ana paula de lira-historia da tatoo
DESCRIPTION
No presente estudo se realiza uma descrição etnográfica da prática atual da tatuagem, cujo objeto de estudo é a loja Experience Art Tattoo, localizada na cidade de Florianópolis, SC, Brasil. O problema abordado é a compreensão dessa prática como uma totalidade, vista a partir da ótica da interação e do processo vivido, através do ato de tatuar e ser tatuado, sendo que esse aspecto parece ausente dentro da bibliografia consultada, na qual se enfoca tatuados ou tatuadores de maneira separada, fora da dinâmica que se vivencia dentro do novo contexto da tatuagem. O método de pesquisa foi o etnográfico, de observação e participação. Os tópicos que se desenvolveram foram os seguintes: o novo contexto da tatuagem e suas estratégias de “legitimação”; o profissionalismo, a arte e a higiene; o processo de interação de tatuar e ser tatuado; o sujeito atual que se tatua e o processo de subjetivização que se vive em torno desta prática e o grupo dos “tatuados” como expoentes de um projeto alternativo de construção corporal e de vida. A leitura final dessa prática deixou duas idéias para a reflexão: o posicionamento da tatuagem como uma nova normalidade estética e vivencial no seio da sociedade ocidental, e a configuração de uma nova subjetividade, a dos “tatuados”, como um processo aberto, fluído e dinâmico, onde a pele se converte numa forma de expressão e construção do sujeito.TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
TATUAGEM - A EVOLUÇÃO DE UMA MARCA
Ana Paula de Lira
Orientadora
Profª . Aleksandra Sliwowska Bartsut.M.Sc.
Niterói
2005
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
TATUAGEM - A EVOLUÇÃO DE UMA MARCA
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a
conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato
Sensu” em Marketing.
Por : Ana Paula de Lira
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AGRADECIMENTOS
....em primeiro lugar a Deus que me
deu forças para concluir este trabalho.
Posteriormente agradeço a meu
namorado Alexandre, aos amigos
que diretamente e indiretamente
contribuíram dando apoio e
incentivo...
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DEDICATÓRIA
.....dedico este trabalho a meu
namorado Xande que me incentivou
muito a fazer minha pós graduação.......
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RESUMO
Esse trabalho tem como objetivo fazer uma análise da tatuagem sobre
o comportamento da sociedade através da relação entre os aspectos
psicológicos e sociais sendo considerados mais consistentes seus valores,
cultura e personalidade. Eles definem a essência de uma marca. A tatuagem é
um símbolo que diferencia as pessoas, os grupos sociais entre si.
A intenção desta matéria é trazer numa síntese, materiais necessários
de esclarecimentos tanto no caso de pessoas simplesmente curiosas no
assunto, até aqueles que realmente desejam adotar uma tatuagem. Lembrar
que o mais importante é estar satisfeito dentro do que se propõe.
Mostra ainda que opiniões e conselhos são sempre bem vindos, mas
as decisões para uma vida, são única e exclusivamente de cada um. Para isto
é importante que as escolhas, opções estejam sempre compatíveis com
determinados valores, com o que realmente se acredita.
METODOLOGIA
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A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, consulta a sites,
além de revistas informais e matérias de jornais, já que o objeto de estudo
envolve todos os segmentos da sociedade, gerando polêmicas e discussões
em diversos meios.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - História da Tatuagem 12
CAPÍTULO II - História da Tatuagem no Brasil 17
CAPÍTULO III - A Tatuagem e o Mercado de Trabalho 22
CAPÍTULO IV – Preconceito Religioso 27
CONCLUSÃO 35
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 37
ÍNDICE 39
FOLHA DE AVALIAÇÃO 40
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INTRODUÇÃO
Muitas pessoas admiram obras de arte. Tanto quadros, como pinturas
ou desenhos fazem parte da vida do homem desde os primórdios da
civilização. Muitos gostariam de possuir belos quadros emoldurados nas
paredes, quer seja pela sua simbologia ou somente pela sua beleza.
A tatuagem, ao contrário do que se pode pensar, não é um produto
cultural recente. Desde tempos remotos, o homem imprime pinturas e símbolos
da sua cultura na pele. Seja por religião, vaidade ou estatuto social, o ato de
gravar no corpo continua sendo, até hoje, uma forma de ritual, um momento de
sacrifício e socialização.
O conceito de “origem independente” se adequou a tatuagem, pois ela
foi inventada várias vezes, em diferentes momentos e partes da Terra, em
todos os continentes, com maior ou menor variação de propósitos, técnicas e
resultados.(tattoonet,Janeiro 2005)
Charles Darvin, quando escreveu o livro “A Descesdência do Homem”
em 1871, afirmava que do pólo Norte à Nova Zelândia não havia aborígine que
não se tatuasse. “Não há nação que não conheça esse fenômeno”, dizia o pai
da teoria evolucionista.(Jornal de Campos / Junho 2005)
Para entender o conceito de multinascimento, alguns críticos supõem
que a tatuagem estava na bagagem das grandes migrações dos grupos
humanos e por isso de um povo para o outro.
Através da arte pré-histórica podemos encontrar vestígios da existência
de povos que cobriam o corpo com desenhos. Em vários exemplares de arte
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rupestre, foram encontrados desenhos de formas humanas com pinturas em
seus corpos, assim como estatuetas com desenhos corporais indicando a
possibilidade da existência da tatuagem nesses povos.
Há uma hipótese de que, nos primórdios, marcas involuntárias
adquiridas em guerras, lutas corporais e caças geravam orgulho e
reconhecimento ao homem que as possuísse, pois eram expressões naturais
de força e vitória.
O homem, então, partindo da idéia de que marcas na pele seriam
sinônimas de diferenciação e status, passou a marcar-se voluntariamente,
fazendo ele mesmo seus ferimentos pelo corpo, que com o passar do tempo
deu espaço para criação de desenhos utilizando-se de tintas vegetais e
espinhos para introduzi-las à pele.
A partir daí, diversos povos, de diversas culturas começaram a usar
pinturas definitivas por motivos espirituais, em rituais de várias espécies e fins,
para a guerra, para marcar os fatos da vida biológica : nascimento,
puberdade, reprodução, morte, entre outros. A história da tatuagem continua, e
cresce a cada dia. Ela é escrita todos os dias por tatuadores e tatuados por
todo o mundo.
