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ANÁLlSE
DIAGNÓSTICO DA FERTILIIIIGDO SOLO E DO ESTADONUTRICIONAL DAS PLANTAS
Antônio Marcos CoelhoPesquisador da Embrapa Milho e [email protected]
Considerando-se o gerenciamentoda fertilidade do solo, das exigên-cias nutricionais e do manejo da
adubação das culturas, pode-se dizer quesua eficiência no incremento da produti-vidade será tanto maior quanto melhor foro ajuste dos fatores de construção da pro-dutividade.
Assim, a fertilidade dos solos, a nutri-ção e a adubação são componentes essen-ciais para a construção de um sistema deprodução eficiente. A disponibilidade denutrientes deve estar sincronizada com orequerimento das culturas em quantida-de, forma e tempo.
Na dose certa
Um programa racional de adubação en-volve as seguintes considerações: a) diagnoseda fertilidade do solo e histórico de uso dasglebas; b) requerimento nutricional das cul-turas; c) padrões de absorção e acumulaçãodos nutrientes, principalmente N, P e K; d)fontes de nutrientes; e) manejo da adubação.
Em geral, a análise de solo é a ferra-menta básica e fundamental para deter-minar os níveis de fertilidade dos solos ediagnosticar as necessidades de aplicaçãode corretivos e fertilizantes.
As análises dos tecidos vegetais pos-sibilitam integrar os efeitos do solo e doambiente sobre a nutrição das plantas, am-pliando a base do diagnóstico, e são de par-ticular importância para os nutrientes cujadinâmica no solo é complexa, como porexemplo, o nitrogênio e os micronutrientes.
As informações complementares uti-lizadas para o diagnóstico da necessidade
~ CAMPO & NEGÓCIOS .'M-I ABRIL 2016
de adubação incluem as características doclima, da região de cultivo, do manejo dosolo e das culturas.
Qyal metodologia escolher?
Atualmente, os sistemas de produçãoutilizados nas propriedades agrícolas,fami-liar e empresarial, são bastante diversifica-dos, envolvendo várias culturas cultivadasem rotação e sucessão. Outro aspecto queassume importância dentro destes sistemasé a extração, a exportação e a ciclagem dosnutrientes pelas diferentes culturas.
M.O, pH, H+AI, AI, Ca, Mg, K, P(O- 20 e 20 - 40 cm)
Zn, Cu, Fe, Mn (O - 20 cm)B, 8-80 (O - 20 e 20 - 40 cm)
N-NO ~ N=NH (O - 60 cm)3 4
Diagnose visual - sintomasde deficiências nutricionais
N-.NO3+ N-NH 4no solo (0-30 cm)Indice de Clorofila - 8ensores
Análise follar para determinarconcentração total de
nutrientes
Análise de N-N03 na basedo colmo
Concentração de nutrientesna matéria seca das plantas
e dos grãos
SEMEADURAEMERGêNCIA
VT • 4 • 5 FOLHAS
VT - 8 -10 FOLHAS
EMBORRACHAMENTOFLORESCIMENTO
MATURJ'ÇÃOFISIOLOGICA
COLHEITA:GRÃosFORRAGEM
Figura 1. Metodologias disponíveis para avaliar a fertilidade dos solos e o estadonutricional das culturas de milho e de sorgo, da pré-semeadura à colheita.
Importância da análise de soloapós a colheita
Assim, para um diagnóstico maispreciso é de fundamental importânciafazer uso de duas ou mais metodologias,conforme apresentado na Figura 1. Porexemplo, além das análises de solo, po-de-se utilizar também a diagnose visuale os resultados da análise foliar.
A análise de solo após a colheita temdois pontos importantes. O primeiro éque o produtor já tem experiência doque ocorreu na safra anterior, como foi o
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ANÁLISE
desempenho da cultura e é possível, ba-seado na produtividade, ver se as adu-bações realizadas são condizentes coma produtividade obtida.
O segundo ponto é que se a amos-tragem de solo é realizada logo após acolheita, haverá tempo suficiente para oplanejamento da amostragem, retirar asamostras, enviar ao laboratório e rece-ber o resultado para fazer a programaçãode compra dos insumos (calcário, ges-so agrícola e fertilizantes) para a próxi-ma safra, baseado nas necessidades quea interpretação dos resultados da análi-se de solo irá indicar.
Quando fazer?
