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Eixo temático: Geografia Ambiental e da Saúde
ANÁLISE DAS VARIAÇÕES DA MORFOLOGIA DO CANAL DO RIO SANTO ANASTÁCIO EM UMA PERSPECTIVA ESPAÇO-TEMPORAL
Tainá Medeiros Suizu
[email protected] graduanda do curso de Geografia
Universidade Estadual Paulista. FCT - Campus de Presidente Prudente. Bolsista FAPESP
Prof. Dr. Paulo Cesar Rocha
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo identificar as mudanças na morfologia e morfometria do canal do rio Santo Anastácio em uma perspectiva espacial de análise e associá-las aos compartimentos geológicos, geomorfológicos e morfométricos da bacia hidrográfica, assim como aos diferentes usos do solo predominantes. Para tanto, foi feita levantamento das unidades geomorfológicas e geológicas previamente mapeadas na área, levantamento de perfis topográficos, perfil longitudinal do rio, e tabulação de dados morfométricos. Diante dos resultados prévios obtidos, pode-se notar que esta bacia se encontra sob domínio do grupo Bauru, é característica predominantemente por colinas amplas e baixas, sendo em geral uma bacia bem drenada, e, diante da análise do perfil longitudinal do curso principal, pode-se notar que duas deformações neotectônicas, já previstas por alguns autores anteriormente, estão presentes, quanto à análise da geometria hidráulica, esta nos mostrou um curso influenciado de maneira bem uniforme, diante das variáveis que o fazem. Palavras- chave: Rio Santo Anastácio; dinâmica fluvial; morfologia;
INTRODUÇÃO
Os estudos relacionados aos canais fluviais procuram discernir os tipos de
arranjos espaciais que o leito apresenta ao longo do rio, sendo que estes tipos de canais
apresentam mecanismos de ajustagem entre as variáveis implicadas neste sistema
geomorfológico, constituindo respostas que se somam e se entrosam com as relacionadas à
seção transversal e ao perfil longitudinal dos cursos d’água. As formas que os canais
constroem, expressam equilíbrio e ajustagem em função do débito, da carga detrítica, das
condições locais e do desgaste de energia, sendo respostas ajustadas às influências
exercidas pelos fatores, assim, os tipos de uso e ocupação das áreas marginais devem ser
analisados, já que influem diretamente nos processos e a dinâmica observada nos diversos
tipos de canais, para um diagnóstico autêntico da área. (CHRISTOFOLETTI, 1981).
A caracterização dos ambientes fluviais é importante não somente no que
concerne aos recursos hídricos como também do ponto de vista sedimentológico,
geomorfológico e do planejamento ambiental (SUGUIO & BIGARELLA, 1990).
A geomorfologia fluvial coloca-se, na atualidade, entre os setores mais dinâmicos
desse campo científico, tendo como objeto de estudo os rios e bacias hidrográficas, já que
dinâmica e as formas topográficas resultantes da ação fluvial sempre chamaram a atenção
dos pesquisadores. Desde os primórdios da história das geociências são comuns as
menções sobre o trabalho dos rios (CHRISTOFOLETTI, 1981).
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Nos últimos anos, a Geomorfologia tem se caracterizando por enfatizar os
problemas ambientais, tendo em mente que vários componentes e fatores interagem no
sentido de detonar e de dar prosseguimento à degradação ambiental. Assim, ênfase é
colocada na Geomorfologia, que possui um papel integrador para explicar os processos de
degradação (CUNHA & GUERRA, 2000).
Dentro de tal perspectiva faz-se necessária a elaboração de uma pesquisa que
se baseie no diagnóstico da área a ser trabalhada, permeando a análise das variabilidades
espacial e temporal das mudanças de um determinado curso de água, assim como a
compreensão dos mecanismos que promovem o seu dinamismo. Propõe-se, desta forma,
uma real análise do atual estágio evolutivo do sistema fluvial como resposta a processos
geomorfológicos naturais e/ou antrópicos na bacia hidrográfica do rio Santo Anastácio.
