sagarana (1946)
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SAGARANA (1946)JOÃO GUIMARÃES ROSA
(1908 - 1967)
Guimarães Rosa situa-se na 3ª fase do Modernismobrasileiro, chamada Neomodernismo ou geração de45. Ao lado de Clarice Lispector (Perto do coraçãoselvagem, 1944), ele rompeu com os esquemasnarrativos dos anos 30 e instaurou um novoprocesso ficcional, baseado na estilização inventivade dados regionais e na constante pesquisa doinstrumento que lhe serve de base, a linguagem.Por essas razões, Guimarães Rosa pode serconsiderado um instrumentalista. Da mesmageração, o seu correspondente formal e temáticona poesia é João Cabral de Melo Neto (Pedra doSono, 1942).
Sagarana – João Guimarães
Rosa (1946)
SAGA + RANA=cidade mineira;
à moda de,
à maneira de lenda:
espaço mítico ou real?
Edições diversas
Edições diversas (cont.)
Ilustrações de Poty para
Sagarana
As nove novelas (ou contos ou
“causos”) são:
1- O Burrinho Pedrês
2- A Volta do Marido Pródigo
3- Sarapalha
4- Duelo
5- Minha Gente
6- São Marcos
7- Corpo Fechado
8- Conversa de Bois
9- A Hora e a Vez de Augusto Matraga
Galeria: datilomanuscritos
Galeria: ilustrações / fotografias
Galeria: ilustrações / fotografias
Quanto aos narradores
Contos narradosem terceirapessoa(narrador-observador eonisciente):OBurrinho Pedrês,AVolta do MaridoPródigo,Sarapalha,
Duelo,Conversa deBois, A Hora e aVez de AugustoMatraga
Contos narrados
em primeira
pessoa(narrador-
personagem):Minh
a Gente, São
Marcos,Corpo
Fechado
Marca do processo narrativo dos
contos de Sagarana
Uso do discurso indireto livre: consiste na misturada fala do narrador com o pensamento do
personagem.O narrador tem completa adesão pelopersonagem.
Exemplo:
“Vestindo água, só saído o cimo do pescoço, oburrinho tinha de se enquadrar para o alto, a salvartambém de fora o focinho. Uma peitada. Outrotacar de patas. Chu-aá!Chu-aá...ruge o rio, comochuva deitada no chão. Nenhuma pressa! Outraremada, vagarosa. No fim de tudo, tem o pátio,com os cochos, muito milho, na Fazenda;e depoiso pasto:sombra,capim e sossego...Nenhumapressa(...)”
Tema constante:
A travessia, a viagem, a busca, a
descoberta, o desejo de mudança interior,
encontros e desencontros revestidos de
uma certa “aura mágica”, sendo que o
sertão é o centro irradiador de todas as
narrativas.Temos reflexões de natureza
filosófica, o que nos leva a comprovar o
caráter universalista dos textos.
Personagens
São, de modo geral, seres em
travessia: bichos, crianças, homens
rudes e simples, vaqueiros, peões,
valentões.
São “ seres em disponibilidade”,
propensos ao sonho, ao devaneio e à
aventura e ao aprendizado da vida.
Espaço
Sertão mineiro: o sertão das
“Gerais”(Minas Gerais), arraiais,
povoados, vilas distantes, esquecidas
de tudo e de todos
Tempo
Tempos não medidos pelo relógio,
mistura de passado/presente,
tornando-se narrativas encantadas(
fábulas)
Linguagem
A linguagem de Guimarães Rosa tem
um grande intuito: retratar a oralidade
do sertanejo mineiro. Para cumprir seu
propósito, ele reinventa a linguagem,
criando neologismos, trabalhando
recursos poéticos(aliteração,
onomatopéias, etc), utiliza provérbios,
enfim, cria um novo mundo de
linguagem.
Exemplos de inovações
lingüísticas
Inovações
fonológicas(som)
Ex:“Boi bem bravo,
bate baixo, bota
baba, boi
berrando...”
