anais do xvi epi – ufmt - 2013 - conaell.com.br · apostila ilustrada na prÉ-escola ... o vigor...

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1 Anais do XIV CONAELL Colóquio Nacional de Estudos Linguísticos e Literários Tema: Formação do Profissional de Letras: convergências teórico-metodológicas Organização dos Anais Olandina Della Justina Juliana Freitag Schweikart ISSN: 2446-4945 Sinop, 19 a 23 de setembro de 2016 Faculdade de Educação e Linguagem - Curso de Letras Universidade do Estado de Mato Grosso/Campus de Sinop Avenida dos Ingás, 3001, Centro/MT, Brasil, CEP: 78555-000

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Tema: Formao do Profissional de Letras:

convergncias terico-metodolgicas

Organizao dos Anais Olandina Della Justina

Juliana Freitag Schweikart

ISSN: 2446-4945

Sinop, 19 a 23 de setembro de 2016

Faculdade de Educao e Linguagem - Curso de Letras

Universidade do Estado de Mato Grosso/Campus de Sinop

Avenida dos Ings, 3001, Centro/MT, Brasil, CEP: 78555-000

2

Comisso organizadora do XIV CONAELL

Profa. Dra. Juliana Freitag Schweikart Coordenadora Geral

Profa. Dra. Olandina Della Justina Presidente da Comisso Cientfica

Centro Acadmico de Letras Dom Pedro Casaldlia

Conselho Editorial

Profa. Dra. Adriana Lins Precioso

Profa. Dra. Albina Pereira de Pinho Silva

Prof. Dr. Antonio Aparecido Mantovani

Prof. Ms. Antonio Tadeu de Azevedo

Profa. Dra. Cristinne Leus Tom

Prof. Dr. Genivaldo Rodrigues Sobrinho

Profa. Mestranda. Graci Leite Morais da Luz

Prof. Dr. Henrique Roriz Aarestrup Alves

Profa. Dra. Juliana Freitag Schweikart

Profa. Dra. Leandra Ines Seganfredo Santos

Profa. Dra. Neusa Ins Philippsen

Profa. Dra. Olandina Della Justina (Presidente)

Profa. Dra. Rosana Rodrigues da Silva

Profa. Dra. Rosane Salete Freytag

Profa. Dra. Sandra Luzia Wrobel Straub

Profa. Dra. Tnia de Oliveira Pitombo

Profa. Ms. Terezinha Della Justina

Comisso de monitores

Acadmicos de Letras

E-mail: [email protected]

Projeto Grfico Ketheley Leite Freire

Ficha catalogrfica elaborada pelo bibliotecrio Luiz Kenji Umeno Alencar - CRB1 2037.

As ideias contidas nos trabalhos so de absoluta responsabilidade dos autores

3

SUMRIO

APRESENTAO ....................................................................................................................... 08

SEO I ESTUDOS LINGUSTICOS

A CAPA E O TEMPO A IMPORTNCIA DA CAPA PARA A LEITURA DA OBRA .......... 10

Liliane Lenz dos Santos

A CONSTRUO DA IMAGEM DO SINOPENSE COMO UM SUJEITO DE PROGRESSO

NAS PGINAS DE O SINOPEANO NMERO 15, DE 1980 .................................................. 23

Leandro Jos do Nascimento

Cristinne Leus Tom

A LEITURA DE TEXTOS MULTIMODAIS NA ESCOLA ......................................................... 33

Francineide Lima Abreu

A LEITURA EM SALA DE AULA: ALGUMAS REFLEXES .................................................. 42

Eliane Costa Ferreira

Rozinia Bispo dos Santos

Viviane Gomes Ferreira

ANLISE DO DISCURSO NA PUBLICIDADE DAS MOTOS HARLEY-

DAVIDSON..................................................................................................................................... 47

Magna Rodrigues da Silva Monteiro

ANLISE SEMITICA DO FILME MALVOLA .................................................................. 54

Josilene Pereira dos Santos

Andressa Batista Farias

AS NOVAS CONCEPES DE TEXTO: UM NORTE PARA O LETRAMENTO DAS

FUTURAS GERAES ................................................................................................................. 66

Maria Gorete Cgo da Silva

Ivany Magalhes da Silva

Elizandra Alves Pereira da Silva Souza

CRENAS DE ALUNOS SOBRE APRENDIZAGEM DE LNGUA INGLESA ........................ 79

Joelinton Fernando de Freitas

ESCOLA E FORMAO LEITORA: UM PROJETO COM BONS RESULTADOS ................. 88

Rosimeri Mirta Fischer

Edna Simo de Oliveira

INTERATIVIDADE TECNOLGICA NA POSIO SUJEITO ALUNO NOS CURSOS DE

LICENCIATURA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO CAMPUS DE

SINOP/MT .................................................................................................................................. 96

Patricia Moraes-Miranda

4

LEITURA DE CONTOS AMAZNICOS NA SALA DE AULA: NOSSA CULTURA, NOSSA

LNGUA ........................................................................................................................................ 107

Elaine Cristina de Vasconcelos Alcntara

LETRAMENTO MIDITICO ESCOLAR: RDIO ESCOLA CNDIDO PORTINARI /

TAPURAH MT........................................................................................................................... 119

Izabel Jacinta Magni Hinrichs

Patrcia Rodrigues

LETRAMENTOS EM TEMPO DA COMUNICAO UBQUA NAS VOZES DOS

LICENCIANDOS DE LETRAS NA MODALIDADE

DISTNCIA................................................................................................................................... 125

Wendell Camilo Deposiano

Albina Pereira de Pinho Silva

LNGUA MATERNA BORORO EM CONTEXTO ESCOLAR INDGENA DESAFIOS

VIVENCIADOS POR PROFESSORES BOE BORORO ............................................................ 135

Fernando Antnio Velasco

MOMENTO DA LEITURA INCENTIVANDO A LEITURA NO AMBIENTE

ESCOLAR...................................................................................................................................... 148

Luciane Reichert Costa

Rosemeri Hemsing Weber

Senilde Solange Catelan

OFICINA: COMO A QUALIDADE DAS PERGUNTAS INFLUNCIA NA QUALIDADE DA

LEITURA....................................................................................................................................... 153

Ana Cludia dos Santos

O TRABALHO COLABORATIVO NA ESCOLA: EM BUSCA DE COMPREENDER A

DIVERSIDADE CULTURAL BRASILEIRA E SUAS PRINCIPAIS MATRIZES .................. 160

Magna Rodrigues da Silva Monteiro

O USO DOS COMPUTADOES NA EDUCAO INFANTIL: A COMPOSIO DE

APOSTILA ILUSTRADA NA PR-ESCOLA ............................................................................ 165

Jhonatan Matos de Souza

O VIGOR DO ROTACISMO NO FALAR CAIPIRA DA COMUNIDADE DE

MUTUCA/MT................................................................................................................................ 174

Criseida Rowena Zambotto de Lima

PRTICAS DE LEITURA E ESCRITA DE ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL II EM

AMBIENTES VIRTUAIS: A INVESTIGAO COMO SUPORTE PARA A AMPLIAO DOS

MULTILETRAMENTOS NO CONTEXTO ESCOLAR.............................................................. 180

Lenir Maria de Farias Rodrigues

Isaldete Ribeiro da Silva Passero

Deise Baggenstoss

PROCESSOS FONOLGICOS: DA ANLISE DE TEXTOS S PRTICAS

INTERVENTIVAS ....................................................................................................................... 193

Mrcia Vacario

Mariana R. Athayde

Jacilda Siqueira Pinho

5

SISTEMA SOCIOEDUCATIVO DO POMERI: PRTICAS DISCURSIVAS IDEOLGICAS E

HEGEMNICAS .......................................................................................................................... 202

Jussivania Pereira

Solange Barros

(SUB)EXISTNCIA PELA LNGUA: HAITIANOS EM MATO GROSSO ............................. 212

Criseida Rowena Zambotto de Lima

Heloisa Helena Ribeiro de Miranda

SUSTENTABILIDADE E AGRICULTURA FAMILIAR: UM ESTUDO COM TRS FAMLIAS

DE SINOP ..................................................................................................................................... 221

Cristinne Leus Tom

Ivone Cella da Silva

TRAJETRIAS DE LEITURA E PRODUO TEXTUAL SOB A ABORDAGEM DOS

MLTIPLOS LETRAMENTOS: OS PANORAMAS E OS ATOS DE CRIAO

CONSTITUDOS VIA PIBID E PNAIC ...................................................................................... 233

Albina Pereira de Pinho Silva

ngela Rita Christofolo de Mello

Cleuza Regina Balan Taborda

VIOLA BRASILEIRA .............................................................................................................. 242

Diego da Silva Dias

VIVNCIAS DO FAZER DOCENTE: O ESTGIO NA EDUCAO DE JOVENS E

ADULTOS NA ESCOLA RURAL DE ALTA FLORESTA ....................................................... 250

rica Lemes Lopes da Silva

Ivone Cella-Silva

SEO II ESTUDOS LITERRIOS

A AUSNCIA DE J. M. COETZEE NA CONSTRUO DO ESCRITOR-PERSONAGEM NO

ROMANCE VERO..................................................................................................................... 261

Anna Carolina de Almeida e Silva

Vincius Carvalho Pereira

A LITERATURA NA SALA DE AULA: EQUVOCOS NA PRTICA PEDAGGICA ........ 268

Eliana Aparecida dos Santos

A PERSPECTIVA RELIGIOSA: O MULATO, DE ALUSIO DE AZEVEDO ......................... 279

Maria Madalena da Silva Dias

Bruna Marcelo Freitas

Simone Aparecida de Matos

CONFLUNCIAS ESTTICAS E MITOLGICAS NA ARTE SACRA: A POESIA DE SO

FRANCISCO E A PINTURA DE GIOTTO DI BONDONNE ................................................... 289

Adriana Lins Precioso

6

CONTO PAI CONTRA ME DE MACHADO E PINTURAS DE DEBRET E RUGUNDAS:

UMA EXPERINCIA DE LEITURA LITERRIA EM TURMA DE EJA ............................... 297

Lucila Tereza Rockenbach Manfroi

DE ENSINO DE LITERATURA EDUCAO LITERRIA: O TEXTO LITERRIO NO

CENTRO DA AULA .................................................................................................................... 309

Marli Chiarani

Luciney Rosa Sur

Mrcia do Socorro Colho de Oliveira

EL CID, OTELO, MARTN FIERRO E RODRIGO: NOVOS OLHARES, ANTIGOS

CAMINHOS .................................................................................................................................. 320

