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ANÁLISE ERGONÔMICA DE UMA
MESA DE PESAGEM AUTOMATIZADA
DE CUMBUCAS DE UVA
Ana Luiza Morais de Souza (UNIVASF)
ana.luiza.sm2@gmail.com
BRUNA ANGELA ANTONELLI (UNIVASF)
BRUNA_ANTONELLI@YAHOO.COM.BR
Thais Pereira de Azevedo (UNIVASF)
tpazevedo@hotmail.com
Felipe Gomes de Oliveira (UNIVASF)
felipe_univasf@hotmail.com
A crescente preocupação das empresas quanto à oferta de serviços ou
produtos de qualidade para seus clientes fez com que a Ergonomia
alcançasse um novo espaço no mercado, pois ela visa a adaptação do
trabalho ao homem sem perder o foco na produtividade. Baseado nesse
contexto, o presente artigo teve por objetivo analisar um novo produto
de facilitação da pesagem de cumbucas de uvas. O estudo foi realizado
a partir da observação do posto de trabalho, analisando a interação
homem - máquina, através de visitas ao local de trabalho bem como
por meio do registro de vídeo. Como método complementar, foi
utilizado o método RULA e a Checklist de Couto. Após as análises, foi
possível elencar sugestões para a contribuição na melhoria do
equipamento.
Palavras-chave: Análise Ergonômica do Trabalho(AET), Ergonomia,
RULA, Checklist de Couto, uvas
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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1. Introdução
O estudo da ergonomia envolve diversas áreas de estudo, tendo sua aplicabilidade nas
dimensões cognitiva, organizacional e física. Seu objetivo é proporcionar melhoria das
condições de vida do trabalhador, adaptando o trabalho ao mesmo. Por ser uma ciência
multidisciplinar, a ergonomia pode ser utilizada em várias áreas e setores, inclusive aos
trabalhadores do setor agrícola.
O setor da agricultura tem bastante força no cenário nacional brasileiro, sendo um dos
com maior crescimento no PIB, fechando 2013 com aumento de 4,45% em relação a 2012
(CEPEA, 2013). Dentro do ramo agricultor, um dos destaques é a fruticultura.
Um estudo realizado pelo IBGE em 2010 caracterizou a cidade de Petrolina – PE,
como o município brasileiro de maior volume de produção de frutas, totalizando cerca de
R$ 619,2 milhões. Petrolina figura a maior exportação de uvas do país, somando com
Juazeiro – BA e com a Serra Gaúcha – RS, 95% das exportações de uva de mesa do país.
Porém, apesar da força no país, esse setor ainda sofre com a falta de estudos
ergonômicos voltados para seus trabalhadores e maquinários. Portanto, muitos
trabalhadores adotam o modo de trabalho que acham mais cômodos ou que foi repassado
de outros trabalhadores que possuem mais tempo desempenhando a função, sem
necessariamente seguirem padrões que facilitem, melhorem a produtividade ou mesmo
sequer reproduzem as atividades pensando em sua saúde em longo prazo.
Neste contexto, a empresa solicitante desenvolveu um equipamento para facilitar o
processo de pesagem das cumbucas de uvas de mesa, automatizando parte do processo,
aumentando a produtividade e reduzindo perdas. Por ser automatizado, o processo
incrementa a qualidade do produto, pois o mesmo possui maior frequência dentro de um
dos principais parâmetros exigidos: peso.
Tratando-se de um equipamento novo, a mesa de pesagem foi pensada inicialmente
apenas para melhoria da produtividade. Muitos estudos tem sido feitos no tocante da
melhoria tecnológica, porém, poucos estudos foram realizados no âmbito ergonômico.
Entendendo a importância da Ergonomia de interligar produtividade com saúde do
trabalhador, fazendo adaptação do trabalho ao operador, a empresa solicitou a análise
ergonômica do seu produto a fim de fazê-lo mais completo (produtivo e que atenda as
necessidades dos trabalhadores) e agregar valor ao mesmo.
