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Análise da Fuga nº 6 em Si menor op.87, de Dmitri Shostakovich
Análise Musical V
2014/2015
Filipe Curral, L31033
Com este trabalho pretendo mostrar, de forma consolidada, os temas estudados na
disciplina de Analise Musical V. Com isto, irei fazer a análise de uma fuga. Neste caso, fugirei
um pouco á regra e não analisarei uma fuga de Bach mas sim uma fuga de Schostakovich
que, por incrível que pareça pelas diferenças de época, pouco diferem. A fuga escolhida foi a
Fuga nº 6 em si menor opus 87 de Dmitri Schostakovich. “Shostakovich's Twenty-Four
Preludes and Fugues op. 87 stand out among his piano works as a unique cycle, equaling
Bach's Well-Tempered Clavier in its concept.” (Plutalov, 2000)
Não pretendendo fazer uma contextualização da obra, considero relevante expor alguns
dos aspectos relativos a esta fuga. A mesma faz parte do primeiro grupo de seis prelúdios e
fugas do primeiro livro “ Vinte e quatro prelúdios e fugas” opus 87 de Dmitri Schostakovich.
“More than two hundred years after Bach composed his two books of twenty-four preludes
and fugues, Dmitry Shostakovich became the first composer in musical history to follow
Bach's challenging experience by composing his own cycle of Twenty-Four Preludes and
Fugues op. 87 (1950-1951). The impulse to compose the cycle came upon the composer not
as a challenging task to imitate the work and style of Bach, but as a task for his own creative
self-realization.” (Plutalov, 2000)
A fuga tem como tonalidade principal a de Si menor, apresenta quatro vozes e é
considerada uma fuga extensa. Robert Markow caracterizou esta fuga como “a striking
Prelude built on the double-dotted rhythmic figure (extra-long notes alternating with extra-
1
short ones) flashes fire and energy in contrast to its Fugue, notable for a flowing, placid
surface. (htt5)
Antes da análise propriamente dita da fuga é importante esclarecer o conceito deste
género musical. Esta forma caracteriza-se pelo contraponto, polifonia e imitação. Nada se
compara a outras formas que se baseiam na tonalidade e na forma como é o caso da forma
sonata que se divide em três partes e cada parte deverá ter uma tonalidade normalmente
predefinida. Com a fuga deparamo-nos com uma forma de composição que se baseia numa
melodia. Sendo que a mesma repete-se em todas as vozes. O número de vozes define-se
com a entrada da melodia em cada voz.
Esta Fuga começa com a primeira secção que designamos de Exposição, onde nos é
apresentado o sujeito, as suas sucessivas entradas nas quatro vozes, o contra sujeito, a
resposta, e dois episódios. Temos uma segunda secção onde existe uma modulação ao
relativo maior. Entretanto no compasso 96, emerge uma terceira secção, designada por
recapitulação ou reexposição, onde o sujeito é novamente apresentado nas várias vozes
usando o stretto. Mais adiante, serão exploradas mais aprofundadamente as subdivisões
inerentes a estas secções e a natureza dos elementos neles contidos.
Começando pela Exposição, podemos dizer que ao longo dos seis primeiros compassos, é
apresentado o sujeito (imagem 1). Este está em Si menor, a tonalidade principal desta fuga,
e apresenta uma característica muito relevante que é o facto de começar ao mesmo tempo
na voz do baixo e do contralto, com uma diferença de uma oitava. Esta característica apenas
se prolonga nos primeiros quatro compassos do sujeito. O encerramento da primeira
entrada do sujeito coincide com o início da apresentação da resposta. A simultaneidade
destes dois acontecimentos é algo recorrente nas fugas, constituindo um princípio básico da
construção das mesmas, salvo muito raras excepções. A resposta consiste numa
transposição do tema do sujeito uma quinta acima, correspondendo à linha do contralto.
Dito isto, a resposta surge no compasso sete na tonalidade de Fá sustenido menor. Ao
mesmo tempo que surge a resposta, o contra sujeito aparece na voz do baixo, prolongando-2
Imagem 1
se por seis compassos. Também é importante frisar que o tema do contra-sujeito, segundo o
protótipo da composição de fugas, repete-se ao longo da música, percorrendo as várias
vozes e, desta forma, está sujeito a ajustamentos a nível do registo.
Concluída a resposta e o contra sujeito (C.S.1), surge no cc.
13 o primeiro Episódio que constitui uma codetta, um outro
elemento comum neste género musical. Estes Episódio
contem uma codetta pois a mesma, trata-se de um elemento
de transição que antecipa a terceira entrada do sujeito.
Nesta codetta podemos verificar a presença de dois motivos
que repetir-se-ão ao longo da fuga (imagem 2).
