análise de gêneros hoje - bathia

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Re v.deLetras- N 0 .23- Vol. 1/ 2- j a n/de z.20 01 1 0 2 R esum o  A análise de gêneros , como estudo do comport amen - to lingüístico em contextos acadêmicos ou profissionais, tem  se tor nado extr emam ent e popu lar nos últ imo s anos , des-  per tan do amp lo in ter ess e entr e pesq uis ado res de d ive rsa s áreas teóricas e aplicadas. Este artigo apresenta um pano- rama da teoria de análise de gêneros, identificando os as-  pecto s comuns a suas princip ais vertente s e discu tindo algu- mas das importantes questões levantadas pela literatura recente. A conclusão trata das implicações dessas questões  para o desenv olvi ment o poster ior da teori a e para sua apli - cação no ensino. Palavras-chave: gênero; análise de gêneros; integridade  gené rica ; prátic as discu rsiv as.  Abst r act Genre analysis, as a study of linguistic behavior in academic or professional settings, has become extremely  popu lar in the last few years, causin g an incr easi ng intere st among researchers in several theoretical and applied areas. This paper presents a survey of genre analysis theory, identifying aspects in common in its main trends and  discussing some important questions raised by the recent  literature. The conclusive section deals with the implications of these questions to a subsequent development of the theory and to its application in teaching. K eywo r ds:  genre; genre analysis; generic integrity; discursive practices. I. INTRODUÇÃO Embora seja um desenvolvimento relativamente re- cente no campo dos estudos aplicados do discur so, a análise de gêneros tem se tornado extremamente popular nos últi- mos anos. O interesse pela teoria dos gêneros e suas aplica- ções não se restringe mais a um grupo específico de pesqui- sadores de uma área em particular ou de um setor q ualquer do globo terrestre, mas cresceu a ponto de as sumir uma re- levância muito mais ampla do que jamais foi imaginado. Candlin (1993) indaga com propriedade: O que há com o termo e com a área de estudos que ele representa, para que atraia tanta atenção? O que lhe  permite agrupar sob o m esmo abrigo terminoló gico críticos literários, retóricos, sociólogos, cientistas cognitivistas, especialistas em tradução automática, lingüistas computacionais e analistas do discurso, es-  pecialistas em Inglês para Fins Específicos e profes-  sores de língua? O que é isso que nos pe rmite reunir  sob o mesmo rótulo publici tários, especia listas em comunicação empresarial e defensores do Inglês Co- mum? (Candlin, 1993). “Claramente, trata-se de um conceito que encontrou seu momento oportuno”, aponta ele. Há atrativos óbvios nos diferentes modos como o termo tem sido utilizado na litera- tura recente. A própria natureza da estruturação genérica é multidisciplinar. A teoria dos gêneros leva a análise do dis- curso da descrição para a explanação da língua, tentando freqüenteme nte responder a questão:  Por que os memb ros de comunidades discursivas específicas usam a língua da maneira como fazem?  A resposta não leva em consideração somente fatores sócio-culturais, mas também fatores cognitivos, tentando, dessa forma, esclarecer não apenas os  pro pós itos com uni cat ivos da com uni dade dis cur siv a em questão, mas também as estratégias cognitivas empregadas  por seus membros para atingir esses propó sitos. Esse aspec- to tático da construção do gênero, sua interpretação e uso,  prova velmen te é um d os fa tores mais signif icativ os a con - AN ÁLISE DE GÊNEROS HOJ E* Vijay K. Bhatia Tradução de Benedito Gomes Bezerra · BHATIA, Vijay K. Genre analysis today.  Revue Belge de Philologie et d’Histoire , Bruxelles, 75:629-652. 1997. [Tradução: Benedito Gomes Bezerra]

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  • Rev. de Letras - N0. 23 - Vol. 1/2 - jan/dez. 2001102

    ResumoA anlise de gneros, como estudo do comportamen-

    to lingstico em contextos acadmicos ou profissionais, temse tornado extremamente popular nos ltimos anos, des-pertando amplo interesse entre pesquisadores de diversasreas tericas e aplicadas. Este artigo apresenta um pano-rama da teoria de anlise de gneros, identificando os as-pectos comuns a suas principais vertentes e discutindo algu-mas das importantes questes levantadas pela literaturarecente. A concluso trata das implicaes dessas questespara o desenvolvimento posterior da teoria e para sua apli-cao no ensino.

    Palavras-chave: gnero; anlise de gneros; integridadegenrica; prticas discursivas.

    AbstractGenre analysis, as a study of linguistic behavior in

    academic or professional settings, has become extremelypopular in the last few years, causing an increasing interestamong researchers in several theoretical and applied areas.This paper presents a survey of genre analysis theory,identifying aspects in common in its main trends anddiscussing some important questions raised by the recentliterature. The conclusive section deals with the implicationsof these questions to a subsequent development of the theoryand to its application in teaching.

    Keywords: genre; genre analysis; generic integrity;discursive practices.

    I. INTRODUO

    Embora seja um desenvolvimento relativamente re-cente no campo dos estudos aplicados do discurso, a anlise

    de gneros tem se tornado extremamente popular nos lti-mos anos. O interesse pela teoria dos gneros e suas aplica-es no se restringe mais a um grupo especfico de pesqui-sadores de uma rea em particular ou de um setor qualquerdo globo terrestre, mas cresceu a ponto de assumir uma re-levncia muito mais ampla do que jamais foi imaginado.Candlin (1993) indaga com propriedade:

    O que h com o termo e com a rea de estudos que elerepresenta, para que atraia tanta ateno? O que lhepermite agrupar sob o mesmo abrigo terminolgicocrticos literrios, retricos, socilogos, cientistascognitivistas, especialistas em traduo automtica,lingistas computacionais e analistas do discurso, es-pecialistas em Ingls para Fins Especficos e profes-sores de lngua? O que isso que nos permite reunirsob o mesmo rtulo publicitrios, especialistas emcomunicao empresarial e defensores do Ingls Co-mum? (Candlin, 1993).

    Claramente, trata-se de um conceito que encontrouseu momento oportuno, aponta ele. H atrativos bvios nosdiferentes modos como o termo tem sido utilizado na litera-tura recente. A prpria natureza da estruturao genrica multidisciplinar. A teoria dos gneros leva a anlise do dis-curso da descrio para a explanao da lngua, tentandofreqentemente responder a questo: Por que os membrosde comunidades discursivas especficas usam a lngua damaneira como fazem? A resposta no leva em consideraosomente fatores scio-culturais, mas tambm fatorescognitivos, tentando, dessa forma, esclarecer no apenas ospropsitos comunicativos da comunidade discursiva emquesto, mas tambm as estratgias cognitivas empregadaspor seus membros para atingir esses propsitos. Esse aspec-to ttico da construo do gnero, sua interpretao e uso,provavelmente um dos fatores mais significativos a con-

    ANLISE DE GNEROS HOJE*Vijay K. Bhatia

    Traduo de Benedito Gomes Bezerra

    BHATIA, Vijay K. Genre analysis today. Revue Belge de Philologie et dHistoire, Bruxelles, 75:629-652. 1997. [Traduo: Benedito GomesBezerra]

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  • Rev. de Letras - N0. 23 - Vol. 1/2 - jan/dez. 2001 103

    correr para sua popularidade atual no campo dos estudos dodiscurso e da comunicao. Uma das desvantagens de tal po-pularidade que quanto mais popular um conceito se torna,mais variaes de interpretao, orientao e estruturao soencontradas na literatura existente. Os analistas do discursointeressados na teoria dos gneros encontram-se presentemen-te numa situao algo similar a essa.

    Neste artigo, gostaria de elucidar a teoria da anlisede gneros, a fim de ver o que comum em suas vrias mani-festaes, identificar algumas das questes importantes le-vantadas na literatura recente e discutir as implicaes dessasquestes para o desenvolvimento posterior da teoria e parasua aplicao no ensino e aprendizagem de lnguas.

