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ACADEMIA DA ALMA Exercícios de formação espiritual ISRAEL BELO DE AZEVEDO 2006

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Page 1: Academia Da Alma [Texto Completo]

ACADEMIA DA ALMA Exercícios de formação espiritual ISRAEL BELO DE AZEVEDO 2006

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OS VENTOS DO DESTINO "Um barco sai para o leste e o outro para o oeste Levados pelo mesmos ventos que sopra: É a posição das velas, E não os temporais, Que lhes dita o curso a seguir. Como os ventos do mar são os ventos do destino Quando navegamos ao longo da vida: É a posição da alma que determina a meta, e não a calmaria ou a borrasca". (Ella Wheeler Wilcox -- Tradução de Israel Belo de Azevedo)

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Os textos a seguir buscam ajudar os "acadêmicos da alma" em sua jornada. Todos foram escritos por mim, exceto alguns poemas e orações, cujas autorias estão indicadas.

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SUMÁRIO 1. ENTREGA: O PRIMEIRO PASSO PARA A INTEGRIDADE 2. PUREZA: SER MENOS PARA SER MAIS 3. HUMILDADE: O PODER DA FRAQUEZA 4. SIMPLICIDADE: EM BUSCA DAQUILO QUE IMPORTA 5. ALEGRIA: CONTENTAMENTO EM TODA E QUALQUER SITUAÇÃO 6. GENEROSIDADE: A ARTE DE DEVOLVER O QUE NÃO É NOSSO 7. AUTOCONTROLE: VENCENDO AS TENTAÇÕES, MAS MANTENDO A SAÚDE EMOCIONAL 8. PERSEVERANÇA: É NO FINAL QUE SABEMOS SE CONSEGUIMOS 9. PRESENÇA DE DEUS: PARA QUE NOSSOS CORAÇÕES ARDAM 10. A MENTE DE CRISTO: SER COMO JESUS -- ESTA É A META DO DISCÍPULO

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1 ENTREGA: O PRIMEIRO PASSO PARA A INTEGRIDADE "Entregue o seu caminho ao Senhor; confie nEle, e Ele agirá". (Salmo 37.5 -- NVI) "Meu trabalho [como técnico do time] é levar as pessoas a fazerem o que não querem fazer para alcançarem o que sempre quiseram alcançar". (Tom Landry). 1 NÃO deixe que as escolhas da sua vida sejam determinada por nada que não seja a graça que já o alcançou. Ou confiamos em nós mesmos ou confiamos em Deus.

1Citado por SWINDOLL, Charles. So You Want to Be Like Christ. Nashville: Thomas Nelson, 2005, p. xi.

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CONVITE À ENTREGA Reunida a multidão, que O ouvia atenta, Jesus nos vê e radicalmente nos orienta com uma questão que incomoda e alenta: O ser é não mais do aquilo que o alimenta? O corpo não é mais que a sua vestimenta? A vida não é mais que a água que a dessedenta? Quem à sua história um segundo sequer inventa? Reunida a multidão, que o olhava toda atenta, Jesus nos contempla e com força nos apresenta o convite para olhar o meio que nos ambienta: a ave não guarda, mas Deus não a sustenta? a flor não corre, mas Deus a beleza não lhe aumenta? como faz com todo aquele cuja busca se assenta na confiança que a ave, voando, experimenta no esplendor que a flor, crescendo, ornamenta. Parte da multidão que a ansiedade atormenta, faço a oração que toda a minha vontade intenta: "Senhor, livra-me do medo que me persegue e tenta, a dor não de ter, que me esgota e mais me adoenta; o que quero mesmo é ser parte do Reino que contenta numa entrega que em mim a Tua imagem sacramenta".

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ENTREGA: O PRIMEIRO PASSO PARA A INTEGRIDADE No meio de sua jornada espiritual, em que se tornou um dos mais ouvidos pregadores do Brasil, o pastor Enéas Tognini teve uma experiência arrebatadora, em que Deus lhe pedia para entregar tudo a Ele. Ouvi-o contando a história. No diálogo, como aquele de Jesus com Pedro, Tognini foi entregando tudo: bens, posições, desejos. Já satisfeito consigo mesmo, Deus o surpreendeu: -- Ainda falta uma coisa. -- O que, Senhor? -- A biblioteca. Tognini tinha uma imensa biblioteca, cultivada há anos; ali era o seu lugar de estudo, mas ali estava o seu coração. E Enéas Tognini se desfez da sua biblioteca. E então se tornou quem se tornou. A história pessoal do pastor Enéas Tognini nos lembra que há promessas condicionais e incondicionais. A promessa, encontrada no Salmo 37, é que Deus tudo fará por nós. A condição é que entreguemos nosso caminho ao Senhor, confiando nEle. A promessa é tão boa que a condição compensa. Por que não atendemos ao convite? Na verdade, a condição não se refere ao mérito (ao mérito humano em receber o cuidado divino), mas ao exercício da liberdade humana, a liberdade de desejar ser alvo do cuidado de Deus. Entregar o caminho ao Senhor não é renunciar à liberdade; é exercê-la. Trata-se de uma escolha, portanto. TENTAÇÕES À NÃO-ENTREGA Lendo o Salmo, notamos as razões da dificuldade para a não-entrega. 1. A comparação, que produz decepção (por causa da prosperidade dos outros, especialmente dos maus). Nossa comparação é sempre seletiva e, por isto, sempre despreza o todo. Quando eu era criança, guaraná e bife não compareciam sempre à mesa do almoço. Quando chegavam, eu e minha irmã ficávamos comparando que copo estava mais cheio ou que bife era maior; era como se medíssemos o amor de nossos pais pela quantidade de refrigerante ou de carne. Quem olha para os outros e se acha menos ou mais amado por Deus erra grandemente. 2. A ansiedade diante do que nos pode acontecer. Ainda conservamos parte de nosso complexo de Deus, o mesmo complexo que provocou a nossa Queda, com Adão. A ansiedade produz também um certo tipo de ateísmo: o ateísmo funcional, crido por aqueles que acham nada acontecerá a menos que façamos alguma coisa; para estes, conquanto conservem uma linguagem cristã e louvem a Deus nos cultos, Deus está morto ou em coma. (MANNING, Brennan. O evangelho maltrapilho. São Paulo: Mundo Cristão, 2005, p. 199.) Como Ele não pode fazer nada, nós temos que fazer... e rápido! Para estes, foi o Jesus-poeta que saudou os lírios do campo que não trabalham... 3. Uma visão excessivamente limitada de Deus. Boa parte de nós é voltaireana: cremos num deus que criou o mundo segundo leis boas imutáveis e se tornou um grande espectador do circo da vida. Outra parte de nós até crê que ele nos criou, mas, depois deixou as regras para nos conduzirem, pelas quais temos que nos virar, como se ele não pudesse quebrar as regras que criou, ação que se chama milagre. Outra parte de nós acha que deus tem escolhidos, que são os obedientes ou os muito crentes (aos seus olhos, é claro), a quais mima, dando tudo, deixando de lado os outros que não merecem. ... Bem: nossa visão de Deus é sempre limitada, mas Deus não é limitado. RAZÕES PARA A ENTREGA 1. Quero começar por uma razão negativa: a impossibilidade do controle. Contra a ansiedade, o melhor antídoto é reconhecer que nós não somos capazes de dirigir nosso próprio destino. É

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nossa tarefa desenvolver todos os esforços para vivemos segundo nossos princípios e nossos alvos. No entanto, há situações que fogem a nosso controle, porque estão sob o controle de outra pessoa ou de outros fatores. Não estamos à deriva, mas não temos o controle de tudo. Não temos o controle do nosso cérebro: de repente, algo nele desanda. Não temos o controle de nosso corpo: algo nele desvai. Não temos o controle de nossa família: contra nossa vontade e nosso esforço, algo nela desaba. O fato de perdermos o controle das coisas não quer dizer que as coisas não tenham controle. Deus está no controle. A seguir, apresento duas razões positivas para a entrega. 2. Não devemos esquecer o amor de Deus, que amou o mundo de tal maneira que nos entregou seu Filho único para morrer em nosso lugar (João 3.16). Esse amor é a graça em operação, operação ainda hoje se realizando. Por isto, na hora dificuldade, seja ela qual for, quando olhamos para Ele, "ficamos surpreendidos por encontrar os olhos de Jesus abertos em assombro, profundos em compreensão e gentis em compaixão". "Deus é sempre maior. Não importa quão grande pensemos que Ele seja, Seu amor é sempre maior". 2 Por causa do seu amor, demonstrado em Jesus, Ele nos aceita. Para Ele, você não é um fracassado, que não consegue se livrar de sua compulsão, seja por sexo, comida, julgamento do outro; você é aceito por Deus. Para Ele, você não é uma pessoa com câncer ou alzheimer; você é uma pessoa a quem Ele ama, mesmo que até mesmo seus familiares já não agüentem você mais. Para Ele, você não é um desviado da fé, mas alguém por quem Cristo morreu na cruz. Para Ele, você não é um cara com um emprego insuportável, pelo trabalho e pela remuneração; você é querido por Deus, que lhe deseja uma vida com sentido. Para Ele, você não é um derrotado pela depressão; você é um ser amado por Deus que aposta em você. Não importa onde você esteja no caminho da vida, você já foi aceito. E porque você já foi aceito, Ele satisfaz todos os seus desejos, mas os desejos legítimos, precisamente por causa do seu amor. Que pai, que ame de fato o seu filho, vai deixar que ele pule de um edifício de quatro andares, embora o menino deseje saltar? Muito de nosso conflito com Deus advém de nossa ignorância do seu amor. Queremos algo e Ele não nos deu? Foi por seu amor. 3. Não podemos perder de vista a justiça de Deus. Quando, a exemplo do salmista, vemos os ímpios se dando bem, devemos ter em mente que o amor de Deus inclui a sua justiça. De igual modo, o poder de Deus também inclui a sua justiça. É por isto que a injustiça no mundo é um atentado contra a justiça de Deus. A justiça de Deus excede a nossa, mas os ímpios não herdarão o Reino dos céus (1Coríntios 6,9-10). A justiça de Deus pode parecer tardia como a dos homens, mas a justiça de Deus chega às alturas, de modo que ninguém pode se comparar a Ele (Salmo 71.19). A justiça de Deus não é vingativa com a nossa, mas ela independe de nossos méritos. Abraão abandonou Agar e seu filho, mas Deus foi ao seu encontro. Os aflitos parecem clamar em vão, mas quando "os justos clamam, o Senhor os ouve e os livra de todas as suas tribulações (Salmo 34.17). Se queremos ver a justiça de Deus, mantenhamos os olhos em Deus. Se é para fazer alguma comparação, comparemo-nos com Deus. PASSOS PARA RECEBER A PROMESSA Como temos salientado, esta promessa é condicional. Depende da aceitação de um convite. Releiamos alguns dos versos sobre este convite. Verso 3 -- Confie no Senhor e faça o bem; assim você habitará na terra e desfrutará segurança. Verso 4 -- Deleite-se no Senhor, e ele atenderá aos desejos do seu coração. Verso 5 -- Entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá.

2MANNING, Brennan. O evangelho maltrapilho. São Paulo: Mundo Cristão, 2005, p. 28 e 206.

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Verso 7 -- Descanse no Senhor e aguarde por ele com paciência. Verso 34a -- Espere no Senhor e siga a sua vontade. Ele o exaltará, dando-lhe a terra por herança; quando os ímpios forem eliminados, você o verá. Que verbos doces! Que verbos amargos. Confie. Deleite-se. Entregue. Descanse. Espere. Eu vejo um progresso nestes verbos. 1. Confie em Deus. Ou confiamos em nós mesmos ou confiamos em Deus. Esta é a escolha mais importante da vida, que determina todos os demais passos. "Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apóie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas. Não seja sábio aos seus próprios olhos; tema o Senhor e evite o mal" (Provérbios 3.5-7) Com certeza, "Aquele que defende o meu nome está perto. Quem poderá trazer acusações contra mim? Encaremo-nos um ao outro! Quem é meu acusador? Que ele me enfrente! É o Soberano, o Senhor, que me ajuda. Quem irá me condenar? Todos eles se desgastam como uma roupa; as traças os consumirão. Quem entre vocês teme o Senhor e obedece à palavra de seu servo? Que aquele que anda no escuro, que não tem luz alguma, confie no nome do Senhor e se apóie em seu Deus (Isaías 50.8-10). É esta a sua escolha: confiar em Deus? Para confiar em Deus, você precisa se deleitar em Deus. 2. Deleite-se em Deus. Deixemo-nos tomar por uma grande afeição por Deus. Não podemos amá-Lo como Ele nos ama, mas devemos amá-lo com de todo o nosso coração, de toda a nossa alma e de todas as nossas forças (Deuteronômio 6.5). Com este amor, coloque os seus desejos diante dEle. Antes de os colocar, pergunte a Deus se você deve ter os desejos que anda tendo. Queremos ter o que precisamos ou queremos ter o que os outros têm? Deleitar-se em Deus é parar de idolatrar a si mesmo, o fundamento da religião do "eu mereço". Se amamos a nosso Deus, podemos entregar a ele os nossos desejos. 3. Entregue a Deus. Somos chamados a entregar o nosso caminho ao Senhor e não a parar de caminhar. Sigamos caminhando, mas entreguemos nossa caminhada ao Senhor. Ele nos redime do passado. Ele nos ilumina o presente. Ele nos sinaliza o futuro. Se as finanças estão apertadas, paremos de gastar o que não ganhamos; esta é a caminhada do justo que Deus abençoa. Se o futuro parece sombrio, estudemos mais para ter um emprego melhor; esta é a caminhada que Deus abençoa. Se os relacionamentos não duram, paremos de ser agressivos com os outros; esta é a caminhada justo que Deus abençoa. Se nossas emoções estão em frangalhos, procuremos ajuda; esta é a caminhada que Deus abençoa. Se a Bíblia não tem sido palavra de Deus aos nossos corações, voltemo-nos para suas páginas de vida; esta é a caminhada que Deus abençoa. A quietude (o nada fazer e esperar) faz parte da caminhada, que tem momentos de corrida e descanso, suor e sono. Depois da entrega, vem o descanso; não antes. Se você tem uma mensagem a levar, você não a leva? Se você não tem que fechar sua loja, você não a fecha? 4. Descanse em Deus. O homem rico, que procurou Jesus, fez uma oração diferente e equivocada: ele queria descansar nos seus bens, que trazem mais fadiga. Perdeu o principal, embora tenha conservado o secundário. Nossa oração deve ser a do salmista: "Descanse somente em Deus, oh minha alma; dele vem a minha esperança" (Salmo 62.5). 5. Espere em Deus. Os ímpios estão numa boa? Pare de olhar para a sua mansão e espere em Deus. O sapato está apertando? Solte o cadarço e espere em Deus. Eu digo: "eu posso"; Deus me corrige: "confie em mim".

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Eu afirmo: "eu mereço": Deus me convida: "deleite-se em mim". Eu retenho, porque é meu. Deus me pede: "entregue-me". Eu me esforço. Deus diz: "descanse em mim". Eu pergunto: "de diante me virá o socorro". Deus responde: "espere em mim". Como ensinou Thomas R. Kelly, "não ranja seus dentes e cerre seus punhos e diga: 'Eu quero. Eu quero'. Relaxe. Não interfira. Submeta-se a Deus. Aprenda a viver na voz passiva e deixe a vida ser desejada através de você, porque 'eu quero' não rima com obediência".

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"Quando tu quiseste me conduzir, eu tomei o controle da minha vida. Quando tu quiseste me governar, eu me dirigi a mim mesmo. Quando tu quiseste cuidar de mim, eu me bastei a mim mesmo. Quando eu devia depender de tuas provisões, eu me abasteci de mim mesmo. Quando eu devia me submeter à tua providência, eu segui o meu desejo. Quando eu devia estudar, amar, honrar e confiar em ti, eu trabalhei para mim mesmo: falhando e corrigindo as tuas leis para concordarem comigo, em lugar da tua, busquei a aprovação dos homens. Eu sou por natureza um idólatra . Senhor, meu maior desejo é levar meu coração de volta a ti. Convença-me que não posso ser meu próprio deus ou me fazer feliz a mim mesmo, nem ser meu próprio Cristo para restaurar minha alegria, nem ser meu próprio Espírito para me ensinar, me conduzir e me dirigir. Ajuda-me a ver que a tua graça age por meio da aflição providencial, para que, quando meu dinheiro for deus, tu me jogues para baixo, para que, quando meus bens forem meus ídolos, tu os faças voar para longe, para que, quando o prazer for tudo para mim, tudo o tornes amargo. Afasta-me do erro do olhar, da curiosidade do ouvido, da avareza do apetite e da luxúria do coração. Mostre-me que nada destas coisas pode curar uma consciência ferida, sustentar um esqueleto cambaleante, segurar um espírito desviante. Então, leva-me para a cruz e me deixe lá". (Texto puritano anônimo do século 17, sob o título "Man a Nothing" [O homem não é nada] -- Tradução de Israel Belo de Azevedo).

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EXERCÍCIOS ACORDE 1. Faça um inventário pessoal, perguntando-se: "Tenho realmente entregue minha vida a Cristo?". (AUTO-CONHECIMENTO) 2. Confesse o seu pecado (ou pecados) nesta área da sua vida, admitindo sua dificuldade e pedindo perdão e orientação para mudar. (CONFISSÃO) 3. Ore especificamente sobre este assunto. Se quiser, use a oração do puritano anônimo. Torne-se a sua. Reescreva-a para incluir sua própria história nela. (ORAÇÃO) 4. Medite sobre o assunto. Concentre-se na verdade bíblica: "Entregue o seu caminho ao Senhor; confie nEle, e Ele agirá" (Salmo 37.5 -- NVI). Memorize este versículo. REFLEXÃO. 5. Decida viver a dinâmica da entrega. Há um preço a ser pago; decida pagá-lo. (DECISÃO) 6. Empenhe-se para se entregar. Vigie para não retroceder. Mude seus hábitos. (ESFORÇO)

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LEITURAS SUGERIDAS BONHOEFFER, Dietrich. Resistência e submissão. São Leopoldo: Sinodal, 2003. CRABB, Larry. Conversa da alma. São Paulo: Mundo Cristão, 2005. MANNING, Brennan. O evangelho maltrapilho. São Paulo: Mundo Cristão, 2005. SCHALKWIJK, Francisco Leonardo. Confissão de um peregrino: para entender a eleição e o livre-arbítrio. Viçosa: Ultimato, 2002. TOZER, A.W. A conquista divina. São Paulo: Mundo Cristão, 1985.

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[TEXTO ADICIONAL] CONSAGRANDO-NOS PARA SERVIR No início de Sua revelação ao povo de Israel, Deus separou algumas pessoas para serem sacerdotes. Esses filhos de Aarão eram responsáveis por oferecer sacrifícios a Deus em busca do perdão dos pecados do povo. Eram eles e só eles, então, ministros de Deus. Com o passar do tempo, no entanto, a dinâmica do relacionamento entre Deus e seu povo foi criando outros ministros de Deus, para suprir as várias necessidades religiosas do povo. O termo "sacerdote" ficou exclusivo para um tipo de ministério, que se tornou amplo para incluir os músicos, os porteiros, os metalúrgicos, os reis e os profetas, entre outros indivíduos que se colocavam nas mãos de Deus para ajudar o povo a crescer. O salmista chega a chamar de ministros a todos que fazem a vontade do Senhor (Salmo 103.21). O profeta Isaías espera por um tempo em que o povo de Deus (isto é, todos quanto levam Deus a sério) sejam chamados de sacerdotes e ministros do Senhor (Isaías 61.6). Este tempo chegou com a chegada do Messias prometido. O Novo Testamento radicaliza ao colocar o sacerdócio sob a dinâmica da nova aliança. Todos os cristãos somos habilitados a ser ministros de uma nova aliança (2Coríntios 3.6). Nas palavras do apóstolo Pedro, todos os cristãos somos sacerdotes, porque podemos comparecer diante de Deus para pedir perdão pelos nossos próprios pecados, certos que o sacrifício do Sumo-Sacerdote Jesus Cristo é suficiente para nos reconciliar com o Pai. Por isto, podemos agora oferecer apenas sacrifícios espirituais, não mais corporais, como nos ensina o apóstolo Pedro: também nós mesmos, como pedras que vivem, somos edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecermos sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo (1 Pedro 2.5). Afinal, somos raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamarmos as virtudes dAquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pedro 2.9). Impõe-se, no entanto, por vezes, que muitos cristãos não queremos ser sacerdotes. Lendo a cerimônia solene de consagração dos levitas, como descrita em Levítico 8.22-35, entendemos por que. Há quatro etapas nesta consagração ou ordenação. 3 PURIFICAÇÃO A primeira etapa é a purificação (Levítico 8.22-25). A seguir, [Moisés] mandou trazer o outro carneiro, o carneiro para a oferta de ordenação, e Arão e seus filhos colocaram as mãos sobre a cabeça do carneiro. Moisés sacrificou o carneiro e pôs um pouco do sangue na ponta da orelha direita de Arão, no polegar da sua mão direita e no polegar do seu pé direito. Moisés também mandou que os filhos de Arão se aproximassem, e sobre cada um pôs um pouco do sangue na ponta da orelha direita, no polegar da mão direita e no polegar do pé direito; e derramou o restante do sangue nos lados do altar. Apanhou a gordura, a cauda gorda, toda a gordura que cobre as vísceras, o lóbulo do fígado, os dois rins e a gordura que os cobre e a coxa direita. Hoje o gesto de Moisés, seguindo a instrução de Deus, pode nos parecer estranho, mas precisamos tirar dele o essencial. O grande líder, depois de imolar o carneiro, separado para este fim, tomou o sangue que jorrou do seu corpo e o aspergiu sobre seu irmão Arão e sobre seus quatro sobrinhos. Ele derramou o sangue sobre a orelha, sobre o dedo polegar da mão direita e sobre o dedo polegar (dedão) do pé direito deles. Com isto, ele estava purificando a vida de cada um deles. Orelha, polegar e dedão indicam precisamente as três dimensões da vida cristã: estar pronto para ouvir a Palavra de Deus, pronto para servir ao Deus da Palavra e pronto para seguir o que ensina esta Palavra. A orelha representa a porta de entrada das informações a partir das quais orientamos nossas vidas. A fé, ensina-nos o apóstolo Paulo, vem pelo ouvir (Romanos 10.17), mas a queda também, a Queda original (de Adão e Eva) e as quedas de hoje, também vem pelos nossos sentidos. Se queremos ser puros, precisamos permitir que Deus purifique os nossos ouvidos, para que por eles não entre a tentação. Depois, Moisés também purificou o polegar direito dos sacerdotes. Era com a mão que os sacerdotes abençoavam, realizando todos os seus ofícios sagrados. Era com o dedo direito que seguravam firmes os animais para os sacrifícios e os utensílios para os rituais. O dedo polegar, neste caso, representa aquilo que os seres humanos fazem. Se estivermos purificados, nossas ações abençoarão pessoas. Se nossas intenções forem santas, o que fizermos será santo. O sentido da purificação era este: a partir daquele momento, tudo o que os sacerdotes fizessem seria recebido por Deus

3Francisco Leonardo Schalkwijk magistralmente nos ajuda a ver, em Confissao de um peregrino: para entender a eleição e o livre-arbítrio. Viçosa: Ultimato, 2002, p. 79-83. Muitas das idéias deste tópico devo-as eu a essas belíssimas, conquanto curtas, páginas.

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como puro. A seguir, Moisés purificou o dedão direito dos sacerdotes. O dedão, como sabemos, é essencial para caminhar. Ao purificá-lo, Moisés quis indicar que eram sacerdotes onde quer que fossem, e não apenas no ofício, estivessem ou não paramentados. Suas vidas ruiriam sem a purificação divina. Moisés quis mostrar também que um sacerdote só permanece em pé pelo poder de Deus na sua vida. Quando o sacerdote confia na força do ritual, seu ofício fica vazio. Quando o ministro confia nas suas palavras, não profere a Palava de Deus. Todos os cristãos são cristãos porque experimentaram este grande momento, quando foram purificados. A esta purificação o Novo Testamento chama de justificação. Pelo sacrifício do Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, o Cordeiro da purificação definitiva, fomos tirados da culpa e absolvidos do nosso pecado contra Deus. O sacrifício do Cordeiro da purificação definitiva, não precisa ser mais repetido. A fé o atualiza de uma vez só em nossa vida. Graças a Deus. No entanto, a purificação ou justificação é apenas o primeiro momento, indispensável momento, que não pode ser transformado em ponto de chegada, mas ponto de partida. Infelizmente, há muitos cristãos satisfeitos em terem sido alcançados pelo sacrifício do Cordeiro. Contentam-se em ter passado pelo ritual da purificação e não permitem que Deus lhes faça passar pelas outras etapas da vida cristã. Quem queremos abençoar outras pessoas precisamos passar pelos outros estágios que Deus requer. Quem queremos ser realmente abençoados precisamos conhecer outros momentos que Deus tem para nós. DEDICAÇÃO O segundo estágio é o da dedicação ou apresentação (Levítico 8.26-29). Então, do cesto de pães sem fermento que estava perante o Senhor, apanhou um pão comum, outro feito com óleo e um pão fino [ou bolo, doce], e os colocou sobre as porções de gordura e sobre a coxa direita. Pôs tudo nas mãos de Arão e de seus filhos e moveu esses alimentos perante o Senhor como gesto ritual de apresentação. Depois Moisés os pegou de volta das mãos deles e queimou tudo no altar, em cima do holocausto, como uma oferta de ordenação, preparada no fogo, de aroma agradável ao Senhor. Moisés pegou também o peito que era a sua própria porção do carneiro da ordenação, e o moveu perante o Senhor como gesto ritual de apresentação, como o Senhor lhe havia ordenado. Agora que os cinco sacerdotes (Arão e seus quatro filhos) estavam purificados por Deus, não por eles mesmos -- é preciso que repitamos --, podiam ser apresentados ao Senhor para o serviço. Por isto, o próximo gesto de Moisés foi pegar dois pães salgados e um bolo de uma cesta e misturá-los com carne e gordura. Fez com que os elementos descansassem um pouco e os entregou nas mãos dos sacerdotes. Em seguida, tomou-os de volta e os levantou bem alto diante de Deus, em sinal de oferecimento a Ele. Pouco depois, queimou-nos no altar, como oferta pela ordenação dos sacerdotes. Por último nesta etapa, Moisés pegou a parte do carneiro reservada para si mesmo e também o ofereceu ao Senhor. Os pães, que já estavam na cesta, porque preparados previamente, eram de diferentes tipos, como os dons que a igreja recebe do Espírito Santo. Os pães, na verdade, eram de Deus e foram devolvidos a Ele, como os dons que o Espírito Santo nos dá. Nenhum deles é para o nosso próprio consumo, mas para a edificação da igreja. Devemos nos lembrar que devemos dedicar os nossos dons Àquele que no-los dá. Se nos esquecemos disto, eles não nos abençoam e nem abençoam a igreja. Os pães e a carne são a seguir queimados. Não eram para uso de mais ninguém. Só de Deus. Somos pães e carnes que pertencemos a Deus. Ele nos usa para alcançar outras pessoas que ainda não confessaram o Seu senhorio ou para animar pessoas que perderam a glória do Senhor sobre as suas vidas. Não podemos ser usados para qualquer outra finalidade. Neste momento, o mais significativo é que os pães e a carne são colocados sobre o altar. Quando colocamos nossas vidas sobre o altar, dizemos que pertencemos a Deus. Se pertencemos a Deus, Ele faz de nós o que Ele quer e não o que nós queremos. É muito difícil nos colocarnos no altar. Até podemos colocar nossos bens e até nossos talentos, mas nos colocarmos como sacrifício vivo, perfeito e agradável é duro porque achamos que vamos perder a nossa vida, embora, na verdade, iremos ganhá-la. Quero convidar você a se dedicar a Deus. Talvez você tenha um dia feito esta dedicação, mas antes que o sangue de Jesus Cristo e o óleo do Espírito Santo colorissem suas vestes, você se cansou, desanimou e desistiu de servir. Dedique-se ou se rededique ao Senhor. Quando Deus veio ao seu encontro, você se encantou com Ele, você gritou "Santo! Santo! Santo!", mas você também se apresentou a Ele: "Senhor, envia-me a mim"? Você já colocou os dons que Deus lhe deu ao serviço dEle ou tem procurado retê-los para si? Você já colocou a sua vida no altar de Deus ou ainda está com medo do que Ele possa lhe pedir. Você já se colocou no altar para ser queimado ou pulou antes que o fogo de Deus fosse aceso? Eu dediquei minha vida ao meu Senhor. Meus pais contavam que, quando eu nasci, eles me dedicaram ao

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Senhor. Eu só vim a saber disto muito tempo depois. Foi muito bom saber disto, mas aquela dedicação era apenas um desejo, até que eu mesmo o fiz, tornando-a uma realidade. DISPONIBILIDADE Disponível para Deus eu quero ser, operando a salvação que me alcançou vivendo pela graça do seu poder para que eu seja testemunha de amor. Reaviva, oh Deus, o dom que em mim há, para que a minha vida fique de ti cheia, para que o mundo em Jesus creia, para que venhas sobre nós governar. Disponível para Deus quero viver, pois seu Espírito guardado me tem e em minha direção sempre vem pois seu cuidado é sempre para valer. Disponíveis para Deus eu quero ver todos que viram a sua redenção porque firmaram com Ele aliança e dependem sempre da sua unção. (Israel Belo de Azevedo) Diga como o apóstolo Paulo: Não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se tão-somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus (Atos 20.24) UNÇÃO O terceiro momento é o da unção (Levítico 8.30). A seguir, [Moisés] pegou um pouco do óleo da unção e um pouco do sangue que estava no altar e os aspergiu sobre Arão e suas vestes, bem como sobre seus filhos e suas vestes. Assim consagrou Arão e suas vestes, e seus filhos e suas vestes. Por que o óleo? Jacó é a primeira pessoa na Bíblia a usar o óleo para uma finalidade religiosa. Depois de ter dormido na beira da estrada, quando fugia de casa, ele tomou a pedra que havia posto por travesseiro e a erigiu em coluna, sobre cujo topo entornou azeite (Gênesis 28.18). Quando voltou ao mesmo lugar, Betel, ele repetiu o gesto e erigiu uma coluna de pedra no lugar onde Deus falara com ele; e derramou sobre ela uma libação e lhe deitou óleo (Gênesis 35.14). Abraão, o avô de Jacó, tinha o hábito de celebrar os grandes momentos da sua vida com a edificação de altares. Seu neto também segue a sua tradição, acrescentando-lhe um elemento novo: o derramamento do óleo, preparado a partir do fruto da oliveira, a azeitona. Na experiência dos patriarcas de Israel, esta aspersão simboliza o reconhecimento da presença de Deus num determinado lugar, a separação (ou consagração) daquele lugar e também o oferecimento de um voto (compromisso) diante do Senhor. Quando o povo de Israel deixou o Egito, Deus recomendou o ritual, agora para consagrar lugares e pessoas. Os livros de Êxodo e Levíticos trazem os procedimentos a serem usados no uso do óleo da unção (Êxodo 29.7) ou óleo santo ou sagrado (Êxodo 30.25, 37.29) A partir daí tornou-se obrigatório, junto com o sangue, na cerimônia de consagração dos sacerdotes. Quando Israel adotou a monarquia, um novo rei era empossado com o derramamento de óleo sobre a sua cabeça. Samuel, por exemplo, fez isso com Saul e com Davi. Os profetas e os sacerdotes ungiram outros reis. A unção com óleo se estendeu para outras áreas da vida. Quando Rute foi se encontrar com Boaz, sua sogra lhe pediu para se ungir com óleo, isto é, perfumar-se (Rute 3.3). Quando uma pessoa querida ou ilustre visitava a outra, era ungida com óleo, como indicação de afeto ou honra (Salmo 23.5; Lucas 7.46). Quando alguém estava enfermo, a oração por ele podia incluir a unção com óleo (Tiago 5.14). Mais tarde, o verbo "ungir" passou metaforicamente a significar separação ou consagração, mesmo que sem o uso do óleo. Quando começou o Seu ministério, Jesus foi ungido pelo Pai, sem óleo. Ele recebeu, então, o poder para ministrar. Este é, portanto, o sentido último da unção: o revestimento divino para o cumprimento de uma missão, que passa a ser desempenhada não em nome do enviado mas em nome dAquele que o envia. Ser ungido é ser separado e capacitado para falar e fazer o que Deus inspira ou determina. A cerimônia de consagração levítica inclui a aspersão do sangue. A roupa do sacerdote devia ficar marcada para sempre com pingos de sangue. Por que? No Antigo Testamento, o sangue na veste indicava um memorial da separação; era uma marca para sempre.

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Toda vez que se vestisse, o sacerdote seria lembrado que fora separado para fazer o que estava fazendo. Seus gestos eram humanos, mas seu significado era divino. No Novo Testamento, o sangue, não mais o sangue de um animal sacrificado sobre um altar, mas o sangue do Cristo (ungido) sacrificado na cruz para todos os que aceitam o Seu oferecimento, torna puro, dedicado e separado todo aquele que tem a sua vida lavada no sangue do Cordeiro, que é Jesus. Alguém pode derramar óleo sobre a nossa cabeça, mas só Jesus pode nos lavar com o Seu sangue. Todo aquele que é salvo pelo derramamento do Seu sangue pode ser ungido, com ou seu óleo, para abençoar outras pessoas. A esta experiência de ser ungido o Novo Testamento chama de derramamento (o mesmo que unção) do Espírito Santo. Assim, a unção do Espírito Santo é um "derramar" da graça de Deus sobre a vida do crente, como se fosse um óleo descendo sobre o seu corpo. O resultado é uma sensibilidade maior para ouvir a voz do Senhor, um desejo imenso em servir e uma capacitação especial para cumprir a tarefa que lhe foi delegada. Esta unção acontece geralmente após a conversão e pode e deve se repetir ao longo da experiência cristã. Ela vem em seguimento a uma intensa busca por Deus. Um dos textos mais ricos para entendermos o que acontece quando Deus nos unge é o de Êxodo 31.1-6: Disse mais o Senhor a Moisés: "Eis que chamei pelo nome a Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do Espírito de Deus, de habilidade, de inteligência e de conhecimento, em todo artifício. (...) Eis que lhe dei por companheiro Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã; e dei habilidade a todos os homens hábeis, para que me façam tudo o que tenho ordenado". Jesus disse que seus discípulos não deveriam começar seus ministérios antes que recebessem a unção, isto é, o revestimento do poder do Alto (Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder. -- Lucas 24.49; cf. Atos 1.8) A partir do Pentecoste (Atos 2), a experiência do revestimento do poder do Espírito Santo (que nada tem a ver com poder humano) tornou-se uma possibilidade concreta para todos os seguidores de Jesus, a exemplo do que aconteceu no Novo Testamento: Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça ( Atos 4.33). Esta realidade é uma promessa viva para cada um de nós. Quem é ungido não é melhor ou superior, mas alguém que recebeu uma capacitação especial para o serviço. Esta unção se manifesta em termos de confiança no poder de Deus, certeza da Sua presença, coragem para fazer o que Ele pede e capacitação para testemunhar do Seu amor e graça. Depois que somos purificados por Deus e depois que nos apresentamos a Ele, colocando-nos Seu altar, Deus nos unge para o seu trabalho. É só a partir deste momento que somos habilitados para fazer o que Ele nos pede. Alguns podemos ficar apenas na purificação, satisfeitos com a salvação. No entanto, uma vez que nos dedicamos a Ele, a unção vem. Só então passamos a espalhar seu óleo e seu sangue por onde quer que passemos. Carrego na minha vida o sangue de Cristo e o óleo do Espírito Santo? Eu preciso responder a esta pergunta para mim mesmo. Você precisa responder a esta pergunta para você mesmo. Com certeza, os que cremos tivemos nossas vestes lavadas pelo sangue do Cordeiro. Certamente, se temos desenvolvido os ministérios que Deus nos confiou, o Seu Espírito nos tem ungido. Tenho eu me lembrado disto? Tenho eu achado que fui salvo pelos meus próprios méritos. Possivelmente há cristãos que olhem para si mesmos e passem a achar que mereceram a salvação que receberam. Se você pensa assim, saiba que você pode estar próximo de cair. Para se manter em pé, saiba que foi lavado pelo sangue de Jesus. Você não se purificou a si mesmo; foi o Filho de Deus Quem o purificou, justificando-o, salvando-o. Tenho eu falado de mim mesmo? Há tantas verdades na Bíblia, que tendemos a repeti-las, sem as consideram como devem ser consideradas. Sabemos tantas verdades, que tendemos a usá-las, em lugar de buscar a verdade vinda do Espírito Santo. Minha oração a Deus é que eu nunca fale de mim mesmo, mas que eu exponha a Bíblia, da maneira mais fiel que eu consiga. Por isto, eu peço a Ele que me ilumine, para encontrar os textos mais adequados, para perceber os temas neles apresentados, mesmo aqueles escondidos como pérolas profundas em ostras submersas, fazer as aplicações mais próprias para a mente e para o coração dos que me ouvem ou lêem. A felicidade de um proclamador é ser ungido, para não ter que falar de si mesmo. A palavra própria agrada pelo brilho de quem fala, mas a palavra ungida muda mentes e corações. MEDITAÇÃO O requisito final da cerimônia de consagração é a meditação (Levítico 8.31-35). Arão e seus filhos fizeram tudo o que o Senhor tinha ordenado por meio de Moisés. Moisés recorda aos sacerdotes o que deviam fazer. Eis o que ele, então, disse a Arão e a seus filhos:

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"Cozinhem a carne na entrada da Tenda do Encontro, onde a deverão comer com o pão do cesto das ofertas de ordenação, conforme me foi ordenado: 'Arão e seus filhos deverão comê-la'. Depois, queimem o restante da carne e do pão''... (Levítico 8.31-32). Em seguida, o dirigente oferece-lhes uma instrução aparentemente estranha: "Não saiam da entrada da Tenda do Encontro por sete dias, até que se completem os dias da ordenação de vocês, pois essa cerimônia de ordenação durará sete dias. O que se fez hoje foi ordenado pelo Senhor para fazer propiciação por vocês. Vocês terão que permanecer dia e noite à entrada da Tenda do Encontro por sete dias e obedecer às exigências do Senhor, para que não morram; pois isso me foi ordenado" (Levítico 8.33-35). Após aquelas experiências tremendas, os sacerdotes deviam ficar sete dias à entrada da Tenda do Encontro (ou tenda da congregação ou tenda sagrada) "ruminando" aquelas lembranças e recebendo as instruções de Deus, isto é, observando as prescrições (exigências) do Senhor (verso 35), para o ministério que iriam desenvolver. Depois da purificação, da dedicação e da unção, chegara a etapa da meditação. Aqueles eram dias para tomarem ciência da sua responsabilidade e da ação de Deus nas suas vidas. O Senhor os separara, e eles não podiam banalizar aquelas experiências. Aquele era um compromisso sério, como o é todo compromisso diante de Deus. Não era para ser deixado de lado à menor dificuldade. Não podiam mais ir atrás de qualquer outro canto de sereia. A única Voz a ser ouvida era dAquele que os purificara, recebera sua dedicação e os ungira. Era nisto que era preciso meditar, para nunca mais ser esquecido. Naqueles tempos eles poderiamorar como o salmista: As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, Senhor, rocha minha e redentor meu! (Salmo 19.14) Nesses dias, eles seriam alimentados pela Palavra de Deus, de modo a torná-la suas próprias palavras. Eles iriam "comer" a Palavra de Deus, de modo que todos os sons que saíssem da sua boca teriam o perfume da Palavra de Deus. Em termos cristãos, seus valores seriam os de Cristo, sua mente seria a de Cristo. É impensável para nós, ditos modernos, ficar sete dias em meditação, como requeridos dos sacerdotes. Já temos dificuldade demais para ficar bem menos tempo... A salvação solicita de nós apenas que aceitamos ser purificados pelo sangue de Jesus. A dedicação demanda de nós uma decisão. A unção exige de nós uma busca. No entanto, a meditação espera de nós esforço, formada em termos de disposição, disciplina e obediência, disposição para fazer da Palavra de Deus a nossa palavra, disciplina para nos assentarmos para ouvir a voz de Deus e obediência ao Que esta Palavra nos diz. Sem meditação na Palavra de Deus, seguiremos outras vozes, nossas ou do mundo em que vivemos. Meditando nela, ficaremos no caminho que conduz a uma vida de serviço. A mente de Cristo se contrapõe à mente do mundo em que vivemos. Às vezes nos cansamos de crer na contra-corrente que passamos a viver segundo a corrente (a tendência) do mundo, embora sabendo que a contra-corrente é a nossa direção e a via da nossa vida. A corrente do mundo, por exemplo, destila que o prazer deve ser buscado como alvo supremo, pouco importando o seu preço e muito menos as suas conseqüências. Nesse caso, a máxima é clara: faça o que quiser com o seu corpo. Se a Palavra de Deus não estiver em nós, isto é, se não estivermos com ela dentro de nós, ouviremos as vozes do mundo. Assim, se de um relacionamento sexual fora do casamento (logo pecaminoso) acontecer o "acidente" da gravidez, não há problema: "mate o bebê; faça um aborto". A vida deixa de ser um dom de Deus, para ser uma decisão de um casal irresponsável, que decide quem vive e quem morre. A corrente do mundo valoriza os vitoriosos, sem que ponha à frente os critérios para a vitória. Predomina a política do "vale-tudo": "o importante é eu me dar bem". Se a Palavra de Deus não se tornar a nossa, adotaremos as palavras do mundo e nos comportaremos com a ansiedade típica daqueles que não crêem que Deus não cuida de nós e que não "honra" a nossa fidelidade a Ele. A corrente do mundo impõe que sejamos aceitos por ele. É impressionante a nossa capacidade de "agradar" ao meio em que vivemos. Basta darmos uma circulada pelos shoppings para vermos garotinhas fumando... numa espécie de ritual de passagem para a aceitação. É claro que é bom sermos amados, mas a palavra que nos deve encantar é aquela do Pai a Jesus: "Eis o meu filho, em quem tenho muito prazer" (Mateus 3.17). Como saberemos que é assim que Deus nos considera (como filhos amados), se não lemos a Sua Palavra? Sabemos que pensamos com o que o que colocamos em nossa mente. É por isto que Moisés recomendou que os novos sacerdotes gastassem tanto tempo diante de Deus. Esta é uma instrução para todos, como nos recorda Josué: Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido (Josué 1.8). Quando nós meditamos na Palavra de Deus, nós vemos a Sua ação em nosso favor. Isaque, por exemplo, estava diante de um problema de difícil solução (encontrar uma namorada para casar... até hoje algo complexo...). Em meio à dificuldade, ele saiu para meditar no campo, ao cair da tarde; erguendo os olhos, viu, e eis que vinham camelos (Gênesis 24.63), camelos que transportavam a sua futura amada...

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O apóstolo Pedro era um judeu que acreditava na Messias e que acreditava que, no final dos tempos, Deus salvaria a todos, mas a prioridade era de Israel. Sua visão mudou depois de uma visão e de sua meditação acerca desta visão. Diz o texto bíblico: Enquanto meditava Pedro acerca da visão, disse-lhe o Espírito: Estão aí dois homens que te procuram (Atos 10.19). Voltando ao texto de Levítico, não temos como nos perguntar por que os sacerdotes deviam meditar sete dias à porta da tenda da congregação para que não morressem? A instrução tem uma aplicação clara: se não meditamos na Palavra de Deus, nós morremos. Se não levamos Deus a sério, não levamos mais nada a sério. Estamos espiritualmente mortos, se não somos leitores e meditadores na Palavra de Deus. A meditação é o resultado de um chamado. Quando meditamos na Palavra de Deus, nós nos alimentamos, nós pensamos e nos inspiramos na força dAquele que se sacrificou por nós. Quando somos recordados desta verdade, somos animados a esperar Deus realizar o Seu propósito para conosco. É assim que somos fortalecidos no Senhor e na força do seu poder (Efésios 6.10). *** Todos queremos receber as bênçãos de Deus, mas a mais sublime que Ele nos dá é sermos bênçãos para os outros. Ter e usar a oportunidade de servir é uma bênção ao alcance de cada um de nós. Esta é uma providência da sabedoria divina para os seus filhos. Temos sido purificados pelo sangue salvador de Jesus? Temos nos apresentado a Deus? Temos dedicado as nossas vidas a Deus. Temos colocado nossas vidas no Seu altar? Temos sido ungidos por Ele para fazer a Sua obra de redenção? Temos transpirado a Sua palavra do nosso corpo? Temos tomado como providência dEle para conosco todas as oportunidades que temos para servir?

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2 PUREZA: SER MENOS PARA SER MAIS "Quem poderá subir o monte do Senhor? Quem poderá entrar no seu Santo Lugar? Aquele que tem as mãos limpas e o coração puro, que não recorre aos ídolos nem jura por deuses falsos. Ele receberá bênçãos do Senhor, e Deus, o seu Salvador lhe fará justiça". (Salmo 24.3-5 -- NVI) "O teu desejo é a tua prece". (Agostinho) NÃO se deixe enganar por você mesmo. Quanto mais de Deus, menos de mim.

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UM CONVITE PARA SER VIVIDO Também tenho alguns santos no meu altar, todos homens segundo o coração de Deus, a quem também quero me apresentar seguindo os seus reais exemplos seus: Abraão, que amou um filho, mas o outro desprezou Davi, poeta do Senhor, que seu templo não aceitou Elias, que derrotou um rei que depois o prostrou Paulo, que em seus discípulos nem sempre confiou Martin Luther King Jr., cuja glória o sexo manchou Dietrich Bonhoeffer, que pegar em armas planejou Bartolomé de Las Casas, que os negros não honrou. Não quero ser o pai que abandona um filho, uma filha, mas um que tem a coragem de fazer o sacrifício; não quero agir como o forte que esquece a família, mas como o que a presença de Deus deixa tranqüilo; não quero temer a caverna com o seu perigo fictício; mas quero ficar firme quando o medo minha alma fervilha não quero me agitar com o amigo que a ingratidão dedilha, mas quero estar pronto para caminhar a segunda milha; não quero cair vítima da pressão sobre o meu ofício, mas quero uma biografia em que a pureza brilhe; não quero outro método além da resistência que não estilha, mas quero enfrentar o adversário cuja força aniquila; não quero esquecer nenhuma boa causa de justiça, mas quero o dom da indignação que não perde a felícia. O santo é aquele que quer ser amado pelo Senhor, não o que a perfeição própria parece que argamassa não o que põe a férrea lei acima do doce amor mas o que vive com o coração nutrido pela graça. -- Eis o que deseja este resgatado pelo Salvador.

