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Hipótese do Mercado Eficiente
Fernando Nogueira da Costa Professor do IE-‐UNICAMP
http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/
Evolução do Conceito de Eficiência do Mercado
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• incerteza ou opacidade em relação à sua dinâmica futura • problema para tomadas de decisões de inves8mento
Capitalismo: decisões
descentralizadas e descoordenadas
• a8vidades de informação, previsão e cálculo são realizadas pelo mercado acionário
• ator coleCvo que centraliza as informações, as interpreta e produz es8ma8va per8nente dos valores fundamentais
Hipótese do Mercado Eficiente
(HME)
• através dos mercados de capitais são engendradas as melhores es8ma8vas possíveis
• dada a informação disponível, em mundo mercanAl dominado pela incerteza
Hipótese da Eficiência
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Estratégia “fundamentalista”
EsCmaCvas seriam possíveis na medida em que os invesAdores considerassem para suas decisões acionárias um conjunto de parâmetros, considerados os fundamentos dos quais depende
o valor básico das ações, envolvendo:
organização empresarial gestão evolução da
produAvidade concorrência conjuntura macroeconômica
Essas antecipações dos agentes
estão voltadas, em termos de fundamentos,
para a “economia
real”.
Se o preço da ação está superior ao valor justo,
calculado pelo invesAdor, seu preço deve cair (e vice-‐versa).
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Eugene Fama (1970): três Cpos de eficiência
Fraca: a tendência dos preços passados não permite a
antecipação dos preços futuros
Semiforte: os preços dos Ctulos se ajustam quase imediatamente às informações significa8vas
(lucros das empresas, distribuição de dividendos, etc.)
Forte: não existe grupo especial de invesAdores que goze de
acesso privilegiado às informações e não há razão para que estas não
se reflitam, imediatamente, nos preços de mercado
O preço de mercado de uma ação ou de um outro Vtulo deve corresponder ao seu “preço justo” ou
teoricamente fundamentado
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HME: estabelece que o que determina, em curto prazo, o preço do a8vo é o seu risco,
definido pela vola8lidade dos retornos esperados
Esta volaClidade é determinada pela comparação com inves8mento
usualmente “sem risco”, como o Vtulo do Tesouro Nacional.
O risco é a probabilidade de desvio, em curto prazo, de certo retorno
esperado, em longo prazo, de acordo com os fundamentos.
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Premissa básica: os inves8dores são indivíduos racionais que trabalham
unicamente sobre a base da informação
e não da intuição.
Os preços vigentes, em cada momento,
nos mercados financeiros, são determinados de maneira eficiente,
já que refletem toda a informação per8nente, inclusive a respeito dos
fundamentos.
Hipótese do
Mercado Eficiente
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Caminho aleatório [random walking]
HME supõe que os preços dos aCvos financeiros
já levam em consideração todas as informações
disponíveis, ao alcance de todos os que atuam no
mercado.
Como todas as informações sobre o desempenho passado que existem já estão embu8das no preço vigente, o único fator que
altera seu preço é a chegada de nova
informação.
Antecipar a nova informação ser posi8va ou nega8va é evento aleatório; logo, os preços dos aCvos seguem caminho aleatório.
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O Andar do Bêbado:
como o acaso determina nossas
vidas
“Um bêbado andando pode criar um caminho
aleatório, embora ninguém possa chamar
sua escolha de direção racional”.
“Se os preços dos aCvos dependem do trajeto que o bêbado adotou, seria boa ideia estudar como bêbados se orientam”...
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A primeira implicação relevante da HME é que
a análise macroeconômica é necessária,
mas não é suficiente, para predizer a alteração no preço de algum a8vo.
Para se prever, acertadamente, se requer que se
antecipe, corretamente, qual o Apo de noOcia sobre o aAvo que será divulgada no futuro: se posi8va ou se nega8va.
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A segunda implicação da HME é que lucro anormal exige:
• que se detenha informações que os outros não têm, ou
• que se possa interpretar melhor as informações existentes.
Dela se deduz que todas as oportunidades de lucros em excesso
• acima da taxa normal com dado risco
• são rapidamente anuladas pela concorrência.
Poucos invesCdores altamente qualificados descobrem estratégia para superar
o mercado
• com certo grau de consistência aceitável
• mas eles não a revelam, pois ela seria copiada e/ou anulada.
