ahp seleção de fornecedores

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO O MÉTODO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA APLICADO À SELEÇÃO DE FORNECEDORES EM UMA INDÚSTRIA DE AUTOPEÇAS Adriana dos Santos de Toledo SÃO CARLOS 2011

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O Método de Análise Hierárquica aplicado à Seleção de Fornecedores em uma indústria de autopeças.

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Page 1: AHP Seleção de Fornecedores

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

O MÉTODO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA APLICADO À SELEÇÃO DE

FORNECEDORES EM UMA INDÚSTRIA DE AUTOPEÇAS

Adriana dos Santos de Toledo

SÃO CARLOS

2011

Page 2: AHP Seleção de Fornecedores

2

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

O MÉTODO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA APLICADO À SELEÇÃO DE

FORNECEDORES EM UMA INDÚSTRIA DE AUTOPEÇAS

Adriana dos Santos de Toledo

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação

Lato Sensu em Gestão da Produção do Departamento de

Engenharia de Produção da Universidade Federal de

São Carlos-SP, para obtenção do título de Especialista

em Gestão da Produção.

SÃO CARLOS

2011

Page 3: AHP Seleção de Fornecedores

3

Orientador Prof.Me.Fabio Molina da Silva

Page 4: AHP Seleção de Fornecedores

4

Homens superficiais acreditam na sorte,

homens fortes acreditam em causa e efeito. Ralph Emerson

Page 5: AHP Seleção de Fornecedores

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, a Deus, que me iluminou durante esta caminhada e por todas

as coisas maravilhas que tem feito em minha vida;

À minha mãe, Isaura de Toledo, meu porto de abrigo e meu apoio, a quem devo tudo o que

eu sou;

A minha avó Maria Rita e meu avô Vicente (in memorian);

Ao meu orientador, professor Fábio Molina da Silva, pelas cobranças, exigências,

dinamismo, confiança e por acreditar em meu potencial;

A todos meus amigos que me apoiaram e fizeram o possível para me ajudar;

Ao Edson Sanches pela indispensável ajuda na formatação deste material.

Page 6: AHP Seleção de Fornecedores

6

RESUMO

A adequada gestão da cadeia de suprimento tem significado paras as empresas uma nova

fronteira a fim de se obter vantagens competitivas de forma efetiva. Através da gestão da

cadeia de suprimentos, as empresas devem definir suas estratégias competitivas por meio

de posicionamento dentro das cadeias produtivas as quais pertencem, tanto como

fornecedoras quanto como clientes. Além disso, quando a empresa visualiza-se como elo

importante dessa cadeia, essa visão introduz uma importante mudança no seu

desenvolvimento frente aos concorrentes. O objetivo básico da gestão da cadeia de

suprimento é tornar realidade as possíveis sinergias entre as partes da cadeia produtiva, de

forma a melhor atender o consumidor final. Nesse sentido, a gestão da cadeia de

suprimento engloba a gestão de elementos, como matérias-primas, manufatura, montagem e

distribuição ao consumidor final. Diante do exposto, o foco deste trabalho foi analisar a

importância da integração das empresas com seus fornecedores e apresentar rapidamente

vários métodos comuns aplicados à seleção dos mesmos. A pesquisa apoiou-se em estudo

de caso numa indústria de autopeças em processo de internacionalização que, diante do

novo cenário, apresenta dificuldades para definir o perfil do fornecedor mais adequado a

atender suas necessidades atuais. Dessa forma, este trabalho visou analisar o problema

apresentado pela empresa e a aplicação do Método de Análise Hierárquica (AHP)

demonstrando que, por meio desse método, empresas podem estruturar a tomada de decisão

em relação à definição da fonte de suprimento, considerando critérios estabelecidos não

apenas pela área de compras, mas por todos os envolvidos no processo de seleção de

fornecedores.

Palavras-Chave: Gestão da Cadeia de Suprimento, Seleção de fornecedor, Métodos para

Seleção de Fornecedores, Método de Análise Hierárquica (MAH).

Page 7: AHP Seleção de Fornecedores

7

ABSTRACT

The appropriate supply chain management has been meaning to the companies a new

frontier for them to obtain competitive advantages in an effective way. Through the supply

chain management the companies should define their competitive strategies aligning

themselves as supplier and customer in the productive chain that they belong to. Moreover,

when the companies notice themselves as an important link of this chain, this new point of

view, introduce an important change on the development of the company head their

competitors. The basic goal of the supply chain management is to become true the possible

synergies between the parts of the productive chain in a way to better attend the final

customer. Toward this, the supply chain management includes elements like: raw-material,

manufacture, assembly and distribution to the final customer. In view of current discussions

on the subject, this research work aims to analyze the importance of the integration between

the companies and their suppliers and briefly introduce the several most common methods

that are applied on supplier selection. The research model is based on case study on an

industry of auto parts that is passing through a process of internationalisation and, in this

new scenario, has been facing difficulties to define which supplier would be the suitable

one to meet its requirements. In this way, the main goal of this work is to analyze the

problem presented by the company and apply the Analytic Hierarchy Process (AHP)

demonstrating how, through this method, the companies can structure the decision making

about the supply source, taking into consideration the criterias established, not only by the

purchase department, but also by all the involved on the process of supplier selection.

Keywords: Supply Chain Management, Supplier Selection, Methods for Supplier

Selection, Analytic Hierarchy Process (AHP).

Page 8: AHP Seleção de Fornecedores

8

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Modelo geral da cadeia de suprimentos ..................................................... 15

Figura 2 Esquema de desenvolvimento do trabalho ................................................ 20

Figura 3 Processo de evolução logística .................................................................. 22

Figura 4 Primeira fase da logística – Atuação Segmentada ..................................... 24

Figura 5 Segunda fase da logística – Integração Rígida .......................................... 26

Figura 6 Terceira fase da logística – Integração Flexível ........................................ 27

Figura 7 Quarta fase da logística – Integração Estratégica (SCM) .......................... 29

Figura 8 A Vantagem Competitiva e os “3 Cs” ....................................................... 32

Figura 9 Níveis da cadeia de suprimentos ................................................................ 34

Figura 10 Principais categorias de componentes do custo total de propriedade/TCO 41

Figura 11 Matriz de análise de valor dos itens comprados ........................................ 43

Figura 12 Algumas vantagens e desvantagens de fornecedores únicos e múltiplos .. 46

Figura 13 Estrutura do método AHP .......................................................................... 71

Figura 14 Estrutura da decisão hierárquica em três níveis ......................................... 78

Figura 15 Estrutura de preferências para os vários graus hierárquicos e a respectiva

solução .......................................................................................................

84

Page 9: AHP Seleção de Fornecedores

9

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Percepção da importância dos atributos dos fornecedores ........................... 56

Tabela 2 Projeto do experimento fatorial fracionário .................................................. 57

Tabela 3 Exemplo de avaliação de cenário para seleção de fornecedores ................... 57

Tabela 4 Atributos relevantes para seleção de fornecedores ....................................... 59

Tabela 5 Atributos relevantes para seleção de fornecedores ....................................... 61

Tabela 6 Informações complementares com relação aos critérios de seleção de

fornecedores ..................................................................................................

77

Tabela 7 Escala fundamental de comparações binárias elaborada por Saaty .............. 79

Tabela 8 Preferência por Qualidade ............................................................................ 79

Tabela 9 Preferência por Custo ................................................................................... 79

Tabela 10 Preferência por Capacidade Técnica do Fornecedor .................................... 79

Tabela 11 Preferência por Segurança no Gerenciamento de Problemas ....................... 79

Tabela 12 Cálculos para Normalização do Critério Qualidade ..................................... 80

Tabela 13 Cálculos para Normalização do Critério Custo ............................................ 80

Tabela 14 Cálculos para Normalização da Capacidade Técnica do Fornecedor ........... 80

Tabela 15 Cálculos para Normalização da Segurança no Gerenciamento de

Problemas ......................................................................................................

80

Tabela 16 Cálculo da Média do Critério Qualidade ...................................................... 81

Tabela 17 Cálculo da Média do Critério Custo ............................................................. 81

Tabela 18 Cálculo da Média do Critério Capacidade Técnica do Fornecedor .............. 81

Tabela 19 Cálculo da Média do Critério Segurança no Gerenciamento de Problemas 81

Tabela 20 Matriz de Preferências .................................................................................. 82

Tabela 21 Comparação entre Critérios .......................................................................... 82

Tabela 22 Cálculo para Normalização dos Critérios ..................................................... 82

Tabela 22.1 Cálculo para Normalização dos Critérios ..................................................... 83

Tabela 22.2 Cálculo da Média dos Critérios .................................................................... 83

Tabela 23 Cálculo do Resultado Final ........................................................................... 83

Tabela 24 Matriz inicial da Comparação entre Critérios .............................................. 84

Page 10: AHP Seleção de Fornecedores

10

Tabela 24.1 Matriz Inicial Normalizada e Respectiva Média dos Critérios ..................... 85

Tabela 24.2 Totalização das Entradas .............................................................................. 85

Tabela 25 Vetor para Determinar λ Máximo ................................................................ 85

Tabela 26 Tabela do Índice Aleatório ........................................................................... 86

Page 11: AHP Seleção de Fornecedores

11

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Quadro evolutivo da logística ...................................................................... 23

Quadro 2 Panorama dos modelos de seleção de fornecedores .................................... 49

Quadro 3 Vantagens e inconvenientes dos diferentes métodos de seleção de

fornecedores ................................................................................................

52

Quadro 4 Método de seleção de fornecedores segundo o tipo de aquisição ............... 53

Quadro 5 Critérios de seleção de fornecedores ........................................................... 54

Quadro 6 Critérios de seleção de fornecedores .......................................................... 55

Quadro 7 Alguns meios comumente usados para mensurar o desempenho de

compras ........................................................................................................

67

Quadro 8 Critérios gerais considerados no processo de seleção de fornecedores ....... 74

Quadro 9 Pontuação dos critérios gerais considerados no processo de seleção de

fornecedores .................................................................................................

75

Quadro 10 Posicionamento dos quatro considerados como mais importante no

processo de seleção de fornecedores por parte dos pesquisados .................

75

Page 12: AHP Seleção de Fornecedores

12

SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................................................... 6

ABSTRACT .......................................................................................................................... 7

LISTA DE FIGURAS........................................................................................................... 8

LISTA DE TABELAS.......................................................................................................... 9

LISTA DE QUADROS....................................................................................................... 11

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 14

1.1 Objetivo .......................................................................................................................... 17

1.2 Justificativa ..................................................................................................................... 18

1.3 Etapas do desenvolvimento do trabalho ......................................................................... 19

2 CADEIA DE SUPRIMENTOS ...................................................................................... 20

2.1 Introdução ....................................................................................................................... 20

2.2 Evolução Logística da cadeia de suprimento ................................................................. 22

2.2.1 Atuação segmentada .................................................................................................... 23

2.2.2 Integração Rígida......................................................................................................... 25

2.2.3 Integração Flexível ...................................................................................................... 26

2.2.4 Integração Estratégica (SCM) ..................................................................................... 28

2.3 O PAPEL DA LOGÍSTICA NA CADEIA DE SUPRIMENTO .............................. 30

2.4 A CADEIA DE SUPRIMENTO E SEU GERENCIAMENTO................................ 33

2.5 COMPRAS.................................................................................................................... 37

2.6 DESENVOLVIMENTO DE FORNECEDORES...................................................... 41

2.6.1 Métodos para seleção de Fornecedores ....................................................................... 47

2.6.2 Critérios para desenvolvimento de Fornecedores........................................................ 53

2.6.3 Indicadores de Desempenho do Departamento de Compras ....................................... 62

2.7 O MÉTODO AHP ........................................................................................................ 67

2.7.1 Estrutura do método AHP ........................................................................................... 70

2.7.2 Descrição das etapas do método AHP ......................................................................... 72

3. ESTUDO DE CASO ...................................................................................................... 73

3.1 Levantamento dos critérios............................................................................................. 74

3.2 Aplicação do Método de Análise Hierárquica (AHP) .................................................... 76

Page 13: AHP Seleção de Fornecedores

13

3.2.1 Definir o Problema e os Respectivos Critérios............................................................ 77

3.2.2 Construção da Estrutura de Decisão Hierárquica ........................................................ 77

3.2.3 Construção das matrizes de preferência para cada critério.......................................... 78

3.2.4 Normalizar as matrizes ................................................................................................ 80

3.2.5 Obter a média de cada critério..................................................................................... 81

3.2.6 Construir a matriz de prioridade.................................................................................. 81

3.2.7 Construir a matriz de comparação dos critérios .......................................................... 82

3.2.8 Obter o resultado final ................................................................................................. 83

3.2.9.1 Determinar a totalização das entradas ...................................................................... 85

3.2.9.2 Determinar o λ máximo............................................................................................ 85

3.2.9.3 Calcular o Índice de Coerência - IC ......................................................................... 86

3.2.9.4 Comparar o Índice de Coerência - IC com o Índice Aleatório - IA ......................... 86

4 CONCLUSÃO................................................................................................................. 87

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 88

Page 14: AHP Seleção de Fornecedores

14

1 INTRODUÇÃO

Na década de 90 o tempo médio de processamento e entrega de mercadorias do

estoque de um armazém para o cliente final girava em torno de 15 a 30 dias e, às vezes, até

mais (BOWERSOX, CLOSS & COOPER, 2006). Isso ocorria pelo fato das atividades

serem todas manuais e não integradas. O processo típico de um pedido envolvia atividades

como: solicitação e transferência do pedido, o que normalmente acontecia via telefone, fax,

EDI (intercâmbio eletrônico de dados) ou correio público. O pedido era encaminhando para

aprovação de crédito. Aprovado, era registrado no armazém para fins de seleção e, somente

então, o produto era embarcado para o cliente.

Porém, nessa época, as chances de algo dar errado durante o processo eram muitas.

Os problemas mais frequentes eram falta de estoque, ordem de serviço perdida ou fora de

lugar, entrega mal direcionada, entre outras. Todos esses fatores de falhas elevavam

rapidamente o tempo total de entrega do pedido ao cliente final (BOWERSOX, CLOSS &

COOPER, 2006). Para contornar esses problemas, era comum que os varejistas, atacadistas

e fabricantes mantivessem um numeroso estoque de produtos idênticos. Ainda segundo os

autores, tais práticas de negócios reconhecidas no século XX, bem como a estrutura de

canal de distribuição usada para levar a termo a entrega, desenvolveram-se em função de

anos de experiências datadas desde a Revolução Industrial. Essas práticas assim

permaneceram sem serem desafiadas, por falta de uma opção superior.

Porém, ainda na década de 90, o mundo vivenciou um impacto profundo com o

advento dos avanços da informática, da internet e de uma série de possibilidades acessíveis

de transmissão de informação.

A internet, operando em velocidade de rede, transformou-se em um meio

econômico para conduzir transações e deslanchou o potencial da distribuição eletrônica (e-

distribution) direta ao consumidor e entre empresas (B2B – Business to Business). A partir

daí, uma economia globalizada surgiu rapidamente.

Na era do comercio eletrônico, a realidade da conectividade B2B (Business to

Business) tornou possível uma nova ordem de relacionamento de negócios chamada

“gestão da cadeia de suprimentos” (BOWERSOX, CLOSS & COOPER, 2006).