Para que a tatuagem seja avaliada como arte, é necessário que o
tatuador possua um projeto, um desenho, e dotado de imaginação e
sensibilidade ele procura dar forma a este projeto, caracterizando assim a
obra de arte. O desenvolvimento da obra, no caso a tatuagem, é feita sobre a
pele - envolve técnicas, estilo, habilidade, domínio das próprias linguagens que
envolvem o mundo da tatuagem. Os desenhos que são aplicados na pele
possuem um conteúdo, e o seu significado não é compartilhado pelo tatuador
e tatuado, mas também pelo fruidor (a terceira pessoa envolvida no projeto
artístico que contempla o desenho), pois ele pode interpretar, contemplar, se
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sensibilizar ou se conscientizar através da obra. A estética da tatuagem é a
expressão lúdica (linguagem utilizada na obra) do autor materializada
plasticamente na pele. Para fazê-la não basta ter uma idéia inicial. É preciso
que esta se prolongue durante a execução do desenho e indique novos
resultados a cada instante.
O desenho que será tatuado não é feito diretamente na pele, isto é, o
tatuador não vai simplesmente deixar sua imaginação fervilhante correr solta
na pele de alguém sem utilizar um rascunho. Isso não significa que o desenho
é uma cópia. O tatuador cria os seus próprios desenhos e os oferece ao
cliente, e cabe a este aceitar, sugerir algumas modificações ou pedir o
desenho de outra procedência. Entre os vários estilos de tatuagem, o autor
precisa saber optar pelo material a ser utilizado na obra, por exemplo, o tipo
de tinta e qual a coloração. As técnicas são subordinadas aos elementos
estéticos e à proposta do indivíduo criador. No caso da tatuagem isto é muito
importante, pois um simples erro muitas vezes não é possível de ser reparado.
Os componentes estéticos derivam entre o conteúdo e a forma. Além
disso, a tatuagem também possui ordem, harmonia e perfeição. O conteúdo
provém da vivência do tatuador, de sua experiência e conhecimento do mundo.
Do lúdico origina-se a forma, que é determinada pela capacidade do criador
em utilizar os valores intrínsecos. Na tatuagem é possível notar o espaço
compositivo, ritmo, tonalidade, textura e outros elementos provindos de uma
adequação técnico-ideativa. Então o conteúdo e a forma se fundem,
propiciando o sentido de plasticidade da obra. Não se trata de um trabalho
belo ou feio, ou absolutamente perfeito, mas de uma conquista relativa da
perfeição. É o sentir na plenitude o ajuste adequado entre o querer e o fazer. O
equilíbrio dessas três qualidades produz o valor estético da tatuagem. O objeto
estético é lançado à fruição e apreciação do espectador, enquanto o objeto
artístico o seria em uma etapa mais posterior, após o fato ser consumado
como arte. (revistas em destino, Março 2005)
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A obra pronta é a proposta de um objeto estético de seu criador. Ela
será colocada à apreciação do espectador, sofrerá interpretações diversas,
que muitas vezes diferenciarão da vontade e opinião do autor. A apreciação é
um complexo fenômeno social, e a tatuagem está enquadrada na sociedade
de maneira marginalizada, portanto não é vista como arte por preconceito das
pessoas. (anjos sonhadores,Março 2005)
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CAPÍTULO I
HISTÓRIA DA TATUAGEM
Especula-se que a tatuagem tenha suas origens ligadas ao antigo
Egito, onde tatuar consistia em inserir um pouco de tinta à base de vegetais
logo abaixo da derme, através de uma haste de osso, especialmente afiada na
ponta. Por ter sido a mais desenvolvida sociedade de sua época e por ter tido
contactos constantes com Creta, Grécia e Arábia, a arte egípcia pode ter se
disseminado pelo resto do mundo através das rotas comerciais.
(joanario.no.sapo.pt/tatoo_tempos,Maio 2005)
No Egito, tatuar tinha um significado altamente religioso. De fato,
múmias com cerca de cinco mil anos de idade foram encontradas com marcas
por todo corpo. A mais importante delas, também considerada a mais antiga
do mundo foi encontrada em 1991, na Itália e data de 5.300 anos antes de
Cristo, a sacerdotisa Amunet, possuía vários traços e pontos gravados nas
pernas, colo e braços, como símbolo de fertilidade e longevidade. A segunda
múmia mais antiga do mundo é de uma princesa agípcia que apresentava um
grande espiral desenhado na barriga, região do baixo ventre, que alguns
antropólogos também relacionaram a possíveis rituais de fertilidade.
Outras múmias apresentaram tatuagens de conteúdo mágico ou
médico. Em algumas delas, como na múmia de uma sacerdotisa de 2000 a.C
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havia linhas horizontais e paralelas à altura do estômago, possivelmente para
proteção contra gravidez ou doenças. Múmias com os mesmos tipos de sinais
foram encontradas no vale do rio Nilo. Segundo especialistas, as tatuagens em
múmias do sexo feminino tinham um efeito cosmético, para realçar seus
encantos. Com a descoberta destas múmias, ficou provado real e
concretamente que a arte da tatuagem acompanha o homem desde o seu
surgimento.
Em escritos antigos de Heródoto, chamado “O pai da história”, há
citações sobre a existência de um povo muito antigo no norte Europeu que
tinha o costume de fazer desenhos definitivos pelo corpo, esses povos eram
denominados “Pictus”, por esse mesmo costume. Os Pictus não se tatuavam
por vaidade. Acreditavam que as tatuagens lhes davam poder e força e que os
desenhos ficavam impressos na alma para que eles pudessem ser
identificados após a morte por seus antepassados. Seus guerreiros recebiam
as tatuagens depois de um ato de bravura. As linhas entrelaçadas dessas
tatuagens, complicadíssimas de serem realizadas, serviam para distrair o
inimigo, além de representarem a interconexão de todas as coisas sobre a
terra.(portaltattoo.com/tatuagem/historia,2005)
Mas misteriosamente, povos relativamente isolados como os
Polinésios, os Maias, os Astecas e os bárbaros da Europa, também
desenvolveram os seus próprios estilos de tatuagem. A técnica pouco variava,
mas os desenhos e motivos das pinturas eram singulares em cada cultura.
Estes nativos tatuavam-se em rituais complexos, sempre ligados à religião. Os
maoris se destacaram pela criatividade do Moko, tatuagem tradicional feita no
rosto. Os povos Celtas e Vikings, os dinamarqueses, os normandos e os
saxões, também desenvolveram os seus próprios estilos de tatuagem.
