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ANÁLISE MORFODINÂMICA DA PRAIA DE PAJUÇARA DE 2002 A
2018, MACEIÓ-AL, NORDESTE DO BRASIL.
Thiago Cavalcante Lins Silva(a), Matheus de Araujo Soares(b), Bruno Ferreira(c)
(a)IGDEMA/Universidade Federal de Alagoas, [email protected].
(b)IGDEMA/Universidade Federal de Alagoas, [email protected].
(c)IGDEMA/Universidade Federal de Alagoas, [email protected].
Eixo: Zonas costeiras: processos, vulnerabilidades e gestão
Resumo
O presente estudo compreendeu um esforço no sentido de buscar entender o comportamento do balanço
morfodinâmico na praia da Pajuçara nos últimos anos. Para isso, fez uso de ferramentas e dados de fácil aquisição,
embasando as discussões em bases sistêmicas. A metodologia utilizada, baseada em estudos correlatos em outras
porções do Território Brasileiro, mostrou-se satisfatória, uma vez que possibilitou a identificação dos perfis
estáveis, instáveis e parcialemente estáveis. Nisso foram analisadas as variações das linhas de costa, setorizando
em 3 porções com comportamentos distintos, uma mista (setor 1), uma progradante (setor 2) e outra mista (setor
3), ambas com processos distintos relacionados a suas variações. No entanto, outras abordagens, metodologias e
análises precisam ser testadas no sentido de compreender melhor os sistemas costeiros, buscando subsidiar os
estudos, tomada de decisões e a gestão territorial.
Palavras chave: Morfodinâmica; Praia de Pajuçara; Geomorfologia Costeira.
Introdução
As praias arenosas são campo de ação de diversas dinâmicas processuais, o que torna a
análise e mensuração de seus processos uma tarefa complexa, tendo em vista que há uma série
de processos influenciam na composição e modelagem destas áreas, indo desde fatores
hidrodinâmicos, sedimentológicos até antrópicos. Estes processos impõem dinâmicas
constantes a estas áreas, tornando estas sensíveis variações processuais, ocorrendo ocasionais
processos de desequilíbrio em seus sistemas de funcionamento e estabilidade, influenciando
diretamente em suas características geológicas e morfológicas (CANDEIAS, 2016).
As noções sistêmicas do meio natural têm sido integradas aos estudos mais diversos em
Geografia, proporcionando análises detalhadas dos processos relacionados à modelagam
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ambiental, permitindo a compreensão das permutas de energia na dinâmica natural. Em
Geomorfologia, as noções sistêmicas estiveram presentes desde os estudos Geomorfológicos
clássicos de Strahler ou mesmo no Ciclo Geográfico de Davis, que discutiram a Geomorfologia
em bases sistêmicas, levando em consideração os múltiplos processos relacionados a
modelagem do relevo (CORRÊA, 2005).
Entretanto, graças aos esforços da Geografia Russa, por intermédio das contribuições
de Dokuchaev, com seus complexos naturais territoriais e posteriormente Sochava, com sua
teoria geossistêmica, acabaram por impulsionar a compreensão da dinâmica geomorfológica e
natural em bases sistêmicas, levando em consideração os múltiplos fatores relacionados a
mesmas, incluindo as classificações de suas dinâmicas energéticas. Vale mencionar que as
discussões proporcionadas pelos autores franceses também contribuíram com o
amadurecimento da teoria na Geografia Física, com contribuições de Bertrand e Tricart, que
realizaram trabalhos relevantes para a discussão da temática (CAVALCANTI, 2010).
As discussões em bases sistêmicas ampliaram-se a partir dos anos 2000 na Geografia
Física, tendo a Geomorfologia como o campo que mais aderiu a noção, que, em períodos mais
recentes, se encontra amplamente discutida na área, por vezes como procedimento padrão na
análise do relevo. Na vertente Costeira da Geomorfologia, tem sido integrado nas últimas
décadas as noções sistêmicas, principalmente voltadas a sistemas praiais, o que tem permitido
análises multicriteriais das dinâmicas naturais destes sistemas. A análise sistêmica em
modelados praiais tem possibilitado a compreensão dos fatores envoltos na dinâmica de
modificação dos mesmos, identificando os inputs de energia e suas consequências no processo
de repercussão e reorganização dos modelados, possibilitando a identificação das porções de
tendências instáveis, intermediárias e estáveis da paisagem, se analisados do ponto de vista
ecodinâmico de Tricart (1977).
Tendo em vista a dinâmica sistêmica em um contexto praial, este estudo buscou analisar
em bases sistêmicas o perfil de estabilidade morfodinâmica da faixa de areia da Praia da
Pajuçara, localizada no município de Maceió – AL, quantificando as variações das linhade costa
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entre os anos de 2002 a 2018, analisando as variações, identificando as porções instáveis (em
retrogradação), parcialmente estáveis (recorrentes) e estáveis (progradantes), utilizando para
isso técnicas de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto, buscando contribuir com
planejamento urbano e ambiental.
