adolescência através dos séculos

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    Psicologia: Teoria e Pesquisa Abr-Jun 2010, Vol. 26 n. 2, pp. 227-234

    Adolescncia atravs dos Sculos

    Teresa Helena Schoen-Ferreira1Maria Aznar-Farias

    Universidade Federal de So PauloEdwiges Ferreira de Mattos Silvares

    Universidade de So Paulo

    RESUMO -Asociedadecontemporneaocidentalestendeuoperododaadolescncia,quenomaisencaradaapenascomouma preparao para a vida adulta, mas passou a adquirir sentido em si mesma, como um estgio do ciclo vital. O presente artigo procura descrever como os adolescentes eram vistos e tratados, desde a antiguidade at os dias de hoje, a partir de textosliterriosoufilosficoseestudoscientficos.Omaterialbibliogrficoarespeitodaadolescnciacaracteriza-seportrsetapas distintas: a descrio dos padres de comportamento, ajustamento pessoal e relacionamento; a resoluo de problemas reaispormeiodoconhecimentocientfico;eodesenvolvimentopositivodoindivduo,considerandoosadolescentescomoo futuro da humanidade.

    Palavras-chave: adolescncia, histria, teorias sobre adolescncia.

    Adolescence through the Centuries

    ABSTRACT - Contemporary western society has extended the period of adolescence, which is no longer seen as a preparation for adult life, but began to make sense of itself as part of the human lifecycle. The present article aims to describe how adolescents have been seen and treated, from antiquity to the present days, as reported by literary or philosophical texts and scientificstudies.Thebibliographicmaterialonadolescenceischaracterizedbythreedistinctstages:descriptionofbehavior,personaladjustment,andrelationshippatterns;problemsolvingthroughscientificknowledge;andthepositivedevelopmentof the individual, considering adolescents as the future of mankind.

    Keywords: adolescence, history, theories of adolescence.

    1 Endereo para correspondncia: Universidade Federal de So Paulo, Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente CAAA. Rua Botucatu 715, Vila Clementino. E-mail: [email protected]; [email protected].

    2 A OMS ainda aceita um outro estgio juventude que vai dos 15 aos 25anos,englobandooperodointermedirioefinaldaadolescnciaeo perodo inicial da vida adulta.

    3 Em alguns casos, alguns artigos dessa lei podem ser estendidos aos 21 anos.

    Aadolescnciadefinidacomoumperodobiopsicos-social que compreende, segundo a Organizao Mundial de Sade - OMS (1965), a segunda dcada da vida, ou seja, dos 10 aos 20 anos. Esse tambm o critrio adotado pelo Ministrio da Sade do Brasil (Brasil, 2007a) e pelo Instituto BrasileirodeGeografiaeEstatsticaIBGE(Brasil,2007b).Para o Estatuto da Criana e do Adolescente ECA, o perodo vai dos 12 aos 18 anos (Brasil, 2007c). Em geral, a adoles-cncia inicia-se com as mudanas corporais da puberdade e terminacomainserosocial,profissionaleeconmicanasociedade adulta (Formigli, Costa & Porto, 2000).

    As mudanas biolgicas da puberdade so universais e visveis,modificandoascrianas,dando-lhesaltura,formae sexualidade de adultos. primeira vista, a adolescncia apresenta-se vinculada idade, portanto, referindo-se biolo-gia ao estado e capacidade do corpo (Santos, 2005). Essas mudanas, entretanto, no transformam, por si s, a pessoa em um adulto. So necessrias outras, mais variadas e menos visveis, para alcanar a verdadeira maturidade (Berger &

    Thompson, 1997) mudanas e adaptaes que dirigem o indivduo para a vida adulta (Bianculli, 1997). Essas incluem as alteraes cognitivas, sociais e de perspectiva sobre a vida (Martins, Trindade, & Almeida, 2003; Santos, 2005). A adolescncia uma poca de grandes transformaes, as quais repercutem no s no indivduo, mas em sua famlia e comunidade.

    Kalina e Laufer (1974) entendem a adolescncia como o segundo grande salto para a vida: o salto em direo a si mesmo, como ser individual. Eses autores distinguem puber-dade de adolescncia. Puberdade refere-se aos fenmenos fisiolgicos, que compreendem asmudanas corporais ehormonais, enquanto adolescncia diz respeito aos compo-nentes psicossociais desse mesmo processo. Melvin e Wolk-mar (1993) tambm fazem essa diferenciao: consideram que, na puberdade, est mais acentuada a maturao fsica e que a idade real de incio pode variar muito, sendo para as meninas em torno dos 10 anos e para os meninos, 12 anos. O ritmo em que ocorrem as mudanas da puberdade tambm diferente para as meninas e para os meninos, havendo uma variabilidade dentro do mesmo grupo sexual (Bee, 2003; Serra, 1997). A adolescncia, cujo incio coincide com a puberdade,influenciadapelasmanifestaesdesta.

