oficina pedagÓgica de cartografia: uma proposta
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Departamento de Geociências Trabalho de Conclusão de Curso
Andréia Rodrigues Pandim
OFICINA PEDAGÓGICA DE CARTOGRAFIA: UMA PROPOSTA METODOLOGICA PARA O ENSINO DE
GEOGRAFIA
Londrina
2006
ANDRÉIA RODRIGUES PANDIM
OFICINA PEDAGÓGICA DE CARTOGRAFIA: UMA PROPOSTA METODOLOGICA PARA O ENSINO DE
GEOGRAFIA
Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Estadual de Londrina, como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Geografia. Orientadora: Profa. Dr.ª Mirian Vizintim F. Barros.
Londrina/PR 2006
Andréia Rodrigues Pandim
OFICINA PEDAGÓGICA DE CARTOGRAFIA: UMA PROPOSTA METODOLOGICA PARA O ENSINO DE
GEOGRAFIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação, em Geografia, da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Geografia.
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________ Prof. Dr.ª Mirian Vizintim F. Barros
___________________________________ Prof.ª Dr.ª Eloiza Cristiane Torres
___________________________________ Prof.ª Ms. Roseli Maria de Lima
Londrina, 07 de Dezembro de 2006.
Dedico este trabalho para todos aqueles
que acreditam na educação brasileira,
buscando desta maneira, as melhores
formas de ensinar.
AGRADECIMENTOS
A minha família que com amor e dedicação deram-me base para a minha
formação pessoal.
Ao meu companheiro Marcelo Alvim Malta, que participou e colaborou nesta
caminhada, sempre paciente e amoroso, não permitindo minha desistência.
As companheiras de república Alcione, Danielli, Fernanda, Gracielli e Priscila.
Aos colegas de sala e amigos presentes nesta jornada, Ana Luísa, Geraldo,
Henrique, Regiane, Renata G. e Renata S.
As professoras Jeani D. P. Moura e Marta R. F. de Oliveira, que muito me
ensinaram.
A Prof. Dr.ª Mirian Vizintim F. Barros, que com grande competência me
orientou nesta pesquisa.
A Prof. Dr.ª Rosely Sampaio Archela, no qual fundamentou a principal idéia
deste trabalho com sua entrevista.
Enfim, a todos aqueles que de alguma forma colaboraram na conclusão deste
curso.
PANDIM, Andréia Rodrigues. OFICINA PEDAGÓGICA DE CARTOGRAFIA: UMA PROPOSTA METODOLOGICA PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA. 2006. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Graduação em Geografia – Universidade Estadual de Londrina.
RESUMO
Esta pesquisa relata a importância da utilização das oficinas pedagógicas, como forma de superação da problemática existente, no que diz respeito aos recursos didáticos utilizados em sala de aula. É preciso criar e planejar situações para que o aluno compreenda e participe ativamente dentro do espaço vivido. Assim, desenvolver as noções cartográficas para os alunos do ensino fundamental, a partir de oficinas, é de suma importância na construção do conhecimento. Palavras-Chave: Geografia, Cartografia e Oficinas de Ensino.
PANDIM, Andréia Rodrigues. OFICINA PEDAGÓGICA DE CARTOGRAFIA: UMA PROPOSTA METODOLOGICA PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA. 2006. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Graduação em Geografia – Universidade Estadual de Londrina.
ABSTRACT
This research tells the importance of the use of the pedagogical workshops, as
form of problematic overcoming of the existing one, in what it says respect to
the used didactic resources in classroom. She is necessary to create and to
plan situations so that the pupil understands and participates actively inside of
the lived space. Thus, to develop the cartographic slight knowledge for the
pupils of basic education, from workshops, is of utmost importance in the
construction of the knowledge.
Keywords: Geography, Cartography and Workshops of Education.
LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Professores que adotam o livro didático............................................... 41 Gráfico 2 - Utilização do livro didático como material principal para as atividades ou como apoio....................................................................................... 41 Gráfico 3 - Professores que desenvolvem atividades que não estão nos livros didáticos ................................................................................................................. 42 Gráfico 4 - Professores que utilizam mapas dentro da sala de aula. ..................... 43 Gráfico 5 - Utilização dos recursos de informática na construção de mapas ......... 44 Gráfico 6 - Utilização de fotografias aéreas e imagens satélites. ........................... 45 Gráfico 7 - Realização de trabalhos de campo....................................................... 46 Gráfico 8 - Professores que utilizam atividades do tipo oficina .............................. 47 Gráfico 9 - Dificuldades para a criação de uma oficina .......................................... 47 Gráfico10 - Professores que utilizam a oficina de Cartografia................................ 48
SUMÁRIO
1 - INTRODUÇÃO .....................................................................................................10 2 - MATERIAL E MÉTODO.......................................................................................12 3 - A ESCOLA NA ATUAL SOCIEDADE .................................................................13 3.1 - O Ensino da Geografia na Atualidade...............................................................15 3.2 A questão da atuação do professor de Geografia em sala de aula.....................17 4 - CARTOGRAFIA E ENSINO.................................................................................21 4.1 - A Importância da Cartografia para a Geografia.................................................21 4.2 - A Cartografia nas séries do Ensino Fundamental .............................................25 4.3 - Análise dos conteúdos de Cartografia nos livros didáticos ...............................29 4.4 - Os mapas: ler e interpretar................................................................................34 5 - RECURSOS DIDÁTICOS UTILIZADOS NO ENSINO DE GEOGRAFIA ............39 5.1 – Os livros didáticos ............................................................................................39 5.2 – Os recursos didáticos: mapa, computador, fotografia aérea e imagens de satélites. ....................................................................................................................42 5.3 - Atividades: trabalhos de campo e oficinas. .......................................................45 6 – AS OFICINAS DE CARTOGRAFIA NO ENSINO DE GEOGRAFIA ..................50 6.1 – Um exemplo de Oficina Pedagógica no Ensino de Noções Básicas de Cartografia.................................................................................................................54 7 - CONSIDERAÇÕES .......................................................................................... . .71 REFERÊNCIAS.........................................................................................................73 APÊNDICE................................................................................................................75
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1 - INTRODUÇÃO
Analisar a questão das escolas na atualidade, ou seja, dentro
do processo de mudanças políticas, sociais e econômicas, torna-se necessário
uma vez que o ensino realizado dentro das escolas e os conteúdos
trabalhados em sala de aula garantam ao indivíduo entender sobre sua
realidade.
A Geografia é entendida como uma ciência social e por sua
vez está inserida dentro dos programas oficiais de ensino. Seu objetivo,
portanto, é explicar e compreender as realidades dos fatos que ocorrem na
sociedade. Sendo assim, dentro de uma prática educativa, a Geografia é uma
ferramenta capaz de integrar o aluno ao meio em que vive conhecendo-o
melhor.
Embora este seja o maior objetivo desta disciplina, perpetua-
se a dificuldade dos professores de encontrar novas estratégias de ensino.
Neste contexto, os conteúdos necessários para a formação do indivíduo estão
sendo trabalhados em sala de forma descritiva, sem grandes questionamentos
das relações sociedade-espaço.
Compreender o espaço em que se vive requer o aprendizado
de alguns conceitos básicos e fundamentais, com os quais a Geografia
trabalha. Dessa forma, os conteúdos relacionados à Cartografia são
fundamentais desde as primeiras etapas do ensino, uma vez que este prioriza
as diferentes formas de representação do espaço geográfico.
Assim, a Cartografia é um instrumento necessário para o
indivíduo em relação ao seu cotidiano. É por meio de seu estudo que este
passa a desenvolver as noções de orientação e localização no espaço. Saber
localizar-se e entender a dinâmica construtiva do espaço refere-se assim um
desafio metodológico para sua definição.
Construir conceitos relacionados à Cartografia e desenvolver
habilidades de reflexão sobre os processos vivenciados na cotidianidade,
passa a ser um grande desafio ao professor. Assim, os conceitos de
Cartografia necessitam de atenção especial, não devendo o professor ficar
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pautado apenas nos referenciais teóricos apresentados nos livros didáticos,
mas em explorar estes conteúdos de maneira que os alunos não tenham
dificuldades em produzir e ler mapas.
É nesta perspectiva que esta pesquisa foi desenvolvida, tendo
como principal objetivo, propor aos professores de Geografia, uma diferente
forma de aprendizado dos conceitos Cartográficos, que são as oficinas. Estas
atividades têm como proposição uma nova didática de ensino, desvinculando
o professor dos métodos tradicionais.
As oficinas de ensino de Geografia e Cartografia são recursos
que oferecem condições para um melhor aprendizado. Assim sendo, é uma
sugestão didática para os professores e alunos que proporcionará
oportunidades de realizar experiências, de forma a construir cada conceito
gradativamente e estimular a integração e a participação efetiva de ambos na
construção do conhecimento.
Neste trabalho discuti-se inicialmente a questão da escola na
atual sociedade e o ensino de Geografia. Posteriormente relaciona-se a
importância da Cartografia na Geografia, sobretudo no ensino desta ciência.
No capitulo seqüencial, fundamentam-se as idéias dos capítulos anteriores
sobre ensino, analisando os recursos didáticos utilizados pelos professores em
sala de aula.
No capitulo cinco deste trabalho, a questão das oficinas
pedagógicas é discutida, buscando conceituar esta atividade, bem como
analisar sua importância no ensino de Cartografia para a Geografia. Ainda
dentro desta discussão, apresenta-se uma oficina pedagógica de Cartografia,
elaborada por Miriam V. F. de Barros, Rosely S. Archela e Marquiana de F. V.
B. Gomes, para os professores de Geografia, para que estes possam utilizá-la,
caso desejem em parte ou na totalidade.
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2 - MATERIAL E MÉTODO
Para o desenvolvimento deste trabalho, inicialmente foi
realizado um levantamento teórico sobre as seguintes questões: a
problemática da escola inserida em um novo contexto social; o ensino de
Geografia; a questão da atuação do professor em sala de aula; a Cartografia e
o Ensino de Geografia; e, ouso dos livros didáticos.
Para a análise dos conteúdos cartográficos contidos nos livros
didáticos para a 5ª. Série do Ensino fundamental foram escolhidos dois livros:
BOLIGIAN, et al (2001) e VEZENTINI E VLACH (2004), os quais são voltados
para o ensino da Geografia Critica, ou seja, livros que posicionam uma
metodologia crítica para o desenvolvimento dos conteúdos geográficos,
permitindo o aluno conhecer e relacionar o lugar em que está inserido. Nesta
análise procurou estabelecer o conteúdo e a forma que estes são
apresentados, buscando estabelecer um perfil de conteúdo e forma de se
abordar conceitos básicos.
Para verificar a prática das oficinas pedagógicas nas escolas,
elaborou-se um questionário contendo 10 perguntas relacionadas aos tipos de
materiais e metodologias de ensino, utilizados pelos professores de Geografia
da 5ª. Série do ensino fundamental, de escolas públicas e privadas. Os
questionários foram aplicados via documento nas escolas do município de
Londrina, e via e-mail para comunidades cibernéticas de professores de
Geografia.
Objetivando contextualizar o tema “Oficinas de Ensino”, foi
realizado uma entrevista com a Prof.ª e Dr.ª Rosely S. Archela, professora Dra.
do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina –
UEL, responsável pela disciplina de Cartografia Temática e pesquisadora do
tema.
Como a prática de oficinas pedagógicas é uma atividade
pouco utilizada nas escolas, foi inserido neste trabalho um exemplo de oficina
de ensino de Cartografia, elaborada por BARROS (2003), a fim de torná-la
disponível para os professores que a queira realizar na integra ou em partes.
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3 - A ESCOLA NA ATUAL SOCIEDADE
Com o mundo globalizado, a qualidade do espaço e do tempo
caracteriza uma aceleração no ritmo de vida humana. Assim, a sociedade
emerge um novo modo de vida e novos hábitos de consumo.
Kon explica que o fenômeno da globalização é um processo
histórico de internacionalização do capital, que se difundiu com maior
velocidade, a partir das três últimas décadas, devido aos avanços técnicos.
... configurou-se uma nova etapa mais avançada e veloz de transformações tecnológicas e de acumulação financeira, intensificando a internacionalização da vida econômica, social, cultural e política. (KON, 1997, p.63).
A atual economia mundial, não apenas revolucionou a
sociedade, mas também intensificou a acumulação de riqueza, poder e capital.
Assim, reforçou uma formação sócio-econômica capitalista internacional,
deixando diversos países como o Brasil em condições de
subdesenvolvimento.
... a aceleração da globalização, a política econômica de cada país passar a ser grandemente condicionada por fatores externos... (KON, 1997, p.65).
As funções capitalistas mostram uma imposição de constantes
regras e submissão num sentido político, social e ideológico o que caracteriza,
portanto inúmeros problemas sociais, entre eles a distribuição de renda
irregular.
É dentro deste sistema que se discuti um novo sentido para a
educação. Uma educação que dê condições de criar homens que sejam
capazes de pensar, refletir, agir e modificar a sociedade.