A análise deve ser feita imediata-mente após a colheita, pois é quandoo solo ainda está com certa umidade eé mais fácil coletar as amostras. Alémdisso, o produtor precisa ter os resul-tados, os quais irão orientar a comprados insumos.
Antecipando a compra dos insumosele pode, inclusive, conseguir preços me-lhores. O que não pode é deixar para ofinal a compra de insumos, pois haveráproblemas na aquisição e no transporte,além de pagar preços mais altos.
Se a amostragem de solo for bemplanejada, executada e enviada para umlaboratório que participa de um progra-
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ma de controle de qualidade (PROFER-T-MG e PAQ!..,F,coordenado pela Em-brapa Solos), os resultados terão maiorconfiabilidade, e assim poderão ser utili-zados por até três anos, exceto em solosarenosos, que exigem análises mais fre-quentes.
Para saber o quanto o solo é arenoso,basta fazer uma análise física da compo-sição granulo métrica, que indica os teo-res de argila, silte e areia. É muito impor-tante que o produtor conheça seu solonesse aspecto, porque isso tem muita in-fluência no manejo de adubação, princi-palmente nas nitrogenadas e potássicas.
A movimentação de nutrientes émaior em solos arenosos do que nos ar-gilosos. Por isso, os primeiros exigemmais atenção no manejo de nitrogênioe potássio.
A correta amostragem do solo
A amostragem de solo não pode serfeita de qualquer jeito. Ela exige plane-jamento, que deve ser baseado no conhe-cimento que o produtor tem da sua área.É importante saber se a área é formadapor declives, se possui baixadas, e é pre-ciso fazer uma separação destas, ou se-parar as glebas da propriedade por pro-dutividade.
Fique atento
o laboratório não corrige os erros deamostragem, apenas mostra os resulta-dos da amostra enviada. Existem empre-sas que prestam esse serviço de amos-tragem de solos, análises e interpretaçãodos resultados.
As amostragens são feitas por pro-fissionais que conhecem o sistema, e acoleta pode ser feita por duas metodo-logias, ao acaso, utilizadas na agricultu-ra convencional, ou sistematizada, comonos conceitos da agricultura de preci-são, também chamada de amostragemem malhas ou em células.
Uma coisa é certa - a análise de so-los é muito importante e de baixo custo,visto que as informações podem ser usa-das por três anos. Claro que caso algu-ma área apresente problemas, o produ-tor precisará retirar novas amostras paraanálises químicas. Por isso, é importanteque o produtor tenha boa orientação, ouque contrate uma empresa especializa-da a fim de obter informações corretas.
Detalhes que fazem a diferença
É interessante que se faça a amostra-gem nas profundidades de O a 20 e de 20a 40 em do solo. A amostragem na pro-fundidade de O a 10 em não é muito ade-quada porque as culturas normalmenteexploram um volume maior de solo. Porexemplo, para a cultura do milho, resul-tados de pesquisas indicam que 90% dosnutrientes absorvidos são provenientesda camada de solo de O a 30 cm.
Fazendo amostragem em profundi-dade, é importante que o produtor ava-lie o problema de acidez para tomar adecisão de uso do gesso agrícola, visan-do a correção de acidez do subsolo. Se oprodutor preferir, ele pode fazer análiseaté mesmo da profundidade de 60 em.
As análises feitas de O a 20 em sãopara os indicadores da fertilidade do solode rotina (pH, H +Al, Al, Ca, Mg, P, K,MO, etc.), incluindo os micronutrientes(Zn, Cu, Fe, Mn, B). De 20 a 40 em de
As análises de solo podem indicar ocaminho para reduzir o custo de produ ão
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profundidade, normalmente não é pre-ciso analisar os micronutrientes (excetoo boro), o que reduz o custo da análise.
É comum os produtores mandaremfazer análise de nitrogênio total, mas elanão tem muita importância na recomen-dação desse nutriente. Neste caso, é maisimportante que se faça análise de maté-ria orgânica.
Investimento
O investimento nas técnicas de amos-tragens de solos varia muito. Se o pro-dutor fizer a amostragem por conta pró-pria, pode ser que tenha um custo menorpor não coletar o número adequado deamostras de solo. Mas, se o produtor di-vidir as glebas em 30 ou 40 hectares, aintensidade de amostragem vai depen-der muito do que ele observa de varia-bilidade do solo no campo.
O agricultor pode fazer isso duran-te o desenvolvimento das plantas, poisa melhor maneira de avaliar a qualidadeda fertilidade do solo é observando nocampo o desenvolvimento das plantas.
