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163 * Norberto Tiago Gonçalves Ferraz é licenciado em Sociologia – Políticas Sociais; mestre em Sociologia da Família e Solidariedades Sociais, doutorando em História Moderna na Universidade do Minho e bolseiro da FCT. Membro do CITCEM. 1 As confrarias eram associações de fiéis. Apareceram em Portugal por volta do século XII e já então se dedicavam a acompanhar os seus membros à sepultura. Consulte-se PENTEADO, 2000: 459-461. 2 O fenómeno dos acompanhamentos dos defuntos pelas confrarias estava presente em várias cidades do país. Em Lisboa, por exemplo, era rotineira a passagem da tumba da misericórdia ou das confrarias da cidade acompanhando os mortos. Em Setúbal as confrarias também acompanhavam os defuntos. Sobre estas duas cidades leia-se ABREU, 1991: 4; ARAÚJO, 1989: 134. ACOMPANHAR AO OUTRO MUNDO: A MORTE NAS CONFRARIAS DE BRAGA NO SÉCULO XVIII. ESTUDO PRELIMINAR Tiago Ferraz* Resumo: Este artigo pretende estudar o modo como as confrarias bracarenses do século XVIII acompanhavam os confrades no momento do transporte do seu cadáver até ao local de enterramento. Tem como base de apoio a análise dos arquivos das igrejas de Santa Cruz, São Vicente, Sé e Senhora a Branca da cidade de Braga. Nele se estudam as diferenças existentes entre as confrarias mais poderosas e as mais pequenas na mobilização dos seus membros para acompanharem os cadáveres dos confrades defuntos. Ao mesmo tempo, efectua-se também uma análise dos acompanhamentos pagos feitos por estas instituições aos não confrades. Palavras-chave: Acompanhamento fúnebre; Confraria; Morte; Braga. Abstract: This article wants to study the way how the confraternities of Braga, in the XVIII century made company to their fellow members in the moment of the transport of their corpse to the place of burial. It bases on the archives of the churches of Santa Cruz, São Vicente, Sé and Senhora a Branca, of the city of Braga. On the article are studied the differences that existed between the more powerful confraternities and the more smaller ones on the mobilization of it’s members to make company of the corpses of their brethrens. In the same time it is also made one analyse of the paid accompaniments made by these institutions to the non- members. Keywords: Mournful accompaniment; Confraternity; Death; Braga. Introdução A vivência da morte no século XVIII em Braga estava marcada por ritos e etapas que visavam assegurar ao defunto uma viagem digna para o outro mundo. Os resultados que apresentamos inserem-se numa investigação mais alargada que temos em curso no âmbito da nossa tese de doutoramento. Dos ecos desses rituais, realçam-se os serviços prestados pelas confrarias da cidade aos seus membros na hora da sua passagem desta vida para o além 1 . Esta viagem derradeira conhecia alguns momentos e cerimoniais que as irmandades disponibilizavam. Os acompanhamentos constituíam um dos serviços prestados. Os confra- des asseguravam assistência aos seus irmãos defuntos acompanhando o seu corpo desde o local onde se encontrava depositado, até ao lugar da sepultura 2 . A viagem do corpo do falecido como que simbolizava o caminho que a sua alma fazia entre este e o outro mundo. A morte no século XVIII continuava a ser omnipresente na vida das pessoas. A fome, as epidemias e as guerras eram flagelos que podiam ameaçar o homem setecentista.

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* Norberto Tiago Gonçalves Ferraz é licenciado em Sociologia – Políticas Sociais; mestre em Sociologia da Família eSolidariedades Sociais, doutorando em História Moderna na Universidade do Minho e bolseiro da FCT. Membro do CITCEM. 1 As confrarias eram associações de fiéis. Apareceram em Portugal por volta do século XII e já então se dedicavam aacompanhar os seus membros à sepultura. Consulte-se PENTEADO, 2000: 459-461.2 O fenómeno dos acompanhamentos dos defuntos pelas confrarias estava presente em várias cidades do país. Em Lisboa,por exemplo, era rotineira a passagem da tumba da misericórdia ou das confrarias da cidade acompanhando os mortos.Em Setúbal as confrarias também acompanhavam os defuntos. Sobre estas duas cidades leia-se ABREU, 1991: 4; ARAÚJO,1989: 134.

ACOMPANHAR AO OUTROMUNDO: A MORTE NAS CONFRARIAS DE BRAGA NO SÉCULO XVIII. ESTUDO PRELIMINARTiago Ferraz*

Resumo: Este artigo pretende estudar o modo como as confrarias bracarenses do século XVIII acompanhavamos confrades no momento do transporte do seu cadáver até ao local de enterramento. Tem como base de apoioa análise dos arquivos das igrejas de Santa Cruz, São Vicente, Sé e Senhora a Branca da cidade de Braga. Nele seestudam as diferenças existentes entre as confrarias mais poderosas e as mais pequenas na mobilização dos seusmembros para acompanharem os cadáveres dos confrades defuntos. Ao mesmo tempo, efectua-se tambémuma análise dos acompanhamentos pagos feitos por estas instituições aos não confrades.Palavras-chave: Acompanhamento fúnebre; Confraria; Morte; Braga.

Abstract: This article wants to study the way how the confraternities of Braga, in the XVIII century madecompany to their fellow members in the moment of the transport of their corpse to the place of burial. It baseson the archives of the churches of Santa Cruz, São Vicente, Sé and Senhora a Branca, of the city of Braga. Onthe article are studied the differences that existed between the more powerful confraternities and the moresmaller ones on the mobilization of it’s members to make company of the corpses of their brethrens. In thesame time it is also made one analyse of the paid accompaniments made by these institutions to the non-members.Keywords: Mournful accompaniment; Confraternity; Death; Braga.

IntroduçãoA vivência da morte no século XVIII em Braga estava marcada por ritos e etapas quevisavam assegurar ao defunto uma viagem digna para o outro mundo. Os resultados queapresentamos inserem-se numa investigação mais alargada que temos em curso no âmbitoda nossa tese de doutoramento. Dos ecos desses rituais, realçam-se os serviços prestadospelas confrarias da cidade aos seus membros na hora da sua passagem desta vida para oalém1. Esta viagem derradeira conhecia alguns momentos e cerimoniais que as irmandadesdisponibilizavam. Os acompanhamentos constituíam um dos serviços prestados. Os confra-des asseguravam assistência aos seus irmãos defuntos acompanhando o seu corpo desde olocal onde se encontrava depositado, até ao lugar da sepultura2. A viagem do corpo dofalecido como que simbolizava o caminho que a sua alma fazia entre este e o outro mundo.