Gadotti (2000) em seu estudo Perspectivas Atuais da
Educação, explica que o processo da globalização está mudando a política, a
economia, a cultura, a história e, portanto, também a educação. Neste sentido
a sociedade de um modo geral tem mudado constantemente e com ela é
necessário mudar a escola e o ensino que se faz dentro dela.
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De acordo com Hernández (1998) a escola encontra desafios
frente ao novo quadro social, dentre eles, a necessidade de relacionar e
estabelecer critérios de avaliação; decidir sobre o conteúdo e seus objetivos;
desenvolver as capacidades cognitivas de ordem pessoal e social do aluno e
ainda saber interpretar as opções ideológicas e de configuração do mundo.
O ensino público está defasado e ultrapassado, a
responsabilidade é dividida entre: o governo do Estado que não dá uma
atenção especial à educação, refletindo nos baixos salários dos professores,
desencadeando uma falta de estímulo para estes, a falta de subsídios para
que a escola funcione; os pais que colocam toda a responsabilidade da
educação de seus filhos na escola, ou mais precisamente no professor; e os
próprios professores que acabam por apresentar uma falta de
comprometimento com o seu trabalho, ou seja, falta de ética tanto do
professor, quanto dos funcionários da escola (diretor, coordenador
pedagógico).
A escola tem necessidade de apresentar uma proposta
curricular fundamentalmente política e pedagógica. Deve-se, no entanto partir
do princípio que a escola pretende formar, para elaborar um plano pedagógico
que condiz com a realidade atual.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p.127)
“cada escola tem de ter claro quem são os seus alunos para, a partir daí,
desenvolver um projeto educativo que tenha clareza sobre as questões mais
importantes a serem trabalhadas.”
Analisar a fundamental importância de se constituir um plano
pedagógico que desenvolva uma melhoria na qualidade do ensino fica claro
que é um grande desafio para a escola.
A questão de planejamento e administração dos trabalhos da
escola garante meios para a aprendizagem significativa e efetiva. Assim é
importante a escola receber seus alunos sob um ambiente favorável e
desejável, uma vez que este possibilita o despertar do conhecimento e da
curiosidade em relação ao mundo.
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Dentro desta perspectiva é importante ressaltar os objetivos
educacionais que tendem ser alcançados através da transmissão dos
conteúdos disciplinares. É preciso avaliá-los, no que diz respeito ao que se
ensina e não permitir que este seja o único meio de definir as intenções
educacionais.
Sobretudo é preciso que a escola avalie os aspectos sociais,
políticos e culturais para propor novas ações metodológicas e inovadoras que
viabilizem a aprendizagem dos alunos.
Para o indivíduo além das suas relações familiares e sociais
que permitem uma carga de conhecimentos, sua formação requer ser
construída também dentro da escola, permitindo o desenvolvimento de
conhecimentos e conceitos, capazes de interferir na sua realidade cotidiana.
3.1 - Ensino de Geografia na Atualidade
A Geografia e seus estudos foram marcados pelas diversas
correntes e tendências do pensamente geográfico. Castro (1995) explica que a
Geografia é objetivada via cinco conceitos chave: paisagem, região, espaço,
lugar e território, que tem sido diferentemente conceitualizados, mediante as
transformações ocorridas dentro de sua corrente.
Com o decorrer das mudanças nas correntes filosóficas da
Geografia, no que diz respeito a sua linha de pesquisa e seu objeto de estudo,
notamos sua transformação também dentro do ensino de Geografia.
O ensino tradicional, baseado na idéia de homem-natureza,
sem priorizar as relações sociais, tornou-se insuficiente para explicar a
complexidade do mundo atual. A forte tendência nos estudos regionais,
pautava a Geografia na busca de explicações objetivas e quantitativas da
realidade. O lugar e a região eram sempre vistos como dimensões objetivas
resultantes das interações entre o homem e a natureza.
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Os estudos empíricos da Geografia Tradicional não
resignavam as relações mundiais, de ordem social, política, econômica e
ideológica. Nas palavras de Vesentini:
Uma coisa é certa: o ensino tradicional da geografia – mnemônico e descritivo, alicerçado no esquema “a Terra e o Homem” – não tem lugar na escola do século XXI. Ou a geografia muda radicalmente e mostra que pode contribuir para formar cidadãos ativos, para levar o educando a compreender o mundo em que vivemos, para ajudá-lo a entender as relações problemáticas entre sociedade e natureza e entre todas as escalas geográficas, ou ela vai acabar virando uma peça de museu. (VESENTINI, 2004, p.220)
A mudança na corrente geográfica, ocorreu após a 2ª Guerra
Mundial, através da qual surgiu um novo quadro nas questões sociais e
políticas do mundo, isto porque, o capitalismo tornou-se monopolista e a
crescente industrialização que intensificou a urbanização e o êxodo rural,
reestruturaram uma realidade voltada para uma rede de escala mundial.
A nova realidade do espaço, não poderia ser explicada através
de métodos e teorias descritivas, que, no entanto tinham o intuito de mascarar
ideologicamente o processo de concentração econômica e o monopólio do
comércio internacional.
A Geografia Crítica, segundo Vesentini (2004, p.223), surge na
França e posteriormente em outros países com novas estratégias e novos
conteúdos de ensino (distribuição social de renda, a pobreza e os sistemas
socioeconômicos), ou seja, com estudos voltados para explicações das
relações entre a sociedade, o trabalho, a natureza, etc.
No Brasil a Geografia Crítica surge nos trabalhos de Milton
Santos. Em sua obra Por uma Nova Geografia (de 1978), o autor busca um
melhor conhecimento do espaço humano, revisando criticamente a evolução
da Geografia. Segundo Moraes (1999) esta obra expressa uma tentativa
sintética de outros trabalhos desse autor, representando uma proposta geral
para o estudo geográfico.
A corrente do pensamento geográfico é constituída de acordo
com a realidade social vivida em determinado espaço e tempo. Contudo, nos
dias atuais a sociedade submetida à nova era da informação e dos sistemas
tecnológicos, traz consigo um novo desempenho político e social. É através
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dessa nova realidade que o ensino de Geografia gera novos conceitos e
conteúdos explicativos sobre os fatos vividos na cotidianidade dos alunos.
A Geografia é entendida como uma ciência social que estuda
o espaço construído pelo homem e suas relações com a natureza. Neste
sentido ela contribui na reflexão do homem e seu compromisso com a
sociedade, levando o indivíduo a compreender o senso da realidade em que
está inserido.
Somma (1999; p.163) explica que o objeto de estudo da
Geografia está ai, exposto a todos os sentidos de cada aluno, todos os dias.
Dentro desta análise podemos dizer que a Geografia pode ser explicada
através dos fatos vividos na própria cotidianidade do aluno, sendo estes
inseridos em uma sociedade que em seu cotidiano está associada à economia
e à visão do pensamento único do mundo.
É sobre esta perspectiva que a Geografia propõe um ensino
veiculado para mudanças e ou tentativas de minimização da atual situação
político-social e econômica que se encontra a sociedade. Pois bem, quer
melhor disciplina que relaciona a ação do individuo, dos grupos sociais, da
natureza, das atividades culturais, políticas e econômicas, entre múltiplas
formas?
A Geografia por sua vez proporciona um estudo sobre as
técnicas, os motivos, as conseqüências, ou seja, toda historicidade da ação
humana que desencadeia as condições atuais. Segundo Damiani (1999 p. 50)
conhecer o espaço é conhecer a rede de relações que está sujeito, do qual é
sujeito.
3.2 - A questão da atuação do professor de Geografia em da sala de aula
As abordagens atuais sobre a realidade discutidas neste
trabalho enquadram o ensino de geografia dentro de uma nova prática
pedagógica que permite o aluno a se contextualizar em diferentes situações
de vivencias.
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...ser um verdadeiro educador, preocupado com a conquista da cidadania, é contribuir para o crescimento (no sentido amplo do termo: intelectual, cognitivo, afetivo...) do educando, para a sua autonomia, criatividade e senso crítico. (VESENTINI, 1999, p.24)
Considera-se segundo Pontuschka (1994, p.96) que o
professor de Geografia, por ser um questionador do espaço construído pelas
diferentes sociedades humanas, pode ter um papel fundamental ao auxiliar o
aluno na sua compreensão e no seu questionamento, tentando levá-lo à
identificação com seu próprio espaço e ao compromisso com a superação das
desigualdades sociais.
Neste âmbito é importante a análise da atuação do professor
de Geografia dentro da sala de aula no que diz respeito ao seu trabalho e a
sua forma de transmissão dos conteúdos necessários para a construção do
pensamento geográfico do aluno.
O processo de ensino-aprendizagem da Geografia é bem
complexo, uma vez que há necessidade do professor não somente ter
conhecimento da disciplina em questão, mas também do conhecimento da
realidade de seu aluno.
Não se pode ignorar que o aluno traz consigo uma bagagem
de experiências vividas, fato este que implica ao professor de geografia um
desafio, o de ampliar e aprofundar o espaço vivenciado e suas relações. De
fato, o professor de Geografia deve interagir seus alunos ao próprio meio,
propondo situações problemas, desafios e conflitos do próprio cotidiano.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998),
espera-se que o aluno construa um conjunto de conhecimentos referentes a
conceitos, procedimentos e atitudes relacionados à Geografia, além de que
traz consigo a utilização de diversos meios dinâmicos para a atuação do
professor dentro da sala de aula. Os PCN’s foram elaborados para que o
processo educativo sofra mudanças no conjunto de conhecimentos
necessários ao exercício da cidadania.
Enfim cabe ao professor criar e planejar situações em que o
aluno possa conhecer a organização do espaço geográfico, suas dinâmicas e
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interações, relacionando com informações da vida, dos direitos políticos, dos
avanços tecnológicos e das transformações socioculturais.
Nas palavras de
Uma educação que tem como objetivo a autonomia do sujeito passa por municiar o aluno de instrumentos que lhe permitam pensar, ser criativo e ter informações a respeito do mundo em que vive. O processo de construção do conhecimento é, pois uma tarefa que o estudante deve realizar, e o nosso grande desafio como professores é oportunizar-lhe as condições para tanto. (CALLAI, 2003, p.101)
Contudo é preciso analisar como está a atuação professor em
sala de aula, no que diz respeito a sua forma de orientação, prática
pedagógica e planejamento de suas aulas.
Para esta análise tem-se que considerar num âmbito geral e
pautar-se nos questionamentos de alguns teóricos, que buscam interpretar,
analisar, criticar e ou defender o perfil do educador.
Dentro da sala de aula é importante considerar a utilização de
recursos, métodos, linguagem diversificada a fim de enriquecer e facilitar o
processo de ensino – aprendizagem. O dinamismo no ensino quando aplicado
de maneira elaborada e objetiva pode desenvolver habilidades que se
agregam ao conhecimento e as experiências dos alunos, além de não
possibilitar uma aula maçante.
É correto afirmar que encontramos dentro do sistema de
ensino uma grande defasagem no que diz respeito aos recursos didáticos,
mas isto não justifica a rejeição pela mudança metodológica pelo professor. O
que se verifica hoje no ensino de Geografia, é que muitos professores se
pautam apenas no livro didático, ou ainda no contexto do processo avaliativo o
que assegura este professor, são os exercícios de memorização.
O livro didático é um instrumento de ensino que pode auxiliar
no processo de aprendizagem dos alunos. Mas o que se deve entender é de
que os livros didáticos atuam como transmissores de determinadas visões da
sociedade, podendo aderir ou não uma visão mais critica dos fatos. No
entanto, é preciso esquematizar dentro do plano de aula o conteúdo que não
está sendo abordado no livro didático, como forma de enriquecimento. Zabala
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(1998, p.190) explica que este material tem como função única ser informativo
assim, este é um instrumento para consultar ou utilizar quando for necessário
durante o desenvolvimento de uma unidade didática elaborada pelo professor.
Muitos conteúdos trabalhados em sala de aula, principalmente
no âmbito da Geografia, se referem aos processos, mudanças e
transformações, da natureza e da sociedade no tempo e espaço; torna-se
adequado a utilização de instrumentos, pelo qual o aluno possa visualizar e
melhor compreender o espaço vivido. Os instrumentos podem variar, como por
exemplo: vídeos, fotos, transparências, etc. Com isto a abordagem do tema
não ficaria apenas na imaginação do aluno, pois estes meios de
representações tornam possível a visualização.
De acordo com Zabala (1998, p.192) devido a tradição do uso
de determinados livros didáticos, faz-se necessário e conveniente dispor de
materiais que construam unidades didáticas completas, que ofereçam
referências concretas de intervenção pedagógica e que desenvolvam, de uma
maneira sistemática, todos os conteúdos previstos.
Para o professor é importante atentar-se para os
procedimentos e recursos que serão utilizados para atingir o objetivo de
ensino. Além disso, conhecer o conteúdo e ter domínio sobre o que será
ensinado é de fundamental importância, para a superação das dificuldades
atrelada. O uso de uma metodologia adequada e diferenciada, e o
comprometimento do professor em fazer a transposição do conhecimento a
fim de que se possa inseri-lo no cotidiano do aluno, este pode construir sua
própria visão e utilizar na vida o conhecimento adquirido.
