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02 a 05 setembro 2013
Faculdade de Letras UFRJRio de Janeiro - Brasil
SIMPÓSIO - Temas clássicos em fonologia e desenvolvimentos teóricos recentes
INDÍCE DE TRABALHOS(em ordem alfabética)
A produção e a percepção das vogais médias no norte de Minas: nível intradialetal, interdialetal e individual Patrícia Goulart Tondineli, João Flávio Rodrigues Dias Júnior e Kamila Karoline Silva Carvalho Página 05
Da ineficácia de restrições de natureza fonológica como única via para lidar com fenômenos de fala conectada Ricardo Araújo Ferreira Soares Página 09
Estrutura silábica em Chipaya Fernando Orphão de Carvalho Página 13
A formação de novas palavras com o acréscimo do sufixo eiro na escrita de crianças cursando o ensino fundamental Susie Enke Ilha (FURG) e Alexander Severo Córdoba Página 04
Alternâncias tonais e mudança de registro em Nzema e em outras línguas Níger-Congo Fernando Orphão de Carvalho Página 07
Página 11
De representações, superficializações e tratamento formal: uma reflexão a partir do ritmo em línguas tonais Marília Facó Soares
Página 15
Glide posterior de base /On/: análise de um dialeto do Português Brasileiro pela Teoria da Otimalidade Wellington Pedrosa Quintino
Página 17Interface fonologia/morfologia na atribuição do acento em português Carla de Aquino
Página 18
O contraste entre as fricativas coronais do português através da adaptação de empréstimos Gean Nunes Damulakis
Página 20O fenômeno de sândi no português de contato à luz do Serialismo Harmônico Kate Bárbara de Mendonça e Jaqueline dos Santos Peixoto
33
Página 22
O modelo do ranqueamento ordenado do avaliador e a abordagem unificada da hipocorização em português Hayla Thami da Silva e Carlos Alexandre Victório Gonçalves
Página 24
Os ditongos lexicais cíclicos e pós-cíclicos do português sob a perspectiva do Serialismo Harmônico Jaqueline dos Santos Peixoto
Página 26Um estudo preliminar sobre a ditongação nasal na fala carioca Caio Cesar Castro da Silva
4
Este estudo pretende investigar como se dá a formação de uma nova palavra por meio da afixação
do sufixo ‘-eiro’ na representação da escrita de crianças cursando o ensino fundamental. Os sujeitos
foram constituídos por crianças cursando o 4 º, 5º e 6º anos de duas escolas públicas do município do
Rio Grande/RS. O presente estudo surgiu a partir da observação e da descrição de dados considerando
palavras formadas por sufixo com os ditongos ‘-ejro’ e ‘-ejra’, constatou-se, então, que a monotongação
se dá com maior percentual na raiz do que no sufixo (ADAMOLI, 2006; CORDOBA, 2010). Os dados
foram coletados mediante instrumento contendo gravuras. Solicitava-se a escrita da formação de uma
nova palavra, representada pela gravura, por meio do acréscimo do sufixo ‘-eiro’. Para análise dos
dados, consideramos uma estrutura hierarquizada da sílaba do Português Brasileiro (BISOL, 1999)
e a Fonologia Lexical (KIPARSKY, 1985). Nas palavras pesquisadas, no processo de sufixação de –
eiro, deve ocorrer os seguintes processos com o acréscimo do sufixo -eiro: (1) a representação escrita
da consoante de ligação /l/ ou /k/; (2) a elisão da vogal –a, -o e (3) a crase da vogal –e. Constatamos
os processos fonológicos na formação de palavras contendo consoante de ligação: não-produção da
consoante de ligação; substituição de /l/ por [z]; substituição de /l/ por [λ]; substituição de /k/ por [l].
Observamos a ocorrência de monotongação do ditongo [ej] do sufixo -eiro. Os sujeitos apresentaram
facilidade na representação escrita da elisão das vogais –a e –o nas palavras formiga e mosquito, bem
como da crase de –e na palavra sorvete e dificuldade na representação escrita na afixação do sufixo –
eiro, quando requer a inserção de uma consoante de ligação. Consequentemente, as crianças, sujeitos
deste estudo, na modalidade escrita, criaram palavras inexistentes na língua portuguesa, assim como
fazem as crianças que se encontram em fase de aquisição da linguagem.
PALAVRAS-CHAVE: Fonologia; Morfologia; Interface teórica.
A FORMAÇÃO DE NOVAS PALAVRAS COM O ACRÉSCIMO DO SUFIXO ´EIRO´ NA ESCRITA DE CRIANÇAS CURSANDO O ENSINO FUNDAMENTAL
Susie Enke Ilha (FURG) e Alexander Severo Córdoba
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Este trabalho objetiva investigar o uso das vogais médias [e, o] no dialeto da cidade de Montes
Claros/MG e de suas cidades limítrofes, em nível interdialetal, intradialetal e intraindividual,
buscando responder perguntas como: (1) Será que em uma mesma região a produção das vogais
médias seria equivalente? (2) Além disso, a produção, em uma mesma comunidade, realizar-se-ia de
modo homogêneo ou, pelo menos, semelhante? (3) E ainda, se observarmos a variação no nível do
falante, seria esta percebida? E se assim o fosse, seria da mesma maneira? (4) Concluindo, o léxico
seria o ponto-chave para desvendar essas questões? A metodologia utilizada foi uma abordagem do
tipo Judment sampling. As gravações foram divididas em três momentos: (1) entrevista controlada;
(2) nomeação de figuras; (3) escolha/recusa das vogais médias em contextos específicos como, por
exemplo, s[i]rviço, s[e]rviço, s[]rviço, sendo que esta etapa ainda não foi iniciada. Os dados de fala e os
resultados do teste serão transcritos e analisados quantitativamente através do programa VARBRUL.
