anÁlise econÔmica da conciliaÇÃo de medicamentos … · internações hospitalares,...
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5
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CAMPUS UNIVERSITÁRIO PROFESSOR ANTÔNIO GARCIA FILHO
DEPARTAMENTO DE FARMÁCIA
LUANN DENNISON BATISTA DE OLIVEIRA
ANÁLISE ECONÔMICA DA CONCILIAÇÃO DE
MEDICAMENTOS EM UMA UNIDADE DE INTERNAÇÃO DE
UM HOSPITAL DE ENSINO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Lagarto - Sergipe
Abril, 2018
ii
LUANN DENNISON BATISTA DE OLIVIERA
ANÁLISE ECONÔMICA DA CONCILIAÇÃO DE
MEDICAMENTOS EM UMA UNIDADE DE INTERNAÇÃO DE
UM HOSPITAL DE ENSINO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal de Sergipe, Campus Universitário Professor Antônio Garcia Filho, como exigência para a obtenção do Diploma de Graduação em Farmácia.
Orientadora: Profa. Dra. Giselle de Carvalho Brito
Lagarto - Sergipe
Abril, 2018
iv
“O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se
chegar a um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e
vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis.”
José de Alencar
v
ANÁLISE FARMACOECONÔMICA DA CONCILIAÇÃO DE MEDICAMENTOS EM UM
HOSPITAL DE ENSINO
Luann Dennison Batista de Oliveira, Lagarto, 2018.
RESUMO
INTRODUÇÃO: A morbimortalidade relacionada aos medicamentos tornou-se um
importante problema de saúde, sendo responsável pelo aumento no número de
internações hospitalares, comprometendo a segurança do paciente e aumentando os
gastos em saúde. Neste contexto, a conciliação de medicamentos surge com objetivo de
garantir a segurança do paciente, buscando evitar falhas na detecção de problemas
relacionados a farmacoterapia, na interrupção do tratamento ou na continuação de uma
terapia inapropriada. Com base nisso, a conciliação pode contribuir para a melhora dos
resultados terapêuticos e redução dos custos para o hospital com os medicamentos dos
pacientes, otimizando a utilização dos recursos em saúde públicos e privados.
OBJETIVO: Estimar o impacto econômico da conciliação de medicamentos omissos em
uma unidade de internação de um hospital de ensino relacionado ao custo da
farmacoterapia utilizada durante a internação. MÉTODOS: Trata-se de um estudo de
custo-análise do tipo observacional, descritivo e retrospectivo, realizado no período de
setembro a novembro de 2017. O estudo envolveu a análise de prontuários e fichas de
conciliação dos pacientes admitidos no setor da clínica médica. A estimativa dos custos
médicos diretos com medicamentos foi realizada através da técnica micro-costing. Os
dados foram calculados e apresentados por meio de estatística descritiva.
RESULTADOS: Foram conciliados os medicamentos com discrepâncias de omissão
(n=179) de 41 pacientes, equivalente a 101 princípios ativos distintos, representando um
custo total de R$ 3.181,43±44,8 (média= R$ 77,60/paciente). Dos medicamentos
conciliados, 49 (48,5%) estavam contidos na listra de padronização do hospital,
correspondendo a um valor de R$ 1.256,60 e 52 (51,5%) não estavam contidos da listra
de padronização, representando um valor de R$ 1.924,83. CONCLUSÃO: A abordagem
econômica do estudo demonstra que a conciliação de medicamentos está diretamente
envolvida nos custos com medicamentos utilizados pelos pacientes. Além disso, os
aspectos econômicos da conciliação relacionados ao consumo de medicamentos durante
a internação representam uma parcela pequena dos benefícios econômicos gerados por
esse serviço. Nesta perspectiva, é fundamental a realização de estudos
farmacoeconômicos completos, que avaliem economicamente a implantação e
desenvolvimento do serviço de conciliação, bem com os desfechos clínicos dos
pacientes.
PALAVRAS-CHAVE: Segurança do paciente; conciliação de medicamentos; hospital de
ensino; farmacoeconomia; custos de medicamentos.
vi
ECONOMICAL ANALYSIS OF THE CONCILIATION OF MEDICINES IN ONE UNITY OF ADMISSION OF A HOSPITAL OF TEACHING
Luann Dennison Batista de Oliveira, Lagarto, 2018.
ABSTRACT
INTRODUCTION: Drug-related morbidity and mortality have become an important health
problem, being the source of an increase in hospital admissions, compromising patient
safety and increasing health spending. In this context, a medication reconciliation arises
with the aim of preventing and correcting medication errors, therefore, treatment failures
related to pharmacotherapy, discontinuation of treatment or continuation of inappropriate
therapy. Based on this, a reconciliation to improve outcomes and reduce hospital costs
with patients' medicines, optimizing the use of resources in public and private services.
OBJECTIVE: To estimate the economic impact of the conciliation of missing medications
in a hospital in a teaching hospital related to the cost of pharmacotherapy used during
hospitalization. METHODS: This is an observational, descriptive and retrospective cost-
analysis study carried out from September to November 2017. The study involved the
analysis of medical records and reconciliation sheets for patients admitted to the medical
clinic. The estimation of direct medical costs with drugs was performed through the micro-
costing technique. Data were calculated and presented using descriptive statistics.
RESULTS: The drugs with omission discrepancies (n=179) of 41 patients, equivalent to
101 different active principles, were reconciled, representing a total cost of R$ 3.181,43 ±
44,8 (mean=R$ 77,60/patient ). Of the reconciled drugs, 49 (48.5%) were contained in the
standardization strip of the hospital, corresponding to a value of R$ 1.256,60 and 52
(51.5%) were not contained in the standardization stripe, representing a value of R$
1.92,.83. CONCLUSION: The economic approach of the study demonstrates that the
conciliation of medications is directly involved in the costs of medicines used by patients.
In addition, the economic aspects of conciliation related to medication consumption during
hospitalization represent a small part of the economic benefits generated by this service.
In this perspective, it is fundamental to carry out complete pharmacoeconomic studies,
which economically evaluate the implementation and development of the conciliation
service, as well as the clinical outcomes of the patients.
KEY-WORDS: Patient safety; medication reconciliation; teaching hospitals; economics,
pharmaceutical; drug dosts.
vii
ÍNDICE DE FIGURAS
METODOLOGIA
Figura 1 Fluxograma do processo de inclusão no serviço de
conciliação............................................................................................
27
Figura 2 Fluxograma do Serviço de Conciliação de
Medicamentos......................................................................................
28
RESULTADOS
Figura 3 Perfil farmacoterapêutico dos pacientes atendidos pelo serviço de
conciliação no período de setembro a novembro de 2017....................
34
Figura 4
Categorização da aceitação pela equipe médica das intervenções
farmacêuticas realizadas pelo serviço de conciliação de
medicamentos......................................................................................
35
viii
ÍNDICE DE TABELAS
RESULTADOS
Tabela 1
Distribuição dos pacientes incluídos no serviço conciliação de
medicamentos por faixa etária e sexo. Setembro a novembro de
2017.....................................................................................................
32
Tabela 2 Tempo de internação dos pacientes incluídos do serviço de
conciliação...........................................................................................
33
Tabela 3 Categorização dos custos dos medicamentos conciliados ................
36
Tabela 4 Custo individual e total dos medicamentos dos pacientes atendidos
pelo serviço de conciliação .................................................................
36
ix
SUMÁRIO
ÍNDICE DE FIGURAS .................................................................................................... vii
ÍNDICE DE TABELAS ................................................................................................... viii
1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA .......................................................................... 10
2 OBJETIVOS ............................................................................................................ 14
2.1 GERAL: .................................................................................................................... 14
2.2 ESPECÍFICOS: ........................................................................................................ 14
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................ 15
3.1 MORBIDADE E MORTALIDADE RELACIONADA A MEDICAMENTOS .................. 15
3.2 SERVIÇOS CLÍNICOS FARMACÊUTICOS ............................................................. 17
3.3 CONCILIAÇÃO DE MEDICAMENTOS .................................................................... 19
3.4 IMPACTO FARMACOECONÔNICO DA CONCILIAÇÃO MEDICAMENTOSA ........ 22
4 METODOLOGIA ...................................................................................................... 26
4.1 Desenho e Local de estudo ..................................................................................... 26
4.2 População do estudo e amostra .............................................................................. 26
4.3 Caracterização do serviço de conciliação ................................................................ 27
4.4 Coleta de dados ....................................................................................................... 29
4.5 Metodologia de custeio ............................................................................................ 30
4.6 Fonte de dados para estimativa de custos de doença ............................................. 30
4.8 Análise dos dados ................................................................................................... 31
4.9 Aspectos éticos ........................................................................................................ 32
5 RESULTADOS ......................................................................................................... 32
6 DISCUSSÃO ........................................................................................................... 37
7 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 42
8 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 43
APÊNDICE I ................................................................................................................... 56
APÊNDICE II .................................................................................................................. 57
10
1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
A morbimortalidade relacionada aos medicamentos tornou-se um importante
problema de saúde, sendo responsável pelo aumento no número de internações
hospitalares (Reis, 2003; Souza et al., 2014). De acordo com uma revisão realizada por
Souza e colaboradores (2014), têm-se demonstrado, no Brasil, uma alta frequência de
problemas de saúde decorrentes do uso de medicamentos, sendo os mais comuns
relacionados à automedicação, cumprimento inadequado do tratamento, reações
adversas, intoxicações por medicamentos, interações medicamentosas, falhas
terapêuticas e erros de medicação.
