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ANÁLISE PRELIMINAR DOS LOCAIS DE INTERESSE GEOLÓGICO EM ICAPUÍ, CEARÁ ISA GABRIELA DELGADO DE ARAÚJO 1 FERNANDA RAQUEL DE MEDEIROS OLIVEIRA 2 MARCO TÚLIO MENDONÇA DINIZ 3 Resumo A geodiversidade é um termo que vem se desenvolvendo recentemente em todo o globo, sobretudo pela sua diversidade de recursos abióticos. O surgimento conceitual do termo ocorreu na Conferência de Malvern (1993), no Reino Unido e ficou definida como ambientes geológicos, fenômenos e processos ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que são o suporte para a vida na terra. A partir destas razões é viável traçar uma proposta de conservação do patrimônio natural e fatores naturais a ele associados, denominado como Geoconservação, visando o geoturismo. O presente artigo tem o objetivo de analisar locais de interesse geológico/geomorfológico no município de Icapuí/CE e evidenciar os presumíveis patrimônios existentes nos mesmos, focando principalmente na Trilha do Mangue Pequeno. Inicialmente, investigou-se a literatura relativa à conceituação sobre paisagem nas reflexões pertencentes ao tema geral da pesquisa, que de um ponto de vista geográfico é um conceito trabalhado apenas recentemente. Após essa fase foi feita a inventariação, quantificação e mapeamento, oriundo de imagem de satélite e das observações em campo, de acordo com a metodologia de Lopes e com a ficha do ICMBio que contribui para caracterizar trilhas, com fins de valoração e divulgação dos mesmos. O município estudado apresenta quatro localidades de relevância: o Mirante da Serra do Mar, uma falésia inativa, possuindo uma formação de rochas do grupo barreiras, de onde é possível mirar a evolução de cordões litorâneos; a Trilha da Praia de Ponta Grossa, situada principalmente na parte superior das falésias ativas. A praia da Redonda, que apresenta processos e georfomas, a leste falésia ativa e a oeste dunas móveis, mas é uma área submetida a erosão. E por fim, a Trilha do Mangue Pequeno, unidade de conservação, a qual é possível identificar a deposição de sedimentos holocênicos, derivada da baixa energia das ondas, pois não apresentam corrente longitudinal, assim a areia se torna lamosa. Então, é 1 Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia - CERES da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail de contato: [email protected] 2 Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia - CERES da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail de contato: [email protected] 3 Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia - CERES da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail de contato: [email protected]

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ANÁLISE PRELIMINAR DOS LOCAIS DE INTERESSE GEOLÓGICO

EM ICAPUÍ, CEARÁ

ISA GABRIELA DELGADO DE ARAÚJO1

FERNANDA RAQUEL DE MEDEIROS OLIVEIRA2

MARCO TÚLIO MENDONÇA DINIZ3

Resumo

A geodiversidade é um termo que vem se desenvolvendo recentemente em todo o globo, sobretudo

pela sua diversidade de recursos abióticos. O surgimento conceitual do termo ocorreu na Conferência

de Malvern (1993), no Reino Unido e ficou definida como ambientes geológicos, fenômenos e

processos ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos

superficiais que são o suporte para a vida na terra. A partir destas razões é viável traçar uma proposta

de conservação do patrimônio natural e fatores naturais a ele associados, denominado como

Geoconservação, visando o geoturismo. O presente artigo tem o objetivo de analisar locais de interesse

geológico/geomorfológico no município de Icapuí/CE e evidenciar os presumíveis patrimônios

existentes nos mesmos, focando principalmente na Trilha do Mangue Pequeno. Inicialmente,

investigou-se a literatura relativa à conceituação sobre paisagem nas reflexões pertencentes ao tema

geral da pesquisa, que de um ponto de vista geográfico é um conceito trabalhado apenas recentemente.