As entrevistas foram realizadas nas cidades de Janaúba, Bocaiúva, Montes Claros, Brasília de Minas
e Januária. Ainda serão realizadas nas cidades de Pirapora, Salinas e Grão-Mogol. As entrevistas das
cidades de Bocaiúva, Montes Claros, Brasília de Minas e Januária estão em fase de codificação dos
dados para análise. O que se verifica inicialmente é que, na região investigada, a produção das vogais
médias se difere em relação aos contextos linguísticos, principalmente no que se refere ao fenômeno
do rebaixamento. Por outro lado, a produção das vogais médias, em uma mesma comunidade, realiza-
se de modo bastante semelhante. Observarmos também que a variação em relação aos fenômenos de
manutenção, alçamento e rebaixamento das vogais médias, no nível individual, é quase inexistente.
Pelos resultados obtidos até o momento, verifica-se que este trabalho adéqua-se ao Simpósio Temas
clássicos em fonologia e desenvolvimentos teóricos recentes pelo fato de ser o comportamento das
vogais médias [e, o] quadro de grande diversidade e controvérsia – principalmente no que concerne às
teorias utilizadas para explicá-lo. Na região urbana de Montes Claros, por exemplo, foi verificado um
quadro complexo no que tange às vogais médias [e, o], sejam elas em posição pretônica ou postônica
medial, sendo o desta um pouco menos, tendo em vista que só foram encontradas ocorrências de
alçamento e de manutenção no que diz respeito às postônicas [e] (TONDINELLI, 2010). Tal quadro
comportamental gera grandes controvérsias, afinal, para Antenor Nascentes, em seu Bases para a
A PRODUÇÃO E A PERCEPÇÃO DAS VOGAIS MÉDIAS NO NORTE DE MINAS: NÍVEL INTRADIALETAL, INTERDIALETAL
Patrícia Goulart Tondineli, João Flávio Rodrigues Dias Júnior e Kamila Karoline Silva Carvalho
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elaboração de um Atlas linguístico do Brasil, Montes Claros encontra-se na zona do subfalar baiano,
o qual teria como uma de suas características a predominância das vogais pretônicas baixas. Assim
sendo, esta pesquisa, ao colocar em discussão três alternativas quanto à produção das vogais médias
– manutenção, alçamento e rebaixamento – em três níveis – individual, intradialetal e interdialetal-,
contribui significativamente para a compreensão do sistema fonológico do português brasileiro, assim
como enfraquece teorias as quais não dão conta de explicar este sistema complexo de produção das
vogais médias [e, o] na região em estudo.
7
O cerne da discussão neste trabalho consiste de uma avaliação crítica de uma intrincada análise,
publicada em Leben (1984), de padrões particulares de alternância tonal em nomes no Nzema, uma
língua do grande grupo Níger-Congo falada em Gana e na Costa do Marfim. Embora publicado em
um livro de grande circulação, o trabalho de Leben (1984) não sofreu avaliações posteriores nem
suscitou discussões, uma lacuna que pretendemos preencher aqui. Identificamos problemas na análise
de Leben (1984) no que diz respeito à formulação e aplicação de regras de Alçamento e Espraiamento
tonal, na formulação da operação do downstep tonal e investigamos em que medida a adoção do
Princípio do Contorno Obrigatório (OCP) como restrição sobre associações tonais - não adotado na
análise de Leben (1984) - têm consequências para a análise dos padrões do Nzema. Na medida em que
forem relevantes, padrões de alternância tonal encontrados em outras línguas Níger-Congo também
serão trazidos à tona.
Os tópicos tocados durante a discussão interagem com alguns dos grandes debates da teoria
fonológica nos últimos 20 anos como: o local, dentro de uma teoria autossegmental das representações
fonológicas, em que os traços tonais devem ser especificados; o papel da OCP como bloqueadora ou
engatilhadora de regras, além do nível (em modelos derivacionais) em que ela se aplica e a questão da
abstração tolerada em análises fonológicas. Com relação ao último ponto, Leben (1984) postula para
o Nzema uma regra de downstep tonal, seguindo a formulação influente de Clements & Ford (1979)
em que essa seria engatilhada pela ação de tom baixo L flutuante previamente desligado de sua TBU
(tone-bearing unit; unidade portadora de tom). No entanto, a formulação da regra de downstep tonal
nestes termos encontra dificuldades em línguas que, como o Nzema, não apresentam downdrift: isto
é, a propriedade de causar uma alteração do registro de realização tonal deve aplicar-se a tons baixos
flutuantes, mas não a tons baixos associados. Como observa Clark (1993) a imposição de tal distinção
na atividade fonológica de traços em função dos seus padrões de associação carece de motivação
dentro das concepções aceitas sobre representações fonológicas.
Clark, M. (1993) ‘Representation of Downstep in Dschang’. In: H. van der Hulst & K. Snider (eds.) The
Phonology of Tone: The Representation of Tonal Register. Mouton de Gruyter: 29-73.
Clements, G. N. & K. Ford (1979) ‘Kikuyu Tone Shift and its Synchronic Consequences’ Linguistic
Inquiry 10 (2): 179-210.
ALTERNÂNCIAS TONAIS E MUDANÇA DE REGISTRO EM NZEMA E EM OUTRAS LÍNGUAS NÍGER-CONGO
Fernando Orphão de Carvalho
8
Leben, W. (1984) ‘Tonal Alternations in Nzema’. In: M. Aronoff & R. Oehrle (eds.) Language Sound
Structure. MIT Press: 137-44.
9
A teoria linguística deve responder a dois imperativos principais: dar conta das semelhanças e das
diferenças entre as línguas naturais. Nesse sentido, a Teoria da Otimalidade propõe uma resolução
para a dualidade: o que une as línguas é exatamente o fato de que a substância sonora é regida por
restrições universais que podem, por sua vez, ser caracterizadas como tendências ideais, além de
propor um programa que explicita um modelo de análise gramatical em que a fonologia, a morfologia
e a sintaxe - integrantes do modelo - podem interagir mais diretamente.
