tcc - avaliação na educação infantil · a avaliação na educação infantil deve ser um...
Post on 11-Jul-2020
29 Views
Preview:
TRANSCRIPT
ANA BEATRIZ FINAL GEMIO
Avaliação na Educação Infantil
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Faculdade de Educação
2007
ANA BEATRIZ FINAL GEMIO
Avaliação na Educação Infantil
Trabalho apresentado como requisito para conclusão da Habilitação Educação Infantil à Comissão de professores responsáveis pelo Curso: Profas. Dras. Marisa Del Cioppo Elias, Mônica F.V. Mendes, Neide Barbosa Saisi, Suzana Rodrigues Torres e Maria José P. M. França, sob a orientação da Profa. Dra. Mônica F.V. Mendes.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Faculdade de Educação – Curso de Pedagogia
2007
Dedicatória
Jeitos das coisas
Jandira Masur
Uma árvore é tão grande
se a gente olha lá para cima.
Mas do alto de uma montanha
ela parece tão pequenina.
Grande ou pequena, depende do quê?
Depende de onde a gente vê.
O domingo é tão curto.
Os outros dias duram tanto.
Nas horas eles são iguais.
A diferença deve estar
Naquilo que a gente faz.
Dedico este trabalho...
Aos meus pais, que me mostraram que a vida não deve ser encarada de um único jeito e
me ensinaram a buscar o melhor caminho.
Aos meus verdadeiros amigos, que sempre respeitaram o meu jeito de ver a vida e
entenderam minha ausência no período de elaboração deste trabalho.
E aos educadores, que me instigaram a ver os diferentes jeitos das coisas...
Agradeço...
Aos meus pais, que guardaram com carinho os registros de todas as etapas do meu
desenvolvimento...
Resumo
Partindo da idéia de que a educação deve estar voltada para o desenvolvimento integral do
indivíduo, o educador deve saber exatamente como avaliar e intervir nesse desenvolvimento,
visando à sua melhoria. Dessa forma, a avaliação torna-se um processo de extrema importância,
já que possibilita ao educador observar e acompanhar a evolução de seus alunos. Este trabalho
discute como melhorar o processo de avaliação na Educação Infantil a fim de intervir
positivamente no desenvolvimento do educando e, portanto, tem como objetivos a análise e a
reflexão sobre o processo de avaliação na Educação Infantil e a enumeração de mecanismos
eficazes no processo de avaliação. Nesse sentido, discutiu-se como ocorre a avaliação na
Educação Infantil e verificou-se a opinião de educadores sobre o processo avaliativo em sua
prática cotidiana. Por fim, foi defendido que, para uma melhor intervenção do educador, este
deve basear-se numa avaliação consistente da aprendizagem.
Palavras-chave: avaliação, desenvolvimento, educação infantil, processo avaliativo.
Sumário
Introdução.......................................................................................................................................7
1 – Concepção de criança...............................................................................................................9
2 – Concepção de avaliação...........................................................................................................12
2.1 - Avaliar em diferentes momentos – Tipos de avaliação.........................................................13
2.2 - Avaliar é também avaliar-se..................................................................................................14
3 – Avaliação na Educação Infantil...............................................................................................17
3.1 - Por que avaliar?.....................................................................................................................18
3.2 - O que avaliar?........................................................................................................................19
3.2.1 - Relação escola-família........................................................................................................20
3.3 - Como avaliar? – Instrumentos de avaliação...........................................................................21
3.3.1 - Observação e registro..........................................................................................................22
3.3.2 – Relatório.............................................................................................................................23
3.3.3 – Portfólio..............................................................................................................................24
4 – O que pensam os educadores?..................................................................................................27
4.1 – Concepção de avaliação........................................................................................................27
4.2 – Procedimentos utilizados......................................................................................................28
4.3 – Aspectos relevantes a serem avaliados.................................................................................29
Considerações finais......................................................................................................................32
Referências Bibliográficas.............................................................................................................33
Introdução
Minha trajetória escolar foi marcada por muitas avaliações, assim como a da maioria das
pessoas. Então, sofri, fiquei ansiosa, tive medo de falhar, senti “borboletas no estômago”.
Lembro-me dos diversos livros abertos na escrivaninha, e eu tentando memorizar os principais
conceitos.
O que me motivou a escrever este trabalho não foram somente as minhas sensações como
aluna, mas, principalmente, a preocupação e a dificuldade em avaliar como educadora.
Comecei a trabalhar com educação em 2003, e bastou um trimestre, quando surgiu a
necessidade de escrever relatórios sobre as crianças, para eu perceber a importância e a
dificuldade de avaliar. Propus-me, então, a pesquisar sobre o assunto.
Sabe-se que a infância é uma etapa extremamente importante, por isso a Educação Infantil
deve propiciar o desenvolvimento completo e integrado do indivíduo em todos os aspectos:
cognitivo, social, motor e emocional. Partindo desse conhecimento, como avaliar em uma etapa
tão significativa? Essa questão merece algumas considerações preliminares.
É inadmissível que o desenvolvimento de uma criança seja relatado, muitas vezes, por
meio de relatórios óbvios e mecânicos, que não retratam a realidade, ou que seu comportamento
seja julgado de forma estática, que não compreende o desenvolvimento como um processo com
etapas a serem conquistadas.
A avaliação na Educação Infantil deve ser um importante instrumento que apoie a prática
pedagógica e possibilite ao educador obter informações sobre o desenvolvimento do aluno. Sua
função é justamente auxiliar o professor a refletir sobre as condições de aprendizagem oferecidas,
possibilitando que ele acompanhe, oriente e direcione o processo de ensino-aprendizagem,
ajustando sua prática às necessidades educativas.
