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Temporalidades – Revista Discente do Programa do Programa de Pós-graduação em História da UFMG, vol. 3 n. 1. Janeiro/Julho de 2011 – ISSN: 1984-6150 www.fafich.ufmg.br/temporalidades
RESENHA
CASTAÑEDA, Germán Palacio
(Ed.). Historia ambiental de Bogotá y La
Sabana . Bogotá, Nomos S.A., 2008.
Fábio Liberato de Faria Tavares
Graduando em História pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Membro do grupo de pesquisa História e Natureza,
coordenado pela Prof. Dra. Regina Horta Duarte. Apoio: FAPEMIG.
fabioliberatobh@yahoo.com.br
A coletânea organizada pelo professor da Universidad Nacional de Colômbia Germán
Palacio Castañeda reúne textos de historiadores, geógrafos e antropólogos. Seu objetivo principal
é analisar o desenvolvimento e a consolidação da cidade de Bogotá como capital da Colômbia,
assim como os efeitos ambientais e sociais das mudanças pelas quais a cidade e a Savana que a
circunda passaram desde a independência do país e, de forma mais acentuada, após o fatídico
bogotazo,1
Os artigos não se apresentam numa ordem cronológica, proporcionando ao leitor a
oportunidade de refletir de forma mais ampla sobre o tema. Já na apresentação da obra, Palácio
apresenta o seu eixo condutor segundo o qual o processo modernizante ao qual a cidade foi
exposta gerou transformações socioambientais decisivas. Ao longo da obra, vários autores se
revezam na análise de um processo de desenvolvimento descontínuo, excludente e agressivo.
Na obra fica aparente que os primeiros surtos de desenvolvimento da cidade se iniciam na
década de 1860, mas esses são algumas vezes interrompidos pela falta de verbas e por constantes
conflitos armados. Nesse primeiro momento, a savana de Bogotá não foi exposta a grandes
1 Revolta popular ocorrida em abril de 1948 causada pelo assassinato do líder liberal Jorge Gaitán
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intervenções. As agressões passaram a ocorrer em fins do século XIX com a inserção da
Colômbia no comércio mundial como fornecedora de produtos primários e com um lento início
de industrialização. Já no início do século XX, as serras que circundavam a cidade passaram a ser
utilizadas como fonte de combustível para a nova fase econômica. Ocorreu também nesse
período, o plantio de eucaliptos, o que acarretou a drenagem dos pântanos da savana. Esses
acontecimentos abriram caminho para sua ocupação e para a falta de água numa cidade em que a
população crescia rapidamente.
Nessa fase do desenvolvimento da cidade, os colombianos não fugiram das influências
urbanísticas francesas. Foram criadas grandes avenidas e parques públicos, assim como pequenas
praças arborizadas, quebrando com uma tradição que vinha dos tempos de colonizaçãoespanhola, na qual as casas em sua maioria tinham amplos quintais repletos de árvores. Isso de
certa forma desestimulava a arborização das ruas e o convívio em grandes áreas verdes como
parques e bosques.
Com as comemorações do Centenário da República (1910), a cidade recebeu mais um
grande impulso modernizante e passou a atrair milhares de camponeses. Com isso, Bogotá que,
apesar de ter sido construída dentro de um ideário católico e colonial, mas com um traçado
moderno começou a saturar-se. O adensamento populacional causou sérios problemas deabastecimento de água e energia. Esses foram causados também pelo desmatamento das serras da
cidade. Seguindo a tradição das cidades sul americanas, as reformas na cidade foram concebidas
para atender as classes mais abastadas, com deslocamento da população mais humilde para áreas
mais afastadas.
A exclusão e as agressões ao meio ambiente aumentaram com o crescimento. O perfil
agroexportador da savana se acentuou com a introdução de outros cultivos como o de flores.
Com esse novo panorama econômico, a região passou a ser cortada por rodovias. Estas foram
construídas com o objetivo melhorar o escoamento da produção já que as ferrovias não se
mostravam uma alternativa viável, tendo em vista seu custo elevado e o relevo acidentado da
região. Em diversos trechos da obra, é possível perceber que os acontecimentos de 1948
acentuaram o processo de reforma de Bogotá. A ideia de remodelar e ordenar o crescimento da
cidade já tinha tomado forma de lei em 1947, mas com os severos danos causados na área central
da cidade pela revolta, as autoridades veem nessa catástrofe uma excelente oportunidade para
colocar em prática um audacioso projeto, de acordo com os preceitos mais modernos existentes
até então. Para atender a essa necessidade foi contratado o arquiteto franco-suíço Le Corbusier,que desenvolve um moderno e arrojado plano piloto para a cidade. Essa proposta teve o seu
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planejamento e a sua execução iniciada anos antes da construção de Brasília, tornando-se assim a
primeira experiência mundial desse tipo.
Apesar do otimismo do arquiteto em planejar uma cidade harmônica, a realidadelamentavelmente acabava não sendo bem essa. Devido à corrupção, incompetência administrativa
e ao aumento populacional ao qual Bogotá e a maioria das grandes cidades do então chamado
Terceiro Mundo passaram, não foi possível a aplicação integral do plano piloto. O que se viu foi
mais uma vez uma reestruturação urbana voltada primeiramente para as classes mais altas.
O crescimento da maior parte da cidade de forma desordenada abriu caminho para surtos
de doenças, causadas em sua maioria pela crônica falta de água de qualidade, pelo desmatamento
e pela poluição dos rios da região. A ocupação da savana de Bogotá foi se consolidando e em fins
da década de 1990 o processo foi praticamente concluído. Essa é hoje, uma das áreas mais
valorizadas da cidade, sendo o centro financeiro e porta de entrada das classes média e alta
devido à construção do aeroporto, de grandes parques e da embaixada dos Estados Unidos da
América. A savana que, por séculos, foi fonte de alimentação para a população indígena e da
cidade de Bogotá encontra-se nos tempos atuais quase que totalmente globalizada.
A obra faz uma competente análise do desenvolvimento e ocupação da cidade de Bogotá
num longo espaço de tempo e se mostra interessante para pesquisadores brasileiros pelas
semelhanças entre os modelos de desenvolvimento adotados por Bogotá e das nossas cidades ao
longo dos últimos dois séculos. As carências as quais a cidade e seus habitantes são expostos
coincidem com a nossa realidade. A criação de grandes áreas de convivências, um
desenvolvimento que perpetua a segregação, a canalização de córregos e rios, falta de água, entre
outras características, são só algumas semelhanças entre Bogotá e as metrópoles brasileiras.
Mesmo hoje é interessante se fazer uma analise das medidas tomadas pelo governo de Bogotá
para mitigar seus problemas. Um exemplo interessante que essa cidade tem dado ao mundo (em
parte inspirado num modelo brasileiro) é o seu sistema de transporte coletivo, o Transmilênio,que ganhou o apelido de Transmi lleno pelo fato de não conseguir atender as necessidades da
cidade, apesar de seu criador, o ex-prefeito Enrique Peñalosa realizar palestras em vários países
em prol desse modelo de transporte de massa consumidor de derivados do petróleo.
Um ponto fraco do livro refere-se à qualidade dos mapas apresentados. Apesar de sua
quantidade, ora são pequenos, ora são de difícil entendimento. Com isso, algo que seria um
excelente instrumento de análise e interpretação da situação de Bogotá simplesmente perde a
utilidade. Mas tendo em vista a relevância e qualidade de obra, isso torna se um ponto de pouca
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importância. É uma obra muito bem organizada, com textos bem construídos e de grande valia
para os historiadores ambientais e para outros pesquisadores da área das ciências socioambientais.
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