    II. ANLISE DE GNEROS

    Anlise de gneros o estudo do comportamentolingstico situado em contextos acadmicos ou profissio-nais, seja qual for o modo como encarado; quer em termosde tipologias de aes retricas, como em Miller (1984) eBerkenkotter e Huckin (1995); regularidades de processossociais gradativos e orientados para uma meta, como emMartin, Christy e Rotery (1987) e Martin (1993); ou consis-tncia de propsitos comunicativos, como em Swales (1990)e Bhatia (1993). A teoria de gneros, a despeito dessas orien-taes aparentemente diversas, apresenta uma considervelbase comum. Embora eu quisesse resistir tentao de de-monstrar exaustivamente os pontos comuns nessas diferen-tes abordagens, preciso apontar alguns dos traos maisimportantes que as caracterizam. O primeiro a nfase noconhecimento convencionado, que confere a cada gnerosua integridade. As trs abordagens igualmente reputam esseaspecto como central para qualquer forma de descrio ge-nrica. O segundo a versatilidade da descrio dos gne-ros, e o terceiro, embora possa parecer algo contraditrioem relao ao primeiro, a tendncia para a inovao,advinda da natureza essencialmente dinmica do gnero.Deixe-me reforar esses trs aspectos da teoria de gneros.

    II.I. Conhecimento convencionado

    Os gneros se definem essencialmente em termos douso da linguagem em contextos comunicativosconvencionados, que d origem a conjuntos especficos depropsitos comunicativos para grupos sociais e disciplina-res especializados que, por sua vez, estabelecem formas es-truturais relativamente estveis e, at certo ponto, impemrestries quanto ao emprego de recursos lxico-gramati-cais. Como indiquei anteriormente, pelo menos trs aspec-tos convencionais interrelacionados tm se destacado na li-teratura sobre gneros, e todos eles so cruciais para nossadiscusso: (a) recorrncia de situaes retricas, (b) prop-sitos comunicativos compartilhados e (c) regularidades deorganizao estrutural.

    O primeiro aspecto mais ou menos relacionado di-retamente ao contexto scio-cultural e situado em culturasdisciplinares especficas. A fim de identificar situaes re-tricas tpicas, pode ser necessrio caracterizar os aspectosrelevantes do contexto scio-retrico em que um dado eventocomunicativo acontece. Uma boa e adequada compreensoda situao retrica tpica leva identificao do(s)propsito(s) comunicativo(s) mutuamente compartilhado(s)por participantes tipicamente associados a uma comunida-de discursiva em particular. Os propsitos comunicativoscompartilhados esto, dessa forma, imbricados dentro docontexto retrico relevante. Levando isso um pouco adian-te, em direo s formas lingsticas, possvel identificarregularidades tpicas de formas estruturais e organizacionaisque freqentemente delineiam um construto genrico. Con-seqentemente, para certos propsitos aplicados, especialmen-te o ensino de lnguas, o conceito de situao retrica talvezseja o mais geral, responsvel pela necessria estrutura den-tro da qual podem ser localizados os propsitos comunicati-vos, que por sua vez se percebem nos usos mais ou menostpicos de formas lxico-gramaticais e discursivas. Para o es-tudo dos gneros, especialmente para os propsitos da lin-gstica aplicada, todos os trs nveis interrelacionados dedescrio genrica so importantes. At esse ponto, no vejoqualquer tenso entre essas assim chamadas abordagensconflitantes. De fato, elas parecem complementar-se mutua-mente, fornecendo no s um suporte terico til, mas tam-bm a validao necessria desconstruo dos construtosgenricos. A noo de propsito comunicativo parece ser maiscentral teoria de gneros, por um lado, por estar inserida emcontextos retricos especficos e, por outro lado, por deter-minar, invariavelmente, escolhas especficas de formas estru-turais e lxico-gramaticais.

    Outro ponto importante a notar nas trs orientaes a nfase, comum a todas elas, em certos traos especficosda descrio de gneros, seja em termos de recorrncia,compartilhamento ou regularidades, cada um deles desta-cando aspectos convencionais da construo e interpreta-o de gneros. Seja qual for o modo de abordagem (vejaJamieson: 1973; Swales: 1990; Miller: 1984; Martin: 1985;Dudley-Evans: 1986; Bhatia: 1993 e 1994), o denominadorcomum tm sido sempre os aspectos convencionalizados,institucionalizados e permissveis (de preferncia a aspec-tos criativos, inovadores e explorveis) da construo dosgneros. Isso tambm perfeitamente compreensvel. Comosustenta Swales (1990), gneros no so criados da noitepara o dia. Eles se desenvolvem por um certo perodo e noso reconhecidos at que se tornem bastante padronizados.Nesse contexto, a teoria de gneros tem posto uma fortenfase nos aspectos institucionalizados da construo e in-terpretao de gneros.

    Fairclough (1989, p.59) ilustra a importncia das con-venes examinando o encontro mdico entre um ginecolo-gista e sua paciente. Freqentemente, o ginecologista preci-

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  • Rev. de Letras - N0. 23 - Vol. 1/2 - jan/dez. 2001104

    sa tranqilizar a paciente, com uma voz gentil e suave, nomomento do exame interno: relaxe o mximo possvel, se-rei o mais delicado que puder. Com muita razo, Faircloughpergunta: o que, neste breve encontro, permite pacienteinterpret-lo como um encontro mdico e no um encontrosexual? Como resposta, ele aponta:

    ... as limitaes prprias docontexto das consultas gine-colgicas so da maior rele-vncia para garantir que oencontro seja realmente umencontro mdico... tais con-sultas somente podem ser le-gitimamente realizadas emum espao mdico umhospital ou consultrio queimplica a presena de umaparafernlia mdica comple-ta, que ajuda a legitimar o en-contro.

    Qualquer tentativa de negli-genciar, ignorar ou solapar o poderdas convenes prprias de tais en-contros pode ocasionar conseqn-cias desastrosas. Obviamente, as con-venes genricas so de grandeutilidade em manter a atmosfera co-municativa e a ordem social desej-veis nas comunidades profissionaiscivilizadas.

    II.II. Versatilidade genrica

    O segundo aspecto mais im-portante da teoria de gneros suaversatilidade, que opera em vrios n-veis. Trata-se de um modelo terico para detalhar o relaciona-mento entre (a) texto e contexto em sentido estrito; (b) o usoque as pessoas fazem da linguagem e o que torna isso pos-svel, especialmente no contexto de culturas disciplinares es-pecficas; e (c) lngua e cultura, em sentido amplo.

    Pode-se ver a versatilidade da descrio lingsticabaseada em gneros em vrios nveis da descrio de gne-ros. Usando como critrio privilegiado o propsito comuni-cativo ligado a uma situao retrica especfica, a teoria degneros combina as vantagens de uma viso mais geral dosusos da lngua, por um lado, com sua realizao bem espe-cfica, por outro (Swales: 1990, p. 58; Bhatia: 1993). Nessesentido, a anlise de gneros realmente estreita em seufoco e ampla em sua viso. O prprio conceito de propsitocomunicativo muito verstil. Por um lado, ele pode seridentificado em um nvel realmente alto de generalizao,enquanto, por outro lado, pode ser limitado a um nvel bemespecfico. Igualmente, tanto pode haver um nico propsi-

    to comunicativo como um bem detalhado conjunto de pro-psitos comunicativos. Dependendo do nvel de generaliza-o e detalhamento em que o propsito comunicativo es-pecificado, pode-se chegar condio de identificar o statusde um gnero em particular, bem como o uso que ele faz dasconvenes genricas. Vou fundamentar melhor isso toman-do como exemplo o que comumente chamado de discursopromocional (veja o diagrama).