É imprescindível que o professor busque constantemente mecanismos que o tornem
observador, não só do aluno como de si próprio, analisando a sua prática pedagógica e o que ela
influencia no desenvolvimento do aluno. É necessário que o professor tenha, além de um alicerce
teórico, auto-conhecimento, senso crítico e humildade para reconhecer seus erros, suas falhas e
estar aberto a novas tentativas, sempre visando ao melhor para seus alunos.
_________________________________ Desenho: Baratas. Arquivo pessoal. 1988. Maternal.
1. Concepção de criança
Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (p.868), criança é um ser humano
que se encontra na fase que compreende o período do nascimento à puberdade, ou seja, a fase da
infância. É um ser humano que não é adulto.
No entanto, sabe-se que a concepção de criança envolve outros aspectos para além do
significado da palavra.
Para que o professor entenda e assuma o caráter investigatório da avaliação, é necessário
que ele tenha definida a concepção de criança.
“Se conceber a criança como sujeito de sua própria aprendizagem, capaz de tomar decisões, fazer
escolhas, resolver problemas, observar, questionar e participar ativamente das atividades que lhe
são propostas, o processo de avaliação de seu desenvolvimento terá um caráter de investigação e
de acompanhamento das modificações que a criança vai apresentando”. (AROEIRA, SOARES,
MENDES, 1996, p.157)
Entretanto, essa concepção nem sempre esteve presente. Antigamente, por exemplo, por
volta do século XII, não existia uma concepção de infância. Devido às más condições de higiene
e saúde, o índice de mortalidade infantil era muito alto. As crianças viviam muito pouco e por
isso eram vistas como tendo baixo valor social.
Já nos séculos XVI e XVII, a criança passa a ser concebida como um adulto em miniatura.
Portanto, dela são cobrados comportamentos e posturas como tal, usando, inclusive, roupas iguais
às dos adultos.
Hoje, tem-se clara a concepção de criança como sujeito social e histórico, que pensa e
sente o mundo de um jeito único e muito próprio. A criança não é um “vir-a-ser”, é “desde
sempre” uma pessoa e, por isso, deve poder exercer de forma completa suas capacidades afetivas,
cognitivas e sociais. A criança deve ser entendida como pessoa crítica, criativa, observadora,
questionadora, curiosa, inventiva, participativa e autônoma para ser sujeito do próprio
desenvolvimento, com capacidade e liberdade para resolver conflitos e tomar decisões.
(HOFFMANN, 1996)
No Brasil, dispõe-se de legislações como a Constituição Federal, de 1988, o Estatuto da
Criança e do Adolescente, de 1990 e a Lei de Diretrizes e Bases, de 1996, que apontam para os
benefícios do investimento na infância, reconhecendo a importância e a necessidade do
atendimento às crianças de 0 a 6 anos e do direito de ser criança.
Partindo desses conhecimentos, fica claro que as propostas em Educação Infantil devem
considerar a criança em sua plenitude e que o educador infantil precisa ter, além de uma
concepção bem definida de criança, um embasamento teórico consistente articulado com a
prática, que lhe possibilite dominar o universo infantil. Para isso, é igualmente necessário que o
educador tenha a capacidade de observação, percebendo tanto as competências desenvolvidas
como as aprendizagens que não foram conquistadas pela criança. É importante, também, refletir
sobre a prática, compreender a criança no seu processo de aprendizagem e questionar-se sobre o
porquê de uma criança não aprender.
Sabe-se, por exemplo, que a organização cerebral depende altamente das experiências
infantis, da interação do indivíduo com o ambiente. É nos primeiros anos da infância que 90%
das relações cerebrais são estabelecidas e que as bases das competências e habilidades, as quais
acompanharão o indivíduo por toda a vida, são preparadas.
Dessa forma, a melhor fase para a criança ser estimulada é justamente de 0 a 6 anos,
período o qual a Educação Infantil engloba. Por isso, é papel do educador infantil promover
experiências que possibilitem o desenvolvimento pleno da criança.
_____________________________
Desenho: Gato. Arquivo pessoal. 1989. Pré I.
2. Concepção de avaliação
Segundo Kenski (In: HAIDT, p.316), a concepção de avaliação está muito presente no
cotidiano. Em todos os momentos as pessoas precisam avaliar situações para tomar decisões que
vão lhes indicar a melhor opção. Por exemplo, se uma pessoa vai sair de casa e percebe que o
clima está instável, ela avalia a situação e decide se levará consigo, ou não, um guarda-chuva. Ou
então quando se percebe que o caminho para o trabalho está congestionado, é preciso avaliar e
planejar um outro percurso.
Já no cotidiano escolar, tanto para os alunos, quanto para os professores, o termo avaliar
sempre esteve associado a práticas como aplicar provas, fazer testes, atribuir notas e conceitos,
reprovar, etc. Esse tipo de associação é resultado de uma concepção tradicional de educação, na
qual ensinar se restringe à transmissão de informações e aprender, por sua vez, memorização de
conteúdos inquestionáveis. Nessa visão, o educador é o detentor e transmissor de todo o
conhecimento e o aluno não passa de um ser passivo e receptivo. Dessa forma, o professor utiliza
a avaliação, no momento terminal do processo educativo, para verificar o que se aprendeu ou não
se aprendeu, o que a torna um instrumento de autoritarismo, julgamento, exclusão e seleção. A
avaliação com essas características possui uma função classificatória e sentenciosa, traduzida em
certo e errado, em que o erro é extremamente negativo.
Não é à toa que o termo avaliação é constantemente associado a sentimentos de medo,
ansiedade e angústia por parte dos que tiveram sua trajetória escolar marcada por esse tipo de
prática avaliativa.
Segundo Hoffmann (1991, p.14), em pesquisas realizadas com professores e estudantes de
Pedagogia, nas quais se pedia que relacionassem avaliação a alguma imagem ou personagem,
todas as relações sugeriram imagens negativas ou amedrontadoras, tais como: “conjunto de
sentenças irrevogáveis de juízes inflexíveis sobre réu, em sua grande maioria, culpados” ou “São
Pedro: o que decide quem entra (ou não) no céu!”. Esses exemplos mostram a arbitrariedade e o
autoritarismo ligados à concepção de avaliação tradicional.