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Nesse artigo serão expostos passos da AET realizada para a mesa de pesagem
automatizada, em uma packing house no Vale de São Francisco (VASF), onde o
equipamento em questão já estava operando, levantamento de dados e sugestões de
melhorias para a empresa aplicar ao produto.
2. Revisão bibliográfica
Um dos principais papéis da Ergonomia é promover a saúde e conforto do trabalhador
em seu ambiente de trabalho, aliando técnicas e métodos, pensando (e repensando) modos
de adaptar o trabalho ao trabalhador. Vale ressaltar, que a Ergonomia contribui como uma
ferramenta muito eficaz para o empregador, pois um ambiente de trabalho adaptado as
condições humanas reflete em melhor satisfação e eficiência no trabalho.
Segundo a ABERGO, a Ergonomia pode ser dividida em 3 domínios gerais de
especialização. São eles:
Ergonomia Organizacional: Busca otimização das situações da dinâmica do
trabalho como estrutura organizacional, comunicações, gerenciamento,
trabalho em grupo, cultura organizacional, entre outros;
Ergonomia Cognitiva: Estudo dos seres humanos e sistemas onde exista algum
tipo de processo mental associado;
Ergonomia Física: Observa as atividades humanas relacionando-as com
fisiologia, biomecânica, características da anatomia e antropometria.
Sendo este último, o principal domínio abordado no presente artigo, porém não o
único observado nas análises realizadas.
Ao pensar na ergonomia no contexto dos níveis organizacionais de uma empresa, a
primeira idéia que surge é a da ergonomia ligada diretamente e apenas com o nível
operacional. Porém, vale salientar que apesar desta idéia não estar incorreta, quando se
trata da ergonomia de produto, o nível organizacional envolvido é o estratégico, pois ao se
idealizar um novo produto é necessário pensar no seu público-alvo. Afinal, as
especificações do produto devem ser construídas baseadas na demanda que se deseja
atender. Para Rodrigues (2013), maior competitividade e foco na inovação são parte da
ação ergonômica integrada a gerência estratégica da empresa que gera o desempenho da
instituição como um todo.
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Antropometria é a ciência que analisa as dimensões do corpo humano, relacionando-as
com o desenvolvimento do produto e/ou posto de trabalho. Os estudos podem ser
realizados de acordo com as dimensões estáticas ou considerando as dimensões do corpo
humano durante a realização de alguma atividade. Com o passar dos anos, essa ciência
tornou-se mais precisa, ganhando proporções maiores por mostrar-se de grande valia no
quesito produtividade. Ela ajuda a aperfeiçoar os produtos de forma a proporcionar aos
trabalhadores e usuários maior conforto durante a execução da atividade, promovendo a
saúde e reduzindo movimentos desnecessários.
Durante um estudo antropométrico, é importante ter em mente que o produto poderá
ser utilizado por diferentes públicos e em locais diversos, portanto, ao conceber um
produto deve-se levar em consideração as medidas dos usuários. Por exemplo, a média das
dimensões femininas é menor que as masculinas (independentemente do povo), portanto
um produto pensando para o público feminino deve ser construído com dimensões
menores.
Nesse sentindo, a antrompometria é uma ferramenta fundamental da ergonomia, uma
vez que o mau posicionamento das ferramentas do posto de trabalho pode ocasionar
Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). Entende-se por DORT
uma síndrome relacionada ao trabalho, caracterizada pela ocorrência de vários sintomas
tais como: dor, parestesia, sensação de peso, fadiga, de aparecimento insidioso.
Frequentemente são causa de incapacidade laboral temporária ou permanente.