A morte no século XVIII continuava a ser omnipresente na vida das pessoas. Afome, as epidemias e as guerras eram flagelos que podiam ameaçar o homem setecentista.

Apesar de se saber certa, nunca se sabia quando poderia acontecer. A este temor presentena vida terrena, em que o homem nada podia fazer contra a morte, juntava-se o receiopela salvação da alma. A igreja católica, que moldava fortemente o pensamento espiritual,pregava uma teologia do medo, ameaçando de condenação eterna as almas das pessoasque não cuidassem da sua salvação. Tornava-se, por isso, importante começar desde cedoa preparar essa última viagem, para que nesse momento existisse o maior número depessoas a pedir a Deus pela salvação da alma do defunto3. O cortejo fúnebre era destemodo um momento propício de ajuntamento de várias pessoas congregadas num mesmoobjectivo: acompanhar o cadáver e pedir a Deus pela alma do defunto, participando nesteserviço pio.

Mas devemos falar em um único modelo de «cortejo fúnebre» no seio do mundoconfraternal? A análise das fontes permite-nos perceber o modo como as irmandadesacompanhavam os seus confrades à última morada e compreender as diferençasexistentes entre elas. O acompanhamento feito parecia depender sobretudo da forçasocial e da representação local de cada uma destas instituições. As irmandades maispoderosas4, com grande número de irmãos e força económica, prestavam umacompanhamento solene, com grande pompa, envolvendo neste cerimonial todos os seusmembros e actuando como um corpo comunitário e social de piedade5.

Já as confrarias mais pequenas6, prestavam um acompanhamento fúnebre bem maissimples, discreto e reduzido, aos seus confrades, mobilizando apenas um pequeno númerode irmãos. Existindo posturas tão diferenciadas, parece-nos pertinente, apresentar umquadro explicativo sobre estas duas modalidades de acompanhar o corpo à sepultura7.

Os acompanhamentos fúnebres dos irmãosComeçamos pelos acompanhamentos prestados pelas confrarias mais pequenas e menospoderosas, com menor peso no meio social e religioso bracarense setecentista, pois afiguram--se de mais fácil e rápida compreensão. Aliás, uma análise mais atenta aos seus regula-

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3 Sobre a presença constante da morte leia-se DELUMAU, 1978: 45, 132, 188-213, 217, 287; VOVELLE, 1974: 57-65.4 As instituições mais ricas na Braga setecentista eram as irmandades de São Vicente da igreja de São Vicente, a irmandadede Santa Cruz, da igreja do mesmo nome, a irmandade do Bom Jesus dos Santos Passos sedeada na igreja do Pópulo noinício do século XVIII e transferida depois em 1724 para a capela de Santa Ana, entretanto demolida. Neste grupo integram-se também as irmandades de São Crispim e São Crispiniano e a do Santo Homem Bom, sedeadas na igreja da Sé de Bragae a irmandade de Nossa Senhora do Ó, situada na igreja do hospital de São Marcos.5 As pessoas de várias camadas sociais inscreviam-se nas confrarias precisamente também para obterem o maior númeropossível de intercessores pela sua alma neste mundo. Veja-se ABREU, 1991: 3-4.6 Neste caso, trata-se das confrarias de Nossa Senhora do Bom Despacho da capela de São Sebastião das Carvalhas, aconfraria das Santíssimas Chagas da igreja da Cividade, a confraria do Santo Nome do Menino Deus da capela de SãoGonçalo, as confrarias de Santo Amaro e a de Nossa Senhora da Boa Memória da Sé e a confraria de São Bento do conventodo Salvador.7 Não estando dentro do âmbito da nossa investigação, merece contudo uma referência especial, no que diz respeito àmorte e aos acompanhamentos dos defuntos, a Misericórdia de Braga. Toda a irmandade saía a acompanhar os seusconfrades falecidos. Além disso a Misericórdia de Braga possuía uma segunda tumba para levar os pobres à sepultura. Adefinição de competências no uso das tumbas e nos acompanhamentos dos defuntos parece ter motivado relações tensascom as confrarias da cidade de Braga que foram adquirindo também os seus esquifes. Sobre estas questões leia-seCASTRO, 2006: 571, 577.

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mentos permite-nos verificar que o termo «acompanhamento» é algo relativo. Senão,vejamos o que sucedia. Falecendo um confrade, a família mandava recado a avisar osdirigentes da Mesa da confraria sobre a morte de um dos seus membros. A primeiradiligência que estes faziam era verificar se o falecido para o qual se reclamava a presençada confraria era de facto confrade, para que não houvesse nenhum engano ou até apossibilidade de se acompanhar um elemento que porventura tivesse sido expulso, semter voltado a reingressar na instituição8.

Feita esta confirmação, e sabendo-se a hora em que o defunto ia ser conduzido desua casa, ou do lugar onde o seu corpo estava depositado, até ao local de sepultura, oprocurador e dois mordomos da confraria eram convocados para se dirigirem à capela ouigreja onde estava sedeada a sua irmandade, de modo a prepararem condignamente ocerimonial. Destes três elementos, o procurador era geralmente quem primeiro tomavaconhecimento do sucedido, cabendo-lhe depois avisar aos dois mordomos da Mesa paraque comparecessem na sede, a fim de efectuar os preparativos necessários9.

O procurador tomava, então, o guião, ou seja, a cruz com a insígnia da irmandade,e envergava uma opa, ou beca, específica da mesma. Os dois mordomos que o acompa-nhavam usavam também as mesmas vestes. Cada um levava uma tocha acesa na mão.Assim preparados, os três dirigiam-se até ao local de depósito do defunto, seguindo àfrente o procurador com o guião erguido e, ligeiramente atrás, os dois mordomos um decada lado com a sua tocha10. Esta disposição conferia um enquadramento disciplinador àcerimónia, demonstrando o poder organizador da instituição.

Ao contrário do que sucedia nas grandes irmandades, como veremos mais à frente,os fundos documentais destes corpos confraternais mais pequenos não forneceminformações sobre o procedimento destes três mesários quando chegavam ao local ondese encontrava o defunto.

