anÁlise ergonÔmica no posto de trabalho … · baseado no rula, owas e niosh, foi desenvolvido...

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ANÁLISE ERGONÔMICA NO POSTO DE TRABALHO DOS ENFERMEIROS DE UM HOSPITAL LOCALIZADO NA CIDADE DE SANTANA DO MATOS - RN Daniela Cristina de Sousa Silva (UFERSA ) [email protected] Priscila da Cunha Jacome (UFERSA ) [email protected] Natalia Veloso Caldas de Vasconcelos (UFERSA ) [email protected] Nos serviços de saúde, como unidades de pronto atendimento e hospitais, o fluxo de trabalho é intenso. Visando exclusivamente o bem- estar dos pacientes, os profissionais deixam de lado os cuidados com a própria saúde durante sua jornada de trabalho sem dimensionar os efeitos futuros desta atitude. Este trabalho tem o intuito de avaliar os riscos ergonômicos ao qual estão expostos os seis enfermeiros de um hospital localizado no município de Santana do Matos. Para a análise postural, foi utilizado o método REBA, com auxílio do software gratuito Ergolândia ® versão 5.0 a fim de relacionar as queixas, apontadas através de questionário e entrevistas, com a má postura utilizada pelos enfermeiros do hospital. Concluiu-se que as principais queixas, tais como dores nas costas, pés e fadiga estão diretamente relacionadas a má postura na realização de atividades corriqueiras (troca de curativo, aferição de pressão, banho no leito) e também ao estresse da atividade noturna. Diante disto foi possível propor melhorias aos enfermeiros, de acordo com as atividades analisadas, a fim de melhorar a qualidade de vida no ambiente de trabalho. Palavras-chave: Análise ergonômica, método REBA, enfermagem XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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ANÁLISE ERGONÔMICA NO POSTO DE

TRABALHO DOS ENFERMEIROS DE

UM HOSPITAL LOCALIZADO NA

CIDADE DE SANTANA DO MATOS - RN

Daniela Cristina de Sousa Silva (UFERSA )

[email protected]

Priscila da Cunha Jacome (UFERSA )

[email protected]

Natalia Veloso Caldas de Vasconcelos (UFERSA )

[email protected]

Nos serviços de saúde, como unidades de pronto atendimento e

hospitais, o fluxo de trabalho é intenso. Visando exclusivamente o bem-

estar dos pacientes, os profissionais deixam de lado os cuidados com a

própria saúde durante sua jornada de trabalho sem dimensionar os

efeitos futuros desta atitude. Este trabalho tem o intuito de avaliar os

riscos ergonômicos ao qual estão expostos os seis enfermeiros de um

hospital localizado no município de Santana do Matos. Para a análise

postural, foi utilizado o método REBA, com auxílio do software

gratuito Ergolândia ® versão 5.0 a fim de relacionar as queixas,

apontadas através de questionário e entrevistas, com a má postura

utilizada pelos enfermeiros do hospital. Concluiu-se que as principais

queixas, tais como dores nas costas, pés e fadiga estão diretamente

relacionadas a má postura na realização de atividades corriqueiras

(troca de curativo, aferição de pressão, banho no leito) e também ao

estresse da atividade noturna. Diante disto foi possível propor

melhorias aos enfermeiros, de acordo com as atividades analisadas, a

fim de melhorar a qualidade de vida no ambiente de trabalho.

Palavras-chave: Análise ergonômica, método REBA, enfermagem

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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1. Introdução

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (2013) realizada pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), 3.568.095 pessoas alegaram ter sido diagnosticadas de

LER/DORT (2,29% do total da população estimada pela PNS).

Segundo dados do SUS (Sistema Único de Saúde), a concessão do benefício auxílio-doença

pela Previdência Social aumentou de 1.895.880 de benefícios, em 2004, para 2.581.402 em

2013 (BRASIL, 2013).

Estas doenças podem ser causadas por diversos fatores de risco encontrados em qualquer

ramo de atuação profissional.

Nesse sentido, as atividades exercidas num hospital expõem os trabalhadores a riscos

químicos (substâncias que podem ser absorvidas pelo organismo através da pele ou por

inalação), físicos (ruídos, radiação, umidade), mecânicos (utilização de máquinas e

ferramentas), biológicos (bactérias, vírus, fungos, parasita) e ergonômicos (ritmo excessivo de

trabalho, monotonia, repetitividade, postura inadequada de trabalho). Esses riscos podem

ocasionar doenças ocupacionais e acidentes de trabalho (DUARTE; MAURO, 2010).

