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Faculdade de Tecnologia de Sorocaba José Crespo Gonzalez
Coordenadoria de Tecnologia em Sistemas Biomédicos
Relatório Final: Estudo de protocolos de
controle de surtos de bacteremias em
clínicas de hemodiálise
Curso: Tecnologia em Sistemas Biomédicos
Aluno: Jeniffer Loren Moreira Procópio
Orientadora: Profa. Dra. Elisabeth Pelosi Teixeira
Sorocaba, 2019
Sumário
1. Introdução ............................................................................................ 4
2. Revisão de literatura ........................................................................... 7
2.1 Hemodiálise ..................................................................................... 7
2.2 Qualidade microbiológica da água para hemodiálise ...................... 9
2.3 Biofilme .......................................................................................... 10
2.4 Bacteremia .................................................................................... 11
2.5 Sistema de Tratamento de Água para Hemodiálise ...................... 12
2.6 Pré- tratamento e purificação da água para hemodiálise .............. 13
2.7 Distribuição da água purificada para os pontos de uso
para o tratamento de hemodiálise .................................................................. 14
3. Objetivos ............................................................................................ 15
3.1 Geral .............................................................................................. 15
3.2 Específicos .................................................................................... 15
4. Materiais e Métodos .......................................................................... 15
4.1 Desenvolvimento do levantamento bibliográfico ............................ 15
4.2 Realização da triagem dos artigos encontrados após a
revisão de literatura ....................................................................................... 17
4.3 Análise dos artigos incluídos ......................................................... 20
5. Resultados e Discussões ................................................................. 21
6. Cronograma ....................................................................................... 22
7. Conclusão .......................................................................................... 23
Referências
RESUMO A hemodiálise é o principal procedimento para remoção de produtos de
degradação metabólica, excesso de água e sais minerais do organismo, para
restabelecer o equilíbrio ácido-base e eletrolítico de pacientes com deficiência
renal crônica. A água é o principal componente do tratamento, onde suas
qualidades físicas, químicas e microbiológicas, devem estar dentro dos padrões
estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) por meio
da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) N° 11 de 13 de março de 2014. As
soluções de diálises e os equipamentos (hemodialisadoras) proporcionam um
ambiente propício à formação de microrganismos. Por esta razão faz-se
necessário estabelecer um sistema de tratamento de água e métodos de
monitoramento seguros e eficazes a fim de prevenir surtos de bacteremias em
clínicas de diálise, causadas pela presença de microrganismos no sistema,
formando biofilmes. É objetivo deste trabalho é revisar as publicações na
literatura sobre protocolos de desinfecção de sistemas de tratamento de água
visando a minimização da presença de biofilmes e, consequentemente, de
surtos de bacteremia em pacientes renais crônicos. O produto final esperado é
uma proposta de protocolo a ser implantado e validado no ambiente do Instituto
de Hemodiálise de Sorocaba (IHS) em parceria com a empresa especializada
em serviços de tratamento de água para hemodiálise por osmose reversa,
ACQUAMEDIC da cidade de Sorocaba.
Palavras-chave: hemodiálise, tratamento de água e bacteremia.
4
1. Introdução
Existem no corpo humano diversas reações fisiológicas
responsáveis pela produção de metabólitos, produtos do metabolismo
das mais diversas substâncias da qual ingerimos. Para manter a
homeostase e controle osmótico o corpo humano utiliza-se dos mais
variados sistemas fisiológicos entre eles o sistema renal, que tem por
finalidade realizar a eliminação das excretas não voláteis como ureia,
creatinina, potássio e íons de hidrogênio, substâncias estas que em
excesso no organismo pode ocasionar danos a outros órgãos (MENDES,
2016).
No entanto, a capacidade de filtração renal conhecida como
filtração glomerular pode ser reduzida, ocasionando um aumento dos
excessos de metabólitos na corrente sanguínea podendo evoluir para
uma Insuficiência Renal (IR), se não tratada corretamente o paciente
poderá ter problemas mais severos como a Doença Renal Crônica
(DRC), que consiste em lesões renais e perda progressiva e irreversível
das funções dos rins (EGIDIO, 2004).