Geralmente os trabalhadores por não sentirem dores imediatas ao realizarem
determinados movimentos laborais tem a falsa impressão de estarem realizando
movimentos corretos e da forma adequada. Isso resulta na sobrecarga das estruturas
anatômicas do sistema osteomuscular com a falta de tempo para sua recuperação. A
sobrecarga pode ocorrer seja pela utilização excessiva de determinados grupos musculares
em movimentos repetitivos com ou sem exigência de esforço localizado, seja pela
permanência de segmentos do corpo em determinadas posições por tempo prolongado,
particularmente quando essas posições exigem esforço ou resistência das estruturas
músculo-esqueléticas contra a gravidade. A necessidade de concentração e atenção do
trabalhador para realizar suas atividades e a tensão imposta pela organização do trabalho
são fatores que interferem de forma significativa para a ocorrência das DORT.
No ambiente industrial, a postura em pé é muito observada tendo em vista que facilita
a movimentação corporal. De acordo com o National Safety Council, o trabalho em pé
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mantido de forma estática por longo período de tempo, pode causar pode causar fadiga
nos membros inferiores e coluna lombar.
Uma das partes do corpo que mais pode sofrer lesões é a articulação do ombro, devido
as suas características anatômicas e biomecânicas. Ângulos de abdução e flexão de braços
de 31º e 60° são considerados como posição média e acima de 60°, como severa. Já para
angulação lateral, 45° já é passível de postura de correção de ombros (ESTIVALET,2004
at al apud. LI et al 1995, GRANDJEAN,1998). Ou seja, trabalhos que exijam
movimentos em angulações consideradas médias e severas oferecem risco ergonômico de
desenvolver lesões osteomusculares em ombro oferecem riscos ao trabalhador e devem ser
evitados.
Para melhor identificação de riscos ergonômicos, métodos e ferramentas foram
desenvolvidos para auxiliar na identificação dos riscos relacionados ao trabalho. Eles
ajudam a quantificar e qualificar os problemas a fim de uma tomada de decisão mais
efetiva. A Checklist de Couto é uma dessas ferramentas que auxilia na identificação. Sua
aplicação segue basicamente o preenchimento de uma checklist, onde o valor das
respostas podem ser 0(zero) ou 1(um) e ao final, fazer a contagem dos pontos e
interpretação dos pontos resultantes da soma. As perguntas da checklist são baseadas em
itens que são importantes dentro do ambiente de trabalho como avaliação de sobrecarga
física e postura de trabalho. Abaixo seguem os critérios de interpretação (SOARES et al.,
2012 apud. COUTO, 2007):
Acima de 22 pontos: AUSÊNCIA de fatores biomecânicos;
Entre 19 e 22 pontos: fator biomecânico POUCO SIGNIFICATIVO;
Entre 15 e 18 pontos: fator biomecânico de MODERADA IMPORTÂNCIA;
Entre 11 e 14 pontos: fator biomecânico SIGNIFICATIVO;
Abaixo de 11 pontos: fator biomecânico MUITO SIGNIFICATIVO.
Pode-se analisar essa ferramenta através de um comparativo percentual em relação a
totalidade de pontos alcançados. Dessa forma, a tabela a ser utilizada é a seguinte
(SOARES et al., 2012 apud. COUTO, 2007):
91 a 100% dos pontos: Condição ergonômica excelente;
71 a 90% dos pontos: Boa condição ergonômica;
51 a 70% dos pontos: Condição ergonômica razoável;
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31 a 50% dos pontos: Condição ergonômica ruim;
Menos que 31% dos pontos: Condição ergonômica péssima.
O método RULA (Rapid Upper Limb Assessment) é de simples aplicação e oferece
uma dimensão significativa dos fatores de risco. Através da utilização de três diagramas com
escores, é possível chegar ao um escore final que indica que medidas devem ser tomadas a
partir do que foi notado da atividade (PINTO et al.2012). Abaixo os resultados dos escores:
1 a 2: Aceitável;
3 a 4: Investigar posteriormente;
5 a 6: Investigação e mudança imediata;
7: Investigar e mudar imediatamente.
3. Metodologia
O estudo foi realizado em uma unidade de produção (packing house) de uma empresa
produtora de uva, parceira da empresa solicitante, localizada no Vale do São Francisco, na
cidade de Lagoa Grande situada no estado de Pernambuco, a 53 km de Petrolina.