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PUREZA: SER MENOS PARA SER MAIS Ser puro é o desejo de todo ser humano. O fracasso nesta área tem angustiado a muitos cristãos sinceros. Um deles, já na maturidade, pai e avô, me procurou um dia com pedido de ajuda. Como fazia para se libertar de um hábito que o incomodava. Toda vez que encontra uma mulher, seus olhos percorriam o seu corpo, ao ponto de ela notar. Era algo automático, no ônibus, na igreja, no trabalho, na rua. -- Como faço para me libertar. -- Nada. --- Disse eu. -- Exceto orar. Enquanto tentar, vai fracassar. Peça a Deus para purificar você. Gostamos de pensar na pureza como sendo apenas a pureza sexual. Se é verdade que a honestidade sexual está implícita, a pureza preconizada por Jesus vai muito além. A pureza pode ser considerada como a matriz de todas as outras virtudes catalogadas por Jesus Cristo. Aprendemos com Kierkegaard que "pureza do coração é querer uma só coisa". "Puros de coração são aqueles que permitem que Deus assuma o supremo lugar dentro de si mesmos". 4 Neste sentido, os puros de uma igreja são o baluarte de uma igreja. São os puros ao redor do mundo (e eu espero que estejam nas igrejas, embora não possa ter esta certeza...) que sustentam o globo. As bem-aventuranças de Jesus são, portanto, um estilo de vida. Elas nos conclamam a ser pobres de espírito, a nos emocionar, a ser mansos, a nos incomodar com a injustiça, a exercitar a misericórdia e, agora, a ser puros. O que importa é o coração, uma vez que, como lembra o teólogo russo B. Vyseslavcev, "a religião é uma relação pessoal com Deus. Por isso, o contato com a divindade não é possível senão na profundidade do meu eu, na profundidade do coração, porque, como diz Pascal, Deus é sensível ao coração". 5 SER PURO Puro é aquele que tem coragem de se chegar para Deus e dizer, como o salmista: "Sonda-me" (Salmo 139.23). Puro, como ensino Francisco de Assis, é aquele que despreza as coisas terrenas e procura as celestes, nunca cessando de adorar e de ver o Senhor Deus verdadeiro com o coração e o espírito puro" 6 1. Ser puro é ter o coração vazio das trevas do eu. Em muitos corações, mesmos corações que se pensam transformados por Cristo, só há lugar para uma pessoa: ela mesma. Por natureza, o eu é treva, porque se fecha para o outro e mesmo para Deus. O eu nos obscurece, ao não permitir que olhemos para o horizonte, em termos de necessidades e de possibilidades. Quem é escravo do seu eu não é puro. Só quem é servo de Cristo é verdadeiramente puro, por se comportar como uma pessoa que permite que Deus reine em seu coração e afasta dele as trevas do eu. Precisamos ter em mente o que escreveu o russo Teófanes, o Recluso, no século 19: "O nosso coração é, na verdade, a raiz e o centro da vida. Ele mostra se o estado de ânimo da pessoa é bom ou mau e motiva as outras suas forças à ação. A seguir, depois que elas realizaram a sua obra, o coração recebe dentro de si o resultado dessas ações para reforçar ou enfraquecer o sentimento que caracteriza a disposição permanente da pessoa. Portanto, parece que ao coração dever-se-ia entregar a orientação da vida. De fato, muitos pensam assim, outros, menos. Na realidade, é o que acontece com muitas pessoas e menos com outras. Pode ser também que, no começo, fosse assim. Mas sobreviveram as paixões, atrapalhando tudo. Quando essas estão presentes, nosso coração não é um sinaleiro seguro, nossas impressões não são como deveriam ser, nossos gostos são perversos e levam à dissipação a ação das outras forças. Portanto, o programa é este: mantém o teu coração sob controle e submete a uma severa crítica todos os teus sentimentos, gostos e inclinações. Quando tiver sido purificado das paixões, teu coração poderá agir à vontade". 7. 2. Ser puro é ser livre da tirania do eu dividido (Tasker). Um dos males do cristianismo contemporâneo é a capacidade que muitos dos seus seguidores temos para fingir (parecer o que não é). Fernando Pessoa escreveu que o poeta é sobretudo um fingidor, no sentido que sintetiza os sentimentos do mundo, para usar uma imagem de Carlos Drummond de Andrade, e não apenas os seus. Há cristãos fingidores, mas num sentido nada poético. São capazes de uma vida pública muito diferente de uma vida íntima. Por isto, Jesus chama de felizes os puros de coração ou os de corações puros. Feliz é aquele cujo interior é puro. A vida dupla é uma enfermidade. Será que você vive uma vida dupla? Faça o teste. Abra seu coração para

4WALLACE, Ronaldo. Aí vem o sonhador. São Paulo: Vida, 2004, p. 252. 5Citado por SPIDLIK, Tomás. A arte de purificar o coração. São Paulo: Paulinas, 2005, p. 6. 6Citado por SPIDLIK, Tomás. A arte de purificar o coração. São Paulo: Paulinas, 2005, p. 5. 7Citado por SPIDLIK, Tomás. A arte de purificar o coração. São Paulo: Paulinas,'2005, p. 6

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Deus e diga: "Oh Deus, vê se há em mim algum caminho condenável". Se você tiver coragem para orar assim, você é um bem-aventurado. Você é puro de coração. Em lugar de coxear entre ser fiel ao compromisso com a santidade e ser dúplice no comprometimento com a impureza, o cristão deve ser firme e claro, não hesitante (cf. Tiago 4.8) ou morno (Apocalipse 3.16), em relação aos seus passos na vida. O salmista belamente mostra qual deve ser nossa postura. Nos versos 19 a 22, ele afirma que tem ódio completo de quem odeia ao Senhor. Ele não tem prazer em exaltar a Deus e achar interessantes os caminhos dos inimigos de Deus. Sua opção é clara. Por isto, nossa oração deve ser sempre esta: "Oh Deus, penetre em meu coração e veja se nele faz morada outro sentimento senão o de ser verdadeiro diante de Ti".. 3. Ser puro é ter prazer na luz de Deus. Pureza tem a ver com luz. E aqui é necessária uma distinção. Todas as religiões de mistério, tanto as antigas (como o gnosticismo) quanto as modernas (como a teosofia), dão grande valor à luz. Para essas religiões, a salvação acontece na vida de uma pessoa quando ela se expõe à luz divina. Essa luz encontra a luz humana e vai libertando-a progessivamente por meio do conhecimento. Esse processo de purificação aproxima a pessoa de Deus, ao ponto de fazer com que os dois se fundam numa só pessoa. Não é assim na revelação cristã. Deus e homem são radicalmente diferentes. Deus criou a luz e Seu filho Jesus é figuradamente (e não fisicamente) a luz do mundo. Quando convidada, essa luz invade a alma humana e revela suas impurezas. Apenas revela, não as tira. Deus espera que os homens se arrependam do seu padrão de vida e se ponham a viver segundo um novo compromisso. Quando nos pomos na luz, vemo-nos impuros; então, pedimos perdão a Deus. Até aqui fomos nós quem agimos. Então, e agora não somos os que agimos, somos perdoados. Essa é uma ação divina. Não existe autoperdão, como ensinam as religiões de mistério. Não existe autopurificação, como propõem as religiões de mistério. A luz de Deus que nos purifica não é uma luz interior. É uma luz do Alto, que recebemos voluntariamente e pedimos para habitar e iluminar nosso interior. Quando o salmista menciona a onipresença de Deus, ficamos com a impressão de um Deus que vigia. De fato, essa luz nos compromete. Não seria melhor que nos escondêssemos em altíssimo mar, ou que nos refugiássemos no fundo da madrugada, ou ainda mesmo que residíssemos no sótão da escuridão? Se somos da luz, não há como fugir da luz (vv. 7-9). Se não somos da luz, ela não nos incomoda. Embora isto seja verdade, a intenção do poeta é descrever o prazer que o fiel deve sentir diante de Deus, não importam as circunstâncias e os lugares. Seu convite é claro: se somos da luz, tenhamos prazer na luz. Se você é puro de coração, você tem prazer na luz. Essa semana uma pessoa tentou me convencer que falar palavrão e proferir gracejos inconvenientes não desagradam a Deus. Mesmo assim, disse ele, eu comungo (isto é: ele confessa seus pecados a um padre e é perdoado) todos os domingos. Fiquei imaginando se muitos de nós não fazemos como o meu conhecido. Mantemos nossos corações e nossos lábios e nos corpos na impureza a semana toda, mas aos domingos louvamos a Deus porque ele perdoa os nossos pecados. Se é assim, estamos em pior situação que meu amigo, que, pelo menos, confessa seus pecados. Nós, não, já participamos do pressupostos que somos perdoados. O convite aqui é outro: a uma vida que tenha prazer na luz de Deus, que tenha prazer em ser habitado por esta luz. Quem não tem prazer constante na pureza não é puro. É um fingidor, no pior sentido possível. É alguém que tenta fazer magias para Deus, o grande mister M. que a todos nos desmascara. DA PUREZA À SANTIDADE A palavra "santo" envelheceu e perdeu seu sentido primeiro, ela que nasceu na boca de Deus. O Pentateuco está pleno de instruções à santidade. O Livro de Levítico é o mais pródigo delas, nelas Deus pedindo inúmeras vezes: . "Vocês têm que fazer separação entre o santo e o profano, entre o puro e o impuro" (Levitico 10.10). . "Diga o seguinte a toda comunidade de Israel: `Sejam santos porque eu, o Senhor, o Deus de vocês, sou santo'" (Levítico 19.1). . "Consagrem-se, porém, e sejam santos, porque eu sou o Senhor, o Deus de vocês" (Levitico 20.7). . "Vocês serão santos para mim, porque eu, o Senhor, sou santo, e os separei dentre os povos para serem meus" (Levitico 20.26). A exigência da santidade, portanto, não é de nenhuma instituição. Vem diretamente de Deus mesmo, a partir de sua própria santidade, que Ele mesmo apresenta como o alvo a ser alcançado pelos seres humanos. PRESSUPOSTOS NECESSÁRIOS Todos queremos viver na presença de Deus, ser por Ele orientado, ser por Ele protegido. No entanto, segundo a Bíblia que nos garante esta orientação e esta proteção da presença divina, ninguém pode ver o Senhor Deus

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sem santidade (Hebreus 12.14). Escrevendo aos irmãos de Corinto, o apóstolo Paulo olha para si e declara algo que nos deve soar como: "a nossa consciência dá testemunho de que nos temos conduzido no mundo, especialmente em nosso relacionamento com vocês, com santidade e sinceridade provenientes de Deus, não de acordo com a sabedoria do mundo, mas de acordo com a graça de Deus" (1Coríntios 1.12). Os cristãos são chamados por Deus para uma vida fora dos padrões do mundo que vive, mas segundo os sábios propósitos de Deus. O que Ele pediu ao povo de Israel ainda no deserto, Ele o pede a nós: "Eu sou o Senhor, o Deus de vocês; consagrem-se e sejam santos, porque eu sou santo. (...) Eu sou o Senhor que os tirou da terra do Egito para ser o seu Deus; por isso, sejam santos, porque eu sou santo" (Levitico 11.44-45). Numa caminhada de santidade, precisamos levar em conta três idéias essenciais, que devem permanecer como pressupostos para o nosso pensamento, para o nosso compromisso e para a nossa atitude. 1. Preciso saber que santidade não é um "não", mas um "sim" à justiça, à paz e à alegria. A definição é do apóstolo Paulo e aparece no contexto do legalismo a que queriam (e ainda querem) alguns transformar o cristianismo. Escreve ele: "o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo; aquele que assim serve a Cristo é agradável a Deus e aprovado pelos homens" (Romanos 14.17-18). Uma vida justa, em paz e alegre é uma vida cheia de vida, o território real da glória de Deus. Como anotou Irineu, no século 2, "a glória de Deus é uma pessoa cheia de vida". 8 Santidade é um compromisso com a retidão pessoal em atendimento aos padrões de Deus; esta retidão inclui o envolvimento com a justiça social como decorrência da justificação pela fé, efetuada em nós por meio da obra de Jesus Cristo. Santidade é a experiência da paz pessoal diante de Deus, graças ao caminho aberto por Jesus Cristo, paz esta manifesta no perdão que nos permite um relacionamento pessoal com Deus e nos estimula a relacionamentos de amor uns com os outros. Santidade é a fruição de uma alegria viva no Espírito Santo, alimentada pela certeza do amor divino para conosco e pela fraternidade à mesa, à mesa da casa do Senhor e às mesas de nossas casas. 2. Devo buscar a santidade para mim, não a santidade para o outro, porque isto é farisaísmo. Lembremo-nos das palavras de Jesus: "Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: 'Irmão, deixe-me tirar o cisco do seu olho', se você mesmo não consegue ver a viga que está em seu próprio olho? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão" (Lucas 6.41-42). É mais fácil olhar para as virtudes cristãs e desejá-las para os outros. No entanto, meu compromisso deve ser querê-las para mim, tão somente para mim. Uma das desgraças do cristianismo em todos os tempos é a hipocrisia, marcada pelo dedo apontado para outro. 3. Eu não me torno mais aceitável para Deus por causa do meu comportamento, porque isto é moralismo. O moralismo é a idéia que uma pessoa se torna mais aceitável por Deus em função do seu comportamento. Para o moralista, "a cruz não é a única base para a aceitação por Deus, mas um acessório para o nosso desempenho". 9 O moralismo é a morte da santificação, ao colocar toda ênfase no comportamemento humano. Na verdade, o moralismo é uma outra palavra para auto-santificação. Não nos esqueçamos da lembrança do apóstolo Paulo: "Ninguém será declarado justo diante dele baseando-se na obediência à Lei, pois é mediante a Lei que nos tornamos plenamente conscientes do pecado. (...) Sustentamos que o homem é justificado pela fé, independente da obediência à Lei" (Romanos 3.20,28). O filho de Deus obedece à Palavra de Deus porque é eum filho de Deus. Tomemos cuidado para transformar nossa busca pela santidade numa escravização à lei, uma atitude que não encontra base no ensino bíblico. 4. O amor de Deus para comigo se manifesta no mundo real, não no mundo idealizado. Mesmo quando eu fracasso, Deus continua a me amar e a me puxar. O profeta Isaías sintetiza a atitude de Deus para com o seu povo no passado e para conosco no presente: "Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho. Mas, quanto mais eu o chamava, mais eles se afastavam de mim. (...) Mas fui eu quem ensinou Efraim a andar, tomando-o nos braços; mas eles não perceberam que fui eu quem os curou. Eu os conduzi com laços de bondade humana e de amor; tirei do seu pescoço o jugo e me inclinei para alimentá-los. (...) Como posso desistir de você, Efraim? Como posso entregá-lo nas mãos de outros, Israel? Como posso tratá-lo como tratei Admá? Como posso fazer com você o que fiz com Zeboim? O meu coração está enternecido, despertou-se toda a minha compaixão (Oséias 11.1-4,8) Seu amor é o mesmo hoje para comigo. Apesar do que eu sou ou talvez por ser o que eu sou, necessitado de Deus, Ele insiste em me amar.

8Citado por YANCEY, Philip. Alma sobrevivente. São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p. 9. 9Cf. The Gospel. Disponível em <http://www.christcovenantchurch.info/gospel.html>. Acessado em 10.6.2004.

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5. A santidade é um processo. Que começa com um sentimento de indignidade diante de Deus, continua com um desejo de ser sondado e purificado por Ele e prossegue com uma atitude de obediência à Sua Palavra. Quando olhamos para Deus, não temos como não exclamar, como Isaías: "Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!" (Isaías 6.5). Nossa percepção de indignidade precisa nos levar ao desejo de ser purificado, como na convicção do poeta bíblico: Sonda-me, oh Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece as minhas inquietações. Vê se em minha conduta algo te ofende e dirige-me pelo caminho eterno (Salmo 139.23-24). A oração do cristão deve ser a de Davi: "Lava-me de toda a minha culpa e purifica-me do meu pecado. Pois eu mesmo reconheço as minhas transgressões, e o meu pecado sempre me persegue" (Salmo 51.2-3). Somos instruídos pela Palavra de Deus para uma vida santa. E eis o que ela nos diz: "Livrem-se de toda impureza moral e da maldade que prevalece, e aceitem humildemente a palavra implantada em vocês, a qual é poderosa para salvá-los. Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos. Aquele que ouve a palavra, mas não a põe em prática, é semelhante a um homem que olha a sua face num espelho e, depois de olhar para si mesmo, sai e logo esquece a sua aparência. Mas o homem que observa atentamente a lei perfeita, que traz a liberdade, e persevera na prática dessa lei, não esquecendo o que ouviu mas praticando-o, será feliz naquilo que fizer" (Tiago 1.21-25). O convite está posto, para toda a vida. A EXIGÊNCIA DIVINA POR SANTIDADE Podemos ser santos? Deus nos pede que o sejamos. O problema é que nós, seres humanos, temos envelhecido a exigência de Deus, seja descumprindo-a, seja fazendo exigências que Deus não fez, mas apresentando-as como dEle sendo. Tanto é que, para muitas pessoas, santo é aquele cristão que, tendo sido mártir durante alguma perseguição, foi elevado a uma categoria de intercessor para e pelos que estão vivos. Para ser santo, você não precisa ser um mártir, embora o santo se forje na fornalha do sofrimento. Para outras, santo é aquele cristão que, diante do ataque ou da injustiça, não reage. É por isto que, ao se enraivecer, é comum alguém dizer, por exemplo: "Eu não sou santo". Para ser santo, você não precisa ser uma mosca morta, porque o santo se ira, mas procura não pecar. Para outras também, santo é aquele cristão se abstém das práticas culturais de seu povo, negando seus desejos e até mesmo impondo flagelo ao seu corpo. Para ser santo, você não precisa impor cargas além daquelas postas pelo próprio Deus e que visam a bênção pessoal e a edificação da comunidade a quem abençoa. Para outros, santo é alguém que passa horas diárias de oração diante de Deus. Para ser santo, você precisa ter o ideal de ser um homem ou mulher de oração, mas não se mede por horas, mas por dependência. Pior que isto, há quem veja o santo como aquele cristão que faz uma pose de piedade, geralmente carrancuda, para consumo externo. Para ser santo, não precisa fazer pose; as pessoas o verão como tal, especialmente se você for alegre; a santidade é sorridente, não amarga. DA AUTO-SUPERAÇÃO PARA A ANIQUILAÇÃO DO EU O que é um santo? No Antigo Testamento, a santidade é um convite divino ao ser humano para a auto-superação através do sacrifício, num esforço de subida para onde Deus està. No Novo Testamento, a santidade é um convite divino para a auto-aniquilação através da imitação de Cristo, num esforço de descida. Santo é aquele que diz, para si mesmo e para os outros: "Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim" (Gálatas 2.20). Santo é quem é exclusivo para Deus. É aquele tem prazer em fazer parte de uma "geração eleita", de um "sacerdócio real", de uma "nação santa", como "povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" (1Pedro 2.9). O santo tem esta síntese magistral de Pedro inscrita nos umbrais de seus desejos, sabendo que antes não era nada, mas agora é parte do povo de Deus; não conhecia a misericórdia de Deus, mas agora conhece (1Pedro 2.10). Santo é quem se sabe separado e sabendo-se separado, acha-se separado, e achando-se separado, gosta de ser separado. Neste sentido, santidade é uma espécie de demarcação de território. Quando Moisés foi convidado para subir ao monte Sinai para se encontrar com Deus, parte da montanha foi demarcada, com lugares acessáveis e não-acessáveis (Êxodo 19). É o mesmo que o apóstolo Paulo disse que todas as coisas nos são licitas, mas nem todas convêm (1Coríntios 6.12). Santo é quem abre mão voluntariamente da obsessão pelo seu eu. O eu está nele, pressionando-o para escravizá-lo, mas ele o vence como Cristo venceu a morte. Quem vive nele é Cristo, não o seu eu. Quem rege a sua vida é Cristo, não o seu eu. Santo é alguém envolvido pela colorida atmosfera da graça da liberdade e da alegria, não do medo e da

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tristeza. Só uma tristeza o incomoda, mas é tristeza construtiva. O seu próprio pecado o entristece, ao ponto de gritar "miserável homem que sou" (Romanos 7.24). Sua tristeza o leva ao arrependimento. Deus gosta que nos entristeçamos assim. "A tristeza segundo Deus não produz remorso, mas sim um arrependimento que leva à salvação, e a tristeza segundo o mundo produz morte" (2Coríntios 7.9). Santo, portanto, é quem sabe que é um miserável pecador. Santo é quem continua assombrado diante do que Deus fez e faz A revelação bíblica não muda e ela pergunta: “Quem entre os deuses é semelhante a ti, Senhor? Quem é semelhante a ti? Majestoso em santidade, terrível em feitos gloriosos, autor de maravilhas?" (Êxodo 15.11). Diante dele é para tremermos, do alto a baixo, quando faz coisas grandes e faz coisas aparentemente pequenas. Em Jesus Cristo, vemos que "o Pai ama ao Filho e lhe mostra tudo o que faz. Sim, para admiração de vocês, ele lhe mostrará obras ainda maiores do que estas" (João 5.20). Tudo o que somos e temos "vem da parte do Senhor dos Exércitos, maravilhoso em conselhos e magnífico em sabedoria" (Isaías 28.29). Ser santo não é ter não desejos pecaminosos; é dominá-los, com a ajuda do Espírito Santo, até não os ter mais. O Cristo que vive em mim está sendo formado pelo Espírito Santo (Gálatas 4.19); chegará o tempo em que Ele tomará todo o nosso coração. Até lá é dor como dor de parto. Penso que é por isto que muitos não querem Cristo se formando em seus corações. Ser santo dói. O santo não gosta mais do que gostava, quando não fora alcançado pela misericórdia. O santo não permite que o pecado continue dominando os seus corpos mortais, levando-o a obedecer aos seus desejos. O santo não oferece os membros seu do corpo ao pecado, como instrumentos de injustiça, porque, antes, já o ofereceu a Deus "como quem voltou da morte para a vida" e o consagra como "instrumentos de justiça". Seu desejo é o pecado não domine os seus desejos, porque vive debaixo da graça (Romanos 6.11-14). O santo só vai onde Deus está. E ele não está, por exemplo, na casa de prostituição, na loja do jogo, no antro da corrupção, na roda da maledicência, na avenida da ira. O santo caminha a segunda milha com o próximo, mesmo que o próximo lhe tenha pisado no calo ou lhe tenha caluniado. O santo lhes perdoa porque não sabem o que fazem. Santo é quem tem vontade de comentar interpretativamente o que viu com o outro, mas se contenta em orar sobre o que viu, mesmo porque o santo não se acha superior (melhor) ao(s) outro(s), mas considera os outros como melhores que ele, seguindo o exemplo de Jesus, nada fazendo por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerando os outros superiores a si mesmo (Filipenses 2.3). O santo não confunde dignidade pessoal com vaidade pessoal. O santo vive cada minuto na convicção de que Deus o acompanha os seus segundos, e tem prazer nisto. O santo está seguro onde estiver, por causa da convicção de que Deus o acompanha. RESPOSTAS A ALGUMAS PERGUNTAS Quero responder agora a algumas perguntas: 1. Quem é santo? Santo é todo aquele que já teve sua vida lavada no sangue de Jesus, você foi salvo por ele. Se você olhou para si mesmo e não gostou do que viu porque viu um miserável, um monte de músculos e ossos aterrado num vale de ossos secos, você deu o primeiro passo para ser salvo. Se depois disto você olhou para a cruz e desejou ser restaurado por ela, tendo vida de novo, você foi salvo. Se você tem olhado ainda para sua vida e tem visto nela algo a ser restaurado, você é um santo, você de fato ama mais a Cristo, que fez tudo isto em você, do que ama a você mesmo, mas isto não quer dizer que não precise amar a si mesmo; ama, mas a partir do amor de Cristo e do amor a Cristo. Você pode ser salvo, se não o é. Você pode ser santo. Ser santo não é ser perfeito; é querer ser perfeito. 2. O que faço com meu temperamento e com os meus desejos? Há coisas notáveis em seu temperamento. Desenvolva-a. Há disposição horrorosas em seu temperamento. Vigie, para que ele não o prive da graça de Deus, nem para que você prive os outros da mesma graça. Há desejos magníficos em você, como o de adorar a Deus e o de ajudar os outros. Ponha-os sempre em prática. Há desejos lamentáveis em você, que guerreiam contra sua vontade de viver na presença de Deus todos os momentos, desejos que levam você para a mesma terra do filho pródigo ou para o mesmo destino de Jonas antes de ser engolido pelo grande peixe. Você sabe que não pode controlá-los, mas o Espírito Santo pode. Ponha-os também, não apenas suas virtudes, no altar de Deus; ponha ali sua paixão pela imoralidade, seu gosto pela idolatria, seu desejo de adulterar, sua tendência para a homossexualidade, sua vontade de roubar, sua vocação para a avareza, sua dependência do álcool, seu prazer pela maledicência, sua alegria em enganar os outros. Sabe por que? Porque você quer herdar o Reino de Deus e você já foi lavado, santificado, justificado no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus (1Coríntios 6.7-11). 3. Quem nos torna santos? É Deus que nos santifica. Ele o diz várias vezes em Levítico até ficar rouco: "Obedeçam aos meus decretos e

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pratiquem-nos. Eu sou o Senhor que os santifica" (Levítico 20.8; 21.8, 15, 23; 22.9, 16; 22.32). Então, não nos santificamos a nós mesmos? Não e sim. Não, porque o legalismo, a crença que cumprimentos regras nos tornamos dignos do amor de Deus, foi superado pela graça, a certeza que a graça nos torna dignos, num processo que a Bíblia chama de justificação. Sim, porque a graça espera que vivamos pela graça. O graça nos põe um gracioso padrão. A graça nos disciplina para que fruamos mais dela. "Nossos pais nos disciplinavam por curto período, segundo lhes parecia melhor; mas Deus nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade" (Hebreus 12.10). A graça quer supervisionar a nossa vida e nos convida a vontade para se deixar conduzir por ela. 4. Por que Deus nos pede para sermos santos? Porque santidade é uma coisa boa para nós. O autor aos Hebreus nos diz que sem "santidade ninguém verá o Senhor" (Hebreus 12.14b). Em outros termos, a teofania (uma visão de Deus) depende da santidade. O melhor fruto da santidade é paz... paz com Deus. Deus quer fazer maravilhosas, mas espera que nos santifiquemos (Josué 3.5). UMA DECISÃO Eu lhe pergunto: você gostaria de ser santo? Então: . Decida ser santo, começando pela salvação ou continuando com a salvação. . Peça consciência do seu pecado, mesmo que lhe doa. . Peça perdão pelo pecado, mesmo que lhe traga vergonha. . Alegre-se com o perdão o recebido. . No processo de se tornar um santo, no caminho para a perfeição, diante de uma tentação ou de uma provação ou de uma provocação, não diga "eu não sou santo", mas grite "Cristo vive em mim! Cristo vive e mim" Termino com a suave recomendação do apóstolo Pedro: "Como filhos obedientes, não se deixem amoldar pelos maus desejos de outrora, quando viviam na ignorância. Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem, pois está escrito: `Sejam santos, porque eu sou santo'. Uma vez que vocês chamam Pai aquele que julga imparcialmente as obras de cada um, portem-se com temor durante a jornada terrena de vocês. Pois vocês sabem que não foi por meio de coisas perecíveis como prata ou ouro que vocês foram redimidos da sua maneira vazia de viver, transmitida por seus antepassados, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito, conhecidob antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês. Por meio dele vocês crêem em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos e o glorificou, de modo que a fé e a esperança de vocês estão em Deus. Agora que vocês purificaram a sua vida pela obediência à verdade, visando ao amor fraternal e sincero, amem sinceramente uns aos outros e de todo o coração. Vocês foram regenerados, não de uma semente perecível, mas imperecível, por meio da palavra de Deus, viva e permanente. Pois `toda a humanidade é como a relva, e toda a sua glória, como a flor da relva; a relva murcha e cai a sua flor, mas a palavra do Senhor permanece para sempre'. Essa é a palavra que lhes foi anunciada" (1Pedro 1.14-25).

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"Quebranta meu coração, oh trino Deus, para ti. Bate à porta, respira, brilha e procura emendar-me; Para que eu me levante e permaneça de pé, abate-me e dobra-me. Usa tua força para me quebrantar, golpear, queimar e refazer. Eu, que como cidade usurpada, pertencia a outro, Esforço-me para te receber, mas oh, em vão. A razão, teu vice-rei em mim, deveria me defender, mas é cativa e mostra-se fraca ou falsa. Contudo, amo-te afetuosamente e, de bom grado, seria amado, mas fui contratado para casar com teu inimigo. Divorcia-me, desata ou quebra novamente esse. Recebe-me, aprisiona-me, pois eu, A não ser que me domines, jamais serei livre, Nem mesmo casto, apenas se tu me arrebatas." (John Donne, 1633 -- Tradução de Augustus Nicodemus) [Batter my heart, three-personed God, for you As yet but knock, breathe, shine, and seek to mend; That I may rise, and stand, o'erthrow me, and bend Your force to break, blow, burn, and make me new. I, like an usurped town, to another due, Labour to admit you, but Oh, to no end. Reason, your viceroy in me, me should defend, But is captived, and proves weak or untrue. Yet dearly I love you, and would be loved fain, But am betrothed unto your enemy: Divorce me, untie or break that knot again, Take me to you, imprison me, for I, Except you enthrall me, never shall be free, Nor ever chaste, except you ravish me. (John Donne -- Holy Sonnet 14)]

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EXERCÍCIOS ACORDE 1. Faça um inventário pessoal, perguntando-se: "Meu coração é mesmo íntegro?". Se preferir use a parte do final do texto adicional, a seguir, com as perguntas que sugere. (AUTO-CONHECIMENTO) 2. Confesse o seu pecado (ou pecados) nesta área da sua vida. Com coragem, admita em que não tem tem sido íntegro, nas mais diversas áreas, seja financeira (tem pago os impostos? tem dado seu dízimo? deve a alguém sem se empenhar em pagar?), sexual (como você olha para o sexo oposto? está-se relacionamento de modo inapropriado com alguém?) ou relacional (tem controlado sua língua em relação ao outro? tem usado a mesma língua que adora a Deus para difamar?) (CONFISSÃO) 3. Ore especificamente sobre as áreas em que tem dificuldade. Se quiser, use o soneto de de John Donne, para expressar seus sentimentos mais profundos. (ORAÇÃO) 4. Medite sobre o assunto. Use o texto bíblico indicado (Salmo 24.3-5: "Quem poderá subir o monte do Senhor? Quem poderá entrar no seu Santo Lugar? Aquele que tem as mãos limpas e o coração puro, que não recorre aos ídolos nem jura por deuses falsos. Ele receberá bênçãos do Senhor, e Deus, o seu Salvador lhe fará justiça".) Sublinhe esta passagem na sua Bíblia. Memorize-a. 5. Decida viver de modo puro. Esta é uma jornada para sempre. Que seja a sua. (DECISÃO) 6. Deixe-se ser purificado. Cuidado com o legalismo ("nada me convém"). Cuidado com o libertinismo ("tudo me é licito"). Empenhe-se para se entregar. Vigie para não retroceder. Mude seus hábitos. (ESFORÇO)

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LEITURAS SUGERIDAS AZEVEDO, Israel Belo de. O que é ser humano. Rio de Janeiro: MK, 2005. FRANGIPANE, Francis. O desafio da santidade. São Paulo: Vida, 2002. OWEN, John. A mortificação do pecado. São Paulo: Vida, 2005. WHITE, John. O caminho para a santidade. Niterói: Textus, 2005. WIERSBE, Warren W. A crise de integridade. São Paulo: Vida, 1983.

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[TEXTO ADICIONAL] EU PRECISO ME CONHECER Para ser santo, eu preciso me conhecer. Há dois textos que me ajudam a entender quem eu sou e eles são paradoxais, mas não contraditórios. São eles: 1Pedro 1.1-5 e Romanos 7.15-25. O que dizem estes textos a meu respeito? Comecemos por 1Pedro 1.1-5. "Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos de Deus, peregrinos dispersos no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na província da Ásia e na Bitínia, escolhidos de acordo com o pré-conhecimento de Deus Pai, pela obra santificadora do Espírito, para a obediência a Jesus Cristo e a aspersão do seu sangue: graça e paz lhes sejam multiplicadas. Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Conforme a sua grande misericórdia, ele nos regenerou para uma esperança viva, por meio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança que jamais poderá perecer, macular-se ou perder o seu valor. Herança guardada nos céus para vocês que, mediante a fé, são protegidos pelo poder de Deus até chegar a salvação prestes a ser revelada no último tempo". (1Pedro 1.1-5) 1. Sou um peregrino (1Pedro 1.1,3). Se a vida que vivo é boa, ela não me satisfaz, porque há outra vida mais plena da glória de Deus, que agora vejo parcialmente. Se a vida que vivo é dura demais, ela é muito diferente da que viverei quando estiver face a face com o meu Deus. Virá um tempo em que conhecerei plenamente, a mim mesmo e ao meu Senhor (1Coríntios 12.3). Não posso me esquecer da vida de agora, mas não posso sacralizar a vida de agora, em função da vida definitiva pela qual aguardo. Na verdade, eu sou um regenerado para uma viva esperança. Tenho eu vivido como peregrino ou ando agarrado demais aos prazeres ou às pressões desta vida, e ainda reclamo do estresse que minhas escolhas geram? 2. Sou um escolhido de Deus (1Pedro 1.2,5). Às vezes, por causa desta viva esperança ou por causa de uma barreira psicológica, passo a ter um conceito muito elevado de mim mesmo, até recordar as palavras de Jesus aos seus discípulos, de ontem e de hoje: "Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça, a fim de que o Pai lhes conceda o que pedirem em meu nome" (João 15.16). Por ter me escolhido, Ele peregrina comigo e me protege na minha produção de fruto. Na verdade, não produzo fruto de mim mesmo, porque sou um ramo da videira. Reouçamos a palavra de Jesus: "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda. Vocês já estão limpos, pela palavra que lhes tenho falado. Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Vocês também não podem dar fruto, se não permanecerem em mim. Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma" (João 15.1-5). A alegria de Paulo para com os seus ouvintes deve ser a mesma para conosco: "Nós devemos sempre dar graças a Deus por vocês, irmãos amados pelo Senhor, porque desde o princípio Deus os escolheu para serem salvos mediante a obra santificadora do Espírito e a fé na verdade. Ele os chamou para isso por meio de nosso evangelho, a fim de tomarem posse da glória de nosso Senhor Jesus Cristo" (2Tessalonicenses 2.13). Tenho diariamente agradecido a Deus por ter me escolhido para o Seu reino? Tenho agradecido a Deus por aqueles que me trouxeram o Evangelho? Tenho fruído a certeza da salvação que me alcançou por meio de Jesus Cristo? 3. Sou um transgressor das leis de Deus. Sou peregrino e sou escolhido. Que belas notícias, mas há outras, e não são boas... O apóstolo Paulo fala da sua condição espiritual, mas o sujeito que fala em Romanos 7.15-25 é todo cristão. "Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio. E, se faço o que não desejo, admito que a Lei é boa. Neste caso, não sou mais eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas

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não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Assim, encontro esta lei que atua em mim: Quando quero fazer o bem, o mal está junto a mim. No íntimo do meu ser tenho prazer na Lei de Deus; mas vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo, guerreando contra a lei da minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do pecado que atua em meus membros. Miserável homem que eu sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor! De modo que, com a mente, eu próprio sou escravo da Lei de Deus; mas, com a carne, da lei do pecado" (Romanos 7.15-15). Penso que há cristãos mais cristãos que o apóstolo Paulo. São sábios e santos aos seus próprios olhos (Romanos 12.16). A realidade é outra: não somos o que achamos que somos. Logo, não posso ser árbitro de ninguém (Colossenses 2.18). O pecador nem sempre se acha pecador. O mentiroso acha que o mentiroso é o outro e é até capaz de se indignar com a mentira do outro. O maledicente está seguro que o veneno habita na língua do seu próximo, não na sua; nela só a verdade vale. O vaidoso diz que faz coisas grandiosas para a glória de Deus. O injusto e o desonesto encontram justificativas que os absolvem plenamente, de modo a poderem prosseguir na injustiça e na desonestidade. O hipócrita está convencido que luta pela preservação da boa doutrina. Philip Yancey conta a história da igreja da sua infância e adolescência. Ele quase deixou a igreja por causa do racismo dela; nela, negro não entrava. Assim mesmo ela se julgava uma combatente da fé. Yancey esteve na cerimônia de fechamento da igreja, por falta de gente, mas o pastor declarou que a sua comunidade combatera o bom combate. 10 Olho também para nossa igreja. Quantos perderam a fé por nossa culpa? As crianças têm prazer em crescer aqui ou temos colocado a ordem como o valor mais importante? Os adolescentes se sentem em casa aqui ou precisam buscar outros ambientes? Os jovens se acham parte da igreja ou são colocados à margem. Os adultos podem expressar a sua fé na liberdade do espírito ou têm uma camisa-de-força para vestir? Os idosos são ouvidos e respeitados? Tremo em pensar que eu tenha contribuído para propagar um Evangelho que não seja o Evangelho de Jesus Cristo. Cada um de nós pode ser um Davi antes de cair em si. O rei de Israel foi capaz de condenar o homem que cometera a violência de tirar de um pobre o único bem que tinha. Davi precisou do profeta Natã para perceber que ele era o homem que condenava. Ah! se todos fossem cristãos como eu sou!" -- parecem tristemente dizer alguns. Paulo se achava um miserável por causa dos pecados que cometia, e não estava cometendo uma figura de linguagem... Eis o que somos: transgressores da lei de Deus. Se somos transgressores, o mínimo que devemos ser é isto: humildes. Somos todos iguais no Reino de Deus. Por mais que nos doa, não habita bem algum em nós, naturalmente falando. O bem que habita em nós é o bem do Espírito Santo que habita em nós. Por que nos achamos tão cheios de mérito? Preciso, na verdade, falar como Davi: "eu mesmo reconheço as minhas transgressões, e o meu pecado sempre me persegue" (Salmo 51.3). A nossa natureza pecaminosa não foi erradicada, embora alguns ensinem que o cristão não peca mais. A verdade é outra: mesmo depois de salvo, o homem peca, para a tristeza de Deus. 4. Sou uma contradição ambulante. Preciso aprender a conviver com as minhas próprias contradições. Como Paulo, no íntimo do meu ser tenho prazer na Lei de Deus e, ao mesmo tempo, sou prisioneiro da lei do pecado que atua em meus membros. Por isto, faço o mal que não quero e não faço o bem que quero. Na verdade, com a mente, eu próprio sou escravo da Lei de Deus; mas, com a carne, da lei do pecado. Assim sou eu, e preciso saber que assim sou eu. Ser santo é conhecer a si mesmo, no brilho e na sombra. Ser santo é saber que cair faz parete da caminhada. Ser santo é se alegrar com a graça e se entristecer com a queda. Ser santo é mergulhar no absoluto de Deus e se agitar na limitação do próprio ser. Ser santo é abrir o peito para ser sondado pela luz de Deus. Ser santo é ter prazer na presença de Deus. Ser santo é ter alegria no convívio com a criação de Deus (plantas, animais e homens). UM PEDIDO NECESSÁRIO Se a santidade começa com o auto-conhecimento, precisamos nos perguntar se um dia nos conheceremos como somos. O auto-conhecimento é um processo, que jamais terá fim, mas precisamos ficar neste caminho. O conhecimento de nós mesmos é dependente de nosso conhecimento de Deus (como ensinou Meister

10YANCEY, Philip. Alma sobrevivente. São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p. 9.

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Eckhart. 11 Por isto, quem pensa conhecer alguma coisa, ainda não conhece como deveria. Mas quem ama a Deus, este é conhecido por Deus (1Coríntios 8.2-3). Conhecemos a Deus quando O amamos. Um cristão nunca progride na sua vida de santidade se não conhece a si mesmo. Se um cristão não tem consciência dos seus pecados ou da sua real condição espiritual, ele não poderá progredir na sua vida cristã. No entanto, o cristão também que por si mesmo não terá uma percepção adequada de sua real condição espiritual. Esta é uma ação do Espírito Santo em sua vida. O caminho para o auto-conhecimento começa com um pedido: Sonda-me, oh Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece as minhas inquietações. Vê se em minha conduta algo te ofende e dirige-me pelo caminho eterno (Salmo 139.23-24). Sonda-me, Senhor, e prova-me, examina o meu coração e a minha mente (Salmo 26.2). Quando oramos assim, reconhecemos que não podemos nos examinar a nós mesmos, porque nossa capacidade de auto-exame está corrompida. Nosso coração é enganoso (Jeremias 17.9). Precisamos saber que "somente quando Deus nos sonda e nos prova, podemos ter um conhecimento acurado a nosso próprio respeito. Nosso auto-conhecimento não depende de nosso auto-exame. Antes, depende da inspeção de Deus. (...) Deus nos conhece mais claramente e mais precisamente que nós mesmos. Tudo fica descoberto e aberto diante dEle. Ele vê e conhece até a parte mais escondida de nosso coração, que nem nós mesmos somos capazes de sentir ou analisar. Quando temos Sua luz, não nos enganamos e conhecemos nossa real condição". 12 PERGUNTAS QUE PRECISO ME FAZER Preciso me fazer algumas perguntas, então, neste processo: 1. Considero o mandamento à santidade como algo para mim? Quero obedecer à Palavra de Deus e ser santo? Leio na Bíblia que Deus nos chama para ser santos (Romanos 1.7): Consagrem-se, porém, e sejam santos, porque eu sou o Senhor, o Deus de vocês. Obedeçam aos meus decretos e pratiquem-nos. Eu sou o Senhor que os santifica (Levitico 20.7-8). Tenho ouvido e lido que a santidade não é para homens e mulheres de verdade, que santidade é para espíritos fracos e corpos encurvados e que santidade é uma invenção das igrejas para controlar as pessoas. Mas eu sei que tu me queres santo e forte e livre, porque me redimiste com a graça, pela graça e para a graça de Jesus. Tenho visto muitos que se dizem santos e confundem santidade com legalismo e tristeza. Mas eu sei que não é a santidade que queres para mim, pois me queres praticante da justiça, promotor da paz e alegre no Espírito Santo. Oh, Deus, esta é a minha oração: Quero ser santo. Ajuda-me, Senhor, que por mim mesmo não posso subir, se não for puxado por ti. 2. Tenho eu pensado de mim o que não sou? Não tenho eu me enganado a mim mesmo? Sei pela Bíblia que meu coração é enganoso e faz com que eu pense de mim o que na verdade não sou. Sei pela sabedoria humana que há explicações que justificam os meus erros, mas quero que meus erros sejam os meus erros. Não quero me esconder atrás do meu temperamento, mesmo porque não aceito que o meu próximo se esconda atrás do seu temperamento. Não quero me desculpar na educação que recebi, porque devo excercer a minha liberdade plenamente. Não quero me espelhar nos erros dos outros, para atenuar os meus, porque cada um tem que prestar contas diante de Deus. Oh, Deus, esta é a minha oração: Quero pensar de mim o que pensas de mim: tua imagem e semelhança, mas imagem e semelhança corrompidas. Como tua imagem e semelhança, sou capaz de ver como sou. Como imagem e semelhança corrompidas, engano-me a mim mesmo. Eu te peço que me ajudes a ter uma visão adequada de mim, nem abaixo, nem acima do que sou. 3. Tenho-me preocupado demais com a santidade dos outros e pouco (ou nada) com a minha? Será que não tenho contribuído para tornar o Cristianismo uma religião que oprime os outros? Será que não tenho contribuído para tornar o Cristianismo apenas uma coletânea de preceitos morais e não um conviyte à liberdade e à esperança? Oh, Deus, esta é a minha oração: Ajuda-me, Senhor, a deixar de ser árbitro dos outros. 4. Tenho eu me orgulhado dos meus esforços?

11Cf. DOOYEWEERD, Herman. Citado por J. Glenn Friesen, disponível em <http://www.members.shaw.ca/jgfriesen/Definitions/Self-reflection.html>. Acessado em 9.6.2004.) 12NEE, Watchman. Self-knowledge and God's light. Disponível em < http://www.ministrybooks.org/books.asp?id=431&chapterid=1&sectionid=1&pageid=1>. Acessado em 9.6.2004.

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Quando dou o dízimo, faço questão que muitos saibam. Quanto faço uma doação, gosto que saibam que fui eu? Os fariseus oravam assim: Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho (Lucas 18.11-12). Será que oro assim? Tenho me visto como um crente melhor dos que os outros? A recomendação bíblica é outra: para não nos tornarmos vangloriosos, de modo a provocar uns aos outros e a invejarmos uns aos outros (Gálatas 5.26). Oh, Deus, esta é a minha oração: Não quero me orgulhar dos meus feitos, porque o que faço de bom é pelo teu Espírito e não tenho do que me vangloriar. Perdão, Senhor. 5. Tenho eu vivido na certeza que Deus me ama ou tenho permitido que a consciência dos meus pecados me afunde ainda mais? Devo sempre me lembrar que o amor de Deus está derramado no meu coração pelo Espírito Santo (Romanos 5.5). Sim, peco e entristeco o Espírito Santo, mas o pecado não tem poder sobre mim, se, pela confissão, me submeto ao sangue de Jesus Cristo, que me perdoa de todos os meus pecados (1João 1.9). 6. Tenho vivido como um peregrino, como um escolhido por Deus? Ou tenho vivido a minha vida do meu jeito, que é, na verdade, o jeito do tempo em que vivo? Fui escolhido de acordo com o pré-conhecimento de Deus Pai, pela obra santificadora do Espírito, para a obediência a Jesus Cristo e a aspersão do seu sangue, para que sobre minha vida a graça e a paz sejam multiplicadas (1Pedro 1.2). 7. Tenho admitido meus pecados? Ou tenho vivido como se não tivesse pecado? Qual foi a última vez que confessei um pecado? Quando admito meu pecado, eu sou purificado de tudo o que contamina o corpo e o espírito, assim aperfeiçoando a santidade no temor de Deus (2Coríntios 7.1). 8. Tenho eu deixado Deus me sondar? "Sonda-me, oh Deus" -- foi a oração do salmista. Quero que ela seja a minha também, agora, o dia todo, todos os dias.

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3 HUMILDADE: O PODER DA FRAQUEZA "Quando vem o orgulho, chega a desgraça, mas a sabedoria está com os humildes. (Provérbios 11.2) "A quem queira adquirir a humildade, acho que posso ensinar-the o primeiro passo. É compreender que somos orgulhosos. E este é também um passo enorme. Bem, ao menos nada, nada mesmo, pode ser feito antes disso. Se pensamos que não somos orgulhosos é sinal de que, na realidade, somos muito orgulhosos". (C.S. Lewis) NÃO se deixe aprisionar pelo narcisismo. Eu também sou humilde... até abrir a boca.

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A BANCA DO DISTINTO "Não fala com pobre, não dá mão a preto Não carrega embrulho Pra que tanta pose, doutor Pra que esse orgulho A bruxa que é cega esbarra na gente E a vida estanca O enfarte lhe pega, doutor E acaba essa banca A vaidade é assim, põe o bobo no alto E retira a escada Mas fica por perto esperando sentada Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do côco afinal Todo mundo é igual quando a vida termina Com terra em cima e na horizontal". (Billy Blanco)

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HUMILDADE: O PODER DA FRAQUEZA Nessa época, fui designado pela vice-reitoria acadêmica da universidade em que trabalhava para integrar uma comissão encarregada de preparar um questionário em que os professores seriam avaliados pelos alunos. Depois de algumas reuniões, chegamos propriamente às perguntas a serem incluídas. Entre as minhas sugestões, estava uma, que era a seguinte: "Seu professor é humilde?" Simplesmente, meus colegas me cortaram: -- Se te uma coisa que um professor não pode ser é humilde. De jeito nenhum, podemos perguntar isto. Por mais que eu explicasse, não houve jeito. E então cortamos a pergunta. Eu me pergunto se meus colegas alguma vez leram o Evangelho de Mateus ou apenas as bem-aventuranças de Jesus? Nelas, lemos que são bem-aventurados os humildes, mas preferimos nos exaltar diante do próximo? Se Jesus tivesse que nascer hoje, encontraria em nós uma Maria, que achou graça perante Deus por ser humilde (Lucas 1.48)? Por que, então, somos tão soberbos? Como é difícil reconhecer que, como diz o salmista (Salmo 103.14-16), nossa estrutura é pó. Somos, numa brincadeira, “substratos de pó de nada”. Esta bem-aventurança pode ser lida em conjunto com Miquéias 6.6. Ser feliz é andar humildemente com Deus. A HUMILDADE MELHORA NOSSO RELACIONAMENTO COM DEUS Humilhar-se diante de Deus no sentido bíblico é rastejar diante dele. O contrário é soberba, como a do Faraó, que tinha "dura cerviz" (pescoço duro de ser vergado). A humildade é a disposição espiritual (imprescindível) que nos permite aceitar a salvação de Deus. Não posso por mim mesmo. Sem este passo, não há salvação. Jesus condiciona a entrada no reino dos céus (Mateus 5.3b) à humildade. Afinal, quem não é humilde não precisa de Deus. A humildade nos dá um conceito adequado de Deus. Deus é o totalmente outro. Não tem para onde crescer. É eterno (no princípio e no fim, marcas que Ele não tem). Não tem sentido a chamada confissão positiva (do tipo “eu declaro”), que tira o poder de Deus, para colocá-lo em nós. Trata-se de uma manifestação de soberba espiritual, que é a pior de todas as soberbas. Diante de Deus, não podemos mais do que pedir. É querer fazer as coisas do jeito da gente, não no de Deus. Moisés, em lugar de falar à rocha, achou melhor soberbamente bater nela. Como resultado, foi humilhado em não entrar na terra prometia. Andaremos humildemente com Deus (Miquéias 6.8), se reconhecermos que Deus sabe aquilo que é bom para nós, em lugar de vivermos por nós mesmos. Para muitos, Deus se tornou um símbolo e não mais um Senhor. Muitos vivem como se fossem seu próprio deus. Sabem tudo, discernem tudo. Não dependem de Deus para nada, embora ainda o confessem com a sua boca. A HUMILDADE NOS TORNA MELHORES DIANTE DOS OUTROS Esta humildade diante de Deus deve se estender aos outros com os quais convivemos. Assim, se a humildade diante de Deus é a disposição para pôr em prática o fato de que Ele é o totalmente Outro, humilhar-se diante do próximo é ter a capacidade de se relacionar com ele como um igual. O contrário é a soberba, atitude de a gente se considerar superior às outras pessoas. A soberba se manifesta no muito falar. Falar de si mesmo. Contar vantagens. Mentir sobre si mesmo, dando a impressão de estar em posições e situações superiores ao interlocutor. A soberba se manifesta no pouco falar. Os soberbos nunca ouvem. Se ouvem, têm algo mais importante para dizer. Os soberbos são insuportáveis. A Bíblia diz que eles serão humilhados. “A soberba do homem o abaterá, mas o humilde de espírito obterá honra” (Provérbios 29.23). “O maior dentre vós será servo. Quem a si mesmo se exaltar será humilhado, mas quem a si mesmo se humilhar será exaltado” (Mateus 23.11-12). “Humilhai-vos na presença de Deus e ele vos exaltará (Tiago 4.10). “O maior dentre vós será servo. Quem a si mesmo se exaltar será humilhado, mas quem a si mesmo se humilhar será exaltado” (Mateus 23.11-12). Humildade é uma indicação de sabedoria (de saber viver), porque permite que vejamos os outros como eles são. A soberba é uma tentativa de esconder aquilo que nós somos: pó. Andaremos humildemente com Deus (Miquéias 6.8), se nos empenharmos em praticar a justiça e amar a misericórdia. A soberba é uma injustiça, porque nos leva a ver os outros como nós o vemos, a partir de nós,

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colocados no centro do mundo. Ser justo é ser humilde. A soberba é uma forma de terror, que é contrário de misericórdia. Ser misericordioso é compreender o outro. Ser justo é ser misericordioso. Você é humilde diante do seu próximo? Nós somos iguais uns aos outros. Aprendi isto de uma forma bizarra. Eu trabalhava, adolescentes ainda no jornal "Tribuna de Cianorte", um semanário publicado no norte do Paraná. Como nosso tema é a humildade, posso dizer que comecei como editor de uma página para estudantes e terminei como editor-chefe (na verdade, editor único; só tinha eu mesmo)... O que importa é que na sala da redação, a única sala na verdade, tinha uma flâmula preta pendurada na parede. Era um esqueleto em branco sob o fundo preto, com o inesquecivil dístico: “Um dia todos acabaremos assim”. A HUMILDADE NOS TORNA MELHORES DIANTE DE NÓS MESMOS O apóstolo Paulo resumiu a aplicação da bem-aventurança à nossa vida pessoal. Recomendou ele: “Ninguém tenha de si conceito mais alto do que convém; antes, pense com moderação” acerca de si mesmo (Romanos 12.3). Em outro lugar, o mesmo apóstolo insiste: “Quem julga ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo” (Gálatas 6.3) A humildade nos dá um conceito adequado de nós mesmos. Somos pó, mas à imagem e semelhança daquele que é totalmente Outro. Somos relativos (temos começo e fim). Somos limitados. Humildade é uma indicação de sabedoria (de saber viver), porque permite que nos vejamos como nós somos. A humildade nos dá um conceito adequado acerca de nós mesmos Há duas áreas críticas, onde podemos perder a guerra para a soberba. Uma é a do saber. Há gente que arrota conhecimentos, arrota saber (1Coríntios 3.18). O verdadeiro sábio é aquele que sabe que não sabe. Outra é a do viver. Há gente que acha que sabe viver, tendo solução para todos os tipos de problemas. Essa pessoa sabe que não se deve ser autoritária, mas é autoritário, embora não ache. Essa pessoa sabe que não de deve falar mal da vida alheia, mas fala, embora não ache. Outra é a da espiritualidade. É muito difícil ser espiritual, mas é facílimo parecer espiritual. Há quem consiga fingir espiritualidade. Daí a recomendação paulina (Colossenses 2.18). Não pode perder de vista o que escreveu C.S. Lewis, "não pense que uma pessoa realmente humilde seja o que a maioria das pessoas chama de `humilde' hoje em dia; não é um tipo escorregadio e bajulador que está sempre a dizer que não é ninguém. Provavelmente a impressão deixada por quem seja verdadeiramente humilde é que se trata de alguém muito alegre e inteligente, tendo demonstrado um grande interesse pelo que você the contou. Se você não gostou dele, é porque você tem um pouco de inveja de quem quer que pareça gozar a vida tão facilmente. Ele não é do tipo que pensa em humildade; aliás não chega nem mesmo a pensar em si próprio". 13 A humildade, em relação a nós mesmos, evita a frustração (querer ser o que não podemos ser). Precisamos de projetos para viver. Não tem a ver com marketing pessoal (típico da revista “Você”), que tem o seu lugar desde que dentro de limites e de acordo com as potencialidades de quem se autovende... Não deve ser confundida com auto-estima baixa, que é outra coisa. Aliás, a maioria dos orgulhosos tem, no fundo, uma baixíssima auto-estima; por isto precisam arrotar. Não deve ser confundida com timidez, que é uma dificuldade de natureza psíquica que deve ser corrigida. A Bíblia diz que os humildes serão exaltados (Lucas 1.52), não como troca, mas como experiência de vida. Humildade é um valor do reino, logo um dom de Deus a ser buscado. No sermão do monte, não por acaso é a primeira das qualidades do cristão. No sentido bíblico, o humilde é o pobre de orgulho (o sem-orgulho), pobre de soberba (o sem-soberba). A razão disto é simples: como ensinou C.S. Lewis, "o orgulho é a galinha sob a qual todos os outros pecados são chocados". Precisamos da consciência de que somos/estamos soberbos. Esta é uma grande dificuldade, ao ponto de o soberbo, por vezes, se considerar humilde... Os humildes ouvem; os orgulhosos falam. Os humildes perguntam; os vaidosos respondem. Os humildes pedem (a Deus); os soberbos ordenam (a Deus). Nosso modelo: Jesus Cristo (Filipenses 2). Devemos aprender de Cristo, que é manso e humilde (Mateus 11.29). A diferença entre alguém humilde e alguém humilhado. Humilde é aquele que tem a disposição, por seu caráter, pelo temor de Deus nele, pelas experiências acumuladas na vida, para conviver com os outros com respeito e igualdade. Humilhado é aquele, que não tendo esta disposição, é jogada no chão, cai do cavalo, é derrubado, é massacrado.

13LEWIS, C.S. Cristianismo puro simples. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

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SOMOS HUMILDES QUANDO RECONHECEMOS QUE DEUS É SOBERANO Todos nós, cristãos e não cristãos, vivemos em relação a Deus dois tipos de conflito. O primeiro é: como posso crer que Deus seja o Senhor da história, se o que vejo não me leva a pensar nesta direção? Eu vejo nações em guerra, muitas vezes envolvendo superpotências tentando varrer pequenas nações da face da terra. Não há poder que as contenha ou faça produzir uma paz justa. Eu vejo doenças destruindo pessoas, sem escolher idades e classes sociais, mas geralmente sendo mais letais com crianças e pobres, sem que haja uma intervenção capaz de pôr fim ao sofrimento humano. Eu vejo os corruptos se enriquecendo, por meio de ações ilícitas que alcançam os serviços públicos, inclusive os essenciais, sem que haja alguém capaz de impor regras honestas para os negócios. Eu vejo jovens, mas também vejo crianças, esposos, pais, que saem de casa e não voltam porque tiveram suas vidas ceifadas no caminho pelo absurdo de uma bala ou de uma bomba. Eu vejo pais orando pela conversão de seus filhos, sem que elas aconteçam, mesma experiência vivenciada por filhos, cônjuges e avós. Eu vejo cristãos orando pela saúde (inclusive a cura) de amigos e parentes, que acabam morrendo. O profeta Isaías, há 28 séculos, escreveu algo que me põe em conflito com o que vejo. Há 20 séculos um grupo de judeus tementes a Deus preservou seu texto, que acabou descoberto há cinco décadas. Eu leio, traduzindo (a partir do inglês), este manuscrito, que está em completa harmonia com as nossas versões. Eis o que diz o profeta

Lembrai-vos das primeiras coisas dos tempos antigos, pois Eu sou Deus, e não há outro;

eu sou Deus e outro não há como eu. Narro o fim desde o princípio

e conto desde a antiguidade as coisas que acontecerão. Meu conselho permanecerá e eu farei o que me agrada.

Chamo do oriente a ave de rapina e da terra distante chamo o homem do meu conselho.

O que tenho dito, farei cumprir; o que formei, eu completarei.

(Isaías 46.9-11 -- Manuscritos de Qumran)

O segundo conflito, admitido que Deus existe e é Senhor da história, é como me relacionar com um Deus soberano? A Bíblia o descreve, entre outras qualidades, como bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver (1Timóteo 6.15-16). É possível ao homem relacionar-se com um Deus assim? AFIRMAÇÃO DA SOBERANIA DE DEUS Quero, a partir da Bíblia, especialmente do profeta Isaías e do apóstolo Paulo, ajudar na solução destes conflitos que sei reais, mas conciliáveis, completamente conciliáveis, se, por nenhuma razão, porque Jesus Cristo nos revelou um Deus completo, soberano e amoroso, inacessível e acessível. 1. A soberania de Deus se expressa na criação do mundo. Por meio do profeta Jeremias, Deus declara: Sou eu que, com o meu grande poder e o meu braço estendido, fiz a terra com os homens e os animais que estão sobre a face da terra; e a dou a quem me apraz (Jeremias 27.5). O profeta Isaías apela para a imaginação poética.

Acaso, não sabeis? Porventura, não ouvis? Não vos tem sido anunciado desde o princípio?

Ou não atentastes para os fundamentos da terra? Ele é o que está assentado sobre a redondeza da terra,

cujos moradores são como gafanhotos; é ele quem estende os céus como cortina

e os desenrola como tenda para neles habitar; é ele quem reduz a nada os príncipes

e torna em nulidade os juízes da terra. Mal foram plantados e semeados,

mal se arraigou na terra o seu tronco, já se secam,

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quando um sopro passa por eles e uma tempestade os leva como palha. A quem, pois, me comparareis para que eu lhe seja igual? (...)

Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas coisas?