No Taiti, segundo tradição local, a prática da tatuagem seria de origem
divina. Durante o Po’ (período obscuro) ela teria sido inventada pelos dois
filhos do deus Távora Mata Mata Arahu (aquele que imprime com carvão de
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madeira) e Tu Ra’i Po’ (aquele que reside no céu obscuro) que faziam parte do
grupo de artesões. Eles inventaram a tatuagem e ornamentavam-se com um
motivo denominado “Tao Maro” com o intuito de seduzir e tirar a virgindade de
uma linda mulher, que era mantida prisioneira e vigiada por sua mãe; Hina Ere
Ere Manua, movida pelo desejo de se deixar tatuar, consegue enganar a
vigilância da mãe e é finalmente “tatuada”. Estes ilustres antepassados são
sempre invocados antes de se Iniciar uma tatuagem, a fim de que a tatuagem
seja perfeita, que as feridas cicatrizem rapidamente e que os desenhos se
revelem agradáveis à
vista.(solbrilhando.com.br/_Tatuagens_P/Tatuagem_Historia,2005)
Para os Samoanos, o ato de pintar o corpo marcava a passagem da
infância para a maioridade. Enquanto não fosse marcado, o membro da tribo,
por mais velho que fosse, não teria voz numa roda de adultos, nem teria
permissão para tomar uma esposa para si. A tatuagem também funcionava
como instrumento de ascensão social. Quanto mais tatuado fosse o Samoano,
mais alto seria seu estatuto na tribo.
No Japão feudal, acontecia exatamente o contrário. As tatuagens eram
usadas como forma de punição, tornando-se sinônimo de criminalidade. Para
o japonês, muito preocupado com sua posição na sociedade, ser tatuado era
pior do que a morte. Mais tarde, na Era Tokugawa, época de intensa
repressão, ser criminoso se tornou sinônimo de resistência, popularizando a
tatuagem. Foi nessa época que surgiu a Yakuza, a máfia japonesa, cujos
membros tem os corpos todos pintados em sinal de lealdade e sacrifício à
organização e simbolizando a sua oposição ao regime. Os chineses
acreditavam que as tatuagens desviavam o mal de quem as possuía e
marcavam a pele com labirintos sinuosos para confundir os olhos do inimigo.
(solbrilhando.com.br,Maio 2005)
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Na clandestinidade, sob o jugo do poder pagão, os primeiros cristãos
se reconheciam por uma série de sinais tatuados, com destaque para a cruz.
As letras IHS, abreviatura do nome Jesus, o peixe, letras gregas, etc. A Idade
Média baniu a tatuagem da Europa, com o argumento de que era “coisa do
demônio”. Qualquer cicatriz, má formação ou desenho na pele não era visto
com bons olhos. Essas pessoas eram perseguidas, aprisionadas e mortas em
fogueiras pela inquisição a mando dos senhores feudais que queriam
exterminar possíveis “redentores do povo”.
Na América, tanto as tribos indígenas dos Estados Unidos, quanto as
civilizações Maias e Astecas, eram praticantes da tatuagem. Para os Índios
Sioux, tatuar o corpo servia como uma expressão religiosa e mágica. Eles
acreditavam que após a morte, uma divindade aguardava a chegada da alma
e exigia ver as tatuagens do índio para lhe dar passagem ao paraíso. Um
pouco mais próximo da linha do equador, Cortez se espantou com o fato dos
Maias praticarem o culto dos deuses de pedra. Mais ainda, estes povos
tinham o costume de gravar as imagens dos seus deuses na própria pele.
Apesar dos europeus terem desenvolvido a tatuagem com os Celtas e os
povos bárbaros, os conquistadores nunca tinham visto uma tatuagem antes, o
que ajudou a qualificarem os Maias de "adoradores do diabo" e os
massacrarem pelo seu ouro.
A tatuagem foi introduzida no Ocidente no século XVIII, com as
explorações que colocaram os europeus em contato com as culturas do
Pacífico. Nessa época não existiam tatuadores profissionais, mas alguns
amadores já estariam a bordo dos navios e em grandes portos. Na segunda
metade do século XIX, as tatuagens viraram moda entre a realeza européia.
No final do século XIX, a febre da tatuagem espalhou-se na Inglaterra como em
nenhum outro país da Europa. Graças à prática dos marinheiros ingleses em
tatuarem-se. Vários segmentos da sociedade inglesa se tornaram adeptos da
arte.
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Mas mesmo com a realeza tendo sido tatuada, a maioria das pessoas
insistia em associar o ato de tatuar com uma propensão à criminalidade e
marginalidade. Outros interpretavam a penetração da carne como uma
tendência à homossexualidade. Mais forte que qualquer tendência, a tatuagem
se tornou um meio de expressão muito forte que atualmente é cultuado por
vários povos. (portaltatoo.com,Março 2005)
CAPÍTULO II
HISTÓRIA DA TATUAGEM NO BRASIL
2. Breve História da Tatuagem
Os índios já se tatuavam antes da chegada dos portugueses, em 1.500.
E o costume sobrevive até hoje em algumas tribos no Brasil. Os Tupinambás
faziam tatuagem nos guerreiros que capturavam inimigos. A pintura corporal é
bastante valorizada dentro da cultura indígena. Entre cerca de 200 etnias que
vivem no território brasileiro, há grande variedades de desenhos. Mas são
poucos os índios que praticam a tatuagem definitiva, aquela em que a tinta é
perfurada na pele, uma marca tribal para caracterizar os indivíduos de um
mesmo povo. Um exemplo conhecido de índios tatuados são os Karajás, da
Ilha do Bananal, que tatuam círculos nas faces e que rodaram o mundo na capa
do cd de um dos maiores grupos internacionais de Rock, SEPULTURA! Mas o
mais complexo exemplo da tatuagem tribal brasileira são os índios artistas da
tribo Kadiwéu, que vivem na fronteira do Brasil com o Paraguai e que são
famosos pela arte refinada de seus desenhos geométricos. Os Kadiwéu são
os remanescentes da Nação Guaikuru, dos temíveis índios cavaleiros que
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dominavam toda a região e resistiram á colonização por séculos. Os desenhos
faciais e corporais destes guerreiros fascinaram muitos exploradores. O
jesuíta José Sanches Labrador conviveu com os Guaikuru em 1.760 e
escreveu como eram feitas as tatuagens na época. A pele era furada com
espinho até escorrer o sangue, quando colocavam cinzas de folhas de uma
palmeira ou a tinta do jenipapo.(tattonet.com.br,Junho 2005)
A partir de 1920 a tatuagem foi ficando mais comercial, tornando-se
mais popular entre americanos e europeus. Surgindo uma gama de tatuadores
que eram artisticamente ambiciosos. Eles acharam muitos clientes nas
décadas de 1950 e 1960. Durante muito tempo, nos Estados Unidos, a
tatuagem esteve associada a classes sócio-econômicas mais baixas, aos
militares, aos marinheiros, às prostitutas e aos criminosos.