Page 15: AHP Seleção de Fornecedores

15

Chopra e Meindl (2003) afirmam que a gestão da cadeia de suprimento engloba

todos os estágios envolvidos, direta ou indiretamente, no atendimento ao pedido de um

cliente. Dessa forma, a cadeia de suprimento não inclui apenas fabricantes e fornecedores,

mas transportadoras, depósitos, varejistas e os próprios clientes.

Bowersox, Closs e Cooper (2006) vão além dessa definição. De acordo com os

autores, a gestão da cadeia de suprimento implica uma gestão de relacionamento

multiempresas, inserida numa estrutura caracterizada por limitações de capacidade, de

informações, competências essenciais, capital e restrição de recursos humanos. Portanto, a

estrutura e a estratégia da cadeia de suprimentos resultam de esforços para conectar

operacionalmente uma empresa aos clientes, assim como as redes de apoio à distribuição e

aos fornecedores a fim de ganhar vantagens competitivas. Figura 1 – Modelo Geral da

cadeia de suprimentos.

Figura 1 - Modelo Geral da cadeia de suprimentos Fonte: Bowersox, Closs e Cooper, 2006.

A figura 1 mostra os elementos que compõem a cadeia de suprimentos. Dentre eles,

no que concerne à empresa integrada, há três elementos: compras, distribuição ao mercado

e produção.

Page 16: AHP Seleção de Fornecedores

16

A inclusão de compras como elemento significativo a ser considerado surgiu

justamente a partir do conceito de gestão da cadeia de suprimentos. Antes disso, a atividade

de compras era considerada uma atividade gerencial burocrática ou de baixo nível, cuja

responsabilidade era apenas a de executar e processar pedidos iniciados em algum outro

lugar da organização. O papel da compra era obter o recurso desejado pelo preço de

aquisição mais baixo possível de um fornecedor.

Mas, o foco moderno na gestão da cadeia de suprimentos, com ênfase no

relacionamento entre comprador e vendedor, elevou a compra para uma atividade de nível

superior e estratégico. Segundo Bowersox, Closs e Cooper (2006), a crescente importância

de compras pode ser traçada por muitos fatores, sendo o mais básico o reconhecimento do

volume substancial de dólares despendidos em compras numa organização comum e suas

economias potenciais pela abordagem estratégica na gestão da atividade.

Dentre as atividades da área de compras, a mais relevante é o desenvolvimento do

fornecedor correto, pois, atrelada a essa escolha, o comprador terá resolvido grande parte de

suas considerações, como preço, prazo de entrega e qualidade corretos (de acordo com as

especificações do comprador).

Heinritz e Farrel (1979) consideram quatro os estágios para seleção do fornecedor:

1) levantamento de todas as fontes possíveis; 2) averiguação das qualificações e vantagens

relativas de fontes potenciais; 3) negociações e seleção que leva à emissão de um pedido de

lote inicial; e 4) pela experiência obtida por meio do lote inicial, o comprador estabelece

uma relação continuada com o fornecedor ou revisa as medidas iniciais tomadas na busca

da fonte ideal.

As empresas estão inseridas em um ambiente globalizado e extremamente

competitivo, onde todos os critérios devem ser analisados pelo comprador ao optar por uma

determinada fonte. Perassa e Almeida (2000) citam disponibilidades, prazos,

confiabilidade, transporte, inventários, políticas governamentais, tributos, know-how,

barreiras do comprador e obviamente o comprometimento do fornecedor para com a

empresa compradora como elementos importantes da cadeia de suprimentos, que analisados

em conjunto, levam a empresa compradora a tomar a melhor decisão quanto à fonte de

fornecimento ideal.

Page 17: AHP Seleção de Fornecedores

17

A área de compras de uma empresa é responsável por desenvolver fornecedores que

possam melhor atender suas necessidades. Segundo Pozo (2004) pode-se citar como

responsabilidade do departamento de compras a capacidade de obter materiais e produtos

com qualidade certa, quantidade exata, tempo certo, preço vantajoso e fonte adequada.

Partindo desse princípio ideal a todas as áreas de suprimento, Pozo (2004) enumera as

seguintes metas fundamentais:

a) Permitir continuidade de suprimentos para o perfeito fluxo de produção;

b) Coordenar os fluxos com o mínimo de investimentos em estoques e adequado ao

cumprimento dos programas;

c) Comprar materiais e produtos aos mais baixos custos, dentro das especificações

predeterminadas em qualidade, prazos e preços;

d) Evitar o desperdício e obsolescência de materiais por meio de avaliação e percepção

do mercado;

e) Permitir à empresa uma posição competitiva, mediante negociações justas e

credibilidade;

f) Manter parceria com os fornecedores para crescer junto com a empresa.

1.1 Objetivo

O objetivo geral deste trabalho é demonstrar como o Método de Análise Hierárquica

pode ser usado como ferramenta de tomada de decisão no processo de seleção de

fornecedores, com os seguintes objetivos específicos:

a) Analisar as etapas e fatores de decisão no processo de seleção dos fornecedores;

b) Atribuir valores para cada critério de acordo com a importância do mesmo dentro dos

processos de aquisição e de acordo com a escala fundamental proposta pelo Método de

Análise Hierárquica;

c) Aplicar o Método de Análise Hierárquica;

d) Verificar a influência de cada fator;

e) Evidenciar e explicar a melhor alternativa da fonte de suprimento como resultado da

aplicação do Método de Análise Hierárquica.

Page 18: AHP Seleção de Fornecedores

18

1.2 Justificativa

A justificativa deste trabalho baseia-se na dificuldade encontrada na tomada de

decisões no processo de seleção de fornecedores no mercado global, pois concorrentes

deixaram de ser locais, então, todas as fontes disponíveis devem ser consideradas, não

importando, nesse caso, em que local do globo o fornecedor se encontre. O que irá

diferenciá-lo de seus concorrentes são justamente suas condições de fornecimento.

Segundo Baily et al. (2000), as decisões de compras mais importantes dizem

respeito à seleção da fonte de suprimento ideal, ou seja, se a decisão da fonte correta for

tomada em uma situação particular, as necessidades de compras da empresa devem ser

perfeitamente atendidas. Diante dessas circunstancias essa empresa receberia

continuamente os bens ou serviços. Porém, a simplicidade dessa afirmativa contradiz a

complexidade da tomada de decisão sobre fonte de suprimentos, pois, para se chegar à

decisão correta, fatores como: entrega pontual, qualidade consistente, preço adequado,

apoio técnico, entre outros, devem ser considerados.

Heinritz e Farrel (1979) afirmam que, em geral, a seleção de uma fonte adequada

resolve todas as considerações relativas às compras; a qualidade será a correta, as entregas

serão feitas a tempo e os preços serão justos. Mas, ao mesmo tempo, os autores afirmam

que o problema não é tão simples, pois há específicos padrões de compras para todos esses

fatores e, de qualquer modo, sempre haverá problemas para se encontrar o fornecedor ideal.

Sendo assim, é possível perceber a importância da gestão e seleção de fornecedores;

além de ferramenta estratégica de integração em termos de cooperação, aproveitamento de

infra-estruturas, ainda constitui-se elemento de redução de custo e aumentos de

desempenho do processo de compras (PELÁ, 2010).

Como ferramenta de auxílio na tomada da melhor decisão em relação à fonte de

fornecimento, abordou-se o Método de Análise Hierárquica (MAH) – Analytic Hierarchy

Process (AHP). Segundo Saaty (1980), o MAH é um método que diferencia por seu

algoritmo de determinação dos pesos dos critérios, que se fundamenta no conceito de

combinação binária de cada nível hierárquico de acordo com os elementos de nível

superior. O primeiro nível dessa hierarquia contém informações relativas aos critérios

principais, seguidos pelo segundo nível de critérios secundários associados a cada um dos

Page 19: AHP Seleção de Fornecedores

19

critérios principais e assim sucessivamente. O último nível da interação fornece indicações

do fornecedor potencial. Esse método é extremamente dependente do julgamento do

comprador ou do gestor do processo de escolha do fornecedor.

1.3 Etapas do desenvolvimento do trabalho

O trabalho está estruturado em quatro etapas. A primeira consiste em uma pesquisa

bibliográfica por meio da qual são demonstrados os conceitos principais para

desenvolvimento do trabalho, como Supply Chain Management (Gerenciamento da Cadeia

de Suprimentos), Compras/Suprimentos e Análise Hierárquica (MAH), do inglês The

Analytic hierarchy Process (AHP).

Na segunda etapa foi desenvolvido o estudo de caso que consiste na escolha de um

fornecedor em uma indústria de autopeças. Foram apresentados dois fornecedores para o

grupo de componentes de borrachas, e através do Método de Análise Hierárquica, definiu-

se a melhor opção. Os critérios considerados nessa análise apurados por meio de pesquisa

com pessoas consideradas chave na indústria em questão.

Para isso, apresentou-se aos respondentes 17 critérios, dentre os quais deverão optar

por 5 deles, pontuando-os de 1 a 5, de acordo com sua importância. Na terceira etapa

apresentaram-se os resultados de cada fornecedor e a justificativa pela opção do

selecionado. Na quarta etapa conclui-se o estudo de caso. O esquema de desenvolvimento

do trabalho pode ser visto na figura 2.

Page 20: AHP Seleção de Fornecedores

20

Figura 2 - Esquema de desenvolvimento do trabalho.

2 CADEIA DE SUPRIMENTOS

2.1 Introdução

O conceito geral de cadeia de suprimentos parte do princípio de que não há

nenhuma empresa isolada e auto-suficiente no mercado. O que existe é uma complexa e

interligada cadeia de fornecedores e clientes, pela qual fluem matérias-primas, produtos

intermediários, produtos acabados, informações e dinheiro, além de ser responsável pela

viabilidade do abastecimento de mercados consumidores.

De acordo com Chopra, Meindl et al. (2003), em uma cadeia de suprimentos típica,

as matérias-primas são adquiridas, os itens são produzidos em uma ou mais fábricas e

transportados para depósitos para armazenamento temporário, e então despachados para

varejistas e clientes. Simchi-Levi, Kaminsky e Simchi-Levi (2003) afirmam que, como

consequência, para reduzir os custos e aumentar o nível de serviço, as estratégias eficazes

das cadeias de suprimentos devem considerar as interações nos vários níveis da cadeia.

Ainda de acordo com Simchi-Levi, Kaminsky e Simchi-Levi (2003), a cadeia de

suprimentos, referenciada também como rede logística, é constituída por fornecedores,

Page 21: AHP Seleção de Fornecedores

21

centros de produção, depósitos, centros de distribuição, varejistas e ainda por matéria-

prima, estoque de produtos em processo e produtos acabados que fluem entre as

instalações.

Slack (1993) diz que as redes de suprimentos podem ser divididas em três níveis. A

cadeia total de suprimentos é aquela que envolve todas as relações cliente-fornecedor desde

a extração da matéria prima até a compra do produto pelo consumidor final. Já a cadeia de

suprimentos imediata é aquela em que estão os fornecedores e consumidores com os quais

as empresas fazem negócios diretamente. Finalmente, dentro da empresa em si está a cadeia

de suprimentos local, com fluxos internos de materiais e informações entre departamentos

células ou setores da operação.

Christopher (1997) afirma que nenhuma organização pode desenvolver uma

estratégia de vantagem competitiva que aperfeiçoe somente suas eficiências internas se ela

fizer parte de uma cadeia de suprimentos mais ampla. A vantagem competitiva somente é

alcançada quando o fluxo como um todo é mais eficiente e mais eficaz que dos

concorrentes.

Para Ballou (2006), que apresenta uma visão logística-operacional sobre o assunto,

a cadeia de suprimentos é um conjunto de atividades funcionais (transportes, controle de

estoques etc) que se repetem inúmeras vezes ao longo do canal pelo qual as matérias-

primas vão sendo convertidas em produtos acabados, aos quais se agrega valor ao

consumidor.

O nota-se é que vários são os autores que conceituam cadeia de suprimento e que

todos estão em sintonia com a definição dada pelo Council of Supply Chain Management

(CSCM) – entidade internacional que visa promover o conhecimento nessa área para seus

associados.

Segundo uma das definições dadas pelo CSCM, a cadeia logística envolve o

planejamento e gerenciamento de todas as atividades relacionadas ao recebimento e

fornecimento, produção e todas as atividades de gerenciamento logístico. Mas,

principalmente, seu papel mais importante está em considerar a coordenação e colaboração

com canais parceiros, que podem ser fornecedores intermediários, terceirizados e clientes.

Page 22: AHP Seleção de Fornecedores

22

2.2 Evolução Logística da cadeia de suprimento

Conforme Novaes (2007), o processo de evolução logística divide-se em quatro

fases: atuação segmentada, integração rígida, integração flexível e integração estratégica

(SCM). A figura 3 ilustra as fases:

Figura 3 – Processo de evolução logística. Fonte: Novaes, 2007.

Dallas e Morais (2006) ressaltam que esta é uma forma mais didática e clara de

perceber a evolução da logística, mas, que as datas e as sequências não se aplicam a

qualquer organização, tendo em vista fatores necessários para que ocorram tais mudanças.

A modernização da estrutura organizacional; a interligação pela TI de todos os parceiros da

cadeia e a implantação de sistemas de custo adequados aos objetivos não são observados ao

mesmo tempo em todas as organizações. O quadro 1 apresenta a evolução resumida de cada

fase.

Page 23: AHP Seleção de Fornecedores

23

Quadro 1 – Quadro evolutivo da logística Fonte: Novaes, 2007.

2.2.1 Atuação segmentada

De acordo com Novaes (2007), a primeira fase da evolução logística teve seu

desenvolvimento estimulado após a Segunda Guerra Mundial graças à capacidade ociosa

das indústrias e dos novos processos de fabricação em série. De fato, as indústrias da época

aproveitaram as demandas existentes por produtos como automóveis, eletrodomésticos,

bebidas, vestimentas, entre outras. Por outro lado, os produtos eram padronizados, ou seja,

tipos e cores únicos.

Essa época foi caracterizada pela falta de sistemas de informação, portanto, as

indústrias fabricavam os lotes de produtos e os mandavam para estoque em seus próprios

depósitos. Esses produtos lá permaneciam à espera do pedido dos centros de distribuição,

atacadistas ou grandes varejistas. Os estoques nas fábricas funcionavam como pulmão entre

manufatura e centros de distribuição, balanceando os fluxos na cadeia de suprimento. Por

outro lado, muitos varejistas colocavam seus pedidos nos centros de distribuição ou

atacadistas. Nesse caso, os estoques localizados nesses lugares funcionavam como pulmão

para as lojas de varejo. A figura 4 ilustra esse fluxo.

Page 24: AHP Seleção de Fornecedores

24

Figura 4 – Primeira fase da logística – Atuação Segmentada. Fonte: Novaes, 2007.

Entretanto, não se pode esquecer que, além desses estoques, ainda havia os estoques

de componentes e produtos em processamento nas fábricas e, por trás disso, todo o estoque

de matéria-prima e de componentes nos fornecedores. Além disso, os produtos

transportados nos caminhões entre os pontos diversos da rede logística também formam o

estoque e são chamados estoques em trânsito.

Como logística, o que as empresas dessa época procuravam era centrar o foco nas

possíveis economias que poderiam ser obtidas utilizando o modal de transporte de menor

custo, utilizando veículos de maior capacidade e buscando empresas que oferecessem

menor custo nos fretes, não se importando com os estoques que eram formados ao longo da

cadeia.

Dallas e Morais (2006) observam que nesse momento a racionalização da cadeia de

suprimentos era resultante da otimização individual de cada componente, o que remetia à

ineficiência global do sistema.

Para controle dos estoques utilizava-se, na época, o critério EOQ (Economic Order

Quantity - Quantidade Econômica do Pedido). Sob esse enfoque, os estoques eram

renovados de forma a minimizar a soma do custo de inventário, do custo de transporte e do

custo para elaborar o pedido. Nessa época, o processo para um pedido englobava atividades

do tipo: pesquisa de preços e demais condições de suprimento junto a vários fornecedores

por meio de telefone, correio ou recebendo os vendedores para entrevistas diretas na

própria empresa.

Page 25: AHP Seleção de Fornecedores

25

2.2.2 Integração Rígida

Conforme relata Novaes (2007), com o surgimento dos especialistas em marketing,

os produtos padronizados característicos da primeira fase deixaram de ser interessantes para

os consumidores, pois tais especialistas começaram a incitar nos consumidores a vontade

de ter opções de cores e modelos diferentes dos produtos disponíveis no mercado. Além

disso, novos produtos estavam sendo incorporados ao cotidiano das pessoas, como a

televisão, a geladeira, o aparelho de som.

O aumento na oferta de produtos e de opções foi possível porque os processos

produtivos foram se tornando cada vez mais flexíveis. Por outro lado, como consequência,

as empresas tiveram que lidar com um aumento acentuado ao longo da cadeia produtiva,

passando ser necessária uma maior racionalização da cadeia de suprimentos, visando

menores custos e maior eficiência.

No inicio da década de 70 vivenciou-se a crise do petróleo, encarecendo

subitamente o transporte de mercadorias, acarretando aos empresários redução nas margens

de comercialização, e aos consumidores, o encarecimento dos produtos.

Uma das características marcantes dessa época foi a utilização intensiva da

multimodalidade no transporte de mercadorias, visando redução de custos e aproveitamento

a capacidade ociosa nas diversas modalidades.

Ainda dentro dessa fase, na década de 60 houve a introdução da informática nas

operações das empresas, mesmo que de forma tímida, substituindo apenas os

procedimentos feitos manualmente, permitiu o tratamento mais sofisticado de uma

variedade de problemas, como por exemplo, os modelos de otimização dos estoques, de

sequenciamento da produção no chão de fábrica (job shop scheduling), de localização

otimizada de centros de distribuição, entre outros.

Esse fato levou as empresas a uma maior racionalização de seus processos, sendo

que os elementos chaves dessa racionalização foram a otimização das atividades e o

planejamento. Nessa época, a produção tinha grande poder na indústria e o planejamento

era feito pelos responsáveis da área e apenas alterado quando identificada a necessidade,

porém, sem envolvimento de outras áreas. Consequentemente, essa pratica gerava estoques

excessivos ao longo de toda cadeia de suprimento.

Page 26: AHP Seleção de Fornecedores

26

Para tentar minimizar os efeitos negativos, passou-se a incluir no planejamento

outros setores da empresa, além dos fornecedores e clientes. Mensalmente os centros de

distribuição das indústrias consultavam os varejistas, seus clientes e faziam previsões de

demanda. Dessa maneira, a produção conseguia se planejar de forma a transmitir ao

departamento de compras as necessidades de matéria-prima e de componentes referentes ao

mês seguinte. Por sua vez, o departamento de compras conseguia planejar junto aos

fornecedores a programação de compras sem maiores surpresas. Esse enfoque estava por

trás de sistemas de programação da produção do tipo MRP e MRP II.

Embora esse processo de integração permitisse maior racionalização das operações,

ainda era falho, pois não havia nenhuma flexibilidade nessa forma de planejamento. Uma

vez efetivado, todas as alterações que ocorressem durante o processo traziam transtornos às

outras áreas, isso porque a manufatura alterava a programação sem comunicar os evolvidos

(compras, por exemplo); vendas fechava novos contratos com clientes e não informava à

manufatura, os fornecedores atrasavam as entregas e não avisavam, e assim por diante.

Dessa forma, Novaes (2007) caracteriza essa fase como uma busca inicial da

racionalização integrada da cadeia de suprimento, mas ainda muito rígida, pois não permitia

a correção dinâmica, em tempo real, do planejamento. A figura 5 mostra que já havia uma

integração de planejamento entre os elementos da cadeia de suprimento, mas não flexível,

assemelhando-se a um duto rígido de PVC ligando as partes.

Figura 5 – Segunda fase da logística – Integração Rígida. Fonte: Novaes, 2007.

2.2.3 Integração Flexível

De acordo com Novaes (2007), a terceira fase da logística é caracterizada pela

integração dinâmica e flexível entre os agentes da cadeia de suprimento, em dois níveis:

Page 27: AHP Seleção de Fornecedores

27

dentro da empresa e nas inter-relações da mesma com seus fornecedores e clientes. Porém,

nessa fase a integração das empresas se dá somente duas a duas.

A terceira fase tem início no fim da década de 80 e ainda é implementada em muitas

empresas.

A novidade dessa fase é o intercâmbio das informações entre dois elementos da

cadeia de suprimento que efetivou-se via eletrônica, por meio do EDI (Intercâmbio

Eletrônico de Dados).

O desenvolvimento da informática nesse período possibilitou integração dinâmica

de consequências importantes na agilização da cadeia de suprimento. Exemplo foi o uso do

código de barras nos produtos vendidos nos supermercados, gerando uma flexibilidade das

vendas com o centro de distribuição, fornecendo dados mais precisos sobre a posição dos

estoques, garantindo maior controle.

Além de permitir o intercâmbio eletrônico de dados entres fornecedores e clientes, o

EDI ainda flexibilizava o processo de programação, permitindo ajustes frequentes.

Por essa razão, Novaes (2007) assimila a terceira fase da logística a uma mangueira

flexível, que interliga os elementos da cadeia e se adapta instantaneamente às necessidades

momentâneas do processo, conforme figura 6.

Figura 6 – Terceira fase da logística – Integração Flexível. Fonte: Novaes, 2007.

Na terceira fase da logística, diferentemente das outras fases, passou-se a observar

maior preocupação com a satisfação plena do cliente. Nessa fase o conceito de cliente vai

além do cliente-consumidor final e consideram-se também como cliente todos os elementos

Page 28: AHP Seleção de Fornecedores

28

intermediários, que por sua vez são clientes dos fornecedores que os antecedem na cadeia

de suprimento.

Por fim, outra tendência dessa fase observada por Novaes (2007) foi a busca pelo

estoque zero. Ainda que aparentemente impossível de se alcançar, o autor ressalta que, por

meio de melhorias contínuas no processo, foi possível alcançar um nível ideal de estoque,

ou seja, algo parecido com o custo kaizen dos japoneses.

2.2.4 Integração Estratégica (SCM)

De acordo Novaes (2007), a quarta fase da evolução logística é caracterizada por

um salto qualitativo de maior importância: as empresas da cadeia de suprimento passam a

tratar a questão da logística de forma estratégica. Assim, ao invés de otimizar somente

operações isoladas, focando os processos logísticos como meros geradores de custo, as

empresas participantes da cadeia de suprimento passaram a buscar por novas soluções,

utilizando-se da logística para ganhar competitividade e induzir novos negócios.

Os agentes da cadeia de suprimento perceberam que precisavam trabalhar mais

próximos e trocar informações, formando parcerias. Além disso, a globalização e a

competição cada vez mais acirrada entre as empresas fizeram com que esses agentes da

cadeia de suprimentos olhassem para a logística sob uma nova ótica, considerando-a como

elemento diferenciador na busca de mais fatias do mercado.

A novidade introduzida nessa fase foi o postponement (postergação), que tinha por

objetivo reduzir o tempo de entrega dos pedidos utilizando todos os recursos disponíveis,

de modo a minimizar o tempo gasto para entrega do produto ao cliente. Novaes (2007),

exemplifica o postponement com a seguinte situação: os veículos fabricados na França e

destinados à Espanha vão sendo montados durante a viagem de trem, desde a fábrica até o

destino – limpadores de pára-brisa, rádios, frisos e outros componentes que não exigem

mão-de-obra e equipamentos sofisticados e que podem ser montados fora da fábrica vão

sendo agregados ao veiculo dessa forma.

Outra novidade surgida na quarta fase são as empresas virtuais, também conhecidas

por agile enterprises (empresas ágeis). Trata-se de fabricantes de produtos de grande valor

Page 29: AHP Seleção de Fornecedores

29

agregando, em geral, eletrônicos, que se localizam junto a grandes aeroportos e que atuam

de forma ágil.

Mas o que distinguiu a quarta fase das demais foi o surgimento de uma nova

concepção no tratamento dos problemas logísticos. Trata-se do SCM – Supply Chain

Management (Gerenciamento da Cadeia de Suprimento).

Sob essa nova abordagem, a integração entre os processos ao longo da cadeia de

suprimento continua a ser feita em termo de fluxo de materiais, de informação e de

dinheiro, mas, a diferença é que os participantes dessa cadeia atuam de forma estratégica,

buscando os melhores resultados possíveis em termos de redução de custos, de desperdícios

e de agregação de valor para o consumidor final.

Na quarta fase, a separação nítida percebida entre os participantes da cadeia de

suprimento deixa de existir definitivamente e passa a haver uma interpenetração de

operações entre os elementos da cadeia, conforme demonstrado na figura 7.

Figura 7 – Quarta fase da logística – Integração Estratégica (SCM). Fonte: Novaes, 2007.

Além de redução de estoques e maior qualidade nos serviços logísticos, a

competição entre as empresas num ambiente globalizado passou a exigir custos reduzidos e

prazo curto no ciclo do pedido. Para conseguir atender essa nova demanda do mercado, as

empresas passaram a utilizar-se cada vez mais da tecnologia da informação. Por outro lado,

procuraram concentrar-se em suas atividades principais (core competence), terceirizando

muitas de suas atividades e buscando parcerias com fornecedores e clientes.

Page 30: AHP Seleção de Fornecedores

30

O intercâmbio de informações durante essa fase da logística é intenso, mas Novaes

(2007) destaca outros elementos característicos dessa fase:

• Ênfase absoluta na satisfação plena do consumidor final;

• Formação de parcerias entre fornecedores e clientes ao longo da cadeia de

suprimento;

• Abertura plena, entre parceiros, possibilitando acesso mútuo às informações

estratégicas e operacionais;

• Aplicação de esforços de forma sistemática e continuada, visando agregar o máximo

valor para o consumidor final e eliminar os desperdícios, reduzindo custos e

aumentando a eficiência.

De acordo com Novaes (2007), a gestão da logística seria o braço tático do SCM, ou

seja, a logística é uma das partes do SCM, porém, para que se chegasse ao pleno conceito e

prática do SCM, fez-se necessário todo o processo evolutivo da logística em suas quatro

fases, até que fosse atingido o estágio em que a logística estivesse desenvolvida o suficiente

para viabilizar o SCM (NOVAES, 2007).

2.3 O papel da logística na cadeia de suprimento

Conforme Ballou (2006), a logística empresarial é um campo relativamente novo do

estudo da gestão integrada. As atividades logísticas foram por muitos anos exercidas pelos

próprios indivíduos. As empresas também estiveram permanentemente envolvidas em

atividades de movimentação-armazenagem (transporte-estoque). A novidade então,

segundo Ballou (2004), vem justamente do conceito de gestão coordenada de atividades

inter-relacionadas em substituição à prática histórica de administrá-las separadamente, e do

conceito de que a logística agrega valor a produtos e serviços essenciais para a satisfação

do consumidor e o aumento das vendas.

A logística tem suas origens ligadas às atividades militares, principalmente após a

Segunda Guerra Mundial em 1950. A princípio, a logística era vista apenas como um custo

ligado ao serviço e/ou produto. Anterior a essa data, as empresas fragmentavam suas

Page 31: AHP Seleção de Fornecedores

31

atividades de compras, de administração, de estoques, de processamento de pedidos e de

transporte em diversas gerências, não havendo uma preocupação com a atividade chave da

logística. Essas atividades passaram a ser consideradas importantes quando o enfoque da

organização é transferido da produção para o atendimento às necessidades dos clientes.

Dessa forma, tornam-se explícitos os valores agregados pela logística (DALLAS E

MORAIS, 2006).

De acordo com Bowersox e Closs (2001), no âmbito da gestão, as empresas têm

sido tradicionalmente estruturadas em departamentos para facilitar a atenção, o

estabelecimento de rotinas, a padronização e o controle dos trabalhos. Além disso, práticas

contábeis foram desenvolvidas para medir o desempenho dos departamentos. A maioria

dessas funções de desempenho se concentrou em atividades individuais.

Para Bowersox e Closs (2001), o desafio fundamental da gestão integrada é o de

redirecionar a ênfase tradicional na funcionalidade para se concentrar na realização do

processo. A gestão de processos integrados procura identificar e alcançar menor custo total

ao detectar trocas compensatórias (trade-offs) existentes entre as funções. Bowersox e

Closs (2001) exemplificam esse processo: uma empresa talvez seja capaz de reduzir custos

totais ao despender mais em transporte mais rápido e mais confiável porque o custo do

inventário associado ao processo pode ser reduzido num valor maior do que aquele gasto

em transporte mais caro. Portanto, para Bowersox e Closs (2001), o objetivo da gestão

integrada é atingir o mais baixo custo de todo o processo, e não a obtenção do custo mais

baixo para cada função incluída no processo.

Christopher (1997) observa que os generais e marechais dos tempos remotos

compreenderam o papel crítico da logística, mas que, estranhamente, somente num passado

recente as organizações empresariais reconheceram o impacto vital que o gerenciamento

logístico pode ter na obtenção da vantagem competitiva. Ainda de acordo com o autor, a

vantagem competitiva, é obtida quando uma empresa ocupa uma posição de superioridade

duradoura sobre os concorrentes, em termos de preferência do cliente.

Conforme afirma Christopher (1997), as bases do sucesso no mercado são muitas,

mas um modelo simples é baseado na trilogia: companhia, seus clientes e seus

concorrentes, os três C’s, conforme figura 8.

Page 32: AHP Seleção de Fornecedores

32

Figura 8 - A Vantagem Competitiva e os “3 Cs”. Fonte: Christopher, 1997.

A fonte da vantagem competitiva é encontrada, primeiramente, na capacidade de a

organização diferenciar-se de seus concorrentes aos olhos do cliente e, em segundo lugar,

pela sua capacidade de operar a baixo custo e, portanto com lucro maior.

De acordo com Novaes (2007) há algumas décadas, as grandes indústrias produziam

a maior parte dos componentes necessários à fabricação de seus produtos. Isso ocorria

porque essas indústrias conseguiam produzi-los a custos mais baixos. Por outro lado, por

questões estratégicas e de poder econômico, não gostavam de ficar na dependência de

fornecedores. Nesse contexto a tendência era a verticalização industrial. Porém, hoje

conceitos de vantagem competitiva e de core competence (competência central) estão

presentes na definição das estratégias das grandes empresas. É mais proveitoso para a

empresa concentrar suas atividades naquilo que ela consegue fazer bem, diferenciando-se

positivamente de seus concorrentes e adquirindo externamente componentes e serviços

ligados a tudo que não estiver dentro de sua competência central. Isso significa que hoje as

empresas adquirem não somente matéria-prima, mas também serviços de variadas espécies,

como: distribuição, armazenagem e transporte de produtos e insumos, alimentação de

empregados entre muitos outros.

Conforme Christopher (1997) o gerenciamento da cadeia de suprimentos não é a

mesma coisa que “integração vertical”. Pensou-se no passado que essa seria uma estratégia

Page 33: AHP Seleção de Fornecedores

33

desejável, mas atualmente as empresas têm enfocado cada vez mais em “seus negócios”,

através dos quais elas conseguem o diferencial competitivo, sendo o restante adquirido

externamente.

Bowersox, Closs e Cooper (2006) já pensavam o mesmo que Novaes (2007) ao

assumirem que para superar desafios de negociações comerciais, as empresas

desenvolveram relações de negócios com outras companhias de produtos e serviços para

conjuntamente desempenharem atividades essenciais. Essa reconhecida dependência foi

necessária para alcançar benefícios de especializações. Após os primeiros anos da

revolução industrial os administradores começaram a planejar, estrategicamente,

competências essenciais, especialização e economia de escala. Disso resultou-se a

percepção de que trabalhar muito próximo a outros negócios era essencial para obter o

sucesso continuado da empresa e esse entendimento de que nenhuma empresa poderia ser

auto-suficiente contrastava com entendimentos anteriores de integração vertical de

propriedade.

Christopher (1997) afirma que se deve reconhecer que o conceito de gerenciamento

da cadeia de suprimentos, enquanto relativamente novo, em verdade não é nada mais que

uma extensão da logística. De acordo com esse autor, o gerenciamento logístico está

primeiramente preocupado com a otimização de fluxos dentro da organização, enquanto

que o gerenciamento da cadeia de suprimentos reconhece que a integração interna por si só

não é o suficiente.

Ballou (2006) afirma que a logística diz respeito à criação de valor, seja para os

clientes e fornecedores, seja para os acionistas da empresa. De acordo com esse autor o

valor em logística é expresso em termos de tempo e lugar e conclui que produtos e serviços

não têm valor, a menos que estejam sob a posse do cliente, quando (tempo) e onde (lugar)

eles desejam.

2.4 A cadeia de suprimento e seu gerenciamento

Conforme Christopher (1997) nos últimos anos do século XX o ambiente dos

negócios sofreram sérias turbulências. Um fator importante para isso foi a demanda

crescente por níveis cada vez mais altos de serviços e qualidade. Com tantas pressões as

Page 34: AHP Seleção de Fornecedores

34

organizações sentiram a necessidade imperativa de se tornarem mais ágeis. Ainda de

acordo com o autor, a organização ágil não somente procura colocar o cliente no centro do

negócio, mas projeta todos os seus sistemas e procedimentos com o objetivo principal de

melhorar a velocidade e a confiabilidade da resposta ao cliente.

Com as enormes pressões competitivas vivenciadas atualmente, a atividade de

gerenciar a cadeia de suprimento tem ganhado cada vez mais espaço nas relações de

negócios. É fato que a competição no mercado ocorre no nível das cadeias produtivas e não

apenas nas unidades de negócios isoladas.

Slack (1993) afirma que a cadeia de suprimento pode ser vista em três níveis, sendo

a cadeia total a que envolve todas as relações cliente-fornecedor desde a extração da

matéria-prima até a compra do produto pelo consumidor final. A cadeia de suprimento

imediata é que contempla fornecedores e consumidores com os quais a empresa faz

negócios diretamente. E, dentro da própria empresa, está a cadeia de suprimento local, com

os fluxos internos de materiais e informações entre departamentos, células ou setores da

produção. Esse esquema é representado pela figura 9.

Figura 9 – Níveis da cadeia de suprimentos. Fonte: Slack, 1993.

Conforme Handfield e Nichols (1999) a importância de efetivamente gerenciar o

fluxo de materiais através da cadeia de fornecimento tem sido percebida nos últimos anos

como crítica por executivos e pesquisadores. O custo associado com esse fluxo de materiais

tem sido um problema de particular interesse por parte desses executivos. Ainda de acordo

Page 35: AHP Seleção de Fornecedores

35

com esses autores, especialistas industriais estimam que o custo despendido com a cadeia

de fornecimento representa a maior parte das despesas operacionais para a maioria das

organizações e, em algumas delas, esse custo chega a 75% do total do orçamento

operacional anual.

Para Bowersox, Closs e Cooper (2007) o desafio fundamental da gestão integrada

da cadeia de suprimento é redirecionar a tradicional ênfase na funcionalidade em um

esforço para se concentrar na realização do processo. Esses autores ainda afirmam que nas

últimas décadas ficou claro que as funções, mais bem realizadas individualmente em

grupos, não necessariamente se combinam ou se agregam para alcançar o menor custo total

ou processos altamente eficazes. A gestão integrada de processos busca identificar e

alcançar o menor custo total equilibrando as compensações (trade-off) que existem entre as

funções. Portanto, a gestão integrada tem como objetivo alcançar o menor custo total do

processo, que não necessariamente significa atingir o menor custo para cada função

incluída no processo.

Chopra e Meindl (2008) afirmam que o objetivo de toda cadeia de suprimento é

maximizar o valor global gerado. O valor gerado por uma cadeia de suprimento é a

diferença entre o valor do produto final para o cliente e o esforço realizado pela cadeia de

suprimento para atender ao seu pedido.

De acordo com Chopra e Meindl (2008) o gerenciamento da cadeia de suprimento

bem sucedido é baseado em várias decisões relacionadas ao fluxo de informações, de

produtos e valores. Os autores dividem essas decisões em três categorias ou fases:

1. Estratégia ou projeto da cadeia de suprimento: nessa fase a empresa decide como

estruturar sua cadeia de suprimento. A empresa determina também qual será a configuração

da cadeia e que processos cada estágio deverá desempenhar. Esse grupo de decisões é

também chamado de decisões estratégicas para a cadeia de suprimento. As decisões

tomadas pela empresa nessa fase incluem: local, capacidade de produção e das instalações

para armazenagem, produtos a serem fabricados ou estocados em diversos locais, meios de

transporte a serem disponibilizados de acordo com os diferentes turnos de expedição e o

tipo de sistema de informação que será adotado. Nesse estágio, é importante que a empresa

garanta que a configuração de sua cadeia de suprimento possa apoiar seus objetivos

Page 36: AHP Seleção de Fornecedores

36

estratégicos durante todo o desenvolvido dessa fase. As decisões de projeto da cadeia de

suprimento são normalmente tomadas pensando a longo-prazo e sua alteração repentina é

muito cara. Portanto, ao tomar decisões as empresas devem levar em consideração a

incerteza por anteciparem as condições de mercados para os anos projetados.

2. Planejamento da cadeia de suprimento: nessa fase as empresas definem um conjunto

de políticas operacionais que lideram as operações de curto prazo. Para as decisões tomadas

durantes esse estágio, a configuração da cadeia de suprimento, determinada na fase

estratégica, é fixa. Essa configuração apresenta restrições dentro das quais cada

planejamento deve ser realizado. A fase de planejamento é iniciada pelas empresas com

uma previsão de demanda para o ano seguinte (ou período d execução semelhante) em

diferentes mercados. A fase de planejamento inclui decisões sobre: quais mercados serão

supridos e de que locais; construção de estoques; terceirização da fabricação; políticas de

reabastecimento e estocagem a serem seguidas; políticas que serão desempenhadas em

relação a locais de reserva, no caso de incapacidade de atender a um pedido e a

periodicidade e dimensão das campanhas de marketing. Na fase de planejamento, também é

estabelecido pela empresa os parâmetros dentro dos quais a cadeia de suprimento

funcionará durante um período de tempo especificado. Nessa fase as empresas também

devem considerar as incertezas em suas decisões. Comparadas com empresas que ainda

estão na fase de projeto da cadeia de suprimento, as empresas na fase de planejamento

conseguem trabalhar com períodos mais curtos e com melhores previsões e. por isso, essas

empresas tentam incorporar qualquer flexibilidade que tenha sido criada na cadeia de

suprimento durante a fase de projeto e explorá-las para otimizar o desempenho em um

período mais curto.

3. Operações da cadeia de suprimento: nessa fase o período de tempo considerado

pelas empresas é semanal ou diário e durante essa fase as empresas tomam decisões sobre

pedidos individuais de clientes. Na fase operacional da cadeia de suprimento sua

configuração é considerada fixa e as políticas de planejamento já como definidas. O

objetivo das operações da cadeia de suprimento é implementar as políticas operacionais da

melhor maneira possível. Nessa fase as empresas distribuem os pedidos individuais para

estoque ou produção, determinam a data em que o pedido devera ser atendido, geram

inventário nos depósitos, adaptam o pedido a um meio de transporte ou expedição

Page 37: AHP Seleção de Fornecedores

37

apropriado, organizam as entregas dos caminhões e encaminham os pedidos de

reabastecimento. Como as decisões operacionais são tomadas em curto prazo há menos

incerteza em relação à demanda. O objetivo durante a fase operacional é explorar a redução

de incerteza e otimizar o desempenho dentro das restrições estabelecidas pela configuração

e pelas políticas de planejamento (fase anterior).

Como se pode notar, de acordo com Chopra e Meindl (2008) as fase de decisão da

cadeia de suprimento podem ser classificadas em: projeto, planejamento ou operação,

dependendo do período de execução no qual as decisões tomadas serão aplicadas. O

projeto, o planejamento e a operação da cadeia de suprimento exercem um grande impacto

na lucratividade e no sucesso da empresa como um todo.

2.5 Compras

Bowersox, Closs e Cooper (2007) afirmam que toda organização, seja ela industrial,

atacadista ou varejista compra materiais, serviços e suprimentos para apoiar as suas

operações. Historicamente, as compras eram percebidas como uma atividade de

funcionários administrativos ou de gerentes de níveis inferiores que tinham a

responsabilidade de executar e processar pedidos feitos por outros setores da organização.

Nesse caso, o papel do setor de comprar era obter de um fornecedor o recurso desejado pelo

menor preço de compra possível. Porém, nas últimas décadas essa visão tradicional sobre o

departamento de compras mudou significativamente. De acordo com Bowersox, Closs e

Cooper (2007) o foco moderno encontra-se nos gastos totais e no desenvolvimento de

relacionamentos entre compradores e vendedores. Consequentemente, as compras foram

elevadas à categoria de atividade estratégica.

Segundo Baily et al. (2000), compras é vista pela organização como uma atividade

de importância estratégica considerável. O fato de o papel estratégico e de contribuição de

compras e suprimentos serem bem reconhecidos em muitos negócios relevantes significa

que as decisões estratégicas de compras podem ser tomadas em nível de diretoria, em vez

de o serem por um gerente departamental. De acordo com esses autores, o papel e a

Page 38: AHP Seleção de Fornecedores

38

contribuição de compras cresceu com bastante firmeza durante a segunda metade do século

XX, sendo que o maior interesse pela atividade vem ocorrendo em anos recentes.

Bowersox, Closs e Cooper (2007), a crescente importância de compras pode ser

atribuída a diversos fatores. O mais importante deles é o reconhecimento do substancial

gasto monetário em uma organização típica e o potencial de economia monetária de uma

estratégia viável de compras. De acordo com esses autores o fato é simples: as mercadorias

e serviços comprados encontram-se entre os elementos de custo mais alto na maioria das

empresas.

Para Ballou (2006), o setor de compras ocupa uma posição importante na maioria

das organizações, pois peças, componentes e suprimentos comprados representam, em

geral, de 40 a 60% do valor final das vendas de qualquer produto. Ballou (2006) afirma que

isso significa que reduções de custos relativamente baixas conquistadas no processo de

aquisição de materiais podem ter um impacto bem maior sobre os lucros do que

aperfeiçoamentos semelhantes em outras áreas de custos e vendas da organização. De

acordo com Ballou (2006), a isso se dá o nome de alavancagem. Esse autor argumenta que

embora grande parte do custo dos bens comprados não possa ser administrada, muitas vezes

procedimentos muito simples como solicitar cotação de dois fornecedores para cada item

comprado, trabalhar em colaboração com fornecedores a fim de controlar os custos, tirando

proveito de descontos por vendas de grande volume, ou prestar atenção à origem, rotas e

seleção de modais de transporte são fatores desencadeadores de substanciais reduções de

custos. Ainda de acordo com o autor, o percentual de redução nem precisa ser grande

demais para que se consigam redução de custo e melhoria dos lucros em termos financeiros

absolutos.

Conforme Bowersox, Closs e Cooper (2007), a evolução do foco nas compras como

habilidade organizacional fundamental tem estimulado uma nova perspectiva em relação a

seu papel na gestão da cadeia de suprimentos. Assim sendo, o foco deixou de ser na

negociação adversária, voltada apenas para a transação e passou a ser em garantir que a

empresa esteja posicionada para implementar suas estratégias de produção e marketing com

apoio da base de fornecedores. Bowersox, Closs e Cooper (2007) ressaltam que um foco

considerável é colocado na garantia do fornecimento contínuo, da minimização dos

Page 39: AHP Seleção de Fornecedores

39

estoques, da melhoria da qualidade, do desenvolvimento de fornecedores e do menor custo

total de propriedade, conforme detalhado a seguir:

1. Fornecimento contínuo: a falta de estoque de matérias-primas, peças ou

componentes pode interromper ou forçar uma alteração nos planos de produção, resultando

em custo inesperado. Além disso, o tempo ocioso devido a interrupções na produção

aumenta os custos operacionais e pode resultar em uma incapacidade de fornecer produtos

acabados conforme prometido a clientes. Dessa forma, um dos objetivos principais de

compras é garantir um fornecimento contínuo de materiais, peças e componentes a fim de

manter as operações de fabricação.

2. Minimização do investimento em estoques: no passado, como as empresas não

tinham controle sob o potencial de interrupção no fornecimento, elas mantinham grandes

estoques de materiais e componentes para evitar paradas inesperadas na produção. Porém,

manter estoques é dispendioso. Portanto, uma das metas de compras é manter a

continuidade no fornecimento com o mínimo possível de investimento em estoque.

3. Melhoria da qualidade: o setor de compras tem como umas de suas

responsabilidades coordenar junto aos seus fornecedores o atendimento da qualidade

exigida e especificada para cada produto, pois a qualidade de bens e serviços acabados

depende da qualidade dos materiais e componentes usados. Se forem utilizados

componentes ou materiais de baixa qualidade, o produto final provavelmente não

corresponderá aos padrões de qualidade exigidos pelo cliente. Dessa forma, tanto a empresa

quanto seus fornecedores têm que estar comprometidos com uma iniciativa de melhoria

contínua da qualidade.

4. Desenvolvimento de fornecedores: compras bem sucedidas dependem diretamente

de localizar ou desenvolver fornecedores, analisar suas habilidades e selecionar e trabalhar

com esses fornecedores para atingir a melhoria contínua. Desenvolver bons

relacionamentos de fornecimento com empresas que estejam comprometidas com o sucesso

da empresa compradora é fundamental no desenvolvimento de fornecedores. É importante

que a empresa compradora esteja disposta a desenvolver um relacionamento de confiança

com seus fornecedores para que ela se sinta segura em passar para eles informações e

recursos para juntos alcançarem resultados melhores. Essa perspectiva sobre compras e

desenvolvimento de fornecedores contrasta radicalmente com o tradicional foco apenas no

Page 40: AHP Seleção de Fornecedores

40

preço, que acabou criando relacionamentos antagonistas entre as empresas e seus

fornecedores.

5. Menor custo total de propriedade: a diferença na perspectiva entre a estratégia de

compras tradicional e adversária e a mais contemporânea e colaborativa pode ser resumida

como um foco no custo total de propriedade ou total cost ownership – TCO em contraste

com um foco apenas no preço de compra. Os profissionais de compras reconhecem que,

embora o preço de compra de um material ou item continue sendo importante, ele é apenas

uma parte do custo total da organização. Os custos de serviços e os custos do ciclo de vida

também têm que ser considerados. Uma preocupação constante de qualquer comprador é

computar os descontos recebidos do fornecedor, seja por meio de negociação pontual ou

mesmo por um desconto concedido pelo vendedor sobre sua tabela de preço publicada. Um

exemplo desse comportamento acontece quando vendedores oferecem descontos por

quantidade comprada ou desconto para pagamento à vista. Porém, ao receber esse tipo de

oferta o comprador deve considerar outros custos associados, pois para se beneficiar do

desconto por quantidade, o comprador estará aumentando o estoque médio de materiais ou

suprimentos. Além disso, o tamanho da compra também tem impacto sobre os custos

administrativos associados à compra. Os termos de venda (condições de pagamento

negociadas) também representam impacto sobre o custo total de propriedade. Um

fornecedor que oferece condições de credito mais favoráveis está, na realidade,

influenciando o preço de compra. Por isso, o comprador deve comparar aos preços de

outros fornecedores em outras condições, considerando o valor do dinheiro no tempo. O

que normalmente não é considerado na prática tradicional de compras é o impacto das

estruturas de preço e descontos sobre as operações e os custos logísticos. Muitas

considerações logísticas são ignoradas ou recebem pouca atenção quando os compradores

tentam chegar ao menor preço de compra. Hoje há um crescente reconhecimento da

importância dos custos logísticos para o TCO. Enfim, na figura 10 é apresentado um

modelo de vários elementos que representam o TCO, conforme Bowersox, Closs e Cooper

(2007). Quando cada um desses elementos é levado em consideração por compras, se torna

claro que há muitas oportunidades de melhoria em grande parte das empresas. Muitas

dessas oportunidades surgem devido a relacionamentos de trabalho mais próximo com

fornecedores do que normalmente acontece nos casos de negociações adversárias entre

Page 41: AHP Seleção de Fornecedores

41

compradores e vendedores. Nas situações em que os compradores trabalham de forma

cooperativa com os vendedores muitas estratégias podem ser empregadas para que se

reduzam custos, tornando a cadeia de suprimentos mais eficiente.

Figura 10 – Principais categorias de componentes do custo total de propriedade – TCO. Fonte: Bowersox, Closs e Cooper, 2007.

2.6 Desenvolvimento de Fornecedores

De acordo com Arnold (2009) o processo de compras de uma empresa não é de

responsabilidade única do departamento de compras, mas sim de todos os departamentos da

empresa. Como exemplo disso, esse autor cita que escolher o material correto exige

informações dos departamentos de marketing, engenharia, produção e compras. Já as

quantidades e a entrega de mercadorias finalizadas são estabelecidas pela necessidade de

mercado, nesse caso, o PCP – Planejamento e Controle da Produção (MPC –

Manufacturing Planning and Control) tem como responsabilidade decidir quando pedir

quais matérias-primas afim de que a demanda do mercado seja atendida. Assim, o

departamento de compras fica como responsável por colocar os pedidos e garantir que as

mercadorias cheguem pontualmente.

Além disso, segundo Arnold (2009) o departamento de compras tem a

responsabilidade principal localizar fontes adequadas de suprimentos e negociar os preços.

Portanto, as informações oriundas dos demais departamentos da empresa são necessárias

Page 42: AHP Seleção de Fornecedores

42

para que o departamento de compras possa fazer a busca e avaliar as potenciais fontes de

suprimento de acordo com o que foi especificado.

Na visão de Baily et al. (2000), os compradores esclarecidos estão procurando

fornecedores com os quais possam trabalhar em benefício mútuo e o julgamento do melhor

fornecedor com o qual deve-se estabelecer esse tipo de relacionamento tem que ser baseado

em critérios técnicos e comerciais.

Handfield et al. (2000) apud Pires (2004) afirmam que desenvolver fornecedor é

qualquer atividade que uma empresa cliente realiza com o intuito de melhorar o

desempenho e/ou capacidade do fornecedor no curto ou longo prazo. Dessa forma, as

atividades de desenvolver um fornecedor podem variar de uma simples avaliação informal

de suas operações até a criação de um programa de investimento conjunto em treinamentos,

melhorias de produtos e processos, dentre outros.

Handfield et al. (2000) apud Pires (2004) formalizam um procedimento para

desenvolvimento de fornecedores divido em cinco etapas, conforme segue:

1. Identificar os itens mais críticos: nem sempre as empresas têm necessidade de

desenvolver fornecedores, são esses os casos em que: as empresas já são abastecidas por

fornecedores de classe mundial ou o volume dos itens comprados é tão baixo que não se

justifica a pesquisa por outros fornecedores. Porém, todos os fatores devem ser analisados e

classificados sob o ponto de vista estratégico da empresa cliente. A figura 11 apresenta uma

matriz para orientar a análise de valor dos itens comprados.

Page 43: AHP Seleção de Fornecedores

43

Figura 11 – Matriz de análise de valor dos itens comprados. Fonte: Handfield et al. 2000 apud Pires, 2004.

Feita a classificação dos itens a atenção maior deve votar-se sobre aqueles considerados

estratégicos, os quais geralmente são itens de alto valor agregado, comprados em grandes

volumes e de difícil substituição. São sobre esses itens que o trabalho de desenvolvimento

de novos fornecedores deve ser feito.

2. Identificar os fornecedores críticos: essa etapa é bem crítica e nela deve se feita a

avaliação de desempenho dos fornecedores dos itens classificados como estratégicos. Uma

ferramenta de uso tradicional nesta etapa é a análise de Pareto. Através dessa ferramenta é

possível estipular que 20% dos fornecedores são responsáveis por 80% dos desempenhos

abaixo do esperado e são justamente os fornecedores desse grupo os potenciais candidatos

para o plano de desenvolvimento conjunto.

3. Formar equipe, alinhar objetivos e definir projetos chaves: nessa fase a empresa

cliente deve montar uma equipe multifuncional antes de iniciar os trabalhos com os

fornecedores. A empresa cliente deve também definir claramente nessa etapa os objetivos e

as regras da condução do desenvolvimento. Após isso, é hora de contatar, discutir e alinhar

Page 44: AHP Seleção de Fornecedores

44

estrategicamente os objetivos com o fornecedor, definindo os projetos chaves de

desenvolvimento a serem conduzidos.

4. Definir detalhes do acordo: depois de identificar um potencial projeto de melhoria, a

empresa cliente e a empresa fornecedora precisam definir as métricas específicas para

monitorar o sucesso desse projeto. Essas métricas podem incluir: o percentual de economia

a ser dividida; o percentual de melhoria da qualidade obtida; o percentual de entregas no

prazo; entre outras. O escopo do projeto de melhoria também deve indicar as datas dos

eventos importantes (milestones) e dos prazos finais (deadlines) bem como o papel a ser

desempenhado por cada empresa no processo. Concluídas essas etapas básicas, o processo

pode iniciar-se.

5. Monitorar o desenvolvimento e modificar estratégias: todo processo de

desenvolvimento de fornecedor deve ser constantemente monitorado e o plano inicial deve

ser reajustado sempre que necessário. Cordon e Vollman (2002) apud Pires (2004) afirmam

que um ponto chave para muitas empresas tem sido tornar seus clientes mais atrativos para

alguns fornecedores chaves. Esses autores ressaltam que os resultados são mais efetivos

quando a empresa cliente consegue alavancar a “força do cérebro” (brainforce) de seus

fornecedores chaves. Cordom e Vollman (2002) apud Pires (2004) ainda afirmam que

muitos esforços de trabalho colaborativo são executados no curto prazo (principalmente em

ternos de desenvolvimento de novos produtos), mas logo se perdem, parte pela abordagem

“desenvolvimento de fornecedores”. A conclusão dos autores a respeito do assunto é que

hoje a atividade de compras é muito importante para ser deixada apenas sob

responsabilidade do departamento de compras e que o desenvolvimento de fornecedores

precisa ser visto de forma estratégica, reconhecendo-se três fatos-chaves: A) não se pode

ser parceiro de todos os fornecedores; tem-se que escolher. B) precisa-se achar formas para

fazer com que os melhores fornecedores queiram trabalhar conosco, ou seja, precisa-se ser

a opção mais atraente para eles. C) é necessário ter consciência que essa segunda questão

não acontece por acaso e que é preciso cultivar e reavaliar constantemente a parceria.

De acordo com Arnold (2009), a função de compras é conseguir tudo ao mesmo

tempo: qualidade, quantidade, prazo de entrega e preço. Esse autor afirma que, uma vez

decidido o que comprar, a próxima etapa é definir de quem comprar, ou seja, qual o

Page 45: AHP Seleção de Fornecedores

45

fornecedor mais apropriado. Em sua visão, um bom fornecedor é aquele que tem a

tecnologia para fabricar o produto na qualidade exigida, tem capacidade de produzir as

quantidades necessárias e pode administrar o seu negócio com eficiência suficiente para ter

lucros e ainda assim vender seus produtos a preços competitivos.

De acordo Arnold (2009), há três tipos de fontes de fornecimento: única, múltipla e

simples. Cada uma delas é explicada a seguir:

1. Fonte única: há apenas um fornecedor para o produto devido a patentes,

especificações técnicas, matéria-prima, localização, dentre outros fatores que podem tornar

o fornecedor único.

2. Fonte múltipla: quando há disponibilidade de mais de um fornecedor para um item.

As vantagens potenciais nesse tipo de cenário são: a competição gera preços mais baixos,

melhores serviços e haverá uma continuidade no fornecimento. Na pratica, existe uma

tendência de relação competitiva entre fornecedor e cliente.

3. Fonte simples: é uma opção planejada da empresa de manter apenas um fornecedor

para um item quando existem outros disponíveis no mercado. O objetivo principal é

estabelecer uma parceria de longo prazo com esse fornecedor.

Já Slack et al. (1993) apud Pires (2004) dividem em duas opções básicas em termos

de número de fornecedores, que são fontes únicas (single sourcing) e fontes múltiplas

(multi-sourcing). Sob a perspectiva da empresa cliente ambas as abordagens apresentam

uma série de vantagens e desvantagens. Conforme figura 12.

Page 46: AHP Seleção de Fornecedores

46

Figura 12 – Algumas vantagens e desvantagens de fornecedores únicos e múltiplos. Fonte : Slack et al. 2002 apud Pires, 2004.

Arnold (2009) define os fatores que influenciam a escolha dos fornecedores:

• Habilidade técnica: sob esse aspecto o comprador deve avaliar se a empresa

fornecedora tem habilidade técnica para produzir ou fornecer o produto desejado. Deve ser

analisado se o fornecedor tem também um programa de desenvolvimento e melhoria do

produto, se o fornecedor pode auxiliar a empresa cliente na melhoria de seus produtos,

dentre outros fatores. Esses elementos combinados poderão aumentar ou reduzir o custo

dos produtos comprados. Além disso, o fornecedor pode sugerir mudanças na especificação

do produto que irão melhorá-lo e reduzir seu custo.

• Capacidade de produção: a produção da empresa fornecedora deve ser capaz de

satisfazer às especificações do produto de forma consistente, ao mesmo tempo produzindo

o menor número de defeitos possíveis. As dependências de produção do fornecedor devem

Page 47: AHP Seleção de Fornecedores

47

ser capazes de oferecer a qualidade e a quantidade exigidas. Para isso, o fornecedor deve

tem um programa de controle da qualidade, pessoal de produção competente e capaz e bons

sistemas de planejamento e controle de produção. Esses elementos garantem que o

fornecedor pode suprir a qualidade e quantidade desejadas.

• Confiabilidade: o fornecedor selecionado deve ser confiável, reputado e

financeiramente sólido. Para uma parceria de longo prazo deve haver uma confiança mútua

e a garantia de que o fornecedor tenha solidez financeira para permanecer no negócio.

• Serviço pós-venda: caso o produto seja de natureza técnica, necessitará de peças de

reposição ou apoio técnico é importante que o comprador verifique se a empresa

fornecedora oferece um bom serviço de atendimento pós-venda. Isso inclui um atendimento

bem organizado e um estoque adequado de peças sobressalentes.

• Localização do fornecedor: em alguns casos, é necessário que o fornecedor esteja

próximo ao comprador, ou pelo menos que ele mantenha um estoque local. A localização

próxima auxilia na redução dos tempos de entrega e significa que os produtos em falta

podem ser entregues rapidamente. Embora seja importante, a localização dos fornecedores

não é definitiva na definição da fonte de fornecimento. Hoje, é possível adquirir materiais e

produtos em qualquer parte do mundo e para isso há os diversos modais de transporte que

podem ser adequados à necessidade de entrega dos produtos e materiais em diferentes

localidades.

• Outras considerações: algumas vezes, outros fatores como termos de crédito,

negócio recíproco e disposição do fornecedor no sentido de reservar um estoque para o

comprador, devem ser considerados.

• Preço: o fornecedor deve ser capaz de oferecer preços competitivos. Porém, é

importante que o comprador saiba que isso não significa o preço mais baixo, mas sim que o

fator preço envolve outros aspectos como quantidade e qualidade correta, tempo desejado e

outros serviços que sejam agregados ao produto.

2.6.1 Métodos para seleção de Fornecedores

Segundo Aguezzoul e Ladet (2006) apud Pelá (2010), dois aspectos devem ser

considerado quando da escolha de fornecedores. Um deles refere-se ao número de

Page 48: AHP Seleção de Fornecedores

48

fornecedores que a empresa pretende ter e que tipo de relação será estabelecida com esses

fornecedores. O outro aspecto é justamente qual o método que a empresa pretende utilizar

para definir seus fornecedores. Se o objetivo da empresa é ter uma relação duradoura e

colaborativa com seus fornecedores certamente seu número deve ser reduzido para que a

empresa possa geri-los de maneira mais eficaz.

Assim, segundo Pelá (2010), a categorização dos fornecedores se torna relevante,

pois agrupar os fornecedores em função de seus posicionamentos estratégicos e da

criticidade de seus produtos ajuda a empresa a administrá-los. De acordo com Aguezzoul e

Ladet (2006) apud Pelá (2010), pode-se classificá-los da seguinte forma:

• Parceiros: fornecedores com os quais a empresa pretende manter um forte

relacionamento de longo prazo, incluindo compartilhamento de informações estratégicas.

• Estratégicos: fornecedores que possuem um impacto importante no desempenho da

empresa. Sem esses fornecedores a empresa teria dificuldades de funcionar. Nesse caso, a

interação entre fornecedores e a empresa é de curto prazo.

• Localizados: os fornecedores possuem tecnologia, porém capacidade limitada.

Normalmente estão localizados em zonas geográficas específicas e, normalmente são

utilizados pelas empresas quando estas estão desenvolvendo novos produtos.

• Preferenciais: esses fornecedores oferecem produtos ou serviços para os quais

existem vários outros fornecedores. Considera-se que o numero ideal dessa categoria de

fornecedores deve ser limitado entre dois ou três.

• Gerais: fornecedores que possuem pouco impacto no desempenho da empresa. Esse

tipo de fornecedor poder ser facilmente encontrado, principalmente na internet.

Por meio dessa classificação dos fornecedores é possível destacar alguns diferentes

posicionamentos da empresa. Nos casos de fornecedores preferenciais ou gerais a empresa

não precisa despender um grande esforço na escolha de um modelo para seleção de

fornecedores, pois isso implica em custos que não traria para a empresa grande melhoria no

processo decisório (PELÁ 2010).

Segundo Pelá (2010), para os fornecedores estratégicos a empresa também não

precisa estabelecer critérios para selecioná-los. Na verdade, esses fornecedores são auto-

Page 49: AHP Seleção de Fornecedores

49

selecionados. Porém, é importante que a empresa perceba quais os fatores que os

diferenciam como qualidade muito elevada ou tecnologia para que seja possível o

desenvolvimento de outros fornecedores, configurando uma situação de “parceria”.

Já no caso de fornecedores localizados é importante que os mesmos sejam

selecionados por nichos. Dessa forma, modelos de seleção de fornecedores podem ser

direcionados de forma mais abrangente para selecionar um conjunto localizado de

fornecedores. Cada nicho de fornecedores possui critérios homogêneos como qualidade do

produto, tipos de processo, preço entre outros (PELÁ 2010).

Pelá (2010) finaliza afirmando que os fornecedores parceiros devem ser melhor

analisados no processo de escolha, pois são realizados maiores investimentos nesse tipo de

desenvolvimento e também há maiores trocas de conhecimentos e informações com esses

fornecedores. Isso quer dizer que uma definição de critérios e modelos de seleção desses

fornecedores é requerida e muito relevante para o desempenho tanto da empresa cliente

quanto da empresa fornecedora.

Aguezzoul e Ladet (2006) apud Pelá (2010) apresentam uma breve abordagem dos

modelos que auxiliam no processo de seleção de fornecedores. O objetivo é apresentar as

características principais de cada modelo e fazer uma comparação entre eles, conforme o

quadro 2.

Quadro 2 – Panorama dos modelos de seleção de fornecedores. Fonte: Aguezzoul e Ladet, 2006 apud PELÁ, 2010.

Page 50: AHP Seleção de Fornecedores

50

Aguezzoul e Ladet (2006) apud Pelá (2010) apresentam um resumo sucinto de cada

abordagem:

• Modelos de Ponderação: Métodos mais importantes - AHP (Analytic Hierarchy

Process) ou MAH (Método de Análise Hierárquica) e FST (Fuzzy Sets Theory) ou Lógica

fuzzy / Lógica Difusa. Nesses modelos os problemas devem ser subdividos em critérios e

posteriormente utilizados sob a experiência dos gestores ou simulações para traduzir o grau

de importância relativa aos critérios. O Método AHP é um método que se diferencia por seu

algorotimo de determinação dos pesos dos critérios, ue fundamenta-se em no conceito de

combinação binária de cada nível hierárquico de acordo com os elementos do nível

superior. No promeiro nível se encontram informações referentes aos critérios principais.

No segundo nível são considerados os critérios secundários assossiados a cada um dos

critérios principais e assim por diante, sendo que o último nível de interação oferece

informações dos fornecedores potenciais. Este método é totalmente dependente do

julgamento do comprador. O FST é uma teoria que considera grande parte de variáveis do

processo decisório, sendo possivel modelar a incerteza e imprecisão relativa aos valores dos

pesos atribuídos aos critérios, uma vez que as simulações dos comportamentos das várias

variaveis tem como objetivo reduzir os riscos das previsões. A classificação dessa teoria

como modelo de ponderação se justifica, sobretudo, nas relações fuzzy, em que uma função

binária traduz a pertinêcia do critério para decisão.

• Modelos de Programação Matemática: baseados em uma função que pode se

maximizada para os casos de rendimentos ou minimizadas para os casos de custo, sendo

possível a inclusão de restrições, tanto sobre os fornecedores como sobre os compradores.

Os modelos dessa classificação são subclassificados em lineares – se a função objetivo e

suas restrições forem lineares ou não linear – se tais condições não forem satisfeitas. O

segundo qualificador do modelo de programação está ligado à natureza de suas variáveis,

que podem ser puras, e nesse caso se omitir a classificação, ou mistas, quando na função

objetivo são colocados parâmetros de dimensões diferentes. Como modelo de programação

matemática não-linear inteira pode-se citar o Modelo de Hong e Hayya (1992); como

modelos de programação matemática Não Linear a variáveis mistas pode-se citar: Modelo

de Ghodsypour e O’Brien (20001), MOP (Multi-Objectives Programming) e o DEA (Data

Page 51: AHP Seleção de Fornecedores

51

Envelopment Analysis) e Como modelo de programação matemática Lineares a variáveis

mistas podem-se citar os: Modelo de Chaudhry, Forst e Zydiac (1993), o Modelo de

Jayaraman, Srivastava e Benton (1999) e Modelo de Murthy, Soni e Ghosh (2004).

• Métodos Baseados no Custo Total: dentre as técnicas desse método econtra-se o

TCO (Total Cost Ownership) e o ABC (Activity Based Costing). Essas técnicas são

consideravelmente complexas e necessitam de um cálculo robusto dos custos gerados pelas

atividades que intervém na operação de compras. O Método ABC, no contexto de seleção

de fornecedores consiste em classificar, por ordem decrescente, as compras a serem

realizadas nos fornecedores em três categorias diferentes: 20% dos fornecedores (classe A)

representam 80% do valor das compras; 30% (fornecedores classe B) representam 15% do

valor das aquisições e 50% (fornecedores classe C) representam 5% dos totais das compras.

Já o método TCO é um método de rateio de custos que necessita do cálculo dos custos total

de compras de um produto. Porém, o custo total inclui o preço de compra e todos os custos

operacionais adjacentes, como qualidade, inspeção, etc.

• Modelos Estatísticos e Probabilísticos: estes modelos utilizam técnicas estatísticas

avançadas para modelar o comportamento dos fornecedores e oferecer uma decisão mais

vantajosa em termos de riscos. Por meio do Payoff Matrix é possível definir vários cenários

de comportamento futuro dos fornecedores. Em cada um dos cenários uma nota provável é

associada de acordo com os critérios pré-definidos, sendo que o fornecedor escolhido será o

que possuir uma nota estável para diferentes cenários. O Método VPA consiste na tomada

de uma função probabilística para cada fornecedor de acordo com cada critério definido e,

por simulação, é possível estimar o comportamento dos fornecedores. O MNL é um modelo

de regressão que representa a possibilidade de escolher uma alternativa dentre um conjunto

de possibilidades. A alternativa (perfil) é definida de acordo com o nível de importância

dos critérios. O UT é considerado com parte da teoria dos jogos. Esse modelo consiste em

fazer um estudo das decisões subjetivas sobre os fornecedores através da descrição destas

de forma qualitativa. Uma das aplicações para esse modelo é quando se trabalha com

fornecedores internacionais. O FA permite analisar as relações entre os critérios de seleção

de fornecedores, a contribuição destes para a melhoria do desempenho do produto, as

quatro dimensões de satisfação do cliente e o desempenho global da empresa. O ISM

permite determinar as relações entre os critérios e seus níveis de importância para a

Page 52: AHP Seleção de Fornecedores

52

classificação em setores. Através de sua representação gráfica, esse método permite

identificar os critérios dependentes e os independentes entre si. Finalizando, o método CA

permite agrupar os fornecedores em grupos (clusters) segundo as notas individuais obtidas

nos critérios considerados na análise. As diferenças entre os fornecedores do mesmo nível

devem ser mínimas enquanto que as diferenças entre fornecedores de grupos diferentes

devem ser significativas.

Aguezzoul e Ladet (2006) apud Pelá (2010) sumarizam as principais vantagens e

inconvenientes das categorias de seleção de fornecedores. As informações apresentadas no

quadro 3 norteiam os gestores no momento da escolha do modelo de seleção de

fornecedores que mais se adequa à empresa.

Quadro 3 – Vantagens e inconvenientes dos diferentes métodos de seleção de fornecedores. Fonte: Aguezzoul e Ladet, 2006 apud Pelá, 2010.

Aguezzoul e Ladet (2006) apud Pelá (2010) ainda relacionam no quadro 4 os

principais tipos de aquisição e as etapas do processo de seleção de fornecedores com os

modelos apresentados nesse trabalho.

Page 53: AHP Seleção de Fornecedores

53

Quadro 4 – Método de seleção de fornecedores segundo o tipo de aquisição Fonte: Aguezzoul e Ladet, 2006 apud Pelá, 2010.

2.6.2 Critérios para desenvolvimento de Fornecedores

Cada empresa seleciona seus fornecedores segundo seus próprios critérios. Esses

critérios vão em encontro das estratégias gerais da empresa ou de estratégias momentâneas.

Porém, segundo Aguezzoul e Ladet (2006) apud Pelá (2010) existem estudos empíricos que

demonstram que há critérios de seleção comuns dentre as empresas, conforme o quadro 5.

Page 54: AHP Seleção de Fornecedores

54

Quadro 5 – Critérios de seleção de fornecedores. Fonte: Aguezzoul e Ladet, 2006 apud Pelá, 2010.

Pelá (2010) analisa os estudos dos quatro autores, dando contexto às suas pesquisas

e metodologias utilizadas, mostrando os principais resultados alcançados.

• Vonderembse et al. (1995) apud Pelá (2010): foram abordadas nessa pesquisa as

compras just in time e seus efeitos na cadeia logística. Os autores formularam um

questionário e o enviaram à 2000 membros da Associação Nacional Americana de Gerentes

de Compras, obtendo sucesso em 298 repostas. Assim, nenhum setor específico pôde ser

focado. Portanto, essa pesquisa apresenta caráter generalista. No quadro 6, Vonderembse et

al. (1995) apud Pelá (2010) apresentam os resultados principais, onde se podem encontrar,

Page 55: AHP Seleção de Fornecedores

55

em ordem decrescente de importância declarada, os critérios mais citados como

componentes importantes para seleção de fornecedores. Nesse trabalho, os entrevistados

podiam escolher entre cinco opções (muito importante, importante, importância média,

importância limitada ou sem importância), com isso, o objetivo era obter um parâmetro

único de comparação por critério. Para isso, os autores definiram um peso a cada grau de

importância diferente e apresentando os resultados na última coluna. Esse resultado é a

soma ponderada do percentual de respostas no critério pela nota da categoria de resposta.

Quadro 6 – Critérios de seleção de fornecedores. Fonte: Vomderembse et al. 1995 apud Pelá, 2010.

• Verma e Pullma (1998) apud Pelá (2010): nesse estudo o grupo de empresa

analisada foi do tipo metal-mecânica, especialmente fabricantes de máquinas e que tinham,

no mínimo 15 funcionários. A primeira etapa dessa pesquisa tinha como objetivo identificar

a percepção dos 139 gerentes de compras sobre os atributos de qualidade, custo, lead time

da entrega, entregas cumpridas no prazo e flexibilidade para mudanças. Em outra questão

da pesquisa, os gestores deveriam avaliar a importância desses atributos utilizando uma

Page 56: AHP Seleção de Fornecedores

56

escala de 1 (menos importante) a 5 (muito importante). Na tabela 1 é apresentado o

formulário utilizado por estes autores.

Tabela 1 – Percepção da importância dos atributos dos fornecedores. Fonte: Verma e Pullma, 1998 apud Pelá, 2010.

A segunda etapa desse trabalho de pesquisa consistia em conhecer como os gerentes

conciliavam os tributos listados na tabela 1 para a escolha dos fornecedores. Para isso, a

metodologia utilizada foi a Análise Discreta, com dois níveis, para gerar diferentes cenários

e testar a correlação dos atributos. Mas, a existência de 5 atributos exigia a necessidade de

25 questões de pesquisa para Análise Discreta, por isso, os autores realizaram um

planejamento do experimento fracionário, apresentando 16 cenários a cada gestor. Em cada

cenário era apresentado um modelo da Tabela 2 para ser julgado com seu oposto, conforme

apresentado na tabela 3.

Page 57: AHP Seleção de Fornecedores

57

Tabela 2 – Projeto do experimento fatorial fracionário. Fonte: Verma e Pullma, 1998 apud Pelá, 2010.

Tabela 3 – Exemplo de avaliação de cenário para seleção de fornecedores. Fonte: Verma e Pullma, 1998 apud Pelá, 2010.

Page 58: AHP Seleção de Fornecedores

58

Nesse trabalho Verma e Pullma (1998) apud Pelá (2010) concluíram que o atributo

qualidade foi o mais relevante para a escolha dos fornecedores e uma boa adequação da

Metodologia de Análise Discreta na avaliação da seleção de fornecedores.

• Kannan e Tan (2002) apud Pelá (2010): estudo do tipo Survey (pesquisa). Foi

realizado nos Estados Unidos com aproximadamente 450 gestores de compras de empresas

cadastradas no Institute of Supply Chain Management (Instituto de Gerenciamento da

Cadeia de Suprimentos) ou APIC’s The Educational Society for Ressource Management. O

objetivo desses autores era identificar o impacto dos fornecedores no desempenho das

empresas compradoras. A primeira parte da pesquisa identificou os atributos relevantes

para a seleção de fornecedores, utilizando uma escala de importância que variava de 1

(pouco importante) a 5 (muito importante). Nesta etapa os autores apresentaram 30

atributos considerados desmembramentos dos critérios qualidade, custo, desempenho das

entregas, capabilidade e cultura da empresa. A tabela 4 apresenta os atributos e o resultado

da pesquisa. Os atributos estão ordenados em ordem decrescente de importância declarada.

Page 59: AHP Seleção de Fornecedores

59

Tabela 4 – Atributos relevantes para seleção de fornecedores. Fonte: Kannan e Tan, 2002 apud Pelá, 2010.

Depois de identificada a importância de cada atributo, estes foram correlacionados

com dimensões estratégicas que eram ligadas com medidas de performance, como market

share (parte do mercado dominada pela empresa), retornos sobre investimentos, qualidade

do produto e posicionamento competitivo da empresa. Kannan e Tan (2002) apud Pelá

(2010) concluíram que a pesquisa demonstrou um relevante impacto dos fornecedores no

desempenho da empresa, tato direta como indiretamente e, portanto, propuseram o

Page 60: AHP Seleção de Fornecedores

60

desenvolvimento de relacionamentos de longo prazo com fornecedores considerados vitais

para um bom sucesso dos negócios.

• Katsikeas, Paparoidamis, Katsikeas (2004) apud Pelá (2010): esse estudo foi focado

em fornecedores de componentes para indústrias de informática. Foram pesquisadas 237

empresas com o objetivo de identificar os impactos que o relacionamento com seus

fornecedores tinham em suas operações. Os pesquisadores levantaram e refinaram junto a

essas empresas os critérios que os levavam a selecionar determinado fornecedor. Esse

procedimento foi realizado através de consultas a gerentes de compras sobre a correta

interpretação dos critérios. Após apuração foram obtidos 20 critérios relevantes, conforme

mostrado na tabela 5. A avaliação destes critérios por parte dos gestores seguiu uma escala

de 1 (consideravelmente não importante) a 7 (muito importante). Para relacionar a presença

de diferenças significativas entre as empresas com bom e mau desempenho, os autores

adotaram a análise multidiscriminante MANOVA. Os pesquisadores concluíram que a

importância do estabelecimento de relacionamentos duradouros com os fornecedores, bem

como a metodologia clara para seleção destes é vital para o bom desempenho das empresas

estudadas.

Page 61: AHP Seleção de Fornecedores

61

Tabela 5– Atributos relevantes para seleção de fornecedores. Fonte: Kannan e Tan, 2002 apud Pelá, 2010.

Todos os trabalhos citados destacam como afinidade procedimental a análise de

critérios para seleção de fornecedores.

Mas, de acordo com Aguezzoul e Ladet (2006) apud Pelá (2010) outro conceito

importante na gestão dos fornecedores é a formalidade com relação a estes, abordando o

horizonte e seu nível de integração. Como horizonte entende-se o tipo de relacionamento

que a empresa pretende manter com seus fornecedores, ou seja, de curto ou longo prazo.

Essa decisão deve ser amparada por decisões de outros âmbitos como custo de melhoria e

desenvolvimento de fornecedores (investimentos) e o custo de pesquisa por novos

fornecedores.

Aguezzoul e Ladet (2006) apud Pelá (2010) ainda afirma que a integração, quando

adotada, pode ser em termos logísticos ou estratégicos. Em termos logísticos pressupõe-se

acordos e modificações referentes ao desempenho, normalmente aliada à políticas do tipo

Just in Time. Já a integração estratégica refere-se ao conhecimento e desenvolvimento do

fornecedor, por exemplo, em desenvolvimento de novos produtos.

Page 62: AHP Seleção de Fornecedores

62

2.6.2 Indicadores de Desempenho do Departamento de Compras

Cavalcanti et al. (2010) para as empresas alcançarem vantagem competitiva é

necessário o desenvolvimento de ferramenta e métodos de gestão direcionados ao

aperfeiçoamento e melhoria contínua do seu nível de desempenho. Para isso, as empresas

precisam reavaliar seus conceitos relacionados ao seu sistema de gestão e necessitam rever

a forma na qual estão fazendo seus negócios.

De acordo com Marccelli (2000) apud Andrade et al. (2009) nas últimas duas

décadas o desenvolvimento e novas técnicas para aplicação de indicadores de desempenho

na gestão empresarial vêm se consolidando, tornando-se uma disciplina que envolve a

medição, gerenciamento e relato em termos quantitativos e objetivos do resultado dos

processos organizacionais, possibilitando uma contínua avaliação do desempenho e busca

de aprimoramento.

Kaplan e Norton apud Andrade et al. (2009) afirmam que numa organização o que

não é medido não é gerenciado.

Na visão Andrade et al. (2009) indicadores de desempenho são métricas que

permitem avaliar os resultados de algum processo com base nas entradas disponibilizadas e

saídas geradas, pautada por um número de referência (meta). Assim, indicadores de

desempenho são um meio para se analisar o cumprimento dos objetivos previamente

definidos no processo estratégico da organização.

Conforme Cavalcanti et al. (2010) o desenvolvimento de novas práticas de gestão

está relacionado à busca de parcerias estratégicas, principalmente com fornecedores, uma

vez que o mercado exige cada vez mais qualidade dos bens e serviços oferecidos. Nesse

sentido, a função de compras nas organizações tem alcançado papel cada vez mais

estratégico devido ao volume de negócios e dinheiro envolvidos nesse processo.

Cavalcanti et al. (2010) ressalvam que o desempenho de fornecedores pode e deve

ser avaliado, não por um ou poucos critérios, mas por uma estrutura multicriterial de

mensurações.

Neely et al. (1995) apud Cavalcanti et al. (2010) dizem que os indicadores de

desempenho individuais fazem parte de um conjunto maior que pode ser chamado de

Page 63: AHP Seleção de Fornecedores

63

dimensões de desempenho, e que por sua vez, são divididos em qualidade, tempo e

flexibilidade.

Para Chow et al. (1994) apud Cavalcanti et al. (2010) é a informação sobre

desempenho que alinha ações e estratégias: os indicadores são a realimentação entre a

competição e a estratégia.

Conforme Cavalcanti et al. (2010) um dos mais conhecidos sistemas de indicadores

é o Balanced Scorecard proposto por Kaplan & Norton (1992). Esse sistema basea-se no

princípio de que um sistema de medição deve fornecer aos administradores respostas a

algumas perguntas.

De acordo com Cavalcanti et al. (2010) para mensurar um desempenho, seja de uma

parte isolada ou de um arranjo complexo, o tomador de decisão deve concentrar as

medições em um conjunto manejável de indicadores que, eventualmente, produzam um

índice final combinado.

Fleury (2000) apud Cavalcanti et al. (2010) diz que há incerteza na noção de

desempenho, pois algumas vezes não se sabe exatamente o que deve ser medido. Já Pires

(2004) define desempenho como a informação quantificada do resultado dos processos, que

pode ser comparada com metas, resultados passados e outros processos.

Para Zadeh (1973) apud Cavalcanti et al. (2010) um sistema de medição pode ser

pensado como uma estrutura hierarquizada de variáveis de estado, cada uma com sua

metodologia específica de cálculo. De acordo com esse autor, essa estrutura permite

comparar desempenhos de várias estratégias para os mesmos objetivos de negócio.

Andrade et al. (2009) afirmam que tradicionalmente, a utilização de indicadores de

desempenho fundamentava-se apenas nas informações da área financeira e por meio da

utilização dos orçamentos e resultados financeiros como input os gestores tomavam suas

decisões. Kaplan e Norton (1997) apud Andrade et al. (2009) observam que medições

exclusivamente financeiras não são mais eficazes no controle estratégico de uma

organização, sendo necessárias medições que considerem valores intangíveis, tais como

aprendizado e crescimento.

Bititci et al. (1997) apud Cavalcanti et al. (2010) concordam com essa afirmação e

ressaltam que no contexto atual, muitos pesquisadores acreditam na existência de

Page 64: AHP Seleção de Fornecedores

64

formulação de sistemas de medição de desempenho que contemplem não apenas

indicadores financeiros.

Kingeski (2005) afirma que a década de 90 foi marcada por um intenso

desenvolvimento do assunto de medição de desempenho. Neely (1998) apud Kingeski

(2005) chamou esse período de “A Revolução da Medição”. Por sua vez, Ecles (2000) apud

Kingeski (2005) chamou de “Manifesto de Desempenho”.

Moreira (1996) apud Kingeski (2005) define SDM (Sistemas de Medição de

Desempenho) como um conjunto de medidas referentes à organização como um todo, às

suas partições, aos seus processos, às suas atividades organizadas em blocos (definidos, de

forma a refletir certas características do desempenho para cada nível gerencial interessado).

Corrêa e Corrêa apud Kingeski (2005) afirmam que um SDM pode ser definido

como um conjunto coerente de métricas usado para quantificar a eficiência e a eficácia das

ações. Além disso, estes sistemas também têm dois propósitos:

• São partes integrantes do ciclo de planejamento e controle, essencial para a gestão

das operações. As medidas fornecem os meios para a captura de dados sobre desempenho

que, depois avaliados contra determinados padrões, servem para apoiar a tomada de

decisões;

• Não menos importante, o estabelecimento de um sistema adequado de avaliação de

desempenho tem também papel importante em influenciar comportamentos desejados nas

pessoas e nos sistemas de operações, para que determinadas intenções estratégicas tenham

maior probabilidade de realmente se tornarem ações alinhadas com a estratégia pretendida.

Maskell (1991) apud Kingeski (2005) afirmam que características comuns dos

novos SDM’s presentes em empresas de classe mundial são:

• Direta relação com a estratégia do negócio;

• Uso primordial de medidas não tradicionais;

• Variação entre diferentes localizações;

• Mudam ao longo do tempo;

• São simples e fácies de serem utilizadas;

Page 65: AHP Seleção de Fornecedores

65

• Fornecem rápido retorno das informações;

• Favorece a melhoria ao invés de meramente monitorar.

Para Neely (1997) apud Kingeski (2005) as novas SDM’s devem:

• Ser derivadas da estratégia;

• Ser simples de se entender e claramente definidas;

• Garantir feedback rápido e acurado;

• Baseadas em quantidades que possam ser influenciadas ou controladas pelo usuário

dos dados, ou em cooperação com outros;

• Refletir os processos de negócio;

• Se relacionar a metas específicas;

• Ser parte de um processo gerencial cíclico;

• Ter um impacto visual;

• Focar na melhoria;

• Explicitamente baseada em uma fórmula e fonte de dados;

• Empregar taxas ao invés de números absolutos;

• Baseadas em tendências ao invés de momentos isolados;

• Usar dados coletados automaticamente sempre que possível.

Moreira (1996) apud Kingeski (2005) ressalta quatro qualidades importantes dos

novos SDM’s e ainda afirma que sem tais qualidades a medida será totalmente inútil co

indicador do que quer que seja. São elas:

Confiabilidade: é a propriedade de um instrumento de medida ou de um roteiro de

medida atribuir sempre o mesmo valor a algo invariável que está sendo medido.

Validade: é a propriedade que tem um instrumento de medida ou um roteiro de

medida de medir realmente aquilo que se propôs a medir.

Relevância: uma medida é relevante para o seu usuário se ela traz alguma

informação útil, não contida em outras medidas que já estão sendo usadas, ou não

substituível por elas.

Page 66: AHP Seleção de Fornecedores

66

Consistência: a consistência de uma medida diz respeito ao seu grau de equilíbrio

em relação a um determinado sistema de medidas, uma medida inconsistente é que ela

acompanha apenas um aspecto do fenômeno que se quer realmente acompanhar.

Baily et al. (2000) afirmam que cinco benefícios resultam da mensuração de

desempenho do departamento de compras:

1. A mensuração precária do desempenho de compras tende a ser negativa e os

indicadores mostram as falhas e não sucesso desse processo.

2. A melhoria de desempenho deve ser estimulada por relatórios de desempenho real

mensurados em relação a algum tipo de padrão.

3. O estabelecimento de regras para mensurar as pessoas possibilita o gerente de

compras a desenvolver perfis para recrutamento, treinamento, remuneração e promoção.

Muitos esquemas formais relativos a funcionários são construídos em torno desse conceito

básico, de que deve haver algo a mensurar e alguns instrumentos de mensuração.

4. Tais dados não devem ser valiosos para a organização da função e para os

relacionamentos com a organização mais ampla. No evento de uma reorganização, os dados

de várias tarefas envolvidas estarão disponíveis.

5. Finalmente, se os funcionários que seus esforços serão reconhecidos, provavelmente

estarão mais motivados, com os benefícios consequentes para o moral.

Segundo Baily et al. (2000) as áreas comuns para a mensuração das informações de

compras são:

•••• As compras operacionais;

•••• A coordenação com outras funções;

•••• A organização e o sistema de compras;

•••• O desempenho orçamentário;

•••• O desempenho criativo;

•••• O desenvolvimento de política; e

•••• O planejamento e a previsão.

Page 67: AHP Seleção de Fornecedores

67

Baily et al. (2000) apresentam algumas mensurações típicas usadas para medir o

desempenho de compras, conforme quadro 7.

Quadro 7 – Alguns meios comumente usados para mensurar o desempenho de compras Fonte: Baily et al. 2000.

A coordenação com outras funções é de difícil mensuração, embora seja tão

importante quanto o desempenho global da função de compras. Algumas das mensurações

que se tem utilizados são: o número de reclamações dos gerentes de outros departamentos

em relação ao desempenho do departamento de compras; o número de reclamações do

gerente de compras para os gerentes de outras funções; e o número de compras repentinas

(BALLY et al. 2000).

2.7 O método AHP

O método AHP (Analytic Hierarchy Process) ou MAH (Método de Análise

Hierárquica) teve sua origem em 1971, quando o Dr. Thomas L. Saaty trabalhava no

Departamento de Defesa dos Estados Unidos. O Método foi desenvolvido em 1972, em um

Page 68: AHP Seleção de Fornecedores

68

estudo feito para o NSF sobre o racionamento de energia para indústrias. Durante esse

mesmo ano o Dr. Saaty criou também a escala que relaciona as opiniões aos números. Esse

método chegou à sua maturidade aplicativa com o Estudo dos Transportes do Sudão em

1973 e houve um grande enriquecimento teórico entre 1974 e 1978.

Conforme Nunes Jr. (2006) apud Oliveira et al. (2011) o método AHP baseia no

princípio de que “para se tomar decisões, a experiência e o conhecimento dos tomadores de

decisão, são tão valiosos quanto os dados utilizados”.

Para Foman e Selly (2005, p.13) apud Oliveira et al. (2011) a metodologia AHP

obedece à seguinte lógica: analytic (Analítico); hierarchy (Hierárquico); process (processo)

e possui as seguintes características: aplicável aos problemas orientados por múltiplos

atributos ou objetivos estruturados hierarquicamente; capaz de considerar simultaneamente

atributos quantitativos e qualitativos em sua análise, ao mesmo tempo em que incorpora a

experiência e a preferência dos tomadores de decisão; o resultado final permite definir uma

sequência cardinal da importância dos atributos e das alternativas; aplicável a questões

complexas, que envolvam julgamentos subjetivos.

De acordo com Ianez (2006), a principal característica que diferencia o método

AHP diz respeito à forma com que a técnica define o problema a ser analisado. Parte do

principio que o AHP é um sistema decisório complexo que deve ser definido segundo uma

estrutura hierárquica composta de vários níveis, que compreendem os elementos cujas

características podem ser consideradas similares. Esse tipo de método facilita a estruturação

do problema especialmente nos casos em que o objetivo do sistema decisório consiste na

seleção de alternativas segundo múltiplos atributos.

De acordo com Saaty (1980) a grande vantagem do método AHP é permitir aos seus

usuários atribuir pesos relativos para múltiplos atributos, ou múltiplas alternativas para um

dado atributo ao mesmo tempo em que realiza uma comparação par a par entre os mesmos.

Abreu & Campos (2007) apud Azeredo et al. (2009) afirmam que o método

fundamenta-se na comparação de alternativas de escolhas, duas a duas, onde o decisor

realiza pares de comparações relativas a duas alternativas da estrutura de decisão,

questionando-se qual elemento satisfaz mais e quanto mais.

Ainda segundo Abreu & Campos (2007) apud Azeredo et al. (2009), por meio do

método AHP busca-se responder à seguinte problemática: dado um conjunto de n

Page 69: AHP Seleção de Fornecedores

69

alternativas, separar estas em classes equivalentes e fornecer uma pré-ordenação que

exprima as posições relativas destas classes à luz de determinados critérios.

Conforme Saaty (1980) O Método de Análise Hierárquica é um método simples e

confiável. Permite a utilização de dados qualitativos e/ou quantitativos mensuráveis, sendo

estes tangíveis ou intangíveis, na análise de critérios. O Método AHP tem aplicações em

diferentes áreas, tais como:

• Economia/ Problemas administrativos

- Design

- Arquitetura

- Finanças

- Marketing

- Benchmarking

- Planejamento Estratégico

- Seleção de Portfólio

- Previsão

- Alocação de Recursos

- Análise de Benefício / Custo

- Análise de Investimentos

- Avaliação de Aquisições

• Problemas Políticos

- Resolução de Conflitos e Negociações

- Jogos de Guerra

• Problemas Sociais

- Educação

- Medicina

- Direito

- Setor Público

Page 70: AHP Seleção de Fornecedores

70

- Comportamento em competição

- Contratação e Avaliação de Desempenho de Profissionais

• Problemas Tecnológicos

- Seleção de Mercado

- Tecnologia de Transferência

- Seleção de Fornecedores

- Satisfação do Cliente

- Qualidade Total

2.7.1 Estrutura do método AHP

Embora o método AHP auxilie ao tomador de decisão analisar melhor seu

problema, ele não elimina a necessidade do apoio de especialistas fornecendo informações

para complementar o cenário a ser analisado pelo tomador de decisão.

