produÇÃo escrita de conteÚdos em blogs: quais os desafios … · concepção dos jovens...
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Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
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PRODUÇÃO ESCRITA DE CONTEÚDOS EM BLOGS: QUAIS OS DESAFIOS E AS
POSSIBILIDADES?
Patricia Matias¹ (UFPE) Josivania Freitas² (UFPE) Sérgio Abranches³ (UFPE)
Elizângela Silva4 (UFPE) Marcela Leite5 (UFPE)
Resumo Este artigo é parte de pesquisa realizada no Programa de Extensão Proi-Digital da Universidade Federal de Pernambuco, que pretende analisar a
concepção dos jovens envolvidos sobre produções escritas de conteúdos digitais nas oficinas desenvolvidas no referido programa, particularmente na oficina de blog, a partir da própria produção feita pelos jovens. Através da etnografia virtual, os dados coletados em blogs produzidos pelos discentes de uma escola pública municipal em Recife-PE apontam desafios e possibilidades para a produção escrita de conteúdos digitais. Os estímulos desenvolvidos em redes via internet possibilitam a produção escrita, considerando as formas de aprender e de produzir de cada aluno envolvido no processo de produção escrita de conteúdos em redes. Os resultados iniciais apontam desafios na forma de produção escrita de conteúdos nos blogs, pois, em sua maioria, os discentes se concentram em determinado conteúdo e se desconectam de outros. Neste sentido, há um rápido e frágil desenvolvimento de habilidades no que está sendo aprendido. Palavras-Chave: produção escrita; blog; pesquisa etnográfica. Abstract
This article is part a research undertaken in the Extension Program Pro-Digital from Federal University of Pernambuco, which intends to analyze the conception from the youths involved into written production of digital contents in the undertook workshops in the previous mentioned program, particularly in the blogging workshop, from the very production undertook by the youths. Through the virtual ethnography, collected data, from the blogs produced by students of a public municipal school of Recife, points out challenges and alternatives for the written production, considering the methods of learning and producing of each student involved in the process of written production of network contents. The initial results point out challenges in methods of written production for the blogs contents, what means, at most, the students concentrate in a specific content and put their attention away from others. On this track, there is a rapid and fragile development of abilities related to what has been learned. Keywords: writing production; blog; ethnographic research.
Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
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Introdução
Ao longo dos anos a internet desenvolveu seu potencial em face às
ferramentas tecnológicas e vem se expandindo a passos largos. A partir dela temos
o auxílio de diversos recursos midiáticos onde é possível criar espaços de interação,
socialização e compartilhamentos com vários fins na dinamicidade das redes
sociais, entre elas o Facebook, Twitter, Youtube, Orkut, entre outras. Essa
evolução tecnológica faz com que a interação entre compartilhamentos com grupos
de usuários seja realizada de forma rápida e dinâmica, permitindo assim, não
somente o acesso a todos os tipos de conteúdos, mas também admite que seus
usuários possam produzir conteúdos digitais e divulgá-los. Na web podemos
encontrar diversas mídias digitais que possibilitam a produção de novos conteúdos
digitais podendo ser utilizados nos mais distintos ambientes sociais bem como no
campo educacional.
Com o intuito de contribuir para a produção desses novos conteúdos digitais
em que o processo de criação deles é pautado por reflexões, interpretações e
estímulo à produção objetiva, o Programa de Extensão “Proi-Digit@l: espaço de
criação para inclusão digital de jovens da periferia de Recife, Olinda e Caruaru”,
da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE aprovado pelo Edital MEC/SESu
2011, o Proi-Digit@l, foi desenvolvido para trabalhar com os jovens de periferia das
cidades supracitadas. O Programa oferece oficinas de produção de conteúdos
digitais em vídeo, animação, áudio digital e blog, sendo este último, a ferramenta
que discutiremos nesse trabalho, que tem por objetivo analisar a concepção dos
jovens envolvidos sobre produções escritas de conteúdos digitais em blogs.
