against the motion
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Against the motion –J. D. Peel
Sociedade é um conceito altamente complicado e multifacetado.
Segundo o autor, Strathern critica uma dessas noções que dizem
respeito ao conceito de sociedade, uma que foi muito influenciadora
da Antropologia, mas foi também muito criticada por ela.
Sociedade deve ser vista como um campo de investigação que
engloba as relações entre todos entre esses sentidos. Tais sentidos
de sociedade são construídos em oposição a algo específico:
indivíduo, cultura, comunidade, ou, mais pertinentemente (segundo o
autor) em oposição ao Estado.
Anthony Giddens: duas noções de sociedade
1- A conotação generalizada se associações e interações sociais,
isto é, padrões de relações entre atores sociais.
2- Uma unidade relativamente fechada de relações sociais, um
sistema social, em contraste com outras sociedades ao redor.
Esses dois significados estabelecem uma distinção entre a definição
geral e a definição particular de sociedade.
A sociedade pode ser vista, ainda, como um sinônimo de cultura.
O segundo tipo de noção de sociedade foi teorizado de duas
maneiras principais:
1- Sistema de necessidades
2- Como uma imagem arquitetural.
O autor propõe assim, pensar historicamente na construção da noção
de sociedade.
No século XVII sociedade e Estado passaram a ser vistas em
oposição, mas, ainda assim, em união problemática com o Estado.
A teoria social moderna, do século XIX, traz a noção de sociedade
ligada por seus dois sentidos.
Os conceitos não deveriam ser vistos como uma sombra ou réplica da
realidade. Eles são a verdades ordenados de acordo com sua
pertinência a partir de princípios teoricamente relevantes.
A noção de sociedade por estar no imaginário de muitas pessoas, é
uma realidade social e cultural que ordena tal imaginário.
As pessoas que pensam a sociedade em oposição ao indivíduo
fortalecem as concepções tatcheristas de que não existe a sociedade,
só os indivíduos. Segundo Peel, uma vez que a sociedade se vai, o
indivíduo é deixado sozinho, contra o Estado.
Movimentos contra estados autoritários tem mostrado que a ideia de
sociedade como a precondição para a formação e realização, não
como sua oposição.
“Se a tarefa da antropologia é se engajar na atualidade humana, é
difícil pensar em um conceito menos obsoleto”
For the motion (2) – Crhistina Toren
A autora começa dizendo que, tendo a noção de socialidade em
mente, é preciso concordar que noções como sociedade e indivíduo
são teoricamente obsoletas.
No pensamento ocidental exisitia uma noção de que crianças podem
ser moldadas. Nos anos recentes, até noções menos coercitivas de
socialização tem sido vistas como inadequadas.
Bebês nascem com habilidades cognitivas complexas, como uma
habilidade subjacente à contagem. Eles poderiam, ainda, distinguir
coisas vivas de não vivas, eles podem também, distinguir entre
humanos e animais.
As habilidades cognitivas de um bebê são complexas, no entanto, sua
completude (conhecimento do mundo) só se dá em relação aos
demais.
As pessoas, mesmo os bebês, são pessoas particulares com histórias
particulares.
O fato de serem inatos não implicam em que sejam “não sociais”, a
ideia de oposição entre ambos está ligada a ideia de sociedade.
Nessa teoria, uma pessoa toma consciência nas e através das
relações sociais. Nas quais essa pessoa é sujeito e objeto das ações.
As pessoas estão, também, em relação consigo mesmo, uma vez que
são objeto de suas próprias considerações e sujeitos de suas próprias
ações.
Os significados que alguém produz são inevitavelmente mediados
pela multiplicidade de relações sociais nas quais esse alguém está
enredado e nas quais o significado sempre inere.
A autora argumenta também contra a ideia de cultura. Porque ambas
andam lado a lado.
A cultura é vista como um “sistema de símbolos”, tido como pronto
[ready made], que se transmite a cada membro do grupo.
A autora pretende compreender as pessoas não só como produtos de
processos sociais e culturais, mas como moldadores desses
processos.
A proposta, ao dizer que o conceito de sociedade é teoricamente
obsoleto é pensar as pessoas como sujeitos históricos ativos e
objeto das ações de outros. Tais pessoas são produtores e
produtos significados infinitamente variáveis, mas não arbitrários.
