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CONSCIÊNCIA CORPORAL – COMPREENDER PARA APRENDER
A Importância da Psicomotricidade no Desenvolvimento do Educando
com Deficiência Intelectual
Silvana Franzon Mosconi1
Alfredo Cesar Antunes2
RESUMO: Partindo do pressuposto que todo o indivíduo precisa descobrir seu corpo e tomar consciência de seus movimentos, o presente estudo tem por finalidade desenvolver atividades psicomotoras para educandos com deficiência intelectual nas aulas de educação física. Através deste trabalho visamos construir e executar um programa com atividades lúdicas, voltadas à consciência corporal, por meio de conteúdos estruturantes e atividades psicomotoras, partindo de dados coletados em avaliação realizada. Esperamos assim, poder contribuir para a consciência corporal, habilidades motoras e desempenho escolar do educando.
Palavras-Chave: Consciência Corporal, Psicomotricidade, Deficiência Intelectual
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo fazer algumas considerações sobre a
importância da Psicomotricidade para alunos com Deficiência Intelectual com faixa
etária de 7 a 9 anos, matriculados na Escola de Educação Básica Professora Maria
de Lourdes Canziani, modalidade de Educação Especial – APAE Ponta Grossa.
O mesmo foi realizado a partir de uma revisão bibliográfica e uma pesquisa
qualitativa, seguida de uma Avaliação e Reavaliação Psicomotora baseada na Bateria
Psicomotora de Vitor da Fonseca, antes e após a intervenção pedagógica em 24 aulas
de educação física, onde foram propostas atividades recreativas e psicomotoras, com
o intuito de intervir nas dificuldades psicomotoras apresentadas pelos educandos
durante a avaliação, para melhorar a compreensão de sua própria imagem corporal.
1 Professora Especialista da Rede Pública do Estado do Paraná, na disciplina de Educação Especial e Educação Física. Endereço eletrônico: silvanafranzon@seed.pr.gov.br 2 Professor Dr. no Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG e Professor Orientador do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná.
Como enfatiza Le Bouch, apud GRIPP, a psicomotricidade “é uma ciência que
estuda as condutas motoras como expressão do amadurecimento e desenvolvimento
da totalidade psicofísica do homem”. Dessa maneira, pensamos no corpo como um
todo, sendo este, o primeiro instrumento de exploração e conhecimento do ser
humano sobre o mundo.
O interesse pelo tema “Consciência Corporal: Compreender para Aprender”
nasceu da necessidade em buscarmos meios para que os educandos com deficiência
intelectual vivenciem e descubram todas as possibilidades inerentes ao
desenvolvimento por si mesmos. E assim, justificamos nossa intenção de pesquisa
partindo de nossa prática educacional em Escola de Educação Especial, buscando
demonstrar a importância dos estímulos para o educando com deficiência intelectual,
pressupondo que, ao adquirir consciência corporal, poderá internalizar o código
linguístico de forma mais clara e precisa.
2. A PSICOMOTRICIDADE NO DESENVOLVIMENTO DO EDUCANDO COM
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
É necessário visualizar com clareza os caminhos que levam o educando com
deficiência intelectual aprimorar-se de conhecimentos e habilidades face à sua
aprendizagem educacional. Nesse sentido precisamos refletir entre o que, para que e
porque ensinar determinadas atividades relacionadas ao conhecimento corporal
durante as aulas de Educação Física.
De maneira lúdica busca-se encontrar caminhos para que o educando desde a
mais tenra idade aumente seu leque de possibilidades com grandes perspectivas de
satisfação e êxito.
Dentro da prática e aprimoramento das habilidades motoras já existe, de certa
forma, um saber fazer em constante mudança. Conhecimentos que vão se
aperfeiçoando e aprimorando ao longo dos anos, de acordo com as possibilidades e
especificidades de cada indivíduo.
A pessoa com deficiência necessita de estimulação constante, desafiando o
educador a ser inovador e criativo, considerando o ritmo próprio de cada indivíduo em
seu processo de desenvolvimento e crescimento humano.