    A Organizao Mundial de Sade tambm considera esses dois conceitos como distintos (Bianculli, 1997). Na puberdade, ocorremmudanas orgnicas que tendem maturaobiolgicaadultacomdimorfismosexualecapaci-dade reprodutiva; e, na adolescncia, h adaptao s novas

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    estruturas fsicas, psicolgicas e ambientais. Por isso, Lidz (1983) e Serra (1997) dizem existir vrias adolescncias, de acordo com as caractersticas de cada pessoa e de seu contexto social e histrico.

    Ao mesmo tempo em que proposta a universalidade do estgio da adolescncia, observa-se que ela depende de uma insero histrica e cultural, que determina, portanto, variadas formas de viver a adolescncia, de acordo com o gnero, o grupo social e a gerao (Martins & cols., 2003). A escola, apesar de ser obrigatria para todos os adoles-centes, proporciona recursos pessoais e sociais (hbitos de sade, interaes sociais, descoberta de oportunidades, por exemplo) que so aproveitados de maneira distinta pelos alunos (Hargreaves, Earl & Ryan, 2001; Marturano, Elias &Campos,2004;Serra,1997),oquetambminfluencianamaneira individual de viver a adolescncia.

    Os adolescentes apresentam diversidade de grupos, ati-tudes,comportamentos,gostos,valoresefilosofiadevida.ComodizSerra (1997), h diversosmundos e diversasformasdeseradolescente(p.29).Asexperinciasvividasaolongo de sua vida marcam o indivduo como ser nico, apesar de compartilhar algumas caractersticas com outros jovens.

    Asociedadecontemporneaocidentalnoapenasesten-deu o perodo da adolescncia, como tambm os elementos constitutivos da experincia juvenil e seus contedos (Abra-mo & Branco, 2005). Adolescncia, hoje, no mais encarada apenas como uma preparao para a vida adulta, mas passou a adquirir sentido em si mesma.

    A palavra adolescncia vem do latim adolescere, que significacrescer.SegundoMelvineWolkmar(1993),apa-lavra adolescence foi utilizada pela primeira vez na lngua inglesa em 1430, referindo-se s idades de 14 a 21 anos para os homens e 12 a 21 anos para as mulheres.

    Apesardeserumestgiodesenvolvimentaloficialmenteinaugurado com Stanley Hall em 1904 (Cole & Cole, 2004; Melvin & Wolkmar, 1993; Mussen, Conger, Kagan & Huston 1995; Santrock, 2003), registros na literatura, especialmente textos sobre educao, documentam algumas caractersticas associadas ao adolescente na histria da humanidade. Sprin-thalleCollins(1999)afirmamqueoscomponentespsico-lgicos efisiolgicos fundamentais desseperodo sempreexistiram nas pessoas, independente do perodo histrico ou cultural, embora nem sempre se reconhecessem as caracte-rsticasespecficasdaadolescncia.Exemplificandocomaamizade, questo muito relevante nessa fase, Brun (2007) escreve que a mesma responde a uma necessidade essencial de encontro com o outro, e esteve presente desde a aurora das civilizaes, embora com caractersticas das diferentes culturas ou pocas.

    Somente nos sculos XIX e XX, acontecimentos so-ciais, demogrficos e culturais parecem ter propiciado oestabelecimento da adolescncia como perodo distinto do desenvolvimento humano (Kimmel & Weiner, 1998). Dessa forma, entende-se que a psicologia do adolescente tem um longo passado com uma curta histria (Pfromm Netto, 1979; Steinberg & Lerner, 2004).

    Informaes sobre a adolescncia foram recolhidas por meio de estudos sobre as cerimnias de iniciao ocorridas em povos primitivos, prosseguindo com as especulaes filosficasoutextosliterriosaolongodahistriadahuma-

    nidade que geralmente registravam as classes mais altas e desembocandonosestudoscientficosocorridosapartirdosculo XX (Pfromm Netto, 1979).

    Embora ainda pouco estudada, a adolescncia tem sido vista desde a Antiguidade pelo prisma da impulsividade e excitabilidade. Na Grcia Antiga, os jovens eram submetidos aumverdadeiroadestramento,cujofimseriainculcar-lhesas virtudes cvicas e militares. Aos 16 anos, podiam falar nas assembleias. A maioridade civil era atingida aos 18 anos, oca-sio em que eram inscritos nos registros pblicos da cidade (Grossman, 1998). A ginstica era bastante utilizada para o desenvolvimento fsico e moral das crianas e jovens. As moasfaziamexercciosesportivosafimdeadquirirsadeevigor para seu futuro de mes de famlia. Casavam-se aos 15 ou 16 anos. Via-se a fase da puberdade como um perodo de preparao para os afazeres da vida adulta: no caso do sexo masculino, a guerra ou a poltica; no caso do sexo feminino, a maternidade. Era possvel que alguns jovens se dedicassem filosofia,geralmenteaquelesdefamliasmaisabastadasqueno necessitavam da sua fora de trabalho.