ÁREA DE ESTUDO:
A bacia hidrográfica do rio Santo Anastácio situa-se no oeste do Estado de
São Paulo, perfazendo uma área de aproximadamente 2.000 km e abrangendo vários
centros urbanos, como as cidades de Presidente Prudente, Presidente Bernardes, Santo
Anastácio, Presidente Venceslau e Presidente Epitácio (GUEDES et al., 2006) (figura 1).
51°0'0"W51°30'0"W52°0'0"W52°30'0"W53°0'0"W
21°45'0"S
22°0'0"S
22°15'0"S
22°30'0"S
22°45'0"S
Localização da área de estudo
0 20 40 60 8010Km
Legenda
Bacia do rio Santo Anastácio
UGRHI 22
rio Santo Anastácio
Figura 1: Localização da área de estudo – Bacia do rio Santo Anastácio inserida na Unidade de Gerenciamento de Recursos rea cos 22 (UGRHI 22)- Pontal do Paranapanema no Estado de São Paulo.
Segundo Stein (1999 apud GUEDES et al., 2006), a ocupação desta bacia foi
mais intensa a partir da segunda metade do século XX, agregando diversas atividades
antrópicas com desmatamento em larga escala. Esse tipo danoso de ocupação do solo
resultou em inúmeros impactos ambientais negativos, especialmente ligados a processos
erosivos acelerados, laminados e lineares, com o conseqüente assoreamento da rede de
3
drenagem, observando-se colmatação de calhas fluviais com o recobrimento de depósitos
aluviais pretéritos e mesmo de porções de encostas.
Com relação ao meio físico, o clima da região é classificado como tropical
alternadamente úmido e seco, segundo a classificação de Strahler. No âmbito da geologia,
predominam as rochas do Grupo Bauru, a qual a extensão predominante é da formação
Adamantina, que ocorre nas cotas mais elevadas estendendo-se das proximidades do Rio
Paraná e Paranapanema até os limites norte e leste da área de estudo. Em termos
estruturais, a bacia do rio Santo Anastácio encontra-se do âmbito do feixe de lineamentos
de direção NW-SE que compõem a zona do Alinhamento Estrutural de Guapiara
(FERREIRA et al., 1981 apud GUEDES et al., 2006); o alto vale acha-se interceptado pela
Sutura Presidente Prudente, de direção NE-SW (IPT, 1989 apud GUEDES et al., 2006).
OBJETIVOS
O objetivo principal deste projeto é identificar as mudanças na morfologia e
morfometria do canal do rio Santo Anastácio em uma perspectiva espacial de análise e
associá-las aos compartimentos geológicos, geomorfológicos e morfométricos da bacia
hidrográfica, assim como aos diferentes usos do solo predominantes.
ANÁLISE DA BACIA, CANAL PRINCIPAL E METODOLOGIAS APLICADAS.
Foi feito um levantamento bibliográfico acerca de teorias e procedimentos metodológicos
para a análise ambiental de bacias hidrográficas, mais especificamente, tratando de temas
inerentes à geomorfologia e a sua vertente relacionada ao estudo dos ambientes fluviais, à
compreensão dos processos morfogenéticos, a análise integrada de sistemas, a questão da
relação da geomorfologia com o homem e o meio, entre outros temas que subsidiaram
teoricamente o trabalho que está sendo executado. Fora, desta forma, de grande valia
consultas como o Mapa Geomorfológico do Estado de são Paulo (ROSS, 1997),
Geomorfologia Fluvial (CRISTOFOLETTI, 1974; 1981), Ambientes Fluviais (SUGUIO &
BIGARELLA, 1990), dentre outras obras.
