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ANÁLISE DO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA INDUSTRIAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO SOB UMA PERSPECTIVA ESTRATÉGICA Gabriel Rodrigues Azevedo e Silva Paulo Estêvão Medrado Accioly Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro de Produção. Orientador: Prof. Vinícius Carvalho Cardoso, D.Sc. Rio de Janeiro Fevereiro de 2017

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ANÁLISE DO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA

INDUSTRIAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE

JANEIRO SOB UMA PERSPECTIVA ESTRATÉGICA

Gabriel Rodrigues Azevedo e Silva

Paulo Estêvão Medrado Accioly

Projeto de Graduação apresentado ao

Curso de Engenharia de Produção da

Escola Politécnica, Universidade Federal

do Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título

de Engenheiro de Produção.

Orientador: Prof. Vinícius Carvalho Cardoso, D.Sc.

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2017

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ANÁLISE DO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA

INDUSTRIAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE

JANEIRO SOB UMA PERSPECTIVA ESTRATÉGICA

Gabriel Rodrigues Azevedo e Silva

Paulo Estêvão Medrado Accioly

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO

DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO.

Examinado por:

________________________________________________

Prof. Vinícius Carvalho Cardoso, D.Sc.

________________________________________________

Profª. Maria Alice Ferruccio, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Adriano Proença, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

FEVEREIRO DE 2017

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Silva, Gabriel Rodrigues Azevedo e

Accioly, Paulo Estêvão Medrado

Análise do Departamento de Engenharia Industrial da

Universidade Federal do Rio de Janeiro sob uma

perspectiva estratégica / Gabriel Rodrigues Azevedo e Silva

e Paulo Estêvão Medrado Accioly – Rio de Janeiro: UFRJ/

Escola Politécnica, 2017.

VIII, 70 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Vinícius Carvalho Cardoso

Projeto de Graduação – UFRJ/ POLI/ Curso de

Engenharia de Produção, 2017.

Referências Bibliográficas: p. 60-64.

1. Estratégia Operacional. 2. Planejamento Estratégico

3. Ensino Superior.

I. Cardoso, Vinícius Carvalho. II. Universidade Federal

do Rio de Janeiro, UFRJ, Curso de Engenharia de Produção.

III. Análise do Departamento de Engenharia Industrial da

Universidade Federal do Rio de Janeiro sob uma perspectiva

estratégica.

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iv

Agradecimentos

Primeiramente, gostaríamos de agradecer a todos os professores que

participaram da nossa formação, pela contribuição para o nosso crescimento e

desenvolvimento ao longo do curso. Agradecemos em especial ao nosso orientador,

prof. Vinícius Cardoso, que nos guiou de maneira singular, sempre disponível para

conversar e muito solícito em nossas reuniões. Foi peça fundamental na realização

deste projeto.

Além desses, uma lembrança aos nossos colegas de curso, responsáveis por

nos inspirar diariamente, nos proporcionando momentos únicos durante esta jornada. O

curso não teria sido o mesmo sem a presença destes.

Eu, Gabriel, gostaria de agradecer imensamente aos meus pais, Alan e Leila, e

as minhas irmãs Elaine e Talita, pelo suporte, cuidado, compreensão e amor

incondicional. Sempre presentes em todos os momentos da minha vida, me deram apoio

para buscar os meus sonhos, e essa conquista é só mais um passo nessa caminhada.

Agradeço, ainda, a toda minha família e amigos que tiveram presentes em

momentos bons e ruins, sempre me ajudando a ver o melhor lado da vida e me dando

forças para seguir em frente.

Eu, Paulo, gostaria de agradecer a Deus, sustentador dos céus e da Terra, que

tem me guiado e me abençoado abundantemente. Não há como não reconhecer seu

cuidado com a minha vida, sensivelmente presente até nos momentos mais difíceis.

Além disso, agradeço em especial a toda minha família, com destaques para meus pais,

Estêvão e Jane, e minha querida irmã Débora.

Aos amigos, fica minha gratidão pelo cuidado e carinho durante esse tempo. A

vida fica muito mais leve e simples ao lado de pessoas tão especiais. Dentre estes, uma

mensagem especial àquela que tem sido minha parceira nos últimos cinco anos, muito

obrigado Lívia!

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.

ANÁLISE DO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA INDUSTRIAL DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO SOB UMA PERSPECTIVA

ESTRATÉGICA

Gabriel Rodrigues Azevedo e Silva

Paulo Estêvão Medrado Accioly

Fevereiro/2017

Orientador: Vinícius Carvalho Cardoso

Curso: Engenharia de Produção

O presente estudo visa identificar possíveis oportunidades de melhorias no

desempenho do Departamento de Engenharia Industrial da Universidade Federal do Rio

de Janeiro. Após o trabalho de identificação da estratégia, em suas diferentes

perspectivas, os autores buscam compreender os desafios impostos no processo de

formação dos alunos, utilizando ferramentas para modelagem de sistema e identificação

de problemas fundamentais. Ainda, o trabalho se encerra com uma proposta de

metodologia para um planejamento estratégico realizado coletivamente, envolvendo os

principais atores do departamento. Sendo assim, o intuito final é contribuir para a

instituição utilizando o aprendizado adquirido ao longo do curso de Engenharia de

Produção, através da elaboração de modelos que auxiliam na visualização do sistema

como um todo, aproveitando os pontos de alavancagem para trilhar o caminho traçado

em sua estratégia.

Palavras-chave: Planejamento Estratégico, Estratégia Operacional, Ensino Superior

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Industrial Engineer.

ANALYSIS OF THE INDUSTRIAL DEPARTMENT AT FEDERAL UNIVERSITY

OF RIO DE JANEIRO FROM A STRATEGIC PERSPECTIVE

Gabriel Rodrigues Azevedo e Silva

Paulo Estêvão Medrado Accioly

February/2017

Advisor: Vinícius Carvalho Cardoso

Course: Industrial Engineering

This study focuses on determining improvement gaps in the Industrial Engineering

Department at the Federal University of Rio de Janeiro. After identifying the strategy, in

terms of how the leaders elaborated it in contrast with the perception of the students, the

authors use mental modeling tools to enable an overview of the system as a whole, in

order to determine the challenges encountered during the process of forming new

industrial engineers. The project’s final deliverable is an ideal strategic planning process

method, specially thought for this particular institution. The main goal is to reciprocate

the investment made during graduation of the authors, by using the mindset built

throughout the modules of the course and the tools learnt along the way, so the leverage

points can be used to improve the department’s performance.

Keywords: Strategic Planning, Operational Strategy, Higher Education

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Sumário

1 Introdução ................................................................................................... 1

1.1 Tema ..................................................................................................... 1

1.2 Objetivo ................................................................................................. 1

1.3 Unidade de Análise ............................................................................... 1

1.4 Limitações ............................................................................................. 1

1.5 Método .................................................................................................. 2

2 Revisão Bibliográfica ................................................................................... 3

2.1 Estratégia Operacional .......................................................................... 3

2.2 Planejamento Estratégico ..................................................................... 7

3 Contextualização da Unidade de Análise .................................................... 9

3.1 Contexto Nacional ................................................................................. 9

3.2 Contexto Local .................................................................................... 15

3.3 Resumo da Situação e Expectativas ................................................... 16

4 Departamento de Engenharia Industrial da UFRJ ..................................... 17

4.1 Informações Gerais ............................................................................. 17

4.1.1 Breve Histórico ............................................................................. 17

4.1.2 Estrutura ....................................................................................... 18

4.2 Operações ........................................................................................... 18

4.2.1 Cursos oferecidos ......................................................................... 18

4.2.2 Principais Atividades ..................................................................... 20

5 Identificação da Estratégia ........................................................................ 22

5.1 Estratégia Pretendida .......................................................................... 22

5.2 Estratégia Percebida ........................................................................... 24

5.3 Estratégia Realizada ........................................................................... 27

5.3.1 Avaliação Governamental dos Cursos .......................................... 27

5.3.2 Avaliação dos cursos por Instituições Particulares ....................... 28

5.3.3 Análise dos Resultados ................................................................ 30

6 Análise de Benchmark .............................................................................. 31

6.1 “Concorrência” .................................................................................... 31

6.1.1 USP .............................................................................................. 31

6.1.2 UNICAMP ..................................................................................... 32

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6.2 Escolas Internacionais ........................................................................ 33

6.2.1 Massachusetts Institute of Technology (MIT) ............................... 34

6.2.2 Stanford Universisty ...................................................................... 35

6.2.3 University of Cambridge ............................................................... 35

7 Diagnóstico ............................................................................................... 37

7.1 Diagrama de Enlace Causal ................................................................ 37

7.2 Árvore da Situação Atual ..................................................................... 43

7.3 Visão dos alunos ................................................................................. 46

7.4 Análise do Diagnóstico ........................................................................ 48

8 Proposta de Plano de Ação ....................................................................... 50

8.1 Modelos de Planejamento Estratégico ................................................ 50

8.2 Proposta de Implantação .................................................................... 53

9 Conclusão ................................................................................................. 58

10 Referências Bibliográficas ...................................................................... 60

11 Apêndices ............................................................................................... 65

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1 Introdução

1.1 Tema

Análise do Departamento de Engenharia Industrial da Universidade Federal do

Rio de Janeiro sob uma perspectiva estratégica.

1.2 Objetivo

O objetivo do projeto é estudar o cenário em que a unidade de análise está

inserida de forma ampla, observando o contexto social e econômico do Brasil e do Rio

de Janeiro, analisando a concorrência e propondo melhorias para o desempenho do

Departamento, pautadas em profundas análises da estratégia e da operação do mesmo.

O intuito é oferecer aos gestores do departamento um estudo que possibilite a busca

por melhorias no processo de formação de alunos.

1.3 Unidade de Análise

Departamento de Engenharia Industrial (DEI) da Universidade Federal do Rio de

Janeiro (UFRJ).

1.4 Limitações

O projeto é focado em entender o processo de formação de aluno como um todo,

identificando de maneira geral as variáveis que podem ser alteradas de forma a

melhorar a performance do departamento. Não serão feitos estudos de Ergonomia ou

Planejamento de Layout das instalações do Departamento de Engenharia Industrial. A

proposta é fornecer uma visão geral para tratar os pontos identificados como cruciais

em projetos separados.

Para a análise do diagnóstico, não serão utilizadas as ferramentas clássicas de

construção de cenário de estratégia, como a matriz SWOT ou as Cinco Forças de Porter

(1979). Serão aplicadas ferramentas mais recentes, que os autores julgaram serem

mais coerentes.

Vale pontuar, ainda, que apenas o Departamento de Engenharia Industrial será

analisado. Nenhum outro departamento da Escola Politécnica da UFRJ será alvo do

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estudo e nem a própria UFRJ em si. Ademais, não haverá qualquer tipo de proposta

que vá indicar uma mudança na relação entre o Departamento e a Universidade.

Recomendações para estudos complementares a este estarão na Conclusão.

1.5 Método

Os argumentos e insights presentes neste documento foram baseados em

informações coletadas em sites, revistas, livros, artigos e jornais, além de entrevistas

com o Chefe do Departamento e também Orientador desse trabalho. Em adição, foi

elaborado um questionário e enviado para os alunos da Engenharia de Produção de

forma a coletar a percepção e opinião deles em diversos pontos fundamentais para a

elaboração desse relatório. A análise do desempenho do DEI será abordada através da

perspectiva da performance do curso de Engenharia de Produção, já que este é o

principal beneficiado pelos serviços prestados pelo departamento.

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2 Revisão Bibliográfica

A abordagem utilizada nesta etapa foi diferente do comumente observado e

majoritariamente recomendado. Via de regra a busca pelo conteúdo disponível é a

primeira etapa deste tipo de documento. No entanto, devida a grande importância do

capítulo de proposta de plano de ação, apenas parte do conteúdo que segue foi

pesquisado previamente, dado que a proposição final dependeria da etapa de

diagnóstico. O tratamento na segunda parte foi, portanto, reativo, ou seja, à medida que

a demanda por um embasamento teórico mais aprofundado surgia, as pesquisas eram

realizadas.

Seguindo esse método, dois temas precisaram de maior levantamento de

informação acerca da discussão na literatura: Estratégia Operacional e Planejamento

Estratégico. O primeiro devido ao trabalho de identificação da estratégia do DEI, visando

uma verificação do alinhamento com a percepção dos alunos e à realidade do contexto

no qual o departamento está inserido. Já a demanda por um aprofundamento nos

modelos de Planejamento Estratégico surgiu após a elaboração do diagnóstico no

capítulo 7, quando foi indicado que a promoção de ações coletivas dos stakeholders

para que haja um planejamento estratégico seria fundamental para a evolução da

operação do DEI.

2.1 Estratégia Operacional

O tema proposto neste trabalho, como colocado no capítulo um, foi o de realizar

uma análise do Departamento de Engenharia Industrial da UFRJ sob uma perspectiva

estratégica. Para isso, no entanto, é crucial um embasamento teórico que permita um

estudo consistente para o caso. Sendo assim, serão apresentados os conceitos e

estudos mais recentes e consolidados de estratégia, além de um resumo da história do

termo. Busca-se, com essas duas abordagens, desenvolver uma compreensão mais

informada da evolução do seu significado até os dias presentes.

De acordo com registros históricos, a palavra “estratégia” é derivada do grego

“strategos”, que significava, em tempos passados, o magistrado-chefe ou o comande-

chefe militar, conforme colocou Carl von Clausewitz (1976), citado por Pankaj

Ghemawat (2012, p.2). Por essa e algumas outras razões, que serão expostas ainda

neste tópico, o termo possuí forte ligação com o militarismo.

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O uso da terminologia para os negócios, no entanto, teve seu início na Segunda

Revolução Industrial, ocorrida no século XIX. Pesquisadores acreditam que essa

demora no desenvolvimento do conceito tenha raiz na forte influência dos conceitos

econômicos da época, baseados em sua maioria na teoria da Mão Invisível de Adam

Smith. A situação teve inflexão quando emergiram grandes empresas que passaram a

modificar o ambiente competitivo através de um pensamento explicitamente estratégico.

Esse fenômeno foi denominado pelo historiador Alfred D. Chandler Jr. (1962) como a

Mão Invisível dos Gestores Profissionais.

Apesar dessa evolução, o pensamento estratégico continuava fortemente

vinculado aos acontecimentos militares, com destaque para a Segunda Guerra Mundial,

quando o desafio de alocação de recursos ficou evidente. Nessa época, vigorava

intensamente o conceito de curva de aprendizagem, observado originalmente algumas

décadas antes, na indústria de aviação militar. Além dessas transformações, observou-

se também o uso desse tipo de reflexão de maneira mais formal nas empresas. Peter

Drucker (1954, p.11), em uma avaliação sobre esse período, afirmou que “o

gerenciamento não é apenas comportamento passivo e adaptado; significa adotar

medidas que façam acontecer resultados esperados”.

Esse raciocínio de moldar o ambiente através de planejamento e implementação

de ações tornou-se chave para a estratégia corporativa. A partir desse momento, são

observadas consecutivas propagações de teorias e ferramentas responsáveis por

ajudar os gestores nessa difícil missão de exercer de forma consciente, através de

planos bem elaborados, algum tipo de controle e/ou intervenção nas forças do mercado.

Destes pensamentos, alguns dos principais foram a competência distintiva, matriz

SWOT, curva de experiência, planejamento de portfólio e unidades estratégicas de

negócio (UENs).

Apesar da fama de muitas dessas ferramentas, algumas utilizadas até hoje,

muitas vezes o que se observou foram promessas vagas. Como era de se esperar,

enquanto passava o tempo e mais insucessos eram acumulados, contestações surgiam

e ganhavam força. Como colocou Fred Gluck (1979), citado por Pankaj Ghemawat

(2012, p.13), um dos líderes de gerenciamento estratégico da famosa consultoria

McKinsey, “a forte dependência de técnicas ‘pré-formatadas’ tem frequentemente

resultado em nada mais do que um ajuste, ou refinamento, de iniciativas atuais em

negócios tradicionalmente configurados”. O falho processo parece se repetir até hoje:

um insight, um caso de sucesso, propagação da ferramenta e/ou teoria e maioria de

insucessos na replicação.