Simone de Sousa Naedzold

Karina Egias do Nascimento

ESTUDOS LITERRIOS: UM OLHAR PARA A LITERATURA AFRO-BRASILEIRA NA

ACADEMIA .................................................................................................................................. 330

Consoelo Costa Soares Carvalho

FACUNDO E A BUSCA PELA CONSTRUO DA IDENTIDADE NACIONAL

ARGENTINA................................................................................................................................. 340

Bruna Wagner

Helosa Helena Ribeiro de Miranda

Iouchabel Sarratchara de Fatima Falco

FESTIVAL DE CINEMA "OSCARITO": DESPERTAR A IMAGINAO E O PRAZER PELA

LEITURA NA PRODUO DE CURTA-METRAGENS........................................................... 349

Patrcia Rodrigues

Izabel Jacinta Magni Hinrichs

GEOGRAFIA E LITERATURA: A REPRESENTAO ESPACIAL DO SERTO

MATOGROSSENSE NA NARRATIVA REGIONALISTA DE VISCONDE DE TAUNAY -

INOCNCIA............................................................................................................................... 359

Moacir Apolinrio da Costa

Larissa Pereira Dias

KIRIKU E A FEITICEIRA: MULTILETRAMENTO E INTERDISCIPLINARIDADE .............. 366

Bruna dos Santos Evangelista

Genivaldo Rodrigues Sobrinho

O ENSINO DE LITERATURA INFANTO-JUVENIL MEDIADO PELA PROPOSTA DO

LETRAMENTO LITERRIO ...................................................................................................... 374

Luciney Rosa Sur

Marli Chiarani

O METDO RECEPCIONAL NO DILOGO ENTRE LITERATURA TRADICIONAL E

PRODUO CONTEMPORNEA ............................................................................................ 384

Cludia Valria Gonalves Loroza

O SER AMAZNICO: MATO GROSSO AO AMAZONAS IDENTIDADES, CULTURAS E

CRENAS...................................................................................................................................... 395

Julia Raisa Ximenes Figueiredo

7

PAREDES E VIOLINOS: DILOGOS CULTURAIS NO FUNK METRALHADORA, DA

BANDA VINGADORA ................................................................................................................ 405

Paulo Srgio Sousa Costa

Paulo Srgio Marques

PELOS CAMINHOS DA LITERATURA: O GNERO DE VIDA NORDESTINO VISTO SOB A

PERSPECTIVA DA POESIA MORTE E VIDA SEVERINA DE JOO CABRAL DE MELO

NETO ............................................................................................................................................. 415

Larissa Pereira Dias

Krita de Ftima Arajo

TRADUO E VISUALIDADE: ANLISE COMPARATIVA ENTRE O POEMA 1(a, DE

E.E. CUMMINGS, E A TRADUO SO, DE AUGUSTO DE CAMPOS ............................. 426

Giovanna Anffe de Azevedo

Prof. Dr. Vincius Carvalho Pereira

VESTGIOS IDENTITRIOS EM TRS CENRIOS DICKEANOS ....................................... 432

Iouchabel Sarratchara de Fatima Falco

8

APRESENTACAO

Esta publicao composta pelos artigos que discutem os resultados de

pesquisas apresentadas no XIV Colquio Nacional de Estudos Lingusticos e

Literrios (CONAELL) e que teve como tema Formao do Profissional de

Letras: convergncias terico-metodolgicas.

O evento realizado anualmente, j conquistou reconhecimento

nacional e constitui-se em espao de compartilhamento de ideias, divulgao

de pesquisas e atualizao acadmico-cientfica.

A edio foi dividida em duas sees: a primeira, composta de 27

artigos, apresenta as publicaes inerentes aos Estudos Lingusticos; a

segunda, da qual fazem parte 21 artigos, conjuga trabalhos da rea de Estudos

Literrios.

As referidas pesquisas foram socializadas nas formas de conferncias,

palestras, comunicaes orais e psteres e foram desenvolvidas por

graduandos, ps-graduandos, professores e pesquisadores provenientes de

vrios estados do Brasil que integraram o evento para debater temticas

pertinentes rea de Letras.

As ideias e os resultados dos estudos contidos nos artigos, mesmo que

devidamente submetidos avaliao do Conselho Editorial Cientfico, so de

responsabilidade de seus autores.

Registramos nossos agradecimentos dedicao e parceria desses

autores que colaboraram com a publicao desta edio e ressaltamos a

importncia da divulgao e compartilhamento de suas produes cientficas

para que o Norte do Estado de Mato Grosso, por meio da UNEMAT/Sinop

possa apresentar sua potencialidade nas reas de Estudos Lingusticos e

Literrios. Nosso intuito de que nossa instituio se mantenha como um

espao propulsor de produo cientfica atualizada e um campo frtil para

novas pesquisas construdas em dilogo contnuo com outras regies e outras

instituies que primam pela produo de conhecimento em diferentes

linguagens.

Sendo assim, coube-nos organizar e disponibilizar as produes

cientficas apresentadas no XIV CONAELL com o propsito de propiciar

meios para o desenvolvimento do saber acadmico-cientfico, fomentar novas

pesquisas e estimular dilogos tericos na produo de estudos vindouros que

envolvam ensino-aprendizagem, formao inicial e continuada de professores

de lnguas e literaturas.

Esperamos que esta edio resulte em boas leituras e desencadeie

profcuos dilogos acadmico-cientficos!

As organizadoras da edio

9

SSSEEEOOO III

EEESSSTTTUUUDDDOOOSSS

LLLIIINNNGGGUUUSSSTTTIIICCCOOOSSS

10

A CAPA E O TEMPO

A IMPORTNCIA DA CAPA PARA A LEITURA DA OBRA

Liliane Lenz dos SANTOS1

Universidade do Estado de Mato Grosso/Juara

RESUMO: Objetivamos nesse artigo verificar como a capa importante para a leitura

completa da obra, sendo a porta de entrada para a apreciao completa desta. A capa o

primeiro elemento que chama a ateno do leitor, de modo que este muitas vezes toma um

livro por se apaixonar primeiramente pela capa para s depois tomar conhecimento da

narrativa. Nesse artigo pretendemos analisar as cores e formas do livro Desculpe a nossa

falha, de Ricardo Ramos, que passou por quatro modificaes, demonstrando o quanto se

faz importante o visual diante de um pblico direcionado. Apresentamos aqui a viso

simplista de alunos do 9 ano de uma escola estadual do interior do Mato Grosso, tendo

como objetivo evidenciar na prtica como as capas do livro Desculpe a nossa falha,

perpassou o tempo e foi adequado de acordo com o pblico alvo, como tambm se

adaptando a cada poca. O livro foi lanado no ano de 1987 pela Editora Scipione, na Srie

Dilogo, direcionado ao pblico juvenil e ainda que escrito na dcada de 80, j tendo

transcorrido 28 anos aps sua primeira publicao, continua sendo um texto rico, muito

bem elaborado que traz questes atuais e reflexivas. Suas capas passaram por alteraes,

como j dito, procurando continuar atual e de acordo com a evoluo de seu pblico. A

teoria utilizada para embasar tal artigo foi a Esttica da Recepo com Jauss (2003), Lima

(2001) e Zilberman (2004), demonstrando como o leitor parte fundamental do ato de ler,

tendo em vista que a referida teoria muda o foco de investigao deixando de ver a

estrutura como algo imutvel e passando a valorizar o leitor, o considerando o terceiro

elemento para completar a obra. O leitor ento passou a fazer parte intrnseca da anlise,

pois a obra s passar a fazer sentido quando o receptor der significado a ela.

Palavras chave: Capas; Livro; Esttica da Recepo.

ABSTRACT: The goal of this articleto is see how the cover of the book is important for the

complete umderstandingofthework, beingthe gateway for fullappreciation. The cover

isthefirstelementthatdrawsthereader'sattention, sothat it oftenwhathappenesisthatonetakes

a book bythe cover isfirstglanceandonlythentake note ofthenarrative. Here are

thesimplisticviewof 9th gradersof a publicschoolofthe interior of Mato Grosso,

demonstrating in practicehowthe book covers Sorryourfault, Ricardo Ramos changed over

time andadaptedtheircoatsaccordingtothetargetaudience, as alsosuitingevery time. The

theoryusedtosupportsuchanarticlewastheAestheticsofReceptionwithJauss (2003), Lima

(2001) andZilberman (2004), demonstrating how there aderis an important part of the acto

freading.

Key - words: Covers; Book; Aesthetics Reception.

1 Mestre em Estudos Literrios pela Universidade do Estado do Mato Grosso UNEMAT, Campus Tangar da Serra, PPGEL, Tangar da Serra, Mato Grosso, Brasil. Professora contratada na UNEMAT, Universidade

do estado do Mato Grosso, Campus Universitrio de Juara.

[email protected]

11

Capa Um convite leitura

A primeira imagem a que fica, segundo ditos populares. A capa de um livro o

primeiro elemento que chama a ateno do leitor, por isso digna de discusso e anlises.

Antigamente a capa servia apenas para proteger o interior do livro, a incluso do nome da

obra, como tambm do seu autor, deram a ela tambm um papel informativo, j que

facilitava a escolha diante do que se procurava e fazia-se assim a distino de cada objeto

livro. Dessa forma, a capa passou a ser um meio de comunicao entre a obra e o pblico,

porm a sua visibilidade deu asas imaginao daqueles que tinham interesse na venda

desse, se tornando um veculo privilegiado de promoo comercial.

Quando surgiu o objeto livro, era raro e de grande valor, acessvel apenas aos

poucos que tinham posses e conhecimento, pois era manuscrito e individualizado. Segundo

Carvalho (2008) a capa desses livros era feita de acordo com o desejo do comprador e com

o seu poder aquisitivo, pois nelas eram utilizados materiais preciosos e diferentes tipos de

tcnicas, mas a partir da mecanizao da obra esse ato foi repensado, padronizado.Como

afirma Carvalho (2008) Os primeiros livros colocados no mercado no possuam

diferenas estticas significativas, isto , no existia qualquer fator de distino expressivo

entre as obras.

O livro comeou a movimentar o mercado e a chamar ateno daqueles que se

beneficiavam com o seu comrcio. A industrializao fez com que esses objetos

chegassem cada vez mais rpido s mos do leitor, por isso sua capa deveria ser melhor

elaborada, de forma que chamasse a ateno do pblico e assim provocasse maior ndice

de vendas.

Diante desse contexto, os autores e capistas passaram a elaborar as capas de acordo

com o escrito, como tambm valorizando o seu pblico alvo, de forma que esses se

interessassem pelo objeto a ponto de compr-lo e consumi-lo, vindo da a importncia de

se conhecer a teoria da Esttica da Recepo, de forma que possamos compreender a

importncia da capa diante do leitor e da poca em que ele est inserido.