    Embora os gneros sejam identificados essencialmen-te em termos dos propsitos comunicativos aos quais ten-dem a servir, esses propsitos comunicativos podem sercaracterizados em diferentes nveis de generalizao. Elespodem ser vistos em termos de uma combinao de proces-sos retricos, que tambm podem ser considerados comovalores genricos primrios. Halliday e seus seguidores, tra-balhando dentro de uma orientao sistmica da descriode gneros, tm aplicado essa noo, com bastante sucesso,ao ensino de gneros no nvel escolar (ver Reid: 1987). Nocaso dos gneros profissionais, sempre possvel postulardiversos nveis de generalizao. Considerando o caso dosgneros promocionais, encontramos, no nvel mais alto degeneralizao, o discurso promocional na forma de umaconstelao de gneros intimamente relacionados, dotadosdo mesmo propsito comunicativo de promover um produ-to ou servio para um cliente potencial. Como exemploscomuns de gneros promocionais podem-se incluir ann-

    Gneros

    identificados em termos de propsitos comunicativos

    construdos pelos processos retricos de ... narrao descrio avaliao explanao instruo...

    dando forma a produtos como gneros promocionais

    sinopses de livros resenhas de livros anncios malas diretas inscries para empregos

    comerciais de TV anncios impressos anncios radiofnicos

    anncios anncios anncios anncios anncios de computadores de livros de companhias areas de automveis de cosmticos

    anncios anncios de de pacotes de frias viagens comerciais

    Nveis de Descrio Genrica

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  • Rev. de Letras - N0. 23 - Vol. 1/2 - jan/dez. 2001 105

    cios, cartas promocionais, inscries para empregos (no sen-tido de que seu propsito tambm vender os servios docandidato a um empregador potencial, cf. Bhatia: 1993), si-nopses de livros, panfletos comerciais, panfletos tursticose vrios outros. Todos esses e muitos outros exemplos des-se tipo apresentam um alto grau de superposio no prop-sito comunicativo a que procuram atender e essa a princi-pal razo por que so vistos como parte de uma colniadiscursiva intimamente relacionada, servindo mais ou me-nos a um propsito promocional comum, a despeito do fatode que alguns podem tambm apresentar diferenas sutisem sua realizao. ainda possvel ver cada um desses g-neros, e.g., os anncios, em um nvel mais baixo de genera-lizao e fazer distines entre suas realizaes mais espe-cficas. Exemplos bvios incluiro anncios impressos,comerciais de TV, anncios radiofnicos e outros. As dife-renas entre esses gneros so pouco discernveis em ter-mos de propsitos comunicativos e mais em termos do meiode discurso e portanto pertencem, como gneros, mesmacategoria geral popularmente conhecida como anncios. Indoum passo adiante, considerando agora somente os annciosimpressos, ainda possvel encar-los em termos de cate-gorias como anncios diretos, anncios com associao defiguras e legendas, anncios baseados na imagem, homena-gens, falsos gneros, etc. (Kathpalia: 1992). Seja qual for asubcategoria, todos esses anncios servem ao mesmo con-junto de propsitos comunicativos, embora a maioria delesutilize estratgias diferentes para promover o produto ouservio. Anncios diretos geralmente usam a avaliao doproduto como principal estratgia persuasiva, enquantoanncios baseados em imagem apoiam-se mais especifica-mente no estabelecimento de credenciais como fonte prin-cipal de convencimento. Outra diferena encontrada no usodos recursos lingsticos que alguns tipos apoiam-se emestratgias verbais (anncios diretos utilizando a avaliaodo produto), enquanto outros, e.g., os anncios do tipo figu-ra-mais-legenda, concentram-se mais em estmulos visuais.Mais uma vez, possvel tomar os anncios diretos ediferenci-los em termos do uso de recursos lingsticos paraavaliao do produto, ou talvez em termos do tipo de pro-duto que anunciam, ou mesmo em termos do pblico a quese dirigem. Em cada caso, estamos certos de que encontra-remos diferenas sutis no uso de estratgias para descrio,avaliao ou diferenciao do produto e que essas diferen-as eventualmente ocasionaro usos especficos dos recur-sos lingsticos. Mas o interessante que todas essas varia-es somente se tornam gneros diferentes no momento emque comeam a indicar uma diferena substancial nos pro-psitos comunicativos.

    O interessante na teoria de gneros que, caso seutilize a situao retrica ou o propsito comunicativo comocritrio privilegiado, isso implica que, enquanto o propsi-to comunicativo permanece o mesmo, os textos em questoso identificados como gneros intimamente relacionados.

    medida em que nos movemos do nvel mais alto para osnveis mais baixos de generalizao, precisamos definir opropsito comunicativo em uma crescente ordem deespecificidade e detalhamento, se desejamos realmente dis-tingui-los como gneros ou subgneros. Em outras palavras,o analista de gneros pode enfocar tantos as semelhanascomo as diferenas entre vrios membros de uma colniade gneros. Se o interesse enfocar as sutilezas do gnero,ele ou ela ter que definir os propsitos comunicativos emum nvel propriamente mais baixo de especificidade; se ointeresse distinguir uma variedade de realizaes espec-ficas de gneros de certo modo similarmente relacionados,ele ou ela precisar especificar os propsitos comunicati-vos em um nvel mais alto de generalidade.

    II.III. Integridade genrica x tendncia para ainovao

    Nas sees anteriores, tentei enfatizar que os gne-ros podem ser vistos como o resultado das prticasdiscursivas convencionadas e institucionalizadas de comu-nidades discursivas especficas. esse conhecimentoconvencionado do modo como os gneros so construdos,interpretados e usados dentro das comunidades discursivasespecficas que confere a seus membros reconhecidos umavantagem sobre outros que so estranhos. Em outras pala-vras, esses conhecimento das convenes genricas queajuda os profissionais experientes a identific-las (Bhatia:1993). Contudo, interessante notar que, embora os gne-ros sejam tipicamente associados a contextos retricos re-correntes e sejam identificados com base em propsitos co-municativos compartilhados, com restries a possveiscontribuies no uso de formas discursivas e lxico-grama-ticais, eles so construtos dinmicos. Berkenkotter e Huckin(1995) ressaltam que

    ... gneros so estruturas retricas inerentemente di-nmicas que podem ser manipuladas de acordo comas condies de uso, e que o conhecimento de gne-ros , por conseguinte, melhor conceituado como umaforma de cognio situada e imbricada em culturasdisciplinares.

    nfase no aspecto convencional e na tendncia inovao: esses dois traos da teoria de gneros parecemter um carter contraditrio. Uns tendem a ver o gnero comoum evento textual retoricamente situado, altamenteinstitucionalizado, possuindo aquilo que chamei em outrolugar de integridade genrica (Bhatia: 1993); por outrolado, tambm se atribui aos gneros uma tendncia natural inovao e mudana, que freqentemente exploradapelos membros experientes da comunidade especializada nacriao de novas formas para responder a contextos retricosfamiliares ou nem to familiares assim. Isso confere maio-ria dos gneros um tipo de complexidade dinmica que

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  • Rev. de Letras - N0. 23 - Vol. 1/2 - jan/dez. 2001106

    freqentemente se atribui ao uso de recursos multimdia, exploso de tecnologia informacional, aos contextosmultidisciplinares no mundo do trabalho, ao ambiente pro-fissional crescentemente competitivo (tanto acadmico comoempresarial) e, acima de tudo, necessidade de criatividadee inovao na comunicao profissional.

    Os gneros se situam tipicamente em contextos s-cio-retricos especficos e, dessa forma, modelam futurasrespostas retricas a situaes similares; eles sempre foramvistos como lugar de contenda entre a estabilidade e amudana (Berkenkotter e Huckin: 1995, p. 6). Pode acon-tecer que algum seja chamado a responder a uma necessi-dade scio-cognitiva em transformao, o que exigir delea negociao da resposta luz das convenes reconheci-das e estabelecidas, uma vez que os gneros de fato mudamatravs dos tempos, em resposta a necessidades scio-cognitivas cambiantes. Essa habilidade em responder a no-vos contextos retricos com base no conhecimento genri-co estabelecido tambm confere considervel liberdade tticaaos membros especializados da comunidade discursiva emquesto, podendo manipular recursos e convenes genri-cas para expressar intenes particulares dentro da estru-tura dos propsitos comunicativos socialmente reconheci-dos (Bhatia: 1993). Contudo, como ressalta Bhatia (1995),

    As convenes de gnero so freqentemente explo-radas pelos membros experientes das comunidadesdiscursivas para criar novas formas; contudo, tal li-berdade, inovao, criatividade e explorao, sejacomo for que a chamemos, invariavelmente se realizaantes dentro do que fora das fronteiras do gnero, sejacomo for que estas sejam estabelecidas, em termos derecorrncia de situaes retricas (Miller, 1984), con-sistncia de propsitos comunicativos (Swales, 1990e Bhatia, 1993) ou combinao de elementos estrutu-rais obrigatrios (Halliday e Hasan, 1985). A inova-o nunca uma atividade completamente livre. A na-tureza da manipulao do gnero realizar-seinvariavelmente dentro dos limites amplos dos gne-ros especficos e ser, freqentemente, muito sutil. Anegligncia explcita a essas convenes genricasimplicar o abandono do gnero e ser vista como es-tranha pela comunidade especializada.

