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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS SÓCIO-ECONÔMICAS E
HUMANAS
CURSO DE PEDAGOGIA
NATHÁLIA OLIVEIRA LEMES
O TEATRO DE FANTOCHES NA EDUCAÇÃO INFANTIL
ANÁPOLIS – GOIÁS
2009.
NATHÁLIA OLIVEIRA LEMES
O TEATRO DE FANTOCHES NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Trabalho de Conclusão de Curso
desenvolvido sob orientação da
Profª. Ms. Marisa Alves Vento como
requisito parcial para a aprovação e
obtenção do título de Licenciatura
em Pedagogia na Universidade
Estadual de Goiás.
ANÁPOLIS – GOIÁS.
2009.
NATHÁLIA OLIVEIRA LEMES
O TEATRO DE FANTOCHES NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Trabalho de Conclusão de Curso
desenvolvido sob orientação da
Profª. Ms. Marisa Alves Vento como
requisito parcial para a aprovação e
obtenção do título de Licenciatura
em Pedagogia na Universidade
Estadual de Goiás.
Banca Avaliadora
____________________________________________
Profª. Ms. Marisa Alves Vento
(Orientador)
________________________________________________
Profª. Ms. Ivana Alves Monnerat de Azevedo
(Leitor)
Agradecimentos
Primeiramente agradeço a Deus que me deu sabedoria, força e bênçãos para não
desistir nunca, independente dos obstáculos.
A minha mãe Selma, que sempre está ao meu lado nos momentos de alegria e
tristeza, me apoiando, me ouvindo, me aconselhando, não deixando nunca o mundo
desabar, sendo sempre mãe e amiga.
A meu pai Divino, que está sempre me incentivando, me dando esperanças, me
deixando com saudades e que me presenteou, mesmo sem planejar, com dois
anjinhos, Mateus e Manoela, sendo agora impossível imaginar a vida sem eles.
A meu irmão Vinícius, que me proporciona momentos de alegria, mesmo quando estes
parecem não serem possíveis diante de tanto estresse, e por ser ele uma pessoa tão
contrária a mim, ao meu jeito.
A minha madrinha Suely e meu padrinho Décio, que estão comigo a vida inteira dando
carinho, atenção, conselhos e tendo por mim, o mesmo amor que tem por seus filhos
queridos, e sendo sem dúvida, minha segunda família.
A meu namorado Adonai, que está o tempo todo ao meu lado, sendo sempre paciente,
carinhoso e dedicado.
As minhas amigas Danúbia, Deuslene, Eulane, Lia e Norma que durante os quatro
anos me proporcionaram momentos de alegrias, risadas, choros, brigas, e o mais
importante, se mostraram amigas nos momentos mais difíceis e apesar de qualquer
coisa, estarão guardadas pra sempre dentro do coração.
A professora Ivana, a dona do melhor coração do mundo, que me aturou durante dois
anos e que me ensinou muito sobre nossa profissão e sobre a vida.
E a minha orientadora Marisa, que desde antes de me conhecer se mostrou disposta e
interessada em me orientar. Uma pessoa que nos encanta a medida que conhecemos,
que não só foi fundamental para a conclusão deste curso, mas que também ensinou e
se dedicou muito a mim e a meu trabalho.
A professora e o dom de fazer sonhar A minha professora me contava estórias de uma Alice no país das maravilhas, uma outra de uma tal baratinha que queria casar e outra ainda de um gato de botas longas que pulava de um lado para o outro... Eu era cada um dos personagens. Ela me ensinava a cantar tantas músicas de peixes, rodas e pés... E eu mal sabia aonde pôr as mãos para escrever. No quadro escrevia as vogais, aquelas letrinhas alegres, enfeitadas com casinhas, fazia delas uma família... Que poderia ser a minha ou não. Gostava dela, da escola... Ela não era a minha mãe, mas estava com ela a minha possibilidade de sonhar... Ela não possuía uma vara de condão como as fadas das estórias que contava, mas era a fada que eu precisava encontrar. Ela despertava em mim, muito mais do que um amontoado de letras despertaria... Despertava a minha alma sonhadora... de vida, amor, experiência. Hoje ela é a personagem da minha estória que conto aos meus alunos e amigos. Vejo que ela não era apenas um profissional formado num quadrado fora do mundo real, moldado como aquele homem de lata. Era aquela que tinha o dom de fazer sonhar, com tantas letras e aventuras que a tornaram meu Mágico de Oz. Jairo Rocha da Silva
RESUMO
Agregando as múltiplas formas de expressão, a arte está presente na vida do homem desde os tempos mais remotos. Considerando o interesse pela arte do teatro, esta pesquisa está direcionada para o estudo sobre a validade e importância do emprego do teatro na Educação Infantil. Através desta arte é possível observar uma maior integração entre as crianças, além de trabalhar no desenvolvimento de aptidões como oratória, timidez, auto-estima e criatividade. O trabalho foi realizado através da análise de uma ampla bibliografia e pela coleta de dados. Este se divide em três capítulos trazendo a origem do teatro, o teatro de fantoches e o teatro dentro da sala de aula. O principal objetivo era entender a importância dessa modalidade do teatro no desenvolvimento de crianças entre três e quatro anos.
Palavras-chave: Ensino-aprendizagem, Teatro de Fantoches e Educação Infantil.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................7
CAPÍTULO 1 - A Origem e a Importância do Teatro.......................................9
1.1 A História do Teatro......................................................................................9
1.2 A Tragédia Grega........................................................................................11
1.3 A Comédia Ática.........................................................................................14
1.4 A Importância do Teatro.............................................................................16
CAPÍTULO 2 - Os Fantoches na Educação..................................................18
2.1 A Origem dos Fantoches.............................................................................18
2.2 A Importância dos Fantoches......................................................................20
2.3 A Arte de acordo com a LDB.......................................................................24
2.4 A adequação do Teatro na sala de aula......................................................28
CAPÍTULO 3 - O Teatro de Fantoches na escola..........................................31
3.1 O aprendizado e o lúdico.............................................................................31
3.2 Adequação e métodos utilizados.................................................................34
3.3 Contribuições do Teatro para o desenvolvimento infantil............................36
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................40
APÊNDICE.......................................................................................................42
INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta a temática Teatro e Educação, partindo do
princípio que o teatro é uma arte conhecida desde as comunidades
primitivas, como forma de expressão física e psicológica, representada pelo
homem, permitindo desenvolvimento de linguagem, ações e expressões
corporais, personalidade, autonomia, reconhecimento e integração de
grupos.
De acordo com os conceitos de Piaget e Vigotski, a função simbólica é
desenvolvida nas crianças a partir dos dois anos de idade, essa função
permite o desenvolvimento da linguagem e da representação. Portanto,
justifica-se o estudo de uma modalidade do teatro e sua aplicação na
Educação Infantil, pois através desta arte é possível observar uma maior
integração entre as crianças, além de trabalhar no desenvolvimento de
aptidões como oratória, timidez, auto-estima e criatividade. A educação
artística traz equilíbrio físico e psicológico, sendo que as atividades teatrais
chegam a se entrelaçar com os jogos sensório-motores, fundamentais para
o desenvolvimento de movimentos, linguagem, pensamentos lógicos, ações
e integração com o mundo no período sensório-motor das crianças.
Desse modo, a partir de um levantamento bibliográfico percorremos a
origem do teatro na tentativa de perceber a sua relação com a educação,
considerar a contribuição da arte do teatro de fantoches para a Educação
Infantil. Alguns autores importantes apresentam a relação Educação e
Teatro, e acreditam neste como método de ensino-aprendizagem para a
Educação Infantil:
A utilização de máscaras, de biombos, de acessórios que façam parte da visão infantil dos seres e das coisas é vivamente recomendada, mais do que nos períodos subseqüentes. O realismo infantil é mais forte e a imaginação só se libera através da manipulação de elementos concretos, que solicitem a vida sensório-motora das crianças. (PORCHER, 1982, p. 140).
8
Além da análise bibliográfica, utilizamos também, como proposta
metodológica de trabalho, a análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais
para o Ensino de Arte e a avaliação das técnicas e metodologias usadas
dentro da sala de aula ao empregar o teatro e fantoches. Também foi
realizada uma coleta de dados com professores atuantes na Educação
Infantil, em forma de questionário, procurando avaliar a importância e a
validade da aplicação do teatro no ensino.