Segundo CALLAI (2005, p.245) através da Geografia, o
professor pode encontrar uma maneira interessante dos alunos conhecerem o
mundo, além destes se reconhecerem como cidadãos atuantes na construção
do espaço em que vivem. Assim, conhecendo o mundo em que vivem, podem
compreender o que são os processos de exclusão social e a seletividade dos
espaços.
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4 - CARTOGRAFIA E ENSINO
4.1 - A importância da Cartografia para a Geografia
A Cartografia tem como objetivo estudar as representações da
superfície da terra através de símbolos abstratos. Castrogiovanni (1999, p. 38)
explica que a cartografia é um conjunto de estudos e operações lógico –
matemáticas técnicas e artísticas que, a partir de observações diretas e da
investigação de documentos e dados, intervém na construção de mapas,
cartas, plantas, e entre outras representações.
Os mapas são comunicadores desde a antiguidade e pode-se
dizer que a Cartografia teve suas origens na Grécia onde quem, pela primeira
vez, tentou representar em uma carta o conhecimento adquirido a respeito do
mundo foi Anaximandro (646 – 619 a.C) na Jônia, sendo que:
A Cartografia não nasceu somente da necessidade do homem orientar-se, de encaminhar-se sobre a superfície da Terra, e depois transmitir aos outros homens as indicações reveladas pela experiência... Mas ao examinar os primeiros documentos cartográficos transmitidos, devemos admitir que a especulação filosófica, mais que o desejo de orientação, foi base das antigas representações da Terra. (OLIVEIRA apud FRANCISCHETT, 2002, p.17)
Conhecer e representar a Terra, este foram os primeiros
objetivos da Cartografia que foi consolidada como ciência junto à geografia,
sendo a Cartografia:
... a ciência da representação e do estudo da distribuição espacial dos fenômenos naturais e sociais, suas relações e suas transformações ao longo do tempo por meio de representações cartográficas – modelos icônicos – que reproduzem este ou aquele aspecto da realidade de forma gráfica e generalizada.” (MARTINELLI apud FRANCISCHETT, 2002, p.29)
Os conhecimentos cartográficos foram construídos ao longo
dos séculos, no qual os mapas expressam idéias sobre o mundo por diversas
culturas e época distintas. Sendo assim, estes conhecimentos cartográficos
estiveram sempre ligados a interesses políticos e militares e influências
religiosas.
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O mapa é uma das formas mais antigas de comunicação da
humanidade provavelmente desde as primeiras civilizações os homens
rabiscavam representações gráficas dos lugares por onde passavam, através
de figuras e símbolos. Não se sabe quando surgiu o primeiro mapa, mas sim
que eles começaram a serem feitos a mais de 4000 anos por culturas antigas.
Para Castrogiovanni (1999, p.34) o mapa é uma
representação codificada de um espaço real. Suas informações são
transmitidas através de uma linguagem que utiliza um sistema de signos
(legenda), redução (escala) e projeção.
A descrição de fenômenos naturais é representada por sinais
específicos de acordo com os princípios da Cartografia, contanto que estes
atribuem uma visão sobre a Geografia apresentada. Joly (1990, p.7) diz que
um mapa é um conjunto de sinais e de cores que traduz a mensagem pelo
autor, onde os objetivos cartográficos são transcritos através de grafismo ou
símbolos, e resultam de uma convenção proposta ao leitor pelo redator, e é
lembrada num quadro de sinais ou legenda do mapa.
O mapa mais antigo que se conhece, de origem babilônica, foi
elaborado em um tablete de argila cozida e representava duas cadeias de
montanhas com um rio no centro, provavelmente o Eufrates, este mapa tem
uma idade calculada entre 2400 e 2200 anos antes de Cristo. Há também
provas de que existem mapas egípcios e chineses desta época.
As navegações oceânicas provocaram um impulso ao
processo cartográfico partindo do notável empreendimento que foi a Escola de
Sagres onde eram formados os pilotos e os cosmógrafos (cartógrafo daquele
tempo). A precisão dos roteiros era garantida pelas cartas de marear dos
portugueses. Também se expandiam à cartografia náutica da Espanha,
Holanda, França e da Inglaterra. Merece destaque, sendo um momento
determinante dentro da cartografia, pois havia falta de cartas exatas para
navegação, Gerhard Kremer, conhecido como Mercartor, que em 1569
construiu a projeção que leva seu nome.
Se no passado o ser humano tinha a necessidade de mapas,
agora ele necessita muito mais, pois a construção de uma estrada, a
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instalação de uma grande indústria, ou seja, o planejamento em geral exige
mapas ou cartas tão exatas quanto possível.
O mapa é uma representação necessária dentro da Geografia,
pois é um veículo de comunicação do espaço real. Existem várias informações
que podem ser representadas em um mapa, mas quando estas não podem
ser colocadas em um único mapa são colocadas em mapas temáticos, que
são mapas especializados em certas informações como de geologia, curso d’
água, mapas demográficos, políticos, entre outros.
Segundo Oliveira (1983, p.4) de todas as ciências ligadas a
Cartografia, nenhuma é tão importante quanto à Geografia, na medida em que
os fatos e fenômenos se originarem de qualquer ramo da geografia quer física
ou humana.
...a Cartografia é a ciência ou método de fazer mapas. E o mapa é a representação da superfície da Terra, mediante certa escala, e superfície da Terra é o campo de estudo da Geografia. Assim a Cartografia representa o que a Geografia estuda. (ALEGRE apud SOUZA & KATUTA, 2000, p. 55)
Dentro das palavras do autor podemos analisar o vinculo entre
Cartografia e Geografia, conseqüentemente a importância que a Cartografia
tem no ensino e pesquisa em Geografia, e esta é a importância que será
tratada a seguir.
Segundo Alegre (1964, p.57) o cartógrafo deve ter bons
conhecimentos de Geografia, pois parte ponderavelmente dos fatos
representados pela cartografia são de natureza geográfica, ele deve estar
habilitado a discernir o que há de figurar no mapa.
Desde quando as cartas eram utilizadas apenas pelo Estado,
e até hoje a Cartografia tem grande importância no estudo do espaço
geográfico, sendo este definido por Joly, (1990, p.14) como espaço construído
por toda a superfície terrestre, compreendendo também os oceanos e as
regiões inabitadas, englobando os meios sólidos (litosfera), liquido
(hidrosfera), gasoso (atmosfera) e vivo (biosfera), e é na analise e explicação
deste espaço que se baseia a geografia cientifica e por conseqüência a
Cartografia Temática.
24
Ao se analisar uma região cada profissional vai coletar dados
diferentes de acordo com sua especialidade, poderão ser feitos levantamentos
geológicos, climáticos, pedológicos, demográficos, entre outros. Cabe à
Cartografia o estabelecimento destes dados coletados em mapas temáticos.
O cartógrafo não recebe apenas os elementos, mas deve
classificá-los, correlacioná-los, estabelecendo as hierarquias entre os
fenômenos a serem representados, escolher a projeção e escala adequadas,
as convenções e os símbolos que deverão estar de acordo com os objetivos
fixados. Leva-se em conta ainda que se os elementos fornecidos não forem
completos deve estar o cartógrafo e condição de colher, ele próprio, os dados
através da pesquisa de campo. (ALEGRE, 1964, p.56)
É necessário dizer que não há simplesmente coincidências
sobre estes diferentes dados de determinada região, e sim há a relação entre
dois ou mais fenômenos, sendo que isto pode ser observado na sobreposição
de cartas transparentes, é preciso fazer então o que Lacoste (1988) chama de
intersecção de conjuntos espaciais, sendo este o papel do geógrafo, ou seja,
fazer análise interligando os diferentes dados representados nos mapas
temáticos.
Construir mapas sem um objetivo pré-definido não é a
proposta, é necessário relacionar o conteúdo dos mapas com o conhecimento
empírico, como por exemplo, ao analisar os serviços de saúde em
Londrina/PR (hospitais, clinicas medicas e postos de saúde) através de uma
coleção de mapas tem-se uma idéia de localização destes estabelecimentos,
mas não se sabe se estes serviços estão atendendo satisfatoriamente a
população. Caberia então ao geógrafo obter dados sobre a população da
cidade e até realizar entrevistas para verificar a satisfação da mesma.
Cavalcanti (1998, p.134) explica que a referência de um mapa
é uma constante e que fica claro para o aluno, que a Geografia tem muito a
ver com o mapa, para conhecer e localizar lugares diferentes no mundo. No
entanto o mapa é utilizado no ensino de Geografia, principalmente, para ser
pintado sem objetividade, não potencializando o interesse pelo estudo da
Geografia através do mapa.
25
Os mapas permitem não apenas a representação espacial dos
fenômenos num determinado espaço, mas também a sua síntese. Dentro do
cotidiano de cada indivíduo, pode-se ter leitura do espaço por meio de
diferentes informações e dentro da Cartografia diferente formas de
representações destas informações.
A Cartografia é um recurso fundamental para a pesquisa e,
sobretudo para o ensino de Geografia, pela sua possibilidade de diferentes
formas de representações do espaço. Os estudos analíticos sobre os
fenômenos representados pelo mapa, permitem a compreensão e a percepção
do espaço geográfico. É sobre esta perspectiva que a Cartografia tem
fundamental importância para a Geografia.
4.2 - A Cartografia nas séries do Ensino Fundamental
Na contemporaneidade, a Cartografia tornou-se importante
dentro da educação por atender as necessidades do aluno em seu cotidiano,
isto porque induz o aluno a estudar o ambiente em que vive. Este estudo
releva as características físicas, econômicas, sociais e humanas do ambiente
e as suas transformações.
A Geografia utiliza-se de diversas ferramentas em seus
estudos, sendo a cartografia uma delas. Isto não é diferente quando se trata
do ensino, pois:
A linguagem cartográfica... uma das que indubitavelmente devem ser utilizadas no ensino, pois representa a territorialidade dos diferentes fenômenos, razão de ser da própria ciência geográfica. (SOUZA & KATUTA, 2000, p.60 e 61)
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p.33) explicam
que a linguagem cartográfica possibilita sistematizar informações, expressar
conhecimentos, estudar situações, entre outras coisas, sempre envolvendo a
idéia da produção do espaço, sua organização e distribuição.
26
Ao referir a relação da Cartografia e do ensino de Geografia,
não somente do uso de mapas durante as aulas, mas também no ensino de
noções básicas de escala e coordenadas geográficas.
Embora a Cartografia seja um elemento fundamental para o
ensino de Geografia, os professores encontram uma série de dificuldades em
lidar com a representação gráfica dos aspectos geográficos. O maior problema
pode estar na transmissão de conceitos científicos por meio de práticas
repetitivas e pouco explicativas. Além disso, há uma grande preocupação em
buscar os procedimentos necessários para o ensino da cartografia, que
justifiquem além de tudo sua importância dentro do aprendizado do aluno.
A alfabetização cartográfica constitui o ponto de partida para
os alunos compreenderem o que é cartografia, para posteriormente partir para
uma construção onde os alunos possam fazer a análise, localização e
correlação dos mapas. Callai (2005, p.243) explica que dentro do processo de
alfabetização das séries iniciais, além das letras, das palavras e dos números,
existe outra linguagem para aprender, que é a linguagem cartográfica.
Como auxílio didático para os professores do ensino
fundamental, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p.77) efetivam a
idéia de que a alfabetização cartográfica deve considerar o interesse que as
crianças e jovens têm pelas imagens, assim, desenhos, fotos, maquetes,
plantas, mapas, imagens satélites, figuras, tabelas, entre outros, representam
a linguagem visual utilizada nesta fase inicial.
O sujeito será capaz de ler de forma critica o espaço, quando este saber fazer a leitura do espaço concreto e a leitura de sua representação, ou seja, o mapa. Portanto desenhar trajetos, percursos, plantas da sala de aula, da casa, do pátio da escola pode ser o início do trabalho do aluno com as formas de representação do espaço. São atividades que, de um modo geral, as crianças dos anos iniciais da escolarização realizam, mas nunca é demais lembrar que o interessante é que as façam apoiadas nos dados concretos e reais e não imaginando. (CALLAI, 2005, p.244)
Um estudo do espaço concreto do aluno é de fundamental
importância, ou seja, aquilo que lhe está mais próximo e que ele familiarize: a
escola, o bairro, dentre outros, para consequentemente o trabalho se estender
para outros espaços maiores assim como o município, estado, país, etc.
27
De acordo com Simielli (1999, p.98) o importante dentro da
fase de alfabetização cartográfica é desenvolver a capacidade de leitura e de
comunicação oral e escrita por fotos, desenhos, plantas, maquetes e mapas.
Enfim uma alfabetização cartográfica que supõe o desenvolvimento de
noções:
• Visão obliqua e visão vertical
• Imagem tridimensional, imagem bidimensional;
• Alfabeto cartográfico: ponto, linha e área;
• Construção da noção de legenda;
• Proporção e escala;
• Lateralidade/referencias, orientação.
O desenvolvimento destas noções contribui para o
entendimento da cartografia como propositora de mapas prontos e acabados
no ensino fundamental, assim o objetivo das representações dos mapas e dos
desenhos enfocará a compreensão de informações e não simplesmente objeto
de reprodução (PCN’s, 1998, p. 77).
