a urgência do velho chico

22
CON TEXTO JORNAL 45 A urgência do Velho Chico Por sua beleza e riqueza, Rio São Francisco simboliza a história do nordeste como mais impor- tante manancial da região. Hoje, necessita de ações ambientais para sua sobrevivência. Leia + p.6 Jornal Laboratorial produzido por alunos do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe Jornalismo Investigativo em debate: entrevista com Roberto Cabrini Leia + p.3 O Jogo da Acessibilidade Pesquisador da UFS utiliza o Kinect no auxílio do tratamento médico de pessoas com necessi- dades especiais. Leia + p.21 Memórias e histórias Dona Odette: lidar com o tempo exige sabedoria. Leia + p.14 Fanpage: www.facebook.com/contextoufsimpresso Edição Digital (Acervo): http://issuu.com/contexto-ufs Ano 12 - São Cristóvão/ SE, Dezembro de 2014 Cultura: Esporte: Grupos folclóricos de Japaratuba em dificuldades financeiras Leia + p.21 Nesta edição: BSFC, Aracaju na rota do esporte, Badmin- ton e Foto-Esporte Leia + p.23 CURTA & COMPARTILHE O CONTEXTO NA WEB

Upload: duongdan

Post on 09-Jan-2017

229 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: A urgência do Velho Chico

CONTEXTOJO

RNA

L

45

A urgência do Velho ChicoPor sua beleza e riqueza, Rio São Francisco simboliza a história do nordeste como mais impor-tante manancial da região. Hoje, necessita de ações ambientais para sua sobrevivência.

Leia + p.6

Jornal Laboratorial produzido por alunos do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe

Jornalismo Investigativo em debate: entrevista com Roberto Cabrini

Leia + p.3

O Jogo da AcessibilidadePesquisador da UFS utiliza o Kinect no auxílio do tratamento médico de pessoas com necessi-dades especiais.

Leia + p.21

Memórias e histórias

Dona Odette: lidar com o tempo exige sabedoria.Leia + p.14

Fanpage: www.facebook.com/contextoufsimpressoEdição Digital (Acervo): http://issuu.com/contexto-ufsAno 12 - São Cristóvão/ SE, Dezembro de 2014

Cultura: Esporte:Grupos folclóricos de Japaratuba em dificuldades financeiras

Leia + p.21

Nesta edição: BSFC, Aracaju na rota do esporte, Badmin-

ton e Foto-EsporteLeia + p.23

CURTA & COMPARTILHE O CONTEXTO NA WEB

Page 2: A urgência do Velho Chico

Universidade Federal de SergipeCampus Prof. José Aloísio de Campos

Av. Marechal Rondon, s/n, São Cristóvão - SE

Reitor - Prof. Dr. Angelo Roberto Antoniolli Vice- Reitor - Prof. Dr. André Maurício C. Souza

Pró- Reitor de Graduação - Prof. Dr. Jonatas Silva MenesesDiretora do CECH - Drª. Iara Maria Campelo Lima

Jornal Laboratório do curso de Jornalismo

Departamento de Comunicação Social (DCOS) - Drª. Raquel Marques Carriço Ferreira

Fone: 2105-6919/ 2105-6921 Email: [email protected]

Coordenação Editorial: Prof. Ma. Michele da Silva Tavares (DRT - 1195/SE)

Planejamento Visual: Saullo d’Anunciação

Equipe Contexto - Edição 45

Baruc Martins Camilla Araujo Daniel Damásio Eduardo Ferreira

Elienai Conceição Elson MotaJabson Souza Jessica SantosJosiane Mendonça Maíra Araújo

Marielle Rocha Whagner AlcântaraWilmarques Cruz

EDITORIAL

4 10 e11

12, 13,14 e 15

16,17 e 18

6, 7 e 8 95 19, 20,21 e 22

metalinguagem CULTURA tecnologiacomportamentosaúde&meioambiente

criança&adolescente

EDUCAÇÃO ESPORTE

SUMÁRIO

EXPEDIENTE

“Forget it, Jake. It’s Chinatown.” O conselho dado ao personagem de Jack Nicholson, como consumação para uma verdade ainda resisten-te, nos toma por completo nos momentos finais de Chinatown (1974), de Roman Polanski: há crimes em que certos tipos de pessoas não podem ser punidas. Num momento de escândalos com a Operação Lava Jato, das investigações incessantes do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, a edição 45 do Jornal Contexto traz histórias que fazem um per-curso diferente.

É hora de desvendar a cidade, Chinatown – ou o Estado de Sergipe, como queiram –, e as memórias que dela saltam nos asilos; na paixão pela dança da talentosa Giulia, selecionada para o teatro Bolshoi do Bra-sil; nos conflitos políticos do esporte local; na necessidade de virtualiza-ção para saciar necessidades de relacionamento através da internet; nas dificuldades de acesso para pessoas que tomamos como deficientes; no olhar sobre a literatura infanto-juvenil; nas agudezas de sofrimento do Velho Chico; nas dicas de saúde para o combate a intolerância à lactose; no acompanhamento da Semana Acadêmica e Cultural da UFS.

É desses pressupostos da rotina, de um olhar próximo – mas ao mesmo

tempo distante –, que esta edição cruza fontes, relatos e vivências; que investiga, interpreta e questiona a informação apresentada com a busca pela melhor apuração, pela escolha sem medo de uma perspectiva clara. Uma edição completa, plural, versátil e com um texto leve. No melhor estilo autoral. Uma volta crucial aos tempos de um jornalismo que se produzia por versões destemidas, de um jornalismo de pé-no-chão, descalço. Mas sem ser panfletário, ou buscando um retorno acrítico.

Nada disso se legitima aqui, por entre essas páginas. Porque o esforço – ainda que compreensível as limitações de campo, tempo e espaço – se tornou combustível para uma gramática que se pauta pelo imperativo da verdade. Ou, melhor localizando: de um certo tipo dela.

A edição 45 do Jornal Contexto está aí. Folheá-la não é um es-quecimento aos problemas da cidade – entendida aqui como pro-dução de uma cena cultural –, mas a caminhada por novos lugares, conhecendo novas pessoas e dilemas. Chinatown vive e o nosso de-safio foi transcrevê-la usando a linguagem das pernas.

#MAISAMORPORFAVORO camarada se vestiu de nu e saiu por aí.

Havia alguma coisa de cansaço do tédio que vivia no conforto de seu sofá e de sua família ‘forma-da’. Cansaço que não se refletia, contudo, no seu rosto e seu corpo encarquilhado de tantos janei-ros. Quem o via parecia ver no inconsciente a cena de uma figura atormentada debaixo de uma noite chuvosa em Beleza Americana, mas ga-rante que era um lindo domingo de sol, com um céu límpido de nuvens. O camarada, no entanto, saiu, livre como passarinho a ganhar aquele céu. Livre das roupas, de seu passado, das couraças e dos demônios de homem ‘ilibado’ perante a uma sociedade carcomida.

Na velha TV comprada no 0+10, os canais do gatonet zapeavam para lá e para cá. Talvez pudesse decifrar os porquês, mesmo não ha-vendo nenhum. Não era nenhum porto alegre

que carregava as tristezas estampadas na última moda a ser seguida. Não havia nenhuma Tam-baba perdida a ser perseguida. Era tudo e nada. Talvez o militar saudoso de baionetas e cachor-ros a destilar perdigotos de raiva contra tudo, ou o lobo no púlpito a destilar profecias picaretas e saracotear com a boa fé de almas famintas. Ou os tempos de ‘boa aparência’ e tardes perdidas em patéticas competições pelo peso perfeito da TV. Alguma pista? Qual o quê.

Não havia nenhum atrativo nem beleza nas rugas livres ao vento, passeando até o nunca mais de um campo santo sem arranha-céu. Em tempos em que ideias valem uma vida e um voto é uma sentença, quiçá o camarada saíra a procu-rar em outras pasárgadas alguma candura que não se acha mais nas esquinas do seu mundo. Ou um amor proibido pelas verdades absolutas

em que a reserva moral do Congresso disse tais verdades absolutas, mas na verdade absoluta, são qualquer troço, menos verdades absolutas.

