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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI PEDRO ALVES CABRAL FILHO ANÁLISE DA VIABILIDADE DE UM CENTRO DE TRANSPLANTE PULMONAR EM SANTA CATARINA Itajaí 2013

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

PEDRO ALVES CABRAL FILHO

ANÁLISE DA VIABILIDADE DE UM CENTRO DE TRANSPLANTE PULMONAR EM

SANTA CATARINA

Itajaí

2013

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PEDRO ALVES CABRAL FILHO

ANÁLISE DA VIABILIDADE DE UM CENTRO DE TRANSPLANTE PULMONAR EM

SANTA CATARINA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Gestão de Políticas Públicas, da Universidade do Vale do Itajaí como requisito para a qualificação no Curso de Mestrado em Gestão de Políticas Públicas. Área de concentração: Gestão de Políticas Públicas – instituições, cultura e sustentabilidade. Orientador: Prof. Dr. Cláudio Reis

Gonçalo.

Itajaí

2013

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FOLHA DE APROVAÇÃO

PEDRO ALVES CABRAL FILHO

ANÁLISE DA VIABILIDADE DE UM CENTRO DE TRANSPLANTE PULMONAR EM

SANTA CATARINA

Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre em Gestão de Políticas Públicas e aprovada pelo Programa de Pós-graduação em Gestão de Políticas Públicas da Universidade do Vale do Itajaí. Área de concentração: Gestão de Políticas Públicas – instituições, cultura e sustentabilidade.

Itajaí, 19 de dezembro de 2012

Prof. Dr. Cláudio Reis Gonçalo. Orientador

Prof. Dr. Flavio Ramos Avaliador 1 UNIVALI

Prof. Dr. Claudio Reis Gonçalo Avaliador 2 UNIVALI

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AGRADECIMENTOS

Aos funcionários e aos professores do mestrado por toda ajuda e orientação.

Ao Prof. Claudio Gonçalo, pela orientação nesta jornada.

Ao meu novo amigo, Flavio Magajewski, pelo seu apoio e presteza.

Ao meu grande amigo, Joel de Andrade, por sua amizade e parceria incondicional.

Aos meus pais, irmãos e sobrinhos, por serem a minha referência de respeito à vida

e às pessoas.

Ao meu filho, por ser minha fonte inspiradora para aprender e lutar por um mundo

melhor.

À minha esposa e companheira, por ser a base e o alicerce de todas as minhas

conquistas.

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Os desafios nos ajudam a descobrir coisas que não sabíamos sobre nós mesmos.

- Cecily Tyson -

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RESUMO

O transplante pulmonar tem se consolidado nos últimos 20 anos como uma opção

de tratamento de sucesso para uma variedade de doenças pulmonares em estágios

finais. Diversos estudos têm demonstrado a melhora da qualidade de vida, a função

pulmonar e a satisfação dos pacientes transplantados quando comparados com

aqueles pacientes que estão na fila de espera para um transplante. O Estado de

Santa Catarina não realiza transplante pulmonar e encaminha os pacientes que

necessitam deste procedimento para o Rio Grande do Sul. Objetivo: Avaliar a

viabilidade de implantação de um serviço de transplante pulmonar em Santa

Catarina. Metodologia: O estudo foi realizado em cooperação com a central de

transplantes de Santa Catarina, a diretoria de educação permanente em saúde da

Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina e o Centro de Transplante do

Hospital Santa Casa de Porto Alegre – RS. Utilizou-se a Metodologia de Multicritério

de Apoio à Decisão (MCDA), e foram identificados elementos fundamentais de

análise ou critérios utilizados para avaliar a viabilidade de implantação de um serviço

de transplante pulmonar no Estado de Santa Catarina, os quais foram agrupados em

elementos primários de avaliação (EPAs). Resultados: Em relação à demanda de

transplantes, em função de sua população, Santa Catarina permanece com uma

perspectiva menor que a do Rio Grande do Sul – 15 a 32 procedimentos/anos em

Santa Catarina e 82 a 137 procedimentos/ano no Rio Grande do Sul. Quanto ao

número de pulmões disponibilizados, Santa Catarina possui uma estimativa de

geração de enxertos de 10 pulmões/ano, enquanto a estimativa do Rio Grande do

Sul é de 25 pulmões/ano; o tempo em fila de espera para um transplante e a sua

mortalidade foram favoráveis à Santa Catarina, por ter fila própria e menos pacientes

em lista, porém nossa população de base para procura de órgãos seria menor; o

custo financeiro para a implantação do serviço foi desfavorável, se comparado a

manter um paciente no Rio Grande do Sul; a curva de aprendizado mostrou-se um

obstáculo grande a ser vencido, em função do tamanho da população de Santa

Catarina e dos seus reflexos na demanda de transplante, e por ser o Rio Grande do

Sul o serviço com maior experiência de enxertos com uma média de 27

procedimentos ao ano; o custo de manutenção do serviço em Santa Catarina

mostrou-se desfavorável, se comparado ao custo atual de manter o paciente no RS,

além disso, o serviço de referência do Rio Grande do Sul possui a melhor relação

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custo-financiamento possível pelas normas do SUS; o número de pulmões

efetivamente transplantados e a taxa de aceitação dos órgãos disponibilizados foram

favoráveis ao serviço de transplante em Santa Catarina, com melhora do

aproveitamento dos pulmões aqui gerados e ofertados; a sobrevida dos pacientes

pós-transplantes mostrou-se desfavorável num primeiro momento para Santa

Catarina, visto que está diretamente relacionado à curva aprendizado e à

experiência da equipe para o controle pós-transplante; o custo econômico final

incorporado ao estado possui um risco potencial de deficit financeiro se não for bem

planejado. Conclusão: A implantação de um serviço próprio de transplante

pulmonar no Estado de Santa Catarina poderia incrementar o aproveitamento dos

enxertos pulmonares com potencial redução do tempo e da mortalidade em lista de

espera, porém é uma opção inquestionavelmente mais onerosa que a de manter os

pacientes em tratamento no Rio Grande do Sul.

Palavras-chave: Transplante pulmonar. Políticas públicas. Viabilidade.

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ABSTRACT

In the last 20 years lung transplantation has become an established and successful

treatment option for a variety of end-stage pulmonary diseases. Several studies have

demonstrated improvement in the quality of life, lung functions and the satisfaction of

the transplant-patients compared with those patients who are on the long waiting list.

The hospitals in the state of Santa Catarina (SC) South of Brazil, do not perform lung

transplantation procedures, therefore patients who need lung transplants are referred

to the hospitals of neighboring state of Rio Grande do Sul (RS). Objective: To

evaluate the feasibility of implementing a service of lung transplantation in the state

of SC. Method: A study was conducted in cooperation with the Transplant Center of

SC, the board of the Permanent Health Education Agency/Office of SC, and, the

Transplant Center of Santa Casa de Porto Alegre Hospital in RS. The study used the

Multicriteria Decision Aid Methodology (MCDA) and it has identified key criteria to

assess the feasibility of implementing a service for lung transplantation in SC. These

criteria were grouped into primary elements of the evaluation (EPAs). Results: With

regard to the demands for lungs transplants, SC remains a smaller prospect than RS

– 15 to 32 procedures per year in SC compared to 82 to 137 procedures per year in

RS. Concerning the availability and accessibility of lung organs, SC has an estimated

generation of 10 lung grafts per year while the estimates of RS are 25 lungs grafts

per year.The study show that long waiting list and mortality favor SC for having their

own waiting list although the ratio of the number of patients and demands for lungs

organs to the base population would be lower.The study show that the financial cost

to implement the service in SC is not favorable if compared to maintaining the patient

in RS. The learning curve proved to be a major obstacle to be overcome, the ratio of

the base population of SC to the demands for lung transplantation, and, RS has more

experience with grafts and an average of 27 procedures per year. Additionally, the

study show the cost of maintaining the center in SC is unfavorable if compared to the

current cost of maintaining the current center in RS. Also the referral service in RS

has a good relationship with SUS (National Health Service) regulation for

financing.The existing number of lungs transplanted procedures and the acceptance

rate of available organs were favorable to the implementation of the transplantation

center in SC specially if combined with improved utilization of the lungs generated

and offered. At first, patient post-transplant survival showed unfavorable for SC,

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since it is directly related to staff learning curve and experience of post-

transplantation procedures. The final economic cost of the center incorporated to the

state has a potential financial impact if not well planned and managed.

Conclusion:The implementation of a lung transplantation service in the state of SC

could increase the usage of lung grafts and potentially reduce waiting times and

waiting list mortality, although it is undeniably more costly option than keeping the

patients lung treatment center in RS.

Keywords: Lung transplantation. Public politics. Feasibility.

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LISTA DE QUADROS E FIGURAS

Quadro 1: Profissionais e experiência mínima exigida para autorização de equipe de

transplante. ................................................. Erro! Indicador não definido.

Quadro 2: Sumário dos custos de treinamento de uma equipe de transplante

pulmonar. ................................................................................................. 76

Quadro 3: Número de transplantes pulmonares realizados no Brasil. ...................... 79

Quadro 4: Vencimentos dos profissionais da saúde. ................................................ 83

Quadro 5: Resumo do Custo Variável do Transplante em Instituição Pública de

Santa Catarina. ........................................... Erro! Indicador não definido.

Quadro 6: Classificação dos estabelecimentos de saúde e percentuais de

incremento na remuneração. ...................... Erro! Indicador não definido.

Quadro 7: Caracterização dos distintos níveis estabelecimentos de saúde. ............. 85

Quadro 8: Comparação entre centro próprio de transplante pulmonar em Santa

Catarina e manutenção do transplante pulmonar no Rio Grande do Sul,

conforme os Elementos Primários de Avaliação (EPAs). ...................... 112

Figura 1: Ciclo da Política Pública. ............................................................................ 22

Figura 2: Sobrevida geral com o transplante de pulmão. ............. Erro! Indicador não

definido.

Figura 3: Mapa cognitivo realizado para avaliação da viabilidade de um serviço de

Transplante Pulmonar. ................................. Erro! Indicador não definido.

Figura 4: Árvore de pontos de vista para análise da viabilidade de um centro de

Transplante Pulmonar. ................................. Erro! Indicador não definido.

Figura 5: Transplantes pulmonares realizados no ano de 2012. ............................... 70

Figura 6: Número de doadores efetivos por milhão de população no ano de 2012...72

Figura 7: Tempo de espera dos pacientes transplantados de pulmão no Estado do

Rio Grande do Sul. .................................................................................... 73

Figura 8: Capacidade instalada para transplantes no Estado de Santa Catarina. Erro!

Indicador não definido.

Figura 9: Transplantes pulmonares realizados no ano de 2010. ............................... 79

Figura 10: Transplantes pulmonares realizados no ano de 2011. ............................. 80

Figura 11: Transplantes pulmonares realizados no ano de 2012. ............................. 81

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Figura 12: Transplantes realizados fora do Estado de Santa Catarina pagos por TFD

em 2011. ................................................................................................... 82

Figura 13: Sobrevida pós-transplante pulmonar........................................................ 87

Figura 14: Relação entre a necessidade estimada de transplante e o número de

procedimentos realizados em 2012. ......................................................... 91

Figura 15: Taxa de doação efetiva por milhão de população e transplantes

realizados nas regiões brasileiras no ano de 2012................................... 92

Figura 16: Número absoluto de transplantes no Brasil em 10 anos. ....................... 108

Figura 17: Ciclo de Políticas Públicas Adaptado. .................................................... 114

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 13

2 OBJETIVOS ........................................................................................................ 20

2.1 Objetivo Geral .............................................................................................. 20

2.2 Objetivos Específicos ................................................................................... 20

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 21

3.1 Políticas Públicas ......................................................................................... 21

3.1.1 Formação da Agenda de Políticas Públicas .......................................... 25

3.1.2 Implementação de Políticas Públicas .................................................... 27

3.1.3 Avaliação das Políticas Públicas ........................................................... 29

3.2 Políticas Públicas de Saúde e Transplante .................................................. 30

3.3 Transplante pulmonar .................................................................................. 38

3.3.1 Complicações ........................................................................................ 41

3.3.2 Captação ............................................................................................... 43

3.3.3 Custos ................................................................................................... 45

4 CONTEXTO DA PESQUISA ............................................................................... 49

5 METODOLOGIA ................................................................................................. 60

6 RESULTADOS ................................................................................................... 62

6.1 Levantamento dos elementos primários de avaliação.................................. 63

6.2 Elaboração do mapa cognitivo ..................................................................... 64

6.3 Determinação dos pontos de vista fundamentais ......................................... 66

6.4 Demanda de transplantes da população de Santa Catarina ........................ 69

6.5 Número de pulmões disponibilizados para transplante pelo sistema de

captação de órgãos. .................................................................................... 71

6.6 Tempo na fila de espera ............................................................................... 72

6.7 Índice de mortalidade na fila de espera ........................................................ 73

6.8 Custos de implantação do serviço ............................................................... 73

6.9 Custo para estruturação/capacitação da equipe multidisciplinar .................. 75

6.10 Concentração de modalidades de transplantes por serviço ......................... 77

6.11 Curva de aprendizado da equipe de transplante .......................................... 78

6.12 Custo de manutenção do serviço ................................................................. 81

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6.13 Número de pulmões efetivamente transplantados pelo serviço de referência

para transplante de pulmão e taxa de aceitação dos órgãos

disponibilizados. .......................................................................................... 86

6.14 Sobrevida pós-transplante ........................................................................... 86

7 DISCUSSÃO ....................................................................................................... 89

7.1 Demanda e Oferta ........................................................................................ 90

7.2 Implantação .................................................................................................. 96

7.2.1 Tempo e mortalidade na fila de espera ................................................. 96

7.2.2 Custo de implantação ............................................................................ 99

7.3 Manutenção ............................................................................................... 102

7.3.1 Curva de Aprendizado ......................................................................... 102

7.3.2 Custo de manutenção .......................................................................... 105

7.4 Eficiência/Eficácia (Qualidade) ................................................................... 107

7.4.1 Número de pulmões efetivamente transplantados e taxa de aceitação.....

............................................................................................................. 107

7.4.2 Sobrevida e qualidade de vida pós-transplante ................................... 109

8 CONCLUSÃO ................................................................................................... 114

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 117

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1 INTRODUÇÃO

O transplante pulmonar é, atualmente, uma modalidade de tratamento eficaz

para pacientes com doenças pulmonares graves, dentre elas a Doença Pulmonar

Obstrutiva Crônica (DPOC), que possui uma prevalência alta na população e é uma

das maiores causas de morbimortalidade, tornando-se por isso uma questão de

saúde pública. Cabe ao governo, dentro de uma política de saúde, analisar a melhor

forma de minimizar ou atenuar o impacto desta doença na população, priorizando o

melhor acesso possível ao tratamento adequado. Santa Catarina possui um dos

melhores índices nacionais em transplantes de órgãos e tecidos, porém não possui

um centro próprio de transplante pulmonar, necessitando encaminhar seus

pacientes ao centro de referência no Rio Grande do Sul. A questão é se a

implantação de um centro de transplante pulmonar próprio facilitaria e melhoraria o

acesso da população catarinense a este tipo de tratamento. O estudo da viabilidade

de um centro de transplante pulmonar no Estado de Santa Catarina pretende

contribuir para o debate e para a análise destes fatores dentro da formulação de

políticas públicas.

Segundo Souza (2007, p. 68), a definição mais clássica de políticas públicas é

atribuída a Lowi: “política pública é uma regra formulada por alguma autoridade

governamental que expressa uma intenção de influenciar, alterar, regular, o

comportamento individual ou coletivo através do uso de sanções positivas ou

negativas”.

[…] Políticas Públicas repercutem na economia e na sociedade, em função disto, qualquer teoria de política pública precisa também explicar as inter-relações entre Estado, política, economia e sociedade. […] Pode-se, então, resumir política pública como o campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, colocar o governo em ação e/ou analisar essa ação e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações. A política pública se caracteriza por um processo dinâmico e de aprendizado formado por vários estágios e área de atuação, e seu ciclo compreende: definição da agenda de governo, identificação de alternativas, avaliação e seleção das opções, implementação e avaliação. (SOUZA, 2007,p. 69).

O processo de formação da agenda de políticas governamentais procura

investigar de que forma uma questão se torna importante em um determinado

momento, chamando a atenção do governo e passando a integrar sua agenda.

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Agenda governamental, para Kingdon (2003 apud CAPELLA, 2007), é definida como

o conjunto de assuntos sobre os quais o governo e as pessoas ligadas a ele

concentram sua atenção em um determinado momento. Fazem parte dela um

subgrupo denominado agenda decisional que contempla questões prontas para uma

decisão ativa dos formuladores de pesquisa, e agendas especializadas que refletem

a natureza setorial da formulação de políticas públicas (saúde, transportes e

educação). A questão dos transplantes de órgãos (em específico do transplante

pulmonar) entraria neste organograma dentro da agenda especializada.

Segundo Kingdon (2003 apud CAPELLA, 2007), a mudança da agenda é

resultado da convergência de três fluxos: problemas, soluções ou alternativas e

política.

Problemas: Como uma determinada questão se torna um problema e passa a

ocupar a agenda governamental? Para Kingdon (2003 apud CAPELLA, 2007), isso

ocorre quando a questão chama a atenção dos participantes de um processo

decisório, despertando a ação por meio de três mecanismos básicos:

a) indicadores (custos de um programa, taxas de mortalidade, variações na folha de

pagamento de servidores, evolução do defict público…) que apontam para a

existência de uma questão que pode se tornar um problema para os

formuladores de política. Exemplo: o custo operacional de um transplante

pulmonar no Estado é viável para se criar um serviço próprio e eliminar a

transferência de pacientes para estados vizinhos?

b) eventos, crise e símbolos: quando são em grandes magnitudes, concentram a

atenção a um determinado assunto;

c) feedback das ações governamentais: o monitoramento dos gastos, o

acompanhamento das atividades de implementação, o cumprimento ou não de

metas, as possíveis reclamações de servidores ou cidadãos… Exemplo: os

gastos do governos estão excedendo ao estipulado para pacientes

transplantados? A atividade de implementação de um setor específico dentro do

governo para transplantes pulmonares pode ser analisada?

Soluções ou alternativas: a geração de alternativas e soluções é avaliada em

comunidades e flutua em um “caldo primitivo de políticas”. As ideias são levadas a

esse “caldo” e alternativas emergem para a consideração dos participantes do

processo decisório. As comunidades geradoras de alternativas são compostas por

especialistas (pesquisadores, assessores parlamentares, acadêmicos, funcionários

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públicos) que compartilham uma preocupação em relação a uma determinada área.

Exemplo: o médico responsável pelo setor de transplante pulmonar observa que

poderia se tentar reduzir custos com um serviço dentro do próprio Estado e

compartilha suas ideias e suas alternativas com autoridades responsáveis na área.

Desta forma, as ideias são difundidas basicamente por meio de persuasão.

Política: aqui as coalizões são construídas por meio de barganha e

negociação política. Três elementos exercem influência neste fluxo:

a) Clima ou humor nacional;

b) Forças políticas organizadas;

c) Mudanças dentro do próprio governo – o melhor período para mudanças na

agenda é o início de um novo governo.

Quando estes três fluxos (problemas, soluções e alternativas, e política) são

reunidos, gera-se uma oportunidade de mudança na agenda. A convergência destes

fluxos é denominada como policy windows (janelas políticas) e é influenciada

diretamento pelo fluxo de problemas e pelo fluxo político. Por outro lado, o fluxo de

soluções, embora não exerça influência sobre a formação da agenda

governamental, é fundamental para que uma questão já presente nesta agenda

tenha acesso à agenda decisional (CAPELLA, 2007).

No caso dos transplantes pulmonares, se esta questão for inserida no fluxo de

problemas (por meio de indicadores que se pretende demonstrar neste trabalho)

num momento de convergência do fluxo político (mudança de governo, por exemplo)

pode passar de agenda especializada para a agenda decisional, quando já se

possuem alternativas e soluções viáveis para o problema. Isto reafirma a

importância do estudo sobre a viabilidade da implantação do serviço próprio de

transplante pulmonar no Estado.

A implantação de um centro de transplante pulmonar em Santa Catarina se

torna relevante a partir do momento que isto proporcione vantagens do ponto de

vista político, social e da saúde. Segundo Chaves (1998), dentro dos outros setores

da sociedade, a saúde tem como objetivo proporcionar à população de um país ou

região um nível mais alto à que se é possível alcançar num dado momento histórico

com os recursos disponíveis. Saúde é parte integrante do bem-estar social. Os

indicadores de saúde, por conseguinte, são componentes essenciais de indicadores

mais complexos de qualidade de vida. São importantes na dimensão econômica da

saúde questões ligadas à eficiência, ao custo-efetividade, à avaliação de tecnologia,

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ao estabelecimento de prioridades, à alocação de recursos, à gestão orientada para

qualidade e resultados.

Doenças que geram um grande impacto na saúde pública, seja pela elevada

incidência, seja pela alta morbimortalidade, seja pelo alto custo, merecem especial

atenção no âmbito das políticas públicas.

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) tem elevada prevalência em

todo o mundo. Estima-se que entre 7-10% da população adulta seja afetada.

Conforme estudo de Miravithes, em 2004, no Brasil, a bronquite crônica, usada

como exemplo de DPOC, tem uma prevalência de 12,7% na população geral adulta.

Num estudo realizado nos Países Baixos por Feenstra et al. em 2011, estimou-se

que, até 2012, o total de anos de vida perdidos por DPOC crescerá 60%, os anos de

vida acometidos por incapacidade crescerão 70% e os custos sanitários por DPOC

aumentarão 90%. Os tabagistas serão os causadores de 90% destes casos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), juntamente com Universidade de

Harvard, desenvolveu um indicador de saúde que permite uma visão conjunta da

mortalidade e da morbidade de determinadas doenças, a qual é expressa em

somatório de anos de vida perdido por morte prematura e anos de vida vividos com

uma doença de duração e severidade especificadas. Dentro disso, seguindo esta

lógica, foram feitas projeções com bases em dados do ano de 1990 para o ano de

2020, e as doenças pulmonares (DPOC, infecções e câncer) figuram entre as cinco

principais cargas de doença para o futuro (CHAVES, 1998).

Sendo assim, por ser uma doença de elevada prevalência, pressupõe uma

grande carga assistencial e demanda uma importante preocupação dentro da

política de saúde pública de cada governo. Ainda, conforme Miravithes (2004), um

paciente com DPOC gera um custo anual direto de U$ 1.200 a U$ 1.800. O custo

relaciona-se com a gravidade da doença: quanto maior a gravidade, maiores os

custos. Em estágios avançados da doença, a hospitalização é a responsável pelos

custos mais elevados. No âmbito brasileiro, o custo médio de uma internação para

essa doença representa equivalência ao valor anual de um tratamento ambulatorial,

cerca de R$ 2.761,00. Estes gastos estão relacionados aos custos diretos de um

paciente portador de DPOC, que pode ser entendido por custos relacionados a um

ciclo específico desta doença: detecção, tratamento, prevenção e reabilitação.

Somam-se ainda os custos indiretos referentes à morbidade e à mortalidade da

doença, e aqui se tenta medir o impacto da doença sobre o aparato produtivo

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nacional: falecimento ou dias de ausência no trabalho.

Particularmente, nas doenças pulmonares crônicas, a qualidade de vida não é

apenas uma mera consequência da sua gravidade: múltiplos fatores que se inter-

relacionam estão envolvidos, e a despeito da introdução de novas modalidades de

tratamento, são responsáveis por um considerável e crescente aumento na

morbimortalidade em países ocidentais (RAMOS; CREPALDI, 2000). A possibilidade

de melhoria da qualidade de vida, por meio de intervenção clínica, tem levado à

ampliação dos objetivos do tratamento das doenças pulmonares para além da

melhora da função do órgão, procurando atuar também na recuperação dos

prejuízos funcionais (falta de ar, cansaço, fraqueza), condições essas que têm

importância indiscutível para o bem-estar dos pacientes.

O transplante pulmonar tem se consolidado nos últimos 20 anos como uma

opção de tratamento de sucesso para uma variedade de doenças pulmonares em

estágios finais, a saber DPOC, Fibrose Cística e Hipertensão Pulmonar (CAMARGO,

2006). Baseia-se na retirada cirúrgica de um ou dois pulmões doentes do paciente

receptor e colocação de um ou dos dois pulmões sadios em um paciente doador.

Para aqueles enfermos com pneumopatia terminal, o transplante é a única opção

terapêutica capaz de evitar a morte, em poucos meses, oferecendo expectativa de

uma nova vida.

Nestes últimos anos, esta atividade vem crescendo e evoluindo rapidamente,

com o refinamento das técnicas cirúrgicas e a descoberta de novas drogas

imunossupressoras (LAU; PATTERSON, 2003; TRULOCK et al., 2006). Diversos

estudos têm demonstrado a melhora da qualidade de vida, a função pulmonar e a

satisfação dos pacientes transplantados, quando comparados com aqueles

pacientes que estão na fila de espera para um transplante (LANUZA et al., 2000;

LAU; PATTERSON, 2003; LIMBOS et al., 2000; TENVERGERT et al., 1998; VAN

DER BIJ; REYNAUD-GAUBERT, 2009). Apesar dos avanços, há muito ainda por

evoluir nesta área e algumas dificuldades ainda fazem deste tipo de transplante um

dos menos realizados no Brasil (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTE...,

2012; CAMARGO; CARMORI, 2001; PEGO-FERNANDES; GARCIA, 2010;).

O Estado de Santa Catarina não realiza transplante pulmonar. No Brasil,

existem cinco estados que possuem centro de transplante pulmonar: São Paulo,

Minas Gerais, Ceará, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. As outras regiões do país

necessitam transportar seus pacientes a esses estados em busca desta modalidade

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terapêutica no momento em que se consegue o órgão a ser transplantado. Santa

Catarina encaminha seus pacientes para o Rio Grande do Sul.

A situação atual dos tranplantes pulmonares encontra-se hoje dentro de um

subsistema estável, na qual os pacientes que necessitam deste procedimento são

encaminhados aos estados que possuem um centro especializado. Se a questão da

implantação de um serviço próprio conseguisse ascender o macrosistema (seja por

uma suposta mudança na percepção da questão que a transformasse em problema,

ou por uma mobilização da opinião pública), o subsistema acataria esta mudança e

promoveria reorganizações institucionais que poderiam tornar-se posteriormente

estáveis e aceitas como definitiva.

