ana maria figuereido

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Curso de Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica e de Minas Tese de doutorado CARACTERIZAÇÃO DA FADIGA MECÂNICA DE BAIXO CICLO EM LIGAS SUPERELÁSTICAS DE NiTi Autora: Ana Maria Gontijo Figueiredo Orientador: Professor Paulo José Modenesi Co-orientadores: Professores Vicente Tadeu Lopes Buono e Gabriel de Oliveira Ribeiro dezembro de 2006

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

    Curso de Ps-Graduao em Engenharia Metalrgica e de Minas

    Tese de doutorado

    CARACTERIZAO DA FADIGA MECNICA

    DE BAIXO CICLO EM

    LIGAS SUPERELSTICAS DE NiTi

    Autora: Ana Maria Gontijo Figueiredo

    Orientador: Professor Paulo Jos Modenesi

    Co-orientadores: Professores Vicente Tadeu Lopes Buono e Gabriel de Oliveira Ribeiro

    dezembro de 2006

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

    Curso de Ps-Graduao em Engenharia Metalrgica e de Minas

    Ana Maria Gontijo Figueiredo

    CARACTERIZAO DA FADIGA MECNICA

    DE BAIXO CICLO EM

    LIGAS SUPERELSTICAS DE NiTi

    Tese de doutorado apresentada ao Curso de Ps-Graduao em

    Engenharia Metalrgica e de Minas da Universidade Federal de

    Minas Gerais

    rea de concentrao: Metalurgia de Transformao

    Orientador: Professor Paulo Jos Modenesi

    Co-orientadores: Professor Vicente Tadeu Lopes Buono

    Professor Gabriel de Oliveira Ribeiro

    Belo Horizonte

    Escola de Engenharia da UFMG

    dezembro de 2006

  • Para minha me, Professora Delba Gontijo Figueiredo

  • Tudo no mundo est dando respostas; o que demora o tempo das perguntas.

    Jos Saramago (in Memorial do Convento)

  • iii

    AGRADECIMENTOS

    A autora agradece a todos que contriburam com este trabalho, particularmente

    ao orientador, Professor Paulo Jos Modenesi, por partilhar sua experincia e sabedoria

    com dedicao, pacincia e amizade;

    aos co-orientadores, Professor Vicente Tadeu Lopes Buono e Professor Gabriel de Oliveira

    Ribeiro, pela disponibilidade, incentivo e apoio material;

    Professora Berenice Mendona Gonzalez pela realizao dos ensaios de trao e pelo

    entusiasmo carinhoso;

    Professora Maria Celeste Monteiro de Souza Costa pelo apoio e incentivo inestimveis;

    ao Professor Dagoberto dos Santos Brando, pelo apoio na caracterizao do material por

    microscopia eletrnica de varredura;

    ao Mestre Urias - Sr. Newton Urias Pinto, cuja criatividade, habilidade e disponibilidade

    tornaram possveis os resultados mais surpreendentes deste trabalho;

    ao engenheiro Eustquio Apolinrio, pela construo da mquina de ensaios de fadiga;

    aos tcnicos Patrcia Mara Trigueiro, Andria Bicalho Henriques e Joo Alves Ribeiro,

    pelo apoio nas anlises laboratoriais;

    aos meus colegas do Departamento de Engenharia de Estruturas da EEUFMG, pelo

    incentivo carinhoso;

    e, em especial, minha famlia, pelo apoio incondicional.

  • iv

    RESUMO O crescimento acelerado da utilizao de ligas superelsticas, particularmente as do sistema NiTi, em aplicaes mdicas e odontolgicas, juntamente com o emprego de procedimentos cada vez menos invasivos, tem imposto a necessidade crescente de investigao da tecnologia de produo e do comportamento desses materiais. Como, na maioria dos casos, esses materiais esto submetidos a solicitaes mecnicas cclicas, o conhecimento da sua resposta fadiga torna-se fundamental para a segurana na sua utilizao. Entretanto, a natureza no-linear da superelasticidade dificulta a modelagem, atravs das teorias clssicas, do comportamento mecnico de materiais que apresentam esta propriedade. Assim, vrios aspectos do comportamento dessas ligas permanecem controversos. O presente trabalho visou estudar o comportamento em fadiga de baixo ciclo de fios de NiTi, submetidos a ensaios de flexo rotativa controlada por deformao. Foram empregados cinco tipos de fios - um com microestrutura austentica estvel, dois superelsticos, um bifsico (microestrutura austentica e martenstica) e um martenstico estvel. Para comparao, foi ensaiado um fio de ao inoxidvel austentico. As curvas de vida em fadiga (a-Nf) obtidas foram comparadas entre si e com as encontradas na literatura. A microestrutura dos fios foi caracterizada antes e aps os ensaios de fadiga. Foi observado que, nas condies testadas, os fios martensticos apresentaram a maior vida em fadiga. Os resultados de uma modelagem numrica pelo mtodo dos elementos finitos sugeriram que a concentrao de tenses e deformaes bem menos intensa no fio martenstico e prope-se que esta seja uma das razes da maior vida em fadiga deste fio. Mostrou-se que os fios superelstico e bifsico apresentam curvas de fadiga que, para deformaes menores que 4%, se aproximam da curva do fio austentico. Entretanto, para deformaes mais altas, um crescimento da vida em fadiga faz com que suas curvas passem a se aproximar gradativamente da curva do fio martenstico, adquirindo a inesperada forma de um Z. Foi verificado que variaes no trecho em Z das curvas de fadiga esto relacionadas a diferenas na estabilidade da austenita nos fios. Alm disso, foi possvel relacionar esse efeito Z com alteraes nas superfcies de fadiga e na morfologia das trincas. Prope-se que este efeito seja devido inibio da formao de martensita na ponta da trinca, causada pela reduo de volume associada a esta transformao. Esta inibio superada quando as deformaes so mais altas e um volume crescente de martensita formado no material, dificultando a nucleao e propagao de trincas de fadiga. PALAVRAS-CHAVE: Superelasticidade, ligas NiTi, fadiga de baixo ciclo, fadiga de materiais metlicos.

  • v

    ABSTRACT The continuous growth of the use of superelastic alloys, especially those of the Ni-Ti system, in medical and odontologic applications, together with the growing trend to less invasive procedures, have imposed an ever growing need for the investigation of the production technology and performance of those materials. As, in most applications, these materials are subjected to cyclic mechanical loads, the knowledge of their fatigue behavior is fundamental to their safe use. However, the non linear characteristics of superelasticity make the classic theories inadequate to model the mechanical behavior of materials that present such property. Therefore, many aspects of the behavior of these materials are still controversial. The present investigation focuses the low-cycle fatigue behavior of NiTi wires subjected to deformation-control rotation-bending conditions. Five wires - one with a microstructure of stable austenite, two superelastic, one with a microstructure of austenite and martensite (dual phase), and one martensitic - were used. An austenitic stainless steel wire was also tested for comparison. Fatigue a-Nf curves were obtained and compared to results available in the literature. It was observed that, for the conditions tested, fatigue life of the martensitic wires is the longest. Numerical modeling by the finite element method suggested that deformation and stress concentration was much less intense in martensite and it is proposed that this may contribute to the longer fatigue life of the martensitic wire. The microstructure of the wires was characterized both before and after the fatigue testing. It was shown that the superelastic and dual phase wires present fatigue curves that, for deformation below 4%, are close to that of the austenitic wire. However, for higher deformation, their fatigue curves tend to approach that of the martensitic wire. This causes, for those wires, an increase of fatigue live, resulting in unexpected Z-shaped curves. It is shown that the changes in the Z segment of fatigue curves are related to the relative stability of the austenite in the wires. Furthermore, this Z effect can also be linked to changes in the fatigue fracture surface and crack morphologies. It is proposed that such effect is caused by the inhibition of martensite formation at the crack tip by the volume reduction associated to the transformation. This inhibition is overcame for higher imposed deformation, and an ever increasing volume of martensite is formed in the material that makes it more difficult for the nucleation and growth of fatigue cracks. KEY WORDS: Superelasticity, NiTi alloys, low-cycle fatigue, fatigue of metallic materials.

  • Sumrio _____________________________________________________________________________

    vi

    SUMRIO LISTA DE FIGURAS ix

    LISTA DE TABELAS xix

    LISTA DE SMBOLOS xxi

    1. INTRODUO 1

    2. OBJETIVOS 4

    3. REVISO BIBLIOGRFICA 5

    3.1. Ligas de NiTi 5

    3.1.1. Histrico, aplicaes e processos de fabricao 5

    3.1.2. O Sistema Ti-Ni 8

    3.1.2.1. Diagrama de equilbrio 8

    3.1.2.2. Transformaes martensticas em ligas NiTi 10

    3.1.2.3. Cristalografia 12

    3.1.3 Mecanismos de efeito memria de forma e superelasticidade 14

    3.1.3.1. Efeito memria de forma (EMF) 14

    3.1.3.2. Pseudoelasticidade Superelasticidade (SE) 16

    3.1.4. Comportamento mecnico 19

    3.1.4.1. Efeitos de tratamentos termomecnicos 21

    3.1.4.2. Comportamento sob trao versus compresso 24

    3.1.4.3. Influncia da taxa de deformao 25

    3.1.4.4. Outros efeitos 26

    3.1.5. Propriedades 27

    3.2. Fadiga em metais 29

    3.3. Fadiga em ligas de NiTi 32

    3.3.1. Fadiga funcional 32

    3.3.1.1. Ciclagem trmica 32

  • Sumrio _____________________________________________________________________________

    vii

    3.3.1.2. Ciclagem mecnica 34

    3.3.2. Fadiga estrutural 39

    3.3.2.1. Comportamento em fratura sob carregamento monotnico 40

    3.3.2.2. Comportamento em fadiga 43

    3.3.2.2.1. Abordagem de vida em fadiga 43

    3.3.2.2.2. Abordagem tolerncia a dano 57

    3.3.2.2.3. Comparao entre ligas de NiTi e outros materiais 66

    3.3.2.2.4. Concluso 67

    4. METODOLOGIA 69

    4.1. Material analisado 69

    4.2. Caracterizao do material 70

    4.2.1. Composio qumica 70

    4.2.2. Temperaturas de transformao efetivas 71

    4.2.3. Fases e microestrutura 71

    4.2.4. Superfcie dos fios 72

    4.2.5. Propriedades mecnicas 72

    4.3. Ensaios de fadiga por flexo rotativa 74

    4.3.1. Equipamento 74

    4.3.2. Influncia do equipamento e ambiente nos ensaios 77

    4.3.3. Construo das curvas de vida em fadiga 85

    4.4. Caracterizao do material aps fadiga por flexo rotativa 86

    4.4.1. Superfcies de fratura 86

    4.4.2. Sees longitudinais dos fios rompidos por fadiga 87

    4.4.3. Superfcie lateral dos fios rompidos por fadiga 89

    5. RESULTADOS E DISCUSSO 90

    5.1 Caracterizao do material 90

    5.1.1. Composio qumica 90

    5.1.2. Temperaturas de transformao 92

    5.1.3. Superfcie dos fios 98

  • Sumrio _____________________________________________________________________________