O camarada saiu sem adeus e que as roupas façam bons proveitos para fantasiar os monstros nos homens de bem (até o carnaval não voltar). Nas roupas e na TV e na selva de pedra, ele não achou certas coisinhas miúdas que ele aprendeu na sua pequenina querência, como gentileza, cortesia, doçura, boniteza, sensibilidade. Certa estava a poética profética na bossa de Vinícius. Só que tempo é dinheiro e dá voto, e em tempos de felicianos e telhadas, não há mais tempo, nem confiança, nem paciência, nem mesmo amor para se inventar o amor. Até o próximo camara-da se vestir de nu e sair por aí.

Por Daniel Damasio, aluno do curso de Jornalismo/UFS

CHARGE

Arte: D

aniel Dam

ásio

CRÔ

NIC

A

Page 3: A urgência do Velho Chico

contextando

3

OPINIÃO

*Por Paulo Sousa

É preciso salientar que para se fazer jornalis-mo investigativo em Sergipe, coisa que poucos veículos ousam a fazer - primeiro pelo alto custo e segundo pela interferência política -, é necessá-rio ter ciência de que haverá a reação de setores antidemocráticos que não respeitam a liberdade de imprensa para tentar impedir o trabalho jor-nalístico e, com isso, enfraquecer e até mesmo desmoralizar o papel investigativo do jornalista.

Independente da interferência ou não dos po-deres político, econômico e judiciário, o jornalis-mo investigativo terá sempre papel de destaque e de relevância na sociedade, mas é preciso ter cuidado com as inconveniências que surgem no caminho do processo investigatório. Sob a ótica do julgador, encontram-se casos em que a notícia transcende a apuração e a divulgação dos fatos e invade o terreno do Judiciário. Neste sentido, é preciso entender que a investigação jornalística, como qualquer investigação policial, tem suas li-mitações que devem ser respeitadas.

O pressuposto da liberdade de imprensa e de expressão não me dá o direito de atacar outras li-berdades ou de não respeitar os ditames das leis. O caso da Escola Base em São Paulo é um exem-plo de que uma investigação mal conduzida nos faz reféns da própria liberdade de imprensa, que teoricamente nos faz acreditar que estamos aci-ma de qualquer liberdade. E é essa falsa impres-são que nos leva ao erro, muitas vezes, fatal.

Observo a necessidade de mais investimento das faculdades no campo do jornalismo investi-

Foto

: Ace

rvo

Pess

oal

CONTEXTO: Para você qual é o papel do jornalismo investigativo nas sociedades democráticas?ROBERTO CABRINI: Pode-se medir o grau de democratização de uma sociedade pelo seu nível de jornalismo investigativo. Não há democracia sem jornalismo independente.

C: Como você classifica o jornalismo in-vestigativo brasileiro?RC: Nosso jornalismo evoluiu muito se tornando mais arrojado e mais responsável. Mas ainda há um longo caminho a ser percorrido.

gativo, pois é um mercado ainda pouco explorado pelas faculdades de Jornalismo, que têm o dever de preparar desde cedo o futuro profissional de imprensa para uma demanda de mercado cres-cente, mas que exige acima de tudo conhecimen-tos específicos e responsabilidade social.

É necessário precisão, exatidão e profundida-de nos fatos para a boa realização desse trabalho. E para quem se interessa pelo ramo do jornalis-mo investigativo, recomendo muita leitura, prin-cipalmente de textos que fogem da superficiali-dade.

Alguns princípios básicos que destaco como pontos importantes para uma boa investigação é sabermos que jornalismo investigativo não é reportagem de editorias, como alguns jornalis-tas caem na ilusão de que toda boa reportagem é uma matéria investigativa. A investigação exi-ge mais profundidade e escavação. Jornalismo investigativo também não é reportagem crítica, essa reportagem pode fazer parte da matéria investigativa, mas nunca será vista como uma produção investigativa. Outro erro é achar que a essência do jornalismo investigativo está apenas na cobertura de crimes e corrupção. Isso torna limitado o alcance da matéria. O jornalismo in-vestigativo nada mais é do que uma abordagem sistemática para um palpite, o que exige pesquisa e reportagem original e em profundidade.

Como disse David Kaplan, autor de Global Investigative Journalism, durante uma conferên-cia sobre jornalismo investigativo. “O jornalismo investigativo deve seguir o método científico de formar e testar uma hipótese, juntamente com

C: Qual é o limite de uma apuração investi-gativa complexa?RC: O limite é o do bom senso, da responsabili-dade e da legalidade... É preciso ousar mas sem-pre em investigações de claro interesse coletivo.

C: Por que é necessário investir no jorna-lismo investigativo?RC: O investimento para o jornalismo investi-gativo é vital para a sua relevância. Sem investi-mento em aprofundamento o jornalismo corre o risco de se tornar oficial, tendencioso, leviano ou omisso.

uma rigorosa verificação de fatos, descobrindo segredos, com o foco na justiça social e prestação de contas e no uso pesado de registros públicos”.

Seguindo o entendimento do sociólogo e cien-tista político francês Dominique Wolton, que no 36º Congresso Nacional dos Jornalistas defendeu que a imprensa deve ser vista como o contra po-der do sistema e nunca o quarto poder, concluo, portanto, que para o bem da sociedade e da de-mocracia a imprensa nunca deve ser uma aliada do sistema, mas uma poderosa fiscalizadora deste e de qualquer outro sistema que venha a ser im-plantado no país.

*É graduado em Jornalismo, especialista em Radiojornalismo e presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Sergipe (SINDIJOR-SE).

Investigação: essência do Jornalismo

Jornalismo investigativo e a sociedade

A essência do Jornalismo é a investigação. Essa seria, digamos assim, a espinha dorsal de nossa profissão que, aliás, exige conhecimentos e muito investimento financeiro.

Francisco Roberto Cabrini é considerado um dos principais jornalistas brasileiros, especializado em jornalismo investigativo, coberturas de guerras e da defesa dos direitos humanos. Ganhou os principais prêmios como repórter investigativo, entre eles o Esso, Líbero Bada-ró, Tim Lopes e Vladimir Herzog. Atualmente é âncora do programa Conexão Repórter, no SBT. Em entrevista exclusiva à repórter Ma-rielle Rocha, Cabrini fala do papel do jornalismo investigativo em sociedades democráticas.

Foto

: Ace

rvo

Pess

oal

Page 4: A urgência do Velho Chico

políticametalinguagem

4

A final, o que é jornalismo investiga-tivo? Costumamos ouvir que todo jornalis-

mo por si só é investigativo. No geral, as técnicas de jornalismo são muito parecidas e o resultado final de uma reportagem é fruto da apuração de um fato. Mas, o que diferencia o jornalismo in-vestigativo dos demais setores da atividade são as circunstâncias, normalmente mais complexas, dos fatos, além de sua extensão noticiosa e o tem-po de duração quase sempre exercido sobre pres-são que se divide em fases, entre elas pesquisa minuciosa, concentração, perseverança, atenção especial, conhecimento policial básico, muitas entrevistas, desconfiança, frieza e coragem.

Jornalismo investigativo x Ética profissio-nal

Até onde é permitido ao repórter dissimular atitudes, usar gravadores escondidos, microcâ-meras, passar-se por outra pessoa, adotar outra identidade e, de fato, violar leis? O fato é que essa questão tem dois tratamentos, e em ambos, devem-se valer do princípio da honestidade de quem faz das circunstâncias da reportagem, da intenção da pauta e dos limites que o bom senso e a ética impõem. É muito importante que o discur-so ético não seja atropelado pela hipocrisia ou por interesse de um e outro encastelado no poder de plantão. Toda investigação jornalística, portanto tem que ser ética.

O Código de Ética do Jornalista Brasileiro exis-te, está no papel, mas não ajuda muito. Foi apro-vado em 29 de setembro de 1985 pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), a partir de uma discussão levada a cabo pela categoria. No artigo nove, inciso “f”, lê-se como dever de todo jornalista: “combater e denunciar todas as for-mas de corrupção, em especial quando exercida com o objetivo de controlar informação”.

