epopeia camoniana adaptado
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Conciliação das armas e das letras:
«Nũa mão sempre a espada e noutra a pena»
(Canto VII, est. 79)
Defesa de um novo ideal de vida:
as armas e as letras
Elogio
do poeta guerreiro
Crítica à aristocracia
portuguesa
Os temas dominantes
d’Os Lusíadas
António Ramalho, Camões lendo «Os Lusíadas» a D. Sebastião
(entre 1893 e 1916).
«Vi por mandado da Santa e Geral Inquisição estes dez Cantos dos Lusíadas de Luís
de Camões, dos valerosos feitos em armas que os Portugueses fizeram em Ásia e
Europa, e não achei neles cousa algũa escandalosa, nem contraria à fé e aos bons
costumes; somente me pareceu que era necessário advertir os lectores que o Autor,
pêra esclarecer a dificuldade da navegação e entrada dos Portugueses na Índia, usa de
ua ficção dos Deuses dos Gentios. E ainda que Sancto Agostinho nas
suas Retractações se retracte de ter chamado nos livros que compôs De Ordine às
Musas “Deusas”, todavia, como isto é Poesia e fingimento, e o Autor como poeta não
pretenda mais que ornar o estilo poético, não tivemos por inconveniente ir esta fábula
dos Deuses na obra, conhecendo-a por tal e ficando sempre salva a verdade de nossa
sancta fé que todos os Deuses dos gentios são demónios. E por isso me pareceu o livro
digno de se imprimir, e o Autor mostra nele muito engenho e muita erudição nas ciências
humanas. Em fé do qual assinei aqui. Frei Bertholameu Ferreira»
Os Lusíadas, António Gonçalves, Lisboa, 1572, disponível em http://purl.pt/1/3/#/10.
O censor do Santo Ofício e os deuses n’Os Lusíadas
Definição
de epopeia
O projeto
da epopeia
portuguesa
A partir de Maria Vitalina Leal de Matos.
Os temas
dominantes
Estrutura
da obra
O heroísmo
e os valores
Os planos
d’Os Lusíadas
Linguagem
e estilo
A epopeia camoniana
Valorização da novidade — Descobrimentos portugueses:
• Novas civilizações
• Novos espaços geográficos
• Novas espécies animais e vegetais
Imitação da Antiguidade Clássica:
• Modelos: autores e obras greco-romanas
• Normas literárias: Poética de Aristóteles
Renascimento
Em que contexto?
Regras
dos géneros
literários
Géneros nobres:
epopeia e tragédia
Poema narrativo extenso, de tom sublime e elevado
1- Definição de epopeia
Ação: acontecimentos mitológicos, lendários ou históricos e
ações heroicas — fusão do sobrenatural e do real
Narração: inicia-se in media res (a meio da ação),
e as analepses e prolepses completam as lacunas da história
Protagonista: ser de qualidades excecionais que realiza feitos
extraordinários e se aproxima de uma dimensão lendária
Copiar azul
Uma epopeia é uma narrativa em verso que dá conta, em estilo grandiloquente,dos feitos valerosos e de valor universal de um povo através dos seus heróis(reais ou imaginários).
Consagra um herói humano
Modelos clássicos
Modelo para a epopeia camoniana
Ilíada
Odisseia
de Homero
Eneida
de Virgílio
Salienta as finalidades cívicas do heroísmo
Enfatiza as causas que o herói serve
A Eneida: epopeia de índole pedagógica
Pormenor de uma ânfora representando Ulisses e
Atena, deusa grega da sabedoria e das artes.
Federico Barocci, Eneias Foge de Troia em
Chamas (1598).
Expressão de valores coletivos
Consiste na glorificação
dos feitos dos heróis
através da narração
das suas aventuras
Género de prestígio
2- O projeto da
epopeia portuguesa
Os Lusíadas (plural):
herói coletivo
Navegadores Portugueses
a caminho da Índia
Importância
nacional
Novo
mapa
Importância
universal
Cariz verdadeiro
Orgulho
na História
de Portugal
Descobrimentos
Herói épicoAcontecimento épico
O projeto da
epopeia portuguesa
Cariz verdadeiro
Evento excecional = obra literária excecional
Autores humanistas que insistiam na necessidade
da criação de uma epopeia nacional
Garcia de Resende
António Ferreira
João de Barros
Exaltar as ações dos
portugueses (Descobertas)
Cultivar um género literário
nobre, que engrandece
a literatura portuguesa
O projeto da
epopeia portuguesa
Garcia de Resende.