    Assis e cols. (2003), analisando Plato (sc. IV a.C.), observaram que ele enfatizou caractersticas negativas dos jovens, advertindo-os quanto ao uso de bebida alcolica antes dos18anos,achandoqueeraomesmoquecolocarfogonofogo.Mas,segundoaanlisedeSantrock(2003),Platotambm considerou que o raciocnio seria uma caracterstica do homem que s apareceria na adolescncia. Por isso, as crianas deveriam passar mais tempo brincando e os jovens estudando.

    Sprinthall e Collins (2009), Assis e cols. (2003) e Cole e Cole (2004) ressaltam que Aristteles (sc. IV a.C.) des-creveu os jovens, no sculo IV a.C., como apaixonados, irascveis e capazes de serem levados por seus impulsos. Ele considerava que os jovens eram exageradamente positivos emsuasafirmaesequeseimaginavamoniscientes,emboraconsiderasse que o aspecto mais importante da adolescncia fosse a habilidade para escolher e que a autodeterminao seria um indcio de maturidade. Para ele, o exerccio intenso visando competies s deveria ocorrer trs anos aps o trmino da puberdade para no comprometer o desenvolvi-mento biolgico.

    No incio do Imprio Romano, a educao dos mais jovens ficavaacargodospais,sendoumaeducaobastanteprtica,procurando formar o agricultor, o cidado ou o guerreiro. A partir do sculo II a.C., as classes mais abastadas passaram a hospedar em suas casas algum mestre grego para educar seusfilhoseaquelesquenotinhamamesmapossibilidadeenviavamseusfilhosparaescolas.Grossman(1998)contaque os meninos romanos da elite, aos 12 anos, deixavam o ensino elementar e passavam a estudar os autores clssicos e a mitologia, com o objetivo de adornar o esprito. Aos 14 anos, abandonavam as vestes infantis, tendo o direito de fazer tudo o que um jovem gostasse de fazer. Alguns jovens, como complementao de seus estudos, viajavam Grcia. Aos 16 ou 17 anos, podiam optar pela carreira pblica ou entrar paraoexrcito.Noexistiamaioridadelegal:oindivduoera considerado impbere at que o pai ou o tutor conside-rasse que estava na idade de tomar as vestes de homem e cortar o primeiro bigode. No perodo entre a puberdade e o casamento, a indulgncia dos pais era admissvel, devia-se

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    Adolescncia

    conceder algum privilgio ao calor da juventude. Por outro lado as meninas, aos 12 anos, eram consideradas em idade de casar. O casamento se consumava, no mximo, aos 14 anos, quando ento eram consideradas adultas.

    Parece que aos poucos, a educao romana perdeu a ideia de praticidade e passou a ser um ornamento intelectual, comissocomea-seaobservarumadistnciamaiorentreos jovens de acordo com a classe social, embora muitos escravos recebessem ensinamentos necessrios prtica de seus servios, que podiam at abranger a leitura, clculos e a filosofia.Entretanto,observamosquedesdeoinciodoImp-rio Romano permanecia a ideia de que para tornar um adulto integrado sociedade era preciso instruir os mais jovens.

    Ao longo do sculo II, difundiu-se uma nova moral que confinavaaprticasexualaocasamento.pocaemqueosmdicosprescreviamaginsticaeosestudosfilosficosparatirar dos jovens a energia venrea, que podia englobartanto o sexo, quanto o consumo do lcool. Nesse perodo, acrescentaram-se mudanas na concepo de maioridade. A passagem idade de homem adulto j no era um fato fsico reconhecidoporumdireitohabitual,esimumaficojurdi-ca: de impbere passava-se a menor legal (Grossman, 1998). Nessa poca, surgiu a ideia de que as escolas deveriam ter perodos de descanso entre os momentos de estudo.

    Sprinthall e Collins (1999), estudando Santo Agostinho (sc. V), observaram que ele abordou questes que considera-va relevantes em relao aos jovens, inclusive certa averso escola, sugerindo uma educao mais jovial, alegre, tranquila e com brincadeiras.