Aquele que faz sair o seu exército de estrelas, todas bem contadas, as quais ele chama pelo nome;

por ser ele grande em força e forte em poder, nem uma só vem a faltar. (Isaías 40.21-26)

Diante do soberano artista, cabe-nos fazer o que o poeta recomenda: Oh, vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do Senhor, que nos criou (Salmo 95.6). Acreditar na criação do universo como produto do acaso demanda tanta fé como crer na soberania criadora divina, com a diferença essencial que a existência de Deus tem mudado vidas. 2. A soberania de Deus se expressa na realização do seu plano para a história, mesmo que imperceptível (Isaías 46.10-11). A maior expressão desta soberania foi o envio do Seu Filho ao mundo, na plenitude dos tempos (Gálatas 4.4), isto é, no tempo em que achou o mais próprio. Seu plano continuará até que todas as coisas e todas as pessoas encontrem em Cristo seu ponto de convergência (Efésios 1.10). Não há como não crer que Jesus não existiu. Não há como não crer na Sua divindade. Até os céticos honestos reconhecem: esta divinidade não poderia ter sido inventada. 3. A soberania de Deus se expressa no Seu empenho por nós. Para cumprir seu plano de nos abençoar com a salvação e com a plenitude de vida, estas que são suas principais promessas para conosco, Deus faz com que todas as coisas, boas e ruins, previstas e imprevistas, cooperem para o nosso bem (Romanos 8.28). Leio de novo a promessa: Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Li, para ler a mesma verdade no profeta Isaías.

Desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu,

nem com os olhos se viu Deus além de ti, que trabalha para aquele que nele espera.

Sais ao encontro daquele que com alegria pratica justiça, daqueles que se lembram de ti nos teus caminhos.

(Isaías 64.4-5)

O Deus soberano trabalha para aqueles que nele esperam. Podemos querer mais? Temos muitas perguntas sem resposta, mas temos esta: Deus, que deu a Sua vida, para nos salvar, continua a Se empenhar por nós. ATITUDES DIANTE DE UM DEUS SOBERANO Que fazer diante da verdade de que Deus é soberano? Os textos bíblicos selecionados (Isaías 46 e 1Timóteo 6.13-16) nos recomendam quatro atitudes indispensáveis. 1. Em primeiro lugar, devemos dar-lhe honra e poder (1Timóteo 6.16b), que quer dizer: celebrar a verdade da Sua soberania, uma vez que a Sua honra e o Seu poder já são absolutos. A celebração é um gesto inútil para o Celebrado, mas útil, indispensável, produtivo, renovador, revigorador, para os celebrantes. Celebrar é essencial. Nos mandamentos de Deus para o povo de Israel, celebrar era um dos verbos centrais. Celebrai com júbilo ao Senhor, todos os habitantes da terra (Salmo 100.1) -- é a recomendação que se repete ao longo do Antigo Testamento. Uma das razões para o convite é didática. Ao celebrarmos, lembramos do que Deus é. Lembrando do que Deus é, nossa fé é fortalecida. O profeta recomenda "lembrai-vos" (Isaías 46.9). O apóstolo diz o mesmo, ao nos convidar para dar honra e poder ao Deus soberano (1Timóteo 6.16). 2. Em segundo lugar, devemos confiar que Ele fará, na grande história e nas nossas historias, como Lhe apraz (Isaías 46.11), como Ele quer. Toda a Bíblia, a razão do crente, diz isto. O nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz (Salmo 115.3). Abraão já estava certo que seu filho Isaque seria mesmo sacrificado, até Deus entrar em ação e lhe mostrar o cordeiro. Moisés já antevia seu povo boiando morto nas águas do mar Vermelho, até Deus empurrar as águas para os lados. Inúmeras vezes o povo de Israel se via derrotado nas batalhas, até Deus tomar o seu lado e produzir a vitória. O povo de Israel já estava conformado com o cativeiro e a dispersão, até Deus retomar Suas

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promessas e os mandar de volta para casa. Os judeus já estavam cansados do fracasso da Lei, que fazia da sua fé uma religião de castigo e dor, até Jesus rasgar, pela graça, o véu que os separava do Pai. Os parentes e amigos de Lázaro já estavam conformados com a perda do seu querido, até Jesus mandar tirar a pedra e dar a ordem espetacular: "sai daí". Os discípulos já guardavam fotos de Jesus Cristo na carteira, até Deus O ressuscitar dentre os mortos. Tem razão o profeta, quando canta:

Por que, pois, dizes, o Jacó, e falas, o Israel: O meu caminho está encoberto ao SENHOR,

e o meu direito passa despercebido ao meu Deus? Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o SENHOR, o Criador dos fins da terra,

nem se cansa, nem se fatiga? Não se pode esquadrinhar o seu entendimento.

Faz forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem,

mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias,

correm e não se cansam, caminham e não se fatigam.

(Isaías 40.27-31)

Queiramos ou não, Ele fará, por nós, mesmo que aparentemente esteja contra nós. Confiar é trazer a realidade da soberania de Deus do território da razão, da história, da Bíblia, para as nossas vidas. 3. A terceira atitude de quem celebra e confia é fruir as suas promessas, promessas de companheirismo e de resposta, resposta soberana às nossas orações. O Deus soberano não pode mentir (Tito 1.2). Ele não retarda (isto é, não cumpre fora do prazo) nenhuma de suas promessas (2Pedro 3.9). Posso estar plenamente convicto de que Deus é poderoso para cumprir o que promete (Romanos 4.21). Suas promessas não foram para ontem; são para hoje e para amanhã. Se temos dúvidas de quanto Deus é soberano, olhemos para Jesus Cristo. Nele está o sim de Deus para todas as promessas, não importam quantas sejam. É por Ele o "amém", para glória de Deus por nosso intermédio (2Coríntios 1.20). Jesus veio para cumprir a promessa da Trindade divina de que enviaria um cordeiro que tiraria o pecado de todo aquele que se arrependesse, e ao longo dos séculos desde então milhares e milhares de pessoas têm sido salvas pela fé nEle. Jesus disse que morreria, e morreu. Disse que ressuscitaria, e ressuscitou. Disse que enviaria Seu Espírito para ser o companheiro de Seus seguidores, e enviou. Não há dúvida: Tudo o que o Senhor deseja ele o faz, no céu e na terra, nos mares e em todos os abismos (Salmo 115.3). Sim, o nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz (Salmo 115.3). 4. A quarta atitude, diante de um Deus que é soberano, é viver segundo as Suas instruções. O apóstolo Paulo é bem claro, como sempre, ao nos pedir para guardar o mandamento imaculado, irrepreensível, até à manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo (1Timóteo 6.14). Ouso dizer que nosso principal problema não é reconhecer a soberania de Deus, mas nos submeter a ela, deixando que Ele leve cativo o nosso pensamento. Há uma luta em nós. Sabemos que o caminho de Deus é melhor, mas queremos experimentar o nosso. Sabemos que o nosso caminho leva para o nada, mas queremos saber onde fica o nada. Sabemos que Deus nos espera e queremos fazer com que espere, quando poderíamos fruir o Seu trabalho por nós agora. Como nos ensina a Bíblia, Deus é poderoso para destruir as fortalezas de nossas resistências, para anular os sofismas de nossa razão, para derrubar a altivez do nosso conhecimento contra Deus e para nos levar a obediência segundo o modelo de Jesus Cristo; a nossa disposição para deixar que o soberano Senhor nos dirija produzirá nossa completa submissão (2Coríntios 10.4-6). Quando nos submetermos ao soberano Deus, viveremos segundo as Suas instruções e seremos felizes. *** Ou cremos num Deus soberano ou cremos em nós mesmos. Ou cremos num Deus soberano que pode nos tirar da tristeza, ou vivemos na tristeza. Ou cremos num Deus soberano que pode nos livrar do vicio, ou continuamos viciados. Ou cremos num Deus soberano que nos salva, ou continuamos perdidos. Ficamos com o Deus soberano ou ficamos conosco mesmos? Esta é a escolha essencial.

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"Deus, conceda-me a serenidade para aceitar aqui que não posso mudar; a coragem para mudar o que me for possível e a sabedoria para saber discernir entre as duas. Vivendo um dia de cada vez, apreciando um momento de cada vez, recebendo as dificuldades como um caminho para a paz, aceitando este mundo cheio de pecados como ele é, assim como fez Jesus, e não como gostaria que ele fosse, confiando que o Senhor fará tudo dar certo se eu me entregar à Sua vontade, pois assim poderei ser razoavelmente feliz nesta vida e supremamente feliz ao Seu lado na outra. Amém". (Reinhold Niebuhr)

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EXERCÍCIOS ACORDE 1. Segundo Dorothy Sayers, "a estratégia diabólica do orgulho é que ele não ataca nossos pontos mais fracos, mas sim nossos pontos mais fortes". Quais são seus pontos fortes: sua beleza, sua competência, sua criatividade, sua simpatia? (AUTO-CONHECIMENTO) 2. Confesse a alguém (ou a você mesmo por meio de um texto) que tem falhado, mesmo quando diz que tudo o que faz é para a glória de Deus. Então, peça perdão a Deus. (CONFISSÃO) 3. Ore especificamente sobre uma área de sua vida, em que foi atacado e pode ser atacado. Peça que Deus o liberte. (ORAÇÃO) 4. Medite sobre o assunto. O poema a seguir pode lhe ajudar nesta tarefa (REFLEXÃO): "Coloca-se sobre a bigorna, oh Deus. Golpeia-me com Teu martelo, fazendo de mim uma alavanca, Para que eu destrua muros antigos. Para que eu levante e remova velhas fundações. Coloca-se sobre a bigorna, oh Deus. Golpeia-me com Teu martelo, fazendo de mim um prego grande. Coloca-me na coluna que sustenta um arranha-céu. Toma rebites incandescentes e prende-me na coluna central. Faz de mim um prego bem grande, que sustente um arranha céu através das noites tristes, até que cheguem as estrelas". (Carl Sandburg 14) 5. Decida sser humilde. (DECISÃO) 6. Empenhe-se. (ESFORÇO)

14Citado por GIRE, Ken. Meditações para a vida. Niterói: Textus, 2001, p. 215.

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LEITURAS SUGERIDAS A NUVEM DO NÃO SABER. São Paulo: Paulinas, 1987. GUINESS, Os. Sete pecados capitais. São Paulo: Shedd, 2006. MANNING, Brennan. O impostor que vive em mim. São Paulo: Mundo Cristão, 2006. NOUWEN, HENRI. A voz íntima do amor. São Paulo: Paulinas, 2001. TOURNIER, Paulo. Os fortes e os fracos. São Paulo: ABU, 1999.

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4 SIMPLICIDADE: EM BUSCA DAQUILO QUE IMPORTA "Vejam como crescem os lírios do campo" (Mateus 6.28) "O homem que está crucificado tem os olhos voltados para uma só direção... Ele não pode olhar para trás. O homem crucificado está olhando apenas uma direção, que é a direção de Deus, de Cristo e do Espírito Santo... O homem na cruz não tem mais planos para si... Mais alguém fez planos para eles, e quando eles o pregaram naquela cruz, todos os seus planos desapareceram. Quando você se dispõe a morrer na cruz, você diz "adeus"; você não vai voltar! (A.W. Tozer) NÃO deixe que a agenda exterior determine sua agenda interior Nada para mim, exceto o essencial.

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AOS SIMPLES Ó almas que viveis puras, imaculadas, Na torre de luar da graça e da ilusão, Vós que inda conservais, intactas, perfumadas, As rosas para nós há tanto desfolhadas Na aridez sepulcral do nosso coração; Almas, filhas da luz das manhãs harmoniosas, Da luz que acorda o berço e que entreabre as rosas, Da luz, olhar de Deus, da luz, benção d'amor, Que faz rir um nectário ao pé de cada abelha, E faz cantar um ninho ao pé de cada flor; Almas, onde resplende, almas onde se espelha A candura inocente e a bondade cristã, Como um céu d'Abril o arco da aliança, Como num lago azul a estrela da manhã; Almas, urnas de fé, de caridade e esp'rança, Vasos d'ouro contendo aberto um lírio santo, Um lírio imorredouro, um lírio alabastrino, Que os anjos do Senhor vêm orvalhar com pranto, E a piedade florir com seu clarão divino; Almas que atravessais o lodo da existência, Este lodo perverso, iníquo, envenenado, Levando sobre a fonte o esplendor da inocência, Calcando sob os pés o dragão do pecado; Benditas sejas vós, almas que est'alma adora, Almas cheias de paz, humildade e alegria, Para quem a consciência é o sol de toda a hora, Para quem a virtude é o pão de cada dia! (...) (Guerra Junqueiro, 1885)

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SIMPLICIDADE: EM BUSCA DAQUILO QUE IMPORTA Minha adolescência foi povoada por um poema de Antero de Quental. Desejei ser simples, para pôr em prática a sua mensagem. Ao longo de minha vida, procurei este poema. Nunca o encontrei. Não era dele. O título ("Aos simples") estava certo, mas o autor era outro: Guerra Junqueiro. O equívoco de uma vida foi compensada pela alegria do reencontro com a beleza de um poema. PRIMEIRO O QUE É PRIMEIRO Quando lemos o convite de Jesus para que busquemos o Reino de Deus com a justiça que este Reino tem (Mateus 6.3), precisamos ter em mente que reino Jesus tinha em mente. Jesus tinha em mente o reino de Israel, ao seu tempo apenas uma lembrança na história, depois que foi divido por uma cisão interna e destroçado por poderes externos. Como governantes, Davi, Salomão e Ezequias eram apenas fotografias imaginárias no álbum igualmente imaginário do povo judeu. No entanto, é provável que, quando ouvia a palavra "reino", o povo ao tempo de Jesus imaginava o reino ainda unido sob a liderança de Salomão, por exemplo. Não por outra razão, Jesus se refere à glória de Salomão (Mateus 6.29), glória que não mais existia, mas que ainda ocupava a varanda da saudade judaica. Jesus tinha em mente o reino que governava a terra da Judéia. Seguindo a prática romana, este Reino, circunscrito numa província, era governado por um membro da aristocracia local escolhido pelo poder central imperial. Quando Jesus nasceu, o rei se chamava Herodes, depois epitetado de "o Grande", um homem que teve dez esposas e 14 filhos e governava a Judéia, a Galiléia e Betânia. Foi dele que a família de Jesus fugiu, para o Egito, quando o rei determinou a matança das crianças com menos de dois anos de idade. Ele morreu pouco depois, dividindo seu reino em quatro. Quem participa da história durante o ministério de Jesus foi seu filho Herodes Antipas, educado em Roma. Sob o governo de quem João Batista foi decapitado. Ele participou da condenação de Jesus, que se refere a ele como sendo uma raposa, mas Jerusalém, onde Jesus foi crucificado, era governada por um procônsul romano da Judéia, Pôncio Pilatos. Jesus tinha em mente o reino que, a partir de sua capital, Roma, governava o mundo mediterrâneo, especialmente a partir de Augusto, considerado como o maior dos imperadores. Ao tempo de Jesus, o imperador era o enteado de Augusto, o macambúzio e paranóico general Tibério, cuja pedofilia assumida assustava o império. Foi sob seu governo que Jesus foi condenado e crucificado. Autocrático e aristocrático, o império romano foi o maior reino da antiguidade em território. Nas cidades, havia foruns, templos e prédios que imitavam os existentes na capital. "Roma era o centro palpitante desse superestado. Com cerca de 19 quilômetros de circunferência, tinha-se tornado a maravilha do mundo. Desde que o primeiro imperador, Augusto, em suas próprias palavras, a encontrou "feita de tijolos e deixei-a feita de mármore", uma série de governantes havia esbanjado somas fabulosas no embelezamento de Roma. Um estádio, o Circus Maximus, acomodava 250.000 espectadores. Onze aquedutos traziam diariamente mais de 1,3 bilhões de litros de água fresca das montanhas para a capital. Balneários, cujos grandes átrios abobadados eram milagres de engenharia, enchiam-se, todos os dias, de romanos que trocavam boatos e se distraíam. Contemplada da Colina de Palatino, suntuoso palácio dos césares, Roma era uma vista tão magnificente que um príncipe persa, visitando-a no ano 357 da nossa era, admirou-se: `As pessoas serão mortais aqui?'" 15 Ao longo do império, cada casa era um templo, com um altar, no qual os membros da família ofereciam orações aos deuses da casa e participavam de rituais religiosos. O próprio imperador, alguns ainda em vida, era venerado como divino. O império era fundado na desigualdade social e econômica e mantido, como todos os outros, pela força. A estes reinos Jesus contrapõe o Reino de Deus ou Reino dos céus, expressões que aparecem explicitamente 102 vezes em seus lábios, 50 das quais em Mateus, 36 em Lucas, 13 em Marcos e 3 em João. O centro da mensagem do Salvador é o anúncio do Reino de Deus, que não era como o deste mundo (Mateus 4.8; Lucas 4.5). Foi por isto que disse: “O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino não é daqui” (João 18.36). "O Reino de Deus é o domínio redentor de Deus, ativo dinamicamente, visando estabelecer seu governo entre os homens". Este Reino, "que aparecerá como um ato apocalíptico na consumação dos tempos, já entrou para a história humana na pessoa e missão de Jesus com a finalidade de sobrepujar o mal, de libertar os homens do seu poder e lhes propiciar a participação das bênçãos da soberania de Deus sobre suas vidas". 16 Jesus começou o seu ministério afirmando que o Reino de Deus tinha chegado, e era tempo de arrependimento. Jesus prega o Reino de Deus. Jesus anuncia o Reino. Jesus explica o Reino. As parábolas que conta são parábolas sobre o Reino. O evangelho é boa nova acerca do Reino (Lucas 9.1-2). O evangelho é o evangelho do Reino (Mateus 4.23; 9.25, 24.14). Jesus pede para sua igreja anunciar as boas do Reino de Deus (Marcos

15POESIA, Arnaldo. Roma: ascensão e queda do império romano. Disponível em <http://www.starnews2001.com.br/historia.html>. 16LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Pauo: Exodus, 1997, p. 87.

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1.14-15; Lucas 8.1). A mensagem da salvação é a Palavra do Reino (Mateus 13.19). Por isto, quem entra no Reino obtém a salvação (Mateus 19.16, 23-24; Lucas 13.28). Para receber este Reino, ou fazer parte deste Reino, é preciso desejá-lo, o que implica uma escolha, porque há outros reinos disponíveis. Quem entra no Reino tem esperança e conforto (Marcos 10.15). As pessoas justas são filhas do Reino (Mateus 13.38). Como Jesus deixa evidente, o principal objetivo de um cristão é buscar primeiro o Reino de Deus (Mateus 6.33). O Reino de Deus não é uma recompensa aos que obedecem a Deus. O Reino dos homens é assim. Antes, o Deus é um dom gracioso do Rei, que convida, sem forçar, a quem quiser nele entrar, renunciando tudo para se lançarem sem reserva neste maravilhoso Reino. 17 Nele não se entra pela força; nele não se entra por parentesco ou descendência. Entra-se pela fé em Jesus, que inclui o arrependimento dos pecados e uma disposição para uma vida gerada de novo, em que o eixo deixa de ser o eu, com suas preocupações, para ser Deus, com a justiça do Reino dEle. No seu mais conhecido sermão, Jesus contrapõe o estilo natural do ser humano com um novo valor: quem é gerado de novo põe em primeiro o Deus do Reino. Jesus ensinou (Mateus 6.25-34): "Não se preocupem com sua própria vida, quanto ao que comer ou beber; nem com seu próprio corpo, quanto ao que vestir. Não é a vida mais importante que a comida, e o corpo mais importante que a roupa? Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas? Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida? Por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem. Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles. Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, não vestirá muito mais a vocês, homens de pequena fé? Portanto, não se preocupem, dizendo: ‘Que vamos comer?’ ou ‘Que vamos beber?’ ou ‘Que vamos vestir?’ Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas. Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas. Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal." (Mateus 6.25-34) Quem vive naturalmente, segundo seu eu interior, vive preocupado com sua própria vida, pondo o foco na obtenção dos elementos necessários para a sobrevivência, e este foco acaba dominando de tal modo o curso da vida que sobrevivência se transforma em ostentação. Jesus não sugere que busquemos condições para uma vida digna, com alimento, roupa e segurança. Jesus mostra que é um equívoco fazer desta busca a busca da vida. Quando se faz assim, o eu está em primeiro lugar e Deus ocupa o segundo. Quando se age assim, a idolatria é a forma de culto, que substitui a fé em Deus, o centro da verdadeira adoração. Quem age assim se deixa tomar pela ansiedade, que se opõe a confiança em Deus. Ansiedade pode ser um tipo de transtorno psíquico ou pode ser um estilo de vida submisso à imposição da cultura. Quem tem um transtorno psíquico deve levá-lo a sério e tratar dele. Quem adotou o espírito deste mundo deve ouvir Jesus dizer que basta a cada dia o seu mal, para parar se sofrer por antecipação. O bom senso diz que devemos cuidar de nosso corpo, mas a cultura da ansiedade insiste que devemos ter corpos modelados segundo certos padrões, padrões que variam e que precisamos conhecer, mas não se preocupe porque há publicações especializadas e academias especializadas. Basta entrar numa banca de jornal. Na internet, o tema do cuidado do corpo aparece mais de quatro milhões de vezes em língua portuguesa. Em inglês, 200 milhões. Quem tentar lê-los todos e, não tiver tendinite, vai ter. Não teria se soubesse olhar para as aves do céu, especialmente para as gaivotas na praia. Estou certo que Jesus se refere a elas quando fala de aves do céu. Olhar para elas nos ensina a olhar a vida como Deus quer que a olhemos. O reino deste mundo detesta gaivotas. O bom senso diz que devemos trabalhar, para ter o que precisamos, para nos sustentar e para sustentar nossa família, mas a cultura da ansiedade quer que sejamos escravos do trabalho, como se o trabalho tivesse um sentido em si mesmo. Quem vive assim não tem tempo para olhar os lírios do campo. O reino deste mundo passa o tratar sobre os jardins dos lírios. Fomos transformados em máquinas. Precisamos produzir, produzir, produzir. É para produzir que o reino deste mundo nos mantém em constante ansiedade. Até o tempo ocioso pode ser "bem" gasto, ou melhor, bem "investido". Os jovens são as principais vítimas, consumidores que são feitos de espetáculos após espetáculos, para que tenham seu tempo preenchido, mas quem disse que o tempo precisa ser preenchido ou que uma boa maneira de preenchê-lo é não preenchê-lo. O bom senso diz que devemos comprar o que precisamos, mas a cultura da ansiedade nos convence que comprar é verbo intransitivo. Tive uma colega, professora numa faculdade, que gastava prazerosamente todo o seu salário no dia em que o recebia. Ela trabalhava um mês todo para gastar num só dia. Na cultura da ansiedade tudo vira consumo. E como é bom saber que o Reino de Deus não está à venda. O bom senso diz que devemos resolver os nossos problemas, mas a cultura da ansiedade adverte que não devemos ter problemas e que podemos eliminá-los tomando alguns remédios, mesmo que proíbam que

17LADD, George Eldon, op. cit., p. 126.

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sintamos as dores que precisamos sentir e mesmo que impeçam que as experiências nos façam crescer. Tem gente que parece ter o complexo de Peter Pan, querendo ficar criança para sempre. Se, para crescer, essas pessoas têm que sofrer, preferem não crescer. O bom senso diz que somos pessoas diferentes, em habilidades e em ritmos, mas a cultura da ansiedade garante que podemos ser melhores do que outros, com quem devemos competir e a quem, de preferência, derrotar, como se fossem nossos inimigos pessoais. Em lugar de olhar para nós mesmos, para ver o quem precisamos derrotar, olhamos para o outro, como se fosse o inferno. Um jovem precisa estudar para passar no vestibular, mas, se ele estudar sério e não passar, não pode ser massacrado e nem se massacrar a si mesmo. Para quem vive 80 anos, que diferença faz atrasar-se um ano? O bom senso diz que devemos nos preocupar com segurança, mas a cultura da ansiedade vende o medo, para que nos armemos, para que não saiamos de casa. Se não devemos trazer o perigo, não podemos imaginá-lo a nos vigiar em cada esquina. O bom senso diz que devemos nos preocupar com o tempo, porque há tarefas a serem realizados dentro de um tempo previamente marcado, mas a cultura da ansiedade nos vende relógios que marcam segundos ou frações de segundos, que deveriam interessar apenas a poucas pessoas. Para pessoas que exercem atividades comuns, para quem um relógio que marca segundos? O bom senso, não, a Bíblia diz que, tendo uma necessidade, devemos orar com fé e esperar em Deus até que ele aja, mas a cultura da ansiedade, presente também nas religiões, na nossa inclusive, sugere que podemos apressar o passo de Deus, quem sabe gritando mais alto, quem sabe usando certas expressões, quem sabe fazendo alguns sacrifícios. Somos homens e mulheres que vivem neste mundo, dominado pela ansiedade, mas os nossos valores não são deste mundo. É isto que Jesus afirma que somos e espera que sejamos. Precisamos buscar o Reino de Deus e sua justiça. Nele nossas reais necessidades são atendias. O reino deste mundo oferece o contrário como alternativa, que a corrida atrás destas coisas. Jesus tinha este estilo em mente; é por isto que nos lembra: "os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas" (Mateus 6.32) A quem vamos ouvir? Em que ordem vamos nos inscrever? Na presente ordem (Efésios 2.22) ou no Reino de Deus? Venha para o Reino de Deus. Ninguém faz parte dele naturalmente, a não ser por uma escolha, por uma escolha radical. Você precisa conjugar um novo verbo: desabsolutizar. 1. Primeiramente, desabsolutize a era presente. Quando Jesus disse para que seus discípulos buscassem primeiro o Reino de Deus, estava dizendo que não olhassem para o reino da Judéia ou para o Império Romano, mesmo que mantidos pelo terror. Eles passariam, e passaram. O reino da Judéia se mantinha por uma espécie de acordo com o poder central em Roma. Na mesma geração, tudo aquilo passou: o acordo passou, Jerusalém foi destruída. Não ficou pedra sobre pedra quando o general Tito avançou no ano 70 sobre a cidade para decepar um movimento de resistência contra o império. Segundo o historiador judeu pró-romano Flávio Josefo, 115.880 cadáveres foram transportados para fora da cidade. 18 O templo virou pó. Jerusalém virou pó. O fabuloso Império Romano passou. "Roma foi três vezes sitiada e saqueada. Numa frenética dança da morte, nove imperadores sucederam-se durante os últimos 20 anos do Império. E quando, em 476, Odoacro, um chefe tribal das florestas do Danúbio, invadiu a Itália e depôs o último Imperador — um jovem chamado Romulus Augustulus — fez-se coroar o primeiro rei bárbaro da Itália. E poucos contemporâneos se detiveram para registrar que acabava de expirar o maior império do mundo". 19 Com os impérios anteriores e com os impérios posteriores, a ascensão e a queda foram as mesmas, mostrando que todos os reinos passam, todos os reis passam. A glória deles se vai com o fim do seu poder. Encontrei num restaurante um ex-governador de um importante estado brasileiro. Estava só. Ninguém olhava. Não tinha assessor. Dentro de alguns instantes, apareceu um automóvel, bastante velho; este era agora o seu meio de transporte. Antes havia um séquito. Imaginei este encontro algum tempo antes, formado de carros, luzes e empurrões. Tudo passa. O Reino de Deus não passa porque é de Deus. O Rei do Reino não passa. Desabsolutize os reinos deste mundo, formado por impérios políticos, econômicos ou ideológicos, creia no Reino de Deus. Desabsolutize os reis deste mundo, sejam eles heróis, jogadores ou artistas. Creia no Rei dos reis. Este Rei não seduz, mas convida. Não força, mas espera. Não impõe, mas deseja. A graça é suave. Espera ser aceita.

18ROCHA, Ivan Esperança. Dominadores e dominados na Palestina do século I. História, v. 23, n. 1-2, 2004. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-90742004000200012&script=sci_arttext&tlng=pt>. 19POESIA, Arnaldo, loc. cit.

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2. Tendo desabolutizado o mundo e absolutizado Deus, você pode se desabsolutizar. Desabsolutize-se. Não basta crer em Deus. É preciso confiar nele. Não basta crer no Reino. É preciso confiar na sua justiça. Esta confiança é solidificada por uma promessa: a justiça do Reino vai alcançar você. A justiça do Reino é o jeito de Deus fazer. Se você acha que esta justiça está tardando, ainda não se desabsolutizou. Ainda não crê suficientemente. Ainda pensa em Deus nos termos da cultura da ansiedade. A justiça do Reino é uma promessa do Rei. Se você lê as palavras de Jesus, quando disse que o Reino tinha chegado, talvez se pergunte onde ele está, diante da história que o mundo se desenrola, gostaria de lhe lembrar que há uma tensão no Reino de Deus, a tensão do "já" e do "ainda não". Ele já foi inaugurado, mas não foi consumado. Vivemos neste ínterim, entre a inauguração e a consumação. Neste sentido, o Reino é um mistério: ele veio mas está próximo de vir. A vida do cristão é uma vida escatológica, que espera o futuro glorioso do Reino, ora por este Reino, busca este Reino, trabalha por este Reino; uma vida escatológica vive o presente, mas relativa o seu bem e o seu mal. O mal de agora não é definitivo. O bem de agora não é definitivo. Esta confiança de desenvolve em termos práticos nos seguintes convites: . Descentre-se. Tire você do centro. Ponha Deus no centro da sua vida. Convide-o para o centro e gire dinamicamente em torno dele. Renuncie à idolatria, seja ela qual for. . Descoise-se. Tire as coisas do centro. Ponha Deus no centro dos seus desejos. O que você tem desejado? Neste texto, Jesus convida a um estilo de vida sismples, que é uma vida sem luxo e sem ambição, fora da cultura da opulência, mantida pela cultura da ansiedade, nutrida pela falta de confiança em Deus. . Desacelere-se. Diminua o ritmo. Ponha menos coisas no seu dia. Se não for possível, faça pausas entre uma atividade e outra. Se não for possível, não permita que todos os seus dias sejam frenéticos. Nos sábados quando me encontro meninos e meninas indo para a escola, como se fosse uma segunda-feira, eu me entristeço com o estilo de vida de nossa sociedade. Esses meninos e meninas não estão ali para aprender; estão ali para serem preparadas para vencer seus "adversários", isto é, os colegas que vão buscar os mesmos cursos nas mesmas universidades. Quero, por fim, convidar você para orar. . Se você ainda não crê em Jesus como Salvador, logo está fora do Reino de Deus, eu lhe convido a convidar Jesus para inscrever você no Reino de Deus. Ela já perdoou os seus pecados, que fazem de você o centro de você mesmo. Aceite este perdão. Ore agora, com esta confissão e este convite a Jesus, para ser o Rei da sua vida. . Se você já está no Reino, mas dentro de você ainda está presente a cultura da ansiedade, com um baixo nível de confiança, eu lhe convido a dizer para Deus que é o Rei, que Ele é o Centro de sua vida. Faça isto de coração, com todas as suas forças. Eu lhe convido ainda a pedir a Deus que ajude você a desenvolver sua confiança. Sugiro-lhe um exercício. Imagine-se numa praia cheia de gaivotas. Se preferir, imagine-se num campo cheio de flores, que podem ser lírios ou não. Num destes lugares, reconheça que Deus fez a terra e o que nela há, como a Bíblia ensina. Transportado para este lugar imaginário, eu lhe convido a imaginariamente também, reunir, na sua mente agora, todas as suas preocupações, juntá-las na sua boca e soprá-las em direção a Deus. Este alívio é uma providência de Deus para você. * Venha para o Reino de Deus. "Limpe o seu coração. Faça dele uma casa para o Senhor. Deixa que Ele more em você e você morará nEle" (Agostinho).

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"Pelas flores, pelas conchas, pela parte, pela música, pelos pássaros, pelos cães, pela água, pelo ar, pelo céu, pelas estrelas, pelo brilho do sol, pela terra, pela grama, pelo alimento, pela bebida, pela risada, pela afeição, por meus amigos, por minha família, por meus pais, por meus filhos, por meu amado marido, por minha vida, obrigada, Deus... mesmo que tudo seja apenas um empréstimo". (Joan Bell Gededs 20)

20Citado por GIRE, Ken. Meditações para a vida. Niterói: Textus, 2001, p. 53

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EXERCÍCIO ACORDE 1. Faça uma lista de coisas que fazem parte da sua vida, as quais você poderia dispensar, em busca de uma vida menos agitada. A pergunta essencial é: "Eu preciso mesmo disso ou esta necessidade foi criada?". Por exemplo, quantos televisores há em sua casa? Todos são necessários? (AUTO-CONHECIMENTO) 2. Confesse que está preso a coisas, agendas e pessoas, que acabam lhe impondo um ritmo de vida que o afasta você de você mesmo e de Deus. Diga ao Senhor que coisas são estas. (CONFISSÃO) 3. Ore para ser liberto destas coisas e agendas. (ORAÇÃO) 4. Visite um jardim ou um lago calmo ou uma plantação, para ver como vivem. Se puder caminho descalço por um bosque ou por uma praia. Veja como vivem as gaivotas. Use o texto bíblico indicado. Leia Mateus 6.19-34. Medite neste texto. Escolha um dos versículos para memorizar. 5. Tome a decisão de viver de modo simples. Tome a decisão de desacelerar, de parar de competir, de parar de exibir o seu "ter". (DECISÃO) 6. Tome cuidado para as quinquilharias que vão sendo acrescentadas à sua vida, sejam coisas, sejam idéias, sejam compromissos. Empenhe-se para ter apenas o essencial para ser alguém essencial. (ESFORÇO)

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LEITURAS SUGERIDAS FOSTER, Richard. Sexo, dinheiro e poder. São Paulo: Mundo Cristão, 2005. GIRE, Ken. Meditações para a vida. Niterói: Textus, 2001. VIVA A SIMPLICIDADE. São Paulo: ABU e Visão Mundial, 1975. (Série Lausanne, 5). [Em inglês: Lausanne Committee for World Evangelization. An Evangelical Commitment to Simple. Disponível em: <Life-style. http://www.lausanne.org/Brix?pageID=14737>.

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[TEXTO ADICIONAL] ACALME-SE (Salmo 46) Não é desprezível a informação, segundo a qual o salmo 46 foi escrito ao final de uma experiência de luta. Embora não possamos saber com certeza, o texto mesmo parece indicar este contexto. Essa informação nos deixa à vontade para ler este salmo e crescer com ele. Assim, o salmo 46 é uma canção para ser entoada num culto. Perdemos a melodia, mas o ritmo está ali, inclusive o estribilho, que aparece nos versos 7 e 11. A experiência vivida pelo poeta, e não sozinho, porque junto com outras pessoas, seus familiares, seus companheiros de luta, seu povo, leva-o a concluir que devia acalmar-se, aquietar-se, desagitar-se, parar de lutar. ENTENDENDO O SALMO Verso 1 O salmo começa (verso 1) com uma declaração acerca de Deus, que, por experiência própria, sabemos ser verdadeira. Versos 2-3 Nossa fé neste Deus não depende de que tudo esteja no seu lugar em nossas vidas. Pode estar tudo de pernas pro ar em nossa saúde, em nossa família, em nossas finanças, que ainda assim sabemos que Deus é nosso refúgio e fortaleza, que, na hora da angústia, Ele é socorro bem presente. Por isto, ao olhar para si e para a sua gente, o poeta canta que ele nem sua gente deviam temer. Como temer as coisas, se Deus fez as coisas? Como temer o poder da natureza, se Deus que a criou está conosco? Como ficar abalado pelo jeito que as coisas, em casa, no bairro, na cidade, no país, no mundo estão indo, se Deus continua Senhor, embora o furacão, o vulcão pareçam que vão levar tudo de roldão? Versos 4-5 Deus está no meio de nossas vidas. Lendo o salmo (versos 4 e 5), ouvimos sobre uma cidade que tem um rio que alegra a cidade de Deus, que alegra o santuário das moradas do Altíssimo. Deus está no meio desta cidade. Deus ajudará os habitantes desta cidade, no início do dia. Que cidade é esta? Não sabemos. Jerusalém não tinha rio. Que bom! Gosto de pensar então que a minha vida, a sua vida, é a morada de Deus. Esta morada é visitada por um rio de alegria; este rio é o Espírito Santo. O Espírito Santo se alegra porque está conosco; o Espírito Santo se alegra porque não se abala diante dos ataques porque lá adiante o rio desemboca em Deus. O Espírito Santo se alegra porque sabe que a noite, esta noite por vezes trevosa que parece interminável, vai acabar; Deus fazê-la acabar porque está pronto e desejo para ajudar seus filhos a uma vida de plenitude. Gosto também de pensar que preciso contemplar as águas deste rio e ver para onde vão; eu preciso me banhar nas águas deste rio; eu preciso beber das águas deste rio. Queremos nos acalmar, mas continuamos bebendo as águas da agitação. Quem bebe agitação fica agitado. Quem bebe calmaria calmo fica. Gosto de pensar que a ajuda de Deus, no início da manhã, tem a ver com duas decisões nossas. Uma é uma atitude de busca da sabedoria de vida. Nós precisamos aprender a viver. Boa parte de nossos problemas advém de nossa falta de sabedoria, ou da falta de sabedoria dos outros. Então, no que depender de nós, aprendamos a viver. Outra é uma atitude de busca do poder de Deus sobre as nossas vidas, que é também uma atitude sábia, porque começa com a percepção de quem Deus é (um Deus Emanuel, um Deus conosco), continua com o desenvolvimento da confiança neste Deus em meio à bonança e em meio à borrasca, em meio à graça e em meio à desgraça, e se completa com a entrega. Confiar é deixar nossos problemas ao pé da cruz e voltar para a casa sem eles. Confiar é depositar, como se fosse uma oferta, nossas dores no altar de Deus e voltar para casa sem elas. Confiar é crer que a manhã da intervenção de Deus vai chegar quando for manhã no relógio de Deus. (Aliás, para muitos a manhã já chegou, mas a manhã não é recebida porque o coração continua agitado!) Versos 6-8 Confiar em Deus não é viver como se os problemas não existissem, alienadamente, porque, na verdade, a confiança nasce de uma visão da realidade, confrontada com uma visão de Deus. Quem vence, no seu coração? Reinam os reinos deste mundo? Valem as vozes deste mundo? Vencem os senhores da guerra, os que têm armas poderosas? Ou vence a voz dAquele que faz a terra se derreter? Ou vence Aquele que quebra arcos, lanças e escudos e seus correlatos de alta tecnologia? Versos 10-11 Diante do que Deus é, só nos cabe parar de lutar, aquietarmo-nos, acalmarmo-nos.

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Quando sabemos quem Deus é, nós nos acalmamos. Quando olhamos mais para o que Ele pode fazer e menos para o que somos capazes de fazer, nós nos acalmamos. Com os olhos da fé, podemos ver Deus sendo exaltado até por quem não crê nEle. Com os olhos centrados em Deus e não na periferia das ações humanas, boas e ruins, veremos Deus sendo exaltado até pela natureza. MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA 1. Por que nos acalmar? Precisamos nos acalmar também por uma questão de sabedoria: nós precisamos de calma. A prova disso é que, em situações extremas, podemos até tomar remédios que nos acalmem. Precisamos de calma. Com calma, vivemos melhor; com calma, decidimos melhor; com calma, convivemos melhor. 2. Como nos acalmar? Só nos aquietaremos, se tivermos uma visão de Quem de Deus é. Uma criancinha que começa a andar treme sobre seus pés. Lança-se, então, em direção ao colo do pai ou da mãe, aumenta a velocidade. Se pudéssemos medir seus batimentos cardíacos nesses instantes, veríamos uma agitação tremenda; mas se pudéssemos medir esses batimentos quando se aninhou no colo do seu pai ou sua mãe, ficaríamos surpreso com a diferença. Ele precisa dar os passos, mesmo sabendo que seu pai ou mãe o espero. Ele anda e até corre por causa da visão de Deus; sem ela, talvez ficasse parado, derramado em lágrimas. É assim conosco. Deus não nos pede para não andar, não correr, não lutar, mas para andar, correr e lutar com os olhos fixos nEle, alimentados por Ele. Acalmar-se é desagitar-se, desacelerar-se. Quero sugerir algumas atitudes práticas nesta direção. Para se acalmar, pare de viver como se tivesse que estar sempre provando alguma coisa. Deus ama você como você é. Deus já aprovou você. Ele quer que você mude só o que deve ser mudado, não os que os outros acham que deve ser mudado. Para se acalmar, pare de ter opinião sobre tudo. O mundo pode viver muito bem sem a maioria de suas "sábias" opiniões. Para se aclamar, pare de controlar as vidas dos outros. Você pode viver como se fosse Deus, mas você não é Deus. PARA UM ESTILO DE VIDA Perto da estréia da seleção brasileira na Copa do Mundo de Futebol em 2006, houve uma videoconferência do presidente Lula com os jogadores na Alemanha. Nela o presidente perguntou ao técnico Parreira se o jogador Ronaldo estava mesmo gordo. Sua intenção era ajudar a dissipar a impressão generalizada sobre o peso do atacante. Ele não estava na videoconferência, mas não gostou e, talvez com a paciência esgotada, atacou o presidente. Ronaldo, neste episódio, não viveu as verdades do salmo 46. O estilo "bateu-levou" geralmente terminou em "apanhou". 1. Você foi atacado? Saiba que Deus é o seu refúgio e a sua fortaleza, auxílio sempre presente na adversidade. Deixe Deus brigar por você. O Senhor dos Exércitos está com você; o Deus de Jacó é a sua torre segura. 2. Você anda sem vigor? Lembre-se que há um rio cujos canais alegram a sua vida, que é também o Santo Lugar onde habita o Altíssimo. Deus está em sua vida, que não será abalada! Beba da água deste rio. O Senhor dos Exércitos está com você; o Deus de Jacó é a sua torre segura. 3. Você está agitado? Recorde-se das vezes em que Deus veio em seu auxílio em lindas manhãs. Ponha seus ouvidos na boca de Deus para escutar a sua voz libertadora. Agitação drena suas energias; acalmar-se concentra suas forças. Afinal, o Senhor dos Exércitos está com você; o Deus de Jacó é a torre segura da sua vida. 4. Você está perplexo? Ao ver os senhores do mundo em ação, você se pergunta onde Deus está? Veja o que Deus tem feito. Juntemo-nos ao Seu exército. Ele está conosco nas lutas que precisamos travar. Ele nos dá a cobertura para enfrentar os adversários. 5. Você está cansado?

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Está na hora de você descansar, desacelerar, desagitar. Está na hora de erguer um canto pessoal e coletivo a Deus, para celebrar que Ele é Deus, mesmo que não esteja vendo a Sua vontade prevalecendo, mesmo que tudo à sua volta esteja esboroando-se, mesmo que sua fé esteja pequenininha. Deus é Deus apesar de mim. Graças a Deus. É por isto que eu o exalto. 6. Você se sente solitário? Podemos nos acalmar -- eis a mensagem central do salmo 46 -- porque não estamos sozinhos. Deus está conosco. Ao final de sua vida, John Wesley suspirou: "O melhor de tudo é que Deus está conosco".

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5 ALEGRIA: CONTENTAMENTO EM TODA E QUALQUER SITUAÇÃO "Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece". (Filipenses 4.12b-13) "Aqueles que pretendem encontrar a alegria fora de si, facilmente encontram o vazio". (Agostinho) NÃO seja solícito apenas em pedir a bênção de Deus, mas seja também pronto em agradecer o que recebeu. A alegria, que é filha da fé, é para agora, não apenas para a vida futura, quando a alegria não conhecerá sombra.

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O SORRISO DE SARA (Gênesis 16) Era uma vez... uma mulher que vivia muito triste e muito amargurada, porque já estava velha e não tinha filho nenhum. Deus chegou perto dela e disse: — Agora você vai ter um. A resposta de Sara foi uma grande gargalhada. Deus respondeu: — Você está velha, mas não está acabada. Com o menino que vai nascer toda a terra será abençoada. Sara não acreditou e soltou outra risada. Os dias foram passando e não aconteceu nada. Abraão comentou: — Será que você não está enganada? O tempo passou e Sara foi ficando pesada e o bebê dentro dela um dia deu uma balançada. Chegou o dia do nascimento e Sara estava preparada. Nasceu Isaque, que quer dizer “gargalhada”. Toda a sua família voltou a sorrir ainda mais, porque Deus abençoara Sara com um filho lindo demais. E assim a palavra de Deus continuou confirmada. (Israel Belo de Azevedo)

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A ALEGRIA É A NOSSA FORÇA Se tem algo irritante nos cristãos é de alguns deles acharem que todo santo é carrancudo. Fico imaginando o efeito disso nos mais jovens. Jamais quererão ser santos. Felizmente lá em casa, desde criança, rir era um bom negócio. Outra coisa irritante é essa de alegria "interior". Alegria "interior" que fica só no "interior" é como fé sem obras. O apóstolo Paulo põe o paradoxo das possibilidades de vida em duas expressões: o cristão não deve produzir as obras da carne, mas, antes, o fruto do Espírito Santo. Ao colocar as manifestações da carne no plural, o escritor bíblico quis deixar claro que elas são múltiplas e que o cristão não se deixa escravizar por todas elas de uma só vez. Além disso, ele termina a frase, acrescendo um "e coisas semelhantes a estas". Este "etc" paulino mostra a amplitude das possibilidades no erro, diante das quais devemos estar vigilantes. A lista não poderia mesmo ser limitada porque a criatividade humana é ilimitada. Quando o apóstolo passa a recomendar como o cristão deve viver, ele usa a expressão "fruto do Espírito" no singular. Cada arvore só dá um tipo de fruto, segundo a sua espécie. Esta ênfase paulina indica que essas virtudes não são para ser escolhidas no balcão do Espírito Santo, mas que devem compor a bagagem de todo cristão. O cristão não pode ser amoroso e triste, mas amoroso e alegre. A árvore de quem vive no Espírito Santo deve dar este fruto: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. É um fruto só. Quando alista a última parte do fruto, Paulo não coloca um "e", como a reforçar a unidade deste fruto. Não há hierarquia nesta relação. O amor não é mais importante que a mansidão. Amor e mansidão são expressões do mesmo fruto. Não é fácil viver no Espírito. Por isto, a Bíblia está sempre a nos orientar neste projeto de vida. O fruto do Espírito é, portanto, integral, holístico. Eu não posso dizer: -- Fidelidade é comigo, mas não espere de mim domínio próprio. Uma bola de futebol sem um dos seus gomos não é uma bola de futebol. Não há uma progressão nesta manifestação. O amor não é mais importante porque vem em primeiro lugar. O domínio próprio não é menos valoroso porque vem por último. Ambos, como os demais, são faces do mesmo fruto. Ao tratar, portanto, deste fruto, podemos começar por qualquer um dos lados. Podemos começar pela alegria. Na perspectiva bíblica, a alegria é um fruto do Espírito, isto é, não é uma virtude que nós possamos produzir, mas uma manifestação do Espírito Santo em nós. A nossa participação consiste em permitir que o Espírito Santo a inocule (introduza, enxerte) em nós e em cultivá-la por meio de uma vida de intimidade com o Espírito Santo. ALEGRIA COMO IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS A narrativa da criação do mundo (Gênesis 1) contém uma frase que se repete ao termino de cada dia: Viu Deus que isso era bom. A criação do mundo, parte por parte, deu prazer a Deus. No primeiro dia, Ele não olhou para o que restava e se lamentou. Antes, Ele se alegrou no que já tinha feito. Sua atitude é diferente de muitos de nós, pessimistas profissionais, sempre a lamentar o que falta ser feito, como um peso incarregável. Deus é alegre. Ao relembrar a promessa divina ao seu povo, prestes a entrar na terra prometida, Moisés afirmou: O Senhor teu Deus te fará prosperar grandemente em todas as obras das tuas mãos, no fruto do teu ventre e no fruto dos teus animais e no fruto do teu solo, porquanto o Senhor tornará a alegrar-se em ti para te fazer bem, como se alegrou em teus pais (Deuteronômio 30.9). Onde Deus está, há honra e majestade, mas também força e alegria (1Crônicas 16.27). Na presença dEle, há plenitude de alegria (Salmo 16). Esta marca do caráter de Deus é reafirmada por ocasião do batismo de Jesus Cristo. Batizado que foi Jesus, saiu logo da água; e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito Santo de Deus descendo como uma pomba e vindo sobre ele; e eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo, isto é, em quem me alegro, em quem tenho prazer (Mateus 3.17). Jesus disse que no céu há alegria quando um pecador se arrepende (Lucas 15.7). O mesmo Jesus informou a motivação a sua pregação: para que seus discípulos (os ontem e os de hoje) tenham a minha alegria completa em si mesmos (João 17.13). Como imagem e semelhança de Deus, nós devemos ser alegres. A propósito, a palavra alegria (na forma substantiva, verbal e adjetivo), com seus sinônimos, aparece na Bíblia aos milhares, na certeza que o coração alegre aformoseia o rosto; mas pela dor do coração o espírito se abate (Provérbios 15.13). Não há contradição entre alegria e santidade. Nada mais estranho que um santo triste. Um santo não pode ser triste. Por isto, nada mais estranho que o retrato que geralmente se pinta de Jesus: rosto sério, face crispada, jeito de poucos amigos. Será que, em Caná da Galiléia, Jesus estava num canto da festa ou estava participando dela? Pelo relato bíblico, sabemos que Jesus estava se divertindo e chegou a providenciar mais vinho para que

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a festa prosseguisse. Uma das críticas que os raivosos e entristecidos fariseus faziam ao Senhor Jesus foi a seguinte: Eis aí um comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores (Mateus 11.19). Ele não era um glutão ou um beberrão, mas comia e bebia com os que vinham a Ele, o que contrariava a idéia de uma religião séria, pesada e triste. A religião cristã, infelizmente, está mais para os fariseus do que para Jesus. Precisamos recuperar o hedonismo cristão, com uma teologia e uma atitude que condenem a alegria superficial, mas reforcem a alegria no Espírito Santo, presente em todas as áreas da nossa vida. Assim, portanto, nosso culto deve ser alegre, nunca um funeral. Nem a celebração da Ceia do Senhor pode se parecer com um funeral, porque, se é celebrado em memória, ela o é em memória dAquele que vem. A Ceia do Senhor é, portanto, um memorial de esperança, não de morte. Devemos adorar a Deus com a mesma atitude do poeta bíblico: Irei ao altar de Deus, a Deus, que é a minha grande alegria; e ao som da harpa te louvarei, oh Deus, Deus meu (Salmo 43.4). Nossa vida precisa estar enxertada da alegria que vem de Deus. Depois de uma experiência de culto, Esdras e Neemias abençoaram o povo, mandando-o para casa, com a seguinte recomendação, válida para hoje: Ide, comei as gorduras, bebei as doçuras e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque este dia é consagrado ao nosso Senhor (Neemias 8.10a). Alguns justificam a sua tristeza com os problemas dos outros. Como posso ser alegre, se há pessoas famintas? Esdras e Neemias respondem: "levem porções aos que não têm nada e festejem". A alegria não precisa ser alienada e alienadora. PARA UM HEDONISMO DO ESPÍRITO SANTO No hedonismo cristão, a alegria decorre da habitação do Espírito Santo em Nós. Portanto, não é uma marca que nós produzimos, mas uma manifestação do Espírito em nós e por meio de nós. É verdade plena que o reino de Deus não consiste no comer e no beber, mas na justiça, na paz, e na alegria no Espírito Santo (Romanos 14.17), mas também é verdade que a justiça, a paz e a alegria no Espírito Santo devem acontecer em ações concretas e mesmo festivas. Afinal, como ensina a Bíblia, nenhuma coisa melhor tem o homem debaixo do sol do que comer, beber e alegrar-se; porque isso o acompanhará no seu trabalho nos dias da sua vida que Deus lhe dá debaixo do sol. (Eclesiastes 8.15) 1. Deixe Espírito Santo inocular alegria em você. Quando o Espírito Santo convenceu você do seu pecado, e do juízo merecido; quando Jesus Cristo perdoou o seu pecado; quando o Pai escreveu seu nome no livro da vida, você se tornou um Filho pleno de Deus, que deve viver segundo a imagem e semelhança da Trindade. Não há mais motivos para a tristeza. Afinal, a alegria do Senhor é a sua força (Neemias 8.10). Abra, então, lugar para que a força alegre do Espírito tome conta da sua vida e vá se expandindo dia a após dia. Quanto mais alegre você for, mais santo será. A alegria do Espírito é aquela que não precisa de um ambiente festivo para se manifestar e muito menos de nenhum tipo de estimulante químico. Nutrido pelo Espírito, quando você for a uma festa, não vá buscar alegria; vá levar. 2. Cultive a alegria no Espírito Santo Com uma licença poética, para fins de comparação, podemos falar no Espírito Santo em nós como uma planta. Para que esta planta dê fruto, ela precisa de água, ar e espaço. Lamentavelmente, há muito Espírito Santo amassado e abafado, ao ponto de ser extinto em suas conseqüências práticas na vida de muitos cristãos. Cultivamos o Espírito, quando buscamos viver em intimidade com Ele. Essa é uma possibilidade concreta, e não apenas uma afirmação poética. Se o Espírito estiver em nós, seu fruto vai nascer na árvore da nossa vida. 3. Permita que alegria do Espírito Santo se expresse claramente em você e por você. A alegria se expressa em várias formas em nossas vidas. Uma de suas manifestações é a chamada alegria interior, ponto de início de outras manifestações. Não nos preocupemos em saber se nós ou alguma pessoa está com esta alegria. Ela sai de dentro. É como a tristeza. Uma pessoa triste não precisa dizer que está triste; está na sua cara. Basta que a observemos. Por isto, quem está alegre espiritualmente canalizará seu contentamento para fora. Nós experimentamos várias manifestações desta alegria, que não pode ser apenas, como queria o filósofo Henri Bergson, apenas "uma anestesia momentânea do coração". Uma das expressões da alegria do Espírito Santo é um cântico. É impossível a um crente alegre e feliz não manifestar sua alegria e felicidade sem cantar. Este cântico pode ser até discreto, na forma de um cantarolar ou assoviar, mas será cântico, mas não precisamos ser discretos sempre. Nossa experiência deve ser a do salmista: Senhor, tornaste o meu pranto em regozijo, tiraste o meu cilício (isto é, o saco de cinza própria da hora da dor profunda) e me cingiste de alegria, para que a minha alma te cante louvores e não se cale. Senhor, Deus meu, eu te louvarei para sempre (Salmo 30.11,12). Esta é a sua história, ou você se esqueceu? Há cristãos mais tristes de quando não eram cristãos. Há cristãos calados. O que está havendo com você? Há algum profundamente errado com a sua vida. E a culpa não é de

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Deus. Cantemos louvores a Deus. Outra manifestação de alegria em Cristo é o sorriso, que é diferente do riso. Num livro recente (Laughter -- Riso), o psiconeurologista norte-americano Robert Provine lembra que o sorriso é uma forma de comunicação visual, enquanto o riso é uma experiência auditiva. Ambos são mais um meio de comunicação e socialização do que um produto de humor. O sorriso se vê; o riso se ouve, mesmo no escuro. A propósito, o estudo, desenvolvido a partir de 1200 situações de riso, mostra que as mulheres riam 20% a mais que os homens. Devemos rir, devemos sorrir. Lembremos que o sorriso/riso no Espírito não ri/sorri dos outros, como se quem ri fosse superior àquele de quem ri; antes, o riso no Espírito é um riso com os outros, pela alegria do encontro e do convívio. Há uma outra expressão de alegria que é o serviço. Os tristes não dão dízimo com alegria. Os tristes não ajudam os outros com prazer. Os tristes não promovem a causa da justiça. Como recomenda Paulo, a contribuição para a causa do Reino de Deus deve ser feita com alegria, não com tristeza. Como ensina Jesus, o serviço ao necessitado deve ser desenvolvido com prazer, como fez o chamado bom samaritano. Como ensina a Bíblia: a execução da justiça é motivo de alegria para o justo (Provérbios 21.15). 4. Viva com alegria, seja em gratidão pelo que Ele já lhe fez, seja em esperança pelo que Ele ainda lhe fará. A gratidão é uma expressão de saúde espiritual. Diante daquilo que Deus nos tem feito, somos gratos e a manifestação mais própria para o sentimento de gratidão é a alegria. Quem é grato é alegre. O louvor, que é uma expressão de alegre, é filho da gratidão. Diante da clara manifestação de Deus em nossas vidas, nós tendemos a nos encher de alegria do Espírito. Pode ser, no entanto, que nós enchamos de nós mesmos, considerando-nos os responsáveis pela abundância em que vivemos ou pela da ausência de problemas. A Bíblia condena este desvio com contundência. Por não haveres servido ao Senhor teu Deus com gosto e alegria de coração, por causa da abundância de tudo, servirás aos teus inimigos, que o Senhor enviará contra ti, em fome e sede, e em nudez, e em falta de tudo; e ele porá sobre o teu pescoço um jugo de ferro, até que te haja destruído. (Deuteronômio 28.47-48) Há muitos crentes cujo único problema é a abundância de tudo. Têm tanto que se afastam de Deus, fonte de nossa força; têm tanto que abafam a presença do Espírito de Deus, fonte de nossa alegria, e se deixam tomar pela tristeza. No entanto, há situações em que não é natural arrancar de nós mesmos um riso ou mesmo um sorriso. Nossa alma se abate e se perturba (Salmo 43.5). Como cantar, quando nos parecemos com os judeus exilados, que perguntavam: Junto aos rios de Babilônia, ali nos assentamos e nos pusemos a chorar, recordando-nos de Sião. Nos salgueiros que há no meio dela penduramos as nossas harpas, pois ali aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções; e os que nos atormentavam, que os alegrássemos, dizendo: "Cantai-nos um dos cânticos de Sião". Mas como entoaremos o cântico do Senhor em terra estrangeira? (Salmo 137.1-4) O mesmo salmista que pergunta: Por que estás abatida, oh minha alma? e por que te perturbas dentro de mim? é o mesmo que responde: Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele que é o meu socorro, e o meu Deus. (Salmo 43.5). Se esta é a sua situação, permita que o Espírito Santo dê o Seu fruto na sua vida. Louve-O assim mesmo, porque Ele é seu socorro e o seu Deus. A esperança faz que a alegria não dependa das circunstâncias 4. CONCLUSÃO Uma pessoa cheia do Espírito é uma pessoa alegre. A alegria é uma das conseqüências mais visíveis da plenitude do Espírito Santo em nós. Que se aplique integralmente a nós a descrição feita por Lucas acerca de alguns primeiros cristãos: os discípulos, porém, estavam cheios de alegria e do Espírito Santo (Atos 13.52) Se vivemos no Espírito, somos alegres.