A palavra tatuagem origina-se do inglês tattoo. O pai da palavra “tattoo”
foi o capitão James cook, que escreveu em seu diário a palavra “tattow’,
também conhecida como tatau”, uma onomatopéia do som feito durante a
execução da tatuagem, em que se utilizavam ossos finos como agulhas, no
qual batiam com uma espécie de martelinho de madeira para introduzir a tinta
na pele.(tattoonet.com.br – Maio 2005)
2.1 O Início da Tatuagem no Brasil
A tatuagem elétrica chegou ao Brasil em junho de 1959, através do
dinamarquês "Knud Harld Likke Gregersen", que ficou conhecido como "Lucky
Tattoo". Knud dizia que suas tatuagens davam sorte, e em menos de seis
meses, Lucky já era notícia de TV.
Chegando por aqui, Lucky se estabeleceu em Santos-SP, utilizando seu
talento e suas técnicas de desenhista e pintor profissional. Lucky teve uma
participação real no mundo da tatuagem brasileira. Os tatuadores chegam a
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dizer que por mais imperfeita que seja a tatuagem de Lucky, ela vale muito,
pois foi graças ao dinamarquês que o Brasil entrou no mapa da tatuagem
moderna. Lucky foi notícia em vários jornais, e em 1975 o jornal O Globo o
considerou o único tatuador profissional da América do Sul, sendo sua morte
noticiada no jornal “A Tribuna” de Santos no dia 18 de dezembro de 1983. Por
um bom tempo Lucky continuou sendo o único, até que começaram a
aparecer, aos poucos, os seus seguidores, que herdaram dele as técnicas e
arte de fazer tatuagem. Apesar de toda sua história, o conceito de origem
independente se adequa a tatuagem, pois ela foi inventada várias vezes, em
diferentes momentos e partes do Mundo, em todos os continentes, com maior
ou menor variação de propósitos, técnicas e resultados.
(falcoesnegros,Janeiro 2005)
Lucky nasceu em 1928, praticamente dentro de um estúdio; seu pai,
Jens Gregersen, era tatuador e transmitiu o gosto pelo ofício aos filhos Knud e
Ole.
Lucky entrou para a marinha onde rodou meio mundo colorindo
tripulações e pessoas nos portos em que desembarcava. No Brasil,
desembarcou como imigrante, deu entrada no processo de naturalização
como desenhista e pintor, instalou-se na "boca", versão Santista do ambiente
típico que cercava e ainda cerca portos dos sete mares. Viu no Brasil um
mercado virgem, promissor e muito interessante, o maior da América Latina.
Até então, tatuadores estrangeiros aqui vinham fazer algum dinheiro e iam
embora.
Em Santos, Lucky teve dois endereços: o primeiro na rua João Otávio e
o segundo na rua General Câmara e o nome de sua loja era: LUCKY, que em
inglês é "sortudo", pois suas tatuagens deram sorte no Brasil, fazendo Lucky
fama e dinheiro. (timba,Janeiro 2005)
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A grande popularização da tatuagem nas Américas começou nos anos
70, quando a Califórnia foi o berço dos desenhos que reproduziram imagens
de Marilyn Monroe, James Dean e Jimmy Hendrix. Nessa mesma época, os
surfistas lançaram a moda de braços decorados com dragões e serpentes. Na
década de 80, foi a vez dos tigres e das águias. Desde então, a tatuagem teve
um aumento tão grande de popularidade que o número de estúdios subiu de
cerca de 300 para mais de 4.000 nos últimos 20 anos, nos Estados Unidos.
As tattoos, hoje, no mundo da estética, são muito bem recebidas na
recomposição de sobrancelhas, delineamento dos olhos e lábios, cobertura de
manchas e cicatrizes. Lentamente, a tatuagem também passa a ser
reconhecida como arte, graças as iniciativas dos tattoo clubs, sindicatos e
associações de todo o mundo que promovem exposições, competições entre
os melhores trabalhos e realizam convenções para a atualização e
modernização dos métodos de aplicação e de assepsia.
Segundo a revista Metal Head Tattoo, há alguns anos a situação era
bem diferente. No final da década de 50 até meados da década de 70, quem
quisesse fazer uma tatuagem tinha que viajar, ser marinheiro ou morar na zona
portuária de Santos e ir atrás do único profissional existente no Brasil: o
popular "Mr. Tattoo".
A atividade dos tatuadores a partir de 1970 era exercida apenas nos
portos. Com a máquina de tatuar elétrica, patenteada em 1891, o trabalho
ganhou velocidade e o número de profissionais não demorou para crescer e
ocupar todos os portos do mundo, e posteriormente, os grandes centros.
“Atitude” é o que foi convencionado entre aqueles que a possuem. E se
não fosse a ousadia de Caetano Veloso, tatuando no braço de “meninos do
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Rio” na década de 60/70, a arte não se popularizaria tanto a ponto de
caracterizar uma espécie de tribo urbana.
Nos dias de hoje, é difícil encontrar alguém que não tenha ao menos
pensado em fazer uma tatuagem. A chamada "arte na pele" cada vez mais
perde o estigma marginal que costumava caracterizá-la e está nos corpos de
pessoas de várias idades e classes sociais. De uma simples marca tribal a
gigantescos dragões, elas deixaram a clandestinidade para ganhar as ruas.
Atualmente, no Brasil, há milhares de tatuadores, na sua grande maioria
amadores. A facilidade de adquirir material, e a revolução no comportamento
do ser humano, facilitaram e ofereceram condições para que essa arte
atingisse níveis extraordinários.
Nos dias 17, 18 e 19 de outubro de 2004, São Paulo foi marcada pela
presença de várias tribos. Tatuados ou não, o Galpão da Avenida Francisco
Mattarazo foi palco de um evento que vem provando a cada ano que tatuagens
e piercings já não são vistos com preconceito. Mais uma vez a Convenção
Internacional de Tatuagem do Brasil mostrou o verdadeiro sucesso que faz.
Em sua sétima edição o evento reuniu mais de 17.000 pessoas que visitaram
os 145 stands. Cerca de 700 profissionais de tattoo e body piercing,
expositores de moda e acessórios, equipamentos para tatuagem, artistas
plásticos, equipamentos de esterilização, gravadoras de música, revistas de
tatuagem estiveram presentes no evento para mostrar suas técnicas e
produtos.
Um dos pontos mais importantes da Convenção foi o concurso de
tatuagem que levou artistas da América Latina, com interesse na premiação
(um troféu desenhado exclusivamente), que é símbolo de status no meio
profissional de tatuagem.(revista sem destino, Janeiro 2005)
22
CAPÍTULO III
A TATUAGEM E O MERCADO DE TRABALHO
O modismo de tatuagens e piercings atingiu seu auge na década de 90.