António Ferreira.
João de Barros.
O projeto da
epopeia portuguesa
Cottinelli Telmo (arquiteto) e Leopoldo de
Almeira (escultor), Padrão dos
Descobrimentos (Belém, Lisboa, 1960,
reconstituição de obra efémera de 1940).
Planisfério de Cantino, anónimo (c. 1502).
Aristocracia portuguesa —
desinteressada do apoio às artes
Conciliação das armas e das letras:
«Nũa mão sempre a espada e noutra a pena»
(Canto VII, est. 79)
Defesa de um novo ideal de vida:
as armas e as letras
Elogio
do poeta guerreiro
Crítica à aristocracia
portuguesa
3- Os temas dominantes
d’Os Lusíadas
Retrato de Camões.
O canto do poeta inflama,
divulga e eterniza a Fama dos heróis
O valor da poesia, o valor da literatura
Os temas dominantes
d’Os Lusíadas
O país entra em decadência porque não há poetas
que mantenham a memória dos feitos
• Os heróis são homens de exceção
• Os heróis distinguem-se do homem comum
Um modelo = um herói coletivo
Os Lusíadas: uma teoria do heroísmo
4- O heroísmo e os valores
Grau de aperfeiçoamento
e de valor
Caminho de heroísmo proposto
ao longo dos cantos
• Distinguir entre «nobreza» e «fidalguia»: o heroísmo
é uma conquista individual, não uma herança de família
• Cultivar o Amor pela arte (o mecenato e a proteção
dos artistas) é essencial para se atingir o heroísmo —
o modelo do herói culto não encontra correspondência
na realidade portuguesa, segundo Camões
• Ultrapassar os limites impostos pela geografia conhecida:
atração pelo mar, pelo desconhecido
Reflexões do Poeta
(final dos cantos)
Discurso do Velho do Restelo
(Canto IV)
Heróis recompensados
no plano mitológico
(Ilha dos Amores, Cantos IX e X)
A aventura termina de forma
positiva (chega-se à Índia)
Inimigos vencidos
(os mouros/obstáculos
da viagem marítima)
Glorificação dos heróis Crítica e descrença
nos Portugueses
Os Lusíadas: equilíbrio entre
a exaltação e a repreensão?
ou
• Dez cantos
• Número variável de estrofes
• Oitavas
• Verso decassílabo
Narração: viagem de Vasco da Gama
(in medias res; Canto I, est. 19)
Dedicatória: oferecimento ao rei D. Sebastião
(Canto I, est. 6 a 18)
Invocação: necessidade de inspiração para
compor (Canto I, est. 4 e 5, entre outras)
Proposição: apresentação
do assunto da epopeia (Canto I, est. 1-3)
Estrutura externa Estrutura interna
5- Estrutura da obra
• Esquema rimático abababcc
(rima cruzada e rima emparelhada)
Plano da Viagem de Vasco
da Gama à Índia
Plano da Mitologia
Quatro planos
6 - Os planos d’Os Lusíadas
Plano das Reflexões
do Poeta
Plano da História
de Portugal
Plano da viagem de Vasco
da Gama até à Índia
Os planos d’Os Lusíadas
A meio da viagem In media res
• O plano da viagem inicia-se no Canto I, estância 19, com a frota
de Vasco da Gama a navegar perto da costa oriental africana.
• Paragem em Melinde (segue-se uma analepse
para narrar episódios da História de Portugal).
• Chegada a Calecute.
• Regresso a Portugal.
Frota de Vasco da Gama
numa gravura do século XVI.