Para alcançar o objetivo deste trabalho de perceber a importância do
teatro de fantoches na relação ensino-aprendizagem de crianças com idade
de três e quatro anos, dividimos o trabalho em três capítulos. O primeiro
capítulo denominado “A Origem e a Importância do Teatro” faz uma
abordagem sobre a linhagem do teatro na sociedade e, desde então, seu
valor cultural e educativo para o homem.
O segundo capítulo intitulado “Os Fantoches na Educação” desenvolve
uma pesquisa sobre o teatro de marionetes, conhecendo sua origem,
validade na escola e a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais com
relação a essa arte.
O terceiro capítulo denominado “O Teatro de Fantoches na Escola”
expõe o encontro da teoria com a prática, utilizando a coleta de dados
realizada com professores atuantes na Educação Infantil que aplicam os
bonecos nas aulas, e as idéias dos teóricos pesquisados.
CAPÍTULO 1 - A ORIGEM E A IMPORTÂNCIA DO TEATRO
1.1 A História do Teatro
O teatro é uma arte conhecida desde as comunidades primitivas, de
acordo com Berthold (2006, p. 1) “O teatro é tão velho quanto a humanidade.
Existem formas primitivas de representação desde os primórdios do homem.
A transformação numa outra pessoa é uma das formas arquetípicas da
expressão humana”. É uma forma de expressão física e psicológica,
representada pelo homem, permitindo desenvolvimento de linguagem, ações
e expressões corporais, personalidade, autonomia, reconhecimento e
integração de grupos.
De acordo com Peixoto, (1995, p.12 – 13):
Desde cedo os homens sentem a necessidade do jogo, e no espírito lúdico aparece a incontida ânsia de “ser outro”, disfarça-se e representar-se a si mesmo ou aos próprios deuses ou assumir o papel dos animais que procura caçar para sua sobrevivência, às vezes inclusive fazendo uso de máscaras; e ainda, ao tudo indica, o jogo teatral, a noção de representação, nasce essencialmente vinculada ao ritual mágico e religioso primitivo.
Nas sociedades mais primitivas já se podia observar o desenvolvimento
dessa arte nas suas mais diversas formas de expressão, que representavam
também as suas necessidades. Assim, os desenhos nas paredes das
cavernas pré-históricas, os entalhes em rochas e ossos, bem como os
disfarces usados para caçar animais nas florestas e as danças rituais que
diziam respeito aos costumes populares eram formas de empregar a arte e a
representação na antiguidade remota (BERTHOLD, 2006, p. 2).
Esteves (2009) relata:
O homem primitivo era caçador e selvagem, sentia necessidade de dominar a natureza. Através destas necessidades surgem invenções como o desenho e o teatro na sua forma mais primitiva. Eram umas espécies de danças dramáticas coletivas que abordavam as questões do seu dia a dia, uma espécie de rito de celebração, agradecimento ou perda.
10
Passando das sociedades primitivas para a Antiguidade, notamos que
na Grécia Antiga, o teatro surge nos rituais de homenagem aos deuses,
sendo representações de tragédias e comédias. Afirma Berthold (2006, p. 3)
que “o drama da Antigüidade nasceria da ampla arena do Teatro de Dionísio
em Atenas, totalmente à vista dos cidadãos reunidos [...]”.
O primeiro ator da história do teatro ocidental foi Téspis, ele deu início às
encenações e representações ao imitar em praça pública o deus Dionísio
que era o deus do vinho, da fertilidade e posteriormente do teatro, como
mostra Berthold: “quando os ritos dionisíacos se desenvolveram e
resultaram na tragédia e na comédia, ele se tornou o deus do teatro” (2006,
p. 103). Deste modo as primeiras manifestações de teatro foram em
homenagem a Dionísio1.
Os gregos empregavam as artes teatrais para expressar suas idéias,
seus mitos e para fazer oferendas e agradecimentos aos deuses. Além do
que, também era empregado como forma de entretenimento e educação,
pois os espectadores absorviam conhecimento e costumes por meio dessa
arte.
Segundo Barros (2009), as máscaras usadas até hoje nas
representações teatrais, foram criadas na Grécia Antiga.
1 Assim eram as Dionisíacas, até que um corifeu de nome Téspis começou a percorrer as cidades com uma carroça que se prestava, às vezes, de palco, e ao redor da qual, se reuniam os espectadores. Em 534 a.C., Téspis, resolve encarnar a personagem de Dionísio, e transforma a narração feita na 3ª pessoa, em um discurso proferido na primeira pessoa: Grossa túnica nos ombros e tosca máscara sobre o rosto, Téspis desceu solene e grave os degraus do altar que improvisara sobre uma carroça. Os cidadãos embriagados pelo vinho e afoitos por novidades, comprimiam-se na praça do velho mercado de Atenas, a mais importante cidade do Estado da Grécia. Inesperadamente, afirma: “Eu sou Dionísio, Deus da alegria”! Um surpreendente sacrilégio. Um homem postando-se como um deus. Houve revolta e medo em alguns. Muitos, porém, viam essa postura, como um louvor ao Deus do Vinho. Foi também o instante em que, pela primeira vez, um obscuro e arrogante grego se faz aceitar, pelos atenienses do mercado, como deus de carne e osso: era o nascimento do Teatro (SÉRGIO, 2006).
11
Na cultura Grega Antiga, as mulheres não eram consideradas cidadãs,
logo, não podiam participar das encenações teatrais, sendo assim, os papéis
femininos eram representados pelos que usavam máscaras.
Nessa época, somente os homens podiam representar, assim, diante da necessidade de simular os papéis femininos, as primeiras máscaras foram criadas e mais tarde transformadas nas faces que representam a tragédia e a comédia; máscaras que simbolizam o teatro (BARROS, 2009).
O teatro ganhou verdadeira atenção com a reconstrução de Atenas, esta
havia sido destruída pelos persas, deste modo, as representações teatrais
exerceram papel respeitável na cultura grega. Com essa renovação,
consolidaram dois gêneros teatrais, a tragédia e a comédia.
Os povos da Grécia antiga transformaram essas encenações em arte, criando os primeiros espaços próprios, para que fossem divulgadas suas idéias, as mitologias, agradecimentos aos vários deuses, dentre outros assuntos. O gênero trágico foi o primeiro a aparecer, retratava o sofrimento do homem, sua luta contra a fatalidade, as causas da nobreza, numa linguagem bem rica e diversificada. Os maiores escritores da tragédia foram Sófocles e Eurípedes (BARROS, 2009).
1.2 A Tragédia Grega
A tragédia era a dramatização dos contos heróicos, manifestava a
religião, a arte e a filosofia “Os contemporâneos não consideravam nunca a
natureza e a influência da tragédia de um ponto de vista exclusivamente
artístico” (JAEGER, 2001, p. 293), além de possuir grande importância
cultural e educacional para a história da Grécia.
A tragédia devolve à poesia grega a capacidade de abarcar a unidade de todo o humano. Neste sentido, só a epopéia homérica se pode comparar a ela. Apesar da grande fecundidade da literatura, nos séculos intermediários, só a epopéia a iguala quanto à riqueza do conteúdo, à força estruturadora e amplitude do seu espírito criador. É como se o renascimento do gênio poético da Grécia se tivesse mudado da Jônia para Atenas. A epopéia e a tragédia são como duas grandes formações montanhosas ligadas por uma série ininterrupta de serras menores (JAEGER, 2001, p. 287).
12
Essa forma de expressão teatral foi de grande importância política e
educacional. Tinha como características, apresentar o destino infeliz do
herói, expressar o sofrimento, a dignidade da queda, e tinha como finalidade
ensinar as pessoas a manter equilíbrio, permitir crescimento individual e
instruir a humanidade a lidar com seus problemas.
As tragédias nasceram nas festas dionisíacas, assim como os coros.