De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), o
tratamento indicado para uma IR é a hemodiálise. Este procedimento é
realizado através de uma máquina por circulação extracorpórea e tem
como principal composto do sistema, a água (MENDES, 2016).
A água é o principal componente para manutenção da vida, sendo
a água potável definida pela ANVISA RDC 154: 2004 como “água com
características físico-químicas e biológicas em conformidade com o
disposto na Portaria GM/MS de N° 518 de 25 de março de 2004”
(adaptada em 2011 sendo alterada para Portaria N°2.914, de 12 de
dezembro de 2011) (BRASIL, MS, 2004).
Até a década de 70 acreditava-se que a água potável era eficiente
para realização da hemodiálise, porém foram observadas algumas
características químicas, físicas e microbiológicas que poderiam contribuir
para o agravamento do estado do paciente, sendo necessária a criação
5
de um sistema de tratamento de água para a hemodiálise (MACHADO;
PINHATI, 2014).
A ANVISA por meio da RDC N°11, de 13 de março de 2014
estabelece os requisitos de funcionamento para os serviços de diálise, entre
eles o padrão de qualidade da água e os procedimentos de manutenção do
Sistema de Tratamento de Água para Hemodiálise (STDAH) (BRASIL, MS,
2004).
Uma parte essencial para o sucesso da terapia dialítica é a
preparação do dialisato (solução contendo solutos como: sódio, potássio,
bicabornato, cálcio, magnésio, cloro, acetato, glicose, pCO2 ) que entram
em equilíbrio com o sangue do paciente durante o processo dialítico,
mantendo a concentração sérica destes solutos dentro dos limites
normais do organismo. A qualidade da água para seu preparo é crítica
sendo obrigatória estar dentro dos parâmetros estabelecidos pela
ANVISA/RDC 11:2014 (BRASIL, MS, 2002).
É estabelecido um padrão de qualidade para a água utilizada para
o tratamento, onde ocorre uma continua monitorização tanto do insumo
(água fornecida ao serviço) como do produto final (água pura) definindo
um padrão de sistema de purificação a ser dotado para assegurar a
qualidade dos parâmetros físicos, químicos e microbiológicos da água
utilizada (BRASIL, MS, 2002).
Com relação aos parâmetros microbiológicos a detecção de
patógenos na água é a prova direta de ocorrência de contaminação. Por
muito tempo considerava-se que as bactérias vivam de forma isolada, no
entanto observou-se que ocorre associação e comunicação entre elas,
este tipo de comportamento comunitário permitiu a formação de uma
estrutura multicelular complexa denominada biofilme (RAMIRES, 2011).
A formação de biofilmes em aparatos médicos constitui uma série
de ameaça à saúde pública. Uma vez constituída estas estruturas agem
como pontos constantes de contaminação, liberando células de
microrganismos patogênicos e deteriorantes, comprometendo a
6
qualidade microbiológica de matérias-primas e insumos (RAMIRES,
2011).
A presença de biofilme no sistema de tratamento de água para
serviços de diálise pode ocasionar infecções aos pacientes (bacteremia)
que por sua vez encontram-se debilitados, podendo levar ao
agravamento de seu estado.
Sabendo da importância em se estabelecer critérios de análises a
fim de evitar quaisquer tipos de contaminação no sistema de tratamento
de água para serviços de diálise, desta forma é nossa proposta o tema
“Estudo de protocolos de surtos de bacteremia em clínicas de
hemodiálise” visando contribuir para a segurança do sistema e
procedimentos que estabeleçam a qualidade do tratamento.
7
2. Revisão de literatura
2.1 Hemodiálise
Procedimento pelo qual substâncias são removidas do corpo
humano através da filtração do sangue por via extracorpórea por uma
membrana sintética especial (contida em um dispositivo denominado
dialisador). O sangue do paciente é bombeado por uma série de tubos
até o dialisador, onde promove a troca seletiva com o meio externo e em
seguida retorna para o corpo do paciente como ilustrado na Figura 1, o
sistema também contém outros dispositivos como bomba de heparina
(anticoagulante), manômetros (para verificação das pressões arterial e
venosa) e bomba de sangue que mantem o fluxo constante por todo
sistema, e um sistema de segurança (detector de ar) (BRASIL, MS,
2002).