Após essa fase foi feita a inventariação, quantificação e mapeamento, oriundo de imagem de satélite e

das observações em campo, de acordo com a metodologia de Lopes e com a ficha do ICMBio que

contribui para caracterizar trilhas, com fins de valoração e divulgação dos mesmos. O município

estudado apresenta quatro localidades de relevância: o Mirante da Serra do Mar, uma falésia inativa,

possuindo uma formação de rochas do grupo barreiras, de onde é possível mirar a evolução de cordões

litorâneos; a Trilha da Praia de Ponta Grossa, situada principalmente na parte superior das falésias

ativas. A praia da Redonda, que apresenta processos e georfomas, a leste falésia ativa e a oeste dunas

móveis, mas é uma área submetida a erosão. E por fim, a Trilha do Mangue Pequeno, unidade de

conservação, a qual é possível identificar a deposição de sedimentos holocênicos, derivada da baixa

energia das ondas, pois não apresentam corrente longitudinal, assim a areia se torna lamosa. Então, é

1 Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia - CERES da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail de contato: [email protected] 2 Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia - CERES da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail de contato: [email protected] 3 Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia - CERES da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail de contato: [email protected]

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necessário construir estratégias para dar uma maior ênfase a geoconservação da geodiversidade da

área, abordando seus principais aspectos, para que os turistas tenham uma visibilidade ampla sobre o

significado e origem do destino que visita, não só pelo viés ecológicos, mas também todos os fatores

abióticos representados, o que aumenta mais ainda a importância desse trabalho. Além disso, contribui-

se grandemente com a população local, pois estão inseridos em um contexto para um novo tipo de

renda e que os estudos científicos sobre essa temática possam se proliferar, para gerar novos

resultados e discussões acerca do assunto.

Palavras-chaves: geodiversidade, geoconservação, geoturismo, mangue.

PRELIMINARY ANALYSIS OF PLACES OF GEOLOGICAL INTEREST

IN ICAPUÍ, CEARÁ

Abstract

Geodiversity is a term that has been developing all over the globe, especially for its diversity of abiotic

resources. The emergence of the term at the Malvern (1993) conference in the UK was defined as

geological environments, phenomena and processes that give rise to landscapes, rocks, minerals,

fossils, soils and other surface deposits that support life in the Earth. It is the natural separatory one of

the evaluation of patrimony in natural and factors factors, the denominated geoconservation, aiming the

geoturismo. The present article has the objective of analyzing geological / geomorphological interest

patterns in the municipality of Icapuí / CE and to highlight the potential indices in them, focusing mainly

on the Mangue Pequeno Trail. Initially, investigate a research on landscape theory in the reflections

related to the research theme, which is a geographical point of view is a concept worked only recently.

After this phase, an inventory, quantification and mapping was made, based on satellite images and

observations in the field, according to a methodology of Lopes and with an ICMBio file that is part of the

characterization of tracks, for valuation and dissemination purposes of the same . The studied

municipality has four locations of relevance: the Mirador do Serra do Mar, an inactive cliff, with a

formation of rocks of the barrier group, from where it is possible the evolution of coastal strands; a Ponta

Grossa Beach Trail, located mainly in the upper part of the active cliffs. The beach of Redonda, which

presents processes and geor- phomas, is an active area and to the west of the mobile dunes, but is an

area subject to erosion. And finally, the Small Mangrove Trail, conservation unit, a Holocene sediment

deposition energy source, derived from wave energy, which is not from its longitudinal current, just as a

sand becomes lamosa. So it is a matter of importance to give more emphasis to a geoconservation of

the area, addressing the main aspects, which gives them greater visibility and the origin of the

destination that the visit, not only by the ecological bias, but also all the abiotic factors represented ,

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which still increase the importance of this work. In addition, they contribute greatly to a local population

because they are inserted in a context for a new type of income and that scientific studies on this subject

can proliferate, to generate case results and discussion on the subject.

Keywords: geodiversity, geoconservation, geotourism, mangrove.

1 – Introdução

A Royal Society for Nature Conservation do Reino Unido, definiu a

geodiversidade como sendo variados ambientes geológicos, fenômenos e processos

ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos

superficiais que são suporte para a vida na Terra (GRAY, 2004; BRILHA, 2005).