Fenômenos de fala conectada - especial e especificamente em Língua Francesa - , encontram
implementação na interface sintaxe/fonologia, confirmando que a interrelação entre aspectos
linguísticos pertencentes a componentes diferentes da gramática pode ser mais facilmente obtida e
visualizada a partir de um modelo em que essa interrelação possa ser efetuada e representada de modo
mais direto. Por este motivo, restrições de natureza fonológica tais como propostas por TRANEL
(1990, 1994, 2000) mostram-se parciais para a correta descrição do fenômeno em foco.
Nesse sentido, propõe-se uma re-análise do fenômeno através da composição de restrições fonológicas
(TRANEL 1990, 1994, 2000) e sintáticas - tais como propostas por PESETSKY (1998) - , que, ao
tratar de alguns princípios da pronúncia da sentença, no quadro da Teoria da Otimalidade, lança mão
de determinadas restrições e as aplica ao francês. Ao lidar com a ideia central de que as gramáticas
particulares das línguas naturais são um sistema de forças (restrições) em conflito, a OT revela a força/o
peso das restrições que entram em conflito na gramática de línguas particulares, relacionando-se,
assim, com o objeto deste trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
McCARTHY, John & PRINCE, Alan. 1993 a . Generalized Alignement. University of Massachussets,
Amherst and Rutgers University, MS.
McCARTHY, John & PRINCE, Ala,. 1993 b. Prosodic Morphology : Constraint interaction and
satisfaction. University of Massachussets, Amherst and Rutgers University, MS.
PESETSKY, David. (1998) “Some Optimality Principles of Sentence Pronunciation”. In: BARBOSA,
P., FOX, D., HAGSTROM, P., McGINNINS, M & PESETSKY, D. Is the best good enough? Optimality
DA INEFICÁCIA DE RESTRIÇÕES DE NATUREZA FONOLÓGICA COMO ÚNICA VIA PARA LIDAR COM FENÔMENOS DE FALA CONECTADA
Ricardo Araújo Ferreira Soares
10
and competition in syntax. Cambridge, MA. MIT Press.
PRINCE, Alan & SMOLENSKY, Paul. 1993. Optimality Theory: Constraint Interaction in generative
grammar. University of Massachussets, Amherst and University of Colorado, Boulder, MS.
SOARES, Ricardo Araujo Ferreira. 2010. Do tratamento formal da fala conectada. Tese de Doutorado.
MS. Universidade Federal do Rio de Janeiro
_____________ 2005. Fala conectada e uma abordagem da interface sintaxe/fonologia no quadro
da Teoria da Otimalidade: o caso do Francês. Dissertação de Mestrado. MS. Universidade Federal
do Rio de Janeiro.
TRANEL, Bernard. 1990. “On suppletion and French liaison”. Probus 2: 169-208.
_________________. 1994. “French liaison and elision revisited: a unified account within
Optimality Theory. University of California, Irvine.
__________________. 2000 “Aspects de la phonologie du français et la théorie de l’optimalité”.
Langue Française, Volume 126, número 1. pp. 39-72
11
Situando-se em um quadro de análise formal e focalizando a questão da manifestação e do tratamento
do ritmo em línguas tonais, este trabalho busca lidar, de um lado, com a natureza das representações
fonológicas e, de outro lado, com a saída fonética. Como parte da discussão que este tipo de busca
suscita, estão três grandes eixos em torno dos quais estruturamos o nosso trabalho: (i) a determinação
de regularidades vinculadas a domínios e o modo como se dá a superficialização dos dados realmente
produzidos pelos falantes - o que nos leva diretamente ao debate derivações versus restrições; (ii)
os meios para a obtenção de mais de uma saída fonética possível para uma dada representação de
entrada correspondente ao fenômeno (ritmo) no conjunto das línguas focalizadas (línguas tonais)
– o que implica lidar com o tratamento formal da variação linguística; (iii) a avaliação da própria
hierarquização elaborada relativamente a um conjunto de restrições (no caso de modelos baseados em
restrições).
Com uma questão básica raramente focalizada no universo das línguas sob consideração, o presente
trabalho lança mão de dados primários e, ainda, de dados secundários em que o fenômeno do ritmo
pode ser capturado a partir de uma (re)análise da materialidade fonética tal como essa foi representada.
Com relação aos dados primários, esses dizem respeito à língua com que trabalhamos de longa data: o
Tikuna, língua usada por um amplo número de falantes em uma extensa área da Amazônia ocidental
que abrange três países: Brasil, Peru e Colômbia. Do lado brasileiro, há uma grande quantidade de
comunidades Tikuna (acima de cem), localizadas em diferentes áreas do estado do Amazonas.
Tendo por base nosso trabalho anterior sobre o ritmo (entre os quais, Soares 1991, 1992 e 1999),
trazemos à tona pontos relevantes para uma análise sob o ângulo formal. Assim, estarão em jogo
determinados parâmetros físicos, como volume (loudness), duração e altura (pitch), e o seu papel na
percepção que falantes nativos têm do contorno melódico de sua própria língua. Além disso, serão
exploradas as regras do ritmo e examinados os padrões rítmicos, com a finalidade, no contexto da
discussão que se quer travar, de contribuir para as teorias no campo da Linguística.
Palavras-chave: línguas tonais; ritmo; representações fonológicas; derivações; restrições.
Referências bibliográficas:
COETZEE, A.W. Variation as accessing “non-optimal” candidates – a ranking-ordering model of
DE REPRESENTAÇÕES, SUPERFICIALIZAÇÕES E TRATAMENTO FORMAL: UMA REFLEXÃO A PARTIR DO RITMO EM LÍNGUAS TONAIS
Marília Facó Soares
12
EVAL. University of Michigan, 2006.
COETZEE, A.W. What it means to be a loser: non-optimal candidates in Optimality Theory. University
of Massachusetts: PhD, 2004.
PRINCE, A. Implication and impossibility in grammatical systems. What is and how to find it. Rutgers
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SOARES, M. Facó. 1999. “A contribuição do Tikuna às regras do ritmo e à relação sintaxe-fonologia”.
In: SCARPA, Ester M. Estudos de prosódia no Brasil. Campinas: Editora da UNICAMP. ( p 189-252).