A autora acima referida ainda ressalta a idéia do aluno
copiador de mapa como um fato do passado, uma vez que esta trabalha a
cartografia sob dois eixos: o primeiro com produtos cartográficos já elaborados
(cartas, plantas e mapas), ou seja, o aluno como leitor crítico; e o segundo
eixo trata do aluno participante do processo como mapeador consciente,
sendo um momento de transição para os alunos adquirirem competências
para trabalhar com analise, localização e correlação. (SIMIELLI, 1999, p.99)
Ressalta também que no segundo eixo os alunos poderão
trabalhar com imagens tridimensionais e ou dimensionais, por intermédio de
maquetes e ou croquis. No entanto o que diferencia este segundo eixo (aluno
mapeador consciente) do primeiro (aluno leitor crítico) é que o aluno vai
participar efetivamente do processo de mapeamento, ou seja, o aluno vai
trabalhar na confecção do mapa, maquete ou croqui.
28
O uso da maquete, portanto propiciará o aluno a trabalhar da
bidimensão para a tridimensão. Este é um trabalho que não se restringe
apenas na confecção da maquete, pois o aluno poderá ver diferentes formas
topográficas e altitudes de determinado espaço.
O croqui é representado na forma bidimensional, que segundo
a autora simplificam e mantêm a localização da ocorrência dos fatos e
evidenciam detalhes significativos para o entendimento do aluno sob
determinado espaço. Neste trabalho o aluno estará participando efetivamente
do processo de produção, obrigando-o a sistematizar e estruturar as
informações.
Em seguida é proposta a utilização do mapa mental, pelo qual
permitem expressar em linguagem gráfica a sua percepção real de um
fenômeno, construindo, a partir de seus universos simbólicos, informações a
partir das experiências vividas nos locais. Assim:
Eles nos possibilitam analisar a representação oblíqua e a representação vertical, o desenho pictórico ou abstrato, a noção de proporção, a legenda, as referências utilizadas (particular, local, internacional e inexistente) e o título. (SIMIELLI, 1999, p.107)
As atividades que envolvam a construção de maquetes,
croquis e ou mapas mentais, poderão levar o aluno a ser um mapeador
consciente. Contudo a idéia é possibilitar que o aluno seja um leitor critico dos
mapas e um mapeador consciente, onde as temáticas da cartografia,
sobretudo nas séries iniciais, deverão ser trabalhadas pelo professor de forma
que os alunos não sejam reprodutores de cópias.
Carlos (1999, p.23) também defende a idéia de se trabalhar a
cartografia no primeiro momento com alfabetização cartografia (1ª a 4ª série),
posteriormente com as questões de localização, análise e correlação (5ª e 6ª
série). Ela crítica a forma de atuação dos professores em sala de aula sobre
este tema, pois o que tem se observado é que os professores trabalham com
os alunos o nível da localização (onde fica o rio?) e também até analisam
determinado fenômeno que ocorre no espaço, mas não saem do primeiro nível
que é localização e a analise. A correlação, o segundo nível de análise
cartográfica, é trabalhada somente por uma parte dos professores que, em
29
sua maioria, faz as correlações do ponto de vista físico. Os professores com
formação direcionada à Geografia Humana, geralmente trabalham menos com
as relações cartográficas.
As noções cartográficas possibilitam ao aluno perceber e
criticar sua realidade cotidiana. Esta tem por extrema importância na educação
contemporânea. Contudo é possível por meio deste trabalho fazer com que os
alunos aprendam a se localizar, e, sobretudo que estes insistam na
curiosidade de saber onde se encontram determinados locais e a dinâmica
dos fenômenos, as características físicas, econômicas, sociais e humanas.
4.3 - Análise dos conteúdos de Cartografia nos livros didáticos
Ao analisar a questão do ensino de Geografia e o ensino de
cartografia é preciso verificar a questão dos materiais didáticos, sobretudo os
livros que estão sendo utilizados pelos professores em sala de aula.
Segundo Zabala (1998, p.180) o livro didático já não pode
conter mais uma simples exposição dos fatos, mas, dado que inclui conceitos,
também tem que oferecer meios que contribuam para a compreensão.
O professor ao adotar o livro didático que será utilizado no
decorrer de suas aulas, deve verificar se este livro apresenta uma abordagem
coerente da realidade atual da sociedade. Assim, é necessário que os
conteúdos apresentados no livro proporcionem uma visão crítica das questões
tratadas, ainda que, contenham atividades diversas que aprofundem e
complementam o estudo do conteúdo.
O autor ainda ressalta esta idéia explicando que a maioria dos
livros didáticos, devido sua estrutura trata os conteúdos de forma unidirecional
e ainda produzem valores, as idéias e os preconceitos das instancias
intermediarias, baseadas em proposições vinculadas a determinadas
correntes ideológicas e culturais. (ZABALA, 1998, p. 175)
30
É importante selecionar corretamente o livro didático a ser
usado dentro da sala de aula, uma vez que este sirva apenas como apoio para
o professor.
Para o ensino de Cartografia o livro didático deve nortear a
idéia inicial de orientação e localização, partindo em seguida para a
importância dos mapas e a construção destes. Dentro desta perspectiva
analisam-se algumas referências destes manuais que foram elaborados de
forma objetiva e constituem uma idéia ampla de cartografia, no sentido de
extrapolar com atividades extras e complementares.
Os livros analisados foram:
- BOLIGIAN, Levon; MARTINEZ, Rogério; GARCIA, Wanessa,
ALVES, Andressa. Geografia Espaço e Vivência. Introdução à Ciência
Geográfica: 5º série. São Paulo: Atual, 2001.
- VESENTINI, J. William; VLACH, Vânia. Geografia Crítica: o
espaço natural e a ação humana. Volume 1. Editora: Ática, 2004.
Ambos os livros têm um inicial teórico sobre o espaço
geográfico e suas representações. A idéia de orientação, localização, os
mapas e suas interpretações, sobretudo sua produção, estão bem
relacionados de forma construtiva e explicativa aos alunos e professores. Há
todo um trabalho de construção dos conceitos.
O livro didático elaborado por Vesentini e Vlach, inicia uma
discussão nos primeiros capítulos sobre as questões de espaço, tempo, lugar,
natureza e sociedade moderna, no qual permite ao aluno construir as noções
geográficas básicas.
Focaliza a idéia de orientação e cartografia indispensável para
a localização dos fenômenos geográficos. Dá possibilidades de o aluno refletir
como ele faz para se orientar quando necessita ir a algum lugar, a importância
de se orientar e quais os meios de orientação que eles têm conhecimento.
Isto, no entanto da possibilidade de saber qual o conhecimento prévio do
aluno sobre orientação.
31
Após este conteúdo, é trabalhado a representação do espaço.
Enfatizando que para representar os vários lugares do mundo, podem-se
utilizar desenhos, fotos e mapas.
Na primeira etapa da construção de um mapa os autores
propõem uma atividade que envolve o próprio cotidiano da sala de aula. Ela foi
elaborada de forma que os alunos observem atentamente a sala, para em
seguida desenhar este espaço representando as carteiras, o quadro negro, a
porta, as janelas e os demais objetos. O objetivo é mostrar aos alunos que o
desenho é um mapa, e que de fato é a representação de daquele espaço.
Na elaboração do mapa da sala de aula, é também proposto a
construção de conceitos de legenda e escala. Para a legenda, o aluno deve
criar símbolos para representar os elementos: carteiras, porta e janelas. O
conceito de escala é o trabalhado determinando as medidas, considerando as
proporções dos objetos.
Outra atividade proposta se limita a própria cartografia e a arte
de fazer mapa. Explica-se assim, que a arte ou a técnica de fazer mapas é
conhecida como Cartografia, e que este estudo é importante para a Geografia.
Nesta etapa o mais importante tema abordado é sobre as questões de
elaboração de mapas nos dias de hoje, ou seja, explica sobre sensoriamento
remoto e imagens satélites.
A organização destes capítulos leva o aluno a se situar no
espaço, estudando passo a passo o que são pontos cardeais e colaterais,
paralelos e meridianos, latitude e longitude, a importância dos mapas e sua
elaboração, assim sendo, escala, legenda, projeções cartográficas, etc.
Os autores defendem a idéia de que os conceitos de espaço
geográfico, sociedade moderna e escala, são ainda abstratos para os alunos
desta faixa etária. Contudo, eles podem ser introduzidos, na medida em que
os professores recorrem à vivência dos alunos como um recurso no processo
de ensino-aprendizado.
Por natureza própria do homem as idéias de construção de um
trabalho se diferenciam. Podem tomar a mesma linha, o mesmo objetivo, mas
se tornam distintos na maneira em que se organizam. Isto nos leva a refletir
32
sobre mais um trabalho elaborado – livro didático – que abordam o conteúdo
de cartografia.
Boligian e colaboradores em seu livro, abordam conteúdos que
proporcionam a introdução aos estudos geográficos, apresentando os
conceitos básicos e fundamentais com os quais a Geografia trabalha, ou seja,
conceitos de: lugar, paisagem, tempo e espaço geográfico.
Uma das propostas elaboradas objetiva levar o aluno a refletir
sobre os diferentes lugares e suas relações a partir da sua realidade próxima.
Questões como:
• Como é o lugar onde você mora?
• Ele está localizado na área rural ou na área urbana?
• Como são os lugares por onde você passa em seu trajeto de casa até a
escola?
Conseqüentemente os estudos possibilitam ao aluno
compreender que o ser humano modifica constantemente os lugares e as
paisagens e que a Geografia procura entender a maneira e o motivo, que a
sociedade transforma o espaço geográfico. Assim, os alunos poderão
desenvolver as noções espaciais abordados pelos meios de orientação e
localização no espaço terrestre e distinguir as diferentes formas de representar
os lugares.
O conceito de orientação e localização também é abordado
inicialmente sob uma perspectiva da realidade próxima do aluno, para em
seguida compreenderem que há formas de orientação e localização através
dos astros, por bússolas e por coordenadas geográficas.
Em seguida é abordada a importância dos mapas para a
sociedade e as utilidades técnicas para sua elaboração, como introdução do
conceito da linguagem dos mapas e dos gráficos. Assim sua proposta
pedagógica orienta-se para os temas de representação e interpretação,
objetivando que o aluno conheça a linguagem cartográfica.
Verifica-se, portanto que os dois livros analisados, foram
elaborados de forma que os alunos compreendam os conceitos de maneira
33
construtiva. Embora, valha ressaltar que esta análise leva em maior
consideração a produção de Visentine e Vlach, isto porque apresentam maior
índice de tópicos relacionados ao conceito de Cartografia, permitindo maior
construção e entendimento da universalidade cartográfica. Os autores
explicam que a escola ou a própria realidade do aluno oferecem condições
para o professor realizar atividades completares que estimulem o aprendizado
do aluno, mas levando em conta estes aspectos, as atividades propostas
nesta coleção são diversificadas e pode levar o professor a adaptá-las a
realidade encontrada.
A escolha destes materiais didáticos foi através dos critérios
de desenvolvimento curricular, sobre a questão do ensino de Cartografia, ou
seja, os que melhores apresentam uma metodologia crítica e que ajudam a
aluno a conhecer o mundo em que está inserido e posicionar-se diante dele.
A organização do livro é um dos principais atrativos para o
despertar do interesse e a curiosidade do aluno, embora este não deva ser
apresentado como uma verdade absoluta.
De uma forma geral, o professor de Geografia realiza suas
aulas de forma expositiva e com o auxílio do livro didático. É preciso refletir
sobre esta questão e verificar que existem diferentes formas didáticas de se
estudar o espaço geográfico. A idéia não é excluir a possibilidade do seu uso,
mas apenas repensar a forma que este material é trabalhado pelos
professores em sala. Ainda, é preciso saber distinguir estes materiais, uma
vez que eles podem transmitir idéias e conceitos extremamente distorcidos da
realidade.
34
4.4 - Os mapas: ler e interpretar
O principal objetivo está em saber ler o mapa e suas
representações, ou seja, excluir a idéia mecanicista que está sendo tratada
esta questão. Preparar o aluno para compreender a organização social, exige
o conhecimento de técnicas e instrumentos necessários à representação
gráfica.
Martinelli diz que a representação envolve uma redução
(escala), uma rotação (projeção) e uma abstração (sistema simbólico), este
último geralmente visto como as convenções, como um código. (apud
FRANCISCHETT, 2002, p.29)
Contudo os mapas possuem alguns elementos principais, que
permitem a sua leitura e analise, sendo estes: título, legenda, escalas e
sistema de localização. Para ler e entender os mapas é preciso o trabalho
destes elementos, sob etapas metodológicas.
Segundo Castrogiovanni (1999, p.35) título é o primeiro passo
para se ler o mapa, isto porque é necessário saber o espaço representado e
seus espaços e limites. A legenda é fundamental, pois propiciara a
decodificação, relacionando os significantes (símbolos) e os significados
(mensagem) dos signos representados. A escala possibilita o cálculo das
distâncias e, portanto uma série de confrontações e interpretações.