A análise contou com visitas in loco para observação do trabalho realizado com o
equipamento, prezando o exame das posturas e movimentos. Foram utilizadas gravações
de vídeos da atividade para uma análise mais detalhada dos movimentos. As filmagens
foram feitas em dia de funcionamento normal, nas condições usuais de trabalho. Foi
solicitado para que as funcionárias não mudassem seu ritmo de trabalho para que o estudo
fosse realizado mais precisamente possível.
Complementarmente, ao método de observação direta, foram agregados aos estudos, a
Checklist de Couto e o método RULA, que permitem a análise das posturas e dos efeitos
causados no sistema músculo-esquelético decorrentes dos movimentos.
4. Apresentação e análise de dados
4.1. Análise de demanda
O estudo foi solicitado por uma empresa localizada em Juazeiro, no Vale do São
Francisco (VASF), no estado da Bahia. O empreendimento de base tecnológica possui
duas frentes de trabalho: projetos (consultoria, projetos de base, análise de viabilidade
técnica) e inovação (soluções em automação, comunicação e software). A companhia
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atende o mercado do Vale do São Francisco, como Petrolina, Juazeiro e cidades
circunvizinhas.
A empresa demandou a AET para um de seus produtos: uma mesa de pesagem
automatizada de cumbucas de uva de mesa demonstrado na Figura 1. Desenvolvida pela
própria empresa, a mesa funciona através do reconhecimento do peso inicial da cumbuca
que chega à primeira fase de pesagem, e logo após indicando através de sinais luminosos
qual a bandeja contém cachos de uva com peso suficiente para complementar a cumbuca a
fim que ela saia com o peso programado.
Figura 1 - Mesa de pesagem
Fonte: Autoria própria (2014)
A fim de melhorar a qualidade ergonômica do produto, alcançar vantagem
competitiva, bem como sanar problemas reportados pelos clientes que utilizaram
previamente o equipamento, foi requerido o estudo e análise ergonômica do produto.
4.2. Análise de tarefa
A tarefa em questão é realizada em uma packing house onde ocorre o processo
de embalamento de uvas de mesa em cumbucas. Em ritmo normal, os turnos são de 8
horas de trabalho por dia. Em época de safra, a produção ocorre durante 24 horas,
dividindo trabalhadores por turnos de trabalho. Há predominância de mão-de-obra
feminina no setor que lida diretamente com o equipamento. Durante todo o turno o
trabalho é realizado em pé, com pausas programadas apenas para almoço e outras
para uso do sanitário ou beber água a qualquer hora.
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Figura 2 - Vista geral da packing house
Fonte: Autoria própria (2014)
Seguem-se as atividades dos postos de trabalho na mesa de pesagem
destrinchadas separadamente para maior detalhamento:
Pesagem de contrapeso
A funcionária responsável recebe um contentor com as uvas, que fica
posicionado em cima de um banco ao seu lado. Ela pega um cacho dentro do
contentor, coloca na balança e espera o sinal do equipamento. O equipamento
possui uma sequência de Led’s responsáveis pelo envio do sinal relativo ao
peso do cacho, dois Led’s se encontram na lateral do equipamento e indicam se
o cacho colocado sobre a bandeja se encontra com peso abaixo ou acima do
programado e outros Led’s estão posicionados em frente às bandejas. Caso o
cacho esteja dentro do limite programado, ela conduzirá o cacho à bandeja
onde o sinal luminoso apareceu. Se o Led de baixo acender, o cacho deverá ser
encaminhado ao descarte. Caso o Led superior acenda, a funcionária cortará o
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cacho em partes menores, realizará a pesagem novamente e dará
prosseguimento ao processo anterior.