SOARES, M. Facó. 1992. O supra-segmental em Tikuna e a teoria fonológica. Volume I: Aspectos da
sintaxe Tikuna. Volume II: Ritmo. PhD dissertation, UNICAMP.
SOARES, M. Facó. 1991. “Aspectos suprassegmentais e discurso em Tikuna”. In: ORLANDI, E. (org.)
Discurso indígena. A materialidade da língua e o movimento da identidade. Campinas: Editora da
UNICAMP. 138p. (p. 45-138)
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Neste trabalho apresentamos uma avaliação crítica das propostas de Cerrón-Palomino (2006, 2009)
acerca das restrições atuantes e dos tipos permitidos nas estruturas silábicas do Chipaya, a última
língua ainda viva da família Uru-Chipaya, hoje falada por aproximadamente 1.800 pessoas no
Departamento de Oruro, Bolívia.
Embora o autor analise a língua como permitindo tanto Ataques quanto Codas complexas,
argumentamos que não há evidências para se assumir margens complexas no Chipaya, e que o
template silábico máximo da língua é CVC. As sequências pré- e pós-vocálicas analisadas pelo autor
como constituindo margens silábicas são em realidade clusters consonantais heterossilábicos, com
os segmentos mais externos sendo analisados como apêndices extra-silábicos sujeitos à condição de
Periferialidade usualmente observada sobre estes elementos. Algumas das restrições de co-ocorrência
sobre os segmentos que compõem esses clusters, descritas em Cerrón-Palomino (2006, 2009) são aqui
reformuladas. Em especial, mostra-se que os clusters iniciais estão sujeitos a uma restrição do tipo
OCP sobre ocorrências do traço [Coronal], uma restrição que não atua sobre os clusters finais.
Além dos padrões de distribuição que indicam o caráter ‘especial’ destes segmentos (Wiltshire 2003),
estas sequências consonantais apresentam violações regulares da Condição de Sequenciamento de
Sonoridade, um indicar usual de status extra-silábico (Rubach & Booij 1990; Vaux 2003; Vaux & Wolfe
2009). De fato, a classe de segmentos permitidos nestas posições extra-silábicas é co-extensiva à classe
de segmentos que também apresentam comportamento fonotatico excepcional em línguas como o
Finlandês, o Inglês e o Espanhol e assim como nessas línguas, tais segmentos operam como expoentes
morfológicos. Finalmente, assumindo que as representações fonológicas estejam estruturadas em
termos de relações de licenciamento prosódico (Goldsmith 1990; Itô & Mester 1993) uma análise
destas sequências segmentais como sendo parte de margens silábicas complexas demandaria uma
violação da generalização universal de que as Codas, e não os Ataques, funcionam como ‘licenciadores
secundários’ dentro da sílaba, usualmente submetidos à restrições de licenciamento mais estritas.
Cerrón-Palomino, R. (2006) El Chipaya o La Lengua de Los Hombres Del Agua. Fondo Editorial de La
Pontificia Universidad Católica Del Perú.
Cerrón-Palomino, R. (2009) “Chipaya”. In: Crevels, M. & P. Muysken (eds.) Lenguas de Bolivia. Tomo
I: Ámbito Andino. Plural Editores.
ESTRUTURA SILÁBICA EM CHIPAYA
Fernando Orphão de Carvalho
14
Goldsmith, J. (1990) Autosegmental and Metrical Phonology. Oxford: Blackwell Publ.
Itô, J. & A. Mester (1993) ‘Licensed Segments and Safe Paths’ Canadian Journal of Linguistics 38: 197-
213.
Rubach, J. & G. Booij (1990) ‘Syllable Structure Assignment in Polish’ Phonology 7: 121-58.
Vaux, B. (2003) ‘Syllabification in Armenian, Universal Grammar and the Lexicon’ Linguistic Inquiry
34 (1): 91-125.
Vaux, B. & M. Wolfe (2009) ‘The Appendix’. In: E. Raimy & C. Cairns (eds.) Contemporary Views on
Architecture and Representation in Phonology. MIT Press.
Wiltshire, C. (2003) ‘Beyond Codas: Word and Phrase-final Alignment’. In: C. Fery & R. van de Vijver
(eds.) The Syllable in Optimality Theory. Cambridge University Press.
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Almeida (1976) faz a diferença entre vogais nasais e nasalizadas em português. As vogais nasalizadas
ocorrem antes de uma consoante intervocálica /m,n,/, em posição de onset e ocorrem ligeiramente
nasalizadas no final. Vogais nasalizadas ocorrem também, parcialmente ou completamente nasalizadas,
depois de uma consoante nasal /m,n,/, sendo assim variantes contextuais das vogais orais.
As vogais nasais, por outro lado, são sempre seguidas (com exceção da final) por uma nasalidade
consonantal em posição de coda. As vogais nasais ou nasalizadas são sempre encontradas
imediatamente precedendo ou seguindo um segmento consonantal nasal, e isso pode ser interpretado
como um espraiamento do traço (+nas) para a vogal que o segue ou antecede. Este parece ser o caso nos
dados analisados por Cagliari (1998), com exceção da nasal em posição final de palavra, caso em que
a nasal é opcional foneticamente, mas a vogal ou ditongo precedente devem permanecer nasalizados.
Uma restrição geral de espalhamento da nasalidade (SPRED NASAL) que requeira nasalidade a ser
assimilada a qualquer segmento que a segue ou antecede pode ser hierarquizada de várias formas
com certas outras restrições de forma a permitir diferentes manifestações de assimilação na forma de
output, dependendo do dialeto que se descreve.
Alguns dialetos do português, por exemplo, o cacerense, omitem completamente a consoante nasal
em posição de coda. O núcleo da sílaba, nos dialetos descritos por Cagliari (1997), Sândalo (1999),
Bisol (1998), seguidos por um segmento nasal consonantal, são nasais em outros dialetos também. Na
variante cacerense a consoante nasal é reduzida ou omitida completamente: a vogal (glide) retêm a
nasalidade da consoante e a vogal núcleo /a/ sofre um alçamento, passando de /ã/, para /o/.