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A razão para isso, de acordo com Richard P. Rumelt (2011, p.55), um dos mais

influentes pensadores sobre estratégia e administração de empresas, está no fato de

que a estratégia ruim é, muitas vezes, baseadas em ferramentas e/ou teorias

inapropriadas, “prolifera porque flutua acima da análise, da lógica e da escolha, mantida

pela esperança de que se possa evitar lidar com estes fundamentos complicados e com

as dificuldades em dominá-los”. Ou seja, trata-se de uma fuga do árduo trabalho que é

planejar uma estratégia verdadeiramente boa.

Em seu livro “Estratégia boa, Estratégia ruim”, Rumelt (2011, p.1) destaca que a

boa estratégia comumente apresenta-se de forma simples e óbvia, não na forma de uma

ferramenta de completar espaços em brancos. Trata-se de identificar as questões

centras da situação e, então, de forma previamente planejada, concentrar os esforços

nelas de forma a “multiplicar a eficácia do esforço”. Este processo de identificar e

desenvolver uma abordagem formam, de acordo com o autor, a “responsabilidade mais

importante de um líder”.

Desta forma, a estratégia não pode ser confundida com sucesso, ambição,

determinação, liderança inspiradora ou inovação. Estes conceitos podem aparecer

como causa, ferramenta ou consequência, mas nunca como estratégia em si. Em uma

das definições mais simples que podemos encontrar na bibliografia disponível, Richard

Rumelt (2011) afirma que estratégia é, portanto, “uma resposta coesa a um desafio

importante”, sendo composta de “um conjunto coerente de análises, conceitos, políticas,

argumentos e ações que respondam a grandes desafios”.

Para o autor e também consultor, para ser considerada boa, uma estratégia deve

possuir uma “estrutura lógica fundamental”, chamada por ele de “cerne”. O cerne é

composto de três elementos: diagnóstico, políticas guias e ações coerentes. Desses, o

primeiro é responsável pela definição e/ou explicação do obstáculo a ser superado, já o

segundo trata da especificação da abordagem a ser usada para superar os desafios

(“direção a seguir”), enquanto o terceiro refere-se a decisões coordenadas, uso de

recursos e ações programadas para cumprir o caminho estabelecido.

Realizar um planejamento estratégico envolve, portanto, escolhas. Toda

estratégia precisa de um foco, uma questão essencial, baseada no diagnóstico

estabelecido. Importante ressaltar que não existe necessariamente um padrão de

sucesso para cada situação. Pelo contrário, os diferentes pontos de vista possíveis

podem levar a uma gama de abordagens amplas, mas cada uma com um único caminho

que envolve naturalmente o custo de oportunidade de não adotar outra opção.

Além desse foco, outro elemento essencial para um plano estratégico é o ajuste.

Esse trata da coerência entre os elementos do cerne da estratégia. Se o diagnóstico

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proporciona caminhos diferentes a seguir, ao tomar uma decisão sobre para onde ir é

preciso gerar diretrizes e ações coerentes. Sem essa compatibilidade é provável que os

resultados esperados nunca sejam atingidos. Coordenação é, por isso, um fator chave

para a estratégia.

Essa combinação entre plano e ação coerentes são fruto de uma visão de

estratégia como padrão. De acordo com Henry Mintzberg (1987, p.14), a estratégia

como um plano, ainda que contenha políticas e diretrizes claras, pode ser insuficiente.

Isso porque a estratégia de uma empresa não advém de livros ou apresentações, mas

do padrão do fluxo de ações, da consistência comportamental, sendo essa intencional

ou não. Essa percepção traz à tona o conceito de estratégia realizada, que pode diferir

da estratégia pretendida (pensada e planejada). De acordo com Mintzberg, a relação

entre os conceitos pode ser representada pelo diagrama disposto na Figura 1:

Figura 1: O comportamento da Estratégia. Fonte: Mintzberg, 1987

Ao realizar o diagnóstico e estabelecer políticas e diretrizes, o agente está

construindo uma estratégia pretendida. Essa, com já tratado anteriormente, leva a uma

escolha que será repassada a comunidade, representada pela estratégia deliberada. Ao

decidir por uma opção e não outra, tem-se uma estratégia não realizada. Além disso,

estabelecer políticas e as comunicar aos envolvidos não necessariamente leva a ações

pretendidas ou esperadas. Dessa forma, é possível que novos padrões surjam,

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compondo a estratégia emergente. Essa, em conjunto com as ações estabelecidas e de

fato praticadas pelos tomadores de decisões, como o comprometimento de recursos, é

o que por fim resulta na estratégia realizada.

2.2 Planejamento Estratégico

Conforme mencionado anteriormente, a estratégia teve sua origem no

militarismo. Pelo fato da área tratar, em geral, de situações semelhantes, observou-se

a criação de um padrão para as estratégias militares. Esta recorrência consistia em

determinar objetivos, coletar informações, entendê-las e tomar decisões embasadas

que os levassem a conquistar aquilo que fora proposto. Para conseguir cumprir com

essas etapas com sucesso, no entanto, gastava-se muito tempo estudando o passado

e observando de perto o inimigo, de forma a tentar prever possíveis reações a

abordagens futuras. Esta era uma tarefa arriscada, mas que se provou eficaz em muitos

exemplos registrados na história.

Por isso, é natural que a ideia de estratégia tenha entrado no mundo dos

negócios baseada no mesmo padrão. E apesar de serem áreas distintas, essa

abordagem também teve amplo êxito durante décadas. No entanto, com o crescimento

da tecnologia e o fenômeno da globalização, o mundo começou a mudar, e mudar

rápido. Dessa forma, prever o futuro com base no passado se tornou uma tarefa

indigesta e muitas vezes sem sentido, levando a tradicional aplicação do planejamento

estratégico aos consecutivos insucessos. De acordo com o Monitor Institute, braço da

consultoria global Deloitte Consulting focado em empreendimentos sociais dedicados a

resolver problemas públicos, a abordagem clássica e estática de estratégia está morta,

ou em outras palavras, fadada ao fracasso.

De acordo com a diretora operacional do instituto, Dana O’Donovan (2013),

enquanto alguns líderes acreditam que deva ser dedicado mais tempo as análises das

informações e outros negam o valor da estratégia, a companhia acredita que a

estratégia de hoje deve quebrar com os paradigmas estabelecidos, formando

estratégias adaptativas e diretivas, com ênfase na aprendizagem e no controle. Para

isso, durante seus trabalhos juntos aos clientes, eles fazem um mapa da situação que

se dispõe à empresa e criam um conjunto de ferramentas de navegação, mostrando

que existem diferentes formas de chegar ao destino final, podendo esse, inclusive, sofrer

alterações durante o processo de aprendizagem. Essa nova forma de realizar

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planejamento estratégico pode ser diferenciada da anterior em três pontos chaves,

conforme mostra a Figura 2:

Figura 2: Etapas de um Planejamento Estratégico. Fonte: Monitor Institute

Apesar dessa inovadora abordagem parecer um pouco radical em alguns

aspectos, o assunto abordado no capítulo quinze do livro “Estratégia boa, Estratégia

ruim”, “a ciência da estratégia”, vai ao encontro dessa teoria em muitos aspectos. De

acordo com Richard Rumelt (2011), “a boa estratégia é construída sobre o

conhecimento prático acerca do que funciona, do que não funciona e por quê”. Esse

conjunto de conhecimento advindo da prática tem origem em um processo conhecido

como Empirismo Científico. O autor compara a estratégia com a ciência ao afirmar que

conceber uma nova abordagem para uma empresa é semelhante a uma hipótese, sendo

a sua implementação o próprio experimento. Dessa forma, os resultados devem

proporcionar aprendizados valiosos sobre o que funciona ou não, servindo de base para

ajustes na estratégia.

Além disso, o professor coloca ainda que “em um mundo em fluxo e em

mudança, “mais do mesmo raramente é a resposta correta”. Sendo assim, para a

construção de uma boa estratégia, torna-se essencial ter um componente

empreendedor, deixando de lado a segurança e o conforto da aplicação de ferramentas

simples e concentrando em aspectos como indução, analogia, julgamento e insight.

Esse trabalho de formulação é, consequentemente, empírico e pragmático.

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3 Contextualização da Unidade de Análise

O presente capítulo tem como objetivo esclarecer, ao menos de forma geral, o

contexto no qual se encontra a unidade de análise. Seria no mínimo imprudente fazer

uma análise de estratégia sem entender a realidade que cerca a instituição, tanto em

um cenário nacional, quanto local. Serão apresentados, nos próximos tópicos, questões

que afetam o DEI tanto na visão de instituição, como os aspectos financeiros e políticos,

quanto em uma visão mais humana, como elementos que formam a qualidade de vida

dos servidores, discentes e docentes envolvidos.

Cabe destacar aqui que, por não ser o foco do trabalho, não serão esgotadas

todas as análises possíveis para esses tipos de contextualização. Principalmente

porque trata-se de um assunto complexo, o que mereceria um documento inteiramente

dedicado a isso para um entendimento completo da situação.

3.1 Contexto Nacional

Como mencionado no título deste trabalho, o objeto a ser analisado, o DEI,

pertence a uma instituição federal (UFRJ). Ou seja, depende diretamente do Governo

Federal, tanto no âmbito financeiro quanto no político. Dessa forma, durante este tópico,

serão analisados alguns indicadores econômicos do país, e como estes afetam a

universidade, e também as políticas estabelecidas pelo governo referentes à educação,

principalmente às direcionadas ao ensino superior.

É do conhecimento de todos que, infelizmente, a situação econômica do país

não é das melhores já tem algum tempo. Especialistas apontam como principais causas

as políticas públicas estabelecidas, ou perpetuadas, durante o governo Dilma Rousseff,

iniciado em 2011 e com fim em meados de 2016, quando foi afastada definitivamente

do cargo. Entre as medidas mais criticadas estão a desoneração (corte de impostos) de

algumas áreas, a insistência nos juros baixos, a constante busca pela valorização do

real, a interferência em alguns setores do mercado (como o de energia) e o aumento

dos gastos públicos.

Sendo essas, ou não, as reais causas para a crise instalada, a verdade é que a

economia brasileira sofreu rápida deterioração nos últimos anos. Dentre alguns valores

que retratam a situação, temos a queda do PIB pelo segundo ano consecutivo, fato

nunca antes observado desde o início da série histórica oficial do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), em 1948.

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Figura 3: Variação do PIB brasileiro. Fonte: IBGE – consulta em 01/02/2017

Outra análise que nos traz uma foto da difícil situação é com relação as contas

públicas brasileiras. Conforme informado no Relatório Anual do Tesouro Nacional de

2015, publicado em maio de 2016, após consecutivos superávits primários para o Setor

Público e o Governo Central, houve um processo de deterioração do resultado,

consequência da estabilização do nível da receita e uma concomitante aceleração no

crescimento das despesas, em especial, as obrigatórias.

Figura 4: Resultado Primário. Fonte: IBGE – consulta dia 01/02/2017

6,1%5,1%

-0,1%

7,5%

3,9%

1,9%3,0%

0,1%

-3,8% -3,5%

-6,0%

-4,0%

-2,0%

0,0%

2,0%

4,0%

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2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

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Outro indicador econômico bastante relevante que demonstra o momento

brasileiro é o Índice de Preço do Consumidor Amplo (IPCA). Após doze anos de IPCA

abaixo dos dois dígitos (desde 2003), o índice voltou a acelerar em 2015, superando

mais uma vez a marca de 10%, corroendo assim o poder de compra da população.

Figura 5: Inflação. Fonte: IBGE – consulta dia 01/02/2017

Um último dado estatístico que reflete o desaquecimento do mercado é a taxa

de desocupação, popularmente conhecida como desemprego. A velocidade com que

avançou no último ano é o que mais assusta. O país levou dez anos para conseguir

reduzir o índice pela metade (de 10% para 5%), mas precisou de apenas dois anos para

ver todo esse trabalho ruir.

Figura 6: Taxa de Desemprego. Fonte: IBGE – consulta dia 01/02/2017

Até aqui, o leitor pode não entender o porquê de tantos dados macroeconômicos

e qual seria a relação dos mesmos com o presente trabalho. Acontece que, como

0,0%

2,0%

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jan/13 jul/13 jan/14 jul/14 jan/15 jul/15 jan/16 jul/16

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I II III IV I II III IV I II III IV I II III

2013 2014 2015 2016

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qualquer instituição federal, a UFRJ sobrevive, ao menos financeiramente, do repasse

de recursos da União, e diante da situação apresentada, esses têm sido prejudicados.

Em suma, a crise econômica que se instalou no país tem dificultado o governo a

honrar com seus compromissos nas mais diversas áreas, sendo a educação uma delas.

De acordo com o ex-reitor da instituição de ensino do Rio de Janeiro, Carlos Levi,

conforme entrevista divulgada no Globo em 2015, após os cinco primeiros meses de

operação em 2015, 45,7 milhões de reais deixaram de ser repassados, fato que somado

ao déficit orçamentário acumulado no ano de 2014, quando houve frustração de

recursos orçamentários previstos em seu Orçamento Anual de Custeio, levou a UFRJ à

paralisação.

Na prática, o que se observou foi a impossibilidade de cumprir com os contratos

e de sustentar condições mínimas para que alunos e professores pudessem dar

continuidade com suas atividades. A situação com terceirizados, responsáveis pela

limpeza e segurança, por exemplo, ficou insustentável, de modo que os serviços foram

interrompidos. Além disso, as constantes quedas de energia e os problemas com água

também se tornaram cada vez mais frequentes, chegando a um momento no qual a

Light, responsável pelo fornecimento de energia elétrica para as dependências da

cidade universitária, afirmou que cortaria a luz devido a consecutivos atrasos no

pagamento.

Sendo assim, o problema que se iniciou no âmbito das contas públicas atingiu a

UFRJ, transformando um cenário que já não era simples, vide os problemas já

noticiados na Faculdade de Medicina, por exemplo, quando parte do prédio do hospital

universitário desabou, em algo ainda mais caótico.

Pelo lado das políticas governamentais, o cenário também não tem sido nada

animador. A frase proferida por Darcy Ribeiro (1986), ex-Ministro da Educação e

Cultura, em uma palestra que ele chamou de "Sobre o Óbvio", em um congresso da

Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), parece ecoar até os dias de

hoje: "a crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto". Em seu texto

completo, fica evidente a forte crítica às elites brasileiras, responsáveis por subjugar a

população durante séculos, sendo um dos principais meios a restrição ao

desenvolvimento do saber, característica das colônias portuguesas.

Como grande símbolo dessa história, temos o fato de que a primeira

universidade brasileira, a Universidade de Manaus, foi criada apenas no século XX,

enquanto alguns países latino-americanos, como Peru, México e São Domingos, já

possuíam este tipo de estrutura para o ensino superior desde o século XIV. Apesar do

claro atraso, seria leviano afirmar que o Brasil ficou para trás. De acordo com a

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consultoria britânica em educação superior Quacquarelli Symonds (QS, 2017), dentre

as dez melhores universidades da América Latina, quatro são brasileiras, sendo a

Universidade de São Paulo (USP) a líder do ranking.

Para esse crescimento foi necessário, naturalmente, um contexto propício. Os

elementos essenciais para que esse ambiente favorável fosse criado não são uma

unanimidade, mas dentre os destacados na literatura, três chamam atenção. O primeiro

seria o que ficou conhecido como “Escola Nova”, ideias educacionais que chegaram ao

Brasil e reuniram uma geração de educadores responsáveis por reformas de ensinos

em vários estados na década de 20. Esses lutaram para que a República priorizasse a

educação, trabalhando como críticos das universidades já existentes e gerando diversas

propostas de organização do ensino superior. O segundo é a presença significativa do

positivismo na história do país. Apesar de ser uma corrente contrária à universidade, a

divulgação do ensino e da prática científica no país era considerada essencial. Daí

surgiram algumas grandes influências espalhadas pelo Brasil, principalmente na esfera

militar, que acabaram por contribuir para esse crescimento do desenvolvimento do

saber. E o terceiro elemento desta virada refere-se a luta promovida pelos paulistas

contra a ditadura de Getúlio Vargas. Para os residentes daquele estado, o saber

politécnico e científico era considerado necessário, pois somente assim seria possível

garantir uma autonomia do estado em relação à federação, forte desejo de São Paulo

naquele período, quando havia um sentimento separatista muito forte.