Conforme a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1998) toda pessoa tem o
direito fundamental à educação, tendo a oportunidade de atingir e manter o nível
adequado de aprendizagem e conhecimento, independentemente de suas
características, interesses, habilidades e necessidades, uma vez que lhe são únicas.
Falar em psicomotricidade é colocar o corpo em discussão, pois é o primeiro
instrumento de exploração e conhecimento do ser humano sobre o mundo. Todo
corpo apresenta movimentos. Os movimentos estão ligados à percepção, à
afetividade, som, gestos, tonicidade.
Ao se referir ao desenvolvimento motor, Lapierre & Aucouturrier (2004) diz que
a pulsão de movimento aparece antes mesmo do nascimento, permitindo a aquisição
da força, da resistência, da coordenação, do ajustamento dos gestos, do equilíbrio do
corpo, entre outras.
Dessa forma também se referem Freitas e Israel (2008), acreditando que a
Psicomotricidade é um componente essencial no desenvolvimento humano, onde toda
a dinâmica da motricidade, os movimentos amplos ou finos, direcionados ou não, vão
refletir diretamente no corpo. Sendo assim, a atividade psicomotora pode possibilitar
ao educando com deficiência intelectual novas vivências e experiências na construção
e organização no seu contexto educacional.
Perpassando essa ideia, concordamos com Queiroz (2014, p.6) de que o
educador “tem o dever de incluir e de estabelecer métodos para que todas as crianças
tenham uma relação social, cultural e afetiva, e que seus movimentos sejam
trabalhados para um desempenho no seu desenvolvimento e da sua aprendizagem”
(QUEIROZ, 2014).
Portanto, caberá ao professor de educação física ser mediador da proposta
curricular junto aos educandos com deficiência desenvolvendo “capacidades
perceptivas, afetivas, de integração social, e o conhecimento do seu corpo”
(CARDOSO, 2013, p. 173), garantindo-lhes todos os direitos que lhe são reservados,
independentemente de suas peculiaridades.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (1984), a
Psicomotricidade “é uma ciência que tem por objeto o estudo do homem através do
seu corpo em movimento nas suas relações com seu mundo interno e externo.”
(ALVES, 2012, p.17).
A Psicomotricidade, na opinião de ALVES, “existe nos menores gestos e em
todas as atividades que desenvolve a motricidade da criança, visando ao
conhecimento e ao domínio do seu próprio corpo”. (2012, p.144). Sendo assim, ela se
torna primordial para o desenvolvimento global e uniforme da criança, do educando,
uma vez que o desenvolvimento do esquema corporal, orientação temporal,
lateralidade, estruturação espacial são fundamentais para a aprendizagem.
Para a formação de conceitos corporais é importante conhecer as partes,
funções, superfícies, relação de partes e de movimento do corpo. E através da
Psicomotricidade os educandos com deficiência intelectual poderão enfrentar desafios
e sobrepor barreiras, percebendo-se enquanto indivíduos partícipes do meio no qual
estão inseridos.
Por isso, se faz necessário que toda criança, independente de apresentar uma
deficiência ou não, tenha a oportunidade de viver em um ambiente que lhe proporcione
meios para seu desenvolvimento psicomotor. Que bom seria se toda criança tivesse
a oportunidade de brincar, jogar, movimentar-se, vivenciar os encantos existentes em
todas as brincadeiras livres, descontraídas e criativas, vivenciadas por muitos de nós
e que infelizmente estão sendo esquecidas e deixadas de lado por muitos pais e
educadores nos dias atuais.
3. INTERVENÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
Para Vieira ett all (2005) a Psicomotricidade tem uma concepção de movimento
organizado e integrado, conforme as experiências vividas pelo indivíduo, resultante
de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização. Por isso, buscamos
oportunizar momentos para que o educando pudesse realizar atividades de forma
criativa, espontânea, autônoma e cooperativa.
Primeiramente foi realizado uma reunião com os pais dos educandos e
assinatura para o consentimento quanto a aplicação do Projeto com seus filhos.