Uma série de estudos está disponível para orientar a decisão em relação a

alternativas para investimentos em políticas e intervenções na área da saúde.

Inúmeros trabalhos utilizam estimativas sobre a eficácia e o custo-efetividade de

intervenções, indicando as melhores opções para a gestão. No entanto, as análises

com origem na economia são resistentes à inclusão de outros critérios que possam

também desempenhar papéis importantes na tomada de decisão eficaz, como

preocupações éticas e sociais. Como exemplo, é possível que a preferência da

sociedade em determinado momento histórico possa incluir outros objetivos que não

só os relacionados com a eficiência, mas com a ampliação dos serviços para

pacientes graves ou hoje fora das possibilidades terapêuticas. Por conta disso,

optou-se por utilizar uma metodologia de análise do objeto de pesquisa por múltiplos

critérios de apoio à decisão (MCDA), para permitir a incorporação de outros critérios,

além da eficácia e do custo-efetividade no processo de tomada de decisão para a

implantação de serviço de transplante de pulmão em Santa Catarina.

Como ponto de partida para a construção da matriz de desempenho, as

opções de investimento elegíveis para a implementação são identificadas. No nosso

caso, as opções foram utilizar as informações do serviço de transplante de pulmão

localizado em Porto Alegre (RS) ou investir para criar um novo serviço no Estado de

Santa Catarina.

Em seguida, os critérios que compuseram a matriz de decisão foram

estabelecidos. Tendo em vista o caráter acadêmico da dissertação, os critérios

selecionados foram escolhidos a partir de reuniões técnicas com gestores

responsáveis pela coordenação do sistema de captação e doação de órgãos para

transplante em Santa Catarina. Entretanto, é cada vez mais comum identificar

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processos participativos de seleção de critérios com reuniões e técnicas de

ponderação e priorização, nas quais participam todos os interessados – gestores,

pacientes em lista de espera, financiadores do sistema público e de planos de

saúde, profissionais de saúde, etc.

Assim, transformar a questão do transplante pulmonar no Estado de Santa

Catarina em um problema que possa ser conceituado no processo de formulação de

políticas públicas, torná-lo relevante num determinado momento, mobilizando

esforços e recursos para que se torne viável, e a maneira pela qual as alternativas

serão apresentadas e selecionadas, focalizando sua atenção para a formação da

agenda de governo, é a razão que motivou este trabalho.

A questão a ser definida é: a criação de um serviço de transplante pulmonar

próprio no Estado de Santa Catarina pode ser viável e vantajosa do ponto de vista

técnico e econômico para o estado, e do ponto de vista de satisfação e eficiência

para a população, quando comparado ao sistema que vigora atualmente?

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Avaliar a viabilidade de implantação de um serviço de transplante pulmonar

em Santa Catarina.

2.2 Objetivos Específicos

a) Identificar a demanda de transplante pulmonar em Santa Catarina;

b) Reconhecer a base populacional para viabilizar um centro de transplante

pulmonar;

c) Levantar dados econômico-financeiros para a implantação e a manutenção de

um centro de transplante pulmonar.

Resultados e aplicação da pesquisa: os resultados do estudo servirão de

base para a tomada de decisão da Secretaria de Estado da Saúde do Governo de

Santa Catarina para o desenvolvimento ou não de um programa de transplante

pulmonar em nosso estado.

Observações: o estudo foi realizado em cooperação com a central de

transplantes de Santa Catarina e a diretoria de educação permanente em saúde da

Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina.

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3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Políticas Púlicas

A política é parte constitutiva e essencial da vida social.

O termo política, no inglês, politics, faz referência às atividades políticas: o

uso de procedimentos diversos que expressam relações de poder (ou seja, visam

influenciar o comportamento das pessoas) e se destinam a alcançar ou produzir uma

solução pacífica de conflitos relacionados a decisões públicas.

Já o termo policy é utilizado para referir-se à formulação de propostas, à

tomada de decisões e à sua implementação por organizações públicas, tendo como

foco temas que afetam a coletividade, mobilizando interesses e conflitos. Em outras

palavras, policy significa a atividade do governo de desenvolver políticas públicas a

partir do processo da política (RUA, 1998).

Avançando um pouco mais, é possível sustentar que as políticas públicas

(policy) são uma das resultantes da atividade política (politics): compreendem o

conjunto das decisões e das ações relativas à alocação imperativa de valores

envolvendo bens públicos. O conceito de políticas públicas é um conceito evolutivo,

na medida em que a realidade a que se refere existe num processo constante de

transformações históricas nas relações entre estado e sociedade, e que essa

mesma relação é permeada por mediações de natureza variada, mas que, cada vez

mais, estão referidas aos processos de democratização das sociedades

contemporâneas (SOUZA, 2007).

É importante desenvolver a compreensão de que as políticas públicas são

resultantes da atividade política e que esta consiste na resolução pacífica de

conflitos, processo essencial à preservação da vida em sociedade.

Ham e Hill (1993) apontam que a preocupação com as políticas públicas dá

origem ao surgimento da Análise de Política, classificando os estudos de Análise de

Política em duas grandes categorias:

a) a análise que tem como objetivo produzir conhecimentos sobre o processo de

elaboração política (formulação, implementação e avaliação) em si, revelando

assim uma orientação predominantemente descritiva. Esta categoria

corresponde, na literatura anglo-saxã, ao que se conhece como analysis of

policy, referindo-se à atividade acadêmica visando, basicamente, ao melhor

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entendimento do processo político;

b) a análise destinada a auxiliar os formuladores de política, que agrega

conhecimento ao processo de elaboração de políticas, envolvendo-se

diretamente na tomada de decisões e assumindo um caráter prescritivo ou

propositivo. Corresponde, na literatura anglo-saxã, ao que se conhece como

analysis for policy, referindo-se à atividade aplicada voltada à solução de

problemas sociais.

As políticas públicas (policies) ocorrem em um ambiente tenso e de alta

densidade política (politics), marcado por relações de poder, extremamente

problemáticas, entre atores do Estado e da sociedade, entre agências intersetoriais,

entre os poderes do Estado, entre o nível nacional e os níveis subnacionais, entre

comunidade política e burocracia.

Uma forma de lidar com essa complexidade sem descartar a dinâmica

sistêmica é associar o modelo sistêmico com o modelo do ciclo de política (policy

cycle), que aborda as políticas públicas como um ciclo deliberativo, formado por

vários estágios e constituindo um processo dinâmico e de aprendizado (SOUZA,

2007), como se pode verificar por meio da

Figura 1: Ciclo da Política Pública.

Figura 1: Ciclo da Política Pública

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Fonte: Souza (2007).

Na concepção do ciclo de políticas, a política pública é considerada a

resultante de uma série de atividades políticas que, agrupadas, formam o processo

político. Essa visão conduz os estudiosos a examinar como as decisões são ou

poderiam ser tomadas e permite identificar e analisar os processos político-

administrativos, os mecanismos e as estratégias definidas para a realização da

política e o comportamento dos diferentes atores envolvidos em cada etapa do

processo de produção de políticas.

Conforme Rua (2009), o ciclo de políticas é uma abordagem para o estudo

das políticas públicas, identificando fases sequenciais e interativo-iterativo-iterativas

no processo de produção de uma política. Essas fases são:

a) formação da agenda, que ocorre quando uma situação qualquer é reconhecida

como um problema político e a sua discussão passa a integrar as atividades de

um grupo de autoridades dentro e fora do governo;

b) formação das alternativas e tomada de decisão: ocorre quando, após a inclusão

do problema na agenda e alguma análise deste, os atores começam a

apresentar propostas para sua resolução. Essas propostas expressam interesses

diversos, os quais devem ser combinados de tal maneira que se chegue a uma

solução aceitável para o maior número de partes envolvidas. Ocorre, então, a

FORMAÇÃO DA AGENDA- Definição do problema.- Análise do problema.

FORMAÇÃO DE ALTERNATIVAS- Avaliação das opções.- Seleção das opções.

IMPLEMENTAÇÃO- Monitoramento.

AVALIAÇÃO- Ajustes.

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tomada de decisão;

c) a tomada de decisão não significa que todas as decisões relativas a uma política

pública foram tomadas, mas, sim, que foi possível chegar a uma decisão sobre o

núcleo da política que está sendo formulada. Quando a política é pouco

conflituosa e agrega bastante consenso, esse núcleo pode ser bastante

abrangente, reunindo decisões sobre diversos aspectos. Quando, ao contrário,

são muitos os conflitos, as questões são demasiado complexas ou a decisão

requer grande profundidade de conhecimentos, a decisão tende a cobrir um

pequeno número de aspectos, já que muitos deles têm as decisões adiadas para

o momento da implementação;

d) a implementação consiste em um conjunto de decisões a respeito da operação

das rotinas executivas das diversas organizações envolvidas em uma política, de

tal maneira que as decisões inicialmente tomadas deixam de ser apenas

intenções e passam a ser intervenção na realidade. Normalmente, a

implementação se faz acompanhar do monitoramento: um conjunto de

procedimentos de apreciação dos processos adotados, dos resultados

preliminares e intermediários obtidos e do comportamento do ambiente da

política. O monitoramento é um instrumento de gestão das políticas públicas e o

seu objetivo é facilitar a consecução dos objetivos pretendidos com a política; e

e) a avaliação é um conjunto de procedimentos de julgamento dos resultados de

uma política, segundo critérios que expressam valores. Juntamente com o

monitoramento, destina-se a subsidiar as decisões dos gestores da política

quanto aos ajustes necessários para que os resultados esperados sejam obtidos.

Para Souza (2007), o ciclo de política pública enfatiza sobremodo a formação

ou a definição da agenda. À pergunta de como os governos definem suas agendas,

são dados três tipos de resposta:

a) a primeira focaliza os problemas, isto é, problemas entram na agenda quando se

assume que se deve fazer algo sobre eles. O reconhecimento e a definição dos

problemas afetam os resultados da agenda;

b) a segunda focaliza a política propriamente dita, ou seja, como se constrói a

consciência coletiva sobre a necessidade de se enfrentar um dado problema. A

construção de uma consciência coletiva sobre determinado problema é fator

poderoso e determinante na formação da agenda;

c) a terceira focaliza os participantes, que são classificados como visíveis, ou seja,

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políticos, mídia, partidos, grupos de pressão, etc.; e invisíveis, tais como

acadêmicos ou burocratas. Segundo esta perspectiva, os participantes visíveis

formam a agenda e os invisíveis, as alternaivas.

3.1.1 Formação da Agenda de Políticas Públicas

Uma agenda de políticas consiste em uma lista de prioridades inicialmente

estabelecidas, às quais os governos devem dedicar suas energias e atenções, e

entre as quais os atores lutam arduamente para incluir as questões de seu interesse.

A agenda de políticas resulta de um processo pouco sistemático,

extremamente competitivo, pelo qual se extrai, do conjunto de temas que poderiam

ocupar as atenções do governo, aquelas questões que serão efetivamente tratadas.

O processo de evidenciação de temas varia de acordo com:

a) o reconhecimento da existência de problemas, a partir de eventos momentâneos,

da forma de manifestação das demandas, das crises e das informações sobre os

eventos (indicadores, estatísticas, pesquisas e outras fontes);

b) a proposição de políticas, que é afetada pela ação dos atores visíveis, dos atores

invisíveis e das comunidades políticas. Ou seja: nas organizações

governamentais, no meio acadêmico, nos partidos políticos ou nas organizações

da sociedade, costumam já existir propostas que viabilizam a solução de

determinados problemas; e

c) o fluxo da política, que envolve o clima ou o sentimento nacional com relação aos

governos e aos temas, às forças políticas organizadas e à disputa interpartidária

e eleitoral.

Para Kingdon (2003 apud CAPELLA, 2007), entre os elementos considerados

no fluxo político, o clima nacional e as mudanças dentro do governo são os maiores

propulsores de transformação na agenda governamental.

Conforme Rua (2009), para que um “estado de coisas” se torne um problema

político e passe a figurar como um item da agenda governamental, é necessário que

apresente pelo menos uma das seguintes características:

a) mobilize ação política: seja ação coletiva de grandes grupos, seja ação coletiva

de pequenos grupos dotados de fortes recursos de poder, seja ação de atores

individuais estrategicamente situados;

b) constitua uma situação de crise, calamidade ou catástrofe, de maneira que o

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ônus de não dar uma resposta ao problema seja maior que o ônus de ignorá-lo; e

c) constitua uma situação de oportunidade, ou seja, uma situação na qual algum

ator relevante perceba vantagens a serem obtidas com o tratamento daquele

problema.

Ao deixar de ser um “estado de coisas” e se transformar em um “problema

político”, uma questão qualifica-se à inclusão na agenda governamental. Não quer

dizer que vá seguramente dar origem a uma política pública, mas, apenas, que

passa a receber a atenção dos formuladores de políticas.

Embora mais atenção seja destinada à formulação de alternativas e à tomada

de decisões, a formação de agenda representa uma das mais importantes fases do

ciclo da política pública, especialmente porque mobiliza fortes recursos de poder.

Quando as alternativas para solucionar um problema começam a ser

formuladas, as aspirações dão origem às expectativas. Expectativas não significam

desejos. Expectativas são suposições que os atores formulam sobre as

consequências de cada alternativa, sobre os seus interesses. Obviamente, há atores

que têm expectativas de obter vantagens com uma decisão e outros que acreditam

que esta decisão vá lhes trazer desvantagens. A partir destas expectativas é que os

atores se mobilizam, defendendo o seu interesse, expresso em preferências. Todo

ator possui preferências. Uma preferência é a alternativa (meio) de solução para um

problema que mais beneficia um determinado ator. Assim, dependendo da sua

posição, os atores podem ter preferências muito diversas uns dos outros quanto à

melhor solução para um problema político.

As preferências dependem do cálculo de custo/benefício de cada ator. O

cálculo de custo/benefício é o cálculo das perdas e dos ganhos ou das

desvantagens e vantagens que cada ator atribui a cada meio proposto para

solucionar um problema. Este cálculo não se restringe a custos econômicos ou

financeiros. Envolve também elementos simbólicos, como prestígio; ou elementos

políticos, como ambições de poder e ganhos ou perdas eleitorais, por exemplo.

As preferências se formam em relação aos issues ou às questões. Issue é um

item ou aspecto de uma decisão, que afeta os interesses de vários atores. Por esse

motivo, os issues mobilizam as expectativas dos atores quanto aos resultados da

política e catalisam o conflito entre eles. Por exemplo, na viabilidade de um centro

de transplante pulmonar em Santa Catarina, podem-se identificar alguns issues,

como:

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a) o conceito viabilidade de um centro de transplante, que critérios poderiam ser

usados para avaliar a viabilidade e assim proceder à sua implantação? Seria pelo

fator econômico? Seria pelo fator social?

b) qual a forma de viabilizar a realização deste centro? Seria pela demanda de

transplantes? Seria pela infraestrutura estadual? Seria pela distância territorial?

c) como proceder à mudança do padrão vigente hoje?

A fim de realizar as suas preferências quanto às soluções que poderão ser

adotadas para cada um dos issues de uma política, os atores procuram se situar

dentro da estrutura de oportunidades, ou seja, o contexto formado pelo conjunto de

recursos de poder e regras do jogo.

Para entender o processo de formulação (e também a implementação), é

essencial se definir quais são os issues de uma política e se identificar as

preferências dos atores em relação a cada um deles.

A formulação das alternativas é um dos mais importantes momentos do

processo decisório, porque é quando se evidenciam os vários issues e é quando se

colocam claramente as preferências dos atores. É o momento em que os diversos

atores entram em confronto e/ou constroem suas alianças, visando às decisões

favoráveis às suas preferências. Para isso, cada um deles procurará mobilizar seus

recursos de poder e pressionar os tomadores de decisão: influência, capacidade de

afetar o funcionamento do sistema, argumentos de persuasão, votos, organização,

etc.

O principal foco analítico da política pública está na identificação do tipo de

problema que a política visa corrigir, na chegada desse problema ao sistema político

e à sociedade, no processo percorrido nestas duas arenas e nas instituições/regras

que irão modelar a decisão e a implementação da política pública (SOUZA, 2007).

3.1.2 Implementação de Políticas Públicas

A implementação pode ser compreendida como o conjunto de decisões e

ações realizadas por grupos ou indivíduos, de natureza pública ou privada, as quais

são direcionadas para a consecução de objetivos estabelecidos mediante decisões

anteriores sobre uma determinada política pública.

Em outras palavras, a implementação consiste em fazer uma política sair do

papel e funcionar efetivamente. Envolve os mais diversos aspectos do processo

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administrativo: desde a provisão de recursos no orçamento, na formação de equipes

e na elaboração de minutas de projeto de lei, autorizando realização de concurso

para contratação de servidores, elaboração de editais para aquisição de bens ou

contratação de serviços.

Caso seja uma política que envolva os níveis de governo estadual e/ou

municipal, será preciso realizar reuniões para decidir e pactuar as responsabilidades

de cada uma das partes, em seguida firmar protocolos de cooperação, estabelecer

os mecanismos de transferência de recursos entre instâncias governamentais, etc.

Esse processo precisa ser acompanhado, entre outras coisas, para que se

possa identificar por que muitas coisas dão certo, enquanto muitas outras dão

errado, desde a formulação da política até seu resultado concreto.

De maneira especial quando uma política envolve diferentes níveis de

governo – federal, estadual, municipal – ou diferentes regiões de um país, ou, ainda,

diferentes setores de atividade, a implementação pode se mostrar mais

problemática, já que o controle do processo se torna mais complexo.

Mesmo quando se trata apenas do nível local, para o sucesso da

implementação, é necessário considerar, ainda, a importância dos vínculos entre

diferentes organizações e agências públicas no nível local. Geralmente, quando a

ação depende de certo número de elos numa cadeia de implementação, o grau

necessário de cooperação entre as organizações para que esta cadeia funcione

pode ser muito elevado. Se isto não acontecer, pequenas deficiências acumuladas

podem levar a um grande fracasso.

Os processos administrativos e técnicos ligados à implementação de

programas são as ferramentas básicas que as organizações usam para fazer seu

trabalho, e as pessoas que nela atuam passam quase todo o seu tempo nisso.

Portanto é essencial acreditar que esses processos funcionam, produzindo os

resultados esperados. Entre eles, o de planejamento se destaca, principalmente pelo

fato de que se tornou, nos últimos tempos, símbolo de uma boa administração

(MEDINA, 1987).

Estudos indicam dez precondições necessárias para que haja uma

implementação perfeita (BAIER; MARCH; SAETREN, 1989; DAGNINO et al.,

2002);

a) as circunstâncias externas à agência implementadora não devem impor

restrições que a desvirtuem;

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b) o programa deve dispor de tempo e recursos suficientes;

c) não apenas não deve haver restrições em termos de recursos globais, mas,

também, em cada estágio da implementação, a combinação necessária de

recursos deve estar efetivamente disponível;

d) a política a ser implementada deve ser baseada numa teoria adequada sobre a

relação entre a causa (de um problema) e o efeito (de uma solução que está

sendo proposta);

e) esta relação entre causa e efeito deve ser direta e, se houver fatores

intervenientes, estes devem ser mínimos;

f) deve haver uma só agência implementadora, que não depende de outras

agências para ter sucesso; se outras agências estiverem envolvidas, a relação

de dependência deverá ser mínima em número e em importância;

g) precisa ter completa compreensão e consenso quanto aos objetivos a serem

atingidos e esta condição deve permanecer durante todo o processo de

implementação;

h) ao avançar em direção aos objetivos acordados, deve ser possível especificar,

com detalhes completos e em sequência perfeita, as tarefas a serem realizadas

por cada participante;

i) é necessário que haja perfeita comunicação e coordenação entre os vários

elementos envolvidos no programa; e

j) os atores que exercem posições de comando devem ser capazes de obter

efetiva obediência dos seus comandados.

O acompanhamento, o monitoramento e o controle das políticas devem

incluir, também, o tipo de política e de arena política; o contexto inter e

intraorganizacional dentro do qual ocorre a implementação; e o mundo externo sobre

o qual a política deverá exercer o seu impacto.

3.1.3 Avaliação das Políticas Públicas

A avaliação de políticas públicas consiste estritamente na avaliação formal,

que é o exame sistemático de quaisquer intervenções planejadas na realidade,

baseado em critérios explícitos e mediante procedimentos reconhecidos de coleta e

análise de informação sobre seu conteúdo, estrutura, processo, resultados,

qualidade e/ou impactos.

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Assim, pode-se afirmar que a avaliação formal é um julgamento (porque

envolve valores) sistemático (porque se baseia em procedimentos e indicadores

reconhecidos e previamente estabelecidos), que incide sobre o conteúdo (problemas

eleitos e suas soluções), as estratégias, o desenho ou concepção (estrutura), os

processos (insumos, atividades, capacidades, hierarquias de precedência e

mecanismos de coordenação), os produtos (preliminares, intermediários e finais), os

efeitos e os impactos. É uma política, programa ou projeto que tem como referência

critérios explícitos, a fim de contribuir para o seu aperfeiçoamento, a melhoria do

processo decisório e o aprendizado institucional (RUA, 2009).

Por meio desta definição, pode-se reconhecer que a avaliação contém duas

dimensões. A primeira é técnica e caracteriza-se por produzir ou coletar, conforme

procedimentos reconhecidos, informações que poderão ser utilizadas nas decisões

relativas a qualquer política, programa ou projeto. Esta dimensão diz respeito à

pesquisa avaliativa, que representa um instrumento da avaliação. A segunda

dimensão é valorativa, consistindo no exame das informações obtidas, à luz de

critérios específicos, com a finalidade de extrair conclusões acerca do valor da

política, do programa ou projeto. Porém a finalidade da avaliação não é classificar as

intervenções “boas” ou “más”, “exitosas” ou “fracassadas”. Muito mais importante e

proveitoso é apropriar-se da avaliação como um processo de apoio a um

aprendizado contínuo, de busca de melhores decisões e de amadurecimento da

gestão.

Diante do exposto, pode-se afirmar que a avaliação contribui para aperfeiçoar

a formulação de políticas e projetos – especialmente tornando mais responsável a

formulação de metas – e apontar em que medida os governos se mostram

responsivos frente às necessidades dos cidadãos.

O acompanhamento, o monitoramento, a avaliação e o controle das políticas

são processos importantes para que as políticas ganhem efetividade, resultando não

apenas em intervenção na realidade, mas sim em transformações dos problemas

em situações solucionadas.

3.2 Políticas Públicas de Saúde e Transplante

A criação do Sistema Único de Saúde (SUS) se deu por meio da Lei nº 8.080,

de 19 de setembro de 1990, que “dispõe sobre as condições para a promoção,

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proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços

correspondentes” (REIS; ARAÚJO; CECÍLIO, 2012).

A primeira lei orgânica do SUS detalha os objetivos e as atribuições; os

princípios e as diretrizes; a organização, a direção e a gestão, a competência e as

atribuições de cada nível (federal, estadual e municipal); a participação

complementar do sistema privado; os recursos humanos; o financiamento e a gestão

financeira e o planejamento e o orçamento.

Logo em seguida, a Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, dispõe sobre a

participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências

intergovernamentais de recursos financeiros. Institui os Conselhos de Saúde e

confere legitimidade aos organismos de representação de governos estaduais

(Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde - CONASS) e municipais

(Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde - CONASEMS). Finalmente

estava criado o arcabouço jurídico do Sistema Único de Saúde, mas novas lutas e

aprimoramentos ainda seriam necessários.

No ano de 1993, foram publicadas as Normas Operacionais Básicas (NOB-

SUS 93), que procura restaurar o compromisso da implantação do SUS e

estabelecer o princípio da municipalização, tal como havia sido desenhada. Institui

níveis progressivos de gestão local do SUS e estabelece um conjunto de estratégias

que consagram a descentralização político-administrativa na saúde. Também define

diferentes níveis de responsabilidade e competência para a gestão do novo sistema

de saúde (incipiente, parcial e semiplena, a depender das competências de cada

gestor) e consagra ou ratifica os organismos colegiados com grau elevado de

autonomia: as Comissões Intergestoras (Tripartite e Bipartite).

A população foi a grande beneficiada com a incorporação de itens de alta

complexidade, que antes eram restritos aos contribuintes da previdência. Com a

grande extensão de programas de saúde pública e serviços assistenciais, deu-se o

início efetivo do processo de descentralização política e administrativa, a qual pode

ser observada pela progressiva municipalização do sistema e pelo desenvolvimento

de organismos colegiados intergovernamentais. A participação popular trouxe a

incorporação dos usuários do sistema ao processo decisório, com a disseminação

dos conselhos municipais de saúde, ampliando as discussões das questões de

saúde na sociedade (LEVCOVITZ; LIMA; MACHADO, 2001).

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Em 1996, a edição da NOB 96 representou a aproximação mais explícita com

a proposta de um novo modelo de atenção. Para isso, ela acelera a

descentralização dos recursos federais em direção aos estados e aos municípios,

consolidando a tendência à autonomia de gestão das esferas descentralizadas,

criando incentivo explícito às mudanças, na lógica assistencial, rompendo com o

produtivismo (pagamento por produção de serviços, como o INAMPS usava para

comprar serviços do setor privado) e implementando incentivos aos programas

dirigidos às populações mais carentes, como o Programa de Agentes Comunitários

de Saúde (PACS) e as práticas fundadas numa nova lógica assistencial, como

Programa de Saúde da Família (PSF).

As principais inovações da NOB 96 foram:

a) A concepção ampliada de saúde - considera a concepção determinada pela

Constituição, englobando promoção, prevenção, condições sanitárias,

ambientais, emprego, moradia, etc.;

b) O fortalecimento das instâncias colegiadas e da gestão pactuada e

descentralizada - consagrada na prática com as Comissões Intergestores e

Conselhos de Saúde;

c) As transferências fundo a fundo (do Fundo Nacional de Saúde direto para os

fundos municipais de saúde, regulamentados pela NOB-SUS 96) com base na

população, e com base em valores per capita previamente fixados;

d) Novos mecanismos de classificação determinam os estágios de habilitação para

a gestão, cujos municípios são classificados em duas condições: gestão plena da

atenção básica e gestão plena do sistema municipal. Na gestão plena da atenção

básica, os recursos são transferidos de acordo com os procedimentos

correspondentes ao Piso da Atenção Básica (PAB). A atenção ambulatorial

especializada e a atenção hospitalar continuam financiadas pelo Sistema de

Informações Ambulatoriais (SIA-SUS) e pelo Sistema de Informações

Hospitalares (SIH-SUS). No caso dos municípios em gestão plena do sistema, a

totalidade dos recursos é transferida automaticamente.