Este trabalho envolve dedicação pelo professor em
acompanhar metodologicamente cada etapa deste processo. Almeida (2001,
p.42) nos apresenta uma proposta em que se pode desenvolver essas
habilidades a partir do desenho da criança. A autora afirma que a criança e o
jovem, ao desenhar, representam seu modo de pensar o espaço. Assim o
desenho da criança não é uma mera cópia de um objeto qualquer, mas sua
interpretação do real.
Para melhor compreendermos os aspectos a serem
desenvolvidos com relação ao desenho das crianças, verificam-se os
esquemas a seguir:
35
Localização
• Avalie como os alunos desenham o caminho de casa para a escola, por
exemplo. Como posicionam a casa em relação à rua? No mapa, os
elementos se relacionam com base nas coordenadas geográficas —
latitude e longitude.
• Utilize o próprio desenho da criança como um instrumento de ensino.
Faça perguntas do tipo: o que há à direita ou à esquerda da sua casa?
Se ela já tem essas noções, é possível falar dos pontos cardeais —
norte, sul, leste e oeste.
• Peça que a criança observe novamente o local retratado e repita o
mesmo desenho, completando as informações que ficaram faltando.
Proporção ou escala
• Verifique se existe proporção entre os elementos representados pelo
aluno e entre estes e os reais. Se o desenho for de uma rua, por
exemplo, os carros são menores que uma casa? No mapa, apesar de as
localidades estarem reduzidas, há proporção entre os elementos.
36
• Para que a criança perceba a proporção de tamanho entre os diferentes
elementos que a cercam, sugira que utilize palmos ou passos como
unidade de medida. Qual o tamanho de um quarteirão ou de um carro?
Ao medir ambos com os passos, ela terá noção do tamanho a ser dado
no desenho.
Projeção ou perspectiva
• Análise de qual ponto de vista as casas foram desenhadas. De frente?
Do alto? No mapa, são usadas projeções cartográficas - metodologia
que representa a superfície da Terra, sempre de cima.
• Faça perguntas ao aluno para estimulá-lo a perceber quais elementos
estão mais à frente ou mais longe. No início do Ensino Fundamental a
garotada consegue desenhar em perspectiva.
Simbologia
• Avalie se a criança tem habilidade para estabelecer em seus desenhos
traços que representam elementos que ela observa à sua volta. No
mapa há uma série de convenções para indicar como representar rios,
37
estradas, cidades etc.
• Os alunos costumam fazer desenhos parecidos. Por exemplo, casas
com um triângulo sobre um retângulo. Induza-os a prestar atenção nas
construções da rua onde moram. Com o tempo eles percebem que elas
não são todas iguais. Umas são maiores, outras menores. E até que o
número de janelas é diferente.
Fonte: Almeida, Rosângela Doin e Biondi, Maria Inez Moura Fazzini
Esta é uma proposta colocada frente aos professores para
interpretar e mediar aquilo que é produzido pelo aluno – o desenho.
Todo conhecimento é construído pelos seres humanos através de suas interações com o meio. O pensamento é uma “ação” que transforma as coisas do meio, a fim de construí-las em objetos do próprio pensamento. Através de interação entre o sujeito e objeto o conhecimento é abstraído do real e transformando em algo humano, interiorizando-se. (PIAGET apud CASTROGIOVANNI, 1999, p.35).
O pensamento de Piaget nos leva a compreender que o aluno
deve construir e correlacionar o mapa a partir da suas próprias experiências,
colocando-nos também frente à idéia de Almeida, sobre o desenho da criança.
Considerar as diferentes possibilidades metodológicas de
aprendizagem é de fundamental importância. O desenvolvimento de
habilidades, que permitem o aluno, saber fazer, e ler o mapa requer
treinamento. Assim, para SOMMA (1999, p.164) estas habilidades requerem:
• Familiarização com os símbolos, através de seqüências gradativas
segundo sua dificuldade;
• Trabalho com as direções pessoais (à direita, abaixo...), ambientais
(recorrendo a dados do lugar conhecido) e cardinais (os pontos básicos
de orientação);
• Treinamento em localização, assim como referências de lugares
próximos, à direção e distância de outros fatos já conhecidos, e as
características mais notáveis do lugar cartografado.
38
• Reconhecimento de que o uso da retícula matemática (latitude e
longitude) é de difícil adoção, como prática, dos alunos;
• Utilização de critérios claros e generalizadores para delimitações
regionais: determinar o alcance dos fatos a cartografar é uma tarefa
difícil que requer muito treinamento, daí a necessidade de clareza e
critérios.
Pela dificuldade existente no exercício do professor estas
habilidades na sua maioria das vezes deixam de ser trabalhadas. O motivo
existe por diversos fatores, entre estes: o tempo de aula, a dificuldade de
aprendizagem individual do aluno que necessita de mais atenção do professor,
no qual este não se dispõe, falta de recurso e de habilidade do professor,
entre outros.
Contudo os principais elementos dos mapas podem ser
trabalhados em atividades do tipo oficina. Esta é a proposta deste trabalho no
próximo capitulo. Uma proposta didática que salienta os métodos e as técnicas
aplicados no ensino de cartografia.
39
5. RECURSOS DIDÁTICOS UTILIZADOS NO ENSINO DE GEOGRAFIA
O ensino de Geografia vem sendo discutido por diversos
teóricos, e um dos inúmeros questionamentos feitos na atualidade, é sobre a
forma que os conteúdos vêem sendo trabalhados em sala de aula.
Para averiguar esta realidade nas escolas publicas e privadas,
aplicou-se questionários, objetivando traçar um perfil de como esta sendo
utilizados os recursos didáticos no ensino de Geografia, enfatizando o
emprego das oficinas pedagógicas no de ensino de Geografia, esta foi
enfatizada.
5.1 - Os livros didáticos
O livro didático é um instrumento de apoio para o professor,
não sendo assim, material único e norteador do trabalho com os conteúdos
programáticos.
Dentre as questões avaliadas sobre o livro didático, aborda-se:
a adoção do livro didático em sala de aula (GRÁFICO 1), se é o material
principal, ou apenas utilizado como apoio (GRÁFICO 2) e também, se o
professor elabora outras atividades, além das que são sugeridas no livro
didático (GRÁFICO 3).
Dos entrevistados, 56,67% adotam o livro didático em sala de
aula, e 63% não o utilizam como material principal e sim de apoio para as
atividades. Quanto às outras atividades além das sugeridas no próprio livro,
apenas 37% o fazem.
Excluindo os livros-apostilados utilizados pelos professores,
principalmente de escolas particulares, os mais citados são:
• VESENTINI, José Wiiliam e VLACH, Vânia. Geografia Crítica:
o espaço natural e a ação humana. Volume 1, editora
Atica. ;
40
• ADAS, Melhem. Geografia: noções básicas de geografia. 5ª
série, editora Moderna. ;
• ADAS, Melhem. Geografia: construção do espaço geográfico.
6ª série, editora Moderna. ;
• BOLIGIAN, L; MARTINEZ, R; GARCIA, W; ALVES, A.
Geografia: espaço e vivência. 5ª série, editora Atual. e;
• GUIMARÃES, R; ARAÚJO, R; RIBEIRO, W. Construindo a
Geografia. 6ª série, editora Moderna.
A principal atividade proposta nos livros didáticos são os
questionários relacionados ao texto de cada capítulo. Esta atividade é
incipiente para que o aluno compreenda o de forma clara o conteúdo
abordado. Neste âmbito, a pesquisa buscou fazer um levantamento sobre os
professores que trabalham outros tipos de atividades, além daquelas que
estão no livro didático. Foram questionados 30 professores da rede publica e
privada.
Do total de professores, 56,67% indicam que elaboram outro
tipo de atividades, que são: interpretação e construção de texto, leitura de
mapas e gráficos, pesquisa bibliográficas, revistas, jornais, internet, músicas,
documentários, filmes, seminários e trabalhos de campo.
41
56,67%
43,33%
Sim
Não
GRÁFICO 1 – Professores que adotam o livro didático. Fonte: PANDIM, 2006. Pesquisa in locu.
37%
63%
Material Principal
Material de Apoio
GRÁFICO 2 – Utilização do livro didático como material principal para as atividades e ou como apoio. Fonte: PANDIM, 2006. Pesquisa in locu.
42
76,67%
23,33%
Sim
Não
GRÁFICO 3 – Professores que desenvolvem atividades que não estão nos livros didáticos. Fonte: PANDIM, 2006. Pesquisa in locu.
5.2 - Recursos Didáticos: Mapa, Computador, Fotografia Aérea, Imagens de Satélites
O professor deve ser criativo dentro do planejamento de uma
atividade. Por isso, fazer uso de diversos recursos didáticos é uma forma de
enriquecer tais atividades e ainda, dentro dos conteúdos geográficos, os
recursos como: mapa, computador, fotografia aérea, imagens satélites;
permitem ao educando relacionar a realidade ao conteúdo teórico.
Neste âmbito, a pesquisa mostra que 56,67% dos professores
utilizam mapas no desenvolvimento das atividades em sala; 26,67% não usam
este recurso e 17, 67% fazem uso de mapas raramente (GRÁFICO 4).
43
56,67%
26,67%
17,67%
Sim
Não
Raramente
GRÁFICO 4 – Professores que utilizam mapas dentro da sala de aula. Fonte: PANDIM, 2006. Pesquisa in locu.
Em um dos relatos o professor enfatiza que os mapas são
usados raramente, pelo fato de que a disciplina possui pouca carga horária e
assim ele não pode perder muito tempo com a visualização de mapas. Isto
demonstra que alguns professores não dão importância devida ao mapa.
Quanto a utilização de algum recurso de informática na
construção de mapas, apenas 16,67% dos professores responderam que o
fazem; 53,33% responderam negativamente, pois, a escola não possui sala de
informática e 30% diz que raramente usam este recurso, só quando há
disponibilidade de horário no laboratório de informática da escola (GRÁFICO
5).
44
16,67%
53,33%
30,00%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
Sim Não Raramente
GRÁFICO 5 – Utilização de recursos de informática na construção de mapas. Fonte: PANDIM, 2006. Pesquisa in locu.
Considerando estes índices, pode-se afirmar que a grande
maioria das escolas não possibilita a integração do aluno com as novas
tecnologias de informação e comunicação.
Para o ensino de geografia, o computador pode auxiliar na
construção de imagens digitalizadas e oferecem a leitura e construção de
representações espaciais (PCN’s, 1998, p.149). Sendo então um recurso
importante para o individuo, pois na contemporaneidade exige-se cada vez
mais o conhecimento e habilidades dos sistemas de informação.
As fotografias aéreas e as imagens satélites também
apresentam dificuldades no que diz respeito à utilização destes em sala de
aula, contudo 40% dos professores utilizam estes recursos (GRÁFICO 6).
45
40,00%
60,00%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
Sim Não
GRÁFICO 6 – Utilização de fotografias aéreas e imagens satélites. Fonte: PANDIM, 2006. Pesquisa in locu.
É importante ressaltar que as fotografias aéreas e as imagens
satélites são recursos que podem fornecer importantes informações sobre o
espaço. As informações podem ser de um modo geral, áreas que sofrem ou
não ação do homem, assim como, rios, florestas, área de cultivo, área urbana,
etc. Assim as informações destas áreas, auxiliam na construção de mapas.
De maneira geral, a utilização dos recursos didático-
tecnológicos que podem auxiliar na construção de conhecimentos estão
defasados, pelo fato de a maioria das escolas não os possui, e ou, os
professores não lhe dão a devida importância.
5.3 - Atividades: Trabalhos de Campo e Oficinas
A criação de algumas atividades diferenciadas torna as aulas
mais interessantes, ou seja, faz com que professores e alunos deixem a velha
rotina de estar na sala de aula “aprendendo” os conteúdos existentes nos
livros didáticos.
46
Os trabalhos de campo possibilitam relacionar a realidade com
a teoria, sendo uma forma proveitosa de assimilar os conteúdos, desde que
seja feitos de maneira objetiva e planejada, sendo que o lugar a ser visitado
pelos alunos e professores seja o foco real do estudo.
Este tipo de atividade pode estar sempre sendo relacionada
com qualquer outra, até mesmo com as oficinas pedagógicas, possibilitando
desta maneira, melhor desenvolvimento do trabalho. As oficinas são de
grande importância na construção dos conceitos, sobretudo de cartografia.
Do total, 43,33% dos professores realizam trabalhos de
campo, os que não realizam justificam, pelos inúmeros problemas existentes,
como: falta de transporte, dificuldade na autorização de pais e ou até mesmo a
agenda da escola que está sempre cheia com eventos, entregas de notas,
trabalhos etc. (GRÁFICO 7).
43,33%
56,67%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
Sim Não
GRÁFICO 7 – Realização de trabalhos de campo. Fonte: PANDIM, 2006. Pesquisa in locu.
Quanto à realização de oficinas como método de ensino,
46,67% dos professores a utilizam, objetivando estimular a curiosidade do
aluno (GRÁFICO 8).
47
46,67%
53,33%
42,00%
44,00%
46,00%
48,00%
50,00%
52,00%
54,00%
Sim Não
GRÁFICO 8 – Professores que utilizam atividades do tipo oficina. Fonte: PANDIM, 2006. Pesquisa in locu.