    viii

    5.1.4. Fases e microestrutura 100

    5.1.4.1. Identificao das fases 100

    5.1.4.2. Observao da microestrutura 106

    5.1.5. Propriedades mecnicas 113

    5.1.5.1. Ensaios de trao 113

    5.1.5.2. Ensaios de recuperao de forma 118

    5.2 Comportamento sob fadiga 120

    5.2.1. Modelagem numrica 120 5.2.2. Resultados dos ensaios de fadiga (curvas a-Nf) 133

    5.3. Caracterizao dos fios aps ensaio 151 5.3.1. Superfcies de fratura por trao - aspectos macro e microscpicos 151

    5.3.2. Superfcies de fratura por fadiga 153

    5.3.2.1. Aspectos macroscpicos. 153

    5.3.2.2. Aspectos microscpicos 164

    5.3.3. Morfologia e propagao das trincas 174

    6. CONCLUSES 195

    7. CONTRIBUIES ORIGINAIS E RELEVNCIA DOS RESULTADOS 198

    8. SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS 200

    PUBLICAES RELACIONADAS COM O TRABALHO 202

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 203

  • Lista de figuras ____________________________________________________________________________________

    ix

    LISTA DE FIGURAS Figura 3.1

    Diagrama de fase do sistema NiTi. ........................................................... 9

    Figura 3.2

    Temperaturas caractersticas das transformaes martenstica e reversa. 11

    Figura 3.3

    Esquema de estrutura cristalina das fases (a) B2; (b) R; (c) B19. ........... 12

    Figura 3.4

    Esquema de transformao martenstica de liga Ti-50,2%atNi tratada termo-mecanicamente: (a) resistividade eltrica versus temperatura; (b) DSC. ......................................................................................................... 13

    Figura 3.5

    (a) Ilustrao do EMF, (b) curva deformao versus tenso-temperatura. 14

    Figura 3.6

    Mecanismo de EMF. ................................................................................. 15

    Figura 3.7

    Comportamento tpico de liga NiTi superelstica sob carga e descarga. . 17

    Figura 3.8

    Resposta tenso-deformao de NiTi a 70oC e esquema das mudanas micro-estruturais associadas. Material inicial na FA (A), no tracionado.

    17

    Figura 3.9

    Curvas tenso-deformao tpicas de liga NiTi, obtidas em ensaios a diferentes temperaturas. Ensaio a temperatura (a) acima de Md; (c) entre Md e Af; (b) abaixo de Ms. ........................................................................ 20

    Figura 3.10

    Tenso crtica em funo da temperatura, para induzir martensita (T>Ms) e para demaclao (T

  • Lista de figuras ____________________________________________________________________________________

    x

    Figura 3.16

    (a) Efeito da ciclagem trmica na curva de resistividade eltrica versus temperatura; (b) temperaturas de transformao em funo do nmero de ciclos trmicos (liga Ti-49,8%atNi, recozida a 1000oC por 1 hora, seguido de tmpera em gua gelada). ....................................................... 33

    Figura 3.17

    Efeito da deformao cclica nas curvas - sob vrias temperaturas para liga Ti-50,5%at Ni. ............................................................................ 34

    Figura 3.18

    Curvas - das trs ligas de NiTi (A, B e C) durante o 1 e o 50o ciclos sob ciclagem com controle de (a) ; (b) . .............................................. 36

    Figura 3.19

    Contornos de incio e final de transformao martenstica para trincas estticas em uma temperatura entre As e Af. ............................................ 41

    Figura 3.20

    Tenso correspondente deformao de trao mxima aplicada versus nmero de ciclos. ........................................................................... 43

    Figura 3.21

    (a) Deformao total por ciclo versus nmero de ciclos para falha; (b) deformao plstica por ciclo versus nmero de ciclos para falha. .......... 44

    Figura 3.22

    Deformao cclica versus nmero de ciclos para falha final. ................. 46

    Figura 3.23

    Dados de ensaios tenso-deformao cclicas (linhas mais grossas), superpostos s curvas tenso-deformao quasiestticas. (a),(b),(c),(d),(e) condies descritas na tabela III.2. Ciclagem na martensita (M), na austenita (A), na regio superelstica (SE). ............... 47

    Figura 3.24

    Estado de tenso de seo transversal de fio durante (a) flexo pura e (b) fadiga por flexo sob rotao (rotao anti-horria); (c) diagrama - simplificado para material pseudoelstico. Linhas grossas indicam regio de patamar no carregamento, linhas finas, no descarregamento e linhas verticais indicam regies de transio; regio linear elstica est em branco. ................................................................................................ 48

    Figura 3.25

    (a) Curvas amplitude de deformao (a) vida em fadiga (Nf), para vrias temperaturas de ensaio; (b) esquema de curva tenso-deformao definindo a deformao de limite elstico ( e) e proporcional ( pr). ....... 49

    Figura 3.26

    (a) Elevao de temperatura versus tempo durante teste de fadiga (a=1,54%); (b) relao entre elevao de temperatura (saturada) (Tamb) e freqncia. ................................................................................ 50

    Figura 3.27

    Amplitude de deformao versus vida em fadiga, sob vrias freqncias f, no ar. ...................................................................................................... 51

  • Lista de figuras ____________________________________________________________________________________

    xi

    Figura 3.28

    Relao entre elevao de temperatura e freqncia. ............................... 51

    Figura 3.29

    a) Grfico a-Nf para trs dimetros diferentes de fios, a 200 rpm; b) grfico a-Nf para fios de dois dimetro diferentes, 1,2mm para Nf < 104 e 1,4mm para Nf > 104, sob diferentes velocidades de rotao. .............. 52

    Figura 3.30

    (a) Superfcie de fratura, de fio de 1,4mm de dimetro e = 1,8% (MEV); (b) esquema da localizao do incio da trinca e direo de propagao; (c) esquema tridimensional da direo de propagao na parte tracionada do CP. ............................................................................. 53

    Figura 3.31

    Localizao da nucleao de trincas, observadas ao MEV: (a) extruses; (b) riscos profundos; (c) pequenos riscos; (d) incluses. ......................... 54

    Figura 3.32

    Fractografias, por MEV, mostrando alterao na superfcie de fratura, de (a), (b) dominada por estrias a (c), (d), (e) dominada por dimples, medida que a trinca se propaga, obtidas para fio de 1,4mm de dimetro = 1,3%, rompido com Nf = 1283. ........................................................... 54

    Figura 3.33

    Variao de Nf com a, para fios de NiTi. ................................................. 56

    Figura 3.34

    Curvas (a) tenso-deformao; (b) tenso (normalizada para UTS) versus nmero de ciclos para falha final. .................................................. 57

    Figura 3.35

    Taxa de propagao de trinca por ciclo versus amplitude de intensidade de tenso. .................................................................................................. 58

    Figura 3.36

    Taxa de propagao de trinca em funo da amplitude do fator de intensidade de tenso, sob vrias temperaturas, para a liga Ti-50,8%atNi. ................................................................................................. 59

    Figura 3.37

    Taxa de propagao de trinca, a 26oC, em funo do fator de intensidade de tenso, para vrias ligas. ................................................... 60

    Figura 3.38

    (a) curvas da/dN-K; (b) curva Klim-Ms. ............................................... 61

    Figura 3.39

    (a) Curvas tenso-deformao uniaxial (liga NiTi nos regimes ME, AE e ASE); (b) propagao de trincas em NiTi em funo da temperatura, microestrutura e comportamento constitutivo. ......................................... 63

    Figura 3.40

    Superfcies de fratura de liga NiTi nos regimes (a) AE, (b) ASE, (c) ME,(d) ME, sob (i) taxas intermedirias de propagao e (ii) taxas de propagao prximas ao limiar. ................................................................ 64

  • Lista de figuras ____________________________________________________________________________________

    xii

    Figura 3.41

    Variao na deformao diametral em funo da axial, em austenita superelstica (SE), em CP com e sem entalhe. ......................................... 65

    Figura 3.42

    Comparao de taxas de propagao de trincas de ligas metlicas de aplicao biomdicas. ............................................................................... 67

    Figura 4.1

    (a) Pea para ensaios de recuperao de forma aps dobramento, para deformaes de 5% e 8% na fibra externa do fio de 1mm; (b) esquema utilizado no clculo da recuperao de forma (SANTOS et al, 2001)...... 73

    Figura 4.2

    Dispositivo de bancada utilizado para ensaios de flexo rotativa, com ngulo de dobramento = 60o (a) vista, (b) planta, (c) detalhe, (d) esquema da planta. .................................................................................... 75

    Figura 4.3

    Determinao da deformao mxima de trao sob dobramento; R o raio de curvatura e d o dimetro do fio. ....................................................

    76

    Figura 4.4

    Imagens de dois ensaios de fadiga no ao, com (a) e (b) %5,0a = ; (c) e (d) %1a = , onde se v o aumento da oscilao vertical do fio, que espiraliza com o aumento da amplitude de deformao imposta. .........

    80

    Figura 4.5

    Imagens de ensaios de fadiga de NiTi A0, com (a) a (d) %1a = ; (e) a (h) %3a = ; (i) e (j) %4a = ; (k) e (l) %6a = . .....................................