No ano 2002 é editada a Norma Operacional de Assistência à Saúde/NOAS-

SUS, cuja ênfase maior é no processo de regionalização do SUS, a partir de uma

avaliação de que a municipalização da gestão do sistema de saúde, regulamentada

e consolidada pelas normas operacionais, estava sendo insuficiente para a

configuração do sistema de saúde, por não permitir uma definição mais clara dos

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mecanismos regionais de organização da prestação de serviços.

Nestes seus mais de 20 anos de criação, conforme balanço elaborado por

Nelson Rodrigues dos Santos (2007), militante histórico do Movimento Sanitário

brasileiro, o SUS transformou-se no maior projeto público de inclusão social em

menos de duas décadas: 110 milhões de pessoas atendidas por agentes

comunitários de saúde em 95% dos municípios e 87 milhões atendidos por 27 mil

Equipes de Saúde da Família. Em 2007: 2,7 bilhões de procedimentos

ambulatoriais; 610 milhões de consultas; 10,8 milhões de internações; 212 milhões

de atendimentos odontológicos; 403 milhões de exames laboratoriais; 2,1 milhões de

partos; 13,4 milhões de ultrassons, tomografias e ressonâncias; 55 milhões de

seções de fisioterapia; 23 milhões de ações de vigilância sanitária; 150 milhões de

vacinas; 12 mil transplantes; 3,1 milhões de cirurgias; 215 mil cirurgias cardíacas; 9

milhões de seções de radioquimioterapia; 9,7 milhões de seções de hemodiálise e

controle mais avançado da AIDS no terceiro mundo. São números impressionantes

para a população atual, em marcante contraste com aproximadamente metade da

população excluída antes dos anos oitenta, a não ser pequena fração atendida

eventualmente pela caridade das Santas Casas.

Apesar de seus avanços, como atestam os números citados, a construção do

SUS encontra vários entraves, entre os quais se destacam:

a) O subfinaciamento, isso é, os recursos destinados à operacionalização e ao

financiamento do SUS, fica muito aquém de suas necessidades.

b) As insuficiências da gestão local do SUS. A gestão municipal dos recursos do

SUS vem funcionando apenas em parte – sem desconsiderar que os recursos

para o SUS são insuficientes.

Santos (2007), falando das dificuldades do SUS, aponta ainda para outros

problemas, como:

a) A atenção básica expande-se às maiorias pobres da população, mas na média

nacional estabiliza-se na baixa qualidade e resolutividade; não consegue

constituir-se na porta de entrada preferencial do sistema, nem reunir potência

transformadora na estruturação do novo modelo de atenção preconizado pelos

princípios constitucionais;

b) Os serviços assistenciais de média e alta complexidade, cada vez mais

congestionados, reprimem as ofertas e as demandas (repressão em regra

iatrogênica e frequentemente letal);

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c) Os gestores municipais complementam valores defasados da tabela do SUS na

tentativa de aliviar a repressão da demanda, nos serviços assistenciais de média

e alta complexidade;

d) Com o enorme crescimento das empresas de planos privados, e consequente

agressividade de captação de clientela, as camadas médias da sociedade,

incluindo os servidores públicos, justificam e reforçam sua opção pelos planos

privados de saúde;

e) As diretrizes da integralidade e da equidade pouco ou nada avançam;

f) A judicialização do acesso a procedimentos assistenciais de médio e alto custo

às camadas média-média e média-alta da população aprofundam a iniquidade e

a fragmentação do sistema;

g) O modelo público de atenção à saúde vai se estabilizando direcionada aos

pobres e está focalizado aos 80% pobres da população, e em complementar e

menos pobre aos 20% compradores de planos privados.

O SUS não tem conseguido atingir com eficácia os princípios e as diretrizes,

como a Universalidade, que vê a saúde como um direito de cidadania de todas as

pessoas, cabendo ao Estado assegurar esse direito; a Equidade, princípio de justiça

social, procura tratar desigualmente os desiguais e investir onde há mais

necessidade; e a Integralidade, que considera a pessoa como um todo, e que

pressupõe a promoção da saúde, a prevenção de doenças, o tratamento e a

reabilitação e a integração entre as demais políticas públicas.

O Sistema Único de Saúde é responsável por executar ações e serviços de

promoção, proteção, recuperação e reabilitação da saúde dos cidadãos brasileiros.

A execução pode ser feita diretamente pelo gestor público ou por entidade

contratada/conveniada, desde que de forma regionalizada e hierarquizada em níveis

de complexidade crescente.

A atividade de transplantes de órgãos e tecidos no Brasil iniciou-se em 1964

e, desde aquela época até os dias atuais, ocorreu uma evolução considerável em

termos técnicos, resultado e número de procedimentos realizados. Mesmo com a

existência da Lei nº 5479 de 10 de agosto de 1968, revogada posteriormente pela

Lei nº 8489 de 18 de novembro de 1992, que dispunha sobre a retirada e o

transplante de tecidos, órgãos e partes do corpo humano, com fins terapêuticos e

científicos, não havia, até então, uma legislação apropriada que regulamentasse a

atividade transplantadora, visto que havia apenas regulamentações regionais

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desenvolvidas na informalidade quanto à inscrição de receptores, retirada de órgãos

e tecidos, critérios de distribuição de órgãos e tecidos captados e ordem de

transplantes. Essa lei e o decreto que a regulamentou tiveram o mérito de definir

mais claramente os critérios de distribuição dos órgãos com base num cadastro

técnico único e em princípios básicos a serem obedecidos em todo o país. Como

grande parte dos procedimentos realizados é financiada com recursos públicos,

aliada ao fato da evolução do conhecimento científico e do entendimento de que os

órgãos doados são bens públicos, cresceram, na sociedade, nos gestores do SUS e

na própria comunidade transplantadora, o propósito e a necessidade de uma

regulamentação para essa atividade.

Por meio da criação do Sistema Nacional de Transplantes conseguiu-se então

essa regulamentação e, a partir daí, a definição de critérios claros, tecnicamente

adequados, socialmente aceitáveis, justos e éticos na destinação dos órgãos

captados.

Em 1997 foi então promulgada uma nova lei dos transplantes e com isso a

criação do Sistema Nacional de Transplante (SNT) e das Centrais de Notificação,

Captação e Distribuição de Órgão (CNCDOs). Foi estabelecida a distribuição dos

órgãos e dos tecidos por meio das listas de espera regionalizadas. Com a

participação da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), foi

implementada nova política de transplante no país, simultaneamente com medidas

legais, financeiras, organizacionais e educacionais, a saber (GARCIA; IANHEZ;

PESTANA, 2006):

Medidas legais:

a) Modificação da forma de consentimento, retornando ao consentimento

informado, com decisão da família após a morte;

b) Tornado sem efeito legal a manifestação do doador ou não doador em

documento de identidade ou de habilitação;

c) Agilização da necrópsia, se possível no bloco cirúrgico, após a remoção dos

órgãos, quando for exigida.

Medidas financeiras:

a) Criação de um fundo específico para financiamento dos transplantes (FAEC);

b) Pagamento da procura de doadores: processo dividido por módulos e

pagamento por procedimento;

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c) Pagamento do acompanhamento ambulatorial pós-transplante: não por

consulta, mas por paciente acompanhado;

d) Pagamento uniforme para hospitais universitários e não universtários.

Medidas organizacionais:

a) Modelo de organização em quatro níveis (nacional, estadual, regional e

hospitalar);

b) Definição do SNT como responsável pela política de transplantes no país,

com função principalmente normatizadora;

c) Criação da CNCDOs, atuando na alocação e no intercâmbio de órgãos e

tecidos entre estados;

d) Criação da CNCDO em todos os estados, com funções de organização e de

alocação de órgãos e tecidos (listas únicas regionais) em seu âmbito;

e) Criação do cargo de coordenador de transplante nos hospitais com UTI, os

quais devem ficar responsáveis pela procura de doadores;

f) Recredenciamento de todos os centros de transplante de órgãos e tecidos do

país;

g) Incentivo à formação de centros de transplante em regiões menos assistidas

(Norte e Nordeste).

Medidas educacionais:

a) Cursos de formação de coordenadores educacionais de transplante;

b) Encontros regionais com intensivistas;

c) Cursos sobre doação e transplante para todos profissionais que trabalham

nos hospitais;

d) Encontros periódicos com jornalistas, especialistas em comunicação e

formadores de opinião;

e) Desenvolvimento de programas educacionias específicos para estudantes de

ensino médio;

f) Incentivo à formação de organizações não governamentais atuando na área

de doação e transplante;

g) Palestras e debates sobre doação nas escolas;

h) Semana nacional da doação (dia nacional do doador: 29 de setembro).

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O SNT é o responsável pela política de transplante no país, com funções

normativas em âmbito nacional, e cada estado, pelas funções de normatização,

distribuição e fiscalização, enquanto a procura e a captação de órgãos são função

do hospital por meio de seu coordenador (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE

TRANSPLANTE..., 2012).

O credenciamento de novos centros de transplante, a regulamentação das

várias modalidades de transplante, dos bancos de tecidos e a realização de cursos

de formação de coordenadores de transplante são também atribuições do SNT. O

grau de complexidade de cada central estadual depende da sua extensão territorial

e da sua população, do número de hospitais de detecção de referência e dos tipos

de transplantes disponíveis.

A política nacional de transplantes de órgãos e tecidos está fundamentada na

Legislação (Lei nº 9.434/1997 e Lei nº 10.211/2001), tendo como diretrizes a

gratuidade da doação, a beneficência em relação aos receptores e não maleficência

em relação aos doadores vivos. Estabelece também garantias e direitos aos

pacientes que necessitam destes procedimentos e regula toda a rede assistencial

por meio de autorizações e reautorizações de funcionamento de equipes e

instituições. Toda a política de transplante está em sintonia com as leis nº

8.080/1990 e nº 8.142/1990, que regem o funcionamento do SUS (DUTRA; SILVA,

BADALOTTI, 2003).

A proposição de uma Política Estadual de Captação e Transplante de Órgãos

e Tecidos em Santa Catarina constitui uma iniciativa para o processo de

organização de um sistema efetivo de captação e transplante de órgãos e tecidos no

território catarinense, de modo a ampliar o espectro das ações e das áreas

envolvidas, numa perspectiva de busca progressiva da integralidade e da

universalidade das ações de saúde.

Como resultado do esforço na construção do modelo assistencial de Santa

Catarina, a Secretaria de Estado da Saúde firma o compromisso de orientar e

conduzir a execução das diretrizes políticas. Os diferentes instrumentos de

ordenamento desse modelo, cujo fundamento principal reside na possibilidade de

definição de prioridades de intervenção coerentes com as necessidades de saúde

da população, garantem o acesso dos cidadãos a todos os níveis de atenção.

Assim, a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos de

Santa Catarina (CNCDO/SC) foi criada pelo Decreto Estadual nº 553 de 21 de

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setembro de1999, por força da Lei nº 9.434/97 e Decreto 2.268/97, como unidade

integrante da estrutura administrativa da Secretaria de Estado da Saúde (SC

TRANSPLANTE, 2012).

Atualmente, a CNCDO/SC está inserida na Gerência da SC Transplantes,

sendo esta um órgão da estrutura da Secretaria de Estado da Saúde, responsável

pela coordenação operacional da Política Estadual de Captação e Transplantes de

Órgãos e Tecidos no Estado de Santa Catarina. Está vinculada diretamente à

Diretoria de Serviços Especializados, da Superintendência da Rede de Serviços

Próprios, aprovada na reforma administrativa, Lei Complementar nº 284, de 28 de

fevereiro de 2005 (SC TRANSPLANTE, 2012).

O Plano Estadual de Transplantes foi elaborado, aprovado e publicado em

2006, por meio da Deliberação 081/CIB/06. O documento, pioneiro em termos de

planejamento de um sistema estadual de transplante no Brasil, não define uma

política específica para a atividade de transplante pulmonar para o Estado de Santa

Catarina.

3.3 Transplante pulmonar

A história do transplante de pulmão remonta ao início do século XX, quando o

primeiro procedimento foi realizado no John Hopkins Hospital em 1907. Em 1963,

depois de numerosos experimentos em animais, mas contando com recursos

escassos para o controle da rejeição, James Hardy, nos EUA, realizou o primeiro

transplante em humano. Já na época, o transplante pulmonar se revelou um

procedimento tecnicamente factível, mas havia um longo caminho a ser percorrido

até a sua definitiva incorporação à moderna terapia das enfermidades pulmonares

terminais (CAMARGO, 2006 ).

Os anos que se seguiram foram úteis do ponto de vista de aprendizado, mas

absolutamente desastrosos quanto aos resultados, dos 38 pacientes transplantados,

em 20 centros diferentes, apenas um teve sobrevida maior do que poucas semanas.

O pulmão era considerado o pior órgão a ser transplantado em virtude das

complicações, evidentemente mais frequentes do que em outros órgãos.

No final da década de 1980, ocorreram alguns progressos importantes no

transplante pulmonar: a demonstração, realizada por um grupo de Paris, que o

transplante unilateral podia ser utilizado em enfisema com excelentes resultados

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(MAL; ANDREASSIN; FABRICE, 1990), e a proposição de modificações técnicas

que facilitaram sobremaneira o procedimento (CALHOON et al., 1991). Isto motivou

e impulsionou o transplante pulmonar, dada a elevada prevalência desta doença.

Outro dado relevante, neste período, foi a descoberta da ciclosporina, na década de

70, e a sua aplicação clínica inicial como medicamento imunossupressor no início

dos anos 80, levando melhores resultados no transplante (PEGO-FERNANDES;

GARCIA, 2010). O primeiro transplante pulmonar na América Latina foi realizado em

Porto Alegre em maio de 1989.

Conforme Borro (2005), até 2005, na Espanha, foi realizado uma média de

1.162 transplantes pulmonares, com um aumento progressivo nos últimos 10 anos e

mantendo uma estabilidade de 150 transplantes/ano nos últimos 4 anos.

Do ponto de vista clínico, a última década caracterizou-se pela otimização dos

cuidados pós-operatórios e pela busca contínua de melhor controle dos episódios de

infecção e rejeição. Os números cresceram vertiginosamente nos últimos anos, mas

os resultados ainda se mantêm inferiores aos obtidos com outros órgãos.

Dados brasileiros confirmam esta realidade no aumento crescente no número

de transplante pulmonar nos últimos 10 anos. De 21 procedimentos realizados em

2001, aumentou para 61 procedimentos em 2010, com um leve descrécimo em 2011

para 49 procedimentos; porém são números irrisórios quando comparados ao

transplante de outros órgãos realizados no mesmo ano de 2011: 4957 de rim, 1492

de fígado, 181 de pâncreas e 160 de coração. O Rio Grande do Sul foi o estado que

mais realizou transplante pulmonar no ano de 2011: 27 dos 41 procedimentos,

seguido por São Paulo 17, Ceará 4 e Minas Gerais 1 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA

DE TRANSPLANTE..., 2012).

Para Camargo e Caramori (2001), estes resultados menos satisfatórios para o

transplante pulmonar devem-se, em parte, a peculiaridades do órgão, que o tornam

menos propício à transplante:

a) É o órgão menos resistente à isquemia e o que mais facilmente desenvolve

lesão;

b) Funcionando como uma espécie de sentinela imunológica, o pulmão é mais

suscetível a episódios de rejeição;

c) O pulmão é o único órgão transplantado que permanece em contato com o

ambiente, tornando-o mais vulnerável às infecções oportunistas.

Há consenso de que o sucesso de transplante pulmonar depende

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criticamente da rigidez nos critérios de seleção dos candidatos. Nos últimos anos,

com o avanço da experiência, novos elementos passaram a ser utilizados na

seleção do melhor procedimento para cada enfermidade (STUDER et al., 2004).

As principais indicações de transplante pulmonar são (CAMARGO; SCHIO;

SANCHEZ, 2006 ):

Transplante unilateral:

a) enfisema puro;

b) enfisema pulmonar em pacientes com mais de 50 anos de idade;

c) fibrose pulmonar idiopática;

d) hipertensão pulmonar.

Transplante Bilateral

a) fibrose cística;

b) bronquiectasias;

c) Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) infectado;

d) enfisema em pacientes jovens (<50 anos);

e) hipertensão pulmonar primária ou secundária.

Porém a indicação geral é de um paciente portador de uma pneumopatia

terminal, com severa limitação funcional, com expectativa de vida inferior a 18

meses, sem alternativas terapêuticas, sem comorbidades, com menos de 65 anos

de idade, com adequada condição psicossocial e familiar e boa motivação para viver

(GLANVILLE; ESTENNE, 2003; STUDER et al., 2004).

Diversos estudos têm demonstrado uma melhora na qualidade de vida,

função pulmonar e satisfação dos pacientes transplantados em comparação com

aqueles pacientes que estão na fila de espera (LAU; PATTERSON, 2003; LANUZA

et al., 2000; TENVERGERT et al., 1998; VAN DER BIJ; REYNAUD-GAUBERT,

2009). Limbos et al. (2000) compararam 36 pacientes na fila de espera do

transplante pulmonar com 72 pacientes que receberam o pulmão e mostraram que

pacientes transplantados apresentaram uma melhora estatisticamente significativa

na saúde física, na vitalidade e na sua função social. Ainda, em relação à qualidade

de vida, Trulock et al. (2004) publicaram o registro da Sociedade Internacional de

Transplante de Coração e Pulmão, que mostrou que 83% dos pacientes que

sobrevivem ao transplante levam uma vida normal e sem limitações ao cabo de um

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ano e que essa porcentagem se mantém ao longo de cinco anos.

3.3.1 Complicações

Yusen (2009), contudo, alerta que os médicos deveriam ajudar seus

pacientes a decidir sobre fazer ou não o transplante de pulmão, porque a despeito

da melhora da qualidade de vida em algumas das funções essenciais, ainda é um

procedimento com consideráveis riscos e alto custo. Trulock et al. (2006) afirmam

que, embora os progressos conquistados na última década e meia em relação ao

transplante de pulmão tenham melhorado substancialmente a expectativa de vida

dos pacientes transplantados, ela é ainda muito inferior à observada nos

transplantes de fígado, rim e coração. Estima-se que aproximadamente 1600

procedimentos sejam realizados ao redor do mundo, contudo a taxa de sobrevida

em 5 anos é muito variável (de 5 a 45%).

Embora a sobrevida ao longo dos anos tenha melhorado, as complicações

pulmonares continuam afligindo o seguimento do pós-transplantado e permanecem

sendo as maiores causas de morbidade e mortalidade. Para Ahmed, Shlabin e

Nathan (2001), é essencial o entendimento do impacto destas complicações, já que

muitos destes pacientes serão entregues aos cuidados do médico da sua

comunidade.

A morbidade e a mortalidade no seguimento do transplante de pulmão devem

ser consideradas no contexto do tempo pós-procedimento (STUDER et al., 2004). A

morbidade e a mortalidade encontradas no primeiro ano dizem respeito aos eventos

ocorridos durante o transplante e na fase pós-operatória (primeiros trinta dias

iniciais), que conduzem à obrigatoriedade do uso de altas doses de drogas

imunossupressoras nestes primeiros doze meses. A Síndrome da Bronquiolite

Obliterante (rejeição crônica) e as complicações do longo tempo de uso dos

imunossupressores, particularmente as infecções, são as principais causa de

morbimortalidade nos anos subsequentes.

Os primeiros trinta dias de um tranplante pulmonar são os que demonstram

um maior declínio na sobrevida. A mortalidade nestes primeiros dias do pós-

operatório é de 10%, conforme Meyer (2006). Estudos mostram que as principais

complicações neste periodo são: injúria de reperfusão, disfunção primária do

enxerto, rejeição aguda e infecção (AHMED, SHLABIN, NATHAN, 2001;

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GLANVILLE; ESTENNE, 2003; LAU; PATTERSON, 2003; STUDER et al., 2004).

Ao longo da última década, com o aperfeiçoamento das técnicas cirúrgicas e

da preservação dos pulmões, com o manejo mais adequado da injúria de reperfusão

e da imunossupressão, ocorreu aumento da sobrevida no primeiro ano pós-

transplante pulmonar de 70 a 80%, conforme

Figura 2. No entanto, a sobrevida a longo prazo continua ameaçada pelo

desenvolvimento da rejeição crônica (MORAES; CAMARGO; SCHIO, 2006).

Figura 2: Sobrevida geral com o transplante de pulmão

Fonte: Moraes, Camargo e Schio (2006).

Entre os principais responsáveis pela mortalidade tardia encontram-se a

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Bronquiolite Obliterante (traduzido pela rejeição crônica), a sepse e as neoplasias

malignas (BORRO, 2005; MORAES; CAMARGO; SCHIO, 2006; STUDER et al.,

2004).

Dados do registro da Sociedade Internacional de Transplantes do Coração e

Pulmão, em 2009, mostram que 28% e 74% dos pacientes desenvolvem rejeição

crônica em 2,5 anos e 10 anos, respectivamente. A rejeição crônica é responsável

por menos de 5% das mortes no primeiro ano do transplante pulmonar, mas é a

responsável por cerca de um quarto das mortes após este período (CHRISTIE et al.,

2009).

As infecções também representam uma das maiores causas de

morbimortalidade deste procedimento, seja na fase inicial ou tardia (MORAES;

CAMARGO; SCHIO, 2006). Os pacientes transplantados de pulmão são mais

vulneráveis a infecções oportunistas e nosocomias em decorrência da

imunossupressão crônica, da possibildade de desnutrição e das longas

permanências em ambiente hospitalar.

Studer et al. (2004) reforçam que o sucesso de um transplante pulmonar e a

sua relação com as complicações dependem de vários fatores, como a experiência

da equipe, particularmente com as técnicas cirúrgicas e o manejo peri-operatório; a

profilaxia antimicrobiana; a seleção dos pacientes transplantados (receptores) e as

características do doador. A dificuldade em obter um órgão doador e o número

crescente de pacientes na fila de espera têm aumentado, com isso, o limite de

aceitabilidade do doador tem se extendido. Em particular, a idade do doador tem

aumentado ao longo dos anos e isto pode ter implicações na sobrevida pós-

transplante.

3.3.2 Captação

O processo de obtenção de órgãos para transplante é iniciado pelos médicos

intensivistas ou assistentes, que identificam potenciais doadores, diagnosticam

morte encefálica, notificam a família e fazem a comunicação à coordenação de

transplante. Segue-se com a entrevista e o consentimento da família para remoção

dos órgãos e dos tecidos, considerando as condições clínicas do potencial doador e

viabilidade dos órgãos a serem extraídos. O processo termina com a remoção e a

distribuição dos órgãos e dos tecidos doados e com a análise dos seus resultados,

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realizada por organizações regionais de procura de órgãos.

Em virtude do complexo processo de obtenção de órgãos, o número de

doadores é insuficiente para atender à lista de espera, e a falta de órgãos para

transplante reflete não apenas a falta de potenciais doadores, mas também a falha

em convertê-los em doadores efetivos e a crescente flexibilidade de critério para

inclusão em lista de espera.

Num estudo realizado na Espanha, Del Rio et al. (2009) enfatizam que,

mesmo sendo um país com um alto grau de doação de pulmão, a necessidade do

transplante é sempre maior que o número de órgãos obtidos. Isto se deve ao fato de

que o pulmão é o órgão que mais precocemente sofre as alterações da morte

encefálica. Borro (2005), no mesmo país, afirma que a porcentagem de doadores

pulmonares é baixa em relação aos outros órgãos, mas que se deve insistir na

necessidade de pensar nos pulmões desde o princípio da geração de um doador de

múltiplos órgãos. O manejo cuidadoso e precoce do doador melhora os índices de

captação de pulmão. Rajamiyer et al. (2008) acreditam que apenas 20% dos

pacientes com morte encefálica sejam potenciais doadores de pulmão.

Westphal et al. (2011a) mostram que a morte encefálica induz a várias

alterações fisiopatológicas e isso pode levar danos aos diversos órgãos a serem

transplantados; portanto, a atuação do médico intensivista durante a manutenção do

potencial doador falecido exige cuidados específicos com estes órgãos, visando à

sua maior viabilidade para transplantes. Particularmente, os pulmões são mais

sensíveis à instabilidade hemodinâmica que ocorre com os pacientes em morte

encefálica, quando comparados aos outros órgãos, pois são mais agredidos durante

os esforços para a ressuscitação cárdio-respiratória e são mais expostos aos

agentes infecciosos durante o periodo de hospitalização (FRANKLIN et al., 2010).

Na mesma linha dos cuidados com o doador pulmonar, Westphal et al.

(2011b) ressaltam a importância da ventilação protetora na modulação da resposta

inflamatória e o consequente aumento do aproveitamento dos pulmões. Outros

estudos corroboram esta ideia e crescentes esforços têm-se dispensado no intuito

de idealizar protocolos que melhorem a manutenção e, consequentemente, o

recrutamento de pulmões viáveis para o transplante (ANGEL et al., 2006; COBO;

GALLEGOS, 2009; MASCIA et al., 2010; NOISEUX et al., 2009).

Por fim, estudos têm mostrado que, em função da melhoria das técnicas

cirúrgicas e dos cuidados peri-operatórios, existe a possibilidade de estender as

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estratégias de inclusão de um potencial doador, aumentando o número de órgãos

doados e, consequentemente, diminuir o número de pacientes na fila de espera para

um transplante (KRUEGER; BERUTTO; AUBERT, 2011; LARDINOIS et al., 2005;

MEERS et al., 2010; PERROT et al., 2004).

Ao contrário dos candidatos a transplante renal, os candidatos a transplante

pulmonar têm uma possibilidade de vida atrelada ao transplante, que deve ser

realizado em tempo de espera inferior a 1 ou 2 anos. Raemdonck et al. (2009)

estimam que 10 a 15% dos pacientes por muito tempo na fila de espera morrem

antes de receber um transplante. Além disso, os candidatos a transplante pulmonar

dependem da adequação do tamanho do órgão a ser transplantado em relação ao

tamanho do receptor, de tempo de preservação limitado e de melhores condições

hemodinâmicas do doador. Um órgão sem receptor ideal numa comunidade pode

ser utilizado em outra região, dependendo de uma logística de transporte de equipes

cirúrgicas e de critérios estabelecidos de distribuição dos órgãos, coordenados por

organização centralizadas, estaduais e federais.