A ergonomia, através da NR 17, norma regulamentadora que rege a ergonomia do trabalho,

assegura os trabalhadores de não se sujeitarem a trabalhar sob condições inadequadas e

circunstancias desfavoráveis (BRASIL, 1978). Isto reduz danos e lesões ao trabalhador, que

deve ter sua função plenamente adaptada às suas condições.

Iida (2005) menciona que fatores ergonômicos tais como o excesso de calor, ruídos

exagerados, ventilação deficiente, luzes inadequadas, gases tóxicos, e até o uso de cores fortes

no ambiente de trabalho, podem gerar o aumento do estresse tornando mais vulneráveis à

doenças como dores musculares, problemas gastro-intestinais e doenças cardiovasculares.

Estes fatores fazem jus à importância do estudo ergonômico em um ambiente de trabalho

como o hospital. Nesse sentindo, tem-se a seguinte questão: Quais as principais atividades

com alto risco ergonômico em um hospital e como melhorar esse ambiente de trabalho?

No ano de 2010 houveram 17.177 casos registrados de acidentes do trabalho. Embora o Brasil

tenha baixado esse índice para 15.226 em 2015, a preocupação deve ser constante uma vez

que em 2013, uma média de 48 pessoas por dia foram afastadas do trabalho por motivos de

acidente ou doença ocupacional.

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Este trabalho tem como objetivo avaliar ergonomicamente as atividades exercidas no posto de

trabalho dos enfermeiros com o intuito de melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores.

2. Ergonomia

De acordo com a ABERGO (2000) ergonomia é “Uma disciplina científica relacionada ao

entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à

aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem-estar

humano e o desempenho global do sistema”.

A ergonomia física lida com o fator de resposta do corpo humano à carga física e psicológica

numa situação de trabalho e busca adequar as exigências do trabalho aos limites e capacidades

do corpo, através de projetos adequados para o relacionamento físico homem-máquina

(VIDAL, 1976).

Os profissionais da saúde como os médicos, enfermeiros e outras categorias prestadoras de

serviços essenciais são os grupos pioneiros em esquemas de trabalho por turno, uma vez que

as atividades em hospitais têm obrigação de prestar assistência ao indivíduo 24 horas por dia.

(MENDES; MARTINO, 2012).

Além dos aspectos físicos, existem também os fatores sociais que são agravantes para a fadiga

mental dos trabalhadores noturnos, tais como a diminuição de atividades em grupo familiar ou

de amigos. Kroemer e Grandjean (2007) evidenciam pesquisas em que o maior número de

reclamação por partes destes trabalhadores se dá pela redução do número de refeições em

família. Logo, os fatores sociais não devem ser excluídos na análise dos trabalhadores

plantonistas, que acabam trabalhando também nos turnos da noite.

2.1. Métodos de avaliação ergonômica

O trabalho do pesquisador não se restringe apenas a observar as falhas ergonômicas existentes

no posto de trabalho, ambiente e do próprio trabalhador. Uma avaliação deve ser feita usando

um ou mais métodos que servirão de ferramenta ergonômica. Entretanto, a escolha destes

métodos não é feita aleatoriamente, de acordo com cada situação apresentada no ambiente de

trabalho deve ser escolhido o método adequado. Iida (2005) ressalta que recursos, tempo e o

objetivo a que se propõe a pesquisa são variáveis a serem consideradas em cada pesquisa e

influenciável na escolha do método. Existem inúmeros métodos de avaliação, sendo alguns

citados no Quadro 1.

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Quadro 1 - Métodos ergonômicos

Fonte: Adaptado do Software Ergolândia, 2015

Dentre esses métodos, Pavani e Quelhas (2006) destaca que o método REBA possibilita uma

avaliação ergonômica geral, mas possui aplicabilidade mais adequada à área hospitalar, que

lida diretamente com a movimentação manual dos pacientes.

2.1.1. Método REBA - Rapid Entire Body Assessment

O método REBA foi desenvolvido para a avaliação de posturas imprevisíveis de trabalho.