Muito se discute sobre o comportamento do jornalista diante das circunstâncias de uma ma-téria que exige infiltração, dissimulação e, não raras vezes, doses exageradas de perigo. Para a jornalista Paula Coutinho, dependendo da inves-tigação, não há limites para a apuração. “Algu-mas coisas não tem limite, eu acho que você tem que pesar: Quem você vai prejudicar? O que é que isso vai interferir? Se essa apuração vai ajudar a resolver um problema, se essa apuração vai achar uma melhor verdade ou não”, defende.

Em relação às técnicas jornalísticas, Paula é enfática: “Muita gente fala ‘ah, mas é antiético, câmera escondida, é antiético isso, aquilo’, ok! E você acha que você vai chegar a um estuprador e perguntar ‘você estuprou essa criancinha?’, ele não vai te falar, óbvio! A gente tem que ter a cla-ra noção disso. O jornalismo investigativo como

o nome já diz, é porque a pessoa não quer falar. O que a gente faz é investigar isso, então sincera-mente pra descobrir alguma coisa pra mim não tem limite”.

Quando se trata do relacionamento com as fontes, Paula acrescenta: “Muitas vezes as fontes acham que vão te enganar, que vão te seduzir... Você tem que saber ir retirando isso e muitas ve-zes você tem que se disfarçar de uma coisa que você não é”.

Jornalista Paula Coutinho. (Foto: Marielle Rocha)

Jornalismo investigativo em Sergipe

Segundo o presidente do Sindicato dos Jorna-listas de Sergipe (Sindijor), Paulo Sousa, o jor-nalismo investigativo em Sergipe ainda é tímido, carece de grandes investimentos. “No geral ele ainda é tímido aqui em Sergipe. Na verdade, isso representa algo ruim para a sociedade, porque a sociedade ganha quando tem um jornalismo in-vestigativo; claro que aquele jornalismo que age com ética, com responsabilidade, obedecendo ao código de ética da profissão”, comenta.

Em Sergipe, muitos profissionais respondem processos, seja por ter feito um trabalho investi-gativo ou por ter feito o seu trabalho jornalístico rotineiro ou até mesmo por uma simples opinião que ele fez no rádio, na TV, no jornal, na revis-ta, ou no próprio veículo pela internet. “Infeliz-mente, essa é a realidade em que a gente acredita que isso só vai ser combatido com a aprovação do projeto de lei que está no Congresso Nacional, que federaliza os crimes contra jornalistas, fede-raliza e, ao mesmo tempo, intimida aqueles que não querem permitir que o jornalista exerça a li-berdade de imprensa, a liberdade de expressão”, lamenta.

Para Jozailto Lima, editor-chefe do Cinform, jornal semanal sergipano, o jornalismo investi-gativo no Estado, apesar de ser mal resolvido e se praticar pouco, evoluiu. “Sergipe evoluiu um pouco, eu vivo o jornalismo em Sergipe há 25 anos. Quando eu cheguei aqui as matérias eram

todas chapa brancas, iam para o jornal aquilo que o governante queria, eu cheguei em 1990, nós estávamos há cinco anos do fim da ditadu-ra militar, e os governadores ditavam a pauta do jornal. Acho que nesse sentido, as pessoas não reconhecem, mas o Cinform deu um contributo enorme, com sua ousadia, com a liberdade de fa-zer coisas que não tem fronteira, que não segue a linha do governante de plantão. Nenhum gover-nador de Sergipe dá manchete no jornal, mas os governadores de Sergipe, apesar de a mídia local ter melhorado, continuam dando manchete nos demais jornais, então houve um melhora sofrida, uma melhora que eu diria que é carente de mais intervenção, de mais melhora”, relata.

O jornalista também destaca as dificuldades para se exercer o jornalismo investigativo em Sergipe. “Para você conseguir algo é muito difícil porque até mesmo as instituições que deveriam colaborar são muito corporativas entre si, como o Poder Judiciário, as diversas esferas do Minis-tério Público, as controladorias... Todo mundo trabalha de certo modo para ofuscar dados, en-tão praticar jornalismo investigativo é algo muito complexo”, conta.

Por fim, Jozailto ressalta a pressão por parte de vários setores da sociedade. “Já sofremos proces-sos, tivemos interdição e censura no jornal, chan-tagem, gente que liga dizendo que o jornal está a serviço de uma outra instituição, todo mundo que é investigado se acha no direito de mesmo erra-do sentir-se invadido. Me sinto precavido, eu di-ria que até numa escala de intimidação, também me sinto intimidado, todo mundo intimida todo mundo, mas a intimidação não é suficiente para que você pare, para que você aborte o que você o que você está a fazer”, conclui.

Jornalista Jozailto Lima. (Foto: Marielle Rocha)

A arte de apurarJornalismo investigativo: da importância da notícia aos detalhes da narrativa. Jornalistas falam sobre os limites éticos, técnicos e a incipiência da prática investigativa em Sergipe

Marielle [email protected]

Page 5: A urgência do Velho Chico

políticaeducação

5

SEMANA ACADÊMICO-CULTURAL Universidade Federal de Sergipe realizou em novembro a 2ª edição da Semac, que homenageou o cente-nário do Professor José Aloísio de Campos, primeiro reitor e fundador do campus da UFS

Elienai de [email protected]

Entre os dias 24 a 28 de novembro, a Univer-sidade Federal de Sergipe realizou a 2ª Semana Acadêmico-Cultural da UFS (SEMAC) em todos os campi universitários. A SEMAC é um even-to anual com o objetivo de integrar as ações ar-tísticas, culturais e científicas da universidade com a sociedade sergipana, sendo realizada pela primeira vez em 2013. De acordo com Assesso-ria de Comunicação na UFS, a meta da II SE-MAC é articular a produção do conhecimento, o ensino, a extensão, a inovação, a arte e a cul-tura para, efetivamente, construir uma univer-sidade solidária, ancorada na realidade social.

Na SEMAC deste ano, a UFS homenageia o Centenário do Professor José Aloísio de Campos. Em todos os campi ocorreram diversos eventos científicos de todas as áreas de conhecimento e culturais simultaneamente, tais como: pales-tras, oficinas, minicursos, encontro de inicia-ção à extensão, encontro de iniciação científica, encontro de iniciação à docência, encontro de iniciação à inovação tecnológica, lançamento coletivo de livros da Editora UFS, entre outros.

Florence Heber, professora do Departamento de Administração ministrou pela segunda vez a oficina "Planejamento de Carreira" e "Preparação para entrevista de emprego". Ela sente-se satis-feita ao realizar esse trabalho e define a Semac: "É um momento importantíssimo de articulação interna da universidade porque tem a oportu-nidade de verificar produção em diversos cur-sos, tanto professores como também os alunos tem a oportunidade de fazer circular as ideias e a produção de conhecimento dos seus trabalhos em vários curso e os professores tem a oportu-

nidade de através de temas que são tranver-sais de alcançar alunos de outros cursos, tanto os do mestrado em Administração como tam-bém dá oportunidade para os alunos externos".

Florence ainda ressalta que houve um grande número de evasão nos minicursos, mas isso não atrapalhou o seu trabalho nem tão pouco as suas expectativas. “Apesar do número de inscrições ser alto e o número dos alunos que comparece-ram aos minicursos ser menor, não dificultou o meu trabalho. Eu vejo isso de forma natural, já que é uma semana muito intensa com várias atividades, e os alunos tem que escolher e aca-ba optando por um ou outro curso”, explica.

Para Thiago Gonçalves, ministrante da ofici-na “Para Falar Bem” do Departamento de Fo-noaudiologia, a Semac é uma boa oportunidade de disseminar conhecimento de todas as áreas. “Está sendo muito bom ministrar essas ofici-nas em mais um ano e o público tem demons-trado satisfação em participar da oficina”, diz.

Ele ainda afirma que tiveram que mudar a metodologia da oficina nessa segunda edição. Antes a oficina era voltada apenas para a flu-ência. “A necessidade de muitos é a voz e, por isso, decidimos mudar a metodologia, ino-var e essa segunda Semac o foco foi utilizar a voz, através de dinâmicas práticas”, conta.

O jornalista Pedro Carregosa, ministrou a ofi-cina “Técnicas de Locução e Interpretação para Telejornalismo” do Departamento de Comuni-cação Social. Carregosa graduou-se pela UFS e relata que sentiu-se muito feliz ao ministrar uma oficina para os estudantes de jornalismo, um colaborador no aprimoramento do saber.

