equoterapia – um enfoque fisioterapêutico na criança portadora
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Curso de Fisioterapia
Raquel Macedo Caetano Moreira
EQUOTERAPIA – UM ENFOQUE FISIOTERAPÊUTICO NA CRIANÇA PORTADORA DE SINDROME DE DOWN
Rio de Janeiro 2009
RAQUEL MACEDO CAETANO MOREIRA
EQUOTERAPIA – UM ENFOQUE FISIOTERAPÊUTICO NA CRIANÇA PORTADORA DE SINDROME DE DOWN
Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida, como requisito para obtenção do título de Fisioterapeuta.
Orientador: Prof° Jose Gabriel Euzébio Werneck
Rio de Janeiro 2009
RAQUEL MACEDO CAETANO MOREIRA
EQUOTERAPIA – UM ENFOQUE FISIOTERAPÊUTICO NA CRIANÇA PORTADORA DE SINDROME DE DOWN
Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida, como requisito para obtenção do título de Fisioterapeuta. Orientador: Prof° Jose Gabriel Euzébio Werneck
Aprovada em: ____/____/2009.
Banca Examinadora: Prof(a). Dr(a). Professor(a) da Faculdade de Fisioterapia da UVA. Presidente da Banca Examinadora. Prof(a). Dr(a). Professor(a) da Faculdade de Fisioterapia da UVA. Membro da Banca Examinadora. Prof(a). Dr(a). Professor(a) da Faculdade de Fisioterapia da UVA. Membro da Banca Examinadora. Grau: ___________________.
Rio de Janeiro 2009
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a Deus, pela vida e oportunidade de estar concluindo mais
uma etapa.
Aos meus pais: Ricardo Gameleiro Moreira e Nadia Macedo Caetano Moreira e meu Namorado,
Luiz Fernando Mothe de Figueiredo pelo apoio, incentivo e por sempre estarem presentes
em todos os momentos.
AGRADECIMENTOS
Ào meu orientador Gabriel Werneck, pela orientação deste trabalho, pelo grande
auxilio prestado na coleta de dados e pelo tempo disponível para as conversas e conselhos.
Aos professores do meu curso, e ao meu coordenador Silmar Teixeira.
Taiane Cardoso, uma grande fisioterapêuta, obrigada, por ter me entregado seu tempo de trabalho e me auxiliado e orientado em sua sabedoria e seus conselhos e também nos textos.
Anna B. Almeida, Dilene Nascimento, bibliotecárias da fiocruz, obrigada pela disposição e
pela procura comigo de artigos sobre o meu tema.
Aos pacientes crianças portadoras de deficiência física e mental, fez-me ver o mundo com outro olhos voltados para humildade, se não fosse por vocês,
nada teria construído com tanta de dedicação e carinho. Obrigada.
As minhas amigas, Renata e Sabrina que fizeram parte da minha história de vida, pois foram quatro anos de convivência e muitas situações ultrapassadas e vencidas.
À minha Tia Luciana que me ajudou com seus conhecimentos e disponibilizando seu tempo
me auxiliando e orientando nos textos e apresentações.
À todas as pessoas que me apoiaram com palavras de incentivo, e as que também me ajudaram em oração nessa fase tão especial e importante da minha vida.
AGRADECIMENTO ESPECIAL
A Deus, criador e mantenedor de todas as coisas, que me deu a oportunidade de participar neste momento da vida com uma obra tão digna e cheia de significado que é compartilhar,
ensinar e aprender com pessoas especiais como os que sofreram perdas irreparáveis no passado com a poliomielite e, ainda, sofrem pelas limitações físicas, preconceitos e medo.
“Eu vi uma criança que não podia andar. Sobre um cavalo, cavalgava por prados floridos que não conhecia. Eu vi uma criança sem força em seus braços. Sobre um cavalo, o conduzia por lugares nunca imaginados. Eu vi uma criança que não podia enxergar. Sobre um cavalo, galopava rindo do meu espanto, com o vento em seu rosto. Eu vi uma criança renascer, tomar em suas mãos as rédeas da vida e, sem poder falar, com seu sorriso dizer: ‘Obrigado Deus, por me mostrar o caminho’.” (JOHN ANTHONY DAVIES)
RESUMO
A proposta deste trabalho parte do princípio de que a equoterapia pode ser utilizada no
tratamento de crianças com deficiências físicas e mentais, podendo ser utilizada tanto de
forma complementar como no tratamento isolado. A equoterapia é uma forma de tratamento
que desperta curiosidade nas pessoas por usar o cavalo como recurso na reabilitação de
pessoas com deficiências. O objetivo deste trabalho é mostrar os benefícios deste recurso no
tratamento fisioterapêutico em crianças portadoras da síndrome de Down, além de divulgar a
utilização da equoterapia como um método não convencional aumentando as opções para
melhoria da qualidade de vida dessas crianças. Para esta finalidade foi realizada uma pesquisa
bibliográfica baseada em artigos indexados no banco de dados da medline, sinopses,
periódicos, trabalhos de conclusão de curso relacionados ao assunto, apostilas de equoterapia
e livros científicos com assuntos relacionados à síndrome de Down, dividindo o trabalho
basicamente em 2 partes, uma consideração geral sobre a síndrome de Down e a equoterapia
com sua definição, histórico, meios de utilização, indicações, enfim um esclarecimento geral
sobre os benefícios da equoterapia como recurso terapêutico. Neste método de tratamento são
empregadas as técnicas de equitação e atividades eqüestres, nas áreas de saúde e educação,
para proporcionar aos praticantes benefícios físicos, psicológicos, educacionais e sociais. Esta
atividade exige a participação do corpo inteiro e trabalha o praticante de forma global, o que
contribui para o desenvolvimento do tônus e força muscular, relaxamento, equilíbrio,
coordenação motora, atenção e auto-estima.
Palavras – chave: Equoterapia; equilíbrio; síndrome de Down.
ABSTRACT
The proposal of this work is based on a principle that the therapeutic horseback riding
can be used to treat children with physical and mental deficiencies, being able to be used in a
complementary way as in the isolated treatment. The therapeutic horseback riding is a
treatment form that leads curiosity in some people by using the horse as a resource to
rehabilitate people with deficiencies. The objective of this work is to show the benefits of this
resource in the treatment of the balance deficit in children with Down syndrome, besides
divulging the use of the therapeutic horseback riding as a not conventional method increasing
the options to improve the life quality of these children. For this purpose a based
bibliographical research was carried through in articles indexaded in the data base of medline,
synopses, periodics, related conclusion course works subjected, emends of therapeutic
horseback riding and scientific books with subjects related to Down syndrome, dividing the
work in 2 parts, a general consideration of Down syndrome and the therapeutic horseback
riding with its definition, description, ways of use, indications, at last a general clarification
about the benefits of the therapeutic horseback riding as therapeutical resource. In this
treatment method techniques of riding and horsemanship activities are used, in the areas of
health and education, to provide to the practitioner physical, psychological, educational and
social benefits. This activity demands the participation of the entire body and improves the
practitioner on global forms, contribuing to development of tonus and muscular strength,
relaxation, balance, motor coordination, attention and auto-esteem.
Key – words: Therapeutic Horseback Riding; Balance; Down syndrome.
SUMÁRIO INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 11
CAPÍTULO I
1. A SÍNDROME DE DOWN .............................................................................................. 13
1.1 Historico .......................................................................................................................... 14
1.2 Etiologia ........................................................................................................................... 15
1.3 Fenótipo ............................................................................................................................16
1.4 Sobrevida pré e pós natal ............................................................................................... 17
1.5 Crescimento e Desenvolvimento .................................................................................... 18
1.6 Prognóstico ..................................................................................................................... 19
1.7 Tratamento Fisioterapêutico ......................................................................................... 20
1.8 Intervenção Fisioterapêutica ......................................................................................... 21
CAPÍTULO II
2. FUNDAMENTOS SOBRE A EQUOTERAPIA ............................................................ 29
2.1 Histórico .......................................................................................................................... 30
2.2 Definição .......................................................................................................................... 31
2.3 Indicações e Contra Indicações ..................................................................................... 32
2.4 A Equipe Interdisciplinar .............................................................................................. 33
2.5 A Escolha do cavalo para a prática de Equoterapia .................................................... 33
2.5.1 O Cavalo ........................................................................................................................ 33
2.5.2 Andaduras do Cavalo ..................................................................................................... 34
2.5.2.1 O Passo ....................................................................................................................... 34
2.5.2.2 O Trote ........................................................................................................................ 34
2.5.2.3 O Galope .................................................................................................................... 35
2.5.3 Freqüência do Cavalo ..................................................................................................... 35
2.5.4 O Movimento Tridimensional do dorso do cavalo e sua semelhança com a Marcha
Humana ................................................................................................................................... 35
2.6 O Cavalo ideal para a Equoterapia................................................................................ 38
2.7 Estrutura para a realização da Equoterapia ................................................................ 39
2.8 Objetivos da Equoterapia .............................................................................................. 39
2.9 Programas da Equoterapia ............................................................................................ 40
2.9.1 Hipoterapia .................................................................................................................... 40
2.9.2 Equitação Terapêutica .................................................................................................... 41
2.9.3 Ppé- esportivo ................................................................................................................ 42
2.9.4 Esportivo ........................................................................................................................ 42
CAPITULO III
3 .PRÁTICA DA EQUOTERAPIA ..................................................................................... 43
3.1 Atividades Desenvolvidas durante a Equoterapia ....................................................... 43
3.1.1 Escovar o cavalo ............................................................................................................ 43
3.1.2 Acariciar o cavalo ...........................................................................................................44
3.1.3 Trançar a crina do cavalo ............................................................................................... 45
3.1.4 Basquete ......................................................................................................................... 45
3.1.5 Bastão ............................................................................................................................ 46
3.1.6 Volteio ............................................................................................................................ 46
3.1.7 Aviãozinho ..................................................................................................................... 47
3.1.8 Tábua de parafusos ........................................................................................................ 47
3.1.9 Decúbito ventral e dorsal ............................................................................................... 48
3.1.10 Encilhar/desencilhar o cavalo ...................................................................................... 48
3.1.11 Massinha ...................................................................................................................... 49
3.1.12 Folha da árvore ............................................................................................................. 49
3.1.13 Ziguezague ................................................................................................................... 50
3.1.14 Ficar de pé sobre o estribo ........................................................................................... 50
3.1.15 Redondel ...................................................................................................................... 51
3.1.16 Montar/apear fora da rampa ......................................................................................... 51
DISCUSSÃO ......................................................................................................................... 53
CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 55
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 57
ANEXO .................................................................................................................................. 60
11
INTRODUÇÃO
Os trabalhos sobre síndrome de Down surgiram há muitos anos, por volta do século
XIX, e a cada dia novos estudos surgem com propostas inovadores sobre o assunto. No
entanto, através de pesquisas realizadas sobre a evolução dos estudos sobre a síndrome,
encontramos um fato muito interessante que é a imagem que a sociedade por muitos anos
postulou aos sindromicos:
Na cultura grega, especialmente na espartana, os indivíduos com deficiências não
eram tolerados. A filosofia grega justificava tais atos cometidos contra os deficientes
postulando que estas criaturas não eram humanas, mas um tipo de monstro pertencente a
outras espécies. (...) Na Idade Média, os portadores de deficiências foram considerados como
produto da união entre uma mulher e o Demônio. (MUSTACCHI, 1999).
Por muitos anos a criança Down era considerada como a retardada, a incapaz e em
algumas sociedades era até mesmo considerado como monstro ou filho do demônio.
Infelizmente, atualmente, ainda, encontramos algumas confusões sobre o conceito, que é
confundido com deficiente mental:
"A síndrome de down é decorrente de um erro genético presente desde o momento da
concepção ou imediatamente após (...)" (MUSTACCHI, 1999).
No entanto, como descreve MUSTACCHI (1999), sabemos atualmente que a
síndrome se trata de uma alteração genética e que os portadores da síndrome, embora
apresentem algumas dificuldades podem ter uma vida normal e realizar atividades diárias da
mesma forma que qualquer outra pessoa. Não negamos a afirmação de que o Down apresenta
algumas limitações e até mesmo precise de condições especiais para aprendizagem, mais
enfatizamos, que estes através da equoterapia podem se desenvolver.