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Mundo Real
A informação é, na realidade, assimétrica.
Deixa brechas de ineficiência
que podem ser aproveitadas.
Sempre há operadores que são capazes de obter a informação
per8nente de maneira melhor ou antes dos
demais.
Conseguem rendimentos rela8vos
melhores.
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Hipótese do Mercado Eficiente: condições muito restriAvas
não haver custo de transações no mercado;
as informações serem disseminadas, igualmente, entre todos os parAcipantes;
todos os parAcipantes desenvolverem
interpretações similares de tais informações.
A HME não foi abandonada, sob o argumento de que
nenhuma classe de inves8dores tem condições de, seguidamente, bater o mercado, apesar de obter
lucros anormais pontuais.
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Válida desde que as informações con8das nos preços reflitam certo consenso dos operadores, independentemente de o preço que resulte do mercado corresponder ou não à informação realista a respeito dos fundamentos.
“Bolha de super avaliação” não invalidaria a HME, segundo seus defensores, pois na medida em que tal informação sobre necessidade de reavaliação fosse do conhecimento de todos os operadores, as oscilações de preço se dariam em torno do preço médio, estabelecendo-‐se nova “convenção de normalidade”.
Hipó
tese do Mercado
Eficiente
Consenso Errado
CríCcas à Hipótese de Mercado Eficiente
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HME: quando, no curto prazo, os preços alcançam
valores muito maiores do que seria de se esperar,
racionalmente, no médio/longo prazo, a bolha se desfaz e os preços retornam para o valor fundamental.
Fenômeno de bolha ocorreu em período de três para cada
cinco anos: analisando o comportamento das ações
em período de 60 anos (1926 a 1985) constataram que
a reversão à média explica apenas cerca de 35% do
comportamento dos preços das ações.
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VolaAlidade Excessiva Os preços
das ações são muito voláteis para serem explicados só por mudanças nos dividendos.
Preços das Ações
são muito influenciados por ondas de o8mismo e pessimismo, tal como descrito pela psicologia comportamental dos inves8dores.
Compo
rtam
ento dos Agentes
tende a superes8mar novas informações antes que ponderá-‐las em certo contexto temporal.
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Agentes quase-‐racionais
Perdas iniciais podem ser o resultado de reações exageradas
(overreac8ons), que se corrigem somente após a passagem de razoável
período de tempo.
Para explicar tal comportamento, fez-‐se a hipótese da existência
dos chamados “noisy traders”.
Os “noisy traders” podem ganhar mais que os agentes racionais: uma vez que assumem mais riscos, mesmo não
intencionalmente.
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A premissa de racionalidade está bastante longe de ser
realista, pois certos inves8dores não são
totalmente racionais e sua demanda por aAvos de risco é afetada por suas crenças
ou senCmentos, que não são inteiramente jus8ficados por informações a respeito dos
fundamentos.
A arbitragem, definida como as
decisões tomadas por inves8dores inteiramente
racionais, não sujeitos a tais senAmentos,
envolve risco, portanto, é limitada.
As duas hipóteses, em conjunto, implicam que mudanças nos sen8mentos irracionais dos inves8dores não são integralmente contrabalançadas pelos arbitradores e, assim, afetam os retornos dos
Ctulos.
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Mesmo que o mercado esteja composto por arbitradores, há situações em que sua ação
é limitada, p.ex., em bolhas de a8vos.
O mercado não está composto apenas por “mentes racionais”, mas também por
“mentes não tão racionais”, que são movidas por
pseudo-‐informações (noise) e consAtuem os “mercadores de boatos” (noisy traders).
Se estes invesCdores quase-‐racionais tomassem suas decisões baseadas
nos seus próprios planos ou sen8mentos, suas decisões seriam independentes e poderiam cancelar-‐se.
Mas, em vez disso, o viés dos julgamentos que aflige os inves8dores ao processar as informações tende a ser o mesmo:
cometem os mesmos erros, persistentemente.