    Tal o poder do gnero, ao qual voltaremos nas lti-mas sees deste artigo. Contudo, neste estgio, gostaria detratar das complexidades do mundo profissional e discutircomo a teoria de gneros pode lidar com essa realidade.

    III. MISTURA E IMBRICAO DE GNEROS

    No clima acadmico e profissional competitivo dehoje, os gneros raramente mantm valores estticos. Essesvalores so cada vez mais explorados pelos profissionaisexperientes para criar gneros mais hbridos, especialmentecomo resultado da natureza fortemente compulsiva das ati-vidades promocionais e publicitrias. No surpreende que

    o presente mundo dos negcios seja cada vez mais identifi-cado com uma cultura consumista (Featherstone: 1991).O resultado inevitvel que muitos dos gnerosinstitucionalizados, quer sejam sociais, profissionais ou aca-dmicos, tm incorporado elementos promocionais.Fairclough (1993, p. 141), referindo-se a tais mudanas nasprticas discursivas, aponta:

    ... h uma completa reestruturao de fronteiras entreas ordens do discurso e as prticas discursivas; porexemplo, o gnero do anncio ao consumidor tem co-lonizado muitas ordens do discurso profissional e doservio pblico em larga escala, gerando uma diversi-dade de novos gneros hbridos parcialmentepromocionais...

    Como exemplo de tais gneros hbridos, Fairclough(1993) discute o caso dos prospectos universitrios contem-porneos, em que ele destaca uma crescente tendncia ao usodo marketing nas prticas discursivas das universidades bri-tnicas. Martin (1985, p.250) afirma corretamente que ...g-nero diz respeito a como as coisas so feitas quando a lingua-gem usada para execut-las. Como as demandas por prticascomunicativas se tornam cada vez mais complexas, os profis-sionais experientes comeam a responder s novas situaesretricas utilizando estratgias estabelecidas e, maisfreqentemente, muitas estratgias inovadoras para atingir umavariedade de objetivos complexos.

    Esse processo de explorao dos valores genricosestabelecidos para criar construtos genricos mistos ou im-bricados sempre visto pelos membros das comunidadesprofissionais como taticamente superior e eficiente. A ex-plorao de recursos genricos para criar formas mistas ouimbricadas sempre se baseia no j estabelecido dentro dacomunidade profissional. quase como a explorao pu-blicitria do clich the shape of things to come na frase deabertura do seguinte comercial de automvel:

    The shape of cars to come: Mitsubishi Cordia.

    Ou o uso da famosa afirmao sobre o imprio colo-nial britnico no comercial da Lufthansa, the sun never setson Lufthansa territory, ou no seguinte slogan pela econo-mia de energia, dont be fuelish , em que a idia de desperd-cio de energia se perde completamente se no for associadaa dont be foolish. O aspecto decisivo em tais associaes que elas comunicam melhor no contexto do que j fami-liar. Em tais contextos, as palavras por si s no portamsignificados; a experincia que lhes confere o efeito dese-jado. Por conseguinte, no momento em que h um desvioradical da experincia original, o efeito pode se perder. Maisuma vez, se no houver familiaridade com o original, o va-lor da inovao se enfraquece. Assim como o publicitriofaz uso do j sabido e familiar no conhecimento existente, oescritor de gneros hbil utiliza o que convencionalmente

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  • Rev. de Letras - N0. 23 - Vol. 1/2 - jan/dez. 2001 107

    disponvel em uma comunidade discursiva para promoverseus prprios e sutis objetivos. A inovao, a criatividade ea explorao somente se tornam efetivas no contexto do jdisponvel e familiar. Como Fowler diz,

    O escritor convidado a combinar experincia e for-ma em um modo especfico mas indeterminado. Acei-tar o convite no resolve seus problemas de expres-so... Mas lhe d acesso a idias formais sobre comoum conjunto de constituintes pode ser apropriadamen-te combinado. (Fowler: 1982, p.31)

    De fato, a noo de criatividade a prpria essnciada definio dos gneros. Essa noo est claramenteimplicada na definio de gnero de Swales (1990, p.58),quando ele diz que um gnero consiste em uma classe deeventos comunicativos, cujos membros compartilham umconjunto de propsitos comunicativos. Bhatia (1993, p.13)associa esse aspecto ttico da construo do gnero a umaexplorao inteligente das convenes genricas pelos mem-bros experientes da comunidade profissional, os quais com-binam os propsitos comunicativos socialmente reconheci-dos com suas intenes particulares. Seja qual for aexplicao, os gneros muito dificilmente servem a prop-sitos nicos; eles apresentam um conjunto de propsitos,mas esse conjunto muito freqentemente torna-se um mistode propsitos complementares. No ser errado alegar queesses mesmos propsitos apresentam valores genricos,caso se possa identific-los separadamente. Em um gneropromocional, por exemplo, os valores genricos descrioe avaliao so usados como uma parte das muitas estrat-gias persuasivas para se alcanar o efeito promocional dese-jado. O uso da descrio em um gnero promocional um pouco diferente daquele que central em umaresenha de livro. Em uma resenha, freqentementeencontramos uma descrio mais equilibrada do li-vro (incorporando tanto os aspectos positivos comoos negativos), enquanto no caso das sinopsespromocionais de um livro, invariavelmente a descri-o e avaliao positiva do livro ser utilizada parase atingir o efeito persuasivo desejado.

    Na publicidade, a descrio parcial e a ava-liao positiva do produto so sempre preferidas,mesmo quando a lei exige do anunciante uma des-crio equilibrada, como no caso da propagandade cigarros ou, mais recentemente, nos anncios deinvestimentos financeiros, casos em que freqen-temente se encontram em letras pequenas advertn-cias como fumar cigarros prejudicial sadeou os preos e rendimentos das aes podem tantodescer como subir; o desempenho passado no garantia de retorno no futuro.

    Os gneros, nesse sentido, possuem uma tendncianatural imbricao e mistura, pelo fato de que a maioriados gneros apresenta mais de um valor genrico (ver Bhatia:

    1995). O seguinte exemplo de anncio de emprego (ver abai-xo), por exemplo, apresenta dois valores genricos diferen-tes mas complementares.

    O trecho de abertura, de A Scitex Corporation Ltda lder mundial... at o fim do primeiro pargrafo, termi-nando em ...pela comercializao e assistncia ao cliente,representa uma introduo promocional (descrio e avalia-o positiva) muito tpica da literatura promocional. A grandemaioria das cartas promocionais comea com tais abertu-ras, tentando estabelecer as credenciais da empresa. ver-dade que tais frases de abertura no so incomuns em ann-cios de empregos; contudo, a questo nesse caso mais otamanho do movimento e no sua presena ou ausncia.Alm disso, compare-se o espao dedicado descrio doemprego, que o principal propsito comunicativo do ann-cio. Pode haver muitas explicaes para a mistura dessesdois valores genricos to intimamente relacionados. Umaboa razo para se enfatizar mais as credenciais da empresado que a descrio do emprego pode ser que a empresa de-seje atrair os candidatos capitalizando sobre sua prpria re-putao. Outra razo pode ser que a empresa no queirarevelar exigncias especficas do emprego em questo, man-tendo dessa forma todas as iniciativas sob seu inteiro con-trole. Uma terceira razo poderia ser que a empresa, notendo em mente uma especificao detalhada do emprego,tambm no desejasse fazer um anncio de apenas umasquatro linhas, o que poderia refletir negativamente sobre ascredenciais da empresa. Seja qual for a razo, o caso queest havendo uma mistura de valores genricos. Essa mistu-ra feita de modo que o valor genrico promocional reforao propsito comunicativo do anncio de emprego.

    Kathpalia (1992), em detalhado estudo sobre os g-neros promocionais, resume bem a variao dos propsitoscomunicativos na publicidade e defende com nfase o po-der gerativo dos gneros.