A criança portadora da síndrome de Down tem como características o déficit do
equilíbrio, hipotonia muscular, alterações posturais e a falta de coordenação motora, além do
atraso no desenvolvimento neurológico.
Vendo a criança de uma forma global, observa-se a necessidade de um tratamento
eficiente que trabalhe de forma completa, não isoladamente cada patologia ou deformidade.
Desta forma pode-se dizer que a equoterapia se enquadra nesse contexto pois este método de
tratamento pode ser aplicado em várias situações, e sua utilização traz diversos benefícios
físicos, psicológicos, educacionais e sociais a seus praticantes.
12
O cavalo faz com que o praticante realize movimentos tridimensionais verticais e
horizontais, mesmo que involuntariamente em cima do dorso do cavalo, e esses movimentos
são únicos, sendo que nenhum outro equipamento ou aparelho consegue simulá-los.
É através destes movimentos que a equoterapia trabalha, como uma máquina
terapêutica, proporcionando ao praticante uma capacidade motora antes desconhecida. É
necessária toda uma adaptação do cavaleiro sobre o cavalo para manter o equilíbrio e
proporcionar um ajuste tônico.
As atividades sobre o cavalo aumentam os períodos de atenção, possibilitando maior
concentração e melhor disciplina, facilitando o aprendizado a despeito das limitações
intelectuais, psicológicas e físicas dos diversos tipos de comprometimentos neurológicos e
motores.
Este trabalho tem como objetivo mostrar aos leitores a utilização da equoterapia no
tratamento de pacientes com síndrome de Down.
Além disso, estar divulgando esse recurso, e abrindo novos horizontes, mostrando as
várias opções de recursos disponíveis que trazem benefícios às crianças portadoras de
deficiências físicas e neurológicas. Com isso também possibilitar aos demais acadêmicos da
área da saúde e educação a iniciação à pesquisa, aumentando o interesse e a utilização da
equoterapia, tanto como um tratamento complementar como também um recurso de terapia
independente.
A equoterapia está relacionada intimamente com prazer e lazer. Com os
conhecimentos de uma equipe interdisciplinar especializada realiza um tratamento sobre o
cavalo e com o cavalo, de modo que os praticantes sintam-se bem confortáveis e cada vez
mais confiantes ao longo das sessões. Isso trabalha o paciente por completo, de forma global,
sendo significativamente importante para as crianças portadoras da síndrome de Down.
13
CAPÍTULO I
SÍNDROME DE DOWN
A síndrome de Down é decorrente de uma alteração genética ocorrida durante ou
imediatamente após a concepção. A alteração genética se caracteriza pela presença a mais do
autossomo 21, ou seja, ao invés do indivíduo apresentar dois cromossomos 21, possui três. A
esta alteração denominamos trissomia simples. (MUSTACCHI, 1999).
No entanto podemos encontrar outras alterações genéticas, que causam síndrome de
Down. Estas são decorrentes de translocação, pela qual o autossomo 21, a mais, está fundido a
outro autossomo.
O erro genético também pode ocorrer pela proporção variável de células trissômicas
presente ao lado de células citogeneticamente normais.
Estes dois tipos de alterações genéticas são menos freqüentes, que a trissomia simples.
Estas alterações genéticas decorrem de "defeito" em um dos gametas, que formarão o
indivíduo. Os gametas deveriam conter um cromossomo apenas e assim a união do gameta
materno com o gameta paterno geraria um gameta filho com dois cromossos, como toda a
espécie humana. Porém, durante a formação do gameta pode haver alterações e através da
não-disjunção cromossômica, que é realiza durante o processo de reprodução, podem ser
formados gametas com cromossomos duplos, que ao se unirem a outro cromossomo pela
fecundação, resulta em uma alteração cromossômica. (THOMPSON; McINNES e
WILLARD, 1993).
Estas alterações genéticas alteraram todo o desenvolvimento e maturação do
organismo e inclusive alteraram a cognição do indivíduo portador da síndrome. Além de
conferirem lhe outras características relacionadas a síndromes.
De forma geral algumas características do Down são: o portador desta síndrome é um
individuo calmo, afetivo, bem humorado e com prejuízos intelectuais, porém podem
apresentar grandes variações no que se refere ao comportamento destes pacientes. A
personalidade varia de indivíduo para indivíduo e estes podem apresentar distúrbios do
comportamento, desordens de conduta e ainda seu comportamento podem variar quanto ao
potencial genético e características culturais, que serão determinantes no comportamento.
(MUSTACCHI, 1999).
14
1.1 HISTORICO
O registro antropológico mais antigo da Síndrome de Down deriva das escavações de
um crânio saxônico, datado do século VII, apresentando modificações estruturais vistas com
freqüência em crianças com Síndrome de Down.
Algumas pessoas acreditam que a Síndrome de Down tenha sido representada no
passado em esculturas e pictografias. Os traços faciais de estatuetas esculpidas pela cultura
Olmec há quase 3.000 anos foram considerados semelhantes aos de pessoas com Síndrome de
Down. O exame cuidadoso dessas estatuetas, porém, gera dúvidas sobre essa afirmação.
Apesar das conjecturas históricas, nenhum relatório bem documentado sobre pessoas
com Síndrome de Down foi publicado antes do século XIX. Há várias razões para isso: em
primeiro lugar, havia poucas revistas médicas disponíveis naquela época; em segundo
somente alguns poucos pesquisadores estavam interessados em crianças com problemas
genéticos e deficiência mental; em terceiro, outras doenças, como infecções e a desnutrição
predominavam naquela época, ofuscando muitos dosproblemas genéticos e de malformação; e
em quarto, até os meados do século XIX, somente metade das mães sobreviviam além dos 35
anos de vida (é bem conhecido o aumento de incidência de Síndrome de Down em mães de
idade avançada) e muitas das crianças certamente nascidas com Síndrome de Down
provavelmente morriam na primeira infância. (WERNECK 1993).
A primeira descrição de uma criança que se presume tinha Síndrome de Down foi
fornecida por Jean Esquirol1 em 1838. Logo a seguir, em 1846, Edouard Seguin descreveu
um paciente com feições que sugeriam Síndrome de Down, denominando a condição de
"idiotia furfurácea". Em 1866, Duncan registrou uma menina "com uma cabeça pequena e
redonda, olhos parecidos com os chineses, projetando uma grande língua e que só conhecia
algumas palavras". Naquele mesmo ano, John Langdon Down publicou um trabalho no qual
descreveu algumas das características da síndrome que hoje leva o seu nome.
O cabelo não é preto como é o cabelo de um verdadeiro mongol, mas é de cor
castanha, liso e escasso. O rosto é achatado e largo. Os olhos posicionados em linha oblíqua.
O nariz é pequeno. Estas crianças têm um poder considerável para a imitação. (WERNECK
1993).
Down merece o crédito pela descrição de características clássicas desta condição,
assim distinguindo estas crianças de outras com deficiência mental, em particular aquelas com
cretinismo (um desordem congênita da tireóide). Assim, a grande contribuição de Down foi
15
seu reconhecimento das características físicas e sua descrição da condição como entidade
distinta e separada.
Assim como muitos cientistas contemporâneos dos meados do século XIX, Down foi
certamente influenciado pelo livro de Charles Darwin, A origem das espécies.
Em conformidade com a teoria da evolução de Darwin, Down acreditava que a
condição que agora chamamos de Síndrome de Down era um retorno a um tipo racial mais
primitivo. Ao reconhecer nas crianças afetadas uma aparência algo oriental, Down criou o
termo "mongolismo" e chamou a condição, inadequadamente, de "idiotia mongolóide". Hoje
sabemos que as implicações raciais são incorretas. (OSKI et al., 1992).
Após 1866, nenhum registro de Síndrome de Down foi publicado por cerca de uma
década, até que J. Frase e A. Mitchell descreveram, em 1876, pacientes com essa condição,
denominando-os de "idiotas Kalmuck". Mitchell chamou atenção para o pescoço encurtado e
para a idade mais avançada das mães quando deram à luz. Frase e Mitchell merecem o crédito
por terem fornecido o primeiro relato científico da Síndrome de Down numa reunião em
Edimburgo, em 1875, quando Mitchell apresentou observações de 62 pessoas com Síndrome
de Down.
No início deste século, muitos relatórios médicos foram publicados descrevendo
detalhes adicionais de anormalidades encontradas em pessoas com Síndrome de Down e
discutindo várias causas possíveis. Os progressos no método de visualização dos
cromossomos em meados dos anos 1950 permitiram o estudo mais preciso de cromossomos
humanos, levando à descoberta de Lejeune, há mais de 70 anos, de que crianças com
Síndrome de Down têm um cromossomo 21 extra. (WERNECK 1993).
1.2 ETIOLOGIA
Os portadores da síndrome de Down possuem excesso de cromossomos. A trissomia
do 21 é a anormalidade cromossômica mais comum totalizando 92% dos casos e os 8%
restantes advêm de translocações. A probabilidade de ter um filho com trissomia do 21
aumenta com a idade materna. “Nas mães menores de 20 anos de idade, a incidência da
síndrome de Down é de 1:2500 nascidos vivos, enquanto nas mães com 45 anos de idade é de
aproximadamente 1:50” (OSKI et al., 1992).
Apesar disso encontramos um maior número de mães menores de 35 anos com
crianças portadoras da síndrome de Down pela proporção maior de mães com esta faixa
etária.
16
Para Stern (1982), a idade do pai não influencia na incidência, ou seja, não é uma das
causas do aparecimento de casos de síndrome de Down. E segundo Stansfield (1985), o que
pode estar relacionado é a não-disjunção do par de cromossomos 21 durante a
espermatogênese podendo produzir uma criança com síndrome de Down.
1.3 FENÓTIPO
As características dismórficas podem variar, entretanto as crianças com síndrome de
Down apresentam um fenótipo distintivo. Os pacientes apresentam hipotonia, baixa estatura e
braquicefalia. O pescoço é curto, com pele redundante na nuca. “As orelhas são de
implantação baixa e têm uma aparência dobrada típica, os olhos exibem manchas de
Brushfield ao redor da margem da íris e a boca é aberta, muitas vezes mostrando a língua
sulcada e saliente” (THOMPSON; McINNES e WILLARD, 1993).
As mãos são curtas e largas, podendo existir uma única prega palmar transversa,
denominada “prega simiesca” e os quintos dedos defletidos, ou clinodactilia. Os pés mostram
um amplo espaço entre o primeiro e o segundo dedos, com um sulco estendendo-se
proximalmente na face plantar (THOMPSON; McINNES e WILLARD, 1993).
Quanto ao desenvolvimento, essas crianças apresentam um certo atraso que aparece
até o final do primeiro ano (THOMPSON; McINNES e WILLARD, 1993).
Com cerca de 9 meses essas crianças se sentam, e andam sem apoio aos 2 anos de
idade. Somente perto dos 4 anos se inicia o uso de algumas palavras e sentenças curtas
(MARCONDES et al., 1978).
Com o decorrer de seu desenvolvimento observa-se um atraso cognitivo e diminuição
da concentração. Os bebês com síndrome de Down manifestam perturbações do
comportamento lingüístico que resultam em alterações na compreensão, expressão e
funcionalidade da linguagem e são devidas a múltiplos fatores, como limitações do
desenvolvimento cognitivo, alterações no funcionamento neurológico, distúrbios de audição,
alterações do desenvolvimento motor (TRISTÃO e FEITOSA, 1998).
A principal alteração do desenvolvimento motor é a hipotonia muscular, que pode
comprometer o controle da língua, dos lábios e dos demais componentes do aparelho fonador,
incluindo os da respiração (TRISTÃO e FEITOSA, 1998).
Outras alterações que podem aparecer estão no sistema urinário, onde o controle
esfincteriano é adquirido ao redor de 4 anos. Em 40% dos casos de síndrome de Down são
encontradas cardiopatias congênitas. Possivelmente, por causa do desenvolvimento muscular
anormal, o abdômen das crianças com síndrome de Down é protuberante, freqüentemente
17
encontra-se a diástase dos retos e a hérnia umbilical e essas crianças estão mais suscetíveis às
infecções do trato respiratório (MARCONDES et al., 1978).