    Na Idade Mdia, o indivduo vivia em comunidades feudais, as quais se constituam como um ambiente bastante familiar, onde todos se conheciam. Os papis, tanto de gnero quantoprofissional, eramdeterminadospela comunidade.Grossman (1998) descreve que, nessa poca, o desenvol-vimento era entendido como um fenmeno quantitativo e no qualitativo. As crianas e adolescentes eram conside-rados adultos em miniatura (Garrod, Smulyan, Powers & Kilkenny, 1995), necessitando apenas de crescer em termos quantitativos em todos os aspectos fsicos e mentais da es-pcie humana. Dessa forma, assim que a criana superava o perodo de alto risco de mortalidade, ela logo era misturada com os adultos e ia aprendendo as tarefas, crenas e valores que seriam solicitados quando se tornassem adultos (Garrod & cols., 1995; Grossman, 1998).

    Uma formade o jovem adquirir umaprofisso nessapoca era atravs das Corporaes de Ofcio. Estas eram compostasdetrsclasses:osmestres,donosdasoficinas,responsveis pelo ensino e educao dos aprendizes; os aprendizes, que no recebiam salrio, geralmente eram pa-rentes e moravam com o mestre; e o jornaleiro, que j havia terminado o perodo de aprendizagem e recebia salrio.

    Entre os nobres, para os mais jovens havia o treinamento para se tornar cavaleiro. Um treinamento bastante intenso e que demorava vrios anos. Nas universidades surgiram oscornificianos,queeramestudantesquedesejavamumareduo no programa de estudos. O casamento costumava ser realizado entre 12 ou 15 anos, com a noiva mais nova que o noivo. A partir do sc. XII, a Igreja Catlica passou a exigir o consentimento mtuo dos noivos para a unio, embora,naprtica,ospaispudessempersuadirafilhaadar

    seu consentimento. Dessa forma podemos observar que os jovens comeam a ter algum poder de deciso em relao sua prpria vida (Costa, 2008).

    Alguns mosteiros criaram escolas onde se educavam crianas at os 15 anos, independente da classe social. Relatos da poca mostram que esses jovens se organizavam em gru-pos de idades semelhantes para brincar e jogar (Costa, 2002).

    A ideia de fases, ou idades da vida, comeou a ser mais difundida na Idade Mdia, observando as diferentes formas de assistncia necessrias ao cuidado, sustento e abrigo dos indivduos e suas funes sociais no decorrer do ciclo vital (Souza & Homet, 1999). SobainflunciadeAristteles,asfases correspondiam a perodos de sete anos. A segunda idade era chamada de pueritia e ia dos sete aos 14 anos. A terceira idade (dos 14 aos 21 anos) era chamada de adolescncia, porque a pessoa estaria pronta para procriar. Nessa idade o indivduo cresceria toda a grandeza que lhe fosse devida pela natureza. Para alguns, a adolescncia terminava no vigsi-mo primeiro ano, mas, para outros, durava at os 28 anos, podendo ser estendida at os 30-35 anos (Grossman, 1998).

    Erikson (1998) ressalta que Shakespeare (sc. XVI) escreveuumpoemaintituladoAsseteidadesdoHomem,onde inclua a idade do estudante, que resmungo e no gosta da escola e a mocidade referindo-se ao perodo da adolescncia -, que seria a idade do amante ou a do soldado. Diversos estudiosos da literatura inglesa perguntam se o clssicoRomeueJulietaretratariaarebeliodosjovenscontra as tradies dos pais (Brooks-Gunn, 1995).

    Grossman (1998) destaca que Rosseau (sc. XVIII), em seu tratado sobre a natureza humana e a educao, sugeriu caractersticasdaadolescncia,asquaiscontinuaminfluen-ciando o pensamento atual a respeito desse perodo. Para Garrod e cols. (1995), essefilsofo enfatizouo processode desenvolvimento de forma qualitativa. Rousseau con-siderava a adolescncia o perodo de maior instabilidade e conflitoemocional,osquaiseramprovocadospelamaturaobiolgica. Para ele, tanto as mudanas biolgicas quanto as sociais eram acompanhadas por uma mudana nos processos psicolgicos, incluindo o desenvolvimento da capacidade de pensar com lgica. Gallantin (1978) observou que para Rousseau o raciocnio era desenvolvido na adolescncia, motivo pelo qual, aconselhava que a educao prosseguisse depoisdos12anos.Santrock(2003)ressaltaqueessefilsofoconsiderava a adolescncia como um renascimento, perodo em que o indivduo recapitula os estgios anteriores da vida, procurando seu lugar na sociedade. Dessa forma, sua opinio era de que tanto a criana quanto o adolescente no eram iguais ao adulto.