Nasceu como uma forma de protesto e identidade. A maioria dos jovens alega
que ter brincos ou desenhos pelo corpo é uma forma de ressaltar a
individualidade, como uma essência. Discretos ou chamativos, tatuagens e
piercings, que um dia foram símbolo de rebeldia, ganham, a cada dia, mais
adeptos – inclusive no mundo corporativo. E provocam, entre chefes, as mais
diferentes reações. Por isso, antes de decidir usar uma tatuagem ou um
piercing, o profissional deve fazer uma avaliação do grau de conservadorismo
de sua área de atuação. (Jornal Parada Obrigatória, Fevereiro 2005)
23
Em áreas mais novas, como Internet, telecomunicações e publicidade, o
visual pode ser comum. Mas instituições com um perfil sóbrio, como bancos,
escritórios de advocacia, hotéis e hospitais estão atentos à formalidade na
apresentação do funcionário.
A tatuagem e o piercing são associados por alguns chefes mais
conservadores, à excentricidade. Alguns especialistas ligados a área de
recursos humanos, recomendam para alguém que deseja conquistar uma
vaga, evitar esses adornos em lugares visíveis. A procuradora e coordenadora
do Núcleo de Defesa dos Direitos da Personalidade do Ministério Público do
Trabalho do Rio, Lisyane Motta, destaca que ninguém pode ser discriminado
por ter tatuagem ou piercing. Ela diz que : “Ainda que as empresas não
divulguem a proibição do uso de tatuagens e piercings, o critério pode acabar
sendo um fator decisivo na hora da contratação”.
Os especialistas em Recursos Humanos aconselham cautela. A
presidente do Grupo Foco, que seleciona profissionais para multinacionais,
Eliane Kullock, diz que ainda há preconceito no mercado de trabalho : “Quem
quer seguir carreira, deve analisar o perfil da empresa antes de fazer
tatuagem”.
Vale ressaltar, no entanto, que o conceito de tradição e modernidade
varia de região para região. O Grupo Foco tem filiais em todo país e Eliane
conta que em Joinville (SC) já cancelaram a contratação de um soldador,
porque viram na última hora que o candidato tinha uma tatoo. “Lá, as empresas
são familiares e de origem alemã. Para eles, a pessoa tatuada não é séria,
não pensa no futuro”.
Na capital carioca, a postura é diferente : “A tatuagem é vista como
sinal de modernidade e sensualidade. São Paulo fica no meio-termo, apesar
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do interior ser mais conservador”.(Suplemente feminino 14/15 de Setembro de
2002)
3.1 Empresas não podem proibir Tatuagem ou Piercing
Os empregadores não podem vetar tatuagens, piercings, barba ou
cabelo comprido em seus funcionários, explica a advogada Sylvia Romano, de
São Paulo, especialista em Direito do Trabalho. Este assunto veio à tona na
Bahia, onde o shopping assinou um Termo de Compromisso de Ajustamento
de Conduta (TAC), se comprometendo com o Ministério Público do Trabalho a
não mais exigir que os funcionários mantenham a barba aparada. Até então, o
shopping tinha uma norma interna proibindo o uso de barba pela equipe.
“Esse tipo de conduta não é permitido por lei, por ser considerada
discriminatória e assunto que não é regulável por norma interna”, explica a
dra.Sylvia. “É, no entanto, uma prática comum nas empresas, principalmente
na admissão de funcionário. Os que não tem um visual considerado adequado
são prejudicados na seleção”.
(Canal Executivo, Maio 2005)
O fato é que hoje em dia, as tatuagens vão muito além do universo dos
velhos marujos. Caio Freitas, um dos mais antigos tatuadores do Rio e
presidente da Associação de Tatuadores da cidade, conta que hoje seus
clientes são executivos, médicos e juízes. O presidente do Sindicato dos
Tatuadores e Bodypiercing (brinco colocado em várias partes do corpo)
Profissionais do Estado do Rio, Alexandre Ozaen, diz que uma pesquisa
mostra que o número de pessoas que se tatuam dobrou de 2001 para 2004. E
que 70% são mulheres.
Hoje, são as mulheres que usam e abusam dessa arte. Elas perderam a
timidez e vão além das discretas borboletas ou estrelinhas do passado,
ostentando grandes tatuagens tribais, com flores, símbolos ou o que mais
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inventarem. E não só o tamanho aumentou, mas a quantidade de desenhos
também.
3.2 Empresas Tendem a acompanhar o resto da
sociedade
À medida que a cultura pop divulga bem sucedidos personagens que
são tatuados – atletas, cantores, modelos e atores – maior é a chance de as
sociedades ocidentais passarem a aceitar a tatuagem como um adorno tão
corriqueiro quanto brincos em orelhas furadas.
Com elas, as orelhas, aconteceram o mesmo. Houve tempo e lugar em
que a mulher de orelha furada não era digna da atenção das pessoas de bem,
dada a relação que tais pessoas estabeleciam entre a mulher e indígenas
diversos. Foi assim na Grã-Bretanha, onde tatuagem, desde o século XIX, é
símbolo de orgulho imperial, patriótico e religioso. Até a década 50, ainda se
discutia se a mulher podia ou não furar a orelha, muito embora o povo
soubesse que o rei Eduardo VII foi tatuado, assim como seus dois filhos, um
deles também monarca.
De qualquer forma, tanto o mercado de trabalho, quanto à sociedade
tendem a mudar esta visão pré-concebida, pois atualmente existem várias
empresas que contratam seus funcionários não somente pela aparência que o
mesmo ostenta, mas sim, pelo desempenho que possui em sua função. De
acordo com Fernando de Oliveira Sardinha Fernandes, diretor executivo do
Grupo Catho – um dos maiores em recolocação profissional do país – em São
José dos Campos, existe hoje uma filosofia, em alguns casos, apesar de
ainda ser minoria entre as empresas, de que um estilo diferente pode ajudar.
Ele cita o exemplo de algumas lojas, inclusive rede de departamentos que
gostam que seus funcionários tenham um perfil moderno e se mostrem
antenados com a moda.
26
“Também há casos em que o estilo do funcionário não
vai atrapalhar sua função, dependendo da área. Há
empregadores que se preocupam unicamente com o
resultado do trabalho de seu funcionário”, informa
Fernandes. (Vale Paraibano, 14.03.2004)
3.3 Por que Fazer uma Tatuagem
As razões que levam alguém a desenhar seu próprio corpo. Com
desenhos e expressões que sairão somente através de técnicas caras e
complicadas, são estudos de sociólogos, psicólogos, psiquiatras e outros
profissionais que estudam os comportamentos humanos.