O cerebelo e tronco cerebral têm tamanho, relativamente pequeno e a redução no
tamanho dos hemisférios cerebrais é especialmente aparente nos pólos frontais (UMPHRED,
1994).
Pode-se encontrar alterações neurofibilares e placas neuríticas, similares às
encontradas nos pacientes com síndrome de Alzheimer, podem estar presentes nos pacientes
com síndrome de Down que ultrapassam os 40 anos de idade (SANVITO, 1997).
McGraw (1966) observou uma falta de mielinização das fibras nervosas nas áreas pré-
centrais, nos lobos frontais e cerebelo de bebês com síndrome de Down, mostrando uma falta
de maturidade do SNC. E conforme colocou o mesmo autor, “a quantidade de mielina no
cérebro reflete o estágio de maturação do desenvolvimento”. Esse atraso da mielinização
parece ser um fator contribuinte para a hipotonicidade generalizada aparente durante esse
período (UMPHRED, 1994).
Observa-se também uma persistência de vários reflexos primitivos além do tempo que
deveriam normalmente desaparecer. Entre esses reflexos estão os reflexos de preensão palmar
e plantar, o reflexo de marcha e o reflexo de Moro. As possíveis causas neurológicas para
esses achados clínicos seriam a maturação cerebelar, o tamanho do cerebelo e tronco cerebral
relativamente pequenos e o retardo de maturação das vias corticais a partir do córtex motor
(COWIE, 1970).
A região do cromossomo 21 é essencial para a expressão das alterações faciais,
neurológicas e cardiovasculares e os genes localizados dentro dessa região é que determinam
o fenótipo característico da síndrome de Down e sua perspectiva de vida (COTRAN;
KUMAR e COLLINS, 1999).
1.4 SOBREVIDA PRÉ E PÓS-NATAL
Cerca de três quartos dos fetos com a síndrome de Down perdem-se por aborto
espontâneo no primeiro trimestre e, muitas das que sobrevivem, morrem no início da vida
pós-natal (THOMPSON; McINNES e WILLARD, 1993). Segundo o mesmo autor, “Os
pacientes com menores chances de sobrevida antes e após o nascimento são aqueles com
cardiopatia congênita; um quarto dos bebês com defeitos cardíacos morrem antes do primeiro
aniversário”.
18
Atualmente sabe-se que, com o avanço da medicina, a sobrevida dessas crianças tem
aumentado muito, encontrando-se inclusive, muitos adultos com idade superior a 30 anos,
portadores da síndrome de Down.
Na síndrome de Down, a senilidade prematura associada às características
neuropatológicas típicas da doença de Alzheimer, é encontrada várias décadas antes do que
apareceria na população em geral (THOMPSON; McINNES e WILLARD, 1993).
1.5 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO
Na síndrome de Down o peso ao nascimento é menor que o esperado para sua idade
gestacional e estas crianças tendem a nascer prematuramente (MARCONDES et al., 1978).
Segundo Henderson (1985), as fases do desenvolvimento motor geralmente são atingidas com
certo atraso. “O lactente normal é capaz de ficar sentado sem ajuda aos 6 meses, de ficar em
pé aos 11 meses e de caminhar com 12 meses, ao passo que o lactente com síndrome de Down
alcança esses marcos na idade de 9, 18 e 19 meses, respectivamente”.
A falta de controle motor e de força muscular podem ser os principais fatores
responsáveis pelo atraso da aquisição da deambulação independente nas crianças com
síndrome de Down (SHEPHERD, 1998).
A falta de estímulo dos pais também exerce grande influência sob o controle de
cabeça. Geralmente há uma hesitação dos pais em manusear o lactente e brincar com ele.
Quando a criança raramente é tirada do berço o estímulo para adquirir o controle sobre a
cabeça e o tronco estará ausente. E essa falta de controle de tronco irá dificultar a aquisição do
equilíbrio (SHEPHERD, 1998).
Quanto ao tono muscular, este tende a melhorar com a idade e o progresso do
desenvolvimento sofre um declínio conforme a criança cresce. Geralmente o crescimento é
lento nos primeiros 8 anos de vida, os centros de ossificação secundários são lentos no seu
desenvolvimento e numa fase mais tardia da infância, a maturação óssea fica dentro dos
limites da normalidade sendo que, por volta dos 15 anos de idade, é atingida a estatura final
(CARAKUSHANSKY, 1979).
Há atraso no desenvolvimento motor e habilidades de auto-ajuda e um déficit de
equilíbrio importante que pode persistir até a adolescência (SARRO e SALINA, 1999). O
desenvolvimento do equilíbrio também pode ser influenciado pela falta de integração dos
estímulos visuais, vestibulares e somatossensitivos e na dificuldade que o indivíduo tem de se
adaptar às modificações ambientais (BURNS e MacDONALD, 1999).
19
Os ajustes posturais são deficitários nas crianças com síndrome de Down e essas
crianças se adaptam de maneira precária às mudanças com relação às condições da tarefa,
quando comparadas com crianças normais da mesma idade. As respostas apresentadas pelas
crianças com síndrome de Down indicam que as deficiências em relação ao equilíbrio não são
devidas à hipotonia como tal e sim às falhas dos mecanismos posturais (SHEPHERD, 1998).
A própria hipotonia não está condicionada com a força do movimento voluntário, mas
parece mais associada às reações posturais. A melhora das reações posturais coincide com a
melhora dos músculos hipotônicos (LEVITT, 2001).
As crianças com síndrome de Down geralmente adaptam seus movimentos para
compensar suas incapacidades de ajustes equilíbrio e postura para deslocamento do seu centro
de gravidade sobre a base de sustentação. Essas adaptações geralmente consistem em
alargamento da base de apoio e no emprego das mãos para apoiar-se (SHEPHERD, 1998).
Algumas crianças com síndrome de Down podem apresentar luxação atlantoaxial
sintomática que pode ocorrer em qualquer momento, desde o nascimento até a 3ª década
(FENICHEL, 1995). Antes de participar de exercícios intensos que solicitem as estruturas do
pescoço, essas crianças precisam ser submetidas ao exame da estabilidade da articulação
atlanto-axial (COOKE, 1991).
Em relação ao desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, se encontram
incompletos, sendo que as meninas podem menstruar e ser férteis (CARAKUSHANSKY,
1979), e, segundo Marcondes et al (1978), costumam ter puberdade tardia e menopausa
precoce, e os rapazes são considerados inférteis.
1.6 PROGNÓSTICO
Muitos dos indivíduos com síndrome de Down morrem no período da lactação e antes
poucos sobreviviam além da primeira ou segunda década (MERRIT, 1977). Hoje se sabe que,
com a tecnologia da medicina atual, a maioria dessas crianças tem um ótimo prognóstico de
vida. Porém as doenças cardíacas congênitas associadas e as doenças infecciosas agudas ainda
são as principais causas de morte na síndrome de Down.
“Metade dos pacientes, com os cuidados atualmente disponíveis, sobrevivem além dos
50 anos, embora com senilidade prematura e achados neuropatológicos” (MOTTA, 1993).
Não existe um tratamento farmacológico ou cirúrgico que vá curar os sintomas da síndrome
de Down, mas sim recursos que podem estar ajudando a prevenir as deformidades e
diminuindo a velocidade de progressão das complicações características desta síndrome.
20
Entre as terapias disponíveis e úteis encontramos a fisioterapia, muito utilizada para
tratar e prevenir estas deformidades e complicações que surgem conforme o desenvolvimento
da criança.
1.7 TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO
O tratamento fisioterapêutico para a criança com síndrome de Down varia de acordo
com as necessidades e a idade de cada criança. Os principais objetivos da fisioterapia para
uma criança com menos de 1 ano de idade focalizam o desenvolvimento das habilidades
motoras que seguem os padrões e seqüências normais de desenvolvimento. Entre elas estão
melhorar o controle da cabeça, o rolar, sentar-se com e sem apoio. Para o lactente muito
pequeno, estão as estimulações para as expressões motoras de interação, como virar a cabeça,
alcançar um brinquedo ou levantar a cabeça quando em decúbito ventral (RATLIFFE, 2000).
Aproximadamente aos 2 anos, idade em que as crianças com síndrome de Down
aprendem a andar, a fisioterapia tem como meta a mobilidade, a marcha, estímulos para
transferência de peso e diferentes posições. Numa fase de marcha mais avançada, são
utilizadas atividades que estimulam o subir e descer degraus, andar em terreno acidentado,
pular, correr e chutar bola (RATLIFFE, 2000).
“As habilidades integradas importantes, aprendidas durante essa idade, incluem
planejamento motor, ou aprender como planejar a coordenação de membros inferiores e
superiores, e movimento do tronco na ordem correta para atingir uma meta motora”
(RATLIFFE, 2000).
Em idade escolar, a sociabilidade e as interações passam a ter maior significado para a
criança e sua família (RATLIFFE, 2000). Segundo Sarro e Salina (1999), independentemente
do método utilizado, os objetivos gerais da área motora visam explorar o potencial motor da
criança, direcionando-a nas sucessivas etapas do desenvolvimento motor, auxiliar na
aquisição de padrões essenciais e fundamentais do desenvolvimento motor, prepará-la para
uma atividade motora subseqüente mais complexa; visam também proporcionar maior
independência motora e dar condições para que possa desenvolver simultaneamente outras
habilidades relacionadas com o desenvolvimento da capacidade motora global.
A partir desses princípios desenvolvem-se os objetivos específicos, como normalização
do tônus global, inibição de padrões anormais de movimento e postura, aumento do limiar de
sensibilidade tátil e cinestésica, estimulação proprioceptiva nas diversas posturas,
desenvolvimento das reações de proteção, retificação e equilíbrio (SARRO e SALINA, 1999).
21
Os pais de crianças com síndrome de Down recorrem a diversos tipos de terapias
alternativas e complementares para auxiliar no desenvolvimento de seus filhos, recorrendo a
tudo que podem para melhorar a sua perspectiva de vida. E entre essas alternativas se
enquadra a equoterapia que pode ser usada isoladamente ou como complemento à fisioterapia
(SAENZ, 1999).
Para obter-se resultados concretos quanto à utilização da equoterapia no tratamento do
equilíbrio em crianças com síndrome de Down, pode-se utilizar uma escala de equilíbrio
numa avaliação antes e após uma certa quantidade de sessões.
Tem-se como exemplo o teste de equilíbrio de Tinetti adaptado, que quantifica a
capacidade de equilíbrio e marcha que o praticante possui dando valores, sendo que esses
valores podem ser mensurados antes e depois do tratamento.
É importante também a realização de uma avaliação dos reflexos de equilíbrio e
proteção e a reação de endireitamento, para se fazer uma comparação dos resultados após a
equoterapia. (RATLIFFE, 2000).
1.8 INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA
Criança portadora da Síndrome de Down é muito dócil depois de conquistada, o que
torna a terapia uma troca muito gratificante para o terapeuta, pelo relacionamento com essas
crianças especiais, e para crianças com o alívio que traz a terapia. Antes de qualquer técnica
específica de estimulação, a convivência saudável com a criança deve ser uma das prioridades
da estimulação, pois é a partir dela que ocorre o desenvolvimento. (STEGUN, 2003).
O desenvolvimento do bebê é manifestação eminentemente motora, por isso o
programa nessa área é fortemente desenvolvido respeitando os níveis de rendimento da
criança, possibilitando maior postura, melhor tonicidade e melhor equilíbrio. Dependendo das
deficiências específicas, técnicas de fisioterapia são aplicadas para inibição de reflexos
patológicos. Chegar o mais cedo possível aos profissionais que tratam do problema,
principalmente o fisioterapeuta, vai fazer toda diferença no desenvolvimento da criança já nos
primeiros meses de vida, nesta fase, com exceção dos traços físicos, a defasagem não é muito
evidente, por isso, é vital que essa criança comece a ser estimulada imediatamente. (PIERÓ,
et.al 1987).