Na vigência de muitos potenciais receptores, a seleção se inicia, usualmente,

pela tipagem sanguínea, procurando a compatibilidade total com o doador. Um fator

importante na seleção do receptor diz respeito ao tamanho do órgão disponível,

aferido pelas medidas dos diâmetros torácicos e pela relação peso/altura entre

doador e receptor e a compatibilidade imunológica direta com o doador. Se com

esses elementos ainda houver disputa por dois ou mais candidatos ao mesmo

órgão, o receptor será selecionado por: ter maior chance de sucesso, ser mais

jovem, ter menor expectativa de vida sem o transplante e estar há mais tempo na

lista de espera (CAMARGO; CAMARGO 2006 ).

3.3.3 Custos

As metodologias para transplantar pulmões estão em fase evolutiva na

medicina e pode-se afirmar que se trata de uma tecnologia recente (VAN DER BIJ;

REYNAUD-GAUBERT, 2009). Embora o primeiro transplante de pulmão tenha sido

reportado em 1963, até início dos anos 80 ele não era considerado como uma

técnica fácil e aceita como arsenal terapêutico, em função das dificuldades na

implementação e do fracasso do seguimento (índice de mortalidade muito alto). Com

o surgimento de novas técnicas cirúrgicas e de drogas imunossupresivas mais

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eficientes, conseguiu-se uma melhora na qualidade e na sobrevida dos pacientes

transplantados e o número deste procedimento tem crescido nas duas últimas

décadas. Contudo, não há dúvidas que o transplante de pulmão é um procedimento

que requer uma tecnologia extremamente cara (ANYANWU et al., 2002).

Os cuidados intensivos, principalmente no primeiro ano pós-transplante, e o

uso de medicamentos imunossupressores por um longo tempo tornam o custo

efetivo do transplante pulmonar alto. Um estudo realizado no Canadá (VASILIADES

et al., 2005), onde foram acompanhados, por um período de 4 anos, 124 pacientes

submetidos a um transplante pulmonar, mostrou que o custo de um paciente sem

transplante (fila de espera), por mês, é de $ 1.102,00; enquanto o custo de um

paciente transplantado (incluindo o procedimento) é de $ 6.208,00 por mês.

O aumento no custo de transplante pulmonar depende de vários fatores: os

pacientes em fila de espera (quanto maior o tempo de espera, pior a condição do

paciente transplantado); o tipo de doença pulmonar preexistente (exemplo fibrose

cistica piora a sobrevida do transplantado); o tipo de transplante (um ou dois

pulmões, pulmão e coração juntos) e, por fim, o tratamento imunossupressor

instituído pós-transplante (ANYANWU et al., 2002; GROEN et al., 2004; GROSS,

1997).

Um estudo realizado no Reino Unido, onde foram acompanhados, por 5 anos

ou até a morte, 356 transplantados de pulmão, analisou os principais eventos

clínicos pós-transplante e os custos relacionados a estes eventos com o impacto do

uso de diferentes imunossupressores. Os pacientes foram acompanhados em três

tempos (0-6, 7-12 e 13-60 meses) e divididos em evolução clínica (pacientes bem,

com rejeição aguda, com infecção por Citomegalovírus, com Bronquiolite obliterante

e morte). Os custos relacionados aos pacientes com boa evolução clínica foram

contabilizados pelo uso de imunossupressão, profilaxia e visitas clínicas, e os custos

dos pacientes com complicação foram contabilizados com os gastos com

diagnóstico, tratamento e dias de internação. O custo mensal, conforme o tempo de

sobrevida, nos pacientes pós-tranplantados que evoluíram bem foram de $ 2.658,00

nos primeiros 6 meses; $ 752,00 de 7 a 12 meses e $ 523,00 até completarem 5

anos. Nos pacientes com complicação, a média mensal foi igual nos três tempos: $

2.766,00 para pacientes com rejeição (seja aguda ou crônica-bronquiolite

obliterante); $ 5.013,00 para pacientes com infecção por Citomegalovísus e $

4.171,00 para pacientes com outras infecções. Todos os pacientes foram tratados

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com um imunossupressor estabelecido pelo protocolo do serviço (ciclosporina),

porém quando necessitaram da troca da droga, os custos mensais em cinco anos

aumentaram de 5 a 23%, conforme a droga escolhida (SHARPLES et al., 2001).

Assim, os gastos com um paciente pós-transplantado são muito maior no primeiro

ano pós-procedimento e variam enormemente conforme o tipo de droga

imunossupressora (ENCKEVORT et al., 1997).

Em função dos diferentes tipos de sistema de saúde, custos e dados

econômicos não podem ser extrapolados internacionalmemte, por isso é muito

importante estudos de performance econômica de cada país. A avaliação econômica

promove uma importante noção sobre custos e é particularmente útel para tomada

de decisões.

Ramsey et al. (1995), nos EUA, promoveram um estudo piloto sobre custo-

efetividade no transplante de pulmão, e mostraram que, apesar da amostra pequena

(comparação de 25 pacientes transplantados e 24 pacientes em fila de espera), o

transplante pulmonar é muito caro, embora possa melhorar substancialmente a

qualidade de vida dos pacientes; dois terços dos gastos ocorrem no primeiro ano de

vida pós-transplante; e a expectativa de vida não foi diferente nos dois grupos. Neste

estudo, o custo médio do transplante pulmonar foi de U$ 152.000 dólares (incluindo

cirurgia e cuidados pós-operatórios), o custo mensal no primeiro ano de vida pós-

transplante foi de U$ 11.917 dólares e nos anos seguintes U$ 4.525 dólares. O custo

mensal de um paciente na fila de espera foi de 3.395 dólares.

Tenvergert, Groen e Vermeulen (2010), avaliando quatro tipos de análise

econômica (minimização de custos, custo-eficácia, custo-utilidade e custo-benefício),

mostraram que, no transplante de pulmão, a análise do custo-efetividade mostrou

ser um procedimento efetivo (melhora a sobrevida em anos), porém caro. Como em

relação à sobrevida, não se pode falar apenas em anos vividos, mas em qualidade

de vida nestes anos. Vários estudos também mostram que os pacientes

transplantados têm uma melhora em vários domínios da qualidade de vida,

justificando assim os custos gerados pelo transplante pulmonar (GROSS; RAGHU,

1997; RAMSEY et al., 1995).

No Brasil, existem poucos estudos relativos à avaliação econômica dos

transplantes. Conforme Sanches e Dain (2008), em seu estudo sobre terapias

substitutivas renais, a utilização da avaliação econômica, particularmente a análise

de custo-efetividade, é um importante aliada para subsidiar uma alocação de

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recursos exequível, eficiente e tendo a equidade como uma dimensão relevante a

ser considerada. Segundo ela, em nosso país, é muito difícil viabilizar uma avaliação

econômica não só pela inexistência de uma padronização metodológica para sua

operacionalização, como também pelo seu alto custo e pela disponibilidade de

dados e informações necessárias.

Um estudo realizado no Rio de Janeiro mostrou que os gastos reais (cirurgias,

procedimentos associados e medicamentos) com transplante pulmonar no Brasil,

entre 1997 a 2003, giraram em torno de R$ 30.000,00 por paciente, e que só no ano

de 2003 o gasto total com transplante pulmonar foi de R$ 1.037.986,00. O objetivo

do trabalho foi avaliar a eficiência do Sistema Nacional de Transplante (SNT), mas

mostrou também que o tempo médio na fila de espera para um transplante pulmonar

em 2003 foi de 1,77 anos. O tempo de espera prolongado, como já citado

anteriormente, é um dos fatores de aumento nos custos pré e pós-transplante. Ainda

conforme esse estudo, o Brasil é um dos países com maior programa público de

transplantes no mundo. De acordo com SNT, em 2005, foram realizados 15.527

transplantes de órgãos e tecidos no Brasil, sendo que destes 11.095 foram pagos

pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O gasto total com transplantes, incluindo

medicamentos, em 2005, foi de R$ 521,8 milhões (MARINHO; CARDOSO, 2007).

Para Chaves (1998), as questões ligadas à eficiência, ao custo-efetividade, à

avaliação tecnológica, ao estabelecimento de prioridades, à alocação de recursos e

à gestão orientada para qualidade e resultados, são fatores importantes na

dimensão econômica da saúde.

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4 CONTEXTO DA PESQUISA

O Brasil possui hoje um dos maiores programas públicos de transplante de

órgãos e tecido do mundo. Com 548 estabelecimentos de saúde e 1.376 equipes

médicas autorizadas a realizar transplante, o Sistema Nacional de Transplante está

presente em 25 estados do país, por meio das Centrais Estaduais de Transplante

(ABTO, 2013).

No Brasil, o transplante de órgãos, por doação ao Estado, somente pode ser

feito após a morte cerebral do doador, que pode ser natural ou acidental, e com o

concomitante funcionamento dos órgãos que serão doados, sendo que a morte

cerebral deve ser devidamente diagnosticada por uma equipe médica; e o

transplante, autorizado pelo SNT e pelo SUS. O paciente deve ter manifestado, em

vida, para a família, a sua intenção de se tornar doador. Uma vez constatada por

médicos a necessidade de transplante, o paciente candidato a receptor é colocado

na fila. A fila para transplantes no SUS para cada órgão ou tecido é única, e o

atendimento é por ordem de chegada, considerados critérios técnicos, geográficos e

de urgência específicos para cada órgão, de acordo com a Portaria 91/GM/MS, de

23 de janeiro de 2003. A fila é disciplinada pela Portaria 3.407/GM/MS, de 05 de

agosto de 1998 (BRASIL, 2008).

A problemática dos transplantes de órgãos pode ser mais bem compreendida

com a observação de algumas das características econômicas dos órgãos

transplantáveis.

Entre essas características destacam-se:

a) São essenciais.

b) Não podem ser estocados por muito tempo (com exceção de ossos e medula) e

somente podem ser utilizados uma vez. Um coração dura entre 4h e 6h, um

pulmão de 4h a 6h, um pâncreas entre 12h e 24h, um fígado entre 12h e 24h e

um rim até 48h. Uma córnea pode durar até sete dias.

c) Têm pouco uso. Portanto, existe baixo custo de oportunidade, pois não há muito

a ser feito com os órgãos doados, que se deterioram rapidamente.

d) Têm poucos substitutos, com exceção de rins que, durante algum tempo e com

baixa qualidade de vida, admitem as terapias renais substitutivas.

e) Os candidatos a receptores não comandam a aquisição dos órgãos. A aquisição

é comandada pelos profissionais de saúde, o que configura um modelo do tipo

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principal/agente.

f) Existe elevada “capacidade ociosa”, pois há um desperdício considerável de

órgãos. No Brasil, de cada 8 potenciais doadores, apenas 1 é notificado e

somente 20% destes são utilizados como doadores de múltiplos órgãos.

g) Os doadores não comandam a oferta. São os profissionais de saúde que, em

última instância, decidem se um órgão doado pode ser aproveitado e para quem

ele pode ser cedido.

A demora no atendimento exerce impactos significativos sobre o bem-estar;

as probabilidades de cura; a sobrevida dos enxertos e dos pacientes; a natureza e a

extensão das sequelas nos pacientes, nos familiares envolvidos, e na sociedade.

Pior situação ocorre quando, além de elevados, os prazos são imprevisíveis.

Com tal agravante, as incertezas decorrentes dessa imprevisibilidade impedem o

planejamento das vidas dos pacientes e dos seus familiares, da atuação do sistema

de saúde e do funcionamento do sistema produtivo em que eles, por ventura,

trabalhem. Tempo de espera elevado implica, além dos custos e sofrimentos dos

pacientes na fila, o aproveitamento de órgãos de qualidade inferior e a consequente

redução do tempo de duração dos enxertos.

Com esse sistema organizacional, a taxa de doação no país permaneceu

estável, variando de cerca de 3 por milhão de população (pmp) entre 1993-1998,

aumentando para 7,4 pmp entre 1999 e 2004, diminuindo para 5,4 pmp entre 2005 e

2007 e voltando a subir entre 2008 e setembro de 2009 para 8,6 pmp. A meta,

conforme estudos, seria de 10 pmp para o ano de 2010, 14 pmp para 2013 e 20 pmp

para 2017 (PEGO-FERNANDES; GARCIA, 2010).

O número de transplantes realizados por ano, em cada estado ou unidade

federada (UF), representa o equilíbrio possível e efetivo entre a taxa média de

serviço (a oferta) e a taxa média de chegada de pacientes (a demanda) candidatos a

transplantes no SNT. No conjunto das UFs, fica evidente um predomínio do menor

tempo de espera nas regiões Sul e Sudeste, que também concentram a maior parte

dos transplantes realizados e dos pacientes em filas (MARINHO; CARDOSO;

ALMEIDA, 2007). Conforme registro da Associação Brassileira de Transplante

(ABTO), em 2011 foram realizados 4.975 transplantes de órgãos no Brasil, sendo

São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina os

responsáveis por 73% deste total (3.628 transplantes). Já no ano de 2012, este

número aumentou para 5.385 transplantes, sendo que os estados que mais se

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destacaram em número de transplantes por milhão de população foram RS (51,2

pmp), seguido de SP (47,2 pmp), PR (41,5 pmp) e SC (39,2 pmp) (ASSOCIAÇÃO

BRASILEIRA DE TRANSPLANTE..., 2013).

Santa Catarina não realiza transplante pulmonar, porém um dado interessante

em relação ao número de transplantes mostrou que, no ano de 2011, enquanto o

Brasil chegou próximo de 11 doadores por milhão de habitantes, Santa Catarina

alcançou 25 doadores efetivos por milhão de habitantes, sendo esse o melhor

resultado já alcançado por um estado brasileiro na realização de transplante de

órgãos. No ano de 2012, Santa Catarina superou expectativas e tornou-se líder no

país com melhor taxa de doação de órgãos por milhão de população (26,4 pmp),

comparando-se às melhores taxas de países desenvolvidos. Santa Catarina ocupa

hoje, no Brasil, o segundo lugar nos transplantes de fígado, quarto lugar em

transplante de rim, quinto em medula óssea e sexto em pâncreas por milhão de

população (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTE..., 2013).

A Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos de

Santa Catarina (CNCDO/SC) foi criada pelo Decreto Estadual nº 553 de 21 de

setembro de 1999, por força da Lei nº 9.434/97 e Decreto 2.268/97, como unidade

integrante da estrutura administrativa da Secretaria de Estado da Saúde (SC

TRANSPLANTE, 2012).

Atualmente, a CNCDO/SC está inserida na Gerência do SC Transplantes,

sendo este um órgão da estrutura da Secretaria de Estado da Saúde, responsável

pela coordenação operacional da Política Estadual de Captação e Transplantes de

Órgãos e Tecidos no Estado de Santa Catarina. Está vinculada diretamente à

Diretoria de Serviços Especializados, da Superintendência da Rede de Serviços

Próprios, aprovada na reforma administrativa, Lei Complementar nº 284 de 28 de

fevereiro de 2005.

A Gerência do SC Transplantes está localizada no 3° andar do Posto

Assistência Médica em Florianópolis, funciona 24 horas e possui um número de

discagem gratuita para todo o território nacional (0800 643 74 74). Sua equipe

multiprofissional e interdisciplinar é composta por 2 médicos, 6 enfermeiros, 4

técnicos em atividades administrativas, 2 assistentes sociais e 1 digitadora.

Atualmente, a manutenção operacional da Gerência do SC Transplantes é custeada

por recursos vinculados ao orçamento da GEPAM.

A principal competência da Gerência do SC Transplantes consiste em atender

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a população catarinense no que diz respeito à doação, à captação, à distribuição e

ao transplante de órgãos e tecidos humanos. Com esse propósito, a Gerência do SC

Transplantes registra e organiza informações, por meio de cadastros de receptores,

de estabelecimentos de saúde, de equipes, de profissionais, entre outros.

São 128 profissionais cadastrados para captação e transplante, entre todas

as especialidades exigidas pelas portarias e leis, para todos os tipos de órgãos e

tecidos.

Em relação às Unidades de Saúde cadastradas para atendimento em

transplantes de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), a rede conta com 12

unidades, distribuídas em 5 macrorregiões de saúde, estando ausente nas

macrorregionais do planalto norte, serrano e meio oeste. Também estão

cadastradas, junto à Gerência da SC Transplantes, 5 unidades de natureza privada,

hospitalares e ambulatoriais para atendimento em transplantes de córnea

exclusivamente a pacientes em caráter privado. Todas as unidades vinculadas ao

SUS, cadastradas para realização de transplantes, estão também cadastradas para

captação de órgãos e tecidos. Além dessas, estão cadastradas 09 unidades que

realizam exclusivamente captação. Na rede privada, estão cadastradas 03 unidades

para captação de órgãos e tecidos.

O financiamento destinado à realização de captação e transplante, bem como

a outras atividades inerentes a elas, é de responsabilidade compartilhada entre a

União, o Estado e o Município.

O financiamento federal ocorre por meio do Fundo de Ações Estratégicas e

Compensação (FAEC), a partir das informações do SNT. São financiados os

procedimentos de notificação do potencial doador; a manutenção do potencial

doador; a captação de órgãos e/ou tecidos para transplante (cadáver e vivo); o

transplante de órgãos e/ou tecidos (cadáver e vivo); as intercorrências pós-

transplante; os exames e as consultas em consequência do transplante ou da

doação em vida; os medicamentos necessários em decorrência do transplante ou da

doação em vida.

O pagamento dos procedimentos é feito por meio de Autorização de

Internação Hospitalar (AIH), extrateto financeiro, para todos os níveis de gestão. Os

medicamentos são financiados por meio de Autorização de Procedimentos de Alto

Custo (APAC).

A contrapartida financeira estadual se dá por meio do custeio e da

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manutenção da estrutura técnico-administrativa, incluindo local, equipamento,

pessoal, material, publicidade, cursos, palestras, vistoria, veículos, entre outros.

Desse modo, a Secretaria de Estado da Saúde, por meio da Gerência do SC

Transplantes, mantém em funcionamento todas as atividades específicas de

notificação, captação e distribuição de órgãos e tecidos, num período de 24 horas,

no âmbito estadual. Desenvolvem também projetos na área educacional e

esclarecimento à população em geral, referentes à doação e ao transplante de

órgãos e tecidos.

As consultas e os exames de pré-transplante se encontram inseridos no

financiamento da média e alta complexidade, acordados na Programação Pactuada

e Integrada (PPI).

A Programação Pactuada Integrada (PPI) da Assistência é coordenada pelo

gestor estadual, em estreita articulação com os gestores municipais em todas as

suas etapas em respeito ao princípio do comando único do sistema de saúde em

cada esfera do governo.

A definição do limite financeiro para todos os municípios deve ser composta

por uma parcela da população do próprio município, acrescido da parcela de

recursos correspondentes à programação de referências de outros municípios e

deduzida a previsão de necessidades de encaminhamento da população para outros

municípios, pactuada entre os gestores.

A cota financeira de cada município é determinada pela população do

município, multiplicada pelos parâmetros predefinidos de cada grupo de

procedimentos que compõem a PPI da Assistência, sendo que estes são fixos para

todos os municípios.

Os procedimentos de Alta Complexidade Ambulatorial possuem suas

referências predefinidas pelos municípios sede que realizam os procedimentos

específicos para cada grupo da Alta Complexidade. Portanto, é de responsabilidade

do gestor estadual determinar quais são as referências para os procedimentos da

Alta Complexidade Ambulatorial.

Além do deslocamento das equipes de captação e transplante de órgãos e

tecidos entre os estados brasileiros, é também garantido pelo SNT o deslocamento

do órgão ou do tecido para transplante.

Os procedimentos de pré-transplante, transplante e pós-transplante,

realizados em caráter privado e/ou convênio, são financiados de acordo com a

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regulamentação específica de cada plano ou seguro saúde, do início ao final de todo

o tratamento, desde que o estabelecimento, a equipe, o profissional e o paciente

estejam cadastrados no SNT, e respeitados o Cadastro Único de Receptores.

A inscrição dos receptores se dá por meio dos profissionais médicos

credenciados que cadastram seus pacientes na Gerência da SC Transplantes

(CNCDO/SC), em formulário padrão de inscrição individual, sendo inserido no

cadastro único, respeitando a data de chegada do formulário devidamente

preenchido. A atualização das informações clínicas dos receptores cadastrados, tais

como manutenção da soroteca, intercorrências clínicas, óbito, desligamento, entre

outros, é de responsabilidade dos médicos credenciados.

A distribuição de órgãos e ou tecidos respeitará a Legislação Federal, por

meio do programa informatizado do Sistema Nacional de Transplantes, cujos dados

estão organizados respeitando os critérios previstos para cada tipo de órgão e/ou

tecido.

Quando ocorre a doação de um órgão e/ou tecido, este é submetido a

exames e os resultados são alimentados no programa, que então procede ao

cruzamento entre os dados de doador e receptor e apresenta em ordem decrescente

os receptores mais compatíveis com o órgão e/ou tecido.

O médico do receptor é contatado para disponibilização do órgão e/ou tecido,

e este deve confirmar o aceite ou não. No caso de recusa, deverá ser comunicada

por escrito em formulário próprio à gerência do SC Transplantes.

As diretrizes para organização de um sistema efetivo de captação e

transplante de órgãos e tecidos no território catarinense seguirão os seguintes

critérios na captação e na distribuição dos órgãos captados, conforme Plano

Estadual de Transplante:

a) Fluxos de referência e contrarreferência

Os fluxos de referência e contrarreferência para a captação e transplante de

órgãos e tecidos obedecerão à Política de Regionalização da Saúde, cujos critérios

estão delimitados no Plano Diretor de Regionalização, obedecendo à territorialização

municipal, microrregional, regional, macrorregional e estadual.

Em Santa Catarina, na captação de órgãos e tecidos, as unidades

hospitalares de menor complexidade deverão encaminhar o potencial doador de

órgãos e/ou tecidos, seguindo os fluxos regionalizados da assistência à saúde, às

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unidades de referência regional credenciadas para captação e posterior distribuição,

por meio da Gerência/Central de Notificação e Captação de Órgão do Estado

(CNCDO) às unidades de referência credenciadas para transplante.

Em situações especiais de captação e transplante, como, por exemplo, para

pulmão, equipes de outras unidades da federação poderão estar diretamente

envolvidas no procedimento de retirada do órgão, mediante autorização prévia da

CNCDO. Santa Catarina, como não possui um centro de transplante pulmonar,

mantém parceria com o Rio Grande do Sul para atender à demanda estadual no

transplante deste órgão.

b) Serviços auxiliares e complementares pré-transplante

Para a realização de determinados tipos de transplantes são necessários

exames complementares, tais como angiorressonância, arteriografia e cintilografia.

Esses exames são solicitados pelo médico transplantador integrante de

equipe atuante em uma instituição credenciada para o procedimento.

Atualmente, não existem pactuações de referência e contrarreferência para os

procedimentos de pré-transplante.

c) Sistemas assistenciais de alta complexidade

Transplantes de órgãos sólidos, tanto na sua realização quanto no

acompanhamento dos pacientes, dependem de estabelecimentos de saúde

especializados no manejo das patologias, das disfunções ou das insuficiências

orgânicas relacionadas a cada modalidade específica. Esse fato reforça a

necessidade de vincular tais programas de transplante aos centros de referência de

alta complexidade nas diversas regiões do estado. A inserção de serviços de

transplante dentro das unidades da rede de assistência especializada (nefrologia,

cardiologia, ortopedia, etc.) confere resolutividade ao sistema e permite um

atendimento integral ao usuário.

d) Integralidade da assistência

Por se tratar de modalidade terapêutica que envolve alta complexidade e

considerável investimento financeiro, as ações e os procedimentos de transplante

devem atender ao princípio da integralidade da assistência, compreendida como:

- Assistência pré-transplante, que inclui inicialmente o acesso a todo serviço de

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saúde necessário para o preparo e a inclusão do paciente na lista de espera do

respectivo programa. O SUS deverá garantir acesso a todos os procedimentos

desta etapa.

- Procedimentos de transplante, caracterizados pelo implante de órgão ou tecidos

no receptor. Tal etapa inclui o transporte ágil e eficiente desde a residência do

paciente até a unidade credenciada para transplante, com vistas a garantir

melhores resultados no processo.

- Assistência pós-transplante, realizada por meio de um conjunto de procedimentos

destinados ao acompanhamento clínico ou atenção ao paciente na possibilidade

de intercorrências.

- Assistência de urgência e emergência: em situações de complicações agudas

relacionadas direta ou indiretamente à imunossupressão; em situações de

qualquer outra natureza que possa comprometer o êxito do transplante.

Considerando o princípio da equidade, o paciente transplantado deve ter

acesso priorizado na rede de assistência do SUS especialmente nas condições que

caracterizem urgência e emergência.

A assistência farmacêutica deve ser garantida e ofertada ao paciente

transplantado na totalidade da prescrição e sob rigoroso controle, em virtude da

estreita ligação entre o uso da medicação imunossupressora e o sucesso dos

procedimentos de transplante. Antibióticos, antifúngicos e antivirais são drogas

essenciais no manejo de condições comuns a esses pacientes. Do mesmo modo,

medicações para o controle dos agravos crônicos degenerativos devem ser

garantidas aos pacientes transplantados.

e) Controle social

O controle social, realizado por meio da atuação dos Conselhos de Saúde,

confere legitimidade e visibilidade ao Sistema de Saúde. Considerando que é de

responsabilidade dos Conselhos Municipais de Saúde a formulação de estratégias e

o controle da execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive

nos aspectos econômicos e financeiros, toda solicitação para credenciamento de

estabelecimento ou equipe de saúde para realização de captação ou transplante

deverá ser previamente aprovada pelo Conselho Municipal de Saúde do município –

sede da unidade ou da equipe, cuja ata de aprovação será anexada ao processo de

credenciamento.

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f) Gestão orçamentária e financeira

A prestação de serviços de saúde exige uma previsão orçamentária e

financeira. Santa Catarina, na condição de gestor pleno, possui seu teto financeiro

definido pelo Ministério da Saúde. Toda alteração no teto financeiro estadual, em

especial inclusão de novos serviços, deve ser previamente aprovada pelo gestor

estadual.

g) Gerência dos Transplantes de SC

O cargo de gerente dos transplantes de Santa Catarina, a partir da aprovação

deste documento pela CIB, só poderá ser ocupado por profissional de saúde não

integrante de equipe de transplante e/ou remoção de órgãos ou tecidos no momento

da posse e pelo menos nos 2 anos que a antecedam, segundo a análise do banco

de dados do SNT. O gerente do SC Transplantes deverá possuir formação na área

de saúde pública, gestão de serviços de saúde e coordenação intra-hospitalar de

doação de órgãos e tecidos para transplantes.

h) Subordinação das equipes às instituições

A partir da aprovação deste documento pela CIB, fica estabelecida uma forte

relação hierárquica entre equipes e instituições. As instituições poderão e deverão

tomar parte nas decisões que alterem composições ou comandos das suas

respectivas equipes de transplante. Quaisquer alterações nas equipes só poderão

ser processadas mediante a anuência do gestor institucional (Diretor Técnico ou

Clínico). No mesmo sentido, a atuação da equipe em outra instituição dependerá da

autorização da instituição original.