Estes eram uma manifestação anterior ao teatro, mas que não deixou de
existir, passando a ser parte das representações, como afirma Jaeger:
O coro foi a alta escola da Grécia antiga, muito antes de existirem mestres que ensinassem a poesia. E a sua ação era com certeza bem mais profunda que a do ensino meramente intelectual. Não é sem razão que a didascália coral guarda no seu nome a recordação da escola e do ensino (2001, p. 294).
O coro era importante para a história e para a educação, pois era
considerada uma forma de ensino, onde todos os cidadãos e o Estado
participavam e ensaiavam com dedicação durante o ano inteiro.
As tragédias eram representadas por coros, marcadas por encenações
que não mostravam o cotidiano dos homens, mas sim fantasias poéticas e
desconhecidas.
O efeito poderoso e imediato que a tragédia exercia sobre o espírito e os sentimentos dos ouvintes revela-se nestes ao mesmo tempo como irradiação da íntima força dramática que impregna e anima o todo. A concentração de um destino humano inteiro no breve e impressionante curso dos acontecimentos, que no drama se desenrolam ante os olhos e os ouvidos dos espectadores, representa, em relação à epopéia, um aumento enorme do efeito instantâneo produzido na experiência vital das pessoas que ouvem (JAEGER, 2001, p. 295 – 296).
Durante o desenvolvimento da tragédia, o locutor adquiriu mais
importância do que o coro, tornando assim, a tragédia um gênero e
verdadeiramente trágica.
A representação do mito na tragédia não tem um sentido meramente sensível, mas sim de profundidade. Não se limita à dramatização
13
exterior, que torna a narração uma ação participada, mas penetra no espiritual, no que a pessoa tem de mais profundo (JAEGER, 2001, p. 298).
O criador da tragédia e seus representantes eram considerados seres
superiores da humanidade, pois sabiam demonstrar dor e sofrimento sem
manifestar sentimentos de alegria e satisfação.
Enquadrado nessa ordem, também o “homem trágico”, que criou a arte da tragédia, expande a sua oculta harmonia com o ser e se ergue, pela sua capacidade de sofrimento e pela sua força vital, a um grau superior de humanidade (JAEGER, 2001, p. 314).
As primeiras tragédias foram criadas por Ésquilo, considerado herói e
mestre do teatro ateniense “É a Ésquilo que a tragédia grega antiga deve a
perfeição artística e formal, que permaneceria um padrão para todo o futuro”
(BERTHOLD, 2006, p. 107).
Ao lado de Ésquilo veio Sófocles “Para o homem de Sófocles, o
sofrimento é a dura, mas enobrecedora escola do “Conhece-te a ti mesmo””.
Ambos trouxeram com a tragédia, força educativa para os cidadãos, e
acreditavam que a poesia e a educação deveriam apresentar a mesma
finalidade.
Para Sófocles, toda a ação dramática é apenas o desenvolvimento essencial do homem sofredor. É assim que ele cumpre o seu destino e realiza a si próprio. A tragédia é para ele, também, o órgão do mais alto conhecimento (JAEGER, 2001, p. 332).
Em sua obra, Berthold cita Eurípedes como outro grande poeta trágico e
afirma:
Ele era um cético que duvidava da existência da verdade absoluta, e como tal se opunha a qualquer idealismo paliativo. Estava interessado nas contradições e ambigüidades, no princípio da decepção, na relativização dos valores éticos (BERTHOLD, 2006, p. 110).
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As tragédias de Eurípedes eram baseadas em episódios vivenciados por
seu povo na época, assim, ao representar tais episódios, ele passa a ser
considerado a revelação da tragédia cultural desta época.
1.3 A Comédia Ática
A comédia grega foi a mais completa representação histórica e visava
apresentar as realidades do mundo que a tragédia não mostrava.
A comédia visa as realidades do seu tempo mais do que qualquer outra arte. Por mais que isto a vincule a uma realidade temporal e histórica, é importante não perder de vista que o seu propósito fundamental é apresentar, além da efemeridade das suas representações, certos aspectos eternos do Homem que escapam à elevação poética da epopéia e da tragédia. Já a filosofia da arte que se desenvolveu no século seguinte considerou a polaridade da comédia e da tragédia como manifestações complementares da mesma e originária tendência humana à imitação. Para ela a tragédia, bem como toda a poesia elevada que se desenvolve a partir da epopéia, está ligada à tendência das naturezas nobres a imitar os grandes homens e os feitos e destinos proeminentes (JAEGER, 2001, p. 415).
Desde as festas dionisíacas já havia vestígios da comédia. As
celebrações, as danças, os coros, o ritmo popular, as improvisações e as
orgias, tudo faz parte da comédia.
A origem da comédia, de acordo com a Poética de Aristóteles, reside nas cerimônias fálicas e canções que, em sua época, eram ainda comuns em muitas cidades. A palavra “comédia é derivada dos komos, orgias noturnas nas quais os cavalheiros da sociedade ática se despojavam de toda a sua dignidade por alguns dias, em nome de Dioniso, e saciavam toda a sua sede de bebida, dança e amor (BERTHOLD, 2006, p. 120).
A comédia ática era influenciada pela tragédia, adotou algumas de suas
formas, inspirou-se na poesia dramática e inseriu seu próprio herói. Segundo
Jaeger, o maior representante da comédia grega foi Aristófanes:
Finalmente, no momento culminante da sua evolução, a comédia adquiriu, por inspiração da tragédia, clara consciência da sua elevada
15
missão educacional. Toda a concepção de Aristófanes sobre a essência da sua arte encontra-se impregnada desta convicção e permite colocar as suas criações, pela dignidade artística e espiritual, ao lado da tragédia do seu tempo (JAEGER, 2001, p. 418).
Encontravam-se nas representações do teatro cômico, todas as
maneiras de críticas a grupos políticos e à situações vividas pela
comunidade. Nas apresentações eram utilizadas máscaras alegres, o coro
recebia maior importância aqui do que na tragédia e havia maior interação
com o público.
A comédia ática fortaleceu a liberdade de expressão, foi um marco
importante para a democracia, e iniciou uma luta pela educação. Jaeger
(2001, p. 422) considera que:
O fato de que a educação tenha ocupado na comédia, apesar da agitação daqueles dias de guerra, um lugar tão amplo e mesmo predominante, ao lado da política, demonstra a sua enorme importância naquele tempo. Só através da comédia podemos chegar a conhecer a violenta paixão que gerou e as causas de que procede a luta pela educação. Ao empregar a sua força para se tornar guia daquele processo, a comédia converte-se, por sua vez, numa das grandes forças educacionais do seu tempo.
Havia dois tipos de educação: a educação antiga, que respeitava os
costumes antigos, ensinava às crianças os coros e os bons modos, e ainda,
formava visão política; a educação moderna, que não ensinava a cantar as
músicas dos coros e não agradava a população grega.
Conta-nos Jaeger(2001, p.430) que:
Assim, Aristófanes teve a idéia de levar ao palco, com personagens alegóricos, os logos justo e o injusto que os sofistas distinguiam em cada caso, para oferecer aos espectadores, com um triunfo do discurso injusto sobre o justo, o quadro cômico da educação moderna.
16
1.4 A importância do Teatro
O breve percurso realizado sobre a origem do teatro nos mostra que a
arte é coexistente à vida do homem em sociedade. Sua importância não se
reduz ao desenvolvimento das diversas formas de expressão ou da
criatividade humana, mas também, é um fator fundamental no processo de
socialização.
Desde muito cedo, podemos observar as crianças, durantes suas
brincadeiras cotidianas, realizando atividades de dramatização e imitação.
Toda criança, desde cedo, dramatiza, já dissemos. Embora se julgue que suas primeiras manifestações sejam simplesmente imitação do que vê a seu redor, ela na realidade observa e registra os fatos que presencia e tenta reproduzi-los, não como foram vistos ou ouvidos e sim, com acréscimos ou restrições pessoais. Desta forma, a criança associa a realidade à fantasia e amiúde se identifica de tal forma com o personagem ou com a situação dramatizada, que chega a um desdobramento de sua personalidade. [...] Nesta brincadeira, os atores mirins estão expandindo sua imaginação, socializando-se, incorporando experiências novas e expondo suas idéias com liberdade, porque neste momento nenhum adulto está ditando normas de conduta para serem seguidas (BLOIS e DE BARROS, 1967, p.3).