Em uma perspectiva que não trata o aluno como ser passivo, mas, sobretudo, considera-o
agente do processo de aprendizagem, no qual professor é orientador e mediador desse processo, a
avaliação assume um caráter de investigação e acompanhamento da aprendizagem. Nesse caso, o
objetivo maior é constatar em qual etapa do desenvolvimento o aluno se encontra, seus avanços e
dificuldades e, assim, pautar as mudanças necessárias para que este desenvolvimento tenha
continuidade. Para essa concepção, o desenvolvimento do aluno é entendido como um processo,
em constante transformação, visando à evolução. Dessa forma, o erro é aceito e é considerado
como uma das etapas do desenvolvimento, uma tentativa de acerto; é a possibilidade, naquele
momento, de se buscar uma hipótese correta. O erro, quando analisado dessa maneira, auxilia o
professor a interpretar as hipóteses que o aluno estiver elaborando sobre determinado assunto e,
assim, poder intervir de modo a formá-las adequadamente.
Segundo Rubem Alves (2004), a pergunta e o erro fazem parte da construção do
pensamento. “Não existe nada mais fatal para o pensamento do que o ensino das respostas
certas.”
Na minha concepção, avaliar significa observar atentamente o educando, identificar suas
conquistas e as dificuldades a fim de refletir muito sobre o que foi observado, buscando o melhor
caminho para possibilitar-lhe o desenvolvimento e a aprendizagem.
2.1. Avaliar em diferentes momentos – Tipos de avaliação
Considerando a avaliação como uma prática contínua que possibilita ao educador
reformular sua ação educativa, é necessário que ela ocorra em diferentes momentos do processo
de ensino-aprendizagem: antes, durante e ao final.
Segundo Rovira e Peix (In: ARRIBAS, 2004), a avaliação que ocorre antes é chamada de
avaliação inicial ou diagnóstica. Sua função é informar sobre os conhecimentos prévios dos
alunos e situar onde cada uma se encontra em seu desenvolvimento, ou seja, o ponto de partida
para novas aprendizagens.
Geralmente, a avaliação inicial ocorre no começo do ano letivo ou anteriormente a novos
conteúdos que serão introduzidos. Ela possibilita ao educador ajustar o seu planejamento e se
informar sobre as dificuldades que as crianças apresentam. Aos alunos, este tipo de avaliação
permite que percebam o que já sabem, ou seja, as conquistas já realizadas e as relacionem com o
que ainda vão aprender.
Para fazer uma avaliação diagnóstica, o professor pode utilizar diferentes recursos como:
aplicar uma atividade específica, propor um desenho, fazer perguntas às crianças e ver o que
sabem sobre determinado assunto, propor um jogo, etc. Qualquer técnica que lhe possibilite
verificar as experiências prévias do grupo.
Durante o processo de ensino-aprendizagem, ocorre a avaliação formativa. Esse tipo de
avaliação possibilita a análise constante do processo de aprendizagem do educando, visando
proporcionar a ajuda pedagógica mais adequada em cada etapa do desenvolvimento. Dessa
forma, permite ao educador adequar sua ação à realidade e às necessidades dos alunos. É nessa
etapa da avaliação que são fundamentais ao professor a observação e o registro.
Ao final do processo, ocorre a avaliação cumulativa que permite que sejam estabelecidos
os resultados da aprendizagem de cada um dos alunos, assim como seu progresso. Além disso,
possibilita verificar quais objetivos, previamente estabelecidos, foram alcançados ao longo do
processo educativo. Portanto, deve-se ter claro que a função dessa avaliação não é uma valoração
quantitativa dos resultados, nem um julgamento do êxito ou fracasso das crianças, mas uma
constatação do alcance ou não do êxito no processo educativo em relação às intenções iniciais.
Para esse tipo de avaliação, são realizadas, além da observação, algumas atividades
específicas. Por exemplo, se o professor deseja verificar se um aluno sabe as cores, ele pode
mostrar à criança figuras e perguntar de que cores são, ou, se ele deseja verificar a capacidade de
contar, ele pode disponibilizar diferentes quantidades de objetos e pedir que a criança os conte.
Essas atividades específicas também são utilizadas como recurso na avaliação diagnóstica.
Para que essas três etapas da avaliação ocorram, o professor precisa ter uma atitude
investigativa e, ao mesmo tempo, receptiva e flexível.
A partir do momento em que o professor tem esse olhar investigativo, que busca entender
a totalidade do indivíduo em seu processo de aprendizagem, ele precisa tornar-se receptivo para
aceitar e compreender as capacidades e dificuldades de cada um. Conseqüentemente, deve ser
flexível para poder ajustar-se às necessidades do grupo.
2.2. Avaliar é também avaliar-se
Segundo Weisz (2004), a avaliação não só ocorre para avaliar a aprendizagem do aluno,
mas também a intervenção do professor. O professor deve constantemente se avaliar e refletir
sobre sua prática a fim de melhorá-la. Afinal, os objetivos devem ser replanejados em função das
conquistas (ou não) do grupo.
A própria definição da palavra avaliação já traz essa possibilidade reflexiva. Segundo o
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, avaliação significa ato ou efeito de avaliar ou de
avaliar-se.
Quando não ocorre a aprendizagem, o professor tende a achar que o problema está nos
alunos. Porém, muitas vezes, a falha está em sua própria prática. O que acontece, por exemplo, é
o professor dizer que tem como objetivo trabalhar a autonomia, mas na prática não permite que
seus alunos façam atividades livres, não cria desafios, não lhes possibilita que explorem o
ambiente ou que se organizem sozinhos, baseando seu trabalho na reprodução, na dependência e
na passividade. Dessa forma, não se pode cobrar e avaliar um objetivo que não teve espaço para
ser trabalhado.