Santa Catarina, no primeiro semestre de 2011, conforme a Associação

Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), foi um dos estados com maiores taxas

de notificação de doadores potencias (59,2 por milhão de população-pmp) e o maior

em notificação de doadores efetivos (25,6pmp) (doadores potenciais são aqueles

diagnosticados com morte encefálica e exames suplementares e se tornam um

doador elegível; doador efetivo é aquele que já iniciou a cirurgia e tem seu órgão

transplantado). No final de 2011, foi o quinto estado em número total de transplantes

no país. Ocupa, ainda, o segundo lugar nos transplantes de rim, terceiro em

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pâncreas, quinto em medula óssea e décimo segundo em córnea por milhão de

população (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTE..., 2012). Neste

primeiro trimestre de 2012, ultrapassou a meta proposta para o ano de 2017, que

era de 50 notificações pmp, para 65 pmp. Está em primeiro lugar no país em taxa de

doadores efetivos (26,2 pmp), sendo que a média brasileira é de 13,1 pmp. A taxa

de efetivação de transplante no Brasil, neste primeirro trimestre, foi de 29,7% e

Santa Catarina ficou entre os quatro principais estados que ultrapassaram esta

média (acima de 40%). Conclui-se, portanto, que nosso estado representa uma

parcela importante no quadro nacional dos transplantes.

O Estado de Santa Catarina não realiza transplante pulmonar. No Brasil,

existem cinco estados que possuem centro de transplante pulmonar: São Paulo,

Minas Gerais, Ceará, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, sendo que, nos últimos

dois anos, o Estado do Rio de Janeiro não realizou nenhum procedimento

(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTE..., 2013). As outras regiões do

país necessitam transportar seus pacientes a estes estados no momento em que se

consegue o órgão a ser transplantado. No caso de Santa Catarina os pacientes são

encaminhados para o RS.

Apesar do crescimento que houve nos últimos 10 anos no Brasil (de 0,1 para

0,4 pmp), o pulmão é ainda um dos orgãos menos transplantado do país, em 2012

ocorreram 69 transplantes, sendo o Rio Grande do Sul o estado que mais realizou

este procedimento (33), seguido de São Paulo (31), Ceará (4) e Minas Gerais (1).

Embora com um número ainda reduzido, houve um significativo aumento no

transplante de pulmão no ano de 2012, quando comparado ao ano de 2011, de 49

para 69 transplantes, atingindo o número de 0,4 pmp (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA

DE TRANSPLANTE..., 2013).

Sendo Santa Catarina um estado com estatísticas favoráveis em relação aos

transplantes de órgãos e com uma estrutura funcional extremamente organizada e

reconhecida nacionalmente, fica a pergunta do por que da falta de um centro de

transplante pulmonar próprio. É mais fácil encaminhar ao estado vizinho (RS) que,

por sua vez, é o maior centro deste transplante do país? Nosso Estado não possui

um número viável de pacientes para manter um serviço aqui? Não há uma equipe

técnica que possa trabalhar com esse procedimento de alta complexidade em nosso

estado? O financiamento seria muito maior se comparado ao deslocamento deste

paciente para o outro estado? Qual o custo real da manutenção de um centro de

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transplante pulmonar? São estes os principais questionamentos que deram início à

proposta deste estudo, e que se pretende responder durante a execução desse

trabalho.

Os dados foram coletados na Secretaria de Saúde do Estado de Santa

Catarina e no Centro de Transplante do Hospital Santa Casa de Misericórdia de

Porto Alegre (RS).

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5 METODOLOGIA

Este projeto de pesquisa é um estudo de caso no âmbito da economia da

saúde, com abordagem quali-quantitativa e aplicação da metodologia multicritério de

apoio à decisão (MCDA).

A pesquisa qualitativa permite analisar os aspectos implícitos ao

desenvolvimento das práticas organizacionais e a interação entre seus integrantes.

É a técnica mais apropriada para compreender o fenômeno no contexto em que está

inserido e do qual é parte, pois possibilita analisá-lo numa perspectiva integrada

(TRIVINOS, 1987). Quanto aos fins, pode ser considerada descritiva, pois descreve

as informações obtidas por meio da pesquisa documental e das entrevistas. A

pesquisa descritiva expõe as características de determinada população ou de

determinado fenômeno, mas não tem o compromisso de explicar os fenômenos que

descreve, embora sirva de base para tal explicação (CHURCHIL JR., 1999).

Quanto à estratégia de pesquisa, ela pode ser classificada como um estudo

de caso. Por pretender estudar um único fenômeno, associado a um problema

específico no âmbito do investimento em ampliação de serviços de saúde em uma

circunstância singular, não tem a pretensão da generalização.

Quanto aos meios de investigação, este trabalho foi dividido em duas etapas:

a pesquisa bibliográfica; e outra final, que foi a pesquisa documental e levantamento

de critérios de avaliação das alternativas para aplicação do modelo MCDA.

Assim, os elementos primários de avaliação nesta pesquisa foram

estabelecidos a partir de entrevistas e discussões com especialistas.

A avaliação e agregação desses elementos primários por afinidade e relações

de causa-efeito em uma matriz cognitiva permitiu seu agrupamento em áreas de

interesse: Exemplo: (custo, impacto na sobrevida, ampliação da oferta, curva de

aprendizado, etc.) que foi representada por uma árvore de critérios (FITZ; SOUZA,

2007).

Para cada critério foi estabelecido um descritor (ou indicador).

Para cada indicador ou descritor foi estabelecido o padrão e a escala utilizada

para a sua avaliação.

O cálculo das funções de valor definidas por cada critério será realizado com

auxílio do software MacBeth – Measuring Attractiveness by a Categorical Based

Evaluation Technique (BANA-E-COSTA; VANSNICK, 1999).

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Em síntese, o MCDA procura sistematizar o processo de tomada de decisão

em relação a alternativas diversas, comparando-as em seu resultado segundo

múltiplos critérios ou valores percebidos pelo tomador de decisão (ENSSLIN;

MONTIBELLER NETO; NORONHA, 2001).

Os passos para a construção da metodologia são:

a) Identificação dos Elementos Primários de Avaliação;

b) Construção da matriz lógica, matriz cognitiva ou mapa cognitivo, que deve incluir

todos os valores e dimensões relevantes do problema (os EPAs);

c) Análise da matriz e da identificação dos Pontos de Vista Fundamentais, que

sustentarão a construção do modelo multicritério;

d) Definição dos descritores, que se tornarão as escalas para a medida de cada

critério (avaliarão o desempenho de cada critério) quando submetido a cada uma

das alternativas sob análise do decisor;

e) Definição das diferenças de atratividade de cada ponto da escala em relação aos

demais pontos da escala (Quanto vale a mudança do ótimo para o bom em uma

escala que qualifica um determinado critério? Essa diferença é a mesma se se

mudar do bom para o regular?).

f) Com as diferenças de atratividade estabelecidas em relação à escala semântica,

o software Macbeth transformará cada escala em diferenças numéricas

ponderadas, permitindo a comparação das mesmas em relação a possíveis

compensações entre elas para a definição da decisão do gestor.

g) Esta fase pode ser considerada a fase da análise de viabilidade do projeto, já

que determinará os resultados de cada alternativa em relação ao desempenho

em cada critério incluído na matriz de decisão.

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6 RESULTADOS

A proposta deste trabalho foi identificar, tendo como escopo a Metodologia de

Multicritério de Apoio à Decisão (MCDA), elementos fundamentais de análise ou

critérios utilizados para avaliar a viabilidade da implantação de um serviço de

transplante pulmonar no Estado de Santa Catarina.

A operacionalização da metodologia MCDA ocorre por meio de três etapas

básicas, diferenciadas, mas correlacionadas:

a) a estruturação do contexto decisório;

b) a construção de um modelo de avaliação de alternativas/ações; e

c) a formulação de recomendações para os cursos de ações mais satisfatórias.

O presente estudo, diante das características de sua proposta e a premissa

de que o processo de decisão em relação ao tema deste trabalho tem pesquisas,

aspectos políticos e conjunturais que exigem a sua contextualização para a sua

efetiva definição, abordou apenas a primeira fase do modelo MCDA, deixando-a

como referência para outros estudos ou a continuidade da aplicação da metodologia

no contexto da gestão do Sistema Único de Saúde.

O processo de estruturação do contexto e das variáveis decisórias é de suma

importância para se ter um entendimento comum sobre o problema, orientar o

processo de criação das ações e, por fim, servir de base para o processo de

avaliação das mesmas. É nessa fase que se aplicam as ferramentas que irão apoiar

o raciocínio, gerar conhecimento sobre o problema e comunicar sobre a realidade

(ENSSLIN; MONTIBELLER NETO; NORONHA, 2001).

Como primeira etapa a ser considerada, é útil a definição, junto ao eventual

decisor, de um “rótulo para o problema”, no caso o estudo da viabilidade de

implantação de um serviço de transplante pulmonar em Santa Catarina. A função

principal do rótulo é delimitar o contexto decisório nesta etapa do processo, não

sendo, portanto, definitivo.

A segunda etapa, sintetizada na construção dos mapas de relações meios-

fins, é centrada na definição dos elementos primários de avaliação (EPA’s). Estes

elementos constituem-se de objetivos, metas e valores dos decisores e também de

ações, opções e alternativas. Esses elementos, que podem ser registrados a partir

de técnicas de brainstorms ou análise de discurso de informantes-chave, devem ser

integrados da forma mais consistente possível em uma matriz lógica ou mapa

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cognitivo (FITZ; SOUZA, 2007).

6.1 Levantamento dos elementos primários de avaliação

O processo de identificação de elementos primários de avaliação e a sua

organização em um mapa cognitivo talvez sejam os momentos mais demorados e

onerosos da metodologia empregada.

Os elementos primários de avaliação, peças constituintes do mapa cognitivo

construído no contexto desta pesquisa, foram coletados a partir da realização de

reuniões (brainstorms) com os agentes do processo decisório, a saber: Dr. Joel de

Andrade (coordenador estadual de transplantes de Santa Catarina, mestre em

Ciências Médicas pela Universidade Federal de Santa Catarina, especializado em

Gestão Hospitalar pela UFSC e Doação e transplante de órgãos Tecidos e células

pela Organização Nacional de Transplantes da Espanha), Dr. Flavio Magajewski

(coordenador de ensino e pesquisa da central de notificação, captação e distribuição

de órgãos de Santa Catarina - CNCDO/SC, mestre em Administração e doutor em

Engenharia de Produção, ambos pela Universidade Federal de Santa Catarina e

professor da Universidade do Sul de Santa Catarina), Dr. Sadi Marcelo Schio

(médico do serviço de transplante pulmonar da Santa Casa de Porto Alegre,

coordenador clínico do serviço de transplante pulmonar da Santa Casa de

Misericórdia de Porto Alegre - RS) e o próprio pesquisador, que atuou como

observador participativo, mimetizando aspectos da metodologia de pesquisa.

A partir das discussões, o autor da pesquisa, atuando também como

facilitador, procurou reunir as ideias apresentadas pelos especialistas participantes,

e que foram as incluídas na relação a seguir:

a) custo de implantação do serviço;

b) custo de manutenção do serviço;

c) custo para estruturação/capacitação da equipe multidisciplinar

responsável;

d) concentração de modalidades de transplantes por serviço;

e) custo do transplante (direto - TFD , transporte, SUS e indireto);

f) curva de aprendizado da equipe de transplante;

g) número mínimo de procedimentos necessários para manter o serviço do

ponto de vista financeiro;

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h) número mínimo de transplantes necessários para manter a equipe com

expertise aceitável;

i) sobrevida pós-transplante;

j) qualidade de vida pós-transplante;

k) tempo de espera na fila para transplante;

l) custos financeiros associados à remoção do paciente para o centro

transplantador;

m) custos emocionais dos paciente e dos acompanhantes, associados à

distância do serviço de transplante em relação ao local de residência;

n) tempo na fila de espera para o transplante;

o) índice de mortalidade na fila de espera para o transplante;

p) demanda de transplantes da população de Santa Catarina;

q) número de pulmões disponibilizados para transplante pelo sistema de

captação de órgãos;

r) número de pulmões efetivamente transplantados pelo serviço de

referência para transplante de pulmão;

s) taxa de aceitação dos órgãos disponibilizados.

6.2 Elaboração do mapa cognitivo

A organização lógica dos elementos primários de avaliação definiu um mapa

cognitivo que ficou estruturado conforme a

Figura 3.

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Figura 3: Mapa cognitivo realizado para avaliação da viabilidade de um serviço de Transplante Pulmonar

Fonte: Elaborada pelo autor (2013).

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A matriz lógica ou mapa cognitivo é, sinteticamente, um diagrama que deve

reunir, de forma esquemática, as representações mentais de um decisor para uma

dada situação-problema.

A matriz lógica organizada neste trabalho foi se construindo de forma

assistemática como uma estrutura orientada de meios para fins em uma concepção

de linha de tempo, cujos elementos da base correspondem a causas primárias

necessárias ou condicionantes para a ocorrência de elementos colocados em níveis

sucessivamente mais altos da matriz.

A construção da matriz lógica foi um processo bastante dinâmico. A análise

dos elementos primários de avaliação (EPA’S) e a sua distribuição na matriz lógica

foram alteradas inúmeras vezes, incorporando um processo de apropriação

gradativo do pesquisador com as variáveis relevantes constituintes dessa estrutura

lógica, tendo como resultado a definição dos Pontos de Vista Fundamentais (PVF’s).

Salienta-se mais uma vez que, em se tratando do uso da metodologia de

MCDA, a estrutura do mapa cognitivo reflete o juízo de valores dos atores

participantes do processo no momento de sua confecção.

6.3 Determinação dos pontos de vista fundamentais

Os pontos de vista (PVs) ou elementos primários de avaliação (EPAs) podem

ser considerados como os aspectos que reúnem características e/ou objetivos

percebidos como importantes pelo decisor para a construção de um modelo de

avaliação de ações existentes ou construídas (SOUZA, 1999).

Certos pontos de vista são essenciais para uma possível avaliação das

futuras ações. Estes são considerados como Pontos de Vista Fundamentais (PVFs)

e constituem-se como eixos ou critérios de avaliação do problema (FITZ; SOUZA,

2007).

Seguindo este raciocínio, definiram-se como eixo para a avaliação dos

critérios a serem discutidos dentro de um serviço de transplante pulmonar quatro

etapas fundamentais, a saber: demanda e oferta, implantação, manutenção e

eficiência/eficácia (qualidade), a partir dos quais se selecionaram os pontos de vista

fundamentais (PVFs) que serviram de base para a discussão deste estudo.

A etapa da demanda e oferta incluiu os elementos que correspondem à

percepção social da necessidade de um serviço ou/as informações técnicas que

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reinterpretam dados epidemiológicos na forma de um indicador de demanda para

um procedimento técnico, e também as condições logísticas relacionadas à oferta do

órgão a ser transplantado. Os PVFs fundamentais nesta etapa foram: a demanda de

transplante e o número de pulmões ofertados pelo sistema de captação.

A implantação corresponde aos critérios relacionados na estruturação de um

serviço de transplante, e inclui os custos econômicos relacionados à criação deste

serviço e custos sociais associados à sua ausência. Entram nesta etapa, como

PVFs, o tempo de espera e a mortalidade na fila de espera para realização do

transplante e o custo de implantação de um serviço.

A manutenção corresponde aos critérios relacionados aos processos

associados ao funcionamento de um centro de transplante e basicamente se

referem à viabilidade de um serviço sustentável e efetivo. Compreende desde a

atualização técnica da equipe até a apropriação dos custos para manter este serviço

funcionando. Os elementos fundamentais selecionados do mapa cognitivo foram: a

curva de aprendizado da equipe e os custos de manutenção de um serviço de

transplantes de pulmão.

A eficiência/eficácia (Qualidade) é a etapa que corresponde aos critérios

relacionados aos resultados alcançados com este serviço de transplante caso fosse

implantado no estado. Compreende a avaliação do serviço em termos de qualidade

e satisfação dos usuários. Foram selecionados como PVFs desta etapa: o número

de pulmões efetivamente transplantados, a taxa de sobrevida pós-transplante e a

qualidade de vida pós-transplante, e o custo financeiro final.

A organização dos PVFs nas etapas indicadas anteriormente foi inspirada nas

formulações de Donabedian, que consagrou na área da gestão da qualidade de

serviços de saúde uma visão baseada na Teoria Geral de Sistemas, na qual a

qualidade em saúde pode ser sistematizada pelo controle de elementos agregados

classicamente em uma tríade: estrutura, processo e resultado (DONABEDIAN,

1992).

A estrutura inclui recursos físicos, humanos, materiais e financeiros

necessários para a assistência médica. Inclui também o financiamento e a

disponibilidade de mão de obra qualificada.

Os processos agregam as atividades envolvendo profissionais de saúde e

pacientes, com base em padrões sociais e técnicos aceitos. A análise pode ser sob

o ponto de vista técnico e/ou administrativo.

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Os resultados correspondem ao produto final da assistência prestada,

considerando saúde, satisfação de padrões e de expectativas.

A avaliação dos PVs incluídos na matriz lógica e a sua agregação nas etapas

apresentadas permitiram uma seleção dos PVFs, reduzindo os dezenove PVs para

nove PVFs. As etapas e os PVFs, que foram considerados elementos fundamentais

para a tomada de decisão, foram representados em uma árvore de pontos de vista,

os quais estão apresentados na

Figura 4.

Figura 4: Árvore de pontos de vista para análise da viabilidade de um centro de Transplante Pulmonar

Fonte: Elaborada pelo autor (2013).

Conforme Ensslin, Montibeller Neto e Noronha (2001), muitas vezes se faz

necessária a decomposição de um PVF, a fim de que se possa realizar uma melhor

avaliação do desempenho de suas ações potenciais. Como exemplo, pode-se citar a

necessidade de um maior detalhamento de algum aspecto de um problema para

uma melhor fundamentação da discussão.

A análise detalhada de cada uma das variáveis incorporadas ao modelo pode

subsidiar as decisões acerca da oferta de transplante pulmonar à população de

Transplante

Pulmonar

Demanda

Oferta

Demanda oferta

Implantação

Tempo e mortalidade custo

Manutenção

Curva de aprendizado

custo

Eficiência

Eficácia

N pulmõesofertados

Sobrevida e qualidade de

vidaCustofinal

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Santa Catarina em uma das duas hipóteses ou alternativas à disposição do gestor: a

criação de um serviço local de transplante pulmonar ou a manutenção do

referenciamento da população demandante de transplante de pulmão para o serviço

existente no Rio Grande do Sul. Ainda que as variáveis individualmente possam

apoiar decisões distintas, a análise global e agregada dos elementos considerados

fundamentais para representar os valores do decisor deve fornecer uma orientação

mais ampla e abrangente para apoiar o processo decisório. É importante enfatizar

que este estudo incorporou, em uma dimensão associada ao processo decisório,

algumas variáveis associadas aos benefícios que a mesma trará ao paciente, ou

seja, qual estratégia teria melhor potencial de garantir acesso a este serviço de

saúde especializado com os melhores resultados possíveis, alinhando-se à

tendência dos estudos contemporâneos de economia da saúde, comparando

alternativas (custo-benefício, custo-efetividade).

6.4 Demanda de transplantes da população de Santa Catarina

O dimensionamento da necessidade da população catarinense de transplante

pulmonar é um dado fundamental para a análise que se pretende desenvolver com

este trabalho. A demanda por um determinado procedimento determina em grande

parte a viabilidade de implantação de um novo serviço especializado em nosso

estado, além de produzir efeitos em outros aspectos do processo decisório. A

viabilidade financeira, a curva de aprendizado, a manutenção da expertise, bem

como os resultados expressos pela sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes

transplantados, são alguns dos aspectos que sofrem impacto direto desta variável.

A necessidade de transplante pulmonar, segundo Garcia, é estimada em 3-5

transplantes por milhão de população por ano (p.m.p./ano) (GARCIA, 2000).

Considerando que a população de SC é de aproximadamente 6 milhões de

habitantes, baseado nesta estimativa e considerando que toda a demanda fosse

atendida, ter-se-ia um número absoluto de 18 a 30 procedimentos por ano.

No Brasil, nos últimos 10 anos, foram realizados 552 transplantes

pulmonares, década que se caracterizou pelos maiores avanços deste procedimento

no país. Em 2012, ano com a melhor performance desta atividade no país, 69

procedimentos foram realizados nos 6 centros ativos autorizados. O Rio Grande do

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Sul, onde foram realizados 33 desses procedimentos, obteve uma taxa de 3,1

transplantes pulmonares p.m.p./ano, conforme mostra a

Figura 5.

Figura 5: Transplantes pulmonares realizados no ano de 2012

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Fonte: Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (2013).

Nos anos de 2011 e 2012 a Secretaria de Estado de Saúde de Santa Catarina

(SES-SC) registrou 35 pacientes com autorizações de tratamento fora do domicílio

(TFD) para transplante de pulmão. Deste grupo, 15 pacientes iniciaram sua primeira

avaliação para entrar em fila de espera, enquanto 20 estavam ou em fila de espera,

ou em acompanhamento pós-transplante, confirmando uma demanda anual próxima

do parâmetro de 3 transplantes de pulmão por milhão de população (p.m.p.).

6.5 Número de pulmões disponibilizados para transplante pelo sistema de

captação de órgãos

O sistema estadual de transplantes de Santa Catarina possui o melhor

desempenho para captação de órgãos a partir de doadores falecidos em morte

encefálica. No ano de 2012 obteve a maior taxa de doação efetiva de órgãos da

história dessa atividade no país, com 165 doadores efetivos de órgãos,

correspondendo a 26,4 doadores efetivos p.m.p./ano (Figura 6). Ainda assim, no

período referido, apenas 10 pulmões foram disponibilizados para transplante. O

resultado revela que apenas 6% dos doadores geraram pulmões possivelmente

úteis para transplante. Quando se amplia a análise para os três últimos anos,

observa-se que o padrão se mantém. Dentre as 433 doações efetivadas entre 2010,

2011 e 2012, apenas 29 pulmões foram gerados, ou seja, 6,7% do total. O que

equivale a 1,39 pulmões gerados p.m.p./ano.

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Figura 6: Número de doadores efetivos por milhão de população no ano de 2012

Fonte: Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (2013).

6.6 Tempo na fila de espera

O tempo na fila de espera para os pacientes transplantados em 2012 no Rio

Grande do Sul teve uma variação grande, de 30 dias a 5 anos, porém a grande

maioria situou-se entre 3 meses a 2 anos ( 86,7%), conforme

Figura 7.

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Figura 7: Tempo de espera dos pacientes transplantados de pulmão no Estado do Rio Grande do Sul

Fonte: CNCDO RS extraído do Sistema Informatizado de Gerenciamento (SIG) do Sistema Nacional de Transplantes (2013).

6.7 Índice de mortalidade na fila de espera

Segundo dados obtidos na CNCDO do Rio Grande do Sul, a mortalidade em lista de transplante pulmonar no serviço da Santa Casa de Misericórdia é de 31,94% até dezembro de 2012. Entre janeiro e abril de 2013 os números reduzem para 20,89%. Ou seja, de cada 10 pacientes listados para transplante, 2 a 3 falecem na fila de espera.

6.8 Custos de implantação do serviço

A projeção e a análise dos custos de implantação de um serviço de

transplante pulmonar são bastante complexas e exigem um exercício direcionado

pelo menos três cenários distintos. No primeiro deles, além da adequação de uma

área física, o serviço seria implantado em uma instituição sem serviços de

transplante cardíaco ou cirurgia torácica de urgência. Ter-se-iam nessa situação,

< 30dias

30 dias< 90dias

90 dias< 6

meses

6 meses< 1 ano

1 ano <2 anos

2 anos <3 anos

3 anos <5 anos

5 anos e+

0,0%

10,0%

20,0%

36,7%30,0%

0,0% 3,3% 0,0%

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além da obra física, os custos de preparo da equipe e da criação de uma estrutura

de funcionamento com cobertura 24h por dia, 365 dias por ano.

Num segundo cenário, ter-se-ia uma área física adequada na qual já

funcionaria um centro de transplantes de outros órgãos, com estrutura de centro

cirúrgico e unidade de terapia intensiva, porém se teria o custo de preparo

manutenção de uma equipe profissional para o transplante pulmonar.

E, num último cenário, haveria aquele que já disporia de estrutura física

adequada e de equipe profissional especializada e treinada.

É fundamental entender que a natureza da instituição hospitalar tem influência

direta nos custos.

O custo de implantação de um serviço de saúde, em relação à estruturação

física, está relacionado com os custos de construção, ampliação e adequação de

áreas físicas, que incluem obras civis, instalações e equipamentos.

Os custos das obras civis podem variar significativamente, conforme as

necessidades e os materiais utilizados, especialmente os revestimentos e o

acabamento da obra, que nas construções de serviços de saúde costumam exigir os

de custo mais elevado, como azulejos e materiais impermeáveis. Moura (2008),

utilizando dados da SUCAB, encontrou diferenças de mais de 465% entre o custo do

revestimento de um metro quadrado com tinta PVA em relação ao revestimento da

mesma área com azulejos, e de quase 3.000% se o revestimento for feito com

mosaico vidroso. Segundo Mascaró (1995), o custo de construção das edificações

recai nos aspectos de quantidade da área construída e qualidade da especificação

dos materiais, especialmente aqueles referentes ao item acabamento.