    De acordo com Aris (1981), na Idade Moderna, criou-se um novo papel para o Estado, o qual passou a interferir, com maior frequncia, no espao social: formas de agir na famlia, comunidade, grupos religiosos e educacionais. O desenvolvimento da alfabetizao e a facilidade de leitura de livros distanciaram os indivduos de sua prpria comunidade. O estabelecimento de novas formas de religio ao longo dossculosXVIeXVIIexigiudosfiisumadevoomaisntima e pessoal. Esse movimento inspirou a necessidade de proteger as crianas e jovens das tentaes da vida, cuidando da moralidade. O colgio tornou-se, ento, uma instituio essencial da sociedade, local de instruo e educao. As

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    crianas e adolescentes passaram a ser educados em luga-res separados e fechados, sob a autoridade de especialistas adultos. As prticas escolares se destinavam faixa etria dos 10 aos 25 anos, no havendo a preocupao da separao da populao escolar em classes determinadas por faixas etrias.Asegundainfncia,dessaforma,nosedistinguiada adolescncia.A longa durao da infncia provinha,provavelmente, da indiferena que existia ao fenmeno propriamente biolgico - a puberdade.

    No se possua o conceito do que hoje chamamos ado-lescncia, embora os indivduos comeassem a se organizar em grupos de jovens, que funcionariam como sociedades temporrias, formadas no mbito das vilas e dos bairros.Essas novas formas de socializao eram destinadas exclu-sivamente ao pblico masculino.

    No sculo XIX, a sociedade se tornou uma vasta popula-o annima, onde as pessoas j no se conheciam. Esse um perodo marcado pelo fortalecimento dos Estados Nacionais, pelaredefiniodospapissociaisdemulheresecrianas,pelo avano acelerado da industrializao e da tcnica e pela organizao dos trabalhadores (ries, 1978).

    Um duplo movimento percorre as relaes entre pais efilhos.Deumlado,uminvestimentocrescentenofilho,identificadocomoofuturodafamliae,poroutro,avisodofilhocomoobjetodeamor.NoBrasil,observa-seacriaodeescolas para meninas, onde as jovens poderiam, por meio de uma educao intelectual, religiosa e moral, prepararem-se para serem mes dignas e capazes de ensinar seus prprios filhos(Sarat&Sarat,2007).

    A infncia passa a ser encarada como ummomentoprivilegiadodavida,eacriana identificadacomoumapessoa.Nessemomento,afiguradoadolescentedelineadacompreciso.Algunsmarcosindicamoincioeofimdessaetapa: esse perodo delimitado, no menino, como o que se estende entre a primeira comunho e o bacharelado, e na menina, da primeira comunho ao casamento (ries, 1978).

    Ao longo do sculo XIX, a adolescncia passa a ser reco-nhecidacomoummomentocrticodaexistnciahumana.temida como uma fase de riscos em potencial para o prprio indivduo e para a sociedade como um todo.

    Em linhas gerais, parece que a ideia do que hoje cha-mamos adolescncia, pressentida a partir do sculo XVIII (Grossman, 1998), est associada s novas maneiras de viver no grupo social onde o indivduo est inserido. Com a industrializao e a instituio de sistemas educacionais obrigatrios,elapode,finalmente,sermaisobservada.Pode-se, ento, dizer que a adolescncia foi conhecida primeiro pelos educadores.

    Na segunda metade do sculo XIX, foram organizados os primeiros servios de sade dedicados especialmente aos alunos de colgios, fundando-se, em 1884, a Associao de Mdicos Escolares (Silber, 1997). H o interesse m-dico voltado para os alunos dos internatos, provavelmente mobilizado pelasmodificaes decorrentes do processobiolgico de amadurecimento dos internos (a puberdade) e pelas manifestaes decorrentes de seu comportamento e das transformaes sexuais. As teorias de Freud comearam a ter mais vulto e a sexualidade, que at ento focava apenas a reproduo, comeou a ser vista como parte integrante do desenvolvimento do ser humano.

    Talvez por necessidades de adaptao escola, os psi-clogos tambm comearam a estudar a adolescncia. Entre eles estava Stanley Hall, que descreveu esse perodo como uma poca de emotividade e estresse aumentados. Legitimou a adolescncia como uma etapa que requer estudo e ateno, inaugurando,assim,oestudocientficodaadolescncia.ParaHall (1925) a adolescncia era basicamente biolgica. Para ele, a adolescncia era entendida como zona de turbulncia e contestao, constituindo-se em uma linha de fraturas e erupesvulcnicasnoseiodasfamlias.

    Aconstantevigilnciaaosadolescenteseodistanciamen-to com que eram tratados por suas famlias despertaram a necessidade de conquista de sua privacidade. Houve o cres-cimento de dirios ntimos e das amizades com seus pares. A escolha de uma amiga ntima constitua-se em episdio importante na vida de uma adolescente. Era, tambm, intensa a amizade entre os adolescentes do sexo masculino. Foi cria-do, em 1908, o Movimento Escoteiro (Baden-Powel, sd). No finaldosculoXIX,jhaviasidocriadaaAssociaoCristde Moos ACM. Tambm surgiram diversos movimentos de juventude, ligados ou no a associaes profissionaise confrarias, especialmente na Alemanha, aps a primeira Grande Guerra, marcados, segundo Haroche (2006), pela rejeio das estruturas adultas vigentes, motivados pelo clima de desencantamento com o status quo.