Baseado no RULA, OWAS e NIOSH, foi desenvolvido por Sue Hignett e Lynn McAtmney

(HIGNETT e MCATSMNEY, 2000). Pavani e Quelhas (2006) ressaltam que o método

inicialmente foi desenvolvido para ser aplicado nas análises de posturas forçadas, adotadas

pelo pessoal da área médica e hospitalar como auxiliares de enfermagem, fisioterapeutas e

afins.

Primeiramente divide-se o corpo em dois grupos, A (tronco, pescoço e pernas) e B (braço,

antebraço e pulso). Para a definição dos códigos de segmentos corporais iniciais, simples

tarefas especificadas foram analisadas com variações da carga, altura e distância de

movimento. A variação de parte do corpo do Grupo A é apresentada na Figura 1.

Figura 1 – Diagrama do grupo A

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Fonte: Adaptado de McAtamney e Hignett, 2000

O Grupo A é composto pelo tronco, pescoço e pernas. Cada membro com ângulos pré-

definidos que representam valores na Tabela A. O Grupo B, por sua vez, é composto pelo

braço, antebraço e punhos. A figura 2 ilustra a variação de ângulos do grupo B.

Figura 2 – Diagrama do grupo B

Fonte: Adaptado de McAtamney e Hignett, 2000

O diagrama dos Grupos A e B são baseados nos diagramas de parte do corpo do método

RULA (MCATAMNEY; CORLETT, 1993). Os valores de cada posição das partes do corpo

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do Grupo A e B são encontrados na tabela A e B, respectivamente. Em seguida, são

incorporados os conceitos sensibilizadores de carga, de pega e pontuação de atividade para

produzir a pontuação final REBA (1-15), com acompanhamento de níveis de risco e de ação

(MCATAMNEY; HIGNETT, 1995). O grupo A possui 60 combinações de posturas para o

tronco, pescoço e pernas. Isso reduz a nove pontuações possíveis para adicionar à pontuação

de Carga (Tabela 1).

Tabela 1 - Tabela A e Carga.

Fonte: Adaptado de McAtamney e Hignett, 2000

A Tabela A funciona da seguinte forma: Os valores de cada membro do grupo A (pescoço de

1 a 3, pernas de 1 a 4 e tronco de 1 a 5) são cruzados entre si para chegar a um valor

determinado na tabela interna. O valor encontrado é somado ao valor de carga para que se

obtenha a pontuação . O cruzamento de dados se dá da seguinte forma: supondo que o

pescoço possua valor três, a perna possua valor dois e o tronco valor 5, o valor encontrado

será o 8, que adicionado ao fator de carga 2, a pontuação A final será 10.

O Grupo B tem um total de 36 combinações de posturas para braços, antebraços e pulsos,

reduzindo a nove pontuações possíveis para adicionar ao score de Pega (Tabela2).

Tabela 2 - Tabela B e Pega

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Fonte: Adaptado de McAtamney e Hignett, 2000

Na Tabela B ocorre o mesmo processo da Tabela A, porém com os valores do Grupo B, e

somando o valor encontrado à pontuação de pega (ao invés da carga) resultando na pontuação

B. A pontuação A e B são combinadas encontrando a pontuação C (Tabela 3) e somada à

pontuação de atividade. O resultado é, finalmente, a pontuação final REBA.

Tabela 3 - Tabela C e pontuação de atividade

Fonte: Adaptado de McAtamney e Hignett, 2000

O cálculo da pontuação do método REBA é ilustrado na Figura 3, que explica os passos de

cada valor a ser somado de acordo com as tabelas mostradas anteriormente.

Figura 3 - Cálculo REBA

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Fonte: Adaptado de McAtamney e Hignett, 2000

Encontrado o valor final (Score REBA), pode-se verificar em qual nível de ação (Quadro 2)

se encontra as posturas estudadas.

Quadro 2 - Nível de Risco

Fonte: Adaptado de McAtamney e Hignett, 2000

Assim como o OWAS, o REBA não considera aspectos como vibração e dispêndio energético

(SHIDA; BENTO, 2012).

O método deixa desejar ao que se refere a frequência das ações, as quais estão praticamente

ausentes da análise, assim como a organização do trabalho. Em contrapartida, uma de suas

grandes vantagens está na rapidez da análise (QUELHAS; PAVANI, 2006).