As fontes documentais são omissas relativamente às pessoas que levavam o esquife11.Todavia, a confraria das Chagas da igreja da Cividade tornou claro nos seus estatutos quese o irmão falecido quisesse ser sepultado na sua tumba seriam chamados pelo provedoros confrades necessários para a transportarem e levarem também quatro tochas. Se nãofosse essa a vontade do defunto e ele quisesse ser levado em outra tumba, então esses

Acompanhar ao outro mundo: a morte nas confrarias d e B r a g a n o s é c u l o X V I I I . E s t u d o p r e l i m i n a r

8 Arquivo da Igreja da Senhora a Branca (doravante AISB) – Fundo da confraria de Nossa Senhora do Bom Despacho, Estatutosda Confraria de Nossa Senhora do Bom Despacho 1758, fls. 15v.-16; Arquivo da Igreja de Santa Cruz (doravante AISC) –Fundo da confraria das Chagas, Livro de Estatutos da Irmandade das Chagas 1740, não paginado; Arquivo da Sé de Braga(doravante ASB) – Fundo da confraria de Santo Amaro – Estatutos da Confraria de Santo Amaro da Sé 1742, fl. 12.9 ASB – Fundo da confraria de Nossa Senhora da boa Memória, Estatutos da confraria de Nossa Senhora da Boa Memória1793, fl. 8v.10 Este modo de acompanhar à sepultura, apenas com a cruz e duas tochas observava-se em outras confrarias fora deBraga. Consulte-se a esse respeito, ARAÚJO, 2001: 94. AISB – Fundo da confraria de Nossa Senhora do Bom Despacho,Estatutos da confraria de Nossa Senhora do Bom Despacho 1758, fls. 15v.-17; ASB – Fundo da confraria de Nossa Senhorada Boa Memória, Estatutos da confraria de Nossa Senhora da Boa Memória 1793, fl. 8v.; ASB – Fundo da confraria deSanto Amaro, Estatutos da confraria de Santo Amaro da Sé, 1743, fl. 20v.; Estatutos da confraria de Santo Amaro da Sé1781, fls. 21v.-22, 26v.11 Os enterramentos faziam-se sobretudo em esquife ou tumba, embora o cadáver estivesse à vista de todos. Não se tinhaainda generalizado o uso do caixão. Sobre os enterramentos em esquife leia-se, ARAÚJO, 1997: 233.

confrades estavam dispensados de serem chamados para o acompanharem, indo apenasa cruz e dois mordomos com as tochas. Nos estatutos de 1740 e 1761 ficou definido queo número de irmãos necessários para pegar nas tochas, levar a cruz e o esquife era de 13,que era o número dos mesários, os quais eram, assim, chamados a fazer este serviço. Aodeterminar este número e quem o devia preencher, a confraria clarificava a sua actuaçãoneste cerimonial e responsabilizava directamente os seus dirigentes na sua execução. Étambém possível que até 1740 os confrades chamados para este serviço fossem emnúmero inferior a 13 e, deste modo12, a confraria desejasse afirmar de modo mais signifi-cativo a sua presença neste ritual.

Feita esta ressalva, no que diz respeito à confraria das Chagas, e apesar de nestemomento não podermos afirmar com segurança, parece-nos haver um denominadorcomum nas irmandades mais pequenas: a ausência da posse de uma tumba ou esquifenestas instituições. Esta ausência, pode ser a principal razão para o facto de nestas con-frarias não haver menção ao seu transporte. Perante a inexistência, caberia ao falecido, ouaos seus herdeiros, providenciar uma forma de o corpo ser levado à sepultura, caso nãopertencesse a outra instituição que tivesse este móvel13. Em apoio a esta hipótese existeuma referência nos estatutos da confraria do Santo Nome de Deus da capela de SãoGonçalo de 1723, onde se menciona a possibilidade da irmandade poder vir a ter nofuturo um esquife «para maior aumento do serviço de Deus», deduzindo-se claramenteque naquele momento ainda não o possuíam14. Esta vontade que os estatutos expressamdeve ser lida na perspectiva que os da instituição poder concorrer com outras confrariasneste cerimonial, não só com a intenção de poderem captar novos confrades e legados,como também de obterem rendimentos através dos acompanhamentos pagos.

Chegados ao local do enterro, os acompanhantes permaneciam nas cerimóniasfúnebres até o corpo ser devolvido à terra. Na confraria de São Bento da igreja do con-vento do Salvador de Braga estes tinham ainda de encomendar a alma do defunto a Deus,durante o seu trajecto de regresso à sua igreja15. Ou seja, os três irmãos que participavamnos acompanhamentos desta confraria, vinham a rezar no caminho entre o local dasepultura e a sua igreja, onde se recolhiam. Como se constata, nestas confrarias só umpequeno número de confrades estava envolvido. Os três confrades da Mesa representa-vam todos os irmãos enquanto comunidade.

Diferente era a situação nas irmandades mais poderosas e influentes que tinham

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12 Nestes dois regulamentos ficou também estipulado que o juiz e o secretário deviam seguir atrás da tumba enquantoesta era transportada. Este cerimonial destinava-se aos irmãos, mas também a quem pagava o acompanhamento nãosendo irmão. Para estes factos analise-se, AISC – Fundo da confraria das Chagas, Livro de Estatutos da Confraria dasChagas 1719, fls. 194-194v.; Livro de Estatutos da Irmandade das Chagas 1740, não paginado; Livro de estatutos dairmandade das Chagas 1761, fl. 19.13 A menos que o mesmo fosse membro de outra irmandade mais poderosa que tivesse esquife em que o corpo fosselevado e ambas as irmandades seguissem em conjunto no cortejo fúnebre. Havia quem fosse membro de váriasirmandades. Nestes casos todas seguiam no cortejo. Veja-se ARAÚJO, 2001: 80.14 AISC – Fundo da confraria do Santo Nome de Deus da capela de São Gonçalo, Livro de estatutos da confraria do SantoNome de Deus da capela de São Gonçalo 1723, fl. 15.15 ASB – Fundo da confraria de São Bento do convento do Salvador, Estatutos da confraria de São Bento do Convento doSalvador de Braga 1792, fl. 14v.

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tumba própria, ainda que em alguns aspectos procedessem de forma semelhante. Talcomo sucedia nas outras confrarias, os mesários confirmavam a pertença do falecido àinstituição, sendo posteriormente, e em caso positivo, enviados de imediato para o localonde estava o defunto uma caldeira de água benta, quatro tochas, almofadas e o esquifepara o corpo ser colocado16. Só depois destes procedimentos se convocava toda airmandade para que se juntasse na igreja ou capela, sua sede. Nestas instituições exigia-sea presença de todos os seus membros para solenizar e dignificar o acto de acompanha-mento do confrade defunto à sua última morada.

A presença de todos os confrades era importante por vários motivos. Primeiro,criava laços entre os confrades que se sentiam como um único corpo em que todosprestavam apoio espiritual no momento da morte. Depois, a presença de todos os irmãosaumentava a pompa que a instituição ostentava: a irmandade, pelo aparato de todos osseus confrades acompanhando o corpo do defunto pela cidade, impunha o seu fascíniovisual. Ela apresentava-se aos olhos dos indivíduos como intercessora solene nomomento da morte. Esta força que a instituição mostrava no cuidado dos seus mortostornava-se numa forma de captar novos irmãos. Por outro lado, a presença de todostransmitia uma imagem de segurança a qualquer pessoa que desejasse estabelecer umlegado, pois demonstrava confiança na instituição para lhe dar cumprimento, à seme-lhança da cerimónia que preparava para os seus defuntos.