Nesta perspectiva, o blog sendo uma das ferramentas da web que é utilizada
para a produção de conteúdos digitais em que, conforme afirma Sá (2011), o blog é
uma ferramenta digital disponível na internet que permite a publicação cronológica
de conteúdos, como se fossem páginas de um jornal, pois em sua estrutura ele
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permite que o autor faça publicações em diversos formatos digitais como texto,
áudio, vídeo, links e imagem, portanto se torna uma forma de comunicar-se,
interagir, opinar na internet e que pode estar auxiliando no desenvolvimento de
nossos educandos tanto dentro como fora da sala de aula.
Nesse sentido, compreendemos que o blog é uma ferramenta dinâmica onde
permite que o autor possa interagir com os seus leitores trocando informações e
opiniões, assim sendo, essa facilidade de comunicação que o blog proporciona
também propõe que o uso possa ser vivenciado pautado sob diversas finalidades,
possibilidades e desafios que possa surgir no processo de aprendizagem em redes
sociais presenciais e virtuais. Um exemplo desse contexto são as temáticas pessoais
que falam sobre os acontecimentos da vida e as opiniões de determinados usuários,
assim como, pode ser empregado considerando uma ferramenta de divulgação por
empresas visando questões mercadológicas como também os professores podem
partir do contexto didático de suas estratégias e utilizá-lo com finalidades
pedagógicas.
Enquanto recurso pedagógico, Gomes (2005, p. 312) afirma que os blogs
podem ser “um espaço de acesso à informação especializada; e um espaço de
disponibilização de informação por parte do professor”, logo o blog pode ter como
objetivo servir de base para que o professor disponibilize informações da sua
disciplina ou de outras áreas importantes para o desenvolvimento de seu aluno,
bem como o mesmo pode ser um mecanismo de pesquisa sobre determinada
temática. Se ele for utilizado como estratégia pedagógica Gomes (2005, p. 313)
orienta que nessa perspectiva o blog pode assumir diversas funções como: “um
portfólio digital; um espaço de intercâmbio e colaboração; um espaço de debate –
role playing; um espaço de integração”. Sendo assim observamos que através do
blog pode existir o acompanhamento do aluno no processo educacional, além de
permitir recursos e possibilidades de discussões em redes abertas, favorecendo a
construção de ideias, opiniões, bem como na interação entre os usuários
participantes.
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O blog é uma ferramenta de produção e de conteúdos escritos onde o
participante poderá ser autor e/ou explorar a criatividade a partir das ideias e
opiniões, por isso ele pode ser aproveitado como um instrumento em potencial,
considerando que promove a estimulação dos jovens para o desenvolvimento da
escrita, leitura, interpretação e produção de conteúdos digitais, de forma que os
mesmos envolvidos possam se tornar atores e produtores desses conteúdos.
Portanto, o blog pode estar auxiliando no desenvolvimento de competências
escolares, bem como favorecer o desenvolvimento do educando, estimulá-lo nos
debates dentro do próprio ambiente, incentivá-lo à pesquisa, a selecionar as
informações a serem postadas e à construção de seu conhecimento de mundo.
Partindo do pressuposto sobre a produção escrita em blog, Gomes (2005, p.
313) afirma que “ao constituírem espaços de publicação na web os blogs permitem
tornar visível a produção escrita dos seus autores dando assim “voz” às suas ideias,
interesses e pensamentos”. Assim sendo, percebemos na proposta que ser autor e
difusor de conteúdos na web 2.0, considerando o criar e o gerenciar um blog nos
incita à reflexão, partindo da seguinte premissa: como os jovens percebem essa
produção escrita dentro do blog?
Considerando o contexto da questão de pesquisa e posterior análise, no item
abaixo, segue o percurso metodológico onde apresentamos a metodologia da
oficina de blog do Proi-Digit@l, assim como, traçamos a coleta e analisamos a
partir das construções de alguns dos blogs produzidos e as produções escritas
publicadas por jovens participantes do referido processo de construção e
socialização.