“É importante essa iniciativa da universi-dade, porque aproxima os alunos da prática, trazendo um olhar de quem a vivencia no seu dia a dia e despertar os estudantes para o ca-minho que eles desejam seguir no futuro”, diz.

Ele ainda ressalta que quando ingressou na UFS era uma época em que o curso estava ini-ciando, ainda não era reconhecido pelo MEC. “Não tínhamos departamento, nem laboratório. Hoje ao ver essa estrutura fiquei feliz e emo-cionado, até orgulhoso de saber que tudo que vivenciamos e lutamos valeu a pena”, finaliza.

O HOMENAGEADO

José Aloísio de Campos nasceu na cidade de Frei Paulo/SE. Em 1943 formou-se pela Uni-versidade Federal da Bahia, em Ciências Contá-beis. Ocupou inúmeros cargos e exerceu diversas atividades no Estado de Sergipe. Foi o primeiro secretário executivo do Conselho de Desenvol-vimento Econômico de Sergipe – CONDESE, além de prefeito da cidade de Aracaju (1968-1970). Trabalhou incessantemente para ver edi-ficado o Campus Universitário na cidade de São Cristóvão, inaugurado no final de sua gestão.

Foto: Marcos Pereira

ACERVO PÚBLICO

PREFEITURA DE ARACAJU

Arividades e práticas durante a Semac.

Page 6: A urgência do Velho Chico

políticapolíticasaúde&meioambiente

6

O São Francisco é um rio de água doce que atravessa a região semi-árida do Brasil. Os gran-des rios do país vão em direção ao sul, sudeste ou ao norte. O “Chico” caprichosamente, uma dádiva da natureza, vem em direção ao nordeste. Se estende de Minas Gerais, estado onde nasce, passando pela Bahia, Pernambuco, Sergipe e Ala-goas, desaguando no oceano atlântico.

Um rio de importância tanto econômica, quan-to social e cultural. Foi um grande eixo de colo-nização do nosso país e que, além de servir como rota de navegação, contribuiu para o desenvolvi-mento da agropecuária. Tornando-se, assim, um rio estratégico do ponto de vista nacional, princi-palmente, no final do século XIX ao final do sé-culo XX. Atualmente possui seis usinas hidrelé-tricas. Como já dizia Guimarães Rosa, há mais de 500 anos é fonte de vida e riqueza.

Como anda o Chico Fazer a travessia do rio São Francisco de barco,

entre a cidade de Neópolis e Penedo, região que separa o estado de Sergipe e Alagoas, atualmente é tarefa de quem conhece o “Velho Chico” como a palma da sua mão. A equipe do Contexto foi ver de perto como anda a situação.

“Se não for um barqueiro experiente não pas-sa”, é o que conta seu Antônio de 66 anos, mais conhecido como Tonho Totó, barqueiro há qua-se 50 anos no local. Segundo ele, o rio que antes

tinha uma profundidade de 14 metros, hoje al-cança, praticamente, um. Para que o barco não encalhe, é preciso fazer arrodeios por águas mais fundas. Sendo assim, só quem conhece bem o rio é capaz de fazer este manuseio. Qualquer um, que ousa se aventurar, observa o chão, nas partes mais rasas em meio ao rio, e que o motivo não é a claridade da sua água. “Lá pra foz então, tá tudo seco”, relata Seu Tonho. Nossa equipe fez a travessia em um barco que estava tão lotado que pessoas iam curvadas em pé. Presenciamos uma senhora clamando: “Isso não é nada bom, choveu pouco, e o rio continua baixo”.

Além da falta de chuvas e do desmatamento da mata ciliar (importante para a manutenção do equilíbrio ambiental do rio), o maior proble-ma do São Francisco, para seu Tonho, foi a cria-ção de barragens. “Antes a água passava direto, trazendo consigo peixes, agora, conforme o rio vai secando, fica tudo preso lá, não passa nada”, explica. Seu Tonho, que aos 15 anos de idade, já pescava nas águas do Velho Chico, diz que até 20 anos atrás, o que era fartura quase não se vê mais. Várias espécies de peixe que existiam no rio fo-ram extintas. “Quem vive aqui, está vendo o rio ficar morto”, conta.

Ex-barqueiro aposentado, Jackson de Oliveira de 73 anos, mais conhecido na região como Pêre-ta, hoje optou por pedalar. E conta, com sauda-des nos olhos, que a rota que ele fazia pro sertão,

já não é mais possível: “O rio baixou e muito, o cheio de hoje era o seco de ontem”.

Várias ilhas, antes inexistentes, são vistas em meio ao rio surgidas devido o baixo volume de água. No momento em que nossa equipe reali-zava entrevista, presenciamos uma criança de, aproximadamente, 6 anos de idade jogando lixo (acumulado ao redor do São Francisco) dentro do rio, enquanto o pai, simplesmente, só assistia.

VELHO CHICO PRECISA SER SALVOAções ambientais e educativas são necessárias para sobrevivência do rio São Francisco

Josiane Mendonça e Jabson [email protected] [email protected]

Antônio Totó (barqueiro)

Foto

s: J

osia

ne M

endo

nça

Page 7: A urgência do Velho Chico

saúde&meioambiente 7Alertas Nos últimos 40 anos, houve um crescimento

populacional e expansão da atividade industrial em São Paulo que, consequentemente, ocasionou maior demanda por água, enquanto esta, conti-nuou a mesma.

Agora, saímos de uma situação de descuido para desespero. Pois, o Estado de São Paulo, mais populoso do país, vivenciou no ano de 2014, até então, a maior seca de sua história. A princi-pal nascente do rio São Francisco, localizada na região sudeste e que o abastecia, secou. Ocorreu o chamado estresse hídrico, ou seja, quantidade de água insuficiente para atender as necessida-des da população. O que resulta por comprome-ter também as usinas, a biodiversidade e, assim como, a qualidade da água.

Segundo o professor de Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Sergipe, José Jailton Souza, se não cuidarmos dos afluentes, da vege-tação ciliar dos rios e do uso adequado do solo ao longo de toda a bacia, o assoreamento e a redu-ção da vazão da água permanecerá. “A gente vê o país ficando cada vez mais careca, sem vegetação, sem cobertura. Se não conservar as nascentes e nossos corpos hídricos, significa dizer, não que a água vá acabar, temos muita água, o problema é que não está bem distribuída, mas ela mudará de lugar, pode ir para o oceano ou para outra bacia”, relata.

Em relação a transposição que será feita no São Francisco, Souza diz que a retirada sempre vai impactar e, segundo ele, existem, hoje, ferra-mentas computacionais nas engenharias que po-deriam simular e dar maior subsídio para prever-mos esta transposição. “Se houvesse uma política pública voltada ao acumulo de água da chuva nas regiões mais secas sem precisar transpor bacias talvez fosse melhor. Temos um exemplo disso no Oriente Médio, Israel, um país árido (muito mais seco que o nosso sertão que ainda é semi-árido) e exportador de produtos agrícolas,”, explica.

Segundo o especialista, hoje temos conheci-mento e tecnologia suficientes para reverter esta situação de degradação da natureza. Já sabemos como utilizar sem degradar. Mas está é uma ação que depende de todos e, acima de tudo, de uma política pública para um ordenamento dessas ações.

A seca, também deriva de grandes repercus-sões do clima mundial. São as famosas mudanças climáticas que estão ocorrendo em toda a parte do planeta. Mas que, como vimos, poderiam ser minimizadas se a intervenção do homem no rio não fosse tão forte. O rio está desprotegido. Des-de de maio do ano passado o setor elétrico, em Xingó, está liberando uma vazão de 1.100 metros cúbicos por segundo para foz. Sendo que o míni-mo, deveria ser 1.377.

Souza ressalta que a reversão é cara e lenta. Mas que é possível. Portanto, é com ações e re-educação que mudamos o rumo por uma maior sobrevivência na Terra.

Podemos sobreviver 2 meses sem alimento... mas apenas poucos dias sem água.