Pesagem de cumbucas
A pesagem da cumbuca propriamente dita inicializa quando a funcionária pega
uma cumbuca em uma das cabines da ilha de produção, já preenchida
previamente com um cacho não pesado e coloca na balança. A mesa indicará
através de Led’s de qual bandeja a funcionária deverá tirar o cacho para
complementar o peso estipulado. Depois de feito isso, ela aguardará a mesa
confirmar se os pesos dos dois cachos combinados dentro da cumbuca estão
dentro da margem de peso estipulada. Caso apareça o sinal verde, ela dirige-se
a outra cabine com a cumbuca preenchida, onde ela será fechada é colocada
dentro da caixa que prosseguirá para o pallet.
Abaixo, quadro com imagens do processo:
Quadro 1 - Atividades de pesagem
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Fonte: Autoria própria (2015)
4.3. Análise ergonômica
Apesar da solicitação da AET ter vindo da empresa desenvolvedora do produto, ao se
tratar de ergonomia é necessário fazer uma avaliação simultânea tanto o produto quanto o
posto de trabalho.
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O layout da packing house influencia diretamente no posto de trabalho, na disposição
das funcionárias e em seus movimentos para realização da atividade. Portanto, muitos dos
movimentos (inclinação, rotação e flexão de tronco, abdução e flexão de ombros e flexão
de coluna cervical) observados e que poderiam ser substituídos ou eliminados, são fruto
da disposição do layout.
Prosseguindo a análise, foi observado que todos os funcionários do setor de packing
house, não só nesta como também em outras unidades, trabalham em pé durante todo o
turno. Esse tipo de postura pode causar distúrbios músculos-esqueléticos graves,
comprometendo a saúde do trabalhador.
A disposição das ilhas de produção não está da forma mais adequada. Nesse layout, as
funcionárias precisam fazer muitas movimentações de rotação de tronco e em angulações
que favorecem o aparecimento de lesões futuras.
Quanto ao equipamento, foi observado que o posicionamento das bandejas não está
ideal. Algumas bandejas estão dispostas em um nível tão elevado em relação às
funcionárias, que se notou muitas delas ficando nas pontas dos pés para poder alcançar as
uvas. E mesmo as que não precisam ficar na ponta dos pés para alcançar as uvas, ainda
precisam fazer movimentos com angulação acima de 45°, tornando a atividade prejudicial
para a saúde dos envolvidos. Ainda com relação ao posicionamento das bandejas,
importante ressaltar que o alcance também está prejudicado, pois as bandejas se
encontram relativamente distantes em relação a posição da funcionária. Para as
responsáveis pela pesagem das cumbucas, o dano pode ser um pouco maior, pois elas
trabalham muito mais com um lado do corpo do que com o outro durante todo o turno sem
troca de posto durante o dia.
Tendo em vista que a postura de abdução e flexão de ombros acima de 45º foi
observada durante toda a atividade vale ressaltar que o ombro é uma articulação de grande
mobilidade, e seu ponto de vulnerabilidade é o tendão do músculo supra-espinhoso,
responsável pelo movimento de abdução do braço (COUTO, 2007). A sobrecarga estática
dessa articulação contribui para o desenvolvimento de Doenças Osteomusculares
Relacionadas ao Trabalho (DORT). Por uma característica anatômica, movimentos de
elevação acima de 450, com ou sem suspensão de peso, ou movimentos repetitivos com
contração estática dos membros superiores acarretam o pinçamento do tendão do músculo
supra-espinhoso. Esse tendão apresenta um ponto de fragilidade tecidual, onde há pouca
vascularização com difícil reparo tecidual. Dessa forma, quanto maior o número de
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movimentos desenvolvidos pelo trabalhador maior será a probabilidade do mesmo sofrer
lesões por traumas cumulativos (HALL,2013).
Tendo como base dados antropométricos do livro de Iida (2005), as alturas ideais para
bancada fixa de posto de trabalho leve e em pé deveriam estar mais ou menos na altura do
cotovelo, variando entre 85-90 cm para mulheres e 90-95 cm para homens, procurando
sempre dimensionar baseada no trabalhador mais alto. A empresa solicitante forneceu os
desenhos para o projeto da mesa com dimensões mostradas na Figura 3. Como pode ser
observada, a altura da mesa não está adequada, pois ao passo que a bancada está mais
baixa que o devido, as prateleiras estão a uma altura superior à adequada.