Em muitos casos a tatuagem é uma atitude que funciona como uma
auto identificação. Ela serve como uma bandeira que simboliza adesão a um
determinado grupo social. A pessoa somente pertence a esse grupo a partir
do momento que possui uma tatuagem estampada em qualquer parte do
corpo. É como uma vestimenta de um grupo social específico. Como exemplo
temos os chamados metaleiros, skin heads, marinheiros, pescadores entre
outros. Essas tribos possuem como marca registradas inúmeras tatuagens
espalhadas pelo corpo todo.
A tatuagem também é usada como uma forma de expressar rebeldia e
inconformismo. Reprimida pôr uma considerável parcela da sociedade, que
ainda acha que tatuagem é sinônimo de bandido, drogado, subversivo, entre
outros adjetivos não muito agradáveis, ela serve como um grito de protesto
contra o sistema. A pessoa tatuada se sente diferente e, conseqüentemente,
isso passa a ter um valor contraditório e revolucionário.
27
Os motivos que levam as pessoas a se tatuarem são muitos. Vaidade,
homenagem, simbologia ou qualquer outra razão pode explicar o universo
desta marca traduzindo uma pequena parcela de personalidade das pessoas.
CAPÍTULO IV
PRECONCEITO RELIGIOSO
4. Tatuagem – A marca do Preconceito
Algumas tatuagens com figuras por mais inofensivas que
possam parecer, às vezes podem trazer consagrações ao principio da
doutrina católica do mundo atual, mensagens anticristã e que muitos não tem
28
nem idéia que carregam no corpo. Desde o Antigo Testamento, a sociedade é
chamada a ser um povo de Deus, que ama e tem a Deus como único Senhor,
por isso na antiga Aliança o povo era marcado pela circuncisão no intuito de
consagrar-se a Deus inteiramente.
Por este motivo, a Igreja Católica diz que o povo foi marcado pelo
batismo em Jesus, não podendo ter outras marcas além daquela que foi dada
pelo Senhor em sua Nova e Eterna Aliança.
Segundo a Igreja Católica, os que mais usam tatuagens hoje em dia
são os roqueiros, que apreciam as musicas profanas que mais parecem
brigar, xingar e proclamar o ódio, só se vestem de preto fazendo uma alusão
contrária a Luz, o branco. E as tatuagens usadas por estes, mostram um amor
verdadeiro ao demônio com figuras e palavras obscenas.
No Japão as gangs de Yakuzas utilizam a tatuagem como sinais de
intimidação as pessoas e de vanglória, porque a cada pessoa que é
assassinada se faz uma tatuagem no corpo, chegando a encher o corpo com
elas.
Já na Antiga Aliança, se pegarmos para analisar a Sagrada Escritura,
a tatuagem ou qualquer marca no corpo era proibida, porque somos templos
de Deus, do Seu Espírito Santo e não podemos profanar sua morada,
consagrá-la a Satanás por meios de marcas e incisões. (Formação Católica,
Maio 2005)
4.1 Tatuagem, Piercing e Lifting são os Pecados Modernos
O "piercing", as tatuagens e o "lifting" são os novos pecados da
atualidade, afirmou o bispo emérito de Acerra (sul da Itália), Antonio Riboldi.
29
No mesmo plano, estão as assistentes de palco que aparecem com pouca
roupa na TV.
Em entrevista ao jornal italiano ''Corriere del Mezzogiorno'', Riboldi
disse que aspirar a ser uma assistente de palco de um programa de televisão,
com a única incumbência de mostrar o físico, é uma manifestação de
"imoralidade, um modo de se vender a qualquer preço". Mas esses não são os
únicos pecados para o bispo, que também não admite o desrespeito ao
código de trânsito, pois isso põe em risco a vida dos demais.
Assim como pintar o corpo, outros pecados de nosso tempo para
Riboldi são: vestir-se de forma insinuante, ostentar riqueza, abandonar animais
e manter relações fora do casamento. (Agência EFE / 20/07/2003)
4.2 O Simbolismo e os perigos do Piercing e da Tatuagem
O Dicionário de símbolos de J.E. Cirlot diz que "o simbolismo genérico”
engloba tatuagem e ornamentação como atividade cósmica, incluindo sentido
sacrificial, místico e mágico. Veja alguns pontos:
a. A tatuagem pode ser um sinal de propriedade e pacto místico
No oriente (China, Japão), a tatuagem estava vinculada às divindades
configuradas no símbolo. Os líbios tatuavam-se para a deusa Neit, os egípcios
para Atargatis e na Síria para deuses diversos.
Na antiguidade, a tatuagem associava-se ao culto dos deuses-
demoníacos e era praticada durante ritos dedicados por feiticeiros. O sangue
que brotava das feridas, o qual, segundo criam, levava consigo os espíritos
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malignos. "Dá idéia de consagração". O pacto era feito para se incorporar a
entidade do desenho: escorpião, demônios, e outros.
b. A tatuagem pode identificar o grupo e ser usada como talismã
Na Polinésia identificava o clã e a hierarquia. Na Europa do séc. XVII
ela passou a ser propagada pelos marujos como talismã, distinguindo-os dos
demais. A máfia japonesa, yakuza, surfistas, metaleiros, presidiários, fazem o
mesmo. Os nazistas tatuavam judeus para ofenderem sua fé.
c. A tatuagem pode expressar anarquismo e rebeldia
A palavra tattoo, propagada por James Cook, refere-se ao som dos
ossos finos usados na aplicação da tatuagem. A máquina elétrica foi
patenteada por Samuel O'Relly em 1891, cm Nova York, e chegou ao Brasil
em 1959. A onda atual que inclui o piercing vem dos hippies e punks e da
influência do rock pesado. Essa herança comunica rebeldia a Deus, à família e
às autoridades. Defende a liberdade sexual e a Nova Era.
A revista Época de 25/02/2 002 aponta alguns perigos provocados pela
aplicação do piercing:
Língua - Pode provocar fendas nos dentes e infecção geral.
Sobrancelha - Inchaço e dor impedem a higienização correta do local e abre
caminho para infecções.
Umbigo - A pele pode ficar irritada com reações alérgicas.
Nariz - Danifica os vasos sanguíneos e produz cicatrizes.
4.3 Um Sinal de Escravidão
31
Existe a tese de que os locais mais perfurados estejam relacionados à
salvação e que, como certos adornos, o piercing constitui uma tranca que
aprisiona a alma. Um sinal visível de escravidão espiritual.
As leis antigas da Mesopotâmia presumem que o escravo seja marcado,
sendo a tatuagem feita com ferro em brasa ou ainda com uma etiqueta presa a
seu corpo.Sinal de identidade, como as tatuagens dos cultos helenísticos.