Uma das características principais da Síndrome de Down, e que afeta diretamente o
desenvolvimento psicomotor, e a hipotonia generalizada, presente desde o nascimento. A
hipotonia origina-se no sistema nervoso central e afeta toda a musculatura e a parte ligamentar
22
da criança. Com o passar do tempo, a hipotonia tende a diminuir espontaneamente, mas ela
permanecerá presente por toda a vida, em graus diferentes. O tônus é uma característica
individual, por isso há uma variação entre as crianças com esta síndrome. A criança que
nasceu com Síndrome de Down vai controlar a cabeça, rolar, sentar, arrastar, engatinhar,
andar e correr, exceto se houver algum comprometimento além da síndrome. Quando ela
começa a andar, há necessidade ainda de um trabalho específico para o equilíbrio, a postura e
a coordenação de movimentos. A hipotonia muscular faz com que haja um desequilíbrio de
força nos músculos da boca e face, ocasionando alterações na arcada dentária, projeção no
maxilar inferior e posição inadequada da língua e lábios com a boca aberta e a língua sempre
para fora, a criança respira pela boca, o que acaba alterando a forma do palato. Esses fatores,
dentre outros, fazem com que os movimentos fiquem mal coordenados. (RATLIFFE, 2000).
É essencial que nesta fase, na qual há maior independência motora, a criança tenha
espaço para correr e brincar e possa exercitar sua motricidade global. A brincadeira deve estar
presente em qualquer proposta de trabalho infantil, pois é a partir dela que a criança explora e
internaliza conceitos, sempre aliados inicialmente à movimentação do corpo.
O desenvolvimento global da criança portadora de Síndrome de Down acontece com
retardo ao padrão da normalidade, no entanto a criança pode chegar a progressos
consideráveis com boa estimulação do meio facilitados por profissionais capacitados e,
sobretudo, pela família com a qual convive diariamente. Na seqüência do desenvolvimento do
indivíduo, em primeiro lugar vem a postura, depois a ação motora, para depois vir ação
mental. Isto quer dizer que qualquer ação mental, organizada, dependerá de um sistema
postural bem estruturado e conseqüentemente de movimentos intencionais bem organizados e
para que isso plenamente será preciso não só a integridade do cérebro, das vias que se
comunicam com ele, como também do aprendizado através do ambiente. Se a estimulação é
importante para qualquer criança com ou sem atraso no desenvolvimento, a criança Down tem
essa necessidade muito mais inerente de experimentar situações e conviver com pessoas
diferentes às de seu ambiente. O desenvolvimento de uma criança se dá através de descobertas
de si mesmo e do mundo que a rodeia. (PUESCHEL, 1999).
O profissional fisioterapeuta ajuda no processo de desenvolvimento da criança com
Síndrome de Down em todos os aspectos, porque a criança com essa Síndrome tem que ser
abordada como um todo, e isso são imprescindíveis para o desenvolvimento. É importante
começar o mais cedo possível a fisioterapia nas crianças portadoras dessa síndrome. Existem
pontos a ter cuidados com a Síndrome de Down, que seria cardiopatias graves que pode ser
23
encontrada. Outro aspecto que o fisioterapeuta tem que ter cuidado é com alguma alteração
cervical, que pode vir acompanhada.
Tratada precocemente, a SD não traz comprometimentos ao desenvolvimento motor. É
importante salientar que, em se tratando da SD há grande variação no desenvolvimento, destas
crianças. O ritmo e a velocidade delas devem ser respeitados, o que leva sempre a pensar mais
na fase do seu desenvolvimento do que na idade cronológica. O tratamento precoce tem que
acontecer porque a Síndrome de Down já pode ser constatada dentro da barriga da mãe, então
quanto mais rápido a fisioterapia atuar mais ganho esta criança vai ter. (PIERÓ, et.al 1987).
Nada é impossível para um portador com Síndrome de Down ter a independência
motora, mas não se devem fixar metas muito elevadas que possam de alguma forma inibir ou
desmotivar a criança o que realmente conta é a superação dos seus próprios limites no dia-a-
dia, por menor que seja. Nada impede que a criança com Síndrome de Down tenha problemas
para conseguir a independência motora, pois, antigamente, a falta de estimulação é o que
trazia problemas, a criança ficava sem uma perspectiva de ter um lugar dentro da sociedade, o
que já não ocorre nos dias de hoje. Para tanto varias especialidades da fisioterapia trabalha
com a Síndrome de Down (BALLABEN, 2008).
A maioria das crianças com Síndrome de Down apresenta constantes resfriados e
pneumonias de repetição, isto se deve a uma predisposição imunológica e à própria hipotonia
da musculatura do trato respiratório. Como o problema é crônico, desaconselha-se o uso
repetitivo de antibióticos, o ideal é trabalhar na prevenção das doenças respiratórias, através
de exercícios específicos de sopro, da prática de atividades físicas que aumentem a resistência
cardiorespiratória, da higiene nasal e do uso de manobras específicas como tapotagem,
vibração e drenagem postural para evitar o acúmulo de secreção (BALLABEN, 2008).
- Atividades Lúdicas
O interesse que ela manifesta pelo movimento dos objetos, faz dos brinquedos um
bom suporte para estimulá-la a passar de uma posição para outra. Os jogos e as brincadeiras,
além de serem úteis para a aquisição da motricidade, têm grande importância para que a
criança se desenvolva do ponto de vista mental e afetivo. O portador da Síndrome de Down
apesar de ter características que o diferencia dos indivíduos ditos "normais", é semelhante a
estes no processo de desenvolvimento. Através de atividades com jogos e brincadeiras, a
criança se envolve com o desejo de descobrir o mundo que a rodeia e de se autodescobrir,
24
essa motivação desperta a vontade de se movimentar, tornando esses movimentos mais
espontâneos, mais prazerosos e as conquistas mais evidentes (PUESCHEL, 1999).
- A necessidade da equipe multidisciplinar
A equipe multidisciplinar que trabalha junto a portadores da Síndrome de Down
compreende o neurologista, fisioterapeuta, assistente social, dentista, fonoaudiólogo, terapeuta
ocupacional, psicólogo e pedagogo.
É de primordial importância que os profissionais da fisioterapia envolvidos com as
crianças portadoras de SD tenham total conhecimento científico sobre a síndrome, com o
objetivo de fornecer informações precisas e atualizadas para a família, bem como se
aprimorarem constantemente no que tange ao tratamento específico multidisciplinar e suporte
emocional.
Na criança Down todo o trabalho cerebral se processa mais lentamente. A atenção é
mais pobre, não se concentra o tempo suficiente para guardar as ordens dadas.
Há uma fadiga muito rápida e com o cansaço, a energia necessária para manter a
concentração, desaparece. Surge-se então para seu melhor desenvolvimento, que desde cedo
seja encaminhada a um processo de estimulação. O progresso da criança Down depende
muito da dedicação do fisioterapeuta, de outros profissionais e da família. (BALLABEN,
2008).
- Intervenção Precoce
Assim que a criança recebe uma alta pediátrica no hospital já pode começar o
tratamento. Acredita-se ainda que a criança com Síndrome de Down tenha que ser estimulada
dentro do berçário, dentro da maternidade e, por isso é importante a presença do fisioterapeuta
no ambiente hospitalar, para que possa orientar a mãe na hora de colocar o bebê com SD no
colo, pois o modo de segurar a criança é importante. Se essa orientação for feita na
maternidade, muitos problemas podem ser eliminados.
As crianças submetidas à estimulação apresentam maior estabilidade no
desenvolvimento do que crianças não submetidas a um programa desse tipo. A vida dos
portadores da Síndrome de Down não é tão limitada quanto se acredita. O índice de
mortalidade de crianças com lesão neurológica é muito menor, porque hoje a abordagem
fisioterápica está sendo feita muito mais cedo, a criança que recebe estimulação desde de bebê
tem uma sobrevida maior. (PUESCHEL, 1999).
25
A fisioterapia respiratória atua na prevenção e tratamento, usa recursos terapêuticos
que visam o conforto respiratório do paciente. Fazendo manutenção de higiene brônquica,
prevenindo complicações por hipersecreção que podem acarretar prejuízo à ventilação da
criança. Dentre os procedimentos fisioterapêuticos fazem parte à avaliação fisioterapêutica
pulmonar. Sendo essas manobras realizadas em uma seqüência lógica e devidamente utilizada
a cada patologia respiratória e sempre observando o estado geral da criança.
Massagens com o vibrador ou com as mãos ajudam a dar maior tonicidade na
musculatura orofacial. Brinquedos coloridos e sonoros estimulam a visão, a audição e a
coordenação de movimentos no bebê. Exercícios específicos de equilíbrio com o uso da bola
de Bobath e da prancha de equilíbrio também são importantes. As manobras realizadas para
mudanças de posição, estímulo da propriocepção ou ainda os exercícios respiratórios
constituem elementos básicos das terapias individuais. Atividades que envolvam o balanço
estimulam os órgãos do equilíbrio. Assim, desde cedo a criança deverá experimentar estas
sensações, tanto na terapia, como em casa. O balanço na bola de Bobath facilita as reações de
controle de cabeça e tronco. O uso de redes, balanças e brincadeiras com o corpo devem ser
estimulados e orientados à família (FLINKERBUSCH, 1993).
- Papel da Família
O mundo da criança no útero materno é repleto de sensações agradáveis, de
aconchego, calor e movimento. Ao nascer, precisa se readaptar às novas circunstâncias: reage
a luzes fortes, ruídos intensos, manipulações bruscas, que causam sentimento de angústia e
desamparo. Ela sozinha não é capaz de manter-se e desenvolver-se. Depende de sua mãe para
os cuidados básicos que garantam sua subsistência. Estes cuidados consistem, não só em
alimentação, higiene, como também, carinho e proteção, que contribuem, de forma
significativa, para o seu desenvolvimento emocional. É nos cuidados básicos que a mãe
dispensa ao recém-nascido que tem início a relação mãefilho. A qualidade dessa relação
determina as possibilidades de um desenvolvimento emocional e global satisfatório e
ajustado. A criança precisa se sentir aceita e amada para que tenha segurança em arriscar-se,
nos primeiros movimentos, rumo à independência. As primeiras relações sociais que mantém
é com sua mãe e sua família. Um clima familiar saudável proporciona bom desenvolvimento
afetivo, intelectual, físico e motor. Um ambiente hostil desorganiza todo o processo evolutivo
e a formação da personalidade. (PUESCHEL, 1999).
A comunicação que se estabelece nos primeiros dias se faz pelo contato corporal; a
criança sente prazer em ser tocada, alimentada, banhada e acariciada. A comunicação pelo
26
contato visual contribui, significativamente, para o fortalecimento desta relação, assim como
ouvir a voz tranqüilizadora de sua mãe a acalma e conforta.
A criança com Down tem as necessidades básicas de movimento, toque,proteção, afeto
e cuidados com a alimentação e higiene, da mesma forma que a criança vidente. Ela precisa
de tudo isso para seu desenvolvimento físico e emocional. Situações que despertam agrado e
desagrado são importantes, pois motivam a criança a agir sobre o meio que a cerca. Seu tônus
muscular se modifica, fornecendo a base para o desenvolvimento motor.
(MENDES,A.M.2003)
“As sensações de agrado vão substituindo pouco a pouco as sensações dedesagrado e
atuam como estímulos responsáveis pela ação da criança”.
Nas manipulações naturais que requerem seus cuidados, a criança aprenderá a tomar
diferentes posturas, movimentar-se adequadamente e a agir sobre os objetos que a cercam, de
forma natural.
Durante a alimentação, a higiene, a troca de roupas e as brincadeiras, são despertadas
na criança estímulos sensoriais que atuam sobre o sistema nervoso, ativando seus diferentes
centros. Estas atividades promovem tanto sensações proprioceptivas – através do movimento,
como sensações estereoceptivas – captadas pelos objetos vistos, tocados e ouvidos. A
percepção destas imagens passa, então, a dominar suas atividades.
A alimentação fornece sensações agradáveis de prazer e bem-estar, estimula as
sensações gustativas e olfativas, além de propiciar atividades musculares e posturais para a
manutenção da cabeça em posição adequada para esta conduta.
A comunicação desempenha importante papel na aquisição da linguagem falada e na
formação dos conceitos que ela representa.