Águas do São Francisco

Águas do São Francisco é um pro-jeto socioambiental, realizado pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) em parceria com o Sergipe Parque Tecnológico (SergipeTec), que visa a revitalização do rio atra-vés da recuperação de matas ciliares. Atua em nascentes de dois afluentes do Chico, o rio Betume, localizado na zona da mata atlântica (semi-úmido), e Jacaré-Curituba, no semi-árido. No primeiro perímetro irrigado, traba-lha-se com a plantação de arroz. Já no segundo, com irrigação localizada e horticultura (fruteiras e ortaliças).

Além da recuperação ambiental com, atualmente, o plantio de 10 mil mudas e o monitoramento das mes-mas e da água. Também é trabalhado a reeducação ambiental das comuni-dades ribeirinhas. No total, são mais de 2 mil pessoas mobilizadas neste projeto. Segundo o coordenador do projeto Antenor Aguiar, os maiores desafios para sua realização são a burocracia e convencer os proprie-tários das terras a replantar. “ Tam-

bém o período de chuvas está extrema-mente irregular no semi-árido”, diz.

A maior parte dos problemas do São Francisco hoje são decorrentes da inter-venção humana. As grandes barragens modificaram fortemente a sua vazão, o desmatamento ocasionou mudança no solo, no ciclo hidrológico, e ocasionou erosão e assoreamento dos rios. “A água está esquentando mais do que o normal E há uma proliferação de uma série de plantas aquáticas novas, dife-rentes do habitat”, acrescenta Aguiar.

Sendo assim, foi quando o rio se tor-nou objeto para fins energia elétrica, que veio a grande intervenção huma-na. Foram construídas nove imensas barragens para geração de energia, que trouxe conforto para população, mas que também acarretou numa sé-rie de problemas. Acompanhado do desmatamento, uso intensivo da agri-cultura e inseticídas e, as próprias ci-dades que foram crescendo, a maior parte delas, sem esgoto, e quando o tem, na maioria das vezes, não há tratamento. Como resultado, o rio vi-rou palco de uma série de problemas.

Jackson (ex-barqueiro)

Ilha formada devido o baixo nível da água

Barco lotadoPartes razas em meio ao rio

Lixo ao redor do Chico

Page 8: A urgência do Velho Chico

saúde&meioambiente8

Maíra [email protected]

INTOLERÂNCIA À LACTOSEExistem ao menos três tipos de intolerância: a deficiência congênita da lactase, a deficiência primária ou ontogenética e a deficiência secundária. Essa carência do organismo acomete principalmente adultos.

Há cerca de dois meses, Jéssica dos Santos começou a perceber certas complicações

na saúde da sua filha, Maria Júlia, de 10 meses. Os sintomas eram cólicas abdominais, barriga inchada e diarreia frequente. Após fazer exames específicos o diagnóstico foi preciso: Maria Júlia apresentou intolerância ao açúcar presente no leite. Esse tipo de intolerância ocorre quando o organismo é incapaz de produzir, ou produz em quantidade insuficiente, uma enzima digestiva chamada lactase, responsável por quebrar e de-compor a lactose, que é o açúcar do leite. “Logo que comecei a perceber esses sintomas fiquei muito preocupada e fui com ela ao médico. O exame feito analisou o nível de acidez nas fezes, e isso foi necessário para descobrirmos”, explicou Jéssica.

Além do teste de acidez fecal, o Sistema Úni-co de Saúde (SUS) oferece o teste de intolerância à lactose, onde o paciente em jejum recebe uma dose de lactose e depois de algumas horas o san-gue é colhido para medir os níveis de glicose. Ou-tra opção é avaliar o nível de hidrogênio presente na expiração depois de o paciente ter ingerido do-ses altas do açúcar do leite. Realizar um dos três é imprescindível para confirmar o diagnóstico caso haja suspeita da deficiência.

O caso de Maria Júlia é um dos tipos de into-lerância à lactose, a secundária ou temporária, que ocorre quando o sistema digestivo do bebê ainda não está maduro o suficiente. Esse tipo de deficiência tende a desaparecer à medida que o organismo amadurece. Outra forma, e mais co-mum, é a primária, que ocorre em indivíduos na vida adulta, fase em que o corpo passa a diminuir naturalmente a produção da lactase (enzima di-

gestiva). O terceiro tipo (deficiência congênita) é mais raro e acontece em prematuros que não pro-duzem a enzima desde o nascimento.

O estudante de Direito Adolfo Teles, de 25 anos, conta que desenvolveu essa carência a pou-co menos de um ano e garante que consegue le-var uma vida normal apesar das mudanças no sistema alimentar. “No começo foi difícil, pois foi preciso parar de ingerir totalmente o leite e seus derivados para que os sintomas fossem aliviados. Mas agora já é possível introduzir alguns deriva-dos do leite à minha alimentação, mesmo que em pouca quantidade, até saber quanto o meu orga-nismo suporta, porque esses alimentos são uma das principais fontes de cálcio”, ponderou o es-tudante.

Segundo a nutricionista Ana Selma Costa, ali-mentos como brócolis, couve, amêndoas, gerge-lim, entre outros, também são ricos em cálcio e podem substituir o leite e seus derivados numa dieta voltada para a pessoa com intolerância à lactose. “Hoje também temos a facilidade de exis-tir no mercado uma linha de produtos lacfree que é isenta de lactose, porém rica em cálcio, o que ajuda muito na dieta de uma pessoa com intole-rância”, disse. A nutricionista explica ainda que há a possibilidade de ingerir a enzima lactase em forma de tabletes comestíveis ou comprimidos, juntamente com os alimentos que contém lacto-se. Porém, a recomendação é não abusar da enzi-

Intolerância ao açúcar do leite atinge adultos e crianças (Foto: Maíra Silveira)

ma, pois ela pode deixar de ser eficaz no alívio dos sintomas se for usada de forma indiscriminada.

Vale ressaltar que intolerância à lactose e aler-gia a proteína do leite de vaca (APVL) são com-plicações diferentes. “A alergia é uma resposta do sistema imunológico que se manifesta quando a proteína do leite é ingerida. A pessoa que tem a intolerância possui um organismo incapaz de di-gerir um carboidrato presente no leite, no caso, o açúcar, que é a lactose”, pontuou Ana Selma. Du-rante a intolerância à lactose os sintomas apre-sentados são gastrointestinais, ou seja, vômitos, cólicas e diarreia. Já a alergia ao leite é uma rea-ção com sintomas muito mais severos, como con-gestão respiratória, coceira e feridas na pele.

Além disso, é importante lembrar que o leite materno não gera alergia nos bebês, e sim o leite consumido pelas mães que estão no período de amamentação. “Nesses casos, ao constatar intole-rância ou alergia na criança, é preciso suspender todo o leite e seus derivados da alimentação da mãe. Assim, o bebê pode ser amamentado nor-malmente”, ensina a nutricionista. Em todos os casos o acompanhamento médico é fundamental, pois serão realizados os exames necessários para identificar e tratar uma pessoa de forma super-visionada, com toda estrutura necessária para o caso de uma reação acontecer.

A nutricionista Ana Selma tira dúvidas sobre intolerância à lactose (Foto: Maíra Silveira)

Page 9: A urgência do Velho Chico

políticapolíticacriança&adolescente

9

A leitura é uma das principais fontes da formação de um indivíduo. Através dessa habilidade, é possível for-mar um sujeito mais consciente, crítico e um cidadão, em potencial, para transformar sua condição individu-al, cultural e social. Mesmo diante do intenso apelo a brinquedos, brincadeiras massificadas e fúteis em nos-sa sociedade, é ainda possível formar um público leitor na infância e adolescência.

O apelo a essa massificação é tão forte e preocupante que gerou, em abril de 2014, uma resolução do Conse-lho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), e foi tema do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) deste ano.

O mercado editorial infanto-juvenil cresce a cada ano. As estantes das livrarias aumentam seus títulos direcionados a esse público. Também cresce o núme-ro de autores que fascinam tanto as crianças quanto adolescentes, através da leitura lúdica que povoa o seu imaginário.

Segundo a empresária do ramo de livros Fátima Es-cariz, as obras de literatura infanto-juvenil foram um grande sucesso editorial neste ano. Escariz conta que o mercado editorial investiu muito nesse tipo de litera-tura e realmente obteve êxito. A empresária conta tam-bém que a procura de livros infanto-juvenis era maior em dezembro e nos meses de férias escolares, mas ago-ra a busca é constante em todas as épocas do ano. Além disso, Escariz destaca que os próprios jovens chegam às livrarias para adquirir seus livros, diferente de outrora, que eram os pais, tios ou professores que os presente-avam.