    80

    Figura 4.6

    Modelo adotado para simulao numrica utilizando o programa ANSYS. ................................................................................................. 82

    Figura 4.7

    Modelo adotado para simulao numrica utilizando o programa DEFORM. Na seo transversal, est ressaltado o crculo, correspondente seo real, inscrito no quadrado adotado no modelo numrico. .................................................................................................. 83

    Figura 4.8

    (a) Curvas constitutivas adotadas na simulao numrica utilizando o programa DEFORM, construdas a partir das relaes mostradas em (b). ............................................................................................................. 84

    Figura 4.9

    (a) Esquema de amostra com sees longitudinais de fios rompidos, preparados para observao ao MEV; (b) detalhe com regio fraturada e espessura mxima de um fio aps lixamento; (c) seo longitudinal de um fio, com eventuais trincas secundrias. .............................................. 88

  • Lista de figuras ____________________________________________________________________________________

    xiii

    Figura 4.10

    Esquema de superfcie de um fio rompido, onde se vem trincas secundrias prximas regio fraturada. .................................................. 89

    Figura 5.1

    Espectro de energia de raios-X (EDS) obtido em amostra de liga NiTi, fio A0. ....................................................................................................... 91

    Figura 5.2

    Curvas de (a) aquecimento e (b) resfriamento, obtidas em ensaios DSC para fio A0. ............................................................................................... 92

    Figura 5.3

    Curvas de (a) aquecimento e (b) resfriamento, obtidas em ensaios DSC para fio A-5. .............................................................................................. 93

    Figura 5.4

    Curvas de (a) aquecimento e (b) resfriamento, obtidas em ensaios DSC para fio A25. ............................................................................................. 95

    Figura 5.5

    Curvas de (a) aquecimento e (b) resfriamento, obtidas em ensaios DSC para fio A45. ............................................................................................. 96

    Figura 5.6

    Imagens das superfcies dos fios (a), (b), (c) A0 e (d), (e), (f) A-5 ao MEV, como recebidos. ............................................................................. 99

    Figura 5.7

    Difratograma de raios-X de liga NiTi, fio A0 (a) amostra como recebida, (b) amostra embutida. ................................................................ 100

    Figura 5.8

    Difratograma de raios-X de liga NiTi, fio A-5 (a) amostra como recebida, (b) amostra embutida. ................................................................ 102

    Figura 5.9

    Difratograma de raios-X de liga NiTi, fio A25 (a) amostra como recebida, (b) amostra embutida. ................................................................ 103

    Figura 5.10

    Difratograma de raios-X de liga NiTi, fio A45 (a) amostra como recebida, (b) amostra embutida. ................................................................ 104

    Figura 5.11

    Imagens obtidas no MO, de microestrutura do fio A0 com (a) aumento de 100x; (b) aumento de 500x; (c) aumento de 1000x. ............................ 106

    Figura 5.12

    Imagens obtidas no MEV, de microestrutura dos fios A0 e A-5 sem ataque qumico, com (a) e (b) aumento de 500x; (c) e (d) aumento de 1500x; (d) e (e) aumento de 3000x. .......................................................... 107

    Figura 5.13

    Imagens obtidas no MEV, de microestrutura dos fis A0 e A-5, atacada com soluo de HNO3-10% e HF-5% em H2O, (a) e (b) aumento de 500x; (c) e (d) aumento de 1500x; (d) e (e) aumento de 3000x. .............. 108

  • Lista de figuras ____________________________________________________________________________________

    xiv

    Figura 5.14

    Imagens obtidas no MEV, de microestrutura do fio A25 com (a) aumento de 500x; (b) aumento de 1500x; (c) aumento de 3000x. ........... 111

    Figura 5.15

    Imagens obtidas no MEV, de microestrutura do fio A45 com (a) aumento de 500x; (b) aumento de 1500x; (c) aumento de 3000x. ........... 111

    Figura 5.16

    Curvas tenso-deformao convencional para os fio A0 e A-5. .............. 114

    Figura 5.17

    Curvas tenso-deformao convencional para os fios (a) A25 e (b) A45. 115

    Figura 5.18

    Sntese: curvas tenso-deformao, em trao, dos fios A0, A-5, A25 e A45. .......................................................................................................... 117

    Figura 5.19

    Diagramas-sntese das propriedades mecnicas, em trao, dos fios A0, A-5, A25 e A45. ....................................................................................... 118

    Figura 5.20

    Curvas tenso-deformao do fio A0 - recuperao de forma aps descarga. ................................................................................................... 119

    Figura 5.21

    Deformao do fio, quando sob efeito do momento de toro, mostrada junto sua forma original, a partir de quatro ngulos diferentes. ............ 120

    Figura 5.22

    Modelagem pelo DEFORM do fio superelstico, com (a) configurao inicial, seguida de seqncia de configuraes assumidas pelo fio nas etapas de nmero (b) 10, (c) 40, (d) 70, (e) 90 e (f) 100. Est representada a distribuio de tenses efetivas ao longo do fio. ..... 121

    Figura 5.23

    Grficos de (a), (d) tenso efetiva e (b), (c), (e), (f) deformao efetiva em uma seo transversal do fio, prxima ao mandril. Os grficos (a), (b), (d), (e) foram construdos a partir de resultados obtidos diretamente do programa DEFORM; (c), (f) incorporam o efeito das deformaes elsticas, corrigidas pela relao entre os momentos de inrcia. .............. 124

    Figura 5.24

    (a) Correspondncia entre curvas de distribuio de tenso efetiva e regime de deformao na seo transversal de cada um dos materiais (deformaes correspondentes mxima tenso desenvolvida caso se impusesse ao fio, na configurao fletida, uma rotao completa em torno do eixo da barra); (b) (c) curvas tenso efetiva-deformao efetiva ao longo da seo transversal dos trs materiais, para a=11% e a=5,5%, respectivamente, obtidas a partir dos resultados da anlise numrica. .................................................................................................. 126

    Figura 5.25

    Configuraes deformadas dos fios austentico, superelstico e martenstico representadas (a) separadamente; (b) justapostas. ............... 128

  • Lista de figuras ____________________________________________________________________________________

    xv

    Figura 5.26

    Modelo processado no programa DEFORM (a) configurao inicial; (b) malha de elementos finitos para a metade direita do modelo; (c) configurao aps a deformao. ............................................................. 129

    Figura 5.27

    Distribuio de deformaes e tenses efetivas nos fios (a), (b) austentico, (c), (d) superelstico e (e), (f) martenstico, obtida pelo programa DEFORM, mostrada tambm em detalhe na regio do entalhe. ...................................................................................................... 130

    Figura 5.28

    Distribuio de (a), (b) deformao efetiva e (c) tenso efetiva ao longo da linha P1-P100 mostrada na figura 5.27(c). As curvas referem-se metade direita da barra. ............................................................................. 131

    Figura 5.29

    Configurao deformada de barras dos trs materiais (separadas e superpostas). ............................................................................................. 132

    Figura 5.30

    Resultados dos ensaios (curvas a-Nf) com os fios (a) NiTi A0; (b) NiTi A-5; (c) NiTi A25; (d) NiTi A45; (e) NiTi A0 90oC; (f) ao 308L. ...... 134

    Figura 5.31

    Curvas a-Nf dos fios de NiTi (A0, A0 90C, A-5, A25 e A45) e ao inoxidvel 308L. ....................................................................................... 137

    Figura 5.32

    Curvas a-Nf dos fios de NiTi (A0, A0 90C, A-5, A25 e A45) e ao inoxidvel 308L para (a) valores mdios de Nf; (b) esquema dos resultados. .................................................................................................

    138

    Figura 5.33

    Faixas de Nf para A0, A0 90oC, A25 e A45. ........................................... 142

    Figura 5.34

    Resultados deste trabalho (Nf mdios) superpostos s curvas obtidas por TOBUSHI et al. (1999 e 2000); YANG (1997), MIYAZAKI et al. (1999); SAWAGUCHI et al. (2003); EGGELER et al., (2004); WAGNER et al. (2004). ............................................................................

    143

    Figura 5.35

    Resultados deste trabalho (faixas de Nf) superpostos aos resultados obtidos por YOUNG & VAN VLIET (2004), estes para 2,5%

  • Lista de figuras ____________________________________________________________________________________

    xvi

    Figura 5.38

    Superfcies de fratura por fadiga do fio A0, rompidos em ensaios sob (i) %8,0a = , (ii) %1a = , (iii) %3a = , (iv) %5a = , (v) %8a = e (vi) %12a = e (i1), (ii1), (iii1), (iv1), (v1), (vi1) esquemas com separao entre as regies de fratura por fadiga e fratura final. ............... 153

    Figura 5.39

    Superfcies de fratura por fadiga do fio A0 90oC, rompidos em ensaios sob (i) %1a = , (ii) %3a = , (iii) %5a = , (iv) %8a = e (v) %12a = e (i1), (ii1), (iii1), (iv1), (v1) esquemas com separao entre as regies de fratura por fadiga e fratura final. ..........................................................

    156

    Figura 5.40

    Superfcies de fratura por fadiga do fio A-5, rompidos em ensaios sob (i) %1a = , (ii) %3a = , (iii) %5a = e (i1), (ii1), (iii1)esquemas com separao entre as regies de fratura por fadiga e fratura final. ............... 157

    Figura 5.41

    Superfcies de fratura por fadiga do fio A25, rompidos em ensaios sob (i) %1a = , (ii) %3a = , (iii) %5a = , (iv) %8a = e (v) %12a = e (i1), (ii1), (iii1), (iv1), (v1) esquemas com separao entre as regies de fratura por fadiga e fratura final. ...............................................................

    158

    Figura 5.42

    Superfcies de fratura por fadiga do fio A45, rompidos em ensaios sob (i) %3a = , (ii) %5a = , (iii) %8a = e (iv) %12a = e (i1), (ii1), (iii1) e (iv1) esquemas com separao entre as regies de fratura por fadiga e fratura final. ..............................................................................................