O teatro é, por estas razões, uma forma de manifestação artística
importante na evolução da humanidade. Por meio das atividades teatrais, os
indivíduos desenvolvem expressividade e diálogo, características
indispensáveis no mundo moderno e fundamental no progresso do homem
na história.
Faria comenta que a dramatização é a ação representada e traz
benefícios psicopedagógicos, destacando o caráter multissensorial e ativo,
onde a dramatização desenvolve a expressão pessoal, social e vivência de
situações diversificadas; e o caráter representativo (FARIA, 1975).
Dentre todas as modalidades existentes de arte teatral, escolhemos o
teatro de fantoches como objeto de estudo, buscando investigar qual a
contribuição que esta arte pode oferecer na Educação Infantil. No capítulo
17
que se segue se propõe a traçar as origens do teatro de fantoches, bem
como sua importância e emprego na educação.
CAPÍTULO 2 - OS FANTOCHES NA EDUCAÇÃO
2.1 A Origem dos Fantoches
Percorrendo as páginas da História encontramos no teatro não só uma
expressão de Arte, como também, uma modalidade de ensino e educação.
Dentre as diversas expressões dessa arte, enfatizamos nessa pesquisa o
teatro de fantoches que também tem sua origem nas sociedades primitivas,
conforme relata Ferreira (2002, p. 10):
O teatro de bonecos tem sua origem na mais remota Antiguidade. Acredita-se que na Pré-História os homens se encantavam com suas sombras movendo-se nas paredes das cavernas. Nessa época, as mães teriam desenvolvido o teatro de dedos, projetando, com as mãos, sombras diversas nas paredes para distrair os filhos.
Em sua narrativa, na obra Fisionomia e Espírito do Mamulengo (o teatro
popular do Nordeste), Borba Filho (1966, p. 10) remonta a origem dos títeres
ou fantoches ainda aos tempos das cavernas:
Os títeres, como os homens, têm uma história. Sempre viveram juntos. É possível que o homem das cavernas, à luz das fogueiras, tenha feito movimentos com as mãos, formando bichos contra as muralhas, como gostávamos de fazer na meninice contra a parede do quarto. A origem dos fantoches, no entanto, perde-se na noite dos tempos e a sombra das mãos é apenas uma suposição, mas Platão já dizia que a nossa visão do mundo é como sombras no fundo de uma caverna. É possível que o passo seguinte tenha sido o recorte em pedra e depois em madeira e depois em couro de figuras de gente ou de bicho projetadas contra a parede.
Com o passar dos tempos, os fantoches, assim como as máscaras,
foram usados para os contatos entre os homens e seus deuses. Na
antiguidade clássica, por exemplo, os fantoches eram grandes,
permaneciam no interior dos templos e faziam partes dos rituais de
iniciação (Andrea, 2007).
No Egito, o teatro de bonecos surgiu em cerimônias religiosas de
celebrações aos deuses, defendendo sempre o costume sagrado:
Embora os bonecos sejam tão antigos quanto os homens, pode-se dizer que no período primitivo existia apenas o “boneco inconsciente”,
19
no sentido do espetáculo. Sabe-se que desde a mais remota antigüidade os egípcios possuíam estátuas animadas nos templos, sendo que por ocasião das festas dedicadas a Osíris as mulheres participavam das procissões conduzindo falos mecânicos. A estatuária animada representou, por exemplo, acontecimentos em torno de Osíris. No primeiro quadro via-se Ísis chegar, lamentando-se pela morte de Osíris; o segundo quadro figurava um barco e Ísis à procura do corpo do marido que deveria ter sido jogado ao Nilo; terceiro quadro: mais lamentações, o corpo encontrado e ressurreição de Osíris. Estamos, sem nenhuma dúvida, diante da origem religiosa do teatro de bonecos, muito aproximado, por sinal, dos espetáculos litúrgicos medievais, inclusive com o tema da ressurreição. Ainda neste século, foi encontrado no Egito, um teatro de marionetes, com as figuras esculpidas em marfim (BORBA FILHO, 1966, p. 11).
Do Egito expandiu-se para a Grécia, porém esta não herdou o caráter
religioso, transformando as representações com bonecos numa forma de
animação e de negócios lucrativos. A partir daí, as marionetes tornaram-se
muito populares: “O próprio Sócrates utilizou muitas vezes um fantoche para
falar aos atenienses: enfiava o fantoche na mão e dirigia-lhe as perguntas
que desejava fazer aos atenienses” (Andrea, 2007).
O Império Romano herdou esta arte da Grécia, depois disso, o teatro
dos bonecos continuou se expandindo e tendo sucesso pelo mundo todo,
até que a Igreja vetou essas manifestações, pois começaram a considerar
os fantoches como encarnações das sociedades primitivas.
O mesmo fenômeno que aconteceu em relação ao teatro estendeu-se às marionetes. As produções fugiram das mãos da Igreja, por causa da elasticidade dos assuntos, da liberdade de tratamento e costumes. Viu-se, então, a Igreja obrigada a condenar a representação das peças, punindo deste modo a ausência do espírito religioso e o escândalo. Mas convém não esquecer a grande contribuição popular que nos legou uma tradição e uma poesia e que, por etapas, modificações, inovações, conservou vivo o espírito do jogo (BORBA FILHO, 1966, p. 25).
Essa modalidade do teatro volta a ter regularidade apenas no
Renascimento.
Com a Idade Média começa a nossa civilização, mas torna-se difícil seguir o curso da evolução da arte popular antes do século XV, porque a Renascença se encarregou de destruir a lembrança desses
20
fenômenos. “A marionete quase desapareceu com o Império Romano. Com o aparecimento do cristianismo, com o segredo que ele reclamava em sua origem, e por uma ação inevitável contra o antropomorfismo pagão, tudo que podia ter forma humana se achava naturalmente rejeitado”. A marionete, no entanto, nasce e se desenvolve na Idade Média, com as mesmas formas, intenções e repercussões dos dias de hoje. A marionete medieval é essencialmente religiosa e entrou no grande movimento da estatuária que adquiria uma forma simbólica dos objetos do culto. A Igreja lançava mão deste meio para que a fraca inteligência das massas tomasse conhecimento das abstrações (BORBA FILHO, grifos do autor, 1966, p. 22).
A arte com bonecos atingiu o mundo todo com diferentes nomes, porém
possuindo as mesmas características, como nos mostra Ferreira(2002, p.
11):
Na Itália, o boneco mais conhecido foi o maceus, que antecedeu o polichinelo. Na Turquia havia o karagoz; na Grécia, as atalanas; na Alemanha, o kasper; na Rússia, o petruska; em Java, o wayang; na Espanha, o Cristovam; na Inglaterra, o punch; na França, o guinhol; no Brasil, o mamulengo. Todos esses bonecos, de poucos recursos técnicos mas com grandes possibilidades expressivas, possuem algo em comum: a irreverência, a espontaneidade, a não-submissão ao estabelecido, a comicidade e, por vezes, a crueldade (grifos da autora).
Os nativos americanos já confeccionavam bonecos que imitavam
movimentos humanos e de animais, antes mesmo dos colonizadores
trazerem essa modalidade.
Na América, os fantoches foram trazidos pelos colonizadores. Entretanto, os nativos já confeccionavam bonecos articulados, que imitavam movimentos de homens e animais. Depois da Primeira Guerra, as marionetes, bonecos articulados movidos por fios, foram difundidas pelo mundo e introduzidas nas escolas, principalmente na Tchecoslováquia e nos Estados Unidos. No Brasil, os bonecos começaram a ser utilizados em representações, no século XVI (FERREIRA, 2002, p.11).
2.2 A Importância dos Fantoches
Inicialmente devemos estabelecer a diferença entre o teatro apreciado e
representado por adultos e o teatro usado para trabalhar com crianças.
21
No teatro infantil existem caracterização e situação emocional, o que
levou a terminologia: Jogo Dramático. A partir daqui, houve a distinção entre
drama no sentido amplo e teatro da forma entendida pelos adultos.