Foi questionado qual era a maior dificuldade encontrada para
a criação de uma oficina. Dentre as respostas estão: a falta de recurso
materiais para a sua elaboração e aplicação (43,33%); a disposição de tempo
(33,34%), e à falta de incentivo da escola (23,33%) (GRÁFICO 9).
23,33%
43,33%
33,34%
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
40,00%
45,00%
50,00%
Falta de incentivo da escola Falta de recurso Disposição de tempo
GRÁFICO 9 – Dificuldades para a criação de uma oficina. Fonte: PANDIM, 2006. Pesquisa in locu.
48
Um professor explica que: “a disposição de tempo falha este
trabalho, isto porque, a Geografia é uma disciplina ampla e detalhada, sendo
assim, rica demais para ser trabalhada em tão pouco tempo”.
Adaptado das propostas de Almeida e Zacharias foi sugerido
aos professores uma oficina de cartografia para os alunos do ensino
fundamental com o tema: A Geografia através da Construção de Maquetes.
Esta oficina apresenta como principal objetivo à construção de uma maquete
do relevo brasileiro, através de leitura de mapas e de curvas de nível.
Dos questionados, 94,74% dos professores responderam que
utilizariam esta oficina (GRÁFICO 10).
94,74%
5,26%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
Sim Não
GRÁFICO 10 - Professores que utilizariam à oficina de Cartografia. Fonte: PANDIM, 2006. Pesquisa in locu.
Considerando o índice de aceitação da utilização da oficina,
pode-se questionar: será que os professores estão acostumados a usar
materiais prontos, uma vez que a oficina apresentada indica todos os
procedimentos a serem realizados ou a temática da oficina é de real
importância e interessante para a construção dos conceitos? Será que estão
dispostos a assumir propostas arrojadas diferentes do cotidiano?
49
Os professores que não utilizariam à oficina sugerida
perpetuam a idéia de que o tempo estimado para as aulas é pequeno e ou
ainda nas palavras de um professor: “trabalho em uma escola com grande
índice de violência. A oficina oferece materiais como caixa de fósforos, lixas,
agulhas e alfinetes de costura e facas de ponta, assim os alunos mais
agressivos poderiam colocar em risco a segurança de outros alunos, e até
mesmo a minha.”
A violência existente dentro da escola também configura uma
dificuldade no trabalho dos professores.
Os tipos de violência assinalados como estando mais presentes no dia-a-dia da escola são as ameaças e agressões verbais entre os alunos e alunas, e entre estes e os adultos. No entanto, apesar de menos freqüentes, também se dão às agressões físicas, algumas com graves conseqüências. (CANDAU, 2002, p.151)
Nas condições que se encontram algumas escolas, é
necessário analisar o tipo de trabalho a ser feito em sala de aula. Sendo
assim, este deve ser realizado de maneira a buscar soluções para a
problemática e que envolva professores, escola, governantes e comunidade
localizada fora da escola. Para alguns, é mais fácil excluir qualquer atividade
construtiva que permita uma possível agressão entre os alunos, do que buscar
mudanças.
50
6 - AS OFICINAS DE CARTOGRAFIA NO ENSINO DE GEOGRAFIA
Entende-se por oficinas de ensino como sendo uma
metodologia diferenciada para o ensino de Geografia. Embora existam
bibliografias de alguns trabalhos quanto a sua aplicação, ainda são incipientes
os trabalhos que avaliam esta atividade como um método no aprendizado de
Geografia.
Para tanto optou-se pela entrevista com a Prof.ª Dr.ª Rosely S.
Archela, da Universidade Estadual de Londrina, que tem desenvolvido vários
trabalhos na área.
. Para Archela:
“A oficina é um caminho, ou seja, um processo de desenvolvimento de determinado conteúdo. Assim, a oficina nada mais é, do que uma forma de desenvolver o conteúdo procurando usar uma metodologia adequada.”
Assim, através da entrevista, foi possível avaliar questões
importantes e inerentes à temática, bem como as dificuldades encontradas
pelos professores em optar dentro do processo de aprendizagem as oficinas
de ensino. Tais dificuldades de acordo com a professora são, portanto: quanto
à metodologia aplicada e domínio do conteúdo, construção dos conceitos
cartográficos, tempo de hora/aula, utilização de tecnologias sem conhecimento
dos conceitos...;
A realização de oficinas pedagógicas no ensino fundamental é
uma dificuldade encontrada pelos professores, segundo a professora, em
função do método, isto porque este está ligado a uma metodologia. O
emprego de metodologia requer o conhecimento do método e da teoria. Assim
o que faltam aos professores é um embasamento teórico e conhecimento dos
conteúdos, pois qualquer metodologia aplicada passa pelo domínio do
conteúdo.
É comum que alguns professores entendam as oficinas de
ensino como uma “receita de bolo” ou uma “receitinha simples”. Este fato
51
ocorre devido à dificuldade de compreensão entre metodologia, teoria e
método, e ainda, de que a metodologia depende do método.
Archela explica que:
“Quando trabalhamos com o mapa e apresentados aos alunos seus elementos: orientação, título, legenda, escalas, fonte; sem este ter obtido uma alfabetização cartográfica ou ainda, se ele nunca leu um mapa, estas informações não terão nenhum significado para ele, assim, pois, ele, desmotivando-o.”
Quando o professor opta por uma oficina de ensino de mapas,
esta possibilitará que o aluno aprenda passo a passo os elementos do mapa.
Assim será trabalhado, bem como a sua importância no mapa a compreensão
destes conceitos. Ao contrário se estes conteúdos forem trabalhados sem a
importância devida, o conceito vai passar batido, como qualquer outra
“decoreba”.
Uma outra importância das oficinas é o tempo dedicado a ela,
possibilitando o amadurecimento e aprofundamento dos temas abordados. A
título de exemplo, cita-se a construção de uma maquete e sua relação que o
processo de construção utiliza aproximadamente 30 horas para sua
elaboração. Com etapas bem definidas esta inclui o desenvolvimento da visão
bidimensional (mapa) para o tridimensional (maquete). Portanto, existe um
processo de conhecimento que é desenvolvido durante a construção de
maquetes levando o aluno a compreender os conceitos abordados.
Considerando atualmente que o professor tem que trabalhar o
conteúdo de Geografia no prazo de um mês, estes não são produzidos de
forma elaborada.
Para construção de uma maquete é necessário,
antecipadamente, desenvolver conceitos e respectivamente um preparo. Não
adianta apenas construí-la como se ela fosse um trabalho manual e artesanal,
pois sua construção vai além. Ainda que, dentro deste processo haja uma
interação entre as pessoas que estão participando e o conhecimento a ser
trabalhado, bem como a discussão do conceito envolvente.
Neste tipo de trabalho podem-se quebrar diversas barreiras
como, por exemplo, a dificuldade dos alunos de entender o conceito de escala,
52
já que para a realização da maquete há necessidade de mudança de escala,
daí então, é necessário utilizar cálculos para o seu entendimento.
Ligado à dificuldade de utilização de tecnologias sem
conhecimento dos conceitos Archela diz que:
“...temos um grande aliado, que é o interesse pela tecnologia e a facilidade com a tecnologia. Em função desta facilidade que se tem hoje, assim como os programas cada vez mais avançados e fáceis de ser utilizados, não há necessidade de se ter conhecimentos de códigos para ser usuário de um software (que dê para trabalhar cartografia). Assim, pois, bastam apenas seguir em sua maioria das vezes, os tutoriais disponíveis no próprio programa e manuseá-los.”
Dentro desta perspectiva Archela diz que se perdeu um pouco
o jeito de se fazer Cartografia, ou seja, o conhecimento da base cartográfica.
Isto gera um distanciamento da cartografia, como conhecimento cartográfico.
Alguns pesquisadores acreditam que é necessário se fazer uma retomada da
Cartografia com ciência, porque a tecnologia hoje, tem superado este espaço.
Apesar da crítica apresentada, sobre os meios tecnológicos,
não se deve excluí-lo como ferramenta no ensino, mas sim trabalha-los de
forma conjunta.
No que diz respeito aos professores elaborarem uma oficina
de ensino, Archela argumenta que é necessário o trabalho por tema, e não por
conteúdos pré-estabelecidos, da maneira em que se tem feito hoje na escola.
A diferença de se trabalhar por temas e não com os conteúdos pré-
estabelecidos, é de que os temas integram várias disciplinas, e neste ponto de
vista, a oficina assume um modo interdisciplinar.
Ao elaborar um trabalho com o tema, por exemplo, o bairro,
este será voltado aos vários elementos que estão relacionados a este bairro.
Assim este trabalho implica na coleta de dados, aplicação de questionário,
desenvolvimento de redação, medidas, entre outros conhecimentos e
conteúdos que vão formar uma visão interdisciplinar do aluno.
Contudo as oficinas possibilitam a interdisciplinaridade, e a
cartografia pode ligar diversas áreas do conhecimento.
53
Archela explica que os professores não têm motivação para
efetuarem as oficinas, isto porque, seus salários não serão valorizados em
nenhum momento. Ainda, as escolas públicas sofrem a falta de incentivo, pois
não apresentam materiais necessários para qualquer atividade, permitindo, na
maioria das vezes, que os professores retirem do próprio salário para a
compra destes materiais. Assim: “por um lado, nós temos a metodologia que
possibilita um bom desenvolvimento, só que em contrapartida, não temos o
apoio financeiro.”
O fator do tempo de aula (h/aula) expressa também grande
dificuldade no que diz respeito ao trabalho do professor, uma vez que esse
tem em média de 40 a 50 minutos para cada aula. Assim os conteúdos a
serem desenvolvidos tornam-se fragmentados e mal trabalhados.
O tempo é insuficiente, mas se pode dentro deste contexto
utilizar a técnica e a motivação para que os alunos se interessem a estudar
fora da sala de aula, oferecendo então estudos alternativos fora do turno
regular.
A vantagem da oficina para o professor é que ele pode obter
em cada uma delas experiência quanto a forma de elaborar atividades para a
construção dos conceitos cartográficos. Dessa forma, ele poderá amenizar a
problemática da hora/aula, ou seja, ele pode obter um “jogo de cintura”,
escolhendo quais atividades melhores se encaixam em determinadas
atividades. O desenvolvimento deste trabalho depende da turma, pois cada
uma responde de forma diferenciada quanto à forma de aprendizado, e ainda,
da sua base de conhecimento e das possibilidades que a escola oferece.
No próximo item será abordado um exemplo de oficina
pedagógica, desenvolvido pelas autoras Mirian Vizintim Fernandes Barros,
Rosely Sampaio Archela e Marquiana de Freitas Vilas Boas Gomes.
54
6.1 - Um exemplo de Oficina Pedagógica no Ensino de Noções Básicas de Cartografia.
A oficina apresentada a seguir foi desenvolvida para alunos do
ensino fundamental e tendo objetivo desenvolver as noções de orientação e
localização no espaço terrestre, adaptada a diferentes séries, não
necessitando sua completa realização.
Esta atividade é apresentada aqui, como uma referência aos
professores e também para avaliação de sua eficiência, quanto um recurso
didático.
Esta oficina foi elaborada para o professor e contém conceitos
ligados à cartografia, exercícios resolvidos, construção de instrumentos e
informações adicionais (GPS, Linha Internacional de Data).
Assim, tem como objetivo inicial levar o aluno a entender o que
é ponto de referência através da localização por meio de um lugar e um objeto.
Normalmente, os trabalhos desenvolvidos em sala de aula são insuficientes
para uma generalização, portanto meios oficiais como os pontos cardeais e
colaterais são apresentados. Estes meios oficiais são enfatizados na
construção da rosa-dos-ventos, sendo esta utilizada para se situar de acordo
com a posição do Sol.
Avançando na instrumentação a oficina propõe a construção de
uma bússola utilizando os conceitos anteriormente trabalhados da rosa-dos-
ventos.
Partindo para um lugar do espaço conhecido ou vivenciado
pelo aluno, propõe-se a construção de um mapa da sala de aula. No entanto,
além da representação (visão de cima para baixo) utiliza-se a bússola por ele
elaborada, afim de que o aluno tome sua carteira como um ponto de referência
e encontre a localização de outros elementos da sala (janela, mesa do
professor, porta, lousa, etc.).
Nesta oficina também são trabalhados conceitos abstratos
como, por exemplo, o traçado de linhas imaginárias, permitindo que o aluno
compreenda o abstrato a partir do concreto.
55
Todos os conteúdos expostos na oficina têm como objetivo que
o aluno possa posteriormente aplica-los em espaços maiores, assim como os
mapas que representa os países.
As linhas imaginárias traçadas em sala de aula permitirão o
entendimento dos paralelos e meridianos e posteriormente as latitudes e
longitude, enfatizados na maquete de reprodução das linhas imaginárias do
globo terrestre, aprofundando os conceitos latitude e longitude e ainda podendo
se trabalhar as distâncias entre diferentes pontos da Terra.
TEMA: ORIENTAÇÃO NO MAPA E PELO MAPA
INTRODUÇÃO
Saber se localizar no espaço é muito importante, pois garante o
ir e vir a qualquer lugar. A localização no mapa permite compreendermos o
espaço e suas dimensões. Suponha que você chegou a Londrina pela primeira
vez, e está hospedado num hotel próximo ao centro da cidade. Você gostaria
de visitar alguns lugares interessantes como o Lago, o Museu e o Shopping
Center. Porém, a única informação de que dispõe, é que existe um mapa à
venda na banca de jornal da esquina, que fica a cem metros do hotel na
direção sentido sul, que lhe dará todas as informações necessárias.