    160

    Figura 5.43

    Curvas Superfcie de fadiga (%) - Amplitude de deformao (%), para os fios A0, A0 90oC, A-5, A25 e A45. ..................................................... 162

    Figura 5.44

    Curva Superfcie de fadiga (%) - Nf, para os fios A0 90oC, A-5, A0, A25 e A45, sob a=5%. ............................................................................. 163

    Figura 5.45

    Superfcies de fratura do fio A0 regies correspondentes a fratura por fadiga, sob amplitudes de deformao (i) e (ii) 0,8%; (iii) e (vi) 1%; (v) e (vi) 3%; (vii) e (viii) 5%; (ix)(x) 8% e (xi), (xii) e (xiii) 12%. .............. 164

    Figura 5.46

    Superfcies de fratura do fio A0 regies correspondentes a fratura final, sob amplitudes de deformao (i) 0,8%, (ii) 3%, (iii) 8% e (iv) 12%. .......................................................................................................... 168

    Figura 5.47

    Superfcies de fratura dos fios (i)A0 90oC, (ii)A25 e (iii) A-5 - regies correspondentes a fratura por fadiga, sob amplitude de deformao a=1%. ....................................................................................................... 169

  • Lista de figuras ____________________________________________________________________________________

    xvii

    Figura 5.48

    Superfcies de fratura dos fios (i)A45, (ii)A0 90oC, (iii)A25 e (iv) A-5 - regies correspondentes a fratura por fadiga, sob amplitude de deformao a = 3%. ................................................................................. 170

    Figura 5.49

    Superfcies de fratura dos fios (i)A45, (ii)A0 90oC, (iii)A25 - regies correspondentes a fratura por fadiga, sob amplitude de deformao a=12%. ..................................................................................................... 171

    Figura 5.50

    Comparao entre o padro de estriamento nos fios A45 para (i) %3a = , (iii) %8a = , (ii) %3a = , (iv) %8a = . .............................. 172

    Figura 5.51

    Superfcies de fratura dos fios (i)A45, (ii)A0 90oC e (iii)A25, sob amplitude de deformao a=12%, e (iv)A-5 sob a=5% - regies correspondentes a fratura final. ................................................................. 173

    Figura 5.52

    Imagem de seo longitudinal de fio rompido, preparado para metalografia, ao MEV. Fio A0, %3a = , aumento de 100x, posies a,b,c do esquema na figura 5.56. ..............................................................

    174

    Figura 5.53

    Fio A0: seo longitudinal do fio virgem; detalhe de regio prxima superfcie, observada com aumentos de (i) 1500x; (ii) (3000x). .............. 175

    Figura 5.54

    Fio A0: esquema das regies observadas ao MEV, relativas a (i) %1a = , (ii) %3a = , (iii) %5a = , (iv) %8a = e (v) %12a = . ........ 176

    Figura 5.55

    Fio A0, a=1%: seo longitudinal do fio rompido. ................................. 178

    Figura 5.56

    Fio A0, a=3%: seo longitudinal do fio rompido. ................................. 179

    Figura 5.57

    Fio A0, a=5%: seo longitudinal do fio rompido. ................................. 181

    Figura 5.58

    Fio A0, a=8%: seo longitudinal do fio rompido. ................................. 181

    Figura 5.59

    Fio A0, a=12%: seo longitudinal do fio rompido. ............................... 182

    Figura 5.60

    Fio A0: superfcie do fio rompido sob (i) a=1%, (ii) a=3%; (iii) a=5%; (iv) a=8%; (v) a=12%. ............................................................... 184

    Figura 5.61

    Fio A0 90oC: seo longitudinal do fio rompido esquema. ................... 185

    Figura 5.62

    Fio A0 90oC: seo longitudinal do fio rompido sob (i) a=1%; (ii) a=3%; (iii) a=5%; (iv) a=12%, com aumento de 3000x. ...................... 186

    Figura 5.63 Fio A-5: seo longitudinal do fio rompido esquema. .......................... 187

  • Lista de figuras ____________________________________________________________________________________

    xviii

    Figura 5.64

    Fio A-5: seo longitudinal do fio rompido sob (i) a = 1%; (ii), (iii),(iv),(v) a=3%; (vi) a=5%. ................................................................ 187

    Figura 5.65

    Superfcie dos fios (i)A0 90oC, (ii)A-5, (iii)A25, (iv)A45 ( %3a = )...... 189Figura 5.66

    Superfcie dos fios (i)A0 90oC, (ii)A-5, (iii)A25, (iv)A45 ( %5a = )...... 190Figura 5.67

    Superfcie dos fios (i)A0 90oC, (ii)A25, (iii)A45 ( %8a = ). .................. 191Figura 5.68

    Esquema de correspondncia entre padro de trincamento do fio superelstico (SE) e sua curva fa N , referenciada s curvas dos fios austentico estvel (AE) e martenstico estvel (ME). .............................. 193

  • Lista de tabelas ____________________________________________________________________________

    xix

    LISTA DE TABELAS Tabela III.1

    Propriedades de ligas Ti-Ni. .................................................................. 28

    Tabela III.2

    Efeito da deformao mdia na vida em fadiga. ................................... 46

    Tabela IV.1

    Composio qumica e temperatura de transformao Af dos quatro fios de NiTi empregados (valores fornecidos pelo fabricante). ............. 70

    Tabela IV.2

    Composio qumica (% em peso) do fio de ao inoxidvel austentico empregado (valores nominais). ........................................... 70

    Tabela IV.3

    Temperaturas mxima e mnima dos fios durante os ensaios e respectivas temperaturas de transformao (Md foi estimado em Af + 50oC). ..................................................................................................... 78

    Tabela IV.4

    Nmero e temperatura de ensaios para cada tipo de fio (NiTi e ao). .. 85

    Tabela IV.5

    Nmero de superfcies de fratura observadas, por tipo de ensaio, material, e amplitude de deformao. .................................................... 86

    Tabela V.1

    Composio qumica da liga de NiTi nos fios A0, A-5, A25, A45, obtida por EDS...................................................................................... 91

    Tabela V.2

    Temperaturas de transformao dos fios A0 e A-5. .............................. 94

    Tabela V.3

    Temperaturas de transformao do fio A25. ......................................... 97

    Tabela V.4

    Temperaturas de transformao do fio A45. ......................................... 97

    Tabela V.5

    Composio qumica de partculas, possivelmente Ti4Ni2O, encontradas nos trs fios (a) A0, (b) A25, (c) A45. ...............................

    110

    Tabela V.6

    Composio qumica de partcula encontrada no fio A25. .................... 113

    Tabela V.7

    Propriedades mecnicas dos fios A0 e A-5. .......................................... 114

    Tabela V.8

    Propriedades mecnicas dos fios A25 e A45. ........................................

    116

    Tabela V.9

    Recuperao de forma dos fios A0, A25 e A45 em ensaios de dobramento. ...........................................................................................

    119

    Tabela V.10

    Propriedades do material e condies de ensaio os casos apresentados nas figuras 5.5 e 5.6. .............................................................................. 144

  • Lista de tabelas ____________________________________________________________________________

    xx

    Tabela V.11

    Erro padro mdio. ................................................................................ 146

    Tabela V.12

    Percentagem de rea correspondente fadiga, nas superfcies de fratura obtidas nos ensaios de flexo rotativa, por material, por amplitude de deformao; reduo de rea nas superfcies de fratura obtidas nos ensaios de trao, por material. .......................................... 161

  • Lista de smbolos ____________________________________________________________________________

    xxi

    LISTA DE SMBOLOS

    A Austenita.

    a Comprimento de trinca.

    Ad Temperatura mnima de incio da transformao reversa sob tenso.

    AE Austenita estvel.

    AEMF Austenita com efeito memria de forma.

    Af Temperatura de final da transformao reversa.

    As Temperatura de incio da transformao reversa.

    ASE Austenita superelstica.

    d Dimetro.

    C Constante da equao de Coffin-Manson.

    CP Corpo de prova.

    da/dN Taxa de propagao de trinca.

    DSC Calorimetria exploratria diferencial.

    DP Desvio padro.

    E Mdulo de elasticidade.

    EDS Espectroscopia de energia de raios X.

    EMF Efeito memria de forma.

    EPD Estado plano de deformao.

    EPT Estado plano de tenso.

    f Freqncia de ciclagem.

    fS Frao de recuperao elstica e superelstica.

    fEMF Frao de recuperao por EMF.

    FM Fase martenstica.

    FA Fase austentica.

    KC Tenacidade fratura sob estado plano de tenso.

    I Momento de inrcia.

  • Lista de smbolos ____________________________________________________________________________

    xxii

    LMF Liga(s) com efeito memria de forma.

    M Martensita.

    Md Temperatura mxima para transformao martenstica induzida por tenso.

    ME Martensita estvel.

    MET Microscpio eletrnico de transmisso.

    MEV Microscpio eletrnico de varredura.

    Mf Temperatura de final da transformao martenstica.

    MIT Martensita induzida por tenso.

    Ms Temperatura de incio da transformao martenstica.

    N Nmero de ciclos.

    Nf Nmero total de ciclos para a fratura.

    R Relao entre as tenses mnima e mxima em um ciclo.

    R Raio de curvatura.

    Rf Temperatura de final da transformao de fase R.

    Rs Temperatura de incio da transformao de fase R.

    SE Superelasticidade/superelstico(a).

    T Temperatura.

    Tamb Temperatura ambiente.

    Tcr Temperatura crtica para incio de deformao plstica.

    TM Transformao martenstica.

    TR Transformao reversa.

    Tenso.

    a Amplitude da tenso cclica.

    cr Tenso crtica para induo de martensita ou para demaclao.

    l Limite de fadiga.

    p, y Tenso de escoamento .

    UTS Limite de resistncia.

    Z Tenso na direo do eixo z.

    0,2 Tenso que produz deformao permanente de 0,2%.

    1, 2, 3 Tenses principais.

  • Lista de smbolos ____________________________________________________________________________

    xxiii

    Tenso efetiva. Constante da equao de Coffin-Manson (inclinao da curva).

    Deformao.

    m Deformao mdia.

    max Deformao mxima.

    a Amplitude de deformao no ciclo.

    Z Deformao na direo do eixo z.

    Amplitude de tenso cclica no campo elstico.

    el Amplitude de deformao cclica no campo elstico.

    pl, p Amplitude de deformao cclica no campo plstico.

    t Deformao total por ciclo.

    a Variao no comprimento da trinca.

    a/N Taxa de propagao de trinca.

    K Amplitude do fator de intensidade de tenso.

    Klim Limiar de fadiga.

    Keff Amplitude do fator de intensidade de tenso efetivo.

    T Variao de temperatura.

    e ngulo de retorno elstico.

    m ngulo de retorno por EMF.

    s ngulo de retorno elstico + superelstico.

    %at Percentagem em nmero de tomos.

    3D Tridimensional.

  • Introduo ____________________________________________________________________________

    1

    1 INTRODUO

    Certos materiais metlicos possuem a propriedade de recuperar grandes deformaes,

    retornando forma que possuam anteriormente solicitao. Quando a recuperao se d

    pelo seu aquecimento, a propriedade denominada efeito memria de forma; quando se

    d apenas com a retirada do carregamento que produziu a deformao, denominada

    superelasticidade. As duas propriedades esto ligadas a transformaes de fase

    adifusionais e diferem entre si apenas com relao temperatura em que se d a

    solicitao, em comparao com a faixa de temperaturas em que a transformao ocorre.