(Temos aliteração
e onomatopéia)
Inovações
morfológicas
(construção de
palavras)
Ex:
amormeuzinho,no
mopadrofilhospritos
santaméin,
desfeliz, etc
Temos ainda:
Inovações
sintáticas, que
dizem respeito ao
arranjo das
palavras nas frases
e períodos
Inovações
semânticas, que
se referem ao
significado das
palavras
Presença de
arcaísmos(palavras que caíram
em desuso)
Exemplos: em riba(em cima), de
banda (de lado), a lembrar, arresolver,
alumiar
1- O Burrinho Pedrês
Personagens: Sete de Ouros(o burrinho),Major Saulo(dono do burrinho), JoãoManico, Francolim e Badu(peões)
Síntese: os peões e o Sete de Ouros têm amissão de levar mais de 400 bois para umarraial vizinho.Na volta, na cheia do rio,Sete de Ouros salva Badu e Francolim
Interpretação:a sabedoria do burrinho fazcom que ele consiga atravessar o rio e fazero bem, salvando 2 peões
2-A Volta do Marido Pródigo
Personagens:Lalino Salãthiel(mulato
esperto que quer conhecer novos
lugares e novas pessoas), Seu
Ramiro(patrão de Lalino) empresta-lhe
dinheiro para conhecer o Rio de
Janeiro),Maria Rita(esposa de Lalino),
Oscar(simpatiza com Lalino, é uma
espécie de amigo)
(continuação de A Volta do
Marido Pródigo)
Síntese: Lalino é um mulatinho
esperto que tem sede de aventura.
Empresta dinheiro do patrão, seu
Ramiro, para ir se aventurar no Rio,
abandonando a esposa Maria
Rita.Entra numa grande farra no Rio,
cansa-se e resolve voltar.Encontra a
esposa vivendo com seu Ramiro e
decide que irá reconquistá-la,
cumprindo a promessa.
(continuação de A Volta do
Marido Pródigo)
Interpretação: Lalino é um
personagem que dialoga com
Leonardinho e Macunaíma. Todos são
anti-heróis. Através de suas
estratégias e com ajuda do destino
reconquista Maria Rita. É um exemplo
de heroísmo às avessas.
(Intertextualidade com Memórias de
um Sargento de Milícias e
Macunaíma)
3.Sarapalha
Personagens: primo Ribeiro e primo
Argemiro, ambos estão doentes.
Sofrem de maleita, Luísa (moça da
estória)
(continuação de Sarapalha)
Síntese: Primo Ribeiro e primo Argemirosofrem com as febres da doença. Nos seusdelírios, começam a recordar uma estóriatriste: Luísa, esposa de Ribeiro, abandona-o, fugindo com um boiadeiro.Argemiro seemociona e confessa a Ribeiro que tambémera apaixonado por Luísa , mas sempre arespeitou. Ribeiro não se conforma com aconfissão e expulsa Argemiro dafazenda.Ribeiro morre e Argemiro vai
embora, ardendo em febre, acompanhadode um cachorro e com as lembranças deLuisinha
Sarapalha
Interpretação: o ritmo da narrativa é
extremamente lento, temos a nítida
sensação de isolamento. No confronto
passado/presente, Ribeiro acha que
Argemiro é o demo e o manda
embora.Argemiro, que fora sincero,
acha que seria compreendido por
Ribeiro e acaba sendo punido por falar
a verdade.
4. Duelo
Personagens: Turíbio Todo(vaqueiro
de profissão, é considerado um
“homem mau”), Cassiano Gomes (ex-
oficial da Força Pública e amante da
esposa de Turíbio), esposa de Turíbio
(continuação de Duelo)
Síntese: Turíbio Todo é conhecido
como um homem violento e vingativo.
Descobre que a esposa, dona
Silivana, o estava traindo com
Cassiano Gomes, mas finge não saber
de nada e elabora um plano de
vingança. Numa emboscada, Turíbio
mata o irmão de Cassiano que nada
tinha a ver com a vingança. Agora,
quem quer se vingar é Cassiano.