O dialisador é banhado em uma solução aquosa (dialisato)
contendo um composto de eletrólitos, que não entram em contato direto
com o sangue do paciente, mas trocam substancias através da
membrana do dialisador. A sessão de hemodiálise dura geralmente de 3
a 4 horas sendo realizadas três sessões de hemodiálise por semana
(BRASIL, MS, 2002).
8
Figura 1 - Representação do ciclo do tratamento de hemodiálise
Fonte: Experimentoteca, 2007
9
2.2 Qualidade microbiológica da água para hemodiálise
Teve como marco histórico na hemodiálise o episódio conhecido
como “Tragédia de Caruaru” em fevereiro de 1996 na cidade de Caruaru-
Pernambuco Brasil, onde ocorreu um surto de bacteremia em uma clínica
de hemodiálise que atendia 131 pacientes, onde 100 pacientes
desenvolveram insuficiência hepática aguda, sendo que 52 foram a óbito
em consequência da contaminação microbiológica da água por toxinas
de cianobactérias (LIBERATO, 2017).
Após este marco em outubro do mesmo ano entrou em vigor a
Portaria do Ministério da Saúde N°2.042 para tratar especialmente da
qualidade de água para HD. Sendo obrigatório o uso da osmose reversa
para o tratamento de água nos Serviços de Terapia Renal Substitutiva
apenas no ano de 2000 pela Portaria N°82 de janeiro de 2000
(LIBERATO, 2017).
A maior preocupação com relação a qualidade de água durante a
HD são os parâmetros microbiológicos, físico-químicos e presença de
endotoxinas. A Tabela 1 indica os parâmetros bacteriológicos da
qualidade da água tratada para hemodiálise segundo a ANVISA RDC
11:2014.
A contaminação nesta água por bactérias leva o aumento de
endotoxinas e substancias químicas, quando em níveis acima do
preconizado em legislação pode levar sérias complicações ao paciente
(SOUZA, 2015).
Tabela 1 – Parâmetros bacteriológicos da qualidade da água para
hemodiálise
COMPONENTES VALOR MÁXIMO FREQUÊNCIA DE
PERMITIDO ANÁLISE
Coliformes totais Ausência em 100 ml Mensal
Contagem de bactérias
heterotróficas
100 UFC/Ml Mensal
Endotoxinas 0,25 EU/Ml Mensal
Fonte: Brasil, 2014
10
Uma variedade de bactérias gram-negativas pode se multiplicar e
dar formação ao biofilme em todos os tipos de água e superfícies internas
do equipamento de HD. Uma vez instalados no sistema os biofilmes são
fontes constantes liberação bacteriana sendo de difícil remoção
completamente (OUMOKHTAR et al, 2013).
2.3 Biofilme
O biofilme é uma estrutura multicelular complexa podendo se
formar em qualquer ambiente aquático. O problema relacionado à
formação de biofilmes nas tubulações de HD, conforme mostrado na
Figura 7, é o surgimento de casos de infecções (bacteremias) em
pacientes, além de algumas bactérias corroerem as tubulações
(ISAKOZAWA et al TAKESAWA, 2016).
Figura 2 – Exemplo de formação de biofilme em tubulação de hemodiálise
Fonte: Isakozawa et al Takesawa, 2016
A definição de biofilme ainda não é consensual nos meios
acadêmicos, porém denomina-se biofilme como sendo uma comunidade
complexa estruturada por microrganismos envoltos por uma matriz
extracelular de polissacarídeos, aderidos entres si (ESPER, 2011).
Uma vez constituídas essas estruturas agem como ponto
constante de contaminação liberando células de microrganismos
patogênicos e deteriorantes, comprometendo a qualidade microbiológica
de matérias-primas e insumos como a água para HD (ESPER, 2011).