1. Referencial Teórico
2.1 Produção Escrita
Pensar a produção escrita em blogs é também refletir o contexto de uma
plataforma onde o espaço de postagens deve ser atrativo para o usuário e que
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necessita de clareza na produção, objetividade nas discussões, opiniões,
comentários e produções de diversas formas; considerando o uso dos aplicativos e
ferramentas que o blog dispõe, assim como, suas possibilidades de
compartilhamentos nas redes sociais via internet e desafios para produção escrita
individual e/ou coletiva, tornando no processo, os participantes em autores na
imersão das redes digitais. Assim sendo, compreende-se que para ser possível um
uso consciente da plataforma blog, no contexto da produção escrita, é preciso que
sejamos alfabetizados e letrados digitalmente, como afirma Buzato (apud SILVA,
2005, p. 33),
(...) não se trata apenas de ensinar a pessoa a codificar e decodificar a escrita, ou mesmo usar teclados, interfaces gráficas e programas de computador, mas de inserir-se em praticas sociais nas quais a escrita, mediada por computadores e outros dispositivos eletrônicos, tem um papel significativo (Buzato apud SILVA, 2005, p. 33).
Portanto, é imprescindível que o sujeito envolvido no processo tenha a
construção desses dois processos cognitivos digitais confirmados, viabilizando
assim, uma estrutura consciente para que os conteúdos sejam produzidos de forma
clara e precisa.
A produção de conteúdos em mídias digitais sociais pode se tornar um
processo de construção “inútil”, se as ferramentas não forem utilizadas e/ou
exploradas nas dimensões, também, proposta para construção e/ou produção do
blog. Conforme Schmidt (2009 apud AMARAL; RECUERO; MONTARDO, 2009, p. 30)
os blogs são
(...) websites frequentemente atualizados onde o conteúdo (texto, fotos, arquivos de som, etc.) são postados em uma base regular e posicionados em ordem cronológica reversa. Os leitores quase sempre possuem a opção de comentar em qualquer postagem individual, que são identificados com uma URL única (SCHMIDT,2009 apud AMARAL, RECUERO, MONTARDO,2009,p.30).
Desta forma, percebemos os desafios na produção escrita mesmo em meio a
tantas possibilidades disponíveis na plataforma, pois qualquer que seja a postagem
será necessário considerar o contexto e a importância de uma prática em redes na
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qual exista uma reflexão em face dos objetivos da leitura e da escrita; o que
direciona o sujeito a selecionar bem as informações que serão publicadas no blog.
O blog em si propicia a escrita, portanto, é uma “ferramenta capaz de gerar
uma estrutura característica, constituída enquanto mídia, ou seja, enquanto
ferramenta de comunicação mediada pelo computador” (AMARAL; RECUERO;
MONTARDO, 2009, p. 31). Sendo assim, sua característica principal está atrelada à
escrita que “é parte integrante da interação entre pessoas e do processo de
interpretação dessa interação” (SOARES, 2002, p. 145). Assim, compreendemos que
os blogs são plataformas com diversas possibilidades de ferramentas para
comunicação e expressão dos usuários, o qual proporciona um ambiente favorável
para a escrita e produção de conteúdos.
Partindo do contexto da produção escrita é necessário refletir o
compartilhamento dos seus gêneros textuais, assim, no item a seguir
contextualizamos a discussão blog numa perspectiva de refletir a escrita
considerando as possibilidades e desafios das redes digitais.
2- Blog: Refletindo a Produção Escrita
Conforme já refletido o conceito de blog como sendo uma ferramenta que
proporciona a produção de diversos conteúdos digitais bem como a produção de
conteúdos escritos, considerando que se trata de uma página em branco na web
onde seus usuários podem postar o que desejarem. A blogosfera é composta pelos
mais diversos tipos de assuntos e gêneros textual que varia entre uma página
pessoal, em formato de diário, atualizada a qualquer momento, trazendo links
para outros blogs do dia-a-dia ou temas específicos, como cinema, arte e música
possibilitando ainda a interação entre as pessoas através dos comentários deixados
ao final de cada postagem. Essa abertura que o blog oferece pode ser utilizado
como um espaço para troca de conhecimentos e informação.