    O sculo XX foi um perodo em que as guerras marcaram o desenvolvimento da adolescncia. Nos perodos que prece-deram a I e a II Guerra Mundial, a literatura enfatizava a in-dolncia, indisciplina e preguia dos adolescentes; enquanto que durante as guerras e nos anos seguintes, os pesquisadores demonstravamaimportnciadotrabalhodosadolescentespara manter a sociedade tal qual eles conheciam (Steinberg & Lerner, 2004). Amazonas e Braga (2007) relatam que as modificaesocorridasnointeriordasfamlias trouxeramnovas posies para seus membros, inclusive o adolescente, poisnoeramaisogneroquedefiniaospapis.Entretanto,Fvero e Abro (2006) observam que a mdia parece manter os papis masculinos e femininos, privilegiando o status masculino, em programas dirigidos a adolescentes.

    Durante a segunda e a terceira dcadas do sculo XX foram iniciados diversos estudos do ciclo vital, especialmente nos Estados Unidos e Gr-Bretanha, a partir de programas que acompanhavam as crianas at a vida adulta (Papalia, Olds & Feldman, 2006). Dessa forma, nas dcadas de 40 e 50, comearam a aparecer os resultados de estudos longitudinais, envolvendo grupos diversos de pessoas. Entre eles, podemos citar os estudos da equipe de Havighurst (1957). Suas ideias mostramastarefasevolutivascomoliesqueoserhuma-no deve aprender dentro de um perodo relativamente restrito, para que se desenvolva de modo satisfatrio e possa ingressar vitoriosona prxima etapado ciclo evolutivo. Emcadafase do desenvolvimento humano, portanto, o indivduo tem que adquirir algum tipo de habilidade e fazer alguma sorte deajustamentosdemandasdavida(Rosa,1988,p.131).

    Havighurst (1957) props algumas tarefas evolutivas para o perodo da adolescncia: aceitar o prprio corpo; estabe-lecer relaes sociais mais maduras com os pares de ambos os sexos; desenvolver o papel social de gnero; alcanar a independncia dos pais e de outros adultos, com relao aos aspectos emocional, pessoal e econmico; escolher uma

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    Adolescncia

    ocupao e preparar-se para a mesma; preparar-se para o matrimnio e a vida em famlia; desenvolver a cidadania e comportamentos sociais responsveis; alm de conquistar umaidentidadepessoal,umaescaladevaloreseumafilosofiade vida que guiem o comportamento do indivduo.

    As tarefas acima citadas aparecem de distintas formas em diversos autores que estudam adolescncia (Adams, 1998; Alencar, Silva, Silva & Diniz, 2008; Fvero & Abrao, 2006; Hargreaves & cols., 2001; Lidz, 1983; Vargas & Nelson, 2001). comum a discusso sobre se so tarefas relacionadas faixa etria, independentes da cultura, ou se esto restritas sociedade ocidental, em especial a norte-americana e se ainda valem para hoje em dia.

    A questo sobre a universalidade ou no da adolescncia um tema importante e alguns historiadores interessados nesse problema defendem que a adolescncia uma construo social. Os estudos da Antropologia Social revolucionaram essa forma de pensar a adolescncia, mostrando uma possi-bilidade de entender as fases do desenvolvimento humano de forma totalmente nova, ressaltando duas importantes questes: a adolescncia no precisa ser, necessariamente, um perodo turbulento; e as caractersticas do desenvolvimento psicossocial no so universais. Em Samoa, sociedade estu-dada por Margaret Mead (Grossman, 1998; Santrock, 2003; Sprinthall & Collins, 1999), por exemplo, o desenvolvimento era gradual, calmo e sem impactos profundos. A organizao social, a insero no mundo adulto e as atividades realizadas pelos indivduos favoreciam uma adolescncia relativamente livre de estresse.

    Os desenvolvimentistas modernos, especialmente aqueles que estudam a adolescncia, tentam explicar como os fatores biolgicos, sociais, cognitivos, comportamentais e culturais esto interligados no desenvolvimento, inclusive na transio dainfnciaparaavidaadulta.Eriksonobservouaintegraoentre esses fatores a partir de seus estudos sobre os proble-mas desenvolvidos pelos jovens militares que apresentavam dificuldadesdeseadaptarvidaque levavamantesdaIIGuerra Mundial, quando seus planos foram interrompidos para servir ptria (Adams, 1998).