A Esttica da Recepo

A Esttica da Recepo surgiu a partir das consideraes tericas feitas por Hans

Robert Jauss (1921-1997), em 1967, numa aula inaugural na Universidade de Constana,

na Alemanha. Nessa aula, ele situou toda a histria universal da literatura e sua

desvalorizao.

Jauss denunciou a calcificao da histria da literatura, que estava presa a padres

herdados do positivismo e do idealismo do sculo XX, no permitindo que esta

desenvolvesse o ser humano de forma completa, como tinha capacidade para faz-lo, e

somente atravs da superao desse estilo de ensino que seria possvel surgir uma nova

teoria literria, fundada no inesgotvel reconhecimento da historicidade (In:

ZILBERMAN, 2004, p. 9) da arte. Para Jauss esta era um elemento fundamental para a

compreenso da vida social.

As teorias anteriores se preocupavam com as obras e seus autores, deixando

margem um terceiro elemento que d vida trama literria, o leitor, porm a Esttica da

Recepo muda o foco, como afirma Zilberman:

a esttica da recepo apresenta-se como uma teoria em que a

investigao muda o foco: do texto enquanto estrutura imutvel, ele passa

para o leitor, o Terceiro Estado, conforme Jauss o designa,

seguidamente marginalizado, porm no menos importante, j que

12

condio da vitalidade da literatura enquanto instituio social (2004, p.

10-11).

O estudo da recepo mudou o foco porque colocou o leitor como coprodutor do

texto, pois ao ler, ao receber o texto, pode dar significado a ele, mostrando que ler no

somente decodificar palavras, mas construir sentidos. Lima afirma que:

Em Jauss, a recepo sempre o momento de um processo de recepo,

que se inicia pelo horizonte de expectativa de um primeiro pblico e

que, a partir da, prossegue no movimento de uma lgica hermenutica

de pergunta e resposta, que relaciona a posio do primeiro receptor

com os seguintes e assim resgata o potencial de significado da obra, na

continuao do dilogo com ela (2001, p. 134).

Dessa maneira, o leitor passou a fazer parte intrnseca da anlise do texto, pois este

foi escrito para um receptor e a obra s passa a fazer sentido quando este receptor d

significado a ela. Nessa perspectiva, importante reconhecer o horizonte de expectativas

do leitor, pois esse horizonte que vai, a princpio, motivar a leitura de determinado texto.

O horizonte de expectativa de origem alem, provm da fenomenologia de

Husserl e da hermenutica de Gadamer. Nessa perspectiva, a forma como o indivduo v

o mundo, a leitura que faz de tudo que o rodeia desde o seu nascimento, sua histria,

seus conceitos e desejos diante de uma realidade, portanto se faz importante porque o leitor

traz consigo sua histria, suas crenas, seus princpios ideolgicos, seu horizonte de

expectativa diante da obra selecionada para leitura, em outras palavras, o horizonte de

expectativa a lembrana de todas as outras obras lidas e momentos vividos e a Esttica da

Recepo respeita esse horizonte, porque diante desses pressupostos que o leitor dar

novos significados obra, pois sabemos que a cada leitura surge uma nova obra, porque se

tece uma relao dialtica entre autor, obra e leitor, mostrando a importncia do ato da

leitura. Como afirma Jauss,

Uma obra no se apresenta nunca, nem mesmo no momento em que

aparece, como uma absoluta novidade, num vcuo de informao

predispondo antes o seu pblico para uma forma bem determinada de

recepo, atravs de informaes, sinais mais ou menos manifestos,

indcios familiares ou referncias implcitas. Ela evoca obras j lidas,

coloca o leitor numa determinada situao emocional, cria, logo desde o

incio, expectativas a respeito do "meio e do fim" da obra que, com o

decorrer da leitura, podem ser conservadas ou alteradas, reorientadas ou

ainda ironicamente desrespeitadas, segundo determinadas regras de jogo

relativamente ao gnero ou ao tipo de texto. (2003, p. 66-67)

Quando o leitor entra em contato com o texto, acontece uma fuso de horizontes de

expectativas, a do leitor com a do autor, pois este tambm colocou em sua escrita todas as

suas ideologias e conhecimentos anteriores. Sendo assim, a obra ser completamente

recriada pela recepo do leitor, pois, como j foi dito, ele quem d significado e sentido

a ela.

A obra pode satisfazer o leitor ou no, quebrando ou at mesmo ampliando seu

horizonte de expectativas.

A reflexo sobre a obra dentro da recepo feita pelo leitor contribui para o

esclarecimento do fenmeno comunicativo que ocorre entre leitor, obra e autor, pois ao

percorrer o texto o leitor se comunica com o autor trazendo antigos conhecimentos e

13

aprimorando-os, assim vai se preparando para interagir com outros textos num processo

espiral de construo de sentidos, e isso se d pelo "prazer esttico.

O prazer esttico o prazer da escrita e da leitura, do deleite no uso dos sentidos,

no descobrir o fato e sanar a curiosidade, como diz Lima (2001) o prazer pelo belo, pelo

gostoso, pelo sensvel, pela satisfao dos cinco sentidos ou pelo prazer oposto, como a

fascinao pelo grotesco, pela morte ou pelo simples fato da caa de uma lagartixa a uma

mosca. A literatura permitiu o lado sensvel da lngua, ela capaz de afugentar o temor e

de banir o sofrimento, de provocar alegria e de suscitar a compaixo (LIMA, 2001, p. 66).

Para que haja o prazer esttico necessrio haver o uso de trs categorias, que so a

poisis, aaisthesise akatharsis, que tambm fazem parte da teoria da Esttica da Recepo.

Em primeiro lugar vem a poisis, que o prazer que o indivduo sente ante a obra que ele

produziu diante do que leu, em suma, o prazer de sentir-se coautor da obra. De acordo

com Lima,

Apoisis corresponde caracterizao de Hegel sobre a arte, segundo a

qual o indivduo, pela criao artstica, pode satisfazer a sua necessidade

geral de sentir-se em casa, no mundo, ao retirar do mundo exterior a

sua dura estranheza e convert-la em sua prpria obra. (2001, p. 80)

A segunda categoria a aisthesis, que demonstra o efeito de renovao da

percepo do mundo que circunda o leitor. A obra passa a lhe causar uma nova viso sobre

tudo que o rodeia, permitindo-lhe a ampliao do seu horizonte de expectativas. E, em

terceiro lugar, como parte do prazer esttico, vem a katharsis, que definida como a

concretizao de um processo de identificao que leva o espectador a assumir novas

normas de comportamento social, numa retomada de ideias expostas anteriormente

(ZILBERMAN, 2004, p. 57). Isto , o espectador no apenas sente prazer diante da obra e

do novo conhecimento, mas mobilizado ao.

Essas trs categorias, para Jauss, no devem ser vistas de forma hierrquica, mas

sim como cooperadoras entre si, podendo se auxiliar em momentos diversos.

A Esttica da Recepo procura manter um olhar no todo, conservando sempre a

comunicao entre a trade leitor, texto, autor, ficando claro que ler abrir-se a novos

horizontes, a novos textos oriundos de outros textos e assim ampliando a viso que se tem

do mundo pessoal.

Nesse artigo vamos observar a recepo das capas da obra de Ricardo Ramos,

Desculpe a nossa falha, por alunos do 9 ano, de uma cidade do interior do Mato Grosso,

na Escola Estadual Iara Maria Minotto Gomes.

A recepo de uma obra iniciada na capa, pois essa que pode ou no despertar o

desejo do leitor de entrar em contato com a obra completa, ento a capa como se fosse a

porta principal para a leitura e dilogo do leitor com o autor e com o texto.

Desculpe a nossa falha, de Ricardo Ramos

O livro Desculpe a nossa falha foi lanado em 1987 pela Editora Scipione, na Srie

Dilogo, pelo autor Ricardo Ramos, que iniciou sua escrita para adultos migrando

posteriormente para o pblico juvenil, com quem teve bons resultados.

Embora j se tenham transcorrido 28 anos aps sua primeira publicao, continua

sendo um texto rico, muito bem elaborado que traz questes atuais e reflexivas.

Vamos nos prender aos aspectos extrnsecos obra, como a srie em que foi

lanado e na qual permanece at o presente, a histria da editora que o publicou e a

relevncia da capa, pois assim podemos compreender as mudanas sofridas por esta no

decorrer dos anos.

14

Srie Dilogo e suas capas

A Srie Dilogo direcionada ao pblico juvenil, em especial alunos das sries

finais do Ensino Fundamental e iniciais do Ensino Mdio, proporcionando a eles momento

de reflexo sobre seu prprio cotidiano. importante conhecermos um pouco das

ideologias e estrutura da Srie, para entendermos a estrutura intelectual que enredava o

livro juvenil em destaque.

Segundo a Editora, a srie tem o objetivo de oferecer aos jovens leitores textos

brasileiros de boa qualidade, que lhes proporcione prazer e estimule a capacidade crtica de

pensamento, como tambm procura oferecer condies bsicas para a formao intelectual

de um bom leitor, vendo o livro como algo essencial e no um produto suprfluo.

Muitos escritores dessa coleo, tal qual Ricardo Ramos, iniciaram na literatura

para adultos e depois migraram para a literatura juvenil, colocando disposio sua

experincia e competncia na escrita ficcional para um pblico diferenciado.

Essa srie sofreu vrias alteraes estruturais com o passar dos anos para atender s

expectativas dos seus leitores, mas sempre manteve um mesmo padro para as obras, a

cada fase. As primeiras capas, por exemplo, tinham um colorido de fundo e depois, em

primeiro plano, centralizado e de forma destacada, o nome da srie, logo mais abaixo o

nome do autor, depois em letras maiores, o nome da obra seguida de uma grande ilustrao

que tomava quase todo o espao da capa. Esse estilo se dava para todas as obras da

coleo, independente do ttulo e do autor. Naquele momento, as capas foram feitas com

esse perfil porque assim chamava a ateno dos jovens leitores.

A estrutura fsica dos livros tambm segue um mesmo padro. No primeiro livro

lanado, as orelhas apresentam os estados, cidades, endereos e telefones dos

distribuidores da Editora Scipione. Na folha de rosto exibido o nome da srie, do autor e

da obra, seguido da edio e o nome e logotipo da editora, tendo no verso as informaes

catalogrficas do livro. Na pgina seguinte tem-se o prefcio e logo aps o captulo 1. As

ltimas folhas trazem uma pequena biografia do autor, tendo na pgina seguinte o nome de

outras obras do autor em questo e, na ltima folha, um dilogo com o leitor sobre o

objetivo da srie. A contracapa mostra pequenas capas de outros livros da mesma srie,

como tambm o nome de outras obras e de seus autores, fazendo propaganda do material

que a srie oferece para o pblico leitor. O livro do qual tiramos essa descrio foi a quarta

edio, com responsabilidade editorial de Luiz Esteves Sallum, projeto grfico da capa de

Isabel Carballo e ilustrao interna de Carlus, sendo impresso no ano de 1990.