Materiais e Métodos
A metodologia deste estudo foi dividida em 4 etapas, a aquisição de imagens do Google
Earth Pro e seu devido georreferenciamento; mapeamento de linhas de costa da Praia de
Pajuçara; quantificação da variação média anual; identificação dos processos relacionados às
porções em instabilidade, parcialmente estabilizadas e estabilizadas e por último a elaboração
do presente estudo. Na primeira etapa foi levantada uma série temporal de imagens do Google
Earth Pro que apresentassem melhor condição de mapeamento das linhas de costa, foram
levantadas imagens dos anos de 2002, 2005, 2009, 2010, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017 e 2018,
que passaram pelo processo de georreferenciamento de forma a corrigir ocasionais
deslocamentos.
No segundo momento, foram mapeadas as linhas de costa da Praia de Pajuçara a cada
ano, delimitada de acordo com base nas definições de Suguio (1998), pela linha de sedimentos
secos e molhados (linha de preamar), esta etapa foi realizada com o auxílio do software Quantun
Gis 2.18., realizada de forma manual. A terceira etapa consistiu na quantificação das variações
ano a ano, calculando as distâncias entre as linhas atual e as variações positivas e negativas ao
longo do tempo, calculando o balanço final de variações e as variações médias. Ao fim, foram
classificadas as feições em instabilidade (quando predominou a retrogradação), parcialmente
estabilizado (quando os valores foram recorrentes) e estabilidade (quando houve progradação
da linha de costa).
Na identificação dos processos, foram levantados dados climáticos e hidrológicos
relacionados à área de forma a relacionar eventos expressivos com os processos de instabilidade
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e estabilidade, analisando suas influências no balanço do sistema praial. De possedos resultados
e comparando os valores obtidos ao longo da sucessão temporal, foi redigido o presente estudo.
Resultado e discussões
Analisando a Praia de Pajuçara em perspectivas espaço-temporais, ao se detalhar as
variações da faixa de areia dessa praia, com base no processamento de imagens de sensores
orbitais, observa-se que a morfologia da Praia de Pajuçara, apresentou variações marcantes,
alternando-se entre momentos de progradação e retrogradação da linha de costa, com variações
médias positivas de 8 a 10 metros nos últimos 16 anos (Fig.02).
Ao se analisar de forma detalhada as variações ocorridas na Praia de Pajuçara nos 16
anos analisados, pôde-se observar que a praia passou por episódios de equilíbrio e desequilíbrio
ao longo dos anos, passando tanto por eventos erosivos intensos até processos de progradação
que modificaram o balanço sedimentar da praia. Estas variações possuem provável relação com
processos de variações pluviométricas junto a variações do nível de maré que resultados em
eventos de desequilíbrio na face praial, como pode ser observado na figura 03, onde coincidem
anos com pluviometria mais alta e as variações nas linhas, principalmente entre os anos de 2014
– 2015 e 2016 – 2017, onde as variações das linhas confluíram com as variações pluviométricas.
Vale ressaltar que as variações pluviométricas não representam o principal fator de
alteração da linha de costa, tendo em vista que as variações sazonais de maré e a atividade eólica
também possuem influência na modelagem da praia, entretanto as variações que transportam
maiores quantidades de sedimentos, são as provenientes de variações pluviométricas,
ocasionando marés meteorológicas, que é subelevação das marés causada por efeitos
meteorológicos, tendo como resultado a inserção de inputs de energia mais intensos na faca
praial que os demais fatores, modificando as estruturas morfológicas em curto período
temporal, alterando o balanço das variações das linhas de costa entre 2002 e 2018
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Figura 02 – Variações das linhas de costa entre os anos de 2002 e 2018
Fonte: Elaborado com imagens do Google Earth Pro (2018).
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Figura 03 – Variações pluviométricas de Maceió entre 2002 e 2018.
Fonte: Adaptado de INMET (2018).
A presença de marés meteorológicas combinadas a morfologias recifais e a presença de
atividades antrópicas imprimiram a Praia de Pajuçara modificações diferenciadas ao longo de
sua extensão, apresentando setores estáveis, parcialmente estáveis e instáveis, tendo em vista
suas variações, classificadas de acordo com metodologia proposta por Esteves e Finkl (1998),
que classificam variações acima de > 0.5 m/a com progradação (estáveis), variações entre -0.5
a 0.5 m/a como recorrente (parcialmente estáveis) e entre -0.50 até -1.0 m como retrogradação
(instáveis), mediante a isso foi possível analisar as porções na praia de Pajuçara (Fig.04).
A seguir será apresentada uma análise detalhada por setor, compartimentados de acordo
com os processos predominantes, nisso foram setorizadas 3 porções da praia de Pajuçara
(Fig.05) relacionadas a processos distintos. Será indicando a seguir os setores e os fatores
relacionados ao balanço final de cada um, tendo em mente as variações meteorológicas como
produto processo modificador da praia.
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Setor 01 Perfil Misto
Parcialme
Setor 02 Perfil Prograd
Setor 03 Perfil Misto
Instável e
Perfil transversal de Norte a Sul da Praia de Pajuçara
Figura 04 – Balanço final das variações da linha de costa da Praia de Pajuçara.
Fonte: Elaborado pelos autores (2019).