Teatro é um momento de entretenimento coordenado, é uma experiência
compartilhada entre atores e públicos diferentes. A criança não reconhece
essa diferenciação, nos primeiros anos de vida, ela é tanto ator como
público, o drama (originou-se da palavra grega drao – “eu faço, eu luto”)
então, proporciona a criança momentos de descoberta da vida e de si
mesma através de práticas repetitivas, o jogo dramático. São experiências
pessoais e emocionantes e que podem se desenvolver em direção a
experiências de grupo também (SLADE, 1978).
Considerando a diferença de conceitos, sabemos que toda criança, para
empregar uma linguagem teatral, dramatiza desde cedo, ao imitar a mãe, o
pai, os sons dos animais e de tudo que ouve, ou seja, começa
representando seu dia-a-dia, acrescentando características próprias de sua
imaginação e personalidade.
Antes de representar com os bonecos no teatro de fantoches, a criança
deve por esses estágios mais simples de dramatização, antes mesmo de se
ingressar na escola, imitando os sons, os animais, os familiares. Desta
forma, reconhecemos desde cedo, um grande artista que consegue
dramatizar espontaneamente seu cotidiano e ganhando experiências (BLOIS
e DE BARROS, 1967).
Além do convívio familiar, outras instituições sociais e culturais como
museus, teatros, igrejas, etc. também fazem parte das produções artísticas,
porém, é na escola que as crianças e os jovens têm oportunidade para
vivenciar e entender a história e os processos da arte (FERRAZ, 1999).
Assim como as outras modalidades teatrais, os fantoches são uma
brincadeira e uma forma de ensino muito rica, instigam a imaginação e a
criatividade tanto da criança quanto do professor, nas histórias inventadas,
22
no material usado para sua confecção, enfim, durante o processo de criação
e de manuseio dos bonecos.
[...] as crianças desenvolvem a expressão oral e artística. Os fantoches são um permanente convite à imaginação criadora, a incursões no reino do faz-de-conta. Transmitem aos espectadores beleza, alegria e ritmo. [...] O teatro de bonecos educa a audição. Ensina a criança a prestar atenção ao mundo sonoro, a ouvir com interesse o que os outros falam, a perceber a beleza da música e do ritmo (FERREIRA, 2002, p. 13).
O emprego dos fantoches na sala de aula traz resultados positivos tanto
para a criança como também para o professor, de acordo com Ferreira
(2002, p. 14-15):
O teatro de bonecos pode revelar ao professor aspectos do desenvolvimento da criança que não são observados durante os trabalhos escolares tradicionais; a partir daí, conhecendo-a melhor, o professor poderá proporcionar-lhe atividades educativas mais adequadas às suas possibilidades. [...] Para o professor, o teatro de bonecos é uma técnica educativa; para a criança, um jogo. A lógica infantil é diferente da do adulto: o teatro de bonecos é real para ela, dentro da realidade do jogo.
Além dos efeitos positivos no desenvolvimento natural das crianças, o
teatro de bonecos tem importância no desenvolvimento de crianças
introvertidas,
o grande valor do teatro de fantoches na recuperação e na socialização da criança-problema, pois neste tipo de dramatização ela deixa de se expor ao público sentindo-se perfeitamente à vontade ao viver os personagens personificados pelos bonecos. Aos poucos, sendo constantemente induzida (se acaso fôr tímida, ela nunca se oferecerá) a tomar parte nesta modalidade de espetáculo, superará seus problemas, confiante em si mesma, estando, então, pronta a participar de outras espécies de dramatização (BLOIS e DE BARROS, 1967, p. 4).
Nesse sentido, Louis Porcher (1982, p. 30-31) também acredita que:
não há dúvida de que a prática das atividades artísticas representa um fator altamente favorável para o desenvolvimento de toda a personalidade e, especialmente, dos seus aspectos intelectuais. O papel da arteterapia, consiste justamente em utilizar metodicamente
23
essa função estimulante da atividade artística para ajudar as crianças (ou mesmo certos adultos) deficientes, retardadas, inadaptadas (no plano motor, intelectual ou de caráter) a conquistarem um melhor domínio corporal e intelectual, um melhor equilíbrio psicológico, uma capacidade de expressão e comunicação mais satisfatória, uma integração mais dinâmica, uma relação mais enriquecedora com os outros, uma assimilação mais pessoal e mais flexível das significantes constitutivas [...].
A arte e os fantoches têm grande importância na escola, pois contribuem
bastante para o desenvolvimento físico e psicológico infantil. Os autores que
se preocupam com a auto-expressão, analisam a função da arte na escola
como atividade criadora; no processo criador, a arte liga a sociedade à vida.
Portanto, a criança que for motivada em suas produções artísticas irá
descobrir a alegria da criação de arte (FERRAZ, 1999).
Para concluir sobre a importância dos fantoches na sala de aula, as
autoras Blois e de Barros nos apresentam um quadro contendo os objetivos
gerais do teatro de fantoches, que vale a pena destacar, a fim de
enfatizarmos a importância dessa modalidade de teatro para o trabalho com
crianças.
Os objetivos gerais do teatro de fantoches resumem-se em: despertar e
educar a observação e a atenção; exercitar a memória e a inteligência;
organizar idéias e pensamento; proporcionar horas de recreação educativa;
desenvolver a imaginação; ampliar o vocabulário; enriquecer experiências;
dar boa formação de caráter; proporcionar liberdade de auto-expressão;
desenvolver o espírito criador; criar hábitos sociais; dar oportunidade à
criança-problema de evoluir, vencendo recalques e angústias; possibilitar a
atividade com as mãos; dar margem ao desenvolvimento da linguagem;
desenvolver o senso de responsabilidade (BLOIS e DE BARROS, 1967).
Avaliando todos os objetivos citados, podemos afirmar que o teatro de
bonecos tem fundamental importância no processo de ensino-aprendizagem
da criança.
24
Não podemos esquecer também que, a imaginação infantil se permite
através da manipulação de objetos que promovam os movimentos sensório-
motores da criança, por isso os bonecos e máscaras são muito
recomendados (PORCHER, 1982).
2.3 A arte de acordo com a LDB2
Segundo o volume de número 3 do Referencial Curricular Nacional para
a Educação Infantil, as artes sempre estiveram presentes no cotidiano das
crianças “O movimento, o equilíbrio, o ritmo, a harmonia, o contraste, a
continuidade, a proximidade e a semelhança são atributos da criação
artística” (1998, p. 85). A vivência da criança nesse cotidiano induz a
construção e o desenvolvimento de suas próprias experiências:
As crianças têm suas próprias impressões, idéias e interpretações sobre a produção de arte e o fazer artístico. Tais construções são elaboradas a partir de suas experiências ao longo da vida, que envolvem a relação com a produção de arte, com o mundo dos objetos e com seu próprio fazer. As crianças exploram, sentem, agem, refletem e elaboram sentidos de suas experiências. A partir daí constroem significações sobre como se faz, o que é, para que serve e sobre outros conhecimentos a respeito da arte (MEC/SEF, volume 3, 1998, p. 89).
Antes de chegar à Educação Infantil, as crianças já conhecem e
desenvolvem a imitação, podemos observar no Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil que “Imitar decorre antes de uma
experiência pessoal, cuja intenção é a apropriação de conteúdos, de formas
e de figuras por meio da representação.” (volume 3, 1998, p. 93), já
possuem um conhecimento prévio que deve ser desenvolvido ou
modificado na instituição, porém o educador deve identificá-lo antes de tudo
e considerá-lo:
2 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96) – LDB - criada em 1996, esta lei determina e legitima o sistema de educação no Brasil, baseado nos princípios da Constituição (SCUARCIALUPI, 2008).
25
Os gestos, movimentos corporais, sons produzidos, expressões faciais, as brincadeiras e toda forma de expressão, representação e comunicação devem ser consideradas como fonte de conhecimento para o professor sobre o que a criança já sabe (MEC/SEF, volume 1, 1998, p. 33).
Não esquecendo que antes de representar e interpretar a criança passa
por um processo de imitações, pois “Imitando sons vocais, corporais, ou
produzidos por instrumentos musicais, as crianças preparam-se para
interpretar quando, então, imitam expressivamente” (MEC/SEF, volume 3,
1998, p. 57)
O teatro é uma arte que determina como fundamental a presença do
indivíduo “É, por excelência, a arte do homem exigindo a sua presença de
forma completa: seu corpo, sua fala, seu gesto, manifestando a necessidade
de expressão e comunicação” (PCN: Arte, 1997, p. 83).