Do ponto de vista das teorias fonológicas mais recentes, por exemplo, a teoria da otimalidade, este
fato pode ser representado assumindo que NoCoda ranqueia todas as restrições de fidelidade para o
input da consoante nasal, com exceção da restrição de Fidelidade que se refere ao traço de nasalidade
sozinho. Esta restrição pode ser formulada como Faith[nasal]. NoCoda não afetaria segmentos nasais
iniciais ou inter-vocálicos, ambos os quais ocorrem em início de sílaba. Qualquer candidato com sílaba
que acabe em segmento nasal, viola NoCoda. Ao mesmo tempo, se um input tiver uma consoante
nasal no final de sílaba, qualquer candidato a output com sílaba que acabe em vogal não nasal, viola
Faith[nasal]. Uma restrição geral (Spred Nasal) que requeira nasalidade parcial a ser assimilada a
GLIDE POSTERIOR DE BASE /ON/: ANÁLISE DE UM DIALETO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO PELA TEORIA DA OTIMALIDADE
Wellington Pedrosa Quintino
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qualquer segmento que a segue ou antecede pode ser ranqueada de várias formas com certas outras
restrições de forma a permitir diferentes manifestações de assimilação na forma de output, dependendo
do dialeto que se descreve.
Com base em dados coletados a partir da variante do português falada na região de Cáceres-MT,
pretende-se desenvolver (descrever) nesse estudo, um processo de nasalização em português,
focalizando a formação de ditongos nasais em final de palavras, glide posterior de base /oN/: [õw]; [o;
*[õ]. A seguir proponho uma análise a partir da teoria da otimalidade (OT) para realização da forma
de base /oN/ como*[ãw] no dialeto cacerense.
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Desde os primórdios dos estudos em fonologia se estabeleceu como necessária a diferenciação
entre sílabas leves e pesadas. Línguas com sensibilidade quantitativa tratam essas duas estruturas
diferentemente com relação ao seu papel em processos como acentuação, tom, etc (GORDON,
2004). Nessas línguas, sílabas pesadas ou bimoraicas (HYMAN, [1985] 2003; HAYES, 1989) são
preferencialmente as portadoras de acento ou tom. Dentro desse panorama, este trabalho investiga o
processo de acentuação no português, tema clássico nos estudos em teoria fonológica, e busca descrever
o comportamento da sílaba CVC, única estrutura que pode se manifestar como pesada na língua, na
ausência de vogais longas. Nos estudos sobre o acento em português não há consenso sobre o papel do
peso na atribuição de acento (CAMARA JR., 2007 [1970]; BISOL, 1992, 1994; LEE, 1994; WETZELS,
1996, 2002, 2003, 2006; MAGALHÃES, 2004, 2010). A noção de peso contextualmente dependente
é necessária para dar conta do processo, uma vez que, neste trabalho, em conformidade com Bisol
(1992, 1994) e Magalhães (2004, 2010), trata-se o fator peso como relevante apenas na borda direita
da palavra. São objeto de estudo itens não derivados e derivados terminados por sílaba CVC cujos
elementos pós-vocálicos são as soantes [l,r,N], a obstruinte [S] e os glides [j,w], todos oriundos de um
banco de dados composto por 10.191 palavras terminadas em sílabas fechadas. Como a estrutura CVC
em posição final geralmente se manifesta como pesada na língua e recebe o acento principal, buscam-
se justificativas de origem morfológica para o comportamento das exceções. Defende-se, assim, que
a formação de pés é realizada com base nas moras e que a regra de acento em português é sensível
à estrutura morfológica dos termos, de modo a impedir a atribuição de peso ao elemento terminal
da sílaba. Como recurso para a análise da interface fonologia/morfologia em itens derivados e não
derivados, utilizamos a proposta de Pater (2000, 2004, 2007) de restrições indexadas, considerando
a alternância morfologicamente condicionada. Além disso, discute-se o comportamento dúbio do
segmento /S/ pós-vocálico, que ora parece ser leve e ora pesado, verificando os patamares de sonoridade
para segmentos móricos que podem estar atuando na língua (ZEC, 1998,1995, 2007). O uso da Teoria
da Otimidade, modelo voltado para o output, que não conta com o ordenamento de regras ou ciclos na
derivação, nos permite lidar com silabificação, atribuição de peso e acentuação paralelamente.
INTERFACE FONOLOGIA/MORFOLOGIA NA ATRIBUIÇÃO DO ACENTO EM PORTUGUÊS
Carla de Aquino
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O português apresenta vários exemplos de itens lexicais adaptados aos seus padrões silábicos. Nossa
preocupação, neste trabalho, é investigar as adaptações que envolvem as fricativas coronais em posições
ou sequências não admitidas na língua, verificando possíveis divergências entre essas adaptações
com as alveolares, de um lado, e com as palato-alveolares, de outro; e como essas adaptações podem
contribuir para a discussão teórica do contraste – e de sua neutralização – apresentado entre esses
segmentos no português.
A inserção é dos recursos mais utilizados como meio de reparação, mormente de vogal [-recuado]. A
vogal inserida torna-se núcleo de sílaba, desfazendo complexidade em onset de sequência de fricativa
coronal mais outro tipo de consoante. Mais frequentemente, a fricativa passa a ocupar o lugar de coda
na nova sílaba (ex.: escola < schola; espaço < spatium; estado < status; espada < spatha, entre outras),
como vemos em alguns dos vários empréstimos já dicionarizados na forma original juntamente com
a forma aportuguesada: ski (ao lado de ‘esqui’), skate (‘esqueite’) e sketch (‘esquete’); outros, mesmo
mantendo suas grafias originais, costumam se acomodar aos padrões fonotáticos da língua, recebendo
inserção da vogal alta na fala (ex.: [i]spa (ou, no dialeto carioca, entre outros, [i]pa; [i]spin; [i]staff; [i]
stand, entre outras).