De acordo com uma revisão sistemática realizada por Lombardi (2016), a
utilização inadequada dos medicamentos pode resultar em problemas relacionados à
farmacoterapia, tais como inefetividade terapêutica, baixa adesão ao tratamento, alta
incidência de eventos adversos e ainda, a necessidade de novos tratamentos,
caracterizando uma cascata de prescrição ou necessidade de hospitalização, afetando
diretamente a segurança do paciente, e com consequente aumento de custos para os
serviços de saúde. Dessa forma, as questões de segurança do paciente no uso de
medicamentos têm assumido destaque expressivo nas ações de melhoria da qualidade
dos serviços de saúde em vários países, com objetivo de alcançar resultados terapêuticos
positivos e a melhora da qualidade de vida dos pacientes (Alves, et al., 2012; Lieber e
Ribeiro, 2012).
No contexto hospitalar, os erros de medicação são considerados os principais
motivos de dano a pacientes, e podem ocorrer em qualquer nível de cuidado, desde a
prescrição até a administração do medicamento (Lombardi et al., 2016). Mais de 50%
dos erros de medicação ocorrem quando os pacientes recebem alta ou são transferidos
entre unidades, mostrando que os pontos de transição são vulneráveis para a ocorrência
de erros, colocando em risco a integridade física do paciente e a qualidade dos serviços
prestados (Lombardi et al., 2016; Melo e Caveião, 2016). Com base nisso, identifica-se a
necessidade da obtenção de forma acurada e confiável do histórico dos medicamentos
utilizados pelo paciente desde a admissão hospitalar, transição de níveis de atenção, até
a alta, por meio da prática da conciliação de medicamentos (Velho, 2011).
11
De acordo com o Conselho Federal de Farmácia (2016), a conciliação de
medicamento é conceituada como:
“serviço pelo qual o farmacêutico elabora uma lista precisa de todos os
medicamentos (nome ou formulação, concentração/dinamização, forma
farmacêutica, dose, via de administração e frequência de uso, duração do
tratamento) utilizados pelo paciente, conciliando as informações do prontuário,
da prescrição, do paciente, de cuidadores, entre outras. Este serviço é
geralmente prestado quando o paciente transita pelos diferentes níveis de
atenção ou por distintos serviços de saúde, com o objetivo de diminuir as
discrepâncias não intencionais.”
A conciliação de medicamentos é um serviço de fundamental importância no
âmbito hospitalar, tendo como objetivo prevenir erros de medicação resultantes de
discrepâncias da prescrição, como duplicidades ou omissões de medicamentos,
principalmente quando o paciente transita pelos diferentes níveis de atenção ou por
distintos serviços de saúde, dessa forma evitando danos desnecessários e garantindo a
segurança do paciente. (Lombardi et. al., 2016; Conselho Federal de Farmácia, 2016).
Ademais, a ausência dessa prática ou a obtenção errônea das informações sobre o uso
dos medicamentos pode resultar em falhas na detecção de problemas relacionados a
farmacoterapia, na interrupção da farmacoterapia ou na continuação de uma terapia
inapropriada, contribuindo para o aumento da incidência de erros de medicação em
hospitais (Silvestre, 2014; Mendes, 2016).
O desenvolvimento da conciliação de medicamentos ocorre, na prática, através da
realização de três etapas: 1) a elaboração de uma relação completa e acurada dos
medicamentos usados antes da admissão, transferência ou alta hospitalar; 2) a
conferência da relação antes de cada prescrição; 3) a contínua comparação da lista de
medicamentos com todas as prescrições destinadas ao paciente em cada nível de
atenção à saúde, incluindo aquelas escritas após transferências ou alta. A identificação
de quaisquer discrepâncias precede a comunicação do achado ao prescritor
(MASSACHUSETS, 2005; Institute for Healtcare Improvent (IHI), 2007).
De acordo com uma revisão realizada por Silvestre (2014), a acurácia da história
do uso de medicamentos é considerada a pedra fundamental da conciliação da
farmacoterapia. Uma revisão sistemática mostra que é essencial a inclusão da história
inicial do uso de medicamentos de forma segura e eficaz para que o serviço de
12
conciliação de medicamentos seja bem sucedido (Mueller et al., 2012). Com base nisso,
a realização de investigações sobre o processo de obtenção do histórico inicial do uso
de medicamentos pelo paciente é de fundamental importância (Silvestre, 2014).
A atuação do farmacêutico na prestação do serviço de conciliação de
medicamentos desempenha papel fundamental na segurança do paciente, reduzindo
riscos e danos associados a farmacoterapia, além de contribuir para a redução dos custos
para o hospital e paciente (Reis, 2007; Mendes, 2016). De acordo com Schuindt (2015),
uma revisão bibliográfica demonstrou que as intervenções farmacêuticas clínicas no
âmbito hospitalar podem contribuir para a diminuição de custos com medicamentos,
tempo de internação, custos com novas consultas médicas, reações adversas, além de
melhorar e aumentar a qualidade e expectativa de vida dos pacientes.
Um estudo recente realizado por Najafzadeh e colaboradores (2016) estimou
que, com a realização de cuidados habituais, o custo total esperado decorrente de
eventos adversos evitáveis seria US$ 472 por paciente. Baseado no pressuposto de que
a conciliação de medicamentos poderia reduzir as discrepâncias de medicamentos em
52%, o custo de eventos adversos evitáveis poderia ser reduzido para US$ 266,
resultando em um benefício líquido de US$ 206 por paciente, após contabilizar os custos
de intervenção.
De acordo com um estudo realizado por KARAPINAR-ÇARKIT et al., (2012) com
262 (duzentos e sessenta e dois) pacientes, demonstrou-se que, com a correção de
alterações no formulário do paciente, foi economizado € 1,63/paciente (taxa de câmbio:
1 EUR = USD 1.3443) nos custos com medicamentos no primeiro mês após a alta e €
9,79 aos 6 meses. Nesse mesmo estudo, com a otimização da farmacoterapia foi
economizado € 20,13/paciente em custos de medicação no primeiro mês e € 86,86 aos
6 meses. Os custos associados à conciliação de medicamentos foram de
€41,04/paciente. Quando comparado os gastos com a realização da conciliação e a
economia gerada pelas intervenções, identifica-se o valor economizado pela correção
das mudanças induzidas pelo formulário hospitalar e otimização da farmacoterapia (€
96,65/paciente) superaram os custos trabalhistas na extrapolação de 6 meses em €
55,62/paciente.
13
Diante do exposto, é necessária uma reorientação da prática farmacêutica
voltada à otimização da utilização dos medicamentos e prevenção de erros de medicação
através da conciliação de medicamento, resultando em benefícios mais elevados do que
os custos relacionados ao investimento atribuído a realização do serviço (KARAPINAR-
ÇARKIT et al., 2012). Além disso, a conciliação de medicamentos, quando realizada na
alta hospitalar, pode trazer economia, se comparado com os cuidados habituais
(NAJAFZADEH et al., 2016).
Os serviços clínicos farmacêuticos aliados à farmacoeconomia podem ser
ferramentas de grande utilidade para melhorar os resultados terapêuticos e diminuir o
impacto com os gastos da saúde, visto que que os gastos com saúde têm aumentando
progressivamente (MARTINS et al., 2009; TREMAN et. al, 2001). Desta forma, identifica-
se a necessidade em realizar avaliações econômicas em saúde com foco no impacto
econômico das intervenções farmacêuticas para os serviços públicos e privados, a fim
de otimizar a utilização dos recursos financeiros, sem prejudicar à qualidade das ações
em saúde (CHAVES, 2009; TREMAN et. al, 2001). Além disso, as avaliações econômicas
em saúde se apresentam como um instrumento relevante no processo de tomada de
decisão que visam à otimização de recursos no sistema de saúde (FARIA et al., 2005;
TREMAN et. al, 2001).
14
2 OBJETIVOS
2.1 GERAL:
Estimar o impacto econômico da conciliação de medicamentos omissos em uma
unidade de internação de um hospital de ensino relacionado ao custo da
farmacoterapia utilizada durante a internação.