Conforme Brilha (2005), os geossítios caracterizam-se por serem ocorrências

de um ou mais elementos da geodiversidade, podendo ser delimitados

geograficamente apresentando valores singulares, de caráter científico, pedagógico,

cultural, turístico e outros. Já para Lopes (2017) os geomorfossítios são representados

por formas, depósitos ou processos geomorfológicos de uma paisagem, pela qual se

estabelece por diversas escalas, aplicando também os mesmos valores, com os

princípios da geodiversidade. De acordo com Pereira (2006), é preciso então, levantar

questões para avaliar o mesmo, o que avaliar? (Formas e processos), porque avaliar?

(Objetivos da avaliação) e como avaliar? (Escolha da metodologia).

Portanto, o objetivo principal do artigo é analisar de forma preliminar os locais

de interesse geológico/geomorfológico no município de Icapuí/CE, a qual foram

identificados quatro pontos relevantes (Trilha do Mangue Pequeno, Trilha da Ponta

Grossa, Praia da Redonda e Mirante do Mar).

2 – Metodologia

Foram identificados 4 locais de interesse geomofológico, mas apenas a Trilha

do Mangue Pequeno foi inventariada e quantificada, localizada no munícipio de

Icapuí/CE, Região Imediata de Aracati e Intermediária de Quixadá (IBGE, 2017).

Como também está localizado na sub-bacia da região do Jaguaribe, fazendo limites

com Oceano Atlântico à Norte, munícipio de Aracati/CE e estado do Rio Grande do

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Norte à Sul, Oceano Atlântico à Leste e Aracati/CE à oeste. Nas coordenadas

geográficas S 4°42’47” e O 37°21’19”, com área 428, 69 Km2 (IPECE,2009).

Foi utilizada a Ficha de Inventariação e Quantificação da tese de Lopes

(2017). Os elementos básicos são descritos de preferência pelas listas de Reynard

(2006) e Pereira (2006), que abordam: autor; data; nome do geomorfossítio;

coordenadas geográficas; localização administrativa; vias de acesso; enquadramento

legal; classificação principal; escala; valor ecológico, cultural e estético;

vulnerabilidade antrópica e natural; condição de observação, estado de conservação

e nível de dificuldade da trilha, o último retirado da metodologia do ICMBio (2011). A

quantificação é a parte em que atribuem-se valores que caracterizam os

geomorfossítios. Com isso, Lopes (2017), utilizou os trabalhos de Reynard (2006),

Pereira (2006) e Pereira e Nogueira (2015).

A Valoração Científica (VCi) reflete no destaque dos geomorfossítios para as

Geociências, ou seja, demostrando a relevância cientifica que o mesmo apresenta

para possíveis medidas de geoconservação (LOPES, 2017). Atribuiu-se peso 15 para

Representatividade, Raridade e Integridade; peso 5 a Diversidade Abiótica e 10 ao

critério Ecológico e/ou Paleogeográfico (Equação 1). Isso tudo realizado a partir da

média ponderada:

VT =(𝑅𝑒 ∗ 15) + (𝑅𝑎 ∗ 15) + (𝐼 ∗ 15) + (𝐷 ∗ 5) + (𝑅𝑒𝑝 ∗ 10)

60

(1)

Onde: VT = Valor Total; Re = Representatividade; Ra = Raridade; I = Integridade; D = Diversidade

Abiótica e Rep = Relevância Ecológica e Paleogeográfica.

A Valoração de Uso Geoturístico e Uso Didático conforme Lopes (2017),

reflete na valoração de uso, tanto geoturístico como educativo. O cálculo do Potencial

Turístico (Equação 2) não apresenta pesos, sendo este feito a partir de média

aritmética (LOPES, 2017):

PT =𝐵 + 𝐴 + 𝐶𝑜 + 𝐼𝑇𝑢𝑟 + 𝑉𝐺𝑒𝑜 + 𝑈𝑇𝑢𝑟 + 𝑃

7

(2)

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Onde: PT = Potencial Turístico; B = Beleza; A = Acessibilidade; Co = Condições de Observação; ITur

= Presença de Infraestrutura Turística; VGeo = Associação com Outros Valores da Geodiversidade;

UTur = Uso Turístico em Curso e; P = Proximidade de Áreas de Lazer.

