palestra roberto sainz - seminário ancp 2014
Post on 07-Jun-2015
421 Views
Preview:
TRANSCRIPT
Maciez da carne:
Genética X Ambiente
Roberto D. Sainz, PhD
University of California, Davis – CA - USA
Palestra apresentada no 20º Seminário de Criadores e Pesquisadores, Ribeirão Preto - SP, 25 de
abril, 2014
Pauta
• Introdução
– o que é maciez da carne?
– a importância da maciez
• Estrutura da carne
• Tecido conjuntivo
• Bioquímica da maciez
• Efeitos de raça
• Efeitos genéticos
• Efeitos ambientais
– Nutrição
– Stress x Temperamento
– Manejo pós abate
• Conclusões
A relação entre a maciez e a
palatabilidade da carne
2
4
6
8
3 4 5 6 7
Esco
re m
acie
z (
1 -
9)
Escore palatabilidade (1 - 9)
y = -1.31 + 1.24 x
r2 = .86
Maciez - medição
• painel sensorial (subjetivo)
• Warner-Bratzler Shear Force (objetivo)
Carne: maciez
• Shear force conjuntivo
– tecido conjuntivo - colágeno (conteúdo e maturidade)
– variam de acordo com o músculo, a idade, o sexo
• Shear force miofibrilar
– maturação: degradação da estrutura miofibrilar
– proteases e seus inibidores
– pH
• Contração do sarcômero; em casos extremos,
“cold-shortening” (encolhimento)
Shear force miofibrilar
Shear force conjuntivo
y = -0,8432x + 7,9179 R² = 0,5761
2
3
4
5
6
7
8
1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0
Mac
iez, 1
-8
WBSF, kg
Slide adaptado de: Renata Anaruma, UNICAMP
Maciez objetiva e subjetiva
Estrutura da carne
(músculo esquelético)
http://www.mathewsfoods.com/cuts.htm
http://www.scienceofcooking.com/meat/slow_cooking1.htm
Características associadas à maciez da carne
0
1
2
3
4
5
6
7
Força decisalhamento,
kg/cm
Indice defragmentação
miofibrilar (/10)
Colágeno, mg/g Solubilidade, %
Macia Média Dura
a
b
c
a
b
c
a
b b
Fonte: Culler et al., 1978
Maciez – tecido conjuntivo
Rede endomisial no músculo bovino após extração
dos componentes miofibrilares com NaOH
Fibras de colágeno no epimísio do músculo bovino
Músculo semitendinosus bovino cozido até 80℃ e
puxado em direção perpendicular às fibras
Maciez – tecido conjuntivo
Efeito de idade e cruzamento
Bioquímica da maciez
Carne: maturação
• Degradação da linha Z da miofibrila, aliviando-
se a contração do sarcômero
• Enzimas proteolíticas:
– lisosomos - catepsinas B, D, H, L
– citoplasma - calpaínas (micro e milimolar)
– caspases
• Calpastatina:
– inibidor das calpaínas
– responsável por 40% da variação na maciez
Fragmentação miofibrilar
y = -0.0417x + 6.1087
R2 = 0.5822
1.5
2
2.5
3
3.5
4
40.00 50.00 60.00 70.00 80.00 90.00 100.00
MFI (14d)
WB
SF
kg
(14d
)
Taxa de degradação miofibrilar pós-mortem e força de
cisalhamento
Quantidade de calpastatina no L. thoracis –
carne macia e dura
Fonte: Underwood et al., 2007
Efeitos de raça
Efeitos da genética zebuína na maciez da carne
Nelore Guzerá Canchim Charolês
Força de cisalhamento, kg 14.6a 12.0ab 7.69bc 6.95c
Colágeno, % 3.23 2.63 3.18 3.16
Solubilidade, % 11.0b 10.0b 21.3a 36.1a
Fontes: Norman e Felicio, 1981; Norman, 1982
Diferenças genéticas na qualidade da carne
Raça paterna
Hereford
x Angus
Charolês
Nelore
Suculência (1 a 8) 5.11a 4.94
b 4.81
b
Sabor (1 a 8) 4.81 4.77 4.71
Maciez (1 a 8) 4.72a 4.38
b 4.03
c
Força de cisalhamento, kg 5.60c 6.11
b 7.16
a
Fonte: Wheeler et al., 1996
Variação em maciez entre músculos de raças
taurinas e zebuínas (bifes)
Fonte: Shackelford et al., 1995
L. lumborum
P. major
B. femoris
G. medius
M. semimembranosus
“Seven of the 10 muscles had
lower WBSF (p≤0.05) for Bos
taurus when cooked as steaks,
roasts or both.”
Diferenças entre raças na estrutura do
colágeno
0
10
20
30
40
a a
b
b
% d
es
na
tura
do
< 5
3 °
C
Nelore
Guzera
Canchim
Charolais
Fonte: Norman, 1980
Efeitos da genética zebuína na maturação da
carne
3
4
5
6
7
0 2 4 6 8 10 12
Fo
rça d
e c
isalh
am
en
to,
kg
Dias após o abate
Aberdeen Angus
3/4 Brahman
Fonte: Johnson et al., 1990
Diferenças entre Bos taurus e Bos indicus no
sistema calpaína
Raça
Hereford Brahman
-Calpaína, U/g 0,95a 0,50b
m-Calpaína, U/g 0,73 0,78
Calpastatina, U/g 1,85b 2,40a
Fonte: Wheeler et al., 1990
Efeitos genéticos
Componentes de variância da qualidade
da carne
1 2 3 4 5
1. Calpastatina .65 -.19 .27 .21 -.15
2. Gordura intramuscular -.34 .93 -.27 -.46 .12
3. Força de cisalhamento .50 -.57 .53 .15 -.06
4. Rendimento de carne .44 -.63 .70 .45 -.18
5. Ganho de peso diário -.52 -.04 -.40 -.62 .32
Herdabilidades na diagonal, correlações genéticas e fenotípicas sob
e sobre a diagonal. Fonte: Shackelford et al., 1994.