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SALMO 92 Gosto mesmo é de agradecer ao Senhor com louvores que cantem o seu leal amor e a sua firme fidelidade no tempo da figueira florida e no vale da dificuldade porque a minha alegria não depende dos seus favores. Gosto mesmo é de saber que os justos são como flores que o Criador faz brotar no jardim para reter a maldade que os homens gostam de exibir, por sua crueldade. como troféu de ouro na sórdida galeria de horrores. Gosto mesmo é de sentir minha força revigorada. ao ver os violentos todos correrem em debandada à voz de Deus em defesa da alma injustiçada. Gosto mesmo é de deixar o Pai me soprar a alegria quando fruo as obras das mãos de sua soberania que me faz vibrar: "Obrigado, Senhor, rocha minha".

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EXERCÍCIOS ACORDE 1. Responda: Qual foi a última vez em que deu uma gargalhada? e Por que? (AUTO-CONHECIMENTO) 2. Relacione pelo menos 5 bênçãos recentes recebidas de Deus. Se ainda não agradeceu por TODAS elas, peça perdão a Deus. Lermbre-se que o egoísta não recebe mais por causa do seu caráter. Dos dez leprosos, nove foram apenas curados. Um foi curado e salvo. Por que? (CONFISSÃO) 3. Ore para ser abençoado com um coração que ri. (ORAÇÃO) 4. Pesquise na Bíblia pelo menos 5 passagens sobre alegria ou gratidão. Medite nelas. Decore uma delas. (Alguns exemplos: Gênesis 16; Êxodo 18.9; Josué 22.33; Salmo 4.7; Salmo 16.11; Isaías 60; 1Tessalonicenses 5.16) (REFLEXÃO) 5. Decida ter a gratidão como um estilo de vida. (DECISÃO) 6. Gaste tempo com canções e textos que relaxem, que levem você ao riso, à alegria. Vigie para não voltar a ser rabugenti e murmurador. Se ainda não sabe, aprenda a rir com as pidas que lhe contam. (ESFORÇO)

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LEITURAS SUGERIDAS AZEVEDO, Israel Belo de. Fruto do espírito. São Paulo: Sepal, 2000. DRESCHER, John. Alegria. Campinas: United Press, 1999. PIPER, John. Teologia da alegria. São Paulo: Shedd, 2002. LOPES, Hernandes Dia. Ladrões da Alegria. São Paulo: Hagnos, 2005. NOUWEN, Henri. Transforma Meu Pranto em Dança. Niterói: Textus, 2002.

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[TEXTO ADICIONAL] A CAMINHO DA VIDA ABUNDANTE (João 10) Entre as confissões que um pastor ouve, uma delas é esta: -- Minha vida anda tão sem sentido, que a única coisa que ainda não perdi foi a fé. Para pessoas assim, diferentemente do que ensina a Bíblia, não permanecem a fé, a esperança e o amor (1Coríntios 13.13), só a fé. Não há mais nesse cristão a esperança que Deus é o Senhor que garante o chão para a caminhada; não há mais nesse cristão o amor que aquece os relacionamentos com o seu Senhor e com os seus irmãos. Resta uma fé residual, incapaz de gerar esperança, incapaz de produzir amor. No entanto, ao descrever a natureza da vida prometida aos seus seguidores, Jesus a descreveu de várias formas. Ele a classifica como sendo: . simplesmente vida (conforme João 5.40 -- Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida.); . vida eterna (como em João 6.47 -- Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna.), e . vida abundante (João 10.10b -- Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância [ou Eu vim para que tenham vida e vida abundante].) Quando nos reunimos para celebrar o Autor e Consumador de nossas vidas, a maioria dos rostos deixa transparecer esta vida transbordante, por meio de cânticos entusiasmadas e atitudes destemidas. Uma igreja celebrando com alegria é uma das cenas mais deslumbrantes que os olhos humanos podem contemplar. É verdade que uns poucos não conseguem efetivamente celebrar, travados por perguntas sem respostas e encurvados sob as muitas preocupações. Essa minoria, no entanto, tende a ser maior quando lançamos os nossos olhares sobre a vida cristã normal. A experiência de muitos cristãos é a mesma do poeta bíblico:

Estou aflito! Os meus olhos estão cansados de tanto chorar;

estou esgotado de corpo e alma. A tristeza acabou com as minhas forças;

as lágrimas encurtam a minha vida. Estou fraco por causa das minhas aflições;

até os meus ossos estão se gastando. (Salmo 31.9b-10) Se, algum dia, o poeta experimentou vida abundante, esta lhe foi roubada. Agora, não se sente mais repousando em pastos verdejantes, não se vê mais levado para junto das águas de descanso; não mais encontra refrigério para a sua alma; não mais se vê conduzido pelas veredas da justiça por amor do nome do Senhor (Salmo 23.1). Quando se apresentou como o bom pastor (João 10), Jesus garantiu que a vida na qual o Seu amor nos lança é eterna, no sentido do tempo e na dimensão da intensidade. A vida cristã é eterna, porque durará para além da história. A vida cristã é eterna, porque sua qualidade ultrapassa a competência humana. As palavras de Jesus foram bem claras:

Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas (verso 7).

Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará, e sairá, e achará pastagem (verso 9).

Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância (verso 10). Eu lhes dou a vida eterna;

jamais perecerão, e ninguém as arrebatará [roubará] da minha mão (verso 28).

É esta a vida que vivemos ou os seus adjetivos (abundante, eterna) nos foram arrebatados (tomados)? Será mesmo possível a vida abundante ou se trata de uma promessa irrealizável no curso da existência terrena? Será que a vida transbordante prometida por Jesus é para ser experimentada apenas após a morte? Se é verdade que o futuro nos aguarda para a plenitude, a vida abundante começa no momento em que passamos a pertencer ao rebanho de Jesus Cristo. Nós não seremos de Jesus; nós somos de Jesus. A partir do momento em que entramos pela Porta [do curral das ovelhas], encontramos pastagem (verso 9). Como nos ensina o apóstolo Paulo, fomos lavados, santificados e justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus (1Coríntios 6.11). A NATUREZA DA VIDA EM ABUNDÂNCIA Precisamos definir o que é esta vida, da qual estamos falando. Jesus, nesse texto, não a conceitua.

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1. Certeza quanto ao passado Segundo nos ensina a Bíblia, viver abundantemente é ter certeza quanto ao passado. Uma das perguntas mais comuns que um pastor ouve, de membros da sua própria igreja e de outras, é: -- Já que não tenho prazer na vida cristã, será que eu sou mesmo salvo? Se você está mergulhado na sombra destas indagações, a resposta é simples. Não importa a pobreza de sua experiência cristã contemporânea; se um dia, não importa há quanto tempo, entendendo o sacrifício de Jesus Cristo, você o convidou para ser seu Senhor e Salvador, é isto que vale.

Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida,

mas sobre ele permanece a ira de Deus. (João 3.36) Você crê no Filho como Aquele que dá a vida? Todos os que nEle cremos, fomos purificados DEFINITIVAMENTE por Jesus Cristo, pelo sangue derramado por nós. Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas (Hebreus 10.10). Selados pelo Espírito Santo, não podemos mais voltar ao estado anterior (a.C.). Depois que ouvimos a palavra da verdade, o evangelho da nossa salvação, tendo nele também crido, fomos selados com o Santo Espírito da promessa (Efésios 1.13). 2. Confiança quanto ao presente Também como nos ensina a Bíblia, viver abundantemente é sentir confiança quanto ao presente. Esta confiança decorre de uma visão acerca de Deus, como esta cantada pelo profeta Isaías:

Desde a antiguidade não se ouviu,

nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu

Deus além de ti, que trabalha para aquele que nele espera.

(Isaías 64.4) A visão de Quem Deus é deve produzir em nós a confiança nEle. O profeta diz que Ele é um Senhor que trabalha para aquele que nele espera (Isaías 64.4). O apóstolo Paulo reescreve este texto de um modo igualmente profundo:

Jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.

(1 Coríntios 2.9) Nenhum de nós é capaz de compreender o que Deus tem preparado para nós. Ele trabalha para nós. Saber disso nos deve encher de confiança. Para que temer as circunstâncias, por mais sombrias que possam parecer ou efetivamente sejam? 2.3. Esperança quanto ao futuro Igualmente como nos ensina a Bíblia, viver abundantemente é nutrir, sem medo, esperança quanto ao futuro. Precisamos confiar no Senhor e esperar nEle (Jeremias 17.7). Se olharmos para o passado, o passado do povo de Deus e o nosso próprio passado, teremos esperança. A memória produz esperança (Lamentações 3.21). Quando preparo uma mensagem, procuro visualizar alguns membros da igreja, para ver se as coisas que direi lhes farão sentido. Quando meditava sobre a afirmativa que viver abundantemente é nutrir esperança quanto ao futuro, pensei naquela irmã que cuida da sua tia já velhinha e desejosa que Deus a leve para as mansões celestes. Há esperança para a sobrinha? Qual é a esperança da tia? Podem elas viver abundantemente? Pensei naquele irmão que vai fazer uma cirurgia para extrair um câncer ou naqueles irmãos que estão enfrentando, com pesadas terapias, os tumores que investem contra as células sadias dos seus corpos? Podem eles viver abundantemente, com expectativas tão pouco animadoras? Pensei naquele pai cujo filho está agora no Afeganistão, sem poder mandar notícias para casa? Que esperança há para o rapaz, passível de ser morto por seu próprio exército? Que esperança há para o pai, cujo único desejo é abraçar de novo o seu garoto? Pensei naquela família completamente decepcionada com sua igreja e com seu pastor e que hoje anda desgarrada, à beira de perder a fé no Jesus que um dia a todos salvou. Haverá uma chance para eles? Pensei naquele jovem que luta para encontrar um emprego, mas não consegue e vive de favores. Há esperança para ele?

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Pensei naquela jovem que sonha encontrar um namorado, que possa vir ser seu noivo e seu esposo, mas seu sentimento é de que ninguém a quer. Haverá um dia melhor para ela? Pensei naquele cônjuge sem prazer de chegar em casa, tanta é a falta de carinho, tamanha é a falta de respeito, imensa é a solidão cercada por silenciosas paredes. Há esperança para casais assim? Podem estas pessoas viver abundantemente? Será que a vida abundante é só para alguns escolhidos? Então, voltei à Bíblia à procura do substantivo "esperança". Encontrei-o 100 vezes, como nestas passagens: Bendito o homem que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor. (Jeremias 17.7)

Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo;

por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes

e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações,

sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência;

e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde,

porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado.

(Romanos 5.1-5)

Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus;

e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece,

porquanto não o conheceu a ele mesmo. Amados, agora, somos filhos de Deus,

e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar,

seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é.

todo o que nele tem esta esperança a si mesmo se purifica assim como ele é puro.

(1João 3.1-3) O convite permanece: viver abundantemente é esperar no Senhor, como orando diariamente o grito de Jó:

Eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra.

(Jó 19.25) Viver abundantemente é desafiar as tribulações e aprender com elas, sem se deixar confundir por elas e sem permitir vergar o corpo sob o seu peso, mas graças à presença sustentadora conosco do Espírito Santo, que derrama sobre os nossos corações o amor de Deus. (Romanos 5.1-5) Viver abundantemente é saber-se filho de Deus e ter a certeza de que ainda não somos aquilo que seremos, mas que o seremos, porque purificados por Jesus Cristo (1João 3.1-3). A maioria das coisas é para nós um enigma (mistério), mas chegará um dia que tudo ficará claro para nós. Nessas horas, e nas boas também, precisamos nos lembrar positivamente que "os cristãos herdam de fato o destino que se vêem nos contos e fábulas: nós (sim, você e eu, os pecadores salvos) viveremos, e viveremos felizes, e pela graça infinita de Deus, viveremos para sempre" 21 Enquanto percorremos nosso itinerário pelos vales e pelas montanhas, as aflições permanecem, mas o sustento do Espírito também. E o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus (1 Coríntios 2.10). Não podemos esquecer as palavras de Eliú, o único sábio da saga de Jó. Depois de ouvir os discursos dos amigos de Jó e do próprio Jó, ele prepara o discurso do Senhor, dizendo: Deus sabe todas as coisas (Jó 36.5 -- BLH). Viver abundantemente é esperar no Senhor, tire Ele ou não o espinho que dilacera a nossa carne. Se Ele o tirar, ficaremos livres da dor e daremos glórias a Deus. Se Ele não o tirar, conviveremos com a dor e seremos

21PACKER, J.I. Growing in Christ. Citado por ANDERS, Max. A Igreja. São Paulo: Vida, 2001, p. 210.

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sustentados por Deus, a Quem também daremos glórias. AS MARCAS DA VIDA EM ABUNDÂNCIA Infelizmente, a vida rala é uma realidade para muitos cristãos. Assim são as vidas dos cristãos centrados em si mesmos. Eles até oram, mas só oram para pedir alguma coisa boa para si mesmo, pouco para ter comunhão, pouco para celebrar e raro para interceder pelos outros. Assim caminham os cristãos controlados por suas próprias consciências, sem se deixarem incomodar pela voz de Deus. Eles até lêem a Palavra de Deus, mas preferem seguir sua própria consciência auto-suficiente e cheia de si mesma. Assim sobrevivem os cristãos dominados pelos seus próprios temperamentos, não pelo Espírito Santo. Eles até desejam que o Espírito os domine, mas é um desejo medroso, um desejo derrotado, um desejo impaciente; por isto, logo desistem do Espírito, a quem trocam por seus instintos, temperamentos e conhecimentos. Este tipo de existência é a mais perfeita tradução do que não é uma vida em abundância, conceito que precisamos retomar. Por isto, se quiséssemos sintetizar numa expressão o que é vida em abundância, poderíamos nos contentar com esta: é vida de prazer, prazer em adorar a Deus, prazer em sermo moldado por Ele, prazer em servir. 1. Prazer em adorar Adorar é reconhecer e conhecer Quem Deus é. Temos confundido estilos de adoração com adoração, quando necessitamos da clara visão que adorar é reconhecer e conhecer quem Deus é. O profeta enuncia vários adjetivos para afirmar o caráter de Deus: benigno, glorioso, bondoso, generoso e misericordioso.

Celebrarei as benignidades do Senhor e os seus atos gloriosos, segundo tudo o que o Senhor nos concedeu

e segundo a grande bondade para com a casa de Israel, bondade que usou para com eles,

segundo as suas misericórdias e segundo a multidão das suas benignidades. (Isaías 63.7) Olhando para sua própria história e para a crônica do seu povo, o p(r)o(f)eta conclui que não há Deus como Aquele em Quem crê (Isaías 64.4). Esta visão de Deus provoca nele um gesto contínuo: a celebração. Celebrar, na verdade, é expressar o reconhecimento de Quem Deus é. A expressão é uma decorrência do reconhecimento. Nosso louvor pode se tornar apenas um gesto aprendido culturalmente, quando ele tem que ser uma expressão de nossa fé no Deus que fez. Pode parecer estranha a seqüência aqui sugerida: reconhecer e conhecer. Quando reconhecemos Quem Deus é, ficamos tão entusiasmados que nos pomos a caminho para conhecê-lO. Se o meu deus é pequeno, para que irei conhecê-lO? Se o meu deus é desinteressado, por que querei ter um relacionamento pessoal, intenso e duradouro com Ele? Vida em abundância é vida que adora a Deus. E a única razão para a adoração é o prazer de estar com Ele. Adora quem se encanta "com a beleza do caráter de Deus" (C.S. Lewis). O combustível da adoração é uma visão correta da grandeza de Deus; o fogo que faz o combustível queimar com calor extremo é o avivamento do Espírito Santo; a fornalha acesa e aquecida pela chama da verdade é nosso espírito renovado; e o conseqüente calor da nossa afeição é a adoração poderosa, que abre caminho por meio de confusões, anseios, exclamações, lágrimas, cânticos, exclamações, cabeças curvadas, mãos erguidas e vida obedientes. 22 2. Prazer em ser moldado Ao reconhecer Quem Deus é, o profeta também traça o retrato completo do homem.

Mas agora, o Senhor, tu és nosso Pai, nós somos o barro, e tu, o nosso oleiro;

e todos nós, obra das tuas mãos. (Isaías 64.8) Deus é o nosso Pai. Ele nos gerou. Esta certeza nos deixa extasiados diante da Sua presença e funda a nossa confiança e esperança nEle. Afinal, somos obra das Suas mãos.

22PIPER, John. Teologia da alegria. São Paulo: Shedd, 2001, p. 67-68.

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Nossa celebração e nossa confiança e nossa esperança devem ir além do desejo de estarmos na presença dEle e ultrapassar a convicção acerca do Seu amor para conosco. Para que a nossa vida seja abundante, precisamos deixar que Deus nos molde. A vida em abundância é uma obra divina, não uma produção humana. Aprendemos na Bíblia que devemos viver pelo Espírito e, por vezes, nos pomos a enumerar as ações que devemos tomar para viver pelo Espírito, como se nós fôssemos o Espírito. Sabemos que o que precisamos fazer é convidar o Espírito para nos convencer, converter e transformar. É tentador inverter as coisas. Como seria melhor para nós, podemos pensar, se Deus fosse o barro e nós o oleiro! Ele responderia a todas as nossas orações... Nós teríamos tudo o que quiséssemos... É tentador achar que o nosso temperamento não precisa (porque impossível) ser mudado... quando a Bíblia nos recomenda ter a mente (caráter) de Cristo. É tentador imaginar que os padrões de Deus não são elevados e que podemos continuar com nossos baixos padrões e agradá-lO... quando a Bíblia nos conclama a sermos santos como Deus o é. É tentador imaginar, porque feitos à imagem-semelhança de Deus, que somos capazes de nos moldarmos naquilo que devemos ser, esquecidos que esta imagem-semelhança foi estragada pelo pecado e que só Jesus Cristo, não nós mesmos, pode restaurá-la. Vida cristã é mudança. Todo cristão tem duas histórias para contar. A primeira é uma história a.C. (antes de Cristo) e a segunda é uma história d.C. (depois de Cristo). Antes de Cristo, Deus não era o nosso Pai. Depois de Cristo, fomos feitos Seus filhos e começamos a ser mudados por Ele, num processo que só terá fim quando alcançarmos a perfeição. Vida em abundância é vida que se deixa moldar por Deus. 3. Prazer em servir Quando olhamos para o mundo em que vivemos, custa-nos imaginar que foi criado perfeito por Deus. Na verdade, o mundo está para ser construído. A paz está para ser construída. A justiça está para ser construída. Deus está fazendo a Sua obra com a cooperação de muita gente, cristãos e não-cristãos. Talvez Ele preferisse os cristãos, mas os cristãos gostam muito de adorar... e pouco de agir. Jesus orava, ensinava e curava. E é o Seu modelo que devemos adotar. O mundo é o campo de nossas ações. Há muitas áreas, mas quero mencionar apenas três. Começo pela oração intercessória. A transformação do mundo começa pela oração. Precisamos falar a Deus acerca dos nossos desejos de paz e de justiça. Precisamos falar a Deus acerca das necessidades dos outros. O suprimento divino é uma decorrência da oração. Devemos orar mais pelo mundo e pelos outros em nossos encontros pessoais com Deus. Podemos também formar um grupo de oração em casa ou na igreja, dedicando, por exemplo, uma hora por dia para orar pelas pessoas. Vida em abundância se evidencia na preocupação efetiva com os destinos dos outros. O serviço ao outro é fonte de alegria. Há sempre uma boa causa na qual nos envolvermos. Sempre haverá uma oportunidade para passarmos da teoria à prática, tanto no plano individual quanto no plano coletivo. Por exemplo, há sempre um irmão ou irmã precisando de um acompanhante enquanto se recupera de uma cirurgia. Estamos cheios de teóricos, teóricos pagãos, que não citam a Bíblia, e teóricos bíblicos, que usam o Livro de Deus, mas que passam ao largo dos caídos da vida. Há sempre um lar precisando de um culto, uma pessoa precisando ser aproximada de Cristo. Em João 10, Jesus diz que há muitos que ainda não fazem parte do Seu aprisco.

Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz;

então, haverá um rebanho e um pastor. (João 10.16) Como seu vizinho ou seu colega ou seu amigo vai ouvir a voz de Cristo e receber o convite para entrar no rebanho de Jesus Cristo, se você não tomar a iniciativa de apresentar um ao outro? Que tal formar um núcleo no seu trabalho, na sua escola ou na sua casa, para apresentar Jesus? Estes núcleos poderão se reunir semanalmente ou mensalmente, no local e horário mais conveniente para os seus convidados. As pessoas estão ávidas de Jesus e muito O retemos. Vida em abundância é vida que serve, porque contagiada pelo amor de Cristo para ser contagiante com o amor de Cristo. O CAMINHO PARA UMA VIDA EM ABUNDÂNCIA Conferindo as promessas de Jesus em João 10 com as experiências de que somos atores e testemunhas, observamos que há cristãos que têm permitido que a qualidade de suas vidas cristãs seja roubada. Eles têm ouvido a voz dos ladrões (estranhos), que não dão a vida pelos seus seguidores (verso 12), nem os conhecem

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(verso 15) O conteúdo destas vozes é bom conhecido e têm a aparência de boas verdades a serem seguidas. Eis o que nos dizem os ladrões da vida abundante: -- Você está sozinho no mundo e tem que se virar. Deus deixou as regras; siga-as. -- Você deve seguir a voz da sua consciência. Você não pode abrir mão da sua liberdade de tocar a sua vida. -- Você conquistou a sua independência; siga em frente. Você não precisa fazer parte de nenhum rebanho. -- Você precisa deixar de ser egoísta: num mundo como este, com tanta escassez, você acha que pode ter vida abundante. No entanto, a leitura das promessas de Jesus (João 10) nos lembra verdades opostas, as quais, estas sim, porque vindas de Deus, devemos obedecer. 1. Recuperando o entusiasmo Nós não estamos sozinho no mundo. Deus deixou as regras, ajuda-nos a cumpri-las e, se necessário, quebra-as em nosso favor. Não importa que o Ladrão diga que não somos amados pelo Bom Pastor, pois, com a autoridade de Quem nos deu sua própria vida (verso 11), Ele nos garante que nos ama e quer que nos alimentemos de novo da sua pastagem (verso 9). Não importa que o Ladrão tente nos enganar, dizendo que devemos seguir nossa própria consciência. Devemos, antes, nos lembrar que a chamada consciência é formada pela cultura em que vivemos e pelas experiências acumuladas, num pesado círculo que nos aprisiona. Só há um modo de quebrar esta corrente. É rededicando nossas vidas ao Sumo Pastor de nossas almas. Só assim nossos corações voltarão a palpitar diante da presença de Deus, seja no templo, seja fora dele. Em muitos cristãos há a mesma lembrança do salmista:

As minhas lágrimas têm sido o meu alimento dia e noite, enquanto me dizem continuamente: O teu Deus, onde está?

Lembro-me destas coisas — e dentro de mim se me derrama a alma—, de como passava eu com a multidão de povo e os guiava em procissão à Casa de Deus,

entre gritos de alegria e louvor, multidão em festa. (Salmo 42.3-4) No entanto, em nós outro deve ser o nosso sentimento:

Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, o Deus, suspira a minha alma.

A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?

(Salmo 42.1-2) Ao rededicar nossas vidas ao Senhor, passamos a viver em Sua presença, diante da Sua face, sabendo que

Quão amáveis são os teus tabernáculos, Senhor dos Exércitos! A minha alma suspira e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo!

O pardal encontrou casa, e a andorinha, ninho para si, onde acolha os seus filhotes; eu [encontrei] os teus altares, Senhor dos Exércitos, Rei meu e Deus meu!

(Salmo 84.1-3) Reapresentemos nossas vidas diante de Deus e recuperemos o entusiasmo de sermos conduzidos pelo Sumo Pastor. Precisamos nos emocionar diante de Deus. Precisamos tremer diante da Sua presença. Precisamos gritar de alegria diante da manifestação do Seu poder para conosco. Estamos em sequidão de estio (Salmos 32.4)? Estamos vivendo uma vida cristã rala? Voltemos ao aprisco. Voltemos ao altar. 2. Comprometendo-nos em reconhecer e conhecer a Deus Jesus nos diz como vive aquele que tem vida abundante. Segundo Ele, vive em transbordância aquele que reconhece a voz do Bom Pastor, distinguindo-a de outras vozes por mais sedutoras que pareçam (versos 2-4); segue o Sumo Pastor, e nunca o Ladrão, e alimenta-se da Palavra do Pastor (verso 9), não de outras palavras.

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O prazer de quem tem vida transbordante é conhecer a Deus mais e mais. O Ladrão diz: "Olhe para o pastor de sua igreja". Jesus diz: "olhe para Deus". O mercenário diz: "mire-se nos irmãos de sua igreja". Jesus diz: "olhe para Deus". A fonte da vida transbordante é Deus. Conhecê-lO é, portanto, ter vida uma vida que excede de prazer. Minha sugestão é que há dois estágios no nosso relacionamento com Deus. O primeiro é o do reconhecimento de Quem Deus é? Como o conseguimos? Olhando nossas próprias histórias e as histórias dos homens e das mulheres da Bíblia. Lendo a Sua Palavra, reconheceremos Quem Ele é, pois nEla Ele se revela de modo perfeito a cada um de nós. Lendo a Sua Palavra, somos orientados, tanto por textos clássicos, que conhecemos de cor, quanto por aqueles que chamo de "pérolas perdidas", como a oração de Jabes (1Crônicas 4.10) ou a escolha de Jotão (Assim, Jotão se foi tornando mais poderoso, porque dirigia os seus caminhos segundo a vontade do Senhor, seu Deus -- 2 Crônicas 27.6). Além de reconhecer Quem Deus é, precisamos conhecê-lO. Devemos nos lançar, portanto, ao segundo estágio neste relacionamento. Na Bíblia, aprendemos a reconhecer Quem Deus é, mas é por meio da oração que nós O conhecemos como sendo efetivamente o nosso Deus. Pela Bíblia, penetramos na mente de Deus. Pela oração, alcançamos o Seu coração. Pela Bíblia, Deus molda o nosso pensamento. Pela oração, ele muda o nosso caráter. A Bíblia é a razão de Deus. A oração é a sua emoção. A Bíblia nos orienta a como viver e a oração nos faz viver efetivamente. Não há fórmula mágica para a vida em abundância, que vem pelo reconhecimento e conhecimento de Deus, que vêm pela leitura da Sua Palavra e pela oração. Tem vida abundante quem está conectado com a mente de Deus e refestelado no coração do Pai. 3. Aprendendo a viver A vida em abundância decorre também de outro tipo de compromisso; o compromisso com a arte de viver. Temos permitido que o Ladrão nos roube a cena da abundância, quando deixamos de olhar para o Bom Pastor e passamos a olhar para as ovelhas. Há pessoas tão observadores dos outros, que se esquecem de olhar para Deus. A sabedoria que a Palavra dEle nos inspira é contemplar os atos de Deus em nossas vidas. Quando o fizermos, concluiremos que não há Deus como Ele, que trabalha por aqueles que nEle esperam (Isaías 64.4). Com esta perspectiva inaugural, poderemos olhar para as coisas e para as pessoas, para as coisas que Deus fez para usufruir o que estas coisas têm para nos dar; para as pessoas que Deus criou, para fruir com elas as manifestações do cuidado do Senhor para conosco. É sábio olhar para as pessoas assim. Temos permitido que o Ladrão nos roube a cena da abundância, quando ele insiste para que esperemos demais das pessoas. Na verdade, trata-se de falta de sabedoria. É falta de sabedoria esperar delas gratidão, porque o índice bíblico de pessoas gratas é de apenas 10% (Lucas 17.12-19). É falta de sabedoria esperar santidade das pessoas, porque o ensino bíblico é que não está em nenhum de nós fazer o bem que desejamos (Romanos 7.21). Somos todos criações de Deus, mas fomos todos corrompidos pelo pecado, e assim continuamos até hoje, mesmo depois nos convertermos a Jesus Cristo como Salvador e Senhor. Temos permitido que o Ladrão nos roube a cena da abundância, quando deixamos de fazer coisas dignas para os outros e para nós mesmos. Eis o que nos diz o Senhor em Sua Palavra:

Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós

e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual;

a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus;

sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade;

com alegria, dando graças ao Pai, que vos fez idôneos [para] parte que vos cabe da herança dos santos na luz.

(Colossenses 9.10-12)

O Ladrão, no entanto, está sempre a nos dizer que podemos cultuar sozinho a Deus, que podemos ser felizes sozinhos. Esta é a sua forma de nos enganar para nos dominar. Ele sabe que, sozinhos, somos fracos. Precisamos nos comprometer com a arte de bem viver, que consiste em ter os olhos fixos em Jesus, em avaliar as pessoas como elas verdadeiramente são (ou como nós verdadeiramente somos) e em conviver com as pessoas, para nos fortalecermos em nossa caminhada de vida transbordante. *** A vida abundante é só para quem está bem? Ou é também para quem está enfermo, para quem está

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desempregado, para quem está envolvido em algum tipo de situação de solução difícil? A promessa de Jesus sobre a vida transbordante é uma possibilidade para todos aqueles que são do Seu rebanho. Devemos ter cuidado com o Ladrão, que tenta nos roubar a abundância de vida, para que vivamos uma vidinha cristã, rala. Também nessa circunstância, a promessa de Jesus permanece clara, ao nos garantir que ninguém nos arrebatará da Sua mão. Talvez você esteja esperando as coisas melhorarem, para você mergulhar na vida abundante. Digo-lhe, no entanto, que uma vida tranqüila não é necessariamente o território mais propíscio para o desenvolvimento da transbordância cristã. Mergulhe na vida abundante. Só então as coisas vão melhorar, não importam os espinhos na carne, porque a vida que transborda é a vida sustentada pela Graça.

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6 GENEROSIDADE: A ARTE DE DEVOLVER O QUE NÃO É NOSSO "Mais bem-aventurado é dar do que receber" (Atos 20.35b) "É bom possuir as coisas que o dinheiro pode comprar, contanto que não percamos aquelas que o dinheiro não pode comprar". (Warren W. Wiersbe) NÃO retenha o que não lhe pertence. Ganhar tudo o que puder, economizar tudo o que puder, doar tudo o que puder -- eis um programa de vida. 23

23Ensinado por John Wesley, que sugeria: "Ganhe tudo o que puder, economize tudo o que puder, doe tudo o que puder".

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O DESTINO DO PÃO (Eclesiastes 11) Lançar o meu pão sobre as águas ignotas para ser tomado pelo bico das gaivotas? Lançar o meu pão sobre as águas revoltas onde serão apenas minúsculas migalhas soltas? Lançar o meu pão sobre as águas imundas de onde baixarão para as trevas profundas? Lançar o meu pão sobre as águas imensas que o conduzirão para distâncias densas? Nada sei sobre o destino das águas porque não sei como as ondas se formam como não sei onde os ventos se reformam como não sei o que as nuvens portam como não sei porque as trevas assim se comportam. Sei que vou recolher o meu pão lançado mesmo que pelas gaivotas bicado, mesmo que pelas pedras esmigalhado, mesmo que pelo óleo manchado, mesmo que da viagem cansado, porque confio na Palavra plena de Deus que me manda meu pão sobre as águas lançar, eis que Seus projetos são melhores que os meus, pelo que Sua sabedoria quero tão somente alcançar.

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GENEROSIDADE: A ARTE DE DEVOLVER O QUE NÃO É NOSSO Nunca me esquecerei. Eu dirigia o Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (Rio de Janeiro), enfrentando muitas dificuldades financeiras. Uma conta de tributos federais estava acumulada. Não havia como pagá-la. Quanto mais o tempo passava, a dívida ia aumentando, sem perspectiva. Pedi um empréstimo à igreja em que atuava. Da diretoria participava um engenheiro-empresario com um escritório forte. Antes de começar a reunião da diretoria, eu ausente, ele me procurou: -- Estou pensando em fazer o seguinte. Eu empresto o dinheiro e o Seminário devolve à igreja. Não era mais necessária a reunião, que foi suspensa antes de começar. Marcamos um almoço para combinarmos como seria feita a transferência do dinheiro. Expus a situação. Ele, então, me disse: -- Nessa situação, o Seminário não terá como pagar o empréstimo. Repliquei: -- Daremos um jeito e pagaremos. Continuamos a almoçar. Ao final, ele disse: -- Vamos fazer o seguinte. Doação é doação. É tudo para o Reino de Deus. Eu dôo o dinheiro para o Seminário. Quanto é mesmo? Eu poderia esquecer deste homem de quem o dinheiro não é servo, como lembrou Francis Bacon? 24 Para nos ajudar na tarefa de lembrar, compreender e demonstrar generosidade, a história de Boaz é muito inspiradora. Em certo sentido (que as mulheres me perdoem defraudá-la de uma de suas heroínas...), a biografia de Rute, contada num dos livros mais emocionantes da Bíblia, bem poderia ser a história de Boaz. 25 Neste livro, cuja história ocorre no período dos juízes em Israel, Boaz ("nele há força", em hebraico), oferece uma demonstração do que significa a bondade, fruto do Espírito, segundo o Novo Testamento (Gálatas 5.22). Ele era primo em primeiro grau de Rute, uma moabita convertida ao judaísmo. Viúva de Malon, ela chegara aos termos de Judá acompanhando a ex-sogra, a israelita Noemi, que resolvera voltar para sua terra depois que seu marido e seus dois filhos morreram, em busca de melhores condições de vida que acharam possíveis em Judá. As duas fixaram-se em Belém, no período da colheita (por volta do ano 1250 a.C.). Em busca de alimento para si e para a ex-sogra, Rute dirigiu-se casualmente à fazenda de Boaz. Sem conhecê-la, seu primo a tratou com muita generosidade, como o demonstra a narrativa bíblica (Rute 2.4-18). Segundo a tradição judaica, o parente mais próximo de uma viúva tinha o dever de se casar com ela e comprar a sua propriedade. Noemi, então, reconhecendo em Boaz um dos resgatadores de Rute, procurou aproximar a ex-nora de Boaz. Informado do compromisso, Boaz lembrou que havia um parente mais chegado que ele. Reunido o sinédrio da cidade de Belém, o anônimo tio de Rute se recusou a desposá-la. Provavelmente ele teve medo de cair numa desgraça espiritual, já que a lei mosaica proibia que uma moabita passasse a integrar, por casamento, o povo de Israel (Nenhum amonita ou moabita, até a décima geração, fará parte do povo do Deus Eterno. Eles ficarão de fora -- Deuteronômio 23.3). Boaz não deve teve o mesmo receio, especialmente depois do apoio que lhe foi dado pelo conselho local. Na verdade, apesar desta autorização, ele correu o risco de ser considerado impuro. Por este casamento, ele e sua esposa, bisavós de Davi, entraram na genealogia do Messias. Por seu comportamento, Boaz pode ser colocado na galeria de homens cheios de graça. Bondade é a marca mais evidente no seu jeito de ser. O livro de Rute traz diferentes manifestações desta firme bondade, algumas das quais aparecem no capítulo 2. São estas que agora consideraremos, pois, se bondade é o amor em ação, Boaz é a sua demonstração. Muito antes de Jesus Cristo, Boaz mostrou-se habitado pelo Espírito de Deus. Sua bondade é fruto deste Espírito (Gálatas 5.22). BOAZ MANIFESTA SUA BONDADE NO MODO COMO TRATAVA AS PESSOAS. Quando chega à fazenda para supervisionar a colheita, Boaz tem uma palavra de afetuosa saudação aos empregados. Ele diz: "O Senhor seja convosco!" (verso 4), uma expressão que aparece só mais uma vez no

24A frase de Bacon é: "Se o dinheiro não é seu servo, será seu mestre. Não se pode dizer do homem cobicoso que ele possui riquezas; deve-se dizer que elas o possuem". 25As atitudes de Boaz são comentadas, com muita propriedade, por WAKEFIELD, Norm, BROLSMA, Jody. Homens são de Israel, mulheres são de Moabe. São Paulo: Vida, 2003.

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Antigo Testamento (Gênesis 43.23), mas muitas vezes no Novo Testamento, proferida por Jesus (Lucas 25.36, João 20.19-21) e pelo apóstolo Paulo (Romanos 16.20, 1Coríntios 1.3, 1Coríntios 26.13, Colossenses 4.18, 1Tessalonicenses 5.28, 1Timóteo 1.21, 2Timóteo 4.22). A prova de que não foi um cumprimento protocolar está em que notou que havia uma pessoa estranha ao grupo. Ele procurou saber: "De quem é esta moça?" (verso 5). Para tanto, ele observara o grupo. Boaz falou olhando para eles. A resposta que ouviu dos seus empregados demonstra a reciprocidade que seus gestos provocavam: "O Senhor te abençoe!" (verso 4). Parece que aqueles empregadas ansiavam pela chegada do seu patrão. 1. Se queremos que palavras de bondade nos habitem e perfumem o ambiente em que vivemos e toquem os corações dos outros, porque estão tocando os nossos, precisamos nos interessar pelos resultados que nossas palavras podem provocar. Que bem, ou que mal, fará a palavra que vou proferir -- esta deve ser a minha pergunta, neste caminho de aprendizagem. A recomendação bíblica é que a nossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, quando estivermos nos comunicando (Colossenses 4.6). O apóstolo Paulo nos pede que temperemos com sal a nossa palavra. Comida sem sal é comida difícil de ser comida. Comida com sal de mais é nociva à saúde. Nossa palavra deve ter o tempero da emoção, mas não da emoção excessiva, para não fazer mal. Em outras palavras, importa o conteúdo, mas também a forma com que se diz. Todos sabemos o quanto é boa uma palavra dada a seu tempo (Provérbios 15.23). Bondade produz bondade. Ela pode começar com a nossa forma de cumprimentar as pessoas. 2. Se queremos que palavras de bondade nos habitem e perfumem o ambiente em que vivemos e toquem os corações dos outros, porque estão tocando os nossos, precisamos, precisamos procurar desenvolver a capacidade de prestar atenção às pessoas. O que há de ruim nas pessoas é como um outdoor: colocado em lugares estratégicos, tem nove metros de largura por três de altura: todo mundo as vê. O que há de bom nas pessoas são como anúncios classificados num jornal; só quem vê tem boa visão. Uma pessoa atrás de um balcão numa loja pode ser apenas um balconista, mas pode ser uma pessoa com nome, sobrenome e história. Com quem queremos nos relacionar? Se prestarmos atenção às pessoas, nós nos relacionaremos com elas, como elas são. Quando Paulo pede que nossas palavras sejam temperadas com sal, o apóstolo Paulo nos lembra que cada alimento exige um tipo de sal (sal grosso no churrasco, sal refinado na farofa, por exemplo), como cada pessoa é diferente; cada uma precisa de uma palavra diferente. O conteúdo pode ser o mesmo, mas a forma deve ser personalizada. Só personalizaremos o conteúdo de nossa comunicação, prestando atenção às pessoas. Ser notado é uma necessidade humana, porque indica que elas pertencem. Um dia destes, uma reportagem televisiva mostrava a moda dos num congresso de esqueitistas. Um deles desafiou a repórter: veja se tem algum vestido igual. Cada um queria ser diferente, como uma forma de ser notado. Uma vez uma senhora me chamou em sua casa. Depois do cumprimento, ela me perguntou: -- Por que o senhor não gosta de mim? Eu indaguei por que. Ela completou: -- O senhor passa por mim e não me cumprimenta. Eu fiquei surpreso, porque eu gosto de pessoas, eu gosto de estar com pessoas, eu gosto de cumprimentar pessoas. Eu pedi desculpas e promete melhorar, prometi prestar mais atenção às pessoas. Espero que esteja melhorando. Notar o outro é bondade. Bondade produz bondade. 3. Se queremos que palavras de bondade nos habitem e perfumem o ambiente em que vivemos e toquem os corações dos outros, porque estão tocando os nossos, precisamos proferir palavras que abençoem. Quando notamos as pessoas, podemos perceber suas necessidades e, logo, podemos abencoá-las com palavras de bondade, às vezes, palavras sem palavras, que são as palavras que ouvem as palavras do outro, palavras com palavras, que são palavras cordiais, pois como o óleo e o perfume alegram o coração, assim, o amigo encontra doçura no conselho cordial. (Provérbios 27.9). A Bíblia é ainda mais profunda quando diz que palavras bondosas são como beijo nos lábios (Provérbios 24.26). Se é verdade que a bondade não é apenas o território da palavra, também o é que ela se manifesta por meio de palavras. Todos sabemos que uma palavra oportuna é como uma maçã de ouro em salva de prata (Provérbios 25.11). Em outros termos, palavras abençoadoras são de valor inestimável. Quem já viu viu uma maçã de ouro numa salva de prata? A comparação indica o valor de palavras de bondade, mas, infelizmente, também a sua raridade. Que nossas palavras sejam maçãs de ouro em salvas de prata, não pela sua raridade, mas pelo seu valor. Bondade produz bondade. BOAZ MANIFESTA SUA BONDADE NO MODO COMO ULTRAPASSOU AS FRONTEIRAS DO PRECONCEITO.

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Rute não fazia parte do grupo de empregados de Boaz. Rute não fazia parte do seu grupo social. Assim mesmo, Boaz não a discriminou. Pouco depois, Rute se apresenta como é: uma estrangeira (verso 10) e, para piorar, uma moabita. Assim mesmo, Boaz, que não tinha qualquer interesse utilitário ou sentimental por ela, não a tratou indevidamente. Tudo conspirava contra Rute, quadruplamente miserável aos olhos dos homens do seu tempo: não era judia, mas moabita, mulher e viúva. A história de Rute e de Boaz mudou porque Boaz não julgou pela aparência, porque todo preconceito é baseado na aparência. As tradições e preconceitos de seu tempo não tinham penetrado na sua vida. Antes, ele tinha a capacidade ver além das regras, para tratar as pessoas com respeito. Ao ser assim, Boaz refletia o coração de Deus, de cuja bondade somos embaixadores. 26 Sabemos que o Deus não nos vê como as pessoas nos vêem, pela aparência, mas olha para os nossos corações (O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração -- 1 Samuel 16.7). Lemos a recomendação de Jesus que não devemos julgar segundo a aparência, massegundo a resta justiça (João 7.24). No entanto, também sabemos o quão difícil é julgar segundo os olhos divinos, tão humanos que somos. Por isto, continuamos julgando, mesmo sabendo que devemos fazê-lo, para não ser julgados, que o seremos com a medida que usarmos para os outros (Mateus 7.1-2). O relacionamento entre Boaz e Rute só foi possível porque Boaz não permitiu que os preconceitos de sua gente habitassem sua vida. Precisamos de mais Boazes entre nós. Ainda há vítimas do preconceito social, que leva muitos a julgarem os outros por sua condição socioeconômica ou escolar. A herança recebida por uma família não tem nada a ver com a sua integridade. A formação escolar de uma pessoa não tem nada a ver com a sua inteligência. No entanto, este tipo de preconceito ainda faz vítimas e há vítimas porque há algozes nos quais falta a bondade. Ainda há vítimas do preconceito étnico, por meio do qual a cor da pele influencia a visão do outro. Não importa a cor dos olhos; eles enxergam (ou não enxergam) do mesmo modo. Todo o sangue tem a mesma cor, e logo a mesma força (ou fraqueza). No entanto, há valores preconceituosos arraigados nas nossas mentes, preconceitos que machucam. Há costas feridas porque há chicotes, brandidos por quem não é bom. Ainda há vítimas do preconceito de gênero. Em muitas igrejas, as mulheres são cidadãs de segunda classe. Um dia desses, encontrei-me com uma pastora, de uma outra confissão evangélica. Ela era a única naquela reunião de pastores. Ela contou que, quando estudante, um de seus professores disse que não era contra pastoras, desde que todos os membros da igreja fossem mulheres... Ainda há vítimas do preconceito religioso, que leva alguns a olharem os diferentes não como diferentes mas como inferiores. Infelizmente, as religiões (a nossa inclusive) têm sido um solo fértil para o desenvolvimento do preconceito. Chegamos ao ponto, por exemplo, de tornar a terceira pessoa da Trindade divina, o Espírito Santo que une e conforta, em promotor da divisão, em nome de quem se cometem ataques e julgamentos. as porque há algozes. É possível, no entanto, que nenhum de nós possa ser enquadrado nestes tipos de preconceitos. Há outro tipo, contudo. É o preconceito difuso: não é social, nem sexual, nem racial, nem religioso, mas é preconceito. Eu me refiro a atitudes preconceitos que não dependem destas características individuais. Se hoje eu julgo alguém por uma experiência negativa que tive com ele no passado, não estou sendo bondoso, mas preconceituoso. Se eu desprezo uma pessoa só porque não a conheço, não estou sendo bondoso, mas preconceituoso. Uma experiência não pode determinar o comportamento daí para a frente. Um sorriso não correspondido hoje pode ser correspondido amanhã -- eis como pensa uma pessoa habitada pela bondade. Estes preconceitos atingem a todos, pelo que os cristãos, devemos procurar olhar com o olhar de Deus, como seus embaixadores. BOAZ MANIFESTA SUA BONDADE NO MODO DE OFERECER GENEROSIDADE. O que Boaz faz por Rute vai além de muitas de nossas atitudes. Sua bondade para com ela alcançou o andar superior da generosidade. Depois de reconhecer nela uma pessoa bondosa, pelo que fizera pela ex-sogra, o fazendeiro convida para a mesa para se alimentar livre e gostosamente. Quando voltou para ao trabalho, determinou que não houve limitação à sua área de colheita e, mais, que fossem deixas propositamente espigas para que ela recolhesse no campo (versos 12 a 16). Boaz não deu esmola a Rute. Ela teve que colher espigas. A sua dignidade estava mantida. Ao final, ela recolheu quase uma efa de cevada (verso 17), algo como 22 litros, o máximo que poderia carregar. Boaz agia animado pela generosidade de Rute para com Noemi e por sua fidelidade a Deus, a Quem um dia escolhera para servir. Havia gratidão no gesto de Boaz, mesmo que a decisão dela não fosse em seu beneficio. O que Rute fez foi para proteger Noemi. O que Boaz fez foi para proteger Rute. Henry David Thoreau disse que "a bondade é o único investimento que jamais falha", 27e, embora isto seja verdade, Boaz não esperava qualquer retorno. Que retorno podia lhe dar uma prima estrangeira, pobre e viúva?

26WAKEFIELD, Norm, BROLSMA, Jody, op. cit., p. 37-40. 27THOREAU, Henry David. Citação disponível em <http://www.brainyquote.com/quotes/quotes/h/q106122.html.

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Se é verdade que "a bondade tem convertido mais pecadores do que o zelo a eloqüência ou a cultura", 28 ela não pode visar retorno, nem mesmo evangelístico. Não visa retorno, mesmo evangelistico. A bondade é sempre desinteressada. Se nosso gesto (abraçar um visitante, sorrir para outro, por exemplo) visa retorno, não é bondade. É estratégia, quando deve ser generosidade. Quando a nossa bondade alcança o andar da generosidade, é porque alcançamos o nível mais elevado da bondade. A palavra generosidade tem a mesma raiz (gen) de gene, genético, geração, gênesis, todas referentes ao nascimento da vida. A generosidade produz a vida. Sem uma vida generosa a vida se torna árida e vazia. "A generosidade sopra vida nova e nos conecta com os propósitos criativos de Deus para conosco". 29 O nosso Deus é descrito como generoso (Isaías 55.7b). Generosidade é a bondade com alegria, sem nenhuma espera de retribuição. A generososidade está na bondade da iniciativa e raramente resposta. Generosidade é a bondade que excede. Como disse Jacques Ellul, "na vida cristã, o dinheiro é ganho a fim de ser dado". SOLIDARIEDADE (Agostinho) "Ninguém deve estar tão embebido nas coisas de Deus, que se esqueça das coisas dos homens" (Agostinho). MORDOMIA (Sluth) "Existem 2350 passagens bíblicas sobre dinheiro e bens materiais -- mais do que qualquer outro assunto. Entretanto, esse é o assunto menos comentado na igreja. Estamos silentes há tanto tempo que as pessoas não mais compreendem as responsabilidades que formam uma vida generosa". (Brian Sluth) *** Embora seja "muito mais fácil reconhecer a bondade do que defini-la" (W. H. Auden), podemos vê-la como o comportamento natural numa pessoa espiritual. Na perspectiva bíblica, é um desejo espiritual de fazer bem aos outros. Por isto, não deve ser como que por obrigação mas de livre vontade (Filemon 1.14) . A Bíblia espera que sejamos cheios de bondade e de conhecimento, que não são antônimos (Romanos 15.14).

28FABER, Fredrick . Citado por WAKEFIELD, Norm, BROLSMA, Jody, <op. cit., p. 34. 29LEIDEL, Jr, Edwin M. Hatching Generous Hearts; Address to the Seventh Convention of the Episcopal Diocese of Eastern Michigan Grace Episcopal Church. Disponível em <www.eastmich.org/Admin/Convention/ HatchingGenerousHearts.doc>. Acessado em 22.4.2003.