Caracterização geológica e estrutural na Bacia Hidrográfica:
A bacia do rio Santo Anastácio está localizada em domínios do Grupo Bauru, do
Cretáceo Superior da Bacia Sedimentar do Paraná, sendo que esta constitui-se uma
entidade geotectônica de abrangência mercosulina estabelecida no interior da Plataforma
Sul- Americana. O Grupo Bauru, por seu turno, coroa o registro sedimentar cretáceo, sendo
formado por arenitos muito finos a finos, intercalados com lamitos, lamitos arenosos, siltitos
e conglomerados intraformacionais, ricos em estruturas sedimentares (estratificações
cruzadas de pequeno porte, acamamento plano-paralelo, ripples, rea balls, bioturbação,
etc.), que são atribuídos à Formação Adamantina (senso STEIN r r., 1979; SOARES r
r., 1980 apud GUEDES r r., 2006). Da mesma forma que a cartografia geológica,
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também as interpretações paleoambientais do Grupo Bauru são muito variáveis,
predominando, contudo, um ambiente fluvial (especialmente para a Formação Adamantina),
com a possibilidade de depósitos de origem lacustre (Formação Araçatuba), configurando
um expressivo sistema playa-lake (ETCHEBEHERE r r., 1993; ETCHEBEHERE r r.,
submetido apud GUEDES r r., 2006). Após longo período de erosão, o quadro
estratigráfico foi completado com depósitos quaternários associados à rede fluvial,
representados por planícies aluviais atuais e terraços de acumulação subatuais, bem como
por depósitos originados a partir da evolução das vertentes, sendo, neste caso, menos
expressivos e tendo como referências as rampas coluviais e alvéolos preenchidos por
material colúvio aluvionar (STEIN, 1999 apud GUEDES ET AL., 2006).
O estudo estratigráfico realizado por Saad r r. (1988 apud PAULA e SILVA, F.;
CHANG H. K & CAETANO-CHANG M. R. 2003), reuniu cerca de 100 perfis geofísicos de
poços perfurados no Grupo Bauru, no Estado de São Paulo. Estes autores individualizaram
cinco “eletrofácies” que poderiam corresponder às unidades estratigráficas Caiuá, Santo
Anastácio e Adamantina (esta última subdividida em três subunidades). Estas três primeiras
unidades encontram-se representadas na área de estudo como mostra a figura 2, extraída
do mapa geológico do Estado de São Paulo (SÃO PALO- IPT, 1981 apud CARVALHO,
1997).
Figura 2: adaptação do mapa geológico do IPT, 1981 (CARVALHO, 1997), sem escala.
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Identificação das unidades geomorfológicas previamente mapeadas na área:
Com base no Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo, proposto por Ross
e Moroz (1997), as principais características dos tipos de relevo correspondentes à área da
Bacia do Rio Santo Anastácio puderam ser identificadas (figura 3). A região está inserida na
unidade morfoestrutural da Bacia Sedimentar do Paraná, com pequena faixa deposicional
que compõe a unidade morfoestrutural das Bacias Sedimentares Cenozóicas.
Figura 3: caracterização geomorfológica da área de estudo. Fonte: Ross e Moroz (1997).
A unidade morfoestrutural da Bacia Sedimentar do Paraná é predominante, tendo
como unidade morfoescultural predominante o Planalto Ocidental Paulista, com o tipo de
relevo Planalto Centro-Ocidental, característico por suas colinas amplas e baixas com
declividades variando entre 10 a 20% e altimetrias entre 300 a 600 m, que levando em conta
sua natureza genética apresenta alguns padrões semelhantes que fora identificados na
área:
Dc13: caracteriza-se por vales entalhados e densidade de drenagem média a
alta, sendo áreas sujeitas a forte atividade erosiva.
Dc14: caracterizado por formas muito dissecadas, com vales entalhados
associados a vales pouco entalhados, com alta densidade de drenagem. São áreas sujeitas
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a processos erosivos agressivos, com probabilidade de ocorrência de movimentos de massa
e erosão linear com voçorocas.