Como era feita esta chamada dos irmãos? Geralmente era dada ordem a um servoda irmandade para desempenhar essa tarefa. Sabendo-se previamente pelos dosfamiliares a hora em que teria lugar o enterro, o servo da instituição era chamado por ummesário para pegar numa campainha e ir pelas ruas da cidade tocando-a, publicitando oacto. Com o sinal, o servo chamava todos os irmãos da confraria que se encontrassem nacidade, para que o mais brevemente possível se reunissem na igreja, com o objectivo dese preparem para o acompanhamento. Os irmãos deviam, por isso, estar sempre atentospara não perderem o sinal da campainha que o servo fazia enquanto percorria as ruas dacidade, de modo a não faltarem com a sua presença neste acto17.

Após reunidos, era necessário organizarem-se para que o acompanhamento decor-resse com toda a compostura e solenidade requeridas. Nesse sentido, os mordomos daconfraria iam organizando e dispondo os irmãos, fazendo com que todos vestissemtambém as opas da irmandade e cada um pegasse numa vela, ou tocha que lhes eramfornecidas18. Na frente do cortejo, tal como sucedia nas irmandades mais pequenas, ia o

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16 Estes objectos fúnebres da irmandade do Bom Jesus dos Santos Passos tinham de ser pedidos pelos familiares dodefunto para serem levados para onde este estivesse depositado. Na confraria da Senhora do Ó, situada na igreja dohospital de São Marcos, o esquife só era levado a casa do defunto no momento em que a confraria saía para oacompanhamento. AISB – Fundo da confraria de Nossa Senhora do Ó, Estatutos reformados da confraria de NossaSenhora do Ó 1701, fls. 9v., 14v.-15; AISC – Fundo da irmandade do Bom Jesus dos Santos Passos, Livro de Estatutos daIrmandade do Bom Jesus dos Santos Passos 1747, fl. 95v.; Arquivo da Igreja de São Vicente (doravante AISV) – Fundo dairmandade de São Vicente , Livro de estatutos reformados de São Vicente 1768, fl. 27v.17 AISC- Fundo da irmandade do Bom Jesus dos Santos Passos, Livro de estatutos da Irmandade do Bom Jesus dos SantosPassos 1747, fl. 103v.; AISV – Fundo da irmandade de São Vicente, Livro de estatutos reformados de São Vicente, 1723, fl. 29.18 Como refere Ana Cristina Araújo, o facto de todos os irmãos levarem opas, introduzia como que uma ideia de nivelaçãode todos eles perante Deus. Leia-se ARAÚJO, 2001-2002: 291.

guião ou cruz transportada pelo procurador da confraria19, ladeado por dois mesárioscom duas tochas acesas, uma de cada lado. Seguiam-se, após eles, os confrades em duasalas, uma de cada lado da rua, formando assim duas filas paralelas. Os mordomosestavam atentos para que os irmãos se mantivessem perfeitamente alinhados uns atrásdos outros nestas alas, que seguiam atrás do guião.

Compostos os irmãos em duas alas atrás do guião, o cortejo avançava até ao localonde o falecido era velado. No meio seguiam os mordomos da confraria, cada um com asua vara na mão, os quais iam supervisionando os confrades para que o cortejo seguissecom solenidade, correcção e dignidade. No fim do cortejo, vinha o juiz da irmandade20.Este era geralmente acompanhado pelo secretário e pelo capelão da instituição. Tal comoos mordomos, também o secretário e o juiz deviam levar as varas da irmandade. Já ocapelão devia envergar a sua sobrepeliz e transportar uma tocha na mão. O cortejopercorria a cidade, chamando a atenção dos seus residentes21. Chegados ao local ondeestava o defunto, os irmãos detinham-se à sua porta, na rua, pois não era praticável quetodos entrassem. O juiz, os mesários, o capelão e alguns irmãos que iam transportar oesquife com o cadáver, entravam na divisão onde o defunto se encontrava. Em seguida,cada um deles lançava água benta sobre o cadáver do irmão falecido e o capelão mor dairmandade rezava um responso fúnebre pela sua alma22.

Entretanto, cá fora, à porta do defunto, os confrades iam acendendo as suas velas oucírios, por vezes, com a ajuda de um servo da irmandade23. Dava-se, assim, maior força aocerimonial, como que fazendo votos para que o falecido encontrasse a «luz» que o guiariapelo caminho ao outro mundo. O esquife saia, então, de casa24, levando o cadáver. Osirmãos organizavam-se novamente para se porem em marcha, levando o defunto à suaúltima morada. Quando faziam testamentos, era nesse documento que as pessoasexpressavam o local onde queriam a sepultura. De novo, a cruz, levada pelo procurador,abria o cortejo com as duas tochas lado a lado, seguindo-se as duas alas de irmãos em fila,cada um com a sua vela acesa. Os mordomos redobravam atenções, para que os irmãostivessem a maior cautela, de modo a não quebrar as velas, as quais deviam ser transpor-tadas viradas para a parte exterior do cortejo25.

Os irmãos que transportavam o esquife, seguiam no fim do cortejo fúnebre, atrás doqual caminhavam o juiz, o capelão-mor e o secretário. Sabemos também que, na irman-

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19 Na irmandade de Santa Cruz era o vedor de fazenda que levava o guião.20 O juiz era a autoridade máxima da irmandade. Veja-se BEIRANTE, 1990: 15.21 Em Lisboa, o grande aparato cerimonial da morte dos grandes, chamava a atenção popular. Confira-se ARAÚJO, 1989: 134.22 Era importante rezar pela alma do falecido para que, rapidamente saísse do purgatório e fosse acolhida entre os eleitosde Deus no paraíso. O purgatório era uma etapa intermédia onde as almas expiavam os seus pecados. Sobre as penas dopurgatório, o paraíso e o inferno veja-se ABREU, 1998: 198; VOVELLE, 1974: 122-127.23 A importância dos círios acesos acompanhando o enterro dos confrades era já assinalável na Idade Média. Confira-seBEIRANTE, 1990: 39.24 Como diz Ana Cristina Araújo, sem luzes não se faziam cortejos. Elas prefiguravam a luz da salvação, espantando osdemónios. Veja-se ARAÚJO, 1997: 237. Por outro lado, era em casa que se morria e era importante que os parentes, amigos,vizinhos estivessem presentes. Confira-se ARIÉS, 1989: 24, 56.25 AISC – Fundo da irmandade do Bom Jesus dos Santos Passos, Livro de estatutos da irmandade do Bom Jesus dosSantos Passos e Santa Ana 1747, fl. 103v.; AISV – Fundo da irmandade de São Vicente, Livro de estatutos reformados dairmandade de São Vicente 1723, fl. 15v.