4.4 O Cristão versus Piercing ou Tatuagem
Segundo a Igreja católica, o pluralismo corrói insidiosamente o
cristianismo. Para muitos o piercing e a tatuagem são apenas uma questão
cultural. Entretanto, "o Evangelho nunca é o hóspede da cultura; ele é sempre
seu juiz e redentor”, pois parte dela é demoníaca. Por isso, para os religiosos,
o cristão está na contramão:
1. Se traz escândalo ou fere a consciência alheia
2. Se deforma a dignidade humana
3. Se a natureza da prática dá lugar à carne, envolve magia, ocultismo,
idolatria, exploração, malignidade.
4. Se apresenta alguma aparência do mal
5. Se viola a autoridade dos pais, pastor, governo
6. Se traz dúvidas ao coração ou à consciência
7. Se não traz edificação ou a glória de Deus
Para J.R. Stott "somos diferentes de tudo no mundo que não é cristão e esta
contra-cultura cristã é a vida do Reino de Deus." Por fim, H.R. Niebuhr
apresenta Cristo como o transformador da cultura.
32
Algumas pessoas vêm em qualquer tatuagem um símbolo de
marginalidade, mas a história está tratando de virar a página. Ao contrário do
que muitas pessoas pensam, não nasceu nos cais de porto do mundo. Elas,
na verdade, sempre tiveram algum significado para os diversos povos que
habitavam o planeta. E o único cadáver com mais de 5.000 anos totalmente
preservado, uma múmia congelada descoberta nos Alpes italianos em 1991,
apresentava marcas na pele do joelho, que teoricamente seriam tatuagens
feitas por motivos religiosos. A apreciação é um complexo fenômeno social, e
a tatuagem está enquadrada na sociedade de maneira marginalizada,
portanto não é vista como arte por preconceito das pessoas. Há 50 anos, não
havia muito mais a escolher do que as tatuagens clássicas de marinheiros.
Mas hoje, através da tv e de outras formas de mídia, todas as culturas na terra
são conhecidas. E todas as idades históricas precedentes. Assim nós
podemos escolher muito mais livremente. O marinheiro escolhia tatuagens que
faziam parte da sua vida: navios, âncoras, cruzes, corações, flechados com o
nome da amada, etc... Estes são os motivos humanos simples, que estarão
sempre ao redor.
Haverá sempre alguém que é atraído para eles. Os povos da idade do
bronze eram tatuados. Na época dos Vikings, os povos eram tatuados. O
árabe Ibn Fadlan escreveu há mais de mil anos atrás sobre uma reunião com
alguns Vikings e disse como eram cobertos por retratos em seus corpos. Na
antiga Inglaterra, os Romanos eram naturalmente tatuados. Durante as
Cruzadas, era comum que os Cruzados tivessem uma marca tatuada, para
comemorar sua participação na Cruzada, quando alcançaram as Terras
Sagradas. Em especial as classes superiores (chefes), e povos com grande
status, que começaram a se tatuar.
Vários estudiosos já fizeram teses tentando explicar porque os seres
humanos desde a história mais remota fazem tatuagens. A tatuagem antes
símbolo de maloqueiros e drogados, representam também a rebeldia e
33
inconformismo, ou simplesmente gosto pela arte. Algumas pessoas detestam,
outras adoram, outras admiram, mas não tem coragem de fazer uma.
As dúvidas das pessoas que não fazem tatuagem são: medo de se
arrepender. Medo de doer. Medo de não ter como retirar. Medo da
discriminação. Medo de não conseguir emprego. Medo de Deus.
As desculpas para satisfazer a vontade da carne são inúmeras : o modo
de vida dos Israelitas antigos ou mesmo a cultura de um povo estrangeiro
podem ser invocados, para justificar uma forma de vestir-se ou de agir. Os
adeptos do piercing apelam até para a “argola” que Rebeca usou no nariz, na
tentativa de justificar seu agir errôneo. Mas, é bom lembrarmos que no Brasil o
padrão cultural difere dos demais povos. É preciso andar no equilíbrio, sem os
exageros comuns aos filhos do mundo.
Para a Igreja, a conotação espiritual impregnada no uso das tatuagens,
piercing, entre outros é real. Por mais inocentes que sejam os adereços, traz
em si, um significado ritualístico.
Quando Cortez e seus conquistadores chegaram na costa de México
em 1.519 ficaram horrorizados ao descobrir que figuras demoníacas eram
adoradas pelos nativos não somente na forma de estátuas, mas tinham
imagens destes ídolos "impressos" em sua pele. Os espanhóis, que nunca
haviam visto tatuagem, reconheceram-na como o trabalho de Satã. Os
historiadores espanhóis do século XVI relataram as aventuras de Cortez e de
seus conquistadores, relataram que a tatuagem era praticada extensamente
pelos nativos da América Central. Oviedo, que escreveu o primeiro e mais
completo relato de conquista do México, dizendo que os nativos "imprimiam
em seus corpos as imagens de seus demônios na cor preta, perfurando a
carne e a pele, e fixando nele a figura amaldiçoada. Até onde se sabe,
somente um espanhol foi tatuado pelos Maias. Seu nome era Gonzalo
Guerrero, e é mencionado em diversos relatos históricos do México. Os
relatórios de suas atividades são fragmentados, mas intrigantes. Guerrero era
34
um dos 20 marinheiros que sobreviveram a um naufrágio na costa da Jamaica
em 1511. E seus companheiros aglomeraram-se em um bote salva-vidas
pequeno, permanecendo à deriva no mar por duas semanas sem alimento ou
água. Os sobreviventes alcançaram finalmente a costa de Yucatan, onde foram
capturados pelos Mayas. Guerrero e quatro outros conseguiram escapar e
permanecer na selva perto de Chetumal, uma cidade-estado próxima aos
Maias. A regra de Chetumal, que era um inimigo de seus captores anteriores,
permitiu que vivessem mas se tornaram escravos deles.
Durante os dois anos seguintes três dos espanhóis sucumbiram à fome,
ao trabalho duro, e à doença. Os únicos sobreviventes eram Guerrero e um
padre católico, Gerônimo de Aguilar. Guerrero demonstrou talento para a
guerra, e por causa de seu conhecimento de métodos militares espanhóis
podia melhorar seu lote se fazendo útil ao Mayas em suas guerras de encontro
aos invasores. Após ter proposto e ter organizado um ataque bem sucedido
em navios espanhóis da expedição de Córdova foi eleito comandante militar
principal. Casou-se com a filha de um nobre, teve diversas crianças, e se
converteu à religião de Mayan. Como mostra de sinceridade de sua conversão
ele mesmo se cobriu completamente com a tatuagem Mayan, como era de
costume para um de sua posição social dentro da tribo. Quando Cortez lançou
invadiu o México em 1519 parou primeiramente na costa de Yucatan, onde
prendeu dos nativos de Cozumel que disseram que dois espanhóis viviam com
o Mayas em terra firme. Cortez emitiu imediatamente um navio de resgate e
mensageiros para salvar a vida dos espanhóis. De Aguilar retornou com o
mensageiro, mas Guerrero não. Quando Aguilar viu os espanhóis agradeceu a
Deus, chorando, caiu a seus joelhos, e perguntou se o dia era quarta-feira. Era.