    Nos Estados Unidos, durante a dcada de 50 do sculo passado, apareceu o fenmeno denominado juventudetransviadaourebeldesemcausa(Grossman,1998).Jcomeava a se delinear, de modo bastante claro, uma cons-cincia etria - a oposio jovem / no-jovem. Marty (2006) afirmaque a adolescncia est amalgamadanaviolncia,entretanto esta no exclusiva dos jovens, embora, para essa autora, um determinado nvel de violncia seja prprio dessa fase do desenvolvimento. Considera a adolescncia como um processo de arrombamento pubertrio, tal como os bombardeios areos durante as guerras. Aberastury e cols. (1980)identificaramaSndromedaAdolescnciaNormal,onde diversos comportamentos considerados patolgicos em outros estgios do ciclo vital so considerados esperados e normais no perodo da adolescncia.

    Os anos 60 inauguram um novo estilo de mobilizao e contestao social, os quais contriburam para a percepo da adolescncia como uma subcultura (Garrod & cols., 1995). Os jovens passaram a negar todas as manifestaes visveis dessa sociedade. Esse movimento transformaria a juventude em um grupo, com um novo foco de contestao. Surgiu

    um termo novo: contracultura. Inicialmente, o fenmeno seria caracterizado por seus sinais mais evidentes: cabelos compridos, roupas coloridas, misticismo, um tipo de msica edrogas,significandoumanovamaneiradepensar,modosdiferentes de se relacionar com o mundo e com as pessoas. Deumlado,surgiaomovimentohippiecomsuafilosofia;por outro lado, a introduo da poltica nos movimentos es-tudantis universitrios (Grossman, 1998). Brun (2007) relata que muitos pais se ressentem de certas amizades de seus filhos,quando,influenciadospelogrupodepares,cometemtransgresses sociais ou sexuais. Entretanto, no eram todos os jovens que estavam em um ou outro movimento. Para Mussen, Conger e Kagan (1977) trata-se de uma tendncia de assumir que os adolescentes sejam todos iguais uma supersimplificaoquenorecebeapoiodeestudossrios.Estudos atuais enfocam essa fase do desenvolvimento, obser-vandodiversasvariveisquepodeminfluenciaroindivduo,como raa, sexo, nvel socioeconmico, histria pessoal, contexto, cultura, entre tantas.

    Erikson (1972), utilizando as propostas da psicanlise e os achados da Antropologia Cultural, props a Teoria Psi-cossocial, na qual sugere que o ambiente tambm participa na construo da personalidade do indivduo. Sifuentes, Dessen e Oliveira (2007) entendem que as etapas do ciclo vital, e, portanto, a adolescncia, so observaes de fatos sociais e psicolgicos, cujas caractersticas dependem do contexto em que esto inseridas. Essa mudana, na viso do desenvolvimento,degrandeimportncia,abrindonovasfronteiras para o entendimento do desenvolvimento e, mais especificamente,daadolescncia.

    Naviradaparaosc.XXI,apareceuaexpressoondajovem para denominar o grande nmero de indivduosque esto nessa faixa etria, devido a exploso da taxa de natalidade que ocorreu no incio da dcada de 80 do sculo anterior. Esses jovens se depararam com um cenrio eco-nmicoadverso,dificuldadesparaarrumaresemanternoemprego, incremento dos problemas sociais, especialmente osurbanos(Brasil,1999;Matheus,2003),modificaesnosvaloressociais,faltadeperspectivas,diminuiodainflun-cia e controle tradicionalmente exercida pela famlia, igreja e comunidade (Vargas & Nelson, 2001). Ao mesmo tempo, a criana e o adolescente passam a ser considerados sujeitos dedireitoeemfaseespecialdedesenvolvimento,afirmandoa ideia de proteo integral do estado (Espindula & Santos, 2004). medida que os governos tomam conscincia da im-portnciadeseprotegerodesenvolvimentodoserhumano,aadolescnciatorna-seumperodomaisidentificvelnociclovital (Sprinthall & Collins, 1999).

    Com esse histrico da posio dos adolescentes e da adolescncia na sociedade, atravs dos sculos, pode-se considerar esse estgio uma inveno cultural (Rappaport, 1982) ou um luxo (Serra, 1997), que s sociedades ou gru-pos sociais mais desenvolvidos se permitem. A concepo da adolescncia parece estar relacionada democratizao da educao e ao surgimento de leis trabalhistas (Gallantin, 1978). Segundo Bucher-Maluschke (2007), a lei perce-bida como protegendo apenas os mais ricos e no alcana as camadas menos favorecidas economicamente, onde os relacionamentossopermeadospelaforabrutaoupelaleidomaisforte.Percebe-seumaintromissomaiordoservio

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    pblico junto aos adolecentes, especialmente a polcia e o Poder Judicirio. Amazonas e Braga (2007) colocam que esse fenmeno comeou a ocorrer no Brasil a partir de 1900, dependendodaregiogeogrficaedascamadassociais.Ain-da encontramos grupos sociais que compreendem a criana/adolescente como um ser menos importante, que ainda no adquiriu o status de pessoa (Morais, Cerqueira-Santos, Mou-ra, Vaz & Koller, 2007).