Figura 3 - Projeto e dimensionamento do equipamento (em milímetros)
Fonte: Autoria própria (2014)
Apesar da maioria dos trabalhadores que tem contato com o equipamento ser do sexo
feminino, há relatos de trabalhos realizados com homens. Dessa forma, é importante
pensar em soluções que se adequem para as duas realidades, tanto mão-de-obra feminina
quanto masculina.
Uma vez que a ergonomia não se limita apenas à análise das atividades físicas, é
importante também observar o ponto de vista das atividades cognitivas. Apesar de o
equipamento facilitar na produtividade, o mesmo não estimula o desenvolvimento
cognitivo, condicionando os trabalhadores apenas a responder comandos através das luzes
emitidas pelos Led’s.
4.4. Método RULA
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O método RULA foi aplicado para investigar os ricos que possivelmente o
equipamento vem fornecendo. Após sua aplicação, o método nos forneceu um escore final
com pontuação 5. Ou seja, pelo método, as atividades necessitam de investigação e
mudança imediata, pois oferece riscos elevados a saúde do trabalhador.
4.5. Check-list de Couto
Com a Checklist de Couto foi possível fazer o levantamento de forma simplificada do
fator biomecânico no risco no trabalho.
O resultado final foi a soma de 15 pontos em ambas as atividades (pesagem de contra-
peso e pesagem de cumbuca). Interpretando esse resultado, chegamos a conclusão que o
fator biomecânico é de MODERADA IMPORTÂNCIA, ou seja, precisa de modificações
num prazo relativamente curto.
Através do método comparativo, percebemos que a percentagem é de 60%, o que
significa que as condições ergonômicas de trabalho está razoável. Apesar de não ser um
resultado explicitamente ruim, infere que há melhorias a serem aplicadas para se chegar
ao ambiente ideal.
4.6. Recomendações
Apesar de atender aos requisitos de produtividade, a mesa de pesagem de fato
apresentou necessidades para mudanças significativas no tocante da ergonomia do
produto. Como foram listados anteriormente, muitos movimentos feitos pelos funcionários
que operam a mesa são de risco moderado, ou seja, apesar de não serem riscos graves
ainda sim precisam ser evitados em um período de tempo relativamente curto. Dessa
forma, visando a melhoria ergonômica do equipamento com finalidade de melhorar a
saúde dos trabalhadores e aumentar a qualidade do produto oferecido, algumas sugestões
foram criadas:
Ajuste da altura do equipamento;
Apesar da maioria de mão-de-obra feminina na atividade, também há registros de
trabalhadores do sexo masculino, e pensando em atingir outros mercados, a opção
mais interessante seria a implementação de pés ajustáveis. Assim, serão permitidas
múltiplas modificações de acordo com cada grupo de trabalhadores em contato com o
equipamento. Tal medida já está sendo efetuada nos modelos mais novos do
equipamento.
Bandejas em níveis mais baixos;
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Essa medida é de extrema importância, pois conforme percebido através das fotos e
das ferramentas aplicadas, os membros superiores são os mais afetados de maneira
danosa durante a realização das atividades, com movimentos caracterizados como
críticos. Portanto, essa adaptação é uma das mais significativas dentro da análise
realizada, prevenindo lesões graves nos trabalhadores. Seguindo os princípios
ergonômicos, é importante que as bandejas estejam na mesma altura dos cotovelos,
permitindo braços em ângulo de 90°, conhecida como a posição de conforto para o
posto de trabalho. Essa medida não só ajudará na prevenção de lesões nos ombros
como aumentará a produtividade do equipamento, pois aproximando do operador os
elementos do equipamento o tempo de realização da atividade seria reduzido.
