análise do potencial turístico nas regiões administrativas

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*Estudo baseado na dissertação de mestrado, defendida em março de 2002, em consonância com o Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGG) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). **PPGG - UFRJ, Rio de Janeiro-RJ, Brasil. E-mail: [email protected] ***Dept. de Geografia - UFRJ, Núcleo de Estudos do Quaternário e Tecnógeno (NEQUAT) e do Grupo de Estudos Ambientais da Zona Oeste (GEOESTE), Rio de Janeiro-RJ, Brasil. Analysis of the tourism potential in the Campo Grande and Guaratiba Administrative Regions (ARs), west Rio de Janeiro's Municipality (Brazil)* Abstract This work summarizes the study conducted in two Administrative Regions (ARs) of west Rio de Janeiro's Municipality, namely: Campo Grande AR and Garatiba AR. The main objectives were: assess the development and potential of tourism activities in these two ARs through the use of geo-processing techniques, and propose general guidelines for application. The analysis of key findings was carried out separately for each AR, as they represent areas facing different realities despite their geographic proximity. This process revealed the short-term need of better municipal and state planning in relation of the distribution an characterization of spaces reserved for urban expansion. The assessment of tourism potential also showed significant differences in occupation processes between these two ARs, as well as in the nature of the activities required to make an optimum use of this potential. Key words: Tourism potential, urban-life quality, geoprocessing. Investigaciones Geográficas, Boletín del Instituto de Geografía, UNAM Núm. 52, 2003, pp. 137-152 Análise do potencial turístico nas regiões administrativas (RAs) de Campo Grande e Guaratiba zona oeste do Município do Rio de Janeiro (Brasil)* Vivian Castilho da Costa** Recibido: 20 de enero de 2003 Josilda Rodrigues da Silva de Moura*** Aceptado en versión final: 2 de septiembre de 2003 Resumo. O presente trabalho é uma síntese da dissertação de mestrado desenvolvida em duas Regiões Adminis- trativas (RAs) da zona oeste do Município do Rio de Janeiro, quais sejam: RA de Campo Grande e RA de Guaratiba. Seus principais objetivos foram: avaliar o desenvolvimento e o potencial das atividades turísticas presentes nessas duas RAs, utilizando-se técnicas de geoprocessamento; e propor diretrizes gerais para sua implementação. A análise dos principais resultados foi feita de maneira individualizada, considerando que são RAs com realidades distintas, apesar de serem geograficamente contíguas. Neste processo, ficou explícita a necessidade, a curto prazo, de maior planejamento municipal e estadual na dis- tribuição e caracterização do espaço reservado à expansão urbana. A avaliação do potencial turístico também veio mostrar diferenças significativas entre os processos de ocupação dessas duas RAs, além da natureza das atividades a serem implementadas de forma a aproveitar todo esse potencial. Palavras-chave: Potencial turístico, qualidade de vida urbana, geoprocessamento. Resumen. Este trabajo es una síntesis de la disertación del posgrado desarrollada en dos Áreas Administrativas (RAs) de la zona oeste de la Municipalidad de Río de Janeiro que son: RA de Campo Grande y RA de Guaratiba. Sus objetivos principales fueron: evaluar el desarrollo y el potencial de las actividades turísticas presentes en esas dos RAs, usándose las técnicas del geoprocesamiento; y proponer las pautas generales para su aplicación. El análisis de los resultados principales fue hecho de una manera individualizada, considerando que se trata de RAs con realidades distintas, a pesar de su proximidad geográfica. En este proceso, era evidente la necesidad, a corto plazo, de mayor planificación municipal y estatal en la distribución y caracterización del espacio reservado a la expansión urbana. La evaluación del potencial turístico también vino a mostrar las diferencias significantes entre los procesos de ocupación de esos dos RAs, además de la naturaleza de las actividades a ser implementadas a fin de aprovechar todo ese potencial. Palabras clave: Potencial turístico, calidad de vida urbana, geoprocesamiento.

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Page 1: Análise do potencial turístico nas regiões administrativas

*Estudo baseado na dissertação de mestrado, defendida em março de 2002, em consonância com o Programa dePós-Graduação em Geografia (PPGG) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).**PPGG - UFRJ, Rio de Janeiro-RJ, Brasil. E-mail: [email protected]***Dept. de Geografia - UFRJ, Núcleo de Estudos do Quaternário e Tecnógeno (NEQUAT) e do Grupo de EstudosAmbientais da Zona Oeste (GEOESTE), Rio de Janeiro-RJ, Brasil.

Analysis of the tourism potential in the Campo Grandeand Guaratiba Administrative Regions (ARs), west Riode Janeiro's Municipality (Brazil)*Abstract This work summarizes the study conducted in two Administrative Regions (ARs) of west Rio de Janeiro'sMunicipality, namely: Campo Grande AR and Garatiba AR. The main objectives were: assess the development andpotential of tourism activities in these two ARs through the use of geo-processing techniques, and propose generalguidelines for application. The analysis of key findings was carried out separately for each AR, as they represent areasfacing different realities despite their geographic proximity.

This process revealed the short-term need of better municipal and state planning in relation of the distribution ancharacterization of spaces reserved for urban expansion. The assessment of tourism potential also showed significantdifferences in occupation processes between these two ARs, as well as in the nature of the activities required to makean optimum use of this potential.

Key words: Tourism potential, urban-life quality, geoprocessing.

Investigaciones Geográficas, Boletín del Instituto de Geografía, UNAMNúm. 52, 2003, pp. 137-152

Análise do potencial turístico nas regiõesadministrativas (RAs) de Campo Grande e Guaratibazona oeste do Município do Rio de Janeiro (Brasil)*

Vivian Castilho da Costa** Recibido: 20 de enero de 2003

Josilda Rodrigues da Silva de Moura*** Aceptado en versión final: 2 de septiembre de 2003

Resumo. O presente trabalho é uma síntese da dissertação de mestrado desenvolvida em duas Regiões Adminis-trativas (RAs) da zona oeste do Município do Rio de Janeiro, quais sejam: RA de Campo Grande e RA de Guaratiba.Seus principais objetivos foram: avaliar o desenvolvimento e o potencial das atividades turísticas presentes nessasduas RAs, utilizando-se técnicas de geoprocessamento; e propor diretrizes gerais para sua implementação. A análisedos principais resultados foi feita de maneira individualizada, considerando que são RAs com realidades distintas,apesar de serem geograficamente contíguas.