O papel da família é fundamental como facilitador das aquisições dos padrões de
postura e do movimento, na educação, no desenvolvimento da inteligência e na organização
da personalidade, em todas as fases do processo evolutivo da criança normal. Assim, maior é
a importância da atuação dos pais no desenvolvimento de uma criança com deficiência
sensorial. (RATLIFFE,K.T.2000)
Quando nasce uma criança com Down todo o “mundo de fantasia” criado pelos pais
desmorona. Surgem, então, vários sentimentos que, muitas vezes, não são bem definidos ou se
misturam: decepção, revolta, angústia, culpa, rejeição, superproteção, entre outros. O
“choque” e a frustração influenciam profundamente a interação com a criança, dificultando a
construção de um vínculo afetivo saudável. Os pais, sem saber como lidar com seu filho “tão
diferente” tendem a deixá-lo por muito tempo no berço, sem a atenção e o carinho
27
necessários. A criança ociosa “brinca” com seu próprio corpo podendo desenvolver
comportamentos atípicos e estereotipados (RATLIFFE,K.T.2000).
O atraso na aquisição da mobilidade é acrescido do fato de que sentimentos
superprotetores cerceiam as possibilidades das experiências tão necessárias ao
desenvolvimento motor da criança.
Sentimentos de rejeição, por parte dos pais, geram insegurança e favorecem a falta de
iniciativa para o movimento. Dessa forma, se desenvolve na criança o sentimento de “minus
valia”.
Os pais, muitas vezes, imbuídos do sentimento de vergonha, evitam o convívio social,
o que dificulta o relacionamento da criança com outras pessoas, principalmente, na mesma
faixa etária.
A síndrome de down afeta, sobremaneira, o desenvolvimento social, torna-se difícil à
aquisição e percepção das expressões fisionômicas, gestos e comportamentos tão comuns
entre as crianças sem síndrome de down (SANVITO, W. L.1997).
O preconceito social é um fato. Muitas vezes, os pais são abordados na rua com um
“sem fim de perguntas” sobre a problemática da criança e uma infinidade de sugestões
infundadas. Torna-se necessário apoio à família por profissionais especializados.
A orientação aos pais deve fazer parte do programa, sendo fundamental continuidade
aos procedimentos nas atividades da vida diária da criança, em sua própria casa.
Manipulações inadequadas podem interferir no tratamento, de maneira indesejável.
A pouca experiência sensório-motora vivenciada pela criança com Down pode levá-la
à rejeição de estímulos táteis, contribuindo para o desenvolvimento de alterações desta
sensibilidade. É necessário que, desde cedo, tenha contato com uma variedade de materiais,
para que não desenvolva futuramente rejeição ao toque, comportamento muito comum nestas
crianças (RATLIFFE,K.T.2000).
- Hidrocinesioterapia Especifica
A hidroterapia poderá ser útil aos portadores da SD, pois o ganho de força muscular
para pacientes com Síndrome de Down pode ser conseguido através da resistência da água ao
movimento, o que pode ser incrementado com o aumento da velocidade durante a execução
destes e, conseqüentemente possibilitar o trabalho muscular. A flutuação é outra propriedade
que pode oferecer resistência, e neste caso o movimento deve ser realizado no sentido da
superfície para o fundo da piscina. A viscosidade é outro fator que proporciona resistência ao
movimento e está intimamente ligada à velocidade (MARINS, 2001).
28
O trabalho de fortalecimento e equilíbrio muscular e determinadas posturas pode
utilizar a turbulência da água, provocada em diferentes velocidades, permitindo o desafio do
equilíbrio para diferentes tipos de déficits motores. A adequação do tônus muscular pode ser
realizada co-contração através de exercícios resistidos contra a flutuação e a viscosidade da
água, durante algumas atividades lúdicas (GUIMARÃES, 1996). A densidade corporal destas
crianças está diminuída pela hipotonia, fato este que leva a uma facilitação da posição de
flutuação, possibilitando a realização de atividades como o nado adaptado, trazendo diversos
benefícios, como o fortalecimento muscular global e o treino respiratório. A pressão
hidrostática oferece estímulos proprioceptivos e táteis, que auxiliam na adequação do tônus,
no trabalho sensorial, e também na resistência aos movimentos (FLINKERBUSCH, 1993).
Na SD pode haver diminuição da interação do indivíduo com o meio ambiente,
limitando oportunidades derivadas de experiências sensoriais como visuais, vestibulares,
táteis e proprioceptivas; e a hidroterapia promove liberdade dos movimentos e aumenta a
sociabilização, uma vez que representa ser um ambiente agradável e rico em estímulos, onde
são realizadas atividades lúdicas que envolvem objetivos terapêuticos, de forma individual ou
em grupo (FLINKERBUSCH, 1993; CAMPION, 2000).
A hidroterapia pode ser benéfica ao fornecer métodos alternativos para estimular a
reeducação dos padrões respiratórios. Através de brincadeiras lúdicas como realização de
bolhas na água com a boca, a utilização de canudos e diferentes objetos para soprar,
estimulam-se a musculatura orbicular da boca e favorece sua oclusão, além do fato da
musculatura respiratória ser estimulada pela pressão hidrostática exercida constantemente
sobre o corpo imerso (GUIMARÃES, 1996).
Um dos vários recursos utilizados é a Equoterapia, abordagem terapêutica
relativamente nova no Brasil que visa utilizar o cavalo como facilitador para um melhor
desenvolvimento neuropsicomotor do indivíduo. A interação com o animal propicia ao
paciente atingir novas formas de comunicação, socialização, concentração, equilíbrio,
coordenação motora, conscientização postural e ganho da auto-estima. O trabalho motor
realizado na Equoterapia é muito importante (NEVES, 2008).
Passamos abordar especificamente a equoterapia como forma de intervenção
fisioterapêutica.
29
CAPÍTULO II
FUNDAMENTOS SOBRE EQUOTERAPIA
Cirillo (1982), citado por Uzun (2005), entende como “[...] um tratamento de
reeducação e reabilitação motora e mental, por meio da prática de atividades eqüestres e
técnicas de equitação.” (UZUN, 2005).
Walter e Vendramini (2000, apud UZUN, 2005) enfatizam que essa atividade exige a
participação do corpo inteiro, contribuindo assim, para o desenvolvimento do tônus e da força
muscular, do relaxamento, da conscientização do próprio corpo, do equilíbrio, do
aperfeiçoamento da coordenação motora, da atenção e a auto-estima. “Assim, a equoterapia é
um método de reabilitação e educação que trabalha o praticante de forma global.” (UZUN,
2005).
Existem mundialmente divergências conceituais e semânticas a respeito do nome dado
a esta atividade, sendo que, podem ser observadas várias nomenclaturas: hipoterapia,
equitação terapêutica, reeducação eqüestre, equitação para deficientes, reabilitação eqüestre,
(ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA, 2004). A própria Federation of Riding
for the Disabled International (2001, apud LEITÃO, 2004) apresenta uma trilogia –
hipoterapia, equitação psico-educacional, equitação desportiva/recreativa adaptada. Em
virtude de tal divergência, a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE), em 1989, criou a
palavra “equoterapia” com o objetivo de caracterizar todas as atividades que usam o cavalo
como recurso terapêutico e/ou educacional no território brasileiro, (ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DE EQUOTERAPIA, 2004).
Para a Associação Nacional de Equoterapia (2004, p. 16), “Equoterapia é um método
terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas
áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas
portadoras de deficiência física e/ou com necessidades especiais”.
A entidade também criou o termo “praticante de equoterapia”, que se refere à “[...]
pessoa portadora de deficiência física e/ou com necessidades especiais quando em atividades
equoterápicas.” (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA, 2004).
30
2.1 HISTÓRICO
Os princípios e fundamentos da equoterapia são recentes. Contudo, os benefícios
proporcionados pelo cavalgar são descritos desde a Antigüidade. Vários autores
(ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA, 2004; MEDEIROS; DIAS, 2002;
LERMONTOV, 2004; UZUN, 2005) discorrem a respeito da utilização do cavalo com fins
terapêuticos ao longo da História:
• 458-370a.C.: Hipócrates, em “Livro das dietas”, referiu que a equitação tonificava os
músculos e era eficaz no tratamento da insônia.
• 124-40a.C.: Asclepíades de Prússia, médico grego, indicou a equitação para tratamento
de epilepsia e vários tipos de paralisia.
• 130-199d.C.: Galeno recomendou que o Imperador Marco Aurélio praticasse equitação
como forma de estimular tomadas de decisão mais rápidas.
• Idade Média: A equitação é citada pelos povos árabes em um texto de pedagogia.
• 1569: Merkurialis, na Itália, escreve em “Da arte gymnastica” que a quitação exercita o
corpo e os sentidos, além de mencionar as diferentes andaduras do cavalo.
• Século XVII: Foram produzidas diversas obras médicas na Europa com capítulos
tratando dos benefícios da equitação.
• 1719: Friedich Hoffmann define o passo como a andadura mais saudável no livro
“Instruções aprofundadas de como uma pessoa pode manter a saúde e livrar-se de graves
doenças através da prática racional de exercícios físicos”.
• 1772: Giuseppe Benvenutti escreve em “Reflexões acerca dos efeitos dos movimentos do
cavalo” que a equitação tem ativa função terapêutica.
• 1747: Na Alemanha, Samuel Theodor Quelmalz, na obra “A saúde através de equitação”,
faz a primeira referência ao movimento tridimensional do dorso do cavalo.
• 1782: Na França, Joseph C. Tissot define o passo como a andadura com maior ação
terapêutica, e é o primeiro a descrever contra-indicações à prática exagerada da equitação.
• 1890: O fisiatra sueco Gustavo Zander afirma que vibrações com freqüência de 180
oscilações por minuto seriam capazes de estimular o sistema nervoso simpático.
• 1901 e 1917: O Hospital Ortopédico de Oswentry e o Hospital Universitário de Oxford,
respectivamente, são os primeiros a estabelecer ligação entre a atividade eqüestre e hospitais.
31
Após a Primeira Guerra Mundial o cavalo entrou definitivamente na área da reabilitação, sendo empregado como instrumento terapêutico nos soldados seqüelados do pós-guerra. Os países escandinavos foram os primeiros a utilizá-lo com tal finalidade, obtendo resultados satisfatórios, estimulando o nascimento de outros centros na Alemanha, França e Inglaterra. (MEDEIROS; DIAS, 2002, p. 03).
• 1952: Olimpíadas de Helsinki, a dinamarquesa Liz Hartel, apesar das seqüelas de
poliomielite, conquistou a medalha de prata no adestramento e despertou a atenção da classe
médica. Repetiu a façanha quatro anos depois, em Melbourne.
• Década de 60: Grande desenvolvimento da equoterapia na Europa, principalmente na
França. Neste período a equitação era usada empiricamente e os seus resultados relatados em
alguns livros (“Reeducação através da equitação” de Delubersac e Lalleri, “De Karen com
amor” de Killilea) até que, em 1965, torna-se matéria didática na Universidade Salpetrièri.
• 1972: Defendida a primeira tese de doutorado sobre equoterapia, na Universidade de Paris
– Val-de-Marne, pela Dra. Collete Picart Tritelin.
• 1974: Iniciada a realização de congressos internacionais sobre equoterapia, com repetição
a cada três anos.
• 1984: Na Universidade Martin Luther, Alemanha, o suíço Detlvev Rieder mediu a
freqüência de oscilações do dorso do cavalo, chegando ao número de 180 por minuto, o
mesmo recomendado por Zander, em 1890.
• 1985: Criada a Federation Riding Disabled International (FRDI), Federação Internacional
de Equoterapia, atualmente sediada na Bélgica.
• 1989: No Brasil, fundada a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE), com sede em
Brasília - DF.
• 1997: A equoterapia é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina como recurso
terapêutico por meio do parecer 06/97 de 9 de abril de 1997.
2.2 DEFINIÇÃO
Segundo a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE), a equoterapia é um método
terapêutico e educacional interdisciplinar que utiliza o cavalo dentro das áreas de saúde,
educação e equitação, objetivando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas portadoras
de deficiências ou de necessidades especiais.
32
“A equoterapia emprega as técnicas de equitação e atividades eqüestres para
proporcionar ao praticante, benefícios físicos, psicológicos, educacionais e sociais”. Para isto
é necessário uma participação global do corpo, contribuindo assim, para o desenvolvimento
do tônus e da força muscular, relaxamento, conscientização do próprio corpo, equilíbrio,
aperfeiçoamento da coordenação motora, atenção, autoconfiança e auto-estima (BOULCH,
1996).