Sobrenomes não vernáculos muito frequentemente respeitam essa regra: [i]Stálin, [i]Spencer, [i]Stern,
[i]Zveiter [i]Smith. Alguns, entretanto, têm oferecido outro padrão de inserção: Sch[i]midt [-], Sch[i]
warz, Sch[i]mütz, Sch[i]neider, entre outros. O que há de especial nesses casos é justamente a maneira
como a inserção indica reforça o contraste entre as fricativas coronais. Nesses casos, temos a vogal
inserida depois da fricativa coronal, esta se comportando na nova sílaba como onset, diferentemente
do padrão anterior. Uma das perguntas que este trabalho tenta responder é por que temos o padrão
[i]Smith ao lado de Sch[i]midt? Note-se que esse contexto é o de neutralização entre essas fricativas.
Outro padrão que sinaliza para a manutenção desse contraste são empréstimos como jazz > ja[], blues
> blue[], por um lado, e trash > tra[] e cash > ca[], por outro.
Em termos otimalistas, podemos dizer que são restrições importantes, entre outras, para o tratamento
da questão da inserção nesses itens: Ident(ponto), SON-SEQ e DEP-IO. A resolução do conflito deve
prever a dominação de SON-SEQ sobre DEP-IO, o que permite a inserção para evitar alguns tipos
silábicos. Já o local da inserção, se onset ou coda, uma vez considerados os inputs /smit/ (para Smith) e
O CONTRASTE ENTRE AS FRICATIVAS CORONAIS DO PORTUGUÊS ATRAVÉS DA ADAPTAÇÃO DE EMPRÉSTIMOS
Gean Nunes Damulakis
19
/mit/ (para Schmidt), será determinado pela posição alta da restrição que requer identidade de ponto.
As fricativas coronais analisadas podem ser distinguidas tanto através do traço [anterior] quanto de
[distribuído], seguindo Clements & Hume (1995). Uma vez existindo, fonologicamente, apenas essas
fricativas coronais no português, não se faz necessária a utilização de ambos os traços para efetuar
essa distinção. Qual dos traços deve ser efetivamente utilizado, nesse caso, ainda é uma questão teórica
relevante, mas que se encontra em aberto. Investigamos aqui também contribuições nesse sentido.
Palavras-chave: Contraste. Neutralização . Sílaba. Fricativas
CHOMSKY, Noan & HALLE, Morris. (1968) The sound pattern of English. Nova Iorque: Harper and
Row.
CLEMENTS, George N. & HUME, Elizabeth. (1995) The Internal Organization of Speech Sounds. In:
GOLDSMITH, John A. (ed.). The handbook of fonology. Oxford: Blackwell.
STERIADE, Donca (2007). Contrast. In: De LACY, Paul (ed.). The Cambridge Handbook of Phonology.
Cambridge: CUP.
McCARTHY (2007). Derivation and levels of representation. In: De LACY, Paul (ed.). The Cambridge
Handbook of Phonology. Cambridge: CUP.
20
O objetivo desta comunicação é evidenciar como o serialismo harmônico pode contribuir para a
compreensão do fenômeno de sândi no português de contato. Lidamos com o português de contato
de indígenas brasileiros falantes do Mbyá Guaraní (uma das variedades do Guaraní) residentes em
duas aldeias indígenas Guaraní, localizadas no Estado do Rio de Janeiro, a aldeia Itati, em Paraty
Mirim (Parati) e a aldeia de Bracuí (Angra dos Reis). Para a investigação dos fenômenos fonológicos
de natureza prosódica do chamado português indígena, realizamos um trabalho inicial de coleta de
fala espontânea dos consultores de nossa amostra. Os dados de fala espontânea nos permitem mapear
os contextos prosódicos relevantes para os fenômenos de fala conectada no português indígena. Os
resultados desse mapeamento denotam ser relevantes para o fenômeno de juntura a palavra prosódica,
a frase fonológica e o grupo clítico. Entre os fenômenos de sândi tratados pela literatura que versa
sobre o tema para o português do Brasil, a elisão é o que se revela mais produtivo entre os nossos
consultores, aplicando-se, inclusive, fora dos contextos prosódicos previstos para a sua realização.
Um aspecto importante do fenômeno investigado é a sua interação com o acento e o ritmo da língua.
Tal interação mostra que as regras do acento e do ritmo não podem ser simultâneas às regras que
interpretam o enunciado em constituintes prosódicos e às regras dos fenômenos de juntura. A falta de
simultaneidade entre as regras relevantes para o sândi na variedade de português falada pelos nossos
consultores cria a demanda para o serialismo em nosso trabalho. A questão que colocamos, então, é
de que maneira a investigação tanto de fenômenos prosódicos que ocorrem internamente às palavras
(sândi interno), quanto daqueles que ocorrem em entre palavras (sândi externo) pode ser explicada em
termos de restrições, em uma perspectiva particular da Teoria da Otimalidade (Optimality Theory),
McCarthy (2008); qual seja: o serialismo harmônico. Apesar de preservar as ideias básicas da OT,
concebendo a gramática como um conjunto de restrições que possa ser violado para a satisfação de
outra(s) regra(s) ou princípio(s) em competição, o serialismo harmônico opõe-se fundamentalmente
pela ideia de gradação. A gradação obriga à função GEN (gerador) limitar a quantidade de modificações
estruturais realizadas no passo a passo da derivação. A consequência prática dessa limitação é impedir
a realização de previsões sobre os processos fonológicos que sejam implausíveis em termos tipológicos.
A escolha pelo serialismo harmônico justifica-se naturalmente, em nosso trabalho, pela busca do papel
do acento e do ritmo na investigação do fenômeno que estamos tratando. Com a descoberta desse
O FENÔMENO DE SÂNDI NO PORTUGUÊS DE CONTATO À LUZ DO SERIALISMO HARMÔNICO
Kate Bárbara de Mendonça e Jaqueline dos Santos Peixoto
21
papel, acreditamos cumprir nosso objetivo que é o de contribuir para a identificação das condições
subjacentes ao fenômeno de sândi e mostrar a interferência entre gramáticas diferentes em situações
de contato linguístico.
