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Eixo temático: Geografia Ambiental e da Saúde ANÁLISE DAS VARIAÇÕES DA MORFOLOGIA DO CANAL DO RIO SANTO ANASTÁCIO EM UMA PERSPECTIVA ESPAÇO-TEMPORAL Tainá Medeiros Suizu [email protected] graduanda do curso de Geografia Universidade Estadual Paulista. FCT - Campus de Presidente Prudente. Bolsista FAPESP Prof. Dr. Paulo Cesar Rocha RESUMO O presente trabalho tem como objetivo identificar as mudanças na morfologia e morfometria do canal do rio Santo Anastácio em uma perspectiva espacial de análise e associá-las aos compartimentos geológicos, geomorfológicos e morfométricos da bacia hidrográfica, assim como aos diferentes usos do solo predominantes. Para tanto, foi feita levantamento das unidades geomorfológicas e geológicas previamente mapeadas na área, levantamento de perfis topográficos, perfil longitudinal do rio, e tabulação de dados morfométricos. Diante dos resultados prévios obtidos, pode-se notar que esta bacia se encontra sob domínio do grupo Bauru, é característica predominantemente por colinas amplas e baixas, sendo em geral uma bacia bem drenada, e, diante da análise do perfil longitudinal do curso principal, pode-se notar que duas deformações neotectônicas, já previstas por alguns autores anteriormente, estão presentes, quanto à análise da geometria hidráulica, esta nos mostrou um curso influenciado de maneira bem uniforme, diante das variáveis que o fazem. Palavras- chave: Rio Santo Anastácio; dinâmica fluvial; morfologia; INTRODUÇÃO Os estudos relacionados aos canais fluviais procuram discernir os tipos de arranjos espaciais que o leito apresenta ao longo do rio, sendo que estes tipos de canais apresentam mecanismos de ajustagem entre as variáveis implicadas neste sistema geomorfológico, constituindo respostas que se somam e se entrosam com as relacionadas à seção transversal e ao perfil longitudinal dos cursos d’água. As formas que os canais constroem, expressam equilíbrio e ajustagem em função do débito, da carga detrítica, das condições locais e do desgaste de energia, sendo respostas ajustadas às influências exercidas pelos fatores, assim, os tipos de uso e ocupação das áreas marginais devem ser analisados, já que influem diretamente nos processos e a dinâmica observada nos diversos tipos de canais, para um diagnóstico autêntico da área. (CHRISTOFOLETTI, 1981). A caracterização dos ambientes fluviais é importante não somente no que concerne aos recursos hídricos como também do ponto de vista sedimentológico, geomorfológico e do planejamento ambiental (SUGUIO & BIGARELLA, 1990). A geomorfologia fluvial coloca-se, na atualidade, entre os setores mais dinâmicos desse campo científico, tendo como objeto de estudo os rios e bacias hidrográficas, já que dinâmica e as formas topográficas resultantes da ação fluvial sempre chamaram a atenção dos pesquisadores. Desde os primórdios da história das geociências são comuns as menções sobre o trabalho dos rios (CHRISTOFOLETTI, 1981).

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Eixo temático: Geografia Ambiental e da Saúde

ANÁLISE DAS VARIAÇÕES DA MORFOLOGIA DO CANAL DO RIO SANTO ANASTÁCIO EM UMA PERSPECTIVA ESPAÇO-TEMPORAL

Tainá Medeiros Suizu

[email protected] graduanda do curso de Geografia

Universidade Estadual Paulista. FCT - Campus de Presidente Prudente. Bolsista FAPESP

Prof. Dr. Paulo Cesar Rocha

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo identificar as mudanças na morfologia e morfometria do canal do rio Santo Anastácio em uma perspectiva espacial de análise e associá-las aos compartimentos geológicos, geomorfológicos e morfométricos da bacia hidrográfica, assim como aos diferentes usos do solo predominantes. Para tanto, foi feita levantamento das unidades geomorfológicas e geológicas previamente mapeadas na área, levantamento de perfis topográficos, perfil longitudinal do rio, e tabulação de dados morfométricos. Diante dos resultados prévios obtidos, pode-se notar que esta bacia se encontra sob domínio do grupo Bauru, é característica predominantemente por colinas amplas e baixas, sendo em geral uma bacia bem drenada, e, diante da análise do perfil longitudinal do curso principal, pode-se notar que duas deformações neotectônicas, já previstas por alguns autores anteriormente, estão presentes, quanto à análise da geometria hidráulica, esta nos mostrou um curso influenciado de maneira bem uniforme, diante das variáveis que o fazem. Palavras- chave: Rio Santo Anastácio; dinâmica fluvial; morfologia;