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  • Rev. de Letras - N0. 23 - Vol. 1/2 - jan/dez. 2001108

    ... os variveis propsitos comunicativos dos gnerospromocionais, como aqueles em que o objetivo pro-mover a empresa por trs do item anunciado, desper-tar a ateno de uma clientela potencial para o nomeda empresa ou do produto... tm feito surgirsubcategorias como.. os falsos gneros, que imitam oformato de outros gneros... esse procedimentogerativo da criao ou desenvolvimento de gneros mais popular em... publicidade, uma vez que os pu-blicitrios esto constantemente competindo entre sipor originalidade e inovao em um mercado inun-dado de marcas concorrentes de produtos e serviose de um nmero igualmente grande de anncios pu-blicitrios... (Kathpalia: 1992, p.394)

    semelhana da mistura de gneros, como no exem-plo anterior, encontramos tambm, na publicidade, exem-plos de imbricao de gneros, fenmeno que tem sido re-ferido como falsos gneros (Kathpalia: 1992), em queencontramos dois ou mais padres genricos imbricados umdentro do outro. Ilustro isso com o seguinte exemplo.

    Pelo menos dois outros gneros esto imbricadosdentro do gnero anncio publicitrio. A informao princi-pal, sobre oportunidades de investimento, conduzida den-

    tro do gnero convencional da conversao. Depois, outrognero convencional, a carta, usada para solicitar maisinformaes. Esses dois gneros esto imbricados dentrodo gnero convencional do anncio publicitrio, contendoa identificao padronizada da empresa, seu logotipo e de-mais detalhes. O objetivo atrair a ateno do potencialcliente atravs de estratgias diferentes do anncios con-vencionais.

    Algumas vezes, os publicitrios podem recorrer, emum anncio, ao uso muito sutil e inteligente de chamadassugestivas a fim de conduzir objetivos particulares dentrodo propsito comunicativo socialmente reconhecido de pro-mover um produto ou servio, como encontramos na seguintechamada para financiamentos habitacionais:

    Flexibilidade incomum. Gerenciamento habitacionalinternacional do...

    A chamada pode parecer perfeitamente normal emuma situao no marcada. Contudo, nocontexto local imediato, ela no nem ino-cente nem direta. O anncio apareceu umdia aps o governo de Hong Kong imporcontroles mais rgidos sobre as instituiesfinanceiras hipotecrias, reduzindo os li-mites de financiamento de propriedadesparticulares de 60 para 50 por cento nocaso de apartamentos avaliados em maisde 5 milhes. Em face disso, perfeita-mente aceitvel a estratgia convencionalde oferecer servios que se adequassems exigncias individuais dos clientes;contudo, a inteno oculta dar aos clien-tes inteligentes a pista sutil de que o ban-co em questo de uma flexibilidadeincomum.

    Embora seja verdade que, de to-dos os gneros profissionais, os gnerospromocionais, em particular os publicit-rios, so os que exibem maior criatividadena construo e no uso dos recursos ge-nricos, os demais gneros podem serigualmente manipulados. s vezes, essetipo de criatividade e variabilidade resul-ta na inviabilizao de tentativas de iden-tificao do gnero. O caso dos gnerosintrodutrios que freqentemente se en-contram nas pginas iniciais dos livros interessante. Os termos introduo,prefcio, apresentao e agradeci-mentos so todos usados na indstria edi-

    torial com um grau notvel de flexibilidade, de modo queat o melhor dos dicionrios desistir de distinguir precisa-mente entre os trs primeiros, isto , introduo, pref-

    CONVERSA EM UM CAMPO DE GOLFE

    1 JOGADOR: Como foi sua viagem Indonsia? 2 JOGADOR: tima. Resolvi tudo... e joguei um pouco de golfe. 1 JOGADOR: Ouvi dizer que os negcios esto em alta, l. 2 JOGADOR: , estamos muito otimistas sobre o futuro. Abriremos um escritrio em

    Jacarta ms que vem. 1 JOGADOR: Ento voc est investindo muito l? 2 JOGADOR: Bom, a empresa est. Minhas aplicaes so mais lquidas. Prefiro

    aplicar em fundos de investimento. 1 JOGADOR: Pensei que voc tinha gostado da Indonsia. 2 JOGADOR: E gostei. Eu apl iquei no Fundo Barclays da Indonsia. Rendeu mais de

    60% nos ltimos trs anos*. 1 JOGADOR: Muito bom. Voc conhece algum l? 2 JOGADOR: Ligue para meu contato no Barclays, Sarah Robbins, pelo fone 826-

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    * Fonte: Micropal, de 01/01/91 a 17/10/94

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    IFA

  • Rev. de Letras - N0. 23 - Vol. 1/2 - jan/dez. 2001 109

    freqentemente manipulados pelos membros experientes dacomunidade para refletirem a realidade em transformaono mundo profissional.

    IV. GNERO E AUTORIDADE

    Nas sees anteriores deste artigo, afirmei que osgneros derivam sua autoridade das convenes, que se ba-seiam na crena de que todas as formas discursivas, especial-mente aquelas usadas em contextos institucionalizados, sosocialmente determinadas. Como afirma Bruffee (1986,p.777), h sempre uma espcie de consenso ou concordn-cia entre os membros das comunidades disciplinares espe-cficas em estruturar o conhecimento atravs de formasdiscursivas especficas. Goodrich (1987) tambm explicaessa institucionalizao de prticas discursivas em termosde uma autoria social, por oposio tradicional autoriaindividual.

    O direito a um discurso organizado e limitado poruma ampla variedade de meios, como papis particu-lares, status, profisses e assim por diante.Semelhantemente, a institucionalizao do discurso limitada em termos de sua apropriao legtima edas situaes restritivas de sua recepo igreja, tri-bunal, escola, campanhas eleitorais, etc.

    Foucault (1981) tambm v a autoria social do dis-curso em termos do status institucional do falante e dos lu-gares institucionais a partir dos quais o falante autorizadofaz seu discurso e de onde o discurso recebe sua fontelegitimadora e ponto de aplicao, quando diz:

    Quem est falando? A quem, dentre a totalidade dosfalantes individuais, dado o direito de usar esse tipode linguagem? Quem est qualificado para tanto?Quem retira disso sua qualidade especial, seu prest-gio, e de quem, por outro lado, ele recebe, se no asegurana, pelo menos a presuno de que o que diz verdadeiro? Qual o status dos indivduos que sozinhos tm o direito, sancionado pela lei ou pelatradio, juridicamente definido ou espontaneamen-te aceito, de proferir tal discurso?

    Como outras formas de discurso, os gneros so so-cialmente construdos e, mais ainda, intimamente controla-dos pelas prticas sociais. Gneros so o meio atravs doqual os membros de comunidades profissionais ou acad-micas comunicam-se entre si. Os gneros esto, como afir-mam Berkenkotter e Huckin (1995),

    ... intimamente ligados metodologia de uma certadisciplina, e conduzem a informao de modo a seconformarem s normas, valores e ideologia da dis-ciplina.

    Da mesma forma, Myers (1995) assevera:

    cio e apresentao. Consideremos os seguintes exem-plos e vejamos como os praticantes os exploram em vriastrocas e combinaes.

    INTRODUO

    A anlise do discurso investiga como recortes da ln-gua, considerados em seu contexto textual, social epsicolgico integral, se tornam significativos e nicospara seus usurios... [continua discutindo sobre a rea,indicando sua importncia para o ensino da lngua]

    Este livro objetiva explicar a teoria da anlise dodiscurso e demonstrar sua relevncia prtica para oensino/aprendizagem da lngua. A Parte 1 examina...a Parte 2 explora... [continua descrevendo o contedodo livro]

    Gostaria de agradecer a vrias pessoas por suaamizade e ajuda... [a introduo termina com os agra-decimentos] (Cook: 1989)

    PREFCIO

    Atualmente, pode-se dizer que o maior problemaque enfrentam os que planejam programas de ensinode lngua estrangeira e, ultimamente, os produtoresde material, no campo de Lngua para Fins Especfi-cos, como definir de forma vlida a competncia co-municativa desejada... [a introduo tenta estabele-cer um nicho para o livro]

    Na preparao deste livro, fui influenciado, em ummacro-nvel, pelos escritos sociolingsticos de DellHymes e Michael Halliday e, em um micro-nvel, par-ticularmente, pela obra de Henry Widdowson, DavidWilkins... [a introduo termina com agradecimen-tos] (Munby: 1978)

    APRESENTAO

    Este livro, baseado nas aulas dados no Curso Re-gular de Fontica da Universidade de Edimburgo, pre-tende introduzir o assunto como tradicionalmente en-tendido na Inglaterra: trata... a fontica como parte dalingstica geral... [comea descrevendo positivamentee explicando a orientao terica do livro]