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dade de Santa Cruz26, os clérigos que iam tomar parte nas cerimónias que tinham lugarna igreja, seguiam ligeiramente à frente da tumba. Provavelmente, os familiares, amigos evizinhos do falecido seguiam atrás. Quando se integravam outras irmandades ou serequisitava a sua presença mediante pagamento, estas instituições tomavam lugar atrás,aumentando assim o aparato e o impacto visual que a última viagem dos mortos deixavaentre os vivos27. Cada irmandade devia pugnar por saber qual o lugar em que deveriaseguir no cortejo, tendo em atenção as precedências conforme a sua antiguidade28.Chegados à igreja onde ia ter lugar o enterro29, a irmandade depositava o esquife eprocedia-se às cerimónias religiosas. Após estas cerimónias, o esquife era levado pelaúltima vez até à sepultura, para onde o cadáver era removido, depois de feita previamentea cova que o servo fechava. Depois do corpo ser enterrado, os irmãos apagavam as velasque traziam, como que simbolizando a passagem definitiva da alma do falecido para oalém. Ficavam apenas acesas as duas tochas que acompanhavam o guião, solenizando asua presença até ao lugar que o recolhia30.

Terminado o enterro, a irmandade regressava à sua igreja de origem, ou se o enterrofosse nela mantinha-se aí por mais uns minutos. O capelão rezava novamente um responsopela alma do irmão falecido, e em seguida recomendava aos confrades que cada um rezasseuma «estação» pelo defunto. Na generalidade dos casos os estatutos não revelam em queconsistia essa «estação», à excepção da irmandade de Santa Cruz, que em 1702 mencionauma estação de «seis padre-nossos e ave-maria e gloria pater», sendo os estatutos seguintesde 1762 ainda mais claros, referindo-se a uma estação de «seis padres-nossos, seis ave-marias e seis gloria pater». Com estas orações finais, terminava o acompanhamento que osirmãos faziam aos confrades falecidos, recolhendo-se cada um a sua casa31.

Os acompanhamentos feitos pelas irmandades mais poderosas transformavam-senuma ocasião em que mostravam a sua força social32, através do aparato cerimonial quemobilizava todos os irmãos. A esta cerimónia nenhum podia faltar, sob pena de sermultado. As ausências só podiam, aliás, contribuir para manchar a imagem da irman-dade33. Era do interesse dos irmãos comparecer a este momento especial, pois esperavamque, quando falecessem, também o seu corpo fosse acompanhado pelos restantes membros,

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26 AISC – Fundo da irmandade de Santa Cruz, Livro de estatutos da irmandade de Santa Cruz 1702, fl. 275v.; Livro deestatutos da irmandade de Santa Cruz 1762, fl. 382.27 Sobre a incorporação de várias confrarias no acompanhamento e o seu impacto visual leia-se ARAÚJO, 2010: p. 97.28 De facto, podia suceder que se instalassem desavenças entre as irmandades sobre as posições que cada uma devia terno cortejo fúnebre. Consulte-se a este respeito GAETA, 1995: 31.29 Os enterros tinham lugar em solo sagrado, nas igrejas, capelas, ou suas imediações. Leia-se ILLÁN, 1998: 110.30 AISC – Fundo da irmandade do Bom Jesus dos Santos Passos, Livro de estatutos da irmandade do Bom Jesus dosSantos Passos 1747, fl. 128v.; AISV – Fundo da irmandade de São Vicente, Livro de estatutos reformados da irmandade deSão Vicente 1768, fls. 26-27; ASB – Fundo da irmandade de São Crispim e São Crispiniano, Estatutos da irmandade de SãoCrispim e São Crispiniano, 1731, fl. 30v.31 AISC – Fundo da irmandade de Santa Cruz, Livro de estatutos da irmandade de Santa Cruz 1702, fl. 276v.; Livro deestatutos da irmandade de Santa Cruz 1762, fl. 383.32 Eram também uma forma de promover a coesão e integração social, criando laços de solidariedade entre vivos edefuntos. Veja-se ARAÚJO, 2001-2002: 274.33 As faltas dos confrades aos acompanhamentos eram um problema sempre presente. As Misericórdias viam-se tambémconfrontadas com esta questão. Leia-se ARAÚJO, 2010: 96; ARAÚJO, 2007: 11.

numa lógica de solidariedade espiritual entre todos. Uma confraria em que muitoselementos faltassem a este dever, certamente tornava-se menos apelativa para outrosindivíduos que a desejassem integrar.

Como as irmandades integravam irmãos de espaços geográficos alargados,impunham limites até onde podiam acompanhar os seus confrades, especificando emcertos casos as ruas, pontes, rios ou capelas até onde iam buscar e sepultar os seus membros,ou, então, declarando mais resumidamente que o fariam até aos arrabaldes da cidade34.Nesse sentido, as irmandades de Santa Cruz e a do Santo Homem Bom definiam quequando um defunto ia ser sepultado fora desses limites, ou vinha o seu corpo de foradeles, a irmandade ia esperá-lo aos locais que definia, não se responsabilizando pelorestante percurso35.

Os acompanhamentos pagosPara além dos acompanhamentos obrigatórios e gratuitos que as irmandades prestavam aosseus confrades, abriam a possibilidade de proporcionarem este serviço a pessoas que nãofossem irmãos, desde que o requeressem e lhes pagassem um montante em dinheiro. Oquantitativo a desembolsar era definido por estas instituições. Neste ponto, tanto as irman-dades mais poderosas como também algumas das mais pequenas abriam esta possibilidade,porque se tratava de angariar fundos para a instituição, embora representasse trabalho36.