Num segundo momento realizou-se uma Avaliação, utilizando-se como base a
Bateria Psicomotora (BPM) de Fonseca (1995). Nesta Bateria o autor propõe uma
Avaliação com os seguintes fatores: Tonicidade, Equilíbrio, Lateralidade, Noção do
Corpo, Estruturação Espaço Temporal, Praxia, Coordenação Dinâmica Manual. Como
nosso interesse é a Consciência Corporal, optamos por avaliar os educandos,
seguindo 3 fatores da BPM: equilíbrio, noção do corpo, estruturação espaço-temporal.
A avaliação foi individual, com duração de 30 minutos para cada educando,
totalizando 8 horas para Avaliação e Reavaliação.
Após analisados os dados, iniciamos nossa proposta, apresentando sugestões
de atividades psicomotoras, brincadeiras livres e lúdicas, as quais foram realizadas
pelos alunos durante 24 aulas, duas vezes por semana com duração de 1 hora cada
Para o registro dessas sessões foram realizadas anotações individuais e diárias,
anotando como o educando respondeu ao que lhe foi proposto. Após o período
determinado, foi feita uma Reavaliação e analisado os resultados.
Aspectos Contemplados na Intervenção Pedagógica
- Consciência Corporal
A palavra consciência tem origem no vocábulo do latim – ‘conscientia’, que é o
ato de uma pessoa enxergar-se presente no mundo em que vive, é poder vivenciar,
experimentar, compreender aspectos de seu mundo interior.
Poderíamos então dizer que Consciência Corporal é o conhecimento do próprio
corpo, reconhecendo os próprios movimentos, relacionados diretamente ao
autoconhecimento, aos próprios limites, interna e externamente.
Para Olivier (1995) apud Brandl (2002) “A consciência do corpo, em seus
determinantes psicológicos, sócio históricos, biológicos os quais não são distintos e
nem distinguíveis na práxis humana é condição fundamental à liberdade”. Liberdade
de escolha, de expressão, de diálogo corporal, de interação.
Concordamos com Vieira (2005) quando nos remete de que a comunicação
corporal está carregada de valores, de emoções e sentimentos expressados através
do gesto, do olhar, do tônus muscular, onde nossos medos e desejos podem ser
refletidos através de reações corporais.
Nosso corpo é a nossa identidade, carregada de pontos positivos ou negativos,
onde o toque pode nos trazer prazer ou repulsa, desejo ou angústia.
Na opinião de Vayer (1989) para que a criança possa comunicar-se com o
mundo que a rodeia e adaptar-se a novas situações, ela necessita “ter consciência,
controle e organização de seu próprio corpo” (p.60). E essa auto-organização do seu
EU só será possível se ela estiver numa comunicação ‘bem vivida’, caso contrário irá
repercutir em perturbações ou dificuldades a nível pessoal.
Considerando que o esquema corporal é uma noção que dá sentido à ação,
Vayer (1989) identifica as atividades centradas no eu: consciência de si mesmo, dos
elementos corporais, da respiração; coordenação dos elementos corporais e equilíbrio
corporal, como sendo atividades favorecedoras do desenvolvimento e estruturação do
esquema corporal.
A linguagem do corpo é a forma mais espontânea de expressar aquilo que
estamos sentindo. Quando falamos que o corpo ‘fala’, definitivamente estamos
expressando tal possibilidade, pois o corpo fala através do olhar, do ouvir, do sentir,
do tocar, do cheirar. Percepções que não precisam de palavras para exprimir certas
reações.
- Esquema Corporal
O esquema corporal vai resultar das experiências vividas, onde a criança
poderá aprimorar gradualmente de acordo com a exploração que faz com seu próprio
corpo. De acordo com Le Bouch (1992) o esquema corporal é dividido em etapas:
- corpo vivido (até 3 anos de idade): o bebê percebe-se fazendo parte do meio em que
vive, realizando atividades motoras espontâneas.
- corpo percebido (3 a 7 anos): vai deslocando sua atenção do meio para seu próprio
corpo, passando a aperfeiçoar e refinar seus movimentos.
- corpo representado (7 a 12 anos): observa-se a estruturação do esquema corporal.