Neste processo, ficou explícita a necessidade, a curto prazo, de maior planejamento municipal e estadual na dis-tribuição e caracterização do espaço reservado à expansão urbana. A avaliação do potencial turístico também veiomostrar diferenças significativas entre os processos de ocupação dessas duas RAs, além da natureza das atividadesa serem implementadas de forma a aproveitar todo esse potencial.

Palavras-chave: Potencial turístico, qualidade de vida urbana, geoprocessamento.

Resumen. Este trabajo es una síntesis de la disertación del posgrado desarrollada en dos Áreas Administrativas(RAs) de la zona oeste de la Municipalidad de Río de Janeiro que son: RA de Campo Grande y RA de Guaratiba.Sus objetivos principales fueron: evaluar el desarrollo y el potencial de las actividades turísticas presentes en esasdos RAs, usándose las técnicas del geoprocesamiento; y proponer las pautas generales para su aplicación. Elanálisis de los resultados principales fue hecho de una manera individualizada, considerando que se trata de RAs conrealidades distintas, a pesar de su proximidad geográfica.

En este proceso, era evidente la necesidad, a corto plazo, de mayor planificación municipal y estatal en la distribucióny caracterización del espacio reservado a la expansión urbana. La evaluación del potencial turístico también vino amostrar las diferencias significantes entre los procesos de ocupación de esos dos RAs, además de la naturaleza delas actividades a ser implementadas a fin de aprovechar todo ese potencial.

Palabras clave: Potencial turístico, calidad de vida urbana, geoprocesamiento.

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Vivian Castilho da Costa e Josilda Rodrigues da Silva de Moura

INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

A cidade do Rio de Janeiro, nos últimosanos, tem apresentado sua expansão popu-lacional em direção à zona oeste e o aumen-to das construções irregulares é bastantealto, estimulando um maior crescimento emdireção às suas antigas áreas rurais.

Mesmo com todas as imposições do quadrofísico, conhecidas por parte daqueles que re-sidem na cidade do Rio de Janeiro, e as res-trições impostas pela legislação de uso eocupação do solo, a população não parou decrescer e de avançar em direção às áreasconsideradas impróprias à ocupação, princi-palmente nos maciços montanhosos, queainda guardam remanescentes de MataAtlântica.

Paralelamente ao avanço das ocupações re-sidenciais, industriais e de serviços que seexpandem -muitas delas incompatíveis coma real vocação da região, que seria a de umpólo agrícola- a zona oeste da cidade do Riode Janeiro, vem apresentando, também, po-tencial para outras atividades, dentre elas oturismo, nas áreas de baixadas e o ecoturis-mo, nas áreas legalmente protegidas dosmaciços litorâneos.

As áreas estudadas perfazem duas, das cin-co Regiões Administrativas da zona oeste,inseridas na Área de Planejamento1 (AP) 5 edefinidas pela Prefeitura da Cidade do Riode Janeiro, quais sejam: a XVIII RA de Cam-po Grande, com 5 (cinco) bairros e a XXVIRA de Guaratiba, com 3 (três) bairros (Figura1). Toda a área se localiza entre as coorde-nada de 22° 47' e 23° 05' S e 43° 27' e43° 42' W.

Fisiograficamente, compreende dois impor-tantes domínios: a baixada e os maciçosresiduais. O primeiro, é representado pelasbaixadas de Campo Grande e Guaratiba.Estas são formadas pelas planícies aluvionar

e litorânea, como respostas à ação dosagentes fluviais e marinhos. O segundo do-mínio é representado pelos maciços resi-duais da Pedra Branca e Gericinó-Mendanha. Estes, juntamente com o maciçoda Tijuca, compõem as principais unidadesde relevo da cidade do Rio de Janeiro.

Sendo constituída de grande beleza natural(paisagem exuberante, com rios, mangue-zais, mata, praias, restingas, etc.) e com apresença de Unidades de Conservação,a exemplo do Parque Estadual da PedraBranca e do Parque Municipal Gericinó-Mendanha, a zona oeste (região menos fa-vorecida por planejamentos urbanos maisefetivos do município) deve ser utilizadade forma racional, procurando explorar, demaneira correta, suas potencialidades. Noentanto, no entorno, abrem-se baixadascom forte pressão antrópica e variadas con-dições sociais, muitas vezes contrastantes,alternando-se processos de favelização comloteamentos de alto luxo, como reflexo deurbanizações descontroladas. Complemen-tando este quadro, a zona oeste apresentaum forte potencial agro-silvi-pastoril, tradu-zido pela presença de sítios transformadosem floriculturas, criação de gado e cavalosde raça, aviários, apiculturas, entre outrasatividades ligadas, ainda, ao ambiente rural.

Paralelamente ao avanço da ocupação (fun-ção residencial), com expansão das ativi-dades industriais e de serviços -muitasdelas incompatíveis com a real vocação daregião, que seria a de um pólo agrícola- azona oeste vem apresentando, também,potencial para outras atividades, dentre elaso turismo e lazer nas áreas de baixada e oecoturismo, particularmente em suas Unida-des de Conservação. Apresentam paisagemharmônica e muito favorável as atividades deesporte, lazer, culturais e turísticos. Apesardisso, vem sofrendo com processos dedegradação e poluição por parte da ocu-pação descontrolada e sem planejamento.

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Analise do potencial turístico nas regiões administrativas (RAs) de Campo Grande e Guaratiba...