    Minha dvida com os grandes foneticistas da tradi-o de fala inglesa Alexander Melville Bell, AlexanderJ. Ellis, Henry Sweet, Daniel Jones, Kenneth Lee Pike deve revelar-se quase em cada pgina. Devo agrade-cimentos especiais a... [a introduo termina com agra-decimentos] (Abercrombie: 1967)

    Os trs exemplos, embora recebam nomes diferen-tes, mostram um grau notvel de justaposio em contedoe inteno comunicativa, uma vez que todos comeam comuma descrio positiva do livro, seguida dos agradecimen-tos do autor. Embora, como Swales (1990) afirma correta-mente, os membros especializados das comunidades profis-sionais nomeiem certas classes de eventos comunicativoscomo gneros, esses mesmos construtos genricos so

  • Rev. de Letras - N0. 23 - Vol. 1/2 - jan/dez. 2001110

    critor de autoridade cria uma nova forma genricaque, aparentemente, somente tem sucesso em estabele-cer uma nova conveno genrica devido autoridadedo escritor. (Kress: 1987, p.42)

    Continua ele:

    Os gneros so construtos sociais, eles so como acultura determina que sejam. Desafiar os gneros,portanto, desafiar a cultura... (Dixon) e eu estamosnuma posio em que podemos arriscar e talvez con-seguir isso. Todavia, parece-me inteiramente inade-quado pedir que outros menos capacitados carreguemesse fardo... (Kress: 1987, p.44)

    Como essas comunidades disciplinares realmentemantm o que temos chamado de integridade genrica emsuas prticas discursivas? Vejamos isso em algumas da co-munidades profissionais mais familiares.

    IV.I. Mantendo a integridade genrica

    Em algumas formas do discurso acadmico, especial-mente nos artigos de pesquisa, podem-se ver, geralmente,dois tipos de mecanismos em ao para assegurar a integri-dade genrica: o processo de recenso entre pares e a inter-veno editorial. Ambos os mecanismos, mesmo operandoem diferentes nveis, so ativamente invocados para asse-gurar que todos os relatos de conhecimento novo confor-mem-se aos padres de comportamento institucionalizadoque so esperados por uma comunidade de pares estabele-cidos em uma disciplina especfica. Embora possam variaros julgamentos individuais entre os membros de comunida-des disciplinares especficas, muitas vezes se garante umalto grau de consenso pela seleo, em um quadro bem de-finido de fronteiras disciplinares, de especialistas da mes-ma linha de pensamento. Por exemplo, se examinarmos al-guns peridicos que regularmente publicam artigos sobreanlise do discurso, descobriremos que, embora todos pu-bliquem artigos sobre vrios aspectos do discurso, eles pos-suem comisses editoriais muito diferentes, que examinamreivindicaes de relatos de conhecimento para incluso nasrespectivas revistas. Caso encontremos nomes como Cazden,Geertz, Goffman, Gumperz, Hymes, Milroy, Saville-Troike,Scollon, Tannen ou Zimmerman no comit editorial de umarevista, podemos seguramente apostar que eles dificilmenteaceitaro artigos sem uma orientao sociolingstica sobreo discurso. Artigos que tratem de outros aspectos do discur-so provavelmente sero desencorajados ou mesmo rejeita-dos. Por outro lado, se encontramos nomes como Ackerman,Bazerman, Berkenkotter, Comprone, Doheny-Farina,Huckin, Linda Flower, Miller ou Odell, podemos esperarque artigos com uma forte orientao retrica sero bemvindos. Semelhantemente, diante de nomes como Carter,Christie, Halliday, Hasan, Kress, Martin e Rothery, chega-

    As disciplinas so como culturas em que os membrospossuem crenas compartilhadas e assumidas comocertas; essas crenas podem ser mutuamente incom-preensveis de uma cultura para outra; so codifica-das em uma lngua; so incorporadas em prticas;novos membros so admitidos atravs de rituais.(Myers: 1995, p.5)

    O consenso alcanado e negociado por meio deprticas e dilogo profissional entre os membros instrudose praticantes de uma comunidade profissional. A interaoe o dilogo possibilitam o consenso, por um lado, e tm umefeito regulador ou limitador quanto ao que pode ou no seradmitido no conjunto do conhecimento de uma comunida-de, por outro lado.

    Os gneros, deste modo, so socialmente autoriza-dos por meio de convenes e inserem-se nas prticasdiscursivas dos membros de culturas disciplinares especfi-cas. Essas prticas discursivas, em grande parte, refletemno somente as convenes utilizadas por comunidades dis-ciplinares especficas, mas tambm convenes sociais, in-cluindo mudanas sociais, instituies sociais e conhecimen-to social, os quais, de certo modo, podem ser vistos comocontribuies significativas para o que a teoria de gneroschama de conhecimento genrico. Gneros so produtode uma compreenso ou conhecimento prvio de conven-es genricas. Essas convenes genricas so respons-veis por regular os construtos genricos, atribuindo-lhes oque temos chamado de integridade genrica. Somente osmembros da comunidade especializada que adquiriram odireito de apropriar-se das formas genricas tm o podertanto de construir, interpretar e usar os recursos genricoscomo de explor-los na criao de novas formas, misturarpadres genricos e tambm controlar as respostas dos defora. No h melhor ilustrao do provrbio conhecer poder que essa do poder genrico. O poder de usar, inter-pretar, explorar e inovar formas genricas uma funo doconhecimento genrico a que somente tm acesso os mem-bros legitimados das comunidades disciplinares.

    Embora a boa compreenso do conhecimento gen-rico seja pr-requisito para qualquer manipulao dos re-cursos genricos, ela de modo algum suficiente para quetais inovaes e exploraes sejam aceitas pela comunida-de disciplinar. Kress (1987) menciona dois importantes cri-trios pelos quais as inovaes genricas so aceitas: se elasso apoiadas ou por uma situao social estvel ou por umaautoridade.

    A menos... que haja uma mudanas nas estruturas so-ciais e no tipo de situaes sociais em que os textosso produzidos as novas formas genricas dificilmentetero sucesso. por isso que inovaes infantis falham;no porque no sejam solues perfeitamente plaus-veis para problemas textuais/cognitivos, mas porqueno so apoiados nem por uma situao social estvelnem por uma autoridade. Neste ltimo caso, um es-

  • Rev. de Letras - N0. 23 - Vol. 1/2 - jan/dez. 2001 111

    comum nos contextos legislativos de muitas democracias oci-dentais vista como uma imposio de fora e tem sido firme-mente rejeitada pela comunidade legislativa profissional. Paratratar do contexto em que as leis so redigidas, interpretadas eusadas, precisamos adotar uma perspectiva etnometodolgicae enfocar o gnero em seus prprios termos.

    O principal propsito da legislao, como demons-tra Bhatia (1993), reger o comportamento social de indi-vduos e instituies atravs do uso de regras e normas. Afim de manter firme o controle nas mos do poder legislativo,e no do judicirio, em uma democracia parlamentar, os atosconstitutivos so escritos no somente de forma clara, pre-cisa e sem ambigidades, mas tambm de forma toda inclu-siva. Esse rigor e a adequada delimitao do alcance na le-gislao permite legislatura controlar uma interpretaototalmente subjetiva e idiossincrtica dos cdigos legais.Essa preocupao por parte da comunidade redatora sem-pre foi de grande importncia. Todas as demais preocupa-es, especialmente as relacionadas com a facilidade decompreenso, tm desempenhado um papel secundrio naconstruo desse gnero. Conseqentemente, vrias tentati-vas de reforma da linguagem legal, inclusive por parte da cam-panha pelo ingls comum (veja Thomas: 1985; Eagleson:1988; Kelly: 1988), tm alcanado, em sua maior parte, umsucesso muito limitado, pelo simples fato de que so vistascomo transgresses da integridade genrica de toda a tradi-o do processo legislativo. Embora o movimento pelo in-gls claro tenha sido bem sucedido em influenciar a reescriturade documentos administrativos e comerciais em geral (inclu-indo aplices de seguro, contratos de aluguel residencial, de-claraes do imposto de renda, solicitaes de benefcios so-ciais e outros, possibilitando maior acessibilidade epraticidade a uma ampla parcela da sociedade), no que dizrespeito s clusulas legais, tem sido incapaz de flexibilizarsignificativamente a atitude dos legisladores em muitos pa-ses da comunidade britnica. O argumento para a preserva-o das caractersticas genricas do discurso legal que overdadeiro poder legislativo, em todas as democracias parla-mentares, deve permanecer com os legisladores, e no com ojudicirio. Essa uma das importantes razes por que clare-za, preciso, no-ambigidade e carter inclusivo so valoresto altamente cultivados no discurso legislativo britnico, oque confere aos propsitos legislativos um grau relativamen-te elevado de transparncia.