Para encontrar esses lugares, como também escolher o melhor
roteiro, você precisa saber localizar-se no espaço e também, ler o mapa. Do
contrário, correrá o risco de receber informações erradas e precisar andar
demais, ou até mesmo, não chegar a conhecer todos os lugares desejados.
Esta oficina apresenta como temática a orientação espacial e,
para isto vamos abordar conceitos importantes, relacionadas aos temas ponto
de referência; pontos cardeais, colaterais e subcolaterias; orientação pelo Sol e
com bússola; coordenadas geográficas e Linha Internacional da Data, por meio
da construção e utilização dos seguintes instrumentos: rosa dos ventos;
bússola, maquete e mapa.
56
O CONCEITO DE ORIENTAÇÃO A orientação começa com a relação entre dois lugares. Ela é
importante porque permite a compreensão da localização geográfica. Quando
ouvimos o nome de um lugar, logo relacionamos com um outro lugar ou objeto
que serve como ponto de referência.
Os homens sempre usaram a observação da natureza para
orientar suas atividades. Desde os primeiros tempos, a mudança do Sol no céu
e a ocorrência dos dias e das noites davam o ritmo das atividades diárias. A
posição do Sol, da Lua e das estrelas indicava as direções a serem seguidas. A
configuração do relevo, os rios, as árvores e outros elementos da paisagem
serviam de pontos de referência. Ao conjunto dos pontos de orientação pelo sol
(Leste, Oeste, Norte e Sul), dá-se o nome de Pontos Cardeais.
Orientação pelo Sol
Fonte: Simielli. Primeiros Mapas, v. 2, 1993, p.9.
57
Somente estes quatro pontos, não são suficientes para a
orientação. Por isso surgiram os pontos intermediários denominados de Pontos
Colaterais, que são o nordeste, sudeste, sudoeste e noroeste:
• Nordeste, entre o norte e o leste;
• Sudeste, entre o sul e o leste;
• Sudoeste, entre o sul e o oeste;
• Noroeste, entre o norte e o oeste.
As oito direções principais formam a rosa dos ventos, que tem
a forma de uma estrela e foi construída para indicar os Pontos Cardeais e
Colaterais.
CONSTRUÇÃO DA ROSA DOS VENTOS
MATERIAIS:
• Régua, compasso, papel e lápis.
PROCEDIMENTOS:
• Descubra primeiramente a direção Norte.
• Determinado o Norte, os outros Pontos Cardeais, serão facilmente
identificados.
• Trace uma linha na direção Norte-Sul e outra na direção Leste-Oeste.
• Estas linhas deverão ser perpendiculares, ou seja, o seu cruzamento
deverá formar ângulos retos, de (90º).
Para determinar as direções dos Pontos Colaterais é preciso
encontrar os pontos centrais entre norte (N) e leste (E), sul (S) e oeste (O),
entre norte(N) e oeste (O) e entre leste (E) e sul (S). Isto pode ser feito de
várias maneiras. Por exemplo, marca-se uma distância qualquer a partir do
centro e traça-se uma reta que passe exatamente a 45 º. A ponta dessa reta
indicará uma direção colateral. Repete-se a mesma operação para as outras
pontas até completar os Pontos Colaterais.
58
Da mesma forma, trace os Pontos Subcolaterais que são
aqueles localizados entre um ponto Cardeal e um Colateral, como por exemplo:
entre o norte e o nordeste está o ponto norte-nordeste, etc. Para concluir o
desenho da rosa dos ventos, tracem retas formando triângulos bem agudos a
partir das pontas. Normalmente, as pontas que indicam os Pontos Cardeais
são maiores do que as que indicam os Colaterais e Subcolaterais.
1. A figura abaixo indica os Pontos Cardeais e Subcolaterais,
complete com os Pontos Colaterais.
ROSA DOS VENTOS
59
2. Observe a posição do Sol às 6 horas da tarde, na figura a
seguir e indique os pontos cardeais e colaterais.
A BÚSSOLA
A bússola é um instrumento de orientação, construída a partir
da rosa dos ventos, Existe vários tipos e modelos, é possível que você
encontre uma em sua escola. Podemos construir uma bússola, utilizando
materiais muito simples, veja:
CONSTRUÇÃO DA BÚSSOLA
MATERIAIS:
• Um pote com tampa (embalagem de margarina, por exemplo)
• Linha, agulha, rolha, tesoura, lápis preto e colorido, papel e um imã.
PROCEDIMENTOS:
• Desenhe a rosa dos ventos com os pontos cardeais e colaterais,
escreva o nome dos pontos dentro da rosa, pinte-a e recorte-a.
60
Destaque os lados da tampa do pote, deixando apenas uma tira que
encaixe nas bordas.
• Corte uma fatia da rolha. Com a ajuda da agulha, passe a linha pela
rolha.
• Prenda por baixo, de modo que a rolha possa ficar suspensa pela linha.
• Imante bem a agulha e a introduza na rolha. Prenda a outra extremidade
da linha na tira da tampa encaixada e observe para onde a agulha
imantada aponta. Lá é o Norte. Cole a rosa dos ventos no fundo do pote,
tendo o cuidado de acertar o Norte do desenho com o que indica a
agulha. Pronto, você tem uma bússola.
Mas para que serve uma bússola? Para compreender melhor este instrumento de orientação,
vamos realizar a seguinte atividade:
3. Elabore um mapa de sua sala de aula, para isto:
- observe sua sala de aula e faça uma relação de todos os
objetos presentes: mesa, carteira, armário, quadro, porta, etc. e,
- faça a representação do contorno da sala de aula, colocando
os objetos que você selecionou para representar, supondo que você esteja
olhando para a sala de aula do teto para baixo, como na figura abaixo. Escreva
o nome nas carteiras dos alunos da sala.
61
- coloque a bússola sobre o mapa da sala de aula, encontre a
direção norte e oriente seu mapa, de acordo com a bússola;
- considere seu lugar como ponto de referência no mapa, pinte
sua carteira e marque os pontos cardeais da sala;
- trace linhas imaginárias para descobrir quais de seus colegas
estão localizados a sudeste, sudoeste, nordeste e noroeste.
Os pontos cardeais e colaterais que acabamos de estudar,
fornecem uma direção, mas não permitem localizar com exatidão, qualquer
ponto no espaço terrestre. Por exemplo, se você está na cidade de São Paulo
e quer ir até Londrina no Paraná, como você faz?
Primeiro você é levado a pensar, que como Londrina fica no
Estado do Paraná, logo, na Região Sul, você terá que se deslocar no sentido
sul. Certo? Errado!!! Mas por que?
62
4. Observe o mapa político e descubra porque está errado!
Responda: Qual direção você deverá seguir?
Para resolver problemas deste tipo, os cartógrafos dividiram a
Terra em paralelos e meridianos.
Os paralelos e os meridianos são linhas imaginárias expressas
em graus. Eles possibilitam encontrar a indicação exata de qualquer lugar na
superfície terrestre.
MAQUETE DE REPRODUÇÃO DAS LINHAS IMAGINÁRIAS DO GLOBO TERRESTRE MATERIAIS:
• Globo terrestre
• Bola de isopor
63
PROCEDIMENTOS: (OBS. Este experimento poderá ser feito à frente,
enquanto os alunos anotam e desenham. Se houver possibilidade, os alunos
poderão realizar o experimento em grupos e anotar as conclusões).
• Observe o globo de isopor totalmente branco e responda qual é o lado direito?
.
Foi para ter um ponto de referência, que se estabeleceu o
bairro de Greenwich em Londres na Inglaterra, como ponto por onde passa
uma linha imaginária que liga o polo norte ao polo sul e que se chama
Meridiano de Greenwich. Esta linha divide o Globo em duas partes:
Hemisfério Oriental ou Leste e Hemisfério Ocidental ou Oeste.
5. Observe o Meridiano de Greenwich traçado no globo e
responda: qual é o lado direito do globo?
• Divida o globo em duas metades, cortando o isopor em 2 partes:
Hemisfério Oriental (leste ou nascente) e Hemisfério Ocidental (oeste ou
poente).
• Cole o globo com fita adesiva e proceda da mesma forma para
demonstrar a Linha do Equador que divide a Terra em duas partes:
Hemisfério Norte e Hemisfério Sul.
Então...
•• Latitude é a distância medida em graus (0º a 90º) de um ponto qualquer
da superfície terrestre em relação à Linha do Equador.
•• Longitude é a distância medida em graus (0º a 180º) de um ponto
qualquer da superfície terrestre em relação ao Meridiano de Greenwich.
•• Os paralelos e meridianos são medidos em graus. A medida da
circunferência da Terra é de 360° e corresponde a 40.000 quilômetros.
64
Esquema para visualização de paralelos e meridianos
Paralelos e Meridianos
Os paralelos são linhas horizontais e indicam a latitude Norte a
partir da Linha do Equador em direção ao Pólo Norte e a latitude Sul, a partir da
Linha do Equador em direção ao Pólo Sul.
Os meridianos indicam a Longitude Leste a partir do Meridiano
de Greenwich (0°) até a Linha Internacional da Data (180°) e a Longitude
Oeste, do Meridiano de Greenwich até a Linha Internacional da Data em
direção Oeste.
6. Pinte a parte (A) da figura, destacando o Hemisfério Norte e
o Hemisfério Sul.
7. Pinte a parte (B) da figura, diferenciando o Hemisfério
Oriental e o Hemisfério Ocidental.
65
Sendo os paralelos, linhas horizontais e os meridianos
verticais, elas sempre se cruzam. O ponto de encontro de um meridiano com
um paralelo é denominado de Coordenadas Geográficas.
As Coordenadas Geográficas são importantes para a
localização exata de qualquer lugar da superfície terrestre.
Isto quer dizer que qualquer deslocamento seja aéreo,
marítimo ou terrestre, só pode ser realizado com segurança se conhecermos
onde estamos e para onde vamos.
Além disso, as Coordenadas Geográficas também são
importantes para a delimitação de elementos da paisagem como serras,
florestas, grandes áreas de terras, etc.
66
8. Consulte o Planisfério abaixo e complete o texto a seguir:
Fonte: Geoatlas. M. E. Simielli, 1999.
A distância em graus do Meridiano de Greenwich até Calcutá
na Índia, é de 90º longitude ____________. À distância do Meridiano de
Greenwich até a Linha Internacional da Data é de ________ longitude
_______.
A distância em graus do Meridiano de Greenwich até Chicago
nos Estados Unidos, é de _____º de longitude _____. À distância do Meridiano
de Greenwich até a Linha Internacional da Data é de _____ºde longitude oeste.
9. Assinale no planisfério, os pontos definidos pelas
coordenadas geográficas indicadas a seguir e complete as frases com o nome
do país onde cada um desses pontos se localiza:
a) O ponto localizado a 45º longitude W e 15º latitude Sul, se
encontra no (a) ______________.
b) O ponto localizado a 135º longitude E, e 30º latitude Sul, se
encontra no (a) ______________.
67
c) O ponto localizado a 105º longitude W e 45º latitude norte se
encontra no (a) _____________________ .
10. Qual à distância em quilômetros entre Xangai na China (30º
N) e Manila nas Filipinas (15ºN), se ambos estão sob o meridiano de 120º E?
180º - 20.000 Km
15° - X
15 X 20.000 = 1.666 Km
180
Resposta: À distância entre Xangai e Manila é de 1.666
quilômetros.
11. Qual é a longitude e a cidade pontuada no planisfério, que
se localiza aproximadamente a 6.667 km a oeste de Greenwich?
180º - 20.000 Km
X - 6.667 Km.
180 X 6.667 = 60°
20.000
Resposta: A cidade é Buenos Aires.
As coordenadas geográficas também podem ser utilizadas para
calcular distâncias em quilômetros entre dois pontos no Globo.
12. Observe no planisfério, que para conhecer a distância entre
Xangai e Cairo fazemos o seguinte:
Xangai (China) está a 120° E e 30°N
Cairo (Egito) está a 30° E e 30° N
68
À distância entre Xangai e Cairo e de 90° de longitude. Ambas
estão na mesma latitude. Sabendo que:
360° correspondem a 40.000
90° corresponde X
Logo:
40.000 X 90 = 10.000 km
360
Resposta: A distância em quilômetros é de 10.000 quilômetros.
Para delimitar áreas menores e com precisão, (como por
exemplo, uma propriedade rural), pode-se utilizar um instrumento denominado,
GPS – Sistema de Posicionamento Global. Até alguns anos atrás, quando não
era possível, realizar levantamento topográfico no local, os limites eram
definidos apenas por referências naturais como divisa de um rio, proximidade
de uma encosta, um vale, etc. Até hoje, existem lugares no Brasil, que ainda
não possuem mapas topográficos e as medidas exatas são conhecidas através
de imagens de satélites.