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A RIQUEZA QUE EU QUERO (2Coríntios 6.3-10) Não seja por mim que o escândalo venha, mesmo que a circunstância toda a força tenha para açoitar com vigor a minha perseverança que tornei o meu fruto do Espírito predileto. Não importa o que digam a meu respeito, farei da honra diante de Deus a minha senha, pois dEle quero estar sempre bem perto. É assim que eu oro com toda a confiança: mesmo que triste, em mim se veja alegria, mesmo que pobre, a muitos eu enriqueça, como se eu tudo tivesse de noite e de dia, por causa do Espírito, que comigo porfia para que, no meu corpo, pureza e bondade estejam como um farol para a humanidade. (Israel Belo de Azevedo)

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ACORDE 1. Você pode realmente dizer que dinheiro não um deus para você? Enéas Tognini idolatrava a sua biblioteca. E você? (AUTO-CONHECIMENTO) 2. Se tem retido o que não é seu (dizimo, alegria, testemunho), arrependa-se do seu pecado. (CONFISSÃO) 3. Ore pedindo ao Senhor vitória neste campo. (ORAÇÃO) 4. Medite sobre o assunto. Segundo Jesus Cristo, "onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração" (Mateus 6.21). Medite sobre este versículo. Memorize-o para lhe servir de atalaia. (REFLEXÃO) 5. Decida ser generoso. Veja onde estão as oportunidades em sua família, em sua igreja, em seu círculo de relacionamentos, para ser generoso. (DECISÃO) 6. Empenhe-se. Faça um plano pessoal para continuar (ou voltar a ser) dizimista. Faça um propósito de ajudar uma pessou ou um projeto social (uma creche ou um centro de recuperação) de modo concreto, regularmente. Ponha em prática que é mais bem aventurado dar do que receber. (ESFORÇO)

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LEITURAS SUGERIDAS FOSTER, Richard. Sexo, dinheiro e poder. São Paulo: Mundo Cristão, 2005. MICHELLON, Ednaldo. O dinheiro e a natureza humana. Rio de Janeiro: MK, 2006. NOUWEN, Henri. A volta do filho pródigo. São Paulo: Paulinas, 1999. TEN BOOM, Corrie. O refúgio secreto. Belo Horizonte: Betânia, 1982. YANCEY, Philip. Rumores de outro mundo. São Paulo: Vida, 2005.

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[TEXTO ADICIONAL] TEOLOGIA PAULINA DO DINHEIRO (1Timóteo 6.3-10, 17-19) Quando lemos o apóstolo Paulo afirmando que o dinheiro é a raiz de todos os males, podemos concluir apressadamente que a Bíblia é contra o dinheiro. Se examinarmos este texto, veremos que o cristão não precisa desenvolver uma dinheirofobia, como se não devesse ganha, guarda, gasta. Se examinarmos a Bíblia toda, veremos que o dinheiro ocupa um lugar bastante significativo, pela simples razão que ele ocupa um lugar significativo nas nossas vidas. Foi com o dinheiro que você chegou aqui hoje, pagando a passagem, abastecendo o automóvel ou comprando sapatos e roupas para andar por aí e até aqui. Não temos, nem precisamos ser contra o dinheiro. Nosso problema é outro. UMA TEOLOGIA RUIM Precisamos de uma boa teologia do dinheiro, para ter uma atitude correta em relação a ele, e isto se aplica a quem o tem ou até lhe sobra e a quem lhe falta, até para o essencial. 1. Não há base bíblica para o quietismo, isto é, para o abandono de todas as atividades pela espera da volta de Jesus Cristo. Alguns irmãos de Tessalônica inventaram esta má teologia para justificar uma má conduta, mas o apóstolo Paulo foi certeiro: "Quando ainda estávamos com vocês, nós lhes ordenamos isto: 'Se alguém não quiser trabalhar, também não coma". Pois ouvimos que alguns de vocês estão ociosos; não trabalham, mas andam se intrometendo na vida alheia. A tais pessoas ordenamos e exortamos no Senhor Jesus Cristo que trabalhem tranqüilamente e comam o seu próprio pão" (2Tessalonicenses 3.10-12). Um dos inimigos da generosidade é o comportamento de algumas pessoas assistidas, dentro e fora das igrejas, que se acostumam, passivamente, com as ajudas que recebem e se acomodam. Talvez digam que aprenderam a estar contentes em toda e qualquer situação, mas não foi isto que o apóstolo Paulo quis dizer (Filipenses 4.10-13), porque não pode haver contentamento, que é uma atitude espiritual, na dependência e, às vezes, exploração dos irmãos, da igreja ou de alguma uma organização social ou governamental. A ninguém devemos defraudar, diz a Palavra de Deus, e a dependência sem esforço de superação é uma defraudação. Uma ajuda que conduz à dependência não é ajuda, é estorvo; não é serviço, é desserviço; não promove a dignidade humana àquilo que é (imagem de Deus), mas a serviliza. Paulo mesmo, de quem ouvimos estas sábias advertências, tinha suas lutas para ganhar dinheiro. Ele vivia das ofertas dos irmãos em Cristo e, quando isto lhes fosse pesado ou lhe fosse trazer dificuldades, voltava às suas atividades profissionais de costureiro, fabricava tendas e as vendia para se sustentar (Atos 18.3), sem parar de pregar. Na igreja, portanto, não devemos cair no extremo de não falar sobre dinheiro; devemos, tanto para advertir sobre sua necessidade, o seu perigo e seu bom uso, para nós individualmente e para a igreja. 2. Não há base bíblica para a imprevidência. É muito difícil planejar nossas finanças no Brasil, um país onde não um crédito decente, tanto para as pessoas físicas quanto para as empresas. Embora sendo difícil, precisamos aprender a poupar, tanto para usufruir mais tarde quanto para as emergências. Ninguém pode gastar mais do que recebe. E todo mundo, do que recebe precisa guardar um pouco, nem que seja para o seu funeral. É muito caro morrer, e já que não podemos não morrer, devemos evitar que nossa morte seja um problema financeiro para os outros; já basta a nossa ausência. Há pessoas que preferem comprar carros a se empenhar para adquirir uma residência própria. Há pessoas que vivem como se fossem ter sempre aquele emprego; se têm um aumento, aumentam logo os gastos, às vezes antes mesmo do primeiro salário reajustado. Há pessoas que não têm a menor idéia de como vão viver quando se aposentarem. 3. Não há base bíblica também para a teologia da prosperidade, que assola páginas e telas quase irresistivelmente. O argumento que ouvimos soa assim: se você se tornar um cristão, Deus vai trabalhar para que você enriqueça; se você é cristão e não é rico, tem algo errado com a sua fé, porque a prosperidade é um sinal da bênção de Deus. Recentemente um líder de uma denominação evangélica brasileira afirmou o seguinte: "Jesus veio para trazer libertação, salvação aos cativos. Ele veio pregar o Evangelho aos pobres. E para que? Para que os pobres fossem para o céu pobres?" Mais: "Para mim, pregar que o crente deve ser feliz mesmo ganhando salário mínimo, é uma heresia, além de uma agressão ao ser humano". E mais: "Jesus tinha uma roupa tão bonita, tão cara, que os soldados disputaram para ver quem ficaria com ela. Outra coisa: Jesus era acompanhado por mulheres ricas que o serviam. Ele tinha seus doze discípulos e mais um grupo de 20 a 30 pessoas para

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alimentar diariamente. Quanto custo isto? (...) Eu não vejo Jesus pobre, mas vejo que ele demonstrava, no seu estilo de vida, excelência, tinha uma vida abençoada".30 Esse líder não leu que Jesus não tinha onde reclinar a sua cabeça, mesmo tendo participado episodicamente de jantares em casas de pessoas da classe média ou alta do seu tempo. Esse líder ignorou que as mulheres que o sustentavam, faziam isto porque ele não tinha onde reclinar a sua cabeça e dependia da ajuda dos seus seguidores, mas nada tinha de si. Esse líder Esse líder se serviu da imaginação para afirmar que o rabi, que não tinha sequer um túmulo próprio, tinha roupas caras, num atentado à história. Esse líder passou por cima da declaração de Jó: "Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei. O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor" (Jó 1.21). Ninguém morre milionário. Todo mundo morre pobre. Em outros termos, "nada temos ao nascer; nada teremos ao partir. Tudo o que possuímos neste mundo nos é dado pelo Doador da vida. Tudo o que temos são ossos envoltos em pele, órgãos, nervos e músculos, junto com uma alma pela qual devemos prestar contas a Deus". Na verdade, é como se Jó estivesse dizendo: "Aquele que me deu vida e concedeu tudo por empréstimo durante essa vida decidiu tirar tudo. Afinal, Ele tem esse direito. Não vou levar mesmo nada comigo. Então, bendito seja o Seu nome por esse empréstimo enquanto o tive. E também bendito seja o Seu nome por decidir tira". 31 Esse líder se esqueceu do que leu numa das cartas de Paulo: devemos estar contentes em toda e qualquer situação, o que significa que a felicidade não está na dimensão do ganho financeiro, embora todos devamos nos esforçar, pelo estudo e pelo trabalho, a ganhar o que precisamos; somos chamados a isto na Bíblia. Quem está contente com Deus não se apega ao dinheiro como se fosse um deus. 4. Não há base bíblica para a mercantilização da fé. Uma igreja precisa de recursos financeiros para cumprir a sua missão, não para enriquecer seus donos. Uma igreja não pode ter donos, porque só Jesus é seu Senhor. Ele é o cabeça da igreja. Os líderes são apenas servos, e nada mais que isto, trabalhando para um Senhor, não para si mesmos. É por isto que a liderança espiritual deve ficar à margem do manuseio do dinheiro na igreja. Sua tarefa deve ser convidar à generosidade e à responsabilidade e vigiar pela boa destinação dos recursos que ajudou a levantar. A fé pode ser um bom negócio se pessoas com más intenções se acercam da sua linguagem e dos seus meios para explorar, mesmo sem a ter, a fé nutrida pelos outros. Desde os tempos apostólicos o problema existe no meio cristão e quaisquer outros meios. Infelizmente. Para os que procedem assim, usando o dinheiro de Deus como se fossem seus, está reservado uma dura recompensa, a ser vista por nós ou não. Quando os crentes descobrem a manipulação, tropeçam; muitos perdem até a fé, mas esta perda lhe será cobrada. A palavra de Jesus é clara e aplicável também a esta situação: aquele que faz tropeçar um pequenino que crê nEle, a este melhor seria amarrar uma pedra no pescoço para ser afogado nas profundezas do mar (Mateus 18.6). Este é o destino dos industriais e comerciantes da fé, se não se arrependerem. Pedro os chama de "malditos" porque "iludem os instáveis e têm o coração exercitado na ganância", desviando-se pelo "caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o salário da injustiça" (2Pedro 2.14-15). Para estes mestres, que exploram os pequenos "com histórias que inventaram", "há muito tempo a condenação [divina] paira sobre eles, e a sua destruição não tarda" (2Pedro 2.3), vejamo-la ou não. Em nossa relação pessoal com o nosso Senhor, devemos ter cuidado para não nos tornarmos mercantilistas. Embora inutilmente, porque Deus não se deixa enganar (Gálatas 6.7), alguns tendemos a pensar em nossa relação com Ele como fonte de lucro. O lucro que nos deve interessar é o conhecimento de Deus. UMA BOA TEOLOGIA Uma boa teologia acerca do dinheiro nos leva a uma atitude saudável: devemos todos nos esforçar para ganhar, guardar e gastar dinheiro. Ganhar dinheiro faz parte de nossa realidade e fomos feitos com esta condição. Sem ele, não nos alimentamos, a menos que nos dêem, o que se aplica a crianças e aos incapazes de suar. Se ele, não nos realizamos como pessoas, porque faz parte de nossa natureza o desenvolvimento profissional. Fora do trabalho o homem, em condições produtivas, não se encontra em sua plenitude. A Bíblia não é contra o dinheiro, mas à sua divinização, como se fosse fonte de todo o bem. A Bíblia é contra o culto ao dinheiro. O apóstolo Paulo nos adverte que a paixão por ele está na raiz de todos os problemas da humanidade. Podemos ser destruídos não pelo dinheiro mas pelo que fazemos com o dinheiro e isto inclui o que alguns fazem conosco com o dinheiro que têm. A síntese, portanto, é simples: todos devemos nos esforçar para ganhar, guardar e gastar dinheiro.

30 RODOVALHO, Robson. "Deus não criou o ser humano para a pobreza". Entrevista a Eclésia, edição 109, 2005, p. 26. 31SWINDOLL, Charles. Jó. São Paulo: Mundo Cristão, 2005, p. 42.

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Devemos olhar para o dinheiro com a visão da eternidade. Só levamos para lá o que estiver guardado no nosso coração, não no banco. Devemos olhar para o dinheiro na certeza de que Deus, que está conosco, provê as nossas necessidades. Isto significa que devemos viver e ganhar dinheiro, não viver para ganhar dinheiro. Nisto não há real contentamento. Como diz o slogan do Credicard, há coisas que o dinheiro não compra; no caso, sabemos todos, as mais significativas. O dinheiro não altera o que somos, embora possamos pensar o contrário. Ele apenas um meio para satisfazer nossas necessidades essenciais. Apesar do nosso hedonismo, ou melhor, por causa do nosso hedonismo, nunca estamos satisfeitos com o que temos. Queremos mais, porque estamos insatisfeitos com o que temos. Garante-se, contudo, o apóstolo que o contentamento é a verdadeira riqueza, não bens, não carros novos, não casas novas, não um ambiente agradável, mas contentamento, que vem de uma vida íntegra e equilibrada. É a integridade que produz um coração contente.. Aprendemos com Paulo em Filipenses a atitude correta em relação ao dinheiro, seja sua presença, seja sua ausência. Ele diz que aprendeu, não importava como estivesse, a estar contente. Ele aprendeu a viver contente quando nada tinha e estar feliz quando tinha abundância de bens. Seu segredo? Tudo podia naquele que o fortalecia, dando coisas ou não. (Filipenses 4.11-13). É uma vida íntegra diante de Deus que nos traz contentamento. Contentamento vem do conhecimento cada vez mais pleno de Deus. Ser contente é compreender que ter Deus e ter satisfeitas nossas necessidades básicas (tipificadas como roupa e alimento na literatura bíblica), é tudo o que precisamos para sermos ricos e plenos, satisfeitos e contentes. Afinal, Jesus não nos ensinou que a vida de uma pessoa não consiste de abundância das coisas que possui (Lucas 12.25)? É a comunhão com Deus que faz nosso coração se alegrar, dando paz e um sentido de valor e segurança. Sabemos, como o sábio bíblico, que "o homem sai nu do ventre de sua mãe, e como vem, assim vai. De todo o trabalho em que se esforçou nada levará consigo" (Eclesiastes 5.15). O dinheiro não acrescenta nada ao que somos. Muitos cremos nisto e desejamos ver esta verdade aplicada na vida... dos outros. Apesar do nosso desejo puro, caímos e nos distanciamos de uma boa teologia do dinheiro para uma prática péssima. Afinal, o amor ao dinheiro provoca uma paixão por mais dinheiro. O amor ao dinheiro provoca desvio da fé. O amor ao dinheiro produz aflições... se não em nossas vidas, nas dos outros. O amor ao dinheiro produz orgulho. Quem ama o dinheiro tende a pôr sua esperança no dinheiro. A avareza, que não é marca apenas dos ricos, não produz satisfação; por isto, é porta para outros pecados. A adesão ao deu dinheiro (ou ao amor ao dinheiro) tem dois estágios: a tentação e a queda. Quando caímos em tentação, criamos ciladas para nós mesmos. O dinheiro muda nossos relacionamentos com os outros. É por isto que é a raiz de todos os males: da injustiça, da guerra, da violência e da fome. A paixão pelo dinheiro transforma nossas vidas. A maioria das brigas familiares tem no dinheiro a sua fonte. O dinheiro está na gênese da maiores das crueldades. Quem o adora precisa eliminar aqueles que atrapalham sua adoração. Nada é mais universal do que a publicidade para possuirmos mais coisas. Os cristãos tomam a contramão quando são chamados a não fazer do dinheiro o objetivo de suas vidas. Por isto, no primeiro estágio, somos tentados. Não a acreditar que as coisas são mais importantes do que Deus. Não cairíamos numa tentação desta. Mas a acreditar que precisamos das coisas, mesmo aquelas de que não precisamos. A tentação vem com o desejo de ter uma coisa de que gostamos, não de que precisamos. No segundo estágio, caímos na armadilha, na armadilha de amar o dinheiro, que é bom, não o amor a ele; não podemos viver sem dinheiro. Quando caímos em tentação, damos lugar à cobiça por mais coisas e criamos uma armadilha para nós mesmos. Nossas posses começam a nos possuir. Os bens também mudam nossa forma de nos relacionar com os outros e dos outros se relacionarem conosco. Nesta hora, podemos descobrir que as pessoas nos tratam diferentemente por causa dos nossos bens, pelo que eventualmente temos. Pelo menos, que não façamos o mesmo... UMA ATITUDE RADICAL Diante do perigo do amor ao dinheiro, precisamos de uma atitude radical: precisamos desmagnetiza, esteja ele em forma de moeda, de cartão magnético ou de dinheiro virtual. Jesus nos convida a fazer o que pudermos para nos libertarmos do poder do dinheiro, inclusive distribuí-lo. Philip Yancey conta de sua estupefação que sentiu quando Jacques Ellul, um cristão francês, propôs que devemos profanar o dinheiro, para desmagnetizar sua força espiritual. Ellul propunha jogar bolos de notas ao ar numa rua movimentada. Para levar o programa adiante, poderíamos rasgar notas, se não fosse o ato

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considerado loucura pelas pessoas em geral e tratado como crime na legislação federal brasileira. Olha como a sabedoria popular se rende ao poder do dinheiro. Olha como a legislação diviniza a moeda. Yancey encontrou uma forma: doar anonimamente sem ter a certeza de que o dinheiro seria corretamente utilizado e sem receber, como troca, um recibo dedutível do imposto de renda. Ele fala dos Estados Unidos, porque no Brasil o Estado praticamente não premia os que fazem doações. Alguns poderão achar estranho o comportamento de Philip Yancey, mas só assim ele aprendeu a ver o dinheiro, ganho com seus livros, como um empréstimo que Deus lhe fazia para investir no Reino de Deus. 32 Quem tem dinheiro talvez tenha que destruí-lo para não ser destruído. Que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? (Mateus 16.26). Contra cobiça, que é idolatria (Colossenses 3.5), melhor, no entanto, que destruir é distribuir o dinheiro. Segundo o Instituto Barna, em 2004, nos Estados Unidos 83% dos adultos deram dinheiro para uma ou mais organizações sem fins lucrativos. Ainda segundo o mesmo instituto, 23% dos evangélicos afirmaram ter dado o dízimo regularmente. E no Brasil, como estamos? Tenho ouvido que o brasileiro não tem a cultura da doação. Com certeza os ricos não têm esta cultura. Não se vê por aqui um fundo generoso para a pesquisa científica, um prédio de universidade pública doado por um ricaço... Eis a difícil lição, mais bem aprendida no Brasil pelos pobres. "Mais bem-aventurado é dar do que receber", ensinou Jesus (Atos 20.35). "Se nossa vitalidade espiritual parece em baixa; se o estudo da Bíblia produz palavras secas; se a oração parece oca e vazia, talvez o que precisamos seja justamente uma prescrição para contribuir com prodigalidade e alegria. Doar traz autenticidade e vitalidade à nossa experiência devocional". 33 Doa quem não se curva diante do dinheiro. Jesus sabia que o nosso coração estariam onde estivesse o nosso dinheiro (Mateus 6.21). Doa quem entende que o dinheiro que tem está apenas emprestado: é de Deus. Doa quem não quer que a arrogância domine as suas relações. Doa quem não firma sua esperança no dinheiro. Doa quem quer manter a fé em Deus. Doa quem sabe que nada levará daqui. Doa quem é inteligente no uso do seu dinheiro. Há um ditado popular que nos recorda: "doe seu dinheiro enquanto está vivo, pois você saberá para onde ele está indo". 34 Doa quem sabe que são melhores as coisas que são de cima do que as que são aqui de baixo, como o dinheiro. Doa quem não espera ter muito para então distribuir. O exemplo dos cristãos antigos é extraordinário: "No meio da mais severa tribulação, a grande alegria e a extrema pobreza deles transbordaram em rica generosidade" (2Coríntios 8.2). Doa quem não conta com as suas riquezas, sabendo que elas podem desaparecer de um dia para o outro. Doa quem está contente com o seu Deus. É o contentamos com o que temos que abre o caminho para a generosidade. *** Ganhe. Guarde. Gaste. Seja generoso. Ser generoso é para quem tem e para quem não tem. Use seu dinheiro para ajudar outras pessoas. Envolva-se com aqueles a quem ajuda financeiramente. Quem tem, porque recebeu pela graça, de graça dê. Jesus disse aos seus discípulos, referindo-se não ao dinheiro, mas a outras bênçãos recebidas: "Vocês receberam de graça; dêem também de graça." (Mateus 10.8b) 35

32YANCEY, Philip. Rumores de outro mundo. São Paulo: Vida, 2005, p. 202. O livro de Ellul na edição inglesa é "Money and power", de 1986. 33FOSTER, Richard. Sexo, dinheiro e poder. São Paulo: Mundo Cristão, 2005, p. 56. 34SWINDOLL, Charles. Jó. São Paulo: Mundo Cristão, 2005, p. 190. 35STEDMAN, Ray C. The cost of riches. Disponível em <http://www.pbc.org/library/filés/html/3780.html>. Acessado em 14.5.2006.

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7 AUTOCONTROLE: VENCENDO AS TENTAÇÕES, MAS MANTENDO A SAÚDE EMOCIONAL "Como a cidade com seus muros derrubados, assim é quem não sabe dominar-se". (Provérbios 25.28 -- NVI) "É preciso assumir o desejo de controlar os desejos". (Sócrates) NÃO ignore a guerra espiritual se trava no seu coração, se deseja evitar o desastre. Eis o que eu quero: que o Espírito Santo controle as minhas emoções.

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"Senhor, fazei-me um instrumento de vossa paz: Onde houver ódio Que eu leve o amor. Onde houver discórdia Que eu leve a união. Onde houver ofensa, Que eu leve o perdão. Onde houver dúvida, Que eu leve a fé. Onde houver desespero, Que eu leve a esperança. Onde houver tristeza, Que eu leve a alegria. Onde houver trevas, Que eu leve a luz. Mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado; Compreender Que ser compreendido; Amar que ser amado; Pois é dando que se recebe; É perdoando Que se é perdoado; E é morrendo Que se vive Para a vida eterna. Amém". (Francisco de Assis)

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AUTOCONTROLE: VENCENDO AS TENTAÇÕES, MAS MANTENDO A SAÚDE EMOCIONAL Foi ridículo. Estava fazendo um vitorioso esforço moderado para emagrecer. Tinha um compromisso muito cedo em outra cidade. Almocei normalmente. Fiz um lanche leve mais tarde. Pouco depois de pregar, tomei o avião. Cheguei ao hotel por volta das 11 da noite. Um amigo me convidara para jantar, mas não conseguimos nos comunicar. Fui para o hotel, onde cheguei por volta das 11 da noite, sem nenhuma fome. Só que tinha um frigobar. Com pouca coisa: um suco em lata, dois chokitos e dois brownies, além de águas e refrigerantes. Não bebi nenhum refrigerante. Vitória do autocontrole. Não tomei nenhuma água. Vitória do domínio próprio. No resto perdi. Na hora de deixar o hotel, na manhã seguinte, confessei meu erro na portaria. Enquanto acertava a conta, os funcionários tentaram me consolar, que eu não tinha comido nada, que no frigobar não tinha praticamente nada, era pena que o restaurante já estivesse fechado. Foram gentis, mas eu me senti mal. Tinha comido o que não precisava. A tentação tem faces múltiplas. Neste mesmo computador em que preparo este material, recebe uma mensagem um fabricante de computador de mão. Vinha com meu nome, sugerindo que eu devia trocar de equipamento. Em seguida, descrevia as maravilhas da outra máquina. Parece que advinhavam que a minha, comprada há um ano, me dera muita dor-de-cabeça. Além das qualidades, pintadas em cores, as condições de pagamento eram insuperáveis, em muitas vezes quase a perder de vista. O que eu estava esperando, que não apertava o botão para ordenar a compra? Concluí que, realmente, precisava trocar. Já tinha ido a um loja em busca do novo modelo, e agora ele vinha à mesa. Enquanto me imaginava com o novo computador de mão na minha mão, eu me perguntei se precisavamente mesmo fazer a troca, fazer a troca, não, jogar o meu fora e comprar outro. Concluí que não precisava, mas entendi de maneira pessoal como funciona o mecanismo da tentação e como é difícil ter autocontrole nessas situações. Graças a Deus, essa eu não perdi. E me senti bem. Entre as virtudes cristãs, elencadas pelo apóstolo Paulo, está a do domínio próprio. Quando relaciona as qualidades de um cristão, Paulo inclui o domínio próprio (Tito 1:8), junto com hospitalidade, benignidade, sobriedade, justiça e piedade. O apóstolo Pedro segue na mesma trilha, colocando como uma das virtudes a ser buscada pelo cristão, ao lado do conhecimento, da perseverança e da piedade. (2Pedro 1.6) Esta é uma palavra bastante problemática para nossa geração, acostumada à idéia de que a felicidade decorre do desprezo à idéia de disciplina e auto-controle. Colocando esta escolha em outros termos, podemos dizer que, para boa parte das pessoas, se a escolha for entre felicidade e auto-controle, talvez ouçamos alguém se dizer cansado de auto-controle e que agora pretende viver a vida com toda a sua adrenalina. Prevalece a idéia que autocontrole e alegria são incompatíveis No entanto, a Bíblia nos adverte a não permitir que o pecado tenha domínio sobre nós (Romanos 6.14), já que não estamos mais debaixo da lei, que nos leva a produzir, mas sob a graça, que nos deve levar a frutificar, além do domínio próprio, em alegria, amor, benignidade, bondade, fidelidade, longanimidade, mansidão e paz. O SENTIDO DO DOMÍNIO PRÓPRIO. O apóstolo dava muita importância ao termo ((egkrateia), uma vez que o usa várias vezes. Em 1 Coríntios 9.25, trata-se da virtude de um atleta em disciplinar seu corpo em busca da vitória; em 1 Coríntios 7.9, trata-se da capacidade do cristão em controlar sua sexualidade. É curioso que, quando comparece perante o procurador romano Antonio Felix, que governou a Judéia de 52 a 60, o acusado apóstolo se defende falando de justiça, de juízo final e de domínio próprio, para irritação do representante de Nero. (Atos 24:25) A expressão "domínio próprio" aparece sob diferentes palavras nas versões bíblicas, tendo então como sinônimos principais auto-controle e temperança. Não tem nada a ver, portanto, com endereço particular na internet... Podemos entender melhor o que é domínio próprio pensando no seu oposto. Quem tem domínio próprio se autodomina. Quem não tem é dominado por algo ou por alguém. Quem tem domínio não permite que sentimentos e desejos o controlem; antes, controla-os, não se permitindo dominar por atitudes, costumes e paixões. Domínio próprio, portanto, é a capacidade de efetiva que o cristão deve ter de controlar seu corpo e sua mente. Quando fez o homem, Deus deu-lhe o privilégio de dominar sobre todas as coisas: também disse Deus:

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Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. (Gênesis 1.26) O salmista relembra esta competência humana, ao dizer que Deus deu ao homem domínio sobre todas as obras das suas mãos e dos seus pés (Salmo 8.6) Esta competência, no entanto, nem sempre se realiza quando se trata de homem dominar a si mesmo. Embora possa estar em nós desejar fazer o bem, nem sempre o fazemos. Afinal, como aprendemos também com Paulo, na nossa carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em cada um de nós; não, porém, o efetuá-lo, porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. (Romanos 7.18-19) Por isso, parecemos, por vezes, em cidades derrubadas, pois que cidade que não tem muros, assim é o homem que não tem domínio próprio. (Provérbios 25:28) Esta percepção não pode é um convite à passividade, mas um desafio a nos conhecermos mais e a nos esforçarmos mais para viver segundo o padrão de Deus, por difícil que seja. DESENVOLVENDO O AUTOCONTROLE Antes, somos convidados a ter domínio sobre nossos sentimentos, sobre nossos desejos e sobre as circunstâncias que nos envolvem. Afinal, "a nova naturezatriunfa sobre a velha quando permitimos que o Espírito de Deus governe nossas mentes e nossos corações". 36 1. Dominando nossos sentimentos Somos movidos pelos nossos sentimentos. Se, por exemplo, amamos, a Deus, ao próximo ou a nós mesmos, somos levados a querer bem, adorando a Deus, respeitando o outro e gostando de nós mesmos. Se, doutro lado, em nós o ódio é forte, seja a Deus pela figura do pai que representa, seja ao próximo, por ser a fonte de nosso sofrimento (o inferno são os outros, já dizia Sartre), seja a nós mesmos, pela incapacidade ser o que gostaríamos de ser, somos levados ao vale do vazio. Ter domínio próprio é fazer com que os sentimentos bons sejam fortalecidos e canalizados para que possam ser aperfeiçoados. Assim, o amor deve alcançar o seu objeto. Desde Platão, existe uma modalidade de amor silencioso. Há homens que amam mulheres que jamais retribuirão o seu amor pelo simples fato de não saberem que sem amadas. Há, pois, um amor erótico platônico. Há também um amor fraternal platônico, que é aquele que nunca passa ao campo da ação. Há ainda um amor espiritual platônico. Há gente que só Deus, que sonda os corações, sabe que é amado por ela, porque dos lábios desse tipo de adorador não sai um cântico, não sai uma palavra de gratidão ou de exaltação a Deus. Quando temos domínio sobre o sentimento do amor, fazemos com que ele se torne operativo. Quando ao ódio, bem, simplesmente não devemos odiar e poderíamos encerrar a discussão aqui. No entanto, somos também capazes de odiar; este é um gigante da alma, como o descreveu um antigo psicólogo argentino-brasileiro (Emílio Mira y Lopez). Se o Espírito Santo habita em nosso coração, ele não pode conviver com o ódio. Contudo, sabemos que, embora não o desejando, nós odiamos. Por isto, a recomendação bíblica é que, mesmo nos irando, não devemos pecar e nem permitir que o sol se ponha sobre a nossa raiva. Antes, consultemos nosso travesseiro e sosseguemos (Salmo 4.4). Em outras palavras, o ódio não pode ser um sentimento permanente em nós, para que não nos destrua. O ódio é, portanto, um sentimento a ser controlado ou ele nos dominará e nos levará a fazer o que não queremos. A ambição é um sentimento que também deve ser controlado. Não devemos ser acomodados; antes, devemos querer o máximo para nós. A ambição destrói quando não vê métodos e se baseia na comparação com o que os outros são ou alcançaram. Controle a sua ambição e ela não controlará você. A vaidade é um sentimento que também deve ser controlado. Não devemos nos achar que nada valemos e que os outros são melhores ou fazem as coisas melhores que nós. Nem sempre... A vaidade mata quando nos leva a nos achar onipotentes e oniscientes, acima da média humana. Controle a sua vaidade e ela não controlará. 2. Dominando nossos desejos Se os nossos sentimentos nos definem, nossos desejos nos constituem. Nós somos aquilo que desejamos. Como ensinou Jesus, onde estiver o nosso tesouro, isto é, os nossos desejos, aí estará também o nosso coração. (Mateus 6:21) Desejamos coisas legítimas e coisas ilegítimas. Nem todos os nossos desejos são pecaminosos. Sejam quais forem, no entanto, se eles nos controlarem, passam a ser pecaminosos. Comer chocolate não é pecado. Se no entanto, não posso comê-lo e não consigo não comê-lo, comê-lo é pecado. Ver televisão não é pecado. Se, no entanto, eu deixo de fazer o que preciso fazer (seja ler, trabalhar, conversar) para ficar diante dela, ela me controlou. Desejamos coisas realmente necessárias e coisas suavemente impostas. Já não sabemos a diferença em coisas básicas e coisas supérfluas. De qualquer modo, no entanto, podemos dizer que grande parte de nossas

36SWINDOLL, Charles. So You Want to Be Like Christ. Nashville: Thomas Nelson, 2005, p. 156.

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necessidades simplesmente não existe. É parte da máquina do mundo, que nos torna primeiramente consumidores e depois cidadãos (se é que chamos a sê-los). A maior desgraça do desejo é quando ele se converte em vício. Nada mais blasfemo do que um cristão viciado. Há cristãos viciados em falar da vida alheia; até reunião de oração se transforma em espaço privilegiado para a fofoca. São cristãos que não refreiam as suas línguas. Há cristãos viciados em guardar dinheiro; eles guardam sempre e de modo tão doentio que nunca usufruem dele. São cristãos que não refreiam sua cobiça. Há cristãos viciados em mentir; dizem a Deus que O estão adorando, mas estão apenas buscando uma bençãozinha; dizem que têm apreço por seu irmão, sendo até capazes de abençoa-los da boca para fora, mas não têm a menor disposição de ajudá-lo a carregar as suas cargas. São cristãos escravos da aparência. Ter domínio próprio é controlar os próprios vícios, não os vícios dos outros, que este já é um outro vício... 3. Dominando-nos diante das circunstâncias Além dos sentimentos e desejos, que nós podemos controlar, em grau maior ou menor, há as circunstâncias, aquelas situações que não criamos, mas que nos atingem. Quando nos enredam, elas provocam desânimo. Diante delas, podemos perder o auto-controle, partindo para reações inadequadas, seja de desespero, seja com violência. Nossa reação mostra que, na verdade, estamos sendo controlados por elas. Podemos ser menores que as circunstâncias, mas Deus é maior do que elas. Embora seja difícil, é assim que devemos crer. Autocontrole é manter a esperança no Senhor da vida. Precisamos também aprender a lidar com as circunstâncias. Devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance, mesmo sacrificialmente, para mudar aquelas que nós podemos transformar. Diante daquelas que não podemos alterar, temos que aprender a conviver com elas, mesmo sob pretexto, para que não nos dominem. Adaptar-se não é aceitar conformisticamente as adversidades, mas saber que elas existem, mudá-las logo, mudá-las quando for possível e viver apesar delas. Devemos ter sempre em mente o conselho do pregador: Não há nenhum homem que tenha domínio sobre o vento para o reter; nem tampouco tem ele poder sobre o dia da morte; nem há tréguas nesta peleja; nem tampouco a perversidade livrará aquele que a ela se entrega. (Eclesiastes 8:8) PARA TER AUTOCONTROLE Há certas ocasiões que, antes de perceber o que está fazendo, você perde o controle, e passa ser vítima do seu descontrole, velada ou violentamente. Os resultados são prostituição, impureza, lascívia, que nos sobrevêm quando perdemos o controle sobre a paixão e nos deixamos levar por ela; idolatria e feitiçarias, quando desesperamos diante das circunstâncias e buscamos bênçãos de todo tipo; inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções e invejas, que nos dominam quando damos lugar aos desejos de superação do outro; bebedices e glutonarias, quando nos deixamos escravizar pelo desejo do nosso ventre. (Gálatas 5.19-20) O fruto do Espírito, no entanto, é o auto-controle. 1. Conheça-se e use o conhecimento a seu respeito a seu próprio favor. Tendemos a não perceber como somos, mas devemos nos esforçar para tal. Se você, no trânsito, é um pé de chumbo, vigie seu comportamento, para que controle o seu ímpeto de sair em disparada. A velocidade não é mais importante que você. Se você se ira com facilidade, evite as situações que a provocam a sua raiva. Desenvolva métodos para que a irritação fique em níveis aceitáveis. Use o que você sabe a seu próprio respeito para se dominar melhor. 2. Aprenda a tomar atitudes diferentes das que toma hoje. Faça com que seus sentimentos e desejos não redundem sempre nos mesmos atos. Você nasceu assim, mas não precisa morrer assim. Abra-se para o diferente. Faça o que nunca fez antes. 3. Valorize a disciplina. Quando Jesus disse que, se o nosso olho nos levar ao escândalo, devemos arrancá-lo, ele estava lembrando que precisamos subjugar o nosso corpo, quando este nos subjuga. Ponha objetivos na vida e se empenhe para alcançá-los. O autocontrole é o resultado da disciplina e do esforço próprio. 4. Deixe-se conduzir pelo Espírito de Deus. O domínio próprio é um esforço de quem vive pelo Espírito. Os homens em geral não pensam em disciplina, mas os cristãos nos esforçamos para viver de modo organizado, coordenado e harmônico. Neste ministério, o Espírito Santo quer nos apoiar, para nos conduzir. Deixe-se dirigir pelo Espírito. O domínio próprio só é possível por meio de Sua ação em nós. *** O domínio próprio a que estamos nos referindo aqui não se trata de um auto-controle que nos faz doentes, aquele falso, aquele apenas de aparência, mas aquele resultante de desejo profundo. Por isto, evite começar a fazer aquilo que o controla. Se você perde o controle da sua língua, quando o assunto é a vida alheia ou quando a conversa descamba para assuntos pouco edificantes, não entre na conversa. Recuse participar desde o princípio. Se já começou, deixando-se dominar por sentimentos, desejos e atitudes, procure parar. O Espírito Santo o ajudará, se houver arrependimento no seu coração. Afinal, a vida cristã é aquela vivida no Espírito Santo. Na verdade, a vida cristã só é possível no Espírito. Fora dEle, nossa vida é como a de qualquer pessoa.

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O propósito do autocontrole é nos deixar prontos para Deus, prontos para conosco e prontos para sermos servos uns dos outros. Não é uma prática religiosa rígida, não é disciplina por disciplina e nem enfadonha labuta para exterminar o riso e a alegria. Antes, é o portal da verdadeira alegria, libertação verdadeira da escravidão asfixiante do intereresse próprio e do medo". 37 É por isto que é fruto do Espírito Santo.

37DUNHAN, Maxie. Citado por SWINDOLL, Charles. So You Want to Be Like Christ. Nashville: Thomas Nelson, 2005, p. 158.

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"Deus, não consigo separar o ódio que sinto do que aconreceu do ódio pela pessoa que agiu. Desprezo a ação. Abomino quem a realizou. Minha fúria é a minha única vingança. Mas, Deus, minha fúria destrói a mim também. Sinto essa raiva fervendo marcando minha alma como ferro. Oh Senhor, meu Deus, livra-me do mal que eu faria a mim mesmo". (Richard Foster Citado por

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ACORDE 1. Mencione pelo menos 3 ações provoca raiva em você, ao ponto de você perder o controle e fazer o que depois reconhece que não devia ter feito. Seja específico, não genérico. (AUTO-CONHECIMENTO) 2. Admita a sua impotência. Confesse que tem sido difícil controlar algumas de suas emoções. (CONFISSÃO) 3. Peça a Deus orientação para mudar, força para mudar, persistência para mudar. Em sua oração, declare a sua confiança. Afirme o seu desejo de ter domínio sobre emoções e situações que controlam você. (ORAÇÃO) 4. Leia os seguintes versículos bíblicos, mediante neles, memorizando alguns deles: * "Evite a ira e rejeite a fúria; não se irrite: isso só leva ao mal" (Salmo 37.8). * “Quando vocês ficarem irados, não pequem”d. Apazigúem a sua ira antes que o sol se ponha" (“Os alimentos foram feitos para o estômago e o estômago para os alimentos”, mas Deus destruirá ambos. O corpo, porém, não é para a imoralidade, mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo" (Efésios 4.26). * "O coração em paz dá vida ao corpo, mas a inveja apodrece os ossos" (Provérbios 14.30). * "Se alguém se considera religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo. Sua religião não tem valor algum!" (Tiago 1.26). * "Meu filho, guarde consigo a sensatez e o equilíbrio, nunca os perca de vista; trarão vida a você e serão um enfeite para o seu pescoço" (Provérbios 3.21-22). * “Os alimentos foram feitos para o estômago e o estômago para os alimentos”, mas Deus destruirá ambos. O corpo, porém, não é para a imoralidade, mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo" (1Coríntios 6.13). (REFLEXÃO) 5. Decida viver a dinâmica da entrega. Há um preço a ser pago; decida pagá-lo. (DECISÃO) 6. Faça um diário de suas explosões, para verificar seu progresso. Quando falhar, não desista. Recomece. (ESFORÇO)

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LEITURAS SUGERIDAS COOPER, Kenneth. Resgatando a força da juventude. Rio de Janeiro: Record, 2002. GUINESS, Os. Sete pecados mortais. São Paulo: Shedd, 2006. LARIMORE, Walt, MULLINS, Traci. Os 10 hábitos das pessoas altamente saudáveis. São Paulo: Vida, 2004. MIRA Y LOPEZ, Emílio. Quatro gigantes da alma. 18ª ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1999.

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DIALOGUE COM SUAS EMOÇÕES A Bíblia, o livro por excelência das emoções, conta a história de um homem que, em nome de Deus, desafiou 450 profetas de um deus inventado, destruiu-os a todos, embora fossem amados pelo povo e remunerados pelo rei. Conta a Bíblia que este mesmo homem, logo depois, tomado de pavor, escondeu-se numa caverna com medo de morrer nas mãos de uma rainha e desejou ser morto por Deus (1Reis 18.17-19.18). A história de Elias nos mostra um homem santo tomado pela instabilidade emocional. Os primeiros capítulos da Bíblia narram uma história de homens totalmente controlados pelas emoções negativas. A inveja levou Caim a assassinar seu irmão. A raiva levou Lameque a matar duas pessoas desconhecidas na rua. Comecemos por afirmar que nossas emoções podem ser mudadas ou modificadas. A FORÇA DAS EMOÇÕES Quando experimentamos algum tipo de emoção básica, como tristeza, raiva, medo, surpresa, decepção, nossas experiências se expressam fisicamente, de uma forma que as outras pessoas conseguem perceber. 38 As emoções decidem nossas escolhas, nossas motivações e nossas ações. Elas podem organizar ou desorganizar nossas vidas. Nossa personalidade é o resultado de um sem-número de emoções e suas inter-relações. A instabilidade emocional nos faz perder muito tempo e nos leva a tomar decisões em circunstâncias que não poderíamos, 39 falando quando deveríamos nos calar, calando quando deveríamos nos manifestar, sofrendo quando deveríamos estar tranqüilos. Todos conhecemos o poder das emoções... das nossas próprias e das emoções dos outros. O medo, por exemplo, é capaz de produzir evidências que o sustentem. Antes de ir ao médico, uma pessoa pode ter feito o seu diagnóstico e pode ser sentido todos os sintomas de uma doença... imaginária. O médico terá muito trabalho para convencer a pessoa que o diagnóstico está errado. De certo modo, nós somos as nossas emoções. Só os robôs não têm emoções. O mesmo acontece com o sentimento de culpa. A culpa é real, desde Adão e Eva, mas é também real a graça que perdoa os pecados daqueles que os confessam a Jesus Cristo. Geralmente, tendemos a ver as nossas emoções como sendo apenas negativas. Não gostamos de sentir medo, tristeza, raiva ou desgosto. Todos gostamos das boas emoções, como alegria, amor, paz e prazer. "Todos" é uma força de expressão, porque há pessoas que parecem não gostar dessas boas emoções. Lidar com nossas emoções é uma tarefa complexa. Defini-las é também uma tarefa difícil, porque envolvem aspectos fisiológicos e biológicos. Por esta razão, vou apenas lembrar que emoção se origina da palavra movimento, como também vou me ater a um dicionário da língua portuguesa, que a conceitua como sendo uma "reação orgânica de intensidade e duração variáveis, geralmente acompanhada de alterações respiratórias, circulatórias etc. e de grande excitação mental" 40 Podemos pensar nas emoções como "a cola que mantém juntas as células do organismo" (Candace Pert). Boa parte dos autores ensina que as emoções afloram quando somos expostos a alguma situação. Não há como não ter medo diante do perigo. Não há como não sentir alegria diante de uma boa notícia. Mais que isto, podemos pensar que as emoções incluem (1) a situação em que estamos, (2) a nossa percepção desta situação e (3) a nossa resposta (sentimento, ação) a esta percepção. Emílio Mira y Lopez, psicólogo cubano radicado no Brasil na segunda metade do século 20, chamava às emoções de "gigantes da alma". Que, para ele, eram quatro: o medo, a ira, o amor e o dever. Num livro que vem sendo publicado desde 1949 (Quatro gigantes da alma. 18ª ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1999. 226p.), ele afirma, com razão, que a "nossa vida se anima e colore a medida que se deixa penetrar pela angústia do medo, pela impulsiva fúria colérica, pelo arrebatador êxtase amoroso" e pelo implacável "imperativo categórico do dever". 41 Todos sabemos que nossas emoções produzem decisões, mas também alterações no corpo. O medo, por exemplo, pode provocar batimento excessivamente rápido de coração. 42 Segundo outro estudo, pessoas que se desesperam diante de determinadas situações têm uma possibilidade 20% maior (o mesmo que o vício do cigarro) de desenvolver aterosclerose (placas nas artérias) num período de apenas quatro anos. 43

38DAMASIO, Antônio. The science of emotion. Disponível em <http://www.loc.gov/loc/brain/emotion/Damasio.html>. Acessado em 20.6.2002. 39HILDENBRAND, D. Robert. Teaching people how to be stable and free emotionally. Disponível em <http://tinpan.fortunecity.com/crusty/820/Week5.htm>. Acessado em 27.6.2002. 40Cf. Dicionário Eletrônico Hoauiss da Língua Portuguesa. 41Citado por TRINDADE, Jorge. Alegria, amor, medo e ódio. Disponível em <http://www.psicologia.org.br/internacional/artigo3.htm>. Acessado em 27.6.2002. 42Segundo um estudo conduzido na Escola de Medicina da Universidade de Harvard, pelo dr. Herbert Benson, cf. COOPER, Kenneth. Resgatando a força da juventude. Rio de Janeiro: Record, 2002, p. 120. 43COOPER, Kenneth. Resgatando a força da juventude. Rio de Janeiro: Record, 2002, p. 114.

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Os poetas bíblicos já sabiam disso. Um deles diz: Quando o meu espírito se amargurava e sentia picadas no meu coração, estava embrutecido e nada sabia; era como animal diante de ti (Salmo 73.21-22). Outro afirma: Enquanto guardei silêncio, consumiram-se os meus ossos pelo meus gemidos durante o dia todo (Salmo 32.3). Há outro que também exclama: O meu íntimo se agita sem cessar; e dias de aflição me sobrevêm (Jó 10.37). A recomendação divina permanece, ao longo da Biblia: Alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram (Romanos 12.15). COMO DIALOGAR COM AS EMOÇÕES Como aprendemos na Bíblia, há tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de dançar (Eclesiastes 3.4). Afetos e compaixões são dons da comunhão do Espírito em nós (Filipenses 2.1) Alguns falam em controlar as emoções. Penso que devemos, melhor, dialogar com elas, que implica ter consciência delas, ver quais são boas e quais são destrutivas. Expresse suas emoções. Expresse as suas emoções, sem que elas destruam você ou seu próximo. Não permita que se tornem em descargas ou em companhias permanentes. Aprenda com Isaías: Por muito tempo me calei, estive em silêncio e me contive; mas agora darei gritos como a parturiente, e ao mesmo tempo ofegarei, e estarei esbaforido (Isaías 42.14) Faça como Jesus, que experimentou fortes emoções. Quando olhava para os grupos que O seguiam, deles se compadecia, porque eram como ovelhas que não têm pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas (Marcos 6.34). Quando falava ao povo, certa feita, Ele arrancou do íntimo do seu espírito um gemido e disse: "Por que pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo que a esta geração não se lhe dará sinal algum" (Marcos 8.12). Próximo de sua morte, quando chegou perto e viu a cidade [de Jerusalém], [Jesus] chorou sobre ela (Lucas 19.41). Diante da morte do seu amigo Lazaro, ele teme a mesma emoção, chorando (João 11.35). Amar era com Ele. Antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, e havendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim (João 13.1). Deus real e homem real, a angústia da morte provocou em Jesus um suor dolorido. Posto em agonia, orava mais intensamente; e o seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que caíam sobre o chão (Lucas 22.44) Demonstre suas emoções. Os primeiros seguidores de Jesus expressavam suas emoções diante do Mestre: Os discípulos, ao verem Jesus andando sobre as águas, ficaram aterrados e exclamaram: "É um fantasma!" E, tomados de medo, gritaram (Mateus 14.26). O apóstolo Paulo as externava em suas atitudes e em sua correspondência. Minha testemunha é Deus, da saudade que tenho de todos vós, na terna misericórdia de Cristo Jesus (Filipenses 1.8). Tive grande alegria e conforto no teu amor, porquanto o coração dos santos tem sido reanimado por teu intermédio. Sim, irmão, que eu receba de ti, no Senhor, este benefício. Reanima-me o coração em Cristo (Filemon 7 e 20). Se tem dificuldades para expressar adequadamente as suas emoções, procure pessoas que possam ajudar você. (Disponível em <www.sde.state.id.us/osbe/exstand>). Essas podem ser instrumentos de Cristo para a sua paz. Deseje a paz mais que qualquer outro sentimento. Busque caminhos adequados para expressar suas emoções. Eis como José do Egito agiu, evidenciando a natureza holística da existência humana: Levantando José os olhos, viu a Benjamim, seu irmão, filho de sua mãe, e disse: "É este o vosso irmão mais novo, de quem me falastes?" E acrescentou: "Deus te conceda graça, meu filho". José se apressou e procurou onde chorar, porque se movera no seu íntimo, para com seu irmão; entrou na câmara e chorou ali. Depois, lavou o rosto e saiu; conteve-se e disse: "Servi a refeição" (Gênesis 43.29-31). O coração de José batia forte diante da expectativa do reencontro com os seus familiares e da revelação que iria lhes fazer. Quando as emoções se tornaram gigantes demais, ele encontrou formas de externá-las por meio de palavras e choros. Externe as suas emoções: chore, grite, fale, proteste, berre. Identifiquemos nossas emoções e expressemos aquelas que são legítimas, de um modo que não provoquem auto-destruição nem destruição dos outros.. Busque harmonizar suas emoções com a sua razão e com a sua vontade. Não se deixar dominar por suas decepções ou frustrações. Pedro, num momento de grande medo, negou conhecer a Jesus. Quando caiu em si, chorou profunda e longamente. Embora não tenha sido decisivo, seu comportamento ajudou a condenar Aquele que era o seu Senhor e Salvador. No final do processo, o seu Senhor e Salvador foi assassinado. Pedro poderia ter tido a reação de Judas, que sucumbiu pelo peso da culpa, mas não se deixou dominar por suas decepções e frustrações. Ele deu a volta por cima e se tornou o líder da igreja que nascia. Diante de emoções ruins, Pedro ficou com emoções boas. O medo se transformou em coragem para tomar a frente. A culpa se tornou em liberdade para agir. Pedro era, como se diz popularmente, impulsivo. Sua impulsividade, agora reorientada pela razão e pela vontade e ativada pelo Espírito Santo, foi decisiva para o projeto de Jesus no mundo. Não há nada mais perigoso que permitir que nossas emoções dirijam as nossas vidas. Precisamos colocá-las

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em harmonia com a razão e com a nossa vontade. Você quer (vontade) vencer, por exemplo, o medo de se identificar como cristão, coloque a vontade de vencer junto com a razão, que você vencerá. Como Pedro, todos podem dar a volta por cima. Todos podem colocar as emoções no bom caminho. Não permita que as suas emoções levem você, por exemplo, ao desânimo. Não permita que suas emoções controlem as nossa vidas. Elas são parte da sua vida, uma parte decisiva, mas elas não podem decidir sozinhas. Nesta busca, você não está sozinho. O Espírito Santo, que convive com sua emoção, com sua razão e com sua vontade, deseja fazer de você uma pessoa equilibrada, suprindo o que faltar, cortando o que sobrar. Faça a sua parte, e uma delas é deixar o Espírito Santo agir. Busquemos o equilíbrio, isto é, coloquemos emoção, razão e vontade no horizonte de nossas escolhas. Cultive as boas emoções e previna-se das emoções ruins. Lembre-se que "nossas emoções são formadas por nossas crenças, isto é, por aquilo que nós dizemos a nós mesmos" (Karen McCown). Lembre-se também que a conseqüência de uma vida dominada pelas emoções é a instabilidade emocional. Quando o equilíbrio vai embora, acabamos nos tornando vítimas do desespero e da tristeza. 44 Não se esqueça que "há um leão e um cordiero dentro de você. A maturidade espiritual consiste em ter habilidade para permitir que o leão e o cordeiro deitem-se juntos. O seu leão é o seu eu adulto, agressivo, é o seu eu que toma iniciativas e decisões. Mas há também um cordeiro medroso, vulteravel, parte do seu que precisão de afeição, apoio, afirmação e carinho. (...) A arte da vida espiritual está em tomar pleno conhecimento tanto do seu leão quanto do seu cordeiro'". 45 Para que haja equilíbrio, precisamos cultivar as emoções boas e nos prevenir das ruins. Neste sentido, a lembrança aos gigantes da alma nos ajuda nesta caminhada. Cada um pode fazer a sua lista e a nossa inclui dois gigantes que devem crescer e dois gigantes que devem morrer. Eu me refiro ao medo e à raiva, de que devemos nos prevenir, porque não dá para deletá-las, e também à alegria e ao amor, que devemos cultivar, para que sejamos felizes. . O GIGANTE DA RAIVA. A raiva (ou ira), que é uma resposta necessária de defesa a situações da vida, tem sido transformada, por causa do pecado, em uma emoção que destrói quem se deixa dominar por ela e eventualmente destrói outras pessoas. A raiva faz da vida por ela dominada "um perpétuo drama" (conforme a expressão de Mira y López. 46 A Bíblia condena a raiva (2Coríntios 12.20; Gálatas 5.20; Colossenses 3.8; 1Timóteo 2.8), pedindo que fiquemos longe de toda amargura, cólera, ira, gritaria, blasfêmias e bem assim toda malícia (Efésios 4.31). Nela lemos que todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus. Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma (Tiago 1.19-20). Aqui precisamos fazer um interlúdio para afirmarmos que nem toda a raiva é condenada pela Bíblia. Antes, ela recomenda algumas coisas do que devemos ter raiva. Somos incentivados a ter ódio do suborno (Êxodo 18.21; Provérbios 15.27), dos malfeitores (Salmo 5.5; Salmo 26.5; Salmo 45.7; Salmo 119.113), dos idólatras (Salmo 31.6), dos maus caminhos (Salmo 97.10; Salmo 101.3; Amós 5.15; Romanos 12.9; Apocalipse 2.6), da falsidade (Salmo 119.163; Provérbios 13.5), da fala orgulhosa, arrogante ou pervertida (Provérbios 8.13) e do sangue e da violência (Ezequiel 35.6; Malaquias 2.16). 47 O livro de Eclesiastes (3.8) diz que há um tempo para se odiar, isto é, de rejeitar o mal. A Bíblia nos pede para odiar tudo aquilo que está fora do projeto de Deus para este mundo. Um cristão que não odeia a injustiça não é propriamente um cristão. Jesus mesmo se indignou contra aqueles que transformaram a igreja num balcão de negócios. Tendo Jesus entrado no templo, expulsou todos os que ali vendiam e compravam; também derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes: "Está escrito: `A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, a transformais em covil de salteadores'" (Mateus 21.12-13). Voltando à raiva negativa, o conselho bíblico continua: não deixe o sol se pôr sobre a sua ira (Efésios 4.26).

44HILDENBRAND, D. Robert. Teaching people how to be stable and free emotionally. Disponível em <http://tinpan.fortunecity.com/crusty/820/Week5.htm>. Acessado em 27.6.2002. 45NOUWEN, Henri. A voz íntima do amor. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 82. 46Citado por TRINDADE, Jorge. Alegria, amor, medo e ódio. Disponível em <http://www.psicologia.org.br/internacional/artigo3.htm>. Acessado em 27.6.2002. 47BANKS, Robert, STEVENS, R. Paul, ed. The Complete Book of Everyday Christianity. Disponível em <http://www.ivmdl.org/cbec.cfm?study=112>. Acessado em 25.6.2002.

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Não deixe que a ira destrua você. Não deixe que a ira impeça você de olhar o futuro, porque a raiva é sempre uma prisão ao passado. Não deixe que a ira afaste você de todas as pessoas, porque nem todas as pessoas merecem a sua ira e porque você deve amar a todas as pessoas, até as inimigas. Deus sabe que odiar é morrer e que amar é viver. É também por isto que nos deixou o mandamento do amor. É uma forma sábia de viver. Quando tiver com raiva de alguém, um bom conselho é perguntar-se: "Por que esta pessoa está me aborrecendo tanto? Por que ela é tão infeliz? Será que posso fazer alguma coisa para ajudá-la?" 48 . O GIGANTE DO MEDO. Deus sabe o quanto somos capazes de ter medo. Ele sabe que podemos ter medo de qualquer coisa, medo de mudar, medo de mortos, medo de viver, medo de avião, medo de navio, medo de altura, medo do escuro... O primeiro casal teve medo de encarar a Deus, depois de Lhe ter desobedecido: Adão respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi (Gênesis 3.10). Somos capazes de ter medo de ameaças reais, mas também de ameaças imaginárias, como se o que não existisse aterrorizasse mais do que aquilo que existe. 49 A lista de medos é interminável: acrofobia -- medo de lugares altos agorafobia -- medo de lugares abertos algofobia -- medo de sentir dor antropofobia -- medo de homem astrofobia -- medo de trovões claustrofobia -- medo de lugares fechados eclesiofobia -- medo de ir à igreja ereutofobia -- medo de ficar corado perto dos outros fobofobia -- medo de ter medo fotofobia -- medo da luz gerontofobia -- medo de envelhecer ginofobia -- medo de mulher hematofobia -- medo de sangue hidrofobia -- medo de água monofobia -- medo de sentir solidão necrofobia -- medo de cadáver nictofobia -- medo da noite oclofobia -- medo de multidão patofobia -- medo de ficar doente pirofobia -- medo de fogo tanatofobia -- medo de morrer toxicofobia -- medo de ser envenenado zoofobia -- medo de animais É claro que o medo é coisa séria, pelas suas causas e origens. Há um nível que requer ajuda de um profissional, mas o cristão permanentemente se recordar que Deus não nos tem dado espírito de medo, mas de poder, de amor e de moderação (2Timóteo 1.7). Afinal, a Palavra de Deus traz incontáveis vezes a expressão: "Não temais"/"Não temam". O duro do medo é que nós sabemos que o medo é irracional, mas assim mesmo nós temos medo. O duro do medo é que nós sabemos, lendo a Bíblia, que o medo produz tormento (1João 4.18c), mas nos deixamos atormentar. O duro do medo que nós sabemos que precisar mudar, sair, levantar, mas nos deixamos paralisar no mesmo lugar. O duro do medo é que nós sabemos que o perfeito amor de Deus lança fora todo o medo do coração dos seus filhos, mas assim mesmo temos medo. Como é difícil lembrar as promessas divinas na hora do medo! Sede fortes e corajosos; não temais, nem vos atemorizeis diante deles; porque o Senhor vosso Deus é quem vai convosco. Não vos deixará, nem vos desamparará (Deuteronômio 31.6) Quando tiver com medo, pergunte-se: será que estou sozinho? Será que as palavras de ânimo que Deus deixa em Sua Palavra não se aplica a mim? Seja este o seu cantar, em forma de desafio a você mesmo: O Senhor é a minha luz e a minha salvação; de quem terei medo? O Senhor é a fortaleza da minha vida; a quem temerei? (Salmos 27.1) Em meio aos fantasmas, que você possa dizer, pela fé cheia de esperança: Não tenho medo de milhares do povo que tomam posição contra mim de todos os lados (Salmos 3:6).

48COOPER, Kenneth. Resgatando a força da juventude. Rio de Janeiro: Record, 2002, p. 109. 49TRINDADE, Jorge. Alegria, amor, medo e ódio. Disponível em <http://www.psicologia.org.br/internacional/artigo3.htm>. Acessado em 27.6.2002.

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Sejamos aperfeiçoados no amor. Quando amamos a Deus, confiamos nEle; confiando nEle, somos capacitados a superar o medo, venha ele de uma fonte externa ou de dentro de você mesmo. . O GIGANTE DA ALEGRIA. A alegria é uma emoção a ser cultivada. Infelizmente, há pessoas que têm uma imensa dificuldade em rir, mesmo sabendo que todas as pessoas nascem com a habilidade de rir, sem que precisem aprender, como nos mostra qualquer criança. Para expressar felicidade, alegria, alívio, prazer e felicidade, há 18 tipos diferentes de riso. 50 Experimente um. É sábio expressar alegria. Como nos ensina a Bíblia, o coração alegre serve de bom remédio; mas o espírito abatido seca os ossos (Provérbios 17.22). Deus mesmo é alegre: Alegrar-me-ei por causa deles, fazendo-lhes o bem; e os plantarei nesta terra, com toda a fidelidade do meu coração e da minha alma (Jeremias 32.41). Além de ser alegre, Deus tem projetos de alegria; uma de suas ordens ao povo era: Ide, comei as gorduras, e bebei as doçuras, e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque este dia é consagrado ao nosso Senhor. Portanto não vos entristeçais, pois a alegria do Senhor é a vossa força (Neemias 8.10). Você quer força, alegre-se no Senhor. . O GIGANTE DO AMOR. O amor é outra emoção a ser cultivada. Há pessoas com uma imensa dificuldade de amar. Dominadas pelo medo, pelo ódio, pela amargura ou pela indiferença, não conseguem amar, ou não conseguem externar seus desejos de amor. O amor a Deus é resposta ao amor de Deus. O amor ao próximo é o esforço humano para imitar o comportamento divino. Podemos ser felizes, porque Deus nos amou e ama. Quem ama é feliz. De propósito, não vou citar nenhum texto bíblico neste momento. Nós os conhecemos todos de cor. Nosso problema não é saber o quanto o amor nos determina e edifica. Nosso problema é ter a coragem de obedecer. Amar é um ato de obediência que produz felicidade. Seu contrário é a infelicidade. Escolhamos ser felizes. Escolhamos amar. . O ENCONTRO DO AMOR COM A ALEGRIA. Alegria e amor, juntos, produzem entusiasmo, entusiasmo para conviver com o próximo e com o Senhor de nossas vidas. Nossos próximos podem ser abençoados com o amor, que produz generosidade. Nosso Deus pode ser adorado com prazer. É na experiência da adoração que alegria e amor se encontram. Há duas áreas em nossas vidas nas quais não pode faltar emoção. É na generosidade e na adoração. Cultuemos com emoção. Amemos com emoção Ser generoso (que é dar sem esperar reciprocidade) não é racional; é gesto de emoção. Só os felizes são generosos. Os infelizes podem até contribuir, com a causa de Deus e com o bem-estar dos homens, mas nunca podem ser generosos. Só os felizes são generosos. Sejamos generosos. Adoremos a Deus de uma forma apaixonada, emocionada, o que não exclui as formas organizadas e racionais. Sabemos que a verdade sem emoção produz um conservadorismo vazio, levando a igreja a ficar cheia de admiradores artificiais, mas não de adoradores. Verdade sem emoção não é adoração. Por outro lado, a emoção sem verdade produz ruídos sedutores, levando a igreja a ficar cheia de pessoas em êxtases, mas não de adoradores. Emoção sem verdade não é adoração. Emoção que preza a verdade, verdade que se expressa com paixão -- isto é adoração. A ordem bíblica não deixa margens a dúvidas: Gloriai-vos no seu santo nome; alegre-se o coração dos que buscam ao Senhor (1Crônicas 16.10). Este é o poder do louvor. Adoremos com emoção, soltando nossas almas, soltando nossos corpos, soltando nossas vozes, soltando nossos braços. A glória de Deus passeia pelo território do louvor. Conte com o poder de Cristo. Jesus pode remover as emoções negativas, sejam elas o ódio e a ira, a ansiedade e o estresse, quando confiamos nEle. Descansamos quando lançamos nossos fardos sobre Ele. Nossas enfermidades psicossomáticas podem ser prevenidas se descansamos em Cristo, relaxando na segurança de Seu perdão e aceitação. Como diz um dos Provérbios (3.8), a saúde está próxima daqueles que confiam em Deus. É pela confiança que lançamos mão do poder que Cristo nos dá para saber viver (Filipenses 4.11-13). Falo em "saber viver" porque as emoções podem ser boas ou ruins, dependendo de como lidamos com elas ou permitimos que elas influenciem nossos pensamentos ou nossos relacionamentos. Não temos muita escolha: não temos como não conviver com nossas emoções. "O caminho para a `vitória' não está em tentar superar diretamente suas emoções perturbadoras, mas em chegar a um sentimento mais profundo de segurança e entrosamento e uma noção mais vívida de que você é profundamente amado. (...) Não

50Cf. Emotions and a sound mind. Disponível em <http://kidshealth.org/kid/feeling/emotion/smile.html>. Acessado em 20.6.2002.

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fique desanimado. Esteja certo de que Deus irá verdadeiramente satisfazer todas as suas necessidades". ". 51 APRENDENDO COM OS PRIMEIRÍSSIMOS CRISTÃOS A experiência do Pentecostes (Atos 2), quando o Espírito Santo tomou posse dos corpos e das mentes dos discípulos de Jesus, é bastante emblemática do que podemos fazer com as nossas emoções. O episódio mostra indivíduos raivosos diante dos "absurdos" teológicos e litúrgicos que presenciavam, ao lado de indivíduos cheios da graça, plenos de boas emoções. Há um contraste entre as atitudes dos cristãos e dos não-cristãos. Os cristãos se deixaram encher pela emoção da presença do Espírito Santos e se perguntaram sobre o que fazer a partir daí. Os não-cristãos ficaram apenas cheios de medo e raiva (Atos 2.4, 7, 12). Sua reação foi de zombaria (Atos 2.13), não de respeito em relação àqueles crentes. A comunidade cristã temia ao Senhor, sentia alegria e experimentava singeleza de coração. A comunidade não cristã remoía-se em ódio. Há um contraste entre o Pedro dos Evangelhos e o Pedro do Pentecoste. O discípulo estava emocionado no Pentecoste. O Pedro que negou conhecer a Jesus estava com suas emoções à flor da pele. O Pedro que teve medo e submergiu quando caminhou sobre as águas (Mateus 14.30) agora estava confiante. Pedro não se deixou escravizar pela sua derrota, a de trair ao Seu Senhor, deixando-O ser preso sozinho. Pedro não ficou se remoendo no seu fracasso, ao não confiar em Jesus e afundar no mar. Antes, Pedro confiou na promessa de Deus. Jesus prometera o Espírito Santo, dizendo como seria a Sua visitação. Pedro não merecia e podia se portar como um derrotado pelo medo. No entanto, ele sabia que Deus o amava e que Seu perdão fazia tombar todos os gigantes negativos da sua alma. Pedro e seus irmãos buscaram situações que favoráveis a emoções boas (Atos 2.1). Era no cenáculo que o Espírito Santo lhes ia capacitar para a nova história de suas vidas. E foi para lá que foram. Pedro e seus irmãos tiveram atitudes adequadas diante delas. Não ficaram atemorizados porque Jesus morrera, nem ficaram paralisados porque o Espírito Santo lhes visitara. Emocionaram-se e foram além. Pedro e seus irmãos tiveram a coragem de obedecer ao Espírito de Deus, Espírito que lhes concedeu a força que nunca tiveram e lhes deu oportunidade de se comunicar de uma forma que nunca se vira e nunca se veria. Pedro e seus irmãos tiveram coragem para enfrentar as adversidades e os adversários. Eram minoria, mas sabiam que tinham o poder do Espírito Santo. Pedro e seus irmãos tiveram equilíbrio para interpretar o momento e para agir no momento. Pedro, por exemplo, quando se levantou para falar, falou equilibradamente (Atos 2.14). *** Eis o que eu quero: que o Espírito Santo controle as minhas emoções (Gálatas 5.22). É o que você quer também? Quando estou com raiva de alguém, devo perguntar, se vivo no Espírito e não carne, se não há algo que posso fazer por esta pessoa, em lugar de xingá-la ou desejar vê-la destruída. Quando estou com medo, devo me lembrar que Deus é maior que o meu coração produtor de medo. Preocupação e ansiedade são emoções que não nos devem habitar. Deus nos pede para lançar sobre Ele todas as ansiedades. Afinal, quando estamos preocupados, tomamos a decisão de resolver por nós mesmos todos os problemas, até aqueles que não dependem de nós. Ou confiamos em Deus, ou sofremos. Dialoguemos com o nosso Deus sobre as nossas emoções.

51NOUWEN, Henri. A voz íntima do amor. São Paulo; Paulinas, 1999, p. 53.

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8 PERSEVERANÇA: É NO FINAL QUE SABEMOS SE CONSEGUIMOS "Também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu". (Romanos 5.3-5 -- NVI) "Em virtude de a vida ser uma tarefa, precisamos de forças para enfrentá-la, e não de velocidade para escapar dela". (Charles Swindoll). 52 NÃO pense a vida seja fácil. Não pense que não vale a pena vivê-la.. Somos chamados a perseverar, a prosseguir no caminho.

52SWINDOLL, Charles. Perseverança. São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p. 235.

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O PROJETO DE DEUS O gemido com o corpo e a alma produz tribulação, raiz da melhor das virtudes: a perseverança, canal que conduz à glória da divina aprovação -- "eis aí o meu querido!" -- força-motriz da confiança derramada pelo Espírito Santo em meu coração para que seja viva e sólida a minha esperança que, vinda do Alto, não contempla decepção no chamado que me põe na bem-aventurança. O plano de Deus, eis como o quero perceber: Ele a todos, por sua ciência, a todos conheceu e aos que responderam a todos com amor chamou e aos que chamou a todos com graça justificou e, para serem a imagem do Filho, os predestinou para, no tempo do fim, glorificados virem ser.

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PERSEVERANÇA: É NO FINAL QUE SABEMOS SE CONSEGUIMOS Quem conhece o trabalho dos Gideões Internacionais, no mundo e no Brasil, fica impressionado. A todo hotel que se vai tem lá um Novo Testamento (com Salmos) deixado por eles para. A partir das igrejas, são formados grupos ministeriais nos bairros. Eles se reúnem periodicamente, pegam pesadas caixas de Bíblias ou porções e vão fazer a distribuição em hotéis, hospitais e escolas. Semeiam sem esperar resultados. Perseveram, embora vejam poucos resultados. Eles podem não ver os resultados, mas eles são muitos. Numa de suas reuniões de celebração, estive e ouvi o testemunho de Celso Ribeiro Filho, pastor da Primeira Igreja Batista de Petropolis (RJ). Ele era um estudante universitário e foi abatido por uma fortíssima crise de falta de sentido. Lembrou-se então que ganhara uma Bíblia no campus da universidade. Pegou-a e encontrou Jesus Cristo e o sentido. Filiou-se a uma igreja e se preparou para ser pastor no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, no Rio de Janeiro. Tudo começou com uma Bíblia dos perseverantes Gideòes. Nenhum profeta, na Bíblia e fora dela, viu a derrota tão certa e nenhum lutou até o fim, atuando no difícil território da vida política. Não há campo em que sejamos menos entusiasmados do que a política; não há área em que achemos que nada mais há a ser feito do que a política. No entanto, o ministério de Jeremias se desenvolveu no campo político. A missão dele era orientar seu povo, incluídos seus governantes, a se voltar para Deus e ouvir a sua voz. Ele não tinha uma comunidade atenta à qual pregava; ele tinha uma nação que contestava suas mensagens; ele tinha governantes que o prendia. Jeremias tinha tudo para desistir, chegando ao ponto de achar que Deus o enganara ao lhe chamar para aquela missão (Jeremias 20.7-13). Por crer assim, Jeremias prosseguiu em sua jornada, mesmo que solitária. Quero deixar com você, então, um convite à perseverança. DESEJANDO A PERSEVERANÇA Se queremos conhecer a Deus e fazer a Sua vontade, precisamos perseverar neste conhecimento, porque o melhor está ainda por vir. Se queremos alcançar a plenitude da salvação, precisamos perseverar neste caminho, que é feito de ação e contemplação, de contemplação e ação após o recebimento da graçaSe queremos mudar o modo com nossa vida profissional (como patrão ou como empregado ou como autônomo), precisamos de muito esforço, de demorado esforço, nesta luta, que não é feito a golpes de sorte, mas de muita transpiração. Se queremos mudar o modo como navegamos na vida com nossas emoções, temos um longo oceano a singrar, porque num passe de mágica ninguém migra de uma auto-estima baixa, ou elevada demais, para uma auto-imagem equilibrada. Se queremos ficar curados de uma doença, precisamos seguir as prescrições médicas, que podem incluir remédios e mudanças de hábitos, alguns desses que herdamos de muitas gerações passadas. Se queremos viver num país com uma cara mais decente, há uma íngreme montanha a ser escalada. Se queremos viver numa família que vale a pena, com respeito e companheirismo, há muitas milhas a serem caminhadas. Se queremos viver numa igreja relevante para nós, nossa família e nossa comunidade, há muitos joelhos a serem dobrado, muitos compromissos a serem firmados, muita inteligência a ser desafiada, muitas almas a serem pastoreadas. Se queremos ser ouvidos -- Jeremias que o diga -- precisamos saber que teremos que falar durante muito tempo e de forma mais eficiente a cada dia. Se queremos aprender algo novo, precisamos prosseguir aprendendo. Nada do que queremos ser virá sem que perseveremos. Nada do que queremos ter virá sem que persistamos. Nada do que queremos mudar acontecerá sem que nos apliquemos. RAZÕES E CONTRA-RAZÕES PARA A DESISTÊNCIA Por que, então, tendemos a desistir (ou desistimos)? Não pense que só você quer desanimar. Jeremias esteve perto de desistir até da própria vida, depois de tanto tentar. Eis o que ele disse (Jeremias 20.14-18): "Maldito seja o dia em que eu nasci! Jamais seja abençoado o dia em que minha mãe me deu à luz! Maldito seja o homem que levou a notícia a meu pai, e o deixou muito alegre, quando disse: “Você é pai de um menino!” Seja aquele homem como as cidades que o Senhor destruiu sem piedade. Que ele ouça gritos de socorro pela manhã, e gritos de guerra ao meio-dia; mas Deus não me matou no ventre materno nem fez da minha mãe o meu túmulo, e tampouco a deixou grávida. Por que saí do

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ventre materno? Só para ver dificuldades e tristezas, e terminar os meus dias na maior decepção?" (Jeremias 20.14-18) 1. A cultura do sucesso rápido Jeremias enfrentava o sucesso dos outros profetas. Eles é que eram bons. Eram citados. Eram respeitados. Ganhavam medalhas dos governantes. Por que ele não fazia o mesmo? Em nossa época a sedução permanece. Vivemos numa cultura globalizada onde tudo é muito rápido. Nossa natureza, que gosta de soluções que importa em pouco esforço e nenhum sacrifício, fica encantada. A velocidade se tornou uma excelência a ser buscada. Até aquilo que se normalmente se obtém com dedicação e tempo é oferecido "mastigado" em rápidas lições. Por isto, não devemos nos esquecer que a vida não é uma espécie de crediário. Não vivemos num restaurante fast food, onde muitas vezes a batata já está frita, ou num restaurante a quilo, onde a comida lhe olha antes de você chegar lá. A vida se assemelha a um restaurante em que o prato é preparado na hora; é mais gosto, mas demora mais a ser servido. 2. A natureza das coisas ignorada Por vezes, tendemos a desistir quando nossas perguntas pendem sem resposta e não entendemos a razão de algumas coisas sucederem a nós ou a algum conhecido. Por que um câncer acomete uma pessoa temente a Deus, se há tantos maus saudáveis? A pergunta de Jeremias ecoa pelos séculos: "Por que o caminho dos ímpios prospera? Por que todos os traidores vivem sem problemas?" (Jeremias 12.1). A viver é uma corrida contra homens que correm a pé e contra homem que correm a cavalo. 3. Medo de nossa incompetência Jeremias, como lemos no relato de sua chamada (Jeremias 1.4-10), achava-se incompetente para realizar o que Deus lhe pedia. Na verdade, ele não sabia do que era capaz, e só o soube quando foi testado. Por vezes, desanimamos por que não conhecemos nossa capacidade de resistir. Olhamos para o desafio e nos achamos incapazes de vencê-lo. Na verdade, só conhecemos nossa capacidade quando somos testados. Recentemente um casal completou bodas de prata; é grande a dificuldade financeira da família, mas uma festa, modesta e bonita, foi providenciada. Quem diria! Há alguns anos uma tragédia se abateu sobre a família. O marido se envolveu sexualmente com uma colega de trabalho. Ele sempre foi o leme da casa, já que a esposa, por um problema de saúde emocional, controlada por um remédio controlado, era nula. No entanto, ela decidiu lutar para recuperação moral do seu marido. E conseguiu. Quando todos imaginavam que ela ficaria pelos cantos, dopada, ela descobriu do que era capaz e preservou com dignidade o seu casamento. Se queremos avançar, precisamos olhar o que JÁ foi alcançado, tirando o foco do que AINDA não foi alcançado. Se queremos avançar, precisamos olhar para o prêmio a ser alcançado, não o preço a ser pago. 4. Enfermidade incapacitadora Por vezes, desanimamos por sermos portadores de alguma enfermidade que nos incapacita para a perseverança. E aí não estão incluídas as limitações físicas, que nos impedem apenas de algumas coisas, mas não de todas, e até delas se pode tirar proveito. São incapacitadoras aquelas doenças de fundo emocional, psicológico ou psiquiátrico. Neste caso, a pessoa com este tipo de dificuldade deve procurar ajuda, deve aceitar ser ajudado. Se seu cônjuge lhe diz que você precisa ir a um psiquiatra, vá. Se sua mãe acha que você precisa de um tratamento, submeta-se ao tratamento. Se seu amigo lhe recomenda uma psicoterapia, procura quem lhe possa ajudar. VALE A PENA PERSEVERAR Mesmo em suas limitações, Jeremias ouviu Deus lhe chamando à perseverança. Em vários textos do Antigo e do Novo Testamentos, a chamada é a mesma: . [Jesus disse:] "Contudo, nenhum fio de cabelo da cabeça de vocês se perderá. É perseverando que vocês obterão a vida" (Lucas 19.18). . "Afaste-se do mal e faça o bem; busque a paz com perseverança" (Salmo 34.14). . "Feliz é o homem que persevera na provação, porque depois de aprovado receberá a coroa da vida, que Deus prometeu aos que o amam" (Tiago 1.12). . "Pois tudo o que foi escrito no passado, foi escrito para nos ensinar, de forma que, por meio da perseverança e do bom ânimo procedentes das Escrituras, mantenhamos a nossa esperança. O Deus que concede perseverança e ânimo dê-lhes um espírito de unidade, segundo Cristo Jesus, para que com um só coração e uma só voz vocês glorifiquem ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo" (Romanos 15.4-6). . sejam "fortalecidos com todo o poder, de acordo com a força da sua glória, para que tenham toda a perseverança e paciência com alegria, dando graças ao Pai, que nos tornou dignos de participar da herança dos santos no reino da luz. Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados" (Colossenses 1.11-14).

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Somos chamados a perseverar, a prosseguir no caminho, a correr com os homens para correr com os cavalos. A perseverança não é uma qualidade, como brinca Charles Swindoll, que se alcance com uma única oração do tipo "Senhor, dá-me perseverança, agora". 53 Como nós, Jeremias se perguntava porque seu país passava por aquela situação, porque ele passava por aquela situação, porque os traidores de Deus e dos homens prosperavam, criando raízes e dando frutos (verso 2). Contudo, se queremos entender os caminhos da vida, precisamos perseverar. Este entendimento não está disponível em quatro lições de 15 minutos, feitas enquanto se assiste televisão ou se navega pela internet. Deus quer que corramos com os cavalos. Como nós, Jeremias tinha uma atitude diante de Deus marcada pela atenção à Sua voz e pela obediência à Sua palavra; diz o profeta: "Tu, porém, me conheces, Senhor; tu me vês e provas a minha atitude para contigo" (verso 3). Por isto, se queremos perseverar numa atitude diante de Deus, marcada pela confiança e pela amizade, precisamos perseverar. Como nós, Jeremias se sentia injustiçado e abusado; por isto, queria triunfar sobre injustiças e abusos, tribulações e tentações, como nós também, mas para vermos o triunfo de Deus e em nossas vidas, precisamos triunfar. E vale a pena, porque perseverando, podemos até não alcançar, por algum outro fator no interior da soberania de Deus, mas não perseverando, jamais alcançaremos. PARA DESENVOLVER A DISCIPLINA DA PERSEVERANÇA Como, então, desenvolver a perseverança? Eis aqui algumas sugestões que são vividas no caminho. Ninguém vai sair daqui perseverante, se não caminhar. Ninguém vai dormir impaciente e acordar perseverante. A vida é uma caminhada, às vezes com homens; às vezes, com cavalos. Só corremos com os cavalos, depois de aprendermos a correr a pé. O melhor da vida não está disponível para ser comprada num shopping ou numa igreja. 1. Tenha uma visão clara do que você quer alcançar. Primeiro, comece olhando para aquilo que você deseja alcançar. Este é o primeiro passo na longa jornada da vitória. A vida não é feita de saltos, mas de passos, e o primeiro é ter uma visão clara do que se quer. A pergunta é simples: o que você quer da vida? Alguns chamam isto de objetivo, outros de alvo, outros de sonho, outros de ideal. Não importa: qual é o seu? Esta reflexão se impõe para aqueles que ainda não a fizeram. Esta semana, numa visitação hospitalar, ouvi a história de uma estudante se encontrou com um dos mais respeitados profissionais de sua área, falando sobre seus desejos. Ele lhe perguntou: "Onde você quer estar daqui a dez anos?". Ela respondeu e ele disse o que deveria fazer para chegar lá, e a segunda era muito simples, sim, a segunda, porque a primeira já estava feita: responder à pergunta "onde você quer estar daqui a dez anos?". Quando Deus chama Jeremias, diz-lhe: "Veja! Eu hoje dou a você autoridade sobre nações e reinos, para arrancar, despedaçar, arruinar e destruir; para edificar e plantar" (Jeremias 1.10). Jeremias viu e seguiu. Se você não tem uma visão vinda de Deus para a sua vida, peça-Lhe esta visão. 2. Decida conquistar o que você deseja. Um dos homens mais extraordinários da Bíblia é Calebe, o pai de todos os homens e mulheres de visão.... Gosto sempre de recordar seu exemplo. Enviado como espião para uma terra a ser conquistada, trouxe um relatório digno de confiança. Ele nunca perdeu a visão. Quando chegou aos 85 anos de idade, tinha a mesma visão. Como havia um território difícil que tinha visto como para ser conquistado, ele mesmo se levantou, formou uma equipe e a conquistou (Josué 14.6-15). A visão traz o desejo da conquista, o desejo da conquista alimenta a perseverança e a perseverança abre as portas para a realizado do desejo. Na verdade, este desejo se torna um fogo interior. Jeremias o experimentou. Às portas do desânimo, o projeto de sua vida -- de tornar Deus o centro de suas vidas, ele se anima, ao perceber quem Deus era para ele: era "como se um fogo ardesse em meu coração, um fogo dentro de mim. Estou exausto tentando contê-lo; já não posso mais!" (Jeremias 20.9). A vida com Deus é uma caminhada, que começa com uma visão de quem Deus é e uma percepção de como Ele nos vê. Se esta visão de Deus nos acompanha, somos capacitados com a coragem necessária para nos lançarmos à jornada. Que nos diga Calebe, que esperou 40 anos para conquistar a sua Hebrom. Que nos diga Davi, que também esperou 40 para conquistar Jerusalém. Que nos diga Jeremias, que teve que caminhar com o seu povo para o exílio, sabendo que esta era a vontade de Deus para o seu povo. A decisão nos capacita correr a pé, antes de podermos correr a cavalo. Para perseverar nas grandes coisas, precisamos aprender a perseverar nas pequenas. As grandes coisas começam pequenas (Zacarias 4.10), todas,

53SWINDOLL, Charles. Perseverança. São Paulo: Vida, 2004.

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sem exceção. 3. Mantenha a visão. Manter a visão não é ser teimoso. Os perseverantes são persistentes, não teimosos. Ser teimoso é persistir nos caminhos que você trilha; ser perseverante é persistir nos caminhos que Deus lhe preparou. Fique em cima do cavalo mesmo que ele dê solavanco. Andei a cavalo uma única vez. Não foi fácil. Não tive tempo de aprender. Eu estava numa região rural em que não havia outro transporte disponível e precisa ir ao encontro de minha irmã, para buscá-la. Acompanhado por uma pessoa experiente, subi, fui e cheguei. Doía, mas fui porque eu tinha um objetivo, do qual não me esqueci. Olho para os grandes realizadores de todos os tempos e vejo quanto perseveraram. Jerônimo levou 15 anos (391-405) para traduzir a Bíblia para o latim, tradução que levou 400 anos para ser reconhecida. O que há de melhor na vida vem na longa duração, que é feita de pequenos saltos e também de grandes saltos, que vêm depois dos primeiros. A longa duração pode pedir mudanças, decisões novas, que nos tire pesos que Deus não colocou, compromissos que Deus não nos pediu. Aquilo que nós continuamos fazendo só para provar que estávamos certos não é perseverança; é vaidosa teimosia. 4. Desenvolva o caráter. A comparação entre corrida a pé e corrida a cavalo indica bem a natureza da perseverança. É uma disciplina a ser desenvolvida. É uma qualidade a ser forjada. O apóstolo Paulo nos ensina o valor desta disciplina: "Também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança [produz] um caráter aprovado; e o caráter aprovado [produz] esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu" (Romanos 5.3-5). A esperança é um oferecimento de Deus para nós, por meio do Espírito Santo, oferecimento este que é recebido por quem tem um caráter aprovado na perseverança. O fundamento da perseverança é a esperança. No desenvolvimento do caráter, precisamos considerar o preço da desistência. Quando alguns alunos me vêm falar de suas dificuldades em continuar, desejosos de trancar a matrícula nos seus cursos, eu lhes digo: "Saiba que se você parar agora, corre o risco de nunca mais voltar. Lembre-se da sua visão. Veja se vale a pena correr o risco". Há um preço alto na desistência. Para quem desiste, o arrependimento é certo. E às vezes dá para reparar as suas conseqüências, às vezes, não. Por isto, eu gosto da sugestão de Martin Luther King Jr.: "Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito". 5. Celebre as pequenas vitórias. Quando Jeremias lançou mão da poesia como recurso para se comunicar, depois que suas profecias se cumpriram, ele escreveu: "Lembro-me da minha aflição e do meu delírio, da minha amargura e do meu pesar. Lembro-me bem disso tudo, e a minha alma desfalece dentro de mim. Todavia, lembro-me também do que pode me dar esperança" (Lamentações 3.19-21). Se eu me fixar nas dificuldades, elas serão ainda mais duras. Se eu me ativer ao peso sobre minhas costas, vou arquear. Para ter esperança, e assim alimentar minha perseverança, eu preciso de uma visão daquilo que Deus já fez por mim. Quem fez faz. Eu estava num beco sem saída, mas Deus -- que "é bom para com aqueles cuja esperança está nele, para com aqueles que o buscam" (Lamentações 3.25) abriu uma brecha e houve saída para mim. Estou de novo num beco sem saída; por que Deus -- em quem devo por a minha esperança (Lamentações 3.24) não fará outro buraco no muro para mim? Eu posso ter mudado, mas Ele não. Na minha caminhada, então, precisamos olhar para o que Deus está fazendo e celebrar o que está fazendo, mesmo que seja algo bem pequeno, como um emprego que não é o emprego dos sonhos; uma palavra, mesmo seca, de quem nunca nos diz uma palavra sequer; um diagnóstico que abre uma fresta de esperança para o tratamento; um membro da família que sinaliza, mesmo que discretamente, um pedido de ajuda; a chegada de mais um voluntário à nossa equipe de trabalho na igreja; uma melhora na saúde de uma pessoa querida; uma bênção que bem poderia ser tomada como uma coincidência (aliás, não é Deus que faz as coisas coincidirem?) Precisamos ter em mente "o trabalho que resulta da fé, o esforço motivado pelo amor e a perseverança proveniente da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo" (1Tessalonicenses 1.3). Quando celebramos as pequenas vitórias, nós nos fortalecemos com a certeza de que Deus está conosco. Nosso caminho não é fácil sempre, mas não estamos sozinhos, mas contamos com o poder de Deus, que nos pede perseverança e nos capacita para a perseverança. Não engarrafemos Deus. "Quando estamos certos do modo como Deus vai agir, Ele nunca mais volta a agir do mesmo modo". (Oswald Chambers)

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"Oh persistente Deus, livra-me de supor que Tua misericórdia é suave! Pressiona-me, para que eu seja mjais humano, não pela redução de minhas lutas, mas pelo aumento delas. Aprofunda minha dor até que eu aprenda a compartilhar dela e de mim mesmo abertamente, e de minhas necessidades honestamente. Aumenta meus temores até que eu os expresse, anulando, assim, op oder que lhes concedi e que eles têm sobre mim. Acentua minha confusão aaté que eu abandone essas expectativas exageradas que me afastam dos presentes pequenos, alegres do agora, do aqui e de mim. Expõe minha vergonha onde tremo, curvado atrás das cortinas da decência, até que eu possa rir por fim atrás de minhas fraquezas e falhas comuns, rir em meu caminho para me tornar íntegro". (Ted Loder 54)

54Citado por GIRE, Ken. Meditações para a vida. Niterói: Textus, 2001, p. 23.

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EXERCÍCIOS ACORDE 1. Faça uma lista das coisas que começou a fazer e não terminou. Honestamente verifique quais delas você poderia ter continuado, mas desistiu, por alguma razão. (AUTO-CONHECIMENTO) 2. Confesse o seu erro (de desistir), em lugar de encontrar culpados em outras pessoas ou circunstâncias. (CONFISSÃO) 3. Ore para Deus ajudar você a ser um perseverante. (ORAÇÃO) 4. Medite em Hebreus 10.36: "Vocês precisam perseverar, de modo que, quando tiverem feito a vontade de Deus, recebam o que ele prometeu". (REFLEXÃO) 5. Decida perseverar. (DECISÃO) 6. Empenhe-se. Trace, por escrito, algumas metas a serem alcançadas. Faça um plano sobre como alcançará estas metas. Anote as dificuldades que vai encontrar. Comunique seus projetos a outras pessoas, para quem sirvam de testemunhas e, se for o caso, "árbitros". (ESFORÇO)

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LEITURAS SUGERIDAS CARVALHO, Esly Regina. Saúde emocional e vida cristã. Viçosa: Ultimato, 2002. PETERSON, Eugene. Corra com os cavalos. Niterói: Textus, 2002. SWINDOLL, Charles. Perseverança. São Paulo: Vida, 2004. TOURNIER, Paul. Os fortes e os fracos. São Paulo: ABU, 1999. WHITE, Jerry. O poder do compromisso. Niterói: Textus, 2003.

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[TEXTO ADICIONAL] OS FRACOS E OS FORTES A história da espionagem hebréia da terra de Canaã nos apresenta dois grupos de pessoas: o primeiro é constituído dos dez que não quiseram avançar sobre a terra prometida; o segundo é formado pelos dois que ousaram ir à luta pela conquista. Diante dos obstáculos e mesmo diante da vida, eles nos tipificam. Nós somos os dez. Nós somos os dois. Os dez são os fracos. Os dois são os fortes. Os dez são os medrosos. Os dois são os corajosos. Os dez são os desanimados. Os dois são os animados. É natural pensarmos que os desanimados estão entre os adultos e os idosos. No entanto, temos visto cada vez mais que o desânimo não respeita experiência; há, cada vez mais, jovens e adolescentes com baixa disposição para enfrentar seus desafios. Por isto, em diferentes idades, "há pessoas que parecem fadadas ao fracasso e à derrota. Foram tantas vezes vencidas pelo torvelinho do mundo que a única coisa que esperam da vida são as pancadas que lhes destroem as forças". 55 ELOGIO DOS 12 O que fizeram de certo os 12? Releiamos parte da história (Números 13.1-3a. 21-26). 1. Os 12 foram escolhidos porque eram os melhores. A seleção deles obedeceu a rigorosos cuidados, como acontece, por exemplo, com os agentes secretos de qualquer grande serviço. Nenhum deles era príncipe no sentido hereditário, mas todos foram considerados como tais por suas qualidades, como a inteligência, a força, a perspicácia e a coragem. Nós também temos qualidade, aos nossos próprios olhos e aos olhos daqueles que nos querem bem. Os pais nunca se esqueçam que seus filhos geralmente os consideram inteligentes, fortes, perspicazes e corajosos. Os filhos nunca se esqueçam que seus pais sempre os consideram os melhores, mesmo que não falem. Quando nossa visão a nosso próprio respeito estiver em baixa, lembremo-nos que, para muitas pessoas, nós somos "alguém"; eles esperam de nós que não fracassemos. Aqueles 12 foram à luta porque eram considerados príncipes, mas principalmente porque eles mesmos se consideravam príncipes. Com esta visão de si mesmo, puderam partir para a luta. Como nos ensina a Bíblia, cada um de nós foi feito à imagem e semelhança de Deus, não de nós mesmos ou de um animal qualquer. Mais que isto, cada de nós foi criado com um status superior aos anjos e menor apenas de Deus mesmo (Salmo 8.5). Quando visitado por Deus, Gideão vivia obscuramente, filho de uma família obscura, numa aldeia diminuta. No entanto, o Senhor o chamou de "homem valente", de "homem de valor". Nem ele mesmo tinha esta visão a seu respeito, mas Deus o via assim, como me vê a mim e a você, não importa o que achamos de nós mesmos. 2. Os 12 tiveram a coragem de executar a tarefa para qual a foram designados. Sua missão comportava riscos de vida para eles e para o seu povo. Se fossem descobertos, pagariam com a vida; ademais, a peregrinação do seu povo em direção à terra prometida quatro séculos antes teria muitas dificuldades para continuar. Além de arriscada, sua tarefa implicava numa imensa responsabilidade. Sabemos, por experiências próprias, que não existe tarefa de valor que não nos seja difícil levá-la a cabo. Não podemos desistir antes de começar. Tudo o que vale a pena fazer ou viver tem um preço. Precisamos saber disso antes mesmo de nos pormos no caminho. Precisamos de coragem para começar, coragem para continuar, coragem para chegar ao fim. Pedro pôde andar sobre as águas, porque teve coragem de se lançar sobre elas. Se mais tempo não andou, é porque o medo venceu a coragem (Mateus 14.29-30). 3. Os 12 se empenharam em conhecer a realidade. A conquista da terra dependia do conhecimento da terra. Não se conquista o que não se conhece. A experiência ficaria: mais tarde, quando intentaram conquistar Jericó, os hebreus lançaram mão de recurso semelhante, quando seus espiões tiveram que se esconder numa casa de prostituição (Josué 2.1). Tertuliano cunhou uma frase infeliz, que tem perseguido os crentes desde o século terceiro: "tudo o que é humano é estranho ao cristão". Se ficarmos com Jesus, no entanto, recordaremos que sua oração foi para que não fôssemos tirados do mundo, mas preservados do mal nele existente. Tudo o que é humano deve ser familiar ao cristão, que deve estar sempre bem informado e bem formado, capaz de saber e capaz de interpretar o que ouve, lê e sente. Nós precisamos conhecer a realidade, seja para mudá-la, seja para nos adaptarmos a ela. Precisamos ser cuidadosos e competentes como os 12, neste conhecimento. Viver sem problemas não significa ignorar os

55TOURNIER, Paul. Os fortes e os fracos. São Paulo: ABU, 1999, p. 18.

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problemas. Pelo contrário, só poderemos superá-los, se os conhecermos. Pedro só pôde ser o líder da Igreja apostólica depois que conheceu um pouco mais acerca do seu caráter, naquele encontro final com Jesus Cristo (João 21). Jesus pôde enfrentar os fariseus porque os conhecia profundamente (Marcos 2.8). 4. Os 12 levaram completaram sua tarefa. Não pararam no caminho. A descrição bíblica sobre este trabalho é jornalisticamente detalhada. O trabalho durou 40 dias. Embora não tivessem binóculos, nem radares, nem satélites-espiões, eles fizeram cuidadosamente o que lhes pedido. Eles começaram por Neguebe, no sul da terra a ser espionada. Observando cidades e campos, rios e mar, montanhas, desertos e vales, aldeias civis e acampamentos militares, os 12 subiram em direção ao norte, alcançando Hebrom, ao centro, e Reobe, no extremo norte, andando cerca de 200 km. Na volta, fizeram outro percurso, em mais outros 200 km. Ao todo, percorreram 40 quilômetros, a pé, escondidos e camuflados, para não serem descobertos. E ainda voltaram com provas, formadas não por um álbum de fotografias ou por uma coleção de fitas de vídeo ou DVD, mas por um gigantesco cacho de uvas sobre as costas de dois deles. Não devemos desistir antes de terminar -- eis o que nos aconselham, com ações concretas, os 12 espiões. Certamente, foram muitas as dificuldades, mas eles não desanimaram. Bateu neles a saudade de casa, mas eles continuaram. Os perigos faziam disparar a adrenalina, mas eles prosseguiram. Eles tinham um alvo (e aqui muitos falhamos por falta de metas concretas) e miraram em sua direção até realizá-lo. Eles fizeram como o apóstolo Paulo, que prosseguia para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Filipenses 3.14). OS ERROS DOS 10 Depois de realizado o seu trabalho, de terem alcançado o abjetivo proposto, os 12 voltaram para casa. Foram recebidos em festa, como heróis, como são recebidos os soldados que retornam de suas campanhas. Reunida a assembléia do povo, os 12 começaram a dar o seu relatório, conforme tinham combinado (Números 13.27-29). Foi um balde de água fria sobre a cabeça do povo do deserto. A multidão começou a se agitar. E muitos olhares passaram a fulminar o líder Moisés. Travou-se, então, uma disputa pública. Calebe e Josué de um lado, os outros 10 (alguém sabe os seus nomes?) do outro. A maioria venceu, ao dizer: -- Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós. A terra, pela qual passamos para espiá-la, é terra que devora os seus habitantes; e todo o povo que vimos nela são homens de grande estatura. Também vimos ali os nefilins, isto é, os filhos de Anaque, que são descendentes dos nefilins; éramos aos nossos olhos como gafanhotos; e assim também éramos aos seus olhos. Então toda a congregação levantou a voz e gritou; e o povo chorou naquela noite. E todos os filhos de Israel murmuraram contra Moisés e Arão; e toda a congregação lhes disse: -- Antes tivéssemos morrido na terra do Egito ou tivéssemos morrido neste deserto! Por que nos traz o Senhor a esta terra para cairmos à espada? Nossas mulheres e nossos pequeninos serão por presa. Não nos seria melhor voltarmos para o Egito? (...) Constituamos um por chefe o voltemos para o Egito. (Números 13.31-14.4) Em que erraram os dez, que seriam mortos logo em seguida? 1. Eles se esqueceram de Deus, ou melhor, eles se esqueceram de Quem Deus é. Deus era aquele que concordara com a estratégia de se enviar espiões à terra, mas sobretudo era aquele que estavam enviando o Seu povo para habitar na terra. A conquista da terra não dependia do trabalho dos espiões. A terra já estava dada. Por não conhecerem Deus, os dez acharam que eram eles quem conquistariam a terra, que as coisas dependiam dele, e sucumbiram diante de tanto peso. Deus já dera a conhecer a Sua vontade. Era só fazer o que mandava. Eles preferiam seguir sua própria visão, contra a visão de Deus. Gosto de uma mãe, que conheço e que sempre diz à sua filha, quando em tribulação: -- Minha filha, Deus alguma vez te abandonou? Podemos perdermos todas as visões, mas não podemos perder a visão de Deus. Nossa força é a presença de Deus. Nosso vigor é ter os olhos fitos em Deus. Nossa esperança é vivendo segundo as Suas promessas. Fora disso, somos calados pelo desânimo, paralisados pelo medo, derrubados pela tragédia nunciada (imaginada). 2. Eles se deixaram vencer pelo medo. Sem a visão de Deus, foram tomados pelo medo. Sua visão se alterou e começaram a ver fantasmas. "O medo cria aquilo que teme". 56 Eles não eram gafanhotos e nem os seus adversários eram realmente gigantes, embora

56TOURNIER, Paul. Op. cit., p. 18.

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os guerreiros a enfrentar fossem altos, fortes e valentes. Sabemos que "o medo é o catalizador da sugestão e a sugestão [é] a semente de um sem- número de temores absurdos e persistentes no coração do homem, inclusive dos mais inteligentes e valentes" 57 Comportamo-nos assim, às vezes. Quando sentimos medo, diante de uma grande obra, e o medo nos vence, deixamos de fazer o que podemos fazer. Colombo pode ter sentido medo diante de oceanos a vencer, mas Colombo venceu o medo e descobriu o que descobriu. A família Schürmann, quando se põe a um novo projeto nos mares, pode ter medo, mas toma os cuidados que precisa tomar, põe os perigos nos devidos lugares e se lança aos oceanos. Quando sentimos medo, diante de um problema, e o medo nos vence, o problema se torna maior que nós, e nós nos sentimos cada vez menores diante dele. É perfeita a imagem bíblica: o medo nos torna gafanhotos e agiganta os nossos problemas. Os dez não puderam entrar na terra que lhes fora prometida porque a conquista exigia visão de Deus e coragem. Eles não tinham nem uma nem outra. Sem a visão de Deus e sem coragem, não podemos alcançar as bênçãos que tem para nós. 3. Eles se importaram demais com que o povo poderia vir a pensar a seu respeito. Desde meninos aprendemos a repetir que "enquanto os cães latem, a caravana passa". A sabedoria popular foi esquecida pelos dez espiões. Eles temeram os cães antes que começam a latir. Eles buscaram a agradar os cães, não os líderes que os enviaram, nem o Deus que lhes dera a missão. Em lugar de buscar agradar a Deus, renunciaram sua liberdade e passaram a pensar aquilo que imaginaram que o povo queria que pensassem. Nesta hora, encheram-se de coragem, para enfrentar seus líderes e mesmo o seu Deus. Resolveram ficar com o povão. O que diriam seus parentes e amigos se trouxessem um relatório otimista, quando as coisas piorassem e as derrotas na frente de batalha viessem. Não há pessoas assim? Não agimos por vezes deste modo? Prevemos o pior, para podermos dizer algo como: "eu sabia que isto iria acontecer". Eles acreditaram demais em si mesmos e na opinião das pessoas a seu respeito, esquecidos que precisavam se firmar nas promessas de Deus, que não muda jamais. Afinal, toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança (Tiago 1.17). OS ACERTOS DOS DOIS O comportamento e as palavras dos dois foram bem diferentes. Então Calebe, fazendo calar o povo perante Moisés, disse: -- Subamos animosamente, e apoderemo-nos dela; porque bem poderemos prevalecer contra ela. E Josué, filho de Num, e Calebe, filho de Jefoné, que eram dos que espiaram a terra, rasgaram as suas vestes e falaram a toda a congregação dos filhos de Israel, dizendo: -- A terra, pela qual passamos para a espiar, é terra muitíssimo boa. Se o Senhor se agradar de nós, então nos introduzirá nesta terra e no-la dará; terra que mana leite e mel. Tão somente não sejais rebeldes contra o Senhor e não temais o povo desta terra, porquanto são eles nosso pão. Retirou-se deles a sua defesa, e o Senhor está conosco; não os temais. (Números 13.30; 14.6-9) Estas não são palavras decoradas de algum livro de auto-ajuda. Não são elas tributárias de nenhum tipo de crença no poder do pensamento positivo. 1. São palavras e ações de homens de fé. Enquanto se preparavam para a espionagem, Calebe e Josué não desgrudaram de Deus. Enquanto percorriam a terra inimiga, os dois não perderam a visão de Deus. Enquanto relataram ao povo o que viram, ambos não se esqueceram da promessa de Deus. Eles conheciam a Deus e sabiam, por isto, qual era a Sua vontade. Deus já lhes tinha dado a terra, não importavam quão armadas estivessem as tropas inimigas e quão inexpugnáveis fossem as fortalezas adversárias. Eles tomaram o recuo diante dos problemas como uma rebeldia diante de Deus. Pela fé, então, eles viram não uma terra a ser conquistada, mas uma terra já conquistada. A fé renovada aumentou neles a dependência de Deus e a confiança nEle. Sua fé lhes levou a olhar para o Senhor. 2. São palavras e ações de homens que venceram o medo. Josué e Calebe também tiveram medo, porque os fortes também o sentem. Os que seguem ao Senhor também têm medo. A fé não o elimina dos nossos corações, mas nos estimula a continuar lutando. Na presença de Deus, podemos confessar nossos medos e encará-los de frente. 58.