2.2 ESPECÍFICOS:
Mensurar os custos da conciliação dos medicamentos omissos contidos na lista
de padronização do hospital;
Mensurar os custos da conciliação dos medicamentos omissos não contidos na
listra de padronização do hospital;
15
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 MORBIDADE E MORTALIDADE RELACIONADA A MEDICAMENTOS
Os medicamentos têm papel relevante na prevenção, manutenção e recuperação
da saúde e contribuem para a melhora da qualidade e da expectativa de vida da
população (AIZENSTEIN, 2011). Segundo Netto et al. (2005), o modelo médico-
assistencial considera o tratamento farmacológico como a principal alternativa para o
tratamento de doenças. Nas últimas décadas, tem-se observado um aumento
significativo no consumo de medicamentos pela população. Isso se dá, principalmente
devido a facilidade no acesso aos medicamentos (ALMEIDA et al., 2013). De acordo com
Melo e colaboradores (2016), assuntos que envolvem a utilização de medicamentos de
modo adequado vêm sendo cada vem mais discutidos, visto que o aumento dos níveis
de morbimortalidade associado ao uso de medicamentos pode ser decorrente do acesso
irracional e em alguns casos limitado da população (NETTO et al., 2015).
Segundo o Ministério da Saúde (2012), no Brasil, o uso incorreto de medicamentos pode
ser decorrente de diversas situações, como polifarmácia, uso indiscriminado de antibióticos,
prescrição não orientada por diretrizes, automedicação inapropriada. Uma revisão sistemática de
estudos observacionais realizada por Souza et al. (2014), demonstrou uma elevada recorrência
de problemas de saúde decorrente da utilização de medicamentos, sendo relacionados à
automedicação, cumprimento inadequado do tratamento, reações adversas, intoxicação
medicamentosa, interações medicamentosas, falhas terapêuticas e erros de medicação.
No Brasil, não há dados ou estudos que demonstrem casos de morbimortalidade
relacionada a medicamentos. Além disso, não existem revisões sistemáticas avaliando a
morbimortalidade relacionada a medicamentos que considerem todos os tipos de danos
causados por medicamentos. As revisões encontradas na literatura científica avaliam
apenas uma parcela do universo que compõe o tema em questão, e se restringem a
pontos específicos de atenção à saúde ou a grupos específicos de pacientes,
impossibilitando uma categorização global do impacto negativo dos medicamentos na
população brasileira (SOUZA et al., 2014). Os dados disponíveis se limitam a informações
sobre intoxicação medicamentosa (SINITOX, 2014)
16
De acordo com os dados disponibilizados pelo Sistema Nacional de Informações
Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), os medicamentos ocupam a primeira posição entre
os três principais agentes causadores de intoxicações em seres humanos desde 1996.
Em 1999 foram responsáveis por 28,3% dos casos registrados e em 2014, foram
registrados 82.745 notificações relacionadas a medicamentos, sendo 32.742 notificadas
como intoxicação por medicamentos e 38.730 como evento adverso (SINITOX;
NOTIVISA, 2014).
Segundo REIS (2007), estes dados mostram que as ações realizadas até hoje em
termos de prevenção e promoção do uso racional de medicamentos ainda não são
suficientes e isso reflete em um problema que afeta diretamente os sistemas de saúde.
Estudos vêm sendo realizados no Brasil, em grupos de populações variadas, com intuito
de demonstrar a prevalência desses problemas (SANTOS; COELHO, 2004; 2006;
ROZENFELD, 2007; ROZENFELD et al., 2009).
O aumento da incidência de morbimortalidade relacionada aos medicamentos
pode ser prevenida ou amenizada por uma reestruturação da forma como os serviços de
saúde gerenciam os medicamentos (SOUZA et al., 2014). É necessário, por parte da
assistência farmacêutica e toda equipe de saúde, uma nova perspectiva direcionada para
a gestão clínica da farmacoterapia e dos resultados farmacoterapêuticos, para que se
obtenha um processo efetivo no uso racional dos medicamentos (SOUZA et al., 2014;
ARAÚJO; COSTA, 2017).
Ademais, é necessário a realização de intervenções farmacêuticas que visem a
utilização de forma correta e racional dos medicamentos, buscando otimizar o
atendimento e promovendo, assim, uma consequente redução dos gastos com saúde e
uma menor incidência de morbimortalidade relacionada aos medicamentos (SILVA;
FREITAS, 2008). Além disso, redução da morbimortalidade relacionada a medicamentos
tem um impacto positivo na qualidade de vida do paciente, na segurança do sistema de
saúde e na eficiência no uso dos recursos (REIS, 2007; SILVA; FREITAS, 2008).
17
3.2 SERVIÇOS CLÍNICOS FARMACÊUTICOS
De acordo com Pereira e Freitas (2008), o exercício profissional do farmacêutico
hoje busca a concepção clínica de sua atividade, além da integração e colaboração com
os membros da equipe de saúde, cuidando diretamente do paciente. A justificativa social
dessa proposta pressupõe que o farmacêutico deve ser incorporado nas ações de saúde,
contribuindo para a redução de custos, pois é um profissional de nível superior com sólida
formação na área do medicamento e, muitas vezes, o único com quem o paciente tem
contato fora do serviço de saúde. A Atenção Farmacêutica baseia-se principalmente no
acompanhamento farmacoterapêutico dos pacientes, buscando a obtenção de resultados
terapêuticos desejados por meio da resolução dos problemas farmacoterapêuticos,
procurando-se definir uma atividade clínica para o farmacêutico, tendo o paciente como
ponto de partida para a solução dos seus problemas com os medicamentos (CIPOLLE,
STRAND, MORLEY, 2000).
A atuação do farmacêutico na prestação de serviços clínicos foi regulamentada
pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), no ano de 2009, através da resolução nº 44,
que trata das Boas Práticas de Farmácias e Drogarias. Com base na Resolução, entende-
se por serviço de atenção farmacêutica o acompanhamento e a avaliação da eficácia do
tratamento prescrito, a promoção do uso racional de medicamentos, a atenção
farmacêutica domiciliar, a aferição de parâmetros fisiológicos (ex. aferição de pressão e
temperatura), parâmetros bioquímico (teste de glicemia capilar) e administração de
medicamentos (nebulização, aplicação de injetáveis). Em Agosto de 2013, com intuito de
reafirmar e complementar a resolução anterior, o CFF disponibilizou a Resolução nº 585
de 29 de agosto de 2013, que regulamenta as atribuições clínicas do farmacêutico que,
por definição, constituem os direitos e responsabilidades desse profissional no que
concerne a sua área de atuação. As atribuições clínicas do farmacêutico visam
proporcionar cuidado ao paciente, família e comunidade, de forma a promover o uso
racional de medicamentos e otimizar a farmacoterapia, com o propósito de alcançar
resultados definidos que melhorem a qualidade de vida do paciente. A expansão das
atividades clínicas do farmacêutico ocorreu, em parte, como resposta ao fenômeno da
transição demográfica e epidemiológica observado na sociedade. A crescente
18
morbimortalidade relativa às doenças e agravos não transmissíveis e à farmacoterapia
repercutiu nos sistemas de saúde e exigiu um novo perfil do farmacêutico (CFF, 2013).
Nesse contexto, o farmacêutico contemporâneo atua no cuidado direto ao
paciente, promove o uso racional de medicamentos e de outras tecnologias em saúde,
redefinindo sua prática a partir das necessidades dos pacientes, família, cuidadores e
sociedade. Por fim, é preciso reconhecer que a prática clínica do farmacêutico em nosso
país avançou nas últimas décadas. Isso se deve ao esforço visionário daqueles que
criaram os primeiros serviços de Farmácia Clínica no Brasil, assim como às ações
lideradas por entidades profissionais, instituições acadêmicas, organismos internacionais
e iniciativas governamentais (CFF, 2013).
A atuação do farmacêutico junto aos pacientes e integrado à uma equipe
multiprofissional é uma opção mais avançada para o pleno exercício da profissão
farmacêutica e tem como objetivo aprimorar os conceitos de segurança e melhor
utilização da farmacoterapia. Os resultados positivos podem ser observados na
identificação e resolução de problemas relacionados à medicamentos que favorecem a
prática de uma terapia medicamentosa mais segura e racional e que melhorem a
qualidade de vida do paciente (STRAND et al., 1990). O farmacêutico clínico atua
diminuindo a alta incidência de erros de medicação, de reações adversas a
medicamentos, interações medicamentosas e incompatibilidades e a implantação de um
Serviço de Farmácia Clínica possibilita o aumento da segurança e da qualidade da
atenção ao paciente, redução de custos e aumento da eficiência hospitalar (STORPITIS,
2007).
Os diferentes serviços clínicos farmacêuticos, por exemplo, o acompanhamento
farmacoterapêutico, a conciliação de medicamentoa ou a revisão da farmacoterapia
caracterizam-se por um conjunto de atividades específicas de natureza técnica. A
realização dessas atividades encontra embasamento legal na definição de atribuições
clínicas do farmacêutico (CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA, 2013).
Diversos países como Canadá, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia, Espanha,
Portugal, Holanda, Suíça, Estados Unidos da América, entre outros, instigaram a
19
ampliação da atuação clínica do farmacêutico como estratégia para alcançar melhores
resultados terapêuticos e outras tecnologias em saúde, e obtiveram efeitos satisfatórios
(PEREIRA; FREITAS, 2008). Uma estimativa realizada por Patel e Zed (2002),
demonstrou que os problemas na farmacoterapia são responsáveis por cerca de 9% a
24% das internações hospitalares provenientes dos atendimentos de urgência. Eles
também afirmam ainda que cerca de 70% dos problemas na farmacoterapia podem ser
preveníveis com a atuação clínica do farmacêutico, como por exemplo pela conciliação
de medicamentos.