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O Blog ainda é novidade enquanto recurso de aprendizagem, no entanto, está
crescendo cada vez mais o número de docentes que o utilizam como instrumento
pedagógico. Devido a sua interface o blog pode servir como um recurso pedagógico
para estimular a produção de conteúdos escritos. O professor ao apresentar o
recurso do blog para a sala de aula pode contribuir para que a capacidade de
comunicação dos alunos aumente, bem como, contribuirá para o desenvolvimento
do pensamento critico, na medida em que ocorrem as intervenções há
contribuições, debates e discussões proporcionando dessa maneira o ensino-
aprendizagem. O blog pode proporcionar diversão além de fazer com que os alunos
exercitem a leitura, a escrita e a criatividade. Nesta direção Moresco e Behar
(2006) afirmam;
Os blogs tornam-se um espaço educacional privilegiado, pois permite a reflexão sobre a leitura e a escrita do que é postado pelo autor, bem como sobre as mensagens postados pelos visitantes, que colaboram e cooperam formando uma comunidade aberta e receptiva. Desta forma, são ampliadas as possibilidades de um diálogo mais autêntico e profundo com outras
formas de saber, outros pontos de vista favorecendo a interdisciplinaridade, ajudando a construir redes sociais e redes de saberes (MORESCO; BEHAR, 2006, p. 3).
O blog é uma ferramenta dinâmica que permite uma comunicação fluente
entre o autor da postagem e o leitor, que através do comentário sobre o que foi
postado, expressa suas opiniões, e o autor da postagem têm a oportunidade de
refletir sobre as suas colocações e analisar se o que ele produziu foi compreendido
pelos leitores, podendo assim, modificar ou enriquecer ainda mais a sua produção.
Segundo Schöninger e Sartori (2012, p. 7) “O blog é um dispositivo de
comunicação potencialmente interativo, porque permite a coautoria, a troca de
papéis entre emissor e receptor e a mensagem se torna uma construção conjunta
entre ambos”. Portanto, em um blog é possível que o professor crie oportunidades
para desenvolver a escrita dos alunos de uma forma que não o restringe ao modo
de aprender tradicionalmente com lápis e caderno, mas o deixa livre para se
expressar, criar seus próprios textos, interagir com outras pessoas, expressar as
opiniões e desenvolver o senso crítico.
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Considerando a produção escrita de conteúdos em blogs, o texto a seguir traz
elementos de coletas e análises etnográficas em redes; traçando um percurso
metodológico até os resultados encontrados.
2. Percurso Metodológico
3.1- Pesquisa Qualitativa Etnográfica
O percurso metodológico da pesquisa realizada trilhou um delineamento
considerando a abordagem qualitativa e, para coleta e análise dos dados utilizamos
a pesquisa etnográfica na plataforma blogger, considerando o contexto vivenciado
por jovens para a produção de blog no laboratório de informática de uma escola
pública de ensino, objetivando produções de conteúdos para postagem no blog
através de atividades presenciais.
Partindo do pressuposto que a metodologia desempenha um papel
fundamental para condução de uma pesquisa, pois é ela a responsável por nortear
os critérios necessários em suas especificidades e o referencial teórico a ser
utilizado; utilizamos como referencial para contextualizar o processo da pesquisa
Minayo(1993) que considera a pesquisa no seguinte contexto;
pesquisa é uma atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre a “teoria e os dados” (MINAYO, 1993, p. 23).
Segundo Minayo (2009, p. 21) em se tratando da pesquisa qualitativa; “o
universo da produção humana que pode ser resumido no mundo das relações, das
representações e da intencionalidade e é objeto de pesquisa qualitativa
dificilmente pode ser trazido em números e indicadores quantitativos”.
Para compreendemos o processo da pesquisa etnográfica, partimos da
concepção de que o objetivo de uma etnografia virtual se encontra na
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compreensão dos processos de comunicação em redes e o desenvolvimento no
percurso necessário, cujo propósito é possível identificar condições de mudanças e
desenvolvimento das potencialidades dos sujeitos envolvidos no processo de
aprendizagem.