Sua estrutura é basicamente composta por exopolissacarídeos
(EPS), sendo responsável por conferir proteção aos sanitizantes
utilizados em processos de desinfecção, agindo como barreiras físicas
11
impedindo a chegada dos sanitizantes aos seus sítios de ação. Em
alguns casos, os EPS são capazes de sequestrar cátions, metais e
toxinas, conferindo proteção contra radiações ultravioleta (UV), alterações
de pH, choques osmóticos e dessecações. Alterações fenotípicas,
tamanho celular e metabolismo decorrentes da restrição de nutrientes e
oxigênio em algumas fases, varia a taxa de reprodução em toda
regulação gênica. Células presentes em biofilmes são de 500 até 1000
vezes mais resistentes quando comparadas às células planctônicas
(ESPER, 2011).
Sua difícil remoção e resistência pode promover sua passagem
pela membrana do dialisador estimulando a produção de citocinas e
desencadeando elevações na fase aguda de infecções, podendo causar
complicações intradialíticas agudas, como febre, calafrios, hipotensão,
náuseas e câimbras, sintomas estes associados às bacteremias (VERMA
et al NAIK, 2015).
2.4 Bacteremia
Pacientes com IRC sofrem de constantes anormalidades do
sistema imunológico, resultado direto da uremia e consequências
metabólicas, tornando-os suscetíveis a infecções. Estas anormalidades
incluem o comprometimento das ações de neutrófilos, linfócitos B e T e
monócitos (células do sistema imune), levando ao processamento de
antígenos defeituosos, portanto, ao aumento de incidências de infecções
microbianas (MONTANARI et al, 2009). Para proteção de pacientes é
necessário que unidades de HD estabeleçam medidas padrões de
controle e prevenções de infecções (PARK at al; LEE, 2018).
A água utilizada durante o tratamento de HD pode ser responsável
pela transmissão crescente de infecções, ocasionadas pela presença de
bactérias, endotoxinas e produtos derivados de bactérias presentes no
sistema de tratamento (HEIDARIEH, et al; MIRSAEIDI, 2016).
Um baixo nível de contaminantes microbiológicos na solução de
diálise tem sido associado a estados de inflamação crônica e, a longo
prazo, a morbidade significativa em pacientes de HD (OUMOKHTAR et al
HOUSSAINI, 2013).
12
A desinfecção inadequada dos sistemas de distribuição de água
(SDAH) ou tubulações dentro dos dialisadores tem sido motivo para a
ocorrência de surtos de bactérias gram-negativas e pirogênia em
unidades de HD (OUMOKHTAR et al, 2013).
A exposição dos pacientes ao tratamento indevido da água ou
dialisato podem ocasionar problemas agudos e crônicos como: anemia,
alterações na pressão arterial e equilíbrio ácido-base, comprometimento
neurológico, inflamação crônica, doença óssea, hemólise, febre entre
outras. Reações agudas são mais severas podendo ser mortal ao
paciente, porém seus sintomas não são relatados apenas quando a água
do abastecimento do tratamento ou preparação do dialisado estão
impróprias, pois podem ser confundidos com sintomas próprios da
Doença Renal Crônica (DRC) (PAYNE; CURTIS, 2018).
2.5 Sistema de Tratamento de Água para Hemodiálise
O sistema de tratamento de água para hemodiálise apresentado na
Figura 2 são projetados com a finalidade de obter qualidade e segurança
no tratamento. Os tipos de componentes utilizados no sistema podem
variar significantemente de acordo com a qualidade da água local,
definindo as necessidades de pré-tratamento, o volume de água do
produto necessário pela instalação, e a tecnologia de tratamento de água
escolhida (KASPARED; RODRIGUEZ, 2015).
Figura 3 - Sistema de Tratamento de Água para Hemodiálise
Fonte: Kaspared; Rodriguez, 2015
13
2.6 Pré- tratamento e purificação da água para hemodiálise
A água da fonte de abastecimento do sistema de tratamento para
hemodiálise precisa receber um pré-tratamento antes de ser purificada. O
pré-tratamento consiste em etapas de ajuste da temperatura, prevenção,
pressurização, filtração de areia e sedimentos, amaciamento de água e
filtragem de carbono para decloração, o sistema deve estar equipado
com dispositivo de prevenção de fluxo reverso mantendo a água em
direção linear rumo ao sistema de purificação e nunca para trás
(KASPARED; RODRIGUEZ, 2015).