Dc15: com formas de dissecação muito intensa, possui vales de entalhamento
pequeno e densidade de drenagem alta, ou vales muito entalhados com densidades de
drenagem menores. São áreas sujeitas a processos erosivos agressivos, inclusive com
movimentos de massa.
Dc23: caracteriza-se por formas de dissecação média a alta, com vales
entalhados e densidade de drenagem média a alta. São áreas sujeitas à forte atividade
erosiva.
Dt11: Possui formas muito pouco dissecadas a planas, com vales pouco
entalhados e baixa densidade de drenagem. Tem, desta forma, potencial erosivo muito
baixo.
Quanto à segunda unidade morfoestrutural, as Bacias Sedimentares Cenozóicas,
apresentando como unidade morfoescultural o domínio das Planícies Fluviais Da Bacia Do
Rio Paraná, que se fazem características por seu relevo de planícies e terraços fluviais com
declividades menores que 2% e que levando em conta sua natureza genética (Apf), podem
ser inferidas como áreas sujeitas a inundações periódicas, lençol freático pouco profundo e
sedimentos inconsolidados sujeitos a acomodações; é no caso representada pela Planície
Fluvial do Rio Santo Anastácio.
Avaliação das densidades de drenagem na Bacia Hidrográfica
A densidade de drenagem é, reconhecidamente, uma das variáveis mais
importantes para a análise morfométrica das bacias de drenagem, representando o grau de
dissecação topográfica em paisagens elaboradas pela atuação fluvial, ou expressando a
quantidade disponível de canais para o escoamento e o controle exercido pelas estruturas
geológicas (CHRISTOFOLETTI, 1981 apud SILVA; MELO; CORRÊA, 2009). É válido
destacar, que o cálculo de tal variável, é importante, ainda, por apresentar relação inversa
com o comprimento dos rios. À medida que aumenta o valor numérico da densidade há
diminuição quase proporcional do tamanho dos componentes fluviais das bacias de
drenagem (CHRISTOFOLETTI, 1974).
As técnicas para a realização de análises morfométricas permitem que as áreas
anômalas sejam individualizadas entre baixa e alta densidade de drenagem, podendo refletir
tanto um controle tectônico, ou mesmo pedológico, dependendo das características
inerentes ao substrato e ao tipo de clima predominante (SILVA; MELO; CORRÊA, 2009).
Horton (1945 apud SILVA; MELO; CORRÊA, 2009; CHRISTOFOLLETI, 1974;
DIBIESO, 2006) definiu a densidade de drenagem como a relação entre o comprimento dos
canais e a área da bacia hidrográfica, estabelecendo assim um importante índice
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morfométrico para o estudo dos diversos controles atuantes sobre a drenagem. Este índice
se expressa, pela seguinte fórmula:
Dd = Lb/A
Onde:
Dd = densidade de drenagem;
Lb = comprimento total dos rios ou canais existentes na bacia;
A = área da bacia.
Diante de tais concepções, com o intuito de se confrontar os diferentes dados
morfométricos, geológicos, estruturais e morfológicos, foi calculada a densidade de
drenagem para a bacia. Foram, para tanto, considerados cinco compartimentos (figura 4),
cuja textura observada em imagem de radar SRTM (Shuttle Radar Topography) permitiu a
identificação. Para o cálculo, foram utilizados os dados de drenagem das folhas em escala
1: 50.000 editadas pelo IBGE (folhas Pirapozinho, Presidente Prudente, Presidente
Bernardes, Santo Anastácio, Marabá Paulista, Presidente Venceslau e Presidente Epitácio)
e a eqüidistância entre as curvas de nível é de 20 m. Os resultados são apresentados
abaixo, na tabela 1.
Figura 4: Compartimentos identificados para a realização do cálculo da densidade de drenagem no interior da bacia.