Assim sendo, o percurso guiado seguiu todos os pontos necessários para
confirmamos a pesquisa como descrito abaixo nos subitens.
3.2 Realização das Oficinas
As oficinas foram realizadas em uma escola municipal da região
metropolitana do Recife, localizada na RPA-3 no bairro de Casa Amarela que
atende a crianças, jovens e adultos da comunidade. Os participantes foram
estudantes que cursavam do 7º ao 9º ano, turnos manhã e tarde. No período de
maio a junho de 2012, esses alunos participaram das oficinas de vídeo, áudio
digital, animação e blog, promovidas semanalmente pelo Programa de Extensão
Proi-Digit@l. A oficina de blog iniciou os trabalhos do Programa no laboratório de
informática da escola, de modo que os estudantes criassem os blogs e os
alimentassem com postagens referentes as suas participações nas oficinas, desde a
criação, as primeiras ideias, até a finalização dos produtos e divulgação dos
mesmos na web, seja num canal do Youtube como também no próprio blog. A cada
semana os jovens participavam de uma oficina. Além de contar como foi essa
experiência, os jovens poderiam postar sobre as temáticas relacionadas ao blog
criado.
Ao todo foram três dias de oficinas de blog, com nove blogs, quatro blogs
foram individuais e cinco foram blogs coletivos, produzidos durante o percurso. Os
dois primeiros dias foram trabalhados separadamente por turno, no qual os alunos
aprenderam o que era um blog, criaram um e-mail, para os que não tinham conta,
esqueceram a senha e/ou os que iriam fazer blogs coletivos, para terem o mesmo
login e senha de acesso. Outro ponto do primeiro momento foi o de fazer um blog
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na plataforma Blogger (www.blogger.com) e como postar os conteúdos produzidos,
dentre outras temáticas envolvidas no universo blog, como o layout de tela,
esquema de cores, discussões sobre internet, autoria e ética. Essas oficinas
ocorreram num horário diferente dos que os alunos tinham aula. Os alunos da
manhã participaram da oficina no horário da tarde, e vice-versa. Houve esse
momento de separação dos jovens para não interferir nas aulas dos mesmos. Feito
esses primeiros momentos os jovens participaram das outras oficinas do Proi-
Digit@l, citadas anteriormente.
No último dia, num sábado, foi realizada com os estudantes uma roda de
conversa com os alunos para saber quais as impressões que tiveram sobre as
oficinas e os conteúdos produzidos durantes esse período e postagens referentes a
essas impressões, objetivando avaliar as oficinas realizadas e também analisar
quais as concepções dos jovens envolvidos sobre as produções escritas de
conteúdos digitais nas oficinas desenvolvidas no programa de pesquisa do Proi-
Digit@l da UFPE, particularmente na oficina de blog, a partir da produção feita
pelos jovens.
3.3 Análise das Postagens
A partir das postagens dos jovens identificamos alguns desafios e algumas
possibilidades referentes às suas concepções sobre as produções escritas, alguns
desses foram exemplificados com extratos de postagens de alguns dos blogs
produzidos na oficina, o primeiro, o B1, é um blog individual cujo tema era sobre
frases, e o blog coletivo B2, era sobre os acontecimentos da escola, e B3, falando
sobre rock e outros estilos de música relacionados.
No quesito de desafios, um dos que foram identificados foi o da plataforma
ser considerada difícil de ser trabalhada: alguns jovens acreditavam que era
difícil produzir, assim como, descobrir os recursos disponíveis no blog por se tratar
de uma página da web portanto, deveria ser paga, dificultando assim, a descoberta
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e sendo vista como um desafio. Na tela que segue, podemos constatar a produção
no blog.