A equação 3 corresponde ao acréscimo do VCi, que agrega ao geoturismo,

ou seja, o geopatrimônio. O valor do Potencial Turístico obtém peso dobrado em

relação ao científico. O VUG é calculado por (LOPES, 2017):

VUG =(𝑉𝑐𝑖 ∗ 2 + 𝑃𝑇 ∗ 3)

5

(3)

Onde: VUG = Valor de Uso Geoturístico; VCi = Valor Científico e; PT = Potencial Turístico.

A Valoração de Uso Educativo (VUE) segundo Lopes (2017) para ser

considerado um sítio educativo, é preciso possuir características que são aptos a

ilustrar de forma clara os elementos ou processos da geodiversidade. Portanto, o

Valor do Potencial Educativo (Equação 4) se dá por meio de média aritmética:

PE =𝐵𝐸 + 𝐴 + 𝐶𝑜 + 𝐸𝐴 + 𝑉𝐺𝑒𝑜 + 𝑈𝐷 + 𝐺𝐶

7

(4)

Onde: PE = Potencial Educativo; BE = Bom Exemplar Enquanto Recurso Didático; A =

Acessibilidade; Co = Condições de Observação; EA = Existência de Equipamentos e Serviços; VGeo

= Associação com Outros Valores da Geodiversidade; UD = Uso Didático em Curso; GC = Grau de

Conhecimento.

Portanto, o VUE é definido com base na média ponderada entre VCi e PE,

assim segue a equação 5 (Média ponderada):

VUE =(𝑉𝐶𝑖 ∗ 2 + 𝑃𝐸 ∗ 3

5

(5)

Onde: VUE = Valor de Uso Educativo; VCi = Valor Científico e; PD = Potencial Educativo.

O Grau de Suscetibilidade (GS) é aferido quando os geomorfossítios

começam a receber visitação, sendo necessário, portanto, avaliar o quanto estão

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suscetíveis a perturbações (LOPES, 2017). O cálculo (Equação 6) do GS é realizado

a partir de média aritmética:

GS =𝐼𝑈 + 𝐶𝑉 + 𝑃𝐿 + 𝑉 + 𝐹

5

(6)

Onde: GS= Grau de Suscetibilidade; IU= Intensidade de Uso; CV= Controle de Visitação; PL=

Proteção Legal; V=Vulnerabilidade e F=Fragilidade.

. Houve uma investigação bibliográfica, principalmente nos trabalhos de

Meireles e Santos (2011) e Silva (2012), a qual utilizou-se das bases cartográficas

realizadas pelos primeiros autores. Por conseguinte, realizou-se pesquisa de campo.

3 - Resultados e discussões

Foi possível analisar quatro locais com potenciais geológico/geomorfológico

no município de Icapuí/CE, i) Trilha do Mangue Pequeno; ii) Trilha da Ponta Grossa;

iii) Praia da Redonda; e por fim, iiii) Mirante da Serra do Mar. Porém, até o momento

apenas o primeiro geomorfossítio foi inventariado e quantificado.

O geomorfossítio Trilha do Mangue Pequeno está situado nas coordenadas

geográficas 4°41’25.8” S e 37°21’11.4” O, à 55,2 Km de distância de Aracati, pela BR

- 304 e CE – 261 e localizado no estuário da Barra Grande. É designada como Área

de Proteção Ambiental (APA) da Barra Grande, criada a partir da Lei Municipal n°

298/2000, no dia 12 de maio de 2000 (CEARÁ, 2000). E conforme Meireles, Silva e

Souza (2017), a lei foi alterada para Lei n° 634/2014, do dia 25 de fevereiro de 2014

(CEARÁ, 2014), devido a área inicial ter sido ampliada, correspondendo agora a

18.100 hectares.