O primeiro, que designaremos de motivo x, apresenta motivos do sujeito e estão implícitas
características rítmicas. O segundo motivo, designado por motivo y, consiste apenas no
segmento ré-si-do-ré. Sendo assim, no compasso seguinte (cc.14) surge novamente o sujeito
na voz do soprano enquanto o contralto realiza o contra sujeito um (C.S.1) e o baixo o contra
sujeito dois (C.S.2). No compasso dezanove terminam as frases do sujeito, contra sujeito um
e dois e aparece pela primeira vez, na voz do baixo, o contra sujeito três (C.S.3).
No compasso vinte temos, finalmente, as quatro vozes juntas (imagem 3). Neste mesmo
compasso o soprano realiza a resposta na tonalidade de fá sustenido menor, o contralto o
contra sujeito um, o tenor o contra sujeito dois e o baixo o contra sujeito três. Todos estes
elementos prolongam-se por seis compassos. Ao fim destes mesmos compassos surge um
segundo episódio que desta vez não se trata de uma codetta. Neste episódio temos
novamente os motivos x e y que vão se alternando durante quatro compassos. No compasso
trinta surge novamente o sujeito, na tonalidade de si menor, na voz mais grave, o contra
3
Imagem 3
Imagem 2
sujeito um no soprano e o contra sujeito dois no contralto. No compasso trinta e seis o
sujeito transforma-se em resposta (na tonalidade de fá sustenido menor) e os contra
sujeitos mudam de voz.
A partir do cc. 42, estabelece-se um episódio de quatro compassos caracterizado pela
alternância dos motivos y e x. O mesmo acaba por ser interrompido por uma nova Secção, a
já referida secção dois que representa uma modulação á relativa menor.
Dito isto, no compasso quarenta e seis o sujeito surge na tonalidade de ré maior na voz do
baixo sendo que é acompanhado pelos contra sujeitos nas outras vozes (Imagem 4). O
contra sujeito três no soprano, o contra sujeito um no contralto e o contra sujeito dois no
tenor. No compasso cinquenta e dois, a resposta é feita em lá maior na voz do contralto
enquanto o contra sujeito um está na voz mais aguda e o contra sujeito dois na voz mais
grave. Entre os compassos cinquenta e oito e sessenta e cinco temos o quarto episódio em
que mais uma vez os motivos y e x são intercalados. No compasso sessenta e seis aparece,
no soprano, o sujeito na tonalidade de sol menor, acompanhado pelo contra sujeito um e
dois. Logo apos o final do sujeito, aparece a resposta em ré menor na segunda voz
(contralto) e o contra sujeito na voz mais grave. No compasso setenta e oito começa um
novo episodio que tem como função uma transição para a entrada do sujeito, agora no baixo
(cc.83).
No compasso 89, principia um novo episódio que se encaminha para o final desta fuga: a
recapitulação ou reexposição. Esta secção é caracterizada pela constante repetição do
Sujeito, passando por todas as vozes. Esta Recapitulação utiliza nitidamente o stretto, ou
seja, novas vozes principiam sem que se ouça o final das outras. No compasso noventa e seis
dá-se início á sucessão de entradas do sujeito. Começamos então por ouvir o sujeito na voz
do baixo e do soprano ao mesmo tempo, num intervalo de oitava mas apenas por um
compasso pois imediatamente a seguir surge de novo o sujeito na voz do soprano (cc. 97), 4
Imagem 4
sempre na tonalidade de si menor. No compasso 100 ouvimos de novo o sujeito no contralto
e logo a seguir o mesmo acontece mas no soprano (cc.101). Antes de uma nova entrada da
resposta no soprano temos um pequeno episódio de três compassos. Esta entrada acontece
no compasso cento e sete na tonalidade de mi menor. No compasso seguinte (cc. 108) ouve-
se a resposta na voz do baixo. No compasso cento e onze, enquanto o baixo realiza um penal
na tónica, a voz do tenor realiza a resposta na tonalidade de mi menor.
No compasso seguinte, o contralto insiste novamente na resposta. Antes da entrada do
sujeito em dó maior temos um pequeno episódio de apenas um compasso. No compasso
122, é rematado o último episódio, antes de se ouvir pela última vez o sujeito A, no c. 124,
no soprano.
Os últimos oito compassos da peça (imagem 5) significam a ultima afirmação do sujeito. O
compositor dá a indicação de um retardando para dar a sensação do desvanecer da melodia.
Com isto, pretende chamar a atenção do ouvinte para a ultima aparição do sujeito, que
aparece numa textura de coral.
5
Imagem 5
Bibliografia(s.d.). Obtido de http://vanrecital.com/2011/10/programme-notes-shostakovich-preludes-and-
fugues/
Cabral, L. F., Morais, J. J., Neves, F. d., & Santos, D. R. (© 2009 - 2013). Obtido de 7Graus -Dicio: Dicionário Online de Português: http://www.dicio.com.br/marcha/
Bochmann, C. (2003). A linguagem Harmónica do Tonalismo. Lisboa: Juventudo Musical Portuguesa.
Grout, D. J., & Palisca, C. V. (2007). A history of Western Music. In História da Musica Ocidental (p. 759). Gradiva.
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Schenker, H. (2000). The Art of performance . new york : Oxford University Press.
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