Para Alves a noção de Esquema Corporal “representa a experiência que cada
um tem de seu corpo, quando em movimento ou em posição estática, em relação com
o meio”. (2012, p.56)
Segundo Wallon apud Mattos (2008), esquema corporal é o elemento básico
indispensável para a formação da criança. É a consciência do seu próprio corpo,
consciência consigo mesmo, com os outros e com o meio em que vive.
As crianças com deficiência intelectual não podem e não devem ser tolhidas da
oportunidade de brincar, de adquirir experiências e sensações corporais que são
inerentes a qualquer criança de sua idade. O educando com deficiência necessita de
estímulos mais intensos para que possam desenvolver-se tal qual ou condizente às
crianças de sua faixa etária. Cabe ao professor ser um facilitador de possibilidades e
descobertas, oferecendo momentos para que vivenciem plenamente seu corpo,
alcançando um equilíbrio físico e emocional.
Ainda, segundo Alves “a partir do momento em que o indivíduo descobre, utiliza
e controla o seu corpo, o esquema corporal é estruturado e passa a ter consciência
dele e de suas possibilidades, na relação com o meio ambiente em que vive”. (2012,
p. 54)
Por isso, os estímulos são de suma importância para que os educandos
consigam perceber-se e tenham a capacidade de expressar seus desejos e emoções,
conseguindo assim, atingir e controlar de maneira concreta todas as possibilidades de
seu corpo, como a capacidade de coordenar, equilibrar e localizar-se no ambiente de
forma ordenada.
- Estruturação Espacial
A Estruturação Espacial está relacionada as atividades visuais. É através das
experiências vividas consigo mesma e com o ambiente em que vive, que a criança vai
se identificar enquanto parte integrante do meio, tendo a capacidade de situar-se e
orientar-se em relação ao próprio corpo, aos outros, aos objetos e ao meio que a
cerca.
De acordo com Machado & Nunes (2011, p. 34) “a noção espacial se inicia do
concreto para o abstrato; do objetivo para o subjetivo; do corporal para o externo. A
noção de espaço se desenvolve a partir do sistema visual”.
Le Bouch (1987, p. 9) afirma que “o espaço é o primeiro lugar ocupado pelo
corpo e no qual se desenvolvem os movimentos corporais. Este espaço vivido com
limites suaves é objeto de uma experiência emocional intensa (...)” E assim a criança
começa a ter consciência do corpo em relação ao meio.
Ter consciência corporal, senso de lateralidade e direção, se faz necessário
para perceber-se e perceber o espaço. Porém, de acordo com Le Bouch (1992), a
maneira mais correta de ajudar uma criança a conquistar e consolidar sua lateralidade,
é permitindo que a mesma exerça sua motricidade global, ou seja, garantir uma
educação psicomotora, seguindo e respeitando seu desenvolvimento.
Não iremos nos aprofundar à questão da lateralidade, porém, de forma indireta,
ela será trabalhada e desenvolvida de acordo com as atividades propostas.
- Percepção Temporal
É importante que a criança, além da percepção de corpo que vai adquirindo
através das experiências vividas, descubra que seu corpo como um todo também
pode se relacionar com um ritmo. Le Bouch (1992, p. 190) propõe um trabalho de
sincronização sensório-motora, onde a criança possa perceber sua adequação entre
ritmos corporais e os ritmos musicais, podendo desenvolver uma atenção perceptiva
na linha melódica, na sonoridade, timbre do instrumento, tempo e estruturas rítmicas.
A noção de tempo, desenvolvida a partir da audição é mais difícil para a criança
assimilar do que a noção de espaço. Perceber os batimentos cardíacos, o tempo da
nossa respiração, o tempo cronológico que se refere a ontem, hoje, amanhã; manhã
e tarde; dias da semana, meses e ano e até mesmo o ritmo individual de cada ser
humano pode ser percebido.
Sugerimos aqui, seguindo os estudos de Le Bouch, que sejam oportunizadas à
criança com deficiência intelectual, o ajustamento de sua consciência no jogo, em
cantigas de roda, acompanhamento em temas musicais com instrumentos de
percussão e movimentos corporais.