As ilustraes contidas nessa edio comeam a partir do captulo 2, com desenhos

simples em preto e branco que no reproduzem a cena descrita, mas procuram levar o leitor

a parar e refletir sobre a arte, a vida. Sandroni e Machado afirmam que,

A imagem confere ao livro, alm do valor esttico, o apoio, a pausa e a

oportunidade de devaneio, to importante numa leitura criadora [...]

comum pensar-se que a imagem est apenas ligada ao texto. Ela pode ser

um elemento decorativo no livro, pode ser fiel ao texto, mas pode

tambm ir alm do texto. (1986, p. 38)

Como possvel perceber, as imagens contidas nessa primeira verso da obra de

Ricardo Ramos conferem valor esttico obra, pois levam o leitor a ir alm do texto.

A outra edio que apresentou a capa reelaborada apresenta a mesma sequncia na

folha de rosto, sendo diferenciada apenas pela insero de um pequeno crculo com um

corao no centro e com a palavra adolescncia, como a que foi apresentada nessa capa,

tendo tambm no verso os dados catalogrficos, seguidos do prefcio. As ltimas folhas

mostram tambm uma pequena biografia do autor e logo depois o nome de outras obras

15

escritas por ele. O que diferenciou foi que no verso da ltima pgina foi tirado o dilogo

do editor com o leitor e colocados os locais de distribuio da editora, j que essa verso

no apresentou a orelha do livro.

As ilustraes continuaram as mesmas e os responsveis pela editorao do livro

tambm permaneceram. O livro usado para tal descrio foi o da segunda impresso da 12

edio, colocado no mercado consumidor no de ano de 1998.

O terceiro livro apresentado h na folha de rosto o nome da srie seguido do nome

do autor, depois o nome do livro em letras maiores e por fim o logotipo e o nome da

editora, todos centralizados. No verso, da mesma forma que os livros anteriores, os dados

catalogrficos seguidos do prefcio, como tambm, nas ltimas pginas do livro, a

biografia do autor e a sequncia de outros livros escritos por Ramos, seguindo a ordem dos

anos de lanamento de forma crescente.

A contracapa se diferencia das anteriores, no alto e centralizado tem-se um balo de

dilogo com o objetivo da srie e comentando a presena de um roteiro de trabalho que

acompanha o livro, possivelmente para chamar a ateno do professor. Abaixo do balo foi

colocado um comentrio do tema, que o roubo de provas, como tambm uma crtica

atual avaliao escolar e posteriormente a idade indicada para a leitura de tal obra. No fim

da capa h novamente o logotipo e o nome da editora.

A ltima verso se diferencia em demasia das demais. Apresenta orelha do livro,

capa de rosto, catalogao, acrescentando uma folha para dedicatria, sumrio e depois o

prefcio. A contracapa apresenta apenas um trecho do dilogo entre Srgio e o bedel,

quando esse lhe insinua a troca do suter pelas provas, aguando assim a curiosidade do

leitor.

As vrias capas do Desculpe a nossa falha

A primeira capa do livro Desculpe a nossa falha apresenta um fundo lils, com o

nome da srie, do autor e da obra sob um fundo branco, destacando assim esses elementos

de reconhecimento do livro e, abaixo, um desenho apresentando uma pessoa de cabelo

curto, no sendo possvel definir se do sexo masculino ou feminino, escrevendo em um

quadro. Esse quadro est pintado com vrias cores, de forma desordenada, sem seguir um

padro, as cores usadas so verde, azul, vermelho e amarelo, mas ao se prestar mais

ateno possvel imaginar um mapa ali desenhado, mostrando que aquele estilo de

educao no pertencia a uma regio especfica, mas abrangia todo o pas. Com um giz a

pessoa faz um "C", de correto, com um corte no meio, smbolo utilizado geralmente por

professores ao corrigir avaliaes e concluindo que a questo est meio certa. A camiseta

que a pessoa veste tem as mesmas cores do quadro, mas com pinturas menores,

demonstrando que ela mesma faz parte do que ensina, do que coloca no quadro para ser

aprendido pelos que a assistem. Segue abaixo a figura de tal capa.

16

(Primeira capa)

Sobre essa capa algumas alunas da Escola Estadual Iara Maria Minotto Gomes

comentaram sobre o dissabor da mesma, o quanto elas no se sentiram atradas pela

narrativa. Lembrando que os nomes dos participantes da pesquisa so fictcios, seguido da

idade e gnero:

Kelly, 14, F: Agora, Desculpe a nossa falha, primeira edio, a

capa parece de um livro didtico, eu achei, se eu o visse na

prateleira eu ia achar que era um livro dos professores, eu no ia

pegar, os desenhos muito sem noo, que eu olhando, no tem nada

a ver, sem cor, parece s esboos, no me chamou a ateno no.

Usualmente quando eu vou ler um livro, eu pego, olho a capa e os

desenho que t dentro, se no tiver desenho, a melhor ainda... n!

Eu prefiro livro sem desenho.

Carla, 14, F:A primeira edio de Desculpe a nossa falha, ele

assim, eu no gostei muito dele, a capa dele no chamou ateno,

e... as folhas so bem servidinhas, as letras tambm so bem boas,

os desenhos no muito a ver com o que fala no livro n, no

gostei muito da capa.

Diante de tais declaraes possvel compreender a mudana da primeira capa, pois com o

passar dos anos os leitores vo mudando e a literatura necessita seguir o mesmo fluxo, j que a

esse pblico que tem-se que alcanar. Como disse a aluna Kelly, o livro parece didtico e no

mais atrativo para a nova gerao. Infelizmente no tivemos acesso a depoimentos da poca do

17

lanamento do livro, que possivelmente tenha agradado queles leitores, j que uma

coleo inteira seguiu o mesmo padro.

Depois dessa verso, surgiram as novas capas da coleo e foi retirado o fundo

colorido, de modo que o mesmo desenho do livro anterior preenchesse todo o espao. O

nome da srie passou a ficar esquerda, como que um lembrete no papel preso a um clips

e o nome do autor acima do nome da obra no canto direito, todos esses elementos sobre o

desenho principal. No canto direito inferior colocou-se um destaque para o pblico-alvo,

um tringulo que d a impresso de que a folha est sendo deslocada e na nova folha

escrito abaixo de um corao: ADOLESCNCIA.

(Segunda capa)

Como percebemos, a segunda capa no sofreu grandes alteraes, somente se

destacou o colorido da capa anterior, que foi o que possivelmente mais tenha chamado a

ateno dos ento jovens leitores, destacando o pblico-alvo, como que convidando esse

grupo para ler tal obra. Percebe-se a um apelo para a ao de ler.

Posteriormente, surgiram capas mais arrojadas e com cores mais chamativas, com a

borda esquerda, de aproximadamente um centmetro de alto a baixo, destacando uma s

cor e na parte superior o nome da srie. A ilustrao toma o restante da capa. No canto

superior esquerdo, da mesma forma e cor que destacou a srie fica o nome do autor, e o

nome do livro ficou em destaque na parte superior direita do desenho, este sendo

relacionado com o enredo da narrativa.

18

(Terceira capa)

Tal capa foi atualizada e completamente modificada, passava uma ideia de

seriedade pelas cores mais escuras e fortes, exigindo mais a ateno do seu leitor, o que

levou alguns alunos a no apreciarem a obra, talvez por no terem ainda maturidade para

uma boa apreciao.

Geovane, 14, M: A terceira edio eu tambm no gostei muito,

essas, essas pessoas... tambm parecem que uns senhores j...

querendo estudar ainda. A letra eu achei pequena, por causa que se

minha v pegasse pra ler ela no ia entender (risos), s.

Carla, 14, F: A terceira edio, eu tambm no gostei da capa por

causa do... do desenho, sei l, no chama ateno, e... a letra

tambm boa, as folha, o desenho meio borrocadinho, assim no

d pra compreender muito bem... s.

Embora a terceira capa parecesse mais sria, outros alunos j conseguiram enxergar

a narrativa a partir da arte, isto , a capa j possibilitou que os educandos comeassem a

preencher os vazios do texto, relacionando a problemtica que foi abordada na narrativa

com as imagens e cores vistas na capa.

19

Mariana, 14, F:A terceira edio j mais bonita, eu ia falar

maneira, mas mais bonita, novo, esse terceiro t parecendo uma

coisa mais sria, uma coisa de escola. Eu falei pra Jenifer que tava

parecendo um gabarito, que tem a ver com a prova, no tem, t

parecendo aqui , de marcar os quadradinho aqui, deixa eu ver, a

folha diferente, esse tem uma folha boa, a letra a mesma. As

figuras so iguais nesses trs livros, s mudou a capa. E no chama

ateno, a terceira parece ser mais chata que as outras. ,

professora, se fosse pra mim ler um desses trs eu ia ler o segundo

, porque t mais a ver.

Daniel, 15, M: J a terceira, j comeou a ficar melhor, por causa

que tem essa imagem aqui na frente que j d prasaber que da

prova. E as imagem da primeira e segunda edio so igual.

Ainda que a terceira capa demonstrasse algum tipo de interao entre obra e leitor,

possivelmente chamando a ateno do pblico leitor da poca em que foi lanada, no se

fez satisfatria para os entrevistados na atualidade. Foi ento lanada a ltima verso de

capa da obra Desculpe a nossa falha, de Ricardo Ramos.

A nova verso foi bem inovadora, apresenta um balo de dilogo de tamanho

considervel, direita, que pega praticamente toda a parte superior, em cor marrom, tendo

escrito em seu interior em cor branca o nome do autor, seguido, em letras maiores, do

nome do livro.

A ilustrao toma toda a parte inferior do livro, tendo parte do desenho sobre o

balo acima citado. O livro tem fundo branco, que destaca ainda mais o balo e as

personagens ilustradas. Estas so aparentemente trs meninos, um centralizado com as mo

nas costas e em p com a cabea ereta, como que focando o leitor. O garoto da direita est

sentado sobre uma mesa, com as mos espalmadas na parte de trs, como que apoiando o

corpo, as costas curvadas e a cabea levemente voltada para o leitor, como se estivesse

com vergonha e o terceiro menino est sentado de frente para o leitor, de pernas abertas e

relaxadas, com as mos cruzadas sobre as costas da cadeira e com a cabea tambm ereta

em direo ao receptor, dando a entender que descontrado e no se sente culpado ou

envergonhado por algo. No canto direito inferior, de maneira centralizada embaixo da

mesa desenhada, o smbolo de um leo e o nome anglo.