Conforme Raiffa (2004) apud Nunes Jr. (2006) o conceito de definição correta do

problema sugere que seja seguido um roteiro para a tomada de decisão:

• Definição dos valores do tomador de decisão e definição do problema da decisão:

para identificar o problema da decisão, é preciso conhecer os valores do tomador de

decisão, ou seja, o que é importante para ele, sem o qual pode-se identificar o problema

errado, chegando a uma solução errada para o problema de decisão estudado;

• Decomposição do Problema: os problemas deverão ser pesquisados, divididos e

estruturados formando uma hierarquia. Essa hierarquia forma uma estrutura que permite

visualizar o problema em termos de objetivos e critérios ou atributos conforme figura 13.

Page 71: AHP Seleção de Fornecedores

71

Figura 13 – Estrutura do método AHP. Fonte: Nunes Jr., 2006 apud Oliveira et al. 2001.

• Estabelecer prioridades: as prioridades dos critérios/atributos são dadas por

comparação dois a dois em relação a sua contribuição ao critério imediatamente acima,

levando-se em consideração sempre o contexto do objetivo estabelecido para a tomada de

decisão.

• Síntese: se obtém através de um processo de avaliação e combinação de prioridades

aplicadas ao problema. Essa prioridade total é obtida através das ligações do modelo.

• Análise de sensibilidade: é executada para avaliar a consistência do resultado nas

alternativas, de acordo com cada um dos critérios que os compõe.

• Iteração: nesse processo as etapas acima são repetidas várias vezes, para que cada

etapa seja revista proporcionando um melhor entendimento do problema através do modelo

desenvolvido.

Segundo Saaty (1980) existe um limite de critérios a serem utilizados. Esse limite

de capacidade humana de processar informações simultaneamente com precisão varia de 5

até no máximo 9. Portanto, sugere-se que os critérios/atributos não passem de 9.

Page 72: AHP Seleção de Fornecedores

72

2.7.2 Descrição das etapas do método AHP

O estudo do método AHP tem início com a decomposição dos elementos de um

problema em hierarquia. Em seguida é feita as comparações binárias entre os elementos de

um nível em relação ao critério do nível superior. Através destas comparações são definidas

as prioridades e, devido à síntese, são definidas as prioridades globais. Por fim, faz-se a

avaliação da coerência e da interdependia entre os elementos. As etapas do método podem

ser sucintamente definidas conforme:

1. Definir o problema e a decisão designada

2. Estruturar a hierarquia de um ponto de vista global

3. Construir uma matriz de comparações binárias, estabelecendo o impacto de cada

elemento sobre cada critério em relação ao nível superior. O ser humano, por natureza, tem

como preferência atribuir um número inteiro quando julgando dois elementos, mas a matriz

permite transcrever este valor a uma dada posição e o recíproco (inverso) na outra posição

simétrica. Um elemento situado à esquerda é por convenção examinado em sua função,

relativamente ao elemento situado no topo da matriz.

4. Fazer todos os julgamentos necessários para desenvolver o conjunto de matrizes da

terceira etapa. Os julgamentos múltiplos podem ser sintetizados utilizando os meios

geométricos.

5. Definir as prioridades depois de ter coletado todos os dados obtidos através das

comparações binárias e ter levado os recíprocos e os valores unitários sobre a diagonal

principal, para testar a coerência.

6. Efetuar todas as operações previstas nas etapas 3,4 e 5 para todos os níveis e todos

os grupos hierárquicos.

7. Utilizar a composição hierárquica para ponderar os vetores das prioridades pelo

peso dos critérios e levar a soma em relação a todos os valores de prioridades ponderadas

correspondendo aos dos níveis imediatamente inferiores, e assim sucessivamente. Estas

operações vão dar um vetor de prioridades globais para o nível mais baixo da hierarquia.

8. Avaliar a coerência de todas as hierarquias multiplicando cada índice de coerência

pela prioridade do critério correspondente e adicionando os produtos. O resultado é

Page 73: AHP Seleção de Fornecedores

73

dividido pelo mesmo tipo de avaliação utilizando o índice de coerência aleatória

correspondente à dimensão de cada matriz ponderada pelas prioridades, como

anteriormente. A razão de coerência da hierarquia deve ser inferior ou no máximo igual a

10%, caso contrário, deve ser revista a qualidade da informação.

3. ESTUDO DE CASO

A adoção de uma metodologia para seleção de fornecedores se faz necessária em

todas as empresas, desde as empresas de classe mundial até as pequenas empresas

especializadas na fabricação de determinados componentes.

A cadeia de suprimentos abrange fornecedores de diversas camadas, porém,

normalmente o processo estruturado de seleção por parte das empresas fica restrito apenas

aos fornecedores de primeira ou segunda camada.

A empresa foco desse trabalho é uma empresa de médio porte, 100% nacional,

especializada em produzir cabos flexíveis de comando. Presente no mercado há mais de 50

anos, essa empresa faz parte da cadeia de suprimentos de grandes montadoras localizada no

Brasil, além de atender ao mercado de reposição.

A empresa-foco é um importante fornecedor de primeira camada de grandes

montadoras, sendo que essa possui fornecedores no Brasil e na China.

Esse trabalho demonstra como, através do método AHP, a empresa poderia melhor

estruturar o seu processo de seleção de fornecedores.

Como a aplicação do método parte da interação de várias áreas dentro da empresa,

ele traz muitos benefícios para a mesma, como: autoconhecimento da organização,

prioridades, estratégias, principais critérios que a organização leva em conta ao optar por

um determinado fornecedor, entre outros. Para o fornecedor também há benefício, pois com

a apresentação desse método de seleção, ele passa a conhecer as expectativas da empresa-

cliente com relação a sua empresa e pode implantar melhorias visando um relacionamento

de longo-prazo com essa empresa-cliente.

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74

3.1 Levantamento dos critérios

Os critérios foram levantados com base em uma pesquisa feita com sete

profissionais da empresa-foco. Todos esses profissionais têm experiência relacionada ao

departamento de suprimentos da empresa, em especial o supervisor de compras e o gerente

industrial.

O método da pesquisa consistiu na apresentação aos pesquisados de 17 critérios

considerados importantes no processo de seleção de fornecedores, conforme quadro 8.

Quadro 8 – Critérios gerais considerados no processo de seleção de fornecedores.

Dentre esses critérios os pesquisados escolheram 5 e os pontuaram numa escala de

1 a 5; sendo 1 – menos importante e 5 – mais importante, conforme quadro 9.

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75

Quadro 9 – Pontuação dos critérios gerais considerados no processo de seleção de fornecedores.

Somando a pontuação atribuída aos critérios pelos pesquisados, foram considerados

para realização desse trabalho, os quatro critérios melhor posicionados, conforme quadro

10.

Quadro 10 – Posicionamento dos quatro considerados como mais importante no processo de seleção de fornecedores por parte dos pesquisados

Page 76: AHP Seleção de Fornecedores

76

3.2 Aplicação do Método de Análise Hierárquica (AHP)

A empresa-foco utiliza em seus processos produtivos diversos tipos de

componentes, como: usinados, estampados, plásticos, borracha, entre outros. Além de

diversos grupos de matérias-primas, como: arame, cabo de aço, PVC, cordoalhas, entre

outros.

Como o objetivo desse trabalho é demonstrar como a empresa pode utilizar o

método de análise hierárquica como uma ferramenta de seleção de fornecedores, foi

escolhido apenas um grupo para análise, o grupo de componentes de borracha. Esse grupo é

composto por dezenas de componentes diferentes.

A empresa possui basicamente dois fornecedores, um situado no Brasil e outro na

China. Grande parte dos componentes é fornecida pela empresa brasileira, apesar de a

empresa chinesa apresentar grande diferencial tecnológico e produtivo em relação a esse

fornecedor brasileiro.

Com a aplicação do método AHP, será possível constatar o quanto essa empresa

chinesa é melhor do que a brasileira em termos percentuais e, que consequentemente, a

empresa deveria incrementar seus negócios com a empresa chinesa.

O fornecedor brasileiro está situado no interior do estado de São Paulo, a cerca de 2

horas da empresa-cliente. Apesar disso, atrasa quase todos os pedidos e há ocorrências de

reprova de lotes entregues. Além disso, a empresa-cliente tem que fornecer e dar

manutenção nos ferramentais de injeção.

Por outro lado, a empresa chinesa produz os ferramentais e, embora a empresa-

cliente pague por eles, o custo é cerca de 1/3 do ferramental produzido no Brasil. Todas as

amostras para aprovação do ferramental são acompanhadas dos respectivos certificados de

inspeção e material, além do PPAP (Processo de Aprovação de Peça de Produção). Os

pedidos são embarcados no prazo e não há histórico de reprovação de lotes.

A seguir, é demonstrado e explicado cada etapa da aplicação do AHP referente ao

problema apresentado.

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77

3.2.1 Definir o Problema e os Respectivos Critérios

O problema já foi definido anteriormente. Abaixo, na tabela 6 são apresentados os

critérios e as informações complementares sobre cada um dos fornecedores, necessárias

para iniciar a aplicação do método.

As informações sobre cada critério com relação a cada uma das empresas foram

levantadas em consenso com o diretor industrial da empresa-foco.

Tabela 6 – Informações complementares com relação aos critérios de seleção de fornecedores.

3.2.2 Construção da Estrutura de Decisão Hierárquica

Serão abordados três níveis hierárquicos para resolução desse problema, conforme

figura 14, sendo:

1º nível hierárquico: meta global, nesse caso é a seleção de um fornecedor para

componentes de borracha.

2º nível hierárquico: são considerados os critérios selecionados através da pesquisa

com os funcionários da empresa envolvidos com o processo de seleção de fornecedores.

3º nível hierárquico: são apresentadas as opções, onde o Fornecedor A (F.A.) é o

fornecedor brasileiro e o Fornecedor B (F.B.) é o fornecedor chinês.

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78

Figura 14 – Estrutura da decisão hierárquica em três níveis

3.2.3 Construção das matrizes de preferência para cada critério

Após definida as hierarquias, deve-se fazer a comparação par a par de cada

elemento no nível hierárquico, criando-se uma matriz de decisão quadrada.

Com base na escala fundamental de Saaty representado na tabela 7, que varia de 1 a

9, é feita a comparação par a par das alternativas.

Baseado nessa escala deve-se determinar o grau de preferência por cada critério.

Como no caso do problema exposto foram definidos quatro critérios,

consequentemente serão construídas quatro matrizes que comparam os graus de intensidade

por pares em função de cada característica.

Saaty (1980) recomenda que os critérios não sejam mais do que 9, sendo

recomendado de 3 a 7 critérios para que o resultado do método seja consistente.

Page 79: AHP Seleção de Fornecedores

79

Tabela 7 – Escala fundamental de comparações binárias elaborada por Saaty.

A seguir são apresentadas as matrizes segundo os critérios de preferências definidos

na pesquisa e julgados em conjunto com o diretor industrial da empresa-foco.

Page 80: AHP Seleção de Fornecedores

80

3.2.4 Normalizar as matrizes

Nessa etapa deve-se dividir cada elemento da matriz pela soma da coluna a que

pertence. Normalizar os valores de cada coluna de tal forma que a soma de todos os seus

elementos seja igual a 1. A seguir são apresentadas as tabelas de normalização para cada

critério.

Page 81: AHP Seleção de Fornecedores

81

3.2.5 Obter a média de cada critério

Para obter a média de cada critério deve-se converter as frações em decimais e

encontrar a média aritmética de cada linha da matriz normalizada. O resultado representa o

vetor de cada critério, conforme tabelas a seguir:

3.2.6 Construir a matriz de prioridade

Com os vetores encontrados na etapa anterior, deve-se construir uma matriz, na qual

as linhas constituirão as alternativas e as colunas, os critérios, conforme tabela 20.

Page 82: AHP Seleção de Fornecedores

82

3.2.7 Construir a matriz de comparação dos critérios

Após obter o vetor de prioridades ou de impacto das alternativas sob cada critérios,

continua-se com o nível dos critérios.

Deve-se então construir uma matriz de comparação dos critérios e então, repetir as

etapas 3.2.4 e 3.2.5 para a classificação par a par. Como resultado, será obtido um vetor que

contém a média de cada critério. Conforme tabelas a seguir:

Então, repete-se a etapa 3.2.4 obtendo as tabelas 22 e 22.1.

Page 83: AHP Seleção de Fornecedores

83

E depois repete-se a etapa 3.2.5, conforme tabela 22.2.

3.2.8 Obter o resultado final

Para tal, multiplicar a matriz obtida na etapa 3.2.6 pelo vetor da média obtido na

etapa 3.2.7. O resultado será um vetor que contém a qualificação final de cada alternativa,

conforme tabela 23.

Page 84: AHP Seleção de Fornecedores

84

Figura 15 – Estrutura de preferências para os vários graus hierárquicos e a respectiva solução.

3.2.9 Calcular a coerência do método para o problema

Para todas as matrizes binárias do problema deveria ter sido feito o cálculo da

coerência. Mas esse cálculo só se justifica para matrizes de dimensão igual ou superior a

3x3. No caso do problema exposto só há uma matriz de dimensão aceitável (4x4), que é a

matriz de comparação entre critérios, conforme tabela 24.

A etapa 3.2.9 é constituída de quatro sub-etapas.

Page 85: AHP Seleção de Fornecedores

85

3.2.9.1 Determinar a totalização das entradas

Reduzir ao produto os valores da matriz apresentada na etapa 3.2.9 e multiplicar

pelas médias obtidas na etapa 3.2.7 (tabela 32.2). Cálculos representados pelas tabelas 34.1

e 34.2.

3.2.9.2 Determinar o λ máximo

Para isso considera-se o número de critérios, que no problema exposto são 4.

Divide-se o vetor total de entradas pelo vetor da média, obtendo-se um novo vetor. Desse

vetor resultante, somam-se as 4 parcelas e divide-se pelo número de critérios (4). O

resultado é o λ máximo. O cálculo é representado pela tabela 25.

Page 86: AHP Seleção de Fornecedores

86

Cálculo do λ máximo:

3.2.9.3 Calcular o Índice de Coerência - IC

3.2.9.4 Comparar o Índice de Coerência - IC com o Índice Aleatório - IA

Comparar o Índice de Coerência – IC com o Índice Aleatório – IA e verifica se é ≤

0.10 (10%). O Índice aleatório é representado pela tabela 26.

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87

4 CONCLUSÃO

Na etapa 3.2.8. foi possível constatar que o fornecedor B atingiu 69.09%, enquanto

que o fornecedor A atingiu 30.94%. Perante esse resultado, o fornecedor mais adequado,

de acordo os critérios e julgamentos da empresa-foco, é o fornecedor B, ou seja, o

fornecedor chinês. Verificou-se na etapa 3.2.9.4 que a Relação de Consistência (RC)

apresentou 0.0524, ou seja, <0.1, os critérios foram julgados coerentemente e o resultado

alcançado realmente expressa o consenso dos envolvidos na pesquisa.

Como o fornecedor chinês não foi desqualificado em nenhum dos critérios, faz-se

necessário para a empresa-foco incrementar o nível de negócios com o mesmo, criando

uma relação de longo prazo. Da mesma forma, a empresa deve aplicar o método para os

outros grupos de componentes e matérias-primas para os quais mantém negócios - Brasil e

China.

Considera-se, portanto, que o objetivo desse trabalho, que foi demonstrar como o

Método de Análise Hierárquica pode ser usado como uma ferramenta de tomada de decisão

no processo de seleção de fornecedores, foi atingido.

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