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- Para o carro agora! – Eu não podia controlar a fúria que percorria as minhas veias e subia pelas extremidades de meu corpo afetando o meu estado de sanidade. – Melissa tem certeza de que você sabe onde realmente pretende chegar? Já estamos a quase 4 horas e meia e nada dessa tal fazenda que vocês disseram…O que houve? A gente se perdeu? A face de Melissa não negava o misto de sensações confusas que cantarolavam nitidamente quase transbordando num fluxo irreversível. Eu podia jurar que ela havia resmungando alguma coisa do tipo “eu jurava que era aqui”. É realmente estávamos perdidos no meio do “Nada”. Carolina que durante todo o caminho se demonstrava imparcial e atenta apenas ao seu livro ‘ lua cheia de lobisomens’ tomara partido da discussão que ela iniciará: - Eu já sabia que isso era furada, vocês não conseguem fazer nada sem

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- Para o carro agora! – Eu não podia controlar a fúria que percorria as minhas veias e subia pelas extremidades de meu corpo afetando o meu estado de sanidade. – Melissa tem certeza de que você sabe onde realmente pretende chegar? Já estamos a quase 4 horas e meia e nada dessa tal fazenda que vocês disseram…O que houve? A gente se perdeu?A face de Melissa não negava o misto de sensações confusas que cantarolavam nitidamente quase transbordando num fluxo irreversível. Eu podia jurar que ela havia resmungando alguma coisa do tipo “eu jurava que era aqui”. É realmente estávamos perdidos no meio do “Nada”.Carolina que durante todo o caminho se demonstrava imparcial e atenta apenas ao seu livro ‘ lua cheia de lobisomens’ tomara partido da discussão que ela iniciará:- Eu já sabia que isso era furada, vocês não conseguem fazer nada sem estragar. Vocês realmente são predestinados a acabar com tudo, talvez devesse ter ficado em casa resolvendo Cálculos Algébricos, o que de fato seria bem mais interessante do que morrer devorada por insetos, se bem que...- Nesse período Carolina vasculha sua clutch e encontra o que ela já adivinhará: O seu repelente de Citronela. Ela era uma piada de

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tão engraçada. Onde quer que fosse levava as suas bugigangas juntas.

- Gente é muito tarde, não acha que devemos encontrar um lugar para se acomodar? - Ana Julia parecia preocupada embora tentasse esconder, o que parecia não fletir em nada. Ao seu lado estava Adriel que a aconchegava em seus braços. Eu nunca fui muito próximo dele, mas como era namorado da minha melhor amiga decide que ele poderia nos acompanhar para a fazenda que Melissa alugara e que parecia não encontrar de modo algum.- Ohhh Melissa e essa droga do seu GPS não funciona não?!- eu já estava muito impaciente com essa demora toda e com muita razão, nosso grupo sempre se metia em furadas. – Senhora Ana Julia você não percebeu que estamos “isolados’’ no meio do deserto sem fim. O que você sugere que façamos? Descemos bem aqui e acampamos com os coiotes? Mas foi Matheus e Poliana que estavam sentados na última fileira do Fiat Dobló que romperam a discussão:- Acho que chegamos! – Disseram em uníssono

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Todos sorriram em conjunto, ao que parecia havíamos chegados na tal fazenda que Melissa havia escolhido. Ela reduziu a velocidade a instantes que nos aproximávamos do casarão. Logo descemos pegamos tudo que precisamos e nos dirigimos a porta que para minha surpresa estava aberta. Foi nesse instante que descobri toda a façanha daquela tramoia- Melissa você não alugou essa fazenda…ninguém parece vir aqui há anos, está abandonada. Como você pode? O que estamos fazendo é invasão de propriedade privada, alguém pode ser dono de tudo isso...abandonada não significa que não possua um dono.- Por favor Gabriel chega de dar chilique! Não era você que queria fazer algo diferente ou até mesmo radical?!- Sim..., MAS! – Antes de concluir minha frase foi interrompido por Poliana- GABRIEL! Desde que partimos estrada tivemos que ouvir suas reclamações e picuinhas. Essa fazenda está abandonada há mais de um século e meio. Entendeu? NINGUÉM vem aqui! Muitos dizem que é amaldiçoada por um espirito de uma mulher que se suicidou enforcada dentro desse casarão em seu quarto. MAS respectivamente