- Equilíbrio
Vários sentidos contribuem e auxiliam na coordenação do equilíbrio sofrendo
influência da estimulação visual, tátil-cinestésica e vestibular. O uso dos olhos permite
à criança focar um ponto de referência para manter o equilíbrio.
O equilíbrio é definido como estático ou dinâmico. O estático refere-se à
capacidade de manter-se em repouso; enquanto que o dinâmico se refere à
capacidade de manter o corpo em movimento de maneira retilíneo uniforme. Os
fatores psicológicos, também tem grande importância no equilíbrio.
Na opinião de Alves (2012) o Equilíbrio é um dos movimentos mais nobres,
uma vez que o indivíduo cresce e evolui, e é o equilíbrio que vai propiciar sustentação
e manutenção ao indivíduo.
Resultados Obtidos
Aluno A
A é um menino que tem uma vivência de brincadeiras bastante grande. Anda a
cavalo e convive com os amigos que moram perto de sua residência. Com isso
demonstra habilidades motoras superiores à de seus colegas. É desinibido. Procurou
realizar todas as atividades propostas pela professora. Apresentou um pouco de
dificuldades no momento da Avaliação em saltar num pé só e com relação ao
reconhecimento de Direita e Esquerda, deixando dúvidas quanto ao conhecimento,
pois ora acertava determinadas ordens, ora parecia não entender.
Segundo Alves (2012) apud Wallon conhecer o próprio corpo é de grande
importância nas relações entre o eu e o mundo exterior, “é um elemento indispensável
na constituição da personalidade”.
Percebemos que A necessita de um tempo maior para dominar sua lateralidade
através do desenvolvimento cognitivo e da percepção de sensações visuais, táteis e
cinestésicas, que deverão ser trabalhadas através de atividades no seu cotidiano.
Fonte: autoria própria * A estava bastante agitado no dia da Reavaliação, tanto que para saltar num pé só apresentou maior dificuldade do que na primeira avaliação. Deixamos no gráfico a avaliação do dia, porém, numa nova tentativa, o mesmo conseguiu atingir o objetivo.
Fonte: autoria própria
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Equilíbrio Estático e Dinâmico
Avaliação 1 Avaliação 2
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SentidoCinestésico
ReconhecimentoDIREITO
ReconhecimentoESQUERDO
Autoimagem Imitação degestos
Desenho do corpo
Noção Corporal
Avaiação 1 Avaliação 2
Fonte: autoria própria
Aluno B
O aluno B é um menino com síndrome de down, o qual está em processo de
desenvolvimento de sua linguagem oral. Apresenta resistência em realizar
determinadas atividades propostas, mesmo com a insistência da professora.
No início das atividades, era bastante retraído, porém, vendo os colegas,
motivou-se várias vezes em participar. A maior dificuldade foi em saltar com um pé
só, caminhar sobre uma linha reta pé ante pé, caminhar no banco de costas e de lado.
Nas avaliações apresentou na maioria dos itens o nível mais baixo da
pontuação, muitas vezes, por não querer executar o que lhe era solicitado.
Nas aulas percebemos que procurou interagir com os colegas e o que mais
surpreendeu, foi no dia em que era para andar em “pés de lata’ e apesar de sua
resistência no início, soltou-se e conseguiu deslocar-se (com auxílio da professora),
pela sala e pátio da escola (com bastante insegurança). Demonstrou satisfação no dia
em que era para andar em “três pés”, ou seja, uma das pernas amarrada à do colega.
Quando observado no parquinho, demonstrou destreza em subir e descer no
escorregador, algo que dois de seus colegas não quiseram nem tentar subir,
demonstrando que B só necessita de um tempo maior para adquirir, não apenas a
linguagem oral, mas também aspectos relacionados ao seu desenvolvimento motor.
E assim, como afirma Vayer apud Alves:
Todas as experiências da criança (o prazer e a dor, o sucesso ou o fracasso) são sempre vividas corporalmente. Se acrescentarmos valores sociais que o meio dá ao corpo e a certas partes, este corpo termina por ser investido de significações, de sentimentos e de valores muito particulares e absolutamente pessoais. (2012, p. 55)
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Organização EspaçoTemporal
Esruturação rítmica Representação topográfica Estruturação
Estruturação Espaço-Temporal
Avaliação 1 Avaliação 2
E assim, reforçamos que o corpo é o meio pelo qual expressamos nossas
emoções, angústias, sensações, nossa relação com o eu e com o mundo em que
vivemos. Portanto, devemos propiciar sempre a vivência consigo mesmo e com os
outros, para adquirir cada vez mais experiências.