Para que esse tipo de falha seja evitado, o professor, em sua reflexão, deve sempre fazer
questões como: fui coerente? Permiti que os alunos se expressassem? Usei materiais adequados?
Ouvi a criança? Abordei o conteúdo de forma adequada? Usei uma lógica compatível com a faixa
etária?
Além disso, se o resultado dos alunos não servir para que o professor avalie sua prática,
para nada serve a avaliação. A repetição de rumos dados em sala de aula, sem modificações, sem
percepção do que aconteceu com seus alunos em nada transforma o processo pedagógico de cada
professor. “Em toda situação de prática pedagógica o professor deve estar atento ao seu próprio
desempenho, e não apenas ao desempenho da criança.” (AROEIRA, SOARES, MENDES,
1996)
_____________________________ Desenho: A mamãe. Arquivo pessoal. 1989. Pré I.
3. Avaliação na Educação Infantil
O ato de avaliar implica um julgamento de valor em relação ao processo educacional. A
avaliação está presente em todo o desenvolvimento desse processo. Sendo assim, o desafio da
Educação Infantil é substituir a função classificatória e sentenciosa da avaliação, por um processo
de investigação e acompanhamento da aprendizagem mais condizente com a realidade desse
segmento.
O modelo de avaliação classificatória, que vem do ensino regular e se faz presente nas
instituições de Educação Infantil, é caracterizado por listagens de comportamentos, classificados
por escalas como: atingiu, não atingiu, atingiu parcialmente, bom, regular, entre outras.
Tal prática avaliativa possui pareceres comparativos que fazem um julgamento sobre a
criança sem contribuir para o seu desenvolvimento.
Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998), a avaliação
nessa etapa deve ser processual e considerada como um conjunto de ações que levem o professor
a refletir sobre o processo de aprendizagem, procurando melhorá-lo, ajustando assim sua prática
às necessidades das crianças.
O Referencial considera que deve haver um retorno para as crianças, ou seja, a avaliação
deve propiciar que elas também acompanhem seus avanços e suas dificuldades. Para que isso
ocorra, é função do professor partilhar com elas observações que sinalizem suas conquistas e
possibilidades de superação, sempre visando ao seu desenvolvimento. Apontar habilidades que a
criança ainda não desenvolveu só por apontar, sem o objetivo de incentivá-la a superar as
dificuldades, não tem sentido algum.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996, na seção referente à Educação Infantil,
estabelece que “a avaliação far-se-á mediante o acompanhamento e registro do seu
desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino Fundamental”.
(LDB, 1996, Seção II, artigo 31)
No entanto, a realidade da educação brasileira não é essa. Muitas escolas ainda utilizam a
prática avaliativa classificatória que, muitas vezes, impede o ingresso de muitas crianças no
Ensino Fundamental. Um dos critérios utilizados é a aquisição da língua escrita. As escolas
retêm, na Educação Infantil, os alunos que não foram alfabetizados.
Com a nova Lei nº 11.274, de 2006, que altera artigos da Lei de Diretrizes e Bases, de
1996, e amplia o Ensino Fundamental de oito para nove anos, iniciando-se aos seis anos de idade
e não mais aos sete, as escolas de Educação Infantil têm utilizado ainda mais a avaliação
classificatória, impedindo que crianças não-alfabetizadas ingressem no Ensino Fundamental. A
pressão pela alfabetização na Educação Infantil torna-se cada vez maior e, conseqüentemente, a
avaliação torna-se mais rígida.
Para que essa prática se torne investigativa e não sentenciva, mediadora e não
constatativa, o educador deve refletir sobre: por que avaliar, o que avaliar e como avaliar.
3.1. Por que avaliar?
Ao final de bimestres, trimestres ou semestres letivos (períodos em que normalmente
ocorrem as avaliações), é comum notar a ansiedade e angústia de professores que se vêem com a
tarefa de formalizar e comprovar o trabalho realizado por meio de fichas e relatórios de
avaliação.
A avaliação parece ser apenas uma descrição do trabalho realizado e a constatação dos
comportamentos que a criança apresentou naquele período de tempo, a fim de “prestar contas”
com as famílias e com a própria escola.
Essa prática revela que avaliar torna-se um ato estático e não um processo, pois, muitas
vezes se restringe a um mero preenchimento de fichas comportamentais ou à escrita de pareceres
descritivos padronizados pela escola, que não levam em conta o cotidiano da criança e seu
desenvolvimento, nem a postura pedagógica do professor.
A formalização da avaliação é tão excessiva que as instituições estabelecem prazos,
regimentos, instrumentos, sem mesmo consultar o professor, visto que, raramente, ele é
convidado a participar da fase de elaboração desses procedimentos, tornando-se mero expectador.
À margem dessa etapa de formatação de critérios estabelecidos pela escola, o professor passa a
conceber a avaliação como uma exigência burocrática, um mal necessário, algo dissociado do
processo educativo. (HOFFMANN, 1996)
Para ressignificar sua prática, o professor precisa libertar-se dessa concepção de avaliação
e repensar o significado verdadeiro de avaliar, refletindo sobre as concepções que fundamentam a
ação pedagógica, como: criança, desenvolvimento, aprendizagem e o papel do educador.
Além disso, o educador deve ter bem claro que, assim como a educação, a avaliação não é
neutra e sim um ato político. Logo, não pode ser dissociada do processo educativo e deve estar
presente durante todo o processo. “Sob o ponto de vista político, a avaliação irá indicar se o
desenvolvimento alcançado está de acordo com as concepções de sociedade e de educação que
se deseja alcançar”. (AROEIRA, SOARES, MENDES, 1996, p.160)
Uma prática avaliativa que visa à evolução dos educandos se constrói pela ação do
professor e pela reflexão sobre essa ação, porém nunca por regimentos, ensinamentos ou normas
das instituições escolares. A partir do momento em que o educador cria essa consciência, ele
consegue responder a questão: por que avaliar?