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é só uma lenda inventada, não tem com que se preocupar. Vamos dormir aqui apenas uma noite e voltamos amanhã de manhã tudo bem? Podia perceber olhares em mim. Apenas consenti firmemente. Afinal era apenas uma noite o que demais poderia acontecer nesse meio tempo? Havia um sentimento no ar que eu não podia explicar. Embora fosse um lindo dia de sol quando chegamos as duas horas da tarde, eu podia sentir uma atmosfera estranha. Percebi que logo todos estavam envolvidos, já dentro do casarão num devaneio de sonho, paraíso. Poliana e Ana Julia acendiam velas por toda casa, enquanto Matheus e Adriel tentavam eliminar e dissipar a poeira do ambiente. Carolina e Melissa arrumavam nossas malas e instrumentos. Todos pareciam felizes e ocupados até mesmo Carolina que detestava passeio em lugares com isentos e mato, o que foi uma grande batalha de convence-la a vir conosco, sob falsas promessas de que seria divertido e estaríamos todos juntos em um simbolismo de união e amizade. Eu decidi fazer um passeio lá fora para que pudesse respirar um pouco de ar puro. Estávamos na região conhecida popularmente

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como Capão Bonito, localidade no município de Sidrolândia nas brenhas das matas que respira a Serra de Maracaju, onde encontramos vários vestígios e ruínas de adobes/tijolos gigantes (esse tipo de tijolo mede aproximadamente 60 centímetros de comprimento, 30 centímetros de largura e 20 centímetros de altura). Eram fabricados por escravos – homens, mulheres e crianças, que misturavam nas argilas/barros, água, suor e sangue humano, devido às chicotadas. As peças de adobes eram secadas ao sol.Foi aos poucos que me veio nas lembranças uma lenda antiga da razão pela qual aquele lugar era amaldiçoado. O nosso destino era o local de uma extinta fazenda que explorava e comercializava tudo que poderia – madeira, gado, gente escravizada, lavoura diversa, caça e outros produtos fabricados ou extraídos da natureza. Todas as mercadorias eram marcadas a ferro quente, uma figura de argola. Encontramos, então, os nossos muitos alvos, entre eles, a casa feita totalmente de pedras e o túmulo que se diz ser da filha adolescente do poderoso proprietário das terras da fazenda. As duas construções são referências na localidade rural como sagrados, místicos e mal-assombrados.O lugar estava bem deteriorado quase em ruinas, faltava algumas janelas pelo que podia

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perceber. De repente um vento soprou como um assobio e um frio percorreu minha espinha me arrepiando dos pés à cabeça. Eu sabia que algo estava errado. Foi quase como um impulso que deixei me guiar para o lado leste do casarão, declinando pela mata densa e quase impermeável, um sentimento de solidão e tristeza me preenchia que eu parecia não saber ter controle dos meus sentidos mais. Ao que parece minha endorfina se havia esvaziado, nada mascarava a dor que eu sentia naquele momento. Meus pés estavam encharcados agora. Era água do rio, que mergulhava eles agora, doce, fria e limpa. Vinha das nascentes da encosta, mas a mata virgem não deixava divisar o leito, certamente sombreado por um emaranhando de galhos, folhas e raízes aéreas. Surros. Gemidos. Gritos de socorros ecoavam pela mata. Meu coração acelerado indicava perigo e que era o momento de dar no pé. Mas minha consciência encontrava se em devaneio e tristeza, ausentes de serotoninas, momentos felizes já mais não existiam ali. Uma força maior incontrolável que eu não sabia de onde vinha de mim, fez com que me ajoelhasse na beira do rio maravilhoso…sim eu podia ver algo bem lá no

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fundo, imagens que se construíam e distorciam uniformemente.

Havia muitos escravos, chicotes e sussurros gritantes e uma casa familiar. Pois bem, que nessa casa de pedra que resiste ao tempo, apesar do total abandono, era na realidade uma senzala coberta de folha de sapé, mas suas paredes de pedras foram extraídas da natureza, onde eram trancados, amarrados ou acorrentados os escravos no período da noite. Ao redor da casa eram colocados cães ferozes treinados para ataques mortais e vigias/pistoleiros para que ninguém fugisse na calada da noite. Tinha escravos negros vindos do litoral brasileiro, índios escravizados e pessoas ditas brancas, submetidas ao poder da força do castigo e da morte.No centro da casa de pedra de um imenso cômodo só, construída em redor de uma grande árvore, no princípio era uma espécie de curral para humanos, sem cobertura, no centro a árvore de tronco grosso servia como pelourinho, onde eram acorrentados os escravizados trabalhadores da fazenda para serem submetidos a mais perversa tortura, como castigo.O carrasco dos castigos era uma pessoa de estatura baixa, quase anão, troncudo, feio e