Fonte: autoria própria
Fonte: autoria própria
Fonte: autoria própria
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Equilíbrio Estático e Dinâmico
Avaliação 1 Avaliação 2
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SentidoCinestésico
ReconhecimentoDIREITO
ReconhecimentoESQUERDO
Autoimagem Imitação degestos
Desenho do corpo
Noção Corporal
Avaliação 1 Avaliação 2
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Organização EspaçoTemporal
Esruturação rítmica Representação topográfica Estruturação Dinâmica
Estruturação Espaço-Temporal
Avaliação 1 Avaliação 2
Embora percebamos poucos avanços nas Avaliações de B, pudemos notar que
o mesmo, no decorrer da proposta, demonstrou maior interesse nas atividades, maior
interação com os colegas e professora e participação satisfatória nas aulas. No
entanto, ele demonstra-se receoso em responder algumas propostas quando
individuais e dirigidas, porém, se realizadas sem muitas regras e com a participação
de colegas, consegue soltar-se mais, onde pode ser analisado o seu desempenho.
Aluno G
G é bastante inquieto, mordendo sua mão quando está ansioso. Demonstrou
bastante insegurança e dificuldade em realizar algumas atividades, principalmente as
de equilíbrio (caminhar no banco sueco, apoio retilíneo – pé ante pé sobre uma linha
reta, saltar num pé só).
Pudemos perceber que apesar de toda a ansiedade, ele queria e procurava
realizar o que era solicitado, procurando apoio da professora e dos colegas quando
achava necessário.
No dia de caminhar nos ‘pés de lata’, em que o mesmo suava, buscava o apoio
de dois professores, mas não queria deixar de caminhar sobre as latas. Demonstrou
o tempo todo sua vontade em participar e superar o ‘medo’.
Em nossos estudos, pudemos perceber que o equilíbrio é a base de toda a
coordenação geral do indivíduo. É o equilíbrio que nos permite ficarmos em pé,
seguros, firmes, confiantes. O equilíbrio pode ser estático, ou seja, permanecer
parado, para isso, precisamos trabalhar a respiração, fixar num ponto pré-
determinado. Enquanto o equilíbrio dinâmico, é aquele em que temos de nos equilibrar
de maneira mais natural.
Na opinião de Alves (2012) o Equilíbrio é um dos movimentos mais nobres,
uma vez que o indivíduo cresce e evolui e é o que vai propiciar manutenção e
sustentação do indivíduo. Reforçamos aqui, a necessidade de realizar atividades para
que o aluno G possa adquirir um equilíbrio sem oscilações e instabilidade.
Fonte: autoria própria
Fonte: autoria própria
Fonte: autoria própria
Aluno G.U.
G.U. demonstra desequilíbrio e descoordenação em realizar atividades em
saltar num pé só, andar na ponta dos pés, caminhar na trave para trás, subir num
escorregador de parquinho. No entanto, percebe-se que G.U. tem procurado participar
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Equilíbrio Estático e Dinâmico
Avaliação 1 Avaliação 2
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SentidoCinestésico
ReconhecimentoDIREITO
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Autoimagem Imitação degestos
Desenho do corpo
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Organização EspaçoTemporal
Esruturação rítmica Representação topográfica Estruturação Dinâmica
Estruturação Espaço-Temporal
Avaliação 1 Avaliação 2
das atividades propostas, apesar de sua insegurança. Procura a professora para que
lhe dê apoio e tenta executá-las. Andar nos pés de lata, foi bastante difícil para ele,
porém, conseguiu realizar e sentiu prazer em caminhar sobre as mesmas. Andar em
três apoios (uma das pernas amarradas à do colega), foi uma das atividades que mais
demonstrou interesse, segundo ele, “podia andar sempre assim”.