    Embora, como Fairclough (1992, p.221) ressalta, a cres-cente presso pela democratizao das prticasdiscursivas em diversos outros contextos profissionais este-ja intensificando e levando a uma fragmentao das nor-mas e convenes discursivas, uma presso semelhante paraque se redijam leis em ingls comum tem sido consistente-mente, e com muito sucesso, rejeitada pela comunidadelegislativa de forma quase global. Os lobbies reformistasem muitos pases, especialmente nos Estados Unidos, estose tornando extremamente agressivos, mas pouco prov-

    remos inevitvel concluso de que a revista favoreceruma orientao mais sistmica para o discurso.

    Depois da recenso entre pares, a segunda interven-o mais importante vem dos editores, que desfrutam detodo o poder imaginvel para manter a identidade e a inte-gridade do gnero artigo de pesquisa. Berkenkotter e Huckin(1995) registram um estudo profundo e fascinante deste tipode controle editorial na manuteno da integridade genri-ca. Esses autores afirmam que a atividade textual toimportante para a construo e disseminao do conheci-mento quanto a atividade cientfica.

    A importncia da disseminao do conhecimento comoalgo distinto de sua criao tambm recebe destaque pelaimportncia dada, em publicaes acadmicas, descriode pesquisas anteriores. Para se obter aceitao pelos colegaspesquisadores da comunidade especializada, deve-se relacio-nar o conhecimento alegado com o conhecimento acumuladonaquela disciplina, sem o que dificilmente se ter a prpriacontribuio rea reconhecida e publicada. Nesse contexto,no surpreende que a reviso da literatura ocupe um lugar deimportncia no repertrio de habilidades do pesquisador namaioria das disciplinas acadmicas. Referindo-se impor-tncia da citao no trabalho de pesquisa cientfica,Amsterdamska e Leydesdorff (1989) afirmam:

    No artigo cientfico o novo encontra o velho pelaprimeira vez. Esse encontro tem um duplo significa-do, uma vez que os artigos no s justificam o novodemonstrando que o resultado assegurado por ex-perimentao, observao ou teorizao prvia, mastambm situam e integram as inovaes no contextodo conhecimento velho e aceito... As refernciasque aparecem no texto so a maneira mais explcitade retratar os argumentos apresentados no artigo emrelao com outros textos e tambm, por conseqn-cia, com um tipo especfico de conhecimento.(Amsterdamska e Leydesdorff: 1989, p.451)

    IV.II. Mantendo a solidariedade dentro de umacomunidade profissional

    Uma das caractersticas mais notveis de qualquercomunidade discursiva acadmica ou profissional a dis-ponibilidade e o uso tpico de uma srie de gneros apropria-dos, que os membros pensam servir aos objetivos daquelacomunidade. O uso recorrente de tais formas discursivas criasolidariedade entre os membros, conferindo-lhes sua armamais poderosa para manter os estranhos a uma distncia se-gura. Hudson (1979) corretamente argumenta:

    Se algum quisesse matar uma profisso, destruirsua unio e sua fora, a maneira mais eficaz seriaproibir o uso de sua linguagem caracterstica.(Hudson: 1979, p.1)

    Diante disso, no surpreende que a maioria das tentati-vas, por poderosos lobbies reformistas, de introduzir o ingls

  • Rev. de Letras - N0. 23 - Vol. 1/2 - jan/dez. 2001112

    estava testemunhando para a promotoria. Agora, elaest sendo interrogada pela defesa:

    Advogado de defesa: Poderia dizer corte e aosjurados qual era a profis-so de seu marido?

    Esposa: Ele era um assaltante.

    Isso deu suporte alegao, por parte da defesa, de in-teno criminosa e garantiu a absolvio do policial.

    Se a esposa estivesse pelo menos um pouco maisfamiliarizada com as convenes do depoimento em tribu-nal, o trabalho do advogado de defesa no teria se tornadoto fcil.

    Outro exemplo do uso de conhecimento interno parase ter acesso informao pode ser ilustrado pela seguintechamada publicitria do Schroder Singapore Trust:

    O Schroder Singapore Trust cresceu mais de 60%em 3 anos

    Essa informao pode ser extremamente enganosa, ano ser para quem est bem consciente das prticasdiscursivas da comunidade profissional dos agentes finan-ceiros. Quem quer que tente entender a afirmao deve sa-ber que esse crescimento de 60% em trs anos, em seu valornominal, pode ser no mnimo enganador. Embora o anncioinclua a costumeira ressalva regulamentar em forma de notaem letras midas dizendo que o desempenho anterior noindica necessariamente a performance futura, o preo dascotas tanto pode subir como descer, e no pode ser garanti-do, um leigo ainda pode ser levado a pensar que seu inves-timento provavelmente lhe dar um retorno de aproximada-mente 60%. Por outro lado, o fato que o valor das cotaspode ter cado 100% por volta do ltimo ano, e ainda podeestar, poca do anncio, indicando uma tendncia de que-da. H vrias outras perspectivas possveis, s acessveisqueles que possuem o conhecimento interior do modo comoesses gneros funcionam, e no a estranhos.

    Se, por um lado, o poder do gnero pode ser vistocomo uma fora legtima freqentemente usada para mantera solidariedade dentro de uma comunidade disciplinar, poroutro lado, essa fora pode ser usada para manter os estra-nhos a uma distncia respeitvel. Por um lado, ela capacitauns, os membros da comunidade, enquanto ao mesmo tem-po silencia a outros, especialmente os estranhos.

    IV.IV. A funo censora das comunidadesdiscursivas

    Berkenkotter e Huckin (1995), em seu estudo sobre aadmisso em uma congresso acadmico, apresentam um in-teressante exemplo da fora do controle genrico em con-textos bem definidos. Com base na anlise de resumos sub-

    vel que consigam reduzir significativamente a chamada inte-gridade dos gneros legislativos, pelo menos em um futuroprximo. A comunidade legal tem sido bem sucedida em re-sistir a qualquer tentativa por parte de estranhos no sentidode minar a integridade genrica de algumas de suas formasdiscursivas mais prestigiadas. Obviamente, os membros dacomunidade legal valorizam suas prticas discursivas e asusam para manter a solidariedade dentro da comunidade.

    IV.I. Acesso privilegiado a prticas discursivas

    Se, por um lado, as convenes genricas do ex-presso apropriada s intenes comunicativas dos escrito-res de gneros (que so membros de uma dada comunidadediscursiva), por outro lado, estes tambm adequam suas in-tenes s expectativas dos leitores a que se dirigem. Issosomente possvel quando todos os participantes comparti-lham no s o cdigo mas tambm o conhecimento do g-nero, o que inclui conhecer sua construo, interpretao euso. Uma implicao necessria desse conhecimento com-partilhado do gnero que este normalmente no acess-vel a estranhos, o que cria uma espcie de distncia socialentre os membros legtimos da comunidade discursiva eaqueles que so considerados como estranhos. Embora oconhecimento compartilhado crie condies dehomogeneidade para os de dentro, ao mesmo tempo intensi-fica a distncia social entre estes e os de fora, resultando,algumas vezes, em conseqncias desastrosas para quem notem acesso a ele. Esse conhecimento pode residir na formados recursos lingsticos utilizados para construir um gne-ro; ou na percepo das regras de uso da linguagem, algu-mas das quais so socialmente aprendidas, como aquelasassociadas ao discurso de sala de aula ou outros gnerosacadmicos, enquanto outras podem ser legalmente refor-adas, tal como aquelas relacionadas a procedimentos fo-renses. O tribunal um contexto altamente formal em que aaplicao da justia depende essencialmente da contribui-o dada pelas testemunhas; no entanto, todas as formas decomportamento, inclusive quem diz o qu, estratgias deperguntas e respostas dos participantes e mesmo o contedodas perguntas e respostas, so estritamente controladas pe-las regras do jogo, as quais a maioria das testemunhas ordi-nariamente desconhece. Muito poucas testemunhas detmqualquer conhecimento sobre como sua contribuio re-cebida, interpretada e usada pelos jogadores autorizados.Allen e Guy (1989) (citando uma comunicao pessoal deWorthington: 1984) relatam um excelente exemplo dessafalta de conhecimento compartilhado em uma audincia detribunal:

    Um policial, em seu dia de folga, baleou e matou umintruso dentro de uma loja. O inqurito descobriu umjogo de ferramentas de arrombamento nos fundos daloja. O promotor tentava provar que no havia basepara presumir intenes criminosas, e que tinha havi-do um assassinato a sangue frio. A esposa da vtima

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    dos na academia, o poder de controlar e manter os padresgenricos pode ser, e muitas vezes , atribudo comunida-de dominante, que sem dvida trata-se da comunidade oci-dental. O que quer que parea diferente das normasestabelecidas pela comunidade dominante ser visto comodeficiente e necessitado de correo.