    Asculturasmais sofisticadas tecnicamente retardamoingresso do jovem nas estruturas sociais, sendo cada vez maior a exigncia de estudos e especializao para ingressar no mercado de trabalho. Consequentemente, o indivduo pre-cisa de mais tempo para cumprir as tarefas da adolescncia, e esse perodo se estende. Embora, atualmente, a idade mdia de casamento da mulher brasileira seja 24,1 anos, quase um terodasjovensjtevepelomenosumfilho(Brasil,1999).Gallantin (1978), Rappaport (1982), Grossman (1998) e Santrock (2003), entre outros, destacam o fato evidenciado poralgunsfilsofosdequeaadolescnciacomeanabiologiae termina na cultura (Mussen & cols., 1995), tanto assim que nas sociedades mais simples essa fase pode ser breve (Traverso-Yepez & Pinheiro, 2002). Os psiclogos evolu-cionistas partem do princpio de que o ser humano uma espcieanimalcommaiornveldesofisticaoequeseusalgoritmos mentais foram desenvolvidos na poca em que ramos caadores/coletores e podem no estar bem adaptados sociedadecontempornea.necessriaumareorganizaocomportamental decorrente da luta interna entre os genes, crebro, educao recebida, histria individual no seu grupo social e estmulos (Lopes & Vasconcelos, 2008).

    A Organizao Mundial da Sade (1965) utiliza o termo juventude para evocar a faixa etria entre 15 e 24 anos, em funo do prolongamento da fase na qual no so assumidas as responsabilidades ditas adultas. Postergou-se o matrimnio, ampliou-se a necessidade de permanecer no lar paterno (emancipao tardia), aumentou-se o nmero de nascimentos fora do matrimnio fatores que levam o indivduo a conviver com mais pessoas de diferentes idades e ambientes, sem laos consanguneos com a maioria delas, com diferentes escalas de valores, ideias e crenas (Vargas &Nelson,2001),epormaistempo.Asmodificaesintro-duzidas na vida moderna exigem que os indivduos tenham mais tempo para cumprir as tarefas evolutivas propostas para a referida faixa etria.

    Aescola tambmmodificou seu papel em relao aoadolescente: at tempos atrs, esperava-se que ele fosse preparadoparaassumirumaprofisso,portanto,oscursoscostumavam ter uma vertente profissionalizante bastanteacentuada. Atualmente, a educao bsica busca somente fornecer subsdios para o desenvolvimento pleno do ser humano,semapreocupaodaprofissionalizao.

    Sifuentes e cols. (2007) concordam que as mudanas e continuidades que o adolescente vivencia no seu processo de desenvolvimentotemrelaocomessafaseespecfica(mu-danasfsicasecognitivas)etambmcomsmodificaesque ocorrem na sociedade em que participa.

    Da mesma forma que observamos mudanas no entendi-mento do que adolescncia, tambm observamos mudanas em como os tericos abordam essa etapa. Hoje observamos uma perspectiva de estudar todo o ciclo vital, considerando,

    ento, a adolescncia como mais uma etapa, com caracte-rsticas prprias que atuaro na construo das trajetrias de vida de cada indivduo, dentro de um contexto sciocultural (Sifuentes & cols., 2007).

    Steinberg e Lerner (2004) observaram trs perspectivas: a primeira, compreendida entre as dcadas de 50 a 80 do s-culo passado, enfatizava os estudos descritivos de padres de comportamento, ajustamento pessoal e relacionamento, alm de estudos sobre as possveis trajetrias que os indivduos podem seguir ao longo do desenvolvimento. A segunda pers-pectiva, da dcada de 80 aos dias de hoje, enfatiza a aplicao dos conhecimentos cientficos na resoluodeproblemasreais. A terceira perspectiva est interessada em promover o desenvolvimento positivo do indivduo, especialmente ao se conscientizar que os adolescentes representam o futuro da humanidade. Os cientistas esto engajados em transformar esse coorte em adultos capazes e comprometidos consigo, suas famlias, comunidades e sociedade em geral.

    Esperamos ter mostrado como o entendimento da adoles-cncia - as exigncias e comportamentos - composto pelas variveis presentes nas culturas em distintas pocas, as quais, para responder a novas demandas, materializavam seus ideais em instituies e comportamentos que buscavam facilitar a assuno dos direitos e deveres do adulto.

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    Recebido em 10.09.2007Primeira deciso editorial em 19.03.2010

    Verso final em 13.05.2010Aceito em 13.05.2010 n