Para Beaunont (1972), a equitação desenvolve a confiança do praticante em si mesmo,
a força muscular, a noção de espaço, o senso tátil e proprioceptivo, não só dos membros
superiores, mas de todo corpo. Seu movimento com ritmo e balanço fortalece a musculatura e
melhora a coordenação do praticante e, associando a outras sensações provocadas pelo corpo
do animal, melhora também a integração sensório motora e a consciência de seu próprio corpo
(SANTOS, 2003).
“O esquema corporal, que é neurológico, se estabelece pela simultaneidade das
informações proprioceptivas e exteroceptivas, e a equoterapia oferece a multiplicação dessas
diversas informações” (LALLERY, 1988).
2.3 INDICAÇÕES E CONTRA INDICAÇÕES
A Associação Nacional de Equoterapia (2004), a North American Riding for the
Handicapped Association (2004), Medeiros e Dias (2002) e Lermontov (2004) consideram,
dentre outras formas patológicas, a equoterapia indicada nas seguintes situações:
• Patologias ortopédicas: alterações posturais, mal-formações congênitas, amputações,
espondilite anquilosante, artrose;
• Síndromes neurológicas e patologias neuromusculares: síndrome de Down, síndorme
de West, síndrome de Rett, poliomielite, encefalopatia crônica da infância, seqüelas de
acidente vascular encefálico e traumatismo crânioencefálico, doença de Parkinson,
disrafismo espinhal;
• Patologias cardiovasculares e respiratórias;
• Outras patologias: distúrbios de aprendizagem, distúrbios comportamentais, alterações
no desenvolvimento motor, hiperatividade.
Existem algumas contra-indicações absolutas ou relativas para a prática da
equoterapia. Para a Associação Nacional de Equoterapia (2004), Medeiros e Dias (2002) são:
33
quadros inflamatórios e infecciosos; cifoses e escolioses acima de 30o; luxação e sub-luxação
de quadril; instabilidade atlantoaxial; osteoporose; osteogênese; espondilólise,
espondilolistese ou hérnia de disco intervertebral; epilepsia; obesidade; alergia ao pêlo do
cavalo; medo excessivo; problemas comportamentais do praticante que coloquem em risco
sua segurança ou a da equipe; doença de Schuerman; cardiopatia grave; hemofilia.
“Caso a caso deve ser avaliado por toda a equipe responsável pelo desenvolvimento da
Equoterapia. O que descarta a hipótese da terapia, não são patologias específicas e sim o
estado e a fase em que o praticante se encontra.” (UZUN; 20050).
2.4 A EQUIPE INTERDISCIPLINAR
O tratamento com a equoterapia é precedido de diagnóstico, indicação médica e
avaliação dos profissionais da saúde, educação e equitação a fim de planejar o atendimento
equoterápico individualizado. A sessão é realizada por uma equipe multiprofissional, atuando
de forma interdisciplinar (BOULCH, 1996).
A equipe é ampla e especializada na realização e/ou educação de pessoas portadoras
de deficiência ou de necessidades especiais. Entre estes profissionais estão: fisioterapeuta,
terapeuta ocupacional, psicólogo, professor de educação física, pedagogo, fonoaudiólogo,
assistente social, médico e outros (BOULCH, 1996).
A composição da equipe interdisciplinar deve levar em consideração o programa de
equoterapia a ser executado, a finalidade do programa e os objetivos a serem alcançados. Sua
composição mínima deve ser de três profissionais, um de cada área: saúde, educação e
equitação (BOULCH, 1996).
2.5 A ESCOLHA DO CAVALO PARA A PRÁTICA DE EQUOTERAPIA
2.5.1 O CAVALO
Na equoterapia, o cavalo surge como instrumento cinesioterapêutico, agente
pedagógico e de inserção social, (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA, 2004).
Nesta pesquisa é discutido, em primeiro plano, o uso do cavalo como instrumento
cinesioterapêutico. Portanto, preliminarmente é necessário discutir acerca da suas andaduras,
de suas freqüências e do movimento tridimensional de seu dorso.
34
2.5.2 ANDADURAS DO CAVALO
Nas andaduras do cavalo os membros devem ser considerados em apoio, em elevação
e suspensão. Quando o membro está em apoio se encontra em repouso no solo, estará em
elevação em caso contrário e em suspensão quando não houver nenhum membro em apoio.
As andaduras naturais que o cavalo realiza instintivamente são o passo, o trote e o galope
(BOULCH, 1996).
2.5.2.1 O PASSO
“É uma andadura simétrica, rolada ou marchada, basculante, a 4 (quatro) tempos, na
qual os membros se elevam e pousam sucessivamente sempre na mesma ordem, fazendo-se
ouvir 4 (quatro) batidas distintas” (BOULCH, 1996).
A simetria se deve às variações de coluna vertebral em relação ao eixo longitudinal do
cavalo. Rolada porque não existe tempo de suspensão e basculante devido aos movimentos de
pescoço. Os 4 (quatro) tempos se deve ao fato de ouvir 4 (quatro) batidas distintas desde o
elevar até pousar de um determinado membro (CIRILLO, 2001).
Ao passo e ao trote as marcas dos posteriores sobre o solo podem ficar aquém das
marcas dos anteriores, então diremos que o cavalo antepista. O cavalo sobrepista quando as
marcas ficam no mesmo lugar e quando ultrapassam o cavalo transpista. O passo é a andadura
mais favorável para a relação cavalo e cavaleiro, o que permite uma íntima ligação em
condições de grande precisão (BOULCH, 1996).
O cavalo que sobrepista e transpista são os mais indicados, se ele transpista é melhor
pois intensifica o movimento tridimensional (RODRIGUES, 2003).
2.5.2.2 O TROTE
“O trote é uma andadura simétrica, saltada, fixada a dois tempos, na qual os membros
de cada bípede diagonal se elevam e pousam simultaneamente, com um tempo de suspensão
entre o pousar de cada bípede diagonal” (BOULCH, 1996).
A simetria se deve aos movimentos da coluna vertebral em relação ao eixo
longitudinal. A andadura é fixada porque quase não se percebe os movimentos do pescoço, e é
a dois tempos porque entre o elevar de um bípede diagonal até o seu retorno ao solo ouvem-se
35
duas batidas. Nessa andadura o cavalo conserva uma altitude de conjunto quase constante
(BOULCH, 1996).
2.5.2.3 O GALOPE
O galope é uma andadura assimétrica porque não existe simetria entre os movimentos
da coluna vertebral em relação ao eixo longitudinal. É saltada por existir um tempo de
suspensão e muito basculada em razão dos amplos movimentos do pescoço. O galope possui
três tempos porque entre o elevar de um membro ou membros associados, até seu retorno ao
solo ouvem-se três batidas (BOULCH, 1996).
2.5.3 FREQUÊNCIA DO CAVALO
Segundo Medeiros e Dias (2002, p. 13), “[...] a freqüência do cavalo está em função
do comprimento do passo e da velocidade da andadura.” As autoras descrevem os tipos de
freqüência:
• Transpistar: baixa freqüência, a pegada ultrapassa a pegada anterior.
• Sobrepistar: freqüência média, a pegada coincide com o mesmo lugar da anterior.
• Antepistar: alta freqüência, a pegada fica antes da anterior.
2.5.4 O MOVIMENTO TRIDIMENSIONAL DO DORSO DO CAVALO E SUA SEMELHANÇA COM A MARCHA HUMANA
Quando o cavalo desloca-se ao passo, em seu dorso ocorre um movimento
tridimensional, ou seja, o seu centro de gravidade sofre três deslocamentos: para cima e para
baixo, para os lados, para frente e para trás, (WICKERT, 1999).
A estimulação infra-superior no eixo vertical é decorrente da flexão e extensão dos
membros posteriores durante a impulsão. Ocorre duas vezes em um único passo e é da ordem
de cinco a seis centímetros, (MEDEIROS; DIAS, 2002; WICKERT, 1999).
Enquanto um posterior está se distendendo para impulsionar o animal para frente, o outro está se deslocando para frente, para sustentá-lo. Quando os posteriores estão nessa posição, o vértice do ângulo por eles formado, que é a garupa do animal, está em seu ponto mais baixo. Com a continuidade do movimento, o posterior que está à frente se distende e, durante esta distensão, eleva a garupa ao transpô-la sobre o seu ponto de apoio, indo novamente depositá-la à frente, numa posição mais baixa. (WICKERT, 1999, p. 04)
36
Figura XX – Movimentos de flexão e extensão dos membros posteriores do cavalo. Fonte: Wickert (1999).
De acordo com Uzun (2005), Medeiros e Dias (2002) e Wickert (1999) o movimento
látero-lateral, no plano frontal, é caracterizado por ondulações horizontais da coluna vertebral
do cavalo, desde a nuca até a cauda, decorrentes das mudanças de apoio entre os bípedes.
Durante o passo ocorre duas vezes, uma para direita e outra pra esquerda, como se observa na
figura 1. Ao iniciar o movimento, o cavalo avança um de seus posteriores, enquanto o outro se distende, deslocando o seu corpo para frente. Esta posição faz com que a anca do lado posterior, que avança, também avance e a anca oposta recue. A linha que une as duas ancas acompanha este deslocamento e sofre um movimento de torção, deslocando a coluna para o lado do posterior que ficou para trás. Para compensar este deslocamento e poder se movimentar para frente, o cavalo executa uma inflexão para o lado contrário com seu pescoço, mantendo a parte da coluna que fica sobre suas espáduas (anteriores), solidária com a garupa. (WICKERT, 1999, p.05).
Figura 1 – Movimento látero-lateral. Fonte: Wickert (1999).
37
Para Wickert (1999), o deslocamento ântero-posterior, no plano sagital, é composto
por consecutivas perdas e retomadas de equilíbrio, evidenciado pelos movimentos da cabeça
do animal. Em um passo, isto ocorre duas vezes, como esquematizado na figura 2. Ao iniciar o movimento de distensão da pata posterior direita, ocorre perda de equilíbrio, deslocando o corpo do cavalo para a frente e para a esquerda. Para retomar o equilíbrio, o cavalo alonga seu pescoço, abaixa a cabeça e avança a pata anterior esquerda para escorar a massa que se desloca. Ao tocar o solo com a pata anterior esquerda, o cavalo freia o movimento para frente, levanta a cabeça retomando equilíbrio, facilitando o avançar da pata posterior direita. MEDEIROS; DIAS, 2002, p. 11).
Figura 2 – Deslocamentos da cabeça do cavalo.
Fonte: Adaptado de Wickert (1999).
Wickert (1999), ainda apresenta um quarto deslocamento, composto pela rotação da
pelve do cavaleiro, quando a coluna do cavalo desloca-se lateralmente ao mesmo tempo em
que a anca ipsolateral se abaixa. Esta rotação é de aproximadamente oito graus e o cavaleiro,
necessariamente, deve estar sentado com uma perna de cada lado do animal.
Wickert (1999), Medeiros e Dias (2002) apontam as seguintes semelhanças entre a
marcha humana e a andadura do cavalo (ao passo): seqüência de perdas e retomadas de
equilíbrio; movimento tridimensional; dissociação de cinturas pélvica e escapular. A figura 3
exemplifica a semelhança entre os movimentos pélvicos do homem e do cavalo.
Figura 3 – Demonstração do paralelismo entre passo do homem e do cavalo.
Fonte: Adaptado de Bernardes e Thomaz (2003).
38
Segundo Smith, Weiss e Lehmkuhl (1997), a marcha humana possui os seguintes
movimentos: no plano sagital ocorrem movimentos nas articulações do quadril, do joelho, do
tornozelo e nas metatarsofalangenas, o que provoca oscilações verticais. No plano horizontal
ocorrem os movimentos rotatórios em torno do eixo vertical, observam-se rotações nas
vértebras, na pelve e na articulação do quadril. No plano frontal existem as oscilações laterais
da cabeça, do tronco e da pelve, além dos movimentos de inversão e eversão das articulações
do tarso.