Os significados são variáveis porque são produzidos por sujeitos
humanos, no entanto, não são arbitrários porque, inevitavelmente,
eles são produtos de relações sociais, sendo assim, produzidos em
referência significados que outros produziram ou estão produzindo.
Não há sociedade, só as relações sociais nas quais e por meio das
quais nos tornamos quem somos.
Against the Motion II
Aqueles que demandam uma fissura radical entre o passado e o
presente da antropologia, precisam, primeiro, ter em mente, o que
esse passado contém.
Em alguns contextos e em alguns usos, o conceito de sociedade pode
ser útil.
O autor tem em mente o conceito de sociedade como um palavra com
mais de um significado, como, segundo ele, cultura, ou classe.
Em seguida ele acusa Toren e Strathern de utilizarem um dos
significados contingentes que esse conceito assume, como
historicamente transcendente.
Segue dizendo que a crítica a noção de sociedade como oposta a de
indivíduo, só é possível graças as teorias de Marx e Mauss, que
escreveram sobre a natureza da sociedade moderna e sobre
alternativas imagináveis a ela.
Muitos significados associados à palavra sociedade são encontrados
em dicionários de inglês. Apenas poucos deles colocam em relação
de oposição sociedade e indivíduo. Significados mais antigos, como o
latino, são mais próximos do que Strathern chamaria de socialidade.
O primeiro dos aspectos positivos do conselho de sociedade é o fato
de que estar em oposição a outros conceitos, por si só, não é algo
ruim.
O autor aponta, ainda, que a dicotomia entre sociedade civil e estado
é uma área interessante para pensar as disputas em torno das
fronteiras esses tais “instituições”. E que tal relação problemática
pode se repetir em outras sociedades coloniais e pós-coloniais. Além
de sociedades industriais. A partir disso, é possível realizar
etnografias sobre a política nas sociedades complexas.
A noção de sociedade teria, também, importância política, uma vez
que invoca a noção de coletividade.
A proposta do autor é compreender os significados que a noção de
sociedade assume em momentos sócio-históricos distintos, para que
seja possível confrontar tais noções, o que pode permitir que tais
noções sejam modificadas.
Parte 2 – O Debate
A objeção de Strathern à noção de cultura diz respeito ao mesmo
problema que a antropóloga tem com a noção de sociedade. Isto é,
como alguns antropólogos passam a manipular tal noção como uma
entidade.
Jonathan Spencer: as noções de sociedade criadas pelas pessoas é a
forma que esse conceito assume.
Toren: também quer compreender como a noção de sociedade é
construída. Mas para compreender tal uso, não é preciso utilizar tal
conceito como analítico.
Strather: O problema das dicotomias é que um dos polos acaba por
ser privilegiado.
John Peel: A noção de que indivíduos são produtos e produtores de
suas relações já estavam em Weber e Simmel, por exemplo.
Spencer: As oposições não são necessariamente ruins.
Toren: para operacionalizar as teorias de Weber e Simmel é preciso
acabar com a dicotomia entre indivíduo e sociedade.
Tim Ingold: Duas dicotomias estão sendo debatidas:
a) Pessoa – socialidade : aqui os pares são termos pares que
constituem um fenômeno.
b) Sociedade – indivíduo: divisão entre dois domínios constituídos,
os quais podem, então, interagir entre si.
Se os dois domínios são separados, como eles se relacionam.
O caso a) apresentaria dicotomias de tipo relacional, o b)
apresentaria aquelas de tipo entidade.
E pergunta as proponentes se elas acreditam que o conceito de
linguagem é obsoleto, aquele saussuriano.
Toren: Sim. Ela é contra a distinção entre língua e fala, não há ponte
onde possa ser localizada a estrutura. A linguagem é uma abstração,
porque, na realidade a linguagem é um constante processo de
“tornar-se” [becomingI].
Spencer: Em certos contextos, a utilização do conceito de sociedade
seria apropriada.
Strathern: Crítica a Durkheim, que apesar de dizer que a sociedade é
prioritária, a criou como algo a parte dos indivíduos.