A cor marrom sugere o sentimento de estabilidade e afasta a insegurana a

princpio, mas tambm est relacionada represso emocional, ao medo do mundo exterior

e tambm insegurana para com o futuro, sendo assim, uma cor que demonstra

sentimentos dbios. A cor branca sugere proteo, conforto, paz. As duas cores combinam

com a histria narrada neste livro, em que trs garotos tinham o sentimento de certeza at

que tudo desabou e o medo passou a fazer parte daquele momento das suas vidas, mas a

esperana no os deixou desmoronar.

As roupas usadas na ilustrao so verdes e marrons. O verde sinal de esperana

diante de tudo o que viviam, e o marrom lembrava a inconstncia sobre os resultados que

sobreviriam a eles, mas tambm da (in)sensatez de quem os estava julgando.

O garoto com posio e cabea ereta demonstra confiana e firmeza, porm suas

mos atrs das costas demonstram que est escondendo algo e por isso teme. A mesa

geralmente traz o significado de reunio de um determinado grupo, e o garoto sentado

sobre ela demonstra desrespeito, como tambm o alvo da reunio, mas seu olhar

desconfiado, ainda que no possamos ver seus olhos, nos remete ao pensamento de que

20

est com medo do futuro. O terceiro e ltimo garoto no demonstra preocupao com o

que acontece, consegue ter um olhar altivo, mesmo que a situao no esteja em ordem

(cadeira na posio inversa), mas sabe que pode superar o que est prestes a acontecer.

Todas essas imagens remetem s personalidades das personagens centrais da histria.

Todas os personagens esto com a cabea virada para o leitor, porm nenhum deles

apresenta olhos, nariz ou boca, sugerindo que o leitor tambm faz parte da narrativa, que

ele deve fazer uma leitura sem prejulgamentos (ou olhares definidos) e ele, o leitor, que

dar o veredito final das atitudes daqueles trs rapazes ali apresentados.

O nome anglo ficou centralizado, como j foi dito, embaixo da mesa, sugerindo que

houve uma reunio de uma categoria bastante elevada, talvez demonstrando uma

hierarquia que decidira que este sistema que lanaria esse livro somente para o FNDE,

pois a mesma verso tambm se encontra disponvel dentro da srie Dilogo para venda

em livrarias de todo o pas, mas pela Editora Scipione.

O fundo branco demonstra que uma leitura de maneira geral leve e descontrada,

digna de um leitor juvenil.

(Quarta e ltima capa)

Observando a recepo dos alunos a essa capa, podemos entender por completo a

mudana, pois foi uma arte que chamou a ateno e aguou o desejo de manusear e ler a

obra, como tambm alguns passaram a refletir sobre ela.

Kelly, 14, F: A ltima edio eu gostei muito, a capa, o designer

dela j foi muito bom, os trs meninos que so os principais, esto

21

colocados aqui, e eles sem rosto melhor que, isso inspira a gente

imaginar como eles so e substituir por pessoas que a gente estuda

junto.

A aluna consegue perceber a ausncia da face e trazer essa questo para a sua

prpria realidade, pensando como isso acontece tambm em sua instituio de ensino. A

aluna Cristina concluiu que aquela capa sim foi escrita para a sua poca, como diz:

Cristiane, 14, F: A quarta edio foi a... a que eu mais gostei, que

foi... a ltima edio que eu acho que ele foi preparado prans,

adolescentes do sculo 21, ... que ele foi, tipo, que mostrou

contendo esses trs jovens que comeou a histria, atrs das provas,

ento a capa, ela uma capa boa, agradvel, que mostra os

adolescentes da nossa poca, [...].

Mesmo que para alguns alunos a capa no tenha passado uma ideia muito clara do

que tratou o texto, ainda assim chama a ateno para uma possvel leitura.

Geovane, 14, M: Ah! Mas a quarta edio eu chegaria, tem alguma

coisa diferente nela que eu pegaria. S pelo seguinte, a capa

bonita, tem muita... como fala, sumrio?, tem muito, a edio

tambm muito boa, os desenho j d pra entender melhor. A

malha ver..., a malha que fala no texto tambm, tal, d pra voc ver,

a letra boa, o desenho tambm deviam ser muito embaraoso

mais, percebe melhor que os outros, as outras edio, s.

Mariana, 14, F: A ltima verso t fil, professora, tem os trs l

da prova, a folha, a letra chama mais ateno, ele t pra uma coisa

mais sria e as figuras totipo super, hper, mega, ultra diferentes.

No tem nenhuma figura repetida, d pra voc ver elas e j lembrar

da histria, esse livro aqui tem tudo mais a ver, . Voc bate o olho

na figura, voc j lembra e as outras edio no. No d nem pra

voc entender.

Ana Patrcia, 14, F: J a quarta edio eu acho mais interessante

porque os trs menino ali sentado. Dentro do livro tem... tem tudo a

ver, tudo a ver com o livro, tem a camisa aqui, a malha, tem tudo a

ver com o livro a quarta edio. Eu achei mais interessante a quarta

edio, eu pegaria pra ler, as outras no.

Os alunos conseguiram compreender, talvez sem ter certezas, que aquela capa lhes

era direcionada e desenvolvida para envolve-los.

Concluso

O livro Desculpe a nossa falha perpassou todas as mudanas pelas quais tambm

passaram a sociedade e sua juventude, mantendo-se uma obra rica e atual, mas que se

adequou a cada poca vivida pelo seu pblico-alvo e assim permitiu a reflexo de um

assunto polmico e sempre atual: o roubo de provas.

22

Ricardo Ramos conseguiu manter um estilo prprio que proporcionava reflexo

atravs da obra e cada capa desenvolvida foi pensada para o seu tempo, embora pudemos

observar que as trs capas primeiras no agradaram tanto aos alunos do 9 ano, o que

completamente compreensvel, pois estes so alunos que vivem no sculo XXI, mas

certamente os leitores anteriores se encantaram por tal obra, permitindo que essa

permanecesse por tanto tempo no mercado editorial, sendo em 2013 indicada para fazer

parte dos livros paradidticos oficiais do estado do Mato grosso, participando do FNDE

(Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao).

Diante de tal anlise pudemos perceber que a Esttica da Recepo mostra que a

capa de um livro tambm parte fundamental da obra, sendo ela a grande responsvel por

chamar a ateno do leitor, proporcionando uma primeira leitura e de certa forma uma

anlise da obra como um todo, sendo ento a capa a primeira pgina que provoca o ato de

leitura, despertando assim o desejo de ler a obra completa.

Referncias

CARVALHO, Ana Isabel. A capa de livro: o objeto, o contexto, o processo. Dissertao

de Mestrado, Portugal, Universidade do Porto - Faculdade de Belas Artes, 2008.

JAUSS, Hans Robert. A Histria da Literatura como provocao teoria literria. 2.

ed. Lisboa: Passagens, Trad. Tereza Cruz, 2003.

LIMA, Luiz Costa (org.). A Literatura e o Leitor: Textos de Esttica da Recepo. 2. ed.

So Paulo: Paz e Terra, 2001.

SANDRONI, Laura C.; MACHADO, Luiz Raul (orgs.). A criana e o livro: guia prtico

do estmulo leitura. So Paulo: tica, 1986.

ZILBERMAN, Regina. Esttica da Recepo e Histria da Literatura. 1. ed. So Paulo:

tica, 2004.

23

A CONSTRUO DA IMAGEM DO SINOPENSE COMO UM

SUJEITO DE PROGRESSO NAS PGINAS DE

O SINOPEANO NMERO 15, DE 1980

Leandro Jos do NASCIMENTO

Cristinne Leus TOM Universidade do Estado de Mato Grosso

Programa de Ps-Graduao em Letras

RESUMO: O jornal O Sinopeano foi a primeira mdia impressa a circular em Sinop,

estado de Mato Grosso, divulgando informaes sobre o que acontecia no Brasil e no

mundo, bem como fazia o caminho inverso: levava para os outros cantos do pas um pouco

do que acontecia na recm-criada cidade. Em suas pginas, mostrava como os fatos

externos a Sinop poderiam afetar o dia a dia de quem nela vivia. Os enunciados do produto

se apresentavam de diferentes formas e situavam o leitor em um determinado tempo e

espao histricos. Desta forma, construam uma memria representada em notcias (como

a que destaca a rapidez do crescimento da cidade), artigos (como o intitulado Muito Mais

que uma Usina), textos em geral (como o poema sobre o passado, presente e futuro de

Sinop) e que sempre se conectavam quase que umbilicalmente, evidenciando a vivacidade

do texto. Usando como base os pressupostos tericos da Anlise de Discurso, este trabalho

se dedica a investigar como se d a construo da imagem do sinopense como um sujeito

de progresso. A fim de tecermos tal reflexo, recortam-se os discursos produzidos e

materializados na edio de nmero 15, datada e veiculada no ano de 1980 pelo jornal O

Sinopeano. Para investigar a posio assumida pelo sujeito, em um determinado momento

scio-histrico, utilizam-se os tericos da Anlise de Discurso, como Michel Pcheux e

Eni Orlandi. Ao evidenciar os papeis dos sujeitos nos discursos, Pcheux apresenta

conceitos como o de assujeitamento, compreendido como a ocorrncia de um sujeito que

assume para si o discurso a que submetido, tornando-se porta-voz do discurso. Em Eni

Orlandi busca-se compreender o discurso como uma prtica e no como um conjunto de

textos, ampliando de tal forma a maneira de ver, ler e analisar as pginas impressas de O

Sinopeano.

PALAVRAS-CHAVE: Anlise do Discurso; O Sujeito de Progresso; Jornal O Sinopeano.

ABSTRACT: The newspaper O Sinopeano was the first press media to circulate in

Sinop, Mato Grosso, disseminating information about what has been happening in Brazil

and in the world, while also taking the inverse way: it used to led some information about

the newly created city to other sides of the country. In this newspaper, it was shown how

the external events might affect the day-to-day of the people living in this city. The product

statements were presented in different ways and placed the reader in a certain historical

time and space. This way, they use to build a memory represented by news (for example,

the one which highlights the rapid growth of the city), articles (as the entitled Muito Mais

que uma Usina [Much More than a Mill]), all kind of texts (such as the poem talking

about the past, the present and the future of Sinop), all of them always almost connected

in an umbilical, making clear the vivacity of the text. Based on Discourse Analysis

approach, this work is dedicated to the investigation of the process of construction of

Sinop residents image as a subject that derives from progress. In order to make a

reflection, the speeches produced and materialized in the edition of number 15, dated and

published in the year 1980 by the newspaper O Sinopeano, are cut out. In order to

24

investigate the position assumed by the subject, in a specific social-historical moment, it

was take into account theorists of Discourse Analysis, such as Michel Foucault and Eni

Orlandi. In the process of evidencing the subjects roles in discourses, Pcheux presents

concepts such as subjection, understood as the occurrence of a subject who assumes for

himself the discourse to which he is subjected, becoming a spokesperson for its discourse.