Existe um medidor de pressão ao lado do dispositivo de prevenção
de fluxo reverso e um filtro. Diferenças de pressão no dispositivo pode
ocasionar a obstrução do filtro. Logo após o dispositivo de prevenção de
refluxo a água é impulsionada através de bombas que pressuriza todo o
sistema a chamada bomba de reforço que tem por finalidade manter a
água em movimentação através do sistema de tratamento de água,
otimizando o sistema desempenho e purificação. A bomba é controlada
por um pressostato (liga/desliga) conforme a necessidade imposta.
Quando a pressão do sistema fica abaixo do limiar exigido (ponto de
ajuste) a bomba ligará automaticamente desligando quando a pressão do
sistema for adequadamente restaurada (KASPARED; RODRIGUEZ,
2015).
No processo do pré-tratamento da água também ocorre a filtragem
do grão e sedimento da água de alimentação realizada por um filtro de
profundidade removendo partículas maiores suspensas na água evitando
o entupimento de componentes do sistema incluindo a osmose reversa
(KASPARED; RODRIGUEZ, 2015).
Depois da remoção dos particulados maiores presentes na água
esta passa para o processo de abrandamento por meios de resinas
contidos no amaciador de água com alta afinidade por cátions de cálcio e
magnésio conhecidos por tornar a água dura, água contendo alto índice
de cálcio e magnésio podem se depositar na membrana da osmose
14
reversa sujando a membrana ocasionando a redução da qualidade da
água purificada (KASPARED; RODRIGUEZ, 2015).
O próximo passo é a filtração de carbono da água retirando cloro e
cloraminas adicionados pelos sistemas de tratamento de água municipal
(casos de abastecimento público) este processo é realizado pelo filtro de
carvão ativado. Após o pré-tratamento a água é direcionada para o
sistema de purificação sendo o método mais comum empregado a
Osmose Reversa (OR). O dispositivo da OR utiliza uma bomba de alta
pressão e uma membrana semipermeável para purificação da água. A
água pré-tratada pressurizada pela bomba de alta pressão é forçada a
fluir através da membrana da OR que é especialmente projetada para
rejeitar ou não permitir a passagem de mais dissolvidos elementos
orgânicos como bactérias, vírus e endotoxinas (KASPARED;
RODRIGUEZ, 2015).
2.7 Distribuição da água purificada para os pontos de uso para
o tratamento de hemodiálise
A água já purificada é distribuída por todo sistema de uso
necessário para preparar o dialisato e sala de reuso e pontos de
distribuição das máquinas (loops). Os tipos de distribuição podem ser de
forma de alimentação direta e indireta. No sistema de distribuição direta
de alimentação, a água pressurizada sai do sistema de OR e passa por
um filtro de endotoxinas antes de prosseguir para a alça de distribuição
(loops) a água não utilizada retorna através do loop para entrada da
bomba do feed direto do sistema da OR onde será reciclada através da
bomba reversa de OR. Na distribuição indireta de alimentação a água
purificada saindo do sistema reverso da OR entra em um tanque de
retenção projetado e equipado com dispositivos de controle de nível de
água interagindo com o sistema da OR desligando e ligando conforme
necessário e mantendo a água no nível apropriado no tanque de retenção
(KASPARED; RODRIGUEZ, 2015).
A água purificada presente no tanque é despressurizada pela
bomba de reforço de distribuição direcionando a água purificada do
15
tanque através de filtro de endotoxinas antes de prosseguir para a alça
de distribuição (KASPARED; RODRIGUEZ, 2015).
3. Objetivos
3.1 Geral
Avaliar a bibliografia científica sobre a tecnologia de tratamento de água para
hemodiálise com episódios de bacteremias em pacientes renais crônicos, e propor
um protocolo de resoluções de surtos de bacteremias, em serviços de hemodiálise
associados com o sistema de tratamento de água.
