sublime
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Universo dos Livros Editora Ltda.Rua do Bosque, 1589 • 6º andar • Bloco 2 • Conj. 603/606Barra Funda • CEP 01136-001 • São Paulo • SPTelefone/Fax: (11) 3392-3336www.universodoslivros.com.bre-mail: editor@universodoslivros.com.brSiga-nos no Twitter: @univdoslivros
São Paulo2015
CHRISTINA LAUREN
SUBLIME
SublimeCopyright © 2014 by Lauren Billings and Christina Hobbs.
All rights reserved, including the right of reproduction in whole or in part in any form.
© 2015 by Universo dos LivrosTodos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.
Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos,
mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.
Diretor editorial ∙ Luis Matos
Editora-chefe ∙ Marcia Batista
Assistentes editoriais ∙ Aline Graça, Letícia Nakamura e Rodolfo Santana
Tradução ∙ Thiago Dias
Preparação ∙ Raquel Nakasone
Revisão ∙ Raquel Siqueira e Jonathan Busato
Arte ∙ Francine C. Silva e Valdinei Gomes
Capa ∙ Francine C. Silva
L412i Lauren, Christina Sublime / Christina Lauren; tradução de Thiago Dias. – São Paulo: Universo dos Livros, 2015. 304 p.
ISBN: 978-85-7930-833-8 Título original: Sublime
1. Literatura americana 2. Literatura fantástica 3. Espiritualismo 4. Romance I. Título II. Dias, Thiago
15-0150 CDD 813
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Angélica Ilacqua CRB-8/7057
À nossa parceria de escrita e amizade que, a cada livro, se torna mais forte.
Um torpor fez meu espírito selarNão senti temores humanosParecia ela incapaz de experimentar O toque secular dos anos.Agora não se move, sem forçasNão ouve, vê ou andaO curso terrestre envolve-a e arrasta-aCom rocha, e pedra, e planta.
sir william wordsworth
Sublime (adjetivo): transcendental; completo, absoluto.Sublimar (verbo transitivo): passar diretamente do estado sólido para o estado de vapor.
A garota está curvada em ângulos bizarros quando acorda. Não parece possível estar dormindo ali – sozinha, num caminho sujo, cer-cada por folhas, grama e nuvens. Sente como se tivesse caído do céu.
Ela se senta, desorientada e coberta de poeira. Atrás dela, uma trilha estreita faz uma curva e desaparece, entre inúmeras árvores queiman-do vivas com a cor do outono. Diante dela há um lago. Suas águas são calmas e azuis, sua superfície ondulando somente nas extremidades onde a água rasa encontra as pedras. Por instinto, ela engatinha até lá e espia dentro, sentindo subitamente uma pena da garota confusa que a encarava de volta.
Somente ao ficar em pé ela vê os enormes prédios assomando no perímetro do parque. Feitos de pedra cinza, eles se erguem altos aci-ma das árvores flamejantes, olhando para baixo, onde ela estava. Os prédios parecem tanto acolhedores quanto ameaçadores, como se ela estivesse naquele estado entre desperta e dormindo, quando é possív-el sonhos e realidade coexistirem.
Em vez de sentir medo, ela sente uma onda de empolgação ir-romper dentro de si. Empolgação, como o som do tiro de largada para um atleta.
Vai.
CAPÍTULO 1Ela
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Ela desce rapidamente pela trilha e cruza a estrada suja até onde a calçada abruptamente começa. Ela não se lembra de ter colocado o vestido de seda que está usando, feito com um delicado calicô de flores e caindo em dobras finas e esparsas até os joelhos. Ela observa seus pés pouco familiares, dentro de novas sandálias ainda rígidas. Apesar de não sentir frio, estudantes de uniforme passam caminhando, envol-tos em grossos tecidos de lã azul-marinho e cinza. A personalidade de cada um repousa nos pequenos acréscimos: botas, brincos, um lenço vermelho que aparece de relance. Mas poucos se dão ao trabalho de notar uma moça pequenina arrastando os pés e curvando-se, lutando contra a força do vento.