Projeto OB-Choice - Variação entre touros Nelore na
maciez da carne da progênie
Pai WBSF, kg % > 3,9
1 4.24 71%
2 3.72 25%
3 3.83 37%
4 4.96 71%
5 4.23 42%
6 4.00 42%
7 4.20 53%
8 3.80 33%
9 4.52 56%
10 3.92 45%
11 4.22 53%
12 4.26 75%
13 4.44 73%
14 3.36 25%
Sainz et al., 2005
Efeitos genéticos
• Os efeitos genéticos são produzidos por diferenças
– nos genes (alelos e frequência)
– na expressão gênica → mRNA → proteínas
– nas interações entre os genes
• Ainda há muito o que aprender sobre estes mecanismos
• Alguns candidatos:
– calpaínas
– calpastatina
Polimorfismo CAST / XmnI e maciez da carne
Genótipo WBSF,
kg
Frequência
Nelore Nelore x
Angus
AA 3,54 43,8% 74,6%
AB 3,75 39,5% 25,4%
BB 3,91 16,7% 0,0%
Fonte: Curi et al., 2009
Efeitos de um polimorfismo da calpastatina no
processo de maturação do L. dorsi
Fonte: Schenkel et al., 2006
3,5
4,0
4,5
5,0
5,5
6,0
6,5
0 7 14 21
Fo
rça d
e c
isalh
am
en
to,
kg
Dias de maturação
CC
CG
GG
Efeitos de combinações genéticas entre polimorfismos
da calpaína e da calpastatina na maciez da carne de
gado Nelore
Fonte: Pinto et al., 2010
Efeitos ambientais
Stress x Temperamento
Efeitos de temperamento e stress na maciez
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
15 25 35 45
Velo
cid
ad
e (
m/s
) o
u W
BS
F (
kg
)
[Cortisol], mg/mL
Velocidade
Cisalhamento
Fonte: Vann, 2006
Efeitos do stress pré-abate (choques elétricos)
na qualidade da carne bovina
Fonte: Warner et al., 2007
Efeitos ambientais
Nutrição
Diferenças na maciez da carne entre touros
Nelore com maior ou menor eficiência
alimentar
Alto CAR Baixo CAR P
Colágeno total, mg/g 13,2 12,2 0,5201
Colágeno solúvel, % 14,9 17,7 0,0378
Força de cisalhamento, kg
(7 dias) 3,61 4,22 0,0007
Índice de fragmentação
miofibrilar (7 dias) 51,3 48,1 0,4782
Características de carcaça de qualidade de carne de
novilhos Nelore com alto, médio e baixo CAR
Variável CAR
DP Alto Médio Baixo
Gordura subcutânea final, mm 5,21 5,14 4,93 1,84
Escore de marmorização 173,3 174,0 196,5 60,0
Área do músculo Longissimus,
cm2 69,74 69,73 71,47 6,23
Força de cisalhamento, kg 5,07 4,78 4,86 1,43
Índice de fragmentação miofibrilar 25,93 25,00 24,43 8,15
Fonte: Farjalla, 2009
Efeitos ambientais
Manejo pós abate
Aumento na maciez durante a maturação
- efeito da eletrificação
Fonte: George et al., 1980.
0
2
4
6
8
10
12
14
0 7 14 21Dias após o abate
Fo
rça
de
cisa
lha
men
to,
kg
▲, sem eletrificação
■, com eletrificação
Suspensão pélvica
http://www.harrismeats.co.nz/tender_hung_beef
Patente: US20070254579A1
Redução na força de cisalhamento pela
suspensão pélvica
Fonte: Ahnstrom et al., 2012
Efeito do encurtamento na maciez do M.
semitendinosus bovino
Fonte: Weaver et al., 2008
Efeito da contração dos sarcômeros na
estrutura do colágeno
Desaparecimento da troponina T no M.
semitendinosus durante a maturação
Fonte: Weaver et al., 2008
Efeito da temperatura final de cocção na
maciez da carne
Fonte: Obuz et al., 2004
Conclusões
• A maciez é o fator de qualidade organoléptica mais
importante na palatabilidade da carne
• A mesma tem componentes conjuntivo e miofibrilar
• Estes variam de acordo com o genoma do animal, a
sua idade, a alimentação, e o manejo pré- e pós-
mortem
• As raças zebuínas, em média, produzem carne
menos macia que as raças taurinas, porém existe
muita variação genética dentro de cada raça
• Novas técnicas moleculares permitem a
identificação dos genes responsáveis pelas
diferenças na maciez
Pontos Críticos para o Controle de Qualidade
Concepção
Consumidor
Genética/Produção
Nutrição/Ambiente
Fatores pré-abate
Fatores pós-abate
Resfriamento
Processamento/valor agregado
Método culinário
Do capim à carne:
Que coisa bela!
Roberto D. Sainz
rdsainz@ucdavis.edu
Muito obrigado!
top related