Portanto, o turismo e suas várias modalida-des já desenvolvidas e a serem implemen-tadas de forma sustentável, não devemtrazer em seu bojo a (re)apropriação do es-paço local, onde as valorizações urbanas erurais sigam somente às normas da glo-balização, garantindo a sua reprodução.Apesar do acirramento das contradiçõessócio-espaciais como, por exemplo, a faveli-zação e a segregação urbana, é explícita anecessidade de planejamento municipal eestadual, de distribuição igualitária e carac-terização dos terrenos (atualmente vinculadaa fortes interesses imobiliários, principalmen-

te nessa região em franca expansão) numadas maiores metrópoles do Brasil.

A idéia central da presente investigação éfazer com que o turismo beneficie, mate-rialmente e culturalmente, as comunidadespertencentes às RA's de Campo Grande eGuaratiba, pois somente servindo de fontede renda alternativa é que estas, tornar-se-ão aliadas de ações conservacionistas naárea em questão, dentro de critérios de míni-mo impacto, de modo a ser uma ferramentade proteção e conservação ambiental e cul-tural.

Figura 1. Localização da área de estudo (fonte: Costa, 2002).

Investigaciones Geográficas, Boletín 52, 2003 139

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Assim sendo, teve por objetivos avaliar odesenvolvimento e o potencial das ativida-des turísticas e suas prováveis conse-qüências, especialmente no que concerneaos impactos sócio-ambientais a serem pro-vocados pela especulação imobiliária, quevêm se processando nas RA's de CampoGrande e Guaratiba e Unidades de Conser-vação próximas, a exemplo do Parque Esta-dual da Pedra Branca e do Parque Municipaldo Gericinó-Mendanha.

O governo tem atuado com cautela e poucoarrojo no sentido de gerar meios financeirospara dar sustentação à proteção das áreasde preservação ambiental, sem beneficiar aspopulações do seu entorno, que acabam pornão interagir com a conservação e com ouso público do local onde residem, apro-veitando as potencialidades para turismo elazer de modo a propiciar a prática de novosrelacionamentos do homem com a natureza.Daí a importância do tema desenvolvido,pois será mostrado ao longo do trabalho queas atividades ecoturísticas nas UCs da zonaoeste ainda são possíveis. Apesar dos des-matamentos, queimadas, ocupações irregu-lares, etc, ainda existem áreas preservadas,onde o turismo pode beneficiar, material-mente e culturalmente, as comunidadesdessa região. Ele servirá de fonte de rendaalternativa para a população local e esta,tornar-se-á aliada de ações conservacionis-tas na área em questão, dentro de critériosde mínimo impacto, de modo a ser umaferramenta de proteção e conservação am-biental e cultural, além de importantes inicia-tivas de educação ambiental que promove-rão a conscientização entre esses agentes.

Destacam-se como objetivos específicos:

a) Avaliar as características geoam-bientais da área em estudo, enfo-cando os aspectos da qualidade devida da população residente, comosubsídio à definição da potencia-

lidade para o turismo;b) Utilizar ferramentas de geoprocessa-

mento, basicamente SGI, como su-porte à avaliação do potencial turísti-co da região;

c) Gerar mapeamentos temáticos digi-tais, tais como: mapas geoambien-tais turísticos e geoeconômicos ur-banos que demonstrem a realida-defísico-ambiental, a qualidade de vidaurbana, associadas a uma classifi-cação das principais atratividadesturísticas e seu potencial. O detalha-mento dos locais no mapa de atra-tividades turísticas beneficiará ummaior controle e divulgação de-ssasatividades na área em estudo.

d) Propor algumas medidas (diretrizesgerais) direcionadas ao real aprovei-tamento da potencialidade turísticaidentificada, dentro da ótica de pla-nejamento participativo e desenvol-vimento sustentável.

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho baseou-se em meto-dologia que aplicou análise de dados geo-estatísticos, através da interpretação dabase de dados sobre o Censo da Populaçãodo Município do Rio de Janeiro (1991), dis-tribuída por setores censitários, e fornecidapelo órgão governamental IBGE (FundaçãoInstituto Brasileiro de Geografia e Estatís-tica). A partir dos indicadores do Censo,foram feitos cálculos para avaliar o índice dequalidade de vida urbana (piores e melhoresíndices de abastecimento de água, esgoto,número e tipo de moradia ou domicílio,renda dos chefes de família e oportunidadeeducacional). Esses dados ainda foram com-parados com a realidade local, através detrabalhos de campo realizados nas áreasde estudo, e com base na atualização dosdados do Censo do IBGE de 2000, sobreos bairros que compõem esse mesmomunicípio.

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Por fim, tais informações foram espacializa-das, através de técnicas de geoprocessa-mento, mais especificamente, de SistemaGeográfico de Informação (SGI), onde foramfeitas análises ambientais que proporcio-naram um estudo sobre a atual tendência epotencial das áreas para atividades turís-ticas. As análises dos problemas concer-nentes à falta de infraestrutura básica para odesenvolvimento de tais atividades, assimcomo a perda da qualidade de vida que ascomunidades de baixa renda, que moramnesses locais, apresentam, também serviramde parâmetros sócio-econômicos sobre apopulação das duas RAs estudadas, no quefoi chamado de Indice de Qualidade Urbana(IQU). O IQU foi, posteriormente, cruzadocom parâmetros ambientais e da própria es-trutura existente de atividades turísticas jádesenvolvidas na região.

A metodologia, portanto, apresentou as se-guintes etapas:

A) Aplicação do cálculo do Índice de Quali-dade Urbana (IQU)

No presente trabalho, foram utilizadas algu-mas metodologias de cálculo que serviramde base para a realização do Índice deQualidade Urbana (IQU) das RA's de Cam-po Grande e Guaratiba. Para tal, foramcomparadas as metodologias de cálculo doRelatório do IDH (Índice de DesenvolvimentoHumano) do Município do Rio de Janeiro-IDH-M, da Coordenação de Informaçõesda Cidade- CIC/SMU, através do Índice dasRegiões Administrativas, que englobava osdados da cidade como um todo, incluindofavelas e a pesquisa da qualidade de vidaurbana nas favelas do Rio de Janeiro, reali-zada pelo IPLANRIO (atual Instituto Munici-pal de Urbanismo Pereira Passos - IPP) em1997.