É possível observar que o geomorfossítio se enquadra em uma escala

panorâmica, onde é necessário um ponto de observação para a melhor visualização

do processo geomorfológico. Assim como, apresenta valor ecológico muito alto, pois

está inserido em um ecossistema de manguezal; o valor cultural e o estético é alto,

principalmente com atividade de pesca artesanal e beleza cênica, respectivamente. É

essencial enfatizar o valor funcional do sítio, pois é importante para o processo

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geomorfológico que ocorre na área sendo fundamental para a sustentação do

manguezal. O valor econômico é considerável, reflexo de certa comodidade turística

(restaurantes, pousadas). Por isso, apresenta um ecoturismo significativo.

É uma área que tem vulnerabilidade antrópica alta, devido basicamente a

inserção de salinas próximas ao local, já com relação a natural o quadro é o inverso,

expondo baixa ameaça. Desse modo, tanto as condições de observação, quanto o

estado de conservação do geomorfossítio são boas, não necessitando de

equipamentos e grandes deslocamentos, não apresenta deterioração no espaço. Por

fim, para se chegar ao ponto ideal é necessário realizar uma trilha, de forma linear,

com a finalidade de interligar o caminho principal, este por sua vez, expõe apenas um

trajeto, tanto de ida como de volta, ou melhor, passando sempre pelo mesmo caminho,

como é descrita por Andrade (2003).

O sítio é recoberto em parte por uma área de manguezal, na qual ocorrem

interações entre as populações de plantas e animais de micro-organismos no

ambiente abiótico, ou seja, o meio físico determina a existência do meio biótico

(ICMBio, 2018). Com isso, reforçando as características físicas, é um processo

geomorfológico deposicional de sedimentos holocênicos, compreendidos na planície

fluviomarinha (Figura 01). Segundo Meireles e Santos (2011), é associado ao delta de

maré mediante a dinâmica das marés e produção e dispersão de nutrientes,

colaborando para manter, regular e diversificar a biodiversidade local. Com isso, o

contato entre os setores submerso e emerso com uma superfície areno-argilosa à

antigos canais de maré, iniciam o setor pró-delta. Assim, os sedimentos arenosos e

biodetritos restabelecem o pró-delta e determinam o submerso durante a maré baixa

(SILVA, 2012).

Figura 01 – Foto panorâmica do geossítio Mangue Pequeno, Icapuí/CE. Acervo dos autores.

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Ainda conforme Silva (2012), a localização do delta de maré é atrelado ao

ponto de curvatura regional da linha de costa, dessa maneira, é um local que é

produzido variações nas correntes de deriva litorânea, acarretando em uma área de

menor energia, propício a deposição de sedimentos em deriva pela zona de maré.

O primeiro critério analisado na quantificação foi a Valoração Científica (VCi),

efetuada por média ponderada com cinco variáveis. A qual apontou uma

Representatividade significativa (Muito alto - valor 1), sendo considerada como bom

exemplo de gênese e/ou evolução geomorfológica. Assim como a Raridade (Muito

alto - valor 1) e Integridade (Muito alto - valor 1), que respectivamente representa um

exemplar único na área e sem deterioração, parâmetro importante para avaliar os

impactos no ambiente até o momento. Esses três parâmetros foram multiplicados por

15 por apresentar a maior relevância no cálculo, o que não ocorre na mesma

proporção com os demais valores, conforme relata Lopes (2017). Logo, a Diversidade

Abiótica obteve um nível alto (valor 0,75) que foi multiplicado por 5, ressaltando a

existência de três elementos da geodiversidade (geológico, geomorfológico e

pedológico), importantes para a sustentação do ecossistema. Com peso 10, a

Relevância Ecológica e Paleogeográfica (Muito alto – valor 1) constatou que ocorre

características geomorfológicas que determinam o ambiente, bem como são

importantes para a geo-história e por fim, a VCi obteve um nível muito alto, com índice

de 0,98.