Ainda assim, mesmo com o recente sucesso de algumas grandes universidades,

o que não faltam são críticas ao ensino superior brasileiro, tanto ao público quanto ao

privado. Em relação àquelas ligadas ao governo, o principal questionamento é quanto

ao rígido controle exercido pelo Ministério da Educação (MEC), que gerou uma

excessiva burocratização nas instituições e acaba por engessar seus profissionais,

obrigando-os a cumprir com muitas atividades que em nada se relacionam com a

geração de conhecimento. Além disso, outra preocupação é a crescente tendência de

afastamento entre a comunidade acadêmica e a análise crítica, rumo já exposto no

passado de acordo com grupo de estudos da associação de docentes da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na “Proposta de uma Nova Política para o

Ensino Superior”, do ex-ministro Chiareli.

Já pelo lado do ensino privado, a crítica tem outro viés. De acordo com o “Mapa

de Ensino Superior do Brasil” de 2015, feito pelo Sindicato das Mantenedoras do Ensino

Superior (Semesp), o número de matriculas cresceu quase 130%, com o percentual de

matriculas em cursos presenciais da rede pública nos últimos treze anos, saindo de 33%

para 29%. Esses números demonstram o grande investimento que tem sido feito com

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objetivo aumentar o número de vagas disponíveis, principalmente na rede privada. A

intenção declarada pelo Governo, a princípio, é muito boa: a de democratizar o ensino

superior, antes privilégio de poucos.

A falta de planejamento, porém, é evidente. Para Roberto Romano, professor de

Ética e Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), o que se

apresenta hoje, de maneira geral, são “verdadeiros ‘escolões’”, onde empresários do

ensino, que não abrem mão de seus lucros, fazem investimento em uma estrutura

mínima (prédios, imóveis, etc.) e renegam importantes aplicações em ciência e

tecnologia, conforme consta na edição 339 do Jornal da Unicamp, publicada em 2006.

Ainda de acordo com o docente, “é uma declaração pela má qualidade e pela não-

pesquisa, (...) salvo pequenas e honrosas exceções“.

Figura 7: Matrículas em Cursos Presenciais no Brasil.

Fonte: Sindata/Semesp | Base: Censo INEP - consulta dia 01/02/2017

Uma última interessante reflexão, ainda com intento de questionar a qualidade

da educação brasileira, será com base em outra celebre frase de Darcy Ribeiro,

pronunciada em uma conferência no ano de 1982: “se os governantes não construírem

escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”. De acordo com o

Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen) de 2014, a população

prisional brasileira de 2014 apresentou um déficit de 250.318 vagas, o que representa

uma taxa de ocupação de 167%, confirmando a previsão do antropólogo. A situação é

complicada, e as recentes barbáries, como a ocorrida no pátio da Penitenciária de

Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, chocam toda a nação.

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De acordo com Rafael Alcadipani, professor da Fundação Getulio Vargas e

membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, dois pilares são necessários para

solucionar o problema: investimento em educação de qualidade e redução da

desigualdade. O pesquisador afirma que “investimento em educação, de fato, reduz a

vulnerabilidade das pessoas, que ficam menos expostas ao crime. É pacificado na

literatura, um fato científico”.

Resumindo o cenário das políticas públicas na educação, o que encontramos

são boas ideias desacompanhadas de uma estratégia bem definida. As ações perdem

sua validade quando prejudicam o próprio país ao criar uma falsa sensação de evolução

na democratização do ensino superior. Criar cursos que pouco acrescentam à formação

dos cidadãos e desinvestir naqueles que reconhecidamente tem feito um bom trabalho

mais parece um retrocesso, um subdesenvolvimento, do que verdadeiro progresso.

3.2 Contexto Local

Assim como a análise do contexto nacional apresentou uma situação

desfavorável, para o local, que será apresentada a seguir, a situação não é muito

diferente. Alguns fatos recentes, noticiados constantemente pela imprensa, chamam a

atenção da população e merecem destaque. Primeiro, em junho de 2016, o Rio de

Janeiro declarou estado de calamidade pública, calculando que o ano seria fechado com

um déficit de 16 bilhões de reais. Soma-se a isso o escândalo de corrupção recente,

que envolve políticos e empresários antes responsáveis, direta ou indiretamente, por

gerir o estado e/ou desenvolver sua economia. Além disso, as medidas propostas pelo

governo para sanar a situação são controversas, fato que tem gerado constantes

protestos por parte da população. Ou seja, o cenário político é instável e o econômico é

sofrível.

Mesmo sendo uma instituição federal, a UFRJ é também afetada pelas

condições do estado do Rio, principalmente no quesito segurança. Teoricamente, o

governo seria responsável pelo policiamento da Cidade Universitária, o que se vê na

prática, no entanto, é uma completa negligência. O lugar que fora um dia considerado

belo, agradável e pacífico graças à sua fuga do centro urbano, tornou-se um terreno

sem dono, entregue a criminalidade.

Pode parecer um pouco exagerada a afirmação, mas os repetidos casos de furto,

assalto e sequestro tornam a Ilha do Fundão um lugar muitas vezes assustador. Em e-

mail enviado no dia 30 de novembro a todos os endereços de domínio da Escola

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Politécnica, está um dos casos mais emblemáticos dessa situação. O texto, escrito pelo

professor Theodoro Antoun Netto, vítima de assalto a mão armada seguido de

sequestro, dizia: “pode parecer mais um dentre os tantos casos de violência que

vivenciamos na nossa cidade e particularmente no campus da UFRJ. Com um

agravante: tudo aconteceu dentro do estacionamento dos fundos do bloco A do Centro

de Tecnologia (CT), às 12h aproximadamente do dia 29/11, 3a feira”.

A situação que já parecia ruim por ter ocorrido em um dos principais

estacionamentos do CT, local onde fica o DEI, no movimentado horário de almoço, fica

ainda pior quando o mesmo relata que ao sair da delegacia onde fizera a ocorrência,

“outra vítima da mesma quadrilha acabara de chegar - tinha sido abordado e

sequestrado em frente ao Hospital do Fundão. Segundo os policiais, essa quadrilha vem

atuando recentemente na Ilha do Governador e imediações”. A falta de ações e os

consecutivos lamentos por parte dos gestores demonstram que as perspectivas para o

futuro são desanimadoras.

Além da segurança, outra questão que afeta a universidade é o transporte.

Constantemente discutida por alunos, ex-alunos, professores e gestores, a mobilidade

ainda é um verdadeiro desafio. A melhora nas últimas décadas não pode ser negada.

Em 2013, o acesso ao Centro da cidade, local onde se encontram muitas das principais

empresas nacionais e multinacionais, era precário, sendo a baldeação obrigatória. Já

em 2015, uma nova realidade, com quatro linhas operando entre os locais. Mas ainda

assim, como em todo o Rio de Janeiro, o carro continua sendo, de forma incomparável,

a melhor opção.

3.3 Resumo da Situação e Expectativas

Como colocado no decorrer desse capítulo, o contexto que cerca a UFRJ, e

consequentemente o DEI, é majoritariamente desfavorável. As análises propostas

demonstram que, para os aspectos financeiros, políticos e de ambiente organizacional,

a realidade é crítica. Pior, além de atualmente apresentarem-se prejudiciais à qualidade

do trabalho desenvolvido, todas essas mesmas características não indicam

possibilidade de melhora, nem no longo prazo, consequência da forte dependência

imposta as instituições. Na realidade, caso não aconteça uma revisão de prioridades

por parte dos responsáveis pelas questões, a tendência de contínua piora prevalecerá.

Esses fatores naturalmente influenciam e limitam as operações do departamento,

unidade a ser analisada no decorrer dos próximos capítulos.

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4 Departamento de Engenharia Industrial da UFRJ

Este capítulo tem por finalidade caracterizar o objeto de estudo do presente

trabalho, apresentando informações gerais que incluem um breve histórico do

departamento e sua atual estrutura. Além disso, este capítulo também visa expor a

operação do departamento, com os cursos oferecidos e as principais atividades de

responsabilidade dos profissionais do DEI.

4.1 Informações Gerais

4.1.1 Breve Histórico

O Departamento de Engenharia Industrial surgiu como apoio ao curso de

Engenharia de Produção, que, por sua vez, foi um dos pioneiros no país, e apesar da

primeira turma ter tido sua primeira aula em 1971, ele teve seu reconhecimento final

concedido pelo MEC apenas em 1975 (DEI, 2017). Dentre os fundadores, destacam-se

os professores Carlos Pamplona, Itiro Iida e Carlos Cosenza.

Segundo descrição do próprio Cosenza (2016), o curso emergiu de uma

necessidade do mercado por melhorar a qualidade dos estudos e pesquisas na área

empresarial, fortalecendo as competências “nos campos do planejamento, na estratégia

empresarial, na organização científica do trabalho, nos estudos de mercado, na

definição das escalas dos projetos e na localização industrial”.

Pautado na sólida reputação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e com

professores tomados como referências em assuntos de Engenharia Econômica, o curso

formou diversos egressos que foram ao mercado de trabalho com alta qualidade técnica,

atingindo os mais altos cargos em grandes companhias e também abrindo empresas de

relevância internacional.

O departamento foi aumentando seu escopo à medida que o tempo passava e

as demandas do mercado se adaptavam aos novos contextos que emergiam. Com isso,

surgiram também cursos de especialização e grupo de pesquisa com atuação

importante para formação de alunos e geração de pesquisas inovadoras. Ainda, o

departamento abriga o curso de graduação de Engenharia do Petróleo, devido a

exigências processuais.

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4.1.2 Estrutura

Localizado no primeiro andar do bloco F do Centro de Tecnologia na Ilha do

Fundão, o DEI conta com 3 salas para professores e 6 salas de aula, sendo que uma

dessas é em formato de sala de reunião (F-100), visando abrigar turmas mais enxutas,

e outra é uma das poucas salas de aula do CT - até o momento em que esse trabalho

é escrito – equipada com notebooks em suas mesas, a sala I-105, chamada “Sala do

Futuro”. O DEI conta também com dois Laboratórios de Informática de Graduação (LIG

Produção e LIG Petróleo), gabinetes individuais para os professores efetivos, e coletivos

para os visitantes e colaboradores voluntários (DEI, 2017).

O quadro de funcionários é composto por corpo docente, funcionário

administrativos e terceirizados. De acordo com o planejamento de disciplinas para o

período 2017/1, estão listados 38 professores, incluindo voluntários e licenciados, que

administram 61 disciplinas, oferecidas para todas engenharias, mas em sua maioria

para a Engenharia de Produção.

Além do corpo docente, o quadro de funcionários é completado por oito

funcionários que compõem as células acadêmicas e administrativas, liderando e

operando as atividades gerenciais do departamento. As listas de professores ativos e

de disciplinas oferecidas, com base no planejamento de turmas para o período 2017/1,

estão disponíveis no Apêndice A.

A cada semestre, o departamento atende alunos de graduação e pós-graduação

nas mais de 120 turmas que são oferecidas a cada semestre, totalizando mais de 5.000

vagas para os alunos (DEI, 2017).

4.2 Operações

4.2.1 Cursos oferecidos

A relação do DEI com os cursos deve ser observada na perspectiva funcional,

onde os departamentos da Escola Politécnica são como as funções de uma

organização, oferecendo um conjunto de cursos que vão servir aos alunos, e esses,

neste caso, vistos como os produtos. Assim, o DEI cumpre seu propósito primordial ao

oferecer os cursos que tenham maior conexão com a Engenharia de Produção, curso

que justificou a fundação do departamento.

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Figura 8: Estrutura Matricial do DEI. Fonte: Cagido e Soares, 2016

O DEI oferece disciplinas obrigatórias e condicionadas para todos os demais

cursos de engenharia da Escola Politécnica, mas a grande maioria das suas disciplinas

é ofertada para o Curso de Graduação em Engenharia de Produção, seguido pelo Curso

de Graduação em Engenharia do Petróleo. Ainda, oferece outras modalidades de

cursos, como extensão e especialização. A relação de cursos disponíveis está no site

do departamento e foram listados na tabela da Figura 9:

Cursos

Engenharia de Produção (Graduação)

Executivo em Economia do Petróleo e Gás (Especialização /MBA)

Gestão em Produção e Serviços: Lean Thinking (Especialização /MBA)

Gestão Estratégica de Pessoas (Especialização /MBA)

Engenharia Econômica e Produção (Especialização /MBA)

Gestão em Finanças (Especialização /MBA)

Gestão Empresarial (Especialização /MBA)

Gestão de Marketing (Especialização /MBA)

Engenharia e Gestão de Processos de Negócio (Cursos de Curta Duração/Extensão)

Meu Futuro Negócio (Cursos de Curta Duração/Extensão)

Curso de Extensão em Marketing Esportivo 3.0 (Cursos de Curta Duração/Extensão)

Figura 9: Tabela de cursos oferecidos pelo DEI. Fonte: DEI, 2017

São ainda responsabilidade do DEI a gestão dos seguintes laboratórios (DEI, 2017):

Laboratório de Sistemas Integrados de Gestão (LabSIG)

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Laboratório de Engenharia do Entretenimento (LEE)

Laboratório de Novos Negócios (GN2)

Laboratório de Apoio à Decisão (NADT)

Laboratório de Solidariedade Tecnológica (SOLTEC)

4.2.2 Principais Atividades

Segundo Cagido e Soares (2016), as atividades que ocupam a maior parte das

horas de trabalho dos funcionários e professores vinculados ao DEI são:

Planejamento das turmas;

Elaboração do pedido por professores substitutos ao Conselho de

Ensino de Graduação (CEG);

Gestão de processos internos.

O planejamento das turmas que serão oferecidas no semestre pode ser

considerado como a atividade central do departamento, já que a prática docente é o

coração da instituição de ensino superior. Essa operação usualmente se baseia no que

foi realizado no “período irmão” do semestre a ser planejado, por exemplo, ao projetar

2017/1, foram consideradas as disciplinas ofertadas em 2016/1, já que muitas matérias

são disponíveis apenas em um dos semestres do ano letivo. O resultado do

planejamento é apresentado no site do DEI após diversas negociações com as partes

envolvidas e aprovações dos entes responsáveis.

Outra atividade importante do DEI é a elaboração do pedido de professores

substitutos ao CEG quando há necessidade, geralmente gerada por aposentadorias,

licenças para cursos de especialização dos docentes no exterior ou até licenças

médicas. O pedido é feito através de um processo administrativo interno e pode demorar

meses para ser concluído.

Muitos dos esforços da secretaria do departamento são alocados na gestão de

processos internos, que podem ser: assuntos acadêmicos (dispensa de disciplinas,

homologação de grau, quebra de pré-requisito etc.), abono de permanência,

afastamento, aposentadoria, auxílio financeiro, averbação, concurso, licença,

progressão funcional e promoção por titulação.

Os funcionários do departamento podem ainda estar envolvidos em outras

atividades. Por exemplo, além de ministrar pelo menos uma disciplina no semestre, os

docentes ainda são responsáveis pela orientação acadêmica dos alunos, além de se

dedicarem a projetos de pesquisa e extensão. Os funcionários também lidam com

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demandas diversas dos alunos e professores, como inscrições em disciplinas e

aberturas de processos administrativos.

É possível também observar as atividades do DEI dentro de quatro funções de

acordo com Baldissera e Oliveira (2016): acadêmica, gerencial e administrativa, de

manutenção e de realização de projetos de infraestrutura. Essa visão segrega o

operacional do DEI de acordo com os propósitos e fatores envolvidos nas atividades.