INTRODUÇÃO

Os estudos relacionados aos canais fluviais procuram discernir os tipos de

arranjos espaciais que o leito apresenta ao longo do rio, sendo que estes tipos de canais

apresentam mecanismos de ajustagem entre as variáveis implicadas neste sistema

geomorfológico, constituindo respostas que se somam e se entrosam com as relacionadas à

seção transversal e ao perfil longitudinal dos cursos d’água. As formas que os canais

constroem, expressam equilíbrio e ajustagem em função do débito, da carga detrítica, das

condições locais e do desgaste de energia, sendo respostas ajustadas às influências

exercidas pelos fatores, assim, os tipos de uso e ocupação das áreas marginais devem ser

analisados, já que influem diretamente nos processos e a dinâmica observada nos diversos

tipos de canais, para um diagnóstico autêntico da área. (CHRISTOFOLETTI, 1981).

A caracterização dos ambientes fluviais é importante não somente no que

concerne aos recursos hídricos como também do ponto de vista sedimentológico,

geomorfológico e do planejamento ambiental (SUGUIO & BIGARELLA, 1990).

A geomorfologia fluvial coloca-se, na atualidade, entre os setores mais dinâmicos

desse campo científico, tendo como objeto de estudo os rios e bacias hidrográficas, já que

dinâmica e as formas topográficas resultantes da ação fluvial sempre chamaram a atenção

dos pesquisadores. Desde os primórdios da história das geociências são comuns as

menções sobre o trabalho dos rios (CHRISTOFOLETTI, 1981).

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Nos últimos anos, a Geomorfologia tem se caracterizando por enfatizar os

problemas ambientais, tendo em mente que vários componentes e fatores interagem no

sentido de detonar e de dar prosseguimento à degradação ambiental. Assim, ênfase é

colocada na Geomorfologia, que possui um papel integrador para explicar os processos de

degradação (CUNHA & GUERRA, 2000).

Dentro de tal perspectiva faz-se necessária a elaboração de uma pesquisa que

se baseie no diagnóstico da área a ser trabalhada, permeando a análise das variabilidades

espacial e temporal das mudanças de um determinado curso de água, assim como a

compreensão dos mecanismos que promovem o seu dinamismo. Propõe-se, desta forma,

uma real análise do atual estágio evolutivo do sistema fluvial como resposta a processos

geomorfológicos naturais e/ou antrópicos na bacia hidrográfica do rio Santo Anastácio.

ÁREA DE ESTUDO:

A bacia hidrográfica do rio Santo Anastácio situa-se no oeste do Estado de

São Paulo, perfazendo uma área de aproximadamente 2.000 km e abrangendo vários

centros urbanos, como as cidades de Presidente Prudente, Presidente Bernardes, Santo

Anastácio, Presidente Venceslau e Presidente Epitácio (GUEDES et al., 2006) (figura 1).

51°0'0"W51°30'0"W52°0'0"W52°30'0"W53°0'0"W

21°45'0"S

22°0'0"S

22°15'0"S

22°30'0"S

22°45'0"S

Localização da área de estudo

0 20 40 60 8010Km ­

Legenda

Bacia do rio Santo Anastácio

UGRHI 22

rio Santo Anastácio

Figura 1: Localização da área de estudo – Bacia do rio Santo Anastácio inserida na Unidade de Gerenciamento de Recursos rea cos 22 (UGRHI 22)- Pontal do Paranapanema no Estado de São Paulo.

Segundo Stein (1999 apud GUEDES et al., 2006), a ocupação desta bacia foi

mais intensa a partir da segunda metade do século XX, agregando diversas atividades

antrópicas com desmatamento em larga escala. Esse tipo danoso de ocupação do solo

resultou em inúmeros impactos ambientais negativos, especialmente ligados a processos

erosivos acelerados, laminados e lineares, com o conseqüente assoreamento da rede de

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drenagem, observando-se colmatação de calhas fluviais com o recobrimento de depósitos

aluviais pretéritos e mesmo de porções de encostas.