    Em algumas reas, os escritores de gneros tm setornado cada vez mais sensveis ao conhecimento local etm comeado a construir, interpretar e usar os gneros emformas que evidenciam tal sensibilidade, especialmente nocaso da publicidade e de alguns outros gneros comerciais,em que tem se tornado uma prtica habitual o desenvolvi-mento de equipes locais para atuar ao lado dos estrangeirosna maioria da empresas multinacionais de publicidade. Tam-bm no difcil de entender a razo de tal sensibilidade.No caso dos gneros acadmicos, especialmente na publi-cao de pesquisas, as polticas ainda so controladas pelosdetentores do poder. Boa parte do discurso acadmico ain-da no consegue reconhecer as fontes de variedades,especialmente aquelas da marginalidade e da excluso, dandoa impresso de que no h, ou no deveria haver, qualquervariao no modo como os gneros so construdos, inter-pretados e usados.

    VI. IMPLICAES PARA O ENSINO DA LNGUA

    Quais so as implicaes de tudo isso para o ensinoda lngua? A anlise aplicada de gneros, ao contrrio demuitas outras estruturas analticas, no esttica nemprescritiva. Potencialmente, ela dinmica e descritiva. Cabeao professor de lnguas us-la do modo que desejar, ou parauma explorao inovadora dos recursos genricos ou parauma exposio limitada dos contextos genricos padroniza-dos. Embora seja essencial para o aluno a familiaridade comas convenes genricas especificamente associadas a umcontexto profissional particular, no necessrio nem dese-jvel restringir a experincia do comportamento lingsticoapenas aos aspectos convencionais e padronizados da cons-truo e uso dos gneros.

    Como possvel usar de criatividade no ensino/apren-dizagem da lngua baseado em gneros? Uma vez que a an-lise de gneros fornece uma descrio slida do comporta-mento lingstico em contextos profissionais, possvelintroduzir uma boa dose de criatividade no ensino da ln-gua, adaptando os propsitos comunicativos, a natureza daparticipao em um dado contexto comunicativo, a relaosocial e profissional entre os participantes de um exercciode construo de gnero qualquer e, acima de tudo, apre-sentando a variabilidade no uso de estratgias genricas parao alcance de propsitos comunicativos similares.

    Devo dizer que h duas escolas de pensamento: osque crem no ensino explcito de gneros, especialmenteregularidades de forma textual e tipificao, e outros queconsideram isso muito limitador e defendem a livre expres-

    metidos Conferncia sobre Comunicao e Redao Uni-versitria (CCRU), os autores afirmam que os resumos bemavaliados... abordavam tpicos de interesse corrente entreos membros ativos e experientes da comunidade retrica ede produo de textos, eram considerados inovadorespelos membros experientes e geralmente mostravam mui-to do ethos de um membro [da comunidade]. Baseados emseu estudo dos resumos da CCRU, nos quatro anos entre1988 e 1992, os autores descobriram dois nveis principaisde censura:

    (a) a crtica externa e (b) o diretor do programa. Te-mos observado muitos casos em que os analistas atri-buram o conceito Excelente a um resumo e mesmoassim ele no foi includo no programa.Presumivelmente, o diretor discordou do julgamentodos analistas... Em sntese, todo congresso leva amarca de seu censor principal. (Berkenkotter eHuckin: 1995, p.115)

    Mais adiante, os mesmos autores afirmam que

    Em um caso particularmente infeliz, um resumo muitointeressante foi submetido rea de Comunicao Tc-nica certo ano, quando recebeu o conceito Excelentedo revisor e do diretor do programa, mas no foi inclu-do no programa (presumivelmente porque no se en-caixava). Foi levemente revisado e novamente sub-metido, no ano seguinte, rea de Anlise do Discurso.Outra vez recebeu conceito Excelente mas no foi in-cludo no programa. A autora desse resumo prova-velmente nunca soube que tinha produzido um resumoexcepcional. Tudo que ela deve ter ficado sabendo foique seu ensaio tinha sido rejeitado pelo programa.(Berkenkotter e Huckin: 1995, p.115).

    V. HEGEMONIA E INGLS MUNDIAL

    Outro aspecto importante do controle genrico surgeda questo da atitude hegemnica na manuteno dos pa-dres genricos, que em grande parte do discurso e dos es-tudos de gnero contemporneos so essencialmente domi-nados e at determinados por convenes ocidentais.Conquanto seja verdade que o ingls a lngua global do-minante e amplamente utilizada tanto para fins acadmicoscomo profissionais, ele no mais propriedade exclusivade qualquer comunidade nacional, seja ela britnica, ameri-cana, australiana ou qualquer outra. semelhana docrquete, tambm a lngua inglesa se tornou mais universalno s em seu uso como em seu carter. Considerando-se aatual realidade da variao no ingls, torna-se necessriopensar em termos das lnguas inglesas do mundo, e no nalngua inglesa como uma nica variedade monoltica do in-gls. Essa variao no uso do ingls ao redor do mundo temalcanado um crescente reconhecimento por parte da litera-tura sociolingstica nos ltimos dez anos mais ou menos.No entanto, em alguns dos gneros, em especial aqueles usa-

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    so. Contudo, a verdade est em algum ponto intermedirio.Todos os gneros, primrios ou secundrios, envolvem re-gularidades e, portanto, essas regularidades devem ser apren-didas por qualquer um que alimente a mnima ambio departicipar de uma comunidade disciplinar especializada. Comoafirma Bakhtin (1986, p.80), os gneros devem ser perfeita-mente dominados, para serem usados criativamente.1 Noentanto, para fazer disso uma realidade, o primeiro pr-re-quisito estar consciente do conhecimento convencionalsituado dentro de um gnero disciplinar especfico ou den-tro de um sistema de gneros.

    Bazerman (1993) tenta resolver essa tenso entre aexpresso institucionalizada e a expresso individual quan-do afirma:

    ... o indivduo aprende a expressar a si mesmo emface a uma sociedade compulsiva... no somos nsmesmos porque nos posicionamos separados uns dosoutros. Tornamo-nos ns mesmos quando nos perce-bemos na relao com os outros. Social tudo quefazemos uns com os outros e o que nos tornamos porassim faz-lo. Individualizamo-nos ao nos identificar-mos dentro de um panorama social, um panorama quese d a conhecer medida que interagimos com ele.Descobrimo-nos e criamo-nos a ns mesmos e aosoutros por meio do que fazemos uns com outros.(Bazerman: 1993, p.viii)

    H pelo menos trs coisas que se destacam claramenteda discusso precedente. Primeiro, os estudantes da lnguadevem ter conscincia dos dilogos na comunidade disci-plinar da qual aspiram se tornar membros, que podem serealizar atravs de participao centrpeta no currculo deaprendizagem da comunidade ambiente (Lave e Wenger:1991, p.100). Segundo, a aquisio do conhecimento de g-nero, que leva a uma compreenso da integridade genrica, necessria mas no suficiente para qualquer exploraoou manipulao subseqentes das convenes genricas.Finalmente, o conhecimento de gneros deve ser visto pre-ferencialmente como um recurso para a explorao das con-venes genricas, a fim de responder a situaes retricasrecorrentes, ou nem to recorrentes, e no como um esque-ma a ser copiado.

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    1 Na verso em portugus, o texto de Bakhtin diz: ... para us-los livremente, preciso um bom domnio dos gneros (BAKHTIN, M. M. Estticada criao verbal. 2. ed. So Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 303.) [N. do T.]

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