GPS - Sistema de Posicionamento Global
69
O GPS é um instrumento de orientação e localização de
precisão. O GPS foi desenvolvido pelo Departamento de Defesa dos EUA no
início da década de 1960, para uso estritamente militar. Em l980, uma decisão
do então presidente Ronald Reagan liberou-o para o uso geral. O sistema foi
declarado totalmente operacional somente em 1995. O sistema é formado por
24 satélites que orbitam a terra a 20.200 km de altitude, duas vezes por dia e
emitem simultaneamente sinais codificados de rádio. Testes realizados em
1972 mostraram que a pior precisão do sistema era de 15 metros e a melhor,
de 1 metro. Preocupados com o uso inadequado, os militares americanos
implantaram duas opções de precisão, uma para usuários autorizados
(estritamente militar) e outra para usuários não-autorizados (civis). Os
receptores GPS de uso militar têm precisão de 1 metro e os de uso civil, de 15
a 100 metros. Cada satélite emite um sinal que contém: código de precisão (P);
código geral (CA) e informação de status.
A orientação e a localização exata é muito importante em
nosso cotidiano. Vejamos um exemplo: Suponhamos que seu pai comprou um
terreno num loteamento novo da cidade. Como saber se o vizinho não vai
invadir o terreno de seu pai? Ou se você não vai ganhar um pedacinho a mais
de terras? Para conhecer a divisa entre o terreno de seu pai e o do vizinho,
utiliza-se as coordenadas geográficas, que são exatas. Estas medidas são
feitas no local, com o uso do GPS e da carta topográfica. A LINHA INTERNACIONAL DA DATA O meridiano a 180º é chamado Linha Internacional da Data.
Este Meridiano determina a mudança de data por convenção internacional. É
neste ponto da Terra que se muda para o outro dia do calendário.
Esta linha imaginária foi escolhida como o lugar de mudança
de data porque se não houvesse esse ponto de referência, poderíamos, por
exemplo, dar uma volta completa na Terra de avião, e chegar na mesma data,
apenas com horas de diferença, em qualquer ponto da Terra.
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Leia o texto abaixo, publicado no Correio Braziliense, Mundo
em 03/10/1999 e reflita com os alunos a importância da linha internacional da
data e o caso de Tonga, Nauru e Kiribati.
Consulte o planisfério e descubra:
13. Qual foi o país que entrou primeiro no Terceiro Milênio? Por
quê?
14. Qual foi o último país a comemorar a entrada para o
Terceiro milênio? Por quê?
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7 - CONSIDERAÇÕES
A Cartografia é uma ciência de fundamental importância nos
estudos de Geografia, pois permite ao aluno compreender e perceber o
espaço geográfico, através dos fenômenos representados pelo mapa.
Embora a Cartografia tenha grande significado no ensino, seus
estudos em sala de aula vêm sendo banalizados. Assim, conceitos
necessários para interpretação e construção de mapas, são trabalhados de
forma incorreta e com modelos de atividades que não proporcionam seu
entendimento.
Este é um problema relacionado na maioria das vezes, aos
recursos didáticos que auxiliam no estudo de determinado conteúdo. Nesta
perspectiva e necessário avaliar a proposta de oficinas pedagógicas, levando
em conta que estas apresentam um caminho para uma melhor desenvoltura
do trabalho em sala de aula, além de despertar grande interesse e motivação
aos alunos.
Apesar das oficinas pedagógicas permitirem um bom
desenvolvimento metodológico, existem grandes dificuldades de estas serem
realizadas nas escolas e pelos professores. Entre os fatores que podem
viabilizar tais dificuldades são:
• Problema do Estado que organiza e impõem as escolas a receber em
média 50 alunos em cada sala de aula, impossibilitando nestas
condições, o professor desenvolver atividades que melhorem o
aprendizado;
• Estrutura física das escolas e material, uma vez que ambos se
encontram sucateados;
• Em muitas (ou na maioria) escolas, a administração tem no mínimo uma
visão distorcida de ensino, pois, não permitem qualquer atividade que
não esteja no seu planejamento político e pedagógico, ou fuja do
tradicional.
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• Resistência por parte do professor em criar, ou planejar atividades
arrojadas fora do cotidiano da sala de aula.
Há também uma grande necessidade de pesquisas sobre este
recurso didático, principalmente estudos que unam a construção dos conceitos
cartográficos com base na tecnologia.
Os estudos da ciência cartográfica, sobretudo, como ensinar
cartografia para os alunos do ensino fundamental, baseou-se nas idéias de
alguns teóricos assim como de Simielli e Almeida. De grande relevância no
desenvolvimento dos conceitos cartográficos, suas terorias permanecem
“estáticas” no tempo, ou seja, dentro de uma perspectiva atual, tecnológica, a
produção dos conceitos cartográficos não envolve a utilização dos sistemas
tecnológicos, para o seu desenvolvimento. Assim, pois, hoje com a tecnologia
e a facilidade de se utilizar qualquer software para construir mapas entre
outros produtos cartográficos, pode-se inserir esta técnica dentro do ensino de
Cartografia, e ainda para qualquer que seja a faixa etária dos alunos.
A real necessidade da atualidade é de propor oficinas
pedagógicas que façam uso dos novos sistemas tecnológicos, garantindo
assim, maiores possibilidades do aluno de obter conhecimentos.
É dentro desta perspectiva, que vale enfatizar que este
trabalho teve como idéia inicial, a elaboração de uma oficina pedagógica que
relacionava geoprocessamento e ensino de Cartografia. Pela temática o
trabalho necessitaria da utilização de computadores, esta idéia teve que ser
abandonada já que muitas escolas não disponibilizavam de tal recurso.
Muito embora várias pesquisas vem sendo realizadas nos
centros universitários ou em outras instituições, idéias muito boas, não podem
ser realizada nas escolas de ensino fundamental e médio ou ate mesmo em
Universidades pela falta de recursos (materiais, físicos e financeiros).
A educação no Brasil é ainda um grande obstáculo que
devemos enfrentar, mas sem dúvida enquanto não houver administradores
que tem uma visão de colher frutos no futuro e não apenas nos seus
mandatos, teremos apenas que sonhar.
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REFERÊNCIAS ALEGRE, M. Considerações em torno da natureza da Cartografia. In: Boletim do Departamento da Geografia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Prudente. Ano 1,nº. 1, set/dez, 1994. ALMEIDA, R. D.; BIONDI, M. I. M. F. In: Desenhar hoje para ler mapas no futuro. NEGRÃO, P. Disponível em: http://novaescola.abril.com.br/ed/168_dez- 03/html/desenhar.htm. Acesso em: 12/10/2006. ALMEIDA, S. P., ZACHARIAS, A. A. A Leitura da Nova Proposta do relevo brasileiro através da construção de maquete: o aluno do ensino fundamental e suas dificuldades. Estudos Geográficos, Rio Claro, 2004. Disponível em: www.rc.unesp.br/igce/grad/geografia/revista.htm. Acesso em: 06/10/2006. ARCHELA, R. S., BARROS, M.V.F., MARQUIANA, F. V. B. G. Orientação no mapa e pelo mapa. Revista do Departamento de Geografia da Universidade de Londrina, v.13, n.02,2003. CALLAI, H. C. Aprendendo a ler o mundo: A Geografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Campinas, vol. 5, 2005. Disponível em: www.cedes.unicamp.br. Acesso em: 03/09/2006. ________. Estudar o lugar para compreender o mundo. In: Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2003. CANDAU, V. M. Direitos humanos, violência e cotidiano escolar. In: Reinventando a Escola. CANDAU, V. M. (org). Petrópolis: Vozes, 2002, p. 137 – 166. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/veracandau/-candau_dhviolencia.html. Acesso em: 25/08/2006. CARLOS, A. F. A geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1999. CASTRO, I. E. Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. CASTROGIOVANNI, A. C. O misterioso mundo que os mapas escondem. In: Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1999. CAVALCANTI, L. de S. Proposições metodológicas para a construção de conceitos geográficos no ensino escolar. Campinas: Papirus, 1998. DAMIANI, A. L. A Geografia e a construção da cidadania. In: A geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1999. FRANCISCHETT, M. N. A Cartografia no ensino de Geografia. Rio de Janeiro: Kroart, 2002.
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APÊNDICE Instituição que você leciona?
Privada –
Pública –
Questionário
A cartografia é um recurso fundamental para o ensino de Geografia,
isto porque os fenômenos representados pelo mapa permitem ao aluno a
compreensão e a percepção do espaço geográfico. Nesta perspectiva, este
trabalho tem por objetivo, investigar os materiais didáticos utilizados em sala de
aula, e a questão das oficinas de ensino de cartografia.
1 – Você utiliza o livro didático em sala de aula? Sim
Não
Qual?
2 – O livro didático é utilizado como material principal, ou apenas como apoio?
Material principal
Como apoio
3 – Além das atividades sugeridas no livro didático, você elabora outras?
Sim
Não
Exemplo
4 – Ao desenvolver suas atividades dentro da sala de aula há utilização de mapas?
Sim
Não
Raramente
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5 – Você utiliza com seus alunos algum recurso de informática na construção de mapas.
a) Sim, sempre
b) Não, pois a escola não possui este recurso.
c) Raramente, quando há disponibilidade de horário no laboratório
de informática da escola.
6 – Você utiliza com seus alunos fotografia aéreas e imagens satélites?
Sim
Não (Porque?)
7 – Você realiza trabalho de campo com seus alunos? Sim
Não
8 – Para enriquecimento do trabalho em sala, as oficinas de ensino representam também um recurso que estimula a curiosidade do aluno. Há construção deste recurso no decorrer das suas aulas?
Sim
Não
9 – Qual a maior dificuldade para a criação de uma oficina? a) Falta de incentivo da escola
b) Falta de recurso, assim como materiais para sua elaboração e
aplicação.
c) Disposição de tempo
10 – Você utilizaria a seguinte oficina de ensino para os do
Ensino Fundamental? Sim Não (porque?)
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OFICINA: A Geografia através da Construção de Maquetes
A construção de maquete é um procedimento didático que estimula o
aluno a transformar o bidimensional para o tridimensional. Os modelos
tridimensionais propiciam o desenvolvimento da percepção e diferenciação de
escala horizontal e escala vertical.
Sua elaboração como representação reduzida do território brasileiro visa
transformar o método de ensino, ou seja, “ensinar para aprender” de maneira
prática alguns conceitos da disciplina geográfica.
Objetivos:
• Construção de uma maquete do relevo brasileiro, através de leitura de mapas e das curvas de nível.
• Desenvolver no aluno a compreensão espacial do território e suas características topográficas.
Material necessário:
Para a realização desta oficina, serão necessários os materiais abaixo destacados: • · Placas de isopor (espessura 0,5 mm); • · Folhas de papel manteiga; • · Agulhas de costura e alfinetes de costura; • · Caixa de vela branca (para aquecer ponta – alfinetes ou
estiletes); • · Pirex, para suporte da vela; • · Caixa de fósforos; • · Latas de massa corrida (900ml); • · Copo plástico grande (para água); • · Prato plástico grande (para preparo de massa corrida); • · Faca de ponta redonda (para mexer massa corrida); • · Pincéis grande (tamanho 22) e pequeno (tamanho 8); • · Lixas finas; • · Canetas Esferográficas velhas (para suporte de alfinetes); • · Jornais velhos, para forrar mesas; • · Sacos plásticos de lixo, para limpeza.
Procedimento: 1 - Aula introdutória sobre os conceitos cartográficos: a importância da curva de nível para a representação do tridimensional no plano e, sobretudo as diferentes propostas de classificação do relevo para definir as áreas de planaltos, planícies e depressões, no Brasil.
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2 - Construir a base cartográfica da maquete: - Escolher o mapa base - Construção do mosaico, pelo qual consiste em novas ampliações do mapa original para a delimitação da escala horizontal da base cartográfica. É a escala horizontal que estabelecerá a relação entre as medidas do terreno (real) e as do mapa (representação gráfica). Seu objetivo, portanto, é fornecer além das informações bidimensionais, a proporção da maquete (tamanho). Em seguida transpor em material transparente as informações do mapa físico, para ser superposta ao mosaico correspondente à nova proposta do Relevo Brasileiro. - Retirar as curvas de nível. 3 – Finalizada a base cartográfica, iniciar a construção da maquete brasileira, através da extração do desenho das curvas de nível e das demais informações, tais como: drenagem, compartimentos geomorfológicos, picos, delimitações dos estados, etc. Assim retirar os valores correspondentes às curvas de nível separadamente, junto com outras informações necessárias, em um papel transparente (seda ou manteiga). Recomenda-se que a cada curva de nível seja atribuído um colorido, para facilitar sua diferenciação pelos alunos. 4 - Após as delimitações das hipsometrias passar para a transposição das curvas para as placas de isopor. A espessura da placa de isopor deve ser escolhida de acordo com as eqüidistâncias das curvas e, escala vertical pretendida. 5 – Retirada às informações necessárias da base cartográfica, iniciar os recortes das placas de isopor com a utilização de uma agulha com ponta aquecida e iniciar a colagem das placas. 6 - Preencher as placas de isopor com massa corrida, para preencher os intervalos entre os degraus das placas. Em seguida inicie o acabamento com tinta látex
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