2.6 O CAVALO IDEAL PARA EQUOTERAPIA
Para a Associação Nacional de Equoterapia (2004), não existe uma raça específica
para prática da equoterapia, porém, devem ser observadas algumas características, tais como:
• possuir as três andaduras regulares;
• ser macho, castrado, com idade acima de dez anos;
• ter altura mediana, aproximadamente 1,50m, medindo-se do chão até a cernelha,
representada na figura 4;
• possuir aprumos simétricos, isto é, não possuir deformidades.
“[...] a cernelha esteja na mesma altura que a anca do cavalo. [...] que seus membros inferiores se posicionem embaixo de sua massa corporal, sendo que, para ter um bom engajamento o cavalo necessita ter o comprimento, medido da articulação escapulo umeral até a ponta da nádega, igual a sua altura. O comprimento do dorso deve ser mais ou menos do comprimento da caixa torácica, pois um dorso muito longo pode afundar, isto causa dor, e um dorso muito curto não permite a montaria dupla.” (RODRIGUES; 2003 apud KAGUE, 2004).
Figura 4 – Cernelha. Fonte: Adaptado de Kague (2004).
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Lermontov (2004) acrescenta que o cavalo deve ser treinado para ser montado pela
direita e pela esquerda; para o uso de brinquedos e objetos, de modo a não se assustar com
eles; não deverá ser gordo, mas ter força suficiente para carregar duas pessoas. “Não há
diferença entre a égua e o cavalo, mas caso seja um cavalo, deverá ser castrado e caso seja
uma égua é necessário alerta quanto ao período crítico do cio [...].” (LERMONTOV, 2004, p.
72).
2.7 ESTRUTURAS PARA A REALIZAÇÃO DA EQUOTERAPIA
“A equoterapia deve ser realizada em um local onde haja intenso contato com a
natureza, transmitindo ao paciente sensação de calma e tranqüilidade, proporcionando-lhe um
relaxamento maior a cada sessão” (BUCHENNE e SAVINI, 1996).
O terreno precisa ser plano, sem irregularidades e de mesma superfície. Devem ser
evitados os terrenos montanhosos e acidentados. É importante que o terreno possua um solo
macio ou seja, um solo com areia, serragem, grama ou terra fofa, suavizando as batidas da
pata do cavalo no solo, com exceção das fases préesportivas e esportivas, descritas adiante.
Isto diminuirá o impacto causado no paciente, facilitando o relaxamento. Também faz-se
necessário a construção de uma área coberta para que o tratamento não pare, mesmo nos dias
de frio intenso ou chuvosos (BUCHENNE e SAVINI, 1996).
2.8 OBJETIVOS DA EQUOTERAPIA
A equoterapia tem como principais objetivos os benefícios físicos, psíquicos,
educacionais e sociais de pessoas portadoras de deficiências físicas ou mental. As causas
podem ser por lesões neurológicas, de origem encefálica ou medular, patologias ortopédicas
congênitas ou adquiridas por acidentes diversos e disfunções sensório motoras. Também é
utilizada em pessoas portadoras de necessidades educativas especiais ou distúrbios evolutivos,
comportamentais e de aprendizagem (BOULCH, 1996).
Como salienta Bertoti (1988), alguns defensores da equitação terapêutica listam como
metas principais a mobilização de cintura pélvica, coluna lombar e articulação do quadril; a
normalização do tônus muscular; o desenvolvimento do controle de cabeça e de tronco; e
desenvolver reações de equilíbrio no tronco. Independente do tipo de meta utilizada, o
objetivo é sempre que o praticante atinja a autonomia e se possível à capacidade de conduzir o
cavalo e possa até ser inserido nas fases de pré-esporte. Na fase de pré-esporte se trabalha no
cavalo com outras andaduras, o trote e o galope, partindo para alcançar a fase do esporte
40
propriamente dito, onde o portador de deficiência é inserido na equitação esportiva
objetivando uma socialização e organização especial mais elaborada atingindo melhora na
estruturação da personalidade (WINGATE, 1982). E conforme afirma Wollrab (1998), quase
todos com incapacidades podem participar do programa de equitação terapêutica.
2.9 PROGRAMAS DE EQUOTERAPIA
Cada indivíduo, portador de deficiência e/ou de necessidades especiais, é único, é
diferente e possui o seu próprio perfil. Enfatiza-se com isso a necessidade de formular
“programas personalizados”, levando em consideração as exigências para aquele indivíduo,
naquela determinada fase de seu processo evolutivo (CIRILLO, 2001).
Conforme afirma o mesmo autor, a equoterapia é aplicada, com duas ênfases, através
de programas específicos organizados conforme as necessidades e potencialidades do
praticante, da finalidade do programa e dos objetivos a serem alcançados:
• a primeira, com intenções médicas e técnicas terapêuticas, visando à reabilitação;
• a segunda, com fins educacionais e/ou sociais como a aplicação de técnicas
psicopedagógicas, visando à integração e a reintegração (BOULCH, 1996).
Conforme a Associação Nacional de Equoterapia (2004), a equoterapia dispõe de três
programas básicos, classificados de acordo com os propósitos a serem alcançados e com as
capacidades física e mental do praticante, como segue:
2.9.1 Hipoterapia
Em hipoterapia, o cavaleiro é influenciado pelo cavalo, mais propriamente que o
controlando. O movimento do cavalo dá um movimento para a pélvis do cavaleiro que é
muito semelhante ao movimento induzido pela marcha humana. Estes movimentos podem ser
usados para estimular os sistemas nervoso e muscular do cavaleiro. Os exercícios fortalecem,
alongam e relaxam os músculos (POTTER; EVANS e NOLT, 1994).
É um programa essencialmente de reabilitação, voltado para as pessoas portadoras de
deficiência física e/ou mental. Geralmente o praticante não temcondições físicas e/ou mental
para se manter sozinho a cavalo. Necessita de umaauxiliar-guia para conduzir o cavalo e de
um auxiliar-lateral para mantê-lo montado, dando-lhe segurança (CIRILLO, 2001).
41
A ação é dos profissionais da área da saúde, precisando de um terapeuta ou mediador,
a pé ou montado, para execução dos exercícios programados. O cavalo é usado
principalmente como instrumento cinesioterapêutico (CIRILLO, 2001).
2.9.2 Equitação Terapêutica
Montaria de reabilitação ou reeducação usa a habilidade da equitação funcional para
utilizar uma terapia educacional para melhorar a habilidade motora e habilidade de
fala/linguagem (POTTER; EVANS e NOLT, 1994).
Este programa pode ser reabilitativo ou educativo. O praticante tem condições de
exercer alguma atuação sobre o cavalo e conduzi-lo, a dependência do auxiliarguia e do
auxiliar-lateral é em menor grau (BOULCH, 1996).
Existe uma ação maior dos profissionais de equitação, embora os exercícios devam ser
programados por toda equipe, segundo os objetivos a serem alcançados. O cavalo ainda
proporciona benefícios pelo seu movimento tridimensional e o praticante passa a interagir. O
cavalo atua como instrumento pedagógico (CIRILLO, 2001).
Os esportes proporcionam ao praticante atividade física, destreza, robustez e
qualidades morais. A equitação desenvolve com mais harmonia estas qualidades e ainda o
equilíbrio, a coordenação motora, a agilidade, a destreza, dá um sentimento de força física
aumentando a autoconfiança. “Aumenta a vontade, o espírito de decisão, a iniciativa e a
resolução. O adestramento do cavalo desenvolve no cavaleiro a tenacidade, a perseverança, a
calma e o domínio de si mesmo” (CIRILLO, 2001)
Por tudo isso a equitação constitui-se em importante instrumento de educação e
formação de caráter dos jovens, desde que ministrada de forma didáticopedagógica e por
instrutor credenciado (BOULCH, 1996).
A equitação praticada por pessoa portadora de deficiência física e/ou sensorial, sem
contra-indicação médica, tem como objetivo o efeito lúdico, isto é, prazer e esporte, como
estimuladores de efeitos terapêuticos, para melhorar sua qualidade de vida e saúde, sua
inserção social e o bem estar (BOULCH, 1996).
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2.9.3 Pré-esportivo
A montaria pré-esportiva é usada para desenvolver a habilidade social e para
promover a terapia recreacional para pessoas com incapacidades. Incluem atividades tais
como montaria em trilha e Olimpíadas Especiais (POTTER; EVANS e NOLT, 1994).
Também pode ser reabilitativo ou educativo. O praticante deverá ter boas condições
para conduzir o cavalo, podendo participar de exercícios específicos de hipismo. O
profissional de equitação tem ação mais intensa, necessitando, contudo, da orientação dos
profissionais da área da saúde e educação. O praticante exerce maior influência sobre o cavalo
e este é utilizado como instrumento de inserção social (CIRILLO, 2001).
2.9.4 Esportivo
Na equitação esportiva é dada ênfase ao desenvolvimento de saltos, que é usado para
melhorar a percepção e habilidade motora, permite ao cavaleiro explorar vários tipos de
movimentos em cima do cavalo (POTTER; EVANS e NOLT, 1994).
“Os praticantes portadores de deficiência física poderão praticar o hipismo, podendo
vir a competir em provas hípicas nas Paraolimpíadas, e até mesmo nas Olimpíadas”, já os
praticantes portadores de deficiência mental podem ser preparados para competições hípicas
especiais, com regulamentação específica, e vir a competir em Olimpíadas Especias
(CIRILLO, 2001).
43
CAPÍTULO III A PRÁTICA DA EQUOTERAPIA
A realização das sessões de equoterapia dá-se em local amplo, ao ar livre e na
compania de um animal dócil de grande porte. O praticante desperta sua imaginação e
criatividade, o que facilita a abordagem lúdica. No picadeiro deve-se ter espaço disponível
para a prática de atividades variadas e dispor de diferentes materiais para auxiliar a execução
destas atividades, tornando-as mais atrativas e potencializando os objetivos almejados.
Sem esgotar toda a gama de atividades que possibilitam o desenvolvimento motor
e podem ser desenvolvidas na equoterapia, apresenta-se as atividades realizadas
durante a presente pesquisa. Salienta-se que as atividades não estimulam apenas uma área
motora, principalmente por estarem inseridas no contexto da prática equoterápica. Entretanto,
de acordo com os objetivos propostos, agem mais especificamente sobre uma área (objetivo
principal).
Descreve-se a evolução diária da prática da equoterapia, contemplando a conduta
estabelecida em cada sessão e uma análise subjetiva dos aspectos mais relevantes acerca da
desenvoltura da praticante. (FRAZAO, T. 2001).
3.1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS DURANTE A EQUOTERAPIA
É necessário recorrer a um amplo repertório de atividades para que a mudança
constante de tarefas evite o desinteresse e mantenha a atenção durante a prática da
equoterapia, (COELHO, 2005). A seguir, encontram-se descritas as atividades realizadas
durante o período de intervenção equoterapêutica. Aborda-se os objetivos principais, os
objetivos secundários e o procedimento.
3.1.1 Escovar o cavalo:
- Objetivo principal: esquema corporal/rapidez;
- Objetivo secundário: organização temporal;
- Procedimento: com uma escova, retirar a poeira da pelagem do animal.
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Figura 5 – Praticante escovando o cavalo. Fonte: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA
3.1.2 Acariciar o cavalo: - Objetivo principal: esquema corporal; - Objetivo secundário: motricidade global; - Procedimento: tocar afetivamente no cavalo e perceber, por meio do tato, as temperaturas e as texturas da pelagem de diferentes cavalos.
Figura 6 – Praticante acariciando o cavalo. Fonte: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA
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3.1.3 Trançar a crina do cavalo: - Objetivo principal: motricidade fina; - Procedimento: separar um feixe da crina do cavalo, dividí-lo em três partes e trançar.
Figura 7 – Praticante trançando a crina do cavalo. Fonte: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA
3.1.4 Basquete: - Objetivo principal: organização espacial; - Objetivos secundários: motricidade global, motricidade fina, equilíbrio, lateralidade; - Procedimento: sobre o cavalo, arremessar a bola na direção da cesta com uma ou duas mãos, de modo que a bola passe por dentro da cesta.