Tinha controlado a contagem dos dias em um calendário cristão por oito anos.
(tatuagem.com.br, Maio 2005)
35
CONCLUSÃO
A decisão de fazer uma tatuagem pode ser influenciada por milhares de
fatores: admiração pela vocação artística dos desenhos, vontade de expressar
a individualidade e até ser incentivada por um quê de rebeldia. Elas estão em
alta no nosso calendário de modismos e, hoje, valoriza-se sua beleza e poder
de sedução no corpo feminino.
Marcar o corpo com um desenho escolhido a dedo é um tipo de
‘personalização’ que atrai cada vez mais gente. Sensual, moderna ou
expressão de uma simbologia pessoal, a tatuagem saiu dos guetos, dos
presídios, portos, palcos e encontros de amantes de Harley Davidson para
entrar na vida cotidiana, enfeitando braços e pernas de gente comum e até de
nobres, como o príncipe Frederik da Dinamarca.
Houve-se tempo em que ter uma tatuagem era um significado de
marginalidade: os “bad boys e girls” que mostravam sem pudor os desenhos
marcados no corpo eram chamados de anormais ou anti-sociais. Até os
militares, que durante a guerra do Ultramar exibiam orgulhosos as suas
tatuagens de “amor de mãe”, passaram a taparam para não correrem o risco
de exclusão social.
Hoje em dia a aceitação das tatuagens, apesar de não agradar a todos,
já não é tão escandaloso. E isso deve-se a uma mudança gradual dos valores.
Os hippies dos anos 60, muitos deles agora em posições de decisão
importantes (no governo, por exemplo) contribuíram muito para que as
tatuagens fossem vistas de forma diferente. A sua cultura trouxe uma nova
perspectiva à forma como as pessoas se viam não só elas próprias, como os
36
outros. Esses valores mais descontraídos, menos rígidos, ajudaram a aceitar
várias formas de arte.
Os anos 60 e 70 inserem a tatuagem no mundo da contra-cultura da
indústria pop. O movimento pacifista dos hippies e a cultura Rock’n Roll foram
férteis para os que queriam tatuar o corpo. Mas a tatuagem ainda estava, de
alguma forma, à margem, e em certa medida simbolizava uma forma de
protesto social.
Alguns jovens acham que as tatuagens são obras de arte. Ainda outros
vêem-nas como símbolo de independência. A tatuagem permite aos jovens
experimentar algo novo – sentir que têm o controle sobre sua aparência.
Também serve como símbolo de rebelião ou de estilos de vida alternativos.
Há quem possa hoje dizer que porta um corpinho absolutamente
"natural”? Será a nossa "Natureza" o artifício? Sendo assim até onde ela irá ?
Os limites do Homem, se ele os tiver, certamente serão determinados por sua
ciência e técnica, fantasia e imaginaçao, arte e ética. Quem sobreviver verá...
Tatuagem
Quero ficar no teu corpo feito tatuagem Quero pesar feito cruz nas tuas coisas Que é pra te dar coragem Que te retalha em postas Pra seguir viagem Mas no fundo gostas Quando a noite vem Quando a noite vem E tb pra me perpetuar em tua escrava Quer ser a cicatriz risonha e corrosiva Que você pega, esfrega, nega Marcada a frio, a ferro e fogo Mas não lava Em carne viva Quero brincar no teu corpo feito bailarina Corações de mãe Que logo se alucina Arpões, sereias e serpentes Salta e te ilumina Que te rabiscam o corpo todo Quando a noite vem Mas não sentes E nos músculos exaustos do teu braço Repousar frouxa, murcha, farta Morta de cansaço (Chico Buarque / Ruy Guerra)
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BIBLIOGRAFIA
MARQUES, Toni. O Brasil Tatuado e Outros Mundos. Editora Rocco,1997, 1ª
edição.
DARVIN, Charles. A Descendência do Homem. 1871.
KOTLER, Philip. Princípios de Marketing. São Paulo: Ibmec, 7º edição.
Jornal O GLOBO, Rio de Janeiro, caderno Boa Chance, Maio de 2005.
Revista, SUPLEMENTO FEMININO, São Paulo, edição 57, Setembro de
2002.
Sites Consultados :
www.tattoonet.com.br
www.revistasemdestino.com.br
www.joanario.no.sapo.pt/tatoo_tempos.htm
38
www.portaltattoo.com/tatuagem/historia
www.solbrindo.com.br
www.falcoesnegros.com.br/historiadatatuagem.htm
www.timba.com.br/artigo.htm
www.jornalparadaobrigatoria.com.br/comportamento
www.canalexecutivo/notas/150420041.htm
www.catho.com.br/imprensa
www.anjossonhadores.hpg.ig.com.br/#introdução2
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
HISTÓRIA DA TATUAGEM 12
CAPÍTULO II
HISTÓRIA DA TATUAGEM NO BRASIL 17
2 - Breve História da tatuagem 17
2.1 – O início da Tatuagem no Brasil 18
CAPÍTULO III
A TATUAGEM E O MERCADO DE TRABALHO 22
3.1 – Empresas não podem proibir Tatuagem ou Piercing 23
3.2 – Empresas tendem a acompanhar o resto da Sociedade 24
3.3 – Por que Fazer uma Tatuagem 25
CAPÍTULO IV
PRECONCEITO RELIGIOSO 27
4 – Tatuagem – A Marca do Preconceito 27
40
4.1 – Tatuagem, Piercing e Lifting são os Pecados Modernos 28
4.2 – O Simbolismo e os Perigos do Piercing e da Tatuagem 28
4.3 – Um Sinal de Escravidão 30
4.4 – O Cristão versus Piercing ou Tatuagem 30
CONCLUSÃO 35
BIBLIOGRAFIA 37
ÍNDICE 39
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Universidade Candido Mendes
TATUAGEM – A EVOLUÇÃO DE UMA MARCA
Ana Paula de Lira
Niterói, 29 de Julho de 2005
Avaliado por: Conceito:
Avaliado por: Conceito:
Avaliado por: Conceito:
Conceito Final: