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ARMAZÉM DA MEMÓRIA NACIONAL

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www.almanaquebrasil.com.br

A velhice não é lugar para medrosos Bette Davis, atriz norte-americana.

Diretor editorial Elifas AndreatoDiretor executivo Bento Huzak AndreatoEditor João Rocha RodriguesEditor de arte Dennis VecchioneEditora de imagens Laura Huzak AndreatoEditor contribuinte Mylton SeverianoRedatores Bruno Hoffmann e Natália Pesciotta Revisor Marcelo ParadizoDesigners Guilherme Resende, Rodrigo Terra Vargas, Soledad Cifuentes e Juliana Cavalhieri (estagiária)

Gerente administrativa Eliana FreitasAssistentes administrativas Viviane Silva e Geisa Lima Assessoria jurídica Cesnik, Quintino e Salinas AdvogadosJornalista responsável João Rocha Rodrigues (MTb 45265/SP)Impressão Gráfica Oceano

PUBLICIDADEFernanda Santiago (11) 3873-9115E-mail: [email protected]

No trem da vida

Elifas Andreato

esde o dia em que peguei o velho trem que me traria a São Paulo na

pequena estação de Rolândia, hoje em restauração para ser um centro

cultural com meu nome, minha vida foi uma árdua peleja entre os

ressentimentos e os momentos de felicidade. Não sou mais assim. Há muito

tempo deixei de ser o triste andarilho e sua sombra. Abandonei também as ex-

cessivas sensações de dor que tive no passado. Aprendi a ver que tudo o que vivi foi

um exercício necessário para me tornar melhor.

Minhas lembranças são a permanente reconstrução do que fui, sou e ainda

serei. É assim que vejo o tempo em que passei no trem da vida para cumprir o meu

destino, fazendo em cada estação um novo embarque, seguindo em frente des-

temido e confiante do caminho que me levaria aonde eu queria chegar.

Foi um longo exercício para que hoje eu me veja capaz de encontrar nas piores

adversidades a serenidade necessária para inverter as más perspectivas. Nada

nem ninguém reanima mais a compulsão contra mim mesmo. Eu me tomei pe-

las mãos e me tornei dono do que sou. Desse modo, redescobri a vida e me incluí

nela. Hoje faço da minha vontade a minha filosofia. Deixei de ser pessimista e me

afastei dos ressentimentos e do desânimo. É nisso que me reconheço agora.

Lembro hoje que aquele velho trem para São Paulo transportava um menino

assustado que, sem saber, já trazia consigo a certeza de que jamais desistiria de

si mesmo. Um menino hoje quase velho que pode descrever a si mesmo com o

orgulho dos vitoriosos, sem nenhum ressentimento. Ao contrário do que escreveu

Fernando Pessoa, quero, sim, gozar a vida que me resta. Quero torná-la sempre

melhor, nem que para isso meu corpo seja a lenha desse fogo. O Almanaque está sob licença Creative Commons. A cópia e a reprodução de seu conteúdo são autori-

zadas para uso não comercial, desde que dado o devido crédito à publicação e aos autores. Não estão incluídas nessa licença obras de terceiros. Para reprodu-ção com outros fins, entre em contato com a Andreato Comunicação & Cultura. Leia a íntegra da licença no site do Almanaque.

D

Distribuição em voos nacionais e internacionais

[email protected] www.almanaquebrasil.com.br twitter.com/almanaquebrasil

O Almanaque é uma publicação da Andreato Comunicação & Cultura.Rua Dr. Franco da Rocha, 137 - 11º andar Perdizes. São Paulo-SP CEP 05015-040 Fone: (11) 3873-9115

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Parceria

índice 5 cARtA ENigMáticA

6 você SAbiA?

11 PAPo-cAbEÇA

16 iLUStRES bRASiLEiRoS

20 ESPEciAL

25 bRASiL NA tv

26 JogoS E bRiNcADEiRAS

27 o tEco-tEco

28 vivA o bRASiL

32 EM SE PLANtANDo, tUDo Dá

34 boM HUMoR

João carlos Martins

Um país nos trilhos

Maria clara Machado Abacaxi

belo Horizonte

capa Guilherme Resende cANtoS E LEtRAS

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Abril 2012

Em 1927, o marechal Cândido Rondon recebeu do governo federal a missão de inspecionar os cerca de 15 mil quilômetros de fronteiras brasileiras. Durante os três anos seguintes, visitou lugares inóspitos do Amazonas ao Rio Grande do Sul, aproveitando para manter contato com novas tribos indígenas. O marechal, fundamental para o desbravamento do oeste brasileiro, era conhecido por manter relações pacíficas com os índios, seguindo seu lema: “Morrer se preciso for, matar nunca”. Na foto, provavelmente na fronteira com o Paraguai, aparecem a data da expedição e a sigla da Inspetoria de Fronteiras.

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ão

rapaz odiava o nome que seus pais tinham lhe dado: Agenor. Escondia-o por trás do apelido que recebeu antes mesmo

de nascer, em 4 de abril de 1958. Só passou a gostar do próprio nome ao descobrir que era quase igual ao do ídolo Cartola, que se chamava Angenor.

Cresceu numa confortável casa na zona sul carioca. O futuro planejado pelos pais era que fizesse uma boa universidade e tivesse um emprego de respeito. Mas desde a adolescência não tinha propensão alguma a seguir regras. O que lhe atraía mes-mo era passar noites em bares e ouvir canções dos grandes can-tores melancólicos do País, como Lupicínio Rodrigues e Maysa.

Em 1981, uma banda de rock estava a procura de um vocalis-ta. O primeiro convidado foi Léo Jaime, que declinou, mas indi-cou o amigo que até então não tinha tido nenhuma relação séria

com música. Estava formada o que viria a ser uma das bandas mais importantes do País.

As suas composições impressionavam pela sinceridade e pela alta sofisticação poética, com versos que tornaram-se antológicos. O sucesso não mudou seu comportamento. Continuava a levar a mesma vida boêmia de sempre. Dizia-se parecido com dois de seus grandes ídolos: Humphrey Bogart e James Dean. “Tenho um pouco do cinismo do primeiro e da rebeldia do segundo”.

O baque veio quando descobriu estar com Aids. Enfrentou a doença com coragem. Não se furtava a falar sobre o assunto e ir a programas de tevê, mesmo com a aparência debilitada. Morreria em 1990, com apenas 32 anos, da mesma forma que sempre viveu: livre, rebelde e exagerado. (BH)

SOLuçãO NA P. 26

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www.almanaquebrasil.com.br

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21/4/1792Morre TiradenTes. o

Mineiro de são João del-rei é enforcado no rio de Janeiro, condenado pela

revolTa republicana eM Minas Gerais.

www.almanaquebrasil.com.br

21/4/1985Morre Tancredo neves.

eleiTo presidenTe depois de duas décadas de

reGiMe MiliTar, o Mineiro de são João del-rei não

cheGou a ToMar posse.

Monarca jardineiro plantou nossa primeira palmeira-imperial

uem pensa que o nome palmeira-imperial tem a ver com o porte ganancioso da árvore

está errado. A ligação da planta com o reinado é mais forte que isso – pelo menos no Brasil, lugar onde a espécie passou a ser chamada assim. Tudo devido ao envolvimento de dom João com uma muda de Roystonea oleracea. O imperador deu tanta importância para a única árvore do tipo que chegou por aqui que fez questão de encarnar o jardineiro e plantar ele mesmo a palmeira, no Jardim Botânico carioca.

A corte portuguesa havia acabado de transferir-se para o Rio de Janeiro e tentava “civilizar” os jardins públicos ao estilo dos franceses. A palma-mater era um contrabando das Ilhas Maurício que o rei ganhara de presente.

Quando vieram os primeiros frutos, em 1829, o diretor do Jardim Botânico tratou de tomar medida drástica para garantir a exclusividade da espécie majestosa: os frutos e sementes foram queimados. Só não se esperava que, na calada da noite,

Q escravos subissem o enorme tronco em busca de sementes. Vendidas por cem réis no mercado ilegal, difundiram-se na época do Império.

Acredita-se que todas as palmeiras-imperiais do Brasil descendem da árvore plantada por dom João. Este exemplar, entretanto, não ficou de pé para contar a história – foi destruído em 1972 por um raio. Hoje visitantes do Jardim Botânico veem um pedaço do tronco no museu e outra palmeira em seu lugar, a palma filia.

17/4 dia nacio

nal

da botânica

(NP)

(NP)

SAIBA MAIS O Jardim de D. João, de Rosa Nepomuceno e Alexandre Sant’anna (Casa da Palavra, 2007).

uando o time Americano fechou as portas no litoral e foi-se embora para

São Paulo, capital onde o futebol estava mais consolidado, os atletas que ficaram em Santos viram-se sem equipe para defender. A história do Americano durou pouco, mas foi decisiva para a do esporte bretão. Isso porque aos ex-jogadores desolados restou fundar um novo time: o Santos Foot Ball Club.

Naquele 14 de abril de 1912 foram cogitados para a equipe os nomes Concórdia, Brasil Atlético, Euterpe e até África. Por fim escolheram

QAtletas desolados fundaram um dos maiores clubes do planeta

o nome da cidade, palavra que ganharia o mundo e inspiraria outros Santos em lugares longínquos como Jamaica e Austrália.

A camisa branca eternizada por Pelé, Coutinho e Pagão nasceu listrada de azul e branco. Mas já previa-se sucesso para o manto do bicampeão mundial, que conquistou três Libertadores, oito campeonatos brasileiros e 19 paulistas. “Acaba de ser fundado nessa cidade um clube de football destinado, por certo, a uma vida longa e plena de vitórias”, publicou o jornal A Tribuna na ocasião.

SAIBA MAIS Time dos Sonhos – A História Completa do Santos F.C., de Odir Cunha (Códex, 2003).

Primeiro time do Santos, em 1912.

Palma-mater de dom João, no Jardim Botânico.

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Abril 2012

om Pedro 1º preocupou-se quando, em 9 de abril de 1823, Recife ganhou um novo

jornal: A Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco. Seu fundador era o baiano Cipriano Barata, um velho conhecido pelo combate ao regime imperial, desde que foi estudar Medicina na Europa e voltou com ideais republicanos na bagagem. Além de atitudes pontuais contrárias ao governo, Barata havia feito parte de dois movimentos insurgentes: a Inconfidência Baiana, em 1798, e a Revolução Pernambucana, em 1817.

Nas páginas de A Sentinela da Liberdade, o editor hostilizava o governo, denunciava a tortura de presos políticos e fazia campanha pela autonomia das províncias. “Cipriano Barata foi uma das primeiras lideranças políticas em nível nacional logo após a Independência. Exerceu-a pelo carisma, convencimento e, sobretudo, pela imprensa”, diz

D

o que se colhe em abril

estação colheita

Caqui, graviola, kiwi, mexerica, maçã, manga.

o baú do Barão

Nossa homenagem a Aparício Torelly, o Barão de Itararé.

evar o teatro para o cinema, salas de vídeo, computadores e celulares, em qualquer

lugar do mundo. É esse o objetivo do ator, produtor e roteirista piauiense Franklin Pires. Conhecido no Piauí pela realização de paródias de filmes da saga hollywoodiana Crepúsculo, ele aproveita as facilidades da era digital para investir na produção audiovisual e divulgar seu trabalho.

Franklin começou a experimentar a mistura entre teatro e cinema com o infantil Franklinstein Júnior. “Desenvolvi uma animação para essa peça, feita quadro a quadro. Desenhei e pintei mais de mil quadros para fazer a sobreposição na tela”, explica.

Na sátira Corpúsculo, levou para o teatro projeções de paisagens do filme Crepúsculo. Mas foi com Eclampse (referência a Eclipse, terceiro filme da série hollywoodiana), que realmente se engajou na produção cinematográfica.

A receita bem-sucedida de comédia despretensiosa foi repetida no filme Mocambinho, também sucesso na internet e em salas de exibição montadas em teatros e casas de cultura. A opção pela exibição dos filmes (vanessa mendonça, de teresina-Pi – overmuNDo)

abriltambém tem

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Dia do TomateDia do Livro Infanto-JuvenilDia do Padroeiro dos CocheirosDia Nacional do CaratêDia do Padroeiro dos ChurrasqueirosDia do PatriarcaDia Nacional do JornalistaDia da NataçãoDia da BibliotecaDia da EngenhariaDia da Escola de SambaDia da ParteiraDia do Hino Nacional BrasileiroDia das AméricasDia Mundial do DesenhistaDia Nacional da VozDia do HemofílicoDia do AutorDia do ÍndioDia do DiplomataDia do MetalúrgicoDia Nacional do Agente de ViagemDia Nacional do ChoroDia do TalentoDia do ContadorDia do GoleiroDia do EmigranteDia do Cartão PostalDia da Padroeira dos BombeirosDia Nacional do Ferroviário

SAIBA MAIS Confira outras matérias sobre produção independente de teatro e cinema em www.overmundo.com.br.

(BH)

Produtor piauiense aposta no cinema para ganhar no teatro

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“Quem não tem calos é um desgraçado que desconhece o prazer de tirar os sapatos ao chegar em casa.”

27/4 dia mundi

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do teatro

o historiador Marco Morel, autor de Sentinela da Liberdade e Outros Escritos (Edusp, 2009).

Bastaram sete meses de publicação para que Barata fosse preso. Porém, mesmo de dentro da cela no Forte do Brum, no Recife, o revolucionário seguiu disparando, agora se valendo de outro jornal com um título peculiar: Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco, Atacada e Presa na Fortaleza de Brum por Ordem da Força Armada Reunida.

Logo Barata foi transferido para o Rio de Janeiro. Mas mesmo tão longe continuou criando novos jornais, batizados de acordo com a prisão em que estava. Só foi libertado em 1830, aos 68 anos. Retornou à Bahia, estabeleceu-se e, assim que teve oportunidade, fez nascer um novo periódico: A Sentinela da Liberdade na Guarita do Quartel-General de Pirajá.

fora dos cinemas se deve, segundo Franklin, aos horários oferecidos pelos proprietários de salas de projeção em Teresina. “Queriam me dar um horário impraticável, uma hora da tarde. Então, fomos para o teatro. E lotamos o Teatro 4 de Setembro, principal casa de espetáculos do Piauí”, comemora.

Apostando no êxito comercial de suas produções, Franklin já tem pronta a sua estratégia: “Os filmes servem para me divulgar. As pessoas vão ao teatro para ver o cara do filme. A bilheteria do cinema não vai dar o retorno. O resultado dos filmes está na bilheteria do teatro”, conclui.

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Sentinela da Liberdade não se calou nem na prisão

No site do ALMANAQuE, conheça outros episódios que envolvem a trajetória de Cipriano Barata.

Cenas dos filmes de Franklin Pires.

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Médico gaúcho desbancou tese da delinquência nata

relhas afastadas, queixo quadrado e saliente, barba rala, cabelos abundantes? Bandido! Era essa a conclusão de teorias da medicina do século 19, defendidas principalmente

pelo italiano Cesare Lombroso. Para ele, traços do rosto de uma pessoa seriam capazes de definir sua personalidade. Um jovem e dedicado médico do sul do Brasil, no entanto, resolveu ir a campo comprovar que a tese do “delinquente nato” não estava com nada.

O médico legista Sebastião Leão deixou incrível material na casa de detenção de Porto Alegre. Em 1897, duas décadas depois do lançamento de O Homem Delinquente na Itália, o gaúcho montou um laboratório fotográfico na penitenciária da cidade – alta tecnologia para a época. Junto com anotações das histórias pessoais, registrou um por um o rosto dos detentos. A conclusão do legista foi a que já esperava. Em vez de sinais nas características físicas dos presos, encontrou outros tipos de relação entre as pessoas e a marginalidade: ociosidade, questões psicológicas e fatores sociais, por exemplo. “O criminoso não difere do homem virtuoso se não porque não soube dominar suas paixões”, afirmou. E concluiu, contra a bem aceita tese da medicina positivista: “É o meio social que faz o criminoso”.

Sebastião Leão foi um dos fundadores da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, a terceira do País, e era chamado de “médico dos pobres” por atender de graça quem não podia pagar consulta. Ele próprio morreu sem nada, mas, contam os cronistas da época, teve velório acompanhado por milhares de pessoas.

SAIBA MAIS Visões do Cárcere, de Sandra Jatahy Pesavento (Zouk, 2009).

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7/4 dia mundial da saúde

s brasileiros nunca tinham visto nada parecido: de repente, São Paulo, Rio de

Janeiro, Goiás, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul ficaram às escuras ao mesmo tempo. Em 18 de abril de 1984, aconteceu o primeiro grande blecaute no País, por um defeito não bem esclarecido no sistema de energia elétrica. “Quarta-feira de trevas”, resumiu a revista Veja. Mal sabia-se que a próxima quarta também seria de escuridão.

Na semana seguinte, uma pane menor na energia aconteceu por duas horas em parte do Sudeste. Bem no 25 de abril de 1984, quando milhões de cidadãos esperavam ansiosamente a votação que decidiria se o Brasil poderia ir às urnas escolher o presidente da República pela primeira vez, após 20 anos de ditadura.

Cada um acompanhava como podia a votação da emenda Dante de Oliveira, que acontecia na Câmara dos Deputados lotada. Valia rádio, carros de som e boletins de sindicatos para apurar voto a voto. O escuro do fim da tarde que atrapalhou tudo foi só a primeira frustração do dia. No fim da votação, apesar de a maioria de 298 deputados ter optado pelo “sim”, faltaram 22 para aprovar a emenda. O jornalista Clóvis Rossi publicou no dia seguinte: “Quanto mais negra a noite, mais próximo é o amanhecer”.

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(NP)

No site do ALMANAQuE, leia outras matérias sobre o movimento das Diretas Já.

Blecaute antecipou a frustração pelas Diretas

Presidiários registrados por Sebastião Leão.

Congresso Nacional lamenta a reprovação da emenda das Diretas.

confira a resposta na página 26

de quem são estes olhos?

Olhe bem para este olhar e diga: te lembra Elvis Presley? Quando garoto, o dono

destes olhos foi apresentado no programa televisivo de Carlos Imperial como o Elvis

brasileiro. Magrela de Cachoeiro de Itapemirim, onde nasceu em 19 de abril de 1941,

teve uma banda no Rio de Janeiro ao lado de Tim Maia. Mas foi liderando outra

turma da pesada que ganhou a majestade. Já sabe quem é?

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Abril 2012

1 domingo Hugo de Grenoble2 segunda Francisco de Paula 3 terça Ricardo de Chichester4 quarta Isidoro de Sevilha5 quinta Vicente Ferrer6 sexta Guilherme de Aebelholt7 sábado João Batista de La Salle8 domingo Walter de Pontoise9 segunda Valdetrudes 10 terça Madalena de Canossa11 quarta Gema Galgani12 quinta Zenão de Verona13 sexta Martinho 1°14 sábado Ludovina de Sciedam15 domingo Anastácia16 segunda Bento João Labre17 terça Donnan18 quarta Apolônio19 quinta Expedito20 sexta Inês de Montepulciano21 sábado Beuno22 domingo Ferbuta23 segunda Jorge24 terça Ivo25 quarta Marcos26 quinta Anacleto27 sexta Zita28 sábado Pedro Chanel29 domingo Catarina de Sena30 segunda Adjutor

Touroregido pelo elemento terra, touro sem dúvida é o signo do pé no chão. determinação e pragmatismo são palavras-chave dos nativos, representados pelo animal do trabalho paciente. a maior especialidade dos taurinos é saber se adaptar às circunstâncias reais da vida, dedicando-se com afinco ao que pretendem mudar. Têm facilidade de desprendimento, mas preferem relações estáveis a aventuras amorosas.

21-4 a 20-5

aile agitado, pista fervendo. Lá pela uma hora da madrugada, as cortinas

do palco se abrem lentamente e... surpresa! “Aí as pessoas viam que não tinha orquestra nenhuma, era só música mecânica”, lembra aquele que é tido como o primeiro DJ de festas do Brasil, Osvaldo Pereira. No fim dos anos 1950, época das big bands, o paulistano teve a genial ideia que tornaria os bailes mais acessíveis: sem o cachê da banda, as festas dos clubes grã-finos poderiam ser frequentadas pelo pessoal da periferia.

Foi trabalhando em uma loja de equipamentos eletrônicos que o radialista adquiriu experiência para montar seu próprio toca-discos com amplificador. Estava pronta a orquestra invisível Let’s Dance – um dinossauro das pickups.

“Dance ao som de Osvaldo e sua... orquestra invisível”, anunciavam os cartazes. Em geral, com o complemento: “Não será permitida a entrada de cavalheiros sem gravata”. O pai

dos disc-jóqueis tinha agilidade para trocar os discos de Ray Conniff, Frank Sinatra, Ray Charles e Trio Ternura. Já uma parafernália que inventou para emendar as músicas não fez sucesso: “Os rapazes reclamaram que não conseguiam trocar de dama”, conta.

Residente em vários clubes da cidade por quase uma década, Osvaldo teve até auxiliares para entregar “circulares” nos points da cidade – a pré-história dos flyers de hoje. Engana-se quem pensa que era motivado pela grana extra das festas. O que ganhava dava no máximo para comprar novos discos e pagar carregadores de equipamento. “Ele quis dividir com o máximo de pessoas que ele pôde essa paixão que tinha”, esclarece a pesquisadora Claudia Assef.

Osvaldo só deixou as vitrolas para se focar no sustento da família. Mas, aos 75 anos, continua com um setlist na manga. Nestes tempos em que todo mundo ataca de DJ, o antecessor deles continua pronto para animar qualquer festa.

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SAIBA MAIS Todo DJ Já Sambou, de Claudia Assef (Conrad, 2003). No site do ALMANAQuE, acesse o trailer do documentário Maestro Invisível, de Alexandre de Melo.

20/4dia do disco

Osvaldo Pereira, o pai dos disc-jóqueis com seu dinossauro das pickups.

São JorgeCom a vida envolvida em misticismo, o soldado romano do século 3

chegou a entrar em uma lista da Igreja Católica de santos a serem desconsiderados, nos anos 1960. Dom Paulo Evaristo Arns interferiu, alegando sua popularidade. Ao papa, restou levar em conta a grande quantidade de apadrinhados pelo mártir: “Não podemos prejudicar nem a Inglaterra nem o Corinthians”.

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Fases da Lua1 . 2 . 3 . 4 . 5 . 6 . 7 . 8 . 9 . 10 . 11 . 12 . 13 . 14 . 15 . 16 . 17 . 18 . 19 . 20 . 21 . 22 . 23 . 24 . 25 . 26 . 27 . 28 . 29 . 30

cheia nova crescenteminguante

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ode-se dizer que a vida de Duque divide-se em antes e depois do maxixe, tanto quanto a história do maxixe divide-se entre

antes e depois de Duque. Não que ele tenha alguma coisa a ver com os círculos populares onde o ritmo nasceu, no Rio de Janeiro. Nessa época, o boêmio formava-se dentista na Bahia e abria seu próprio consultório. De ducado, tinha só o apelido e o nome pomposo: Antonio Lopes de Amorim Diniz. Vinha de família simples e, aos 20 anos, largou tudo para tentar a vida no Rio de Janeiro.

Duque perdeu tudo o que tinha no jogo, mas descolou um serviço de representante comercial na França. Foi frequentando a vida noturna de Paris que passou a se apresentar como dançarino. Ao representar o tango argentino, lembrou-se do ritmo brasileiro contemporâneo ao de Gardel. Em 1906, o maxixe “fazia sua primeira apresentação internacional, em Paris, antes mesmo de conseguir, no Brasil, que alguém disciplinasse os passos da dança”, anotou o pesquisador José Ramos Tinhorão.

É verdade que Duque criou seu próprio jeito estilizado de bailar. E também que, sendo branco, de casaca e cartola, elevou o status do ritmo no Brasil, considerado vulgar e pouco sofisticado. Suas poses com a parceira Gaby estampavam cartões-postais nas tabacarias de Paris, onde abriu a própria casa de espetáculos e uma escola de dança. Rodou o mundo em apresentações. Influente, sua biografia guarda ainda outro mérito: foi quem conseguiu patrocínio para os Oito Batutas tocarem choro na Europa, quando poucos confiavam no grupo de Donga e Pixinguinha.

Dentista baiano conquistou Paris dançando maxixe

(NP)

No site do ALMANAQuE, leia outras curiosidades sobre o maxixe.

Origem da expressãoIDEIA DE JERICO Jerico é um regionalismo nordestino para jumento. a palavra consta no Aurélio como “de origem controversa”. como na linguagem figurativa o equus asinus – ou asno, mula, jumento – é associado a pouca inteligência, dizer que alguém tem uma ideia dessas não é lá nenhum elogio.

á quem more no planeta Terra, mas viva com a cabeça longe, em outros planetas. E, para manter contatos imediatos com seres de outras terras,

Peruíbe, no litoral paulista, é a recomendação do ufólogo Paulo Mesquita. Os relatos de objetos voadores não identificados e seres com olhos imensos rondando as praias da região são antigos. Tanto que muitos adeptos da ufologia decidiram armar barraca por ali. Para facilitar a vida de quem viaja para ver de perto os viajantes do espaço nasceu o primeiro roteiro turístico ufológico do País. Tudo com muita organização: ônibus para buscar turistas nos hotéis, guias treinados e placas indicativas espalhadas pela cidade.

Sete pontos fazem parte do roteiro. Na praia de Guaraú, por exemplo, muitas pessoas relataram ter visto luzes misteriosas no céu e aparição de óvnis a curta distância. Alguns extraterrestres até se atreveram a dar um mergulho no mar, garantem os guias turísticos. Na Pedra da Serpente, não faltam testemunhas que viram, com os olhos que a terra há de comer, bolas de luz e estranhos seres.

O bairro São João Batista é outro cartão postal do roteiro. Ali Paulo Mesquita encontrou uma marca de quase 15 metros, possível sinal do pouso de um óvni. Segundo o ufólogo, Peruíbe é tão atrativa para os visitantes extraterrenos porque se encontra em uma área de Mata Atlântica com fauna e flora preservadas e muitas riquezas minerais. Aliás, a hipótese é mesmo esta: que as “entidades biológicas” estariam rondando por ali em busca de energias renováveis.

ETs de Peruíbe têm público garantido com roteiro ufológico

(laís Duarte)

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SAIBA MAIS Site da prefeitura de Peruíbe, com informações sobre o roteiro ufológico: www.peruibe.sp.gov.br.

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confira a resposta na página 26

Pai italiano, mãe brasileira. A simpática garota aqui ao lado nasceu no interior de São Paulo em 1° de abril de 1949, estudou em internatos e fugiu de casa para se formar bióloga. Mas não é pela zoologia que você a conhece. Ela enveredou pelo jornalismo e hoje marca presença de segunda a sexta na televisão, ao lado de um fiel papagaio.

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Para o New York Times, ele foi “um dos mais importantes pianistas do mundo”. Para o Washington Post, “um homem nascido para fazer grandes coisas ao piano”. Ao longo de uma fulgurante carreira,

João Carlos Martins garantiu lugar de destaque na música erudita mundial. Só não esperava que suas mãos, antes capazes de tocar até 20 notas em um segundo, perderiam parte significativa dos

movimentos numa sucessão de infortúnios. Aos 64 anos, depois de uma lesão, um assalto e cirurgias frustradas, encontrou forças para se reinventar. Sem poder contar com o ataque certeiro de seus

dedos sobre as teclas do piano, enveredou pela regência. “São coisas completamente diferentes, mas a essência não muda. Para tocar ou reger é preciso ter a música dentro de você.” Em 2004, criou a maior orquestra privada do País, a Bachiana Filarmônica. E não parou por aí: semeou dezenas

de orquestras em pequenas cidades e periferias. Fez a música clássica chegar a lugares antes inimagináveis. Hoje, mesmo sem poder segurar a batuta ou sequer virar as páginas da partitura, segue na ativa, regendo, espalhando os seus projetos ou ensinando crianças da Fundação Casa,

a antiga Febem: “O segredo é ter disciplina de atleta e alma de poeta”.

JOÃO CARLOS MARTINS

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A música está em mim

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Talvez você seja um dos poucos nomes bem conhecidos da músi-ca clássica no Brasil. E o que mais foge dos padrões de apresenta-ções convencionais. A música erudita não tem limites de formatos e locais? Um amigo de um instituto de pesquisa me contou que foi feito um questionário sobre cultura e, dentro dele, perguntavam o que personificava a palavra maestro. Oitenta por cento das respostas faziam referência a mim: “O cara que deu depoimento na novela”, “o que perdeu a mão”, “o da su-peração”, “o que era pianista” etc. Quando eu viajo de avião tenho que tirar dezenas de fotos com as pessoas no aeroporto, sou parado em todos os lugares. Tudo isso por causa da televisão. Eu acho que os profissionais da música clássica não devem mesmo ficar na torre de marfim. É possível sair sem agredir o patrimônio. Perante a Deus, somos todos iguais. Várias pessoas já fizeram isso. Maestros como Julio Medaglia, que levou o programa Opus 7 para a televisão nos anos 1960; Artur Moreira Lima, que já foi tocar até em aldeias indígenas; Diogo Pacheco, que levava Elizeth Cardoso para cantar as Bachianas Brasileiras. Se todos os artistas par-tissem para a mesma esperança, a música clás-sica iria longe.

Você acredita que a música erudita pode chegar efe-tivamente a todas as camadas sociais? Sem dúvida. Quando acaba um concerto clássico nas perife-rias, você se sente quase um Elvis Presley, com todo mundo pedindo pra tirar foto. Quando chego numa favela, eu digo: “Tem música que vocês ouvem hoje, mas que daqui a quatro anos não vão lembrar mais. Agora vou cantar o pri-meiro compasso de uma música escrita há mais de 200 anos e vocês vão cantar o segundo”. To-do mundo fica olhando pra mim. E eu faço as primeiras notas da Pequena Serenata Noturna, de Mozart. Eles imediatamente respondem o resto. Essa é a força da música clássica. Quando você entra num palco, numa cidade pequena, desce do ônibus ou do avião e pensa que o seu coração vai se encontrar com o deles, aquilo acontece. Hoje os músicos da minha Bachiana podem falar isso: não há um concerto em que, no fim, o pú-blico não esteja chorando de emoção. Tem uma frase de um grande compositor que diz: “A música clássica explica que Deus existe”.

Você foi tão importante como pianista quanto é como maestro. Co-mo é a adaptação do piano para a regência? São coisas muito dife-rentes? Qual é a diferença de tocar piano e reger? Na verdade, é a mesma coisa que uma pessoa acostumada a jogar sinuca trocar o jogo por golfe: tem que acertar a bola num buraqui-nho. São coisas completamente diferentes, mas o princípio não muda. Da mesma maneira, para tocar ou para reger é preciso ter a música dentro de você. O problema na minha mão que me impediu de tocar piano também me impede de virar as páginas da partitura. Por isso eu decoro para real-mente ter o concerto na cabeça. Acordo às 5h30 da manhã,

ando e corro pela casa, fazendo exercício, ao mesmo tempo que me esforço para ir decorando as partituras todas do pró-ximo concerto que farei. De noite, vou regendo meio sonâm-bulo o que decorei de manhã. Às 4 horas da madrugada, aqui-lo está pregado na minha mente como se fosse numa parede. O subconsciente ajuda muito. Depois, na hora de reger, eu perco dois quilos e meio só durante um concerto. A música está em mim. Além disso, no momento em que eu tive uma duplicidade de adversidades, quer dizer, adversidades que atingiram a alma e o físico, eu tive uma resolução. Aos 64 anos, iniciei uma nova carreira como maestro e decidi: eu continuaria buscando a excelência musical, desde que assu-misse a responsabilidade social.

Quais foram os planos que você traçou a partir daí e o que foi possível realizar? O primeiro sonho que eu tinha era construir a primei-ra orquestra brasileira de ponta da iniciativa privada. Aconte-

ceu porque o Sesi acabou adotando a Bachiana. O segundo sonho era ter uma sede perto do centro de São Paulo para formar a primeira or-questra de meninos do centro da cidade – todo mundo pensa nas periferias de Heliópolis, Pa-raisópolis, onde há trabalhos extraordinários, mas os garotos do centro ficam esquecidos. O terceiro sonho era que a minha orquestra fosse um cartão de visitas do Brasil no exterior. Pela quinta vez pisamos em Nova Iorque, no Carne-gie Hall e no Lincoln Center. O quarto era o projeto para formar mil orquestras de corda no Brasil, que também está sendo lançado agora.

Como você fez para montar de repente uma grande orquestra, a maior do País entre as privadas? Virei maestro antes mesmo de ter um grupo de mú-sicos para reger. Primeiro fui convidado de or-questras no exterior, para depois realizar o so-nho de montar uma grande orquestra privada brasileira. Juntei os primeiros músicos da Bachiana e a gente ensaiava na minha casa. Co-mo moro em prédio, pensei que os vizinhos fos-

sem reclamar, mas o pessoal acabava abrindo as janelas dos apartamentos na hora do ensaio. Quando comecei a reger, às ve-zes não sabia como era um gesto ou outro, e os músicos sempre me ajudaram. Tudo o que era arrecadado era para pagar os músi-cos. E eles perceberam a seriedade do trabalho. Fomos fazendo concertos à medida que conseguíamos patrocínio. Hoje tenho orgulho de ter os músicos proporcionalmente mais bem pagos do Brasil. Tenho uma relação de amor com a orquestra.

O que os projetos de inclusão social da Bachiana ensinaram? A pri-meira leva de alunos que recebemos tinha 45 meninos, que agora estão com 20 e poucos anos. Resultado: todos são profis-sionais. O segredo é ter disciplina de atleta e alma de poeta. No começo, eu perguntava para cada jovem quanto tempo ele po-dia estudar. Se me dissesse que duas horas, eu combinava: “Nem um único dia você vai estudar menos de uma hora e 50

“Se os brasileirosde todos ossegmentos tivessem a

oportunidade de estudar música,

como os alemães, por exemplo, nós

teríamos 10 Filarmônicas de

Berlim.”

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anos ele teve um câncer violento e os médicos lhe deram seis meses de vida. Ele respondeu: “Isso porque vocês não me conhe-cem...”. Morreu aos 102, de acidente. Agora que estou com 71 anos, meu desejo é continuar como meu pai.

Como começou seu envolvimento com a Vai-Vai? Eles me procura-ram para ser o enredo da escola, mas eu não aceitei. Achei que se colocassem música clássica na avenida, iam para o grupo de acesso. Depois um amigo me convenceu que eu tinha a emo-ção que um enredo precisava e voltei a procurar os diretores da escola. “Rumo ao décimo quarto campeonato!”, disse. Nós íamos desfilar no dia 5 de março, às seis da manhã. O diretor pediu que eu fizesse a fala de incentivo na concentração no dia 4, às 23h. Eu falei no microfone: “Tenho que contar uma coisa

pra vocês. A maior sorte que nós ti-vemos na vida é desfilar no dia 5. Es-se sempre foi meu dia de sorte pra ganhar concursos de música”. Todo mundo aplaudiu. Aí me perguntaram qual tinha sido o primeiro concurso que eu tinha ganhado no dia 5. “Ama-nhã!”, respondi. Depois fiz algumas coisas com eles. Levei 10 percussio-nistas da escola, todos de casaca, pa-ra tocar com a orquestra Bachiana em Nova Iorque, no Lincoln Center. É incrível o talento daqueles músi-cos que nunca estudaram uma nota. Além do próprio samba-enredo har-monizado, fizemos o Trenzinho Cai-pira. Quando entrou a bateria no meio da música, a sala de concerto começou a gritar e a aplaudir.

Até por não sermos um país com tradi-ção na música clássica, esse tipo de ino-vação pode nos fortalecer? Sim. O bra-sileiro em si é um dos povos mais musicais da humanidade. Mas, para cada 100 alemães que podem estu-dar música, um brasileiro pode. O que nos falta é acesso a esse univer-

so. Villa-Lobos conseguiu isso, levando música para as escolas. Depois o regime militar tirou e agora a música está voltando para o currículo escolar, a partir de 2012. No primeiro ano não será perceptível, mas daqui a uns quatro anos certamente você vai ver que qualquer criança brasileira saberá cantar o hino nacional. O sonho de Villa-Lobos está sendo revitalizado. Uma vez fui lançar um projeto de orquestra na cidade de Itapetinin-ga e descobri que exatamente 80 anos e um dia antes Villa-Lo-bos escreveu nessa cidade o projeto dele de corais. Tenho guar-dada a carta com a caligrafia dele, em que diz: “Não é um povo inculto que irá julgar as artes. São as artes que mostram a cul-tura de um povo”. Se os brasileiros de todos os segmentos ti-vessem a oportunidade de estudar música como os alemães, por exemplo, nós teríamos 10 Filarmônicas de Berlim.

minutos, e nunca mais de duas horas e 10 minutos”. Seis me-ses depois, ele me pedia pra estudar duas horas e meia, porque criou a disciplina. Depois que se estabelece a disciplina na ca-beça da criança, você pode checar até onde vai o talento. Aí vo-cê vai moldando aqueles que serão solistas incríveis e os que não poderão alçar muitos voos, mas que terão a música dentro de si. Crescemos bastante e já temos mais de 10 núcleos, em cidades como Guarulhos, Suzano, Ermelino Matarazzo, Jaraguá, Osasco, Votuporanga, Cariacica, Contagem. Criamos uma me-todologia com a qual o aluno aprende a tocar violino como se estivesse aprendendo a andar de bicicleta. No projeto que inau-guramos agora, para o surgimento de mil novas orquestras, criamos também um curso de formação de professores.

Que diferença a música erudita é capaz de fazer na vida dos jovens en-volvidos? Tem o caso de uma menina que foi estudar música em Nova Ior-que. Ela não conhecia a cidade, e se perdeu. Em determinado momento, perguntou para uma velhinha na rua como poderia chegar ao Carnegie Hall. E a velhinha respondeu: “Estu-dando”. É isso mesmo. Alguns vão ser grandes por esse caminho. Ou-tros serão músicos profissionais, que também precisam ter disciplina, mas aliada a uma pequena esperança e à humildade de saber que não serão as grandes estrelas, mas sem eles a mú-sica não existe. Muitos poderão ter a música como hobby, o que propor-ciona os mesmos benefícios de qual-quer esporte, com a diferença de que não há competição. As pessoas en-tendem o que quer dizer a palavra amor. A maioria dos jovens simples-mente estará apta a fazer parte de um público, o que ajuda a formar uma nação mais ligada às artes.

A Música Venceu é o título do samba--enredo de 2011 da Vai-Vai sobre sua história e o nome do projeto de inclusão da Bachiana. Na sua trajetória, você se lembra de alguma vitória memorável? Tenho casos diários. Uma vez cheguei à Fundação Casa, onde dou aula, numa quinta--feira. Um pai me procurou e disse: “Meu filho teve a liberdade na segunda-feira, mas pediu para ficar preso mais três dias para falar obrigado para o senhor”. Esses mesmos jovens da Funda-ção Casa, no Natal, deixaram uma carta na minha portaria, di-zendo: “Tio Maestro, feliz Natal. Tenha certeza: a música venceu o crime”. Quando vejo coisas assim, percebo que estou cumprin-do uma missão. Hoje tenho o imóvel onde moro há 40 anos, não me preocupo com questões financeiras. Eu só quero viver. Quando chego em uma cidade como Cariacica, formo uma or-questra de corda e trago para tocar na Sala São Paulo, vejo o bri-lho das crianças. Nesse momento, penso no meu pai. Aos 36

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de abril de 1921, mas mudou-se com 5 anos para o Rio de Janeiro. Na adolescência, suas brincadeiras teatrais foram se transformando em algo mais sério. Produzia pequenas en-cenações com os amigos do bairro. Já com 20 e poucos anos passou a se dedicar aos teatros de bonecos. Bolava histórias completas e apresentava-se onde fosse possível.

De tanto insistir, conseguiu uma bolsa do governo francês para estudar artes cênicas em Paris. Lá, foi aluna dos diretores Jean-Louis Barrault e Rudolf Laban e do mímico Étienne Decroux. Na volta, trouxe novos conceitos de improvisação e um amor ainda maior pelo teatro. Sentia-se preparada para criar uma companhia que indicaria novas direções ao teatro nacional.

Uma revolução chamada TabladoO Teatro Tablado nasceu para ditar um novo nível de qualida-de para a dramaturgia infantil. A primeira peça demonstrava qual seria o perfeccionismo exigido por Maria Clara dali para a frente, ao pedir que Cecília Meirelles traduzisse O Moço

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uando era pequena, Maria Clara Machado ado-rava pegar panos, lençóis e roupas dos mais velhos para montar peças para a família. O es-critor Aníbal Machado incentivava a filha no

intento artístico. Naquelas tardes de domingo nasciam, de forma despretensiosa, as primeiras apresentações daquela que viria a ser a maior autora de teatro para crianças do Brasil. Em 50 anos de atuação à frente do Tablado, Maria Clara criou e dirigiu 32 peças e revolucionou a forma de se comunicar com as crianças.

“Ela é o nosso Chaplin. Sabe contar histórias para todas as idades de uma maneira lúdica e transformadora”, definiu o ator Ernesto Piccolo. Sua obra cênica é considerada um divisor estético na produção teatral voltada aos pequenos. “O seu segredo de sucesso era o respeito pelo público-alvo. Antes dela, o teatro infantil brasileiro era um horror”, afirma a crítica Barbara Heliodora.

Maria Clara Machado nasceu em Belo Horizonte, em 3

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MARIA CLARA MACHADO

À frente de um dos principais grupos teatrais do País durante 50 anos, a autora e diretora empenhou-se dia após dia em criar uma cara moderna e sensível para o teatro dedicado ao público infantil, antes marcado por textos pobres e montagens mambembes. Criou peças encenadas no mundo inteiro, referências obrigatórias para quem se dedica ao assunto.

Um outro olhar sobre o tablado

Por Bruno Hoffmann

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O melhor produto do Brasil é o brasileiroCÂMARA CASCUDO

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que passaram pelas aulas lembram-se de cor: “O pintor lida com tinta, os músicos com instrumentos, os escritores com palavras. O teatro lida com gente”.

Seus textos eram audaciosos, sensíveis e mordazes. A peça Aprendiz de Feiticeiro, de 1968, teve até problema com a censura. Havia um personagem chamado Tenente Perseguição. Os militares não gostaram nada do momento em que surgia a frase: “Ao tomar uma fórmula que faria aflorar o lado mais forte da mente, o tenente acabou fican-do com uma cabeça de jumento”.

Durante os anos 1960 e comecinho dos 1970 também escre-veu peças adultas, como As Interferências (1966) e Um Tango Argentino (1972). Mas a sua vocação era mesmo se comunicar com a criançada. Acreditava que a arte tinha papel primordial para a educação dos mais jovens. “Educar é dar à criança ins-trumentos para ela buscar sozinha seus caminhos. O teatro tem força para ajudar nesse processo.”

A dramaturga morreu em 30 de abril de 2001, aos 80 anos. Anos antes, Carlos Drummond de Andrade já havia definido o seu principal legado: “Clara nos ensina a amar nossos seme-lhantes sem deixar de sorrir de suas bobagens, e a amá-los até mesmo em função disso. Ela revelou-se dona da mais alta qualidade estética: a imaginação”. E o escritor e crítico de arte Ricardo Voltolini completou: “Maria Clara Machado não inventou o teatro infantil. Mas é como se tivesse inventado”.

Bom e Obediente. Nos anos seguintes, Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar e João Cabral de Melo Neto traduziriam textos especialmente para a companhia.

O Tablado realmente chamou a atenção em 1955, quan-do entrou em cartaz Pluft, O Fantasminha, que viria a ser considerada uma obra-prima do teatro nacional, traduzida em oito idiomas. “A peça está para o teatro infantil como Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, está para o adul-to. Com sua qualidade poética e a liberdade de linguagem, Maria Clara ultrapassou o realismo ou o infantilismo que havia no gênero”, defende o diretor de teatro Amir Haddad. Outras peças de sucesso viriam na esteira: A Bruxinha Que Era Boa, O Cavalinho Azul, A Menina e o Vento.

O Tablado também lançou muita gente conhecida: Marieta Severo, Miguel Falabella, Louise Cardoso, Wolf Maia. Ao todo, foram mais de 5 mil atores formados pe-las oficinas da companhia. Mães costumavam matricular seus filhos com a esperança de vê-los na próxima novela da Globo. Maria Clara advertia: “Aqui não é porta para a tevê. Se quiser continuar mesmo assim, tudo bem”. Além de atores, o Tablado também formou gerações de profis-sionais de iluminação, cenografia e sonoplastia.

“O teatro lida com gente”A relação de Maria Clara com os alunos era entusiasmada, mas também de alta cobrança. Estava sempre em cima dos estudantes para dar broncas e indicar o jeito certo de fazer os exercícios. Ela costumava ensinar uma lição que muitos dos

No site do AlmANAque, assista a entrevistas da dramaturga, além de uma matéria produzida pelo programa AlmANAque BrAsil.

Maria Clara costumava ensinar a lição aos mais de 5 mil alunos que passaram pelo Tablado: “O pintor lida com tinta, os músicos com instrumentos, os escritores com palavras. O teatro lida com gente”.

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“Um trem de ferro é uma coisa mecânica, mas atravessa

a noite, a madrugada, o dia, atravessou minha vida e virou

só sentimento”, poetizou a mineira Adélia Prado. O escritor

Rubem Alves foi além: “Acho que devia ser assim: a pessoa

chegava, dizendo que queria andar de trem. Aí a locomotiva

apitava seu apito de vapor, cobre e dor. Aqueles cujos olhos

ficassem molhados de lágrimas, esses poderiam entrar. Os

outros ganhavam uma viagem gratuita para Orlando”. Quem

for do time do cronista, que vire a página, pois o trem já vai

partir para outros tempos e estações.

Do Trenzinho Caipira de Villa-Lobos ao Trem das Onze de Adoniran Barbosa, definitivamente a ferrovia entrou para o imaginário do nosso povo tanto quanto foi importante para o desenvolvimento do Brasil. Aqui, voltamos às lembranças de quando nos transportes imperavam vagões, trilhos e maquinistas.

raçamos nossos caminhos com ferro no

chão desde uma corajosa empreitada do

barão de Mauá, em 1854. A data em que a

locomotiva Baronesa entrou nos trilhos,

30 de abril, ficou oficializada como Dia do Ferroviário –

homenagem aos dedicados funcionários que

acompanharam a evolução dos trens, fossem a vapor,

carvão ou diesel. A expansão da primeira Estrada de

Petrópolis não veio, mas outras ferrovias cortaram o

País, conectando o mundo rural e o mundo urbano.

Ferrovia Mogiana, Sorocabana, do Ceará, Trem do

Sertão, Trem da Morte, Central do Brasil. As rotas das

ferrovias marcaram a história não só por acompanhar os

interesses comerciais de cada época e região, a começar

pelo escoamento do café do Sudeste. Mais do que

isso: o apito, as composições de passageiros e

as estações têm lugar de destaque na memória

de quem viveu o auge do meio de transporte.

“O som e a sensação do trem de ferro

foram os únicos produtos da Revolução

Industrial completamente absorvidos

pela poesia e pela cultura”,

escreveu o historiador inglês

Eric Hobsbawn.

Texto: Natália PesciottaArte: Guilherme Resende

Adoniran não

pegava, mas o

Trem das Onze

existiuA linha do Tramway que ia da serra da

Cantareira ao centro de São Paulo já tinha

os dias contados, mas deu tempo de ser

imortalizada um ano antes de ser extinta,

em 1965. Que Adoniran Barbosa morasse em

Jaçanã não passava de invenção poética, mas o tal Trem das

Onze existiu mesmo. O percurso de ferro era antigo, feito

para transportar ao centro dutos de água. Com o crescimento

da capital paulista, a periférica zona norte passou a ser habitada

e passageiros usavam o transporte para ir trabalhar. Na época

da música, trem já não era nada chique. Ter a roupa queimada

pela fuligem denunciava que o sujeito era “suburbano”.

Um país nos trilhosUm país nos trilhosUm país nos trilhos

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DAMA DA CENTRAL Aracy de Almeida era uma das artistas que viajavam no “avião dos covardes”, como chamava a estrada de ferro que ligava o Rio de Janeiro a São Paulo. Quando morou na capital paulista, a cantora apelidada de Dama do Encantado – referência ao bairro carioca em que nasceu – fazia o trajeto da Barra Funda à Central do Brasil tantas vezes que ganhou outra alcunha: Dama da Central. O pai de Aracy era maquinista e chefe da famosa estação carioca.

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Cantareira ao centro de São Paulo já tinha

os dias contados, mas deu tempo de ser

imortalizada um ano antes de ser extinta,

em 1965. Que Adoniran Barbosa morasse em

Jaçanã não passava de invenção poética, mas o tal Trem das

Onze existiu mesmo. O percurso de ferro era antigo, feito

para transportar ao centro dutos de água. Com o crescimento

da capital paulista, a periférica zona norte passou a ser habitada

e passageiros usavam o transporte para ir trabalhar. Na época

da música, trem já não era nada chique. Ter a roupa queimada

pela fuligem denunciava que o sujeito era “suburbano”.

Na cabine, Poetinha compôs e namorouVinicius de Moraes era outro frequentador quase cativo da Santa Cruz, linha noturna de trem entre Rio e São Paulo nos anos 1960. Foi em uma das cabines pomposas que compôs o samba Formosa, com Baden Powell. As viagens lhe renderam até um romance. Conheceu a mãe de sua filha caçula no Santa Cruz. O jornalista José Castello narra o encontro com Cristina Gurjão na biografia Vinicius de Moraes – O Poeta da Paixão: “Cristina volta para sua cabine (...) Abre novamente a porta e vê, então, a porta da cabine de Vinicius entreaberta. (...) Os dois amanhecem juntos. A noite é inesquecível”.

Guarde seu lugar, mas não use o jornalO rigoroso regulamento da Central do Brasil, ferrovia que ligava São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro entre 1858 e 1969, estipulava desde as normas para carros fúnebres ou a venda de meia-entrada até o comportamento nos vagões. Algumas regras da época:

- Pessoas que não podem viajar: as embriagadas, as pessoas indecentes ou inconvenientemente trajadas.

- Meio bilhete: aos menores de um metro de altura serão vendidas meias passagens.

- Ocupação dos lugares: o passageiro, retirando-se precariamente do assento, tem o direito de o reocupar, uma vez que tenha deixado sobre ele um objeto qualquer, com exceção de jornais e revistas.

Sem trem durante a semana, não tinha samba no domingo Rio de Janeiro, estação dom Pedro 2°, mais conhecida como Central do Brasil. Desde às 4h da tarde avistava-se na plataforma uma gente com tamborim e pandeiros debaixo do braço. Todos sabiam: o trem combinado era o das 6h04 (nem um minuto a mais, nem a menos). Paulo da Portela, o fundador da escola de samba, explicou sobre o encontro de fim de tarde nos anos 1920: “O carro de prefixo Deodoro era a sede móvel da Portela, a sede volante. As pessoas iam de Oswaldo Cruz até a Central pra poder voltar junto. O carro da Central era sempre dos amigos. Ali no trem passávamos os sambas. Quando chegava domingo, grande parte já conhecia de cor”.

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MUITA LENHA E... AREIA Os trechos de serra sempre foram onde as locomotivas a vapor mais consumiam lenha, soltando espessos rolos de fumaça para o alto. E também onde mais se gastava areia. Esse outro elemento indispensável não tinha nada a ver com combustão: um dispositivo da locomotiva jogava areia nos trilhos para que as rodas de ferro não patinassem em trechos inclinados.

Uma esquina nas montanhasTrês montanhas e um trem a vapor, em poucas linhas. Não à toa o singelo desenho feito por Milton Nascimento na capa do disco Geraes, de 1976, é considerado uma espécie de símbolo do mineiro Clube da Esquina. O movimento musical dos anos 1970 coleciona canções com o tema: Trem de Doido, O Trem Azul, Encontros e Despedidas, Barulho de Trem, Roupa Nova. O escritor Jorge Fernandes dos Santos sentenciou: “Todo mineiro tem um trem de ferro apitando nas veias, uma montanha brilhando nos olhos e uma banda tocando nos ouvidos”.

TREM DE MINEIRO Trem bão, trem de doido. Qualquer brasileiro é capaz de reconhecer um mineiro pelo uso da palavra “trem” como sinônimo para “coisa”. Há quem ironize: o mineiro, na estação, pega os trens pra partir quando a coisa está chegando. Pois então saiba: o dicionário dá alguma razão para os cidadãos de Minas Gerais. Em 10 significados para a palavra, apenas no oitavo o Aurélio aponta o sentido de meio de

transporte para o termo, como um brasileirismo. O primeiro? “ Conjunto de objetos que formam a bagagem

de um viajante”.

Em Ponta de Areia, viúva inspirou compositor-jornalistaComo jornalista, o principal parceiro de Milton Nascimento publicou na revista O Cruzeiro uma reportagem sobre a desativação da ferrovia Bahia-Minas. Fernando Brant narrava comovente encontro com a viúva de um maquinista, em 1973: “Máquina é pra rodar e maquinista é pra morrer”, dizia o seu marido, Joaquim Bitu, o mais famoso e querido maquinista da região.

O texto seguia com dona Rosaura, às lágrimas, lembrando o tempo em que o apito do trem anunciava que logo o marido contornaria gloriosamente a praça de Ponta de Areia (subúrbio de Caravelas, Bahia), acenando para casa.

A matéria foi inspiração para a nostálgica canção do jovem repórter. Ponta de Areia traduz o sentimento comum a lugarejos onde a estrada de ferro acabou coberta pelo mato: Velho maquinista com seu boné / Lembra do povo alegre que vinha cortejar / Maria fumaça não canta mais / Para moças, flores, janelas e quintais / Na praça vazia, um grito, um ai / Casas esquecidas, viúvas nos portais.

Mania de Tuhu virou sua obra-primaNão faltou quem tentasse reproduzir, nas artes, os sons do trem. Desde o Café com pão / Café com pão / Café com pão de Manuel Bandeira e Tom Jobim, em Trem de Ferro, até o Que já vem, que já vem que já vem de Chico Buarque em Pedro Pedreiro, passando por Luiz Gonzaga em De Teresina a São Luís: Tanto queima como atrasa / Tanto teima quanto atrasa. Talvez a mais incrível e revolucionária seja o Trenzinho Caipira, de Heitor Villa-Lobos, que colocou uma orquestra inteira para imitar o meio de transporte na Bachiana n°3. Pudera: imitar barulho de trem era o passatempo preferido do maestro desde a infância. Quando pequeno, a mania lhe rendeu até um apelido: em casa só o chamavam de Tuhu.

QUE HORAS SÃO? No interior de São Paulo, os moradores das cidades por onde passavam os trilhos da Companhia Paulista sabiam: quando ouvia-se o trem era hora de acertar o relógio. Na virada para o século 20, não tinha quem ouvisse o trem passando e deixasse de conferir se o relógio no pulso marcava o horário correto. A pontualidade britânica ficou na memória como principal marca da companhia, herança dos ingleses da São Paulo Railway.

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Olha o trem! Maxambomba Foi assim que ficaram conhecidos os primeiros trens urbanos do Brasil, que ganharam os trilhos do Recife em 1867. O nome um tanto peculiar é resultado do

abrasileiramento do tipo de motor dos veículos: machine pump (bomba mecânica, em inglês).

Carmen Miranda, Dircinha Batista e Mikado 282 As primeiras marias-fumaças brasileiras foram feitas em sigilo. O País vivia crise de abastecimento durante a Segunda Guerra Mundial e oficinas de reparo fabricaram sem alarde máquinas com material reciclado. Circularam em Minas Gerais e Paraná.

Trem húngaro Chamado “avião sobre rodas”, pela velocidade, teve várias unidades trocadas com a Hungria por sacas de café em 1973. Operavam em São Paulo, saindo da capital para o interior e para o litoral (quando a serra tornava a tal rapidez bem relativa).

Trem de Prata Glamurosa composição dos anos 1990. Com ambientes luxuosos e românticos, retomava o percurso ferroviário entre Rio de Janeiro e São Paulo.

Morcega Ferroviários e usuários da estrada de ferro Mogiana conheciam as locomotivas por apelidos carinhosos: Carretel, Sanfoninha, Sanfonão, Pullman, Camela, Raposa, Panco. A Morcega era chamada assim pelos dois grandes defletores de fumaça na frente, parecendo escuras asas abertas.

Baronesa A primeira locomotiva a andar em trilhos brasileiros recebeu carinhoso apelido em homenagem a seu idealizador. Na inauguração da ferrovia de Petrópolis, em 1854, comentava-se que o empresário Irineu Evangelista receberia de dom Pedro 2° o título de barão de Mauá (hoje nome do porto próximo à estação pioneira).

Coronel Church Locomotiva aventureira, recebeu missão impossível: desbravar a floresta Amazônica, ligando Brasil e Bolívia. Levava o nome do especialista ferroviário trazido de Nova Iorque para a empreitada. A malfadada ferrovia Madeira-Mamoré fazia parte de um acordo entre Brasil e Bolívia, o mesmo que concedeu para o lado de cá o território do Acre.

A quem não viveu os momentos áureos dos trens de passageiros, é necessário esclarecer: nem só de maquinista se fazia uma ferrovia. Confira as funções dos profissionais dos velhos tempos.

Chefe da estação Autorizava o embarque e desembarque de passageiros e coordenava a saída dos trens.

Guarda-trem Postado no último vagão, observava a ordem do chefe da estação e acenava – com bandeira verde, de dia; ou lampião de luz verde, de noite –, autorizando a partida do maquinista.

Maquinista Conduzia o trem. Plano de carreira: • maquinista de manobra (nos pátios ferroviários) • maquinista de trem de subúrbio • maquinista de grandes percursos

Ajudante do trem Anunciava para os passageiros o nome das estações.

Chefe do trem Viajava no vagão das bagagens, o primeiro depois da locomotiva. Tinha como tarefa coordenar os demais funcionários e o andamento da viagem. Em algumas companhias, dava dois apitos a cada parada.

Picotador Validava com um furador o bilhete de cada passageiro do vagão, prestando atenção em espertinhos sem passagem que tentavam driblar a cobrança.

Ferromoças Conhecidas pela elegância e equilíbrio, serviam os passageiros nos chiques vagões-restaurante dos trens de longo percurso.

Profissão:

ferroviárioProfissão:

ferroviárioProfissão:

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SAIBA MAIS As Ferrovias do Brasil, de João Emilio Gerodetti e Carlos Cornejo (Solaris, 2005). Leia lembranças de passageiros de trens no blog Trens da Vida (trensdavida.blogspot.com).

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Rua Haddock Lobo, 337 – 3º andar - Cerqueira CésarSão Paulo - SP CEP 01414-001 • Tel: (11) 3218-2222 E-mail: [email protected] • Twitter: @DataPopularRM

Quer saber mais? Ligue pra gente:

Ainda me lembro de quando um executivo de uma multinacional, na qual o sabão em pó estava entre os produtos principais, participou de uma imersão em Paraisópolis e conheceu o dia a dia de uma dona de casa da Classe C. Ele a questionou sobre o porquê de usar o sabão em pó do concorrente em vez do produto da sua marca. E ela respondeu com toda simplicidade popular: “Ué, moço, esse aí não faz espuma, e se não faz espuma, não limpa bem!” Frustrado, o executivo me confessou, momentos mais tarde, que a empresa havia gastado milhões para desenvolver um sabão que não fazia espuma. O grande erro: os valores do consumidor foram ignorados. Isso porque a maioria dos produtos ainda são desenvolvidos de acordo com a visão da Elite.

Elite não entende a Nova Classe MédiaHoje, a Nova Classe Média Brasileira (Classe C) representa a maioria dos consumidores em todas as categorias de consumo: alimentação e bebidas, serviços, roupas e calçados, viagens, entre outros. O grande questionamento é a reação da antiga classe média (classes A e B) diante desta mudança de cenário. O que os ricos não entendem é que ter uma renda acima de 4 mil reais é para poucos no País, e que fazem parte de uma elite exclusivista. Apenas 10% das pessoas de alta renda se enxergam como verdadeiramente são: ricos. E 35% se classificam como pobres.

Rico, ele?

Classe Média55,2%

No Brasil, mais de um terço da Alta Renda se acha de Baixa Renda, e mais da metade se vê como de Classe Média.

O crescimento da renda e a ampliação do crédito possibilitou aos integrantes da Nova Classe Média acessar espaços e lugares que antes estavam restritos ao público da Tradicional Classe Média. Essa mudança no cenário tem gerado um certo descontentamento de parcela dos antigos privilegiados. Confira respostas de pessoas deste grupo:

Luta de Classes

55,3%

48,4%

62,8%

49,7%

16,5%

26,4%

17,1%

Produtos deveriam ter versões para ricos e para pobres

A qualidade dos serviços piorou com o maior acesso da população

O aumento das filas nos cinemas me incomodam

Prefiro ambientes com pessoas do meu nível social

Pessoas mal vestidas deveriam ser barradas em certos lugares

O metrô aumenta a circulação de pessoas indesejáveis na região

Todos os estabelecimentos deveriam ter elevadores separados

Baixa Renda35,2%

Alta Renda9,6%

AB

Renato Meirelles Sócio diretor do Data Popular

AgendaNão perca o Fórum Novo Brasil, que acontece em Brasília, nos dias 16 e 17 de agosto!

Os diferentes códigos e valores Até mesmo as propagandas veiculadas na TV ainda não conseguiram falar a língua do novo consumidor, que deseja melhorar de vida, mas não quer ser como a elite. Sua referência, geralmente, é o vizinho que reformou a casa, e não o patrão que é um perdulário e não sabe fazer pesquisa de preços – ou seja, desperdiça dinheiro. A dissonância cognitiva que cria um grande abismo entre as classes sociais faz com que a elite se sinta incomodada com o protagonismo da Nova Classe Média.

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www.almanaquebrasil.com.br

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Graça Braga – Dia de Graça (Lua Music). Uma das mais cultuadas vozes contemporâneas do samba paulistano chega ao segundo CD com uma homenagem ao compositor Candeia. São 14 canções do engajado compositor carioca, entre as quais Minha Gente do Morro e a tocante Dia de Graça. Leci Brandão participa da faixa De Qualquer Maneira.

Karine Telles – Flor do Samba (independente). A cantora mineira estreia em disco para exaltar os compositores do Triângulo Mineiro. As canções inéditas surgem com beleza surpreendente, mostrando que a fonte para se compor samba bom é quase infindável. A novidade conta com direção musical de Luizinho Sete Cordas, um dos maiores violonistas de sete cordas do País.

Passado e futuro - programa 38• Cristo Redentor, Memorial JK, Padre Cícero e outras obras monumentais do País.• No Cantos do Brasil, Paulinho da Viola revela: “Eu não vivo do passado. O passado mora em mim”.• No Ciência Doméstica, os garçons ensinam como carregar bandejas com maestria.• E, no Ilustres Brasileiros, é a vez da médica e sanitarista Zilda Arns.

Redescobrir o Brasil - programa 39• De Câmara Cascudo a Sérgio Buarque de Holanda, reunimos intelectuais que dedicaram a vida a decifrar o Brasil.• No Papo-Cabeça, o designer Marcelo Rosenbaum aponta caminhos para a transformação do País.• No Cantos do Brasil, Chico César busca explicações para esta árvore musical em forma de nação.• E, diretamente da Amazônia, a arte da cestaria, praticada a séculos pelos primeiros habitantes do Brasil.

TV Brasil: 30/3, 20h TV Cultura: 8/4, 14h30

Dos livros para a imaginação - programa 36• João Grilo, Macunaíma, Quincas Borba e outras figuras que saltaram dos livros para o imaginário nacional.• O bom malandro Zeca Pagodinho relembra histórias da carreira no Cantos do Brasil.• As artimanhas dos mestres do bilhar são explicadas no Ciência Doméstica.• No quadro Como É Que Se Faz?, aprenda como se produzem os bonecos de barro, arte que consagrou mestre Vitalino.

O que é que o Almanaque tem? - programa 37• Entre tantas maravilhas do Brasil, saiba como os pequenos selos ajudam a contar a nossa história.• No Cantos do Brasil, requebre ao ritmo do som suingado do Trio Mocotó.• Conheça as aventuras e desventuras dos irmãos Villas-Boas pelos sertões do Brasil.• O primeiro acidente automobilístico do País foi causado pelo barbeiro José do Patrocínio. Você sabia?

TV Brasil: 6/4, 20h TV Cultura: 15/4, 14h30

TV Brasil: 13/4, 20h TV Cultura: 22/4, 14h30

TV Brasil: 27/4, 20h TV Cultura: 6/5, 14h30

TV Brasil: 20/4, 20h TV Cultura: 29/4, 14h30

Um país qUe parece de mentira

O Almanaquias garante que não é lorota: o programa Almanaque Brasil vai chegar

ao mês da mentira com histórias reais sobre o país mais amável do mundo. A

atração continua na missão de revelar passagens curiosas de nossa gente, investigar

o conhecimento do povo e entoar os sons só feitos por estas bandas. O intrépido

personagem vivido pelo ator Robson Nunes sai pelas ruas para “mandar uma real”

com o povão. Nos estúdios, a comandante Luciana Mello norteia essa viagem pelos

quatro cantos do Brasil. Você, caro leitor/espectador, pode conferir as novidades do

programa pelo Twitter (@almanaquebrasil) e pelo Facebook (página do Almanaque

Brasil). Depois, é só ligar na TV Brasil ou na TV Cultura para confirmar que só

falamos a verdade, nada mais do que a verdade.

Rio de encantos mil - programa 34• Vem do Rio a entrevistada do programa, a primeira-dama do teatro brasileiro, Fernanda Montenegro.• Com sua voz rouca, Martn’ália traz samba e prosa para o Cantos do Brasil. • Ronald Biggs, o assaltante inglês que encantou a Cidade Maravilhosa foi parar no Você Sabia?.• E, no Como É Que Se Faz?, o caminho da prancha de surfe antes de pegar as ondas cariocas.

TV Brasil: 23/3, 20h TV Cultura: 1/4, 14h30

A Linha do Tempo do Design Brasileiro, organizado por Chico Homem de Melo e Elaine Ramos (Cosac Naify). Para apresentar em “apenas” 700 páginas dois séculos de discos, encartes, cédulas, jornais, revistas e cartazes, a obra conta com amostra bem selecionada e bela apresentação. Ao preencher uma lacuna editorial e remontar a história da nossa linguagem visual, o livro interessa tanto a profissionais da área quanto a leigos.

O Rei da Roleta, de João Perdigão e Euler Corradi (Casa da Palavra). A história já começa assim: no truco, o mineiro Joaquim Rolla ganhou o Cassino da Urca ao chegar no Rio de Janeiro. A biografia do sujeito que profissionalizou a noite carioca narra os tempos de luxo e jogatina do famoso estabelecimento nos anos 1930, com gente como Josephine Baker, Carmen Miranda e João de Barro. Conta ainda a origem e o destino do “dono da festa” após a proibição do jogo.

Brasileiros de coração - programa 35• Holandeses em São Paulo, judeus na Amazônia, ciganos na Paraíba. Só podiam ser Coisas Nossas.• Ilustre Brasileiro: Carybé, o argentino que retratou a Bahia como ninguém.• No Papo-Cabeça, Olivier Anquier, o francês que botou tempero na comida brasileira.• E, no Você Sabia?, a inusitada amizade entre um embaixador suíço e seus sequestradores brasileiros.

Abril 2012

Para se certificar das datas e horários de exibição, consulte o site das emissoras:

www.tvbrasil.org.br e www.tvcultura.com.br.

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Pala

vras

Cru

zada

sO Calculista das Arábias

Nossa homenagem a Júlio César de Mello e Souza, o Malba Tahan

Um xeique muito rico deixou testamento peculiar para repartir seus 241 medalhões de ouro entre as três filhas: quanto mais velha, mais medalhões receberia. Contrariando a decisão do pai, porém, a irmã mais velha decidiu fazer a divisão em três partes iguais. Dividiu a herança em três, deu a uma velha criada o medalhão que sobrou e guardou a sua parte. Também buscando uma divisão equânime, a filha do meio repetiu o gesto da irmã: repartiu os medalhões, passou adiante o que restou e guardou o que cabia a ela. O mesmo fez a filha

caçula: guardou um terço do que encontrou e deu para a caridade o medalhão que havia sobrado. Tudo em segredo. No dia seguinte, para a surpresa de todas, o guardião da herança afirmou ter presenciado a ação das moças, e que de nada adiantava a sua tentativa de dividir por igual o tesouro do pai. Ele também dividiria por três a herança, ficaria com o medalhão restante como pagamento e ainda assim o desejo do velho pai seria cumprido. Estaria ele correto? Com quantos medalhões ficaria cada uma das filhas?

ac

ervo

da

fa

míli

a

Respostas

CARTA ENIGMÁTICA Devido ao sucesso da canção, ganhou o apelido de Exagerado. (Cazuza).

ENIGMA FIGURADO Ana Maria Braga. O QUE É, O QUE É? A letra V.

SE LIGA NA HISTÓRIA 1b; 2a; 3c; 4d.

BRASILIÔMETRO 1b; 2a; 3d; 4c; 5a; 6c; 7a; 8d.

O CALCULISTA DAS ARÁBIAS Sim, o guardião da herança estava correto. Depois de quatro divisões iguais, o desejo do pai foi cumprido. Quando a primeira filha deu o medalhão para a velha criada e repartiu em três o restante, ficou com 80 medalhões. Restaram 160. A filha do meio separou também uma unidade e dividiu por três, ficando com 53 medalhões. Restaram 106. Quando a caçula repetiu o gesto das irmãs, guardou 35 medalhões e sobraram 70. E quando, por fim, o guardião descontou o seu pagamento e dividiu igualmente os medalhões, a cada uma das filhas coube mais 23 unidades. Assim, a irmã mais velha ficou com 103 medalhões (80+23); a do meio, 76 (53+23); e a caçula, 58 (35+23).Roberto Carlos

DE QUEM SÃOESTES OLHOS? 3 4

21

0

56

7

8Conte um ponto por resposta certa

valiação

teste o nível de sua brasilidade

1

2

3

4

ligue os pontos

reprod

ão

a O acordeonista de Porto Alegre é um dos músicos mais cultuados do Rio Grande do Sul. Em 1984, lançou o primeiro disco instrumental a vender 100 mil cópias no País.

b O gaúcho de Passo Fundo aprendeu a tocar violão aos 7 anos. Considerado virtuose no instrumento, percorre o País em disputadas apresentações de choro, milonga, tango e chamamé. c Nascido na fronteiriça Santana do Livramento, a poucos quilômetros do Uruguai, desde os anos 1960 é conhecido por entoar os sons dos pampas, principalmente o vanerão.

d Nascido em Porto Alegre, o maestro foi um dos personagens que mais criaram pontes entre o erudito e o popular. Para seu ex-aluno Tom Jobim, era “o pai dos músicos brasileiros”.