Com relação ao meio físico, o clima da região é classificado como tropical

alternadamente úmido e seco, segundo a classificação de Strahler. No âmbito da geologia,

predominam as rochas do Grupo Bauru, a qual a extensão predominante é da formação

Adamantina, que ocorre nas cotas mais elevadas estendendo-se das proximidades do Rio

Paraná e Paranapanema até os limites norte e leste da área de estudo. Em termos

estruturais, a bacia do rio Santo Anastácio encontra-se do âmbito do feixe de lineamentos

de direção NW-SE que compõem a zona do Alinhamento Estrutural de Guapiara

(FERREIRA et al., 1981 apud GUEDES et al., 2006); o alto vale acha-se interceptado pela

Sutura Presidente Prudente, de direção NE-SW (IPT, 1989 apud GUEDES et al., 2006).

OBJETIVOS

O objetivo principal deste projeto é identificar as mudanças na morfologia e

morfometria do canal do rio Santo Anastácio em uma perspectiva espacial de análise e

associá-las aos compartimentos geológicos, geomorfológicos e morfométricos da bacia

hidrográfica, assim como aos diferentes usos do solo predominantes.

ANÁLISE DA BACIA, CANAL PRINCIPAL E METODOLOGIAS APLICADAS.

Foi feito um levantamento bibliográfico acerca de teorias e procedimentos metodológicos

para a análise ambiental de bacias hidrográficas, mais especificamente, tratando de temas

inerentes à geomorfologia e a sua vertente relacionada ao estudo dos ambientes fluviais, à

compreensão dos processos morfogenéticos, a análise integrada de sistemas, a questão da

relação da geomorfologia com o homem e o meio, entre outros temas que subsidiaram

teoricamente o trabalho que está sendo executado. Fora, desta forma, de grande valia

consultas como o Mapa Geomorfológico do Estado de são Paulo (ROSS, 1997),

Geomorfologia Fluvial (CRISTOFOLETTI, 1974; 1981), Ambientes Fluviais (SUGUIO &

BIGARELLA, 1990), dentre outras obras.

Caracterização geológica e estrutural na Bacia Hidrográfica:

A bacia do rio Santo Anastácio está localizada em domínios do Grupo Bauru, do

Cretáceo Superior da Bacia Sedimentar do Paraná, sendo que esta constitui-se uma

entidade geotectônica de abrangência mercosulina estabelecida no interior da Plataforma

Sul- Americana. O Grupo Bauru, por seu turno, coroa o registro sedimentar cretáceo, sendo

formado por arenitos muito finos a finos, intercalados com lamitos, lamitos arenosos, siltitos

e conglomerados intraformacionais, ricos em estruturas sedimentares (estratificações

cruzadas de pequeno porte, acamamento plano-paralelo, ripples, rea balls, bioturbação,

etc.), que são atribuídos à Formação Adamantina (senso STEIN r r., 1979; SOARES r

r., 1980 apud GUEDES r r., 2006). Da mesma forma que a cartografia geológica,

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também as interpretações paleoambientais do Grupo Bauru são muito variáveis,

predominando, contudo, um ambiente fluvial (especialmente para a Formação Adamantina),

com a possibilidade de depósitos de origem lacustre (Formação Araçatuba), configurando

um expressivo sistema playa-lake (ETCHEBEHERE r r., 1993; ETCHEBEHERE r r.,

submetido apud GUEDES r r., 2006). Após longo período de erosão, o quadro

estratigráfico foi completado com depósitos quaternários associados à rede fluvial,

representados por planícies aluviais atuais e terraços de acumulação subatuais, bem como

por depósitos originados a partir da evolução das vertentes, sendo, neste caso, menos

expressivos e tendo como referências as rampas coluviais e alvéolos preenchidos por

material colúvio aluvionar (STEIN, 1999 apud GUEDES ET AL., 2006).