Avalia-se porque a avaliação tem como finalidade a transformação da realidade avaliada.
É por meio da prática avaliativa que o educador consegue verificar o desenvolvimento (ou não)
de seus alunos, conduzindo a mudanças necessárias.
O professor precisa compreender o caminho da aprendizagem que o aluno está
percorrendo em determinado momento e, em função disso, propiciar o avanço do conhecimento.
Segundo Vygotsky (In: OLIVEIRA,1997), o professor tem o papel de fazer a criança avançar em
sua compreensão de mundo a partir do seu desenvolvimento já conquistado, tendo como
objetivos as etapas posteriores, ainda não alcançadas.
Portanto, o professor deve avaliar para “delinear a continuidade da ação pedagógica,
respeitando a criança em seu desenvolvimento, em sua espontaneidade na descoberta de mundo
e oferecendo-lhe um ambiente de afeto e segurança para suas tentativas”. (HOFFMANN, 1996,
p.39)
3.2. O que avaliar?
Um dos aspectos fundamentais da avaliação é justamente o que o professor deve avaliar.
Partindo da concepção de avaliação como um instrumento de investigação sobre o
desenvolvimento dos alunos, através do qual se permite intervir na ação educativa, o educador
deve avaliar a criança em sua plenitude, ou seja, avaliar tudo aquilo que faz parte de seu cotidiano
e atua em seu desenvolvimento, focando os aspectos mais importantes.
Os processos que o educador deve observar fazem parte do seu projeto educativo. No
entanto, analisar o desenvolvimento integral da criança em alguns de seus aspectos mais
relevantes é de suma importância: sua adaptação à escola; as conquistas em termos cognitivos,
afetivos e sociais; as condutas atitudinais da criança em relação às diferentes atividades, ao
ambiente, às pessoas; relações sociais e afetivas com outras crianças e com os adultos; hábitos
pessoais; motricidade (trabalho com o corpo, orientação espacial); expressão (oral, artística, etc);
aspectos emocionais como ansiedade, tensão, impulsividade, irritabilidade, etc.
Segundo, Rovira e Peix (In: ARRIBAS, 2004), o professor deve analisar seus alunos
como um grupo e também em nível individual. Além disso, é importante analisar o educando em
outros âmbitos, além do escolar, para melhor entender seus comportamentos. Para tanto,
conversas regulares com outros adultos (pais ou responsáveis) que convivam com a criança são
essenciais.
3.2.1. Relação escola-família
Partindo do conhecimento de que a educação é competência tanto dos pais como dos
educadores, ambos devem colaborar de forma compartilhada, ativa e responsável no
desenvolvimento das crianças.
No entanto, o que se percebe nas escolas é exatamente o oposto: a falta de colaboração.
As famílias sentem-se ameaçadas quando são chamadas à escola ou então não conseguem aceitar
o que os educadores dizem sobre seus filhos. Além disso, muitos pais não se responsabilizam e
nem comparecem à escola quando são chamados.
Segundo, Rovira e Peix (In: ARRIBAS, 2004), a colaboração entre pais e educadores
contribui para a melhoria da educação, para a troca de informações sobre as características da
criança, para a exploração da conduta dos pais em relação à criança e para a discussão da ação
pedagógica do educador.
No que se refere à avaliação, a relação entre pais e professores colabora para melhor
entender a criança e o seu processo de desenvolvimento, possibilitando ao professor que faça uma
avaliação e um planejamento mais consistentes da ação pedagógica.
Sendo assim, a escola deve abrir espaço para a comunicação entre pais e educadores, tanto
em nível coletivo, no que se refere ao grupo, como em nível individual, no que se refere a um
aluno específico.
As reuniões informativas ou reuniões de pais, como são comumente conhecidas,
compreendem encontros entre o educador e os pais do grupo. Seu objetivo é informar aos pais as
atividades que estão sendo desenvolvidas com o grupo e outros temas relacionados com a gestão
ou organização escolar. Nas reuniões que ocorrem ao final de ciclos, geralmente são entregues as
avaliações das crianças (relatórios, portfólios, etc).
É interessante sediar as reuniões na própria sala de aula, assim os pais podem entrar em
contato com o ambiente onde acontecem as atividades e com os materiais e trabalhos das
crianças.
Para tratar de um aluno específico, o professor deve realizar entrevistas, que
compreendem o atendimento individual aos pais.
As entrevistas proporcionam ao professor informações gerais sobre a criança, dados
familiares, expectativas da família sobre a criança, sua evolução, alguma dificuldade que tenha
surgido, etc. “O contato dos educadores com a família é imprescindível para obter uma visão
completa e não escolar do aluno.” (ROVIRA e PEIX, In: ARRIBAS, 2004, p.94)
É interessante realizar entrevistas no começo do ano para conhecer melhor o aluno, e, no
decorrer do ano letivo, entrevistas periódicas para obter informações sobre o desenvolvimento ou
problemas que surgirem. É importante, também, registrar tudo o que foi discutido durante as
entrevistas no histórico escolar da criança.
3.3. Como avaliar? – Instrumentos de avaliação
Avaliar na Educação Infantil, devido às peculiaridades da etapa, é um processo muito
delicado. A avaliação, como já foi dito, não é neutra, até porque existe uma subjetividade inerente
ao processo. Portanto, pensar como fazê-la exige do educador muita reflexão sobre sua ação e
conscientização sobre a subjetividade que há em sua prática.
Alguns aspectos importantes devem ser considerados na hora de avaliar, seja qual for o
instrumento utilizado: conscientizar-se de que é avaliado um estado da criança, não uma
característica permanente; evitar dar relevância a comportamentos isolados, não inter-
relacionados e sem significado; conscientizar-se das diferenças entre as crianças, levando em
conta que cada um tem o seu tempo; proporcionar diferentes vivências para que possa ser
avaliada a reação da criança frente a situações variadas; respeitar as crianças em seu
temperamento próprio, suas características individuais. (HOFFMANN, 1996)
3.3.1. Observação e registro
Na Educação Infantil, o principal instrumento de avaliação é a observação.