(continuação de Duelo)
(continuação da síntese)
Turíbio e Cassiano duelam durante meses eacabam desistindo. Cassiano resolve visitaro lugar onde nascera e pressentia suaprópria morte para logo. Não conseguechegar e recebe, na viagem, a ajuda deTimpim Vinte-e-Um, para quem conta toda aestória. Cassiano morre.
Turíbio acha que tudo estava resolvidoquando, para seu espanto, Timpim vemhonrar a vingança de Cassiano e mataTuríbio.
(continuação de Duelo)
Interpretação: A mensagem é a
inversão de papéis, ou seja,Cassiano,
de perseguido, passa a perseguidor e
Timpim, que era um simples
capiau(caboclo), tranforma-se em
agente do bem, punindo Turíbio, que,
ao que parece, só tinha razão no início
da estória.
5. Minha Gente
Personagens: narrador-personagem
(cujo nome não sabemos), Tio Emílio(
tio da narrador-personagem), Maria
Irma (filha de tio Emílio), Santana
(empregado do tio Emílio)
(continuação de Minha Gente)
Síntese: O narrador-personagem vaivisitar o tio Emílio e se entrega a umasérie de recordações. Apaixona-se porMaria Irma que fica dizendo que oraestá apaixonada e ora não está mais.
O narrador-personagem conheceArmanda, filha de um fazendeirovizinho, apaixona-se por ela e com elase casa, descobrindo, assim, seuverdadeiro amor.
(continuação de Minha Gente)
Interpretação: toda a estória e a trama
são desenvolvidas como uma partida
de xadrez(jogo predileto do narrador-
personagem e do capiau
Santana).Depois de vários “xeque-
mates”, o narrador-personagem
encontra a felicidade e o verdadeiro
amor.
6. São Marcos
Personagens: José (ou Izé, narrador
de várias estórias, que não acredita
em feitiços e acaba sendo vítima de
um feitiço de João Mangolô),Sá Nhá
Rita Preta e Aurísio Manquitola
(amigos de José) e João Mangolô
(negro feiticeiro)
(continuação de São Marcos)
Síntese: José é um homem de muitashistórias e sempre disse que nãoacreditava em feitiços.Seus amigoslhe diziam para que não brincassecom o feiticeiro João Mangolô e nãoinvocasse a Oração de São Marcos.Nos seus passeios de domingo, Joséprovoca o feiticeiro e acaba ficandocego.Desesperado, José acabausando a reza brava de São Marcos.
(continuação de São Marcos)
José acaba indo parar na casa de
Mangolô, a quem queria matar com
fúria.
O feiticeiro, no entanto, pede-lhe que
não faça mal a ele,desfaz o feitiço e
od dois “fazem as pazes”
São Marcos
Interpretação: trata-se de um contometalingüístico, uma vez que Joséresponde às quadrinhas escritas comcanivete no bambual. José e Mangolô,nos seus versos, discutem osprincípios da criação poética.
José fazia pouco caso dos feiticeiros edas crendices e precisou de ambospara voltar a enxergar.
7. Corpo Fechado
Personagens: o narrador-personagem
é um médico que está morando no
arraial da Laginha, Manuel
Fulô(protagonista), Targino (um
valentão do arraial) e Maria-das-
Dores(jovem por quem Fulô se
apaixona).
(Continuação de Corpo Fechado)
Síntese: Manuel Fulô contou muitas
histórias para o narrador-personagem que
vai recontando para nós, leitores, tais
histórias. Manuel Fulô se apaixona por Das-
Dores e fica noivo dela, mas é afrontado por
Targino, valentão do lugar, que diz que vai
dormir com ela e depois a devolveria. Fulô
conta com a ajuda do curandeiro Antonico
das Pedras ou Antonico das Águas que faz
Fulô ter corpo fechado, enfrentando
Targino.
(continuação de Corpo Fechado)
Interpretação: a cumplicidade com a
feitiçaria, adquirindo “corpo fechado”
leva Manuel Fulô a ficar corajoso e
enfrentar Targino. É como se Fulô
conseguisse vencer o Demo.