Portanto, representar e dramatizar são formas de desenvolver de
acompanhar esse processo da vida da criança:
A dramatização acompanha o desenvolvimento da criança como uma manifestação espontânea, assumindo feições e funções diversas, sem perder jamais o caráter de interação e de promoção de equilíbrio entre ela e o meio ambiente. Essa atividade evolui do jogo espontâneo para o jogo de regras, do individual para o coletivo (PCN: Arte, 1997, p. 83).
O teatro de fantoches se enquadra nas propostas de arte para a
Educação Infantil, pois atende as necessidades da criança em todo seu
processo de desenvolvimento, como mostra o Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil:
No processo de construção do conhecimento, as crianças se utilizam das mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem idéias e hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar. Nessa perspectiva as crianças constroem o conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. O conhecimento não se constitui em cópia da realidade, mas sim, fruto de um intenso trabalho de criação, significação e ressignificação. Compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças serem e estarem no mundo
26
é o grande desafio da educação infantil e de seus profissionais. Embora os conhecimentos derivados da psicologia, antropologia, sociologia, medicina etc. possam ser de grande valia para desvelar o universo infantil apontando algumas características comuns de ser das crianças, elas permanecem únicas em suas individualidades e diferenças (MEC/SEF, volume 1, 1998, p. 21-22).
Mas para a criança absorver conhecimentos de arte e cultura, é
necessário que a instituição de ensino lhe mostre os caminhos:
A instituição de educação infantil deve tornar acessível a todas as crianças que a freqüentam, indiscriminadamente, elementos da cultura que enriquecem o seu desenvolvimento e inserção social. Cumpre um papel socializador, propiciando o desenvolvimento da identidade das crianças, por meio de aprendizagens diversificadas, realizadas em situações de interação (MEC/SEF, volume 1, 1998, p. 23).
Certificamos, além disso, que:
A criança, ao começar a freqüentar a escola, possui a capacidade da teatralidade como um potencial e como uma prática espontânea vivenciada nos jogos de faz-de-conta. Cabe à escola estar atenta ao desenvolvimento no jogo dramatizado oferecendo condições para o exercício consciente e eficaz, para aquisição e ordenação progressiva da linguagem dramática. Deve tornar consciente as suas possibilidades, sem a perda da espontaneidade lúdica e criativa que é característica da criança ao ingressar na escola (PCN: Arte, 1997, p. 84).
O uso do teatro na sala de aula justifica-se através do seguinte conceito
encontrado no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
(MEC/SEF, volume 1, 1998, p. 23):
Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis.
27
A presença do teatro e de todas as artes na Educação Infantil é de
grande importância, pois
na confluência da antropologia, da filosofia, da psicologia, da psicanálise, da crítica de arte, da psicopedagogia e das tendências estéticas da modernidade, surgiram autores que formularam os princípios inovadores para o ensino das artes, da música, do teatro e da dança. Tais princípios reconheciam a arte da criança como manifestação espontânea e auto-expressiva: valorizavam a livre expressão e a sensibilização para o experimento artístico como orientações que visavam ao desenvolvimento do potencial criador, ou seja, as propostas eram centradas nas questões do desenvolvimento da criança (MEC/SEF, volume 3, 1998, p. 87).
Além dessas manifestações na criança, o teatro contribui ainda com o
desenvolvimento de trabalhos individuais e coletivos:
Ao participar de atividades teatrais, o indivíduo tem a oportunidade de se desenvolver dentro de um determinado grupo social de maneira responsável, legitimando os seus direitos dentro desse contexto, estabelecendo relações entre o individual e o coletivo, aprendendo a ouvir, a acolher e a ordenar opiniões, respeitando as diferentes manifestações, com a finalidade de organizar a expressão de um grupo (PCN: Arte, 1997, p. 83).
De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil (MEC/SEF, volume 3, 1998, p. 52), existe uma grande ligação entre o
teatro e a música, a ligação dessas artes leva a criança a ter maior interesse
pela educação artística e, principalmente, desenvolve melhor suas formas de
expressão e movimento.
A expressão musical das crianças nessa fase é caracterizada pela ênfase nos aspectos intuitivo e afetivo e pela exploração (sensório-motora) dos materiais sonoros. As crianças integram a música às demais brincadeiras e jogos: cantam enquanto brincam, acompanham com sons os movimentos de seus carrinhos, dançam e dramatizam situações sonoras diversas, conferindo “personalidade” e significados simbólicos aos objetos sonoros ou instrumentos musicais e à sua produção musical. O brincar permeia a relação que se estabelece com os materiais: mais do que sons, podem representar personagens, como animais, carros, máquinas, super-heróis etc. A partir dos três anos, aproximadamente, os jogos com movimento são fonte de prazer, alegria e possibilidade efetiva para o desenvolvimento motor e rítmico, sintonizados com a música, uma
28
vez que o modo de expressão característico dessa faixa etária integra gesto, som e movimento.
Observamos ainda que
o gesto e o movimento corporal estão intimamente ligados e conectados ao trabalho musical. A realização musical implica tanto em gesto como em movimento, porque o som é, também, gesto e movimento vibratório, e o corpo traduz em movimento os diferentes sons que percebe (MEC/SEF, volume 3, 1998, p. 61).
Concluímos então, qual o verdadeiro papel do teatro na educação:
O teatro, no processo de formação da criança, cumpre não só função integradora, mas dá oportunidade para que ela se aproprie crítica e construtivamente dos conteúdos sociais e culturais de sua comunidade mediante trocas com os seus grupos. No dinamismo da experimentação, da fluência criativa propiciada pela liberdade e segurança, a criança pode transitar livremente por todas as emergências internas integrando imaginação, percepção, emoção, intuição, memória e raciocínio (PCN: Arte, 1997, p. 84).
2.4 A adequação do teatro na sala
Antes de aplicar algum conteúdo em sala, o professor deve conhecê-lo e
adequá-lo a faixa etária e ao ritmo de desenvolvimento de seus alunos.
Assim deve ser feito na Educação Infantil ao começar a trabalhar o teatro de
fantoches.
Antes de usar os bonecos como forma lúdica para ensinar, o professor
deve adaptar os materiais e as histórias de acordo com a idade das
crianças, estimulando a capacidade de descoberta.
As histórias deverão estar de acordo com a idade e a sensibilidade do grupo, que deverá ser levado a analisar-lhes o conteúdo. Se o professor agir dessa forma, a dramatização, através da sua função recreativa atingirá a criança de maneira profunda, fazendo com que ela modifique, via de regra, seu modo de agir e pensar (BLOIS e DE BARROS, 1967, p. 4).
29
De acordo com Ferraz (1999, p. 16) “Para os alunos da pré-escola os
personagens mais apropriados são os da vida real: mamãe, papai, vovô,
vovó, irmãos, parentes, crianças, professor, animais domésticos etc”.
Durante a confecção dos bonecos ou somente o manuseio do material, o
professor incentiva a criança a diferenciar texturas, formas, parte do corpo,
cores, estimula o aluno a construir noções de tamanhos, distância,
localização e lateralidade. Além de desenvolver na criança: coordenação
visual-motora; auto-crítica; senso estético; imaginação criadora; habilidade
manual, habilidade para fazer estimativas (como a do material necessário),
técnicas de desenho, modelagem, pintura, recorte e colagem, costura, etc.
(BLOIS e DE BARROS, 1967).
Durante as representações o professor deve incentivar o diálogo com o
aluno, desenvolvendo assim, linguagem e socialização, porém este diálogo
não deve ser para corrigir o trabalho da criança, e sim, questioná-lo,
o professor deve interferir questionando a criança sobre o seu trabalho, levando-a a tomar consciência de sua ação e a refletir sobre ela. Questionar não significa fazer perguntas cujas respostas já estão previstas, mas querer ouvir a opinião da criança, valorizando-a e respeitando-a (FERRAZ, 1999, p. 24).
O teatro de fantoches deve oferecer à criança ensino e recreação, ao
mesmo tempo. Toda criança adora ouvir e contar histórias basta para o
professor saber contar e organizar com calma uma boa aula.