Observar é mais do que apenas olhar. A observação, fundamentada no conhecimento
sobre a criança e seu processo de aprendizagem, possibilita a investigação e a coleta de
informações que retratem da melhor forma o aluno avaliado.
A observação deve ser direcionada para aspectos relevantes da ação da criança: como
reage às diferentes atividades, como se expressa, como se relaciona, como utiliza os materiais
disponíveis, como brinca.
Por ser um instrumento de avaliação, a observação também não é neutra. Ao observar, o
professor põe em pauta seus conhecimentos, conceitos, emoções e valores. (AROEIRA,
SOARES, MENDES, 1996)
Para melhorar sua capacidade de avaliação, ou seja, para observar de forma mais clara e
isenta, é preciso que o professor tenha autoconhecimento e uma base teórica bem fundamentada.
Para conservar o que foi observado, é necessário fazer registros freqüentes, dos quais
consta a síntese das análises realizadas pelo educador, que imprimirá a marca de seu pensamento,
resultante das relações observadas. No registro, devem constar todos os aspectos que o professor
deseja analisar para que, assim, possa refletir sobre o desenvolvimento de seus alunos.
Ainda que o registro possa apresentar certa subjetividade, já que o professor coloca suas
emoções, teorias, conceitos, as condições de trabalho, estando assim sujeito a falhas e a
constantes interferências, essas anotações serão imprescindíveis ao processo educativo.
3.3.2. Relatório
Os registros de observação, quando sistematizados, constituem os relatórios de avaliação.
Os relatórios são pareceres descritivos que relatam o desenvolvimento da criança na
escola e normalmente são entregues aos pais. Portanto, são registros oficiais, mais elaborados do
que aqueles que o professor escreve para registrar suas observações. Os registros servem de base
para a elaboração dos relatórios. A prática do registro ajuda no desenvolvimento dos relatórios,
tornando-os mais objetivos e consistentes.
Existem dois tipos de relatórios: o de grupo e o individual. O relatório de grupo privilegia
as atividades trabalhadas com a turma, os projetos, os conteúdos. Já o individual descreve o
desenvolvimento da criança.
Para que o relatório seja completo, fiel à realidade e enfatize o caráter evolutivo do
processo de desenvolvimento da criança, o professor deve ater-se a alguns critérios: demonstrar
interesses ou preferências específicas da criança, indicar aspectos a serem desenvolvidos,
descrever ações e reações da criança diante de diferentes situações de aprendizagem, descrever
conquistas de desenvolvimento lógico, de autonomia, de construção de valores, como reage
diante de conflitos, como se relaciona, relatar para onde a criança caminha, quais são suas
potencialidades, relatar as intervenções pedagógicas do professor e também sugerir à família
algumas intervenções.
Além disso, o relatório também deve transparecer os objetivos norteadores do
desenvolvimento, o caráter mediador do processo avaliativo e o caráter individualizado no
acompanhamento da criança.
Em escolas com período integral, nas quais as crianças almoçam, há a hora do sono e, às
vezes, até tomam banho, nos relatórios constam as preferências de alimentação, freqüência de ida
ao banheiro, horário e duração do sono, conquistas de autonomia como: comer sozinha, trocar-se
sozinha, bem como ida ao banheiro sem a ajuda de terceiros, etc.
O professor precisa ter clara a concepção de que o que ele está descrevendo não é estático,
é apenas um estado temporário da criança, um movimento. “O processo avaliativo precisa
ensaiar o movimento do “ainda não é”, ou “ainda é”, enunciando o princípio dialético do
conhecimento: toda a descoberta da criança está relacionada a conquistas anteriores e são
prenúncio de novas conquistas”. (HOFFMANN, 1996, p.63)
Portanto, o professor deve evitar comentários como “a criança é tímida, é afetiva”,
substituindo-os por pareceres que demonstrem as transições feitas pelo aluno: “está mais segura,
mostra-se mais confiante, melhorou sua relação com os amigos, no início demonstrava...agora
demonstra.”
Há de se ressaltar que o professor que se atém ao comportamento do estudante e o rotula
acaba prejudicando o aluno. O agressivo e conversador sempre tende a agir e ser visto dessa
maneira. Assim como o atencioso e comportado. Por essa razão, não se deve classificar os alunos
como se eles fossem sempre do mesmo jeito, com hábitos imutáveis e incapazes de se
transformar.
3.3.3. Portfólio
Um outro jeito de avaliar é por meio do portfólio. O portfólio é um conjunto de atividades
do aluno no decorrer de um determinado período, ou seja, compreende a coletânea de trabalhos
realizados pela criança.
Segundo Vitori (2002), é um instrumento que possibilita um prática reflexiva tanto para o
professor quanto para o aluno, pois permite ao educador a avaliação do desenvolvimento da
criança por intermédio das produções realizadas e é benéfico também ao aluno, que poderá
perceber a sua própria evolução. Para isso, o professor deve criar uma oportunidade com o
objetivo de recordar com a turma desde o início até o final das atividades de um determinado
período.
A professora pode permitir ainda que cada criança arquive os próprios trabalhos em seu
portfólio, estimulando-os em sua autonomia e responsabilidade. Além de possibilitar o
aprimoramento da capacidade de observação e reflexão.
Do outro lado desse processo, encontram-se os pais que recebem uma mostra da trajetória
e do desenvolvimento de seu filho durante uma etapa.
_______________________________
Desenho: O papai. Arquivo pessoal. 1989. Pré I.