Para o IQU das RAs de Campo Grande eGuaratiba, foram consideradas, não somente

as Regiões Administrativas e seus respec-tivos bairros, como também todas as formasde ocupações urbanas de cada setor censi-tário pertencente as duas RA's, utilizando-seo Censo Demográfico de 1991 da IBGE e ocálculo de seus indicadores.2 Não foramutilizados os indicadores da "Contagem daPopulação de 1996", por não conter osdados completos para o cálculo do índice derenda. Com relação ao Censo Demográficode 2000, o acesso à informação dos setorescensitários, ainda não estava disponível,sendo possível apenas considerar os dadosdos indicadores dos bairros de cada RegiãoAdministrativa. A metodologia para o seucálculo também utilizou 11 variáveis do Cen-so Demográfico da IBGE de 1991, que foramagrupadas e calculadas.

Foram utilizandos os seguintes índices parao cálculo: Índice Ambiental (percentagemdos domicílios com serviço de abasteci-mento de água, de esgoto e de coleta de lixoinadequados), Índice Habitacional (númeromédio de pessoas e de cômodos por do-micílio), Índice Educacional (percentagem deanalfabetismo em maiores de 15 anos, doschefes de domicílio com menos de 4 e com15 ou mais anos de estudo), e Índicede Renda (rendimento médio dos chefes dedomicílio, em salários mínimos, percentagemdos chefes de domicílios com renda até doiss.m. e dos chefes de domicílios com rendi-mento igual ou superior a 10 s.m.).

B) Elaboração de mapas digitais temáticos

Foram elaborados mapas digitais temáticosdas áreas em estudo. Foram utilizadascomo ferramentas de geoprocessamento, ossoftwares SAGA3 (Sistema de Análise Geo-ambiental) módulos em DOS e Windows; eArcView GIS 3.2, que definiram a resoluçãoem que os dados foram trabalhados (napresente investigação, foi de pixels de 25mX 25m), enquadrando-os no formato raster(RST). O tamanho da área trabalhada (136

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800 ha), para aquela resolução, gerou ummódulo de 1 440 x 1 520 pixels. Posterior-mente, após a identificação das feições e arealização do Banco de Dados Digitais(BDD), foi utilizado o módulo denominadoANÁLISE AMBIENTAL do software de SGIVista SAGA Windows, onde foram realizadasduas, das três funções básicas deste mó-dulo, quais sejam: Assinaturas e AvaliaçõesAmbientais Diretas e Complexas.

Foram confeccionados 5 (cinco) mapas digi-tais temáticos dos condicionantes geo-físico-ambientais e turísticos (uso e cobertura ve-getal, declividade, hipsometria, atrativos tu-rísticos e de lazer e proximidade de redeviária), além dos 4 (quatro) mapas dos con-dicionantes geo-econômicos urbanos (am-biental, habitacional, educacional e renda)de cada RA (Figura 2), que serviram de basepara a realização das avaliações ambientaisdefinidas e traduzidas espacialmente emmapas analíticos, resultando nas áreas po-tenciais turísticas.

C) Avaliações ambientais

As avaliações ambientais têm por objetivo adelimitação de áreas com condições espe-cíficas para determinada utilização, envol-vendo situações de riscos e potenciais(Xavier da Silva, 2001). Toma como basecaracterísticas ambientais contidas na basede dados georreferenciada, previamente in-ventariada, e em situações cujo comporta-mento seja, à priori, conhecido. No presentetrabalho foi considerada a avaliação deáreas potenciais ao turismo.

No processo de avaliação ambiental, a par-ticipação de cada mapa é ponderada pelautilização de pesos, de acordo com suaparticipação (importância) relativa ao eventoque se quer analisar, admitindo-se que oconjunto de mapas totaliza 100% de respon-sabilidade. As classes presentes em cadamapa podem receber notas de 1 a 10 ou de

10 a 100, de acordo com a possibilidade deassociação da classe com a ocorrência dofenômeno estudado. O produto final é ummapa que expressa níveis similares de riscoou potencial, para a ocorrência do fenômenoestudado. No presente estudo, foram utiliza-das as duas escalas de notas.

Tornou-se necessária, também, a utilizaçãode um cálculo estatístico para agrupamentode classes, na forma contínua, sem super-posição de intervalos, dos mapas de IQU(condições geoeconômicas). Para tal classi-ficação, utilizou-se a fórmula de Sturges, quedá uma estimativa do número de classes (k)a ser utilizada (Gerardi y Silva, 1981).

Quanto às avaliações complexas, foramdesenvolvidas análises entre o produto dasavaliações diretas (condições físicas, am-bientais e de acesso ao turismo) e as condi-ções geoeconômicas urbanas dos IQU's,tendo como resultante final (avaliação comp-lexa) o mapa de potencial turístico das duasRA's analisadas (Figura 2).

RESULTADOS ALCANÇADOS

Uma outra questão importante desta investi-gação, foi a de propor uma metodologia queconsidere os fenômenos espaciais do turis-mo dentro de uma proposta de avaliação dastransformações que ocorrem no ambiente,principalmente no espaço urbano e dasáreas com remanescentes florestais, fazen-do uso de ferramentas de geoprocessa-mento, em particular dos Sistemas Geográ-ficos de Informação (SIGs) para obtenção deuma visão sistêmica da realidade: no pre-sente caso, análise das potencialidades daárea em estudo para o turismo. Portanto, aanálise resultante apresentou o mapeamentonão só dos condicionantes geoeconômicosdas áreas para um planejamento urbanístico,mas as que apresentam uma maior ten-dência ao desenvolvimento do planejamentoturístico, além do incremento de novos

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espaços a serem (re)construídos em prol domelhor atendimiento das várias modalidadesturísticas.