3.3 CONCILIAÇÃO DE MEDICAMENTOS
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a segurança do paciente
corresponde à redução ao mínimo aceitável do risco de dano desnecessário associado
ao cuidado da saúde (LOMBARDI et al., 2016). Os erros de medicação são considerados
os maiores motivos de dano a pacientes internados, e podem ocorrer em qualquer um
dos estágios envolvidos, desde a prescrição até a administração do medicamento
(LOMBARDI et al., 2016). Na admissão hospitalar, a falta de informações acuradas e
completas sobre quais medicamentos o paciente estava utilizando, devido à inadequada
coleta de dados da história de medicação, pode levar à interrupção ou inadequação da
terapia medicamentosa durante a hospitalização, resultando em falha terapêutica e
afetando a segurança do paciente (CORNISH et al., 2005; BEZERRA, 2015).
Cada vez que o paciente é deslocado de um ponto de atenção à saúde para outro
é essencial que as informações sobre seus medicamentos sejam transferidas ao mesmo
tempo, de forma acurada e confiável, por meio da conciliação de medicamentos. Diversas
definições já foram atribuídas a esse processo por diferentes autores, sendo uma delas
e a mais utilizada definida como “a comparação contínua dos medicamentos que o
paciente está usando (ou deveria estar usando) com as novas prescrições nas interfaces
de cuidado a fim de resolver discrepâncias e problemas potenciais” (Joint Commission,
2012).
20
Segundo a Sociedade Americana de Farmacêuticos dos Serviços de Saúde
(American Society of Health-System Pharmacists – ASHP) (2013), a conciliação de
medicamentos visa como objetivos adquirir e manter as informações a respeito da
farmacoterapia dos pacientes acurada e completas para que as mesmas possam ser
utilizadas dentro e através dos níveis de cuidado, fazendo com que os medicamentos
sejam utilizados de forma efetiva e segura.
De acordo com Frizon e colaboradores (2014), a conciliação de medicamentos é
descrita como um processo para obtenção de uma lista completa, precisa e atualizada
dos medicamentos que cada paciente utiliza em casa (incluindo nome, dosagem,
frequência e via de administração), e comparada com as prescrições médicas feitas na
admissão, transferência, consultas ambulatoriais com outros médicos e alta hospitalar.
Essa lista é usada para aperfeiçoar a utilização dos medicamentos em todos os pontos
de transição do paciente dentro do sistema de saúde e tem como principal objetivo,
diminuir a ocorrência de erros de medicação, quando o paciente muda de nível de
assistência à saúde.
A proposta da conciliação é evitar ou minimizar erros de transcrição, omissão,
duplicidade terapêutica e interações medicamentosas (LINDENMEYER et al., 2013). De
acordo com uma revisão bibliográfica realizada por Bezerra (2015), a conciliação de
medicamentos tem contratado ser uma importante estratégia para diminuir os erros de
medicação, riscos potenciais ao paciente, e custos no atendimento. Com isso, a
conciliação deve ser realizada sempre que novos medicamentos são prescritos, incluindo
mudanças de setor, serviço, médico ou nível de atendimento (ENDO e JACOBSEN,
2006).
Os pacientes ou responsáveis, têm um papel determinante nesse processo, pois
eles serão fundamentais na obtenção de informações para a elaboração da lista de
medicamentos utilizados, incluindo aquelas escritas após transferências ou alta
(BEZERRA, 2015). O paciente, família e/ou cuidadores devem ser informados sobre o
procedimento para que se obtenha uma autorização para que essa conferência seja
realizada. Apesar de o objetivo ser simples, os processos que contribuem para alcançá-
lo são consideravelmente complexos (MORIEL et al., 2008; BEZERRA, 2015).
21
Em 2014, o Conselho Federal de Farmácia realizou uma consulta pública, com a
finalidade de conformar o entendimento acerca do serviço de conciliação de
medicamentos no Brasil, obtendo a seguinte definição:
“Serviço realizado quando o paciente transita pelos diferentes níveis de atenção
ou por distintos serviços de saúde, com o objetivo de diminuir as discrepâncias
não intencionais. Para tanto elabora-se uma lista precisa de todos os
medicamentos (nome ou formulação, concentração/dinamização, forma
farmacêutica, dose, via e horários de administração, duração do tratamento),
utilizados pelo paciente, comparando as informações do prontuário, da
prescrição, do paciente, de cuidadores, entre outras fontes”.
Desde 2005, a Joint Commission for Accreditation of Healthcare Organization,
maior e mais competente órgão responsável pela acreditação em saúde nos Estados
Unidos, que atua em mais de 40 países e outras organizações que visam a segurança
dos pacientes dentro dos diversos serviços de saúde, incluiu a conciliação de
medicamentos como meta de segurança ao paciente (FRIZON et al., 2014; MENDES,
2016). Em 2006, o Institute of Medicine publicou o documento “Preventing Medication
Errors” reconhecendo que a conciliação de medicamentos é importante para a prevenção
de erros de medicação.
Em 2013, a ASHP lançou um documento intitulado “ASHP Statement on the
pharmacist’s role in medication reconciliation” que reforça que a conciliação de
medicamentos, quando comandada por farmacêuticos, é capaz de reduzir a frequência
e a gravidade dos erros de medicação, bem como os danos potenciais ao paciente.
Também de acordo com esse documento, o farmacêutico deve assumir a liderança na
conciliação de medicamentos, atuando como consultor e especialista em medicamentos,
provendo informações para educar pacientes e profissionais de saúde (MENDES, 2016).
De acordo com Bezerra (2015), vários estudos demonstram que a prática da
conciliação de medicamentos apresenta resultados concretos que contribuem na
prevenção de eventos adversos relacionados a medicamentos, fazendo com que o
processo seja eficiente também na diminuição das discrepâncias encontradas entre as
prescrições hospitalares e os medicamentos utilizados em ambiente domiciliar pelos
pacientes, promovendo desta forma uma redução de cerca de 70% dos erros com o uso
de medicamentos (KETCHUM et al., 2005; ASPDEN et al., 2007; UNROE et al., 2010).
22
Essas discrepâncias estão diretamente relacionadas ao aparecimento de eventos
adversos nos pacientes hospitalizados e/ou que receberam alta recente, sendo que mais
de 60% dos pacientes admitidos em hospitais terão pelo menos uma discrepância,
durante o processo de internação em relação ao seu histórico da farmacoterapia. Além
disso, estudos também mostram que a falta da prática de conciliação de medicamentos
representa 46% de todos os erros de medicação e até 20% de eventos adversos
encontrados no ambiente hospitalar, dessa forma, pode-se verificar que a conciliação tem
sido identificada como uma ferramenta importante para diminuir estas discrepâncias e,
consequentemente, os erros de medicação relacionados com as transições nos cuidados
de saúde (VELHO, 2011).
Instituições como o Institute for Healthcare Improvement (IHI), Joint Commission
for Accreditation of Healthcare Organizations (JCAHO) e OMS, consideram a conciliação
de medicamentos como objetivo prioritário dentro do processo de internação no âmbito
hospitalar, sendo uma prática de fundamental importância em todos os níveis de
transição. De acordo com Velho (2011) estima-se que 12% a 17% dos pacientes de um
hospital geral sofrem algum evento adverso que está relacionado ao uso de medicamento
após a alta, sendo esses, responsáveis por causar danos potenciais ao paciente. Além
disso, mais da metade destes são considerados evitáveis, 6% a 12% resultam em visitas
a emergência e 5% em readmissões.
Diante do exposto, identifica-se a necessidade em incentivar a realização de
intervenções farmacêuticas por meio da prática da conciliação de medicamentos, visto
que tem demonstrado grande impacto na prevenção de eventos adversos relacionados
aos medicamentos, reduzindo as discrepâncias não intencionais em mudanças de níveis
de atenção à saúde, de serviços ou profissionais da saúde, promovendo, assim, a
redução deste tipo de erro em cerca de 70% (PROFAR, 2014).
3.4 IMPACTO FARMACOECONÔNICO DA CONCILIAÇÃO DE MEDICAMENTOS
23
Os medicamentos têm contribuído expressivamente para o aumento da
longevidade ao longo do século XX, no entanto podem aumentar os custos de uma
intervenção terapêutica se for mal utilizado (LEITE et al., 2008). De acordo com Vieira e
Mendes (2007), no Brasil, assim como em outros países do mundo, a evolução dos
gastos com medicamentos é ascendente e preocupante para os cofres públicos,
comprometendo investimentos em outras áreas da saúde. Fatores como as
características da população, o sistema de saúde, a evolução técnico científica, a
indústria farmacêutica e o perfil de usuários e profissionais de saúde perfazem as
variáveis relacionadas a essa elevação (VIEIRA e MENDES, 2007).