No primeiro setor (Setor 1), predominam comportamentos recorrentes e progradantes,
com algumas porções de perda de areia em decorrência da presença de galerias da drenagem
urbana. Nesta porção encontram-se diversas interferências antrópicas, que vão desde atividades
turísticas intensificadas até despejo irregular de esgoto na face praial, que direta ou
indiretamente interferem na dinâmica da praia.
Já o segundo setor (Setor 2), apresentou porções predominantemente progradantes
(estáveis), graças a presença de grandes estruturas recifais em barreiras à pouco mais de 500
metros da linha de costa, tornando esta porção com faixas de areia mais alongadas. Nesta
porção, de acordo com Lima (2004), edifica-se uma berma alongada com granulometria grossa
e média, frações mais resistentes a processos erosivos intensos.
Por último, o terceiro setor (Setor 3) apresentou caráter retrogradante, variando entre
comportamentos retrogradantes (variações de -2 a -4 m) e pequenas porções recorrentes
(Variações de 1 até -1 m). O perfil misto é caracterizado pela permanência da área da faixa de
areia, é motivado pela presença de estruturas recifais combinado ao início das estruturas
antrópicas do porto de Maceió. Nisso, este setor, ao aproximar-se do Porto apresenta caráter
erosivo, enquanto que a porção protegida pelo arrecife apresenta-se como recorrente.
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Figura 05 – Setores, Perfis e balaço final de variações da linha de costa da Praia de Pajuçara entre 2002 a 2018. Fonte: Elaborado pelos autores através de mapeamento utilizando imagens do Google Earth Pro (2018).
Sendo assim, em uma análise geral da Praia de Pajuçara, pode-se observar que a mesma
apresenta-se estabilizada, graças a morfologia de enseada e presença de morfologias arrecifais,
que, conjugadas ao posicionamento estratégico perpendicular do trend de ondas
(preferencialmente direcionado a SE-NO), edificam um sistema praial estável, que, mesmo
passando por eventos de estresse, provenientes de eventos de marés meteorológicas em seu
sistema. reagrupou-se em algumas porções, enquanto que em outras devido a presença de
atividades antrópicas de forma intensificada não conseguiu atingir a estabilidade.
Neste sentido, pode-se afirmar que no período entre 2002 e 2018 a Praia da Pajuçara,
caracterizou- se como um sistema praial estável, resistente as variações enérgicas em seu
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sistema, reagrupando-se após estes eventos quase como processos cíclicos, buscando o
equilíbrio dinâmico.
Considerações finais
O presente estudo não representa um estudo finalizado e sim uma primeira abordagem
da temática, buscando relacionar a análise morfodinâmica em contexto praial em noções
sistêmicas, relacionando as duas temáticas. Neste sentido, este estudo necessita de novas
adequações e abordagens em longo prazo tendo em vista análises mais detalhadas e a
experimentação de novas metodologias, tendo em vista resultados mais ponderados sobre os
processos costeiros da praia de Pajuçara em perspectivas sistêmicas.
A metodologia calçada no uso de ferramentas de código aberto mostrou efetiva na
avaliação e quantificação dos processos geomorfológicos costeiros, permitindo a identificação
de porções em estáveis e instáveis ao se analisar em noções sistêmicas.
Mediante as análises foi possível observar que a Praia de Pajuçara apresentou-se
resistente aos processos erosivos, estabilizando-se frente aos processos erosivos cíclicos da
dinâmica climática e marinha.
Este trabalho buscou discutir a dinâmica geomorfológica em um contexto praial
utilizando-se de noções sistêmicas, buscando contribuir com estratégias de planejamento e
gestão costeira na tomada de decisões.
Referências Bibliográficas
CANDEIAS, A. L. B.; MELO, W. D. A. Índices de vulnerabilidade à erosão das praias da Ilha
de Itamaracá, litoral norte de Pernambuco, Brasil. Investigaciones Geográficas, v. 0, p. 71-82,
2016.
CAVALCANTI, L. C. S. Geossistemas do Estado de Alagoas: uma contribuição aos estudos
da natureza em geografia. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Federal de
Pernambuco, 2010.
ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 10
CORRÊA, A. C. B. A geografia física: uma pequena revisão de seus enfoques. RIOS -
Revistada FASETE, v. 1, p. 170-180, 2005.
INMET, Instituto Nacional de Meteorologia. Dados de pluviometria total a unidade
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em:<http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=estacoes/estacoesAutomaticas>. Acesso
em: 08/12/2018
LIMA, R. C. A. Evolução da Linha de Costa a Médio e Curto Prazo Associada ao Grau de
Desenvolvimento Urbano e aos Aspectos Geoambientais da Planície Costeira de Maceió. Tese
(Doutorado em Geociências), Universidade Federal de Pernambuco, 2004.
SUGUIO, K. Geologia sedimentar. São Paulo: EdgardBlucher, 2007. TRICART, J.
Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE, 1977.
ESTEVES, L. S. & FINKL, C. W. The problem of critically eroded areas (CEA): An
Evaluation of Florida Beaches. Journal of Coastal Research. v. 26, 1998, 11-18p.