Figura 8 – Praticante arremessando no cesta de basquete. Fonte: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA
46
3.1.5 Bastão: - Objetivo principal: equilíbrio; - Objetivos secundários: motricidade global, alinhamento postural, alongamento muscular, dissociação das cinturas escapular e pélvica; - Procedimento: com um bastão de 90cm realizar flexão de ombro até 90 ou 180o; rodar o tronco para a direita e para a esquerda com os ombros flexionados a 90o; elevar o bastão até 180o, passar por detrás da cabeça e posicionar o bastão ao nível das escápulas. Cada posição é mantida por alguns segundos.
Figura 9 – Praticante realizando exercícios com o bastão. Fonte: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA
3.1.6 Volteio: - Objetivo principal: esquema corporal; - Objetivos secundários: motricidade global, equilíbrio; - Procedimento: mudança de postura sobre o dorso do cavalo, com o animal parado ou em movimento. O praticante é colocado de frente, de lado e de costas para a cabeça do cavalo, isto é, realiza uma volta completa sobre o seu dorso.
Figura 10 – Volteio: praticante de frente, de lado e de costas para a cabeça do cavalo. Fonte: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA
47
3.1.7 Aviãozinho: - Objetivo principal: equilíbrio; - Objetivos secundários: motricidade global, esquema corporal; - Procedimento: o praticante é solicitado a abduzir os braços a 90o, um de cada vez ou os dois simultaneamente, e permanecer por alguns segundos. Para aumentar a dificuldade pode ser realizado com os olhos fechados.
Figura 11 – Aviãozinho. Fonte: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA
3.1.8 Tábua de parafusos: - Objetivo principal: motricidade fina; - Procedimento: usando apenas uma das mãos por vez, afrouxar as porcas de parafusos de diferentes calibres, dispostos lado a lado em uma tábua de madeira.
Figura 12 – Praticante trabalhando com a tábua de parafusos.
Fonte: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA
48
3.1.9 Decúbito ventral e dorsal: - Objetivo principal: esquema corporal; - Objetivos secundários: equilíbrio, organização espacial; - Procedimento: o praticante, de frente para a cabeça do cavalo, é colocado deitado em decúbito dorsal paralelamente ao dorso do cavalo. O praticante, de costas para a cabeça do cavalo, é posicionado em decúbito ventral paralelamente ao dorso do cavalo.
Figura 13 – Praticante em decúbito ventral e dorsal. Fonte: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA
3.1.10 Encilhar/desencilhar o cavalo: - Objetivo principal: organização espacial - Objetivos secundários: organização temporal, motricidade fina, motricidade global, independência; - Procedimento: para encilhar, separar os arreios de cabeça e de montaria. Colocar o buçal (cabeçada, freio, cabresto) na cabeça do cavalo. Em seu dorso, colocar a sela adaptada e prender a cincha (faixa de couro presa na sela que é passada pela barriga do cavalo, sendo apertada no lado oposto). Para desencilhar, soltar a cincha, retirar a sela adaptada e, por último, o buçal. Normalmente, encilha-se o cavalo pelo lado esquerdo. Todavia, o cavalo bem domado aceita o manejo pelos dois lados.
Figura 14 – Praticante ajudando a encilhar o cavalo. Fonte: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA
49
3.1.11 Massinha: - Objetivo principal: motricidade fina; - Objetivo secundário: linguagem; - Procedimento: usando as duas mãos criar livremente algo com a massa de modelar e verbalizar o que fez ou modelar um objeto pré-determinado.
Figura 15 – Praticante trabalhando com a massinha de modelar. Fonte: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA
3.1.12 Folha da árvore: - Objetivo principal: motricidade fina; - Objetivos secundários: motricidade global, equilíbrio, organização espacial; - Procedimento: o cavalo é conduzido até uma árvore e o praticante solicitado a alcançar um galho e apanhar uma folha.
Figura 16 – Praticante apanhando folhinas na árvore.
Fonte: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA
50
3.1.13 Ziguezague: - Objetivo principal: organização espacial; - Objetivo secundário: equilíbrio; - Procedimento: percorrer um trajeto contornando cones dispostos em fila.
Figura 17 – Praticante contornando os cones. Fonte: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA
3.1.14 Ficar de pé sobre o estribo: - Objetivo principal: equilíbrio; - Objetivos secundários: fortalecimento muscular de membros inferiores, esquema corporal; - Procedimento: o praticante apoiando-se na cela ou nos laterais, eleva-se até ficar na posição ortostática sobre o estribo.
Figura 18 – Praticante de pé sobre o estribo. Fonte: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA
51
3.1.15 Redondel: - Objetivo principal: organização espacial; - Objetivos secundários: esquema corporal, organização temporal, independência; - Procedimento: não há presença de laterais, o instrutor de equitação é quem direciona os trabalhos. O praticante conduz o cavalo sozinho e recebe orientações de equitação. A velocidade da andadura do cavalo é aumentada.
Figura 19 – Atividades no redondel: praticante conduzindo o
cavalo e acenando para a equipe terapêutica. Fonte: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA
3.1.16 Montar/apear fora da rampa: - Objetivo principal: motricidade global; - Objetivos secundários: esquema corporal, equilíbrio, fortalecimento muscular de membros inferiores e superiores, independência; - Procedimento: para montar, posicionar-se ao lado do cavalo e virado de frente para ele.
Figura 20 – Praticante montando o cavalo fora da rampa. Fonte: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA
52
Segurar com as extremidades anterior e posterior da sela. Colocar o pé, que está ao lado das patas dianteiras do cavalo, no estribo. Impulsionar-se para cima e passar a o membro inferior livre sobre o dorso do cavalo e alcançar o outro lado do animal. Para apear, o praticante sentado na sela retira um dos pés do estribo. Inclina levemente o tronco para frente apoiado na sela. Passa o membro inferior livre sobre o dorso do cavalo e por detrás de si até alcançar o chão do outro lado do animal. Em geral, montase pelo lado esquerdo. Contudo, o cavalo para equoterapia deve ser treinado para aceita ser montado também pela direita. É importante para o praticante ter a experiência dos dois lados.
53
DISCUSSÃO
No passado havia uma tendência a encarar os vários distúrbios motores apenas como
problemas de músculos fracos ou rígidos, ou articulações deformadas.Apesar de ser verdade
que em alguns casos particulares os problemas mecânicos causados por tais anormalidades
devem ser tratados através de procedimentos ortopédicos e terapêuticos, esta é apenas uma
pequena parte do tratamento do equilíbrio como um todo (LEVITT, 2001).
Muitos dos quadros musculares encontrados em pacientes portadores de deficiências
originam-se da falta de influências coordenadoras do cérebro, ou seja, os mecanismos
neurológicos de postura, equilíbrio e movimento estão desorganizados. Portanto, os músculos
que são ativados para controlar a postura, o equilíbrio e o movimento tornam-se
descoordenados, rígidos ou fracos (LEVITT, 2001).
Diferente do tratamento utilizado dentro das clínicas, que trabalha músculos isolados,
ou situações em separado como a espasticidade ou hipotonia, a equoterapia emprega as
técnicas de equitação e atividades eqüestres concentrandose na perda da função global,
trabalhando o paciente como um todo.
A equoterapia proporciona ao praticante benefícios físicos, psicológicos, educacionais
e sociais. Exige a participação do corpo inteiro, trabalhando com o praticante de forma global,
contribuindo assim para o desenvolvimento do tônus e da força muscular, relaxamento,
conscientização do próprio corpo, equilíbrio, aperfeiçoamento da coordenação motora,
atenção, autoconfiança e auto-estima (BOULCH, 1996).
A equitação para fins terapêuticos não se propõe, de modo algum a transformar um
deficiente em verdadeiro cavaleiro e esportista, no sentido atribuído geralmente a esse termo.
Trata-se de um recurso original de reeducação, no qual o principal objetivo consiste em usar o
cavalo como um instrumento terapêutico (BEAUNONT, 1972).
Diante do complexo conjunto de estímulos sensórios motores vindos do movimento
ritmado e consecutivo do cavalo durante sua marcha “ao passo”, verificase os benefícios deste
método que utiliza o cavalo como instrumento terapêutico para a reação do equilíbrio
organizado, proporcionando ajustes posturais antecipatórios, por feedback diante de estímulos
perturbadores, formando a memória postural. Dessa forma estimula-se o controle postural
adequado e funcional, necessário para a independência motora na vida diária de seus
praticantes (CRUZ, 2002).
A equoterapia é utilizada em crianças com síndrome de Down enfatizando
principalmente o equilíbrio dessas, pois, conforme afirma Cruz (2002), essa é uma das
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principais aquisições da equoterapia, além de todos os outros benefícios que este método
proporciona.
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CONCLUSÃO
Pode-se perceber, como descrito ao longo deste trabalho, que as crianças portadoras da
síndrome de Down possuem várias deficiências motoras como déficit de equilíbrio, hipotonia
muscular, atraso no desenvolvimento motor e neurológico, entre outras deformidades que
atrapalham a atividade de vida diária da criança, assim como seu convívio social.
Todas essas condições levam os pais a procurarem formas alternativas de tratamento
para que essas crianças tenham uma melhor qualidade de vida. Entre essas alternativas
encontra-se a equoterapia, que trabalha o paciente de uma forma global, atuando de maneira
interdisciplinar englobando as áreas de equitação, saúde e educação.
Com esse recurso terapêutico em mãos a fisioterapia abre novos caminhos para o
tratamento de crianças com deficiências físicas e mentais, e que dependem de um cuidado
especial, dedicação e tempo, sem cair numa rotina de terapia, às vezes cansativa para crianças.
Através da utilização do cavalo a equoterapia proporciona movimentos
tridimensionais que fazem com que a criança necessite de ajustes posturais para poder manter-
se sobre ele. Estes ajustes posturais é que possibilita uma melhora no equilíbrio,
desenvolvendo a força muscular, a confiança em si mesmo, a noção de espaço, o tônus
muscular, a coordenação motora e ajuda a convivência social.
Acredita-se que a criança, quando está sobre o dorso de um cavalo, tem a sensação de
não possuir nenhum acometimento motor, e compara-se a outra criança normal por possuírem
as mesmas possibilidades de manuseio do animal.
Portanto a equoterapia traz também benefícios psicológicos a essas crianças, podendo
conseqüentemente melhorar seu desempenho escolar. No que se refere à concentração,
observa-se uma melhora significativa no decorrer das sessões. Essas atividades com cavalo
aumentam os períodos de atenção, aumentando com isso a concentração, que é diminuída
nessas crianças.
Considerando-se que o praticante não é só corpo, mas também mente e sentimento,
deve-se ressaltar o lado positivo de fazer uso de uma proposta de tratamento em um ambiente
diferente do habitual, não clínico, mas em contato com a natureza e com o auxílio de um
animal, que apesar do seu grande porte, da sua musculatura definida é dócil, sensível e de
olhar expressivo sendo capaz de trocar afeto com o praticante, completando-se um ao outro,
quando se trata de estímulos para a reação do equilíbrio e controle postural.
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Sendo utilizada desde a antiguidade, a equoterapia apresenta suas vantagens unindo
prazer e lazer à reabilitação, fazendo, para isso, o uso de um animal e fornecendo a seus
praticantes os resultados positivos com a sua utilização e a grande aceitação das crianças.
Este recurso ainda é pouco conhecido pela população em geral e apresenta poucos
estudos e pesquisas científicas aqui no Brasil. Na França, Inglaterra e outros países onde a
equoterapia teve seu início e foi difundida, encontra-se um maior número de pesquisas e
estudos relacionados ao assunto. Existe também a escassez de material que relaciona a
síndrome de Down e o tratamento com a equoterapia, apesar da grande utilização deste
método com essas crianças.
Essa foi uma das grandes delimitações encontradas para a realização deste trabalho,
além de não podermos contar com a colaboração de uma clínica ou entidade que utiliza este
recurso terapêutico.
Levando em consideração as idéias acima, conclui-se que, mesmo com todas as
objeções impostas, e as dificuldades enfrentadas, foi possível atingir o principal objetivo de
mostrar os benefícios da utilização da equoterapia junto com a proposta fisioterapêutica no
tratamento de portadores da síndrome de Down, quando foi exposto, através de um
embasamento teórico que apresenta um importante número de informações. Como se tratou
de uma pesquisa bibliográfica, fica a perspectiva de novas pesquisas de campo e novos
trabalhos que possam complementar e engrandecer ainda mais o assunto.
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ANEXO
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