8. Conversa de Bois
Personagens: Manuel
Timborna(narrador-observador que
conta sobre os bois), seu interlocutor (
alguém que escuta Timborna), mais
um narrador ( uma irara chamada
Risoleta, que é uma ave), Agenor
Soronho (condutor do carro de bois) e
Tiãozinho (ajudante de Agenor)
(continuação de Conversa de
Bois)
Síntese: um carro de bois com 4 parelhas éconduzido por Agenor e seu guia, omoleque Tiãozinho. O carro leva umdefunto que é o pai de Tiãozinho.
Os bois conversam e contam estóriastristes. Tiãozinho é também um meninomuito triste e maltratado por Agenor.
Os bois se cansam de Agenor echacoalham o carro até ele cair e“desencarnar”. Tiãozinho continua acondução do carro de bois, carregando,agora, dois defuntos.
(Continuação de Conversa de
Bois)
Interpretação: de novo, o fraco vence
o forte, o bem vence o mal, num caso
em que a irara conta a história a
Manuel Timborna, que a reconta ao
escritor, que a repassa a nós. O carro
de bois, assim, como Tiãozinho,
também cumpre uma travessia.
Conversa de Bois- estrutura dos
narradores
Conto Conversa de Bois
Irara
(conta para Manuel Timborna)Manuel Timborna
(conta para o escritor)
Escritor(narrador observadorque conta para um interlocutor-leitor
9.A Hora e a Vez de Augusto
Matraga
Personagens: Nhô Augusto( homem
perverso), Dona Dionóra( sua esposa),
Mimita( filha de dona Dionóra),
Joãozinho Bem-Bem (líder de um
bando de capangas)
(Continuação de A Hora e a Vez
de Augusto Matraga)
Síntese: Nhô Augusto Matraga é
abandonado pela esposa e pela filhaporque ninguém suporta viver com ele.
Além disso, seus empregados oabandonam também provocados peloMajor Consilva. Augusto vai tirarsatisfações e é atacado pelos antigoscapangas que chegam a marcá-lo como ferro do gado.
(Continuação A Hora e a
Vez...)
Matraga é encontrado por um casal negro
que cuida dele e o adota.
Matraga resolve se redimir e virar uma boa
pessoa. O chefe de um bando de jagunços,
Joãozinho Bem-Bem, tenta convencer
Matraga a se reunir ao seu grupo, mas ele
se lembra das sábias palavras de um padre
que lhe disse que ele precisava ser bom:
“Cada um tem a sua hora e a sua vez: você
há de ter a sua”
(Continuação de A Hora e a
Vez...)
Depois de algum tempo, Augusto
Matraga reencontra Joãozinho Bem-
Bem e seu bando lutando. Joãozinho
morre e a hora e a vez de Augusto
Matraga também chegam.
(Continuação A Hora e a
Vez...)
Interpretação: equívoco, destino,
acaso ou fatalidade – as travessias se
encerram com a de Nhô Augusto que,
de homem mal foi à redenção, e só
encontra refúgio do bem e do mal na
morte.
Temas abordados
- Tropeirismo
- Epidemia, febre da Malária
- Traição
- Vingança
Índice
O livro:
O livro é constituído por nove contos, são eles:
O BURRINHO PEDRÊS
A VOLTA DO MARIDO PRÓDIGO
SARAPALHA
DUELO
MINHA GENTE
SÃO MARCOS
CORPO FECHADO
CONVERSA DE BOIS
A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA
Índice
Personagens:
Burrinho Pedrês: Sete de Ouros
Major Saulo
João Manico
Francolim
Raymundão
Zé Grande
Silvino
Duelo: Turíbio Todo
Dona Silivana
Cassiano Gomes
Vinte-e-Um
Corpo Fechado: Narrador
Manuel Fulô
Beija-Flor
Das Dor
Targino
Antônio das Pedras-Águas
Conversa de bois: Tiãozinho
Agenor Soronho
Januário
Índice
A volta do marido pródigo: Seu Waldemar Sarapalha: Primo Argemiro
Seu Marra Primo Ribeiro
Lalino Laio Prima Luísa
Maria Rita Ceição
Major Anacleto Jiló
Oscar
Minha gente: Doutor São Marcos: Sá Nhá Rita
Santana José
José Malvino João Mangolô
Tio Emílio
Maria Irma
Bento Porfírio
A hora e a vez de Augusto Matraga: Nhô Augusto, Matraga e Augusto Esteves
Joãzinho Bem-Bem
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
Regionalismo universalizante: substitui o pitoresco
e o realismo pela fusão entre o real e o mágico.