    Atravs de tratamentos termomecnicos possvel programar o comportamento destas

    ligas, sendo as duas propriedades intercambiveis em muitos casos. Outra caracterstica

    importante desses materiais a capacidade de dissipar energia durante um ciclo de carga-

    descarga, devida a uma considervel histerese mecnica. Dentre as ligas metlicas que

    apresentam efeito memria de forma e/ou superelasticidade, destacam-se aquelas do

    sistema NiTi aproximadamente equiatmico, que vm sendo empregadas

    tecnologicamente, com sucesso, em reas to diversas quanto engenharia, medicina e

    odontologia.

  • Introduo ____________________________________________________________________________

    2

    Na engenharia civil, especificamente engenharia estrutural, as propriedades singulares das

    ligas com memria de forma tm atrado a ateno de pesquisadores, visando sua aplicao

    em estruturas inteligentes, tendo sido desenvolvidos, nesse sentido, vrios tipos de

    atuadores e dissipadores de energia. Para minimizar os efeitos de terremotos severos em

    estruturas de edifcios, as ligas de NiTi tm sido empregadas em componentes de

    amortecedores histerticos passivos, assim como em isoladores para fundaes. Um

    desafio importante, principalmente nos pases europeus e asiticos, diz respeito

    restaurao e reabilitao de estruturas histricas, em particular as localizadas em regies

    sujeitas a movimentos ssmicos, exigindo o emprego de tcnicas adequadas, visando

    preservar valores culturais alm de vidas humanas. Nessas estruturas, as limitaes

    arquitetnicas ou artsticas via de regra no permitem o emprego de tcnicas

    convencionais, impondo o desenvolvimento de sistemas tecnolgicos apropriados. Aos

    inoxidveis, ligas de alumnio, ligas de titnio e ligas com efeito memria de forma so

    alguns metais especiais, adequados para o emprego neste tipo de reabilitao estrutural.

    Ligas de NiTi foram empregadas em algumas obras importantes, como a da Baslica de

    So Francisco de Assis (Itlia), severamente afetada pelo terremoto de 1997, e a da Torre

    do Sino de So Jorge, em Trignano (Itlia).

    Nas reas mdica e odontolgica, a tendncia adoo de procedimentos cada vez menos

    invasivos tem impulsionado fortemente o desenvolvimento da tecnologia de produo

    destes materiais. Nessas reas, as ligas do sistema NiTi vm substituindo com vantagens

    alguns materiais de comportamento convencional, como aos inoxidveis e algumas ligas

    de titnio, alm de se mostrarem mais adequadas que outras ligas superelsticas. Tal fato

    deve-se a alguns aspectos peculiares do comportamento deste material, cuja ocorrncia

    simultnea pouco comum, tais como biocompatibilidade (resistncia corroso e baixa

    toxicidade); compatibilidade biomecnica (comportamento mecnico similar ao de

    materiais biolgicos); resistncia a deformaes localizadas (dobramento e toro);

    capacidade de recuperar grandes deformaes sob tenso constante; histerese;

    compatibilidade com imagens por ressonncia magntica; resistncia fadiga. Devido ao

    fato do corpo humano constituir um ambiente isotrmico, o material tem sido mais

  • Introduo ____________________________________________________________________________

    3

    utilizado na sua forma superelstica. Muitos dispositivos biomecnicos tm sido

    produzidos com essas ligas, tais como stents auto-expansivos, filtros de veia cava, sistemas

    de ocluso de septo atrial, instrumentos cirrgicos endoscpicos variados, fios

    ortodnticos, limas endodnticas e prteses ortopdicas de material esponjoso. Entretanto,

    procedimentos mdicos sempre envolvem riscos em algum grau e os mais importantes

    esto relacionados com a resposta do tecido biolgico vizinho (biocompatibilidade) e com

    a vida mecnica til do componente (vida em fadiga).

    Com relao ao comportamento em fadiga de ligas de NiTi, a natureza no-linear da

    superelasticidade, determinada pelas transformaes de fase, dificulta sua modelagem

    atravs das teorias convencionais. Vrias questes ainda no esto bem respondidas e este

    permanece um dos aspectos menos compreendidos do comportamento dessas ligas. Em

    particular, os requisitos rigorosos para aplicao em dispositivos biomecnicos, como, por

    exemplo, um nmero de ciclos para falha superior a 400 milhes (por volta de 10 anos)

    para um stent intravascular exigido pela norte-americana Food and Drug Administration

    (FDA), apontam a necessidade de uma melhor compreenso dos fatores que afetam a vida

    em fadiga de ligas superelsticas de NiTi.

    O presente trabalho pretendeu contribuir nesse sentido, atravs do estudo do

    comportamento de fios de liga NiTi superelstica sob fadiga mecnica de baixo ciclo,

    comparando-o com o comportamento de fios de NiTi com outras microestruturas, alm de

    um fio de ao inoxidvel austentico.

    No captulo 2 esto apresentados os objetivos e no captulo 3 feita uma reviso

    bibliogrfica dos diversos aspectos envolvidos no trabalho. No captulo 4 exposta a

    metodologia empregada nos experimentos e na anlise dos resultados e no captulo 5

    encontram-se os resultados obtidos, juntamente com sua discusso. Finalmente, nos

    captulos 6, 7 e 8 esto listadas as principais concluses que podem ser extradas dos

    resultados, as contribuies originais e as sugestes para trabalhos futuros,

    respectivamente.

  • Objetivos ____________________________________________________________________________

    4

    2 OBJETIVOS

    Buscou-se, no presente trabalho, caracterizar o comportamento em fadiga de baixo ciclo de

    uma liga superelstica de NiTi, atravs da curva de vida em fadiga controlada por

    deformao, obtida em ensaios de flexo rotativa de fios de 1mm de dimetro, sob

    amplitudes de deformao de at 12%.

    Procurou-se, tambm, estabelecer uma correspondncia das caractersticas dessa curva

    com as superfcies de fadiga e com a morfologia de propagao das trincas.

    O comportamento dessa liga foi comparado com o de fios de NiTi com diferentes

    microestruturas (austentico estvel, martenstico estvel, bifsico e outro superelstico

    com maior estabilidade da austenita), alm de um fio de ao inoxidvel austentico.

  • Reviso bibliogrfica ____________________________________________________________________________

    5

    3 REVISO BIBLIOGRFICA

    3.1. Ligas de NiTi

    3.1.1. Histrico, aplicaes e processos de fabricao

    Efeito memria de forma (EMF) e superelasticidade (SE) so propriedades que possuem

    certos materiais, em particular um determinado grupo de ligas metlicas, de recuperar

    grandes deformaes quando o carregamento retirado, ou quando so aquecidos a

    temperaturas relativamente baixas, retomando a configurao anterior deformao.

    Dentre as ligas que apresentam EMF e/ou SE, destacam-se aquelas dos sistemas NiTi,

    CuZnAl, CuAlNi e AuCd, que admitem deformaes reversveis entre 3% e 8%

    (KRISHNAN et al., 1974; SHAW & KYRIAKIDES, 1995; HUMBEECK &

    STALMANS, 1998; OTSUKA & WAYMAN, 1998; HODGSON et al., 1999; McNANEY

    et al., 2003).

  • Reviso bibliogrfica ____________________________________________________________________________

    6

    Data de 1932 o primeiro registro de observao de uma transformao martenstica com

    memria de forma, devida a CHANG & READ (apud HODGSON et al., 1999), em que a

    reversibilidade da transformao foi observada em AuCd atravs de metalografia e

    calorimetria diferencial (DSC). Em 1938, a transformao foi verificada em lato (CuZn)

    e, em 1962, BUEHLER et al. (apud HODGSON et al., 1999) verificaram o efeito em liga

    nquel-titnio (NiTi) equiatmica, no Naval Ordenance Laboratory NOL em Silver

    Springs, Maryland EUA. Passados dez anos, alguns produtos fabricados com o material

    estavam disponveis no mercado e a compreenso do efeito j se encontrava avanada.

    Dentre as ligas que exibem EMF, ligas de NiTi e base de Cu foram alvo da maioria dos

    esforos de pesquisa e explorao comercial (HODGSON et al., 1999). A primeira

    utilizao em grande escala de uma liga com memria de forma (LMF) deu-se em 1971,

    com uma conexo de NiTi para tubulao hidrulica de titnio da aeronave Grumman F-14

    (MELTON, 1998; WAYMAN, 1980; OTSUKA & REN, 1999). Porm, foram necessrios

    aproximadamente 25 anos para que as LMF se tornassem materiais funcionais bem

    conhecidos. A competio, inicialmente estabelecida entre as ligas base de Cu e as de

    NiTi, evoluiu para a consolidao da superioridade das ligas de NiTi na maioria das

    aplicaes comerciais (HUMBEECK, 1999).

    Em 1980, WAYMAN reportou aplicaes diversas para ligas base de Cu, tais como

    conexes e anis de vedao, dispositivos termostticos e termomecnicos, por exemplo

    atuadores para portas corta-fogo e vlvulas de radiadores para sistemas de aquecimento

    residencial. Foram citadas, tambm, aplicaes para ligas de NiTi, tais como dispositivos

    para aplicao em energia, fios para aros ortodnticos, substituindo com vantagens os de

    ao inoxidvel, e grampos para aneurismas intracranianos. Em 1999, OTSUKA & REN

    reportaram a existncia de um nmero superior a 10.000 patentes de aplicaes de

    materiais com EMF e/ou SE, dentre eles as ligas de NiTi. Apontaram os aros ortodnticos

    como a primeira utilizao comercial da propriedade de SE destes materiais, tendo sido

    utilizado inicialmente um material martenstico temperatura ambiente. Destacaram o

    emprego, quela poca, do mecanismo de SE da martensita induzida por tenso (MIT),

    sendo este particularmente adequado s aplicaes mdicas e dentrias, uma vez que a

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    7

    otimizao do efeito pode ser conseguida facilmente em uma faixa de temperaturas entre a

    ambiente e a do corpo humano. Ao contrrio das aplicaes das ligas com EMF, que

    muitas vezes podem ser projetadas com o emprego de outros materiais a um custo mais

    baixo (bimetais, por exemplo), a propriedade da SE apresentada tipicamente apenas por

    esses materiais. Alm do fato de que as ligas NiTi so os metais com maior efeito mola

    hoje disponveis, o projeto de componentes superelsticos relativamente simples, no

    demandando ciclagem trmica ou mecanismos de reconfigurao no resfriamento

    (HUMBEECK, 1999).