O cheiro de terra molhada é familiar, assim como a maneira como os prédios de pedra captam os ecos ao redor e os prendem juntos de si, fazendo com que o tempo passe mais devagar e as conversas durem mais. Pelo modo como o vento castiga por onde passa, e pela preciosa e nova memória das árvores na trilha, ela sabe que é outono.
Mas nada parece estar como ontem. E ontem era primavera.
Uma arcada assoma à sua frente, adornada com letras de cobre azul-esverdeadas e castigadas pelo sol, que parecem ter sido escritas com a mesma tinta que o céu.
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Abaixo, uma grande placa de metal agita-se, abandonada ao vento:
Se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que creem em mim, seria melhor que fosse lançado no mar com uma grande pe-
dra amarrada no pescoço.marcos 9,42
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O campus é maior do que ela imagina, mas de algum modo ela sabe para onde olhar – direita, não esquerda – para encontrar o agrupamen-to de prédios menores de tijolo e, a distância, uma cabine de madeira. Ela segue adiante com um tipo diferente de empolgação agora, como ao entrar em uma casa acolhedora sabendo o que tem para o jantar. Do tipo familiar. Exceto por ela não fazer ideia de onde está agora.
Ou de quem ela é.Dos quatro prédios principais, ela escolhe o da esquerda, nos limites
onde começa a vegetação selvagem. Os degraus estão apinhados de estudantes mas, ainda assim, ninguém a ajuda com a porta, que parece decidida a empurrá-la para trás com seu peso. A maçaneta é pesada e rígida em sua mão. Além disso, sua pele parece tremeluzir.
– Feche a porta – alguém grita. – Estou congelando!A garota passa correndo pela entrada, desviando sua atenção da
própria pele brilhante. O ar lá dentro é quente e carrega consigo o cheiro familiar de bacon e café. Ela fica parada à porta, mas ninguém lhe lança um olhar. É como se ela fosse mais uma estudante qualquer caminhando pela multidão; a vida segue seu rumo no burburinho do refeitório, e sentindo uma vaga agitação, ela continua sem se mover. Ela não é invisível – consegue ver seu reflexo na janela à sua direita –, mas poderia muito bem ser.
Finalmente, abre caminho através de um labirinto de mesas e cadei-ras até uma mulher idosa, parada com uma prancheta na entrada da cozinha. Ela está checando itens de uma lista, sua caneta sendo pres-sionada e ticando cada item com perfeição e praticidade. Cada nova marca é idêntica às outras. Uma única pergunta pousa na língua da garota e lá permanece, imóvel, enquanto espera a mulher notá-la ali.
A garota está com medo de falar. Ela nem mesmo sabe quem ela é, imagine então perguntar a única questão que precisa ser respondida? Baixando os olhos, percebe que sua pele brilha suavemente sob a fix-idez da luz amarelada e, pela primeira vez, sente a preocupação por não parecer totalmente... normal. E se ela abrir a boca e se dissolver em
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uma revoada de corvos? E se perdeu suas palavras, juntamente com seu passado?
Você consegue.– Com licença – ela diz uma vez, depois de novo, mais alto.A mulher ergue o olhar, claramente surpresa por encontrar uma es-
tranha parada tão perto. Ela parece estar numa mistura de confusão e, por fim, inquietação, enquanto repara no vestido empoei rado e no cabelo enroscado em folhas. Seus olhos perscrutam o rosto da garota, procurando, como se um nome fosse lhe surgir do fundo da mente.
– Você é...? Posso ajudá-la?A garota quer perguntar: “Você me conhece?”. Em vez disso, diz:– Que dia é hoje?As sobrancelhas da mulher juntam-se ainda mais enquanto ela ob-
serva a garota. De algum modo, não era a pergunta certa, mas ela re-sponde mesmo assim:
– Terça-feira.– Mas qual terça?Indicando um calendário atrás dela, a mulher responde:– Terça, quatro de outubro.Somente agora a garota percebe que saber a data não ajuda muito,
pois apesar de esses números lhe parecerem estranhos e errados, ela não sabe em que ano deveria estar. A menina dá um passo para trás, balbuciando um agradecimento, e reivindica seu lugar contra a pare-de. Ela se sente grudada ao prédio, como se ele fosse o lugar onde seria encontrada.
“É você”, alguém dirá. “Você voltou. Você voltou”.