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Tabela 1. Valores de densidade de drenagem nos compartimentos identificados na figura 5.
Trecho da Bacia Comprimento dos Rios
KM
Área relativa
KM2
Densidade de
Drenagem
KM/ KM2
Área 0 1.165,0 661,6 1,761
Área 1 600,1 359,6 1,668
Área 2 337,7 329,3 1,025
Área 3 440,1 391,0 1,125
Área 4 641,8 372,6 1,772
Levantamento de perfis topográficos na Bacia Hidrográfica
O relevo se constitui de uma grande variedade de tipos de encostas, desde
superfícies retilíneas quase verticais, os penhascos, até vertentes tão suavemente
inclinadas que quase se aproximam da horizontalidade. A maior parte das vertentes,
entretanto, apresenta formas convexas-côncavas com ou sem segmentos retilíneos
intercalados (PENTEADO, 1974).
É válido lembrar que as vertentes constituem partes integrantes das bacias
hidrográficas e não podem ser descritas de modo integral sem que se façam considerações
a propósito das relações entre elas e a rede hidrográfica. É impossível considerar as
vertentes e os rios como entidades separadas porque, como membros de um sistema aberto
que é uma bacia de drenagem, estão continuamente em interação. A forma e o ângulo das
vertentes deverão estar ajustados para fornecer a quantidade de detritos que o curso da
água pode transportar. Inversamente, os parâmetros hidráulicos dos cursos de água
deverão estar ajustados para transportar a quantidade de material fornecida pelas vertentes.
Quando o sistema vertente-curso de água está em equilíbrio, então toda a bacia hidrográfica
pode ser considerada como em estado de ajustamento (CHRISTOFOLETTI, 1974).
Em se tratando da referida área de estudo, foram levantados até o momento dois
perfis transversais no interior da bacia, relacionados aos setores 3 e 4.
O relevo guarda em suas linhas gerais, as feições geomorfológicas existentes em
toda região oeste do Estado onde predominam colinas suavemente onduladas entremeadas
por esparsos morrotes residuais rebaixados pela erosão, assim como extensos chapadões
areníticos rebaixados pela erosão (AB’SABER, 1969 apud CARVALHO, 2007).
Analisando o perfil E-F pode-se fazer uma comparação com relação ao G-H, já
que estes se encontram paralelamente setorizados na bacia, entretanto, quando
comparamos os dois mapas de localização de tais perfil (figuras 5 e 6), pode-se notar que
há uma diferença textural entre eles, tendo assim, no perfil G-H, uma maior dissecação do
relevo nesta área, o que lhe confere uma maior densidade de drenagem com relação ao
9
perfil E-F, esta diferença é constatada ainda quando da análise da classificação
geomorfológica feita por Ross e Moroz (1997), que dá a estas áreas diferentes
características dentro do quarto táxon, de dissecação do relevo.
No caso ainda do perfil E-F, a morfologia dos fundos de vale são em “V” (em
destaque na figura 5-B). Este perfil apresenta, de maneira geral, três pontos com altitudes
menores que estão relacionados aos três cursos d’água que o perfil atravessa (figura 5-A). A
altitude neste perfil varia entorno de 350 a 400 metros de altitude, normalmente ficando
abaixo dos 400 metros.
O perfil G-H apresenta entalhamento dos vales mais profundos (figura 6) que no
setor anterior (figura 5), mantendo topos acima dos 400 metros de altitude. A altitude no
sentido do vale central do rio Santo Anastácio, sendo que altitude gira em torno de 300 a
430 metros. Desta forma, saindo das áreas de cabeceiras, em direção à jusante, surgem
interflúvios com colinas íngremes que se sucedem, a partir de 400 metros de altitude, até o
fundo dos vales mais entalhados. Este perfil se difere ainda, por apresentar áreas de
declividades acentuadas.