    Em aplicaes mdicas e dentrias, em que classicamente eram empregadas ligas dos

    sistemas Fe-Cr-Ni, Co-Cr e Ti-Al-V, mais recentemente as ligas de NiTi tm sido

    consideradas biomateriais mais adequados, tendo em vista suas propriedades de

    biofuncionalidade (capacidade de desempenhar a funo desejada pelo tempo previsto

    dentro do corpo), biocompatibilidade (no toxidade durante o perodo em que estiver

    implantado), estabilidade mecnica, resistncia corroso, dentre outras. Alm de aros

    ortodnticos, esses materiais tm sido empregados em instrumentos endodnticos rotativos

    acionados a motor (limas endodnticas), pinos para implantes, prteses de razes dentrias,

    fio-guia para cateteres de uso mdico (endoscpios ativos), stents de desobstruo

    cardiovascular, filtros de cogulos sangneos venais, dispositivos vrios de uso

    ortopdico, tais como placas sseas para fixao de fraturas e prteses porosas de

    articulaes, dentre outros (OTSUKA & WAYMAN, 1998; HODGSON et al., 1999;

    OTSUKA & REN, 1999).

    Com relao fabricao, as ligas de NiTi com EMF, compostos intermetlicos

    aproximadamente equiatmicos, apresentam problemas de trs naturezas: (1) necessidade

    de controle rigoroso da composio qumica; (2) dificuldade de trabalho a frio; (3)

    necessidade de tratamento termo-mecnico para produzir a propriedade de memria de

    forma. Como o Ti lquido reage fortemente com oxignio, o material para produo da liga

    fundido a vcuo por induo sob alta freqncia, atravs de feixe de eltrons, plasma ou a

    arco com argnio. A trabalhabilidade a quente melhora com o aumento da temperatura, em

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    8

    especial sob temperaturas acima de 527oC, e a temperatura tima est situada em torno de

    800oC. A trabalhabilidade a frio bem pior que a quente, sendo muito afetada pela

    composio da liga, piorando com o aumento do teor de Ni, especialmente se este exceder

    51%at. Aps ser trefilado, o fio de NiTi conformado em sua configurao final e em

    seguida sofre tratamento trmico para adquirir a propriedade de memria de forma. O

    tratamento trmico para SE basicamente o mesmo que para EMF, uma vez que se tratam

    de duas propriedades inter-relacionadas. Recentemente vm sendo desenvolvidas tcnicas

    mais sofisticadas para a produo de ligas com memria de forma, empregando metalurgia

    do p (SUZUKI, 1998).

    3.1.2. O sistema NiTi

    3.1.2.1. Diagrama de equilbrio

    As propriedades de EMF e SE so apresentadas por ligas NiTi, aproximadamente

    equiatmicas, quando submetidas a transformaes martensticas termoelsticas, induzidas

    por variaes de temperatura e/ou tenso a partir de fase austentica B2 ordenada.

    A figura 3.1 apresenta um diagrama de equilbrio desenvolvido recentemente por

    MASSALSKI et al. (apud OTSUKA & REN, 2005) para o sistema NiTi. Na regio central,

    limitada pelas fases Ti2Ni e TiNi3, encontra-se a fase de interesse, TiNi, que a 1090oC no

    resfriamento (linha pontilhada) sofre uma transio desordem-ordem, de CCC para B2

    ordenada. Abaixo de 650oC a regio da fase B2 torna-se muito estreita, determinando sua

    composio aproximadamente equiatmica.

    Ligas com maiores teores de Ni decompem-se quando resfriadas lentamente a partir de

    altas temperaturas, ou quando envelhecidas a temperaturas abaixo de 700oC aps tmpera a

    partir de altas temperaturas (SABURI, 1998). Neste caso, o processo de precipitao

    produz fases metaestveis, Ti3Ni4 e Ti2Ni3 nesta ordem com o tempo de envelhecimento,

    at ser atingida a segunda fase estvel TiNi3.

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    Figura 3.1 Diagrama de fase do sistema NiTi (OTSUKA & REN, 2005).

    Os efeitos de memria de forma e superelasticidade em ligas NiTi de composio

    aproximadamente equiatmica so produzidos e aprimorados atravs de tratamentos

    termomecnicos. A composio final de interesse para EMF e SE TiNi + Ti3Ni4. A fase

    Ti3Ni4 forma-se nos primeiros estgios de envelhecimento a baixas temperaturas, na forma

    de plaquetas finas coerentes com a matriz. Estas produzem campos de deformao ao seu

    redor, afetando as propriedades nas ligas NiTi na medida em que endurecem a fase matriz

    B2 (fase ), o que aumenta a recuperabilidade da forma (OTSUKA & WAYMAN, 1998).

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    10

    3.1.2.2. Transformaes martensticas em ligas NiTi

    Transformaes martensticas so transformaes volumtricas de natureza cisalhante, que

    ocorrem pelo movimento cooperativo de tomos, quando o material resfriado ou

    deformado. Tais transformaes distinguem-se das maclaes, pelo fato de que nestas no

    h mudana de fase, mas reorientao atmica volumtrica da mesma fase, produzindo

    deformao plstica que, como tal, determinada pela aplicao de tenso. Em ambos os

    casos, cada volume realinhado do material sofre uma mudana de forma que distorce a

    matriz circunvizinha (REED-HILL & ABBASCHIAN, 1994; SHEWMON, 1969).

    A figura 3.2 apresenta, esquematicamente, temperaturas caractersticas das transformaes

    martenstica e reversa, que podem ser obtidas atravs da medida de alteraes em

    propriedades fsicas do material, tais como a resistividade eltrica. Nesta figura, Ms a

    temperatura, no resfriamento, na qual tem incio a transformao fase austentica

    (FA)fase martenstica (FM) e Mf a temperatura de trmino desta transformao, abaixo

    da qual o material essencialmente martenstico; As a temperatura, no aquecimento, de

    incio da transformao reversa FMFA e Af a temperatura em que termina esta

    transformao, acima da qual todo o material est na FA (austenita); T1 a histerese de

    temperatura. Entre Ms e Mf, no resfriamento, e entre As e Af, no aquecimento, esto

    presentes simultaneamente as duas fases, austenita e martensita (OTSUKA & WAYMAN,

    1998). Cabe ressaltar que T1 varia com a frao volumtrica de martensita, porm no

    foram encontradas, na literatura consultada, referncias de critrios para medida da

    histerese.

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    Figura 3.2 Temperaturas caractersticas das transformaes martenstica e reversa (esquema aps HODGSON et al., 1999).

    Martensitas so encontradas mais comumente na forma de pequenas placas ou lentes, que

    se formam sobre os denominados planos de hbito, que so as superfcies de separao

    entre as duas fases. Estes no so, na maioria dos casos, planos cristalograficamente

    invariantes (no-distorcidos), uma vez que difcil a existncia de planos comuns entre

    estruturas cristalinas de duas fases com simetrias de rede distintas. Microscopicamente, as

    placas de martensita podem apresentar subestruturas de deformao invariante de rede em

    seu interior, por maclao ou escorregamento, que promovem maior acomodao das

    deformaes da rede, minimizando as distores dos planos de hbito. Por esta razo,

    macroscopicamente os planos de hbito so freqentemente considerados invariantes,

    anlogos aos planos de macla (REED-HILL & ABBASCHIAN, 1994).

    Uma mesma martensita pode ser formada com diversas orientaes, denominadas

    variantes, a partir da mesma FA. Encontram-se facilmente essas variantes em martensitas

    auto-acomodadas, obtidas por resfriamento sem aplicao de tenses. As variantes so

    rotaes e/ou imagens especulares umas das outras, com configuraes energeticamente

    equivalentes entre si. Diferentes variantes tm diferentes orientaes locais e as intersees

    coerentes de tais variantes so contornos de macla, os quais podem ser movidos facilmente

    por aplicao de tenso (SHAW & KYRIAKIDES, 1995).

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    12

    Tenses aplicadas podem afetar o comportamento na transformao, uma vez que atuam

    na estabilidade da fase em que se encontra o material. Assim, um material na FA

    submetido a tenses pode ter suas temperaturas de transformao aumentadas, como efeito

    da desestabilizao da austenita. Neste caso, transformao martenstica (TM) e

    transformao reversa (TR) ocorrem a temperaturas superiores a Ms e As respectivamente.

    Esta elevao das temperaturas de transformao no ilimitada, sendo conhecida por Md

    a maior temperatura na qual ocorre transformao martenstica sob tenso; analogamente,

    denomina-se Ad a menor temperatura de incio da TR quando sob tenso (SHEWMON,

    1969). A martensita produzida nessas circunstncias denominada martensita induzida por

    tenso (MIT) e tanto a presena quanto a organizao de variantes so afetadas (OTSUKA

    & REN, 1999).

    3.1.2.3. Cristalografia

    As ligas NiTi na fase B2 ordenada, fase , so susceptveis de sofrer transformao

    martenstica tanto por resfriamento abaixo da temperatura Ms, quanto por efeito de

    aplicao de tenso dentro de uma determinada faixa de temperaturas, superiores a Ms. A

    fase B2 cbica de corpo centrado (CCC), com ordenamento de longo alcance, sendo sua

    clula unitria constituda por quatro tomos de Ti nos vrtices do cubo e um tomo de Ni

    em seu centro, ou vice-versa (figura 3.3(a)).

    Figura 3.3 Esquema de estrutura cristalina das fases (a) B2; (b) R; (c) B19 (SHAW & KYRIAKIDES, 1995).

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    13

    A transformao martenstica de uma liga NiTi aproximadamente equiatmica, aps

    recozimento, produz diretamente uma estrutura monoclnica B19 (figura 3.3(c)). Quando

    a liga sofre ciclagem trmica ou tratamento termo-mecnico, ou mesmo em circunstncias

    tais como maior teor de Ni ou presena de outros elementos de liga (por exemplo, 2% a 3%

    de Fe ou Al), a fase B2 transforma-se inicialmente em outro tipo de martensita, conhecida

    por fase R, cuja clula unitria est mostrada na figura 3.3(b), e esta pode sofrer em

    seguida uma segunda transformao martenstica para a fase B19 (OTSUKA & REN,

    1999).

    A figura 3.4 mostra a seqncia de transformao de uma liga Ti-50,2%atNi tratada termo-

    mecanicamente, medida atravs de resistividade eltrica e calorimetria diferencial (curva

    DSC) em funo da temperatura.

    Figura 3.4 Esquema de transformao martenstica de liga Ti-50,2%atNi tratada termo-mecanicamente: (a) resistividade eltrica versus temperatura; (b) DSC (SABURI, 1998).

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    14

    No resfriamento, a coincidncia do aumento da resistividade com o pico da curva DSC

    acusa a transformao de fase R. A temperatura de incio desta transformao chamada

    Rs e a de final, Rf. O segundo pico na curva DSC coincide com uma reduo na

    resistividade e devido transformao da fase R para a B19, correspondendo

    temperatura Ms. A TR, entretanto, continua a ocorrer em apenas uma etapa, da fase B19

    para a B2, como mostram as curvas de aquecimento na figura 3.4 (SABURI, 1998).

    3.1.3. Mecanismos de efeito memria de forma e superelasticidade

    3.1.3.1. Efeito memria de forma (EMF)

    A propriedade EMF, tal como definida na seo 3.1.1, est ilustrada esquematicamente na

    figura 3.5(a), em que o material, aps sofrer grandes deformaes devidas a aplicao de

    tenso, uma vez retirada esta tenso recupera sua forma inicial com o aumento da

    temperatura. A figura 3.5(b) mostra uma tpica curva deformao versus tenso-

    temperatura, correspondente a este comportamento. A recuperao de forma ocorre pela

    transformao reversa, da martensita para a fase autentica (figura 3.6).

    Figura 3.5 - (a) Ilustrao do EMF (aps OTSUKA & WAYMAN, 1998), (b) curva deformao versus tenso-temperatura (AURICCHIO & LUBLINER, 1997).

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    Figura 3.6 - Mecanismo de EMF (OTSUKA & WAYMAN, 1998).

    Inicialmente o material est austentico (figura 3.6(a)) e, com seu resfriamento, forma-se a

    martensita auto-acomodada, multivariante (figura 3.6(b)). Em seguida, submetido a

    carregamento mecnico, induzindo a converso da martensita multivariante em martensita

    univariante (demaclao ou reorientao de variantes), adquirindo deformao residual

    (figura 3.6(c),(d)). Finalmente (figura 3.6(e)), a configurao inicial recuperada atravs

    de aquecimento acima de Af (OTSUKA & WAYMAN, 1998).

    Segundo OTSUKA & WAYMAN (1998), a deformao pode ser totalmente recuperada

    quando (a) tiver ocorrido somente por movimento de contornos de macla e (b) a

    transformao for cristalograficamente reversvel. Caso uma das duas condies no for

    observada, ou ocorrer apenas parcialmente, o EMF no ser completo. J KRISHNAN et

    al. (1974) afirmam que a recuperao total nunca conseguida, resultando sempre alguma

    deformao plstica, que no recuperada com o aquecimento at Af. Uma das razes da

    reversibilidade da martensita termoelstica a inerente pequena quantidade de deformao

    elstica criada pela mudana de estrutura cristalina, de maneira que os limites elsticos das

    fases envolvidas no so excedidos, no ocorrendo portanto deformaes plsticas. As

    microdeformaes que aparecem em torno das placas individuais de martensita so

    efetivamente canceladas pela formao de grupos de placas mutuamente acomodadas,

    resultando em pequena mudana de forma lquida (PERKINS, 1981).

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    16

    No caso da ocorrncia de fase R, esta tem seu prprio conjunto de variantes, demacladas

    por trao nos primeiros estgios do carregamento. A quantidade de deformao que pode

    ser acomodada pela demaclao desta fase significativamente menor que a do caso

    anterior (martensita B19). A continuidade do alongamento transforma a fase R univariante

    em martensita B19 demaclada (SHAW & KYRIAKIDES, 1995).

    3.1.3.2. Pseudoelasticidade

    Pseudoelasticidade a capacidade de recuperar grandes deformaes apenas com a retirada

    das tenses, por transformao de fase ou rearranjo de variantes da martensita, sem que

    haja necessidade de variao de temperatura. Quando a pseudoelasticidade ocorre pela

    transformao de fase (FAFM), ou seja, produo de martensita induzida por tenso

    acima da temperatura Af do material, emprega-se o termo superelasticidade (SE) para

    identific-lo. Quando o fenmeno ocorre com o material na FM (FMFM), o mecanismo

    atuante o rearranjo de variantes martensticas (demaclao), atravs do movimento

    reversvel de contornos de macla (subestruturas da martensita), e empregado o termo

    efeito borracha para identific-lo (KRISHNAN et al., 1974; SHAW & KYRIAKIDES,

    1995; HUMBEECK & STALMANS, 1998; OTSUKA & WAYMAN, 1998; HODGSON

    et al., 1999; McNANEY et al., 2003). Alm desses dois, outros efeitos tambm podem ser

    obtidos, tais como o efeito memria de forma bidirecional (two-way shape memory

    effect) (OTSUKA & REN, 1999; HUMBEECK & STALMANS, 1998), porm no so

    relevantes para o presente trabalho.

    a) Superelasticidade (SE)

    A figura 3.7 apresenta esquematicamente o tpico comportamento superelstico, atravs da

    curva tenso-deformao de um material em ensaio carga-descarga sob temperatura

    constante acima de Af .

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    Figura 3.7 - Comportamento tpico de liga NiTi superelstica sob carga e descarga (HODGSON et al., 1999).

    A figura 3.8 mostra uma curva tenso-deformao de uma liga de NiTi, obtida em um

    ensaio de trao a 70oC, juntamente com um esquema das modificaes micro-estruturais

    associadas a cada fase do ensaio.

    Figura 3.8 Resposta tenso-deformao de NiTi a 70oC e esquema das mudanas micro-estruturais associadas. Material inicial na FA (A), no tracionado (SHAW & KYRIAKIDES, 1995).

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    Nesta temperatura de ensaio (>Af), o material est inicialmente austentico (FA). Ao longo

    do trecho o-a, a tenso causa somente distores elsticas. Sob um nvel crtico de tenso

    (ponto a), a austenita torna-se instvel e inicia-se a nucleao de MIT. A mudana da rede

    B2 para monoclnica (B19) resulta em alongamento. Se o ensaio for realizado com

    controle de deslocamento, a frao volumtrica de martensita aumenta sob tenso

    constante (plat a-b). Durante esta parte do ensaio, as duas fases coexistem e a deformao

    heterognea. Neste caso (figura 3.8), a transformao de fase resulta em uma deformao

    de aproximadamente 5%. O descarregamento, a partir deste plat, inicialmente elstico e

    deixa atrs de si martensita e austenita intermisturadas. O descarregamento a partir do final

    do plat (ponto b) resulta, inicialmente, em descarregamento elstico da estrutura

    predominantemente martenstica. Similarmente instabilidade da austenita durante o

    carregamento, a martensita torna-se instvel quando a tenso cai abaixo de um valor crtico

    (ponto b) e o material passa a transformar-se de volta em austenita. Sob descarregamento

    com deslocamento controlado, essa transformao reversa resulta em novo plat de tenso

    (b-a), no qual austenita e martensita coexistem, ocorrendo encurtamento do corpo de

    prova. No ponto a o material retornou fase austentica e o descarregamento subseqente

    segue o trajeto do carregamento inicial. Apesar de o material ter sofrido deformao de

    6%, a deformao foi recuperada (SHAW & KYRIAKIDES, 1995).

    Ao final do plat (a-b) a maior parte do material se transformou em martensita. Alm do

    ponto b, um aumento na deformao requer um aumento na tenso. Inicialmente, o

    mecanismo principal de deformao a distoro elstica da martensita, acompanhada pela

    transformao da austenita residual. A uma deformao de aproximadamente 7,5% (ponto

    c), a tenso atinge um nvel alto o suficiente para que se inicie a deformao plstica na

    martensita. A uma tenso de aproximadamente 1,4GPa, tem incio uma segunda regio de

    inclinao relativamente pequena na curva e a continuidade da deformao pode resultar

    no rompimento do CP. No caso da figura 3.8, o CP foi descarregado com uma deformao

    de aproximadamente 10,5% (d-e). No processo, partes no material se transformam de volta

    em austenita; entretanto, permanece uma deformao residual de mais de 6% (SHAW &

    KYRIAKIDES, 1995).

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    19

    Cabe ressaltar que, durante o carregamento, depois de excedido o limite elstico da fase

    inicial austentica, coloca-se em curso uma competio entre dois mecanismos de

    deformao: escorregamento (deformao plstica) e mudana de fase (deformao

    reversvel). Portanto, o limite de escoamento do material deve ser alto o suficiente para que

    a tenso crtica de induo de martensita seja atingida antes do incio do escorregamento.

    b) Efeito borracha

    Uma liga com EMF, quando envelhecida no estado martenstico por tempo suficiente, pode

    adquirir efeito borracha, isto , se for aplicada tenso, a deformao correspondente

    recuperada com o descarregamento (OTSUKA & WAYMAN, 1998). Este comportamento

    devido reversibilidade do movimento dos contornos de macla, e s em 1999 foi

    proposto um modelo para explicar a razo pela qual estes contornos se tornam reversveis

    aps envelhecimento. Segundo este modelo, quando a martensita envelhecida deformada,

    ela se reorienta na forma de outra variante (macla), como resultado da acomodao de

    deformaes. Como o processo de maclao tambm adifusional, a nova configurao

    pode no ser estvel do ponto de vista da distribuio atmica. Neste caso, atua uma fora

    de restaurao da variante original e, quando o carregamento retirado imediatamente, esta

    fora restauradora reverte a nova variante para a original, por demaclao (OTSUKA &

    REN, 1999).

    3.1.4. Comportamento mecnico

    O comportamento mecnico das ligas com EMF grandemente determinado pela faixa de

    temperaturas em que se d a solicitao mecnica. Superelasticidade e efeito memria de

    forma so fenmenos estreitamente relacionados e complementares: o que no

    recuperado quando a carga retirada pode ser recuperado com aquecimento acima de Af

    (KRISHNAN et al., 1974). A figura 3.9 ilustra esquematicamente o processo.

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    20

    Figura 3.9 Curvas tenso-deformao tpicas de liga NiTi, obtidas em ensaios a diferentes temperaturas. Ensaio a temperatura (a) acima de Md; (c) entre Md e Af; (b) abaixo de Ms (HODGSON et al., 1999).