Nos últimos anos, os governos de vários países vêm adotando algumas medidas
para conter os gastos com medicamentos, dentre elas está o fortalecimento da atenção
farmacêutica e a realização de estudos farmacoeconômicos (MOTA, 2003). Segundo
Jonhson E Bootman (1997) a atenção farmacêutica ambulatorial pode reduzir em
aproximadamente 60% a ocorrência de falhas terapêuticas e evitar 45,6 bilhões de
dólares com custos diretos de saúde. Diante do exposto, é necessária uma reorientação
da prática farmacêutica voltada à otimização da utilização dos medicamentos, uma vez
que os serviços clínicos farmacêuticos aliados à farmacoeconomia podem ser
ferramentas de grande utilidade para diminuir o impacto com os gastos da saúde e
melhorar os resultados terapêuticos (MOTA, 2003).
Os efeitos adversos dos medicamentos e as consequências de um tratamento
farmacológico inapropriado, são causas frequentes de morbimortalidade tanto em
pacientes hospitalizados quanto ambulatoriais, com grande impacto econômico e
problema na saúde pública. O desperdício de recursos associado aos Problemas
Relacionados a Medicamentos (PRM), juntamente com o aumento dos gastos com
medicamentos e pela necessidade da escolha do tratamento visando eficiência, eficácia
e efetividade, impulsionou o surgimento, no campo da economia da saúde, da
farmacoeconomia, uma disciplina aplicada ao estudo econômico dos medicamentos, que
visa melhorar a utilização de recursos (MOTA, 2003). Embora os PRM estejam
relacionados diretamente com a farmacoterapia, esses eventos também promovem
aumento de custo para o serviço público de saúde e sociedade (FONTELES et al., 2012).
24
De acordo com Miranda e colaboradores (2012), a intervenção farmacêutica pode
contribuir positivamente para redução dos Problemas Relacionados a Medicamentos
(PRM). Das intervenções realizadas durante o estudo, 35% eram relacionadas a dose,
como medicamentos prescritos sem dose, dose acima ou baixo da usual, apresentação
de dose errada ou indisponível do mercado. Esse valor demonstra o impacto significativo
na prevenção dos erros de medicação (FERRAZ, 2015).
Estudo realizado por Strand e colaboradores (2004), demonstrou que nos 25 anos
de experiência na prática da Atenção Farmacêutica, a atuação do farmacêutico junto a
equipes de saúde traz inúmeros benefícios, com impacto clínico e econômico, resolvendo
e prevenindo problemas farmacoterapêuticos. O mesmo estudo demonstra que os
médicos percebem a importância do trabalho dos profissionais na assistência
farmacêutica e os pacientes reconhecem os benefícios na sua saúde.
Os estudos farmacoeconômicos nos processos relacionados a medicamentos tem
ocupado lugar importante e considerados diferenciais. Dentro dos gastos com saúde, o
percentual de medicamentos representa uma fatia significativa. Para o Ministério da
Saúde, enquanto os gastos totais com saúde aumentaram em 9,6%, aqueles com
medicamentos tiveram incremento de 123,9% no período de 2002 a 2006. Situação
semelhante ocorre em outros países (VIEIRA, 2009; AREDA, 2011).
Nos Estados Unidos foram gastos 1.3 trilhões de dólares em saúde no ano de
2000, chegando a 2 trilhões no ano de 2006. Os gastos em saúde no Reino Unido
seguem o mesmo caminho percentual, só nos anos de 2001 e 2002 os gastos em saúde
representaram 17% dos gastos públicos e os gastos com medicamento na atenção
primária cresceram 10% entre os anos de 2001 e 2002. No Canadá, estimou-se
crescimento do gasto da ordem de 6% em 2006, chegando a US$ 25 bilhões, dos quais
US$ 21,1 bilhões eram em medicamentos sujeitos à prescrição médica (VIEIRA, 2009;
AREDA, 2011).
De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as
despesas do Ministério da Saúde com a compra de medicamentos cresceram 53% entre
2011 e 2014 e já consomem quase 14% do orçamento federal voltado para ações e
serviços públicos de saúde. O aumento equivale ao dobro da inflação acumulada no
período, que ficou em cerca de 27%. Dados do ministério mostram que, em 2011, o gasto
25
com a compra de remédios foi de R$ 8,4 bilhões, o equivalente a 11,6% do valor total
gasto pela pasta com ações de saúde naquele ano. Em 2014, as despesas passaram
para R$ 12,9 bilhões, que correspondem a 13,9% dos R$ 92,2 bilhões destinados para o
custeio de todo o Sistema Único de Saúde (SUS). A previsão para 2015 é que a compra
de remédios consuma R$ 14,3 bilhões do governo federal (CFF; CAMBRICOLI, 2015).
A situação no Brasil se define pelo distanciamento dos estudos
farmacoeconômicos que envolvam a utilização de medicamentos e a relação com as
intervenções farmacêuticas. Também são escassos os estudos relacionados ao impacto
farmacoeconômico decorrente da implantação do serviço de conciliação de
medicamentos, bem como dados econômicos que estimem financeiramente o impacto
das intervenções realizadas pelo farmacêutico no âmbito hospitalar (FERRAZ, 2015).
26
4 METODOLOGIA
4.1 Desenho e Local de estudo
Trata-se de um estudo de custo-análise referente a avaliação econômica da
conciliação de medicamentos em um hospital de ensino, realizado através de um estudo
observacional, descritivo e retrospectivo no período de setembro a novembro de 2017.
Este projeto é um desdobramento do trabalho de conclusão de residência da
pesquisadora Pimenta (2018), intitulado “Implantação da conciliação de medicamento em
um hospital de ensino”.
O estudo foi realizado no Hospital de ensino da Universidade Federal de Sergipe
(HUL), localizado no município de Lagarto. O Hospital é administrado pela Empresa
Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) e tem característica de porta aberta. É
composto pelos seguintes setores: Reidratação, Área Vermelha, Área Amarela, Clínica
Médica, Clínica Cirúrgica, Centro Cirúrgico, Pediatria e UTI. Realiza diferentes tipos de
exames, como: eletrocardiogramas, radiografias, ultrassonografias e exames
laboratoriais como: hemograma e bioquímicos. O hospital conta com 155 leitos,
entretanto, apenas cerca de 85 leitos estão ativos. Atualmente a Clínica Médica possui
30 leitos ativos e dois isolamentos. O hospital dispõe de equipe multiprofissional,
composta por médicos, psicólogos, nutricionistas, enfermeiros, fisioterapeutas,
assistentes sociais e residentes do programa de Residência Multiprofissional em Atenção
Hospitalar à Saúde (farmacêuticos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais,
fonoaudiólogos, fisioterapeutas e nutricionistas).
4.2 População do estudo e amostra
O estudo envolveu a análise de prontuários e fichas de conciliação de
medicamentos dos pacientes admitidos no setor da clínica médica, no período de 01 de
setembro a 30 de novembro de 2017.
27
Baseado no perfil da clínica, a amostra foi constituída por pacientes com idade
superior a 16 (dezesseis) anos, de ambos os sexos, e que foram entrevistados em até
48 horas após a admissão.
Os pacientes internados no isolamento respiratório da unidade foram excluídos do
estudo pelo fato de o serviço de conciliação de medicamentos não contemplar tais leitos.
A amostra final dos pacientes que participaram do serviço de conciliação foi definida por
conveniência.
Figura 1. Fluxograma do processo de inclusão no serviço de conciliação
FONTE: Elaborado pelo autor
4.3 Caracterização do serviço de conciliação
O serviço de conciliação de medicamentos começou a ser implantado no Hospital
Universitário de Lagarto (HUL) pelos farmacêuticos residentes do programa de
Residência Multiprofissional de Atenção Hospitalar à Saúde a partir de maio de 2016.
Na realização diagnóstico observacional realizado pelos residentes, foi possível
verificar diversas potencialidades apresentadas no setor da Clínica Médica, como a
Pacientes admitidos na
Clínica Médica (CM)
Idade > 16 anos
Admitidos em até
48 horas
Entrevista com o paciente e/ou
responsável
Amostra por conveniência
Serviço de
Conciliação de Medicamentos
28
presença de médicos diaristas, maior acessibilidade, tempo de internação maior que 5
dias e pacientes em sua maioria idosos.
Com base nessas potencialidades e devido a uma demanda apresentada pela
equipe, identificou-se a necessidade da realização de serviços clínicos farmacêuticos,
iniciando pela conciliação de medicamentos, com intuito de proporcionar a continuidade
de tratamentos domiciliares e prevenir eventos adversos.
A partir disso, foi definido o fluxo de atendimento do serviço clínico (Figura 2)
considerando etapas recomendadas pela literatura e adequadas a realidade do setor.
Com base no fluxo, identificou-se variáveis fundamentais no processo de cuidado
e na condução clínica no paciente, sendo consideradas: idade, sexo, comorbidades,
medicamentos utilizados, necessidade e aceitabilidade da realização das intervenções.
Figura 2. Fluxograma do Serviço de Conciliação de Medicamentos
FONTE: Pimenta, 2018.
Entrevistar o paciente e/ou acompanhante
Utilizava medicamentos anterior a internação?