Tais situações podem também evidenciar variações nas características litológicas
e estruturais, refletindo no relevo dos setores, que assim, podem estar influenciando na
morfologia do canal do rio Santo Anastácio. Tal situação será ainda averiguada.
A
10
Figura 5: localização do perfil E-F na Bacia do Rio Santo Anastácio (A) e representação do Perfil (B).
A
11
B
Figura 6: localização do perfil G-H na Bacia do Rio Santo Anastácio (A). Representação do Perfil G-H referente ao setor 4 (B)
Confecção do Perfil Longitudinal do rio principal:
Uma das representações mais freqüentes dos cursos d’água refere-se aos seus
perfis longitudinais, plotados em gráficos de coordenadas cartesianas, onde a altitude é
lançada no eixo das ordenadas e a extensão da drenagem – ou de seu vale – ocupa o eixo
das abscissas, formando a variável independente. Regra geral, tais gráficos exibem uma
conformação logarítmica, com concavidade para cima e assíntotas longas. Quanto mais
equilibrado for o curso d’água, mais bem ajustado à função logarítmica estará seu perfil
longitudinal, ressaltando-se que o equilíbrio refere-se à estabilidade do comportamento
hidráulico da corrente, fazendo com que não haja erosão do talvegue nem agradação,
havendo, tão somente, passagem de carga sedimentar (bypassing process). Curvas com
menor concavidade, corrugações no perfil, ou mudanças bruscas indicam condições de
desequilíbrio (ETCHEBEHERE, 2004).
Considerando a afirmação de Chistofoletti (1981), de que no perfil longitudinal as
irregularidades de maior magnitude são observadas pela presença de rupturas de declives,
deve-se aqui evidenciar tal questão: “As rupturas de declive constituem uma categoria
morfológica inerente aos cursos de água, denunciando o ajustamento perante as diferenças
litológicas enfrentadas pelos cursos de água em seu caminhar. Conforme as condições
litológicas locais, os processos fluviais esculpem formas distintas” (p. 134).
A elaboração do perfil longitudinal da drenagem do Rio Santo Anastácio teve
como base os dados topográficos das folhas em escala 1: 50.000 editadas pelo IBGE
(folhas Pirapozinho, Presidente Prudente, Presidente Bernardes, Santo Anastácio, Marabá
Paulista, Presidente Venceslau e Presidente Epitácio) e a eqüidistância entre as curvas de
nível é de 20 m. Os cursos d’água foram medidos com auxílio de ferramentas existentes no
software ArcGIS 9.3, que proporcionou os valores das extensões dos segmentos de
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drenagem compreendidos entre curvas de nível subseqüentes. As medidas foram plotadas
em planilha eletrônica no programa Microsoft Office Excel 2007, e seus aplicativos
possibilitaram a confecção do perfil longitudinal. O perfil longitudinal do curso d’água é
mostrado sob a forma de um gráfico de coordenadas cartesianas (figura 7).
Os gráficos de coordenadas cartesianas, como já mencionados, têm a variável
dependente (altitude) lançada no eixo das ordenadas e a variável independente (distância
do trecho à nascente) no eixo das abscissas. Pode-se adotar a escala horizontal aritmética
e/ou logarítmica, sendo que, neste segundo caso, o perfil se aproximará de uma reta
(GUEDES et al., 2006).
Assim, pode-se observar entre os quilômetros 10 e 40 que a curva do perfil
apresenta-se acima da curva de equilíbrio, Observou-se também que há uma inflexão do
perfil próximo à sua foz, que deve ainda ser melhor entendidas.
Figura 7: Perfil longitudinal do rio Santo Anastácio e respectiva curva de equilíbrio.
