Se
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compararmos o total de teses que se debruçam sobre a EJA (62 teses) em relação ao número
de teses que carregam em seus títulos os termos EJA em interface com a Educação Popular (2
trabalhos), verificamos que o número de teses publicadas nas quais os títulos carregam os
conceitos citados acima é pequeno comparado ao total de trabalhos publicados.
A terceira fase de análise foi à seleção dos resumos conforme os mesmos eixos
orientadores que determinaram a escolha dos títulos das teses. A tabela abaixo apresenta os
resumos conforme as subáreas de conhecimento.
TABELA 03
BANCO DE DADOS CAPES - TESES DE DOUTORADO POR RESUMO CONFORME
SUBÁREA DE CONHECIMENTO
SUBÁREA DE CONHECIMENTO QUANTIDADE
FORMAÇÃO E EXPERIÊNCIA DE
PROFESSORES DE JOVENS E ADULTOS
25
EDUCAÇÃO POPULAR E EJA 6 FONTE: Dados obtidos junto a base de dados CAPES – dados organizadas pelos autores(as).
Os resumos das teses de doutoramento que apresentam os termos Formação e
Experiência de Professores de jovens e adultos somam 25 trabalhos e os trabalhos com os
conceitos Educação Popular e EJA constituem o total de 6 trabalhos. Em relação a Tabela 02
e Tabela 03 percebemos que existe aproximação entre a quantidade de títulos (24 teses) e
quantidade de resumos (25) quando tratamos dos conceitos Formação e Experiência de
Professores de jovens e adultos. Já em relação aos resumos (6 teses) e títulos (2 teses) que
possuem os conceitos Educação Popular e EJA constatamos uma discrepância quantitativa
maior que os títulos e resumos que se vinculam aos termos Formação e Experiência de
Professores de jovens e adultos. As teses vinculam-se principalmente aos autores Freire
(1985, 1987), Brandão, Carrano, Arroyo (), Di Pierro (2001), Haddad (2005), Yreland,
Moura, Tardif, Fávero, Gramsci, Benjamin, Gadotti, Herrera.
Apenas 6 resumos de teses que analisamos deixam claro o posicionamento teórico
literal da Educação Popular. Porém verificamos que cerca de 17 teses tratam do princípios da
Educação Popular ancorados nas elaborações de Paulo Freire, mas não trazem escrito os
termos “Educação Popular”. A nosso ver, outro ponto a ser considerado, visto o pequeno
número de publicações que tratam da Educação Popular em interface à EJA se deve à posição
política do Estado que não possui interesse em impulsionar trabalhos com este tema, uma vez
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que a Educação Popular propõem a superação das condições desiguais que sustentam o
sistema econômico de nossa sociedade.
Considerações Finais
A partir da presente investigação foi possível constatar que a temática “Educação
Popular com interface à EJA” ainda não possui o espaço merecido nas pesquisas de
doutoramento em nosso país. Percebemos também quão distante estamos de cumprir o que
determina as leis da educação brasileira, já que as condições desiguais de oportunidade
permanecem dentro e fora das instituições escolares. É fato que tais condições influenciam
diretamente as políticas públicas destinadas à educação em nosso país.
As teses que analisamos priorizaram a análise histórica das políticas públicas nacionais
para a Educação de Jovens e Adultos, a partir da análise das documentações oficiais
disponíveis. Originou-se, então, uma série de trabalhos teóricos das macro políticas
educacionais. Estudos in loco dos saberes cotidianamente construídos e experiências
compartilhadas de jovens e adultos das classes populares nas salas da EJA não são
recorrentes, assim como a Educação Popular. Esta última temática faz parte de poucas linhas
de pesquisa dos programas de Pós-graduação em Educação do Brasil. Tomando como base o
estudo realizado constatamos que precisamos fomentar mais a produção de pesquisas, estudos
sobre as questões ligadas a EJA e à Educação Popular para que tenhamos mais claro em que
momento estas duas vertentes se articulam e se distanciam para avançarmos na melhoria da
qualidade da educação para os sujeitos jovens, adultos populares que estão em nossas escolas.
Como afirma Arroyo, “A EJA tem que ser uma modalidade de educação para sujeitos
concretos, em contextos concretos, com histórias concretas, com configurações concretas”. A
partir do momento que os (as) educadores (as) de a EJA conhecerem quem são e de onde vêm
seu alunado, poderão desenvolver com eles novos saberes realmente “sintonizados” com o
mundo em que vivem: o bairro, a rua, a comunidade, o “gueto”. Não é a produção de
conhecimento geograficamente restrito, mas sim um ponto de partida para “des-velar” o
mundo, a caminho da emancipação dos homens.
Referências Bibliográficas:
BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2010.
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BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Educação Popular. 2ª edição. São Paulo: Brasiliense, 1985.
___________. Ensinar e aprender: três estudos de Educação Popular. 3ª edição. Campinas-
SP: Papirus, 19876.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,
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