Temos então o seguinte diagrama, apresentado na Figura 10:

Figura 10: As quatro funções do DEI. Fonte: Baldissera e Oliveira, 2016

A função acadêmica engloba todas as atividades que impactam a vida cotidiana

do corpo docente, como: concurso para professores substitutos e permanentes,

alocação de professores, previsão de salas e horários de disciplinas, processo de

afastamento e progressão docente.

Na função manutenção, podem ser alocadas as atividades de revisão do estado

da estrutura e infraestrutura do DEI, como ajustes na rede elétrica, eletrônica, hidráulica

e de telefonia. Também existe a função que engloba os projetos de infraestrutura, que

são obras como a implantação da nova rede de internet sem fio e a criação do

laboratório LIG Produção nos fundos do Bloco D do Centro de Tecnologia.

A quarta e última função é aquela que compreende as atividades gerenciais e

administrativas, por exemplo: compras de materiais básicos para o funcionamento diário

do departamento e os processos financeiros de administração e controle dos recursos

orçamentários do DEI.

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5 Identificação da Estratégia

Neste capítulo, é apresentada uma análise da estratégia do Departamento de

três diferentes pontos de vistas. O primeiro refere-se a estratégia pretendida, o segundo

a estratégia percebida e o terceiro a realizada. A ideia é que seja possível fazer um

diagnóstico dos planos do departamento sob a luz dos conceitos e teorias anteriormente

apresentados. Esta é uma etapa crucial deste trabalho, pois embasará os capítulos de

problematização e propostas, essenciais para que o objetivo final deste documento seja

cumprido.

5.1 Estratégia Pretendida

Ao discutir sobre a melhor forma de aplicar o conceito de estratégia pretendida

ao caso proposto, chegou-se à conclusão que para obter o entendimento da parte de

diagnóstico e planejamento, seria preciso conversar com o chefe do Departamento de

Engenharia Industrial, o professor Vinícius Carvalho Cardoso, orientador deste trabalho.

Em uma conversa franca entre as partes, que durou cerca de duas horas, foi possível

vislumbrar com bom nível de detalhes a realidade do Departamento.

Em seu relato, o professor foi sincero ao afirmar que, hoje, o DEI, devido a

diversos fatores, não possui nenhum tipo de reflexão estratégica formal. Essa falta de

avaliação formalizada, no entanto, nem sempre foi uma realidade do departamento. O

professor destacou que, anos atrás, houve uma reunião com parte do corpo docente

com o objetivo de construir um planejamento estratégico com um foco maior no curso

de Engenharia de Produção. Diante do informado, os autores buscaram contatar alguns

dos professores que possivelmente teriam feito parte do evento. No entanto, não se

obteve resposta de nenhum deles, o que impossibilitou um relato mais detalhado do

ocorrido.

Apesar da impossibilidade de aprofundar no caso, o próprio Vinícius colocou que,

em linhas gerais, o debate feito na época pareceu ocorrer em um momento inoportuno.

De acordo com o docente, o departamento já teve muitos problemas de relacionamento

entre a equipe, de modo que os professores encaravam muitas das reuniões como

debates políticos, que acabavam por transcorrer, em muitos momentos, com os ânimos

exaltados. Essa divergência interna minou a proposta da reunião, que teve como

resultado um plano que não saiu do papel, devido à falta de apoio de quase metade dos

envolvidos.

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Além disso, algumas outras questões colaboram para uma falta de visão de

longo prazo e para o desleixo com a estratégia do curso. O aumento da burocracia

imposta pelo governo, por exemplo, é uma das principais razões para a falta de

interesse do corpo docente. A rotatividade dos responsáveis pelo Departamento

também parece reduzir qualquer tipo de consistência nas ações, dado que as mesmas

têm sido, no passado recente, individualizadas. E, por último, mas não menos

importante, as consecutivas decisões tomadas na esfera governamental, algumas delas

expostas no capítulo de contextualização, e por parte da Reitoria da Cidade

Universitária, como a autorização para trancamento de matrículas fora do prazo ou a

proibição de reprovação por falta devido à presença de alguns poucos alunos em

protestos em Brasília (caso tratado pela exceção), têm sido muitas vezes contrárias às

políticas consideradas importantes para manter a qualidade do curso.

Em vista disso, o que a maioria das pessoas envolvidas com o Departamento

tem em mente, ainda que de forma genérica, é o sentimento de zelo pelo curso. Isso

pode ser observado em diversas esferas, como no fato de professores que possuem

projetos externos colaborarem de forma financeira com investimentos em infraestrutura,

ou no dia em que houve um mutirão de limpeza do bloco F, organizado por alunos e

professores, com intuito de trazer refresco às duras condições da época, resultado da

paralização dos terceirizados responsáveis pela limpeza, como já citado anteriormente.

Há, por conseguinte, um relativo foco em qualidade. Esse, todavia, é

caracterizado pela falta de padrão. Os diferentes perfis de professores somados a

liberdade existente aos mesmos, peculiaridade existente na universidade pública, levam

a um caminho onde cada um aplica o conceito da forma que entende melhor, gerando

diversas práticas que podem acabar funcionando de forma contraditória.

Estes relatos podem levar o leitor a acreditar que, sendo assim, não há razões

para a construção deste documento, dado que ele teria pouco valor prático. Contudo,

como o próprio responsável pelo departamento ressaltou na conversa, hoje há um novo

cenário, já com os ânimos e conflitos apaziguados, o que configura um contexto, ao

menos neste aspecto, ideal para a construção deste trabalho. Na visão do professor, o

conteúdo aqui exposto pode ser de grande valia, funcionando como um incentivador e

guia para novas práticas na parte de planejamento estratégico do Departamento.

Apesar da falta de pensamento de longo prazo, consequente da falta de uma

reflexão formal, foi possível construir um diagnóstico de como é a estratégia pretendida

atualmente. Ficou claro que, devido à falta de envolvimento do corpo docente, as

decisões são tomadas majoritariamente de forma autocrática e com base no curto prazo,

visando em sua maioria resolver problemas de gargalos estruturais existentes. E o que

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o próprio chefe de departamento descreve como estratégia pretendida é um trabalho

que visa a qualidade do engenheiro formado. Ou seja, que ele chegue lá fora com “o

maior e melhor arsenal possível de técnicas, conhecimentos e tecnologia para superar

o desafio que for colocado diante dele”. Essa intenção, porém, é desacompanhada da

deliberação. Mesmo com as tentativas de trazer alguns de seus colegas para perto,

buscando desenvolver o trabalho, o desânimo com o contexto geral tem sido difícil de

superar.

Partindo agora para uma análise do exposto pelo professor, à luz da teoria

apresentada no início do capítulo, observa-se que, como o mesmo colocou, a estratégia

é significativamente superficial. Se aplicado o conceito de cerne de Richard Rumelt, não

é possível identificar nenhum dos elementos necessários para a criação de uma

estratégia. Não há um diagnóstico de quais são os desafios, nem muito menos políticas

e/ou ações coerentes para enfrentá-los. O foco em qualidade se mostra muito mais

como uma missão, um objetivo final, que deveria ser resultado da construção e

aplicação de um planejamento pré-definido, hoje inexistente.

5.2 Estratégia Percebida

Um segundo ponto de vista usado para entender questões relacionadas à

estratégia do DEI foi o da estratégia percebida, ou seja, como as pessoas envolvidas

diretamente com a unidade de análise reconhecem os possíveis objetivos do

Departamento, e quais seriam os desafios, planos, políticas e ações a serem

implementados para chegar ao resultado esperado. Apesar desse conceito não ser

proveniente da literatura, esse tipo de informação agrega valor ao trabalho por trazer

novos insights sobre quais os caminhos estariam sendo perseguidos, conforme opinião

de pessoas diretamente envolvidas, quão satisfatório estaria sendo o desempenho do

departamento e quais poderiam ser pontos de alavancagem para uma melhora na

performance.

Para isso, utilizamos como método a pesquisa com survey, buscando validar os

insights obtidos através de conversas e análises prévias. Além disso, buscando obter a

maior participação possível com todas as partes envolvidas no Departamento

(funcionários, docentes e discentes), fizemos o questionário através de um formulário

online, que pode ser encontrado em sua versão completa no Apêndice B, divulgando-o

através dos principais meios de contato (e-mail da Politécnica direcionado às listas de

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Engenharia de Produção e Engenharia de Petróleo e grupos no Facebook destinados

ao curso de Engenharia de Produção).

O conteúdo da enquete enviado era composto por quatro partes, cada uma com

uma pergunta, sendo a primeira de múltipla escolha e as outras três com escala de

intensidade. A primeira parte tinha como objetivo entender a relação da pessoa com o

curso, ou seja, qual dos papéis ela desempenhava (ou desempenhou), se de (ex-) aluno,

professor ou funcionário. A segunda parte buscava entender quão importante eram os

possíveis objetivos listados para o Departamento de Engenharia Industrial, ou seja,

quais seriam as prioridades definidas pelo DEI, através de uma pergunta com escala

intensidade para cada uma das seis opções dadas. Entendido qual seria, na opinião dos

entrevistados, o destino desejado pelo próprio Departamento, foi inserida uma terceira

pergunta, para avaliar a eficácia no cumprimento desses objetivos. A quarta e última

pergunta, considerando que o alvo já havia sido identificado, foi dedicada para

diagnosticar possíveis pontos de alavancagem do sistema. Importante ressaltar que as

duas últimas perguntas vão além do escopo proposto para análise da estratégia

percebida, de forma que terão seus resultados abordados no capítulo 7, dedicado ao

diagnóstico.

Conforme esperado, com base em experiências recentes, a aderência à

pesquisa foi relativamente baixa. A participação foi de apenas 59 pessoas, número que

representa menos de duas turmas completas (ingressam 40 alunos por semestre),

evidenciando a falta de engajamento das partes envolvidas na operação do DEI. Além

disso, desses, quarenta e quatro eram alunos e quinze ex-alunos, o que limita a

estratégia percebida apenas a visão corpo discente. Esse resultado unilateral, no

entanto, não invalida o resultado. As respostas obtidas continuam tendo valor para o

trabalho, apenas necessitando ser fruto de um pouco mais de cuidado em seu uso.

Para este tópico, como já explicitado anteriormente, a pergunta que traz uma

visão quanto à estratégia percebida pelos alunos ou engenheiros formados pelo curso

é a de número dois: “na sua opinião, qual o grau de importância dos objetivos abaixo

para o DEI?”. O resultado completo pode ser encontrado na Figura 11, em forma de

gráfico.

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Figura 11: Respostas ao Questionário. Fonte: Elaboração Própria.

Como é possível observar, para a grande maioria dos participantes, a missão de

retribuir os investimentos feitos pelo Governo através de profissionais de qualidade é o

grande objetivo do Departamento, recebendo um significativo número de avaliações

como “prioridade máxima” e um alto número de respostas “muito importante”. Ouras

duas opções que merecem destaque são a de “manter a sua reputação de instituição

de qualidade” e a de “oferecer os cursos mais reconhecidos pelo mercado de trabalho”.

O conjunto dessas três opções demonstra que a eficiência no uso de seus recursos é

entendida, pelos discentes interrogados, como um dos pilares das ações do

Departamento, sendo o reconhecimento externo uma métrica importante na busca

desse objetivo.

O fato da opção “estar no topo dos rankings de universidades” estar apenas em

quarto lugar, com ainda expressiva importância, mas menor prioridade que as outras

opções, demonstra que não necessariamente esse é o resultado a ser buscado,

podendo na realidade funcionar como um indicador valoroso para a avaliação da

efetividade das ações.

Em penúltimo lugar, observamos a opção referente a contribuição científica

como ainda sendo considerada importante, mas claramente em segundo plano em

relação às demais. Este fato demonstra que para os entrevistados há valor neste tipo

de conhecimento e investimento, mas isto não pode ser o foco. Por último, temos a

opção que assinala como responsabilidade do DEI a formação de grandes líderes

políticos. A distribuição dos resultados nos permite concluir que não há, ao menos pelo

1

16

15

3 2 1

22

9

14

85

7

12

2729

32

19

26

5

22

10

16

33

25

4

Oferecer oscursos mais

reconhecidospelo mercado de

trabalho

Contribuir paracomunidadeacadêmicaatravés depesquisasrelevantes

Estar no topodos rankings deuniversidades

Retribuir oinvestimento da

sociedadeatravés de

profissionais dequalidade

Manter suareputação deinstituição de

qualidade

Formar grandeslíderes políticos

Na sua opinião, qual o grau de importância dos objetivos abaixo para o DEI?

Não é importante Pouco Importante Importante Muito Importante Prioridade Máxima

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olhar dos alunos e ex-alunos, um direcionamento para o engajamento político, apesar

da forte crença de que ali temos grandes mentes deste país, frase que muitas vezes

ecoa pelos corredores do bloco F.

Portanto, pode-se concluir que a percepção que os discentes têm de estratégia

é a de que o curso tem como objetivo final retribuir à sociedade com profissionais, dados

os investimentos que recebe, sendo a percepção tanto do mercado quanto na forma de

reputação fatores importantes neste processo. Conclui-se que a percepção dos alunos

está basicamente em linha com a Estratégia Pretendida.

5.3 Estratégia Realizada

De forma a entender a Estratégia Realizada pelo DEI, ou seja, o que está

concretamente sendo tomado como um direcionamento para o curso, serão analisados

os indicadores de desempenho universitário, como rankings de cursos e universidades.

5.3.1 Avaliação Governamental dos Cursos

É importante ressaltar que a avaliação oficial governamental dos cursos de

graduação feita pelo Ministério da Educação, conduzida pelo Instituto Nacional de

Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), é o Exame Nacional de

Desempenho de Estudantes (ENADE) que, analisados juntamente a avaliações in loco

realizadas por comissões especialistas (Inep, 2017), produz os indicadores de qualidade

em questão. O ENADE tem aplicação trienal para cada curso, e como o último realizado

para Engenharia de Produção foi em 2014, o próximo será realizado neste ano de 2017.

No último relatório do ENADE divulgado, o curso de Engenharia de Produção

(EP UFRJ) da UFRJ apresentou uma média geral de 69.2, enquanto a média geral do

Brasil foi de 45.9. A prova ainda segrega em dois campos as notas: Formação Geral e

Formação Específica. Na formação geral, a UFRJ alcançou 77.1, enquanto a média do

Brasil nessa componente foi de 60.5, e vale ressaltar que a média da EP UFRJ ficou

atrás apenas da Engenharia de Computação, que chegou a 78.4. Na Formação

específica, a EP UFRJ chegou a 66.6 de média, enquanto o resto do país teve média

de 41.0, e nesse quesito, a EP UFRJ ficou atrás apenas da licenciatura em História na

UFRJ.

O sistema “e-MEC”, que centraliza as informações das avaliações feitas pelo

Ministério, o curso de Engenharia de Produção atingiu nota máxima no ENADE e nota

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4 no Conceito Preliminar de Curso (CPC), em uma escala que vai de 1 a 5. Ainda, a

UFRJ atingiu nota máxima no Índice Geral de Cursos (IGC) e no Conceito Institucional

(CI). No entanto, os resultados do ENADE e do IGC são de 2014, e o resultado do CI

mais distante ainda, de 2011. Portanto, uma vez que é necessário entender a realidade

atual do Departamento, os dados apresentados foram considerados muito distantes

para análise da situação atual.

A dificuldade de acesso aos sistemas do governo e o tempo sem atualização dos

dados são obstáculos para um diagnóstico apropriado do sistema de ensino superior do

país, o que coloca entraves para a proposta de melhorias pelos diferentes agentes da

sociedade que se sentem afetados por esse setor.

5.3.2 Avaliação dos cursos por Instituições Particulares

Devido à pouca transparência e confiança dos resultados e métodos utilizados

por órgãos públicos na avaliação dos cursos e também pela sua frequência

insatisfatória, os rankings particulares vêm se mostrado como as grandes referências

para tomada de decisão dos alunos no vestibular e para construção da reputação da

IES.

Ranking Universitário Folha (RUF)

No Brasil, o ranking universitário nacional mais valorizado é o do jornal Folha de

São Paulo, o RUF, já que ele utiliza fatores bastante plausíveis para definição da nota

das universidades e cursos. O estudo começou a ser publicado em 2012 e desde então

vêm sendo divulgado anualmente e tomado como a principal referência em termos de

análise da qualidade das universidades brasileiras.