Uso do sertão como tema, mas sem limitá-lo
geograficamente (O sertão é o mundo).
Temas universais, embora com colorido local:
bem X mal; Deus X diabo; ódio X amor.
Destaque na linguagem elaborada mediante coleta de
dados, exploração sonora, sintática e semântica.
Recursos estilísticos: onomatopeias, aliterações, metáforas,
metonímias, ritmos, rimas.
Criação de linguagem dentro da linguagem.
Linguagem: precisão dos termos, regionalismos, arcaísmos, neologismos, o
nomatopeias e aliterações.
Traços regionalistas: cantos, ditos populares,
superstições e crendices.
Descrições detalhadas da natureza: plantas,
répteis, pássaros.
Linguagem: uso do discurso indireto-livre e fluxo da consciência.
O autor está preocupado em fazer
uma obra de arte, em estilo pessoal, próprio.
Respeita a linguagem, mas não quer ser limitado por ela.
Tem aversão ao lugar-comum, por isso a inovação constante.
Usa o espaço regional de Minas, mas em concepção universal.
A obra é artesanal, pensada, criada e elaborada.
O conto atinge a transcendência,
tem valor de parábola.
1. Assinale a(s) afirmação(ões) correta(s) sobre o livro Sagarana e seseu autor.
01) O autor, embora apresente características regionalistas em suaobra, coloca em segundo plano o lado pitoresco do sertão,
substituindo-o por valores mais universais, como o misticismo e as relações humanas.
02) A linguagem de Guimarães Rosa adquire conotações sui generis, resultado de pesquisa e criatividade.
04) No conto Sarapalha, dois primos vivem sós numa tapera,
acometidos de maleita à espera da morte, tendo junto deles um cachorro miserável e uma negra surda que para eles cozinha.
08) O autor descreve em detalhes a natureza do seu Estado natal,
Minas Gerais, fazendo verdadeiras listas de nomes de plantas e animais da região.
16) Sagarana é uma obra de saudade da terra natal, por isso mesmo de intenso lirismo, não havendo espaço para o humor ou a tragédia.
32) O Burrinho Pedrês é uma história dentro da qual se desenvolvem várias histórias paralelas, sempre sobre a relação entre o homem do sertão e os animais.
01+02+04+08+32
2. A leitura do livro Sagarana, de Guimarães Rosa, permite afirmar que:
01) o autor é um modelo de linguagem de sintaxe correta, bem ao gosto dos clássicos, razão do seu prestígio nacional e universal.
02) o regionalismo sempre presente nos contos do autor, segundo a crítica consagrada, não transcende o interior mineiro,o que restringe o valor literário de sua obra.
04) para o autor, os limites entre a prosa e a poesia devem ser sempre respeitados, razão por que não usa recursos poéticos em seus trabalhos em prosa.
08) contos como Conversa de Bois mostram a preocupação emabordar temas ligados à psicologia e mesmo à parapsicologia, que transcendem o universo regional mineiro.
16) em Corpo Fechado, há insinuações autobiográficas, pois um dos protagonistas e suposto narrador é um doutor, profissão exercida no interior mineiro pelo
autor.
32) em razão da simplicidade dos fatos narrados e da limitaçãoexpressiva dos protagonistas, o padrão de linguagem dos contos é simples e de fácil compreensão.
08+16
3. Assinale apenas a(s) afirmação(ões) verdadeira(s) sobre o livro Sagarana e seu autor.
01) No conto O Burrinho Pedrês, o autor destaca a inteligênciado animal que, ao contrário do que se pensa, é
mais esperto do que os cavalos ou bois.
02) Na introdução do livro, em carta pessoal a seu editor, o autor demonstra acreditar apenas na inspiração, negando a necessidade de trabalhar, posteriormente, um texto escrito.