O estudo estratigráfico realizado por Saad r r. (1988 apud PAULA e SILVA, F.;

CHANG H. K & CAETANO-CHANG M. R. 2003), reuniu cerca de 100 perfis geofísicos de

poços perfurados no Grupo Bauru, no Estado de São Paulo. Estes autores individualizaram

cinco “eletrofácies” que poderiam corresponder às unidades estratigráficas Caiuá, Santo

Anastácio e Adamantina (esta última subdividida em três subunidades). Estas três primeiras

unidades encontram-se representadas na área de estudo como mostra a figura 2, extraída

do mapa geológico do Estado de São Paulo (SÃO PALO- IPT, 1981 apud CARVALHO,

1997).

Figura 2: adaptação do mapa geológico do IPT, 1981 (CARVALHO, 1997), sem escala.

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Identificação das unidades geomorfológicas previamente mapeadas na área:

Com base no Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo, proposto por Ross

e Moroz (1997), as principais características dos tipos de relevo correspondentes à área da

Bacia do Rio Santo Anastácio puderam ser identificadas (figura 3). A região está inserida na

unidade morfoestrutural da Bacia Sedimentar do Paraná, com pequena faixa deposicional

que compõe a unidade morfoestrutural das Bacias Sedimentares Cenozóicas.

Figura 3: caracterização geomorfológica da área de estudo. Fonte: Ross e Moroz (1997).

A unidade morfoestrutural da Bacia Sedimentar do Paraná é predominante, tendo

como unidade morfoescultural predominante o Planalto Ocidental Paulista, com o tipo de

relevo Planalto Centro-Ocidental, característico por suas colinas amplas e baixas com

declividades variando entre 10 a 20% e altimetrias entre 300 a 600 m, que levando em conta

sua natureza genética apresenta alguns padrões semelhantes que fora identificados na

área:

Dc13: caracteriza-se por vales entalhados e densidade de drenagem média a

alta, sendo áreas sujeitas a forte atividade erosiva.

Dc14: caracterizado por formas muito dissecadas, com vales entalhados

associados a vales pouco entalhados, com alta densidade de drenagem. São áreas sujeitas

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a processos erosivos agressivos, com probabilidade de ocorrência de movimentos de massa

e erosão linear com voçorocas.

Dc15: com formas de dissecação muito intensa, possui vales de entalhamento

pequeno e densidade de drenagem alta, ou vales muito entalhados com densidades de

drenagem menores. São áreas sujeitas a processos erosivos agressivos, inclusive com

movimentos de massa.

Dc23: caracteriza-se por formas de dissecação média a alta, com vales

entalhados e densidade de drenagem média a alta. São áreas sujeitas à forte atividade

erosiva.

Dt11: Possui formas muito pouco dissecadas a planas, com vales pouco

entalhados e baixa densidade de drenagem. Tem, desta forma, potencial erosivo muito

baixo.

Quanto à segunda unidade morfoestrutural, as Bacias Sedimentares Cenozóicas,

apresentando como unidade morfoescultural o domínio das Planícies Fluviais Da Bacia Do

Rio Paraná, que se fazem características por seu relevo de planícies e terraços fluviais com

declividades menores que 2% e que levando em conta sua natureza genética (Apf), podem

ser inferidas como áreas sujeitas a inundações periódicas, lençol freático pouco profundo e

sedimentos inconsolidados sujeitos a acomodações; é no caso representada pela Planície

Fluvial do Rio Santo Anastácio.

Avaliação das densidades de drenagem na Bacia Hidrográfica

A densidade de drenagem é, reconhecidamente, uma das variáveis mais

importantes para a análise morfométrica das bacias de drenagem, representando o grau de

dissecação topográfica em paisagens elaboradas pela atuação fluvial, ou expressando a

quantidade disponível de canais para o escoamento e o controle exercido pelas estruturas

geológicas (CHRISTOFOLETTI, 1981 apud SILVA; MELO; CORRÊA, 2009). É válido

destacar, que o cálculo de tal variável, é importante, ainda, por apresentar relação inversa

com o comprimento dos rios. À medida que aumenta o valor numérico da densidade há

diminuição quase proporcional do tamanho dos componentes fluviais das bacias de

drenagem (CHRISTOFOLETTI, 1974).

As técnicas para a realização de análises morfométricas permitem que as áreas

anômalas sejam individualizadas entre baixa e alta densidade de drenagem, podendo refletir

tanto um controle tectônico, ou mesmo pedológico, dependendo das características

inerentes ao substrato e ao tipo de clima predominante (SILVA; MELO; CORRÊA, 2009).