O RUF divide o estudo em dois: ranking das universidades e ranking de cursos.

Para avaliar as 195 universidades brasileiras, são tomados como base 5 indicadores:

Pesquisa Científica, Qualidade do ensino, Internacionalização, Mercado de trabalho e

Inovação. Para a análise de cursos, são considerados os 40 cursos de maior demanda

no país, de acordo com o Censo do Ensino Superior do Inep, e leva em conta a

qualidade do ensino e a perspectiva do mercado de trabalho. (RUF, 2017).

Os dados são coletados de sistemas importantes como Inep-MEC, Reuters,

SciELO, CNPq, Capes, entre outros. Também são realizadas entrevistas com

avaliadores do MEC, docentes e profissionais do mercado. Com isso, algumas das

variáveis levadas em consideração para a nota final são: número de publicações,

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proporção de professores com mestrado e doutorado, a nota dos alunos no ENADE,

citações e publicações de docentes, pedidos de patentes, etc.

A UFRJ está no topo do ranking de universidades, com a maior média global. No

entanto, não é líder em nenhuma das categorias individuais. Ocupa a 3ª posição nos

rankings de Ensino, Pesquisa, Mercado e Internacionalização, e a 6ª posição apenas

no ranking de Inovação. Vale ressaltar que a USP, que liderou o ranking geral em todas

as publicações anteriores, não realiza o ENADE por não ser uma obrigação para

universidade estaduais, portanto, zera esse conceito, que foi adicionado como fator da

nota final nesta última divulgação. A USP ocupa a 1ª posição nos rankings de Pesquisa,

Mercado e Inovação.

No ranking de cursos, a Engenharia de Produção da UFRJ também está no topo

do ranking geral, seguida por USP, UFSC e UNICAMP. Nas classificações por categoria,

a UFRJ está no topo da Qualidade de Ensino e ENADE. Ocupa a 2ª colocação nos

rankings de Avaliação de Mercado de Trabalho e Avaliadores do MEC, atrás da USP

em ambas as categorias.

Rankings Internacionais

No âmbito internacional, três rankings são reconhecidos como impactantes para

a reputação das universidades: U.S. News Best Global Universities, QS World University

Ranking, e Times Higher Education World University Ranking. Apesar de não se

aprofundarem em termos de cursos, esses rankings são úteis para verificar a imagem

da UFRJ no cenário mundial acadêmico. Todos esses rankings foram publicados em

2016.

O jornal U.S. News é um dos meios de comunicação mais famosos dos Estados

Unidos, cobrindo os diversos acontecimentos domésticos e internacionais. A seção de

Educação elabora um ranking com a maioria das universidades do mundo, com rankings

para as diferentes áreas de estudo, mas não detalham as várias engenharias. Portanto,

no ranking do assunto “Engenharia”, a UFRJ aparece na 3ª posição do Brasil, atrás de

USP e UNICAMP, e 318ª posição global.

O aclamado ranking da QS, empresa especializada em educação internacional,

se propõe a ajudar os alunos a escolherem seus cursos no exterior, separando as

universidades por área de estudo. Na seção “Engineering - Mechanical, Aeronautical &

Manufacturing”, que engloba o curso de Engenharia de Produção, a UFRJ aparece em

4º lugar do Brasil (atrás de USP, UNICAMP e UFSC), e 7º da América Latina. No cenário

global, a faculdade está na faixa entre o 151º e o 200º lugar.

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A revista semanal Times Higher Education surgiu do jornal The Times, um dos

noticiários mais famosos do mundo, e, anualmente, apresenta um ranking com as

instituições mais reconhecidas pelo mercado mundial. No ranking de reputação, a UFRJ

está na 3ª posição, atrás de USP e UNICAMP. A UFRJ é vista como a 5ª universidade

com maior prestígio da América Latina e está em 8º lugar no ranking geral da América

do Sul, que não considera apenas a reputação, mas também a qualidade de ensino.

Dividem esse posto de 8º lugar com a UFRJ a UFPR, UFABC, UFMB, UFRS, UFSC,

UNIFESP, PUC-RS e UNESP. A USP lidera isolada o ranking geral da América do Sul,

com a UNICAMP dividindo o 2º lugar com universidades chilenas. No ranking global, a

UFRJ está na faixa entre o 601º e 800º colocado.

5.3.3 Análise dos Resultados

Observando o desempenho nos diversos rankings universitários e avaliações de

cursos de graduação, percebe-se que a UFRJ permanece com a sua reputação em alta,

fazendo frente sempre com a USP e a UNICAMP em todas os estudos. A UFSC também

aparece bem avaliada com frequência, e a UFF, apesar de certa rivalidade local, não

está nos mesmos patamares no que tange a percepção de avaliadores externos.

Então, apesar dos relatos negativos de alunos e demais pessoas envolvidas na

operação do DEI, a universidade na qual o Departamento pertence e o curso que foi o

motivo da criação dessa estrutura são recebidos pela sociedade como organizações de

excelência, isso quando comparado com as instituições com propósito compartilhado.

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6 Análise de Benchmark

Dando prosseguimento ao trabalho, é válido observar a atuação dessas

instituições de ensino superior que, em muitos casos, são vistas como mais

competentes na execução de sua proposta do que a própria UFRJ, de forma a conseguir

identificar possíveis boas práticas do setor. Então, neste capítulo, será analisada a

“concorrência” de forma a identificar os padrões que as líderes dos rankings mundiais

seguem.

6.1 “Concorrência”

Como visto nos rankings regionais, as universidades que rivalizam mais com a

UFRJ em termos de reputação e qualidade são: USP e UNICAMP. Nessa seção, serão

apresentadas características gerais dessas instituições que podem ter contribuído para

o sucesso.

6.1.1 USP

A USP é referência em São Paulo e alcança o topo na maioria dos estudos de

classificação de universidades brasileiras e latino americanas, sendo a melhor avaliada

pelo mercado e pelos avaliadores do MEC (RUF, 2016). A manutenção da sua

reputação se dá muito graças aos egressos altamente qualificados e um processo de

seleção de alunos sólido. Ainda, pesquisadores e professore s de alta qualidade se

sentem atraídos pela universidade devido à avançada infraestrutura e às remunerações

acima da média do mercado.

O Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP é

chefiado pelo Prof. Dr. Fernando José Barbin Laurindo, e além das áreas administrativas

e de informática, possui cinco comissões para gerir as principais atividades do

departamento: Comissão de Graduação, Comissão Coordenadora do Programa de Pós-

Graduação, Comissão de Pesquisa, Comissão de Cultura e Extensão e Comissão de

Infra-Estrutura. Todas compostas por pelo menos cinco professores, o que distribui a

carga de trabalho e responsabilidades para o bom funcionamento operacional do

departamento. São 39 docentes em atividade, sendo que 25 estão em regime de

dedicação integral à docência e à pesquisa e também 23 são professores doutores

(POLI USP, 2017)

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Na Escola de Engenharia de São Carlos, o Departamento de Engenharia de

Produção surgiu para dar suporte ao curso de Engenharia de Produção Mecânica,

inaugurado em 1969. A primeira turma de engenheiros de produção se formou em 1975.

O embrião do curso foi a cátedra 12, denominada “Estatística Aplicada, Matérias

Econômicas e Administrativas” (EESC USP, 2017), que já englobava os conhecimentos

mais aplicáveis da ementa da maioria dos cursos de engenharia de produção, como as

estatísticas, finanças e controle de produção. O departamento conta hoje com 20

docentes, sendo que todos possuem título de doutor e 17 estão em regime de dedicação

integral. São 50 alunos por ano no curso de graduação. O departamento também

oferece cursos de mestrado e doutorado em Engenharia de Produção, que comportam

80 e 60 alunos atualmente.

O departamento possui estrutura de conselho, com 11 professores e um discente

dando suporte às decisões relevantes para o departamento. Além das salas de aula e

anfiteatros, a estrutura na qual o departamento está instalado suporta mais seis

laboratórios, sendo que destes se destacam dois: o Laboratório de Simulação e Jogos

e o Laboratório de Pesquisa Operacional e Sistemas de Apoio à decisão. No primeiro,

o foco é desenvolvimento de jogos de empresas e aplicações de simulação em gestão

da produção. Já o segundo é onde estão os programas de Pesquisa Operacional que

exigem longo tempo de execução e dedicação exclusiva para seu processamento.

6.1.2 UNICAMP

A UNICAMP, também sediada em São Paulo, o curso de Engenharia de

Produção está no escopo da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), que também é

contempla os cursos de Administração, Administração Pública, Engenharia de

Manufatura, Nutrição e Ciência do Esporte. Isso é explicado pelo projeto pedagógico da

FCA, que busca integrar diferentes área de conhecimento de forma a estimular a

criatividade, iniciativa e empreendedorismo de seus alunos.

Há a preocupação de manter a grade curricular flexível, passível de se adequar

às necessidades do mercado do trabalho ao longo dos anos, visando a formação de um

profissional de nível superior que alie o conhecimento da realidade industrial com uma

base técnica contemporânea. O foco dessa grade, desde a criação da FCA nos anos

2000, tem sido a interdisciplinaridade, mesclando as áreas humanas e exatas de

conhecimento. Assim, intensificando as trocas entre especialistas e promovendo maior

grau de integração, privilegiando trabalhos de grupo que organizados por disciplinas

que trazem ensinamentos de outras disciplinas.

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O aluno é incentivado a participar de empresas júnior, que são ótimas formas de

conhecer o mercado de trabalho e aplicar o conhecimento adquirido em sala de aula em

projetos de empresas reais. Também existe um senso comum que o aluno deve ser

mais exposto ao campo, com visitas técnicas e aulas práticas.

6.2 Escolas Internacionais

É muito difícil comparar instituições públicas com as privadas, pois nas públicas

muitas das diretrizes fundamentais para a estratégia da organização são traçadas por

agentes políticos, que não estão inseridos completamente na realidade da operação e,

portanto, não são os mais indicados para tomar decisões tão importantes.

Ainda, comparar IES de países diferentes, resultados de processos históricos

distintos que culminaram em culturas muito discrepantes, podem parecer imprudente,

mas o propósito do presente trabalho é propor soluções para os problemas e melhorias

para as deficiências, e estes fatores podem ser encontrados em modelos já

estabelecidos e reconhecidos como referências na comunidade acadêmica

internacional.

Nos rankings internacionais analisados e na percepção dos especialistas em

ensino superior, algumas universidades aparecem com certa frequência como as

melhores do mundo, referências em qualidade de ensino. Em particular, 6 universidades

são consideradas as melhores do mundo pelo ranking da QS e da THE. São elas:

Massachusetts Institute of Technology (MIT)

Stanford Universisty

Harvard University

University of Cambridge

California Institute of Technology (Caltech)

University of Oxford

De forma a estabelecer as fronteiras da análise de benchmark, foram tomadas

as universidades que ocupam os três primeiros lugares no ranking da área “Engineering

- Mechanical, Aeronautical & Manufacturing” do QS Top Universities, que engloba os

tópicos fundamentais da Engenharia de Produção. E as três primeiras colocadas são:

MIT, Stanford e Cambridge. Portanto, foram pesquisados os diferenciais dessas

instituições, de forma a tentar encontrar quais fatores são mais determinantes para um

excelente desempenho nessa área de conhecimento.

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Figura 12: Top 3 Universidades de Engenharia do mundo. Fonte: QS World Ranking.

6.2.1 Massachusetts Institute of Technology (MIT)

O MIT é popular pela inovação que ocorre em suas instalações. São realizados

investimentos pesados em pesquisa e desenvolvimento e as pessoas que buscam

contribuir com inovações disruptivas encontram no MIT o ambiente ideal para explorar

o conhecimento acumulado e gerar novas tecnologias. Por exemplo, existe a Iniciativa

de Inovação (MIT Innovation Initiative), uma organização que busca oferecer todos os

serviços para promover inovação e empreendedorismo. Essa iniciativa faz a ponte entre

os empreendedores de primeira viagem com conselheiros, ou um aluno com uma ideia

pode encontrar cursos, eventos, fontes de financiamento e patentes para desenvolver

sua ideia. Também é possível encontrar vagas em empresas que estão se estruturando

para ganhar escala. Enfim, essa iniciativa busca garantir a posição de liderança em

geração de impacto duradouro que o MIT possui.

Outra iniciativa é o “Sandbox”, que atua como uma incubadora de idéias, com

financiamento e mentoria ativa. Também há a Iniciativa de Aprendizado Integrado (MIT

Integrated Learning Iniciative), que estuda o próprio aprendizado, aplicando métodos do

MIT, como um rigorosa pesquisa interdisciplinar sobre os mecanismos fundamentais do

aprendizado e como ele pode ser melhorado. Existem ainda iniciativas focadas em

engenharia da medicina, câncer, meio ambiente, energia e sistemas da informação.

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6.2.2 Stanford Universisty

A universidade de Stanford se sustenta nos primeiros lugares dos rankings

universitários mundiais há muitos anos. O departamento que mais se aproxima dos

princípios do DEI é o Departamento de Engenharia e Ciência da Gestão (Department of

Management Science and Engineering), que possui estreita relação com o ambiente do

Vale do Silício, o maior polo de tecnologia e empreendedorismo do mundo.

Tendo isso em vista, o departamento oferece curso de graduação, mestrado e

doutorado com o mesmo nome e campo de atuação, promovendo em seus alunos

conceitos como: análise de risco, sistemas dinâmicos, economia, otimização, ciência

organizacional e sistemas estocásticos. São fundamentos direcionados para carreiras

que visam solucionar problemas técnicos e gerenciais de organizações públicas e

privadas (MS&E, 2017). A missão do curso é avançar no desenho, operação, gestão e

integração de sistemas sociais, econômicos e tecnológicos através de educação e

pesquisa, formando profissionais capazes de liderar em diversas áreas.

6.2.3 University of Cambridge

Uma das instituições mais respeitadas do mundo, a britânica University of

Cambridge mantém uma reputação de excelência ao integrar educação e pesquisa.

Com um orçamento que beira as 40 Milhões de libras esterlinas para pesquisa

(University of Cambridge, 2017), o Departamento de Engenharia deixa claro em seu

planejamento estratégico que busca sempre criar conhecimento de engenharia de

excelência mundial, promovendo sustentabilidade, prosperidade e resiliência.

Para comparar com o DEI, é indicado olhar para a divisão de manufatura e

gestão do Departamento de Engenharia. No entanto, um dos pilares do sucesso de

Cambridge é a multidisciplinaridade. Há um único departamento de engenharia que

consiste de seis divisões: Energia, Eletricidade, Mecânica, Civil, Gestão e Engenharia

da Informação. Essas seis divisões possuem direcionamento para uma estratégia

comum, traçada pela liderança do departamento, e que, atualmente, está focada em

fazer parcerias com organizações de forma a expandir as fronteiras da tecnologia.

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É frisado que o grande diferencial é o recrutamento de professores e

colaboradores, já que a qualidade desses profissionais é crucial para a reputação e

qualidade do ensino dessa instituição. Nesse caso, é possível identificar um dos

benefícios da instituição de ensino particular, que pode selecionar como quiser seus

profissionais, com menor burocracia, e conseguir mesclar juventude com experiência

em movimentos de mercado. A estratégia do departamento de engenharia se sustenta

na busca por interdisciplinaridade, na busca pelos engenheiros do século XXI, nos

temas da Figura 13:

Figura 13: Temas para a Engenharia do século XXI. Fonte: University of Cambridge.

Assim, distribuindo os 2 bilhões de libras esterlinas destinados à essa campanha,

novas instalações serão construídas e bolsas de estudo distribuídas de forma a

fomentar a pesquisa e o ensino. A universidade de Cambridge identificou que o avanço

tecnológico não vai parar, e o papel do engenheiro vai ser analisar os sistemas

complexos, desenhando e trocando novas ideias a todo momento.