Tela 1: Página do blog B1
Disponível em <http://amandaglee.blogspot.com.br/> Acesso em:
13 nov. 2012
Na postagem do B1, nas últimas linhas, é expressada a crença de que era
difícil a produção de um blog e ao utilizar foi descoberta a facilidade do manuseio,
pela a blogueira específica. Ao falar do sucesso dos blogs, Gomes (2005) destaca
que essas páginas chamaram a atenção dos usuários por serem de fácil manuseio e
fácil construção, sem ser necessário um conhecimento aprofundado de construção
de sites. Além disso, a plataforma trabalhada, Blogger, possui ferramentas de
edição, troca de layout, aplicativos gratuitos que podem ser utilizados a qualquer
momento, podendo os jovens se sentirem a vontade para mudar quando quiserem.
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Outro desafio foi que a internet não favoreceu, em alguns momentos, na
produção. A velocidade disponível no laboratório, em alguns momentos, impediu
que os jovens postassem seus conteúdos. Podemos perceber esse indicador ao
verificar os períodos das postagens dos blogs, em contraponto com a proposta, de
publicar as experiências das oficinas participadas. Alguns deles, ao perceberem os
problemas com a internet na escola, afirmavam que isso acontecia em outros
momentos, ou se sentiam desmotivados a continuar ou que eles postariam em outro
momento, porém isso não ocorreu. Alguns desses relatos de participações e
aprendizagem nas oficinas ocorreram no último encontro, e foram publicados após
a roda de conversa. Um outro relacionado a desafio foi o de muitos jovens
esquecerem a senha de acesso ao blog, por conta disso não puderam postar
durante os períodos das oficinas de video, áudio digital e animação. Apesar dos
mesmos terem anotado e alguns dos blogs serem coletivos, ou seja, mais de um
aluno anotou o mesmo login e senha, ainda houve essa dificuldade. Acreditamos
que alguns deles, em especial os dos blogs coletivos, ao criar um novo e-mail e
senha para o grupo, deixaram de usar o seu padrão de senha habitual por um novo
e isso dificultou o lembrar os acessos.
Em paralelo a isso, por muitos desses jovens possuírem perfil na rede,
acreditamos que por estarem mais habituados a estar em redes sociais como
Facebook, Twitter, redes sociais em que o fluxo de publicação de posts, tuítes,
chegam a ser mais rápidos e de maior quantidade do que os de um blog, até mesmo
porque a própria proposta dessas redes sociais estimulam o usuário a tal
procedimento. Diante disso esses jovens possam ter postado essa experiência em
publicações curtas, comentários com os colegas e não sentiram a vontade de
publicar esse tipo de atividade no blog. Identificamos esse ponto como mais um
desafio, pois os mesmos entraram em contato com a ferramenta blog, para
acrescentar uma função de blogueiro, de postar conteúdo, as redes sociais a qual
eles já pertenciam é mais significativa, e a dinâmica do blog foi nova e que eles
poderiam se habituar/participar com o tempo. No blog B1 podemos perceber que
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outras postagens relacionadas ao tema do blog, que era sobre frases, foram
publicadas após a oficina, pois houve uma vontade de publicar no blog, que já lhe
pertencia e que iria postar no momento que desejasse.
Dentre as possibilidades destacadas durante a oficina, uma foi a de, apesar
da velocidade da internet não favorecer em alguns momentos, as orientações e
produções aconteciam independente desse desafio, realizando novas orientações
para o processo de produção e ideias favorecendo a aprendizagem do sujeito. Em
alguns momentos as postagens eram iniciadas num editor de texto para depois ser
transferida e complementada no blog. Como exemplo de postagem que passou por
esse processo, apresentamos abaixo a figura 2, trazendo um extrato da postagem
que resume alguns momentos das oficinas vivenciadas pelo grupo.
Tela 2: Página do blog B2
Disponível em <osestudiososdonilo.blogspot.com.br>. Acesso em: 02 nov. 2012
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Dentre esse momento de criar a postagem e poder postar, alguns pontos
foram discutidos e lembrados aos jovens, como estimulá-los a falar mais das
oficinas, trazendo elementos que possam dar mais informações ao leitor sobre o
assunto abordado. Foi aproveitado esses momentos de dificuldade no acesso a
internet para relembrar os jovens discussões ocorridas no primeiro momento da
oficina de blog, como a harmonia das cores da página com a postagem, autoria de
imagens exibidas, envio do vídeo produzido pelo grupo, entre outros.