Bandejas reguláveis já estão disponíveis para o modelo mais atual, com cada estante já
sendo ajustada no momento do uso, de acordo com a altura do operador.
Utilização de cadeiras e apoios para os pés.
Apesar da utilização de cadeiras para turnos de trabalhos sentados seja vista com maus
olhos por passar a impressão de preguiça e baixa produtividade, esse é um conceito
muitas vezes errôneo. Muitas atividades não se tornam mais produtivas quando os
funcionários estão em pé, pelo contrário, os trabalhadores podem diminuir o paço
devido a dores nas pernas e na coluna. Essa é uma alternativa simples e viável para a
questão das trabalhadoras do caso estudado. A adaptação de um apoio para os pés na
cadeira agregaria ainda mais na questão do conforto.
Apesar do foco da AET ter sido voltado para a mesa de pesagem, produto da empresa
solicitante, a partir das observações realizadas nele foi possível realizar análises sobre o posto
de trabalho.
- Realização de ginástica laboral;
- Estipular pausas obrigatórias ao longo do turno de trabalho;
- Mudança ou adaptação de layout;
- Caso não seja possível dispor cadeiras, providenciar tapetes ergonômicos anti-stress
para atividades em pé;
- Alternar os postos de trabalho.
5. Conclusões
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O trabalho realizado fez o levantamento da importância da nova tecnologia bem como,
rastrear as possíveis falhas a nível ergonômico do equipamento com finalidade de propor à
empresa, melhorias relevantes que agreguem valor ao produto e ofereça um acréscimo na
qualidade de vida do trabalhador.
Com base nos estudos realizados, foi possível sugerir modificações no modelo do produto
analisado. Tais alterações foram encaminhadas para a empresa solicitante a fim de serem
incorporados no planejamento dos próximos modelos de mesa de pesagem de uva. Algumas
modificações sugeridas através desse estudo, como ajuste da altura do equipamento através de
pés e bandejas ajustáveis, já foram tomadas nos modelos comercializados em 2014, e
encontram-se disponíveis nos modelos comercializados no presente ano. Será dado início a
um novo estudo para validação das modificações.
As análises do posto de trabalho não puderam ser destinadas a empresa que embala as
frutas durante os trabalhos que originou este artigo. Para isso, devem ser feitos estudos mais
aprofundados de outros fatores que influenciam a atividade e isso exige um pouco mais de
tempo e atenção dedicada a tal estudo. Fica então a sugestão de continuidade dos estudos para
melhoramento da saúde do trabalhador de forma completa, sendo o próximo possível objeto
de estudo, uma análise detalhada do posto de trabalho.
REFERÊNCIAS
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Horizonte: ERGO editora Ldta, 2007.
Ergonomics: A practical guide. 2nd
Edition, USA, National safety Council, 1993
HALL, Susan J. Biomecânica básica. 6ª Ed. Rio de janeiro: Guanabara Koogan, 2013.
IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. 2ª Ed. São Paulo: Edgar Blücher, 2005.
JUNIOR, Almir Mariano de Souza et al. Análise ergonômica do trabalho e aplicação do método RULA: Um
estudo de caso no serviço de limpeza de logradouros público. XXX ENEGEP, 2010, São Carlos.
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PINTO, Rochelly Sirremes et al. Aplicação does método RULA na avaliação ergonômica de um posto de
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Produção agrícola municipal - Culturas Temporárias e Permanentes 2010, Volume 37, Brasil, IBGE –
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Relatório – PIB Agro Brasil 2013, Brasil, CEPEA - Centro Avançado de Economia Aplicada (USP).
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RODRIGUES, Ricardo Furtado, MERINO, Eugenio Andrés Díaz, FILHO, Nelson Casarotto. Contribuição da
ergonomia no processo de inovação das instituições. Ação ergonômica. v.8, n°1, p. 29, 2013.
SOARES, Elaine Victor Gonçalves et al. Estudo ergonômico e propostas de melhorias em postos de trabalho
de uma empresa de mineração. VII Seprone, 2012, Mossoró.
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