Horton (1945 apud SILVA; MELO; CORRÊA, 2009; CHRISTOFOLLETI, 1974;

DIBIESO, 2006) definiu a densidade de drenagem como a relação entre o comprimento dos

canais e a área da bacia hidrográfica, estabelecendo assim um importante índice

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morfométrico para o estudo dos diversos controles atuantes sobre a drenagem. Este índice

se expressa, pela seguinte fórmula:

Dd = Lb/A

Onde:

Dd = densidade de drenagem;

Lb = comprimento total dos rios ou canais existentes na bacia;

A = área da bacia.

Diante de tais concepções, com o intuito de se confrontar os diferentes dados

morfométricos, geológicos, estruturais e morfológicos, foi calculada a densidade de

drenagem para a bacia. Foram, para tanto, considerados cinco compartimentos (figura 4),

cuja textura observada em imagem de radar SRTM (Shuttle Radar Topography) permitiu a

identificação. Para o cálculo, foram utilizados os dados de drenagem das folhas em escala

1: 50.000 editadas pelo IBGE (folhas Pirapozinho, Presidente Prudente, Presidente

Bernardes, Santo Anastácio, Marabá Paulista, Presidente Venceslau e Presidente Epitácio)

e a eqüidistância entre as curvas de nível é de 20 m. Os resultados são apresentados

abaixo, na tabela 1.

Figura 4: Compartimentos identificados para a realização do cálculo da densidade de drenagem no interior da bacia.

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Tabela 1. Valores de densidade de drenagem nos compartimentos identificados na figura 5.

Trecho da Bacia Comprimento dos Rios

KM

Área relativa

KM2

Densidade de

Drenagem

KM/ KM2

Área 0 1.165,0 661,6 1,761

Área 1 600,1 359,6 1,668

Área 2 337,7 329,3 1,025

Área 3 440,1 391,0 1,125

Área 4 641,8 372,6 1,772

Levantamento de perfis topográficos na Bacia Hidrográfica

O relevo se constitui de uma grande variedade de tipos de encostas, desde

superfícies retilíneas quase verticais, os penhascos, até vertentes tão suavemente

inclinadas que quase se aproximam da horizontalidade. A maior parte das vertentes,

entretanto, apresenta formas convexas-côncavas com ou sem segmentos retilíneos

intercalados (PENTEADO, 1974).

É válido lembrar que as vertentes constituem partes integrantes das bacias

hidrográficas e não podem ser descritas de modo integral sem que se façam considerações

a propósito das relações entre elas e a rede hidrográfica. É impossível considerar as

vertentes e os rios como entidades separadas porque, como membros de um sistema aberto

que é uma bacia de drenagem, estão continuamente em interação. A forma e o ângulo das

vertentes deverão estar ajustados para fornecer a quantidade de detritos que o curso da

água pode transportar. Inversamente, os parâmetros hidráulicos dos cursos de água

deverão estar ajustados para transportar a quantidade de material fornecida pelas vertentes.

Quando o sistema vertente-curso de água está em equilíbrio, então toda a bacia hidrográfica

pode ser considerada como em estado de ajustamento (CHRISTOFOLETTI, 1974).

Em se tratando da referida área de estudo, foram levantados até o momento dois

perfis transversais no interior da bacia, relacionados aos setores 3 e 4.

O relevo guarda em suas linhas gerais, as feições geomorfológicas existentes em

toda região oeste do Estado onde predominam colinas suavemente onduladas entremeadas

por esparsos morrotes residuais rebaixados pela erosão, assim como extensos chapadões

areníticos rebaixados pela erosão (AB’SABER, 1969 apud CARVALHO, 2007).

Analisando o perfil E-F pode-se fazer uma comparação com relação ao G-H, já

que estes se encontram paralelamente setorizados na bacia, entretanto, quando

comparamos os dois mapas de localização de tais perfil (figuras 5 e 6), pode-se notar que

há uma diferença textural entre eles, tendo assim, no perfil G-H, uma maior dissecação do

relevo nesta área, o que lhe confere uma maior densidade de drenagem com relação ao

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perfil E-F, esta diferença é constatada ainda quando da análise da classificação

geomorfológica feita por Ross e Moroz (1997), que dá a estas áreas diferentes

características dentro do quarto táxon, de dissecação do relevo.