In the studies of Eni Orlandi, there is the action of understanding the discourse as a

practice and not as a set of texts, which considerably amplifies the way of seeing, reading

and analyzing the printed pages of O Sinopeano.

KEYWORDS: Discourse Analysis; Subject derived from progress; Newspaper O

Sinopeano.

1 Introduo

A presena dos meios de comunicao na sociedade desde o incio do sculo vinte

conseguiu conquistar um espao cada vez mais central nas discusses sobre o indivduo,

nas relaes humanas e em suas formas de organizao social. Com o decorrer dos anos, a

prtica do jornalismo, alm da transmisso de fatos e acontecimentos, passou a ser um

agente fundamental na misso de situar seus receptores em um determinado tempo e

espao histrico. Assim, os diferentes veculos fortaleceram o vnculo entre os dois elos no

instante em que, alm de informar, construram memria representada em notcias, artigos,

textos em geral.

A palavra jornalismo , por definio do dicionrio online Houaiss (2006), uma

atividade profissional que visa coletar, investigar, analisar e transmitir periodicamente ao

grande pblico, ou a segmentos dele, informaes da atualidade, utilizando veculos de

comunicao (jornal, revista, rdio, televiso, etc.) para difundi-las. Recorrendo

literatura especializada, como Rossi (1980), o quesito conceitual ultrapassado, de modo

que o termo jornalismo seja visto sob a perspectiva de uma funo social.

O jornalismo, independentemente de qualquer definio acadmica,

uma fascinante batalha pela conquistadas mentes e coraes de seus

alvos: leitores, telespectadores ou ouvintes. Uma batalha geralmente sutil

e que usa uma arma de aparncia extremamente inofensiva: a palavra

acrescida, no caso da televiso, de imagens. (ROSSI, 1980, p. 12)

Utilizando-se da palavra como matria-prima o jornalismo ganha notoriedade, assumindo

um papel cada vez mais central na misso de formar e de (re)construir a histria. Neste processo de

fazer com o que a narrativa ganhe sentido, forma e contedo, o uso dos gneros jornalsticos

assume um papel quase que de protagonista. Gneros, segundo Temer (2009, p.105), so

categorias de anlise a partir das quais podemos agrupar trabalhos semelhantes, visando auxiliar

tanto a produo e a leitura desses trabalhos, quanto anlise deste material. Para a autora, os

gneros esto ligados ao contedo da informao: se ela rica em contedo objetivo classificada

como informativo; quando a opinio predomina classifica-se como opinativa.

O objetivo da pesquisa foi compreender como se deu a construo da imagem do sujeito

nascido em Sinop, Mato Grosso, como um sujeito visto como progressista, a partir do jornal O

Sinopeano (n. 15, 1980).

A anlise se realizou a partir de 03 recortes do jornal em que se destacam o Gnero

Informativo, o Gnero Opinativo e a Poema, e as formulaes foram analisadas a partir da linha

terico-metodolgica da anlise de discurso francesa na relao do sujeito com sua posio

histrica e social de migrante colono que participou da construo da cidade de Sinop.

25

1 O Gnero Informativo

2 O Gnero Opinativo

3 Poema

Iniciou-se o artigo com a apresentao dos gneros jornalsticos que compem

atualmente um jornal de modo a compreender como os textos presentes configuram-se

quanto forma e contedo. Na sequncia, o captulo seguinte apresenta os gneros

presentes no jornal O Sinopeano em 1980, com apenas 4 pginas, com recortes que

ilustrem cada uma das categorias abordadas (informativa e opinativa).

26

Na etapa final deste artigo, analisa-se o papel do sujeito de progresso nas

formulaes do jornal impresso em sua identificao com a cidade.

2 Gneros Jornalsticos

As discusses acerca dos gneros jornalsticos vm sendo promovidas h longa

data, sendo objeto de anlise dos pesquisadores da rea. No Brasil, diz Assis (2010), so

referncias para os estudos dos gneros jornalsticos autores como Marques de Melo

(2003; 2006; 2009), que mantm seu olhar sob a intencionalidade do material jornalstico,

e Manuel Carlos Chaparro (2008), que, ao contrrio, est interessado na estrutura

lingustica do discurso. Esta pesquisa ampara-se na classificao proposta por Marques de

Melo por ser ela a mais seguida no pas.

27

Marques de Melo (1985, p.47) afirma que o jornalismo articula-se em funo de

dois ncleos de interesses: a informao (saber o que passa) e a opinio (saber o que se

pensa sobre o que passa. As modalidades informativa e opinativa predominam nesta

anlise, pois so encontradas em maior abundncia nos textos extrados da edio do jornal

O Sinopeano. Ressalta-se que, ainda de acordo com Marques de Melo, o gnero

informativo estrutura-se a partir de um referencial exterior instituio jornalstica.

Do grupo informativo fazem parte a nota, a notcia, a reportagem, entrevista. A

distino entre cada um, segundo o autor (p. 49), est exatamente na progresso dos

acontecimentos, sua captao pela instituio jornalstica e acessibilidade de que goza o

pblico.

NOTA NOTCIA REPORTAGEM ENTREVISTA A nota corresponde

ao relato de

acontecimentos que

esto em processo de

configurao e por

isso mais frequente

no rdio e na

televiso.

A notcia

um relato

integral de

um fato que

j eclodiu no

organismo

social.

A reportagem o relato

ampliado de um

acontecimento que j

repercutiu no organismo

social e produziu

alteraes que j so

percebidas pela

instituio jornalstica.

A entrevista um relato que

privilegia um ou mais

protagonistas do acontecer,

possibilitando-lhes um contato

direto com a coletividade.

Fonte: MARQUES DE MELO, Jos. A Opinio no Jornalismo Brasileiro. Petrpolis,

Vozes, 1985.

No caso dos gneros opinativos, no qual aparecem o editorial2, o artigo, a resenha, a

coluna, a crnica, a caricatura, o comentrio e a carta, as identidades so assumidas a partir

do que Marques de Melo (1985) chama de autoria e angulagem.

ARTIGO RESENHA OU CRTICA COMENTRIO Tem dimenso explcita,

representando aquele tipo de

matria geralmente escrita pelos

colaboradores e que se publica

nas pginas editoriais ou nos

suplementos especializados.

Corresponde a uma apreciao

das obras-de-arte ou dos

produtos culturais, com a

finalidade de orientar a ao dos

fruidores ou consumidores.

Realiza uma apreciao

valorativa de determinados

fatos. A tica utilizada no

necessariamente da

empresa.

COLUNA CRNICA CARICATURA CARTA Um mosaico, estruturado por

unidades curtssimas de

informao e de opinio,

caracterizando-se pela agilidade e

pela abrangncia. Na verdade, a

coluna cumpre hoje uma funo

que foi peculiar ao jornalismo

impresso antes do aparecimento

do rdio e da televiso: o furo.

A feio de relato

potico do real,

situado na fronteira

entre a informao

de atualidade e a

narrao literria.

A opinio se manifesta

explcita e

permanentemente

atravs da caricatura,

cuja finalidade satrica

ou humorstica

pressupe a emisso de

juzos de valor.

Espao em

certo sentido

democrtico,

ao qual cada

um pode

recorrer.

Fonte: MARQUES DE MELO, Jos. A Opinio no Jornalismo Brasileiro. Petrpolis,

Vozes, 1985.

2 O editorial tambm a voz da empresa de comunicao e expressa o ponto de vista do veculo em relao a

um ou mais assuntos.

28

3 O Jornal O Sinopeano: formulaes que destacam o progresso econmico da

cidade

Aps discutir de forma breve os gneros jornalsticos, entendendo-os na

perspectiva conceitual, passa-se, a partir de agora, a verificar como se apresentam na

edio de nmero 15, de 1980, de O Sinopeano. Na publicao jornalstica, cuja

discusso central baseia-se nos acontecimentos internos e externos Sinop, os textos

ganham forma em notcias, fotos, editorial e poema. Conduzem o leitor em uma caminhada

histria que busca retratar a busca por novas alternativas econmicas para fixar o colono na

recm-criada cidade; a rpida velocidade de crescimento do municpio; a abertura junto aos

governos Federal e de outros pases; conquistas da rea de sade; bem como retratar a

viso local quanto ao passado, presente e futuro da nova cidade.

A histria de Sinop, e os sentidos de progresso difundidos sobre ela pelo jornal O

Sinopeado, est inserida no processo colonizatrio da regio Amaznica. A dcada de 70

foi particularmente importante para o Estado de Mato Grosso, um momento em que o

Estado foi dividido em grandes-pequenos territrios e disponibilizados s empresas

colonizadoras ou colonizao oficial. Em um pas com tantos espaos geogrficos

desconhecidos ou pouco conhecidos, principalmente no interior do Centro-Oeste, com uma

concentrao humana essencialmente litornea Centro-Leste, atividades empresariais de

colonizao deste interior ignorado, foram firmando-se a partir do governo de Getlio

Vargas. neste quadro que temos a presena da Colonizadora Sociedade Imobiliria do

Noroeste do Paran (SINOP), de propriedade de nio Pipino e Joo Pedro Moreira de

Carvalho. De empreendedores e colonizadores no noroeste do Paran, vislumbraram a

possibilidade de saltos maiores e compraram uma rea de terras no Mato Grosso,

conhecida por Gleba Celeste, para iniciar um novo projeto de colonizao. Cidades como

Cludia, Vera, Santa Carmem e Sinop so frutos desta colonizao.

Depois da derrubada da mata, da demarcao e do traado da cidade, foi dado o

nome da empresa Colonizadora cidade, Sinop e tornou-se o polo urbano-administrativo

desta nova regio. Em 1972, Sinop, j com suas primeiras ruas e avenidas abertas,

chegaram os primeiros moradores. E a cidade vingou. Migrantes chegavam todos os dias

permanecendo em barracas, at o corte da madeira para as construes das casas e o

povoado foi crescendo. Em 14 de setembro de 1974 a cidade foi oficialmente fundada. Em

17 de dezembro de 1979 a cidade teve sua emancipao poltica, desmembrando-se do

Municpio de Chapada dos Guimares, e iniciando-se um novo municpio.