Para Araújo apud Longhi e Basei (2010) o equilíbrio tem um papel importante
tanto em estado de relaxamento quanto em movimento, pois pode refletir no estado
emocional da criança, ocasionando insegurança, angústia, distração, e quanto mais o
equilíbrio estiver prejudicado, mais energia será necessária, pois a criança vai
necessitar de uma atenção redobrada para tentar realizar determinados movimentos.
Reforçamos aqui, a necessidade de priorizar atividades que englobem o
Equilíbrio para o desenvolvimento de educandos da Educação Especial.
Fonte: autoria própria
Fonte: autoria própria
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Equilíbrio Estático e Dinâmico
Avaliação 1 Avaliação 2
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SentidoCinestésico
ReconhecimentoDIREITO
ReconhecimentoESQUERDO
Autoimagem Imitação degestos
Desenho do corpo
Noção Corporal
Avaliação 1 Avaliação 2
Fonte: autoria própria
Aluno K
Na primeira avaliação K apresentou uma resposta adequada para a maioria
dos itens referentes ao equilíbrio. Quanto à noção corporal e estruturação espaço-
temporal, apresentou realização incompleta com relação ao reconhecimento
direito/esquerdo, desenho do corpo e imitação de gestos.
Demonstrou interesse na realização de todas as atividades propostas,
demonstrando bom desempenho ao realizá-las.
Corroborando com o que nos diz Alves (2012) o conhecimento do próprio corpo
não depende apenas do desenvolvimento cognitivo, mas também da percepção,
formada tanto de sensações visuais, táteis, cinestésicas. Para Wallon apud Alves
(2012) o conhecimento do corpo é de grande importância nas relações entre o eu e o
mundo exterior, sendo um elemento indispensável na construção da personalidade.
Percebemos que K apresenta lateralidade definida, com dominância lateral
direita. No entanto, seu conhecimento e discriminação de direita/esquerda está em
processo de desenvolvimento.
Fonte: autoria própria
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Organização EspaçoTemporal
Esruturação rítmica Representação topográfica Estruturação
Estruturação Espaço-Temporal
Avaliação 1 Avaliação 2
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Equilíbrio Estático e Dinâmico
Avaliação 1 Avaliação 2
Fonte: autoria própria
Fonte: autoria própria
Aluno M
M é um educando bastante comunicativo, sociável, no entanto dispersa com
facilidade. Necessita ser estimulado constantemente para que retome o que lhe foi
solicitado.
Apresenta em determinados momentos um comportamento agitado e
dificuldade de concentração. Realiza com dificuldade atividades de equilíbrio como
andar na ponta dos pés, saltar num pé só, caminhar em marcha controlada. E assim
como os demais colegas, está em processo de discriminação e reconhecimento de
direita/esquerda.
Nas demais atividades, apresenta um bom desempenho.
Ainda segundo Alves “a criança precisa se sentir segura para que possa ter a
possibilidade de se arriscar. Isto, certamente, lhe trará conhecimento acerca de si
mesma, dos outros e do meio em que vive” (2012, p. 147)
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SentidoCinestésico
ReconhecimentoDIREITO
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Autoimagem Imitação degestos
Desenho do corpo
Noção Corporal
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Organização EspaçoTemporal
Esruturação rítmica Representação topográfica Estruturação
Estruturação Espaço-Temporal
Avaliação 1 Avaliação 2
Quanto essa possibilidade de se arriscar, M tira de letra, afinal, ele procura
fazer tudo o que lhe é solicitado, sem demonstrar receios ou insegurança.
Fonte: autoria própria
Fonte: autoria própria
Fonte: autoria própria
Resultados Obtidos pelo grupo
A seguir poderão ser observados os resultados obtidos em cada na Avaliação
e Reavaliação dos testes.
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Equilíbrio Estático e Dinâmico
Avaliação 1 Avaliação 2
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SentidoCinestésico
ReconhecimentoDIREITO
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Autoimagem Imitação degestos
Desenho do corpo
Noção Corporal
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Organização EspaçoTemporal
Esruturação rítmica Representação topográfica Estruturação
Estruturação Espaço-Temporal
Avaliação 1 Avaliação 2
De acordo com os fatores da BPM, o equilíbrio dá suporte a qualquer resposta
motora vigilante e integrada, em face da força gravitacional que atua sobre o indivíduo.