04) A fusão prosa / poesia é tão intensa em Guimarães Rosa que, em vários contos, surgem letras de canções ou trechos de poemas do cancioneiro popular.
08) No conto Duelo, o autor narra a história de um valentão que, mesmoarmado de revólver, morre esfaqueado por um caipira humilde, que tentasalvar a honra de sua noiva.
16) Acreditando no necessário distanciamento autor / obra, em nenhummomento Guimarães Rosa deixa transparecer situações autobiográficas nesses contos.
32) Através de suas histórias, o autor sempre parece estar passando umamensagem, como se cada qual fos-
se uma fábula.
64) Apesar da frequente presença de animais nos contos, o autor sabe diferenciar o racional do irracional; por
isso não se encontram termos ou descrições que poderiam atribuir
qualidades humanas aos bichos. 01+04+32
4. Tomando como referência o conto A Hora e a Vez de Augusto Matraga, do livro Sagarana, assinale apenas a(s) afirmação(ões) verdadeira(s).
01) O protagonista é Joãozinho Bem-Bem, um jagunço malvado que atemoriza as populações pobres do interior deMinas Gerais.
02) O protagonista é Nhô Augusto Esteves, que era bom, mas, revoltado, transforma-se em bandido para vingar sua família, morta por jagunços.
04) Nhô Augusto é cruel e desrespeitador; após ser quase
morto, muda de vida e decide dedicar-se ao bem.
08) A conversão de Nhô Augusto faz com que assuma o nome de Joãozinho Bem-Bem e passe a defender os pobres e oprimidos do interior de Minas.
16) A conversão de Augusto Matraga se deu na aparência, e nãona essência, pois seu gênio não havia mudado: continuava um
valentão, só que então
ao lado do bem.
32) Ao morrer lutando em favor de humildes, Nhô Augusto não
revela sua verdadeira identidade.
64) O final do conto apresenta uma situação paradoxal, pois os
dois contendores, feridos de morte um pelo outro, fazem as pazes antes de morrer.
04+16+64
5. Em um dos contos de Sagarana, o autor narra as aventuras deum herói picaresco que abandona a mulher para viver grandes aventuras no Rio de Janeiro. Retorna desiludido e tenta reconquistar a mulher, negociada com um espanhol antes de partir. Conto e protagonista são:
a) O Burrinho Pedrês — Major Saulo.
b) Corpo Fechado — Manuel Fulô.
c) Conversa de Bois — Soronho.
d) A Volta do Marido Pródigo — Lalinho Salãthiel.
e) Minha Gente — tio Emílio.
6. Na obra Sagarana não encontramos:
a) submissão do autor a uma sintaxe
convencional.
b) regionalismo universalizante.
c) descrições da natureza.
d) recursos poéticos aplicados à prosa.
e) análise do comportamento humano.
7. Sobre o livro Sagarana e seu autor, assinale a única afirmação procedente.
a) Trata-se de um romance regionalista, em que a convivência homem-animal é intensamente explorada.
b) O autor explora a linguagem convencional, preocupado em torná-la acessível ao leitor de todas as camadas sociais.
c) A obra fica restrita ao ambiente do interior mineiro, não tendo qualquerconotação universalizante.
d) Guimarães Rosa, apesar de estabelecer suas histórias no sertão mineiro,dá à sua obra dimensão universalizante, a partir da temática,
principalmente.
e) O autor preocupa-se apenas com a linguagem, para ele um exercício de liberdade, mas não se preocupa
com a fábula ou com a mensagem do conto.
5. (U. E. Pará/2004) Observe o trecho extraído de “Burrinho Pedrês”, de Guimarães Rosa:
— Você é meu camarada de confiança, Francolim. Tem mais responsabilidade de ajudar, também...
— Isto, sim, dou meu pescoço! Em serviço do senhor, carrego pedras, seu Major. Só peço é ordem para o João Manico me dar de novo meu cavalinho, na entrada do arraial, para não ficar feio eu, como ajudante do senhor, o povo me ver amontado neste burro esmoralizado... sem querer com isso ofender, por ser criação de que o senhor gosta...