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7 Diagnóstico

Neste capítulo, serão apresentados dois diagramas e um questão feita aos

alunos do curso que auxiliam na tarefa de identificação de um diagnóstico da situação

corrente. Ou seja, serão estruturados efeitos e variáveis de forma a obter um melhor

entendimento do funcionamento atual do departamento e quais são os pontos de

alavancagem de forma a progredir em direção à estratégia traçada.

Tendo isso em vista, o primeiro modelo apresentado é o Diagrama de Enlace

Causal, que visa representar a estrutura de realimentação (Jansen, L., Rotondaro, R.,

2006) entre as diversas variáveis envolvidas na operação do DEI. Em seguida, será

apresentada uma Árvore de Realidade Atual (ARA), onde são identificados efeitos

indesejáveis do processo de formação de egressos preparados para o mercado de

trabalho e também traçadas as causas desses efeitos indesejados. Então, antes da

análise final do diagnóstico, serão apresentadas as respostas para a questão feita no

questionário online para os alunos, onde foram colocadas possíveis ações para melhoria

do desempenho do DEI e pedido aos alunos para estimar quanto impacto tais medidas

teriam, o que ajuda a captar a percepção dos alunos em relação aos gaps existem e

possibilidades de melhorias mais latentes.

7.1 Diagrama de Enlace Causal

O principal intuito de um Diagrama de Enlace Causal é identificar as relações de

causa e consequência entre as variáveis que regem um sistema complexo, pois, muitas

vezes, uma decisão gerencial de alterar a alocação de determinado recurso ou um novo

direcionamento em algum processo, podem acionar uma cadeia de eventos que, de

alguma forma, levem ao efeito contrário ao desejado. Ou seja, é preciso identificar e

estimar como as variáveis se relacionam, de forma a vislumbrar todo o sistema de forma

dinâmica e mais apurada. Se trata de um modelo mental, já que permite a simulação

simples, sem instrução prévia e sem possibilidades para reflexão (Laird-Johnson, 1983).

O diagrama está no Apêndice C e abaixo serão descritos os principais ciclos

considerados e as relações entre as variáveis que culminam ultimamente em uma

melhor aproximação do objetivo traçado para a instituição, que é inserir no mercado de

trabalho profissionais altamente preparados.

Observa-se que o Nível de Preparo do Egresso, a grande meta do DEI, é

influenciado pelo Aproveitamento das Experiências Práticas e pelo Rendimento do

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aluno nas disciplinas. Essa consideração busca simplificar em apenas duas variáveis

todos os elementos que constroem as primeiras capacitações profissionais do aluno ao

sair da universidade, uma vez que, sendo aluno da Engenharia, é possível aprender os

conceitos apresentados dentro de aula e buscar ampliar o conhecimento com

experiências práticas, indo a campo observar e aplicar técnicas que são demandadas

pelo mercado.

Ainda, a variável que está no centro do diagrama é muito importante para o

rendimento do aluno, e consequentemente, a qualidade com que ele é entregue ao

mercado de trabalho: Qualidade da Aula. Ela influencia diretamente no Rendimento do

aluno nas disciplinas, uma vez que se pode inclusive medir a qualidade do trabalho do

docente de acordo com o quanto foi absorvido pelos alunos e quanto do conhecimento

será aplicável para eles. Considerou-se que essa variável influencia positivamente não

só o rendimento dos alunos, mas também o Nível de dedicação dos alunos, já que estes

buscam honrar mais seus compromissos quando veem valor na disciplina. Pode-se

observar o ciclo da Qualidade da Aula isoladamente na Figura 14.

Figura 14: Ciclo da Qualidade da Aula. Fonte: Elaboração Própria.

Para ser possível uma aula de qualidade, é preciso que: (1) os professores

estejam engajados; (2) a grade curricular esteja alinhada com as necessidades do

mercado; (3) o corpo docente seja qualificado através de ações de desenvolvimento

profissional; (4) a infraestrutura permita ao aluno e ao docente se sintam à vontade para

render em suas obrigações; e (5) haja interação entre os alunos e professores,

fomentando debates e discussões acerca dos temas abordados.

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Além das influências diretas na Qualidade da Aula, essas variáveis se

relacionam entre si. Por exemplo, investimentos em infraestrutura não só afetam a

qualidade da aula como também motivam os professores a se dedicarem mais. Da

mesma forma, o desenvolvimento desses profissionais impacta duplamente na

qualidade da aula, diretamente e indiretamente através do aumento de engajamento.

O diagrama explicita também a influência do Planejamento Estratégico na

operação do DEI, já que, ao definir o direcionamento que os processos devem buscar e

a alocação de recursos de acordo com as metas, o planejamento pode aumentar o

Aproveitamento das Experiências Práticas, a Aderência da Grade Curricular à realidade

do mercado e a Eficiência de uso do Orçamento. No entanto, para que ele ocorra, é

preciso um certo nível de Engajamento de Professores e também que o departamento

tenha Autonomia suficiente para tomar tais decisões.

Figura 15: Variáveis que afetam e são afetadas diretamente pelo Planejamento Estratégico.

Fonte: Elaboração Própria.

É possível ver a influência negativa que a Burocracia tem no ciclo do

Planejamento Estratégico, já que ela reduz a Autonomia do DEI e também prejudica a

alocação eficiente dos recursos, ou seja, a Eficiência do uso do Orçamento fica

comprometida. A redução da autonomia impacta diretamente no planejamento, mas a

ineficiência do uso do orçamento impacta indiretamente, uma vez que Investimentos em

Infraestrutura e Desenvolvimento do Corpo Docente são penalizados pela falta de

recursos disponíveis, o que acaba por minar o Engajamento dos Professores, fator

fundamental para que ocorra o Planejamento Estratégico.

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Figura 16: Impacto Negativo da Burocracia. Fonte: Elaboração Própria.

A Figura 17 apresenta, de forma isolada, os impactos indiretos do Planejamento

Estratégico no Nível de Preparo do Egresso. Ao utilizar de forma eficiente o orçamento

estipulado e aprimorar as capacitações dos professores, a qualidade da aula evolui,

aumentado assim o rendimento do aluno nas disciplinas e, consequentemente,

melhorando o grau de preparo do aluno recém-formado. A qualidade da aula terá

progresso significativo se a grade curricular for aderente aos interesses do mercado de

trabalho, ou seja, com um estudo que possa identificar com precisão as demandas

recorrentes que o engenheiro de produção recebe ao longo de sua carreira, o

departamento pode adaptar constantemente a grade curricular à realidade profissional,

que está em constante mudança.

E, por fim, o planejamento pode resultar em projetos para um maior

aproveitamento das experiências práticas, alocando o aluno em laboratórios e campos

que agreguem valor à sua formação de maneira mais significativa, podendo assim,

influenciar no rendimento do aluno nas disciplinas, oferecendo maior grau de absorção

do conteúdo com auxílio da prática. As experiências práticas podem também influenciar

diretamente no nível de preparo do egresso, apresentando de forma palpável os

desafios que podem ser encontrados ao sair do ambiente universitário.

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Figura 17: Impacto do Planejamento Estratégico no Nível de Preparo do Egresso. Fonte:

Elaboração Própria.

Foi evidenciado também o impacto das Políticas Externas ao DEI na sua

performance que, por se tratar de uma instituição federal, é altamente influenciada pelos

direcionamentos políticos dos grupos que compõem o governo. É válido ressaltar que o

serviço prestado é público, mas não gratuito. E assim, são determinadas ações de

pessoas que não estão diretamente vinculadas à operação do departamento que

acabam definindo fatores essenciais para o planejamento dos processos, como a

Quantidade de Alunos entrantes, ou seja, o número de vagas disponível, a Quantidade

de Professores que podem compor o corpo docente, a estrutura do curso e,

consequentemente, a Carga Horária em Sala e demanda por processos burocráticos

que dificultam o desenvolvimento das atividades mais importantes na preparação do

jovem para o mundo profissional.

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Figura 18: Impacto Negativo das Políticas Externas ao DEI. Fonte: Elaboração Própria.

Como mencionado anteriormente, a Burocracia exerce impacto negativo no

Planejamento Estratégico do curso, ao reduzir a autonomia e desestimular os

professores, e tal desestímulo afeta diretamente a qualidade da aula. Em adição, uma

má avaliação da capacidade de alunos e da disponibilidade de professores pode gerar

uma razão aluno/professor que também seja prejudicial para a qualidade da aula,

prejudicando a interação entre alunos e professores e o debate saudável em sala. Por

fim, interferências na carga horária podem restringir a possibilidade de o aluno

aproveitar as oportunidades de experiências práticas, que afeta diretamente a

preparação do egresso ao ser inserido no mercado de trabalho.

O último ciclo que merece destaque é o de retroalimentação da variável Nível de

preparo do Egresso, dado que quanto mais qualificado esse profissional chega no

mercado, melhor fica a Reputação da instituição que o preparou. Assim, mais pessoas

almejam ter tal capacidade de trabalhar em alto nível, atribuindo o sucesso do

profissional à sua formação básica. Logo, a Qualidade dos Entrantes é elevada, que

traz consigo um maior Nível de dedicação dos alunos, já que estes entram na

universidade após um processo de seleção mais concorrido, focado no objetivo final que

é ser um engenheiro de produção altamente qualificado. Assim, o Rendimento do aluno

nas disciplinas será maior e, portanto, o Nível de preparo do Egresso também.

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Figura 19: Ciclo de Realimentação do Nível de Preparo do Egresso. Fonte: Elaboração Própria.

De maneira geral, o Diagrama de Enlace Causal evidencia as variáveis que

podem afetar mais ou menos o sistema como um todo, obtendo assim os pontos de

alavancagem do processo estudado. No caso particular da operação do DEI, que visa

preparar os alunos da melhor maneira possível para o mundo profissional, fica aparente

a importância da Qualidade da Aula e do Planejamento Estratégico para alcançar níveis

satisfatórios de preparo do egresso, uma vez que, as consequências de um trabalho

bem estruturado nesses quesitos podem impactar direta e indiretamente a qualidade do

ensino e a confiança do aluno ao chegar no seu primeiro emprego.

7.2 Árvore da Situação Atual

A Árvore de Situação Atual (ARA) é uma ferramenta que dá suporte para

identificação das causas dos efeitos indesejados de determinados processos. Ela é

construída da seguinte forma: primeiro, são identificados os efeitos indesejados do

processo, depois, as possíveis causas são traçadas, abaixo do efeito, e então, as

causas são detalhadas até serem encontradas as chamadas “causas-raízes”, que são

os problemas primordiais que geraram os efeitos indesejados após uma cadeia de

eventos. Foi construída uma versão de Árvore de Realidade Atual conforme criada por

Goldratt e descrita por Baldissera e Oliveira (2016) para o processo de formação de

alunos pelo DEI e ela pode ser encontrada no Apêndice D.

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No caso do processo de formação de alunos, o efeito indesejado é o despreparo

do aluno ao deixar a faculdade e ingressar no mercado do trabalho. E essa falta de

preparação pode ser oriunda tanto da deficiência de absorção do conhecimento teórico

quanto à escassez de aprendizados práticos.

O conhecimento teórico é construído através do hábito de leitura do aluno,

buscando ampliar seus horizontes em fontes externas e alcançando um bom rendimento

nas disciplinas. Também, é preciso que o conteúdo passado esteja atualizado, de forma

a evitar defasagem quando esse aluno se deparar com os desafios do mercado de

trabalho. Aprofundando mais nas causas desse problema, é possível identificar que o

desinteresse do aluno é um fator primordial na falta do hábito de leitura e na pouca

busca por conhecimento em fontes externas. Além disso, esse desinteresse, aliado à

métodos de ensino ineficientes e poucas experiências práticas para complementar o

conteúdo das disciplinas, tornam o rendimento do aluno abaixo do necessário para

montar um arcabouço teórico condizente com a estratégia do departamento.

Ao desinteresse dos alunos pode ser atribuída uma estrutura de grade curricular

inadequada, que também resulta no conteúdo desatualizado. A grade curricular deve

mesclar os conhecimentos básicos que moldam o raciocínio do engenheiro e os

conhecimentos profissionais, que serão aplicados no exercício da profissão e que foram

o grande atrativo do aluno ao ingressar na UFRJ. A análise da estrutura da grade

curricular não deve levar em conta apenas a ordem na qual as disciplinas são

oferecidas, mas também quais disciplinas são oferecidas. Algumas disciplinas podem

estar defasadas e terem se tornado obsoletas e desnecessárias no que tange as

demandas de mercado.

Em relação a ineficiência do método de ensino, pode haver uma relação com a

falta de treinamento dos professores ou até falta de busca por novas maneiras de dar

aula. Talvez a aula exploratória acompanhada de uma avaliação nos moldes tradicionais

esteja se tornando ultrapassada. Com o advento da tecnologia e das soluções de

internet, os alunos possuem uma rotina muito dinâmica em suas experiências pós-

universidade, e esse ponto deveria ser introduzido já em sala de aula. Na Inglaterra, por

exemplo, as provas são responsáveis por apenas 20-30% da nota global dos alunos

(Henry, 2012), perdendo cada vez mais a sua importância e dando lugar aos trabalhos

e relatórios. A avaliação contínua também seja uma solução, pois o aluno precisa ser

testado em algum momento de forma a comprovar que possui o conhecimento

necessário para obter o grau de engenheiro.

Outro fator que reduz o nível de interesse dos alunos é a falta de interação entre

aluno e professor, que é consequência de professores pouco engajados, uma vez que

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estes não demonstram ter a motivação ou o tempo para se relacionarem mais com os

alunos. Essa falta de engajamento tem suas origens na altamente complexa burocracia

nos processos internos e em problemas de infraestrutura. Assim, o tempo dos

professores é tomado por atividades que não contribuem diretamente para o

aproveitamento das interações com os alunos. Adiciona-se à burocracia os problemas

de infraestrutura, como as eventuais quedas de luz e de abastecimento. No entanto, o

problema estrutural mais preocupante é até certo ponto externo, advindo da localização

do Departamento de Engenharia Industrial. A Ilha do Fundão possui difícil acesso e vem

se mostrado um ambiente um tanto perigoso, com frequentes sequestros e assaltos, o

que também contribui para a falta de comprometimento por parte dos professores em

melhorar a operação do DEI em geral. Um exemplo disso foi o sequestro de um

professor da Coppe no final de 2016, ao meio-dia, no estacionamento dos fundos do

Centro de Tecnologia (AdUFRJ, 2016). O transporte público também está

comprometido, só no mês de novembro de 2016 foram 24 assaltos a ônibus que

tramitam na Cidade Universitária (O GLOBO, 2016).

O egresso pode se ver despreparado para a rotina profissional ao sentir falta de

conhecimento prático durante o período na graduação. Esse conhecimento está

refletido no domínio das ferramentas de mercado e nas experiências práticas de

qualidade que poderiam ser oferecidas, como visitas mais constantes à laboratórios e

fábricas. Ou seja, caso fossem oferecidas mais oportunidades para o aluno conhecer

as ferramentas de mercado e o campo de trabalho do engenheiro de produção, a

transição para o mercado de trabalho poderia ser menos impactante. Percebe-se, no

entanto, que a carga horária em sala de aula restringe o tempo disponível para

visitações e cursos complementares, já que é preciso não apenas ir às aulas, mas

também revisar o conteúdo para ter um bom desempenho nas avaliações.

Como já mencionado, o resultado da construção dessa ARA é a identificação

das causas-raízes dos efeitos indesejados, ou seja, as causas que não possuem

precedentes. No processo estudado, o efeito indesejado é o aluno estar despreparado

para exercer sua profissão após o período na universidade e as causas que

desencadeiam uma série de outros problemas e não possuem precedentes são:

Estrutura da Grade Curricular Inadequada

Falta de Treinamento

Burocracia nos processos internos

Problemas de infraestrutura

Carga horária em sala de aula restritiva

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Essas causas, com exceção da burocracia, têm em comum o fato de serem

decisões gerenciais. Em outras palavras, são os tomadores de decisão que podem

solicitar estudos para revisar a estrutura da grade curricular e a alocação de horas em

sala. Também, é papel dos líderes da instituição definir investimentos de infraestrutura

e dedicar recursos para treinamento do quadro de funcionários. No entanto, a burocracia

é externa aos gestores do DEI, que podem atuar para facilitar os processos burocráticos

com o uso da tecnologia, mas é um ponto mais engessado quando comparado às outras

possíveis alterações que pode impactar a formação do aluno.