Outra possibilidade destacada, a produção de conteúdos e elaboração da
plataforma era socializado em grupos e/ou individuais, contribuiu para evitar, em
determinados momentos, ideias repetitivas contribuindo, assim, para o processo
criativo dos sujeitos envolvidos. Ao escolher o tema dos blogs coletivos, os alunos
discutiam entre si para conseguir um consenso e depois era socializado para os
demais participantes, surgindo temas distintos como gravidez na adolescência,
rock, amor, notícias da escola. Podemos perceber a variedade de temas e assuntos
para cada um, podendo esses jovens explorar cada qual a sua maneira.
Outra possibilidade destacada foi que algumas das ferramentas disponíveis
no blog são habituais aos jovens, como inserir vídeos, imagens. Como exemplo,
apresentamos a Figura 3.
Tela 3: Página do blog B3
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Disponível em < aondarock.blogspot.com.br >. Acesso em: 02 nov. 2012
Um dos jovens desse grupo tinha perfil numa rede social, já destacada
anteriormente, e ao descobrir que podia inserir vídeos no blog assim como publicar
na rede social, postou vários vídeos referentes ao tema do blog, o rock, assim como
também foi postado o vídeo produzido por eles na oficina de vídeo, relacionado ao
tema do blog do grupo. Um outro ponto apresentado como desafio nesse trabalho
pode estar relacionado em parte com essa possibilidade e exemplificada pelo B3.
Pois a dinâmica das redes sociais que os jovens fazem parte pode influenciar em
como esses utilizavam e utilizam o blog. Nesse exemplo, no B3 há postagens curtas,
com inserção de vídeos e postagens com descrições curtas, procedimento feito, em
sua maioria, nas postagens de redes sociais, por estimularem uma dinâmica mais
rápida de postagens curtas seja pelo número de caracteres ou
sintetizar/representar uma situação por meio imagens, vídeos, frases. Nesse ponto
o B3 possui frases curtas e vídeos relacionados a rock por ser o tema do blog.
Permanece a proposta de postagens relacionadas ao tema, sejam essas divulgações
de outros trabalhos, produções do grupo – como o vídeo produzido na oficina -,
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postagens curtas ou longas, de acordo com a preferência desses jovens. Porém na
maioria dos momentos o grupo se concentrou mais na postagem de vídeos do que
no contar a experiência de participação nas oficinas.
Assim como os pontos referentes ao uso das redes sociais, considerando os
desafios e possibilidades, acreditamos que por mais que tenha sido apresentado e
discutido os desafios e as possibilidades de forma separada foram no intuito de
melhor visualizar os pontos encontrados e discuti-los, pois percebemos que eles se
complementam em alguns momentos e possibilitam novas formas de trabalhar as
propostas feitas aos participantes. Como a velocidade da internet possibilita um
trabalho com um editor de texto offline e relembra pontos discutidos no primeiro
dia da oficina de blog, percebermos que as diferentes dinâmicas das redes sociais
influenciam, de certa forma, a percepção e participação do jovem no contexto do
blog. Não podemos ver os elementos da cibercultura de forma separada, pois os
sujeitos e suas dinâmicas estão presentes e são ramificados na rede a outros
usuários, contextos.