Considerando o seu conteúdo e o conjunto da narrativa da qual foi retirada, é correto dizer que:
a) no momento em que se trava esse diálogo, o episódio do afogamento de alguns vaqueiros no córrego já havia acontecido.
b) a solicitação de Francolim para destrocar a montaria não será acatada pelo Major Saulo.
c) o diálogo evidencia o comportamento de independência dos vaqueiros em relação ao dono da
fazenda.
d) o comentário de Francolim sobre Sete de Ouros, que se assemelha ao dos outros vaqueiros, irá revelar-se injusto, ao final, quando o burrico, além de salvar Badu, irá salvá-lo, também.
e) o personagem João Manico, referido por Francolim, é o único vaqueiro a salvar-se na travessia do córrego, por ter isso e vindo montado em Sete de Ouros.
(FUVEST/2005) Texto para as questões 6 e 7
Sim, que, à parte o sentido prisco, valia o ileso gume do vocábulo pouco visto e menos ainda ouvido, rara-mente usado, melhor fora se jamais usado. Porque, diante de um gravatá, selva moldada em jarro jônico, dizer-se apenas drimirim ou amormeuzinho é justo; e, ao descobrir, no meio da mata, um angelim quetira para cima cinquenta metros de tronco e fronde, quem não terá ímpeto de criar um vocativo absurdo e bradá-lo — Ó colossalidade! — na direção da altura?
(João Guimarães Rosa, “São Marcos”, in Sagarana)
prisco = antigo, relativo a tempos remotos.
gravatá = planta da família das bromeliáceas.
6. Neste excerto, o narrador do conto “São Marcos” expõe
alguns traços de estilo que correspondem a características
mais gerais dos textos do próprio autor, Guimarães Rosa. Entre tais características só NÃO se encontra
a) o gosto pela palavra rara.
b) o emprego de neologismos.
c) a conjugação de referências eruditas e populares.
d) a liberdade na exploração das potencialidades da
língua portuguesa.
e) a busca da concisão e da previsibilidade da linguagem.
Dentre os contos de "Sagarana" existe um em que o narrador sustenta um duelo literário com outro poeta, chamado Quem Será, e no qual se fazem várias considerações sobre a natureza da poesia. Numa metáfora do condicionamento do homem, resistente à aceitação do novo e diferente, o autor leva a personagem a passar por um período de cegueira. A partir daí a personagem descobre a mutilação dos sentidos, que agora se abrem a outras vertentes da realidade.
Em qual dos contos a seguir se discute essa questão?
a) "A hora e a vez de Augusto Matraga"
b) "Duelo"
c) "Conversa de Bois"
d) "São Marcos"
e) "Corpo fechado"
Reflita sobre as seguintes afirmações:
I. Tal como ocorre nos demais contos de SAGARANA, João Guimarães Rosa centraliza neste a prática popular da fé cristã, encarnada aqui num Augusto Matraga renascido, que viverá o resto de sua vida no trabalho humilde e penitente, para além do heroísmo e da violência.II. Neste conto, como em todos de SAGARANA, a linguagem do autor promove uma autêntica fusão entre o que é abstrato e o que é concreto, tal como aqui ocorre na fala do padre, em que os valores religiosos se enraízam no cotidiano sertanejo.III. A "hora e vez" de que fala o padre vai-se concretizar, neste conto, num ato de fé e de bravura do protagonista contra um inimigo poderoso, o que lembra o clímax de dois outros contos do livro: "São Marcos" e "Corpo fechado".
É correto afirmar que
A. apenas II é verdadeira.
B. apenas III é verdadeira.
C. apenas I e III são verdadeiras.
D. apenas II e III são verdadeiras.
E. I, II e III são verdadeiras.
"E não é sem assim que as palavras têm canto e plumagem. E que o capiauzinho analfabeto Matutino Solferino Roberto da Silva existe, e, quando chega na bitácula, impõe: - 'Me dá dez 'tões de biscoito de talxóts!' - porque deseja mercadoria fina e pensa que 'caixote' pelo jeitão plebeu deve ser termo deturpado. E que a gíria pede sempre roupa nova e escova. E que o meu parceiro Josué Cornetas conseguiu ampliar um tanto os limites mentais de um sujeito só bi-dimensional, por meio de ensinar-lhe estes nomes: intimismo, paralaxe, palimpsesto, sinclinal, palingenesia, prosopopese, amnemosínia, subliminal..."(João Guimarães Rosa, fragmento do conto "São Marcos", de SAGARANA.)