Condições geoeconômicas urbanas (IQU)das duas RAS (Figura 3)

a) XVIII R.A. de Campo Grande

Observou-se que as condições geoeconô-micas urbanas da RA de Campo Grandeapresentam maiores índices de IQU (muito-alto e altíssimo), distribuídos pelos setorescensitários inseridos no centro comercial dobairro de Campo Grande (Quadro 1). Muitosdesses setores encontram-se próximos dalinha férrea e da rodoviária, locais de acessoprincipal dos moradores e dos que trabalhamno comércio local. O bairro de Campo Gran-de concentra, nesses locais, uma enormevariedade de atividades ligadas ao setorterciário, que atende não só aos moradoresda região, mas de várias localidades próxi-mas e bairros vizinhos. Contudo, ocorrembaixas condições ambientais dos setorescensitários, conjugando-se à falta de ocupa-ção humana, o que acarreta um baixo IQUnesses locais. Também ocorreram notasmuito baixas de IQU nas áreas próximasaos maciços do Gericinó-Mendanha e PedraBranca, pois nestes locais a ocupação érarefeita (grandes vazios urbanos), devido asuas condições de áreas protegidas. Mas,esse índice também reflete a falta de in-fraestrutura, pois existe uma concentraçãomaior de loteamentos irregulares e favelas,que estão tomando as áreas anteriormenteocupadas por atividades agrícolas e promo-vendo um avanço da pressão antrópicapróximas à essas Unidades de Conserva-ção.

Com relação às notas um pouco mais altas(médio-alto e alto), isso se deve a uma maiorrenda e saneamento básico trazidos pelapresença de alguns distritos industriais, prin-cipalmente no bairro de Inhoaíba,5 tais como

o pólo da Ishibrás e a Indústria da Brahma,além da presença de Shopping Center (WestShopping) no bairro de Campo Grande.Estes locais são mais bem servidos desaneamento básico e de vias principaisde acesso (Av. Brasil e linha férrea), além deserviços públicos mais variados. Porém, osserviços públicos e de infraestrutura, nas últi-mas décadas, não vem atendendo a popu-lação existente e acompanhando o acelera-do processo de ocupação da Zona oeste.Existem ainda graves problemas: a maiorparte do esgoto, é jogada em valas e nosrios, facilitando as inundações em grandeparte dos locais habitados.

b) XXVI R.A. de Guaratiba

Observou-se que as notas mais baixas (de14 a 24), em conjunto com as notas de baixograu de contribuição (de 25 a 35), aparecemcom um percentual significativo na região(mais de 70%; Quadro 2. Essas notasdistribuem-se nos setores censitários comproblemas mais graves de infraestrutura ur-bana, tais como: os loteamentos ("Jardins" e"Vilas") e favelas próximas. Todos se situamno bairro de Guaratiba.

No caso das notas de médio-baixo e médio-alto grau de contribuição (notas de 36 a 57),destacam-se áreas com um IQU um poucomais elevado, por estarem associadas àsáreas com alguma infraestrutura sanitária,apesar de serem ocupadas por comunidadesde baixa renda e comunidades próximasàs vias de acesso principais do bairro deGuaratiba. Tais ocupações estão muito pró-ximas de áreas de preservação ambiental,como a APA da Praia da Brisa.

A ocupação de forma desordenada (além defavelas e loteamentos irregulares, há umaumento de casas de veraneio e de restau-rantes de frutos do mar) vem contribuindo,portanto, para os problemas ambientaisrelacionados à má distribuição da rede de

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constantes riscos de inundações. A degrada-ção da cobertura vegetal na sub-bacia doRio Portinho, especialmente nas cabeceirasde drenagem, tende a propiciar o aumentodas taxas de erosão e assoreamento ajusante. Como resultado dessa situação,observa-se, constantemente, a remoção dasdunas litorâneas, devastação dos mangue-zais, destruição do manto superficial dossolos marinhos, lançamento de dejetos orgâ-nicos e inorgânicos nos cursos fluviais, nas

lagoas e nas praias.

As notas alta (nota 66) e altíssima (nota 81),correspondem a áreas mais bem equipadascom saneamento básico, próximas a estabe-lecimentos comerciais e a transportes, facili-tando um índice elevado de IQU. É o casodo subcentro de Pedra de Guaratiba e doCentro de Treinamento do Exército (CETex),respectivamente. Há que se atentar para ofato de que a franja costeira de Guaratiba é

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Figura 3. Condições geoeconômicas urbanas (IQU) das RA'S de Campo Grande e Guaratiba-RJ.

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Figura 3. Condições geoeconômicas urbanas (IQU) das RA'S de Campo Grande e Guaratiba-RJ.

constantes riscos de inundações. A degrada-ção da cobertura vegetal na sub-bacia doRio Portinho, especialmente nas cabeceirasde drenagem, tende a propiciar o aumentodas taxas de erosão e assoreamento ajusante. Como resultado dessa situação,observa-se, constantemente, a remoção dasdunas litorâneas, devastação dos mangue-zais, destruição do manto superficial dossolos marinhos, lançamento de dejetos orgâ-nicos e inorgânicos nos cursos fluviais, nas

lagoas e nas praias.

As notas alta (nota 66) e altíssima (nota 81),correspondem a áreas mais bem equipadascom saneamento básico, próximas a estabe-lecimentos comerciais e a transportes, facili-tando um índice elevado de IQU. É o casodo subcentro de Pedra de Guaratiba e doCentro de Treinamento do Exército (CETex),respectivamente. Há que se atentar para ofato de que a franja costeira de Guaratiba é

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a que mais sofre com os graves problemasda falta de planejamento urbano, pois nãovem sendo contemplada pelo governo comações urbanísticas e saneadores, como asoutras áreas centrais da cidade do Rio deJaneiro.

Áreas de potencial turístico das duas RAS(Figura 4)

a) XVIII R.A. de Campo Grande

As áreas de médio potencial para atividades

turísticas (Quadro 3), são aquelas próximasà rede viária, onde existe uma certa facili-dade de locomoção da população às áreasdos Parques (Unidades de Conservação),proporcionando acesso às atividades ligadasao lazer e ao turismo ecológico. A populaçãodessas áreas ainda desenvolve, em algunspontos, atividades ligadas a agro-silvicultura,o que faz com que apresentem um médiopotencial turístico, em manchas isoladas dosdois maciços (Pedra Branca e Gericinó-Mendanha).