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comprovadamente doente mental. Falava e sorria sozinho, como se alguém invisível dialogasse com ele, e se deliciava quando açoitava os desafetos do patrão fazendeiro. Algumas vezes errava no limite da crueldade e a vítima morria pedindo piedade.Pois bem, dentro da casa de pedra, certa vez aconteceu que estando amarradas no tronco a mãe e a filha adolescente escravas, após uma sessão de chicotadas, as duas com o corpo todo coberto de sangue misturado com a terra do chão, fezes, urinas e sal grosso, gemiam de dores e de desolação. Outros escravos que estavam alojados dentro da casa de pedra, mesmo querendo, não podiam nem aliviar as dores das duas sentenciadas no castigo. Os gemidos incomodaram a mulher do fazendeiro, que mandou cortar as línguas das duas mulheres presas no tronco. O anão-carrasco de posse de um facão enferrujado e de um gancho arrancou as línguas das indefesas escravas e as deixou morrer à míngua.Um velho escravo, vendo a situação e o esforço com que a mãe escrava rabiscava com as pontas dos dedos dos pés no chão da senzala, e o sangue jorrando das bocas das mulheres mutiladas, se aproximou e viu escrito: ‘ME MATE! POR FAVOR! ’. Após uma oração silenciosa acompanhada de lágrimas, o

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idoso escravo com as mãos trêmulas cobriu com panos molhando os rostos daqueles seres humanos e apertou sufocando-as com as mãos, dando a morte com o alivio. NÃO EXISTEM DORES NA MORTE, A DOR É EXCLUSIVIDADE DA VIDA.Com a falência e a extinção da maldita fazenda do Capão Bonito, o mato e a destruição tomaram conta do lugar. Fato curioso que a árvore/pelourinho com o passar dos anos, talvez alimentada pelos sangues dos inocentes castigados e lágrimas de dores derramados que encharcaram o chão, resistiu no meio da ruína da senzala, destruída pelo tempo. OS FEITOS DO PASSADO SÃO LEMBRANÇAS- HOMENAGENS NO PRESENTE.Aos poucos tudo foi se dissipando e eu aproximava ainda mais meu rosto da água tentando ver mais dessa história. Bem lá no meio daquele caos eu podia ver uma menina, talvez a mesma que havia morrido, agora sem a mãe ao seu lado. Ela estendeu o seu braço como se quisesse me alcançar eu ouvi um eco de sua boca, que não compreendi pela sua fala dificultada sem a língua. Estendi minhas mãos e foi aí que percebi o grave erro que havia cometido, fui puxado para as profundezas num impasse súbito.

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Levou um instante para que percebesse que se não lutasse contra os laços mortais morreria. Fazia a maior força que podia, hesitando com todas as forças aquela corrente maligna humana que me prendia e sufocava. Sem forças para continuar perdia a dopamina de minhas veias, eu havia perdido essa batalha até que....Foi incrível e inacreditável que eu agora pudesse respirar livremente outra vez. MAS como? Algo havia me salvado, mas eu não sabia o quê.

Capitulo 2: BOM SONHOS

- Gabriel agora chega! – Melissa estava completamente furiosa comigo- eu entendo que você não queira estar aqui, mas ficar inventando situações absurdas para acabar com nosso único momento juntos nesse ano, não vai rolar! – Sua voz agora era grave, mas ainda sim moderada aos nossos parâmetros, se não a conhecesse poderia jurar que estava berrando.- Tudo bem. Não vou mais estragar a felicidade de vocês, se acham que eu me afoguei de propósito e sou psicótico a ponto

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de blasfemar historinhas. - havia um tom de zombaria em minha fala. Todos olhavam para mim como se eu fosse um surtado. A noite estava um espetáculo com estrelas cobrindo os céus, envolvida em uma sombra de mistério. Passos lentos ecoavam cada vez mais próximos atrás de mim.- Não deixe pensamentos negativos tomarem espaço em sua mente Gabriel, você precisa relaxar mais. – Ana Julia agora estava ao meu lado, podia sentir sua preocupação em mim exalando-se na sua presença e no ar.- Não se isole do restante do grupo, cadê sua posição de liderança? Apertei os olhos, e balancei a cabeça:- Você não acredita realmente em mim?Ela me olhou rapidamente nos olhos, e gesticulou negativamente. Por fim desistiu e me abraçou, saiu lentamente e voltou para dentro onde todos comiam sorriam e dançavam alegremente.Podia escutar Poliana dizendo com a expressão tão tranquila e plácida:- Dançar traz alegria e felicidade. Aumenta o convívio social e deixa a autoestima elevada.