Nestes acompanhamentos havia também uma diferença a reter: existiam acompa-nhamentos de «esmola inteira» e outros apenas efectuados por «meia esmola». Osacompanhamentos por «esmola inteira» eram destinados a todas as pessoas em geral quenão fossem irmãos, mas que pretendiam que uma irmandade os acompanhasse esepultasse. Os feitos por «meia esmola» estavam reservados aos familiares dos irmãos daconfraria (filhos, irmãos, pais ou outros familiares), desde que estivessem «debaixo dopoder e administração» do irmão que requeresse que o seu corpo fosse acompanhado àsepultura37. Tratava-se, portanto, de familiares que viviam na mesma casa do irmão querequeria este serviço e estavam dele dependentes. A irmandade de Nossa Senhora do Ófoi mais longe, impondo um limite mínimo de dois anos em que esses familiares falecidostinham estado a ser sustentados e a habitar com o irmão que pediu à sua confraria parao acompanhar mediante o pagamento de «meia esmola»38. Pagar «meia esmola» signifi-

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34 AISC – Fundo da irmandade do Bom Jesus dos Santos Passos, Livro de estatutos da irmandade do Bom Jesus dosSantos Passos 1707, fl. 34v.; ASB – Fundo da irmandade de São Crispim e São Crispiniano, Livro de estatutos da irmandadede São Crispim e São Crispiniano 1731, fl. 31v.35 AISC – Fundo da irmandade de Santa Cruz, Livro de estatutos da irmandade de Santa Cruz 1762, fl. 383v.; AISV – Fundoda irmandade de Santo Homem Bom, Livro de estatutos reformados da irmandade de Santo Homem Bom, fl. 46v.36 AISV – Fundo da irmandade de São Vicente, Livro de estatutos reformados da irmandade de São Vicente 1768, fl. 54;ASB – Fundo da confraria de Nossa Senhora da Boa Memória, Livro de estatutos da confraria de Nossa Senhora da BoaMemória 1793, fl. 8v.; – Fundo da confraria de Santo Amaro, Estatutos da Confraria de Santo Amaro da Sé 1742, fl. 21v.37 AISB – Fundo da confraria de Nossa Senhora do Ó, Estatutos reformados da confraria de Nossa Senhora do Ó 1701, fl.16. ASB – Fundo da irmandade de São Crispim e São Crispiniano, Livro de estatutos da irmandade de São Crispim e SãoCrispiniano 1731, fl. 31.38 AISB – Fundo da confraria de Nossa Senhora do Ó, Estatutos reformados da confraria de Nossa Senhora do Ó 1701, fl. 16.

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cava acompanhar os familiares de irmãos à sepultura por um preço significativamentemais reduzido do que seria se se tratasse de uma outra pessoa qualquer.

Os montantes a pagar estavam estabelecidos nas regras estatutárias e representavampreços distintos. A irmandade de São Vicente, em 1723, definiu que toda a pessoa que nãofosse irmão e quisesse ser acompanhada, teria de pagar por esse serviço 1.500 réis, enquantoque no caso em que se tratasse dos mencionados familiares do confrade que pedisse queestes fossem acompanhados, a «esmola» seria de apenas 720 réis. Estes pagamentosmantiveram-se nos estatutos de 1768, mas no fim do século XVIII, a «esmola» para os quenão fossem irmãos subiu significativamente para 6.400 réis39. Por seu lado, a irmandade deSão Crispim da igreja da Sé, definiu no início do século XVIII que a «esmola» dos acompa-nhamentos era de 1.000 réis e 500 para os familiares que estivessem dentro das condiçõesjá apresentadas, valores que em 1731 foram aumentados para 1.200 e 600 réis respectiva-mente. Estes valores mantinham-se ainda na década de 1770, mas no fim do século sabemosque o pagamento para os familiares tinha aumentado para 1.200 réis40.

Em 1707 a irmandade do Bom Jesus dos Santos Passos da igreja do Pópulo, definiuo pagamento de 3.000 réis para os acompanhamentos dos não confrades e 1.500 para osfamiliares dos confrades. Estes preços baixaram para 2.000 e 1.000 réis respectivamente em1747, «esmolas» que se mantiveram até à união da irmandade com a de Santa Cruz, em177241. Acreditamos que esta diminuição está relacionada com a aposta feita pelairmandade de apresentar preços mais competitivos para fazer concorrência a outrasinstituições e captar mais interessados. Esta aposta fazia ainda mais sentido numa irman-dade que lutava com algumas dificuldades (que levariam à sua posterior união com airmandade de Santa Cruz) e precisava de lançar mão de todos os recursos para se manterem funcionamento. Como se sabe, os enterros eram uma interessante fonte de receitas.

Já a irmandade de Santa Cruz que no início do século requeria uma «esmola» de 3.000réis para os não confrades e de 1.500 réis para os acompanhamentos a familiares de irmãos,pagamentos que se mantiveram em 1762, fez uma actualização significativa em 1773,passando os não irmãos a pagar 9.600 réis. Este valor foi posteriormente revisto em 1788baixando para 8 mil réis, sendo que nesse ano os familiares de irmãos passaram a pagar2.400 réis, em vez dos até então 1.500 praticados42. Em finais do século XVIII, ospagamentos pelos acompanhamentos conheceram uma subida acentuada, parecendo

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39 AISV – Fundo da irmandade de São Vicente, Livro de estatutos reformados da irmandade de São Vicente 1723, fls. 27-28; Livro de estatutos reformados da irmandade de São Vicente 1768, fl. 54v.; Livro de termos de junta da irmandade deSão Vicente 1796-1806, fl. 45.40 ASB – Fundo da irmandade de São Crispim e São Crispiniano, Livro de estatutos da irmandade de São Crispim e SãoCrispiniano 1702, fl. 16; Livro de estatutos da irmandade de São Crispim e São Crispiniano 1731, fls. 31v.-32; Livro dareceita da irmandade de São Crispim e São Crispiniano 1748-1789, fls. 92-95v.; Livro dos termos da irmandade de SãoCrispim e São Crispiniano, 1790-1874, fl. 49v.41 AISC – Fundo da irmandade do Bom Jesus dos Santos Passos, Livro de estatutos da irmandade do Bom Jesus dosSantos Passos 1707, fl. 34; Livro de estatutos da irmandade do Bom Jesus dos Santos Passos e Santa Ana 1747, fl. 131.42 AISC – Fundo da irmandade de Santa Cruz, Livro de estatutos da irmandade de Santa Cruz 1702, fl. 277v.; Livro deestatutos da irmandade de Santa Cruz 1762, fl. 384; Livro de estatutos da irmandade de Santa Cruz, Bom Jesus dosSantos Passos e Santa Ana 1773, fl. 485; Livro de estatutos da irmandade de Santa Cruz, Bom Jesus dos Santos Passos eSanta Ana 1788, fl. 77.

tornar-se cada vez maior a distância entre os valores para os não confrades familiares deirmãos e os valores para as restantes pessoas. Este aumento dos preços pode ser explicadocomo uma tentativa destas instituições aumentarem as suas receitas, num contexto em queos seus rendimentos estavam em crise43. A este aspecto pode ser adicionada a possibilidadedo aumento do custo de vida em geral ter obrigado as confrarias a reverem os seus preçospara este serviço que prestavam44. A distância que se acentua nos preços cobrados entre osnão confrades em geral e os que eram apenas familiares, pode ser interpretada como umaforma das Mesas privilegiarem os seus membros, concorrendo assim para que estasinstituições continuassem a apresentar-se apelativas para potenciais interessados.