NÃO
Evoluir em prontuário
SIM
Comparar lista com a prescrição
Necessita de
intervenção
Comunicar o prescritor
Anexar ficha de conciliação e evoluir em prontuário
Acompanhar aceitação
NÃO necessita de intervenção
Evoluir em Prontuário
29
Além disso, baseado na fundamentação teórica e posterior a definição das
variáveis, foi realizada adaptação dos instrumentos que seriam utilizados para a coleta
das informações. O processo de adaptação do formulário e fichas para a coleta de dados
foi baseado em formulários já existentes em hospitais de ensino do estado.
A adaptação do formulário de acompanhamento (Apêndice I) e da ficha de
conciliação de medicamentos (Apêndice II) serviu como base no processo de conciliação,
sendo fundamentais na coleta de forma acurada das informações, bem como para que
as mesmas fossem anexadas a evolução do prontuário, garantindo a documentação de
todas as intervenções realizadas.
4.4 Coleta de dados
Os dados foram obtidos das fichas de conciliação de medicamentos adaptadas e
compilados em tabelas no Microsoft Office Excel® versão 2017. Foram compilados os
seguintes dados:
Identificação do paciente;
Idade e peso;
Comorbidades;
Tempo de internação;
Medicamentos em uso (classe terapêutica, forma farmacêutica, dosagem,
concentração e período de administração);
Se o medicamento estava com o paciente;
Se a intervenção foi aceita ou não pelo(s) médico(s).
Foram utilizados os dados de todas as fichas de conciliação referente ao período
de 01 de setembro a 30 de novembro de 2017. Todos os dados foram tabelados
individualmente de forma que ficassem organizados para facilitar o cálculo e a análise
quantitativa de cada medicamento usado pelos pacientes.
Para a quantificação dos dados, foram fundamentais as seguintes informações:
data da abordagem/intervenção, iniciais do paciente, medicamento utilizado, dose/tempo
de uso, dias de internamento, se o medicamento estava sob posse do paciente, se o
30
medicamento era padronizado no hospital, preço individual do medicamento (em valor
monetário local) e se as intervenções foram aceitas.
4.5 Metodologia de custeio
A estimativa dos custos médicos diretos com medicamentos foi realizada de
acordo com a técnica micro-costing (DRUMMOND, 2015), que impõe de forma mais
detalhada e separada a mensuração e valoração de todos os medicamentos utilizados.
Os custos unitários diretamente associados aos pacientes foram computados através da
análise de prontuário.
4.6 Fonte de dados para estimativa de custos de doença
A fonte dos preços dos medicamentos foram os praticados pelos órgãos
nacionais e considerado o ICMS de 18%:
1) CMED - Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos – define o teto
de preço, nas diferentes alíquotas possíveis, pelo qual um laboratório ou
distribuidor de medicamentos pode comercializar seu produto e define também
o preço máximo que pode ser praticado no mercado varejista (ANVISA, 2011).
4.7 Cálculo dos custos com medicamentos
O valor dos custos unitários dos medicamentos foi atribuído com base na lista de
preços médio de medicamentos da CMED, referente ao mês de dezembro de 2017,
disponível no site da ANVISA, sendo considerado o valor do Preço Máximo de Venda ao
Governo (PMVG) com uma alíquota de ICSM 18% para o estado de Sergipe. Todos os
custos foram expressos em unidade monetária local reais (R$).
Os recursos e as quantidades usadas foram identificados e mensurados desde a
admissão até a alta hospitalar ou transferência da Clínica Médica para outro setor.
Apenas os medicamentos foram utilizados como componentes de custos médicos diretos
considerados na perspectiva do SUS.
31
Como existem vários laboratórios que produzem os mesmos medicamentos com
diferenças entre os preços, foram considerados os valores dos medicamentos
comercializados em embalagens hospitalares e com os menores valores vigentes, visto
que esse é um dos requisitos do processo de licitação para aquisição de medicamentos
no setor público.
Diante da impossibilidade de se ter os dados reais das posologias prescritas de
cada medicamento, visto que algumas das fichas de conciliação anexadas aos
prontuários foram perdidas durante o processo de arquivamento dos mesmo.
Sendo assim, foi calculado para cada medicamento conciliado o valor médio de
acordo com a sua apresentação (por exemplo, valor médio do comprimido, da gota, do
ml, do spray etc) (VALENTIM, 2009), tendo como referência para o cálculo a posologia
mínima usualmente recomendada.
Os preços dos medicamentos foram calculados através da fórmula (dose/kg X nº
de administrações ao dia X dias/duração do tratamento) X preço da dose, obtendo-se ao
final o valor total do custo dos medicamentos conciliados que o paciente utilizou durante
o período de internação (NUNES et al., 2014).
4.8 Análise dos dados
Os dados foram calculados e apresentados por meio de estatística descritiva, para
a metodologia de custeio, os custos médios dos medicamentos/tratamentos, o intervalo
de confiança de 95% (IC 95%) e o desvio padrão (DP) dos custos estimados.
Para o estudo econômico, consideraram-se três análises: 1) Valor total dos
medicamentos conciliados omissos; 2) Valor dos medicamentos conciliados omissos
contidos na listra de padronização do hospital e 3) Valor dos medicamentos conciliados
omissos não contidos na lista de padronização do hospital.
Os dados foram tabulados e as análises estatísticas foram realizadas com o auxílio
do software Microsoft Office Excel® versão 2017.
32
4.9 Aspectos éticos
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da
Universidade Federal de Sergipe, conforme nº 2489455 CAAE: 82361917.6.0000.5546
em 23 de janeiro de 2018.
Tal pesquisa atende todas as exigências éticas regulamentadas pela resolução
466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), atentando-se ao consentimento livre e
esclarecido dos indivíduos-alvo, comprometendo-se em maximizar benefícios,
assegurando os direitos e deveres que dizem respeito aos participantes da pesquisa.
5 RESULTADOS
O estudo foi realizado com 41 pacientes, entre o período de setembro e novembro
de 2017, os quais tiveram seus medicamentos conciliados. Dentre esses, 21 (51,22%)
eram do sexo feminino e 20 (48,78%) do sexo masculino, com faixa etária variando entre
26 anos e 95 anos (idade média 69,43±18,4 anos), tendo predominado a faixa etária
acima dos 60 anos (78%) (Tabela 1), admitidos por diversas condições clínicas.
Tabela 1. Distribuição dos pacientes incluídos no serviço conciliação de medicamentos por faixa
etária e sexo. Setembro a novembro de 2017.
Características dos pacientes N %
Gênero
Masculino 20 51,22
Feminino 21 48,78
Faixa etária (anos)
< 60 anos 7 17,1
> 60 anos 32 78
Sem idade registrada 2 4,9
TOTAL 41 100
FONTE: Elaborado pelo autor (dados da pesquisa)
33
O tempo de internação dos pacientes no setor variou de 3 a 121 dias (média de
17,02±5,25), apresentando um predomínio menor que 30 (85%) dias de internação
(Tabela 2). Os 41 pacientes utilizaram no total 179 medicamentos (101 fármacos
distintos), correspondendo a uma média de 4,39±1,35 medicamentos/paciente, durante
o período de internamento. O número de medicamentos utilizados variou de 1 a 13
medicamentos/paciente. Dentre os medicamentos conciliados, foram identificados
medicamentos padronizados e não padronizados no hospital, sendo 49 (48,5%)
padronizados e 52 (51.5%) não padronizados. Desses 49 medicamentos padronizados,
15 (30,6%) haviam diferenças quanto à forma farmacêutica entre o medicamento utilizado
anteriormente pelo paciente e o padronizado no hospital, havendo então a necessidade
de mudança da forma farmacêutica e/ou ajuste da concentração do medicamento (por
ex. Paciente fazia o uso de ondansetrona 4mg “comprimido”, sendo que no hospital é
padronizado ondansetrona 2mg/ml 2ml “solução injetável”).
Tabela 2: Tempo de internação dos pacientes incluídos do serviço de conciliação
Tempo internação (dias) N %
< 30 dias 35 85,4
30 – 60 dias 4 9,8
60 – 90 dias 1 2,4
> 90 dias 1 2,4
TOTAL 41 100
FONTE: Elaborado pelo autor (dados da pesquisa)
Foram classificados os medicamentos utilizados pelos pacientes antes da
internação de acordo com o sistema de classificação Anatômica Terapêutica Química
(Anatomical Therapeutic Chemical - ATC), identificando maior prevalência de pacientes
que utilizavam algum medicamento do grupo terapêutico dos medicamentos relacionados
ao Aparelho Cardiovascular 34 (82,92%), seguido dos relacionados ao Aparelho digestivo
e metabolismo 18 (43,90%), Sangue e órgãos hematopoiéticos 12 (29,27%) e Sistema
Nervoso 12 (29,27%), como mostra a Figura 3.
34
Figura 3. Perfil farmacoterapêutico dos pacientes atendidos pelo serviço de conciliação no
período de setembro a novembro de 2017.
FONTE: Adaptado de Pimenta, 2018.