Em relação à dimensão da área a ser construída ou adequada para a

implantação de um novo serviço de transplante de pulmão, ela é um fator

dependente da escolha que será feita em relação à instituição que abrigará o

serviço, e será tanto menor quanto maior a infraestrutura já existente para este tipo

de procedimento. Nesse sentido, o item “concentração de modalidades de

transplante” pode oferecer mais detalhes sobre a melhor estratégia para redução de

custos de implantação de um novo serviço de transplante. Considerando que as

necessidades das obras civis podem ser modulares, que o custo unitário básico

(CUB) da construção civil para fins comerciais definido pelo SINDUSCON para maio

de 2013 foi de R$ 1.323,72 e que o custo de uma obra destinada a serviços de

saúde empiricamente pode custar até três vezes mais do que o de uma obra

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residencial ou comercial (estabelecendo o CUB Saúde em R$ 3.971,16), pode-se

estabelecer que o custo de cada 100 metros quadrados necessários para a

implantação do serviço de transplante pulmonar terá custo estimado de R$

397.116,00.

6.9 Custo para estruturação/capacitação da equipe multidisciplinar

A composição do painel de custos relacionados à implantação de um serviço

de transplante pulmonar em Santa Catarina deve iniciar elencando os recursos

humanos mínimos exigidos pela Portaria GM/MS nº 2600 de 21 de outubro de 2009

necessários à implantação de um serviço. O Erro! Fonte de referência não encontrada.

resume esses recursos e suas competências. No entanto, é fundamental ressaltar

que as necessidades vão muito além do mínimo exigido e, sendo o transplante uma

atividade com extrema interdisciplinaridade, a contribuição de profissionais de

enfermagem, fisioterapia, psicologia, assistência social, nutrição e farmácia é

fundamental para o sucesso do projeto.

Quadro 1: Profissionais e experiência mínima exigida para autorização de equipe de transplante

Quantidade Especialidade Qualificação

01 Médico pneumologista

Residência ou título de especialista com treinamento formal, com duração mínima de três meses, em serviço especializado em transplante de pulmão hospital de ensino ou de excelência.

01 Cirurgião torácico

Residência ou título de especialista com treinamento formal, com duração mínima de doze meses, em cirurgia brônquica e traqueal, realizado em serviço especializado de transplante de pulmão em hospital de ensino ou excelência.

01 Cirurgião cardiovascular Residência ou título de especialista.

02 Anestesistas

Residência ou título de especialista com treinamento formal, com duração mínima de três meses, em serviço especializado em transplante de pulmão.

01 Intensivista

Residência ou título de especialista com treinamento de três meses em suporte inicial pós-operatório em transplante pulmonar em hospital de ensino ou de excelência.

Fonte: Brasil (2009).

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Seguindo esta lógica, o primeiro custo a ser calculado é o treinamento dos

profissionais envolvidos no projeto. Atualmente o Brasil possui bons centros de

referência vinculados ao Sistema Único de Saúde que podem receber esses

profissionais para treinamento e existe incentivo do Ministério da Saúde com essa

finalidade. Utilizando como referência os valores de diárias da Secretaria de Estado

de Saúde (SES-SC) para São Paulo (R$ 191,25) ou Porto Alegre (R$ 153,00), e as

respectivas passagens aéreas para os destinos citados, ter-se-ia um investimento

em treinamento, considerando uma equipe de 6 profissionais médicos e 2

profissionais de enfermagem pelos distintos períodos recomendados, da ordem de

R$ 377.267,50 (* os cálculos das diárias obedecem à lógica dos valores médios repassados pela

SES SC para viagens às cidades que são centros de referência em transplantes;

** os cálculos dos salários representam os valores médios brutos com profissionais de saúde de nível superior nas suas diversas especialidades nível 14F do plano de cargos e salários da SES/SC.

).

Quadro 2: Sumário dos custos de treinamento de uma equipe de transplante pulmonar

Equipe Período de

duração (dias)

Custo com diárias*

(R$)

Custo com salários**

(R$)

Custos com passagens aéreas (R$)

Total (R$)

01 Pneumologista 120 20.655,00 22.030,29 300,00 42.985,29

02 Anestesistas 120 41.310,00 44.060,58 600,00 85.970,58

01 Cirurgião torácico 360 61.965,00 88.121,16 300,00 150.386,16

01 Cirurgião cardiovascular 120 20.655,00 22.030,29 300,00 42.985,29

01 Intensivista 120 20.655,00 22.030,29 300,00 42.985,29

02 Enfermeiros 30 10.327,50 6.436,36 600,00 17.363,86

382.676,47 * os cálculos das diárias obedecem à lógica dos valores médios repassados pela SES SC para viagens às cidades que são centros de referência em transplantes; ** os cálculos dos salários representam os valores médios brutos com profissionais de saúde de nível superior nas suas diversas especialidades nível 14F do plano de cargos e salários da SES/SC. Fonte: SES-SC (2013).

O custo para estruturação e qualificação profissional da equipe

multiprofissional responsável pelo serviço em estudo é ainda uma decisão mais

difícil, tendo em conta as muitas possibilidades de formação prévia dos participantes

da equipe, e que serão aproveitadas, sem custo, conforme os critérios incluídos no

processo seletivo para a formação do grupo de profissionais.

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Além disso, considerando a possibilidade de utilização de profissionais já

contratados e em atuação em outras equipes de trabalho associados a transplante

de órgãos na mesma instituição (ver concentração de modalidades de transplante

em um mesmo serviço), é impossível definir antecipadamente o custo inicial para a

formação e a qualificação da equipe.

6.10 Concentração de modalidades de transplantes por serviço

Os custos de implantação de um serviço de transplante pulmonar e sua

sustentabilidade técnica e econômica, como já colocado, são diretamente

associados à densidade tecnológica já instalada na instituição que irá abrigar o

serviço. Por conta disso, a lógica gerencial procura agregar o máximo de

modalidades de transplantes em hospitais que já possuem atividades afins. Há

especial interesse na coexistência de programas de transplante pulmonar e

cardíaco, ou, ainda, outros transplantes de órgãos sólidos, em virtude da otimização

das estruturas, dos recursos e dos insumos necessários aos diversos programas. A

existência de serviço ativo de cirurgia torácico bem estruturado e funcionante tem

especial relevância na facilidade de implantação, na redução dos custos e na

obtenção de resultados mais adequados.

A Figura 8 mostra os centros em que funcionam os diversos transplantes de

órgãos em nosso Estado.

Figura 8: Capacidade instalada para transplantes no Estado de Santa Catarina

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Fonte: SC Transplante (2012).

Por meio da Figura 8, pode-se verificar que as cidades de Joinvile, Blumenau

e Florianópolis são as que mais concentram centros com vários tipos de transplantes

e que Blumenau, além de concentrar cinco tipos de transplante, possuiu equipe de

transplante cardíaco, o que, como mencionado, poderia otimizar a implantação do

serviço de transplante pulmonar.

Importante assinalar que a concentração dos centros de transplante, como

mostra a Figura 8, foi projetada no ano de 2010. Atualmente não se possue o centro

de transplante de córnea em Canoinhas, e o centro de transplante cardíaco de São

José foi desativado, ficando, então, apenas as cidades de Blumenau com um centro

de transplante cardíaco no Estado.

6.11 Curva de aprendizado da equipe de transplante

Um dos critérios para análise da curva de aprendizado é o número mínimo de

transplantes necessários para manter a equipe com expertise aceitável.

Conforme registro da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos

(ABTO), a Região Sul, representada pelo serviço de transplante da Santa Casa de

Misericórdia de Porto Alegre, realizou, desde 1989, 423 transplantes pulmonares

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nos 23 anos de atividade do serviço. Nos primeiros quatro anos, realizou 33

transplantes, a partir de então, manteve sua média em torno de 25

procedimentos/ano, sendo o ano de 2009 e 2012 os mais produtivos (40 e 30

procedimentos, respectivamente).

Uma divisão por períodos de 5 anos revela a evolução da equipe em termos

de procedimento, como pode ser verificado no *Projeção baseada nos resultados do

triênio.

.

Quadro 3: Número de transplantes pulmonares realizados no Brasil

Quinquênio Período Nº de

Procedimentos/mês Nº de Procedimentos/5 ano

1 1989 - 1994 0,63 38

2 1995 - 1999 0,8 48

3 2000 - 2004 1,85 111

4 2005 - 2009 2,43 144

5 2010 - 2014* 2,27 136* *Projeção baseada nos resultados do triênio. Fonte: Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (2013).

O ideal, para se conseguir determinar em que momento se atingiu uma

experiência razoável, seria comparar o número de procedimentos realizados com a

taxa de mortalidade pós-cirurgia, porém não estando estes dados disponíveis, é

relevante conhecer a frequência com que estes procedimentos são realizados no

serviço de transplante pulmonar que constitui nossa referência. Destaca-se que os

dados dos dez últimos anos revelam um total de 272 transplantes realizados, ou

seja, 27,2 procedimentos ao ano, ou ainda 2,26 cirurgias a cada mês.

As

Figura 9, Erro! Fonte de referência não encontrada. e Figura 11 mostram os

números de transplantes realizados no Brasil nos últimos três anos distribuídos por

região e a evolução dos pacientes.

Figura 9: Transplantes pulmonares realizados no ano de 2010

PULMÃO – TOTAL DE TRANSPLANTES: 60 2010

Nome Centro Responsáveis Cidade Vivo Fal. Total % Tx, Evol.*

Total Real.**

Pac em Acomp.***

MINAS GERAIS (total de transplantes: 2) Hospital Clínicas UFMG Silvio Paulo Pereira Belo 0 2 2 0% 16 4

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80

Horizonte RIO GRANDE DO SUL (Total de transplantes: 28) Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre

José de Jesus Peixoto Camargo

Porto Alegre 1 27 28 100% 368

SÃO PAULO (total de transplantes: 30) Hospital Israelita Albert Einstein

Fabio Biscegli Jatene

São Paulo 0 2 2 100% 3 3

INCOR – Instituto do Coração

Fabio Biscegli Jatene São Paulo 0 28 28 100% 146 75

Brasil 60 transplantes realizados por 4 equipes, 3 equipes evoluíram 100% dos transplantes (58 transplantes) Sobrevida do paciente 79% Sobrevida do exerto 79%

As taxas de sobrevida de pacientes no período contemplan apenas as equipes que informaram 100% dos seus transplantes.

Fonte: Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (2013).

Figura 10: Transplantes pulmonares realizados no ano de 2011 PULMÃO – TOTAL DE TRANSPLANTES: 35

2011 Dados de 01/01/2010 até 30/09/2011

Nome Centro Responsáveis Cidade Doador Vivo Fal. Total RBT

Evol. %

Evol.* Total

Geral** Pac em

Acomp.*** CEARÁ (total de transplantes: 2) Hospital de Messejana Antero Gomes

Neto Fortaleza 0 2 2 2 100% 2 2

MINAS GERAIS (Total de transplantes: 1) Hospital Clínicas UFMG Silvio Paulo

Pereira Belo Horizonte

0 1 1 4 75% 17 5

RIO GRANDE DO SUL (total de transplantes: 20) Hospital Clínicas Porto Alegre

Amarilio Vieira de Macedo Neto

Porto Alegre

0 1 1 1 0% 2 1

Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre

José de Jesus Peixoto Camargo

Porto Alegre

0 19 19 47 100% 387

SÃO PAULO (Total de transplantes: 12) Hospital Israelita Albert Einstein

Fabio Biscegli Jatene

São Paulo 0 2 2 4 100% 5 5

INCOR – Instituto do Coração

Fabio Biscegli Jatene

São Paulo 0 10 10 38 100% 156 84

Brasil (01/10/2010 até 30/09/2011)

96 transplantes realizados por 6 equipes, 4 equipes evoluíram 100% dos transplantes (91 transplantes) Sobrevida do paciente 72% Sobrevida do exerto 72%

As taxas de sobrevida de pacientes no período contemplan apenas as equipes que informaram 100% dos seus transplantes.

* percentual de transplantes realizados no período de 01/01/2010 até 30/09/2011. ** total de transplantes realizados pelo centro, informação obtida por meio dos dados

preenchidos pela equipe no sistema. *** pacientes em acompanhamento pós-transplante no centro, informação enviada pela

equipe. Fonte: Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (2013).

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Figura 11: Transplantes pulmonares realizados no ano de 2012 PULMÃO (69 TRANSPLANTES)

Histórico Realizado Realizado 2012

Cidade Nome do Centro Nº. Realizado

Pacientes Acomp.

RBT Evolução Responsável Vivo Falec. Total

Ceará (4) CE

Fortaleza Hospital de Messejana 8 6 Antero Gomes Neto 0 4 4

Minas Gerais (1) MG Belo Horizonte

Hospital Clínicas UFMG 17 5 Nilson Figueiredo

Amaral 0 1 1

Rio Grande do Sul (33) RS

Porto Alegre Hospital Clínicas Porto Alegre

6 3 Amarilio Vieira de Macedo Neto

0 3 3

Porto Alegre Santa Casa de Misericórdia 423 José de Jesus Peixoto

Camargo 1 29 30

São Paulo (31) SP

São Paulo Hospital Israelita Albert Einstein 11 10 Fabio Biscegli Jatene 0 4 4

São Paulo INCOR – Instituto do Coração 185 93 Fabio Biscegli Jatene 0 27 27

Fonte: Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (2013).

6.12 Custo de manutenção do serviço

O tratamento dos candidatos catarinenses a transplante pulmonar nas etapas

de preparo e posterior acompanhamento, uma vez realizado o procedimento, é

ofertado na estrutura do sistema único de saúde pelo programa de Tratamento Fora

do Domicílio (TFD). O TFD interestadual tem por objetivo garantir aos pacientes

acesso a serviços de saúde não disponíveis na unidade da federação de domicílio

do usuário e possui financiamento federal.

O TFD ainda é uma necessidade e é estratégico na regionalização dos

serviços de mais alta complexidade, como transplante de medula óssea alogênico,

transplante de pulmão, pâncreas isolado e, atualmente, coração. Os transplantes

pediátricos não são feitos no Estado de Santa Catarina, assim como os transplantes

de medula óssea alogênicos, pâncreas isolado e pulmão em adultos.

Em Santa Catarina, desde 2006, todos os pacientes com processos de TFD

para transplantes sofrem análise de médicos reguladores da CNCDO/SC. Durante o

ano de 2011, realizou-se um registro sistemático de todos os processos, inclusive

com detalhamento dos custos envolvidos. Passagens rodoviárias e aéreas,

deslocamentos de ambulâncias, diárias de motoristas, pacientes e acompanhantes

foram registradas para efeito de análise. Foram avaliados 507 processos de

pacientes, autorizados 494 (97%) e negados 13 (3%) processos. Desse total apenas

16% eram processos novos, ou seja, de pacientes que tiveram seu diagnóstico e

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tratamento em 2011 e 84% são pacientes de anos anteriores, com várias viagens

para realizar o transplante e fazer o acompanhamento ad eternum.

Quanto ao tipo de transplante realizado fora do Estado de Santa Catarina, o

Transplante de Medula Óssea (TMO) Alogênico foi o mais frequente, com 37,7%,

seguido pelo de rim, com 33, 9%; fígado, com 15,6%; e pulmão, com 3,9%. Também

foram realizados transplantes de coração, pâncreas, rim-pâncreas, rim-fígado e

córnea, conforme ilustrado na

.

Figura 12: Transplantes realizados fora do Estado de Santa Catarina pagos por TFD em 2011

Fonte: CNCDO/SC (2013).

Os custos totais com o TFD no ano de 2011 foram de R$ 648.988,65 para

todos os pacientes incluídos no programa. Em termos percentuais, pode-se afirmar

37,7

33,9

15,6

3,92

0,23

0,42,6

0,4 0,60

5

10

15

20

25

30

35

40

TOTAL 191 172 79 20 10 1 15 2 13

507 TMO RIM FÍGADO PULMÃO CORAÇÃO PÂNCREAS RIM-PÂNCREAS

RIM-FÍGADO

CÓRNEA

% 37,7 33,9 15,6 3,9 2,0 0,2 3,0 0,4 2,6

TOTAL 191 172 79 20 10 1 15 2 13

507 TMO RIM FÍGADO PULMÃO CORAÇÃO PÂNCREAS RIM-

PÂNCREAS RIM-

FÍGADO CÓRNEA

% 37,7 33,9 15,6 3,9 2,0 0,2 3,0 0,4 2,6

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83

que 3,9% dos pacientes de transplante pulmonar representam um custo de R$

25.959,54, ou seja, R$ 741,70 por paciente ao ano.

Uma análise preliminar dos custos com TFD em Santa Catarina, ainda que

não seja o foco do estudo, fornece uma boa informação acerca da relevância do

transplante pulmonar, comparado ao transplante alogênico de medula óssea tanto

em termos de prevalência quanto de custo.

É fundamental entender que a natureza da instituição hospitalar tem influência

direta nos custos. Uma vez mais, tomando por base o modelo de custos de um

hospital público estadual de Santa Catarina e a necessidade de recursos humanos

disponíveis para o funcionamento de um serviço de transplantes, contínuo e de

tempo integral, passa-se a ter um componente de custo fixo da manutenção da

equipe de saúde para cobertura das atividades. Ainda se se considerar que, por não

se tratarem de procedimentos eletivos, um mínimo de 3 profissionais médicos e 2

profissionais de enfermagem devem trabalhar em regime que permita uma resposta

adequada e contínua. Cabe ressaltar que nos transplantes de pulmão e coração,

distintamente de outros órgãos, a retirada do enxerto é atribuição exclusiva da

equipe transplantadora, tornando a questão da disponibilidade algo ainda mais

relevante.

Na mesma linha de um exercício de simulação de custos e tendo por bases

os valores brutos correspondentes ao vencimento dos profissionais de saúde da

SES (posição 14F para nível superior e 11F para nível médio), ter-se-ia um custo

fixo anual de R$ 313.564,81, conforme se demonstra no Erro! Fonte de referência não

encontrada..

Quadro 4: Vencimentos dos profissionais da saúde

Profissional Vencimentos

mês (R$) Plantão/sobreaviso

mês (R$) Valor

mensal (R$) Valor anual

(R$) Médico 7.343,43 5.021,04 12.364,47 160.738,11 Enfermeiro 3.218,18 5.021,04 8.239,22 107.109,86 Técnico de atividades administrativas

3.516,68 3.516,68 45.716,84

14.078,29 10.042,08 24.120,37 313.564,81 Fonte: SES-SC (2013).

O custo varíável de cada procedimento foi calculado para estimativa dos

custos de centro cirúrgico e hotelaria, com base nos dados dos centros de custos do

Instituto de Cardiologia de Santa Catarina. Os demais itens da composiçao de custo

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tem por base um detalhado estudo de 3 procedimentos realizados em 2003 no

Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (GONÇALVES;

DOEHLER, 2004), conforme se pode verificar no Erro! Fonte de referência não

encontrada..

A despeito da defasagem que possam apresentar alguns valores do referido

estudo, destaca-se que a hotelaria e a sala cirúrgica representam 65% dos custos

do procedimento. Destaca-se que os valores de honorários profissionais não estão

incluídos por se tratarem, nesta simulaçao, de custos fixos, já que se trabalha com a

hipótese de profissionais contratados do serviço público.

Quadro 5: Resumo do Custo Variável do Transplante em Instituição Pública de Santa Catarina

Composição do Custo Valor Unitário/Quantidade Custo Hotelaria/Total das diárias 578,43 – 40 dias R$ 23.137,20

Taxa de sala/cirurgia R$ 30.71/min - 300 min R$ 9.213,00 SADT R$ 3.985,06

Materiais R$ 771,90 Medicamentos R$ 6.897,60

Materiais cirúrgicos R$ 1.835,87 Líquidos de perfusão R$ 9.968,16

Custo total R$ 55.808,79 Fonte: SES-SC (2013).

Somando-se, então, mesmo que não de forma exata, os custos anuais para

manter uma equipe de transplante pulmonar em atividade e os custos hospitalares

do procedimento – presumindo-se que seja realizada uma média ideal máxima de 27

procedimentos/ano – ter-se-ia um valor de R$ 1.830.402,14 (R$ 313.564,81+ R$

1.506.837,33) para manutenção de um serviço de transplante pulmonar em

funcionamento 24h por dia, 365 dias por ano.

A receita gerada pelo transplante pulmonar pode ser calculada a partir da

remuneração estabelecida pelo SUS para este procedimento: código 05.05.02.008-4

do Sistema Informatizado de Custos (SIGTAP) que é de R$ 44.485,10, sendo

componente de serviço hospitalar R$ 40.036,60 e o serviço profissional R$ 4.448,50

(SIGTAP, 2013). Os valores mencionados podem sofrer variação em decorrência da

aplicação da Portaria GM 845 de 02 de maio de 2012, que institui o incremento

financeiro para a realização de procedimentos de transplantes e o processo de

doação de órgãos (BRASIL, 2012). Este programa de custeio diferenciado

incrementa os valores dos procedimentos relacionados ao processo de doação e

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transplantes de órgãos e tecidos, constantes na Tabela Unificada do Sistema Único

de Saúde nos seguintes percentuais (

e Erro! Fonte de referência não encontrada.).

Quadro 6: Classificação dos estabelecimentos de saúde e percentuais de incremento na remuneração

Tipo Nível IFTDO I A 60% II B 50% III C 40% IV D 30%

Fonte: Brasil (2012).

Quadro 7: Caracterização dos distintos níveis estabelecimentos de saúde NÍVEL Caracterização

Nível A

Estabelecimentos de saúde autorizados para 4 ou mais tipos de transplantes de órgãos sólidos ou autorizados para pelo menos 1 tipo de transplante de órgão sólido e para transplante de medula óssea alogênico não aparentado.

Nível B Estabelecimentos de saúde autorizados para 3 tipos de transplantes de órgãos sólidos.

Nível C

Estabelecimentos de saúde autorizados para 2 ou mais tipos de transplantes de órgãos sólidos ou para pelo menos 1 tipo de transplante de órgão sólido e para transplante de medula óssea alogênico aparentado.

Nível D Estabelecimentos de saúde autorizados para 1 tipo de transplante de órgão sólido.

Fonte: Brasil (2012).

A portaria estabelece ainda em seu artigo terceiro que os estabelecimentos

devem apresentar à Coordenação Geral do Sistema Nacional de Transplantes, por

meio das centrais estaduais de transplantes, relatórios com os seguintes indicadores

de qualidade: número de transplantes, por órgão, no ano anterior ao do relatório;

número de transplantes por milhão de população, por órgão, no ano anterior ao do

relatório; curva de sobrevida dos pacientes, por tipo de transplante, no ano anterior

ao do relatório; e curva de enxertos funcionantes, por tipo de transplante, dos dois

últimos anos anteriores ao relatório.

A aplicação da referida portaria gera possibilidade de incremento de 30% a

60% nos valores repassados pelo SUS aos estabelecimentos de saúde, permitindo

que ocorra uma variação de R$ 57.830,63 até R$ 71.176,16. Ressalta-se ainda que

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uma instituição que inicie seu programa de transplantes pela atividade de

transplante pulmonar deveria trabalhar um ano sem qualquer incremento, por não

possuir possibilidade de enquadrar-se na referida portaria.

6.13 Número de pulmões efetivamente transplantados pelo serviço de

referência para transplante de pulmão e taxa de aceitação dos órgãos

disponibilizados

Pelas regras do Sistema Nacional de Transplantes, todo o excedente de

órgãos gerados em uma unidade da federação é encaminhado aos outros estados

mediante regulação da Central Nacional de Transplantes, respeitando um critério

regional de prioridade, ou seja, todo o excedente gerado em Santa Catarina deve

atender prioritariamente à Região Sul. Por razões logísticas, em especial um tempo

de isquemia fria de no máximo 4 horas, pulmões gerados em nosso estado são

oferecidos ao Rio Grande do Sul, onde também se encontram nossos pacientes em

lista de espera. No último triênio (2010, 2011 e 2012), foram aceitos e removidos 13

dos 29 doadores disponibilizados, resultando em uma taxa de aceitação de 44,82%

das ofertas.

6.14 Sobrevida pós-transplante

A sobrevida pós-transplante é um indicador que está relacionado diretamente

com a captação do doador e com a seleção do receptor. No Brasil, os registros

informam que a taxa de sobrevida, contada a partir de 2010, foi de 53% em 1.200

dias pós-transplante, conforme se pode verificar na

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Figura 13.

Figura 13: Sobrevida pós-transplante pulmonar

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Fonte: Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (2012).

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7 DISCUSSÃO

A proposta deste estudo foi avaliar a viabilidade de um centro de transplante

pulmonar no Estado de Santa Catarina e, para isso, utilizou-se a metodologia de

Multicritério de Avaliação (MCDA).

O MCDA é uma ferramenta que auxilia o gestor a administrar seus problemas

de acordo com suas percepções de valor, levando em consideração aspectos

qualitativos e quantitativos. “Um problema pertence a uma pessoa (ou instituição),

isto é, ele é uma construção pessoal que o indivíduo faz sobre os eventos

associados ao contexto decisório”. (ENSSLIN; MONTIBELLER NETO; NORONHA,

2001, p. 75).

A metodologia MCDA construtivista permite uma evolução específica do

conhecimento no processo de apoio à decisão, ou, ainda, considera um

desenvolvimento progressivo do entendimento do processo decisório dentro de

algumas particularidades.

Tratar-se-á nesta etapa de discutir a estruturação do problema, considerada

como sendo a fase mais importante relacionada à atividade de estudo de problemas

complexos nas organizações.

A metodologia Multicritétio de Apoio à Decisão Construtivista (MCDA-C)

adotada neste trabalho segue a corrente de pensamento da escola europeia

(Multicriteria Decision Aid), segundo a vertente construtivista. Adotar a perspectiva

da MCDA-C significa acatar os seguintes entendimentos:

a) um problema é configurado como tal se for assim percebido por alguém (tem um

dono); resultante de uma situação percebida como necessitando de intervenção;

suficientemente relevante; passível de solução. Santa Catarina não realiza

transplantes pulmonares, apesar de ser um estado de relevante importância no

cenário brasileiro dos transplantes de órgãos e tecidos. Isso ocorre em função da

pouca demanda, da dificuldade técnica de implantar este serviço na região ou

pela inviabilidade financeira? Que ganhos seriam proporcionados aos

catarinenses que necessitam transplante pulmonar? Teriam melhor acesso e

melhores resultados?

b) o entendimento do problema pressupõe a noção de produção de conhecimento

por meio da descoberta de como o sujeito valora o contexto no qual o objeto se

encontra; assim, levam-se em conta os sistemas de valores, as convicções e os

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objetivos dos envolvidos, o momento atual e o grau de entendimento do decisor

sobre todo o contexto.

c) o reconhecimento do fato de que “não existe apenas um conjunto de ferramentas

adequado para esclarecer uma decisão nem existe uma única melhor maneira de

fazer uso delas”.