22
Este trabalho tem como tema o processo morfofonológico da hipocorização, aqui entendido como
a redução de antropônimos ao tamanho de uma palavra mínima, a exemplo de ‘Elisabete’ > ‘Bete’
e ‘Gabriela’ > ‘Gabi’. Em linhas bem gerais, objetivamos (a) revisitar os padrões de hipocorização
propostos por Gonçalves (2004), a fim de determinar se realmente há, em português, quatro diferentes
tipos estruturais de hipocorísticos; e (b) unificar, com base na Teoria da Otimalidade (Prince &
Smolensky, 1993; McCarthy & Prince, 1993), a abordagem dos padrões de hipocorização já descritos
para o português brasileiro (Gonçalves, 2004; Lima, 2008; Thami da Silva, 2008).
A proposta de unificar a análise da hipocorização no português visa a conjugar, em uma mesma
hierarquia de prioridades, a seleção de mais de um candidato possível, como em de ‘Alexandre’ >
‘Xande’, ‘Alê’ e ‘Filomena’ > ‘Mena’, ‘Filó’. Para tanto, lançamos mão da proposta de Coetzee (2004,
2006), que verifica, através de uma nova maneira de encarar o papel do módulo Avaliador (do inglês,
EVAL), a possibilidade de candidatos estarem raqueados numa escala que vai do melhor ao menos
frequente output, trazendo à tona todas as formas efetivamente produzidas pelos falantes. Assim, para
cada antropônimo passível de hipocorização, em uma mesma hierarquia, poderá emergir mais de
uma forma de output.
A proposta geral do trabalho é, então, comprovar que (a) processos de morfologia não-concatenativa,
como é o caso da hipocorização, são efetivamente produtivos na língua e, mais do que isso, são
regulares do ponto de vista estrutural; (b) a Teoria da Otimalidade, sobretudo no que se refere ao ROE
– Rank-ordering of EVAL (modelo de ranqueamento ordenado do Avaliador) – dá conta da análise
de processos de interface morfologia-fonologia; e (c) fenômenos que apresentam mais de uma forma
ótima, ou seja, variáveis, podem apontar para um continuum de aceitabilidade/frequência. Além
disso, propomos uma redefinição dos padrões de hipocorização elencados por Gonçalves (2004),
evidenciando a existência de um ponto de corte crítico para a análise da hipocorização, o que torna
possível limitar a variação na perspectiva otimalista, uma das preocupações do modelo desenvolvido
por Coetzee (2006).
Referências:
COETZEE, A. W. What it Means to be a Loser: Non-Optimal Candidates in Optimality Theory,
O MODELO DO RANQUEAMENTO ORDENADO DO AVALIADOR E A ABORDAGEM UNIFICADA DA HIPOCORIZAÇÃO EM PORTUGUÊS
Hayla Thami da Silva e Carlos Alexandre Victório Gonçalves
23
University of Massachusetts: Ph.D., 2004.
COETZEE, A. W. Variation as Accessing “Non-Optimal” Candidates – A Rank-Ordering Model of
EVAL . University of Michigan, 2006.
GONÇALVES, C. A. Condições de minimalidade no molde da hipocorização. Revista de Estudos da
Linguagem, v. 14, n. 1, 2004, p. 10-32.
LIMA, B. C. A formação de ‘Dedé’ e ‘Malu’: uma análise Otimalista de dois padrões de hipocorização.
Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro: Rio de Janeiro,
2008.
McCARTHY, J. & PRINCE, A. The emergence of the unmarked: optimality in prosodic morphology.
In: GONZALEZ, M. (ed.), Proceedings of the North-East Linguistics Society 24. Amherst, MA:
Graduate Linguistic Student Association, 1993.
PRINCE, A. & SMOLENSKY, P. Optimality Theory: constraint interaction in generative grammar.
Rutgers University / University of Colorado: New Brunswick, 1993.
THAMI DA SILVA, H. A abordagem Otimalista da hipocorização com padrão de cópia à esquerda.
Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2008.
24
Nosso objetivo é mostrar como a interação entre fonologia, morfologia e sintaxe explica a formação
dos ditongos do português do Brasil. O fenômeno de ditongação motiva diferentes análises, algumas
vezes convergentes, outras vezes divergentes. Diferentes trabalhos concordam sobre a existência
de dois tipos de ditongos, os ditongos fonológicos e os ditongos fonéticos (WETZELS, 2000, p. 25-
30; BISOL, 1989, p. 185-224; CAMARA, 2001). Os ditongos fonológicos são interpretados como os
verdadeiros ditongos, uma vez que criam oposições no léxico e não estão sujeitos à variação livre
com o hiato. Já os ditongos fonéticos podem variar livremente com o hiato e estão sujeitos a reduções.
Estes últimos também constituem sequências previsíveis de segmentos vocálicos em uma mesma
sílaba. Essas diferenças mostram que os dois tipos de ditongos interagem com regras gramaticais de
natureza distinta. Os verdadeiros ditongos ampliam o inventário de palavras e interagem com regras
lexicais. A ausência de ditongos frasais também corrobora sua natureza lexical. Defendemos que os
ditongos fonológicos sejam formados no léxico antes da aplicação da regra de acento. A localização dos
ditongos da língua entre as regras lexicais não significa que fenômeno de ditongação não interaja com
outras regras. Os ditongos fonéticos são prova da existência de diferentes causas para a ditongação.