Retrato de Vasco da Gama,
Escola Portuguesa (século XVI)
Prolepses: acontecimentos posteriores à viagem de Vasco da Gama
Analepses: acontecimentos anteriores à viagem de Vasco da Gama
Constituído por momentos em que há referências a personagens
que se destacam, nos momentos anteriores à fundação ou
durante os vários reinados até D. Manuel I
Constituído por momentos em que são narrados
episódios marcantes da História de Portugal
Plano encaixado na narrativa da viagem de Vasco da Gama
Plano da História de Portugal
Os planos d’Os Lusíadas
Canto V — Intervenção do Gigante Adamastor (episódio em que se cruzam
o plano da viagem, o plano da História de Portugal e o plano mitológico)
Canto I — Consílio dos deuses no Olimpo; tem como finalidade
decidir o futuro dos Portugueses no Oriente; as divindades são divididas
em adjuvantes (Vénus e Marte) e oponentes (Baco). Baco terá várias
intervenções junto da armada (objetivo: pôr os Portugueses em risco)
Constituído por momentos em que os deuses romanos
têm uma intervenção na ação
Plano paralelo à narrativa da viagem de Vasco da Gama
Plano da mitologia
Os planos d’Os Lusíadas
Luigi Sabatelli, Olimpo
Canto X — Banquete oferecido por Tétis; desvendar
da Máquina do Mundo e profecias sobre novas ações dos Portugueses
Canto IX — Os marinheiros encontram a ilha dos Amores,
local preparado por Vénus para recompensar
os Portugueses pelas suas ações sublimes
As intervenções de Baco são de natureza variada. No Canto VIII,
surge em sonhos a um sacerdote indiano, aconselhando-o
a tomar medidas contra os portugueses
Canto VI — Consílio dos deuses marinhos; é fruto de um pedido de Baco.
Tem como objetivo impedir que os Portugueses cheguem ao Oriente.
A tempestade desencadeada é aplacada por ninfas enviadas por Vénus
Símbolo da elevação
dos navegadores
e marinheiros
à condição de imortais,
através da sua ligação
com as ninfas.
Os planos d’Os Lusíadas
Plano da mitologia
Ilha dos Amores
Os planos d’Os Lusíadas
Almada Negreiros, Tétis Mostra a Vasco da Gama a Máquina do Mundo (1961).
Plano da mitologia
Os planos d’Os Lusíadas
Columbano
Bordalo Pinheiro,
Camões e as
Tágides (1894).
Plano das reflexões do Poeta
Proposta de um novo ideal de herói
Lamento sobre a falta de cultura da elite portuguesa
Considerações de carácter didático e crítico
Plano ocasional; surge no final dos cantos
Plano das reflexões do Poeta
Os planos d’Os Lusíadas
Reflexão sobre a atuação dos portugueses seus contemporâneos
Época de ganância
e corrupção provocadas
pelas riquezas do Oriente
Segunda metade
do século XVI
Época de aventura, heroísmo,
coragem, virtude
1497-1498
(viagem de Vasco da Gama)
Ação da obra Produção da obra
Contexto de
Os planos d’Os Lusíadas
vs.
Plano das reflexões do Poeta
Canto I (estâncias 105 e 106)
Os planos d’Os Lusíadas
«Ó grandes e gravíssimos perigos,
Ó caminho da vida nunca certo»
(vv. 5-6, est. 105, Canto I)
Reflexão sobre a incerteza que marca a vida do Homem,
exposta a numerosos perigos e obstáculos
Plano das reflexões do Poeta
Canto I - O poeta reflete sobre a fragilidade da vida humana face aos vários perigos enfrentados no mar e na terra.
Copiar azul
Canto V (estâncias 92-100)
Os planos d’Os Lusíadas
Lamento sobre a falta de cultura
da elite portuguesa
Reflexão sobre o topos clássico «as armas e as letras»
Referência ao papel da Poesia/Literatura (o canto)
• Imortaliza os heróis
do passado
• Incentiva a virtude
nos contemporâneos
Plano das reflexões do Poeta
Canto V – Reflexão do poeta contra os portugueses contemporâneos que desprezam a Poesia.
Copiar azul
Canto VI (estâncias 95-99)
Os planos d’Os Lusíadas
Definição do verdadeiro herói
Não se apoia nos feitos
dos antepassados
Alcança a glória através
do seu próprio mérito
Não vive de forma
ociosa
Plano das reflexões do Poeta
Canto VII (estâncias 2-14)
Os planos d’Os Lusíadas
Elogio a Portugal, utilizado como
exemplo para os restantes países europeus
por ser notável na expansão da fé cristã
Crítica aos restantes países europeus,
«míseros Cristãos» (v. 1, est. 9) envolvidos
em lutas fratricidas
Plano das reflexões do Poeta
Canto VII (estâncias 78-87)
Os planos d’Os Lusíadas
Invocação e Reflexão:
o Poeta apresenta-se a si como modelo do ideal
de heroísmo já exposto anteriormente
Plano das reflexões do Poeta
Canto VII – Invocação às Ninfas do Tejo e do Mondego, queixando-se dos seus infortúnios.