    Na situao da figura 3.9(a), o material foi ensaiado em estado austentico, a uma

    temperatura acima de Md. O material permanece, portanto, austenita, com comportamento

    elasto-plstico convencional. Na figura 3.9(b), o ensaio se deu a uma temperatura abaixo

    de As, portanto com o material na fase martenstica desde o incio. Sob tenso, ocorre

    rearranjo de variantes. As deformaes produzidas so recuperveis por aquecimento

    acima de As (linha tracejada), se no tiver sido atingida a tenso de escoamento da

    martensita demaclada. Esse o comportamento tpico de EMF. A figura 3.9(c) mostra a

    curva de um ensaio que ocorreu a uma temperatura intermediria, abaixo de Md e acima de

    Af. O material, inicialmente austentico, sob tenso sofre TM induzida, ocorrendo grandes

    deformaes. Estas podem ser uma combinao de mudana de fase, rearranjo de variantes

    da MIT, deformao elstica da martensita demaclada e, caso a tenso continue

    aumentando, deformao plstica da martensita at a ruptura final, nesta ordem. Como a

    temperatura est acima de Af, se no houver sido atingida a tenso de escoamento da

    martensita demaclada, ao ser retirado o carregamento a deformao recuperada, seguindo

    a trajetria inversa (HODGSON et al., 1999).

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    21

    Na figura 3.10 esto representados valores da tenso crtica para transformao de fase em

    funo da temperatura.

    Figura 3.10 - Tenso crtica em funo da temperatura, para induzir martensita (T>Ms) e para demaclao (T Ms), ou para

    demaclao, quando contornos entre martensitas ou contornos de maclas internas comeam

    a mover-se (caso T

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    22

    liga favorecem o EMF e a SE. Nesse sentido, em ligas com teores de nquel superiores a

    50,5%at, efetivo o endurecimento por precipitao de Ti3Ni4, que ocorre com tratamentos

    trmicos a temperaturas entre 300oC e 500oC. Estes precipitados, quando suficientemente

    finos (entre 10nm e 100nm), so coerentes, criando um campo de tenses de longo alcance,

    no impedindo o movimento das interfaces (SABURI, 1998). Em ligas NiTi com teor de

    nquel entre 50%at e 50,5%at, completamente recozidas, tanto o comportamento

    superelstico quanto de memria de forma so parciais. Neste caso, as propriedades so

    insensveis a tratamentos trmicos, porm podem ser fortemente determinadas por

    tratamentos termomecnicos (trabalho a frio seguido de recozimento a temperaturas abaixo

    de 500oC). Na fase mecnica desses tratamentos - deformao a frio, produz-se uma

    grande densidade de deslocaes, elevando a tenso de escoamento (encruamento), porm

    com isso a liga se torna muito pouco dctil. Em seguida, um processo de recozimento a

    temperaturas abaixo da de recristalizao promove o rearranjo destas deslocaes, criando

    subestruturas dentro dos gros, que tm efeito semelhante ao de refino de gros,

    aumentando, portanto, a ductilidade (SABURI, 1998).

    A figura 3.11 mostra uma srie de curvas tenso-deformao de liga Ti-50,2%atNi recozida

    a 400oC por 1 hora, aps laminao a frio de 25%, testada a vrias temperaturas.

    Figura 3.11 - Curvas tenso-deformao de liga Ti-50,2%atNi recozida a 400oC por 1 hora, aps laminao a frio a 25% (SABURI, 1998).

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    Verifica-se na figura 3.11 que, a temperaturas inferiores a 30oC, no ocorre recuperao

    superelstica da deformao, mas, sim, por aquecimento (EMF). A 40oC, a SE comea a

    ocorrer, e acima de 50oC a recuperao superelstica total, mesmo de deformaes de

    ~7% (SABURI, 1998).

    A figura 3.12 mostra microestruturas de ligas NiTi aproximadamente equiatmicas,

    quando laminadas a frio a 25% e recozidas por 1 hora sob vrias temperaturas. A

    temperatura de recristalizao situa-se entre 550oC e 600oC. No caso de recozimento

    abaixo de 500oC, a deformao aparente ainda persiste, ao passo que a 600oC surgem

    pequenos gros recristalizados que crescem medida que a temperatura de recozimento

    aumentada. Com laminao a frio a 25% e recozimento a 600oC, a recuperao SE da

    deformao parcial (SABURI, 1998).

    Figura 3.12 - Micrografias ticas mostrando recristalizao de liga Ti-50,2%atNi recozida a 400oC por 1 hora, aps laminao a frio a 25% (SABURI, 1998).

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    3.1.4.2. Comportamento sob trao versus compresso

    LIU et al. (1998), reportaram discrepncias entre as curvas tenso-deformao de ensaios

    de trao e compresso em uma liga NiTi martenstica, sob uma mesma taxa de

    deformao. A curva de trao apresenta um patamar de tenso, no observado na curva de

    compresso, sugerindo que neste caso o material sofre rpido encruamento (figura 3.13). A

    anlise das microestruturas comprovou que o mecanismo de deformao da liga estudada

    diferente para tenses de trao e compresso. No caso de trao, ocorre principalmente

    movimento de interfaces de placas de martensita (demaclao), enquanto, no caso de

    compresso, ocorre principalmente nucleao e movimento de deslocaes.

    Figura 3.13 - Curvas tenso-deformao de liga NiTi martenstica sob trao e compresso monotnicas, com mesma velocidade de deformao (LIU et al.,1998).

    No caso de ligas na FA, com EMF, os resultados reportados por GALL et al. (1999),

    mostrados na figura 3.14, tambm revelaram assimetria entre os comportamentos sob

    trao e compresso, em ensaios de liga NiTi a uma temperatura pouco superior a Ms e

    abaixo de Af.

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    Figura 3.14 - Curvas tenso-deformao de liga NiTi sob trao e compresso, no caso de EMF (GALL et al., 1999).

    3.1.4.3. Influncia da taxa de deformao

    Segundo OTSUKA & WAYMAN (1998), um aumento na taxa de deformao provoca um

    aumento na histerese, demandando uma maior fora motriz para a ocorrncia da SE.

    TOBUSHI et al. (1998), reportaram resultados de ensaios em liga NiTi superelstica, nos

    quais, para velocidades de deformao superiores a 1,7x10-3s-1 (10%min-1), tanto Ms

    quanto o calor dissipado (histerese) aumentaram com o aumento da velocidade de

    deformao; porm As e a energia de deformao diminuram. J para velocidades de

    deformao inferiores a 3,3x10-4s-1 (2%min-1), essas propriedades mostraram-se insensveis

    a variaes na velocidade de deformao.

    LIU et al. (1998) reportaram resultados de ensaios de trao e compresso monotnicas em

    uma liga NiTi martenstica, sob diferentes velocidades de deformao (1,8x10-4s-1 e

    1,8x10-1s-1 para trao e 3,0x10-4s-1, 3,0x10-3s-1 e 1,5x10-2s-1 para compresso), indicando

    que, tanto no caso de trao quanto no de compresso, a influncia da velocidade de

    deformao nas curvas tenso-deformao pouco significativa. Em 1999, LIU et al.,

    apresentaram resultados da mesma liga sob compresso a velocidades altas de deformao,

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    indicando que, tambm neste caso, a estabilizao da martensita e as caractersticas da

    curva tenso-deformao mostraram-se insensveis mudana da velocidade de

    deformao para uma faixa de valores entre 103s-1 e 107s-1.

    3.1.4.4. Outros efeitos

    a) EMF e SE associados fase R

    A transformao de fase austentica em fase R, pelo fato de ser martenstica e

    termoelstica, tambm pode estar associada a EMF e SE. Entretanto, esta transformao

    produz pequena mudana de forma (~0,8%) se comparada transformao de fase

    austentica em martensita B19 (~7%). , portanto, pequena a deformao recupervel que

    pode ser atribuda fase R. A histerese de temperatura associada transformao R ,

    tambm, significativamente menor que a associada transformao B19 (SABURI,

    1998).

    A curva tenso-deformao de uma liga NiTi, submetida a ensaio de trao convencional,

    a uma temperatura entre Rs e Ms, pode apresentar dois patamares de tenso sucessivos

    antes da ocorrncia de escorregamento (figura 3.15). O primeiro deles est associado

    reorientao das variantes martensticas da fase R e bem menor que o segundo (induo

    de martensita B19).

    Figura 3.15 - Esquema de curva tenso-deformao mostrando regio de transformao B2R e RB19 (SABURI, 1998).

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    b) Textura e tamanho de gro

    Tal como observado comumente em metais, ligas NiTi com orientao cristalogrfica

    preferencial (textura) podem exibir variaes considerveis no comportamento mecnico

    (anisotropia) dependendo da direo de aplicao da carga em relao textura. Essa

    propriedade pode ser usada para melhorar a capacidade de memria de forma em uma

    determinada direo, atravs de tratamentos termomecnicos tais como laminao a quente

    (LIU et al., 1999). Da mesma forma, a reduo do tamanho dos gros, obtida atravs de

    tratamentos trmicos, muito efetiva na melhora da SE, uma vez que eleva a tenso de

    escoamento do material (SABURI, 1998).

    3.1.5. Propriedades

    A tabela III.1 apresenta uma relao de valores de propriedades fsicas, mecnicas e de

    transformao de ligas binrias NiTi com memria de forma fornecidas por um fabricante.

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    Tabela III.1- Propriedades de ligas NiTi (http://www.sma-inc.com/ Shape Memory Applications, Inc.)

    Propriedades de transformao Faixa de temperatura de transformao................................................-200 to 110oC Calor latente de transformao...............................................................5,78 cal/g Deformao de transformao (para material policristalino) para 1 ciclo...........................................max 8% para 100 ciclos.................................................................................6% para 100.000 ciclos.................................................4% Histerese**............................................30 a 50oC Propriedades fsicas Ponto de fuso......................................................................................1300oC Densidade..............................................................................................6,45 g/cm3 Condutividade trmica austenita.............0,18 W/cm.oC martensita..........................................................................................0,086 W/cm.oC Coeficiente de expanso trmica austenita............................................................................................11,0x10-6/ oC martensita.........................6,6 x10-6/ oC Calor especfico................0,20 cal/g.oC Resistncia corroso***.....................................................................excelente Propriedades eltricas e magnticas Resistividade [resistncia = resistividade x comprimento / rea da seo transversal] austenita..........................................................................................aprox. 100 micro-ohms x cm martensita.......................................................................................aprox. 80 micro-ohms x cm Permeabilidade magntica........................................< 1.002 Susceptibilidade magntica................................................................3,0x106 emu/g Propriedades mecnicas Mdulo de elasticidade**** austenita....................................