As variações nos preços cobrados entre as diversas confrarias mostram a importânciae força social que cada uma delas tinha. Essa diferença torna-se ainda mais acentuada se acompararmos com as confrarias mais pequenas que também cobravam uma «esmola» peloacompanhamento feito apenas pelo procurador com a cruz e dois mordomos com astochas. A confraria de Nossa Senhora da Boa Memória da igreja da Sé, determinava em1793 que os não confrades que quisessem o seu acompanhamento pagariam 300 réis, nãofazendo neste caso distinção entre não confrades em geral e não confrades familiares45. Já aconfraria de Santo Amaro da Sé estabeleceu em 1742 o pagamento de 240 réis peloacompanhamento da sua cruz, e 120 réis para os familiares dos confrades46. Como muitasdestas instituições abriam a hipótese a pessoas externas de lhes proporcionarem umacompanhamento solene, causando maior impacto visual, do seu corpo à última morada,qual teria sido a resposta e a adesão que os bracarenses do século XVIII mostraram? Aindaestamos longe, certamente, de tirar conclusões mais seguras e sólidas, mas o estudo dosdados até agora recolhidos parece indicar uma certa tendência. Considerando o volume dedocumentação existente, procedemos a uma análise de cinco em cinco anos, após termosconstatado a não existência de variações assinaláveis de registo.

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43 Sobre a crise económica no mundo confraternal na segunda metade do século XVIII leia-se PENTEADO, 2000: 463-465.44 Podemos encontrar um indicador deste aumento generalizado do custo de vida, na evolução do preço das missas quea Misericórdia de Braga tinha obrigação de mandar dizer pelos irmãos falecidos. Se até à década de 1730 este foi variandoentre 60 a 80 réis por missa, em finais do século estas estavam já a ser pagas entre 100 a 120 réis. Sobre este assuntoconsulte-se CASTRO, 2006: 375.45 ASB – Fundo da confraria de Nossa Senhora da Boa Memória, Livro de estatutos da confraria de Nossa Senhora da BoaMemória 1792, fl. 8v.46 ASB – Fundo da confraria de Santo Amaro, Estatutos da confraria de Santo Amaro da Sé 1742, fl. 21v.

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No quadro 1 analisamos o número de acompanhamentos efectuados pela irman-dade de Santa Cruz. Seleccionámos esta irmandade e a de São Crispim e São Crispinianopor apresentarem diferenças assinaláveis, pese embora ambas evidenciarem a mesmatendência no último quartel de setecentos. Verificámos que apesar do número de acom-panhamentos pagos nesta irmandade nunca ser muito alto, certamente devido tambémao facto de praticar os pagamentos mais elevados da cidade, há uma diferença assinalávelna passagem da primeira para a segunda metade do século. Os acompanhamentos pagosdesapareceram dos registos, depois de 1771. Teria o aumento significativo dos preços, queocorreu em 1773, afastado em definitivo potenciais interessados num serviço que já seencontrava em recuo assinalável? A análise deste fenómeno na confraria de São Crispime São Crispiniano da igreja da Sé demonstra uma realidade com números diferentes,embora com uma tendência semelhante.

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Quadro 1

IRMANDADE DE SANTA CRUZ / ANO N.º DE ACOMPANHAMENTOS PAGOS

1700-1701 5

1705-1706 3

1710-1711 6

1715-1716 2

1720-1721 6

1725-1726 4

1730-1731 7

1735-1736 3

1740-1741 5

1745-1746 4

1750-1751 1

1755-1756 0

1760-1761 0

1765-1766 0

1770-1771 1

Fonte: AISC – Fundo da irmandade de Santa Cruz: Livro n.º 1 do recibo do dinheiro de Santa Cruz, 1618-1719, fls. 443v.-447v., 472v.-480, 531-537v.,567-573v.; Livro n.º 2 do recibo do dinheiro de Santa Cruz, 1719-1783, fls. 13-19v., 50-54, 98v.-111, 162-170v., 218-229v., 268-275, 311-317v., 357v.-366v., 407-427v., 464v.-471v., 497-504, 538-547, 583-592.

Neste exemplo, verifica-se uma quebra que se inicia ainda mais cedo, reportando-seà primeira metade do século, sendo que posteriormente, a partir da década de 1770, osacompanhamentos «de esmola» nesta irmandade desapareceram. A diferença reside nofacto de nas primeiras décadas do século XVIII esta confraria registar um volume maiorde acompanhamentos pagos do que a de Santa Cruz. Pensamos que como em SãoCrispim os preços eram mais baixos, estes serviços ficavam assim de mais fácil acesso àmaioria dos bracarenses que não pertenciam a nenhuma confraria, mas que desejavamter o maior número possível de acompanhantes e intercessores pela sua alma nomomento em que o seu corpo fazia a última viagem. Os dados até agora analisadosparecem apontar para um fenómeno transversal no mundo confraternal47. Se é certo queem todo o século XVIII as confrarias continuaram a consignar nos seus regulamentos oacompanhamento quer aos irmãos (gratuito), quer aos que não o eram (mediantepagamento), na realidade a adesão dos bracarenses aos acompanhamentos pagos pareceser cada vez menor à medida que o século XVIII caminhava para o seu termo. Seriammotivos económicos que levariam os indivíduos a não quererem gastar os seusrendimentos com este serviço, e assim a alta de preços em fins do século XVIII estar a

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47 Acontecia tanto nas confrarias mais poderosas como nas mais pequenas, pois na de Nossa Senhora de Boa Memoriaobservam-se resultados semelhantes. ASB – Fundo da confraria de Nossa Senhora da Boa Memória, Livro do recibo daconfraria de Nossa Senhora da Boa Memória 1707-1751, fls. 3-85v.; Livro do recibo da confraria de Nossa Senhora daBoa Memória 1752-1807, fls. 6-81.

Quadro 2

ANDADE DE SÃO CRISPIM E SÃO CRISPINIANO / ANO N.º DE ACOMPANHAMENTOS PAGOS

1700-1701 11

1704-1705 10

1709-1710 12

1714-1715 18

1719-1720 13

1724-1725 3

1729-1730 5

1734-1735 4

1739-1740 2

1744-1745 3

1749-1750 2

1754-1755 2

1759-1760 0

1764-1765 1

1769-1770 1

Fonte: ASB – Fundo da irmandade de São Crispim e São Crispiniano: Livro de receita da irmandade de São Crispim e São Crispiniano, 1700-1748, fls.1-4, 11v.-13, 23-26v., 48-53v., 72v.-79v., 96-100, 118-122, 140v.-145, 155v.-164, 178-184, 218-221v.; Livro de receita da irmandade de São Crispim eSão Crispiano, 1748-1789, 5v.-9, 24-28v., 51-55v., 72-75, 92-95v., 108-111, 125v.-129, 138v.-140, 144v.-147.