Copiar azul
Marinus van Reymerswaele,
O cambista e a sua mulher (1539).
Canto VIII (estâncias 96-99)
Os planos d’Os Lusíadas
Crítica à excessiva importância dada ao ouro,
enumerando os seus efeitos negativos
Plano das reflexões do Poeta
Canto VIII – Reflexões amargas acerca da omnipotência do“metal reluzente”.
Copiar azul
Canto IX (estâncias 25-30)
Os planos d’Os Lusíadas
Apresentação da teoria do «Perfeito Amor»
(o Amor enquanto força corretora
do Mal do mundo)
Crítica aos que governam
em função do seu próprio interesse
Plano das reflexões do Poeta
Canto IX (estâncias 88-95)
Os planos d’Os Lusíadas
Apresentação do significado
da «Ilha angélica pintada» (v. 2, est. 89):
a recompensa através da imortalidade
Enumeração das condições necessárias
para alcançar a Fama e a Glória
Plano das reflexões do Poeta
Canto IX – Reflexão sobre o significado da Ilha dos Amores.
Copiar azul
Canto X (estâncias 145-156)
Os planos d’Os Lusíadas
Expressão do desalento em relação à Pátria
que não reconhece o valor da sua obra
Convite ao rei, D. Sebastião,
para que veja os seus «vassalos excelentes»
(v. 8, est. 146)
Plano das reflexões do Poeta
Canto X – Reflexão sobre a decadência da pátria, “a austera e apagada vil tristeza”; exortações a D. Sebastião; vaticínios de futuras glórias.
Copiar azul
Os episódios d’Os Lusíadas
A par dos Planos Narrativos, encontramos no poema várias unidades narrativas menores. São os chamados episódios que se podem agrupar da seguinte forma.
Episódiosbélicos
Episódioslíricos
Episódios simbólicos
Episódios naturalistas
Episódiosmitológicos
Batalha de Ourique
(c.III)
FermosíssimaMaria(c.III)
Sonho de D. Manuel
(c.IV)
Fogo de Santelmo(c.V)
Consílio dos Deuses no Olimpo
(c.I)
Batalha do Salado(c.III)
Inês de Castro(c.III)
Velho do Restelo(c.IV)
Tromba Marítima(c.V)
Consílio dos Deuses Marinhos
(c.VI)
Batalha de Aljubarrota
(c.IV)
Adamastor(c.V)
Tempestade(c.VI)
Ilha dos Amores(c.IX)
Copiar quadro
• Vocábulos cultos: latinismos e helenismos.
• Substituição de termos vulgares por perífrases e metonímias.
• Aforismos e frases de valor proverbial.
• Termos técnicos da área da marinharia e da ciência bélica.
• Forte presença de anástrofes e hipérbatos.
• Tom sublime: abundância de recursos expressivos.
• Descrições expressivas em alguns episódios.
7- Linguagem e estilo
Bibliografia
ANASTÁCIO, Vanda (2012) – «A lenda dourada de Frei Bartolomeu Ferreira», Convergência Lusíada,
27, Janeiro/Julho de 2012, Real Gabinete Português de Leitura, disponível em
http://www.realgabinete.com.br/revistaconvergencia/?p=1220 (consultado em 25 de janeiro de 2015).
CIDADE, Hernâni (1995) – Luís de Camões — o Épico. Lisboa: Editorial Presença, pp. 131-132.
MOURA, Vasco Graça (2001) – «A ilha que não se chamava assim», Oceanos n.º 46, CNCDP,
Abril/Junho 2001, pp. 125-127.
PAIS, Amélia Pinto (2004) – História da Literatura em Portugal — Uma perspetiva didática, vol. I,
Época Medieval e Época Clássica. Porto: Areal Editores, pp. 158-159.
SARAIVA, António José (1980) – Luís de Camões — Estudo e antologia, 3.ª ed. revista. Amadora:
Livraria Bertrand, pp. 125-136.
SARAIVA, António José; LOPES, Óscar (s. d.) – História da Literatura Portuguesa, 16.ª ed. Porto:
Porto Editora.
SENA, Jorge de (1973) – «Aspetos do Pensamento de Camões através da estrutura linguística
de Os Lusíadas», Actas da I Reunião Internacional de Camonistas. Lisboa: Comissão Executiva
do IV Centenário da publicação de Os Lusíadas.
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