3.2 Específicos
• Estudar a legislação referente ao tratamento de água para serviços de
diálise;
• Definição dos descritores para seleção dos artigos;
• Realizar levantamento bibliográfico;
• Realizar a triagem dos artigos encontrados;
• Analisar os artigos incluídos após o processo de triagem.
4. Materiais e Métodos
Para que os objetivos podem ser alcançados seguiram-se os seguintes
passos:
4.1 Desenvolvimento do levantamento bibliográfico
Para o levantamento bibliográfico foram definidos alguns
descritores com base no título e assunto abordado utilizando os
16
Descritores em Ciências da Saúde (DeCs) disponível na Biblioteca Virtual
em Saúde (BVS) (decs.bvs.br) para revisão de literatura foi aplicado o
processo de bibliometria, levando em consideração publicações dos
últimos 5 anos através de bases de dados online:
NCBI (Via PubMed), Portal periódicos da CAPES, Google Acadêmico,
Scielo e Scienceresearch.com.
Foram analisadas legislações e portarias específicas relacionadas
ao processo de tratamento de água para serviços de diálises, e
processos adotados mundialmente para a resolução de surtos de
bacteremias proveniente pela formação de biofilme no sistema.
17
4.2 Realização da triagem dos artigos encontrados após a
revisão de literatura
Foi realizada uma revisão de literatura focada em critérios a serem
analisados em STAH, utilizando sites de busca e pesquisa como NCBI
(Via PubMed), Portal de periódicos da CAPES, Google Acadêmico,
Scielo e Scienceresearch.com, Portal da Saúde do Ministério da Saúde,
portal da ANVISA, VISALegis, sites de universidades, entre outros, sendo
necessárias palavras chaves para facilitar as buscas como “surto”,
“hemodiálise”, “água para hemodiálise”, “bacteremia”, entre outras para
estabelecer uma base sólida para a revisão de literatura com a utilização
do processo de bibliometria para entendimento dos processos de controle
de surtos de bacteremias em serviços de diálises. A aplicação da
metodologia de bibliometria possibilitou a análise de artigos de cinco
bases de dados.
Para a base de dados NCBI (Via PubMed) foram utilizadas duas
estratégias de busca, e para as demais bases de dados uma estratégia
de busca todas apresentadas no Quadro 1.
18
Quadro 1 – Estratégia de busca e resultados
Base
Estratégia
Localizados
Selecionados
MEDLINE (via
PubMed)
("hemodialysis"[All Fields] OR "renal
dialysis"[MeSH Terms] OR ("renal"[All Fields] AND "dialysis"[All Fields]) OR "renal dialysis"[All Fields]
OR "hemodialysis"[All Fields]) AND ("biofilms"[MeSH Terms] OR "biofilms"[All Fields]
OR "biofilm" ("hemodialysis"[All Fields] OR "renal
dialysis"[MeSH Terms] OR ("renal"[All Fields] AND "dialysis"[All Fields]) OR "renal dialysis"[All Fields] OR "hemodialysis"[All Fields]) OR ("bacteremia"[All
Fields] OR "bacteremia"[MeSH Terms] OR "bacteremia"[All Fields]) AND ("water
purification"[MeSH Terms] OR ("water"[All Fields] AND "purification"[All Fields]) OR "water
purification"[All Fields] OR ("water"[All Fields] AND "treatment"[All Fields]) OR "water treatment"[All
Fields]) AND ("2013/10/27"[PDat] : "2018/10/25"[PDat])
431
9
acadêmico Hemodiálise, tratamento de água, surtos de
bacteremias.
189 1
Portal periódicos da
CAPES
Bacteremia, hemodiálise, controle, tratamento de
água.