Mas ninguém lhe diz isso. O refeitório esvazia-se durante a hora seguinte até que somente um risonho grupo de adolescentes per-manece sentado em uma mesa redonda no canto. Agora a garota
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está certa de que tem algo errado: elas não olham na sua direção se-quer uma vez. Mesmo em suas memórias roídas pelas traças ela sabe como adolescentes notam rapidamente alguém diferente.
Da cozinha, um garoto aparece, enfiando um avental vermelho pelo pescoço e amarrando-o enquanto anda. Cachos escuros e selvagens caem-lhe sobre os olhos, e ele afasta-os com um movimento incon-sciente da cabeça.
Naquele momento, seu coração silencioso se contorce por trás das paredes vazias do seu peito. E ela percebe, na ausência de fome ou sede, desconforto ou frio, que essa é a primeira sen-sação física que ela tem desde que acordara sob um céu repleto de folhas outonais.
Seus olhos percorrem cada parte dele; os pulmões, ansiando por um fôlego que ela, até então, não se lembrava que precisava. Ele é alto e magricela, de alguma forma conseguindo parecer forte. Seus dentes são brancos, mas levemente tortos. Uma pequena argola prateada faz uma curva inteira em torno do seu lábio inferior, e os dedos dela ardem com o desejo de se aproximar e tocá-lo. Seu nariz foi quebrado pelo menos uma vez, mas é perfeito. E alguma coisa na luz em seus olhos quando levanta o olhar faz ela ansiar dolorosamente por dividir a si mesma com ele. Mas dividir o quê? Sua mente? Seu corpo? Como ela pode dividir coisas que não conhece?
Quando ele se aproxima da outra mesa, as adolescentes param de falar e o observam, olhos cheios de esperança, sorrisos empolgados no rosto.
– Ei – ele as cumprimenta com um aceno. – Se atrasaram pro café da manhã?
Uma garota com uma mecha rosa-choque no cabelo inclina-se para a frente e lentamente afrouxa a corda do avental dele.
– A gente veio comer alguma coisa doce.O garoto sorri, mas é um sorriso condescendente – mandíbula flex-
ionada, sorriso abrindo-se somente em parte do rosto –, e se afasta do
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alcance dela, gesticulando para o bufê encostado contra uma parede distante.
– Então levem o que quiserem. Eu preciso começar a limpar logo.– O Jay disse que vocês fizeram umas acrobacias muito doidas na
pedreira ontem – diz ela.– É – ele assente com um movimento devagar e tranquilo, e afasta
da testa um punhado de cabelo ondulado. – A gente deu uns saltos. Foi bem louco. – Uma breve pausa, e então: – Vocês deviam pegar alguma coisa para comer agora mesmo. A cozinha fechou há cinco minutos.
Instintivamente, a garota lança um olhar para a cozinha e vê a sen-hora parada na entrada, observando o garoto. A mulher então pisca na direção dela, estudando-a com olhos cautelosos e fixos; a garota é a primeira a desviar o olhar.
– Você não pode sentar e ficar um pouco aqui com a gente? – per-gunta a Cabelo Rosa, sua voz e lábios saindo pesados com uma ex-pressão de enfado.
– Sinto muito, Amanda, tenho aula de cálculo no Henley. Só vou ajudar Dot a limpar a cozinha.
Ele é fascinante de se observar: seu sorriso tranquilo, a curva rígida dos seus ombros e a maneira confortável com que enfia as mãos nos bolsos e se balança para a frente e para trás sobre os pés. É fácil com-preender por que as garotas querem que ele permaneça.
Mas então ele se vira, afastando os olhos da mesa de suas colegas para ver a garota sentada sozinha a observá-lo. Ela começa a sentir a pulsação do pescoço começar a bater, parecendo ecoar dentro da própria garganta.
E ele a vê, pernas e braços nus, usando um vestido primaveril em pleno outubro.
– Você veio tomar café da manhã? – pergunta ele. Sua voz vibra por seu corpo. – Última chamada...
Sua boca abre mais uma vez, e o que sai não é o que ela espera; ela tampouco se dissolve numa revoada de corvos.
– Eu acho que estou aqui por sua causa.
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