7.3 Visão dos alunos

Por se tratar de uma instituição focada em formar profissionais pensadores de

soluções para problemas em sistemas, o DEI encontra-se cercado de mentes capazes

de propor ideias e dar opinião sobre possíveis melhorias para sua operação. Foi

seguindo esse pensamento que os autores solicitaram em questionário para os alunos

opinarem quanto ao cumprimento da estratégia pretendida e quanto ao impacto que

algumas medidas teriam no processo de formação de alunos de qualidade. Essas

perguntas foram inseridas no mesmo questionário utilizado para captar a percepção dos

alunos quanto a estratégia do departamento. O intuito era identificar os gaps

vislumbrados pelos alunos e também quais fatores eram tidos como mais importantes

para a performance dos próprios alunos, além de entender a satisfação dos mesmos

com a operação do DEI. As respostas se encontram no gráfico no Apêndice E.

A pergunta que media a satisfação dos alunos foi colocada como uma escala

likert, onde os alunos deveriam responder o grau de cumprimento dos objetivos que o

DEI estava atingindo. Percebe-se então que a maioria dos alunos vê a operação do

DEI como neutra, nem muito ruim nem muito satisfatória, apesar de 47% dos alunos

terem marcado 4 ou 5. O resultado está na Figura 20, em forma de gráfico.

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Figura 20: Respostas ao Questionário. Fonte: Elaboração Própria.

Analisando os resultados da pergunta que media o impacto das ações, é possível

observar que os alunos veem como medida de maior impacto a implementação de

indicadores para avaliação de desempenho dos professores. Apesar de ser uma ação

trabalhosa e que pode encontrar bastante resistência, 71% dos alunos percebem que

esta medida teria grande impacto na melhora do desempenho do DEI. Seguindo essa

linha, possíveis investimentos em treinamentos para melhorar a didática dos

professores foi vista como positiva de forma unânime, ou seja, nenhum entrevistado

indicou que tal atitude pioraria a situação ou não teria impacto algum, sendo que 61%

avaliaram como uma ação de alto impacto positivo. Esta foi a mesma proporção de

alunos que identificou no uso de ferramentas comuns no mercado de trabalho, como

Excel, PowerPoint e outros, uma medida que traria muitos benefícios para a formação

do aluno.

Ambas as opções de alteração na carga horária em sala de aula – aumentar ou

diminuir – foram tomadas com precaução pelos avaliadores. Um aumento na carga

horária foi visto como prejudicial por 44% dos entrevistados e a diminuição na carga

horária foi considerada de pouco ou nenhum impacto por 56% dos alunos. Isso mostra

ao mesmo tempo um certo receio em alterar a distribuição da carga horária e uma falta

de estudo sobre os efeitos de tal alteração.

Ainda na questão estrutural, a redução da quantidade de alunos por sala de aula

foi vista como uma ação de pouco impacto por 54% das pessoas, e a melhoria da

infraestrutura aparece como pouco ou razoável impacto para 80% dos alunos, indicando

mais uma vez indiferença quanto a mudanças no estilo tradicional de aula. No entanto,

0

5

10

15

20

25

30

Nem deperto

1 2 3 4 5 Com Certeza

Você acha que o DEI cumpre com seus objetivos?

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a oferta de mais atividades extracurriculares é tida como uma ação de muito ou razoável

impacto para 88% da amostra, o que indica claramente uma demanda reprimida por tais

oportunidades.

No que mais se relaciona com a rotina operacional do departamento, um

aumento no orçamento foi tido como muito impactante positivamente ou de forma

razoável para 61% dos alunos. E um aumento da autonomia das decisões do DEI é vista

da mesma forma por 76% dos entrevistados. Uma possível conclusão é que os alunos

confiam na capacidade de gestão dos líderes do departamento e veem com bons olhos

o aumento do nível de recursos e de liberdade para tomada de decisão. Ainda, 75%

reconhecem que uma redução de burocracia teria um impacto positivo ao menos

razoável na melhora do desempenho do DEI.

Em resumo, os alunos acreditam ser prioridade melhorar a performance dos

professores dentro de sala de aula, oferecendo treinamentos e motivando através de

indicadores. Ainda, existe uma demanda por mais atividades extracurriculares e

aprimoramento do conhecimento das ferramentas utilizadas no dia-a-dia do exercício

da profissão. Contudo, é desejo dos alunos que os tomadores de decisão do

departamento tivessem maior autonomia para indicar as direções a seguir, confiando

neles um maior orçamento.

7.4 Análise do Diagnóstico

O estudo realizado visou entender melhor os desafios encontrados pelo

departamento ao buscar formar os alunos mais preparados possível para o mercado.

Com auxílio das ferramentas de análise de relação de causa e consequência entre as

variáveis, como o Diagrama de Enlace Causal, para captar feedbacks, e a Árvore de

Realidade Atual, para buscar as causas-raízes, foi possível entender a necessidade de

um Planejamento Estratégico, construído coletivamente, com a participação de

docentes e discentes.

Assim, ficou claro que a responsabilidade para a melhora do desempenho do

DEI recai sobre a liderança do departamento, mas que, ao ser atacado o ponto de

alavancagem, o menor dos estímulos já pode ganhar força através dos ciclos de reforço,

das reações em cadeia que podem ser acionadas.

Portanto, de forma a contribuir para uma solução que gere impacto positivo na

construção de profissionais com capacitações aderentes às necessidades do mercado,

será proposto uma metodologia para realização de um planejamento estratégico pelos

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membros do departamento. O intuito é, através da alocação cuidadosa dos recursos

disponíveis e de estudos de melhores práticas, conseguir atingir um nível de preparo

alto dos egressos, para que os alunos formados sejam capazes de exercer a função de

engenheiro de produção em alto nível, contribuindo para a produtividade das

organizações e também para a reputação do DEI, de forma a incentivar os jovens que

tenham aspirações grandes a buscarem na operação do DEI um porto seguro e ponto

de alavancagem para suas carreiras.

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8 Proposta de Plano de Ação

No capítulo anterior, vimos que existe hoje uma grande oportunidade no

Departamento de Engenharia Industrial em relação ao planejamento estratégico. Um

melhor entendimento da situação atual e dos desafios enfrentados, seguido de

avaliações de caminhos possíveis e a escolha de um deles para supera-los, em conjunto

com ações coerentes, podem solucionar muitos dos problemas existentes hoje e levar

o DEI a um novo patamar.

Como o intuito deste trabalho, desde sua concepção, era de oferecer um

conteúdo que fosse aplicável ao caso, não permanecendo somente no campo teórico,

mas apresentando uma contribuição genuína, este capítulo é dedicado justamente a

proposta de um plano de ação focado no objeto de estudo. Para isso, além dos conceitos

e teorias já abordadas, algumas novas visões importantes relativas a estratégia serão

abordadas, além de conceitos específicos considerados como chave para o caso.

Alguns modelos propostos pela literatura existente serão expostos, acompanhados de

alguns exemplos baseados nas instituições hoje consideradas benchmarks no campo

da engenharia.

8.1 Modelos de Planejamento Estratégico

Antes de iniciar a construção de um modelo específico para o DEI, considerando

a especificidade do seu contexto, este tópico apresenta um resumo das principais

práticas de mercado para o planejamento estratégico, com base em estudos das

diversas abordagens possíveis, das ferramentas comumente utilizadas e dos exemplos

práticos nas universidades de referência.

Considerando as diversas abordagens apresentadas na literatura, observa-se

que há um padrão na construção de um planejamento estratégico, com a presença de

três etapas básicas. Dependendo da fonte ou do framework construído, estas podem

estar dispostas em até quatro ou cinco estágios, mas os mesmos podem ser

combinados para novamente formar um grupo de três fases. Estas são: definição do

destino (ou objetivos), identificação da situação atual e a construção da estratégica,

responsável por ligar o presente ao futuro desejado. Interessante observar que a ordem

dos dois primeiros elementos não é um consenso, mas também não existem estudos

que identifiquem ganhos com a realização de um antes do outro ou vice-versa.

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O primeiro estágio é quase que uma unanimidade, tanto na teoria, quanto na

prática. A esmagadora maioria dos documentos apresenta a identidade organizacional,

composta por missão, visão e valores, e a definição de objetivos, que podem ser tanto

quantitativos como qualitativos, como necessários para construir um bom plano para o

futuro. A missão permite a organização entender a sua razão de existir, o seu propósito.

A visão, por sua vez, representa o grande sonho da organização no longo prazo, aonde

ela deseja chegar. Já os valores são as crenças e ideais que orientam o comportamento

e a conduta, sendo estes necessariamente intrínsecos e duradouros. Estes conceitos,

apesar de frequentemente utilizados, costumam ser acompanhados de muito floreio e

pouco conteúdo, perdendo assim boa parte de seu valor. Estabelecer o DNA, o farol e

a cultura de uma empresa são úteis quando feito de forma clara e objetiva, caso

contrário, torna-se apenas um belo e vazio discurso. Para as resoluções da organização,

a situação não é muito diferente. Estabelecer objetivos a serem conquistados tanto no

curto quanto no longo prazo, seja em números ou em conceitos, pode funcionar como

um bom referencial para a empresa. No entanto, caso sejam construídos objetivos

inalcançáveis, tornam-se opacos e sem finalidade, assim como no caso da identidade.

Em caminho contrário ao primeiro estágio, o segundo, referente ao diagnóstico

da situação atual, é o mais discrepante dentre os três. Isto porque em muitas das fontes

teóricas as ferramentas apresentadas ainda são as mesmas de décadas atrás, como a

das cinco forças de Porter, colocada por Michael E. Porter (1979), que permite uma

análise da atratividade da indústria, ou a matriz SWOT, criada por Albert Humphrey na

década de sessenta, que apresenta um resumo das forças, fraquezas, oportunidades e

ameaças existentes no ambiente do objeto de estudo. Ambas, já muito conhecidas, são

consideradas muitas vezes ultrapassadas e inadequadas a muitas situações. Outra

análise também apresentada como possível neste contexto é a Cultural Ambiental

Mercadológica Geográfica Política Econômica Social e Tecnológica (CAMGPEST),

apresentada pela professora Maria Alice Ferruccio nas aulas de Marketing da graduação

de Engenharia de Produção da UFRJ, em 2016.

Apesar da insistência nessas ferramentas por parte da bibliografia, nos

planejamentos das universidades de desempenho superior – Stanford, MIT e

Cambridge - não são encontradas nenhuma delas. Na verdade, nota-se uma

diversidade de análises que parecem muito mais sensatas e menos limitadas.

Possivelmente estas ferramentas foram utilizadas para ajudar a entender o contexto,

mas para fins de documentações há ou a presença de análises quantitativas, com

gráficos e números que ajudam a entender a realidade, ou a descrição do entendimento

de informações qualitativas consideradas importantes para o cenário atual das escolas.

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A terceira etapa é, por essência, a mais difícil e importante do planejamento

estratégico. A construção da estratégia é o grande desafio que emerge diante dos

gestores. Naturalmente, esta etapa perde seu valor caso as outras duas não tenham

sido cumpridas de forma perspicaz. Mas ainda assim, conceber os possíveis caminhos

para superar os obstáculos rumo aos objetivos, avaliando e reavaliando as

possibilidades, estabelecendo políticas e ações coerente é um trabalho complexo e

muitas vezes relegado. Uma prova disso é a assustadora quantidade de estratégias

baseadas apenas em metas e/ou objetivos. Este tipo de abordagem não gera nada além

de perguntas sobre como chegar lá.

Esta realidade possivelmente é consequência da pouca clareza da teoria.

Apesar das fontes sempre salientarem que a maneira como se chega lá é importante, a

falta de bons exemplos acaba gerando interpretações errôneas ou tangenciando aquilo

que seria o verdadeiro âmago do desafio. Ainda assim, é possível encontrar documentos

mais elaborados sobre a questão. Os materiais mais trabalhados ressaltam a

importância de transformar a visão e os objetivos de longo prazo em prioridades,

iniciativas e até objetivos de curto-prazo. Estes são os que irão guiar as ações imediatas

das organizações. Além disso, muitas destas fontes ressaltam o valor de se ter uma

forma de medir os resultados, acompanhando o progresso da situação. Neste sentido,

os indicadores de performance são os mais citados, principalmente dentro da

ferramenta de Balanced Scorecard, que permite ligar objetivos a indicadores, com metas

estabelecidas e formas de agir para atingir os resultados.

Esta dificuldade para estabelecer as políticas guias e ações coerentes da

estratégia, contudo, não foi encontrada nos documentos de nenhuma das universidades

Top 3 mencionadas anteriormente. Pelo contrário, a clareza com que os planos

estratégicos das três universidades estabelecem essas medidas merece destaque.

Apenas para exemplificar, a universidade de Stanford entende que um de seus objetivos

é trabalhar em cima dos maiores desafios da humanidade, gerando impacto dentro dos

próximos vinte anos. Para isso, estabeleceram dez perguntas sobre as quais gostariam

de refletir e encontrar soluções. Uma delas é “como engenharia poderia garantir que a

humanidade floresça em cidades do futuro?”. Desdobrando desde a visão de desafio

até acharem as ações para supera-lo, o comitê responsável pelo planejamento

estratégico concluiu que uma das ações necessárias é criar um “acelerador de

engenharia colaborativa”. Este projeto proverá recursos para pesquisas

interdisciplinares, combinando pessoas de diversas áreas e momentos de vida distintos

(estudantes, graduados e pós-graduados) em um programa de competição em times,

no qual devem trabalhar juntos para encontrar soluções para os problemas mundiais

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mais urgentes. Observa-se claramente como que, a partir da visão estabelecida para a

Universidade de Stanford, foi feito todo um desdobramento até encontrar ações que tem

potencial para gerar os impactos desejados.

8.2 Proposta de Implantação

O planejamento estratégico envolve diversos aspectos, como as ferramentas, os

conceitos, o processo de construção da estratégia e a dinâmica em si. Dentre estes,

será considerada de forma detalhada a maioria, com exceção da dinâmica. Os possíveis

formatos, o tempo de duração, o local e outras características próprias da dinâmica, não

serão abordadas na presente proposta. Isto porque este tipo de conteúdo necessitaria

de um estudo mais profundo e não seria necessariamente aplicável, dadas as diversas

limitações de orçamento e tempo do departamento.

O primeiro passo é pensar o grupo que estará envolvido no planejamento, e a

literatura indica que o grupo não deve ser muito grande, pois traz complexidade sem

muitos ganhos. De acordo com Karen E. Hinton (2012), em seu Guia Prático para

Planejamento Estratégico no Ensino Superior, um grupo de 10 a 12 pessoas é o ideal.

Além disso, é importante que ao menos um, idealmente dois, de cada parte envolvida

(docentes, discentes e funcionários) participem. Essa diversidade enriquece a

construção do pensamento ao trazer diferentes visões de uma mesma questão. Por

último, parece razoável realizar o processo no período de férias do meio de ano, quando

os stakeholders tem um alívio em suas atividades rotineiras, mas ainda assim

permanecem no Rio de Janeiro.

Como apresentado no tópico anterior, a construção do planejamento estratégico

em três etapas é bem aceita pela bibliografia. Desta forma, preciso gastar energia

reinventando a roda, assim, recomenda-se que este modelo seja também utilizado no

processo do departamento. Apenas relembrando, a primeira etapa consiste na definição

dos objetivos de longo prazo, a segunda no diagnóstico da situação atual e a terceira

na construção da estratégica, concebendo políticas guias e ações coerentes para que

a organização caminhe para o alvo.