Quadro 1. Participação das condições geoeconômicas urbanas da RA de Campo Grande

PARÂMETROS DO IQU(RA DE CAMPO GRANDE)

Notas

14

33e34

36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45 e46

47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56 e57

58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67 e68

69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 78 e 79

80, 81,82, 83, 90 e 91

Participação das Condições Geoeconômicas Urbanas

Grau de Contribuição

Muito baixo

Baixo

Médio-baixo

Médio-alto

Alto

Muito-alto

Altíssimo

% das Categorias

8,02

18,36

16,37

21,07

31,55

5,25

1,15

Quadro 2. Participação das condições geoeconômicas urbanas da RA de Guaratiba

PARÂMETROS DO IQU(RA DE CAMPO GRANDE)

Notas

14, 18, 20,22 e 24

25, 26, 27, 28, 32, 33, 34 e 35

36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 44, 45 e 46

48, 50, 53, 54, 55 e 57

66

81

Participação das Condições Geoeconômicas Urbanas

Grau de Contribuição

Muito baixo

Baixo

Médio-baixo

Médio-alto

Alto

Altíssimo

% das Categorias

30,30

40,11

13,60

15,95

0,02

0,03

146 Investigaciones Geográficas, Boletín 52, 2003

Page 12: Análise do potencial turístico nas regiões administrativas

Analise do potencial turístico nas regiões administrativas (RAs) de Campo Grande e Guaratiba...

São áreas de difícil acesso, cujas condiçõesnaturais são limitantes, o que dificulta, decerta forma, a ocupação, principalmente nasencostas de maior declividade. Esses locaistambém se situam nas porções centrais dosmaciços e nas encostas elevadas (acima de300 m), de forte gradiente (algumas sobforma de paredão rochoso) e próximas aopico da Pedra Branca, distantes da malhaviária. São áreas desmatadas ou cobertaspor outro tipo de vegetação. Apesar deterem ocupações esparsas (observadasatra-vés de trabalhos de campo) são áreasque, de certa forma, dificultam a ocupaçãopopulacional mais intensa, a curto e médioprazo.

Devem ser implementadas atividades e pro-gramas que conduzam ao melhor aprovei-tamento das UCs, estimulando seu potencialpara o turismo ecológico. Atividades ligadasà educação ambiental em trilhas devem serrealizadas e conduzidas por técnicos (e/ouguias) que efetivamente conheçam a reali-dade local (inserção das comunidades). Osvisitantes, na maioria de procedência exter-na às áreas, acabam por se perder na mataou não possuem conhecimento dos melho-res caminhos e trilhas a serem utilizados, eque possam levar ao pico da Pedra Branca,ou às áreas mais florestadas do Gericinó-Mendanha.

Portanto, as comunidades locais (principal-mente as tradicionais) devem ser transfor-madas em monitores e guias, pelo órgãofiscalizador das UC's citadas (Instituto Esta-dual de Florestas (IEF) e Instituto Brasileirode Meio Ambiente e Recursos Naturais Re-nováveis (IBAMA), além de trabalho de edu-cação ambiental por Organizações Não Go-vernamentais (ONG's), dentro do contextode gestão participativa.

As áreas de médio a alto potencial para ativi-dades turísticas, são aquelas cujos setorescensitários apresentam-se distribuídos ao

longo da linha férrea e das vias principais deacesso à RA de Campo Grande. São nú-cleos urbanos mais consolidados, antigos eregulares, que surgiram há algumas décadase foram recebendo infraestrutura adequada,além do desenvolvimento de serviços (esco-las, hospitais e comércio) próximos e bemequipados, o que conduziu ao aumento dopadrão de vida de seus moradores (IQU ele-vado). Algumas dessas áreas estão ao redorde pontos de atrativos turísticos ligados aocomércio (lazer peri-urbano, ou seja, nasáreas de periferia dos centros urbanos) e deimportância arquitetônica e histórica (igrejas)para o local. Estendem-se por algumas viassecundárias próximas ao maciço da PedraBranca, que facilitam o acesso às áreas depotencial agrícola e de lazer ainda existentesem sítios e haras próximos. Congrega-setambém uma população de alto poder aquisi-tivo (alta renda) e equipamento urbano ade-quado, tais como: saneamento, educação,lazer e habitação. Além disso, possui vias deacesso em bom estado de conservação,sem ter uma ocupação desordenada.

O local que aparece como baixo IQU, situa-se na represa dos Caboclos no rio da Prata(dentro do PEPB), onde a ocupação é míni-ma. Este local é de alto potencial turístico,devendo ser respeitada sua função de pro-teção aos mananciais e de preservaçãoambiental. Muitos banhistas de fim-de-semana vão para este local. Porém, cos-tumam exercer atividades predatórias e nãorespeitam as placas indicativas, colocadaspela CEDAE. Além das áreas de mataspreservadas do maciço do Gericinó-Mendanha. No entanto, é preciso ter cuidadocom o avanço da ocupação desordenada(favelas e loteamentos irregulares) que vemcrescendo em sua direção. Há que se tercontrole das mesmas e se desenvolveratividades associativas com seus morado-res, que os beneficiem economicamente emelhorem a qualidade de vida.

Investigaciones Geográficas, Boletín 52, 2003 147

Page 13: Análise do potencial turístico nas regiões administrativas

Vivian Castilho da Costa e Josilda Rodrigues da Silva de Moura

Figura 4. Áreas de potencial turístico das duas RAs.