Dentro do estudo da viabilidade de um centro de transplante pulmonar em

Santa Catarina, procedeu-se à seleção de alguns critérios que se entende serem

relevantes e que foram agrupados de forma acadêmica em: demanda/oferta,

implantação, manutenção e eficiência, cada um contendo seus Pontos de Vista

Fundamentais, com intuito de facilitar a compreensão da nossa visão do problema e

que serão discorridos a seguir.

7.1 Demanda e Oferta

A escassez de órgãos para transplante constitui um fator limitante

fundamental para esta terapêutica. A demanda cresce de maneira exponencial à

medida que melhoram os resultados de sobrevida, porém a taxa de doação não

acompanha o mesmo ritmo.

É fundamental reconhecer a limitação que a questão da doação impõe à

realização dos transplantes. Mesmos nas regiões com melhores taxas mundiais de

doação, existe uma consistente insuficiência de oferta de órgãos torácicos para

transplante, sendo as dificuldades para obter pulmões ainda maiores que para a

obtenção do coração. Na

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Figura 14, pode-se observar a disparidade entre demanda estimada e oferta de

transplantes para os diversos programas existentes no Brasil. Observa-se que o

pulmão possui o pior desempenho nessa análise.

Figura 14: Relação entre a necessidade estimada de transplante e o número de procedimentos realizados em 2012

Fonte: Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (2013).

O Brasil realizou 522 transplantes pulmonares em 23 anos desta atividade no

país, sendo 69 no ano de 2012. Comparando com a Espanha, nossa taxa ainda é

baixa. Conforme dados da Organização Nacional de Transplantes (ONT) da

Espanha, foram realizados, de 1990 a 2007, 1.827 transplantes pulmonares e esses

números vêm crescendo anualmente (DEL RIO et al., 2009). A Espanha é um país

de referência em doação e transplante de órgão no mundo todo, e isso

particularmente ocorreu pela adoção de estratégias na melhora da doação de

órgãos (MATESANZ, 2008). O Brasil possui o maior sistema público de transplante

do mundo, o Sistema Nacional de Transplante, sustentado pelo SUS, e que

0

5.000

10.000

15.000

20.000

Necessidade estimada (■) e nº de

transplantes realizados (■) no Brasil em 2012

NecessidadeTransplantes realizados

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aperfeiçoou e regulamentou os transplantes de órgãos e tecidos em todo o país e

estabeleceu unidades de coordenação em todos os estados da federação, porém

ainda apresenta um cenário de acesso aos transplantes bastante desigual entre a

população residente nos diversos estados, com vantagens para os estados mais

desenvolvidos do Sul e do Sudeste. Na

Figura 15, pode-se analisar a taxa de doação efetiva p.m.p e os órgãos

transplantados em cada região do país. Destaca-se a disparidade entre as cinco

regiões geográficas. O maior número de transplantes está concentrado nas regiões

Sul e Sudeste, que detêm mais da metade da população brasileira.

Figura 15: Taxa de doação efetiva por milhão de população e transplantes

realizados nas regiões brasileiras no ano de 2012

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Fonte: Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (2013).

A necessidade de transplante pulmonar, segundo Garcia (2000), é estimada

em 3 - 5 transplantes por milhão de população por ano (p.m.p./ano). O Rio Grande

do Sul, para onde são encaminhados os pacientes catarinenses, obteve uma taxa de

3,1 transplantes pulmonares p.m.p./ano no ano de 2012, portanto dentro de média

aceitável para este tipo de transplante.

Como a distribuição dos órgãos doados ocorre prioritariamente na unidade da

federação onde órgão é gerado, nossa base populacional para geração de doadores

é de 6,2 milhões de habitantes. Aqui é fundamental ressaltar que a maior limitação à

implantação de um serviço de transplantes é a escassez de órgãos. Na hipótese de

implantar um serviço em Santa Catarina, perder-se-iam na base de procura por

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doadores os 10 milhões da população gaúcha, tendo em vista a distribuição

prioritariamente regional dos órgãos.

Considerando a média calculada de 3-5 transplante por milhão de população

por ano, haveria, para a população de Santa Catarina, uma média ideal de 18-30

procedimentos/ano, porém se se contar ainda que a mortalidade mínima em fila de

espera gira em torno de 10%, este número cairia para 16-27 procedimentos/ano.

Pelos dados do Rio Grande do Sul, existem 10 pacientes catarinenses em controle

pós-transplante e mais 10 em fila de espera, mostrando que nosso número ainda se

mantém baixo para os padrões de necessidade. Conforme Matesanz (2012), na

Espanha, em comunidades pequenas que não dispõem de todos os programas de

transplante, sobretudo o pulmonar, é necessário que se estabeleça o fluxo de

receptores a um centro de referência, que deve zelar pela igualdade de acesso ao

transplante para todos os cidadãos. Essas referências são estabelecidas com pactos

entre as comunidades autônomas, e a oferta dos órgãos das regiões de origem dos

pacientes segue a mesma lógica do encaminhamento dos pacientes. Esta

organização otimiza o funcionamento de centros de transplante mesmo em

comunidades uniprovinciais sem grandes populações. Na Espanha, país com 47

milhões de habitantes, existem 6 centros de transplante pulmonar que, juntos,

realizaram 235 transplantes (5.0 p.m.p./ano) em 2010, ano em que a atividade

brasileira foi de 60 procedimentos ao ano (0.4 p.m.p./ano) (MATESANZ, 2012;

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTE..., 2012).

Muito importante assinalar que o número de pacientes candidatos a

transplante pulmonar não deve, necessariamente, se ampliar com a abertura de um

novo centro transplantador em Santa Catarina. Admite-se que o gargalo desse

serviço de alta complexidade não seja somente a oferta em si do procedimento,

mas, talvez, da rede especializada no atendimento, no reconhecimento ou, ainda,

encaminhamento dos pacientes candidatos ao transplante pulmonar. É fundamental

destacar que esse número de transplante necessário, ou seja, a demanda tem

impacto direto na viabilidade econômica e técnica da implantação de um serviço em

nosso Estado.

Por outro lado, segundo a Lei de Roemer (1961, p. 38) “um serviço de saúde

tem a capacidade de gerar a sua própria demanda, mesmo em mercados

saturados”. Isto significa que o âmbito das relações de mercado na área da saúde

está sujeito a um mecanismo invertido que determina a oferta de algum serviço de

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saúde, uma capacidade extraordinária de induzir a criação da demanda para o seu

consumo. Nesse sentido, prevê-se uma tendência de utilização plena da capacidade

instalada de serviços de saúde em geral e do serviço de transplante de pulmão em

particular (ROEMER, 1961).

Além disso, estudos de avaliação da evolução das demandas futuras,

associadas à carga de doença no mundo, indicam que as doenças obstrutivas

pulmonares crônicas, que ocupavam a décima primeira posição em 1990, passarão

à quinta posição entre as doenças responsáveis pela maior parte dos anos perdidos

por incapacidade no mundo em 2020, sugerindo que a tendência da demanda por

transplante de pulmão aumentará nos próximos anos (MURRAY; LOPEZ, 1996).

Com tais indicações, é possível imaginar que a demanda atual por transplante

de pulmão, que se encontra em torno de três transplantes pmp/ano, poderá

aumentar, dentro do parâmetro indicado por Garcia (2000), para até cinco

transplantes por milhão de população/ano. Nesse caso, a demanda por transplante

em Santa Catarina pode ser estimada, para fins de avaliação de viabilidade de um

novo serviço de transplante de pulmão, como sendo de até 32 transplantes/ano.

Os dados de 2011 apontam que 50% da demanda máxima estimada, 15 dos

35 potencias pacientes, tiveram sua avaliação inicial. Levando em conta que todos

os processos de TFD novos para transplante pulmonar foram autorizados, impõe-se

uma análise mais detalhada das razões pelas quais os pacientes não são

encaminhados para o procedimento. A falta de acesso a consultas especializadas

em pneumologia e o escasso conhecimento acerca dos reais benefícios do

transplante pulmonar pelos especialistas podem fazer parte do universo deste

problema. Embora exista divulgação para as gerências regionais de saúde acerca

do acesso aos serviços de transplantes que não se dispõem em Santa Catarina, é

fundamental admitir este aspecto como outro possível ponto crítico.

A análise dessa variável sugere que, para além da implantação de um novo

centro de transplante pulmonar, é fundamental refletir sobre possíveis falhas

assistenciais em todas as etapas do processo de atendimento do paciente com

indicação do procedimento.

Em relação ao número de pulmões disponibilizados, viu-se que, apesar do

nosso estado ocupar o primeiro lugar do país na taxa de doador efetivo pmp/ano

(26,4), apenas 6% dos doadores geraram pulmões possivelmente úteis para

transplante. Em um estudo realizado na Espanha, um dos maiores centros de

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transplantes do mundo, a taxa de aproveitamento dos pulmões em doadores de

múltiplos órgãos entre os anos de 1997 e 2004 foi em torno de 11% (DEL RIO et al.,

2009).

Isso ocorre porque em torno de 70 a 80% dos doadores de múltiplos órgãos

apresentam algum tipo de lesão pulmonar (edema, contusão ou aspiração), o que

inviabiliza a utilização dos pulmões. Além disso, os órgãos não podem ser estocados

por muito tempo, no caso do pulmão, em torno de 4 a 6 horas. Assim, no Brasil, de

cada oito potenciais doadores, apenas um é notificado e somente 20% desses são

utilizados como doadores de múltiplos órgãos (MARINHO; CARDOSO; ALMEIDA,

2011). Conforme a experiência brasileira, sabe-se que não mais do que 15% dos

doadores de rins se mostram aptos ao aproveitamento simultâneo de um dos

pulmões e apenas cerca de 30% deles têm ambos os pulmões normais. Por outro

lado, é dramática a constatação da má qualidade média das UTIs de trauma,

principal fonte potencial de doadores, nas quais com grande frequência se observa a

perda da condição pulmonar em período de poucas horas por descasos técnicos,

como hiperhidratação, aspiração de vômitos, manejo contaminado de vias aéreas,

etc. (CAMARGO; CAMARGO, 2006). É importante que haja padronização nas

medidas a serem adotadas no potencial doador e que ele seja visto sempre como

um doador de múltiplos órgãos. Pode-se concluir, então, que o aproveitamento do

pulmão para o transplante depende das peculiaridades do próprio órgão e das

condições técnicas do centro transplantador. Sendo Santa Catarina o estado com

maior taxa de doador efetivo pmp no ano de 2012, pode-se inferir que não foi esse

último critério que resultou no baixo aproveitamento do pulmão, mas sim, e

provavelmente, as dificuldades e as características inerentes ao próprio órgão.

7.2 Implantação

A implantação de um serviço de transplante pulmonar pressupõe a

necessidade, a viabilidade e as vantagens deste serviço no Estado. Elencam-se

como Pontos de Vista Fundamentais os itens descritos em 7.2.1 e 7.2.2.

7.2.1 Tempo e mortalidade na fila de espera

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O fenômeno de disparidade geográfica em transplantes de órgãos é

amplamente relatado na literatura (MORRIS; MONACO, 2003). Existem relatos do

problema em países desenvolvidos como Austrália, Espanha, Estados Unidos,

França e Reino Unido. No Brasil, as eventuais consequências desse fenômeno

podem ser agravadas pelas dimensões continentais do país, como já se viu

anteriormente. Entretanto, não existem indicadores oficiais gerais do tempo de

espera nas filas e de outras variáveis relevantes relacionadas aos transplantes de

órgãos no Brasil.

O transplante de órgãos, em nosso país, por doação ao Estado, somente

pode ser feito após a morte encefálica do doador, que pode ser natural ou acidental,

e com o concomitante funcionamento dos órgãos que serão doados, após

obrigatório consentimento familiar. A morte encefálica deve ser devidamente

diagnosticada por uma equipe médica e o transplante autorizado pelo SNT. Uma vez

constatada por médicos a necessidade de transplante, o paciente candidato a

receptor é colocado na fila. A fila para transplantes no SUS para cada órgão ou

tecido é única e o atendimento é por ordem de chegada, considerando critérios

técnicos, geográficos, de compatibilidade e de urgência específicos para cada órgão,

de acordo com a Portaria nº. 91/GM/MS 10, de 23 de janeiro de 2001 (MARINHO;

CARDOSO; ALMEIDA, 2010).

Barr et al. (2005) relataram que o número de pacientes na lista de espera

para transplante pulmonar nos EUA têm progressivamente aumentado devido a

fatores que tornaram o transplante pulmonar uma técnica bem aceita para o

tratamento de doenças pulmonares em fase avançada, como, por exemplo,

melhoras no manuseio dos doadores, na técnica operatória, na imunossupressão e

nos cuidados pós-operatórios. Segundo esses autores, havia 3888 pacientes na lista

de espera nos EUA ao final de 2003, número que representava um aumento de

147% em relação há dez anos. Esses mesmos autores relatam que, no mesmo

período, houve um aumento de apenas 51% no número de órgãos disponíveis,

mostrando que há uma desproporção entre os doadores e os receptores (2005).

Um estudo mais recente, realizado nos EUA, mostrou que, no ano de 2005,

após a implantação de um sistema efetivo de aproveitamento do pulmão do doador

(LAS - lung allocation score system), que basicamente aumentou as notificações e

as taxas de consentimento, melhorou o manejo do potencial doador e os critérios de

expansão do doador e houve uma diminuição no número de pacientes ativos em

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lista de espera, no tempo de espera e na taxa de mortalidade. Em 1999, o tempo

médio de espera em fila era de 2.897 dias e em 2005 a 2008 foi de 200 dias em

média/ano. A morte em fila de espera, que em 1999 era de 190,5 por 1000 pacientes

/ano, baixou em 2006 para 103,5 por 1.000 pacientes/ano (YUSEN et al., 2010).

A Espanha, país que também possui um sistema nacional de transplantes

eficiente e que realiza uma média de 150 transplantes pulmonares por ano, possui

um tempo médio em fila de espera de 187,2 dias (BORRO, 2005).

No Brasil, um estudo onde foram avaliados alguns aspectos dos transplantes

de órgãos nas Unidades da Federação, nos anos de 2004, 2005 e 2006, mostrou

resultados que indicaram redução no tempo de fila de espera por alguns órgãos

(córnea e pâncreas); elevação em outros (fígado, coração, rim/pâncreas) e ligeiras

flutuações, sem tendência muito definida, nos transplantes de rim e nos transplantes

de pulmão ao longo do período estudado. Os estados das regiões Sul, Sudeste (com

a exceção do Rio de Janeiro) e Centro-Oeste, tiveram os menores tempos de

espera, as maiores produtividades e a maior capacidade de realização de

transplantes do país (MARINHO; CARDOSO; ALMEIDA, 2007).

Atualmente, no Brasil, segundo o Registro Brasileiro de Transplantes (RBT),

existem 165 pacientes ativos em lista de espera para transplante pulmonar até

dezembro de 2012, assim divididos: 3 no Ceará, 14 em Minas Gerais, 54 no Rio

Grande do Sul e 97 em São Paulo (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE

TRANSPLANTE..., 2013). Os dados obtidos no serviço da Santa Casa de Porto

Alegre mostram 30 pacientes em lista de espera.

Marinho, Cardoso e Almeida, em estudo realizado em 2010, comparando o

tempo em fila de espera dos diversos órgãos e tecidos no Brasil, mostraram que,

para o transplante pulmonar, o limite inferior de tempo de espera foi de 1,14 anos

em 2004; 1,35 anos em 2005; e 1,03 em 2006. Os limites superiores seriam iguais

ao dobro desses valores. No serviço da Santa Casa de Porto Alegre, local para onde

são encaminhados nossos pacientes catarinenses, o tempo em lista de espera teve

uma variação muito grande de 30 dias a 5 anos, porém mais da metade dos

pacientes (66,7%) permaneceu entre 6 meses a 2 anos em fila de espera. Apesar de

o nosso país ter um grande destaque no cenário mundial de transplantes,

principalmente no transplante renal, ainda possui, para o transplante pulmonar, um

tempo em fila de espera muito além dos padrões internacionais (ASSOCIAÇÃO

BRASILEIRA DE TRANSPLANTE..., 2013).

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A demora no atendimento exerce impactos significativos sobre o bem-estar;

as probabilidades de cura; a sobrevida dos enxertos e dos pacientes; a natureza e a

extensão das sequelas nos pacientes, nos familiares envolvidos e na sociedade.

Pior situação ocorre quando, além de elevados, os prazos são imprevisíveis. Com tal

agravante, as incertezas decorrentes da imprevisibilidade impedem o planejamento

das vidas dos pacientes e dos seus familiares, da atuação do sistema de saúde e do

funcionamento do sistema produtivo em que eles por ventura trabalhem. Tempo de

espera elevado implica, além dos custos e dos sofrimentos dos pacientes na fila, o

aproveitamento de órgãos de qualidade inferior e a consequente redução do tempo

de duração dos enxertos (MARINHO; CARDOSO; ALMEIDA, 2010).

Um estudo brasileiro, realizado num serviço de transplante pulmonar de São

Paulo, revelou que havia, de 2001 a 2008, 164 pacientes em lista de espera para

transplante pulmonar. Desses, 31 pacientes do total de 164 (18,9%) faleceram

enquanto aguardavam em lista e o restante (133/164, 81,1%) se enquadrava em

uma das seguintes categorias: aguardando em lista (62/164, 37,8%), vivo após ter

sido transplantado (45/164, 27,4%) ou falecido após ter sido transplantado (26/164,

15,9%) (SILVA JR. et al., 2009).

Com relação à taxa de mortalidade em fila de espera, o Rio Grande do Sul

apresentou um índice de 31,94% até dezembro de 2012 e 20,89% no primeiro

trimestre de 2013, índice também considerado alto para padrões internacionais, que

giram em torno de 10% (YUSEN et al., 2010). Sendo esse índice relativamente alto,

sabendo-se que o tempo de espera está diretamente relacionado à mortalidade e o

prejuízo que esta demora acarreta a vida do paciente, será que a implantação de

outro serviço de transplante na Região Sul, particularmente em Santa Catarina, não

ajudaria a diminuir essas taxas? Pode-se analisar esta questão de duas maneiras:

considerando que um centro de transplantes em SC supriria as necessidades

apenas do nosso estado, ter-se-ia tecnicamente um tempo de espera menor, porém,

se se considera que o transplante pulmonar é um tratamento muito específico para

uma população pequena, haveria uma demanda pequena e uma captação menor

ainda, aumentando com isso o tempo em fila de espera para o transplante.

7.2.2 Custo de implantação

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A economia da saúde seria o ramo do conhecimento que tem por objetivo a

otimização das ações de saúde, ou seja, o estudo das condições ótimas de

distribuição dos recursos disponíveis para assegurar à população a melhor

assistência à saúde e o melhor estado de saúde possível, tendo em conta meios e

recursos limitados (DEL NERO, 1995).

A responsabilidade governamental é enorme quando se trata do uso racional

dos recursos públicos investidos em saúde. Isto quer dizer destinar recursos de

forma a se obter resultados positivos nos indicadores de saúde selecionados para

medir o impacto das políticas e dos programas públicos. Dentro desta visão, é

importante a discussão sobre o papel dos serviços de saúde:

a) Os serviços de saúde têm conseguido promover saúde?

b) Quais os princípios que regem a organização e o financiamento desses serviços?

c) É possível manter certo número de serviços disponíveis sempre que necessários

e em todas as localidades?

d) É possível diminuir o custo dos serviços sem alterar sua qualidade?

A função do gestor público está diretamente relacionada a esses

questionamentos. O transplante pulmonar é um procedimento muito específico para

uma população pequena. Assim, qual sua melhor opção: fornecer um centro de

qualidade e eficiência para a população em nosso estado, ou fornecer o acesso a

um dos melhores centros de referência do país?

Dentro dessa visão, a análise de custos, tanto para implantação como para

manutenção de um centro de transplante em nosso estado, se torna irrelevante a

partir do momento que esse serviço próprio proporcione um aumento na demanda e

na oferta do órgão, um menor tempo e mortalidade em fila de espera e uma melhora

na sobrevida e na qualidade de vida desses pacientes.

Os custos para implantação de um serviço de transplante pulmonar em Santa

Catarina foram divididos em três cenários, com o único objetivo de se estimar um

cálculo, que, longe de ser exato, proporcione uma pequena demonstração dos

gastos efetivos nesse processo: instalação de área física e investimento em

recursos humanos; utilização de área física preexistente e investimentos em

recursos humanos e utilização tanto de área física como de recursos humanos

preexistentes.

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Conforme registro da ABTO, atualmente, Santa Catarina possui 6.248.436

habitantes, numa extensão territorial de 95.346,18 km², tendo 225 hospitais, sendo

22 na capital e 203 no interior do estado. Tem 901 leitos de UTI e 66 hospitais

possuem mais de 80 leitos. Registra 28 hospitais com serviço de neurocirurgia e 28

com Comissão Intra-Hospitalar de Doador de Órgãos e Tecidos para Transplante

(CIHDOTTs). Dentro desse contexto, há de se supor que a implantação de um

serviço de transplante no Estado de Santa Catarina se enquadra no segundo

cenário, no qual haveria alguns centros de unidade de terapia intensiva com

qualidade suficiente para manter o serviço de transplante em funcionamento

(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTE..., 2013).

Na Espanha, um dos modelos de maior sucesso em transplantes do mundo, e

que serve de exemplo para diversos países, inclusive o Brasil, recomenda-se que,

em grandes hospitais que possuem centros ativos de transplantes, a equipe seja

formada por um médico e por um número de enfermeiros igual ao número de

programas de transplantes (rim, fígado, pulmão, coração e outros) que permaneçam

por tempo integral. Em hospitais pequenos e médios, sem programa de transplante,

porém com unidades de terapia intensiva, que a equipe seja composta por um

médico em tempo parcial; ajudado por uma enfermeira, dependendo da capacidade

potencial de geração de órgãos (MATESANZ, 2008).

Além do serviço de unidade de terapia intensiva, os hospitais que têm serviço

de neurocirurgia possuem maior capacidade de gerar potenciais doadores de órgãos

dada a gravidade e a complexidade dos pacientes que internam com patologias

neurológicas e neurocirúrgicas agudas que podem evoluir para morte encefálica.

Santa Catarina possui 28 hospitais com serviços de neurocirurgia já instalados e

funcionando.

As vantagens de se ter uma comissão intra-hospitalar de doação de órgão e

tecido para transplante num determinado serviço seriam: manter uma logística de

atuação intra-hospitalar frente a um potencial doador; valorização mais adequada

dos potenciais doadores subótimos e idosos e uma maior participação; implicação e

conscientização hospitalar no processo de doação e transplante de órgãos. Santa

Catarina possui 28 CIHDOTTS distribuídos nos hospitais do estado.

Dentro do exposto, haveria um cenário considerado satisfatório em termos de

estrutura hospitalar para a implantação de um centro de transplante pulmonar em

Santa Catarina. Pode-se, ainda, sugerir que, na avaliação da capacidade instalada

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para transplante no Estado, conforme se vê na Figura 8, Blumenau, por concentrar

um número considerável de transplantes de outros órgãos e por possuir serviço de

transplante cardíaco (órgão estreitamente ligado ao pulmão), seria, na possibilidade

de implantação de um serviço de transplante pulmonar, a região mais favorável do

estado.

7.3 Manutenção

A manutenção de um serviço de transplante pulmonar depende e está

diretamente relacionada à primeira etapa. A partir do momento que exista uma

demanda de transplantes adequada, consegue-se manter a atividade e os custos de

um centro de transplante. Nessa fase, a qualidade do serviço depende muito

intimamente da quantidade dos procedimentos realizados. Destaca-se alguns

Pontos de Vista Fundamentais:

7.3.1 Curva de Aprendizado

Na fundamentação do conhecimento médico, na medicina como tal,

encontram-se todas as práticas que se desenvolvem a partir do momento em que

esse conhecimento é aplicado a doentes e contextos concretos. O conhecimento

médico “puro” é transformado no decorrer da sua aplicação e se concretiza por meio

das suas utilizações. A curva de aprendizado nada mais é do que o tempo

empregado para que a prática clínica permita estabelecer uma experiência passível

de segurança e eficácia. Está diretamente relacionada com o número de

procedimentos realizados e quanto maior for, mais habilidade e mais confiança.

A base da teoria da curva de aprendizado é simples: um trabalhador aprende

com o seu trabalho e quanto mais frequente ele repete a operação, mais eficiente se

torna e melhores resultados se obtêm. O conceito de curva de aprendizado foi

introduzido na medicina nos anos 1980, principalmente depois do advento da

cirurgia minimamente invasiva (SUBRAMONIAN; MUIR, 2004).

Os métodos para definir uma curva de aprendizado na cirurgia (surgical

learning curve) são basicamente dois:

a) o tempo que se leva, e/ou

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103

b) o número de procedimentos que um cirurgião médio necessita para ser capaz de

desempenhar um procedimento com um resultado razoável. Isto pressupõe a

capacidade de identificar um cirurgião médio.

As learning curves (ou curvas de aprendizagem) referem-se às vantagens de

custo que são obtidas por meio do acúmulo de experiência no processo de

produção. No caso em questão, tem-se que o que é medido é o tempo das cirurgias

e/ou o número de procedimentos realizados. Os benefícios da aprendizagem se

manifestam, eles próprios, em menores custos, na melhoria da qualidade e nos

menores preços.

Fatores que afetam a curva de aprendizagem:

a) Eficiência da mão de obra: os cirurgiões tornam-se fisicamente mais hábeis e

tornam-se mais habilidosos. Eles se tornam mentalmente confiantes e gastam

menos tempo hesitando, aprendendo, experimentando ou cometendo erros.

b) Padronização, especialização e melhoria nos métodos de produção: à medida

que o processo de produção ocorre e criam-se protocolos incorporando o

aprendizado obtido, a eficiência tende a aumentar.

Quando os cirurgiões se especializam num limitado conjunto de tarefas e

cirurgias, eles ganham mais experiência com aquelas tarefas e operam a uma taxa

mais rápida, com isso aprendem a programar o processo produtivo com maior

eficácia, conforme o tempo que exercem esse procedimento.

As curvas de aprendizado dependem também da frequência com que os

procedimentos são realizados num período específico. Estudos sugerem que as

taxas de complicação são inversamente proporcionais ao volume de cirurgias

realizadas (HU; CLARK; MA, 2003). Um estudo realizado nos EUA, para determinar

a relação entre a experiência com transplante cardíaco e a mortalidade após

procedimento, revelou uma taxa de mortalidade mais alta nos pacientes que

receberam os primeiros 5 transplantes quando comparados aos que receberam o

transplantes subsequentes: 20% versus 12% (LAFFEL et al., 1992). De um modo

geral, com relação à cirurgia, quanto maior a prática cirúrgica, menor o tempo de

procedimento, menores as complicações e maior o sucesso da intervenção.