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afastar potenciais interessados? Seria a mentalidade crítica das ideias iluministas conde-nando o fausto e o aparato barrocos? Estaria esta já a fazer-se sentir no meio social ereligioso bracarense?48 Ou estariam as faltas que, por várias vezes, alguns irmãos davamnesses momentos a descredebilizar este acto de piedade confraternal?49 Ou ainda estariaeste costume a tornar-se cada vez mais prescindível, como parecem indicar os estatutosda irmandade de Santa Cruz de 1773? Efectivamente, estes apontam para uma maiorproliferação da prática de se depositarem logo os cadáveres nas igrejas onde depoisseriam sepultados, dispensando assim que estes fossem acompanhados50. Estas questõesficam por agora sem resposta, mas estamos esperançados em poder responder a algumadelas futuramente.

ConclusãoNeste trabalho apresentámos uma primeira abordagem à temática dos acompanha-mentos à sepultura por parte das confrarias bracarenses ao longo do século XVIII. Onosso estudo tem ainda certamente um longo caminho a percorrer, mas com base no quefoi feito até ao momento, podemos levantar algumas linhas de força sobre esta temática.Assim, é de salientar que, grosso modo, a maneira como estas instituições organizavamestes actos públicos de piedade religiosa não sofreu grandes alterações ao longo do século,mantendo-se em geral um padrão de comportamento na organização e execução destecerimonial. A diferença maior encontrada reside no tipo de acompanhamento proporcio-nado, sendo que nas instituições mais poderosas todos os irmãos deviam participarcarregando suas velas, ao passo que nas mais pequenas tinha lugar um acompanhamentosimbólico, discreto e mais humilde.

Por outro lado, vemos também as mesmas instituições abrirem a possibilidade aosnão membros de serem acompanhados na sua última viagem, mas aparentemente aadesão daqueles foi-se tornando cada vez menor na segunda metade do século XVIII. Estefacto parece indicar uma outra postura perante a morte, deixando assim em aberto váriasquestões.

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48 De facto, os pensadores iluministas do século XVIII começaram a criticar os rituais e as pompas religiosas comodemasiado formais e marcadas por um forte «automatismo». Sobre estas críticas leia-se VOVELLE, 1974: 169. Por outro ladotambém deve ser tido em conta o facto de o marquês de Pombal ter auspiciado as ideias jansenistas que, apontando paraum maior rigorismo e austeridade religiosos, contribuíram para um arrefecimento de certas manifestações de piedadereligiosa. Consulte-se OLIVEIRA, 1959: 224-225.49 Uma análise aos livros de termos das várias irmandades demonstra a constante preocupação com as faltas aosacompanhamentos. AISV – Fundo da irmandade de São Vicente, Livro de termos de mesa da irmandade de São Vicente1700-1720, fl. 108v.; Livro de termos de mesa da irmandade de São Vicente 1765-1772, fl. 56v; AISB – Fundo da irmandadede Nossa Senhora do Ó, Livro dos termos da irmandade de Nossa Senhora do Ó 1695-1727, fl. 136v.; Livro dos termos dairmandade de Nossa Senhora do Ó 1727-1753, fl. 279v.50 Este recuo no pagamento dos acompanhamentos poderia estar também ligado a um progressivo desinteresse dosindivíduos em regularem o cerimonial do seu enterro. Sabemos que este desinteresse se verificava em Múrcia nos fins doséculo XVIII. Consulte-se sobre este assunto, ILLÁN, 1998: 95-120.

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– Livro de estatutos da irmandade das Chagas 1761.

176

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177

Fundo da confraria do Santo Nome de Deus da capela de São Gonçalo– Livro de estatutos da confraria do Santo Nome de Deus da capela de São Gonçalo 1723.

Fundo da irmandade de Santa Cruz– Livro de estatutos da irmandade de Santa Cruz 1702.

– Livro de estatutos da irmandade de Santa Cruz, 1762.

– Livro de estatutos da irmandade de, Santa Cruz, Bom Jesus dos Santos Passos e Santa Ana 1773.

– Livro de estatutos da irmandade de Santa Cruz, Bom Jesus dos Santos Passos e Santa Ana 1788.

– Livro n.º 1 do recibo do dinheiro de Santa Cruz 1618-1719.

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AISV – Arquivo da Igreja de São Vicente:Fundo da irmandade de Santo Homem Bom– Livro de estatutos reformados da irmandade de Santo Homem Bom.

Fundo da irmandade de São Vicente– Livro de estatutos reformados da irmandade de São Vicente 1723.

– Livro de estatutos reformados da irmandade de São Vicente 1768.

– Livro de termos de junta da irmandade de São Vicente 1796-1806.

– Livro de termos de mesa da irmandade de São Vicente 1700-1720.

– Livro de termos de mesa da irmandade de São Vicente 1765-1772.

AISB – Arquivo da Igreja da Senhora a Branca:Fundo da confraria de Nossa Senhora do Bom Despacho– Estatutos da confraria de Nossa Senhora do Bom Despacho 1758.

Fundo da confraria de Nossa Senhora do Ó– Estatutos reformados da confraria de Nossa Senhora do Ó 1701.

– Livro dos termos da irmandade de Nossa Senhora do Ó 1695-1727.

– Livro dos termos da irmandade de Nossa Senhora do Ó 1727-1753.

ASB – Arquivo da Sé de Braga:Fundo da confraria de Nossa Senhora da Boa Memória da Sé– Estatutos da confraria de Nossa Senhora da Boa Memória 1793, fl. 8v.

– Livro do recibo da confraria de Nossa Senhora da Boa Memória 1707-1751.

– Livro do recibo da confraria de Nossa Senhora da Boa Memória 1752-1807.

Fundo da confraria de Santo Amaro da Sé– Estatutos da confraria de Santo Amaro da Sé 1742.

– Estatutos da confraria de Santo Amaro da Sé 1781.

Fundo da confraria de São Bento do Convento do Salvador de Braga– Estatutos da confraria de São Bento do Convento do Salvador de Braga 1792.

Fundo da irmandade de São Crispim e São Crispiniano– Livro de estatutos da irmandade de São Crispim e São Crispiniano 1702.

– Livro de estatutos da irmandade de São Crispim e São Crispiniano 1731.

– Livro de receita da irmandade de São Crispim e São Crispiniano 1700-1748.

– Livro de receita da irmandade de São Crispim e São Crispiniano 1748-1789.

– Livro dos termos da irmandade de São Crispim e São Crispiniano 1790-1874.

Acompanhar ao outro mundo: a morte nas confrarias d e B r a g a n o s é c u l o X V I I I . E s t u d o p r e l i m i n a r