57TOURNIER, Paul. Op. cit., p. 72. 58TOURNIER, Paul. Op. cit., p. 100

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Forte é quem vence o medo, sem o negar, sabendo que pequenas derrotas são possível, mas que a vitória é certa, porque prometida pela Palavra de Deus. Suas palavras devem ecoar em nossas vidas: "Gente, não tenham medo. Estes gigantes aí serão transformados em gafanhotos diante de Deus. Eles não nos vão devorar; nós é que os devoraremos. Gente, o Senhor está conosco. Por que haveremos de ter medo?" Quando vencemos o medo, com a graça de Deus em nós, transformamos os perigos em oportunidades, as dificuldades em trampolins para a vitória. 3. São palavras e ações de homens que não se importaram com as opiniões dos outros, nem com as opiniões reais e muito menos com as opiniões imaginadas. Josué e Calebe não foram na onda. A turma dizia: "não conseguiremos". Eles diziam: "nós conseguiremos". Calebe e Josué não ficaram ouvindo palavras que sequer foram ditos, como acontece conosco. Achamos que estão falando de nós e nos recolhemos. Mesmo que estejam falando de nós, ouçamos (se tem algo de proveitoso), mas sigamos em frente. A voz do povo não é a voz de Deus. A voz de Deus é a voz de Deus. A ela ouçamos. Nosso lugar é o lugar onde Deus nos põe. PORQUE DESANIMAMOS COMO OS DEZ E COMO PODEMOS OUSAR COMO OS DOIS Não nos esqueçamos que, mesmo os envolvidos pela Graça, nos sentimos fracos ou fortes, mesmo os apaixonados por Deus nos sentimos desamparados. O importante é que nos lembremos também que "o perigo não é cair lutando, mas permanecer no chão depois de haver caído" (João Crisóstomo 59. Nós também, mesmo os envolvidos pela Graça, nos sentimos fracos ou fortes. 1. Porque desanimamos como os dez Parte de nosso desânimo advém da adversidade da realidade. Há problemas reais a serem enfrentados. A vida não é um conto de fadas. O peso, às vezes, é insuportável e achamos melhor parar, desistir. Estas são realidades de nossas vidas. No entanto, parte de nosso desânimo advém de nossa visão inadequada da realidade. Podemos vez gigantes onde há pessoas de estatura mediana. Podemos ver montanhas onde há apenas um morrinho. Mais que isto, parte de nosso desânimo advém de nossa visão errada de Deus. Quando descreveram a nova terra, os dez reconheceram nela as virtudes da promessa, mas acrescentaram um conectivo que os derrubou: CONTUDO, MAS, PORÉM. É como se dissemos: Eu creio no poder de Deus, CONTUDO... eu não serei alcançado. Eu conheço as suas promessas, MAS... não as mereço. No passado já venci inimigos como estes, agora PORÉM... as coisas são diferentes. Haveria obstáculos para a tomada da terra. As coisas não são fáceis, mesmo quando resultantes da intervenção especial de Deus. Ele nunca dispensa a nossa participação Uma evidencia e que a iniciativa de espionar a terra foi uma estratégia militar humana, com a qual Deus concordou (Deuteronômio 1.22-23). Eles caíram por se afastarem de Deus, que permaneceu como se distante deles, pela falta de fé. Depois, chegaram ao cúmulo de irem para uma batalha sem a bênção de Deus. A derrota foi fragorosa (Números 14.44-45). 2. Como ousar como os dois Precisamos de atitudes como a de Josué e Calebe. Somos convidados a ser como os dois, não como os dez. Devemos ver a Deus como Moisés O via, como somos recordados ainda nesta mesma história (Números 14.14): Tu, o Senhor, estás no meio deste povo; pois tu, o Senhor, és visto face a face, a tua nuvem permanece sobre eles, e tu vais adiante deles numa coluna de nuvem de dia e numa coluna de fogo de noite. Precisamos confiar que Deus vai adiante de nós, nos nossos projetos e nos nossos problemas. Devemos olhar para o nosso passado, lembrando o que Deus já fez em nós e por nós. Lembrar do Ele já faz ajuda-nos a confiar no que Ele faz. Josué e Calebe sabiam Quem era Deus e O conheciam em suas próprias vidas. Devemos olhar melhor a realidade. Para tanto, apuremos nossa razão, a fim de não tremermos diante de fantasmas ou de temermos diante de realidades que nós mesmos inventamos. Apuremos nossa razão, mesmo sabendo que ela é insuficiente. Devemos obedecer a Deus, fazendo com persistência o que Ele nos pede para fazer e permitindo que Ele harmoniza nossos sentimentos. Nossa oração deve ser para que Ele nos ajude a enfrentar nossa própria natureza, nossa luta maior.

59Citado por TOURNIER, Paul. Op. cit., p. 83.

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9 PRESENÇA DE DEUS: PARA QUE NOSSOS CORAÇÕES ARDAM "Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito e firmarei o meu pacto contigo" (Gênesis 17.1-2a - ARA) "Se não puder ir para o deserto, você deve ainda assim 'produzir algum deserto em sua vida. Deixar de vez em quando a companhia dos homens e buscar a solidão para restaurar, em prolongados silêncios e oração, a matéria da alma. O deserto, no entanto, não é o destino final. É um estágio na jornada." (Ivan Illitch) NÃO se deixe conduzir para Emaús. Jerusalém é o seu lugar. A oração é uma luta sem fim, não contra Deus, mas com Deus e contra nós mesmos.

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O JEJUM DE DEUS (Lucas 5.33-39) Não está no rosto o jejum. Está no coração onde só o Pai penetra. Não está na palavra o jejum. Está no silêncio de quem com o Pai se acerta. Não está no cântico o jejum. Está no gemido solitário da alma aberta. Não está na auto-exaltação o jejum. Está na autonegação de fato completa

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9 PRESENÇA DE DEUS: PARA QUE NOSSOS CORAÇÕES ARDAM A história do encontro de Jesus com os discípulos a caminho de Emaús (Lucas 24.13-35) é uma das mais lindas do Novo Testamento. Ela mostra o que acontece conosco em certos momentos da vida. No entanto, ela mostra também o que Ele faz conosco quando nos dispomos a viver na Sua presença. 1. Muitas vezes estamos indo em direção a Emaús (verso 13). Jesus tinha ressuscitado. Os apóstolos ficaram confusos. Os discípulos foram se dispersando. Nenhum líder o vira, senão algumas mulheres. Cansados de esperar, cada um ia voltando à sua vida normal. Lucas flagra dois desses discípulos voltando para Emaús, provavelmente onde moravam. Sua volta pode ser vista como o fim de uma aventura, que se tornara fracassada. Jerusalém era a cidade onde tudo acontecia. Ao tempo de Jesus, durante a Páscoa, sua população, que era de 55 mil, chegava a 250 mil. Emaús era uma pequena aldeia, distante de Jerusalém uns 11 quilômetros. Os discípulos iam em direção a Emaus, um lugar inexpressivo de que não ficou registro inconteste. Ir de Jerusalém para Emaús era ir do sentido para o nada, da plenitude para o vazio. Todos podemos ir para Emaús. Alguns estivemos em Jerusalém. Em tempos de nossas vidas, experimentamos o poder vivo de Deus, na pessoa de Jesus Cristo. Mas depois os fatos da vida (um casamento ruim, o dinheiro escasso, uma oração sem resposta, ou mesmo o sucesso familiar ou profissional) foram-nos afastando para a periferia de Jerusalém, e depois para bem longe. Nosso lugar é Jerusalém. Sem que isto seja o propósito de Deus para nós, podemos passar por Emaús, mas não podemos morar lá. 2. Jesus escolhe os necessitados para se apresentar a eles e por intermédio deles (versos 13-14) Aqueles discípulos a caminho de Emaús eram pessoas simples. Jesus aparecera a mulheres, a pessoas anônimas (desse Cleopas nunca mais se ouviu) e só depois aos discípulos. O gesto de Jesus mostra que a vida cristã com qualidade é para todos. Jesus procura pessoas que precisam compreender as coisas que lhes sucederam. Ele busca o pai que perdeu o filho. Ele se interessa pela esposa que é maltratada pelo marido. Ele olha para o filho que não é amado por sua mãe. Ele se preocupa com o profissional que ficou sem emprego. A estes Jesus quer dar ou restabelecer uma vida com qualidade. Jesus quer se revelar a nós, experiencialmente e conceitualmente (versos 25-27). Sua revelação experiencial se manifesta em termos de uma presença viva em nosso coração. Sua revelação conceitual acontece por meio da razão que se encanta com o seu conhecimento e o deseja como o melhor dos conhecimentos, porque dá sentido aos outros. A participação de Jesus na conversa dos discípulos também deixa evidente que Ele está presente nas situações normais da vida (verso 15). Ele não se apresentou num templo, nem numa sinagoga, mas na estrada poeirenta que levava de Jerusalém a Emamus. As pessoas não estavam no templo, nem nas sinagogas, as pessoas estavam nas ruas. Foi nas ruas que Ele se apresentou. E Ele se a apresentou aos discípulos porque eles precisavam de Jesus, eles queriam Jesus de volta, eles só pensavam em Jesus mesmo na desolação. Jesus espera que nós queiramos Sua companhia. Quando estamos em sua companhia, Jesus revela quem nós somos e Quem Ele é. Os discípulos de Emaús ainda não sabiam que era Jesus Quem caminhava com eles. Assim mesmo, pediram que continuasse com eles. Foi um gesto de generosidade, para com um estranho, mas foi também um gesto de admiração: aquele homem sabia tudo da Bíblia. Tinha o que dizer e eles queriam ouvir mais. Eles podiam parar ali, satisfeitos com o que ouviram. Mas não se contentaram, porque podiam ter mais. Infelizmente, "o amor da maioria das pessoas pelo Senhor pára em um estágio bem superficial. A maioria das pessoas ama a Deus por causa das coisas tangíveis que Ele concede a elas. Elas O amam por causa de Seu favor" (Irmão Lourenço, 1691. 60) As bênçãos visíveis nos levam para perto de Deus, mas podem até nos distrair nesta caminhada. Só a fé de fato nos leva para perto do Senhor. Nosso desejo deve ser buscá-lO pela fé, independentemente das preciosas misericórdias dEle para conosco. Nossa história caminha para o seu ápice. O suspense, narrado por Lucas, está próximo do fim. Quem era aquele homem que sabia tudo sobre as Escrituras. Sentados para comer numa casa em Emaús, o homem assumiu a liderança, como era costume ao visitante. O homem partiu o pão e distribuiu. Quando começaram a comê-lo, reconheceram que era Jesus.

60Cf. LOURENCO, Irmão e LAUBACH, Frank. Praticando a presença de Deus. Editado por Gene Edwards. Rio de Janeiro: Danprewan, 2003, p. 140.

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3. Por que não o reconheceram antes? Seu corpo era o corpo glorificado, sobre o qual não temos qualquer descrição. É provável que seu corpo glorificado representasse uma dificuldade para ser reconhecido, mas quero sugerir três outros motivos. * Os olhos dos discípulos estavam fitos na cruz, não no túmulo. Eles se fixaram tanto na cruz, que seus olhos ficaram como que petrificados. Por isto, não puderam tirar do túmulo vazio a conseqüência principal. Se Jesus ressuscitara, a vida tinha sentido. Há muitos cristãos petrificados pela derrota, olhando para as dificuldades, e não avivados pela esperança. * Os discípulos tinham um conceito acerca de Jesus, conceito ao qual Jesus não podia corresponder. Eles queriam que Jesus fosse o que não era: um libertador político. Todo o seu ministério pareceu inacabado, porque não libertara Israel. Há muitas pessoas procurando um Jesus errado. Jesus cura, mas não deve ser procurado apenas porque cura. Jesus consola, mas não deve ser procurado apenas porque consola. Jesus abençoa, mas não ser procurado apenas por abençoa. O cristianismo não pode ser um pátio de milagres, embora Ele cure, nem um balcão de trocas, embora Ele nos aquinhoe com bênçãos, como muitas pessoas tendem os cristãos a fazê-lo. * Os discípulos se esqueceram que Deus é o Senhor da história e se deixaram levar pela tempestade do momento. Eles estavam experimentando uma espécie de silêncio de Deus, silêncio inexistente, mas sentido, em função do peso da história. Não podemos nos esquecer que, mesmo que não vejamos o túmulo vazio, o túmulo está vazio. Não somos mais miseráveis. Jesus ressuscitou e está conosco, por meio do Espírito Santo do Pai e do Filho. 4. E por que os olhos dos discípulos foram abertos? Penso que o "por que" pode ser respondido com o "quando". Os seus olhos foram abertos quando comiam o pão que Jesus lhes deu. Ver a Jesus aconteceu em conseqüência de uma convivência com Jesus. Deus está aí diante de nós, entre nós e dentro de nós. Para vê-lO, precisamos conviver com Ele pela fé. Lembremo-nos que "antes de podermos amar, temos de conhecer. Temos de conhecer a pessoa antes de podermos amá-la. Como manteremos nosso `primeiro amor' pelo Senhor? Conhecendo-O melhor constantemente!" 61 Apesar do que temos escutado, "não precisamos de arte nem de ciência para irmos até Deus. Tudo de que precisamos é um coração firmemente determinado a não dedicar-se a outra coisa que não seja a Ele, por amor a Ele, e tão somente amá-lO". 62 Se queremos mais de Jesus, precisamos conviver mais com Ele. Sem convivência nossos olhos estarão fechados para vê-lo, para experienciar sua graça para conosco. Se não o convidarmos para viver conosco, na avançaremos na vida espiritual. E "não avançar na vida espiritual é o mesmo que andar para trás". 63 Precisamos chamar Jesus para o centro e para a periferia de nossas vidas. Precisamos pedir a Ele que nos ajude e nos ensine a reduzir a sedução das distrações (necessidades, idéias, sofrimentos, atividades), porque elas nos afastam dEle. É por causa das distrações que não temos mais de Jesus nas nossas vidas. Que todos as nossas ocupações concentrem-se em conhecer a Deus. Quanto mais de fato nós O conhecemos, maior será nosso desejo de conhecê-lO. Uma vez que o conhecimento é uma medida do amor, quando mais profundo e mais íntimo nós formos com o Senhor, maior será o nosso amor por Ele. E se o nosso amor pelo Senhor for grande, então iremos amá-lO tanto na dor quanto na alegria". 64 5. Os corações dos discípulos ardiam na presença de Jesus (verso 30). Por isto, mais tarde, enquanto comiam, seus olhos foram abertos. Esta experiência foi um processo em que os discípulos tomaram decisões de grande valor. * Quando Jesus lhes dirigiu a palavra, tocando na ferida que doía neles, eles pararam, com os rostos entristecidos (verso 17). Quando as coisas estão difíceis, precisamos parar, para de fazer coisas, parar de procurar respostas fáceis; precisamos parar, para deixar Deus agir. * Diante dAquele desconhecido que tinha o que falar, eles Lhe fizeram um convite transformador. "Fica conosco" -- foi o pedido deles (verso 29). Este desejo prosseguiu: quando chegaram em casa e se puderam a

61LOURENCO, Irmão, op. cit., p. 117. 62 LOURENCO, Irmão, op. cit., p. 77. 63LOURENCO, Irmão, op. cit., p. 90. 64LOURENÇO, Irmão, op. cit., p. 140.

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comer, a conversa continuou (verso 30). A generosidade lhes trouxe esperança. Porque se abriram para o outro, Jesus abriu os seus olhos para que se abrissem para Jesus. Eles tinham muito pouco, porque tinham uma aldeia e uma casa para viver, mas não tinham esperança para viver. Nunca chegará o tempo em que não tenhamos o suficiente a ponto de não termos nada para oferecer. Porque desejaram a sua companhia, Jesus foi abrindo os horizontes das suas vidas, até chegarem a descoberta mais importante de uma vida: Jesus é Salvador, porque morreu na cruz, e Senhor, porque ressuscitou. * Eles também se dispuseram a ouvir a exposição da Palavrra de Deus, esta palavra constante de esperança. Quanto tempo falou o Desconhecido, não sabemos, mas não foi pouco. O Desconhecido fez um resumo de todo Antigo Testamento. E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras (verso 27). Nenhum gesto é suficiente. Todos são importantes, mas é preciso uma disposição fundamental: ter os corações ardentes. Revisando suas disposições, os discípulos reconheceram, admirados, perguntando-se um ao outro: Não estava queimando o nosso coração, enquanto ele nos falava no caminho e nos expunha as Escrituras? (verso 32). Seu coração arde por Jesus? Talvez tenha ardido no passado, mas hoje ele palpita forte por outras paixões ou por outras chateações. *** Quem é Jesus para você? O seu coração ainda arde por Jesus? 1. Descubra Quem é Jesus: o seu Salvador e o seu Senhor. Se você já fez descoberta, mantenha o seu coração queimando por Ele. Se perdeu este calor, redescubra Quem é Jesus: o seu Salvador e o seu Senhor. 2. Vá para Jerusalém, onde está o túmulo vazio, porque cheio de esperança. Se for o caso, volte para Jerusalém. Olhe para o túmulo vazio e se deixe aquecer pela esperança, que é Jesus. Este é o sentido da vida, que Jesus oferece.

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Que o amor do eterno Pai e Sustentador da vida, amor que excede toda a nossa humana compreensão, por nos permitir desfrutar sua presença vívida, ao nos envolver em completa reconciliação; Que a graça do Senhor Jesus, mestre de nossa vida, graça que nos basta na mais dura situação desde que cravou na cruz para sempre nossa dívida para nos dar certeza de seu cuidado e atenção; Que a comunhão do Espírito Santo, a força da vida, comunhão que nos integra à família de Deus, família dos que crêem agora e se verão nos céus, estejam sempre sobre nós que, em busca da vida, fruímos a prometida paz, que não se corrompe porque tecida pela Trindade que em nós irrompe. (2 Coríntios 13.13, Efésios 6.23,24) (Israel Belo de Azevedo)

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EXERCÍCIOS ACORDE 1. Faça um relatório de seus programas diários de vida nos últimos 5 dias. Descubra, em termos concretos, com o que e com quem você gastou seu tempo. Faça uma tabela, que você pode transformar em percentuais, capazes de indicar as prioridades da sua vida. (AUTO-CONHECIMENTO) Segue um modelo de tabela: TABELA DE INVESTIMENTO DO MEU TEMPO NOS ÚLTIMOS 5 DIAS (120 HORAS) ATIVIDADE % Trabalho fora Trabalho em casa Alimentação Sono Estudo Lazer (passeio, esporte, televisão, música, internet) Serviço voluntário Adoração pública (cultos e escola bíblica) Adoração particular (oração e leitura da Bíblia) TOTAL 2. Admita a sua dificuldade em organizar seu tempo pondo as primeiras coisas como primeiras. Lembre os planos que já fez e que não deram certo. (CONFISSÃO) 3. Ore para ser um homem ou uma mulher de oração. (ORAÇÃO) 4. Medite sobre o assunto. Se possível, encontre uma música que reflita o seu desejo. Eis uma sugestão: "Vem, Senhor, me guiar, minha fé sustentar. Fraco estou, débil sou sem vigor. Quero as trevas deixar, quero a luz alcançar. Pela mão, vem guiar-me, Senhor! Se o meu jornadear exigir batalhar, laços mil Satanás me armar, socorrer-me, ó vem. Meu Senhor, Salvador, pela mão, vem guiar-me ao Lar!. ** Lembre-se do convite-promessa de Jesus em Mateus 6.33: "Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas". (REFLEXÃO) 5. Decida ser um homem ou uma mulher de oracao. (DECISÃO) 6. Empenhe-se para pôr em prática a sua decisão. Vigie para não relaxar. (ESFORÇO)

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LEITURAS SUGERIDAS AZEVEDO, Israel Belo de. Se meu povo orar. Rio de Janeiro: MK, 2005. AZEVEDO, Israel Belo de. Dia a dia com Deus através da Bíblia. Rio de Janeiro: MK, 2005. BOFF, Leonardo. O Senhor é o meu pastor. Rio de Janeiro: Sextante, 2000. CRABB, Larry. Conversa da alma. São Paulo: Mundo Cristão, 2005. FOSTER, Richard. Oração, o refúgio da alma. São Paulo: Hagnos, 2004. HOUSTON, James. Orar com Deus. São Paulo: Abba, 1995. LOURENÇO, Irmão. Praticando a presença de Deus. São Paulo: Danprewan, 2003. MERTON, Thomas. Contemplação num mundo de ação. Petropolis: Vozes, 1975.

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[texto adicional 1] O PRAZER DE SERVIR Estou certo que as mulheres não gostam muito do texto que relato o encontro entre Jesus e as irmãs Marta Maria (Lucas 10.38-42). A narrativa nos passa uma impressão de depreciação do trabalho em geral e do trabalho das mulheres em particular. A maioria das mulheres está mais para Marta do que para Maria. No entanto, este é um texto com um olhar bem feminino, embora escrito por um homem, um médico. Há alguns indícios a destacar este olhar feminino, os quais devem levar as mulheres a serem mais justas com a Bíblia. Primeiramente, uma mulher (Marta) é apresentada como chefe de um lar. Há no Brasil muitas mulheres responsáveis pela direção e pelo sustento das suas famílias. Em segundo lugar, a mulher Marta é apresentada como alguém que gostava de hospedar. Não só recebeu a Jesus em casa como se preocupou em lhe preparar vários pratos. Em terceiro lugar, a sua irmã Maria é apresentada como uma discípula de Jesus, numa época em que às mulheres eram reservados papéis em que o uso da inteligência não era essencial. A propósito, duas mulheres numa casa (não sabemos se a esta época o irmão delas, Lázaro, já estava morto) lembra o fato de que a profissão de secretária é uma profissão feminina. Já tive secretários, mas a maioria é do sexo feminino, sem grande protestos dos homens... De qualquer modo, o texto apresenta duas atitudes opostas em relação à vida e em relação a Jesus. Uma corria de um lado para o outro, para que nada lhe faltasse. A outra ficou sentadinha ao lado de Jesus, para não perder nada do que dissesse. OS ERROS DE MARTA Marta era uma mulher de valor. Trabalhadora como ninguém, sabia receber alguém em casa com muita competência. No entanto, o perfil dela traçado é negativo. Conquanto tivesse qualidades, faltavam-lhe algumas virtudes essenciais, as quais se aplicam à nossa vida em geral e a vida cristã em particular. 1. Marta trabalhava muito (parabéns!), mas na hora errada. Talvez, se Jesus avisou que chegaria, lhe tenha faltado planejamento; talvez sua casa estivesse a maior bagunça. Daqui a pouco Jesus iria embora e ela não teria absorvido nada da sua presença. O erro de Marta não foi trabalhar, mas trabalhar na hora errada. Muitos agimos assim. Os estudantes sabem muito bem disso. Eles têm a triste mania de só estudar na véspera da prova ou de só começar a fazer o trabalho quando está em cima da hora, tendo que varar noites. Uma fez recebi um trabalho do aluno com um bilhete, onde me pedia que considerasse o fato de que o terminara já de madrugada. Eu apenas respondi: "Cada um trabalha na hora que gosta". Faltou sabedoria de vida a Marta, como nos falta também por vezes. 2. Marta trabalhava muito (parabéns!), mas com uma atitude errada. Ela não trabalhava cantando; ela trabalhava reclamando. Quando viu sua irmã estudando com Jesus, não se conteve e tentou usar o próprio hóspede para corrigir a irmã. Marta se achava uma vítima e queria justiça. A atitude de Marta em relação ao trabalho não lhe permitia ter uma boa relação com ele. O trabalho lhe era um fardo. Talvez se parecesse com aqueles empregados que não tiram o olho do relógio na hora da saída... A atitude inadequada de Marta a estava levando a um estresse enorme. Precisamos de atitudes corretas em relação ao trabalho para que não nos seja um peso. Tem gente que faz do seu ambiente de trabalho (seja uma fábrica, um escritório, uma sala ou a própria casa) um verdadeiro inferno. Talvez você seja vítima de colegas assim. Talvez você seja o responsável por este tipo deletério de ambiente. Pare de reclamar do seu trabalho. Enquanto você tirar dele seu sustento, seja grato por o ter. Transforme seu ambiente de trabalho em um lugar agradável para você e para os seus colegas. A disposição de Marta acabou comprometida por sua atitude inadequada. 3. Marta trabalhava muito (afinal alguém tem que trabalhar!), mas trabalhava mais do que o necessário. Talvez ela fosse daquelas que, em casa, fazem mais comida do que o necessário, compram mais refrigerante do que o necessário. Vocês conhecem alguém assim? Marta se deixou consumir pelo trabalho. A vida se lhe escapou, por falta de tempo para fruí-la. A sua ansiedade incontrolada impediu que ela equilibrasse sua vida entre o trabalho e o descanso, entre o trabalho e o estudo. Ela não tinha tempo para estar aos pés de Jesus, aprendendo com ela. Ela não teria tempo para fazer um curso sequer de especialização. Marta não aprendera que há tempo de trabalhar e tempo de descansar, tempo de acumular dinheiro auferido com o trabalho e tempo para desfrutar deste dinheiro. A vida da maioria de nós é dura, mas sempre haverá uma forma de fruir a vida. Quem puder viajar, que viaje. Há gente que acumula, acumula, acumula, para nunca desfrutar, para nunca fazer a viagem que sempre sonhou. Quem puder jantar fora, que jante. Não é pecado

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entrar num restaurante. Pecado é não entrar. Mesmo que você viva sempre na escassez, há passatempos que não custam nada. Passeie. Leia. Ouça música. Converse. Coloque o trabalho no seu devido lugar. 4. Marta trabalhava muito (ainda bem!), mas ela não perguntou a Jesus o que Ele queria que ela fizesse. Na linguagem empresarial contemporânea, Marta não pergunta ao cliente qual era o seu desejo. Ela queria agradar ao chefe, mas não observou o que Ele não gostava, nem Lhe perguntou. Jesus queria pouco e Marta queria oferecer muito. Talvez Ele não quisesse comer e ela gastava tempo na cozinho. Talvez ele quisesse apenas descansar e ela lhe enxia de cuidados. Acontece que queremos agradar a Deus pelo que é conosco e lhe fazemos uma série de coisas, sem lhe perguntar se o que estamos fazendo está bem para Ele. A ESCOLHA CERTA DE MARIA Maria entra na história em segundo plano. Só depois ela vem para a cena. Ela era apenas a irmã de Marta. Esta condição não a incomoda. Antes, ela tira partido desta situação. Ela fica em segundo plano sem dificuldades, e aproveita o máximo. Esta humildade a capacitou para agir de modo correto naquela circunstância. A resposta de Jesus também indica que há diferenças entre nós, numa mesma família até. Nem todos têm que reagir do mesmo modo. Às vezes, diante de uma perda (morte de alguém na família), uns familiares não fazem senão chorar, enquanto outros ficam em silêncio no seu canto. Quem sofre mais? Ambos! Apenas suas reações são diferentes porque eles são diferentes. 1. Maria soube estabelecer a adequada prioridade da vida. Ela estava diante de Jesus. E diante de Jesus, o trabalho (a preparação da comida, a arrumação da casa, que eram as atividades naquele momento) podia esperar. Naquela hora, a prioridade era ouvir os ensinos de Jesus Cristo. Aquele era um momento raro e tinha que ser desfrutado. Não é fácil estabelecer prioridades. A maioria de nós tem dificuldades nesta área. Em geral, sequer pensamos que precisamos fixar prioridades, estabelecendo o que é muito importante, importante e pouco importante na vida. Vivemos sobrecarregados com a tirania da urgência. Jesus ia ficar pouco tempo em sua casa. A hora era de ouvi-lo, porque aquela oportunidade jamais poderia voltar. Dê prioridade a Jesus. Estude, mas não se esqueça que aprender dEle é o melhor conhecimento. Trabalhe, mas não se esqueça que o trabalho não pode afastar você dEle. Divirta-se, mas não se esqueça de levar Jesus junto, para que a alegria seja completa. 2. Maria entendeu que a vida não é feita só de coisas materiais. Ao se colocar aos pés de Jesus, ao lado dos outros discípulos e como um deles, Maria entendeu a verdade ensinada ao seu povo desde tempos imemoriais: Não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Senhor viverá o homem (Deuteronômio 8.3). É humana a tendência de pensar que, resolvidos os problemas de ordem material, estarão equacionados os problemas essenciais da vida. Sabemos que não. Sabemos até que uma solução chama outro problema. Maria não correu por esta tendência. Antes, percebeu que o sentido da vida é viver segundo a Palavra de Deus, dispondo-se ao encontro com o Transcendente. Nosso mundo está embriagado de imanência. Tudo é humano, desmedidamente humano. Não há lugar para Deus. Não há tempo para Deus. Enquanto as martas saltam de um lado para o outro, Deus não pode ser ouvido, nem vivido. Nosso mundo está carente do sentido da transcendência. Morremos e matamos por causa de dinheiro, quando deveríamos viver e fazer viver na presença de Deus. Precisamos de mais Marias neste mundo. Deus quer falar, mas poucas Marias lhe querem ouvir. Veja quem tem sido você. Seja mais Maria e menos Marta. 3. Maria descobriu o valor da quietude espiritual. Quietude espiritual -- eis aí uma expressão estranha para nossa época, na qual não há lugar para a quietude. Somos todos Martas. Corremos, desde cedo, de um lado para o outro. De casa para a escola, da escola para casa, da escola para o curso de inglês, do curso de inglês para o curso de informática, do curso de informática para o treino esportivo. Adultos, corremos de casa para o trabalho, do trabalho para a faculdade, da faculdade para casa. Quando chega o fim-de-semana, inventamos algo bem agitado para fazer, porque afinal ninguém é de ferro. Maria apenas se assentou aos pés de Jesus. Naquela época, em que não havia mesas e cadeiras, as pessoas se assentavam no chão para ouvir seus mestres, que também ficavam assentados no chão. Almofadas acondicionavam suas costas. Jesus ensinava e Maria ouvia. Deus falava e Maria escutava. Não há como ouvirmos a voz de Deus, se não paramos. Maria parou para ouvir seu Mestre, que é o que

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devemos fazer também. Se religião é conexão, só permitimos que a conexão se estabeleça quando paramos de falar, quando paramos de correr, quando paramos de nos bastar a nós mesmos. Aprendamos com Maria que a graça de Deus é melhor que a vida (Salmo 63.3). 4. Maria ofereceu a Jesus o que Ele queria. Jesus queria estar com os seus discípulos. Talvez lhes estivesse contando alguma parábola, recordando algum embate com os fariseus, repetindo algum conceito essencial. Jesus tinha um senso de urgência em seu ministério, desenvolvido, como sabemos, em apenas três anos. Ele não queria perder tempo. Marta estava perdendo tempo com coisas que não eram importantes, pois essencial era a sua Palavra e isto Maria percebeu. Ela ofereceu a Jesus o que Ele queria: sua companhia, seu ouvido, sua atenção, sua disposição em pôr sua vida ao Seu serviço. Sua virtude foi não fazer. Seu fazer foi o não-fazer! Erramos por vezes oferecendo a Jesus o que Ele não quer. Ele, por vezes, pede o nosso louvor e nós achamos que O agradaremos se contribuirmos para a Sua causa por meio da Igreja. Ele, por vezes, pede a nossa contribuição financeira e nós achamos que O agradaremos se nos dedicarmos ao jejum. Temos que ser as pessoas certas nas missões certas de Deus. Para tanto, temos que nos assentar aos Seus pés para ouvir qual é o seu desejo. NOSSAS ATITUDES, ENTRE MARTA E MARIA Entre Marta e Maria, façamos a escolha de Maria. 1. Deixemos de ser escravos das circunstâncias. Marta se apavorou com a chegada de Jesus e não pôde desfrutar de Sua presença. Maria se alegrou com a novidade e transformou a tensão da chegada em alegria. Também somos alcançados por circunstâncias imprevistas, que não podem nos escravizar. Antes, temos que partir delas, conviver com elas, transformá-las, sem medo, sem desespero. Não permitamos que as circunstâncias nos controlem. 2. Deixemos de ser escravos do trabalho. Marta não entendeu a verdadeira natureza do trabalho e se deixou dominar por ele. Maria entendeu, fez o pouco suficiente e dedicou o resto do tempo para a alegria de ouvir a Jesus. Podemos imaginar o trabalho como tendo vida própria. Neste caso, ele é um senhor terrível. Quando mais dedicamos a ele nosso tempo, mais ele quer. O trabalho é "monoteísta" e não admite a concorrência do lazer, da alegria, da religião, da quietude espiritual. Não permitamos que o trabalho nos escravize. Não se trata de um convite ao não-trabalho. Trata-se de colocar o trabalho no seu devido lugar, para que, por ele, nós possamos ter saúde emocional e celebrar o cuidado de Deus para conosco. 3. Transformemos nosso trabalho em um serviço a Deus. Faça o seu trabalho como se trabalhasse para Deus, na importa a sua profissão. Se você é uma secretária, seja uma secretária de Deus. Se você é um professor, seja um professor para Deus. Se você é um motorista, dirija para Deus. Se você é um cirurgião, opere para Deus. Esta disposição mudará seu trabalho, mudará você, mudará seus colegas de trabalho. Se você respirar Deus, seus colegas vão respirar Deus. 4. Descubramos o prazer de servir a Deus. Marta e Maria serviram a Deus. Há muitas Martas no Reino de Deus, fazendo para Deus mas sem prazer. Cada um de nós pode ser uma Maria no Reino de Deus, fazendo o trabalho dEle com alegria, com a alegria de servir. Aprendemos com Maria, que não há contradição entre o trabalho para Deus e o prazer em Deus. Esta alegria vem da comunhão com Ele e invade tudo aquilo que fazemos, que passamos a fazer como se fizéssemos para Aquele em cuja presença estamos. Por isto, o melhor voluntariado é o voluntariado para Deus, pois sempre tem retorno, retorno espiritual. Quem serve ao Senhor com alegria é abençoado por seu trabalho, não só pelo senso de utilidade, mas por ser inoculado com a alegria de Deus, que é a fonte da força do cristão. Afinal, como ensina John Piper, o sentido da vida é glorificar a Deus desfrutando de Sua presença para sempre. Seja feliz no serviço do seu Rei.

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[adicional 2] CRESCENDO NA GRAÇA E NO CONHECIMENTO Meu emprego foi como repórter de um jornal. Entre minhas atribuições, estava a de cobrir a prefeitura, mas especificamente o gabinete do prefeito de Cianorte, no oeste paranaense, onde eu morava. Aprendi muita coisa nesse trabalho. Guardei muitas lembranças, mas uma, talvez por me intrigar, tornou-se marcante. Era uma tabuleta na porta do gabinete do prefeito, com os seguintes dizeres: NINGUÉM PODE ALEGAR IGNORÂNCIA DA LEI. Se bem que seja isto que a lei diga a respeito de si mesma, às vezes, nós descumprimos uma lei por não conhecê-la. Há, por exemplo, rodovias em que não há uma placa indicando o limite máximo de velocidade. Assim mesmo, por mais arbitrário que seja, quem ultrapassá-lo estará sujeito à penalidade, se for flagrado. Aquela tabuleta da minha juventude tem muito a ver com a advertência de Pedro, no final de sua segunda carta, ao nos lembrar que sabemos de antemão (antecipadamente) quais são os privilégios e os compromissos da vida cristã. Toda a lei que precisamos, para viver, Deus sintetizou em Sua Palavra. Assim, não podemos alegar que não sabemos que podemos desanimar de nossa fé e viver sem a alegria da salvação, porque a Bíblia nos convida permanentemente a sermos fiéis até à morte (até, querendo significar "ao ponto de ter que morrer" e "até o tempo de morrer"). Não podemos ignorar sabemos que a vida cristã sem a leitura da Bíblia e a oração não é qualquer vida, mas não vida cristã autêntica, porque somos concitados a seguir os conselhos de Deus na Sua Palavra escrita e pela comunhão da palavra dita a Ele e ouvida dele por nós. Não podemos esquecer que o salário do pecado é a morte, não só porque a frase aparece literalmente na Bíblia e porque o resultado pode ser visto na vida de muitas personagens da Bíblia. Não podemos fazer de conta que não sabemos que sempre haverá quem pretenda nos instruir para a destruição, porque a Bíblia toma o cuidado de nos lembrar desta realidade desde suas primeiras páginas. Não podemos perder de vista que nossa vida não se esgota aqui, mas se completará na eternidade, sob pena, como diz a Bíblia, de sermos os mais miseráveis de todos os seres humanos. A SÍNTESE DE PEDRO A síntese magistral de Pedro acrescenta ainda um conselho, o de crescermos na graça e no conhecimento, como escreveu: Portanto, amados, enquanto esperais estas coisas, empenhai-vos por serdes achados por Ele em paz, sem mancha e sem culpa. Considerai que a paciência do nosso Senhor é para a salvação, como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada. Ao falar acerca destes assuntos em todas as suas epístolas, nas quais há pontos difíceis de entender, que os ignorantes e inconstantes deturpam, como o fazem também com as outras Escrituras, para sua própria destruição. Vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos; não aconteça que sejais arrastados pelo erro dos que não têm princípios morais e caiais da vossa firmeza. Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como até o dia da eternidade. (2Pedro 3.14-18) 1. A Bíblia e a vida têm pontos e momentos de difícil entendimento (verso 16). Todos afirmamos que a Bíblia é o livro pelo qual conduzimos as nossas vidas, já que é a Palavra escrita de Deus para nós. No entanto, não é fácil entender a Bíblia. O próprio Pedro reconhecida essa dificuldade, ao mencionar as epístolas de Paulo. Para os leitores de hoje as "simples" cartas de Pedro também contêm dificuldades de entendimento. A Bíblia, em geral, tem um vocabulário pesado. Seu ensino é profundo. Seus princípios são elevados. Nela há afirmações simples, que precisam ser apenas praticadas por nós, seus leitores, e afirmações complexas, diante das quais os leitores temos que reconhecer que precisam continuar pesquisando para alcançar, seja pela profundidade, seja pelo fato que vêm de outras culturas, em que as pessoas tinham cabeças e tecnologias diferentes da nossa. Há ainda uma situação que agrava nossas dificuldades: nem sempre a Bíblia tem respostas imediatas para nossas perguntas imediatas e nossos problemas contemporâneos. A Palavra de Deus não é óbvia sobre assuntos óbvios, pela razão que os problemas e perguntas de hoje têm um grau de complexidade diferente do período em que foi escrita. A propósito, antes de alguém descartá-la, lembremos que ela é perene precisamente por conter respostas que não são óbvias mas que ultrapassam todos os tempos. É por não ser imediata é que ela é atemporal e insuperada. Se isto é uma afirmação de fé, e o é, é informação que nos deixa por vezes a pé diante das decisões e respostas que o tempo impõe. Reconhecer essas dificuldades na leitura e compreensão da Bíblia nos torna humildes e nos desafia a estudá-la

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com mente aberta e com espírito devocional. A vida, por sua vez, especialmente quando agitada por algum imprevisto forte ou sofrimento agudo, nos faz perguntas para as quais não temos respostas que nos satisfaçam. Gostaríamos que nossas vidas se desenvolvessem segundo um plano articulado, com as coisas dando sempre certo, especialmente quando oramos para que dêem certo. Nem sempre, no entanto, as coisas são assim. Há momentos em que tudo parece fugir ao nosso controle. Pior que isso: há momentos em que tudo parece conspirar contra nós. Reconhecer essas dificuldades na vida nos torna humildes e põe em evidência nossas próprias limitações, limitações que nos ajudam a crescer. 2. Para entendermos a Bíblia e a vida, precisamos nos empenhar (verso 14). Sabemos que precisamos ler a Bíblia, mas nossos conhecimentos são poucos, nosso tempo é pouco, enquanto as oportunidades de outras leituras e de outras formas de crescimento e lazer são muitas. Na maioria de nós, não nos tornamos leitores da Bíblia sem disciplina, sem forçar nossa própria natureza. Então, disciplinemo-nos. Se não gostamos de ler, não apenas a Bíblia mas qualquer tipo de livro, busquemos alternativas, como utilizar CD-ROM bíblico, um filme bíblico, um jogo bíblico, uma música bíblica. O importante é que ouçamos/vejamos/sintamos/toquemos a Palavra de Deus. Sabemos que a aquisição da sabedoria de vida também não se dá de uma hora para outra. Ter sabedoria de vida exige cuidado, atenção, disciplina, meditação, esforço e reflexão. Partindo do pressuposto que o temor de Deus é o princípio da sabedoria, aprofunde-se na vida, para vive-la com intensidade. Saiamos da superfície, busquemos a profundidade, emoldurada pelos valores essenciais do Reino de Deus, contra os princípios do reino deste século, que escravizam em nome da liberdade e que matam em nome da vida. 3. Este empenho deve partir da salvação como um fato consumado e como uma conquista (versículo 14).. A salvação se consumou na cruz, quando Deus deletou nossas culpas de uma vez por todas. Quando Jesus morreu, ele morreu pelo pecado uma vez por todas (Romanos 6.10). Ele "sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para nos conduzir a Deus" (1Pedro 3.18). Deus, portanto, se revelou de modo completo e definitivo em Jesus. Esta é a base sobre a qual construímos o edifício de nossas vidas. Nossa percepção desta revelação absoluta vai se dando num crescendo, à medida que nos santificamos. A oração de Paulo pelos filipenses -- e a nossa oração por nós -- é que o amor aumente "cada vez mais em conhecimento e em toda a percepção" (Filipenses 1.9). O mesmo apóstolo instruiu aos tessalonicenses -- e a nós -- a como viveram "de modo a agradar a Deus", exortando-os -- e a nós -- a crescerem cada de vez mais agradando a Deus (1Tessalonicenses 4.1). Como nos lembra John Stott, "Deus não tem nada a nos ensinar além do que Ele já nos ensinou [de uma vez por todas] em Cristo; nós, porém, temos muito mais a aprender, pois o Espírito Santo, ao testificar de Cristo, capacita-nos assim a entender muito mais completamente a revelação de Deus. E Deus nada mais tem a nos dar além daquilo que na nos concedeu em Cristo, mas nós temos muito mais a receber na medida em que o Espírito Santo vai nos capacitando a nos apropriarmos cada vez mais completamente das dádivas de Deus". (A verdade do Evangelho, p. 35) Em outras palavras, salvação que apenas se recebe e também não se conquista não nos capacita para viver. Nós temos que torná-la operacional. Deus escreveu nossos nomes no livro da vida. Podemos fruir desta verdade no céu, onde e quando Ele vai abrir o livro e pronunciar nossos nomes. No entanto, podemos fruir desta verdade desde agora, ao termos uma vida de comunhão tal que ouvimos nossos nomes serem pronunciados. O problema, portanto, não é se o crente pode ou não perder a salvação, mas porque muitos não querem desfrutar dela desde já. 4. Devemos nos empenhar para evitar o erro, seja ele teológico (doutrina errada), ético (vivência fora dos padrões morais de Deus) ou existencial (falta de entusiasmo pelas coisas que são de Cima). Devemos nos empenhar para evitar o erro teológico, especialmente aquele que parece correto. Se não estudamos, sequer sabemos que o que achamos certo está errado. Nós não somos a fonte da doutrina correta, mas a Bíblia. As confissões de fé adotadas por nossa denominação ao longo dos séculos não são a fonte da verdade, mas a Bíblia. A ideologia contemporânea, por mais bonita que seja e por mais que dialoguemos com ela, não é a fonte de nossa doutrina, que deve se fundamentar tão-somente na Bíblia. Devemos nos empenhar para evitar o erro ético, levando uma vida fora dos padrões morais elevados da Palavra de Deus. Antes, devemos nos convencer que os padrões de Deus são melhores que os nossos, embora nos doa viver por eles. Mais que o convencimento, precisamos pedir a Ele a nos ajudar a viver por eles. Além de pedir, devemos exercitar nossa mente e nosso corpo em direção à vivência prazerosamente dos padrões de Deus. Devemos nos empenhar para evitar o erro existencial, vivendo sem entusiasmo um cristianismo do faz-de-conta-que-eu-sou-cristão. Boa parte dos crentes não tem noção da realidade da fé que vivem. Acostumaram dizer-se cristãos que acabem acreditando que são cristãos. Eles são cristãos, mas não sabem nada acerca de

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Cristo. Eles são cristãos, mas não têm nenhum interesse em viver como cristãos. Precisamos de cristãos apaixonados, de cristãos que acreditem em Cristo, de cristãos que amem a Cristo, de cristãos que vivam por Cristo, de cristãos que morram por Cristo. 5. Devemos nos empenhar para crescer na compreensão e vivência da graça e no conhecimento de Jesus. Entender o que significa crescer no conhecimento de Jesus é fácil. Podemos fazer uma analogia com a educação formal, em que há uma graduação: ensino fundamental, ensino médio, ensino superior. Se queremos conhecer a Cristo, isto se dará por um processo educacional, começando das coisas simples para as mais complexas. Agora, entender o que significa crescer na graça de Jesus é menos fácil. A graça é um presente que o Pai nos deu e dá. Se é um dom divino, é e está completo em si mesmo. Por isto, ela nos basta. Quantos, no entanto, sentimos que a graça de Jesus nos basta? Muitas vezes, queremos mais que a graça, até cairmos do cavalo a caminho de Damasco. Pois crescer na graça é isto: desenvolver a certeza que a graça de Jesus nos é suficiente. Isto é algo que se desenvolve. A graça é completa, mas a percepção de sua suficiência vai se completando aos poucos. Crescer na graça deve implicar em crescer no conhecimento. Estas duas dimensões não se excluem. Ao contrário, elas se incluem de tal modo, que se tornam inseparáveis. Eis aqui um programa de ação para quem quer crescer na graça e no conhecimento. 1. Tenhamos como objetivo de vida o crescimento. 2. Usemos os recursos divinos para o nosso crescimento: . lendo regularmente a Bíblia . orando pelos outros, por nós e pelo Reino de Deus . participando dos cultos públicos na Igreja . participando dos programas educacionais (como a Escola Dominical) oferecidos pela Igreja . sendo parceiros de Deus para a salvação de outras pessoas 3. Usemos os recursos humanos para o nosso crescimento: . Versões variadas (IBB, SBB, Trinitariana, Ecumênica, BJ, NVI) . Bíblias de estudo (Genebra, Anotada, Vida) . Referências cruzadas e Concordâncias . Livros cristãos que ensinem, desafiem e divirtam: -- Dicionários Bíblicos -- Comentários Bíblicos (presentes nas revistas da EBD) -- Manuais e Introduções à Bíblia -- Dicionários Teológicos -- Recursos eletrônicos (CD-ROMs bíblicos e teológicos, páginas eletrônicas: www.bibliaworldnet.com.br, www.bible.org, www.ccel.org/wwsb) 4. Avaliemos o nosso crescimento: . estamos crescendo? . quanto crescemos? . por que (não) crescemos? 5. Procuremos crescer, para dar a Jesus toda a glória, isto é, para viver de modo a tê-lo como Senhor e Salvador.

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10 A MENTE DE CRISTO SER COMO JESUS -- ESTA É A META DO DISCÍPULO "Tenho lhes dito estas palavras para que a minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa" (João 15.11 -- NVI). "Ser cristão é ser como Cristo. Perder a vida de algum modo a fim de encontrá-la. O cristianismo prega não apenas um Deus crucificado, mas também homens e mulheres crucificados". (Brennam Manning 65) NÃO pare de depender de Deus. Posso não ser como Cristo, mas esta é a minha meta.

65MANNING, Brennam. A assinatura de Jesus. São Paulo: Mundo Cristão, 2006, p. 9.

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HÁ MAIS Na cruz eu sei que fui chamado para, arrependido, ali deixar o meu pecado para ser completamente perdoado, porque Jesus Cristo me amou. Estribilho Há mais poder do Pai para nós e eu quero para mim. Há mais da graça de Jesus para nós e eu quero para mim. Há mais comunhão do Espírito para nós e eu quero para mim. Eu quero para nós. Nós queremos para todos. Busco do Espírito a presença que me traga com o Pai a comunhão intensa pra viver inteiramente a promessa que o Filho de Deus me deixou. Servir ao outro sempre! -- Disto faço agora o meu claro e público compromisso para mostrar o imenso amor de Cristo que por mim a vida ofertou.

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A MENTE DE CRISTO SER COMO JESUS -- ESTA É A META DO DISCÍPULO Na adolescência, no início dela, li o extraordinário romance de Charles M. Sheldon: "Em seus passos que faria Jesus?" Confesso que ele me fascinou mais que "O peregrino", de John Bunyan. Depois aprendi, com alguém que refutava a idéia de seguirmos os passos de Jesus, que nossa vida não pode ser um carbono. Ele deve ser seguido como um modelo, a exemplo de um pintor que faz uma obra de arte única, embora o modelo seja o mesmo. Mais recentemente, tenho pensado que podemos conciliar a idéia do romance, perguntando-nos o que faria Jesus se estivesse em nosso lugar, com a idéia do modelo. Penso que foi isto que inspirou o cristão indiano Sadhu Sundar Sing. Ele andava pelas aldeias de seu país... e desapareceu. Procurado, um homem deu a seguinte resposta (que cito de memória de texto que li há 30 anos): -- Aqui esteve um homem com estas características, mas não era este Sachu Sundar Sing. Era Jesus Cristo. Há, nos cristãos, comportamentos e celebrações muito estranhos ao espírito dominante nos que não crêem. Um deles é uma pessoa (ou grupo) tomar a decisão de deixar o seu conforto (nos planos do lar, da igreja e da pátria) para ir servir a outros povos sem qualquer expectativa de retorno material. Outro é uma Igreja anunciar, quando faz quando celebra a Ceia do Senhor, que Jesus Cristo voltará para completar seu domínio sobre a história. Essas ações não passam pelo crivo da emoção (sempre egoísta) e da razão (sempre cética). Estas expressões, no entanto, guardam íntima e evidente relação, como o demonstra a leitura dos primeiros 12 versículos de Filipenses 2. SER CRISTÃO É ESTAR EM CRISTO O texto bíblico começa por garantir que é certo (se, na verdade, quer dizer: tão certo que, uma vez que) que quem está em Cristo tem dEle uma série de recursos, traduzidos pelas seguintes palavras: exortação, consolação, comunhão e afetos e compaixões. 1. Estar em Cristo é aceitar a exortação de Jesus Cristo e confiar na sua consolação. Esta expressão "exortação em Cristo" pode ser entendida como a companhia orientadora de Cristo. Como é animador saber que Jesus que está ao nosso lado para nos animar em nossa caminhada cristã! No entanto, muitos cristãos querem apenas o Jesus que anima na vida, nunca o Jesus que anima para uma vida nova. A expressão mais comum é: "que que tem?" Recentemente, uma cantora, que se diz evangélica, defendeu num programa de televisão a sua opção de posar nua para uma revista. "Que que tem? Compra quem quer". Segundo eu soube, ela não teve resposta quando um pastor lhe disse que "os traficantes dizem a mesma: compra droga quem quer. Ninguém é obrigado". Fico imaginando que quando Jesus expulsou os vigaristas do templo de Jerusalém, alguém lhe sussurrou ao ouvido: "Mas, Mestre, que que tem? Só compra com eles quem quer!". Imagino que Judas quando traiu ao seu Mestre pode ter pensado: "Se eu não o dedurar, alguém vai fazê-lo". Ser cristão é ser exortado acerca do erro pela Palavra de Deus. Feliz é o crente que se deixa corrigir. Por isto, cuidado: se você não se sente exortado por Jesus Cristo, esteja certo que você não é está em Cristo, você não é de Cristo. Talvez você esteja ouvindo Cristo exortar você, mas você não está nem aí. Que tristeza! Por isto, seja qual for o caminho de erro em que você estiver, por mais delicioso que seja, aceita a exortação de Cristo. Largue esta vida. Há uma outro nível de exortação de Jesus. Ele nos exorta à humildade. Nossa atitude diante das outras pessoas é considerá-las melhores que nós (v. 3). Se ser cristão é ter a mesma atitude de Cristo, foi esta que Ele teve, ao abrir mão de sua divindade, quando nós nos agarramos vaidosamente à nossa humanidade. Tanto nos agarramos a ela que ela parece divina... Quando vamos ao campo missionário, esteja onde ele estiver (no outro lado da rua ou no outro lado do Oceano), precisamos portar a arma da humildade. Se queremos anunciar a Cristo, devemos nos portar com Ele se portou. Jesus não pensou no que ganharia morrendo pelos pecados dos outros. Por amor, morreu, e não foi uma morte de cinema, feita de sangue de tomate, mas feita de sangue de verdade. Estar em Cristo é ter a mesma atitude de dedicação que Ele teve para com as pessoas. A palavra que define a atitude de Jesus é: "esvaziou-se". Para ser humano, ele teve que se esvaziar de sua divindade. De que precisamos nos esvaziar, para termos atitude semelhante à dEle? Você sabe. Deus sabe. Deixe que Ele o esvazie. Peça que Ele o esvazie de si mesmo, de sua excessiva auto-confiança, de sua soberba, de sua certeza que seus comportamentos errados estão certos ou de seu medo de

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mudar, de confessar a Ele seus erros, de começar uma nova vida. Ele pode esvaziar você destas atitudes que impedem que você esteja em Cristo, tendo a sua mente. Quando você for exortado por Cristo, estará pronto para ser consolado por Ele. Quando você se esvaziar de você mesmo, você poderá viver a certeza que Jesus voltará para lhe levar com Ele e esta certeza lhe trará um ânimo novo para viver. Nos versículos 10 e 11, o apóstolo Paulo descreve o triunfo final de Jesus. Sua vitória não é a vitória de um Mike Tyson no ringue, demolindo os derrotados. Sabe qual é a vitória dEle? A nossa vitória: todos vamos dobrar os nossos joelhos diante dEle e com os nossos lábios vamos cantar que Ele é o Senhor. Sabe o que vai acontecer com quem confessar que Ele é Rei? Vai ser rei com Ele. A certeza que Cristo vai vencer nos estimula a estar nEle. A esperança é o nosso trunfo e triunfo. Este conforto nos ajuda a passar por todas vicissitudes de nossas vidas. Esta, no entanto, não é uma consolação para o futuro, uma espécie de compensação que nos faz fugir do presente. As aflições existem e não gostam delas. No entanto, nós a vemos sob a perspectiva do futuro, quando triunfaremos. Este triunfo no futuro nos faz triunfar no presente. Mal comparando, esta consolação de Cristo nos faz entrar em campo sabendo não só que jogaremos (corremos, suaremos, sofreremos) a partida, mas que sairemos vencedores. É como enfrentar um adversário fraquinho. Quando eu jogo pingue-pongue, eu gosto de jogar com crianças. Sabe por que? Eu sei que vou ganhar. Esta é a consolação de Jesus para conosco por meio do Espírito Santo. Se vamos vencer a morte, que mais poderemos temer? Quando celebramos a Ceia, tomando o corpo de Jesus, que dizemos se não celebrar que Ele venceu a morte e nós a venceremos também? Quando celebramos a Ceia, anunciando que Ele voltará, que dizemos se não celebrar Seu triunfo? 2. Estar em Cristo é participar da comunhão uns com os outros. Se somos exortados e consolados por Cristo, queremos a comunhão uns com os outros, comunhão esta propiciada (trazida) pelo Espírito Santo de Deus. Nossa comunhão uns com os outros é conseqüência da comunhão com Cristo. Se não tivermos comunhão com Cristo, teremos relacionamentos uns com os outros mas não comunhão. Deus nos chama, diz o apóstolo em outro lugar (2Co 1.9), para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo. O Espírito Santo nos capacita para esta comunhão. Todos gostamos de fruir de comunhão uns com os outros, mas nem todos estamos dispostos a cultivar esta comunhão. Como aprendemos n'O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, nós somos responsáveis por aqueles a quem cativamos. Somos até capazes de cativar, com gestos e palavras de simpatia, algumas pessoas, até descobrir que elas não são aquilo que gostaríamos que elas fossem. Por isto, lembra o apóstolo, o modelo de nossa comunhão uns com os outros, é Jesus Cristo. O sentimento dEle deve ser o nosso (v. 5). Ele nunca esperou nada em troca dos seus discípulos. Eles os cultivou. Aquele que duvidou de seus cravos Ele convidou a ser crente. Aquele que o negou três vezes Ele nomeou para apascentar suas ovelhas. Aquele que perseguiu ferozmente seus seguidores Ele tornou seu embaixador especial a muitos povos. Jesus perdeu tempo com as pessoas e nós devemos fazer o mesmo. Sem esta "perda de tempo" não haverá comunhão, pois que a comunhão se faz com pessoas reais, que tem idéias próprias e comportamento próprios. Quando nossa comunhão é alimentada pelo Espírito Santo de Deus somos capazes de nutrir afetos e compaixões pelos outros, conforme também o exemplo de Jesus Cristo. O apóstolo Paulo usa algumas estranhas palavras para dizer como devem ser nossos sentimentos para com as pessoas. Ele fala devemos ter "entranhas" (afetos) em relação aos nossos próximos, próximos a quem devemos tratar com piedade (compaixões). Quando diz "entranhas", Paulo quer destacar que nossas atitudes para com os outros devem ser naturais, quase que imperceptíveis, nunca gestos forçados. Somos campeões de misericórdia forçada, talvez por ouvirmos o mandamento de Jesus neste sentido. No entanto, nosso afeto deve decorrer do fato que temos a mente de Cristo, que estamos em Cristo. Não é um sorriso para mostrar que amamos, mas um sorriso porque amamos. Não é um abraço para parecermos afetuosos, mas um abraço de prazeroso amor e interesse pelo outro. Por isto, enchamo-no da exortação de Cristo e nos firmemos em sua consolação. A comunhão com Ele virá naturalmente. Afetos e compaixões lhe seguirão. MUDANÇA DE HÁBITO 1. Pode ser que você já tenha ido longe demais na sua empáfia. Pode ser que você já tenha ido longe demais na

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mentira com seu cônjuge. Pode ser que você já tenha ido longe demais no seu envolvimento com pecado, seja ele na área do dinheiro, na área do sexo, na área confiança. Você não está tão longe, por mais longe que tenha ido, que não pode voltar. Aceite a exortação de Cristo. Ele firmará seus pés no caminho de volta. 2. Pode ser que Jesus Cristo para você seja um deus apagado como um retrato na parede. Pode ser que você tenha se esquecido que Ele está ao Seu lado para lhe confortar. Pode ser que você pouco se importe com o fato de que Ele virá um dia, dia que deve estar muito longe. Seus conceitos não são tão vazios que você não possa preenchê-los. Deixe-se animar por Cristo. Permita-se participar da comunhão do Espírito Santo. Permita-se vibrar de emoção pela presença dEle em sua vida. Vibre por saber que alguns jovens vão cruzar um oceano para anunciar a morte de Jesus até que Ele venha. 3. Pode ser que você esteja farto das pessoas, fechado em si mesmo, auto-bastante. Pode ser que você não tenha mais nenhum prazer em fazer parte do corpo de Cristo. Pode ser que você esteja cansado de cultuar na Igreja. Lembre-se que você não está sozinho nisto. Pode ser que acha alguém aqui desanimado precisamente por alguma atitude sua. Mude de atitude, porque Cristo providenciou a Sua Igreja para que todos tenhamos comunhão, entre nós mesmos e nossa com Ele.