A curva de aprendizado também está diretamente relacionada à

complexidade do procedimento. Em um artigo de revisão que comparava técnicas

cirúrgicas de ressecção hepática, viu-se que a intervenção por laparoscopia exige

um tempo maior na curva de aprendizado quando relacionada à cirurgia

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convencional (HERMAN et al., 2009). A cirurgia de transplante pulmonar é

considerada um procedimento de alta complexidade, que requer aperfeiçoamento

específico. Envolve uma equipe multidisciplinar e seus resultados interferem na

sobrevida dos pacientes transplantados (REYNARD et al., 2003). Da mesma forma,

Laffel et al. (1992), em seu estudo, encontraram relação entre o treinamento

específico da equipe de transplante e a taxa de mortalidade dos pacientes

transplantados e concluíram que quanto maior a experiência em transplante, melhor

o seguimento dos pacientes transplantados. Sendo assim, quantas cirurgias são

necessárias para que o médico alcance experiência suficiente para manter sua

expertise e, ainda, quantas cirurgias são necessárias para que ele mantenha essa

sua competência?

Na avaliação de um centro de transplante pulmonar no Estado, precisa-se

lembrar de que, atualmente, nossos pacientes são encaminhados a um serviço

referendado como um dos melhores do país, senão o melhor, com uma liderança

nacional na quantidade de cirurgias de transplantes pulmonar. Qual seria, então,

para o Estado de Santa Catarina, o número viável de cirurgias para manter a mesma

qualidade do serviço atual? Viu-se que, conforme dados do CNDCD/RS, existem,

hoje, 10 pacientes catarinenses em acompanhamento pós-transplante no serviço do

RS, levando-se em conta que a estimativa ideal é de 3-5 pmp/ano de transplante

pulmonar, considerando a população catarinense em torno de 6,2 milhões, ter-se-ia

18 a 30 transplantes por ano. Descontando a mortalidade em lista no último ano no

RS em torno de 30%, haveria um número ideal máximo de 21 transplantes pm/ano.

Com esse cenário, haveria uma média de 1,75 transplantes/mês.

Um estudo interessante realizado por Serra (2007) analisa a construção e a

reprodução do conhecimento técnico médico numa unidade de transplante hepático.

Por ser um estudo observacional e de entrevistas, em várias ocasiões, foi possível

constatar que alguns doentes, imediatamente antes de tomarem contacto com a

unidade transplantadora, tinham como referência um dos elementos da equipe. Ela

mostra que a importância da experiência clínica é, de fato, fundamental também do

ponto de vista da opinião pública “de uma forma geral, os médicos, e os serviços a

que estão associados, são reconhecidos pelo número de casos tratados, pelos

resultados que apresentam e pelos anos de experiência em áreas específicas de

intervenção”. Ela ainda conclui que, “seja qual for o motivo, a experiência tem

primazia na formação médica”. Assim, a experiência acumulada também permite ao

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serviço conquistar um lugar de referência no panorama nacional ou mundial. Na

análise da implantação de um serviço de transplante pulmonar em nosso estado,

precisa-se avaliar se é possível manter a qualidade e referência do estado vizinho,

onde são encaminhados nossos pacientes atualmente e que possui essa referência

no panorama nacional (SERRA, 2007).

7.3.2 Custo de manutenção

Antes de se avaliar o custo para manter um centro de transplante pulmonar

em nosso estado, é importante lembrar que a doença pulmonar obstrutiva crônica

(DPOC), uma das principais indicações para o transplante pulmonar, é também uma

das principais causas de doença e de morte em todo o mundo, representando um

custo econômico e social representativo. Ela cobra seu preço de maneira perversa e

democrática, enviando a fatura para seus doentes e sua família, para governo e

sociedade. No núcleo familiar provoca preocupação, limita a vida social e o lazer,

compromete o orçamento e abrevia a vida. No campo profissional, reduz a

produtividade, antecipa a aposentadoria e é causa de pagamento de pensões e de

benefícios. Na área do Sistema de Saúde, motiva atendimentos repetidos em

pronto-socorros e em ambulatórios e é causa frequente de hospitalizações, o que

provoca despesas elevadas para governo e sociedade.

Para avaliação econômica do impacto que ela determina, duas parcelas

devem ser consideradas: os custos diretos, que incluem as depesas médicas e não

médicas associadas à doença; e os custos indiretos, que refletem as perdas

causadas pela cessação ou pela redução da produtividade causadas por

adoecimento e morte (CAMPOS, 2004).

O transplante pulmonar é uma alternativa viável para esses pacientes. Apesar

de ser um procedimento que requer uma tecnologia extremamente cara, promove

uma melhora na sobrevida e em vários domínios da qualidade de vida, justificando

assim os custos gerados pelo procedimento (GROSS; RAGHU, 1997; RAMSEY et

al., 1995).

Um estudo realizado no Canadá, onde foram acompanhados, por um período

de 4 anos, 124 pacientes submetidos a um transplante pulmonar, mostrou que o

custo de um paciente sem transplante (fila de espera) por mês é de U$ 1.102,00,

enquanto o custo de um paciente transplantado (incluindo o procedimento) é de U$

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6.208,00 por mês (VASILIADES et al., 2005).

Em 2005, conforme registro da SNT, foram realizados 15.527 transplantes de

órgãos e tecidos no Brasil, sendo que desses, 11.095 foram pagos pelo Sistema

Único de Saúde (SUS). O gasto total com transplantes, incluindo medicamentos, em

2005 foi de R$ 521,8 milhões (MARINHO; CARDOSO, 2007).

Um estudo realizado no Rio de Janeiro mostrou que os gastos reais (cirurgias,

procedimentos associados e medicamentos) com transplante pulmonar no Brasil,

entre 1997 a 2003, foi de aproximadamente R$ 30.000,00 por paciente e que só no

ano de 2003 o gasto total com transplante pulmonar foi de R$ 1.037.986,00. Se se

comparar com os cálculos previstos para o Estado de Santa Catarina, com base em

valores atuais, ter-se-ia um dispêndio só para este estado de R$ 1.830.402,14 ou R$

67.792,67 por paciente.

Aqui, duas observações são fundamentais: Como o componente dos serviços

profissionais é fixo nesta simulação, o incremento no número de procedimentos

reduziria o custo individual para cada procedimento. Aqui, é importante destacar a

limitação imposta por nossa capacidade de gerar enxertos pulmonares que

permitiriam ampliar o número de procedimentos.

Outro ponto fundamental é o que trata dos custos variáveis dos

procedimentos. Tomando por bases nosso cálculo e somando os custos de

honorários profissionais (com base em 30 procedimentos ano, capacidade máxima,

sem contar taxa de mortalidade), tem-se que cada procedimento geraria um custo

de R$ 10.452,16 que, somados aos R$ 55.808,79 do custo variável, totalizaria R$

66.260,95. Quando se compara aos valores repassados pelo SUS para o

procedimento, variando de R$ 44.485,10 (hospital com programa de transplante

pulmonar em implantação) até R$ 71.176,16 (hospital nível A da classificação

IFTDO), tem-se uma clara sinalização de que tipo de estabelecimento pode

desenvolver este tipo de programa de transplante sem maiores riscos financeiros.

Dentro desta variação, cada procedimento pode gerar um deficit de R$ 21.775,85 ou

um superávit de R$ 4.915,21 no melhor de todos os cenários.

Atualmente os pacientes catarinenses que necessitam de transplante

pulmonar são referidos, por meio de Tratamento Fora de Domicílio (TFD), para o

serviço de Porto Alegre e isto, como citado anteriormente, gera um custo anual em

torno de R$ 25.959,54. Este custo torna-se irrisório se comparado ao custo de

manutenção de um serviço próprio, principalmente porque, a partir do momento que

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o paciente chega ao serviço de referência, todas as suas necessidades: exames de

imagem, laboratório, pareceres das mais diversas especialidades e outros, são

executados no complexo hospitalar da referência. Este fato é muito positivo para o

paciente, pois facilita muito sua investigação, porém é mais oneroso ao centro

transplantador e deve ser levado em conta no projeto de instalação de um futuro

centro de transplante pulmonar em Santa Catarina.

7.4 Eficiência/Eficácia (Qualidade)

7.4.1 Número de pulmões efetivamente transplantados e taxa de aceitação

O uso de órgãos no Brasil é extremamente variável, excedendo 70% para rins

e fígado, 15% para coração e apenas 5% para pulmões (PEGO-FERNANDES;

GARCIA, 2010). Esses resultados menos satisfatórios para o transplante pulmonar

devem-se às peculiaridades do órgão, que o torna menos propício ao transplante

quando comparado aos outros órgãos (CAMARGO; CARAMORI, 2001).

De uma maneira geral, no Brasil, os transplantes de órgãos vêm crescendo

na última década. Apesar do transplante de rim e do fígado apresentar um

crescimento mais acentuado; o transplante de pulmão, disponível em seus seis

centros de transplante no país, também mostrou um ligeiro acréscimo, conforme

demonstrado na

Figura 16.

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Figura 16: Número absoluto de transplantes no Brasil em 10 anos

Fonte: Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (2013).

Santa Catarina, apesar de não realizar transplante de pulmão, apresenta um

cenário favorável no país em relação à efetivação de transplantes de outros órgãos,

com uma taxa de 26,4 doadores efetivos pmp/ano.

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Estratégias ao redor do mundo têm sido realizadas para melhorar as técnicas

de preservação do pulmão: prevenir o barotrauma do pulmão do doador, modificar

as soluções de preservação do órgão e diminuir o tempo de isquemia (ANGEL et al.,

2006; AHMED; SHLABIN; NATHAN, 2011; COBO; GALLEGOS, 2009). Apesar da

evolução dos sistemas de alocação de pulmão, tanto na Europa como nos EUA, a

taxa de aceitação de pulmão não chega a 50% (KRUEGER; BERUTTO; AUBERT,

2011). Um estudo realizado no Canadá mostrou que, mesmo com a implantação de

um protocolo para aumentar o recrutamento de pulmão, a taxa de utilização do

pulmão para transplante chegou a 33% em 2006 e 24% em 2007 e 2008 (NOISEUX

et al., 2009).

No Brasil, um estudo retrospectivo realizado no Estado de São Paulo mostrou

que, no ano de 2006, houve uma taxa de utilização dos pulmões doados muito baixa

(4%) em relação às taxas médias mundiais. Conforme Pego-Fernanades et al.

(2008), os motivos para a baixa taxa de aproveitamento dos pulmões doados foram:

gasometria (30,1%), infecção (23,7%), distância (10,9%) e idade (8,8%).

Se se analisar Estado de Santa Catarina, no último triênio, foram aceitos e

removidos 13 pulmões dos 29 doadores disponibilizados, resultando em uma taxa

de aceitação do órgão de 44,82% das ofertas. É um índice considerado muito alto

até para padrões internacionais. Sabe-se que o aproveitamento do órgão doado está

diretamente relacionado com o cuidado e o manejo do potencial doador e isso reflete

o preparo da equipe transplantadora e a qualidade das unidades de terapia

intensiva. Santa Catarina foi avaliada pela ABTO no ano de 2012 como:

(...) o Estado que lidera o número de doadores efetivos pmp no Brasil. Tem 28 CIHDOTTs ativas, além de programas líderes em transplante renal e hepático. Possui equipe específica para retirada de órgãos com cirurgiões dedicados a esse processo. Possui grande suporte do governo estadual. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTE..., 2012).

Talvez esses motivos expliquem o sucesso na aceitação dos pulmões doados

e favoreça a avaliação da implantação de um centro de transplantes pulmonar no

estado.

7.4.2 Sobrevida e qualidade de vida pós-transplante

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Apesar dos avanços conquistados na área do transplante pulmonar na última

década, a sobrevida em curto e em longo prazo dos pacientes transplantados ainda

é menor, quando comparada a de outros órgãos sólidos. Estima-se uma sobrevida

de 94%, 88% e 80% em um, três e cinco anos, respectivamente, para transplante

renal; 86%, 78% e 73% para transplante hepático; 87%, 80% e 74% para transplante

cardíaco e 84%, 68% e 52% para transplante pulmonar (YUSEN, 2009).

Na Espanha, um registro publicado sobre 15.267 pacientes transplantados no

período de 1990 a 2002 mostrou uma sobrevida de 74% em 1 ano, 58% em 3 anos

e 47% em 5 anos. A enfermidade de base (enfisema e fibrose cística têm melhores

resultados) e a situação clínica do paciente no momento do transplante são os

principais fatores que influenciam na sobrevida (BORRO, 2005).

Um estudo realizado nos EUA mostrou resultados semelhantes apenas na

sobrevida de 3 anos (83% em 1 ano, 54% em 3 anos e 29% em 5 anos). Eles

acreditam que a idade (pacientes maiores de 65 anos), tipo de transplante

(unilateral), severidade do quadro clínico no momento de transplante (pacientes

internados em unidade de terapia intensiva) e tipo de doença de base podem piorar

os resultados da sobrevida (YUSEN et al., 2010).

Neste mesmo estudo, Yusen et al. (2010) afirmam que, mesmo tendo uma

taxa de sobrevida menor em relação aos outros transplantes de órgãos sólidos, de

uma maneira geral, sem contar a patologia de base, ela ainda é maior quando

comparada aos pacientes em fila de espera para o transplante. Um estudo realizado

em Zurique em pacientes com fibrose cística pulmonar mostrou uma taxa de

sobrevida de 72,7% em pacientes transplantados e 33% em pacientes sem

transplante (HOFER et al., 2009).

No Brasil, conforme registro da ABTO, tem-se uma sobrevida em 3 anos de

53%, contados a partir de 2010. Estes dados são semelhantes aos resultados dos

melhores centros mundiais de transplante e isso se torna importante porque a

sobrevida tem sido um dos principais critérios para avaliar o sucesso deste

procedimento. O Guideline Internacional para seleção de candidatos a transplante

pulmonar de 2006 baseia-se muito nas suas recomendações no tempo de espera

por transplante e no tempo estimado de sobrevida pós-transplante (ORENS et al.,

2006) e o Lung Allocation Score System (LAS), utilizado nos EUA, solidificou-se

como um excelente método de captação de órgão baseado no seguimento da

sobrevida antes e após o transplante pulmonar (YUSEN et al., 2010).

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A Região Sul, particulamente o Rio Grande do Sul, foi a responsável pela

maioria dos transplantes pulmonares do país em 2012 (33 de 69 procedimentos),

com a melhor taxa de transplante pulmonar por milhão de população (3,1). Estando

o Brasil inserido numa taxa de sobrevida similar às taxas mundiais e tendo o Estado

do Rio Grande do Sul como centro de referência, fica o questionamento se a

implantação de outro serviço na mesma região ajudaria a incrementar ainda mais

esta taxa de sobrevida.

A taxa de sobrevida nos pacientes transplantados é um importante marcador

do sucesso do procedimento, que é, sem dúvida, a opção terapêutica mais favorável

ao doente terminal quando comparado ao paciente em fila de espera. Porém, além

do número de pacientes que sobrevivem, precisa-se analisar a qualidade de vida

que proporciona o transplante pulmonar a estes sobreviventes, principalmente por

se tratar de um procedimento que não está isento de riscos. De acordo com Gross e

Raghu (1997), “na clínica médica, qualidade de vida representa o efeito da doença e

sua consequente terapia sobre o paciente, na percepção do própio paciente”. De

uma maneira geral, critérios como saúde física, mental e social, como bem-estar,

ajudam a definir qualidade de vida (GROSS; RAGHU, 1997).

Vários estudos têm demonstrado uma melhora na qualidade de vida, função

pulmonar, e satisfação dos pacientes transplantados em comparação com aqueles

que estão em fila de espera (LAU; PATTERSON, 2003; LANUZA et al., 2000; VAN

DER BIJ; REYNAUD-GAUBERT, 2009). Um estudo comparando 36 pacientes na fila

de espera com 72 pacientes que receberam transplante pulmonar mostrou que os

pacientes transplantados apresentaram uma melhora estatisticamente significativa

na sua saúde física, na vitalidade e na sua função social (LIMBOS et al., 2000).

Ainda em relação à qualidade de vida, Trulock et al. (2004) publicaram o registro da

Sociedade Internacional de Transplante de Coração e Pulmão, que mostrou que

83% dos pacientes que sobrevivem ao transplante levam uma vida normal e sem

limitações ao cabo de um ano, e que essa porcentagem se mantém ao longo de

cinco anos.

Na análise da viabilidade de se implantar um centro de transplante pulmonar

em nosso estado, a qualidade de vida teria um papel importante para nossos

pacientes. É difícil inferir qual o custo emocional para pacientes e seus familiares

que são deslocados para outro estado para realizar este procedimento, e que

permanecem por um longo período fora do seu convívio familiar, porém isto, com

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certeza, interfere na sua qualidade de vida. Pacientes fora do Rio Grande do Sul

precisam permanecer naquele estado um tempo médio de 6 meses após a

realização de transplante. Isto demanda hospedagem, alimentação, saudades da

sua casa e outros. Um estudo realizado por Ramsey et al. (1995) mostrou que a

qualidade de vida é tempo dependente, e que os primeiros quatro meses pós-

transplante apresentam um escore mais baixo de qualidade de vida. Sendo assim,

para nossos pacientes catarinenses que permanecem o período pós-operatório em

outro estado, a distância não seria um fator adicional para sua piora na qualidade de

vida?

De uma maneira sintética, agrupou-se os elementos primários de avaliação

(EPAs) e comparou-se a análise de um centro próprio de transplante em Santa

Catarina com a manutenção do transplante pulmonar no serviço de referência do Rio

Grande do Sul, conforme

Quadro 8.

Quadro 8: Comparação entre centro próprio de transplante pulmonar em Santa

Catarina e manutenção do transplante pulmonar no Rio Grande do Sul, conforme os Elementos Primários de Avaliação (EPAs)

EPAs Serviço Próprio em SC Manter referência no RS

1. Demanda de transplantes da população de Santa Catarina

População de 6,3 milhões de habitantes e demanda de 3 – 5 Tx pulmonares p.m.p. limita as perspectivas a 15 a 32 procedimentos ano.

População de 10,7 milhões de habitantes. Demanda estimada de 32 a 53 Tx ano. Como única referência na Região Sul potencial de 82 a 137 procedimentos ano.

2. Número de pulmões disponibilizados para transplante pelo sistema de captação de órgãos

Com 26,4 doadores p.m.p. e 6,7% de aproveitamento para órgãos torácicos, a estimativa de geração de enxertos é de 10 pulmões/ano.

Com 18 doadores p.m.p. e 13% de aproveitamento para órgãos torácicos, geração estimada de enxertos de 25 pulmões/ano.

3. Tempo na fila de espera

Possibilidade de redução por se ter fila própria e menos pacientes em lista. A perda de 10,7 milhões da base da população doadora pode comprometer a melhora.

Número maior de pacientes em lista, incluindo candidatos de todo o Brasil. População de base para procura de órgãos 4,3 X maior que a de SC.

4. Índice de mortalidade na fila de espera

Na mesma linha do item 3, acrescenta-se a possibilidade que um serviço em SC eleva o aproveitamento dos pulmões ofertados, reduzindo ambos tempo em fila e mortalidade.

Possibilidade de criação de uma equipe de captação de pulmões em SC para aprimorar a logística e o aproveitamento dos pulmões.

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EPAs Serviço Próprio em SC Manter referência no RS 5. Custo de implantação do serviço

Desfavorece a hipótese se comparado ao custo atual de manter os pacientes no RS.

Menos oneroso ainda que se leve em conta o custo do tratamento fora do domicílio.

6. Curva de aprendizado da equipe de transplante

Maior obstáculo a ser vencido pelo tamanho da população de SC e seus reflexos em demanda de transplante pulmonar e geração de enxertos.

Experiência de 423 enxertos com média de 27 procedimentos ao ano na última década.

7. Custo de manutenção do serviço

Desfavorece a hipótese se comparado ao custo atual de manter os pacientes no RS. Precisa ser confrontado com a receita gerada a partir da realização dos transplantes em SC. A escolha do perfil da instituição pode neutralizar a dificuldade.

O serviço de referência no RS tem a melhor relação custo-financiamento possível pelas normas do SUS.

8. Nº de pulmões efetivamente transplantados pelo serviço de referência para transplante de pulmão e taxa aceitação dos órgãos disponibilizados

É real a possibilidade que um serviço em SC elevasse o aproveitamento dos pulmões aqui gerados e ofertados, com impacto no tempo de espera e mortalidade em lista.

Possibilidade de criação de uma equipe de captação de pulmões em SC para aprimorar a logística e o aproveitamento dos pulmões.

9. Sobrevida pós-transplante

Pesa novamente a questão da curva de aprendizado e amplia-se pelo expertise de toda a equipe de saúde no cuidado pós Transplante pulmonar e acompanhamento. O eventual melhor acesso ao serviço hospitalar especializado poderia ter algum impacto.

Possibilidade de criação de uma equipe de acompanhamento de transplantados pulmonares integrada ao serviço do RS.

10. Custos emocionais do paciente e acompanhantes associados à distância do local de residência

Potencial benefício por tratar-se de equipe local sem deslocamento de pacientes e familiares para o RS. Deve-se relativizar, pois um único centro em SC implica que a maior parte dos pacientes será tratada longe do domicílio.

Estrutura de complexo hospitalar com acesso facilitado a todos os recursos necessários ao paciente sem precisar deslocamento e esforços adicionais. Instituição vinculada sem restrições ao SUS.

11. Custo econômico final incorporado ao estado

Há risco potencial de deficit financeiro se o projeto não for bem planejado.

Risco de perda de receita para o serviço do RS.

Fonte: Elaborado pelo autor (2013).

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8 CONCLUSÃO

No ciclo das políticas públicas, a formação da agenda política representa uma

das mais importantes fases, porque mobiliza fortes recursos de poder. A formação

da agenda é fortemente afetada pelos atores políticos e pelos processos de

evidenciação do tema que poderiam ocupar a atenção do governo. Neste sentido,

este estudo procurou apresentar informações sobre a viabilidade ou não da

implantação de um centro de transplante pulmonar em Santa Catarina, dando

instrumentos que possam ser úteis para a atenção dos formuladores de política no

processo de formação da agenda e formação de alternativas, conforme pode ser

verificado na

Figura 17.

Figura 17: Ciclo de Políticas Públicas Adaptado

Fonte: Elaborada pelo autor (2013).

Sendo assim, a análise dos dados obtidos para avaliação da viabilidade de

implantação de um serviço de transplantes de pulmão em Santa Catarina permite

inferir:

FORMAÇÃO DA AGENDA- Definição do problema: Transplante Pulmonar em Santa Catarina.- Análise do problema: viabilidade de um centro próprio.

FORMAÇÃO DE ALTERNATIVAS- Avaliação das opções: criar um centro em nosso estado ou mantero sitema vigente.- Seleção das opções: análise dos pontos de vistas fundamentais.

IMPLEMENTAÇÃO- Monitoramento.

AVALIAÇÃO- Ajustes.

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a) A demanda anual para este procedimento deve variar entre 18 a 30

procedimentos.

b) A pequena oferta de pulmões para transplante consiste em uma ameaça real ao

desenvolvimento de um programa de transplantes em Santa Catarina.

c) O desenvolvimento de um programa de transplante pulmonar em nosso estado

poderia incrementar o aproveitamento dos enxertos pulmonares com potencial

redução do tempo e da mortalidade em lista de espera.

d) A redução da base populacional de procura de doadores pode neutralizar o

suposto benefício da redução do tempo de espera.

e) A opção pela implantação de um serviço de transplante pulmonar em Santa

Catarina é inquestionavelmente mais onerosa que a de manter os pacientes em

tratamento no Rio Grande do Sul.

f) O maior desafio à implementação desta proposta consiste em expor os pacientes

a uma curva de aprendizado da nova equipe e seu estabelecimento, bem como a

garantia de uma demanda que permita a esta manter a expertise.

g) O desenvolvimento da nova equipe e do estabelecimento pode comprometer o

resultado dos transplantes de pulmão em Santa Catarina nos seus primeiros

anos de atividade.

h) O desenvolvimento de um serviço de transplante pulmonar em Santa Catarina

pode trazer mais conforto e facilidade de acesso aos catarinenses.

i) O perfil de um estabelecimento de saúde catarinense para o desenvolvimento de

deste projeto deve contemplar a existência do maior número possível de

programas de transplante de órgãos sólidos, incluindo coração e um serviço ativo

e qualificado de cirurgia torácica.

j) Há um considerável risco de deficit financeiro para este programa de transplantes

se o estabelecimento não atender às características dos níveis A ou B do

programa de incremento financeiro para a realização de procedimentos de

transplantes e o processo de doação de órgãos da Portaria GM 845 de 02 de

maio de 2012.

Este estudo procurou analisar diversos fatores relevantes na avaliação de

políticas públicas referentes ao transplante pulmonar no Estado de Santa Catarina.

Sua contribuição teórica promoveu a discussão de aspectos que precisarão ser

desenvolvidos, em momento oportuno, pelos formuladores da política de saúde na

tomada de decisões pertinentes à mudança ou não da configuração atual da rede de

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serviços de saúde de alta complexidade, não sendo, portanto, definitivo. O autor

reconhece como limites desta pesquisa alguns aspectos importantes: por ter

assumido o contexto específico de processo de tomada de decisão que interessa

apenas dois gestores e duas instituições prestadoras de serviço (as Secretarias de

Estado da Saúde de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, o Hospital da Santa

Casa de Misericórdia de Porto Alegre e outro hospital de grande porte de Santa

Catarina não definido), assumiu o caráter de estudo de caso, não sendo suas

conclusões generalizáveis. Por outro lado, apesar de ter sido elaborado a partir de

informações e opiniões colhidas em reuniões com importantes agentes do processo

decisório, restringiu-se a um grupo limitado de participantes e a um momento

histórico e político específico e limitado.

Dentro da metodologia adotada, o presente estudo abordou a primeira fase do

modelo MCDA – estruturação do contexto decisório. A continuidade da aplicação da

metodologia no contexto da gestão do Sistema Único de Saúde é uma opção dos

formuladores das políticas de saúde, e o presente trabalho pode ser uma

contribuição relevante para a elaboração de estudos futuros.

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