Geometria Hidráulica em seções transversais:
A geometria hidráulica refere-se ao estudo das relações entre o débito, forma do
canal, carga sedimentar, declividade e velocidade, a partir de algumas mensurações
realizadas nos canais. As mudanças ocorridas no débito implicam alterações e ajustamentos
em diversas variáveis, principalmente na largura, profundidade, velocidade, rugosidade e
concentração dos sedimentos. Para as três primeiras Leopold e Maddock (1953) assinalam
que, sob as condições mais variadas as modificações podem ser decritas através das
seguintes equações (CHRISTOFOLETTI, 1974; 1981):
l = aQb, d = cQf, v = kQm;
onde Q = vazão ou débito da água, l = largura, d = profundidade média e
v = velocidade média.
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A tendência geral, com a elevação do débito em determinada sessão transversal,
é aumentar a velocidade mais rapidamente que a profundidade, enquanto a largura varia
muito pouco (CHRISTOFOLETTI, 1981).
Para uma análise prévia há de se ter em mente que a vazão do rio pode ser
determinada por um aumento de cada variável, lembrando que a vazão sempre aumenta
para jusante, como é possível verificar no comportamento da vazão no próprio gráfico.
Tendo como base a análise os índices b, f e m, pode-se notar que a vazão neste caso fora
influenciada pelas três variáveis de maneira quase uniforme e distribuída no rio Santo
Anastácio. Apresenta, no entanto, um maior controle pela profundidade. Contudo, é
necessária uma melhor análise dos dados e mais medidas sistemáticas para um melhor
entendimento das variações desse relacionamento ao longo do rio.
Figuras 10: Relacionamento entre a descarga e as varáveis largura, profundidade e velocidade ao longo do curso principal da Bacia do Rio Santo Anastácio - geometria hidráulica em sua variação espacial – índices b, f e m.
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RESULTADOS PRELIMINARES:
A Bacia do Rio Santo Anastácio tem uma geomorfologia caracterizada
predominantemente por suas colinas amplas e baixas e altimetrias entre 300 a 600 m, ainda
contando com a presença das planícies fluviais do rio Paraná que se fazem características
por seu relevo de planícies e terraços fluviais.
Em se tratando das densidades de drenagem aqui encontradas, estas dão um
quadro de uma bacia em geral bem drenada e relativamente uniforme com relação à
comparação entre os valores encontrados. É claro que em alguns setores a densidade de
drenagem se faz maior, podendo-se ter uma noção de locais de maior dissecação do relevo,
já que estes contêm um maior número de afluentes, e sendo estas áreas,
conseqüentemente importantes de serem identificadas, pois são provavelmente as que
fornecem maior aporte de sedimentos para o canal principal, o Rio Santo Anastácio.
Em geral, o relevo da Bacia do Rio Santo Anastácio tem altitudes que variam
entre 515 m (na cabeceira) e 250 m (na foz), apresentando um desnível de 265 m, numa
extensão de, aproximadamente, 155 km.
Levando em conta as considerações feitas for Guedes et al. (2006) acerca de
possíveis deformações neotectônicas detectadas no curso principal, o rio Santo Anastácio
tem dois trechos que podem ser destacados: o primeiro, entre as cotas 355-320 m, constitui
uma zona em ascensão, pelos critérios adotados pelo autor; o segundo, já no trecho final,
próximo à desembocadura no rio Paraná, mostra-se subsidente. Mas em geral, observou-se
um perfil razoavelmente ajustado, só havendo uma mudança brusca, já anteriormente
tratada, em seu baixo curso.
Quanto aos parâmetros morfométricos, pode-se, num primeiro momento, notar
que a vazão, neste caso, é influenciada pelas três variáveis (velocidade, largura e
profundidade) de maneira bem uniforme. Tem-se ainda, que levar em conta a idéia de
tendência dos rios, em que provavelmente um rio aluvial como este, tende a ter aumento da
largura e profundidade, que são fatores que capacitam o mesmo.
BIBLIOGRAFIA:
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São Paulo, 1974.
CHISTOFOLETTI, A.- Geomorfologia Fluvial. São Paulo:Edgard Blucher, 1981.
15
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