Estes ditongos são obtidos por diferentes mecanismos, como a segmentação de uma vogal em duas
partes, a epêntese e a metátese vocálica e o desenvolvimento de um glide nasal. Os ditongos fonéticos
constituídos pela segmentação de uma vogal e epêntese vocálica satisfazem restrições que atuam sobre
a forma fonológica de palavras e raízes. A história do fenômeno da ditongação em português e as
diferentes análises feitas sobre esse fenômeno no português do Brasil permitiram reinterpretarmos
os ditongos fonológicos como ditongos lexicais cíclicos, e os ditongos fonéticos, como lexicais pós-
cíclicos (PEIXOTO, 2011). Adotando o instrumental teórico desenvolvido pelos modelos fonológicos
não lineares, em especial a Fonologia Lexical e a Autossegmental (CLEMENTS, & KEYSER, 1983;
GODSMITH, 1990; KENSTOWICZ, 1994), mostramos como a ditongação em português constitui
recurso sincrônico já disponível na diacronia e sustentamos que a investigação dos ditongos nessa língua
requer uma gramática em que não caiba apenas à fonologia receber as sequências de fonemas após a
aplicação de regras morfológicas e sintáticas. Propomos então uma reinterpretação da formação dos
ditongos lexicais cíclicos (fonológicos) e lexicais pós-cíclicos (fonéticos) à luz do serialismo harmônico.
Apesar de preservar as principais ideias da OT em suas versões não seriais, o serialismo harmônico
OS DITONGOS LEXICAIS CÍCLICOS E PÓS-CÍCLICOS DO PORTUGUÊS SOB A PERSPECTIVA DO SERIALISMO HARMÔNICO
Jaqueline dos Santos Peixoto
25
particulariza-se ao limitar a quantidade de transformações estruturais e ao tornar transparentes
interações tipológicas da gramática. Além da transparência dos efeitos da interação dos processos
que corroboram para o fenômeno da ditongação em português, importante também para o nosso
trabalho é o registro das regras seriais (cíclicas), que tem o seu domínio de aplicação determinado
pela morfologia e pela sintaxe. Os efeitos dos fenômenos cíclicos da gramática são trabalhados sob a
perspectiva da Teoria da Correspondência Transderivacional, uma teoria que lida com a avaliação das
formas harmônicas da língua de forma serial (BENUA, 2007).
Referências bibliográficas
BENUA, Laura. Transderivational identity: phonological relations between words. PHD Thesis, MIT,
2007.
CLEMENTS, George N. & KEYSER, S. J. CV phonology. A generative theory of syllabel. Cambridge:
The MIT Press, 1983.
GOLDSMITH, John A. Autosegmental and metrical phonology. Oxford: Basil, Blackwell, 1990.
KENSTOWICZ, Michael. Phonology in generative grammar. Oxford MA and Oxford UK, Blackwell,
1994.
PEIXOTO, J. dos S. O ditongo em português: história, variação e gramática. Revista Lingüística /
Revista do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Volume 7, número 1, junho de 2011. ISSN 1808-835X 1. [http://www.letras.ufrj.br/poslinguistica/
revistalinguistica]
26
A constituição de ditongos é um processo frequente e regular em língua portuguesa, podendo ser
atestado desde a sua formação (TEYSSIER, 2007; MATTOS E SILVA, 2006). No português brasileiro
contemporâneo, observa-se que, em alguns dialetos, esse fenômeno ocorre, principalmente, pela
inserção de uma semivogal, seja seguida por uma sibilante, seja por uma nasal, ou também pela
vocalização da lateral em posição de coda. Neste trabalho, restringiremos a análise aos contextos de
vogal média anterior seguida de travamento nasal.
É clássica a interpretação de Bisol (1998) da epêntese do glide em contexto nasal, para quem se deve
distinguir dois processos: um de assimilação, com o espraiamento da nasal para a vogal, sendo que
a nasal se torna homorgânica ao elemento seguinte ou à vogal precedente; e outro de estabilidade, no
qual a nasal é incluída na rima silábica. O primeiro tipo nos importa em particular, pois, ao nasalizar
a vogal, criam-se semivogais (BISOL, 1998), como em m[ã]nhã, fór[ũ]m, ass[ĩ]m ou hom[ẽ ]m. Esses
casos constituem um fenômeno variável, que não interferem na estrutura fonológica da sílaba e
recebem o nome de falsos ditongos.
Como ficou demonstrado e é destacado por Bisol (2005), a descrição e análise da ditongação seguida
de sibilantes palatais vêm sendo feita em algumas regiões do país. Contudo, os contextos de nasal têm
despertado pouco interesse nos pesquisadores (OLIVEIRA, 2006; BATTISTI, 1998).
Após a observação de um pequeno grupo de dados, verificamos que uma vogal alta anterior na sílaba
seguinte parece favorecer a epêntese vocálica. Para confirmar essa hipótese, elaboramos uma amostra
controlada em que testamos vocábulos que se diferenciavam pela qualidade da vogal que ocupava o
núcleo da sílaba seguinte à ditongação. Como exemplo, podemos citar as formas verbais pensa, pense
e penso. Nossa hipótese é que, no dialeto carioca, a ditongação do grupo [ẽ] seja mais perceptível e
favorecida no caso de pense, já que haveria uma identidade vocálica entre a vogal epentética e a átona
final.
Com relação à metodologia, seis informantes, sendo três homens e três mulheres, fizeram uma leitura
monitorada de um conjunto de 15 enunciados, descartando os distratores.
Este trabalho ancora-se no instrumental teórico da Teoria da Otimalidade (PRINCE & SMOLENSKY,
1993), que substitui a inviolabilidade das regras do modelo gerativista pela violabilidade das restrições,
que são ranqueadas harmonicamente de modo que emerja o candidato ótimo.
UM ESTUDO PRELIMINAR SOBRE A DITONGAÇÃO NASAL NA FALA CARIOCA
Caio Cesar Castro da Silva
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Temos como objetivos (i) examinar o conflito de restrições, no escopo da Teoria da Otimalidade, para
a emergência do candidato ótimo; e (ii) verificar como as restrições são ordenadas na hierarquia, que
é o instrumento de seleção de candidatos ótimos. Observaremos, também, a realização acústica dos
enunciados por meio da ferramenta computacional PRAAT, a fim de identificar a interferência da
vogal alta anterior na inserção do iode.
Pretendemos, portanto, realizar um estudo inicial da ditongação nasal na fala culta carioca, uma
vez que não há registros de análise para o processo no português brasileiro. De um modo geral, os
resultados preliminares parecem confirmar a hipótese central do trabalho.
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