Adiante, para a obtenção do cálculo através da média ponderada do Valor de

Uso Geoturístico e do Uso Didático, foi necessário realizar as operações do Potencial

Turístico e Potencial Didático, respectivamente, que apresentam sete variáveis cada

e são realizadas por média aritmética, não apresentando pesos, pois fica visível que

ambos possuem a mesma relevância para o geoturismo. O primeiro então, aborda a

Beleza com nível médio (valor 0,5), pois este denota um apelo estético do local

estudado; a Acessibilidade (Nível alto – valor 0,75), com acesso direto através de

estradas não asfaltadas, mas com boas condições de tráfego; a Condição de

Observação é considerada como excelente, visto que é possível observar todos os

elementos geomorfológicos (Nível muito alto – valor 1); a Presença de Infraestrutura

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Turística é mediana (valor 0,5), já que é tida como razoável; com relação a Associação

com outros Valores da Geodiversidade obteve nível muito alto (valor 1), pois expõe os

valores culturais, ecológico, funcional, científico que contempla a importância do sítio;

o Uso Turístico em Curso dispõe de alta taxa de visitação (Nível muito alto – valor 1),

muito relacionado ao ecoturismo existente; a Proximidade de outras áreas de lazer é

de nível alto (valor 0,75), incluído em roteiros turísticos e a mais de 20 Km de outras

áreas de lazer. Por fim, o valor final do Potencial Turístico foi de 0,78 (nível muito alto),

por média aritmética.

No Potencial Didático aborda um nível muito alto (valor 1) no critério de Bom

Exemplar para Uso Didático, pois é muito ilustrativo e passível de ser utilizado em

qualquer nível de ensino; a Acessibilidade, Condição de Observação e Associação

com outros valores da Geodiversidade assim como item anterior obteve a mesma

pontuação e as mesmas indicações; a Existência de Equipamentos e Serviços de

Apoio apresentou nível muito alto (valor 1), dispondo de uma boa oferta de serviços e

equipamentos, que são beneficiados pelo ecoturismo do local; o Uso Didático em

Curso (Nível muito alto – valor 1) é importante para todos os níveis de ensino, seja ele

básico ou superior; o Grau de Conhecimento alcançou o nível muito alto (valor 1) pelo

fato do mesmo está presente em artigos científicos publicados em periódicos

indexados ou em livros. Com isso, o resultado final do Potencial Didático por média

aritmética foi 0,96 (nível muito alto).

Diante dos resultados do Potencial Turístico e Didático foi possível obter o

Valor de Uso Geoturístico realizado a partir de média ponderada atrelado a Valoração

Científica, pois tem a utilidade de agregar ao geopatrimônio, com isso o Potencial

Turístico terá um peso maior do que a VCi, uma vez que é possível traçar medidas de

valorização e divulgação, assim como relatado por Lopes (2017), para promover o

geoturismo. Assim, com peso 2 a VCi será multiplicada ao PT que terá peso 3,

divididos pela soma dos pesos que resulta em VUG de 0,86 (nível muito alto). Todo

esse processo ocorre da mesma forma com a Valoração do Potencial Didático, sendo

que o Potencial Didático é que multiplicará a VCi, resultando em um valor de 0,97

(nível muito alto).

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O último critério avaliado foi o Grau de Suscetibilidade, fragmentado em cinco

variáveis, efetuado por média aritmética, parâmetro que avalia as perturbações

geradas a partir principalmente de atividades antrópicas (LOPES, 2017). A primeira

avaliação é feita a partir da Intensidade de Uso, a qual foi considerada moderada

(Nível Médio – valor 0,5), porém na ausência de documentos, como cita Lopes (2017)

é possível avaliar a partir da observação direta; o Controle de Visitação apresenta

ausência de controle (nível muito alto – valor 1), pois não se sabe o número exato de

pessoas que visitam o local; com relação a Proteção Legal o resultado foi baixo (valor

0), devido principalmente à área está localizada em uma unidade de conservação, ou

seja uma Área de Proteção Ambiental (APA) criada pela Lei Municipal n° 298/2000,

no dia 12 de maio de 2000 (CEARÁ, 2000) e alterada para Lei n° 634/2014, do dia 25

de fevereiro de 2014 (CEARÁ, 2014); a Vulnerabilidade Natural e/ou Antrópica é de

nível muito alto (valor 1), sendo vulnerável a ação antrópica, essencialmente,

verificando possíveis ameaças que possam ocorrer futuramente; e a Fragilidade ser

torna muito alta (valor 1). Assim, o resultado final do GS foi de 0,7 (nível alto), o que

faz com que o local seja apto a receber medidas de geoconservação, para que suas

características geomorfológicas sejam preservadas e conservadas e seja um

parâmetro para o monitoramento (Figura 2).