Se o produtor optar por terceirizar oserviço de amostragem de solos e contra-tar uma empresapara isso,avantagem seráa garantia de um serviço muito bem feito,semprecisarrepetir a amostragem de soloacada ano.Com a amostragem de solosexe-cutada adequadamente, o que temos ob-servadoé que sepode ter até 30% de retor-no em economia de calcárioe fertilizantes.
Com essas informações, pode-se terum melhor balanceamento nas doses dosfertilizantes. Por exemplo: o produtorque já vem há muitos anos adubando aárea, normalmente usando fórmulas con-centradas em fósforo, já aplicou muitomais fósforo do que a planta retirou.
Com isso, o nível de fósforo pode-rá estar muito alto. Com base nas infor-mações da análise de solo, ele pode re-duzir a adubação com fósforo e investirem nitrogênio, que no caso do milho éo nutriente que mais limita a obtençãode altas produtividades.
O mesmo raciocínio é válido para opotássio, por ser um nutriente de baixamobilidade no solo, principalmente na-queles de textura média e argilosa, emque a tendência é acumular na camadasuperficial. E o produtor, baseado nes-
sas informações, pode ter um progra-ma de adubação muito balanceado ecom redução de custos.
Temos experiência trabalhandono projeto "Sistemas Agrícolas deProdução Integrada - SAPI", condu-zido pela Embrapa Milho e Sorgo emparceria com produtores de milho naregião de Sete Lagoas (MG), em quefoi possível, de acordo com o histó-rico de uso das glebas e resultadosde análises químicas do solo, redu-zir a dose de fertilizantes NPK utiliza-dos pelo produtor em 25%, obtendo--se ganhos na produtividade de milhoda ordem de 10% (1.000 kg/ha), como balanceando da adubação, pois o soloestava com altos níveis de fósforo e po-tássio. Fizemos isso reduzindo as adu-bações com esses dois nutrientes e in-vestindo em nitrogênio.
De olhos bem abertos
°produtor tem que aproveitar omáximo das informações das análisesde solo. Empresas de insumos no Bra-sil recomendam quantidades de adu-bo, as vezes em doses altíssimas, semconsiderar os resultados das análises desolo.Por exemplo, a aplicação média defósforo na cultura do milho no Brasilé de 120 kg de P20/ha ao ano. Comos resultados das análises de P dos so-
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los é possível, em determinadas condi-ções, que essa aplicação seja reduzidapela metade, mantendo a mesma pro-dutividade do milho.°problema observado é o pouco usodas informações das análises de solos.Se o produtor não usa, ele está perden-do tempo e dinheiro fazendo a análisede solo.Apesar desta ser uma ferramen-ta já bastante conhecida, muitos produ-tores não estão sabendo tirar o devidoproveito da técnica.
Se o produtor usar análise de solopara recuperar um solo muito pobre, adecisão será dele.
De qualquer forma, ele precisa daanálise de solo para fazer um bom pro-grama de adubação, que é o ponto ini-ciaLSe o solo estiver muito ácido, preci-sará de calcário, de gesso e de adubaçãofosfatada mais pesada em solos com te-ores de P muito baixos.
Se ele vai recuperar o solo em umano ou na primeira safra, vai dependerde sua capacidade de investimento, deacordo com a disponibilidade de re-cursos próprios ou do crédito agrícola.
Aumento de custo
Recentemente, os fertilizantes ti-veram aumento de mais de 30%. °produtor precisa entender que ele temque ter o histórico de uso da área, com
as análises de solo, quais foram as apli-cações de calcário, gesso e fertilizantese quais foram as produtividades obtidas.Essas informações são importantes paraque ele maneje melhor, inclusive ganhena redução dos custos de adubação. °histórico da área (adubações e produti-vidade) é importante para a interpreta-ção da análise de solo.
Atualmente, 100% dos produtoresdeveria já estar fazendo análise de solo,mas não chega a 60%, por ser poucodivulgada a importância dessa técnica.Até mesmo o fato de financiarem osinsumos por meio de contratos futurosnão é bom se o produtor não usa aná-lise de solo, pois a empresa que forne-ce o fertilizante não sabe da necessida-de da propriedade. Assim, vale a pena,com certeza, fazer as análises de solos,desde que com critério técnico e emba-samento profissional.·
ABRIL 2016 I CAMPO & NEGÓCIOS M.I'IH.?_ 1-;')