Considerações Finais
A dinâmica do blog inserida na cibercultura faz com que seus usuários, sejam
eles leitores e/ou blogueiros, estejam em contato com novas representações,
podendo estas serem relacionadas com suas outras vivências. O trabalho aplicado
com esses jovens, participantes da oficina de blog do Proi-Digit@l, nos fez perceber
que sua inserção na cibercultura influencia e reorganiza seus hábitos em outros
contextos cibernéticos, assim como seus conhecimentos prévios auxiliam na
apropriação de uma informação e aprendizado de um novo conteúdo. Por mais que
o blog seja desconhecido a eles, não no sentido de nunca ter visto, mas de muitas
vezes não saber que aquela página visitada era um blog e/ou não conhecer o blog
na perspectiva de poder ser um criador/gerenciador daquela página, assim
percebeu-se que a apropriação do trabalho foi realizada a partir do que eles já
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sabiam, organizados numa única plataforma. Utilizar a experiência em escolher
vídeos, imagens, criatividade para relacionar cores, escrever textos, facilitaram de
certa maneira, no trabalho de conhecer a plataforma, ressaltando que o exercício
de trabalhar com a mesma auxiliará numa melhor apropriação e aprendizagem.
Embora o desafio ocorrido durante a construção e descoberta da plataforma
tenha ocorrido, as possibilidades no processo de produção, elaboração e
colaboração de todos para todos em redes contribuiu de forma significativa para o
processo de inclusão dos sujeitos no contexto e proposta do programa em tela,
atingindo assim, o objetivo no processo. Os participantes conheceram o blog e os
que pensavam que era difícil criar, conforme destacado no B1, foi um desafio
superado e alguns procedimentos como inserir imagens e vídeos são atividades que
os jovens já fazem em rede, podendo elas serem aproveitadas no blog.
Percebemos que as dinâmicas de redes sociais podem influenciar na
dinâmica do blog até mesmo porque a maioria dos nossos jovens tem perfis nelas e
esses, após a oficina, passaram a ter um blog. Não vemos isso como algo negativo,
pois o jovem, assim como qualquer usuário, pode utilizar de sua página, seja ela
numa rede social ou no seu blog, de acordo com a dinâmica que escolher. No caso
do blog, pode ser escolhido o tema e suas postagens serem curtas, longas, numa
frequência linear ou não, ressaltando que as escolhas referentes à alimentação do
blog devem ser pensadas, repensadas e discutidas tanto no papel de blogueiro, por
ser o autor da página, quanto no leitor, se é pretendido que o blog seja uma página
pública, podendo ser acompanhada por usuários familiarizados na proposta.
Foi visto também que problemas com relação à internet podem ter
influenciado na produção escrita e aprendizado dos jovens. Na oficina houve
momentos de aproveitar esses momentos para trabalhar e relembrar discussões
com o grupo assim como em outros momentos, considerando que os jovens se
sentiram desmotivados em realizar a construção proposta devido a essa situação,
infelizmente, ocorrida com determinada frequência nesse período. A tecnologia
pode falhar, não só em ambientes escolares como também em outros espaços, e
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nem sempre as condições de trabalho serão favoráveis ao processo. Pensar em
alternativas para lidar com esses imprevistos pode favorecer e melhorar o trabalho.
Possibilidades e desafios caminham juntos no contexto analisado. A partir
das análises e reflexões sobre a temática acreditamos que o trabalho foi realizado
e a proposta foi contemplada. Os desafios da rede estão presentes e os jovens
podem se deparar com eles não só no laboratório da escola, como também em
outro espaço, mas acreditamos que eles podem trabalhar o que foi discutido na
oficina, reestruturar de acordo com seus interesses, e que esses possam contribuir
para o seu desenvolvimento, seja no espaço escolar ou em outro contexto, em prol
de si e de outros sujeitos.
Referências
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____________________________ ¹ Mestranda na Linha de Pesquisa Educação Tecnológica, Pedagoga e oficineira do Proi-blog do Proi-Digit@l- UFPE ² Mestranda na Linha de Pesquisa Educação Tecnológica, Especialista em Formação de Professores, Pedagoga, Orientadora
de Artigos e oficineira do Proi-blog do Proi-Digit@l- UFPE ³ Professor Dr. do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica-DUMATEC, na Linha de Pesquisa
Educação Tecnológica e Coordenador do Proi-Digit@l-UFPE 4 Pedagoga e oficineira do Proi-blog do Proi-Digit@l- UFPE
5 Graduanda em Pedagogia e oficineira do Proi-blog do Proi-Digit@l- UFPE
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