Saber narrar histórias é uma arte. Elas divertem, dão prazer, desenvolvem a criatividade, a memória, despertam todos os sentimentos. A paciência do professor durante as atividades com fantoches é um dos elementos mais importantes para que o jogo do teatro de bonecos alcance os seus objetivos (FERRAZ, 1999, p. 25).
Diante de tais considerações, apresentamos no capítulo seguinte uma
pesquisa feita com professoras atuantes na Educação Infantil que utilizam o
teatro de fantoches como metodologia de ensino.
30
No seguinte capítulo apresentaremos o questionário aplicado que foi
analisado e comparado com as teorias de grandes autores, a fim de nos
apresentar os benefícios e as modalidades de ensino dessa arte em sala.
CAPÍTULO 3 - O TEATRO DE FANTOCHES NA ESCOLA
Segundo a metodologia proposta para o desenvolvimento deste estudo,
realizamos uma pesquisa no sentido de investigar a prática educacional por
meio da arte teatral que ocorre de forma sistemática em dois CMEIs (Centro
Municipal de Educação Infantil). A pesquisa foi realizada durante o período
de cinco de outubro de dois mil e nove até nove de novembro de dois mil e
nove com professoras dos CMEIs localizados em Anápolis/GO e
Goiânia/GO.
O instrumento utilizado para a coleta de dados foi aplicação de
questionário.
Foram questionadas cinco professoras, sendo duas do CMEI de Goiânia
e três do CMEI localizado em Anápolis. No texto, as professoras serão
identificadas pelas seguintes letras do alfabeto: A, B, C, D e E3.
As perguntas foram elaboradas com o intuito de verificar como ocorre e
qual a importância da arte teatral para a educação de crianças; se é
realmente utilizado como método de ensino ou apenas como atividade
lúdica; quais os benefícios dessa arte como método de ensino; quais as
metodologias usadas; o que as mesmas consideram ao trabalhar o teatro de
fantoches com crianças na faixa etária de três e quatro anos e em que esta
metodologia auxilia no desenvolvimento da criança.
3.1 O aprendizado e o lúdico
Durante a aplicação do questionário, todas as professoras concordaram
que o teatro em sala pode ser explorado tanto como método de ensino-
aprendizagem quanto de forma lúdica.
Na opinião da professora (C) o teatro é muito importante, pois através
dele, conseguimos transpor o conteúdo ou conhecimento, de forma dinâmica
3 Este critério foi empregado a fim de preservar suas identidades e diferenciar suas respostas.
32
e interessante. É importante entrar no mundo lúdico da criança para
transmiti-las informações.
A professora (D) defende que o teatro de bonecos é uma manifestação
artística, assim pode ser trabalhado como tal ou ainda, como recurso
pedagógico para atender necessidades educacionais. Ele se torna
importante pela riqueza de todas as características empregadas no seu
fazer.
Outra educadora (E) refere que o teatro trabalha no aluno funções
corporais, vocais, além de desenvolver senso crítico, estético, criativo, entre
outros. Esses alunos estarão também, tendo contato com uma das formas
de arte, fazendo com que eles saibam apreciá-la e podendo também formar
platéias instigadoras e participativas.
O teatro na sala de aula também instiga a curiosidade, o gosto e a
valorização da arte pela criança. De acordo com uma das professoras (E), o
teatro deve ser inserido em todas as instituições de ensino, tanto Educação
Infantil quanto Educação Básica, pois a criança, o adolescente e o adulto
devem ter contato com essa arte que, não só forma atores, mas também
apreciadores e conhecedores dessa atividade artística que possibilita
inúmeros benefícios.
No questionário da professora (D) verificamos que os benefícios do
teatro de fantoches são oriundos da possibilidade de desenvolver no
espectador: a apreciação artística, retenção de conteúdo, expansão do
vocabulário, abstração e atenção; no manipulador do boneco: a habilidade
motora, consciência de temporalidade, criatividade, memória, abstração,
trabalho em equipe, exercício da fala, desinibição e sociabilidade.
As respostas contidas no questionário colaboram para a afirmação de
que a arte apresenta na vida da sociedade fatores essenciais de
humanização. Desde a infância nos deparamos com manifestações culturais
e vamos desenvolvendo nosso próprio gosto por imagens, músicas,
33
histórias, jogos e etc. Desenvolvemo-nos esteticamente e a Arte na escola
deve mobilizar as atividades que diversifiquem e expandam a formação
artística e estética do aluno (FERRAZ, 1999).
Durante a realização do jogo dramático com as crianças, notam-se
nestas duas importantes qualidades: a absorção de sentimentos,
conhecimentos e de tudo que está sendo realizado; e a sinceridade que
transparece enquanto o aluno está representando, sentimento de realidade e
experiência. É papel do professor estimular essas e outras qualidades
(SLADE, 1978).
O professor deve estar sempre atento, pois é o responsável por
estimular e instigar a curiosidade e atenção de seu aluno, além de estar
sempre observando e analisando o crescimento físico e psicológico de cada
criança.
Todo trabalho com o desenvolvimento da observação, percepção e
imaginação infantil não pode ser desvinculado de atividades lúdicas, pois
estas são fundamentais para o processo de amadurecimento da criança
(FERRAZ, 1999).
Confirmamos então que, o uso do teatro pra fins didáticos estimula não
só o aprendizado do aluno, mas também o trabalho do professor, pois este
consegue acompanhar o progresso e o desempenho das crianças, a cada
momento, no decorrer das representações. A dramatização é mais eficaz
nesse sentido do que outros recursos didáticos (FARIA, 1975).
O teatro como método de ensino apresenta diversos benefícios para o
desenvolvimento da criança, sendo que esta deve sempre estar recebendo
orientações do professor.
O jogo dramático é uma parte vital da vida jovem. Não é uma atividade de ócio, mas antes a maneira da criança pensar, comprovar, relaxar, trabalhar, lembrar, ousar, experimentar, criar e absorver. O jogo é na verdade a vida. A melhor brincadeira teatral infantil só tem lugar onde oportunidade e encorajamento lhe são conscientemente oferecidos por uma mente adulta. Isto é um
34
processo de “nutrição” e não é o mesmo que interferência. É preciso construir a confiança por meio da amizade e criar a atmosfera propícia por meio de consideração e empatia (SLADE, 1978, p. 17 – 18).
A educação artística no ensino infantil possui objetivos que podem ser
definidos segundo três modalidades: visa à formação intelectual do aluno; a
livre auto-expressão que consiste em um dos principais objetivos das
atividades de formação de personalidade, assim, o educador deve fazer com
que a criança receba instrumentos necessários para a sua auto-expressão; e
por fim, a os caminhos para educação artística visa oferecer às crianças se
tornarem sensíveis à obra de arte (PORCHER, 1982).
3.2 Adequação e métodos utilizados
Ao serem questionadas sobre o que deve ser levado em consideração
ao aplicar o teatro no trabalho com crianças de três e quatro anos, as
professoras enfatizaram o cuidado na escolha do tema, na faixa etária dos
alunos e atenção no desenvolvimento das crianças.
A educadora (A) afirma que o professor deve escolher com cuidado as
histórias, pois estas precisam estar de acordo com a idade e a sensibilidade
do grupo, e ainda, deve analisar os conteúdos possíveis de serem
trabalhados. Qualquer procedimento educacional deve ser levado em
consideração à idade e as questões motoras e psicológicas do grupo
trabalhado.
Uma professora (E) afirma que as crianças adoram confeccionar
fantoches e sentem prazer ao usá-los, principalmente se foi ela que criou, a
partir daqui, o professor deve ir instigando essa criança com algumas
perguntas como: quem é esta personagem? Quantos anos ela tem? Com
quem ela mora? O que ela mais gosta de fazer? Entre outras.
35
Desta forma, é possível construir uma história onde o professor serve de
mediador e a criança a criadora do enredo, neste pode ser incluído
personagens criados por outras crianças, fazendo assim, uma relação entre
a criança que está manipulando o fantoche com a personagem que está em
suas mãos. Nesta situação é possível trabalhar ainda, a noção de vozes
diferentes para os fantoches, utilizar cortina ou mesa para que a criança se
posicione atrás ao apresentar a história para os colegas, explorando nessa
atividade a criatividade do professor e as idéias levantadas pelos alunos.