Dentre os mais vendidos para o público infanto-ju-venil estão obras como: “Diário de um Banana” (Jeff Kinney), “O Pequeno Príncipe” (Antoine de Saint), “Estonteantes” (Sara Shepard), “Diário de uma garota nada popular” (Reneé Russel), “Insurgente-Divergen-te-Convergente” (Veronica Roth) , “A Esperança” (Su-zanne Colina) e os livros de John Green “A Culpa é das Estrelas”, “Quem é você Alaska?”

Estímulo a LeituraDiversas iniciativas e projetos contribuem para o es-

tímulo a leitura das crianças e adolescentes. As rodas de

leitura e contação de histórias destacam-se por ser um tra-balho que obtêm sucesso no incentivo a leitura.

Para a escritora sergipana Jeane Caldas, a contação de histórias é uma das ações de incentivo a leitura mais efi-cazes no campo educacional. “O professor que desenvolve a contação de histórias em sua escola conquistará, sem dú-vidas, um maior número de leitores, pois o ato de contar histórias tem o poder de en-cantar, humanizar e despertar a curiosidade das crianças so-bre o livro, o autor e a literatu-ra de um modo geral”, explica.

Com quatro obras infan-to-juvenis publicadas, Jeane Caldas relata que mercado editorial é bastante competitivo. “Apesar disso tento fazer o meu trabalho com cuidado e sem precipitação para oferecer ao leitor infantojuvenil obras atrativas que garantam prazer literário e estético”, conta.

Caldas ressalta que o livro voltado para esse público deve ser bem planejado. “O escritor deve ter um olhar especial para cada elemento que compõe uma obra lite-rária destinada a um público tão exigente, pois a criança é muito verdadeira. Ela não pensará duas vezes em di-zer que uma história é chata”, conta.

A escritora relata que o livro voltado para esse pú-blico deve ser bem planejado. Cuidados com o texto, personagens, linguagem, projeto gráfico, etc, devem ser tomadas. “O escritor deve ter um olhar especial para cada elemento que compõe uma obra literária destina-da a esse público tão exigente, pois a criança é muito verdadeira. Ela não pensará duas vezes para dizer que um livro é chato ou não. Todos esses detalhes são es-senciais para atrair a criançada a mergulhar em suas histórias”, finaliza.

LITERATURA INFANTO-JUVENIL Segundo a empresária do ramo, Fátima Escariz, o mercado editorial infanto-juvenil cresce em 2014. Jovens tem buscado cada vez mais livros

Wilmarques [email protected]

Segundo o professor e ator Manoel Cerqueira, a con-tação de histórias tem contribuído muito para estimu-lar a leitura, por ser guardiã da oralidade e da narrativa. “Tive uma experiência durante três anos, formei jun-tamente com uma professora e uma bibliotecária um grupo de contação de histórias. Tivemos momentos mágicos e acredito que se a criança não saiu estimulada para abrir um livro, com certeza ela saiu cheia de ima-ginação”, relata.

Cerqueira acredita que o estímulo à leitura não tem uma fórmula e é preciso respeitar individualidades, processos e contextos. “O estímulo não se compra em supermercado, muitos menos em farmácia. Ele está na mediação que o adulto formador faz entre a criança e o livro”, conclui.

Foto: Arquivo Pessoal / Roseneide Santana

Page 10: A urgência do Velho Chico

10 comportamento

Sentada na cama de madeira que lhe suporta há 11 anos, uma mulher de cabelos em for-

mato de nuvens desliga o telefone e espera minha apresentação. Identifiquei-me e pedi para sentar numa cadeira próxima à cômoda repleta de bugi-gangas e lembranças. Do lado esquerdo do mó-vel, um porta-retratos decorado com a fotografia do único filho dava o ar de sua graça a um am-biente carregado de idade.

“Era a minha sobrinha de Brasília. Tem uma alma bondo-sa demais. Quando vem à Ara-caju, a primeira coisa que faz é vir me ver”. Dona Odette – “com dois ‘tês’, viu?” – ajeitou uma pilha de cinco livros próxima à cabeceira, e esperou, com um olhar caloroso, que a conversa começasse. Como a maioria dos residentes do Asilo Rio Branco, era viúva e fora deixada ali por um membro da família.

Ex-dona de casa, a senhora de 86 anos viu seu mundo recém--criado desandar quando o ma-rido, 30 anos mais velho, faleceu de derrame. “Era muita preocu-pação que ele tinha com o outro filho”. Uma cria do primeiro ca-samento que viria a deixá-la sem um tostão, após a morte do pai. Foram apenas seis anos de um casamento conturbado com o ex-industrial que, fora um filho, não lhe rendeu herança alguma. “O primeiro filho tomou tudo e eu não quis brigar”.

Nascida no início do século XX, casou-se velha para os pa-drões da época, aos 34 anos. Não era muito de festa, mas gostava de dançar. O marido não. “No começo, a

gente discutia, com o passar do tempo eu me ca-lei”, disse e em seguida aconselhou-me: “Minha filha, na vida, a única coisa que a gente pode fazer é aceitar.”

Com uma boca de quatro anos para alimentar, além da sua, dona Odette achou um sustento re-vendendo produtos Avon. “Lá no Rio mesmo eu comecei a me virar. Naquela época ser revende-dora era bom porque tinham umas ruas delimi-tadas para vender. Por dez anos eu tive um terri-tório só meu”.

Agora ela tinha um território de quatro pa-redes, com banheiro adaptado e uma colega de quarto. Mas esta, diferentemente da maioria das pessoas com quem se divide um cômodo, não lhe importuna, não mexe em seus pertences ou pede sapatos emprestados. Não conversa, reclama da família ou ouve música alta: apenas mantém os olhos fechados e abre a boca quando lhe dão co-mida. “Ela está doente de quê?”, perguntei. “De velhice, minha filha”.

Como uma migrante, Maria Odette Barbosa Santos Capucho mudou-se de Aracaju para Sal-vador, depois para o Rio de Janeiro e de lá para São Paulo. Na primeira travessia, foi cuidar da própria vida, na seguinte, cuidar da mãe e, na ter-ceira, foi trabalhar junto com o filho para sobre-viver. “O povo de São Paulo era fechado – falou, com uma careta no rosto – não deu para vender

Avon lá não”. Sem outra opção, o jeito foi virar doméstica.

A viuvez que lhe serve como estado civil per-durou por todos os anos seguintes. Vivendo para criar o filho, a ex-revendedora até tentou ter ou-tros relacionamentos, mas nenhum lhe serviu. Vendeu sua mão-de-obra nas terras paulistanas até que o filho pudesse se estabilizar. “Ele traba-lhou, namorou, casou e depois eu não podia mais morar com ele”. Como a idade não lhe permitisse batalhar pela própria rotina, dona Odette tam-bém não poderia morar sozinha. Numa migração dependente, ela fez a provável última viagem da vida, antes de embarcar para o infinito descanso: regressou à Aracaju.

E regressou para a casa dos pais, onde nasceu. Mas não ficou tanto tempo quanto queria por lá. Com o corpo começando a mostrar a fraqueza da velhice e os pais mortos, os irmãos de Dona Odet-te quiseram repartir o imóvel. “Me colocaram aqui para verem se eu morria, para eles fazerem o inventário sozinhos”. Numa conta de divisão, quanto menor o número de divisores, maior o quociente.

“Mas eu não morri”. Diferente da primeira vez em que negou seus direitos com a morte do côn-juge, a calejada senhora contratou um advogado e conseguiu sua parte da herança. Porém, se havia dinheiro a mais no banco, havia saúde a menos no

CONJUGANDO O VERBO ENVELHECER

Jéssica Franç[email protected]

Foto: Jéssica França

Dona Odette relembra suas vivências

“A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer A barba vai descendo e os cabelos vão caindo pra cabeça aparecer Os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que agora é pra valer Os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer” (Envelhecer, Arnaldo Antunes)

Page 11: A urgência do Velho Chico

11 comportamento

Fora a venda do pedaço de chão da família, Dona Odette não juntou grandes riquezas, paixões ou amores. Viveu uma vida quieta, calada e inibida. O medo de ver as pessoas sofrendo lhe impediu de graduar-se médica ou enfermeira, apesar de preci-sar aguentar firme enquanto sua colega de quarto geme de dor ao ser carregada. “Também não quis ser advogada, imagine defender bandido! Incrível como, por dinheiro, as pessoas fazem tais coisas”.