Já entrando nesta primeira fase, de construção da visão de longo prazo para o

departamento, a aplicação da técnica de identidade organizacional de forma regrada,

ou seja, preenchendo o modelo de espaços em branco, será de grande valor para o

departamento. Ao observar os resultados da pesquisa utilizada na construção da

estratégia percebida, os relatos dispostos no tópico da estratégia pretendida e as

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experiências adquiridas durante os cinco anos no fundão, fica fácil concluir que o DEI

carece hoje de uma identidade, de um entendimento de qual seria sua missão, sua visão

e seus valores. Este exercício, apesar de parecer simples, pode mostrar quão confuso

tem sido estes conceitos para os diversos stakeholders.

Ainda com relação a primeira fase, a escolha de objetivos de longo prazo

também parece fundamental para o planejamento do DEI. A falta de determinação de

alvos para o futuro pode significar a manutenção da falta de foco existente hoje no

departamento. Para a construção desta curta lista, o modelo utilizado por Stanford tem

boa aplicação em nosso caso. A construção de uma lista com desafios onde os cursos

podem e devem ter impacto parece uma ótima forma de empregar a missão do

departamento em causas específicas. Estes dois passos, se bem aplicados, devem

compor uma visão de longo prazo robusta e suficientemente clara para guiar as

próximas etapas e iluminar o caminho da repartição.

Outra questão que não pode ser desprezada é a definição de objetivos de curto

prazo. Em meio a tanta incerteza, dado o contexto da organização, e tantas definições

intangíveis, possivelmente muitos do corpo docente se aposentarão antes que certos

alvos sejam conquistados, o objetivo imediato pode ter um papel transformador no

departamento. Um bom objetivo imediato, de acordo com Rumelt, “faz maravilhas em

temos de energia e foco organizacional”. Além disso, a criação de metas de curto prazo

pode levar a superação de degraus importantes para os objetivos de longo prazo.

Importante ressaltar aqui que para um objetivo imediato ser considerado bom, ele deve

ser factível no curto prazo, de modo que o departamento possa atingi-lo ou até mesmo

supera-lo.

Cumprida esta etapa, o grupo estará pronto para o segundo estágio, de

diagnóstico da situação atual. Antes de entrar no passo a passo dessa fase, é válido

introduzir mais alguns conceitos que considerados como fundamentais neste estudo, os

de inércia e entropia. No contexto dos negócios, “a inércia é a incapacidade ou falta de

disposição de uma organização em se adaptar às novas circunstâncias”. Dessa forma,

caso os fatores externos permaneçam constantes, nada mudaria para uma organização

saudável e eficiente que sofre de inércia. Há, porém, outra força que pode atuar nesse

sistema, a entropia. O conceito científico refere-se ao grau de desordem de um sistema

e, de acordo com a segunda lei da termodinâmica, a entropia sempre aumenta em um

sistema físico isolado. A aplicação disso no mundo dos negócios é que organizações

mal geridas tendem a ficar menos organizadas e focadas.

Pois bem, o departamento de engenharia industrial sofre destes dois males.

Importante deixar claro que os gestores passados ou atuais são os culpados. Os fatos

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indicam que as burocracias existentes somadas as opiniões extremas dos envolvidos

levaram o departamento a entrar em piloto automático, não existindo mais apoio as

políticas ou ações estabelecidas. Isto, com o tempo, tornou-se hábito, o que fez o

sistema ficar cada vez mais confuso. Apesar deste cenário caótico, vale ressaltar os

esforços de muitos dos docentes, inclusive do atual chefe do departamento, professor

Vinícius Cardoso, orientador deste trabalho. Mesmo diante de tantas dificuldades, não

tem poupado energia na tentativa de enfrentar os desafios existentes. Contudo, a inércia

ainda parece ser uma grande barreira. Espera-se, com este alerta, demonstrar a

importância de uma mudança de rumo para o departamento também através da

reconstrução da rotina.

Voltando para a segunda etapa em uma visão mais ampla, esta fase merece

uma dedicação especial. Dados os contextos econômicos, sociais e políticos em que se

insere a unidade, conforme apresentado no capítulo três, é preciso ter muito cuidado

com a identificação da situação atual do departamento. Muitos dos pontos negativos

podem originar-se em fatores externos, como os limitados recursos, e terão pouca

serventia na criação de insights de solução. Isto não significa que devem ser ignorados,

mas que podem ser setorizados, sendo considerados limitações para o sistema

existente e/ou possíveis ameaças futuras.

Em termos de ferramenta para este estágio, nenhuma parece ser

obrigatoriamente aplicada. Na verdade, como muito tempo se passou desde a última

reflexão estratégica, a utilização das diversas ferramentas existentes pode ajudar a

construir na cabeça de cada participante um cenário mais claro da situação. Caso a

etapa de diagnóstico seja feita de forma superficial, provavelmente a solução

encontrada também será superficial. Sendo assim, é recomendável que seja dedicado

um tempo maior a esta etapa e que sejam aplicadas ferramentas variadas para

identificação da realidade atual do departamento (SWOT, CAMGPEST, etc.).

Este documento apresenta também alguns diagnósticos que podem ser úteis

para entendimento do todo. O diagrama de enlace causal, a árvore da realidade atual e

os resultados da pesquisa podem trazer novos pontos de vistas de uma única realidade,

complementado o trabalho do grupo.

Tendo concluído com êxito a segunda etapa, o processo pode enfim chegar a

parte considerada mais desafiadora e interessante: a criação da estratégia, ou seja,

como os deságios existentes serão enfrentados de forma a conquistar os objetivos

previamente estabelecidos, quais serão as políticas guias e as ações coerentes

definidas. Conforme já apresentado na revisão bibliográfica, a estratégia tem um

componente empreendedor por natureza, o insight. Não se sabe ao certo como certas

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ideias surgem, mas a verdade é que diariamente essas súbitas soluções são essenciais

para lidar com os problemas corriqueiros.

Na estratégia muitas vezes não é diferente. Ao exercitar a mente buscando ligar

a situação presente ao futuro desejado, lapsos de soluções surgem, algumas até

aparentemente milagrosas. Com base em análises das barreiras existentes, das

habilidades e capacitações a serem conquistadas, além da identificação de pontos

fortes, constrói-se todo um cenário no qual certas ideias parecem irrefutáveis. Pois não

são. Assim como também não há milagres no pensamento estratégico. Da mesma forma

que o diagnóstico surge de uma análise pragmática da realidade, os bons insights

precisam ser questionados e trabalhados até se tornarem uma estratégia.

As ferramentas existentes para a criação de uma estratégia nunca terão o

mesmo valor que boas ideias, pois aquelas servem apenas para orientação, não

podendo substituir os insights. Acontece que, ao ter uma primeira ideia para um

problema complexo, faz-se como um homem ao mar que, ao ver uma boia em meio a

tempestade, agarra-a como a última esperança. Mas não se trata de um caso de vida

ou morte, ao menos não no curto prazo. Por isso, é preciso ter cuidado com os insights,

questionando-os e aprimorando-os para chegar a um resultado verdadeiramente

valioso.

No livro “Estratégia boa, Estratégia ruim”, algumas técnicas interessantes são

dispostas para que abordagens superficiais sejam evitadas. A primeira delas é submeter

o insight estratégico ao conceito do cerne. Há nessa ideia a combinação entre o

diagnóstico, políticas guias e ações coerentes? Caso a resposta seja não, significa que

algum importante aspecto está sendo deixado de lado e precisa ser trabalhado, pois

este é o que Rumelt (2011) considera como “esqueleto mínimo” da estratégia. Outra

abordagem de avaliação tem base na mudança do ponto de vista, mudando o foco da

ação em si para o porquê da mesma. Assim busca-se entender (ou relembrar) qual é o

problema a ser solucionado na questão. E a terceira técnica apresentada é a de “criar-

destruir”. Esta trata da criação de novas estratégias, diferentes em sua essência da

anterior, buscando, na verdade, explorar justamente seus pontos fracos. Este tipo de

abordagem permite não só colocar a prova a ideia anterior, como considerar novos

caminhos, processo essencial no planejamento estratégico.

A observação destes pontos e o cumprimento das etapas propostas já seriam

suficientes para concluir um bom planejamento estratégico para o Departamento de

Engenharia Industrial. Ainda assim, existem mais dois conceitos que, se considerados

de maneira eficaz, podem potencializar os resultados. O primeiro é um velho conhecido

da engenharia de produção, a alavancagem. Identificar os pontos centrais da situação

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enfrentada pode levar a uma concentração de esforço que pode vir a multiplicar os

resultados. Conseguir estabelecer um foco para os escassos recursos do DEI pode

gerar grandes recompensas no curto ou médio prazo. O segundo é o de abordagem de

estratégia como projeto. Coordenar as ações como um todo, trabalhando nas diversas

interações existentes no sistema, podem gerar ganho significativo. Desta forma, é

necessário um ajuste mútuo e coerente dos componentes para que se obtenha o melhor

funcionamento do todo.

Finalizado o processo de planejamento e definida qual será a estratégia, terá

início a experimentação científica. A hipótese será testada e os resultados começarão

a surgir. A partir disso, a velocidade de aprendizagem sobre o que funciona e o que não

funciona pode ser chave no sucesso da estratégia. Caso a leitura sobre o que não tem

dado certo demore, possivelmente o grupo retornará a inércia, desestimulados com os

consecutivos insucessos.

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9 Conclusão

O presente projeto de graduação parte do princípio que é possível aprimorar o

desempenho do DEI no que tange a formação de alunos a partir dos ensinamentos

obtidos ao longo do curso de Engenharia de Produção. Um bom teste para o

aprendizado obtido em sala de aula seria a aplicação desses conceitos na operação do

próprio departamento. Reconhecendo o caráter estratégico desse princípio, identificou-

se a necessidade de mapear a estratégia do departamento de forma clara antes de partir

para o detalhamento dos problemas que, no ideal do engenheiro de produção, deve ser

sempre sucedida de propostas de soluções, que surgem naturalmente após uma análise

sólida da situação atual. Em outras palavras, o trabalho de elaboração de um

diagnóstico detalhado leva quase que consequentemente às possíveis formas de

solucionar os problemas.

Sendo assim, buscou-se maior visibilidade da estratégia pretendida - idealizada

de forma autocrática pelo chefe de departamento devido à falta de um planejamento

estratégico coletivo - que pode ser resumida na busca de formação de alunos

preparados da melhor maneira possível para a início da sua carreira profissional,

munidos de um arcabouço teórico extenso e de conhecimento das boas práticas do

mercado. Também foi interessante captar a percepção dos alunos quanto a esse ponto

e a opinião dos alunos quanto a estratégia do departamento se aproxima da elaborada

pelo chefe de departamento. Em relação à estratégia realizada, esta foi avaliada ao

serem analisados os rankings universitários. Nesse quesito, a performance se faz

satisfatória, pois o curso de engenharia de produção da UFRJ foi considerado o melhor

do país no ranking nacional mais respeitado atualmente, o ranking da Folha. Ainda

assim, em todas as outras avaliações, a UFRJ está atrás de USP e UNICAMP, indicando

que há ainda um caminho a percorrer para se consolidar como referência nacional.

Vale lembrar que ser o melhor no comparativo não significa diretamente que o

serviço é de alta qualidade. Pode ser que o padrão geral seja baixo, e isso não interessa

para o mercado de trabalho. Logo, é preciso buscar sempre a melhora operacional,

independente da validação de análises externas.

Com a estratégia bem esclarecida, o projeto prosseguiu em investigar os

problemas encontrados na operação do DEI, utilizando ferramentas de construção de

modelos mentais para identificar os efeitos indesejados e suas causas-raízes, além das

relações entre as variáveis que regem esse sistema complexo, de forma a destacar os

pontos de alavancagem. Ficou evidente que um planejamento estratégico era

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necessário, pois esse possibilitaria que determinadas decisões fossem tomadas com

mais cuidado e estudo, com o direcionamento adequado.

Então, o trabalho entrega finalmente uma metodologia adequada para a

realização de um planejamento estratégico coletivo, envolvendo os diversos atores

interessados e habilitados a contribuir para a evolução do desempenho do DEI. Esse

planejamento deve seguir as três etapas tidas como as melhores práticas pela literatura,

que são: definição de objetivos de longo prazo, diagnóstico da situação atual e definição

das políticas que irão colocar a operação nos eixos da estratégia.

Esse projeto pode ser complementado por estudos que visem validar os

argumentos e relações apresentados, como métodos mais aprimorados de aula e uma

possível grade curricular mais adequada à realidade do mercado. Análises que

discriminem os fatores que contribuam para geração de mais interesse dos alunos e

mais engajamento dos professores também seriam muito proveitosas.

Em conclusão, há certa expectativa que esse estudo possa retribuir o

investimento na formação dos autores, dada a gratidão que estes possuem para com

seus professores e demais agentes dessa construção de perfil profissional. Então, caso

o planejamento estratégico seja de fato levado para frente, espera-se que os resultados

positivos sejam alcançados no médio-longo prazo.

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11 Apêndices

Apêndice A – Listas de Professores Ativos e Disciplinas Oferecidas.

(Fonte: Planejamento de Turmas para o período 2017.1, disponível no site do DEI)

Adriano Proença Ilson Pasqualino Paulo Couto

Amarildo Fernandes Ismael Soares Rafael de La Vega

André Salles José Augusto Kamel Renato Cameira

Armando Neto José Orlando Ricardo Mello

Carla Cipolla Juliana Carvalho Roberto Ivo

Domínio Proença Klítia Bicalho Roberto Ribas

Edilson Arruda Laura Bahiense Rosemarie Bone

Edison da Silva Leonel Duarte Samuel Jurkiewicz

Eduardo Jardim Lino Marujo Sérgio Leal

Felipe Addor Luis Armando Sidney Lianza

Francisco Duarte Luiz Filipe Vinícius Cardoso

Gustavo Silva Maria Alice Virgílio Ferreira

Mario Petzhold Nelson Fontes

Professores do DEI

Administração Financeira Gestão Cooperação de Resíduos Sólidos

Análise de Investimento Humanidades e Ciências Sociais

Análise Risco de Investimentos Instalações Industriais

Análise Sistêmica de Empresas e Produtividade Introdução à Economia

Completação de Poços Introdução à Engenharia de Produção

Contabilidade Gerencial Logística

Controle de Qualidade Macroeconomia

Custos Industriais Manufatura Integrada por Computador

Economia A Marketing

Economia B Metodologia de Pesquisa

Economia Brasileira Organização das Indústrias

Economia da Empresa Organização e Avaliação do Trabalho

Economia da Engenharia PAPESCA -Pesquisa Ação Cadeia Produtiva

Economia do Petróleo Pesquisa Operacional I

Empreendendorismo e Novos Negócios Pesquisa Operacional II

Engenharia da Informação Pesquisa Operacional III

Engenharia de Métodos Planejamento das Instalações

Engenharia de Processo de Negócios Planejamento e Controle da Produção I

Engenharia de Reservatórios Petróleo II Planejamento e Controle da Produção II

Engenharia do Entretenimento Planejamento Estratégico

Engenharia do Trabalho Probabilidade e Estatística

Estatística Aplicada I Projeto do Produto

Estatística Aplicada II Projetos Industriais

Ética e Engenharia de Produção Psicologia e Sociologia Industrial

Fundamentos da Engenharia de Petróleo Simulação

Gerência da Inovação e Cri Emp B. Tec Simulação e Modelo de Reservatório

Gerência de Informação Sistema Produção Mecânica e Controle Numérico

Gerência de Qualidade Tecnologia Social

Gerência de Recursos Humanos Tópicos Especiais em Sist de Info GP

Gerenciamento de Projetos e Engenharia Simultânea Tópicos Especiais Engenharia / Sistemas

Gerenciamento Monitoramento de Reservatórios

Disciplinas oferecidas pelo DEI na Graduação

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Apêndice B (parte 1) – Questionário aos Alunos (Elaboração Própria)

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Apêndice B (parte 2) – Questionário aos Alunos (Elaboração Própria)

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Apêndice C – Diagrama de Enlace Causal (Elaboração Própria)

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Apêndice D – Árvore de Realidade Atual (Elaboração Própria)

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Apêndice E – Respostas do Questionário sobre ações para melhoria do desempenho

do DEI (Elaboração Própria)