No período estudado, foram realizadas 41 intervenções farmacêutica através da
conciliação dos medicamentos dos pacientes entrevistados. Em média 48 horas após a
realização das intervenções e documentação da prática anexada ao prontuário do
paciente, foi realizada uma análise da aceitabilidade das intervenções sugeridas a equipe
médica. Dentre as 41 intervenções realizadas, 7 (17,07%) foram aceitas, 5 (12,20%)
parcialmente aceitas e 29 (70,73%) não foram aceitas pelos médicos (Figura 4). Além
disso, foi observado nas intervenções realizadas que de todos os pacientes (n=41), 28
(68,30%) estavam sob posse dos medicamentos utilizados antes da admissão/internação
na clínica médica, facilitando assim o processo de conciliação.
82,92%
43,90%
29,27% 29,27%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
AparelhoCardiovascular
Aparelho digestivo emetabolismo
Sangue e órgãoshematopoiéticos
Sistema Nervoso
Classes Terapêuticas Prevalentes
n=
34
n=
18
n=
12
n
=1
2
Núm
ero
de
med
icam
ento
s (%
)
Classificação dos grupos terapêuticos ATC
35
Figura 4. Categorização da aceitação pela equipe médica das intervenções farmacêuticas
realizadas pelo serviço de conciliação de medicamentos.
FONTE: Adaptado de Pimenta, 2018.
Todos os medicamentos conciliados com discrepância do tipo omissão foram
calculados levando em consideração a posologia mínima recomendada e o tempo de
tratamento, ou seja, o período que o paciente ficou internado no setor da clínica médica.
O custo total de todos os medicamentos conciliados dos 41 pacientes foi de
R$ 3.181,43±44,8 (DP: R$ 146,24), correspondendo a uma média de R$ 77,60/paciente.
Esse valor do custo total inclui os medicamentos contidos na lista de padronização de
hospital, bem como os não padronizados. Para isso, foi necessário realizar duas
categorizações para os custeios dos medicamentos: 1) Medicamentos conciliados
padronizados no hospital e 2) Medicamentos conciliados não padronizados no hospital.
Dentre os 179 medicamentos conciliados dos 41 pacientes, os quais correspondem a 101
princípios ativos distintos, 49 (48,5%) estavam contidos na lista de padronização do
hospital correspondendo a um valor total de R$ 1.256,60. Os medicamentos que não
Classificação das intervenções
17,07%
70,73%
12,20%
Aceitações das intervenções farmacêuticas realizadas pelo serviço de conciliação
SIM (n=7) NÃO (n=29) PARCIALMENTE (n=5)
36
estavam contidos na lista de padronização corresponderam ao valor total de R$ 1.924,83
(Tabela 3).
Tabela 3. Categorização dos custos dos medicamentos conciliados com discrepância do tipo
omissão
Medicamentos conciliados N (%) Custo total (R$)
Medicamentos conciliados padronizados no
hospital
49 (48,5) 1.256,60
Medicamentos conciliados não padronizados
no hospital
52 (51,5) 1.924,83
TOTAL 101* (100) 3.181,43
FONTE: Elaborado pelo autor (dados da pesquisa)
*N=101 medicamentos (substâncias) distintas
37
6 DISCUSSÃO
Os estudos farmacoeconômicos representam um vantajoso instrumento de apoio
para tomada de decisões nos serviços de saúde, podendo auxiliar no direcionamento de
investimentos e na utilização cautelosa de recursos financeiros, sem prejuízos à
qualidade dos serviços oferecidos (CHAVES, 2009; SECOLI, et al., 2005). A necessidade
de demonstrar o valor financeiro de novas tecnologias em saúde particularmente os
medicamentos, tem sido fortemente estabelecido na última década (TRUEMAN et. al,
2001), visto que os gastos com saúde vêm aumentando cada vez mais, tornando um
motivo de preocupação para governos e sociedade.
De acordo com uma revisão bibliográfica realizada por Faria e colaboradores
(2014), os recursos gastos com medicamentos, no Brasil, no período de 2003 a 2009,
avançaram de R$ 1,69 bilhões para R$ 3,45 bilhões, tendo gerado um aumento superior
a 100% de recursos investidos. Com base nisso, a farmacoeconomia se preocupa em
otimizar a utilização dos recursos financeiros e surge como um dos suportes para garantir
melhor aplicabilidade dos recursos em saúde a serem utilizados tanto no setor público,
quanto no privado (FARIA et al., 2014; SECOLI, et. al 2005; TRUEMAN et. al, 2001).
O presente estudo avaliou os custos diretos com medicamentos utilizados pelos
pacientes inclusos no serviço de conciliação de medicamentos implantado em um
Hospital de ensino (HUL) no estado de Sergipe, sob responsabilidade dos farmacêuticos
residentes do programa de Residência Multiprofissional em Atenção à Saúde Hospitalar.
O número de participantes incluídos no estudo (n= 41), comparado ao número de
admissões (n=251) na clínica médica, mostrou-se bastante relevante pelo fato de ser um
serviço pioneiro e recém implantado no hospital, não havendo diferenças significativas
comparado com outros estudos (LOMBARBI et al., 2016; SILVESTRE, 2013). Além disso,
inicialmente, o fluxo do serviço foi bastante restrito, visto que os farmacêuticos residentes
responsáveis pela conciliação não estavam destinados exclusivamente a realização
dessa prática, havendo outras atividades pertinentes ao programa da residência. O
serviço de conciliação era realizado apenas dois dias na semana, o que acabou
influenciando diretamente no quantitativo de pacientes atendidos. Estudos mostram que
a quantidade e comprometimento dos farmacêuticos envolvidos no processo pode
38
influenciar diretamente no número de atendimentos realizados, bem como na qualidade
do serviço oferecido (MENDES, 2016; SILVESTRE, 2014).
A distribuição dos pacientes incluídos no estudo não apresentou diferença
significativa relacionada ao sexo. Com relação a faixa etária e, baseado no perfil da
clínica, houve uma prevalência de pacientes idosos com idade superior a 60 anos (78%).
Essa característica contribuiu para a realização do serviço, visto que, de acordo com um
estudo realizada por Silvestre (2014), recomenda-se, inicialmente, a seleção de
pacientes idosos, pelo fato de serem considerados de alto risco para o aparecimento de
eventos adversos.
Houver variações entre os tempos de internação de cada paciente, podendo ser
justificado pelo fato de se tratar de condições clínicas e problemas de saúde distintos.
Porém, não foi realizada nenhuma correlação entre idade e tempo de internação, bem
como categorização relacionando o tempo de internação e a comorbidade e/ou problema
de saúde, mesmo sabendo que o tempo de internação pode ser influenciado por variáveis
decorrentes da situação clínica do paciente.
A variação do tempo de internação de 3 a 121 dias (média de 17±5,25) mostrou-
se semelhante a outros estudos realizados em clínicas médicas de hospitais públicos de
média e alta complexidade e hospitais de ensino (RUFINO et al., 2012; SILVA et al.,
2014). Estudos também demonstram que o tempo de internação acaba influenciando
diretamente nos custos dos tratamentos em hospitalizações em geral (ARAUJO NUNES,
2017; TAN et al., 2009), bem como a elevada rotatividade de pacientes e internações de
curta duração, características essas identificadas no setor da clínica médica.
A quantidade de medicamentos utilizados por paciente durante o período de
internação também influenciou diretamente na estimativa dos custos totais, visto que o
número de medicamentos utilizados variou de 1 a 13 medicamentos/paciente. Além
disso, baseado na população do estudo (idade > 60 anos), a literatura mostra que
pacientes idosos usam, em média, de dois a cinco medicamentos, em sua maioria
acometidos pela polifarmácia (QUINALHA & CORRER, 2010; DE SOUSA-MUÑOZ et al.,
2012). A média de medicamentos conciliados com discrepâncias do tipo omissão
(medicamentos em uso antes da admissão) por paciente (n=179; média: 4,39±1,35) não
apresentou disparidade significativa comparado a outros estudos disponíveis na literatura
39
(CORRER et al., 2009; MENDES, 2016; SILVESTRE, 2014), podendo ter aumentado no
momento da admissão com a prescrição de novos medicamentos.
Os grupos terapêuticos dos medicamentos que foram conciliados, de acordo com
a classificação da ATC, demonstraram semelhança quando comparado com outros
estudos de conciliação (BEZERRA, 2015; LOMBARDI et al., 2016; MENDES, 2016;
SILVESTRE, 2014). De acordo com estudos envolvendo os gastos com a aquisição de
medicamento no setor público, duas das classes terapêuticas predominantes no presente
trabalho estão inclusas nos três principais grupos ATC responsáveis pelos maiores
custos, sendo responsáveis por uma importante parcela dos gastos com medicamentos,
com exceção dos anti-infecciosos que não foram inclusos na classificação dos
medicamentos conciliados.