No caso ainda do perfil E-F, a morfologia dos fundos de vale são em “V” (em

destaque na figura 5-B). Este perfil apresenta, de maneira geral, três pontos com altitudes

menores que estão relacionados aos três cursos d’água que o perfil atravessa (figura 5-A). A

altitude neste perfil varia entorno de 350 a 400 metros de altitude, normalmente ficando

abaixo dos 400 metros.

O perfil G-H apresenta entalhamento dos vales mais profundos (figura 6) que no

setor anterior (figura 5), mantendo topos acima dos 400 metros de altitude. A altitude no

sentido do vale central do rio Santo Anastácio, sendo que altitude gira em torno de 300 a

430 metros. Desta forma, saindo das áreas de cabeceiras, em direção à jusante, surgem

interflúvios com colinas íngremes que se sucedem, a partir de 400 metros de altitude, até o

fundo dos vales mais entalhados. Este perfil se difere ainda, por apresentar áreas de

declividades acentuadas.

Tais situações podem também evidenciar variações nas características litológicas

e estruturais, refletindo no relevo dos setores, que assim, podem estar influenciando na

morfologia do canal do rio Santo Anastácio. Tal situação será ainda averiguada.

A

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Figura 5: localização do perfil E-F na Bacia do Rio Santo Anastácio (A) e representação do Perfil (B).

A

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B

Figura 6: localização do perfil G-H na Bacia do Rio Santo Anastácio (A). Representação do Perfil G-H referente ao setor 4 (B)

Confecção do Perfil Longitudinal do rio principal:

Uma das representações mais freqüentes dos cursos d’água refere-se aos seus

perfis longitudinais, plotados em gráficos de coordenadas cartesianas, onde a altitude é

lançada no eixo das ordenadas e a extensão da drenagem – ou de seu vale – ocupa o eixo

das abscissas, formando a variável independente. Regra geral, tais gráficos exibem uma

conformação logarítmica, com concavidade para cima e assíntotas longas. Quanto mais

equilibrado for o curso d’água, mais bem ajustado à função logarítmica estará seu perfil

longitudinal, ressaltando-se que o equilíbrio refere-se à estabilidade do comportamento

hidráulico da corrente, fazendo com que não haja erosão do talvegue nem agradação,

havendo, tão somente, passagem de carga sedimentar (bypassing process). Curvas com

menor concavidade, corrugações no perfil, ou mudanças bruscas indicam condições de

desequilíbrio (ETCHEBEHERE, 2004).

Considerando a afirmação de Chistofoletti (1981), de que no perfil longitudinal as

irregularidades de maior magnitude são observadas pela presença de rupturas de declives,

deve-se aqui evidenciar tal questão: “As rupturas de declive constituem uma categoria

morfológica inerente aos cursos de água, denunciando o ajustamento perante as diferenças

litológicas enfrentadas pelos cursos de água em seu caminhar. Conforme as condições

litológicas locais, os processos fluviais esculpem formas distintas” (p. 134).

A elaboração do perfil longitudinal da drenagem do Rio Santo Anastácio teve

como base os dados topográficos das folhas em escala 1: 50.000 editadas pelo IBGE

(folhas Pirapozinho, Presidente Prudente, Presidente Bernardes, Santo Anastácio, Marabá

Paulista, Presidente Venceslau e Presidente Epitácio) e a eqüidistância entre as curvas de

nível é de 20 m. Os cursos d’água foram medidos com auxílio de ferramentas existentes no

software ArcGIS 9.3, que proporcionou os valores das extensões dos segmentos de

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drenagem compreendidos entre curvas de nível subseqüentes. As medidas foram plotadas

em planilha eletrônica no programa Microsoft Office Excel 2007, e seus aplicativos

possibilitaram a confecção do perfil longitudinal. O perfil longitudinal do curso d’água é

mostrado sob a forma de um gráfico de coordenadas cartesianas (figura 7).

Os gráficos de coordenadas cartesianas, como já mencionados, têm a variável

dependente (altitude) lançada no eixo das ordenadas e a variável independente (distância

do trecho à nascente) no eixo das abscissas. Pode-se adotar a escala horizontal aritmética

e/ou logarítmica, sendo que, neste segundo caso, o perfil se aproximará de uma reta

(GUEDES et al., 2006).