Quadro 3. Classificação Final do Potencial Turístico da RA de Campo Grande

Notas

0, 1 e 2

3, 4, 5 e 6

8, 9e10

11, 12, 13e14

16e24

19,20,21e22

Condição GeoeconômicaUrbana (IQU)

Baixo-média

Alto/Muito alta

Baixo-média

Alto/Muito alta

Muito baixa

Alto/Muito alta

Condição Geoambiental eTurística

Baixa

Baixa

Média

Média

Alta

Alta

148 Investigaciones Geográficas, Boletín 52, 2003

Page 14: Análise do potencial turístico nas regiões administrativas

Analise do potencial turístico nas regiões administrativas (RAs) de Campo Grande e Guaratiba...

b) XXVI R.A. de Guaratiba

Nas áreas de IQU baixo-médio (Quadro 4),a população vem ocupando manguezais(degradados), rios e as principais vias deacesso com loteamentos irregulares e fave-las de baixa renda. Paralelamente, tambémsão locais de atividades agro-silvi-pastorise de turismo de lazer e peri-urbano.Destacam-se aí também, sitiantes que vêmdesenvolvendo floriculturas, em especial,nas baixas e médias encostas do maciço daPedra Branca. Esses locais são atrativos demédio porte para turistas interessados emconhecer aspectos rurais, de certa forma,ainda presentes nesses antigos territóriosagrícolas.

As áreas do manguezal e da restinga, tam-bém têm potencial a ser desenvolvido para oturismo ecológico, o que já vem despon-tando na região, com o "turismo litorâneo",pois suas belezas naturais são evidentes edesenvolvem a especulação imobiliária decasas de veraneio (segunda residência). Apesca oceânica é muito praticada, inclusivecom as comunidades de pescadores queprocuram tirar renda adicional com estaatividade, atraindo passeios com os turistas.Porém, a atividade pesqueira, assim como abalneabilidade das praias, vêm sendo preju-dicadas pela poluição dos recursos hídricose costeiros, provocada pelo incipiente tra-tamento de esgoto das subestações e peloaumento no aporte de esgotos (resíduossólidos e líquidos) trazidos por manilhas etubulações ilegalmente construídos, próxi-mos aos recursos fluviais. Apesar disso, osrestaurantes também são atrativos ao longoda estrada da Barra de Guaratiba, o queconfere a área, um "turismo gastronômico"dos mais fortes, mesmo com o IQU baixo(pela ocupação desordenada no local).

As áreas de alto IQU estão localizadas próxi-mas às vias principais de acesso (avenidase ruas que levam aos centros urbanos).

Possuem atrativos turísticos que atraem umaclasse de renda média-alta, traduzidos emáreas de lazer e entretenimento (haras eclubes eqüestres), além de visitantes locaise até estrangeiros. Nessas áreas pode-sedesenvolver atividades ligadas ao "turismode elite", pois apresentam condições de in-fraestrutura urbana, aliada a uma ruralidadeainda presente, que impõe um certo ar bu-cólico, sendo aproveitada pelos empresáriose proprietários de sítios de lazer do local.Apresentam, também locais de interessehistórico/cultural arquitetônico, como as Igre-jas na orla de Pedra de Guaratiba.

Algumas áreas de florestas do maciço daPedra Branca apresentam alto potencialpara o ecoturismo (Floresta do Rio da Prata,dentro do PEPB), mas que já vem sofrendopressão antrópica como desmatamentos eocupação em seu entorno.

Outras áreas de alto potencial são as que jápossuem atividades turísticas consolidadas epopulação de alto poder aquisitivo a elasassociadas. Como exemplo, temos: HarasHode Lua, as Igrejas da Matriz (em Gua-ratiba), Nossa Sra. do Desterro de Pedra deGuaratiba, a praia da Venda Grande eo Manguezal da Praia da Brisa. Além disso,existem os restaurantes nas proximidadesda estrada da Barra de Guaratiba e daestrada Velha da Barra de Guaratiba, aexemplo do Restaurante AlambiqueMaxicana. São pontos de muita visitação,inclusive de estrangeiros. São locais, onde oturismo deve ser fomentado de formacontrolada, no sentido de conter o processode degradação (a exemplo do sistema deesgoto inadequado para as áreas de praia emangue) e ocupações irregulares, que estãoavançando para áreas de vegetação demangue e margens de rios. Se o processonão for contido, a área pode transformar-seem baixo potencial para o turismo.

As áreas de altíssimo potencial são locais

Investigaciones Geográficas, Boletín 52, 2003 149

Page 15: Análise do potencial turístico nas regiões administrativas

Vivian Castilho da Costa e Josilda Rodrigues da Silva de Moura

Quadro 4. Classificação Final do Potencial Turístico da RA de Guaratiba

Notas

0, 1 e 2

3 , 4 e 5

8, 9 e 1 0

11, 1 2 e 1 3

16, 1 7 e 1 8

1 9 e 2 1

24, 25 e 26

27

Condição GeoeconômicaUrbana (IQU)

Baixo-média

Alta/Muito alta

Baixo-média

Alta/Muito alta

Baixo-média

Alta/Muito altaBaixo-média

Médio-alta

Condição Geoambiental eTurística

Baixa

Baixo

Média

Média

Alta

AltaAltíssima

Altíssima

que, no entanto, possuem baixo IQU, poisexistem ocupações desordenadas em seuentorno (favelas), principalmente próximasàs áreas de haras e de floresta (morro doCabuçu no PEPB), que são muito explora-das para o ecoturismo e cavalgadas eco-lógicas pelos haras. Outro local onde sedestacou por um altíssimo potencial turísticoé o Sítio Burle Marx, local muito visitado naregião, tanto por brasileiros como estran-geiros, mas que apresenta IQU baixo-médio,pela rarefeita ocupação antrópica.

Devem ser implementados trabalhos de edu-cação ambiental e de melhoria na infraes-trutura urbana das comunidades próximaspara que estas desenvolvam o potencial daárea. Algumas já desenvolvem atividades defloricultura e venda de produtos agrícolas(alguns sítios com hortos e produtos de sub-sistência) e produtos naturais ou próprios deárea rural, tais como: mel, própolis e horti-frutigranjeiros (presença de granjas e apiá-rios). Essa ruralidade deve ser preservadano local, e novas atividades ligadas ao turis-mo agro-comercial devem ser fomentadas.

CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

A avaliação do potencial turístico mostroudiferenças significativas entre as RAs deCampo Grande e Guaratiba, não apenas

com relação aos seus níveis de poten-cialidade, mas também quanto à naturezadas atividades a serem implementadas deforma a aproveitar todo o seu potencial.

Na RA de Campo Grande, a maior ex-pressão territorial do turismo se dá em pon-tos específicos e reduzidos, onde já existealguma atividade consolidada, basicamentede natureza peri-urbana. Estão localizadaspróximas ao centro do bairro de CampoGrande e se caracterizam pela mesclagemde atividades, voltadas para o turismo co-mercial e o turismo histórico-cultural, direcio-nadas à população local com renda médiae alta. Entretanto, a maior potencialidadeda RA situa-se nas encostas do maciço daPedra Branca e Gericinó-Mendanha. Nelas,a presença de atrativos naturais, como asflorestas e rios, permitem que sejam imple-mentados, o turismo rural e o ecoturismocontrolado, praticamente inexplorados, abar-cando as duas RA's.

Por sua vez, a RA de Guaratiba, nãosomente apresenta atividades turísticas con-solidadas e diversificadas, como também,espacialmente distribuídas por toda suaextensão costeira e nas encostas do maciçoda Pedra Branca. Praticamente todas asmodalidades de turismo são encontradas,embora muitas delas pouco planificadas, a

150 Investigaciones Geográficas, Boletín 52, 2003

Page 16: Análise do potencial turístico nas regiões administrativas

Analise do potencial turístico nas regiões administrativas (RAs) de Campo Grande e Guaratiba...

exemplo do ecoturismo e do turismo rural.Basicamente o turismo rural encontra-semais estruturado e desenvolvido em pro-priedades particulares (principalmente, clu-bes eqüestres) nas áreas de baixada e quesão aproveitadas somente pela populaçãode alta renda (alto IQU), mas excluindo aspopulações de baixa renda. São popula-ções, muitas vezes organizadas em asso-ciações de moradores (a exemplo das si-tuadas em Pedra e Barra de Guaratiba) eONG's (tais como, o Movimento de Cidada-nia pelas Águas do Rio da Prata), que,apesar de carentes, se dispõem a participarde projetos de educação ambiental e deformação, capacitação de monitores ambien-tais e guias turísticos. Paralelamente, sãolocais que requerem melhorias nas con-dições sanitárias e de balneabilidade, comocondição básica à transformação dessasáreas em reais pólos de atração turística.

Não é suficiente, apenas, definir a necessi-dade de se desenvolver o turismo numadeterminada área, como muitos especialistasvêm fazendo, mas sim entender as transfor-mações espaciais que tais atividades podemdesencadear, a curto, médio e longo prazos.Cabe, assim, aos geógrafos analisar a reor-ganização espacial, a partir da introduçãoe intervenção de novas atividades sobreos componentes físico-bióticos e sócio-econômicos, a exemplo do turismo, procu-rando, acima de tudo, contribuir para amelhoria da qualidade de vida da sociedadee do meio ambiente local. Ainda temos tem-po para usar o que resta de maneira corretae de forma sustentável, permitindo que omundo futuro conheça as belezas naturaisexistentes e desfrutem do bem estar e dequalidade de vida, através de programas eprojetos ecoturísticos controlados e adequa-dos.

AGRADECIMENTOS:

À Profa. Dra. Nadja Maria Castilho da Costa

(UERJ) pela revisão do presente artigo. Aoapoio financeiro da FUJB (Fundação Univer-sitária José Bonifácio), CNPq e a FAPERJpela concessão da bolsa de mestrado "Nota10", por ocasião da realização da tese demestrado.

NOTAS

1 As Áreas de Planejamento foram conceituadaspelo Plano Urbanístico Básico de 1976, com oobjetivo de identificar as características homo-gêneas que orientassem grandes subdivisões doespaço geográfico.

2 Foram adquiridos arquivos de microdados doCenso Demográfico de 1991, do Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística - FIBGE. Elesforam necessários à etapa de tabulação, emarquivos no software Excel, para posteriorutilização (link) na base cartográfica do municípiodo Rio de Janeiro (dividida em Bairros e SetoresCensitários), realizada pela Fundação OswaldoCruz - FIOCRUZ de 1996, através do softwareARCVIEW - GIS.

3 Foi feita a avaliação ambiental utilizando omódulo "análise ambiental" do SAGA Windows,desenvolvido e cedido pelo LAGEOP, coordenadopelo Prof. Dr. Jorge Xavier da Silva, do Dept0 deGeografia da UFRJ.

4 Sendo que deste total, 30 250 ha perfazema área total das RA's de Campo Grande eGuaratiba.

5 O uso industrial da zona oeste é caracterizadopela criação de ZUPIs (Zona de Uso Predo-minantemente Industrial), definidas pela portariaN°. 176/3 do Conselho Deliberativo da RegiãoMetropolitana do Rio de Janeiro, que regula-mentou a Lei Estadual N°. 466. Na região deCampo Grande há 3 (três) ZUPIs: CampoGrande, Palmares e Inhoaíba.

REFERÊNCIAS

Costa, V. C. da (2002), O potencial doecoturismo nas Regiões Administrativas (RAs)de Campo Grande e Guaratiba-RJ, Dissertaçãode Mestrado, Programa de Pós-Graduação emGeografia (PPGG).UFRJ, Rio de Janeiro.

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IPLANRIO (1 997), Favelas cariocas: índice dequalidade urbana, Rio de Janeiro: Iplanrio (Insti-tuto de Planejamento Municipal), Prefeitura daCidade do Rio de Janeiro, Coleção Estudosda Cidade, Brasil.

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Xavier da Silva, J. (2001), "Geoprocessamentoe análise ambiental", Cap. 11, Sistemas Geo-gráficos de Informação: uma metodologia. Riode Janeiro, Edição do autor, Rio de Janeiro, RJ,pp. 165-198.

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