A mensuração dos custos totais dos medicamentos conciliados com discrepância
do tipo omissão mostrou-se relevante, tendo em vista que os mesmos sofreram influência
de diversas variáveis como quantidade de pacientes atendidos, tempo de internação,
quantidade de medicamentos utilizados por paciente e as classes terapêuticas, havendo
uma correlação positiva entre os custos totais e as variáveis citadas. Diante do exposto,
identifica-se que os valores monetários obtidos neste estudo, apesar de não expressarem
de forma real uma economia gerada para o hospital, sugerem a conciliação de
medicamentos como uma ferramenta capaz de gerar benefícios econômicos, podendo
ser mais considerável quando todos esses custos são transpostos para setores mais
complexos, com situações que afetem diretamente algumas variáveis, como o uso de
medicamentos de um custo elevado, bem como quando analisado outros tipos de
discrepâncias além das omissões.
Devido à escassez de estudos e aplicações sobre esta temática da
farmacoeconomia relacionada a conciliação de medicamentos, acabou limitando uma
análise crítica e comparação acurada dos resultados com a literatura. Na literatura, há
uma predominância de estudos do tipo custo-efetividade, que avalia alternativas entre
fármacos ou classes de fármacos diferentes para uma mesma morbidade, e minimização
de custo, por se tratarem de estudos de fácil obtenção de dados na literatura e serem
mais simples (FARIA et al., 2009; TEIXEIRA, 2015).
40
Os estudos que envolvem a avaliação econômica de intervenções farmacêuticas
estão direcionados a avaliação de cunho financeiro dos resultados clínicos e econômicos
envolvendo os custos decorrente da implantação do serviço clínico farmacêutico
(CORRER et al., 2009; FARIA et al., 2014). De acordo com uma revisão sistemática
realizada por Teixeita (2015), há uma predominância de estudos de farmacoeconomia
realizados pela enfermagem (41,27%). O mesmo estudo revelou que as publicados
realizadas por farmacêuticos ainda representam uma pequena parcela (22,44%),
aproximando-se de publicações realizadas por médicos e outros profissionais
(TEIXEIRA, 2015).
Diferentemente do esperado e dos estudos disponíveis na literatura, que
obtiveram um alto grau de aceitação das intervenções farmacêuticas, supõe-se que o
pequeno número de intervenções aceitas no presente estudo pode ser decorrente de
falhas no processo de acompanhamento, por parte da equipe médica, das informações
evoluídas e documentadas. Bem como a incompatibilidade entre os horários de
atendimentos e um possível comprometimento no fluxo de comunicação entre os
profissionais, visto que alguns prescritores não estavam presente durante a rotina dos
residentes na realização da conciliação (MENDES 2016; LOMBARDI, 2016).
Diante do diagnóstico já realizado em outros estudos, essas ações colaborativas
devem ser suscitadas desde a graduação, com intuito de incentivar e demonstrar para os
diferentes profissionais a importância em trabalhar em equipe (CUNHA, 2016). Com esse
seguimento, uma revisão bibliográfica realizada por Cunha (2016) demonstrou que, em
diversos países, as instituições de ensino têm buscado aperfeiçoar os conhecimentos e
habilidades que médicos e farmacêuticos necessitam para atuar de forma concreta em
equipes multiprofissionais de cuidados à saúde.
Um estudo farmacoeconômico realizado por Franklin e colaboradores (2013)
mostrou que a colaboração entre o médico e farmacêutico foi capaz de reduzir os custo
com medicamentos, exames laboratoriais e correlatos em pacientes com diabetes tipo 2.
Além disso, foi observado melhora significativa nos níveis de hemoglobina glicosada e
pressão arterial dos pacientes, demonstrando que o trabalho colaborativo de ambos os
profissionais pode influenciar de forma significativa nos resultados clínicos do paciente,
bem como em uma redução de gastos em saúde (CUNHA, 2016).
41
O presente estudo possui potencialidades e limitações. Entre as potencialidades,
destaca-se o fato de ser um estudo inédito na área da farmacoeconomia envolvendo
análise de custos da conciliação de medicamentos.
Dentre as limitações deste estudo, ressalta-se a considerável dificuldade em obter
os dados relacionados a posologia dos medicamentos utilizados, visto que foram
utilizadas duas fichas para realizar a conciliação. Uma delas ficava com o farmacêutico e
outra era devidamente anexada ao prontuário do paciente (não havendo uma cópia da
mesma sob posse do farmacêutico). As informações referentes a posologia dos
medicamentos estavam registradas na ficha arquivada junto ao prontuário do paciente, o
que comprometeu o processo da coleta dessas informações pelo fato de algumas não
terem sido encontradas. Sendo assim, os dados relacionados a posologia dos
medicamentos foram subestimados com base na menor dose terapêutica indicada para
cada medicamento.
Outra limitação encontrada foi a resistência por parte da equipe médica na
aceitação das intervenções, podendo ser justificada pelo reflexo do desconhecimento da
ação do profissional farmacêutico nesse âmbito, bem como da importância da conciliação
para a segurança do paciente e o impacto econômico que essa prática pode gerar para
o hospital (SILVESTRE, 2014).
42
7 CONCLUSÃO
A abordagem econômica do estudo demonstra que a conciliação de medicamentos
está diretamente envolvida nos custos com medicamentos utilizados pelos pacientes.
Além disso, os aspectos econômicos da conciliação relacionados ao consumo de
medicamentos durante a internação representam uma parcela pequena dos benefícios
econômicos gerados por esse serviço. Os valores mesurados encontrados sinalizam que
os gastos com medicamentos são influenciados por diversas variáveis, reforçando a
importância da realização de novos estudos farmacoeconômicos que abordem a
conciliação de medicamentos em diferentes cenários no âmbito hospitalar, a fim de
demonstrar o valor financeiro de novas tecnologias em saúde.
Nesta perspectiva, para confirmar e complementar as hipóteses apresentadas
nesse trabalho, é fundamental a realização de estudos farmacoeconômicos completos,
que avaliem economicamente desde a implantação e desenvolvimento do serviço de
conciliação até os desfechos clínicos dos pacientes, possibilitando uma análise crítica
entre os resultados obtidos e os custos decorrente da implantação e do prosseguimento
desse serviço. Cabe ressaltar que o desenvolvimento de ações colaborativas entre os
profissionais da saúde podem ser determinantes na obtenção de resultados clínicos
relevantes.
43
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Federal de Juiz de Fora
56
APÊNDICE I – FORMULÁRIO DE ACOMPANHAMENTO DA CONCILIAÇÃO FARMACÊUTICA
FORMULÁRIO DE ACOMPANHAMENTO DA CONCILIAÇÃO FARMACÊUTICA
NOME: __________________________________________________________________________ IDADE: _________ GÊNERO: □ M □ F
REAÇÃO ADVERSA/ALERGIA A MEDICAMENTO ANTES DO INTERNAMENTO: □ NÃO □ SIM QUAIS: _____________________________ MOTIVO DA NTERNAÇÃO ________________________
COMORBIDADES _________________________________________________________ UTILIZAVA MEDICAMENTO ANTES DO INTERNAMENTO: □ NÃO □ SIM
Medicamento Dose Via
Medicamento presente na Prescrição Hospitalar?
Padronizado no
hospital Intervenção Farmacêutica
Aceita pela
Equipe
Médica?
□ SIM □ NÃO □ SIM □ NÃO □ SIM □ NÃO
□ SIM □ NÃO □ SIM □ NÃO □ SIM □ NÃO
□ SIM □ NÃO □ SIM □ NÃO □ SIM □ NÃO
□ SIM □ NÃO □ SIM □ NÃO □ SIM □ NÃO
□ SIM □ NÃO □ SIM □ NÃO □ SIM □ NÃO
□ SIM □ NÃO □ SIM □ NÃO □ SIM □ NÃO
□ SIM □ NÃO □ SIM □ NÃO □ SIM □ NÃO
□ SIM □ NÃO □ SIM □ NÃO □ SIM □ NÃO
SETOR:
LEITO:
57
APÊNDICE II – FICHA DE CONCILIAÇÃO FARMACÊUTICA
FICHA DE CONCILIAÇÃO/RECONCILIAÇÃO FARMACÊUTICA
NOME: _____________________________________________________________ IDADE: _________ DATA DE NASCIMENTO: ______/______/______PESO: ____________ GÊNERO: □ M □ F
REAÇÃO ADVERSA/ALERGIA A MEDICAMENTO ANTES DO INTERNAMENTO: □ NÃO □ SIM QUAIS:___________________________________________________________________
NÃO RECORDA DOS NOMES □ NÃO RECORDA DAS DOSES □ RESPONSÁVEL PELA INFORMAÇÃO: □ PACIENTE □ FAMÍLIA □ PRESCRIÇÃO □ MÉDICO □ FARMACÊUTICO □ PRONTUÁRIO □ OUTROS:
__________
Medicamentos* Dose Via Frequência Última
dose
Medicamento está
sob posse de:
Padronizado no
hospital
Duração do
tratamento
□ SIM □ NÃO
□ SIM □ NÃO
□ SIM □ NÃO
□ SIM □ NÃO
□ SIM □ NÃO
□ SIM □ NÃO
□ SIM □ NÃO
□ SIM □ NÃO
□ SIM □ NÃO
SETOR:
LEITO:
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