Considerando a visão de mundo e a linguagem de autores representativos da ficção brasileira do século XX, escolha as alternativas corretas:
(A) A obra de Guimarães Rosa enfatiza a separação entre a cultura popular, que tende a conservar a língua, e a cultura erudita, entendida como principal fonte da renovação constante do vocabulário.
(B) Os enredos secundários e a citação de versos populares, que aparecem com freqüência nos contos de SAGARANA, têm função ilustrativa, criando apenas uma espécie de pano de fundo para a estória narrada, e poderiam ser suprimidos sem qualquer prejuízo para a compreensão.
(C) A ênfase na experimentação lingüística e na metalinguagem leva Guimarães Rosa a dispensar pouca atenção ao enredo, especialmente nos contos de SAGARANA, que praticamente não narram história alguma.
(D) A obra de Guimarães Rosa realiza em grande medida algumas reivindicações de autores significativos do Movimento Modernista, que propuseram o direito permanente à pesquisa estética e a estabilização de uma consciência criadora nacional.
O conto "Conversa de bois" integra a obra SAGARANA, de João Guimarães Rosa. De seu enredo como um todo, pode afirmar-se que
a) os animais justiceiros, puxando um carro, fazem uma viagem que começa com o transporte de uma carga de rapadura e um defunto e termina com dois.b) a viagem é tranquila e nenhum incidente ocorre ao longo da jornada, nem com os bois nem com os carreiros.c) os bois conversam entre si e são compreendidos apenas por Tiãozinho, guia mirim dos animais e que se torna cúmplice do episódio final da narrativa.d) a presença do mítico-lendário se dá na figura da irara, "tão séria e moça e graciosa, que se fosse mulher só se chamaria Risoleta" e que acompanha a viagem, escondida, até à cidade.e) a linguagem narrativa é objetiva e direta e, no limite, desprovida de poesia e de sensações sonoras e coloridas.
O conto "São Marcos", que integra a obra "Sagarana", de João Guimarães Rosa, apresenta linguagem marcadamente sinestésica, isto é, que ativa os órgãos sensoriais como meios de conhecimento da realidade, em suas diferentes situações narrativas. No ponto culminante da narrativa, o narrador é afetado em sua capacidade sensorial, particularmente ligada
a) ao olfato, que lhe permite perceber o "cheiro de musgo. Cheiro de húmus. Cheiro de água podre", bem como o "odor maciço, doce ardido, do pau d'alho".
b) à visão, que lhe permite contemplar as plantas, as aves, os insetos, as cores e os brilhos da natureza, como em "debaixo do angelim verde, de vagens verdes, um boi branco, de cauda branca".
c) ao tato, que se ativa "com o vento soprando do sudoeste, mas que mudará daqui a um nadinha, sem explicar a razão", além de lhe permitir sentir o "horror estranho que eriçava-me a pele e os pêlos".
d) ao paladar, ativado na mastigação "de uma folha cheirã da erva-cidreira, que sobe em tufos na beira da estrada", e usada, segundo a personagem, para "desinfetar".
e) à audição, que lhe faculta "distinguir o guincho do paturi do coincho do ariri, e até dissociar as corridas das preás dos pulos das cotias, todas brincando nas folhas secas".
João Guimarães Rosa, em Sagarana, permite ao leitor observar que:
a) explora o folclórico do sertão.
b) em episódios muitas vezes palpitantes surpreende a realidade nos mais leves pormenores e trabalha a linguagem com esmero.
c) limita-se ao quadro do regionalismo brasileiro.
d) é muito sutil na apresentação do cotidiano banal do jagunço.
e) é intimista hermético.
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