4. O que pensam os educadores? A fim de atender aos objetivos do trabalho – analisar o processo de avaliação na Educação
Infantil e enumerar os mecanismos eficazes nesse processo – além da pesquisa teórica, foi
realizada uma entrevista com quatro educadoras da Educação Infantil de uma escola particular de
São Paulo com o objetivo de refletir, por meio das opiniões das professoras, como a avaliação é
entendida e realizada.
Para que a entrevista fornecesse informações que possibilitassem a reflexão sobre o
processo de avaliação na Educação Infantil, foram elaboradas três perguntas a partir dos objetivos
iniciais do trabalho e da teoria discutida nos capítulos anteriores:
1. Qual é a sua concepção de avaliação?
2. Quais os procedimentos que você utiliza para realizar a avaliação?
3. Que aspectos você considera mais importantes na avaliação de um aluno?
Dessa forma, a análise das respostas foi feita a partir de três eixos norteadores: concepção
de avaliação, procedimentos utilizados e aspectos relevantes a serem avaliados.
4.1. Concepção de avaliação
No que se refere à concepção de avaliação, as professoras demonstraram ter um conceito
bem definido do processo e o conhecimento da importância da avaliação na Educação Infantil
como apoio para a prática pedagógica e para o desenvolvimento dos educandos: “Acredito que a
avaliação deve ser um instrumento que oriente minha prática educativa, a fim de propiciar o
desenvolvimento integral da criança e permitir meu crescente empenho profissional.” 1 (M. A.,
professora do Infantil IV)
As opiniões relatadas durante a entrevista consolidam a reflexão feita até agora, pois
seguem na mesma direção da teoria apresentada nos capítulos anteriores. Segundo Hoffmann
(1991), avaliar deve ser a investigação e o acompanhamento da aprendizagem.
1 Os escritos em itálico representam fielmente as falas das professoras entrevistadas.
“É um ato crítico que nos impulsiona a julgar, diagnosticar. O que nos subsidia no
acompanhamento do processo de construção do conhecimento e do desenvolvimento integral.”
(A.T., professora do Infantil II)
Fica claro na fala das professoras que a avaliação tem como objetivos, além do
acompanhamento, propiciar o desenvolvimento a partir da prática educativa. É a partir do que já
foi conquistado, ou não, que o professor vai planejar suas ações, por isso deve saber em que etapa
o educando se encontra para seguir em direção às próximas.
4.2. Procedimentos utilizados
Quanto aos procedimentos utilizados na realização da avaliação, a observação,
acompanhada do registro em caderno de anotações, foi citada em todas as respostas como
instrumento principal e mais freqüente de avaliação. Conforme foi discutido anteriormente, a
observação realmente é o instrumento mais importante de que o educador dispõe. Deve ser
acompanhada de anotações sobre o que foi observado para que não seja esquecida, e o professor
possa refletir com mais clareza.
Além disso, outros procedimentos foram relatados, tais como: contato com as famílias,
conversas individuais com o aluno, acompanhamento nas diversas situações pedagógicas e
análise das atividades realizadas pelo aluno. Uma das professoras também citou a avaliação do
próprio trabalho como procedimento.
“Freqüentemente observar e avaliar minha própria forma de atuar, estar atenta ao
comportamento da criança, à sua forma de pensar, refletir e vivenciar. Manter contato com os
pais, conversar individualmente com o aluno para captar seu modo de expressão, linguagem,
valores e conhecimentos prévios, analisar a criança nas situações de facilidade/dificuldade para
ver a autonomia, como lida com conflitos, suas relações.” (N. F., professora do Infantil III)
A auto-avaliação do professor é fundamental para que ocorram mudanças na prática. Só
olhando pra si mesmo é que o professor consegue perceber o que ocorre em sua sala de aula. Sem
essas mudanças, a educação não tem sentido e a prática pedagógica fica vazia de significado,
além de não atingir as necessidades dos educandos. Segundo Aroeira, Soares e Mendes (1996), a
todo momento o professor deve estar atento ao comportamento do aluno e ao seu próprio.
Todas professoras disseram que, após realizarem as observações e outros procedimentos,
escrevem relatórios individuais e de grupo para serem entregues aos pais.
Por meio das respostas, constata-se que as professoras utilizam mais de um procedimento
para apoiar a avaliação. Inclusive o atendimento às famílias, que possibilita ao educador conhecer
melhor a criança e seus comportamentos. Utilizar diferentes procedimentos é importante para
realizar uma avaliação mais justa e consistente. De acordo com Hoffmann (1996), utilizar
diferentes procedimentos em diversos momentos permite avaliar as reações da criança frente às
mais variadas situações.
4.3. Aspectos relevantes a serem avaliados
As professoras entrevistadas julgaram importantes os seguintes aspectos a serem
avaliados: percepção, lateralidade, atenção, esquema corporal, aspectos psicomotores, orientação
espaço-temporal, coordenação motora, linguagem, operações do pensamento, sociabilidade,
habilidades e competências, domínio cognitivo, autonomia, independência, segurança, clima
sócio-emocional, relação professor-aluno, assiduidade e pontualidade.
Uma delas ainda mencionou a relevância de estar atenta à saúde da criança e de observar
aspectos como visão, audição e alimentação, que podem desencadear problemas de
aprendizagem.
Segundo Rovira e Peix (In: ARRIBAS, 2004), o educador deve observar: aspectos
cognitivos, afetivos e sociais; as condutas atitudinais da criança em relação às diferentes
atividades e ao ambiente; relações sociais e afetivas com outras crianças e com os adultos;
hábitos pessoais; motricidade; expressão; aspectos emocionais. Assim, terá consciência do
desenvolvimento pleno da criança.
O que foi citado pelas educadoras está de acordo com o que a pesquisa propôs e fica
explícito que elas consideram importante abordar todos os aspectos do desenvolvimento, não
apenas o cognitivo.