O jornal O Sinopeano, nmero 15, apresenta uma sequncia de notcias em que

destaca A rapidez do crescimento da Sinop, A Guerra Ir-Iraque com o destaque para

a questo deficitria do comrcio do petrleo, Cuidados especiais com o projeto Agrcola

de mandioca vo garantir matria prima para a Sinop Agro-Qumica em que a produo

de etanol seria mantida e em crescimento abastecendo o mercado interno de combustvel.

Viagens comerciais e diplomticas do Colonizador Enio Pipino tambm esto destacadas,

em que sempre menciona as cidades colonizadas do Mato Grosso.

3.1 Os gneros jornalsticos no jornal O Sinopeano

O Gnero Informativo

Notcias Elementos-chave 1 Elementos-chave 2

A rapidez do crescimento da

Sinop

Foco: Narra a surpreendente

velocidade dos acontecimentos na

Em 6 anos, a cidade tornou-se

cabea do municpio.

[...] constituir-se na mais

importante do Norte do Mato

[...] O desenvolvimento

continuar numa boa

velocidade [...]

[...] Sinop j comea a ser

29

cidade de Sinop. Grosso, graas ao seu

Impressionante

desenvolvimento.

As perspectivas so daqui

para frente muito mais

animadoras [...]

conhecida como a Capital

Econmica do norte de

Mato Grosso.

A Guerra Ir-Iraque

Subttulos: A situao de Sinop;

Uma greve sintomtica; Outras

Indstrias

Foco: Conflito internacional visto

como uma oportunidade para que

Sinop se consolide como produtora

e fornecedora de etanol base de

mandioca

[...] O Brasil sofre sobressaltos

em funo de sua dependncia

externa dessa energia de

origem fssil.

A SINOP vai garantir energia

carburante para que no falte

ao desenvolvimento da

economia da regio.

[...] Estamos em condies de

dar uma contribuio para ns

mesmos e para o pas [...]

[...] mandioca plantada tem

mercado certo [...]

Vai dar-lhe lucro.

[...] A velocidade do

desenvolvimento econmico

na rea sinopeana est sendo

feito de maneira

impressionante [...]

[...] a marcha sinopeana [...]

[...] Quem viver ver o que

vai acontecer [...]

nio Pipino acompanha o Pres.

Figueiredo na viagem cidade de

Santiago do Chile

Foco: A abertura do colonizador na

esfera federal de governo

Cuidados especiais com o projeto

Agrcola de mandioca vo garantir

matria prima para a Sinop Agro-

Qumica

Foco: Aborda as experincias no

plantio de mandioca e o uso de

variedades

[...] nico Projeto de

Colonizao, no Brasil, que

possui um complexo alcooleiro

[...]

[...] a SINOP criou mais uma

alternativa de produo

agrcola [...]

[...] tero mercado certo para

o consumo da sua produo

[...]

Sinop convidada pelo governo do

Paraguai para participar de

simpsio energtico em assuno

Foco: Intercmbio entre o Grupo e

o Governo em uma srie de

eventos.

[...] a contribuio do Grupo

SINOP ao seminrio deve

ser entendida [...]

[...] independncia na rea da

energia carburante [...]

A SINOP de colonizao e agro-

indstria cada vez mais conhecida

no interior do pas

Foco: descreve a participao do

Grupo em uma srie de palestras no

pas.

Assistncia Mdica

Ambulatorial Previdenciria ser

instalada no ano que vem na

cidade SINOP

Foco: avanos na rea de sade em

Sinop.

[...] mais uma conquista e de

uma vitria para a cidade de

Sinop e os moradores [...]

Consul Geral da Frana visita

realizaes da SINOP

Foco: Consul francs conhece o

projeto de colonizao da

SINOP.A

30

O Gnero Opinativo:

Editorial

Muito mais que uma

usina

Foco: Faz um apanhado dos

principais tpicos do jornal e

introduz as razes pelas quais

o projeto encabeado pela

SINOP vai propiciar gerao

de riquezas aos muncipes.

[..] temos condies para seguir

rumos opcionais, que nos

libertem da fria desenfreada e

j preocupante da desbragada

expanso da canavicultura [...]

[...] o seu lucro de seu trabalho

[...]

[...] mandioca, que fonte de

alimento, de fixao na sua terra

[...]

[...] SINOP mostrar

...desenvolvimento econmico e

social.

Poema

Passado, Presente e

Futuro de voc Sinop

[...] SINOP, SINOP!!! Voc era

to pequenina mas prometia

crescer e assim, a todo mundo

mostrou no que devia crer.

[...] quantas casas erguendo-se;

lojas, supermercados...[...]

[...] Como bom ver voc crescer,

envolvida no abrao carinhoso

que s o progresso sabe ter.

Quem aqui chega, custa a sair, e

quem por aqui passa tem uma

grande sede de voltar.

4 Sujeito e Progresso

Dentre histrias sobre a epopeia das pessoas at chegarem em Sinop, na dcada de

70, temos algumas que se repetem: famlias chegavam em seus carros e caminhes, com

mveis e crianas, s vezes at gado. Todos partindo da Regio Sul, geralmente do Estado

do Paran, os gachos, como ficaram conhecidos, estabeleceram-se com o propsito de

criar razes estabelecer-se fisicamente e emocionalmente, de melhorar de vida

enriquecer e prosperar, e participar na construo de uma nova cidade, de ter algo de que

se orgulhar.

Logo as pessoas que ali estavam deram-se conta que o seu papel seria o de

propulsar e fazer acontecer o nascimento de uma cidade eles teriam a responsabilidade de

fazer uma pequena comunidade transformar-se em um centro urbano. Estava nascendo o

sujeito progressista na Gleba Celeste, um novo conceito social para o indivduo que ali se

dirigia e que apresentava, como caracterstica uma reunio de sentidos, entre eles o esmero

ao trabalho ([...] a SINOP criou mais uma alternativa de produo agrcola [...]), a

dedicao com a famlia e com o prximo ([...] quantas casas erguendo-se; lojas,

supermercados...[...]), a alegria de participar deste momento histrico (Quem aqui chega,

custa a sair, e quem por aqui passa tem uma grande sede de voltar).

A histria deste sujeito se confunde com a histria do local, a histria de um se

identifica com a de outro, e as suas memrias coincidem com as memrias de todos,

porque todos e local so mais do que simples lxicos, so discursos. Ao estudarmos a

localidade geogrfica Gleba Celeste, estudamos a histria das famlias migrantes.

Migrantes que dizem: Como bom ver voc crescer, envolvida no abrao carinhoso que s

o progresso sabe ter.

A posio do sujeito migrante, que saiu de uma condio excludente e muitas vezes

humilhante para prosperar, encontramos nas formulaes discursivas jornalsticas diversas

relaes que se estabelecem entre o discurso e sua posio-sujeito: ora o Editor fala em

nome da empresa Colonizadora e de seus representantes ([...] a contribuio do Grupo

SINOP ao seminrio deve ser entendida [...]), ora fala em nome dos colonos que ali

chegaram ([...] mais uma conquista e de uma vitria para a cidade de Sinop e os moradores

[...]).

31

nestas manifestaes discursivas que percebemos a constituio do sujeito

emaranhado s redes discursivas. O editor constri em sua sequncia temtica uma rede de

discursos (econmicos, polticos, sociais...) em que inclui o morador de Sinop como um

sujeito progressista que se identifica com tal dizer e que interpreta tal dizer como sendo de

sentido vlido para todos. Posio discursiva de progressista garantida pela memria do

seu dizer, participada e compartilhada com aqueles que esto nesta mesma posio: o dizer

de eu referncia para o dizer de outro, e o de outro para aquele, num

interminvel corredor labirntico. Segundo Grigoletto (2005, p. 64, grifo do autor) o

sujeito tem a iluso de controle do dizer e, por sua vez, do sentido, sob o efeito de um lugar

social, construdo pela norma identificadora da sociedade para cada indivduo. O sentido

do meu dizer passa a ser referncia para o teu dizer que passa a ser pr-conceito para o

dizer dele e que, dentro de infinitas possibilidades na brincadeira de telefone sem-fio, os

dizeres se enunciam, os sentidos se multiplicam, as interpretaes caem na ordem dos

deslizes e a frgil estrutura do discurso se renova a partir de novos gestos (ORLANDI,

2001) nascidos da prpria compreenso que ns, sujeitos, temos da lngua essa que j

nasce afetada pelo equvoco, produto social a merc dos processos histricos que a

contradizem constantemente, reavaliada, assassinada e ressuscitada, significada e re-

significada, tornada viva para, novamente, ser acometida pela impreciso do uso que dela

se faz.

Para significar o real o sujeito se coloca em uma posio, posio do seu dizer,

posio de pertena a um corpo de enunciados, de uma posio no seu lugar social.

Indivduo interpelado pela ideologia em sujeito (PCHEUX, 1995, p. 154), o sujeito

navega por entre redes discursivas, por entre saberes, deslizando entre formaes

discursivas nas quais se inscreve como um sujeito dono do seu dizer. Ao mesmo tempo que

o sujeito se identifica com a uma determinada formao discursiva, pode, em outro

momento, se desidentificar. Em Pcheux (Ibid, p. 266) na forma-sujeito do discurso, na

qual coexistem, indissociavelmente, interpelao, identificao e produo de sentido, o

sujeito, interpelado pelo sentido, identifica-se com ele, produzindo novo sentido a partir de

outras interpelaes por outros sentidos j pr-concebidos.

5 Concluso

A participao do jornal O Sinopeano na constituio de sentidos para que o

colono e morador de Sinop se assujeitasse como um sujeito progressista foi cunhado desde

a dcada de 70. Ainda hoje a cidade de Sinop reconhecida como mais progressista que

suas cidades irms (Vera, Cludia, Santa Carmem), que mais se desenvolveu e que,

atualmente, apresenta melhores condies e qualidade de vida.

Apesar de o jornal O Sinopeano ser um jornal dedicado a propagar as aes da

Colonizadora em todo o territrio da Gleba Celeste, em sua designao j mencionava a

estreita ligao entre a cidade de Sinop e a Colonizadora SINOP, o que foi intensamente

retratado nas diferentes edies de O Sinopeano que circularam. Desde cedo esta cidade

tornou-se objeto principal das notcias divulgadas nesta publicao, um esforo que visava

socializar e inserir tanto a cidade quanto seus moradores no cenrio poltico-econmico

brasileiro.

E a medida que a cidade crescia, o morador que ali chegava via-se como parte

integrante de um projeto de colonizao pioneiro, que desbravou uma regio at ento

pouco conhecida. No apenas estar ali, mas participar do progresso e desenvolvimento

gerados em meio aos rasgos na floresta Amaznica, enxergar-se como sujeitos ativos da

32

construo de uma nova realidade social. Um sentimento quase que sempre retratado nas

pginas do folhetim impresso.