54
1
Scielo Hemodiálise, água 21 2
Scienceresearc h.com
Hemodiálise, água, bacteremia OBS:( foram analisados artigos publicados no The
Jornal of the American Medical)
98
0
Fonte: Autor
Com o uso das estratégias de busca apresentadas no Quadro 1,
foram identificadas 793 referências. Após acesso via online ao texto e
idioma em tempo hábil, a busca por evidências alcançou um total de 13
revisões sistemáticas (Figura 3):
19
Figura 4 – Fluxograma da seleção da de revisões sistemáticas
Ide
ntifica
çã
oT
ria
ge
mE
ligib
ilid
ade
Inclu
sã
oReferências identificadas por meio da pesquisa nas bases de dados (n=793)MEDLINE (n=431) Google Acadêmico (n=189)Portal periódicos CAPES(54)
Scielo(21) Scienceresearch(98)
Referências triadas por títulos e resumos (n=663)
Referências selecionadas para análise do texto completo
(n=27)
Referências excluídas (n=636)
Estudos incluídos (n=13)
MEDLINE (n=9) Google Acadêmico (n=1)
Portal periódicos CAPES (1)Scielo (2)
Scienceresearch(0)
Fonte: Autor
20
4.3 Análise dos artigos incluídos
Para análise e seleção dos artigos foram utilizados os seguintes
métodos de inclusão apresentados no Quadro 2, levando em
consideração artigos contendo possíveis métodos utilizados
mundialmente para a resolução de surtos de bacteremias relacionadas a
presença de biofilme no tratamento de água em clínicas de diálise e
descrições do sistema de tratamento de água para HD.
Quadro 2 – Métodos de inclusão e exclusão da estratégia de busca
Artigos incluídos Critérios de exclusão
Artigo 1 Relacionado a análises de desinfetantes na remoção de biofilmes em tubulações (Japão). Artigo 2 Relacionado a diretrizes de prevenção de infecções em instalações de HD (Coréia). Artigo 3 Relacionado a tratamento de água para HD para segurança do paciente. Artigo 4 Relacionado a análise microbiológica da água de HD (Teerã e Alborz). Artigo 5 Relacionado a qualidade bacteriológica do tratamento de água e dialisado de HD de hospitais terciários (Índia). Artigo 6 Relacionado a gerenciamento de água da instalação de diálise (Colorado-EUA). Artigo 7 Relacionado a experiência da desinfecção térmica para remover bactérias viáveis e endotoxinas em água de osmose reversa (Marrocos). Artigo 8 Relacionado a ocorrência de fungos em água de diálise e dialisato de oito unidades de HD (Itália). Artigo 9 Relacionado a prevenção de infecção ligada a água de diálise em um centro de HD (Marrocos). Artigo 10 Relacionado a utilização do plasma elétrico no controle da qualidade bacteriológica da água de osmose reversa em HD. (Brasil) Artigo 11 Relacionado a detecção de microrganismos, endotoxinas e alumínio em
- Artigos relacionados à higienização bucal de pacientes renais crônicos; - Artigos relacionados ao volume de substâncias perdidas pelo paciente após a realização da HD; - Cuidados estabelecidos pelas equipes de enfermagem; - Controle de fatores hídricos como prevenção de anemias em pacientes renais; - Inovações em rins artificiais; - Análises realizadas referentes a proteção do cateter venoso central; - Patologias inflamatórias adquiridas por pacientes renais; - Avalição da hemodiafiltração e hemodiálise convencional; - Revisões em máquinas de diálises; - Estratégias de redução de custos relacionados a inflamação e tratamento de anemias em pacientes de diálises; - Doenças cardíacas na doença renal crônica; - Técnicas realizadas para melhorias das patologias que podem acometer pacientes renais; - Remoção de toxinas urêmicas e citocinas do plasma humano; - Avaliação das funções de cateter temporário; - Desordem cardíacas na hemodiálise; - Avaliação clínica do paciente em HD; - Função pulmonar de pacientes com DRC; - Avaliação econômica da hemodiálise asiática; - Presença de novos microrganismos em surtos de bacteremias - Fatores relacionados a infecções em pacientes submetidos a HD; - Dialisador capilar reutilizado e de uso único em HD: saúde dos profissionais
21
serviços de diálise móvel. (Brasil)
em desfecho clínico e custos; - Resistência antibiótica à
vancomicina; - Intervenções de
enfermagem a pessoas em tratamento
hemodialítico;
Artigo 12 Relacionado a contaminação microbiológica de um sistema de distribuição de água de centro de HD (França) Artigo 13 Relacionado a cloração da água
utilizada nas sessões de HD em hospitais da
cidade do Recife-Pernambuco (Brasil)
- Assistência de enfermagem em complicações durante a HD; - Condições bacteriológicas da superfície das poltronas hematológicas para HD; - Infecção em cateteres de HD
Fonte: Autor
5. Resultados e Discussões
O grande número de publicações encontradas até o presente
momento no período de 5 anos nas bases de dados aqui citadas, não
continham relevância direta ao tema, pois se tratavam de artigos com
abordagem na área da enfermagem e seus cuidados ao paciente renal
crônico, ou estudo de casos.