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InvesCdores Comuns
tendem a ser superconfiantes, o que os faz assumirem
maiores riscos
tendem a extrapolar séries
temporais, o que os leva a perseguirem tendências de
preços passados
tendem a desprezar evidências
disponíveis e dar peso excessivo às novas informações
tendem a tomar decisões com base em rumores ou
boatos (noises)
tendem a acompanhar “gurus” midiá8cos
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Os seguidores da HME desprezam o efeito desses
comportamentos irracionais, pois supõem que os “noisy traders” tendem a perder dinheiro em favor
dos “arbitradores”, fazendo com isso que se reduza o seu
efeito na demanda.
Isto não é evidente, pois os “noisy traders” são
mais agressivos que os arbitradores, já que são
super o8mistas ou super confiantes e, assim, assumem maiores riscos.
A consequência disto é que os efeitos de mudanças da demanda nos preços são maiores do que seriam
se a maioria dos inves8dores manAvesse, racionalmente, o “porlólio fundamentado”.
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Terceiro grupo de
invesAdores: “seguradores de porlólio”
InvesCdores insCtucionais administram grandes fundos de “poupança
contratual”, diversificando riscos pela aquisição de contratos de índices
representa8vos do conjunto dos mercados.
Procuram assegurar-‐se de que o valor de seu porVólio não caia abaixo de mínimo
predeterminado.
Podem comprar opções de vendas sobre o porlólio (put op7ons) para cobrir os contratos sobre índices, até o seu vencimento.
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Há mulCplicidade de
comportamentos possíveis
em situações em que há condições de
incerteza não passíveis de serem subme8das ao cálculo atuarial.
Outra limitação da HME é
não considerar o surgimento de
crenças que se auto-‐realizam, porque se apresentam com
maior antecedência, e contagiam grande número de agentes.
A parAr destas constatações se tentará a seguir construir a lógica das condições que podem levar à instabilidade financeira,
cujo caso extremo seria o “crash” de mercado.
Comportamentos Heterogêneos dos InvesCdores versus
Hipótese do Mercado Eficiente
Análise Fundamentalista X Análise Grafista
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INVESTIDORES RACIONAIS INVESTIDORES
QUASE RACIONAIS
Análise Fundamentalista X Análise Grafista
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INVESTIDORES RACIONAIS INVESTIDORES
QUASE RACIONAIS
PREÇOS TEM MEMÓRIA
PREÇOS TEM FUNDAMENTOS
Estratégias de gestão de porXólio
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GESTÃO ATIVA
GESTÃO PASSIVA
Estratégias de gestão de porXólio
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GESTÃO ATIVA
GESTÃO PASSIVA
β α
Estratégias de gestão de porXólio
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GESTÃO ATIVA
GESTÃO PASSIVA
Comprar sempre, de acordo com o “portfólio de mercado”, e reter em longo prazo.
Comprar na baixa e vender logo na alta.
Estratégia de “seguir tendência”
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INVESTIDORES BAIXISTAS (VENDIDOS)
INVESTIDORES ALTISTAS
(COMPRADOS)
Racionais: avaliação de GM e FORD com mesmo valor fundamentado
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AÇÕES GM
AÇÕES FORD
Quase-‐racionais: boato diz que GM é mais valiosa do que FORD
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Ações GM
Ações FORD
Questão
• Quais condições são necessárias para assegurar que os preços de GM e Ford serão semelhantes, como deveriam ser,
caso o mercado tivesse apenas investidores racionais?
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Condições praCcamente inalcançáveis
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SEGUNDO: RACIONAIS DERRUBAREM PREÇOS ACIMA DO VALOR FUNDAMENTADO
OU JUSTO
TERCEIRO: NO CURTO PRAZO, SOMENTE RACIONAIS PODEM VENDER, SE NÃO, QUASE-‐RACIONAIS VENDERIAM FORD QUANDO PREÇOS SE IGUALASSEM
QUARTO: EM ALGUMA DATA T,
A VERDADEIRA RELAÇÃO ENTRE GM E FORD TORNAR-‐SE-‐Á CLARA
PARA TODOS
QUINTO: RACIONAIS DEVERÃO TER
HORIZONTE LONGO O SUFICIENTE PARA INCLUIR ESSA DATA T
PRIMEIRO: PREDOMINAR RACIONAIS
Arbitragem não alcançaria o equilíbrio fundamentado
A idéia da arbitragem é a de que há certos investidores, os arbitradores, que se movimentam rapidamente,
toda vez que os títulos estejam sobre ou sub valorizados, de tal maneira a fazer com que os seus valores voltem a seus
níveis “racionais”, vendendo ou comprando esses títulos.