Esta reflexo acerca da edio nmero 15 de O Sinopeano procurou retratar tal

configurao, demonstrando como o sujeito morador tambm foi integrado ao processo

colonizador como um sujeito progressista. Ao analisar de que maneira isto deu-se nas

pginas deste jornal, o que se promoveu foi uma observao acerca do discurso, sob o qual

se encontram a lngua (aqui evidenciada pelas palavras do editor para falar de progresso), a

histria (de um processo colonizatrio) e o sujeito ( poca, representado por migrantes).

Espera-se assim ter contribudo para o debate em torno do papel do sujeito

sinopense neste processo, lembrando que a discusso deve ser compreendida como inicial,

diante das inmeras observaes que podem ser feitas sobre o assunto. Mesmo aps

dcadas de sua colonizao, a cidade de Sinop continua alimentando sonhos e desejos, um

lugar onde quem aqui chega pode prosperar.

Referncias

ASSIS, Francisco de. Fundamentos para compreenso dos gneros jornalsticos.

Revista Alceu, Rio de Janeiro, v.11, n.21, p.16 a 33, jul/dez. 2010. Disponvel em: <

http://revistaalceu.com.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=376&sid=33>

Acesso em: 10 nov. 2016.

COLONIZADORA SINOP S.A..O Sinopeano. Curitiba, n.15, out. 1980.

GRIGOLETTO, Evandra. A noo de sujeito em Pcheux: uma reflexo acerca do

Movimento de Desidentificaao. In: FONSECA-SILVA, Maria da Conceio; SANTOS,

Elmo Jos (Orgs.). Estudos da Lngua(gem): Michel Pcheux e a Anlise de Discurso.

Vitria da Conquista: Edies Uesb, n.1, jun. 2005.

HOUAISS, Antnio. Grande Dicionrio Houaiss Online. Disponvel em:

https://houaiss.uol.com.br/pub/apps/www/v3-0/html/index.htm#1. Acesso em: 16 nov.

2016.

MARQUES DE MELO, Jos. A Opinio no Jornalismo Brasileiro. Petrpolis: Vozes,

1985.

ORLANDI, E. Discurso e Texto: formao e circulao dos sentidos. Campinas: Pontes,

2001.

PCHEUX, Michel. Semntica e discurso: uma crtica afirmao do bvio. 2. ed.

Campinas: Editora da UNICAMP, 1995.

ROSSI, Clvis. O que jornalismo. So Paulo: Brasiliense, 1980.

TEMER, A. C. R. P. A opinio no telejornalismo: uma anlise sobre um gnero relutante.

In: PINTO, Aroldo Jos Abreu; SOUZA, Shirlene Rohr de (Org). Opinio na mdia

contempornea. So Paulo: Arte e Cincia Editora, 2009.

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33

A LEITURA DE TEXTOS MULTIMODAIS NA ESCOLA3

Francineide Lima Abreu4

Universidade Federal do Oeste do Par

Mestrado Profissionalizante em Letras

INTRODUO

A ideia de explorar na sala de aula textos multissemiticos surgiu da necessidade

de ajudar os alunos a entenderem que um texto no composto s de palavras; as imagens,

sons, gestos, cores e formas tambm comunicam, desde que contextualizados, construindo

sentidos.

Para tanto, escolhi trs gneros que geralmente combinam linguagem verbal e no-

verbal na construo do sentido do texto: a propaganda, a charge e a tira. A escolha desses

gneros se deu pelo fato de tratarem de temas atuais e de interesse social, buscando

aproximar a escola da realidade vivenciada pela turma composta de jovens e adultos (EJA).

Ao conduzir a leitura desses textos, busquei desenvolver a oralidade e ampliar o

conhecimento de mundo dos educandos, atravs da mobilizao de diferentes operaes

mentais, tais como: a observao, a anlise, a relao do texto lido com outros textos

existentes e de suas experincias acumuladas.

Por meio dessa atividade, os alunos foram levados a perceber que a comunicao

no se realiza apenas pelas palavras, mas que as imagens, cores e formaspresentes num

texto tm sentidos e que, portanto, no podem ser deixados de lado, pois colaboram para o

entendimento da mensagem; perceberam ainda que h diversos suportes nos quais os textos

so veiculados e que a conjuntura social levada em considerao na elaborao de um

texto, influenciando, portanto, na construo dos sentidos.

1. A MULTIMODALIDADE NAS AULAS DE LNGUA PORTUGUESA

H uma variedade muito grande de textos que nos rodeiam. Muitos deles so cheios

de cores, imagens e sons, mas nem sempre so compreendidos satisfatoriamente por seus

usurios, os chamados textos multimodais ou multissemiticos. Nesse atual contexto,

marcado pelos avanos tecnolgicos, em que as imagens, as cores e os sons em geral tm

se tornado parte determinante da comunicao humana, principalmente nos meios de

comunicao de massa, uma concepo de texto satisfatria ao uso com maior proficincia

da linguagem aquela que abarca as diferentes possibilidades de manifestao textual,

quer lingustica, quer imagtica, quer principalmente sincrtica. Nessa perspectiva de

linguagem, tudo que portador de informao texto. Assim,essa definio de texto

abrangetextos formados desde uma nica palavra em um contexto especfico de

comunicao, at aquelesformados apenas por imagens ou smbolos, a exemplo de uma

placa de trnsito encontrada em uma via pblica.

3Este artigo foi proposto no contexto da disciplina Texto e Ensino, ministrada pelo professor Dr. Heliud Luis

Maia Moura, na turma 2016, do Mestrado Profissional em Letras, da Universidade Federal do Oeste do Par -

Ufopa. 4 Universidade Federal do Oeste do Par Mestranda do Profletras

[email protected]

[email protected] (orientador)

mailto:[email protected]:[email protected]

34

Estudos comprovam que usar textos multissemiticos em sala de aula aproxima a

escola da vivncia cotidiana do aluno, pois o trabalho com esses textos amplia suas

experincias (ROJO, 2012).O aluno precisa perceber que a comunicao no realizada

apenas pela escrita de palavras, mas que as imagens tm sentidos que contribuem para a

compreenso da mensagem,isto sem deixar de observar fatores como o seu suporte, suas

condies de produo e a ideologia presente nessasprodues.

Como bem mostra Rojo(2012, p. 13),

o conceito de multiletramentos aponta para dois tipos especficos e importantes

de multiplicidade presentes nas sociedades, principalmente urbanas, na

contemporaneidade: a multiplicidade cultural das populaes e a multiplicidade

semitica de constituio dos textos por meio dos quais ela se informa e se

comunica.

Essa nova realidade do mundo contemporneo vai exigir da escola adequaes na

sua forma de ensinar e formar o cidado do sculo XXI.A relao entre as palavras e as

imagens nos textos passou por uma grande mudana nos ltimos 30 anos, nos livros,

revistas, jornais e at nos livros didticos. A mdia atualmente veicula textos nos quais se

utiliza todo tipo de linguagem desenhos, fotos, artes grficas em geral , fazendo uso de

diversos elementos portadores de sentido: palavras, cores, imagens, gestos e sons. No

apenas a linguagem verbal que contribui para a construo dos sentidos; esses elementos

tambm so uma forma de expresso e de comunicao muito poderosa.

As propagandas, por exemplo, chamam a ateno dos alunos pela linguagem

persuasiva, mas que nem sempre so de fcil compreenso. Uma boa opo levar para a

sala de aula uma das propagandas da Bombril, por exemplo, em que o garoto-propaganda

aparece imitando a postura da Monalisa retratada por Leonardo da Vinci.

A partir desse texto, o professor pode realizar uma srie de indagaes aos alunos,

tais como: Que produto est sendo anunciado? O que chama mais ateno nessa

propaganda? Vocs reconhecem a personagem que aparece nesse anncio publicitrio? Por

que o garoto-propaganda da Bombril est caracterizado dessa personagem? Qual seria a

inteno do produtor desse texto ao fazer a intertextualidade com a tela mais famosa de Da

Vinci? Qual o sentido da frase Monbijou deixa sua roupa uma perfeita obra prima em

relao imagem? Dentre outras perguntas que os levaro a descobrir o sentido do texto e

sua inteno comunicativa, alm de observarem o cuidadoso trabalho com a linguagem.

https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwjnhP6RgeLNAhXJhZAKHfoXAOgQjRwIBw&url=http://www.propagandashistoricas.com.br/2013/10/mon-bijou-bombril-1998.html&psig=AFQjCNFP-ixzsgVyKuFb5ZbLJSoPQsGY-g&ust=1468003428063024

35

Vale ressaltar que existe diferena entre texto multimodal e texto didtico com

imagem. O texto multimodal combina imagem e palavras para produzir sentido. Na

propaganda do amaciante da Bombril, por exemplo, a frase: MonBijou deixa sua roupa

uma perfeita obra-prima s faz sentido se combinada imagem do garoto propaganda

caracterizado deMonalisa, fazendo referncia obra-prima do artista plstico Leonardo Da

Vinci. No texto didtico com imagem, por sua vez, a figura apenas um elemento

ilustrativo, no contribuindo para a construo do sentido do texto.

Esses textos tm grande poder de penetrao na sociedade, poisso facilmente

percebidos, embora, nem sempre lidoscom a mesma facilidade, j ques vezes o leitorno

estabelece relao entre a imagem e o texto verbal, veiculados em diversos suportes, como

outdoor, revistas ou televiso. Segundo Vieira (2007, p. 29), podemos ler ou no os textos

escritos, mas mais difcil escaparmos da seduo dos textos imagticos, manifestada pelo

tamanho da imagem, pelo movimento, pela cor e pela beleza. Um fato ou outro sempre

atrair o nosso olhar e nos aprisionar.

Sem dvida, a primeira coisa que chamar a ateno do leitor a imagem,

principalmente, se esta fizer parte de seu universo cultural. A exemplo dessa constatao,

temos as propagandas que fazem uso da intertextualidade com filmes consagrados, como a

que ocorre no texto abaixo:

Ao se deparar com esse anncio publicitrio, o leitor facilmente ir estabelecer

relao com o filme Edward - mos de tesoura. Essa estratgia de marketing tem a inteno

de levar o leitor a se identificar com o que est sendo anunciado, por recorrer a uma

informao que j faz parte do universo cultural desse leitor. Quando se est familiarizado

com algo veiculado por um texto, este se torna simples e de fcil compreenso.

justamente pelo fato de estar to presente em nossa vida, que a leitura desses textos deve

tambm fazer parte dos est