Em 3/4/1985, o presidente José Sarney veta a criação do estado de:(a) São Paulo (b) Tocantins (c) Atenção (d) Emergência

Clube fundado em Porto Alegre em 4/4/1909:(a) Internacional (b) Grêmio (c) São José (d) Brasil de Pelotas

Em 11/3/1923 é fundado o Conjunto Oswaldo Cruz, que viria a ser a escola de samba:(a) Unidos da Tijuca (b) Salgueiro (c) Vila Isabel (d) Portela

Localização do Parque Chapada dos Guimarães, criado em 12/4/1989:(a) Mato Grosso do Sul (b) Piauí (c) Mato Grosso (d) Sergipe

Sebastião Salgado, Chico Buarque e José Saramago lançam em 14/4/1997 o livro:(a) Terra (b) Água (c) Ar (d) Fogo

Em 15/4/1940, Juscelino Kubitschek é empossado como prefeito de:(a) Diamantina (b) Rio de Janeiro (c) Belo Horizonte (d) Brasília

Primeiro livro de Carlos Drummond de Andrade, lançado em 25/4/1930:(a) Alguma Poesia (b) E Agora, José (c) No Meio do Caminho (d) Confidência do Itabirano

Nascida em 25/4/1925, Janete Clair não é autora da novela:(a) Irmãos Coragem (b) Selva de Pedra (c) O Astro (d) Roque Santeiro

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ilustrações: luciano tasso

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www.lucianotasso.blogspot.com

Galinha coelho ovo de Páscoa?

De olhos vermelhos / De pelo branquinho / De orelhas bem grandes / Eu sou coelhinho.

A famosa canção infantil foi composta em 1944 por uma assistente de regência do maestro Heitor Villa-Lobos. Descubra o

nome da criadora de Coelhinho.

De novo houve o novo ovo.

Trav

a-Língua

pa

ra ler e repetir em v

oz al

ta

Para descobrir o nome da nossa homenageada do mês, basta preencher o diagrama abaixo. O número de cada quadrinho indica uma letra escondida na linha correspondente

do texto lá de cima. Por exemplo: primeiro quadrinho, linha 1: D. E assim por diante.

a Páscoa, todo mundo espera o coelhinho trazer deliciosos ovos de chocolate. Mas, afinal, o que têm a ver ovos e coelhos? Todo mundo sabe

que esses bichinhos felpudos não põem ovos! Essa história começou a partir da união de duas tradições milenares. Para celebrar a Páscoa, os religiosos antigos

pintavam com cores alegres os ovos de galinha, considerados símbolos de vida. Já outros povos da antiguidade admiravam os coelhos por sua alta capacidade de reprodução. Juntando ovos e coelhos, surgiu o símbolo dessa data religiosa que celebra a ressurreição de Jesus Cristo: o ovo de Páscoa. É tradição que as famílias se reúnam no domingo para rezar, celebrar a ressurreição de Cristo e degustar um farto almoço. Mesmo os não religiosos entram na onda de trocar ovos de chocolate. Para a festividade, o Brasil produz mais de 20 mil toneladas de chocolate, o que faz do País o segundo maior consumidor de chocolate do mundo durante a Páscoa. Só perdemos para os ingleses!

N

SOLuçÃO nA P. 26

73 821 14 9 105 7 4 74

O que tem no meio do ovo?

D

Coelhinho da Páscoa / Que trazes pra mim? / Um ovo, dois ovos, 80 milhões de ovos assim. É como deveria ser a letra da famosa cantiga caso puséssemos os animais de orelhas compridas realmente para trabalhar. Como foi dito ali em cima, o Brasil deve produzir neste ano cerca de 20 mil toneladas de chocolate só para a Páscoa. Agora imaginemos que cada coelhinho seja incumbido de levar para a casa das crianças um ovo de chocolate desses pequenos, de 250 gramas (não vamos sobrecarregar os bichinhos, né?). Seriam necessários 80 milhões de coelhos. Só resta torcer pra eles não comerem nenhum ovo pelo caminho....

Já Pensou nisso?

Os judeus também comemoram a Páscoa, ou o Pessach, como a data é conhecida. O termo significa “passagem” e originou o nome Páscoa. Mas a celebração tem pouco a ver com a festa dos cristãos. A data rememora a conquista da liberdade pelos judeus, que há 4 mil anos se tornaram escravos no Egito. Segundo o Torá, Deus surgiu para o profeta Moisés e lhe deu a missão de libertar o seu povo. Foi o que ocorreu e, desde então, os judeus se unem para reverenciar a data. Sem ovos de chocolate.

Páscoa judaica não tem chocolate

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Se por causa da inovação de seus artistas a Pauliceia foi “desvairada”, Belo Horizonte foi “desatinada” pelas estripulias de seus escritores e jornalistas, num passado que ainda hoje contribui para a aura

de encantamento que paira sobre a capital de Minas Gerais.

oeirópolis foi o primeiro apelido de Belo Horizonte. Cadiquê? Ora, do poeirão que envolvia todos os lugares onde estava sendo construída a futura cidade. Escondia até mes-mo as montanhas da Serra do Rola Moça. Tal alcunha, dizem, era despeito dos moradores de Ouro Preto, que não mais seria a capital de Minas.

A cidade é jovem de tudo, nasceu em 1897. Planejada com in-teligência pelo paraense Aarão Reis, tem traçado em forma de tabuleiro, ruas largas batizadas com nomes de estados, cidades e tribos indígenas. É moderna, mas guarda o jeitão simples mineiro nas 500 praças, 70 parques e ruas plantadas com jaqueiras, ipês, flamboaiãs, quaresmeiras e fícus. No quintal de cada casa é fácil encontrar um pé de jabuticaba, limão, manga-rosa. Assim como não faltam cozinha com fogão a lenha e panelas de barro. Assim

é Beagá: um pé no asfalto, outro na estrada de terra; um olho na modernidade, outro na tradição; longe do mar, mas aninhada en-tre as montanhas.

A singeleza, contudo, ficaria de fora na antiga casa do governa-dor – o Palácio da Liberdade –, de frente para a praça de mesmo nome. Ele foi decorado com requinte: entalhes, afrescos, lustres de cristal tcheco e uma monumental escada que veio da Bélgi-ca. Quando os antigos moradores da área foram despejados para a construção do edifício, uma tal de Maria Papuda rogou agouro feio: quem ali habitasse sem demora bateria as botas. Não é que a urucubaca pegou nos três primeiros moradores oficiais?

Mas será que no caso de uma estadia curta o esconjuro também se cumpriria? A preocupação dos belo-horizontinos era com os reis da Bélgica, que estavam para chegar à cidade, hospedando-se

BELO HORIZONTE

P

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Minas de palavras

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Abril 2012

no palácio. Tudo deveria estar nos trinques, incluindo os jardins. Acontece que a praga se revelou outra. Os jardins da praça da Liber-dade haviam sido redesenhados há pouco. Não havendo tempo para plantar grama, o jornalista Gustavo Pena sugeriu que se plantasse alpiste, erva de crescimento rápido, e que de quebra daria um vis-toso verde. O resultado foi brilhante, mas foi também como “osso atirado aos cães” – uma festa para os pardais. Colibrizou tanto pas-sarinho naquela fartura que atapetaram a praça num instantim.

Letras na terra do pão de queijoBelo Horizonte sempre procurou estar na vanguarda da cultura.

O jornalista mineiro Humberto Werneck conta em O Desatino da Rapaziada que, “em menos de 25 anos de vida, a cidade viu brota-rem nada menos de 160 publicações, e, em 1930, passava de 200 o números de jornais”. Contudo, para vencer a pasmaceira das noites da capital provinciana no fim dos anos 20, o jovem Carlos Drummond de Andrade escalava os arcos do viaduto Santa Teresa. Ele, o memo-rialista Pedro Nava e mais o poeta Abgar Renault trocavam, de ma-drugada, as placas de médicos, advogados, dentistas. E se divertiam mudando letras, como de oculista para ocultista. Como não tem 2 sem 3, Nava e Drummond, uma noite, desejosos de ver as moças da família Vivacqua em camisolas, puseram fogo na casa cujos sa-raus eles costumavam frequentar. “Eles mesmos se apressaram em apagar o começo de incêndio, e teriam passado por heróis se um guarda noturno não tivesse testemunhado a cena”, conta Werneck. “Pequenos incendiários sem tutano”, diria Drummond mais tarde. Dora, uma das irmãs Vivacqua, foi para o Rio de Janeiro e fez suces-so como a explosiva dançarina Luz del Fuego. Teria sido influencia-da pelas traquinagens dos desatinados rapazes?

Duas décadas mais tarde, entre os colaboradores da revista lite-rária Edifício, liam-se artigos de Autran Dourado, Sábato Magaldi, Chico Pontes e do historiador Francisco Iglésias, para citar apenas alguns. Essa turma jovem não escalava o viaduto nas madrugadas, mas alguns deles, nus em pelo, banhavam-se nos laguinhos da pra-ça da Liberdade.

Tá feito, pois, o convite para arruar por Belo Horizonte, seguindo os passos dessa rapaziada impertinente. Inclua também no roteiro uma parada na rua Bahia, onde ficava a sede da maioria dos jornais, os cafés e a Academia Mineira de Letras. Guimarães Rosa, outro dos bons escritores mineiros, é ainda mais categórico: “O senhor vá lá e verá. Os lugares estão aí em si para confirmar”.

Preste atençãoQuem sabe se o leitor mergulhar na atmosfera de

Beagá possa decifrar o modequê tanto escritor, poeta, cronista, contador de histórias, romancista e jornalista ter nascido por lá. Será o queijo do

Serro ou da Canastra? A goiabada, o bolo de fubá, as brevidades ou as mentirinhas? Ou quem sabe

a “branquinha” pura ou o feijão tropeiro? Sim, porque todo mineiro coloca a comida em qualquer conversa. Serão as montanhas ou porque ele tem

alma barroca? Talvez a lonjura do mar ou mais simplesmente porque todo mineiro é um grande

devorador de livros. Quem sabe?

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Como chegar A TAM oferece voos diários para Belo Horizonte, saindo dos principais aeroportos brasileiros. Confira em www.tam.com.br.

Onde ficarBristol Merit Hotel • Localizado na área central da cidade, próximo ao imperdível mercado, o hotel oferece saboroso café da manhã com variedades de queijo mineiro. Fone: (31) 3508-8500. www.bristolhotels.com.br.Bristol La Place • Outra boa opção de hospedagem em Belo Horizonte, o hotel oferece suítes com sala de estar e minicozinha. Fone: (31) 3481-5122. www.bristolhotels.com.br.

Onde comerKobes • É um dos participantes e vencedores do evento Comida di Buteco. Uma vez por lá, prove o Chic-ló, jiló à parmegiana com guisado de carne e purê de batata. Para acompanhar, à casa oferece 300 títulos de cachaça mineira. R. Prof. Raimundo Nonato, 31A. Fone: (31) 3467-6661.

Sorriso • Risoteria que oferece saborosas e delicadas combinações, como arroz com capim limão e peixe branco, ou com queijo brie, alho poró e azeite de ervas. R. Curitiba, 2307. Fone (31) 3653-2023. www.sorrisorisoteria.com.br.

Belo Horizonte tem mais

O nome na fachada – Doces de Portugal – já põe a boca aguando. Nas vitrines, como resistir ao papo de anjo? Ou ao macio travesseiro de Sintra? E o que escolher? O enrodilhado ninho de ovos ou a cheirosa queijada de amêndoas?

Estes doces também mostram o quanto da arte da doçaria conventual lusitana foi parar na

panela dos quitutes mineiros.

Biblioteca PúblicaO traço inconfundível de Niemeyer está presente nas curvas da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, inaugurada em 1961. Destaque para a coleção Mineiriana, com obras produzidas por escritores mineiros ou que tratam de assuntos de Minas. Há também raridades, como as primeiras edições autografadas de livros de Carlos Drummond de Andrade e Guimarães Rosa.

Quarteto em bronzeNa fachada da biblioteca, esculturas representam os amigos e escritores mineiros conhecidos como “os quatro cavaleiros de um íntimo apocalipse”: Otto Lara Resende, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Hélio Pellegrino, que nos bancos da Praça da Liberdade punham-se a “puxar angústia”, expressão que criaram para definir suas prosas sobre temas existenciais.

Livrarias da SavassiAs livrarias do bairro Savassi são ótimos pontos de encontro – seja para beber café, prosear ou folhear as últimas novidades. Por lá há a Quixote e a Livraria da Travessa. E também o Café com Letras, com espaço mais intimista – quase uma biblioteca de um amigo mineiro.