A educadora (D) concorda que existem duas formas de aplicação do
teatro de bonecos: permitir e proporcionar as crianças a criação e
manipulação das histórias; podendo incluir também, a criação dos próprios
bonecos. A segunda forma seria promover a apresentação de histórias para
que as crianças apreciem.
Assim como todos os conteúdos explorados pelo professor dentro da
sala de aula, as atividades teatrais também devem ser adequadas à idade
das crianças para obtermos melhores resultados.
Os bonecos podem ser introduzidos como jogos auxiliares a esse desenvolvimento, mas para isso eles precisam estar de acordo com a maturidade das crianças. Para os alunos da pré-escola os personagens mais apropriados são os da vida real: mamãe, papai, vovô, vovó, irmãos, parentes, crianças, professor, animais domésticos etc. Os personagens imaginários, como reis, rainhas, fadas, bruxas, príncipes, princesas, anões, gigantes, dragões, são mais apropriados para crianças do 1º grau. Os alunos maiores podem apresentar o seu teatro de bonecos para as crianças menores (FERREIRA, 2002, p. 16).
A dramatização inicialmente tem função recreativa, porém com as
devidas adequações, atinge a criança de maneira que esta modifique seu
modo de pensar e agir. Para atingir bons resultados, o professor não deve
trazer as histórias sempre prontas, deve deixar para a imaginação e a
criatividade da criança (BLOIS e DE BARROS, 1967).
36
Ao trabalhar o teatro de fantoches, primeiramente o professor verifica o
nível de desenvolvimento em que a criança se encontra, através de
manipulação de materiais e bonecos oferecidos aos alunos. A partir daí,
organizam-se atividades sempre valorizando a capacidade de descoberta da
criança com o boneco. Da mesma forma que as histórias devem estar de
acordo com o nível de desenvolvimento psicológico da criança, os materiais
escolhidos para a confecção de bonecos também devem ter esse cuidado
(FERRAZ, 1999).
Concluímos então que, o educador deve lembrar sempre de entreter as
crianças enquanto trabalha os conteúdos, e as formas e cores são muito
importantes e interessantes para os pequenos.
3.3 Contribuições do teatro para o desenvolvimento infantil
Questionamos por fim, se o teatro pode ser utilizado como forma de
ensino e de que maneira ele auxilia no desenvolvimento da criança. Todas
as educadoras concordaram que o teatro de fantoches é uma forma lúdica
de ensino que alcança seus objetivos.
Evidenciaram que o teatro não pode ser visto dentro da escola apenas
como algo lúdico. Ele é uma matéria como as outras e propõem
aprendizados como as mesmas, pois ele é capaz de desenvolver várias
habilidades e conhecimentos. Porém, sem esquecer que o teatro não exclui
o lúdico, pois fazer arte pode ser totalmente prazeroso e divertido, tornando
assim, o trabalho produtivo e sem passar a imagem de algo imposto ao
aluno.
O teatro proporciona o conhecimento estético sensorial expressivo,
verbal e não verbal, procurando não focar em um ensino que despreza o
conhecimento através da troca, da busca não só pelo realismo, mas pela
imaginação, trazendo novas visões e percepções às crianças, não apenas
de mundo, mas delas mesmas, evitando assim, uma relação passiva e
37
alienante. O teatro irá auxiliar desde que sejam respeitados os limites da
criança, não deixando esta ser avaliada de forma injusta, mas sempre
instigando e descobrindo seu ritmo de desenvolvimento, percebendo
também o que a agrada, qual papel ela quer exercer na apresentação,
buscando sempre metodologias que ajudem esses alunos a superarem seus
limites, não esquecendo que é um exercício coletivo. É o que afirma a
professora (A).
Sobre o uso de fantoches, a educadora (B) responde que ele auxilia as
crianças tímidas, desenvolvendo sua capacidade de entrosamento com os
colegas; ensina as crianças a respeitarem e conhecerem seus limites; auxilia
na troca de informações e fixação de conteúdos, entre outros.
Concluímos que a dramatização é uma forma de comportamento
existente em todas as culturas, que oferece ao aluno a oportunidade de
definir e explicar sua própria cultura (CABRAL, 2006).
O professor tem a função de estar observando atentamente as crianças,
pois no momento em que estão atuando, elas vivenciam papéis e aprendem
a conviver uns com os outros, revelando sua própria personalidade,
habilidades, atitudes e comportamentos, ajudando assim, o professor a
conhecer seus alunos (FERRAZ, 1999).
O teatro é um ótimo método utilizado pelo professor para a aplicação de
todos os conteúdos, todas as matérias podem ser abordadas por uma forma
de método dramático, porém o Jogo Dramático Infantil tem como prioridade
a preparação da personalidade para a cooperação nos estudos (SLADE,
1978).
Utilizar o teatro de fantoches na Educação Infantil tem grande relevância
na formação e desenvolvimento das crianças e contribui para que o
professor conheça melhor seus alunos e assim, consiga fazer com que este
desenvolva bem movimentos, habilidades, personalidade, criatividade e
ainda, absorva o conteúdo ministrado de forma lúdica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo desta pesquisa foi analisar a importância do teatro de
fantoches no desenvolvimento infantil e seus benefícios como método de
ensino-aprendizagem.
Inicialmente consideramos o teatro desde sua origem nas sociedades
mais primitivas, passando pelo seu uso nas celebrações religiosas, sua
importância cultural na Grécia Antiga, sendo censurado pela Igreja e
retornando à sociedade com sucesso através das próprias manifestações
religiosas.
Durante a pesquisa ficou claro que a arte teatral tem uma importância
fundamental, não somente no desenvolvimento das variadas formas de
expressão, movimentos e criatividade humana, mas principalmente no
processo de socialização e evolução da sociedade.
Entre todas as modalidades teatrais, o teatro de fantoches se destacou
pela beleza e riqueza de conteúdo e história. O estudo da origem das
marionetes nos mostrou seu valor em diferentes culturas, para diferentes povos
com diferentes nomes, porém com as mesmas características importantes.
Este estudo contribuiu para o reconhecimento de que o emprego dos bonecos
pode ser feito de forma lúdica e também como instrumento de aprendizado,
podendo ser usada na sala de aula, instigando a imaginação, a criatividade, a
movimentação e os gestos infantis, auxiliando ainda, o trabalho do professor
com seu aluno.
Este trabalho colaborou para o conhecimento e avaliação de técnicas e
metodologias de ensino que podem ser utilizadas com a implantação do teatro
nos planos de aula, avaliou ainda, as propostas feitas pela LDB com relação ao
referido assunto.
Antes de concluir o trabalho, realizamos uma coleta de dados que foi de
grande valor para considerarmos prática e teoria, pois uma das grandes
dificuldades do professor é trabalhar o ensino de forma lúdica, tendo sucesso
na eterna teoria “aprender brincando”.
39
Finalizamos o trabalho com os objetivos alcançados e podendo concluir
sobre a relevância do teatro de fantoches para o desenvolvimento da
personalidade, socialização, imaginação e linguagem da criança, além de ser
importante também para o professor e todo o grupo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SLADE, Peter. O Jogo Dramático Infantil. Tradução: Tatiana Belinky – São Paulo: Summus, 1978.
Questionário de Pesquisa de Campo
Os dados serão utilizados para pesquisa e elaboração do Trabalho de Conclusão de
Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Goiás – Unidade Universitária de
Ciências Sócio-Econômicas e Humanas de Anápolis/GO. Não é necessário a sua
identificação.
1- Em sua opinião, usar o teatro na sala de aula é importante? Por quê?
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2- Quais os benefícios de se utilizar o teatro como método de ensino?
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3- O teatro pode ser utilizado como forma de ensino ou somente de forma lúdica?
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4- Quais os métodos utilizados para trabalhar o teatro de fantoches com crianças?
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5- O que deve ser levado em consideração ao trabalhar o teatro com crianças de 3 e
4 anos?
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6- Até que ponto e de que maneira o teatro auxilia o desenvolvimento da criança?
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