2.2. Atividades Do Enfermeiro

Em seu trabalho diário, o enfermeiro desenvolve ações fundamentais para a promoção e

recuperação da saúde, que envolvem coordenação, e avaliação do desenvolvimento do

trabalho em equipe e da assistência prestada ao paciente (NASCIMENTO, 2013). O trabalho

do enfermeiro no ambiente hospitalar é vasto e objetiva a melhora do paciente a quem se

prestam os cuidados. Existem atividades de grande preocupação no aspecto ergonômico do

profissional de enfermagem, citadas por Wehbe e Galvão (2001) tais como: preparar e

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ministrar medicamentos, efetuar curativos de maior complexidade, realizar o controle dos

sinais vitais, instalar soroterapia, sonda vesical e sonda nasogástrica, realizar a evolução e a

anotação dos pacientes em observação.

Estas atividades afetam diretamente a postura do enfermeiro, aumentando gradativamente a

possibilidade de LER/DORTs. É importante ressaltar também, que mesmo atividades que

permitem uma postura ereta, o excesso de tempo numa mesma posição pode também acarretar

riscos osteomusculares (FULLER;ROSSI, 2006).

3. Resultados e discussões

O desenvolvimento do presente trabalho se deu, primeiramente, através de pesquisas

bibliográficas, as quais se definem por um apanhado geral sobre os principais trabalhos já

realizados. Em sequência, foi realizado um estudo de caso a fim de executar uma análise

ergonômica na postura dos trabalhadores de enfermagem em um hospital. Foi realizado

entrevista e aplicação de questionário ergonômico. Ambos tiveram como objetivo levantar

informações sobre as posturas utilizadas e possíveis dores e/ou sintomas dos enfermeiros.

No hospital localizado na cidade de Santana do Mato-RN, dos seis enfermeiros, cinco seguem

turno de 24 horas (plantão), seguidos de 96 horas sem atividades no hospital. Apenas um

trabalha em turno de 12 horas, seguidos de 72 horas sem atividades no hospital. Embora os

enfermeiros possuam folga entre plantões é importante ressaltar que as 96 e 72 horas não são

exatamente de descanso, pois são preenchidas com atividades de outros empregos nas equipes

de PSF (Programa de Saúde da Família), postos de saúde e, em alguns casos, hospitais fora do

município. Durante a jornada de trabalho os enfermeiros dispõem de duas pausas, sendo uma

para o almoço e outra para o jantar. Ambas com intervalo de no máximo 15 minutos.

3.1. Perfil dos enfermeiros

Este perfil é traçado, a fim de se conhecer o tipo de população que se está lidando, a rotina

destes trabalhadores, para melhor entender e comparar este perfil com os resultados obtidos.

A população analisada é predominantemente feminina. São apenas 16,67% do sexo masculino

que representa apenas um enfermeiro na equipe, contra 83,33% das mulheres que ocupam o

cargo. Em relação aos turnos de trabalho os plantões de 24 horas são os mais presentes, com

83,33% dos votos.

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Aos 83% que alegaram sentir dores na execução de suas atividades, foi perguntado a opinião

deles sobre a possibilidade dessas dores serem causadas pelas atividades exercidas no

hospital. Apenas 20% dos trabalhadores não atribuem as dores somente ao trabalho.

A maioria dos enfermeiros (80%) afirma que as dores que possuem estão ligadas diretamente

ao trabalho e não as sentia antes de exercer a profissão. O restante alega sentir dores antes de

sua carreira, mas admite a possibilidade do trabalho estar agravando suas atuais condições.

Em resumo, a média do perfil dos enfermeiros é apresentada no Quadro 3.

Quadro 3 – Perfil dos Enfermeiros

Média

Idade 26 a 30 anos

Altura 1,50 a 1,60

IMC Peso Ideal

Turno Plantão de 24h

Tempo de Serviço Entre 4 e 6 anos

3.2. Análise ergonômica

Para que se tivesse êxito na análise ergonômica, foi necessário adquirir conhecimento não

apenas da existência do problema, mas principalmente da sua causa. Foi aplicado um

questionário e realizada entrevista com os enfermeiros a fim de identificar as atividades de

maiores queixas de dores e o local onde esses profissionais sentem mais dores, os resultados

serviram como base para comparação com os resultados encontrados na aplicação do método

de avaliação ergonômica.