A educação deve considerar a criança como um todo, um indivíduo completo. Portanto, a
avaliação não pode abordar apenas um aspecto do desenvolvimento, mas todas as características
necessárias para entender a evolução do educando.
No entanto, segundo Rovira e Peix (In: ARRIBAS, 2004), é preciso tomar cuidado para
não generalizar e avaliar aspectos que não são importantes. É preciso focar a observação e o
registro em aspectos relevantes do desenvolvimento, que forneçam informação para o professor
poder repensar a prática.
__________________________
Desenho: Natal. Arquivo pessoal. 1989. Pré I.
Considerações Finais
Partindo dos objetivos de analisar e de refletir sobre o processo de avaliação na Educação
Infantil e de enumerar mecanismos eficazes nesse processo, os caminhos seguidos para atingi-los
foram a pesquisa teórica e a entrevista, a fim de investigar o que pensam os educadores infantis.
Concluiu-se que avaliar na Educação Infantil é mais uma questão de reflexão do que de
quantificação de resultados. A avaliação nessa etapa envolve concepções muito importantes.
Se o professor concebe a avaliação como um processo que busca compreender o
desenvolvimento do educando, é sinal de que ele também considera a criança como sujeito crítico
e social, agente de seu próprio conhecimento. Dessa forma, o educador avalia para acompanhar o
desenvolvimento e para pautar as mudanças necessárias à sua prática, ajustando-a a fim de que a
aprendizagem seja orientada da melhor forma possível, de acordo com as necessidades do
educando.
Para que a avaliação ocorra de forma investigativa e mediadora, o professor deve ser
observador para perceber o que acontece com cada aluno e, além da observação, utilizar todos os
recursos como anotações, registros, portfólios, conversas com os pais, etc. Todos esses
procedimentos efetivamente possibilitarão ao professor conhecer melhor seu educando.
Dessa forma, a avaliação é um importante instrumento da prática pedagógica. É ela que
vai orientar os caminhos a serem trilhados pelo professor e seu grupo. Portanto, fazer uma
avaliação consistente significa melhor intervir no processo de aprendizagem, potencializar a ação
da criança e não reverter o processo de desenvolvimento, limitando suas possibilidades por meio
de uma prática sentenciva. A avaliação deve ter a função de ajudar e não de excluir.
Além disso, a avaliação na Educação Infantil é uma prática constante, diária, e não possui
dias específicos para acontecer, para serem cobrados trabalhos. Por isso, o professor deve estar
sempre atento. Se a educação considera a criança como um ser completo, assim também deve ser
a avaliação.
Avaliar, então, deixa de ser um ato mecânico, passa a ser um novo olhar sobre as
conquistas dos alunos e sobre o que ainda há para ser atingido. Avaliar é um ato político que
demonstra o compromisso do educador com a educação e com seus alunos.
Referências Bibliográficas
ALVES, Rubens. Ao professor, com o meu carinho. Campinas: SP: Verus. 2004
AROEIRA, M. Luísa C. ; SOARES, M. Inês B. e MENDES, Rosa Emília A. Didática de Pré-
Escola: vida criança: brincar e aprender. São Paulo: FTD. 1996. p.154-162
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental.
Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998, 3 volumes.
CALLEGARI, Cesar. Ensino Fundamental de 9 anos. Disponível em:
<http://www.cesarcallegari.com.br/cne/9anos.htm>. Acesso em: 20 out 2007, 16:35.
CARNEIRO, Maria Ângela Barbato. A educação infantil, as políticas públicas e o Banco
Mundial. Faculdade de Educação. PUC-SP. 2004.
FUNDAÇÃO ORSA e UNESCO. Fontes para a Educação Infantil. São Paulo: Cortez. 2003
HAIDT, Regina Célia. C. Curso de didática geral. 7ª ed. São Paulo, SP: Ática, 2003.
HOFFMANN, Jussara. Avaliação na Pré-escola - Um Olhar Sensível e Reflexivo Sobre a
Criança. 13ª ed. Porto Alegre, RS: Mediação. 2006
______________. Avaliação Mediadora: Uma prática em construção da pré-escola à
universidade. 19ª ed. Porto Alegre, RS: Mediação. 2001
_____________. Avaliação: Mito & Desafio: uma perspectiva construtivista. 37ª ed. Porto
Alegre, RS: Mediação. 2006
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio
de Janeiro: Objetiva. 2001.
KRECHEVSKY, Mara. Avaliação em Educação Infantil. Porto Alegre, RS: Artmed. 2001
OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento: Um processo sócio-
histórico. 4ª ed. São Paulo: Scipione. 2005
ROVIRA, Mercê Cayuso e PEIX, Otilia Delfis. “A observação e a Avaliação na Escola Infantil”.
In: ARRIBAS, Teresa Lleixà e col. Educação Infantil: desenvolvimento, currículo e organização
escolar. Porto Alegre, RS: Artmed, 2004. Cap.15
SANCHES, Emília Cipriano. “Avaliação na Educação Infantil: Ressignificando as Práticas
Educativas”. In: Revista Aprendizagem. Pinhais, PR, ano 1, julho/agosto de 2007, p.42.
SANTARÉM, Maria Solange Portela; CRUZ, Maricélia Silva da. Avaliação Formativa na
Educação Infantil. Pedago Brasil: o futuro do planeta em suas mãos. Disponível em:
<http://www.pedagobrasil.com.br/pedagogia/avaliacaoformativa.htm> . Acesso em: 21 set 2007,
18:30.
VITORI, Solange. “O portfólio como instrumento de avaliação na organização do trabalho
pedagógico”. In: Revista @prender virtual. 9ª ed. novembro/dezembro de 2002.
WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. 2ª ed. São Paulo, SP: Ática, 2004.
ZABALZA, Miguel A. Os dez aspectos-chave de uma Educação Infantil de Qualidade.
In:_______ . Qualidade em Educação Infantil. Porto Alegre, RS: Artmed. 1998. p.49-61.
top related