Assim, pode-se observar entre os quilômetros 10 e 40 que a curva do perfil

apresenta-se acima da curva de equilíbrio, Observou-se também que há uma inflexão do

perfil próximo à sua foz, que deve ainda ser melhor entendidas.

Figura 7: Perfil longitudinal do rio Santo Anastácio e respectiva curva de equilíbrio.

Geometria Hidráulica em seções transversais:

A geometria hidráulica refere-se ao estudo das relações entre o débito, forma do

canal, carga sedimentar, declividade e velocidade, a partir de algumas mensurações

realizadas nos canais. As mudanças ocorridas no débito implicam alterações e ajustamentos

em diversas variáveis, principalmente na largura, profundidade, velocidade, rugosidade e

concentração dos sedimentos. Para as três primeiras Leopold e Maddock (1953) assinalam

que, sob as condições mais variadas as modificações podem ser decritas através das

seguintes equações (CHRISTOFOLETTI, 1974; 1981):

l = aQb, d = cQf, v = kQm;

onde Q = vazão ou débito da água, l = largura, d = profundidade média e

v = velocidade média.

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A tendência geral, com a elevação do débito em determinada sessão transversal,

é aumentar a velocidade mais rapidamente que a profundidade, enquanto a largura varia

muito pouco (CHRISTOFOLETTI, 1981).

Para uma análise prévia há de se ter em mente que a vazão do rio pode ser

determinada por um aumento de cada variável, lembrando que a vazão sempre aumenta

para jusante, como é possível verificar no comportamento da vazão no próprio gráfico.

Tendo como base a análise os índices b, f e m, pode-se notar que a vazão neste caso fora

influenciada pelas três variáveis de maneira quase uniforme e distribuída no rio Santo

Anastácio. Apresenta, no entanto, um maior controle pela profundidade. Contudo, é

necessária uma melhor análise dos dados e mais medidas sistemáticas para um melhor

entendimento das variações desse relacionamento ao longo do rio.

Figuras 10: Relacionamento entre a descarga e as varáveis largura, profundidade e velocidade ao longo do curso principal da Bacia do Rio Santo Anastácio - geometria hidráulica em sua variação espacial – índices b, f e m.

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RESULTADOS PRELIMINARES:

A Bacia do Rio Santo Anastácio tem uma geomorfologia caracterizada

predominantemente por suas colinas amplas e baixas e altimetrias entre 300 a 600 m, ainda

contando com a presença das planícies fluviais do rio Paraná que se fazem características

por seu relevo de planícies e terraços fluviais.

Em se tratando das densidades de drenagem aqui encontradas, estas dão um

quadro de uma bacia em geral bem drenada e relativamente uniforme com relação à

comparação entre os valores encontrados. É claro que em alguns setores a densidade de

drenagem se faz maior, podendo-se ter uma noção de locais de maior dissecação do relevo,

já que estes contêm um maior número de afluentes, e sendo estas áreas,

conseqüentemente importantes de serem identificadas, pois são provavelmente as que

fornecem maior aporte de sedimentos para o canal principal, o Rio Santo Anastácio.

Em geral, o relevo da Bacia do Rio Santo Anastácio tem altitudes que variam

entre 515 m (na cabeceira) e 250 m (na foz), apresentando um desnível de 265 m, numa

extensão de, aproximadamente, 155 km.

Levando em conta as considerações feitas for Guedes et al. (2006) acerca de

possíveis deformações neotectônicas detectadas no curso principal, o rio Santo Anastácio

tem dois trechos que podem ser destacados: o primeiro, entre as cotas 355-320 m, constitui

uma zona em ascensão, pelos critérios adotados pelo autor; o segundo, já no trecho final,

próximo à desembocadura no rio Paraná, mostra-se subsidente. Mas em geral, observou-se

um perfil razoavelmente ajustado, só havendo uma mudança brusca, já anteriormente

tratada, em seu baixo curso.

Quanto aos parâmetros morfométricos, pode-se, num primeiro momento, notar

que a vazão, neste caso, é influenciada pelas três variáveis (velocidade, largura e

profundidade) de maneira bem uniforme. Tem-se ainda, que levar em conta a idéia de

tendência dos rios, em que provavelmente um rio aluvial como este, tende a ter aumento da

largura e profundidade, que são fatores que capacitam o mesmo.

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