Como nunca gostou de travar grandes lutas, de-pois de algumas tentativas frustradas de dividir suas experiências com um parceiro, abandonou o tatame e recolheu-se aos livros, terços e orações. “Eu rezo pelas pessoas porque quando a gente pede a Deus pelo bem de alguém, somos abençoa-dos em dobro”. O terço é rezado sete vezes ao dia.

Pedi uma foto. Ela pegou uma escova-espelho, olhou o rosto alegre, o cabelo em pluma alva, ajei-tou novamente os livros e consentiu o retrato.

De toda a receita mensal de cada idoso, o asilo fica com 70% para a manutenção da vida ali. Para quem ainda domina, pelo menos a consciência, os outros 30 servem para as necessidades pesso-ais. Grata por tudo o que tem, d. Odette acumula poucos luxos e revela duas utilidades para o seu dinheiro: comprar loções Avon e almoçar no sho-pping. “Minha filha, eu amo ir até lá, comer um pouquinho de cada coisa e passear”.

Acostumada à quietude de seu quarto, pertur-bada às vezes por algum grito vindo de alguém que já não liga para o que o mundo vai achar, Odette--com-dois-tês pode examinar, naquele recorte da cidade, o fervilhar das pessoas que correm contra o tempo e engolem suas comidas.

Apesar de sua vontade, o que lhe tinham a servir naquele dia era o refeitório da casa. Às 10h27 ela começou a preparar-se para chegar até lá. “Você me leva?” e arrumou seus talheres, jogo americano e sementes de chia.

A menos que assinem um termo de responsa-bilidade, ela não sai do asilo para nada. As mis-sas são realizadas todos os domingos numa capela própria, lugar onde d. Odette sempre frequenta. A menos que a celebrante seja mulher. “Já disse às enfermeiras: se vier mulher de novo, eu não vou – nem me levem! Aonde já se viu, minha filha, mu-lher celebrando missa?”.

Quando a idade chega, a conduta social já não é assunto em pauta, assumir o que pensa é algo tão natural quanto as tantas rugas no rosto. A ve-lha senhora, que outrora recolhia-se para não dis-cordar do mundo, aprendeu a falar o que não lhe agrada. “Envelhecer é isso, a gente vai sendo es-quecido aos poucos. Tem gente que vem aqui por pena, tem gente que vem por obrigação, tem gente que vem por curiosidade”. E neste último talvez eu me encaixasse.

Enquanto íamos em direção ao esperado almo-ço, ela numa cadeira de rodas e eu a empurrar, uma colega a elogiou: “essa daí é a mais bonita daqui”. Concordei. Alguns minutos depois, uma velha cigana quase cega notou minha presença e perguntou se era casada. Com uma resposta ne-gativa disse, em suas previsões: “mas vai casar”. Enxerguei uma aliança em seu dedo anelar e questionei sua condição civil. “Nunca casei”.

Voltei a minha entrevistada que, já acomoda-da, aguardava o relógio bater 11h. Sorriu, ajeitou o cabelo aparado por algum cabeleireiro expe-riente de shopping e concluiu: “Vou rezar por você também”.

Dona Odette é personagem do quadro populacional brasileiro que vem envelhecendo. Com a corrida econômica e o controle da natalidade, a saída para as fa-mílias é ter menos filhos e acu-mular mais riquezas. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), contabilizam que o Brasil tem 20,6 milhões de idosos, número que representa 10,8% da população total. A ex-pectativa é que, em 2060, o país tenha 58,4 milhões de pessoas

idosas (26,7% do total).

Segundo a Organiza-ção das Nações Unidas (ONU), uma em cada nove pessoas do mun-do tem mais de 65 anos. Estima-se também que, em 2050, haverá mais idosos que crianças

menores de 15 anos.

Contra a terceira idade, em 2012, a Se-cretaria de Direitos Humanos (SDH) re-gistrou 68,7% de violações por negli-gência, 59,3% de violência psicológica, 40,1% de abuso financeiro/econômico e violência patrimonial, sendo para esta população o maior índice desta viola-

ção, e 34% de violência física.

O Pacto pela Vida, de 2006, propôs explicitamente a ques-tão do ciclo do envelhecimen-to como um tema fundamental na área de saúde, e o Estatuto do Idoso, de 2003, assegura, por exemplo, o tratamento de saúde e a assistência de um sa-lário-mínimo para todo idoso que esteja na linha de pobreza.

O Ministério da Saúde previu um orçamento de R$ 28,5 milhões para a Política de Atenção à Saúde do Idoso, mas só aplicou R$ 14,8 milhões.Para o Programa de Di-reitos do Idoso, da Se-cretaria dos Direitos Humanos, estavam pre-vistos R$ 5,8 milhões, dos quais apenas R$ 623 mil foram gastos.

Page 12: A urgência do Velho Chico

12 cultura

Japaratuba, a 54 km de Aracaju, já vive a ex-pectativa para realização do maior encontro cul-tural do município, o Festival de Artes Arthur Bispo do Rosário. A menos de um mês para acon-tecer o evento, já é possível sentir a vibração de zabumbas, apitos e pisadas de diversos grupos folclóricos. Porém, toda essa movimentação não disfarça a tristeza sentida por alguns represen-tantes desses grupos, que reclamam da falta de apoio da gestão pública do município na manu-tenção e fortalecimento da cultura local.

A revolta se fez ainda mais presente quando, no último dia 25 de novembro, a Prefeitura, jun-tamente com a Secretaria de Cultura, anunciou o corte das verbas que eram repassadas aos gru-pos como forma de incentivo a preservação e apresentação dos grupos no festival de artes. Será pago apenas um cachê pela apresenta-ção. Para Carlos César Batinga, filho do Mes-tre Batinga que coordenou durante décadas o cacumbi mais famoso da cidade, Cacumbi de Batinga, os gestores do município não tem compromisso nenhum com o fortalecimento da cultura. “Se eles quisessem manter a cul-tura viva, dariam a subvenção para manter os grupos, que isso foi comentado por eles, disseram que todo ano tinha subvenção para manutenção dos grupos e isso não está exis-tindo”, declarou César, que está tentado ativar novamente o Cacumbi que foi do pai que esta-va inativo desde 2007, um ano após a morte do Mestre Batinga.

Outro que reclama desse fato é o Sr Bom-fim dos Santos, mais conhecido como Bomfim

da capoeira. Segundo ele, essa falta de apoio só dificulta ainda mais o trabalho deles. “A gente rala, damos o nome à cidade de celeiro da cultura sergipana. O que a gente ganha é no mínimo pra pagar os gastos com as roupas, é sofrido, quem está à frente sabe das dificuldades. A dificulda-de eu acredito que é porque os gestores não tem compromisso, não sabem fazer cultura, quem está à frente de cima a baixo não entende, e se aproveita da nossa boa vontade, que gostamos de cultura e fazemos por amor. O folclore sofre porque quem está à cima não tem compromisso social nenhum.”, relata Bomfim.

Todavia, os problemas não são apenas finan-

ceiros, a própria estrutura do Festival é questio-nada: representantes dos grupos reclamam da falta de respeito, da falta de tempo para mostrar os trabalhos desenvolvidos e, que isso tudo, só leva ao descontentamento não só dos que fazem cultura, mas também dos que prestigiam a cul-tura, a população. César reclama do tempo de apresentação. “É pouco, deixa a desejar, porque são muitos grupos, então tem que ter um espaço maior pra serem divulgados os grupos da cidade. Porque a gente trabalha, se prepara pra fazer bo-nito, quando chega na hora, não tem o espaço que merece. E acaba não mostrando para o público o que temos para mostrar.”, disse.