As atividades citadas como mais desconfortáveis foram as de troca de curativo, aferição de

sinais vitais e a ambulação. As atividades repetitivas, por sua vez, foram a ambulação, a

escrita, aferição de sinais vitais e a administração de medicamentos. Alguns entrevistados

alegaram que apesar de ser uma atividade repetitiva, a administração de medicamentos não se

torna necessariamente desconfortável.

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As dores mais presentes entre os enfermeiros são as costas (parte inferior), os pés e a cabeça,

ambos com 50%. Assim como a frequência, a intensidade das dores foi analisada a fim de

relacioná-las ao desempenho dos enfermeiros.

Os itens mais preocupantes desta análise são a porcentagem da intensidade moderada nas

costas, panturrilhas e a intensidade alta dos pés/tornozelos. Embora a dor de cabeça apresente

uma porcentagem de 66,68%, ela possui atenuante pelo fato de estar enquadrada na

intensidade baixa.

A irritabilidade apresenta 66% das queixas e se encontra num nível baixo de frequência,

diferente da fadiga, que com 16% a menos, apresenta um nível constante. A fadiga e a

irritabilidade apresentaram o maior índice de incômodo, sendo a fadiga um fator mais

preocupante estando no nível “Alto”.

Com base nas queixas apresentadas em relação a dores e sintomas foi possível definir o

método a ser aplicado, o método REBA. Pavani e Quelhas (2006) destaca que o método

REBA possibilita uma avaliação ergonômica geral, mas possui aplicabilidade mais adequada

à área hospitalar, que lida diretamente com a movimentação manual dos pacientes.

3.3. Aplicação do método REBA

Com auxílio do software Ergolândia ® 5.0, foi aplicado o método REBA nas atividades

consideradas mais repetitivas e incômodas, segundo a análise ergonômica realizada no item

3.2, com o intuito de identificar e avaliar essas posturas para então serem propostas melhorias

no ambiente de trabalho em estudo. As três atividades consideradas mais repetitivas e

incômodas foram: Troca de curativo, aferição de pressão e banho no leito.

3.3.1. Troca de Curativo

A troca de curativo num membro inferior, apesar de ser relativamente simples, é uma

atividade que necessita de atenção e firmeza nas mãos. A Figura 4 ilustra a posição da

atividade de troca de curativo juntamente com o a tabela que contém os valores REBA da

posição.

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Figura 4 - Troca de Curativo

3.3.2. Aferição de Pressão

A aferição de pressão é uma atividade extremamente corriqueira entre os enfermeiros, uma

vez que faz parte da triagem. A atividade consiste em verificar a pressão do paciente. Dados

das entrevistas constatam que os internos têm sua pressão verificada a cada seis horas,

pacientes com crise hipertensivas tem a pressão aferia duas a três vezes por dia. A postura

dessa atividade, juntamente valores REBA é ilustrada na Figura 5.

Figura 5 - Aferição de Pressão

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3.3.3. Banho no leito – parte I

Os pacientes internos do hospital, dependendo do estado em que estejam não têm

condições de tomar banho sozinhos. Neste caso, as enfermeiras fazem este trabalho

denominado “Banho no Leito”. Essa atividade tem duas partes: a primeira consiste em banhar

a parte frontal do paciente. A Figura 6 ilustra a atividade de banho no leito juntamente com

valores REBA.

Figura 6 – Banho no leito I

3.3.4. Banho no leito – parte II

Nesta segunda etapa do banho no leito a enfermeira precisa puxar o corpo do paciente em sua

direção para banhar a parte de trás (Figura 7), exigindo força física, uma vez que um adulto

pesa em média entre 50 a 80 quilos, excetuando casos de desnutrição ou obesidade.

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Figura 7 - Banho no Leito II

Figura 7 - Banho no Leito II

3.4. Propostas de melhorias

Das posturas e atividades analisadas, pode-se dizer que a maior causa de queixas é por falta de

projeto dos equipamentos para os enfermeiros. Macas, assentos e leitos são projetados

exclusivamente para atender o conforto dos pacientes, numa altura que não precise de esforço

para deitar ou levantar.

A norma regulamentadora 32 não possui um capítulo específico que trate dos riscos

ergonômicos. Todavia, ainda pode-se encontrar itens de ação preventiva relacionados. São

eles:

32.9.4 Os equipamentos e meios mecânicos utilizados para transporte devem ser

submetidos periodicamente a manutenção, de forma a conservar os sistemas de

rodízio em perfeito estado de funcionamento.