“A equilibração reúne um conjunto de aptidões estáticas e dinâmicas,
abrangendo o controle postural e o desenvolvimento das aquisições de locomoção.”
(FONSECA, 2012, p.131)
Fonte: autoria própria
Fonte: autoria própria
Noção do Corpo
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Equilíbrio Estático e Dinâmico (I)
A B G GU K M
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Equilíbrio Estático e Dinâmico (II)
A B G GU K M
De acordo com FONSECA (2012) o corpo é o lugar por onde a comunicação
se estabelece, é o centro da linguagem emocional. A noção do corpo torna-se
fundamental para o desenvolvimento da aprendizagem e da personalidade.
Fonte: autoria própria
Fonte: autoria própria
Estruturação Espaço Temporal
“A estruturação espaço-temporal emerge da motricidade, da relação com os
objetos localizados no espaço, da posição que ocupa o corpo, enfim das múltiplas
relações integradas da tonicidade, da equilibração, da lateralização e na noção do
corpo”. (FONSECA, id, p. 184) Podemos dizer então, que a estruturação espaço-
temporal depende da integração e da organização de diferentes fatores psicomotores.
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SentidoCinestésico
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Noção Corporal (I)
A B G GU K M
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SentidoCinestésico
ReconhecimentoDIREITO
ReconhecimentoESQUERDO
Autoimagem Imitação degestos
Desenho do corpo
Noção Corporal (II)
A B G GU K M
Fonte: autoria própria
Fonte: autoria própria
Analisando os resultados obtidos pelo grupo como um todo, pudemos perceber
que não atingiram todos os objetivos esperados. Alguns apresentaram faltas em
diversas aulas; período curto de tempo, considerando que os educandos com
deficiência intelectual necessitam de um período maior para adquirir determinados
aprendizados. No entanto, todos eles tiveram avanços satisfatórios, principalmente ao
que se refere as atividades de equilíbrio, onde percebe-se que a insegurança em
realizar determinadas atividades era bem evidente e essa insegurança, está sendo
superada por todos.
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Organização EspaçoTemporal
Esruturação rítmica Representação topográfica Estruturação Dinâmica
Estruturação Espaço Temporal (I)
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Organização EspaçoTemporal
Esruturação rítmica Representação topográfica Estruturação Dinâmica
Estruturação Espaço Temporal (II)
A B G GU K M
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo, baseado na prática docente e nos referenciais teóricos disponíveis,
vem comprovar os benefícios e as vantagens da educação psicomotora no processo
ensino-aprendizagem do educando com deficiência intelectual. Muitas são as
dificuldades apresentadas por eles. No entanto elas precisam ser percebidas e
analisadas, buscando-se um caminho para superar ou ao menos amenizá-las.
Muitas barreiras eles já transpuseram, outras tantas ainda virão. Todavia,
determinadas situações poderão ser enfrentadas através do brincar, do lúdico, da
afetividade, dos desafios, da criatividade, de jogos e atividades recreativas, cabendo
à escola e à família proporcionar e estimular sempre uma vivência corporal ampla.
Em se tratando de uma prática na modalidade de Educação Especial, o Projeto
de Intervenção e a Produção didático-Pedagógica, foi elaborado pensando nas
particularidades dos educandos com deficiência intelectual, respeitando as
especificidades e temporalidades de cada um.
Nesse sentido, o referido Projeto contribuiu para que os educandos
vivenciassem atividades psicomotoras, com o intuito de atenuar determinadas
dificuldades apresentadas no processo ensino-aprendizagem.
Percebemos a expressão de satisfação e alegria dos educandos durante a
intervenção pedagógica. Tivemos a certeza de que o educador tem um papel
fundamental na vida do educando, devendo estar atento as atitudes e comportamento
dos mesmos, propiciando atividades que os desafiem e possibilitem um crescimento
pessoal, pedagógico e social.
5. REFERÊNCIAS
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