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Tais movimentos de arbitragem são efetivos se o agente está trabalhando com dois ativos similares e, portanto, substitutos: compra onde está barato e vende onde está mais caro.
Tal arbitragem, no entanto, não seria possível, sem risco, se para o arbitrador todo o estoque de ações está sobrevalorizado, como ocorre em situação de bolha.
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No caso de “bolha, o que o arbitrador deve comprar e vender, para trazer os preços ao seu “nível justo”?
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E sobre o risco de que as ações sobrevalorizadas possam se valorizar ainda mais antes de voltarem para o seu valor racional?
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Como se pode determinar qual é o seu preço racional?
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E se os lucros estão para decolar, de tal maneira que o aparente valor irracional não é tão absurdo?
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E a pressão do “short seller” (vendedor de ação
que não possui), tendo de entregar a ação futuramente?
ParCcipantes do mercado
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MERCADO
INVESTIDORES INSTITUCIONAIS
INVESTIDORES COMUNS
ESPECULADORES PROFISSIONAIS
INVESTIDORES ARBITRADORES
ParCcipantes do mercado
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MERCADO
INVESTIDORES INSTITUCIONAIS
INVESTIDORES COMUNS
ESPECULADORES PROFISSIONAIS
INVESTIDORES ARBITRADORES
Homo Sapiens
Homo Economicus
Homo Economicus
Homo Pragmaticus
ParCcipantes da BOVESPA
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MERCADO
INVESTIDORES INSTITUCIONAIS:
25%
EMPRESAS: 2%
PESSOAS FÍSICAS: 31%
ESTRANGEIROS: 36%
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS:
6%
ParCcipantes da BOVESPA
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MERCADO
INVESTIDORES INSTITUCIONAIS:
25%
EMPRESAS: 2%
PESSOAS FÍSICAS: 31%
ESTRANGEIROS: 36%
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS:
6%
33% ou 1/3
67% ou 2/3
QUASE-RACIONAIS
RACIONAIS
Agregação de diversos comportamentos em diferentes proporções => instabilidade
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RACIONAIS QUASE-‐ RACIONAIS
ESTRANGEIROS
PESSOAS FÍSICAS
INVESTIDORES INSTITUCIONAIS
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS
EMPRESAS
Imitação ou contágio => tamanho relativo dos grupos de agentes heterogêneos não é imutável.
Processo de autopropulsão
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MERCADORES DE BOATO
SEGURADORES DE PORTFÓLIO
ARBITRADORES RACIONAIS
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MERCADORES DE BOATO
SEGURADORES DE PORTFÓLIO
ARBITRADORES RACIONAIS
Investidor racional, adotando o comportamento dos “noisy traders”, pode levar à descontinuidade na tendência do mercado ao
reforçar os efeitos das decisões de venda destes.
Em tal circunstância, os “seguradores de
portfólio” passam a oferecer mais ações,
procurando aumentar suas “posições curtas”, na expectativa que
os preços caíam ainda mais.
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MERCADORES DE BOATO
SEGURADORES DE PORTFÓLIO
ARBITRADORES RACIONAIS
No “crash”, há onda de ordens de vendas de tal maneira que derrubam todos os preços das ações.
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MERCADORES DE BOATO
SEGURADORES DE PORTFÓLIO
ARBITRADORES RACIONAIS
Este processo confirma o pessimismo daqueles que iniciaram o movimento de vendas
das ações, sendo boa parte deles
“noisy traders”.
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MERCADORES DE BOATO
SEGURADORES DE PORTFÓLIO
ARBITRADORES RACIONAIS
Em tal circunstância, os “seguradores de
portfólio” passam a oferecer mais ações, procurando
aumentar suas “posições curtas”, na expectativa que os preços caíam ainda mais.
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Durante o crash, os arbitradores racionais ficam limitados em sua ação de compras das ações em baixa, devido à forte restrição de
liquidez, amplificada pelas vendas dos “seguradores de portfólio”.
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A partir do crash, a baixa especulativa torna-se auto-realizadora, só podendo ser controlada por política fora do
mercado, por exemplo, o processo de salvamento mediante grande injeção de
liquidez no mercado, promovido pelo Banco Central.
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