Diante dos dados coletados, foi possível observar que os valores

quantificados obtiveram níveis alto (Potencial Turístico e Grau de Suscetibilidade) e

muito alto (Valoração Científica, Valoração Geoturística, Potencial Educativo e

Valoração do Uso Educativo). Assim, é viável afirmar que o sítio potencial apresenta

características fundamentais para a geoconservação e o geoturismo.

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Figura 02 – Mapa de sítio de interesse geomorfológico em Icapuí/CE. Elaborada pela autora.

A valoração da geodiversidade por meio dos Serviços Ecossistêmicos foi

desenvolvido por Gray (2013), que utilizou a Avaliação do Milênio compreendida por

um valor intrínseco e cinco serviços (suporte, provisão, regulação, cultural e

conhecimento) e 25 bens e processos, referido por Silva e Nascimento (2016).

Assim, Rabelo et al (2018) e Rabelo (2018) destacaram a classificação da

Common International Classification of Ecosystem Services (CICES), com serviços de

(Provisão, Suporte, Regulação e Cultura). O que mais tem relevância no ecossistema

de manguezal são os de regulação, devido a formação do substrato, conforme Rabelo

(2018) e os culturais, que podem ser representados pela pesca artesanal e criação de

algas, que pode ser visto no Mangue Pequeno em Icapuí/CE.

4 - Conclusões

O artigo exibe a geodiversidade por meio de processo geomorfológico de

deposição, a qual determina o ecossistema de manguezal, e é um instrumento

importante para o conhecimento e o turismo, então, é necessário construir estratégias

para dar uma maior ênfase a geoconservação da geodiversidade da área, abordando

seus principais aspectos, para que os turistas tenham uma visibilidade ampla sobre o

significado e origem do destino que visita, não só pelo viés ecológicos, mas também

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todos os fatores abióticos representados, o que aumenta mais ainda a importância

desse trabalho.

Além disso, contribui-se grandemente com a população local, pois estão

inseridos em novo tipo de renda e que os estudos científicos sobre essa temática

possam se proliferar, para gerar novos resultados e discussões acerca do assunto.

5 - Agradecimentos A primeira autora agradece à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível

Superior - capes pela concessão da bolsa de mestrado.

6 - Referências Bibliográficas ANDRADE, W. J. Implantação e manejo de trilhas. In: MITRAUD, Sylvia (Org.). Manual de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramenta para um planejamento responsável. Brasília: WWF Brasil, p. 247 – 260, 2003. BRILHA, J.B.R. Patrimônio geológico e geoconservação: a conservação da natureza na sua vertente geológica. São Paulo: Palimage, 2005. CEARÁ. Prefeitura Municipal de Icapuí. Lei Municipal n° 634, 25 de fevereiro de 2014. Costeira do Ceará: diagnóstico para a gestão integrada. 2014. CEARÁ. Prefeitura Municipal de Icapuí. Lei Municipal no 298, 12 de maio de 2000. Institui a Área de Proteção Ambiental da Barra Grande. 2000. GRAY, M. Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature. 2ª ed. Chichester: John Wiley & Sons, 2013. 495p. GRAY,J. M. Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature. Londres: John Wiley & Sons Ltd, 2004. ICMBIO. Instituto Chico Mendes. Roteiro Metodológico para Manejo de Impactos da Visitação. Brasília: ICMBio, 2011. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Divisões Regionais do Brasil. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/organizacao-do-territorio/divisao-regional/15778-divisoes-regionais-do-brasil/>. Acesso em: 3 maio de 2019. Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará - IPECE. Perfil Básico dos Município. Fortaleza-CE, 2009.

Page 13: ANÁLISE PRELIMINAR DOS LOCAIS DE INTERESSE GEOLÓGICO … · cultural, turístico e outros. Já para Lopes (2017) os geomorfossítios são representados por formas, depósitos ou

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