Não deixe de provar

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“Aquele que tem caridade no coração tem sempre

qualquer coisa para dar.”Santo Agostinho

informe institucional

O Programa Apoie uma Vida foi instituído pela FEBEC com base na observação e no sucesso de ações desenvolvidas junto a pacientes com câncer tratados e acompanhados pelo Hospital Amaral Carvalho, em Jaú, interior de São Paulo, fundação filantrópica e referência no tratamento ao câncer, com o di-ferencial do apoio biopsicossocial avançado.

Tais ações conseguem – por meio do voluntariado e de um trabalho solidário – curar ou proporcionar sobrevida com qualidade aos pacientes de câncer. Conheça os cinco pontos fundamentais para o sucesso no tratamento. São atividades que envolvem o doente, seus familiares e a comunidade. É preciso entender, saber o que acontece, informar-se e tentar viver melhor. É preciso manter-se forte se a doença atingi-lo ou alguém mais próximo. É preciso sobreviver para poder um dia dizer que o câncer não é mais uma sentença de morte.

FEBEC • www.febec.org.br • Fones: (14) 3602-1108 / (14) 3602-1101

Ajude. Saiba mais. Saiba como.

não conhecia a febec?A FEBEC – Federação Brasileira de Entidades de Combate ao Câncer é uma instituição composta por dezenas de ligas e organizações voluntárias de apoio aos pacientes carentes com câncer, espalhadas por vários estados brasileiros. Você precisa saber que é de 12,4% o índice de cura e sobrevida registrado nas cidades atendidas pelas ligas de combate ao câncer.

Ao assinar o AlmAnAquE BrASil, mencione a FEBEC. Assim, você já colabora diretamente com as mais de 50 ligas de voluntários associados em todo o País. Custa pouco. E a luta pela vida ficará mais suave.

Participe! Faça doações, compareça! Acompanhe.Próximos Circuitos já agendados de leilões beneficentes Febec, em prol do Hospital Amaral Carvalho: Taquarituba, 21/04; Guaiçara, 28/04; Presidente Epitácio, 29/04; Bauru, 6/5; São Carlos, 27/5; Rancharia, 10/6; Coxim, 1/7; Santa Cruz do Rio Pardo, 15/7; Dois Córregos, 22/7. Informações: (14) 3602-1201, com Eduardo Piragino.

Boneca que reproduz as etapas de tratamento oncológico usada no Amaral Carvalho. A intenção é ajudar as crianças a entenderem seus próprios tratamentos.

EDuCAção: Difusão de informações que estimulam a adoção de boas práticas de vida, bem como conhecimentos atualizados; PREVEnção: Adoção de hábitos e mecanismos que evitem de-terminados tipos da doença, como câncer de boca, de pele, de colo de útero, de mama, de próstata, de pulmão e outros;DiAGnóSTiCo PRECoCE: Desenvolver e dar condições ao hábi-to de realização de exames periódicos com vistas à detecção mais rápida e precoce, o que aumenta as possibilidades de cura;ACESSo Ao TRATAmEnTo: rapidez e agilidade de acesso do paciente, respeitando o direito fundamental ao tratamento imparcial e justo;APoio BioPSiCoSSoCiAl: Ações de assistência social fun-damentais aos pacientes. Acesso ao tratamento, à estadia com alimentação, suporte de equipes multidisciplinares, entreteni-mento e acompanhamento em suas cidades de origem, garan-tindo-lhes o necessário, com cestas básicas, frutas, verduras, le-gumes, suplementos alimentares, transporte e outras necessida-des, de forma que apoiem a continuar o tratamento adequado.

aPoio À ViDa:

PonToS QUe PoDeM

SaLVaRanTeS De cURaR

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ABACAXI

Excelente e cheirosoÉ um dos mais apreciados frutos tropicais, batizado pelos índios com nomes que remetem a

sua excelência e seu perfume. Levado por Colombo das Antilhas à Europa, agradou tanto ao

rei Luís 14, que ele mandou plantar nas estufas do palácio de Versalhes.

Ananas sativus

Na movimentada esquina da avenida Paraguassu, a princi-

pal do elegante bairro de Atlântida, deparamos com um caminhão car-regado de abacaxi – um dos inúme-ros que se vê pela orla de Xangri-Lá, no litoral norte gaúcho. Ele estaciona ali de manhã e se vai à tardinha. Quem toma conta é Adílio Ribeiro, de 30 anos, e seu sobrinho Wesley Dias, de 13.

Abacaxi está na vida deles desde o berço. Há meio século, o pai de Adílio para cá tra-zia seus frutos em carro-de-boi. Prolífico homem: Adílio tem quinze irmãos. Todos criados graças ao abacaxi – e à mandioca, es-ta plantada na entressafra daquele: o abaca-xi em setembro/outubro e colhido em 30 me-ses; a mandioca, plantada no inverno e colhida em 6 meses – tudo vendido nos municípios vizinhos. O abacaxi de Adílio é do tipo péro-la pequeno, vendido à base de três por dez reais – ou quatro se for do menorzinho. Saem mais de cem peças por dia.

A família toca seis hectares num muni- cípio vizi-nho de 10 mil habitantes cujo nome denota a vocação: Ter-ra de Areia. É de solo arenoso que o abacaxi gosta. E dos en-solarados trópicos.

Os indígenas já o cultivavam na futura América tropical

e subtropical, das atuais Antilhas até o Paraguai, nordeste da Ar-gentina e a região brasileira que ora visitamos. E foi Colombo

quem, em 1493, conheceu o aba-caxi na ilha de Guadalupe, dando

início à carreira internacional de uma das frutas mais apreciadas no mundo. Certo padre Dutertre o chamou de rai-

nha das frutas, “já que está cingida por uma coroa”. Chegou à Espanha em 1535 e mais tarde à França. Luís 14, o Rei Sol, saboreava os seus colhidos nas estufas do palácio de Versalhes. Sabe-se que, no

meio do século 19, servia-se o fruto guar-necido com a coroa na sobremesa dos ban-

quetes. Intuía-se, quem sabe, que ele é um coadjuvante da digestão. Como bem sabe-rão, século e meio depois, os agricultores de Terra de Areia.

Eles todos se conhecem. A cinco qua-dras de Adílio, seu primo Ezequiel Pereira,

22 anos, estaciona a camionete no meio-fio. Os dois moços concordam quando perguntamos para quê o abacaxi faz bem, além de ser uma delícia geladinho no ve-rão: “É bom pra digestão”, diz Adílio. Seu primo acrescenta: “Por exemplo: comeu carne de porco e não se sentiu bem? Come abacaxi que vai se sentir melhor”.

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Consultoria: nutricionista Aishá Zanella ([email protected])

armen Miranda coroava o traje típico com um turbante encimado por um abacaxi.

Era sorvete de abacaxi a sobremesa favorita de Gilberto Freyre – “mais saboroso que a própria fruta”.

Em Educação Sentimental, Flaubert põe sua personagem pedindo salada de abacaxi num restaurante.

Manuel Botelho de Oliveira, nosso primeiro poeta, assim o louvou: É muito mais que o pêssego excelente / Pois lhe leva aventagem gracioso / Por maior, por mais doce e mais cheiroso.

SAIBA MAIS

A Canja do Imperador, de J. A. Dias (Companhia Editora Nacional, 2004).As Frutas na Medicina Doméstica, de Alfons Balbach (Edificação do Lar, s/d).História da Alimentação no Brasil, de Luis da Câmara Cascudo (Global, 2004).

C

O fruto na vida de ilustres personagens

Estrela da família Bromeliácea

abacaxizeiro é a mais importante planta dentre as bro-meliáceas e tem muitos parentes ornamentais, como as

bromélias. As duas palavras que o designam vêm do tupi-gua-rani: ananas, fruto excelente; avakachi, fruto cheiroso. Na verdade, ele é uma infrutescência: cada gominho, uma fruta independente. Pode-se consumir in natura, como compota, suco, geleia, sorvete, musse, torta.

Tem grande valor nutritivo. Contém vitaminas A (bom para pele, mucosas, dentes); B1 (sistema nervoso, múscu-los, coração); B2 (tecidos, pele, olhos) e C (antiinfecciosa, cicatrizante). É rico em potássio, que regula a pressão e for-talece os músculos.

Um de seus principais benefícios para o organismo vem da ação da bromelina, enzima semelhante à papaína do mamão, que “desdobra” proteínas e mucoproteínas, portanto facilita a digestão e a expectoração. Atua no combate à bronquite, infecções da garganta, prisão de ventre, depressão, anemia, arteriosclerose, reumatismo, artritismo, pedras nos rins; do-enças da próstata, bexiga e uretra.

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stá no ponto se, puxando uma folha da coroa, ela sair na mão; ou se a base estiver macia ao toque.

São menos ácidos os abacaxis que têm espinhos nas folhas da coroa.

Injete o suco na carne, com uma seringa, ou regue-a antes de assar: fica mais macia.

Não dispense miolo e cascas. Fervidos com água, esfriados e gelados, resultam em delicioso suco.

Prove in natura na salada, ou assado em fatias junto com carne de porco, peixes, crustáceos e aves gordas.

De sobremesa, garante uma boa digestão.

EPara comer melhor

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Causos de Rolando Boldrin

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Palestra urgenteAltas horas da madrugada, o guarda vê um carro ziguezagueando pela rua e o manda encostar. Mal o motorista para, já dá para sentir o cheiro de álcool.– Olá, cidadão. Aonde o senhor está indo?– Boa-noite, seu guarda. Estou me dirigindo a uma palestra sobre os efeitos do álcool no corpo humano e a necessidade de uma boa noite de sono.– Sei, senhor. E quem vai dar a palestra a essa hora da noite?– Minha esposa.

Computador novoO sujeito liga para o suporte técnico para instalar o novo computador. O atendente pede que a máquina seja iniciada e quer saber:– O que o senhor vê do lado direito da tela?– O mesmo de antes, uma janela e um vaso de violeta.

Um amigo meu, lá do interior, encontrou um camarada nosso no meio da cidade grande. E aí, sabe como é: caipira fica numa animação só quando encontra conterrâneo em cidade dis-tante. Ficaram lá os dois, proseando, jogando conversa fora e contando causo pra matar a saudade. Um deles aproveitou que tinha inti-midade com o amigo e foi pedir um conselho.Caipira 1: Rapaz, tô com um problema sério. Conhece minha muié, não conhece? Pois então. Ela tá trabalhando faz muito tempo com um deputado. Um deputado muito im-portante, tá muito bem de vida. Todo ano o deputado dá um presente pra ela. Teve um ano que deu um cadilaque!Caipira 2: Ah, é? Puxa, um cadilaque!Caipira 1: Pois é, rapaz. No outro ano, deu um casaco de pele. Depois, uma joia linda, muito elegante.Caipira 2: Um casaco de pele, uma joia...Caipira 1: Apois! E agora vem o problema que eu tô aqui matutando. É que esse depu-tado tá fazendo aniversário e não sei o que comprar para um hômi bom desse. Ocê que é inteligente, me ajude: o que é que eu posso dar pro doutor?O amigo do caipira nem pestanejou. Caipira 2: Dá uma chifrada nele, uai!

Presente pro doutor

Chuva ao volanteO caipira acaba de chegar à cidade grande e compra seu primeiro carro. Com um baita azar de principiante, depois de estacionar na porta de casa cai uma tempestade daquelas. A esposa grita:– Ô, Zé! A enxurrada está levando seu carro!– Ara, Rosa, ocê num entende nada de tecnologia. A chave tá aqui no meu bolso!

Qual deles?Dois turistas pescavam no Pantanal. Depois de se afastar do companheiro, um deles começa a gritar:– Um jacaré mordeu meu pé!Apavorado, o amigo tenta descobrir a gravidade da situação:– Qual deles?– E eu vou saber? Jacaré é tudo igual!

Pra ter certezaO sujeito vai à delegacia prestar queixa:– Minha sogra sumiu.– Há quanto tempo ninguém tem notícia dela? – pergunta o delegado.– Já faz um ano.– E por que o senhor demorou tanto para nos procurar?– É que só agora bateu saudade...

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