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A noite foi passando eu continuava ali fora na varanda confrontando a negritude da noite. Havia um pouco distante da casa uma árvore muito estranha. Com galhos espessos e ramificações intermináveis parecia nebulosa. Semicerrei os olhos e agora eu podia ver algo há mais: além da arvore havia uma sombra, figura estranha que parecia pequena demais para ser um homem. Uma criança que se escondia. Desci correndo os degraus e me direcionei-o correndo ao espectro pequenino. Não correu. Apenas soluçava tristemente. Era estranho porque eu não sentia medo naquele instante era um sentimento de ousadia e curiosidade. Fantasmagoria se virou levemente. Eu estava contido, embora inquieto esperando que ele viesse até a mim. O que me assustou não foi sua aparência medonha desfigurada e macabra, mas sim, que agora ao redor eu percebia que mais abantesmas se aproximavam. Crianças, homens, mulheres, idosos todos escravos se aglomeravam ao redor aos sons de chicotes de senhores de engenhos. Gritavam todos sem línguas. Eu não demorei para correr até o casarão aos berros incessantes. Eu poderia ter derrubado a porta se está já não estivesse aberta.

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- Chega agora eu quero ir embora Melissa! - Eu não falava mais, apenas gritava quase cuspindo cada palavra. Qualquer sentimento que você pudesse imaginar nesse universo estampava em cada rosto que me encarava confusamente. Não houve tempo para que alguém pudesse me contrariar, sons de chicotes ecoavam por todos os lados.- QUÊ...-Matheus não pode concluir a frase - choros de lamentação e murmúrios preenchiam o ambiente de temor e pânico. Corremos todos para o andar acima trancados em quarto sob a única luz que havia: a chama da vela que chegava ao seu final. Um barulho que eu já estava acostumado a ouvir ressurgiu. Era o som fino de um chicote, seu assobio cortando o ar, seguido do estalo estridente do couro no chão de madeira cada vez mais rápido. PLÁ!! E agora acontecia mais uma vez.- Estão aqui em cima. – Sussurrou Carolina- SHHHHH- sibilou Adriel Adriel e Ana Julia ficaram paralisados ao fundo do quarto perto da janela enferrujada. Os dois se abraçaram, sem dizer nada. Eu não

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consegui evitar pensar nas histórias que a casa mal-assombrada. Havia mesmo naqueles ruídos qualquer coisa de estranho, de sobrenatural e maligno. Melissa coloca as mãos em meus ombros, olhando-me nos olhos quando diz: -Perdão por não ter acreditado em você...eu sinto muito Eu suspiro, olhando bem para ela, digo:- Não se preocupe, eu entendo vocês. Realmente não é cabível acreditar em histórias assim. - Gabriel conte nós o que sabe. - Carolina se esforça para ficar de pé e me encara com uma expressão preocupada.Não demorou para que adormecêssemos. Estávamos perplexos e alarmados, com os corações acelerados, mas impossíveis de conter o cansaço. Fechei os olhos. E tive um sonho naquela noite. Na verdade, um pesadelo.

Eu lembro que estava sozinho e o pensamento de que tudo estava acabado consumia minha mente carnivoramente. Minha mente ficava gritando, vacilando, enquanto meu corpo me conduzia a um quarto escuro, a neblina costeira densa impedia que até o mais fino

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raio de luz a penetrasse. Atraído como um sonâmbulo até o canto mais lúgubre eu podia perceber uma grande tragédia. Havia uma sombra de uma mulher chorando sobre um emaranhado de corpos nus, com marcas de chicotes e línguas mutiladas. EU tive que me aproximar mais para se dar conta de que eram meus amigos. FOI aí que gritei e o sonho acabou.

Quando acordei e olhei ao meu redor, tive o maior choque possível, não havia mais ninguém ali, todos os meus amigos haviam desaparecido. Corri a escada pulando rapidamente os degraus quase se debulhando no final. Eu gritava por todos. Chamava cada nome. Estava despertado e em pânico. Haviam eles morrido?

Ao mesmo destino do início, meu coração foi guiado pela trilha leste do casarão no mesmo trecho do rio. Logo eu estava ajoelhado mais uma vez à espreita do espelho doce. Eu fitei fixamente esperando ver alguma coisa, eu via 7 jovens na cena. 6 deles choravam e murmuravam tristemente para o sétimo que os olhava espantado. Os seis estavam com marcas de chicotes e línguas mutiladas,

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enquanto o 7 era arremessado para as profundezas infernais.