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Querido Senhor, agradeço-Te pelos sinais de mudança física e de morte, que me forçam a enxergar a natureza frágil e transitória de minha vida sem Ti. Peço-te que, em tempos de saúde e sucesso, eu não me esqueça nem me afaste de Ti. Dá-me coragem para enfrentar as realidades desagradáveis da vida e ajuda-me a mover-me através de cada etapa do desenvolvimento com sabedoria e alegria, em vez de me entregar ao medo. Que eu nunca me esqueça de que sempre estarás comigo". (Keith Miller 66)

66Em: Habitation of Dragons. Citado por GIRE, KEN. Meditações para a vida. Niterói: Textus, 2001, p. 57.

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EXERCÍCIOS ACORDE 1. Faça um inventário pessoal, perguntando-se: "Estou mesmo disposto a tomar a cruz de Jesus para segui-lO?". (AUTO-CONHECIMENTO) 2. Confesse a sua distração, muitas vezes alimentada por práticas religiosas, e peça perdão por permitir desgarrar seu ramo da Videira verdadeira. (CONFISSÃO) 3. Ore especificamente sobre este assunto. Escreva uma oração. Memorize um salmo. Medite numa oração que alguém escreveu. Cante, por exemplo: "Ruge forte, contundente, a guerra do pecado, Mas os seus clangores vis não podem me afligir. Sei em quem confio, pois na Rocha estou firmado, E celestes bênçãos irei fruir. Olhando para Cristo, grande autor da salvação, Prossigo, pois avisto soberano galardão. De Deus ministro, me revisto do poder do meu Senhor Para servi-lo com todo ardor. Vejo ao longe campos vastos, prontos pra colheita: Multidões, sem luz, sem Deus, aguardam salvação! Vem, ó Deus, desperta o amor da geração eleita, Para os teus obreiros concede unção. Desprezando deste mundo as sendas ardilosas, Volto o meu olhar pra a cruz de quem me resgatou; Dele tenho na alma, então, as bênçãos mui gloriosas, E, feliz, com Cristo, cantando vou!" (João Filson Soren) Torne claro o seu desejo de ter o mesmo sentimento que houve em Jesus Cristo. (ORAÇÃO) 4. Passe tempo meditando sobre como pode se parecer com Cristo. (REFLEXÃO. 5. Decida parecer-se com Jesus. (DECISÃO) 6. Empenhe-se para ser cada dia mais parecido com Jesus. Vigie para não retroceder. Vigie seus hábitos. (ESFORÇO)

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LEITURAS SUGERIDAS BONHOEFFER, Dietrich. Resistência e submissão. São Leopoldo: Sinodal, 2003. MANNING, Brennan. A assinatura de Jesus. São Paulo: Mundo Cristão, 2006. MASTON, T.B. Andar como Cristo andou. Rio de Janeiro: Juerp, 1992. MILLER, Calvin. Nas profundezas de Deus. São Paulo: Vida, 2004. STOTT, John. Por que sou cristão. Viçosa: Ultimato, 2004. WILLARD, Dallas. <Ouvindo Deus. Niterói: Textus, 2004.

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[leitura adicional] PERMANEÇA EM CRISTO Jesus nos fala de um tipo de pessoa, que, não tendo raiz em si mesma, "permanece pouco tempo. Quando surge alguma tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo a abandona" (Mateus 13:21). A apostasia sempre rondou a fé cristã. Penso em apostasia no seu sentido primeiro, que é a renúncia à própria fé, mas penso também no desânimo que assalta os que mantêm a fé. Escrevendo no final do primeiro século, um dos discípulos de Jesus, chamado João, mostrou a sua preocupação quanto à apostasia da fé. Então, ele escreveu uma carta, com a seguinte instrução aos cristãos de seu tempo e, logo, de todos os tempos: "Quanto a vocês, a unção que receberam dele permanece em vocês, e não precisam que alguém os ensine; mas, como a unção dele recebida, que é verdadeira e não falsa, os ensina acerca de todas as coisas, permaneçam nele como ele os ensinou. Filhinhos, agora permaneçam nele [em Jesus Cristo] para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança e não sejamos envergonhados diante dele na sua vinda. Se vocês sabem que ele é justo, saibam também que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele" (1João 2.27-29). "Permaneçam nele como ele os ensinou". Permaneçam em Jesus como Jesus ensinou. Quando voltamos aos Evangelhos, vemos que explicitamente Jesus fez o mesmo convite. Pouco antes de ser crucificado, o Mestre ensinou a mesma verdade aos seus discípulos (João 15.1-17): “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda. Vocês já estão limpos, pela palavra que lhes tenho falado. Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Vocês também não podem dar fruto, se não permanecerem em mim. Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma. Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados. Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido. Meu Pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto; e assim serão meus discípulos. Como o Pai me amou, assim eu os amei; permaneçam no meu amor. Se vocês obedecerem aos meus mandamentos, permanecerão no meu amor, assim como tenho obedecido aos mandamentos de meu Pai e em seu amor permaneço. Tenho lhes dito estas palavras para que a minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa. O meu mandamento é este: `Amem-se uns aos outros como eu os amei'. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos. Vocês serão meus amigos, se fizerem o que eu lhes ordeno. Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei conhecido. Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça, a fim de que o Pai lhes conceda o que pedirem em meu nome. Este é o meu mandamento: `Amem-se uns aos outros'" (João 15.1-17). A mensagem é a mesma para todos os seguidores de Jesus. Hoje também alguns se afastam da fé cristã por razões racionais e também por razões emocionais. Uns acham que a fé precisa passar pelo crivo da razão, como, de fato, passa, mas eles se confundem no caminho, pouco entendendo da razão e nada entendendo da fé. Não há novidade neste itinerário: João diz quem aqui assim se desvia cede ao anticristo.. Outros acham que a fé deve passar pelo crivo das suas expectativas. A exemplo do que acontece na vida conjugal, muitos têm suas vidas cristãs enfraquecidas por causa das expectativas que têm acerca de si mesmos, acerca da Igreja e até acerca de Cristo. Receber a graça é de graça, mas viver sob a graça tem um preço. Receber a Cristo como Salvador é de graça; receber a Cristo como Senhor tem um preço. Entrar na Caminho não tem preço; ficar no Caminho tem. Jesus se apresenta como o Bom Pastor, como a Porta das ovelhas, como o Messias, como a Ressurreição e a Vida, como o Pão da Vida e também como a Videira verdadeira. Jesus, portanto, se apresenta sendo uma videira, uma planta cujo fruto é a uva. Jesus nos descreve como sendo os ramos desta videira. Há vários tipos de ramos. Há ramos que são jogados fora, como a semente plantada fora do leito das sementes (Marcos 4.15); são ramos que nunca estiveram ligados à Videira. Hamos que são cortados, como a semente plantada em solo pedregoso (Marcos 4.16-17); são ramos que quase se ligam mas não se ligam, porque acham que vão perder a liberdade. Há ramos que são limpos por Jesus e cuidados por Jesus. Estes são ramos da Videira verdadeira. Que tipo de ramo sou eu. Que tipo de ramo é você? A videira, com os seus ramos, precisa ser cuidada, mas, diz Jesus, não nos preocupemos com quem cuida dela, pois Quem dela cuida é o próprio Pai, o Deus Criador do mundo, a quem Jesus chama de Viticultor, aquele que cuida da plantação de videiras. Esta convicção de Jesus lhe dava a confiança para enfrentar as raposas de sua

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vida. Uma videira não surge do acaso; é plantada por Deus, é cultivada por Deus. Todo aquele que permanece em Jesus sabe que é plantado por Deus e é cultivado por Deus. O convite da Videira verdadeira é claro: "Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês" (verso 4). Ou mais pessoalmente: "permaneça em im e eu permanecerei em você". 1. Permanece em Cristo aquele que já o recebeu como Salvador e Senhor (verso 3) O verso 3 põe em evidência este pressuposto: "Vocês já estão limpos, pela palavra que lhes tenho falado". Vocês já pertencem ao grupo dos salvos porque aceitaram o meu convite para a salvação -- eis o que Jesus está dizendo. A fé vem pelo ouvir a palavra de Jesus. Recebe a Jesus como Salvador e Senhor quem "confessa publicamente que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele em Deus" (1João 4.15). Recebe a Jesus que vê e testemunha que "o Pai enviou seu Filho para ser o Salvador do mundo" (1João 4.14). Por Sua graça, "agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesusa, porque por meio de Cristo Jesus a lei do Espírito de vida me libertou da lei do pecado e da morte" (Romanos 8.1-2). Não há condenação porque quem recebe a Jesus como Salvador e Senhor foi justificado gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus (Romanos 3.34). Por causa desta redenção, "se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas! Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação" (2Coríntios 5.17-18). Quem está em Cristo é filho "de Deus mediante a fé em Cristo Jesus, pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram" (Gálatas 3.26-27). O batismo do cristão custou a vida de Jesus Cristo: "Ou vocês não sabem que todos nós, que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados em sua morte?" (Romanos 6.3). Este batismo não significa apenas uma declaração formal de que Jesus é o Senhor; antes, tem uma dimensão ética, pois implica numa demonstração de arrependimento. Jesus pede: "Dêem fruto que mostre o arrependimento!" (Mateus 3.8). Quem, de fato, se arrepende dá fruto deste arrependimento. Quem dá fruto de arrependimento considera-se morto para o pecado e vivo para Deus em Cristo Jesus (Romanos 6.11). Quem dá fruto de arrependimento não busca mais "pela comida que se estraga, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem lhes dará. Deus, o Pai, nele colocou o seu selo de aprovação" (João 6:27). Todo aquele que confessa a Jesus, demonstrando sua confissão com o fruto do arrependimento, ouviu e creu na palavra da verdade, o evangelho que salva. Ao fazê-lo, foi selado "em Cristo com o Espírito Santo da promessa, que é a garantia da nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória" (Efésios 1.13-14). "Sabemos que permanecemos nele, e ele em nós, porque ele nos deu do seu Espírito" (1João 4.13) . Quando começou Seu ministério, Jesus proferiu uma frase aparentemente enigmática: "O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo" (Mateus 3.10). Somos estas árvores convidadas ao arrependimento. Jesus é o machado colocado em nossas raízes. Ele nos convida ao arrependimento, marcado pela confissão (dEle como Salvador e Senhor) e pela frutificação. Toda árvore que não se arrepende é cortada e lançada fora. O machado posto na raiz é um convite; mais que um convite, é um julgamento. Jesus quer cuidar desta árvore, para fazê-la frutificar. Ele quer dizer também a você: "Você já está limpo pela palavra que lhe tenho falado" (verso 3). Se você ouve a Sua Palavra e vem a Ele, Ele limpa (isto é: justifica, perdoa, purifica) você. Ele usa o machado não para condenar, mas para justifica. Se você vem a Ele, Ele não lança você fora. Garantiu ele: "Quem vier a mim eu jamais rejeitarei" (João 6.37). 2. Permanecer em Cristo é estar em comunhão com Ele (verso 5). São claras as palavras de Jesus: "Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma". Para que tenhamos vida, precisamos manter permanentemente nossa linha de comunicação com Jesus. Para tanto, toda a sua rede de tecnologia da informação está montada para nos permitir esta comunhão permanente. A única ação nossa é mantermos conectados os aparelhos de nossas vidas. Se pego um telefone com fio e o levo para alguma lugar, tirando o seu fio, ele não vai funcionar. Não fará, nem receberá ligação. Estar em comunhão com Jesus estar em conexão com Jesus, com os fios da nossa vida conectados nEle. Se tomo um telefone celular, preciso mantê-lo ligado, para que complete o fluxo da comunicação. Mesmo assim, há áreas de sombra em que não pegam, em que as ondas não chegam. Estar em comunhão com Jesus é estar com o telefone celular ligado; é estar sempre numa área coberta. Mesmo com os telefones desligados, eles têm caixa postal. Posso chegar em casa e ver se há recados. Depois de uma reunião, posso ver se tem mensagem no meu telefone celular. Neste sentido, a comunicação com Jesus começa nele. Ele começa a se comunicar conosco. Toda a comunicação, no entanto, tem duas direções, e só se completa quando nós participamos do processo da comunicação. Ele fala, eu ouço. Eu falo, Ele ouve. De novo, a graça é onidirecional; já foi dada; está dada; paira no ar, como as ondas dispensadas pela telefonia celuar. A vida na graça é birecional. Neste sentido, só vivo na graça, que já me foi dada, se entrou na área de cobertura.

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Só vivo na graça, se deixo as palavras de Jesus ecoarem no meu coração. As palavras de Jesus permanecem em nós, se nós orarmos. Se as palavras de Jesus permanecerem em mim, eu permanecerei em Cristo. Se as palavras de Jesus permanecerem em mim, darei frutos próprios de quem se arrependeu. Se as palavras de Jesus permanecerem em mim, deixarei que Ele comande a minha vida, não como um visitante silencioso na sala, mas como uma presença dinâmica por todos os cômodos da minha vida. Portanto, preciso deixar as palavras de Jesus permanecerem em mim. Quando suas palavras permanecem em mim, mantenho a viva voz de Jesus falando comigo através das palavras registradas na Bíblia. Preciso tomar a decisão de me relacionar com uma pessoa viva, e eu o faço quando ponho suas palavras dentro da minha mente. Para fazer isto, eu preciso, primeiramente, considerar as palavras de Jesus como divinas. "Aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus" (João 3.34). Ele nos afirma que "o Espírito [Santo] dá vida; a carne não produz nada que se aproveite. As palavras que eu lhes disse são espírito e vida" (João 6.63). Por isto, Ele mesmo disse: "os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão" (Mateus 24.35). E estas palavras me convidam para uma vida transbordante (João 10.10). Se considero como divinas as palavras de Jesus fincadas nos Evangelhos, eu medito nelas. A palavra meditar, em latim, vem da mesma raiz de medicar, de cuidar, mas também de exercitar-se, de preparar. Meditar nas palavras de Jesus é cuidar das suas palavras, arrumá-las no nosso coração, para que possam ser eficaz em nossas vidas, para que não caia no vazio, para que possam nos alimentar na hora da fraqueza e na hora da força. Meditar nas palavras de Jesus é empenhar-se para compreender o sentido das palavras. Meditar nas palavras de Jesus é buscar essas palavras como as palavras que fazem sentido para a sua vida. Se medito nas palavras de Jesus, eu falo as palavras de Jesus. . Estou sendo tentado? Eu ponho em prática a advertência de Jesus: "Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca" (Mateus 26.41). . Pequei? Eu me recordo da missão de Jesus: "Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento" (Lucas 5.31-32). . Tenho enfrentado dificuldade para viver os padrões de Deus? Eu me agarro nas palavras de Jesus a todos seus discípulos, de ontem e de hoje: "Em favor deles eu me santifico, para que também eles sejam santificados pela verdade" (João 17.19). . Tem sido difícil a tarefa de comunicar o Evangelho? Eu me escondo na promessa de Jesus: "Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste" (João 17.20-21). . Fui ofendido? Eu digo, como Jesus: "Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo" (Lucas 23.34). . Estou cheio de planos para o futuro? Eu me rendo à sabedoria de Jesus: "Eu lhes mostrarei com quem se compara aquele que vem a mim, ouve as minhas palavras e as pratica. É como um homem que, ao construir uma casa, cavou fundo e colocou os alicerces na rocha. Quando veio a inundação, a torrente deu contra aquela casa, mas não a conseguiu abalar, porque estava bem construída" (Lucas 6.47-48). . Preciso tomar uma decisão? Deixo Jesus me orientar: "Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas. Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal" (Mateus 6.33-34). . Estou doente? Eu me inspiro no ensino de Jesus: "Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo" (João 16.33). . Encontro-me cansado? Eu sorvo o convite de Jesus: "Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus 11.28-30). . Ando desanimado? Eu me alegro com as palavras de Jesus: "Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo" (João 14.27). As palavras de Jesus são a luz de nossa vida. São elas que nos sustentam e nos fazem crescer. Se somos os ramos da videira, precisamos viver como uma videira. Aprendi com uma empresa da área vinícola que a videira "é uma espécie de planta trepadeira, cuja propriedade é subir para buscar a luz. Assim sendo, ela tem necessidade de ser conduzida através de um sistema de condução foliar eficaz, que favoreça a fotossíntese, que transforma a luz do sol em componentes hidrocarbonados necessários ao crescimento". (Informação disponível em <http://www.cordilheiradesantana.com.br/terroir.asp>). Como ramos da videira, não somos diferentes. Precisamos de luz. Precisamos permitir que nossas vidas sejam conduzidas de modo a possibilitar a "fotossíntese divina" que traga os compnentes necessários para o nosso crescimento". Permanecendo conosco, as palavras de Jesus são a luz que nos conduzem para o crescimento.

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3. Permanece em Jesus quem prazerosamente depende dEle (5b). O ensino de Jesus é translúcido: "Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma" (verso 5b). Dependa de Deus. Você pode ser cristão sem depender de Deus. Quanto mais bênçãos receber, mais perigos correrá. Você pode levar sua vida em família sem depender de Deus. Quanto mais forem bem as coisas, mais riscos enfrentará. Você pode estudar sem depender de Deus. Quanto mais souber, mais dificuldades conhecerá. Você pode tocar seus negócios sem depender de Deus. Quanto mais prosperar, mais tentações sofrerá. Você poderá desenvolver seu ministério sem depender de Deus. Quanto mais sucesso tiver, mais problemas terá. Só que sem dependência de Deus, a fé se enfraquece, quando a vida parece afundar num abismo porque as bênção não acontecem. Sem dependência de Deus, a vida em família se torna insuportável pela eloqüência do egoísmo e do mal-humor, das ofensas e dos xingamentos mútuos. Sem dependência de Deus, os estudos se tornam áridos, como se fossem fins em si mesmos, campo para o exercício da auto-idolatria. Sem dependência de Deus, os negócios nos levam a subir para baixo. Sem dependência de Deus, o ministério se transforma num projeto pessoal, não um projeto de Deus. Sem dependência de Deus, nossa vida não terá frutos que durem para a vida eterna (João 4.36). Quando dependemos de nós mesmos, buscamos recursos em nós mesmos. Quando dependemos dos outros, buscamos recursos com eles. Quando dependemos de Deus, buscamos os recursos que Ele nos coloca à disposição, recursos que podem incluir a nós mesmos e aos outros. Quando dependemos de Deus, esperamos Deus agir. Dependência gera disciplina. E a disciplina nos permite agir segundo a vontade de Deus. Muitas vezes declaramos que dependemos de Deus, mas damos pouco valor à disciplina. Não lemos a Bíblia, mas esperamos que Deus nos fale. Dizemos esperar que Deus esteja no controle das nossas vidas, mas raramente procuramos negar-nos a nós mesmos. Este tipo de dependência sem disciplina termina em conversa fiada, em espiritualidade vazia, numa piedade fraudulenta que parece boa mas soa desagradável quando examinada à luz da experiência e da verdade. (Cf. STEDMAN, Ray. The Vine and its Fruit. Disponível em <www.raystedman.org>.)

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4. Permanece em Jesus quem se deixa podar por Jesus (verso 2). Aprendemos com Jesus que todo aquele ramo "que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda" (verso 2). Aprendemos também com os pesquisadores que toda videira precisa passar pela poda da frutificação, que é assim definida: "A poda de frutificação, também chamada de poda de produção, tem por objetivo preparar a videira para a produção da próxima safra. Deve ser feita através da eliminação de sarmentos mal localizados ou fracos e de ladrões, a fim de que permaneçam na planta somente as varas e/ou esporões desejados" (Cf. Embrapa. Uvas Americanas e Híbridas para Processamento em Clima Temperado. Disponível em <http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Uva/UvaAmericanaHibridaClimaTemperado/poda.htm>.) Jesus poda apenas quem dá fruto. E o faz para que dê mais fruto ainda. No reino espiritual, quando nos poda, Jesus nos purifica. Fique-nos claro: é Ele quem nos purifica, cabendo-nos apenas desejar e deixar que Jesus nos purifique. No reino da viticultura, a poda, que é feita por alguém externo, não pela própria planta, que não tem este poder, consiste na eliminação de sarmentos (varas) fracos ou mal localizados e de ramos ladrões vegetativos, que não frutificam normalmente. Só damos frutos quando somos podados. Quais as varas fracas de nossas vidas que precisam ser podadas, para que possamos dar fruto? Cabe-nos identificar as nossas varas a serem podadas, mas ouso sugerir a auto-suficiência e um de seus opostos: a falta de cuidado. Precisamos ser podados quando desenvolvemos um sentimento de auto-suficiência que nos leva a crer na idéia da auto-purificação. Ao contrário do que ensina o legalismo, eu não posso me purifificar Para ser purificado, só posso orar: purifica-me, Senhor. É pela auto-suficiência que somos tentados a achamos que podemos sar galhos fora do tronco... que é o que fazemos quando tocamos nossas vidas sem oração. Precisamos ser podados quando vivemos vidas sem a paixão pela vida. Penso na advertência de Jesus à igreja em Efeso: você abandonou o seu primeiro amor (Apocalipse 2.4). Quando tocamos nossas vidas sem paixão, precisamos ser podados. É a paixão que nos faz crescer. Quando nossas vidas profissionais caem na prisão da rotino improdutiva, precisamos ser podados. Quando nossas vidas familiares se tornam enfadonhas, precisamos ser podados; quandos nos tornamos impedimentos para que nossos cônjuges cresçam e nossos filhos se desenvolvam, precisamos ser podados. Quando, como cristãos, perdemos a dimensão de que somos ministros de Deus, para edificar a igreja para a igreja ministrar ao mundo, precisamos ser podados. Quando na sua igreja, fazemos a obra dele de qualquer jeito, relapsamente, precisamos ser podados. Se nos deixarmos amar por Deus, seremos podados, se precisarmos ser podados. Ele só nós podará, se precisarmos. Como Deus nos poda? 4.1. Deus nos poda, chamando-nos do nosso erro, por meio do Espírito Santo que nos convence do pecado, isto acontece por meio da Palavra de Deus e por meio de pessoas. Parafraseando Jeremias 2.21, podemos dizer que Deus nos plantou como videiras seletas, de semente absolutamente puras. Devemos, então, tomar cuidado para não nos tornarmos videiras degeneradas e selvagens. No chamado episódio dos sanguessugas, um plano fraudulento (2006) orquestrado por empresários e políticos para superfaturar ambulâncias vendidas aos municípios, alguns dos envolvidos eram evangélicos. Podemos chamar-lhes de videiras degeneradas. Essas videiras foram se degenerando, achando-se mais que são, invisíveis em sua corrpucao, impegáveis em seu crime, inflagráveis em seus atos criminosos. Podemos, todos nós, nos achar, isto é, achar que somos mais do que somos ou que somos o que não somos. Quando não somos podados, vamos nos achando invisíveis, impegáveis, inflagráveis em nosso erro e em nossa corrupção. Estes são aqueles que chegaram aonde chegaram porque não se deixaram podar. Precisamos ser disciplinados pela Palavra de Jesus diretamente na Bíblia. João Calvino disse, com muita razão, que precisamos ler a Bíblia contra nós É bom ler aqueles versos com promessas nas quais nos fincamos para nutrir de esperança as nossas vidas. Além dessas, precisamos daqueles versos que nos corrigem, para que sejamos sementes seletas. Precisamos ser disciplinados pela Palavra de Jesus por meio de um mentor. Não há futuro para um cristão que acha que sempre estar certo. Eu preciso ser corrigido. Eu quero dar fruto, e, para dar fruto, preciso ser podado. O Novo Testamento nos adverte que precisamos corrigir uns aos outros. Vamos deixar que Deus nos corrija por meio de sua Palavra, lendo-a completamente para que ela nos contrarie, tomando cuidado para que nossa interpretação não nos engane. Além disso, vamos procurar aquele amigo espiritual que pode nos dizer que estamos errados. Deus nos poda também por aqueles que têm lido a Sua Palavra e têm sido podados por ela. 4.2. Deus nos poda, permitindo o sofrimento em nossas vidas, porque a dor -- seja qual for a sua natureza; seja

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uma doença, seja um fracasso, seja uma injustiça; sejam espinhos dolorosos no corpo ou na alma -- nos faz avaliar a nossa vida e nos ensina a viver. Por isto, C.S. Lewis considerava o sofrimento como o "megafone de Deus", já quem nem sempre ouvimos suas suves palavras. Deixe-se podar para dar fruto. Que fruto é este? É o fruto da santificação, listado por Paulo como sendo: bondade, justiça e verdade (Efésios 5.9), e ampliado por ele mesmo como sendo: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio" (Gálatas 5.22-23). Não somos capazes de permitir a produção deste fruto, se não formos podados. Quando podados, estamos prontos para frutificar. Frutifica aquele que permanecendo em Jesus "não está no pecado"; na verdade, "todo aquele que está no pecado não o viu nem o conheceu" (1João 3.6). Sim, "todo aquele que é nascido de Deus não pratica o pecado, porque a semente de Deus permanece nele; ele não pode estar no pecado, porque é nascido de Deus" (1João 3.9). 5. Permanece em Jesus quem, deixando-se podar, passa pelo teste prático do amor (versos 12 e 17) O cristianismo é a mais bela e completa teoria composta acerca da vida. Jesus ensinou esta teoria. Os cristãos ensinamos esta teoria. Jesus viveu esta teoria. Os cristãos devemos viver esta teoria. Jesus morreu por esta teoria. Os cristãos, por causa desta morte primordial, não precisamos morrer por esta teoria, mas viver por ela. E quando vivemos a teoria de Jesus, do modo como Ele nos ensinou, do modo como Ele a viveu, esta teoria deixa de ser teoria, para ser uma prática. Uma teoria tem a força para alavancar o mundo, mas não o levanta sem a prática. Uma teoria tem o combustível para mudar o mundo, mas não o transforma sem a prática. 5.1. A teoria de Jesus está no Novo Testamento, com todas as letras. . Deus nos amou de tal maneira que nos enviou seu único Filho para que todo aquele que nEle crê tenha a vida eterna (João 3.16). E "nisto conhecemos o que é o amor: Jesus Cristo deu a sua vida por nós, e devemos dar a nossa vida por nossos irmãos" (1João 3.16). . Deus nos ama de tal maneira que nos perdoa de todos os pecados, se os confessamos (1João 1.9), lançando-nos para uma vida de liberdade, alegria e paz, onde não deve haver lugar para a opressão (para nenhum tipo de opressão, porque a verdade de Jesus é libertadora -- cf. João 8.36), para a tristeza ee para o medo (porque o perfeito amor de Deus em nós lança fora de nós todo medo (1João 4.18). . Deus nos ama de tal maneira que nos ensina a perdoar aquele que nos ofende, aquele que comete injustiça contra nós, aquele que não agradece o bem que lhe fazemos, aquele que nos defrauda no que temos de mais caro. Este perdão, como teste prático do amor, é inspirado no perdão divino para conosco. Eis porque devemos orar assim: "Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores" (Mateus 6.12). . Deus nos ama de tal maneira que nos convida a servir ao outro, especialmente ao pobre, seja qual for o preço a ser pago; Jesus ensinou que amar ao próximo é amar a Deus. O Mestre didaticamente se põe já no juízo final para estabelecer seu critério: "Eu tive fome, e vocês não me deram de comer; tive sede, e nada me deram para beber; fui estrangeiro, e vocês não me acolheram; necessitei de roupas, e vocês não me vestiram; estive enfermo e preso, e vocês não me visitaram. (...) Digo-lhes a verdade: o que vocês deixaram de fazer a alguns destes mais pequeninos, também a mim deixaram de fazê-lo (Mateus 25.42-45). 5.2. Esta teoria é tão bonita que seduz. Por isto, podemos achar que basta a teoria, mas a teoria não basta. Ela precisa deixar de ser teoria. Esta teria é tão bonita que a transformamos em louvação, com cantos harmoniosos, até mesmo vibrantes. E o louvor pode ser uma fuga da prática, logo uma negação da teoria de Jesus. Uma das tragédias do cristianismo brasileiro é o louvor, quando feito para agradar a quem canta, seja o cantor, o grupo, o coro ou a congregação. Muitos acham que louvar basta e apenas louvam. Não vivem, mas louvam. Cantam o amor, mas não amam. Cantam a graça, mas não a demonstram aos outros. Cantam a santidade, mas não a buscam. Não falo dos fracos, dos que sabem que são fracos, dos que almejam e fraquejam. Estes são amados por Deus, nunca vomitados por Ele. Uma das tragédias, portanto, do cristianismo brasileiro é o louvor sem misericórdia. Ouvimos os profetas e Jesus advertindo que Deus não aceita louvor sem misericórdia (Oséias 6.6; Mateus 9.13), mas ficamos tanto encantados com a beleza, com o movimento do corpo e da alma que provoca, que achamos que Deus, para quem dizemos ser o louvor, também se encanta. Muito de nossa louvação é para nos deixar felizes, não para agradar a Deus. Esta teoria é tão bonita que a transformamos numa máscara, que usamos quando nos é conveniente. Estava

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uma vez numa reunião de cristãos e um assunto veio a lume: a integridade como um compromisso constante. Pegando carona, um dos presentes, que infelizmente conheço como truculento e trapaceiro, falou da necessidade da transparência, insinuando que esta era a sua prática. Honestamente, tenho que dizer que tive vontade de vomitar; só lembrar aquela atitude me move as entranhas. Há pessoas que, quando falam, nos provocam ânsias de vômito, sem que possamos tirar as suas mascaras, nós, que talvez, tenhamos as nossas. Há violentos com máscaras de sorridentes. Há pessoas que lhe sorriem e lhe detonam pelas costas. Há viciados com máscaras de santos, quando seriam honestos se admitissem que são viciados, para quem haveria cura. Há cura para quem admite o seu vício. Não há cura para os mascarados. Há maledicentes que se mascaram de intercessores, que mancham o mistério da oração. Há adversários que se mascaram com elogios a pessoas de quem não gostam. Há corruptos que escrevem discursos sobre a ética, para aplauso geral. Os mornos que Deus vomita (Apocalipse 3.16) são os que querem parecer o que não querem ser. Há cristãos que ninguém quer ter como vizinhos, não por causa de sua fé, mas por causa de sua falta de misericórdia. Há cristãos que ninguém quer ter como colegas, não por causa de sua fé, mas por causa do desinteresse pelos dramas privados e coletivos. Há cristãos em que ninguém vota nem para síndico do seu prédio, não por causa da sua fé, mas porque seus únicos interesses são eles mesmos. Não! Não são cristãos, apesar da roupa de cristãos, do sorriso de cristãos, do louvor de cristãos. Não são cristãos, embora o digam. Não têm fé, embora a arrotem. Não amam e amar é o teste prático da fé, é a baliza da fé. Um motorista não é alguém que sabe tudo sobre direção. Um motorista é quem dirige. Não basta saber como se passa uma marcha; tem que saber e passar a marcha. Não basta saber onde fica o acelerador; tem que pôr o pé equilibradamente nele. Não basta saber para que serve o volante; tem que saber e movê-lo no tempo e na dimensão corretos. Um motorista precisa praticar primeiro na auto-escola (você já foi um aprendiz!) e depois sozinho nas ruas e estradas (você ainda é um aprendiz!). 5.3. Percorrendo uma livraria recentemente, folheei um livro de um homem que governou o seu país por oito anos consecutivos, fora o tempo que chefiou ministérios. Tratava-se de um livro com conselhos aos jovens políticos, para a construção de um Brasil melhor, mesmo que durante o seu governo o Brasil não tenha ficado melhor... Um belo teórico, eis o que é aquele presidente. Estamos cheios de teóricos na política e na fé. O nosso cristianismo pode continuar sendo apenas uma teoria. Para deixar de ser uma teoria, o nosso cristianismo precisa passar pelo teste prático. Nossa teoria tem que ser prática. Teoria sem ação não tem valor, como já nos ensinou Tiago: fé sem obras é fé morta (Tiago 2.17, 26); fé morta é fé sem efeito; fé morta é fotografia de fé, não é fé. O cristianismo é a religião da prática. Os cristãos, ensinou Jesus, são reconhecidos por seus frutos (Mateus 7.16). O cristianismo é a religião do amor, desde sua origem (Deus nos amou e nos deu Seu filho), ou não é nada. A doença do ter, mesmo condenada universalmente, avança universalmente. Não precisamos aqui condenar, mais uma vez, esta doença. Ela é também um ídolo que nos contempla e convida, e contra o qual é preciso vigiar. Ao ter, contrapomos o ser, muito antes de Erich Fromm (com o seu belo "Ter ou Ser"). Ser, no entanto, é pouco, se não incluir a dimensão do fazer. Somos o que cremos. Cremos o que fazemos. Por que podemos fazer como Jesus fez? Ele disse que faremos o que Ele fez se tivermos fé (Mateus 17.2), permanecendo nEle, com Quem aprendemos e de Quem temos a unção e o mandamento para amar . Temos o exemplo de Jesus. Jesus cria que no Reino de Deus os maiores serão os menores (Mateus 19.30). Por isto lavou os pés dos seus discípulos. O relato bíblico é intrigante: "assim, [Jesus] levantou-se da mesa, tirou sua capa e colocou uma toalha em volta da cintura. Depois disso, derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos seus discípulos, enxugando-os com a toalha que estava em sua cintura" (João 13.4-5). Sim, quem "afirma que permanece em Jesus, deve andar como ele andou" (1João 2.6). Temos uma unção de Jesus. Jesus tem um cuidado especial para com aqueles a quem envia. E a questão não é se todos os cristãos são enviados, porque são, mas se, sendo enviados, obedecem e vão. Os que estão na obediência do ir não devem se preocupar com o que falar; segundo a promessa de Jesus, "naquela hora lhes será dado o que dizer, pois não serão vocês que estarão falando, mas o Espírito do Pai de vocês falará por intermédio de vocês" (Mateus 10.19-20).

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Na Bíblia o nome desta dádiva é unção, que é algo que está dentro de nós, mas que veio de fora de nós, do Espírito Santo. Temos uma unção que procede de Jesus (1João 2.20). E quando esta unção que recebemos permanece em nós, somos ensinados por Jesus a permaneceer nEle (1João 2.27). Temos o mandamento de Jesus. Jesus é repetitivo: "O meu mandamento é este: 'Amem-se uns aos outros como eu os amei'. (...) Este é o meu mandamento: 'Amem-se uns aos outros'" (João 15.12 e 17). Amar o outro -- este é o teste prático da fé cristã. Nas palavras de João, "ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor está aperfeiçoado em nós" (1João 4.12) . Amar se aprende amando. Fazer se aprende fazendo. Para amar, preciso aceitar que sou amado. Para amar, preciso decidir que vou amar. Para amar, preciso começar a amar. Para amar, preciso amar. Pouco importa que você concorda que precisa amar. Importa que você ame. Amar é fazer. 6. Quem tem suas orações respondidas permanece em Jesus (verso 7). Jesus nos garante: "Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido" (verso 7). Oramos e temos nossas orações respondidas. No entanto, esta experiência nem sempre é verdadeira para nós. Oramos e as nossas orações não são respondidas. Por que? 6.1. Há condições para termos respondidas as nossas orações. Jesus nos surpreende e apresenta duas condições para os discípulos termos respondidas as nossas orações. 6.1.1. A primeira é: precisamos permanecer em Jesus. Segundo aprendemos neste poderoso conjunto de ensinos, . Permanece em Cristo aquele que já o recebeu como Salvador e Senhor (verso 3) . Permanecer em Cristo é estar em comunhão com Ele (verso 5). . Permanece em Jesus quem prazerosamente depende dEle (5b). . Permanece em Jesus quem se deixa podar por Jesus (verso 2). . Permanece em Jesus quem, deixando-se podar, passa pelo teste prático do amor (versos 12 e 17). Só ora verdadeiramente a Jesus quem ama a Jesus. Os outros buscam apenas sinais e Jesus, às vezes, os dá, mas geralmente não os dá, para evitar que os abençoados não alcancem o arrependimento (a que Ele mesmo chama de sinal do profeta Jonas" -- cf. Mateus 12.39). 6.1.2. A segunda promessa tem a ver com discipulado. Ser discípulo é estar impregnado das palavras de Jesus. Se você está impregnado pelas palavras do mundo, você vai recorrer ao mundo. Se você está encharcado das palavras de Jesus, você vai recorrer a Jesus. Mais ainda: se você está encharcado das palavras de Jesus, você vai orar como convém, em lugar de procurar apenas os seus deleites (Tiago 4.3). Se as palavras de Jesus estão em você, essas palavras vão inspirar sua oração. O problema é muitos conhecemos muito pouco a Bíblia. Não sabemos sequer a seqüência dos livros bíblicos. Uma dia desses pedi a um casal para me ler um texto em Hebreus, mas nenhum dos dois conseguia achar o livro bíblico; nem sabia que estava no Novo Testamento. Quero estimular você, se não o sabe, a aprender a seqüência dos livros bíblicos, de Gênesis a Apocalipse. Perdemos também o costume de decorarar versículos bíblicos. No entanto, são os versos que sabemos de cor que vão nos socorrer; as dificuldades aparecem quando não temos um exemplar da Bíblia conosco. Quero estimular você a decorar pelo menos 50 versículos bíblicos. Alias, se você decorar um por semana, saberá 52 ao final de cada não. 6.2. Precisamos entender a natureza dos pedidos referidos por Jesus. Aque pedidos Jesus se refere? Aos pedidos de coisas naturais, como comida, saúde e segurança? Penso que os inclui. Devemos orar por nós mesmos, pelas nossas necessidades, mas devemos interceder pelas necessidades dos outros. Confesso que, às veze, ficou meio envergonhado diante de Jesus. Quando me ajoelho para orar (e quando me ajoelho, é porque estou levando a sério os pedidos que faço), imagino, por vezes, Deus falando: "Lá vem o Israel com a sua lista de pedidos". É como se estivesse indo ao supermercado fazer compras. Eu me sinto meio ridículo, mas continuo orando. Deus me entende, apesar de eu ser egoísta demais. Eu gasto mesmo muito tempo com coisas que perecem... apesar da advertência do meu Mestre (João 6.27).

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Jesus inclui nossos pedidos por comida, saúde e segurança, mas Ele quer que caminhemos além. Ele quer que peçamos coisas espirituais. Ele espera que queiramos aquilo que nos ajuda a dar fruto. É o que lemos no verso 16: "Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça, a fim de que o Pai lhes conceda o que pedirem em meu nome". Não é errado pedir coisas que perecem, como comida, saúde e segurança, mas Jesus deseja que subordinemos estes desejos comuns a desejos espirituais, a desejos do Reino de Deus, a desejos centrados em Deus, desejos que exaltem a Cristo, a desejos que glorifiquem a Deus. O foco da oração, portanto, não é a nossa satisfação, mas a glorificação do Pai ("Meu Pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto" - verso 8). Quando nossos desejos naturais são meios para alcançarmos os desejos espirituais, e não o contrário, os desejos espirituais tornam-se o centro de nossas orações. (John Piper) Egoístas como somos todos, com igrejas oferecendo respostas como se oferecem produtos na prateleira, e nós com tanta carência, soa estranho pensarmos que Jesus quer que nos interessemos por realidades além de necessidades naturais, mas este é o desejo dEle. 6.3. Preciso proseguir, fazendo três afirmações, antes da afirmação final: 6.3.1. Não podemos esquecer que a oração já é por si mesma uma resposta, pelo privilégio que representa e pela comunhão que oferece. O melhor da oração é a oração. O melhor de Deus é Deus mesmo, não o que Ele oferece. 6.3.2. Orações respondidas são apresentadas em nome de Jesus (verso 16b). O verso 16 mostra qual é o papel de Jesus na oração. É em nome dEle que devemos orar. Quando não o fazemos, defraudamos o nome de Jesus. Não se trata de uma fórmula mágica. Quando eu peço em nome de Jesus, não peço em meu próprio nome. Quando peço em nome de Jesus, sei que não tenho mérito. Não recebo pelo que fiz para Deus; recebo pelo que Jesus fez por mim na cruz. Orar em nome de Jesus é humildade reconhecida. Pedir em nome de Jesus, portanto, é me lembrar que não é pelas minhas eventuais virtudes que recebo as bênçãos de Deus. 6.3.3. Para o nosso bem (creio nisto), Deus também diz: "sim, meu filho, mas não agora", "sim, meu filho, mas não do seu jeito" e "não, meu filho". Eu sou mais abençoado quando ouço "não". Quando ouço estas respostas, eu oro mais. Quando ouço estas respostas, em insisto. Quando ouço estas respostas, eu me aprofundo. Sou pouco abençoado quando sou abençoado. Sou mais abençoado quando não sou abençoado. Quando ouço estas respostas, eu aprendo que posso viver, e melhor, sem o que não recebi. (Na verdade, recebi mais, ao no receber.) 6.4. Orar não é uma forma de conseguir que Deus faça o que você quer que Ele faça, mas é um pedido em função do que Ele prometeu que faria. Ore de acordo com as promessas de Deus para você. Oração e promessa precisam andar de mãos dadas. Então, para tornar efetivas as suas orações, comece a ler e a estudar as promessas de Deus. Só assim você orará segundo a vontade de Deus. Então, o que você pedir será concedido, não importa quanto tempo leve. Enquanto isto, continue crendo na promessa de que Deus lhe concederá o que você pede. Você sabe que sua oração será respondida se for da vontade dEle, como aprendemos: "Esta é a confiança que temos ao nos aproximarmos de Deus: se pedirmos alguma coisa de acordo com a vontade de Deus, ele nos ouvirá. E se sabemos que ele nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que temos o que dele pedimos" (1João 5.14-15). Acontece que você não sabe qual é a vontade dEle; então, continue orando, jamais esquecendo que Deus é soberano, sábio e misericordioso. Esta precisa ser a sua certeza e o seu consolo. 7. Permanece em Jesus quem vê cumprida em sua vida a promessa dEle. O verso 11 traz uma nota de esclarecimento por parte de Jesus: "Tenho lhes dito estas palavras para que a minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa". No capítulo 16 do mesmo Evangelho, Jesus volta a prometer alegria completa: "Até agora vocês não pediram nada em meu nome. Peçam e receberão, para que a alegria de vocês seja completa" (verso 24). No capítulo 17, há outra informação valiosa: "Mas agora vou para ti; e isto falo no mundo, para que eles tenham a minha alegria completa em si mesmos" (verso 13). A promessa é clara: Jesus nos dá a sua alegria. Jesus é mesmo a alegria dos homens. Quando foi anunciado, no Natal, sua vinda foi descrita como uma notícia que trazia alegria. Quando foi batizado, o Pai externou a Sua alegria. Deus está interessado na nossa alegria. É por isto que nos dá a sua alegria. Ao longo da Bíblia, Deus se alegra e comunica a sua alegria. Ele sabe que nós gostamos da alegria.

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O tema está presente em nossas vidas, sob várias palavras, uma delas sendo felicidade. Segundo o DataFolha, em pesquisa nacional (2006), 76% dos brasileiros se consideram felizes. 7.1. Se perguntarmos o que é a felicidade, as respostas vão variar. Penso que, em termos gerais, a alegria ou a felicilidade será associada às seguintes situações: . amar e ser amado . fazer o que gosta . sentir-se bem . estar com a família em equilíbrio A fé em Cristo nos põe neste caminho. A fé em Cristo é uma prova de que somos amados por Deus, logo temos valoar par Ele. A fé em Cristo nos estimular a amar a Deus e ao próximo. A fé em Cristo nos ajuda a cultivar o amor no contexto familiar. Ele provê os recursos para alcancarms a alegria. Claro: "Com nossos pés no Calvário, nossos olhos na face de Jesus e nossas mãos ajudando os pecadores ao arrependimento, a Sua alegria é nossa" (Andrew Murray). 7.2. Precisamos da alegria de Jesus, que, imagino, tem três marcas em sua vida:. . ter sido enviado para um propósito exclusivo . ser recebido como Senhor e Salvador . estar em comunhão com os seus amigos Não podemos ser como Jesus, mas cada marca desta nEle tem um significado para nós. Ele foi enviado, enviado a nós. No plano de Deus, somos o centro. Quando recebemos a Jesus como Senhor e Salvador, permitimos que o plano de Deus se realize. O apóstolo Paulo sintetizou a dinâmica deste encontro Deus-homem, quando escreveu: "Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos" (Efésios 2.10). Só podemos ser plenamente humanos, que é a nossa tarefa, quando estamos em comunhão com Jesus. Por isto, Ele nos convoca: "Permaneçam em mim". Quando permanecemos nEle, Ele se alegra. Quando permanecemos nEle, podemos ser felizes. Podemos, aqui e agora, não ser amados, mas o amor dEle em nós nos levará a amar, como resposta ao amor dEle para conosco, mesmo que aqui e agora não sejamos correspondidos. Deus sempre nos corresponde porque Ele é amor. Pode ser que, aqui e agora, não consigamos estar envolvidos num trabalho capaz de nos trazer satisfação. Infelizmente, por aqui as coisas podem ser assim. Ainda assim o amor de Deus em nós vai transformar o nosso coração para uma vida feliz, mesmo que nossos braços não estejam aplicados nas ações mais interessantes... Pode ser que, em nossa família, sejamos atribulados, por causa de desencontros e desavenças. Assim mesmo, porém, o amor de Deus transbordante em nós nos dará força para persistirmos amando e para termos esperança. Jesus é a nossa alegria, quando falta alegria nos nossos relacionamentos. Jesus é a nossa alegria, quando sobram as frustrações nas realizações materiais. Jesus é a nossa alegria quando as dificuldades superam as vitórias na vida familiar. 7.3. Nossa alegria pode ser completa, mesmo em meio às tribulações. Conhecemos só a experiência do apóstolo Paulo: "Alegro-me grandemente no Senhor, porque finalmente vocês renovaram o seu interesse por mim. De fato, vocês já se interessavam, mas não tinham oportunidade para demonstrá-lo. Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece" (Filipenses 4.10-13). Eu me pergunto: como foi isto possível? Vejo uma dinâmica humana e uma dinâmica divina, nesta atitude. Paulo foi amado, quando os filipenses se preocuparam com ele. Mas eles se preocuparam, desegoisticamente, porque foram inspirados pelo Espírito Santo a ter esta atitude. Sozinho e necessitato, solitário e na prisão, ele precisava saber que seu ministério não era algo inútil e a atenção dos filipenses deu-lhe esta certeza. Conectado a Jesus Cristo, em quem permanecia, Paulo foi assim abençoado com a alegria completa, em meio à escassez completa, inclusive a pior delas, liberdade. Nossa alegria pode ser completa. 1. Nossa alegria é completa quando sabemos que há alegria em Jesus; há alegria completa em nós quando recordarmos Sua entrega na cruz por nós; há alegria completa em nós quando conservamos conosco as suas palavras; há alegria completa em nós quando respondemos à voz de Jesus, que nos convida para a vida feliz (em transbordância). Este convite pode cair nos vazio ou ser aceito por nós, com alegria, tal como a semeada em terreno pedregoso. ("Quanto ao que foi semeado em terreno pedregoso, este é aquele que ouve a palavra e logo a recebe com

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alegria" -- Mateus 13.20). 2. Nossa alegria é completa quando é baseada no poder da ressurreição de Jesus, que atualizamos quando esperamos a volta de Jesus. Devemos esperar Jesus como uma grávida espera seu filho vir à luz ("A mulher que está dando à luz sente dores, porque chegou a sua hora; mas, quando o bebê nasce, ela esquece a angústia, por causa da alegria de ter vindo ao mundo" -- João 16.21). Sejamos como uma mulher grávida na sua expectativa. 3. Nossa alegria é completa quando pomos o foco da vida nas palavras de Jesus, para resistir aos ladrões da alegria. Quais são os ladrões de nossa alegria que precisam ser jogados ao chão, para que possamos dar fruto? . Pode roubar a nossa alegria a idéia de alegria predominante em nosso tempo, feita de ação e de diversão, que são importantes, mas insuficientes e até mesmo falsas. Pode haver muito riso e felicidade numa festa, mas no coração de quem ri pode haver ao mesmo tempo muita tristeza. Não precisamos achar que estamos alegres porque estamos numa festa, às vezes estranha e com estranhos, algumas alimentados com produtos químicos ou com dinheiro. Só vale a pena o show no palco quando há show no nosso coração. Se permanecemos em Jesus, é sow, mesmo que o palco esteja vazio. . Pode roubar a nossa alegria a submissão a um jeito natural de ser entristecido por causa da falta de boas condições para a alegria. Felicidade tem sido erroneamente relacionada a realizações de natureza material. Todo dia nos dizem que, se não temos, não podemos ser. Aprendemos, no entanto, que podemos ter (e é bom ter!) e assim mesmo mergulharmos nossos corações nas sombras. Esta visão de alegria nos rouba a alegria completa de Jesus, que não depende de sermos realizados materialmente, sexualmente, profissionalmente. Depende de permanecermos em Jesus. . Pode roubar a nossa a alegria a centralização de nossas vidas em outra pessoa que não seja Jesus. Quando o nosso foco está nEle e quando permanecemos como amigo dEle, nossa alegria é completa. 4. Nossa alegria é completa quando cultivamos a alegria. Precisamos cultivar a alegria, começando por conhecer cada dia mais a Jesus. Não é Ele a fonte de alegria? Como seremos alegremos bebendo em outras fontes? Precisamos cultivar a alegria, evitando pessoas, atitudes e sentimentos que produzem tristeza em nós. Se convivemos com pessoas amargas, devemos tomar cuidado, para não ficarmos amargos também. Se tendemos a nos entristecer por isto ou aquilo, devemos ser sábios em não permitir que essas situações se aproximem de nós. Se certas situações (como leituras e filmes) nos levam à tristeza, devemos tomar cuidado e buscar outras leituras, outros filmes, outras músicas. Cultive a alegria. *** O cristão "é como árvore plantada à beira de águas correntes: dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que ele faz prospera!" (Salmo 1.3). Quem passa por um pomar ou por uma fazenda entende o significado deste salmo. Quem convive com o cristão cheio do Espírito Santo sabe o que é permanecer em Jesus, pelo fruto que vê. Permaneçamos em Jesus. A condição está dada, para fruirmos a promessa da alegria completa.

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