32.9.5 Os dispositivos de ajuste dos leitos devem ser submetidos a manutenção

preventiva, assegurando a lubrificação permanente, de forma a garantir sua operação

sem sobrecarga para os trabalhadores.

32.10.10 Nos procedimentos de movimentação e transporte de pacientes deve ser

privilegiado o uso de dispositivos que minimizem o esforço realizado pelos

trabalhadores (BRASIL, 2005).

Neste caso, a proposta de melhoria para a posição de troca de curativo é que as macas e

cadeiras antigas sejam trocadas por macas que possam ser reguladas à altura do enfermeiro

evitando o esforço da coluna e braços.

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A atividade de aferição de pressão não possui, até então, outra maneira de ser executada. É

aconselhável, portanto, que sejam feitos alongamentos nas mãos e braços antes de iniciar a

jornada de trabalho e durante as pausas, com ginástica laboral, alongando os músculos dos

membros que serão usados ao longo do turno.

Para o banho no leito, indica-se o auxílio de outro enfermeiro. Uma vez que a atividade seria

executada com mais de um enfermeiro, a força aplicada para levantar o paciente seria

distribuída, amenizando esforço da coluna de ambos.

Com o tipo de atividades exercidas pelo enfermeiro, é difícil conseguir diminuir

drasticamente o nível de estresse e fadiga. Conversar e repousar durante pausas pode aliviar a

tensão causada pelo fluxo exaustivo do hospital. Grandean e Kroemer (2005) reiteram a

importância das pausas não somente para a alimentação, mas também para a relação social

dos trabalhadores a fim de diminuir os sintomas da fadiga. A sugestão é, então, de que se

aumente o número de pausas para os enfermeiros.

Exames de rotina são recomendados para o acompanhamento dos possíveis agravamentos das

dores mencionadas.

4. Considerações finais

Este trabalho teve por objetivo avaliar ergonomicamente o posto de trabalho dos enfermeiros

de um hospital localizado em Santana do Matos. Através do questionário e entrevistas, foi

possível identificar as principais queixas, que são as dores nas costas, nos pés e fadiga.

Com a aplicação do método REBA foi possível relacionar as dores nas costas com a má

postura na realização das atividades da troca de curativo, aferição de pressão e banho no leito.

As dores nos pés são causadas pela atividade de ambulatório, que consiste em verificar o

bem-estar dos pacientes, fazendo com que o enfermeiro passe muito tempo em pé.

A causa da fadiga, por sua vez, se deve ao excesso de carga de trabalho. Plantões de 24 horas

exigem mais esforço, e uma vez que o corpo repousa melhor durante a noite, os trabalhadores

noturnos acabam tendo o sono prejudicado. Outro fator agravante da fadiga são as viagens

feita por alguns dos enfermeiros que não moram no município de Santana do Matos. Estes

acordam ainda mais cedo e começam a jornada de trabalho já com uma carga de estresse de

uma viagem, muitas vezes desconfortável.

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Conclui-se que as posturas analisadas se enquadram num nível de risco onde se faz necessário

medidas corretivas, em especial o banho no leito, que necessita de medidas corretivas

urgentes. Todas essas posturas forçam, principalmente, a coluna, a lombar e as articulações do

punho. É importante que sejam consideradas as melhorias e ações corretivas e aplicadas na

execução das atividades mencionadas para diminuir cada vez mais o índice de LER/DORT

por parte dos enfermeiros.

REFERÊNCIAS

BRASIL.MINISTÉRIO DO TRABALHO, Norma regulamentadora nº 17 – Ergonomia. Aprovada pela portaria

3.214 de 08 de junho de 1978.

BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO E PREVIDÊNCIA SOCIAL, Boletim Acidentes de trabalho no

Brasil em 2013: comparação entre dados selecionados da Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE (PNS) e do

Anuário Estatístico da Previdência Social (AEPS) do Ministério da Previdência Social. Disponível em

<http://www.fundacentro.gov.br/arquivos/projetos/estatistica/boletins/boletimfundacentro1vfinal.pdf> acesso em

30 de abril de 2016

DUARTE, N. S.; MAURO, M. Y. C. Análise dos fatores de riscos ocupacionais do trabalho de enfermagem sob

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