Entre os artigos inclusos os artigos de maiores relevâncias ao tema
encontrados foram os artigos 1 publicado em 2016 (Japão) e o artigo 3
publicado em 2018 pelo Journal Nursing Nephrology.
O artigo 1 relata a avaliação de desinfetantes utilizados com a
finalidade de remover biofilmes nas tubulações do STAH, sendo estes
avaliados clinicamente com base nos níveis de endotoxinas e contagens
bacterianas utilizando microscópio eletrônico de varredura, porém como
resultado deste estudo os autores constataram que a limpeza e
desinfecção com desinfetante em alta temperatura e alta concentração
retiram eficazmente biofilmes da tubulação de HD. No entanto, a
exposição prolongada a desinfetantes pode afetar o material da
tubulação.
O artigo 3 aborda itens importantes como a compreensão por
todos os membros das equipes envolvidas no tratamento de HD em
conhecer as ramificações do STA, com a finalidade de colaborar para a
segurança do paciente a fim de prevenir infecções severas provenientes
22
do STA. Embora o artigo não cite a existência de um protocolo de
controle de surto de bacteremia ele foi de grande importância para
subsidiar a fundamentação tecnológica do trabalho, assim como todos os
outros artigos analisados contribuiram com informações relevantes para
este subsidio, mesmo não apresentando protocolos de controle de surtos
de bacteremias provenientes do STAH.
O resultado da bibliometria pode ser representado conforme
apresentado na Figura 3. Sua realização mostrou um grande número de
publicações voltadas a assistência de enfermagem como cuidados aos
pacientes, higienização bucal, assistência voltada à utilização de
cateteres etc, constatando uma carência de publicações voltadas a áreas
técnicas como a tecnologia do STAH e protocolos de controle de surtos
de bacteremias.
6. Cronograma
Atividades
realizadas
Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Marc Abr Mai Jun
Estudar as legislações referentes ao
STAH
X X X
Definição
dos
descritores
para seleção
dos artigos
X
Realizar
levantamento
bibliográfico
X X X X
Realizar a
triagem dos
artigos
encontrados
X X
Analisar
artigos
incluídos
após triagem
X X X
23
7. Conclusão
Como apresentado no Fluxograma da Figura 3 nota-se um défice
de publicações relacionadas ao tema abordado, para isto foram
realizadas outras combinações de descritores, porém não houve-se
aumento relativo dos artigos publicados até o presente momento
relacionados ao assunto.
O grande número de publicações encontradas tem relação direta
com a área assistencial ao paciente renal crônico, outro por sua vez tem
relação a estudos de casos, o descobrimento de novos microrganismos
presentes na água do tratamento da HD, testes de tentativas de remoção
do biofilme no STAH, infecções relacionadas ao cateter central do
paciente, resistências bacterianas entre outros que não contém
relevância ao tema.
Sendo assim, a revisão de literatura nos evidenciou a falta de
publicações referentes a existência de protocolos de controle de surtos
de bacteremias em clínicas de diálise o que denota a importância do
desenvolvimento deste trabalho, faz-se necessário estabelecer estudos e
pesquisas relacionados ao tema, e o desenvolvimento de um protocolo
de ações de resoluções de surtos de bacteremias em clínicas de HD,
melhorando as ações tomadas por diretores de clínicas e hospitais onde
estas ocorram de forma direcionada, contribuindo para a qualidade do
tratamento, eficácia, segurança e economia de todo o sistema.
24
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