Já Elenilton Santos, que comanda a quadri-lha Junina Acauã do Vale e o grupo cultural “Os cabras de Lampião”, diz que às vezes acon-tecem até de cortar o som da apresentação para que o grupo termine com ela imediata-mente, o que, para ele, é uma falta de respeito com os grupos e com o povo. “A cultura é do povo, a cultura vem do povo e vai para o povo. Quando a gente vai fazer uma manifestação folclórica, que a gente ganha às ruas, na ver-dade a gente vai contagiar, e ai a gente preci-sa de tempo que é pra contar a nossa história, que é pras pessoas entenderem o que a gente quer transmitir. E onde está o povo? Porque se a cultura é do povo, veio do povo e vai para o povo, onde é que está o povo? É uma falta de respeito enorme. Falta incentivo, Japaratuba tem raízes fortíssimas, é rica em cultura, mas na verdade o poder público não está sabendo utilizar da riqueza que Japaratuba tem”, atesta Elenilton.

DIFICULDADES NA TERRA DE BISPOGrupos folclóricos e Secretaria Municipal de Cultura de Japaratuba estão tendo trabalho na preparação para o Festival de Artes Arthur Bispo do Rosárioi. Verbas e patrocínios foram cortados.

Samba de Coco de Japaratuba (Foto: Diego Sansi/ Secom Japaratuba

Eleniton (esquerda) e César (direita). (Foto: Arquivo Pessoal)

Whagner Alcântara e Eduardo Santos [email protected] [email protected]

Page 13: A urgência do Velho Chico

cultura13

Sobre o assunto, Robson Rodrigues, Secretário Municipal de Cultura, explicou que alguns fatores levaram ao não repasse das subvenções, a exem-plo da não prestação de contas por parte de al-guns grupos referente ao valor recebido em 2013, que num total somou 115 mil reais. Robson também aponta outras causas: “Além disso, tivemos dificul-dades por 2014 ter sido ano de copa do mun-do e também eleição. Até o momento não c o n s e g u i m o s nem recursos vindo do Minis-tério da Cultu-ra, do Turismo e até mesmo governo do es-tado”. Quanto ao tempo de apresentações dos grupos, o secretário afir-ma que foram realizadas vá-rias pesquisas, inclusive junto à população, e c o n s t a t o u - s e que 30 minutos de apresenta-ção para cada grupo é o ideal. “Temos uma média de 12 grupos se apresentando a cada noite, se a gente esticar mais o tempo, o público reclama muito, pois termina muito tarde e a maioria das pessoas trabalha no dia seguin-te.”, explica.

Falando sobre a procura de soluções para esses problemas, Robson diz que ao término do Festi-val de Artes Arthur Bispo do Rosário, ele junto com a equipe da Secretaria Municipal de Cultura faz um levantamento de tudo o que aconteceu no festival e se reúnem com os representantes dos grupos participantes para discutirem possíveis melhorias.

O Conselho Municipal de Cultura

Um Conselho Municipal de Cultura foi criado em 2013 pela gestão municipal e alguns fazedo-res de cultura, com intuito de facilitar a resolu-

ção desses problemas. Na criação do Conselho determinou-se que a repartição das rendas seria da seguinte forma. 50% ficam com as organiza-ções não governamentais, com a sociedade civil organizada, 30% com os trabalhadores da área, sindicatos e prestadores de serviços e os outros 20% com a gestão pública.

Hoje já é possível carrear recursos diretamen-te do Ministério da Cultura para o Conselho, um mecanismo que o presidente do órgão, Gilberto dos Santos, considera muito importante pelo se-guinte fator. “A grande maioria dos municípios desse país não tem um conselho de cultura, não

tem um fundo municipal, pra onde é que vai essa verba? Vai pra uma conta especial da prefeitura, com o CGC (Cadastro Geral do Contribuinte) do município, e ai o gestor de cultura, que é parceiro do prefeito, vai utilizar aquela verba da forma que ele aprovar. E aos fazedores de cultura vão sobrar apenas as raspas”, relata.

Gilberto ainda conta o que espera do trabalho dos gestores da cultura em Japaratuba, e frisa a necessidade de expansão da visibilidade dos mo-vimentos artísticos e culturais da terra das caba-cinhas e de Arthur Bispo do Rosário. “Japaratuba pela sua riqueza cultural, não devia ter se torna-do perdulária, essa é a verdade. Ficar a deriva esperando o minguado da gestão pública. Nós já temos um conselho, nós já estamos começando uma nova vida cultural no município, mas é ne-cessário que a gestão pública não só atrele a car-ruagem da cultura, mas que bote um autofalante bem grande em cima dessa carruagem.”, finaliza.

“Japaratuba em Rede”

O Instituto Banese está desenvolvendo o pro-jeto “Japaratuba em Rede: Juventude, Cultura e Cadeias Produtivas”. Trata-se de um projeto que será desenvolvido junto com jovens da Ja-paratuba, atuantes em movimentos culturais. O Japaratuba em Rede e patrocinado pela Petro-bras, através do programa “Integração Petrobras Comunidades Nordeste”, lançado em agosto de 2013.

Já foram escolhidos 70 jovens de diversas loca-lidades para participar da primeira atividade, que é fazer uma cartografia da cidade, essa atividade será ministrada pela professora do departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe, Maria augusta. A finalidade é encontrar elemen-tos característicos da cultura, do ambiente e com-portamento local. Após essa atividade, 50 jovens seguirão no projeto.

O objetivo geral é fomentar na mente dos jo-vens fazedores de cultura, a possibilidade de for-talecimento dos grupos culturais, de maneira a implantar um pensamento cooperativista visan-do geração de emprego em renda por meio da cultura, melhorando assim, a situação financeira dos grupos e também daqueles que o compõe.

O projeto é realizado com a parceria da Secre-taria Municipal de Cultura, Secretaria Municipal de Juventude, Esporte e Lazer, Câmara de Verea-dores de Japaratuba, Ação Social Professora Eli-zabeth e Ponto de Cultura Caatingart.

Cacumbi de Japaratuba (Foto: Diego Sansi/ Secom Japaratuba)

Grupo de Reisado (Foto: Diego Sansi)

Page 14: A urgência do Velho Chico

cultura14

O CENÁRIO ATUAL DA DANÇA EM SERGIPE

Elson [email protected]

O número de escolas de dança tem aumentado significativamente e a criação do curso de licenciatura, na UFS, trouxe novas perspectivas para a área

A dança é considerada por muitos, uma das mais belas manifestações artísticas. Com suas diversas faces e possibilidades, ela vem se apri-morando ao longo dos anos e cada vez mais tem atraído adeptos de todas as idades e com os mais variados interesses. Uns escolhem a dança como profissão, outros, como um hobby. De todo modo, ambos nutrem um claro prazer pelo movi-mento e pela liberdade que o ritmo proporciona. Nos últimos anos, o número de academias e centros de dança em Sergipe, tem aumentado significativamente, assim como a procura pe-las aulas. A maioria está localizada em Araca-ju, mas no interior do estado, em cidades como Estância e Lagarto, também já é possível en-contrar locais destinados a este tipo de ensino. Uma das principais responsáveis pelo desenvol-vimento da dança em Sergipe é a bailarina, co-reógrafa e professora Lú Spinelli, que desde 1971 tem realizado diversos trabalhos significativos na área. Na época em que se mudou para Aracaju, não existia nenhuma escola de dança, e diante do cenário encontrado, ela decidiu montar o Stu-dium Danças. A ideia foi concretizada com a ajuda de um bailarino pernambucano, Alcides Muniz, que dançava na Europa, mas aceitou o convi-te de participar do centro e voltou para o Brasil. Lú Spinelli é delegada do Conselho Brasileiro de Dança e também conselheira de cultura do estado, na cadeira relativa à sua área de atua-

ção. Tanto reconhecimento é, segundo ela, fru-to de muita dedicação e empenho. “Ao longo desses anos sempre procurei dar o meu melhor, fazendo tudo com seriedade e empenho. Eu es-tou sempre buscando novos conhecimentos dentro e fora do país, para que eu possa aprimo-rar o ensino e trazer novas técnicas”, afirmou. Este ano, Lú Spinelli está assinando pela 43ª vez, a direção do Festival de Dança Contempo-rânea, que acontece anualmente no mês de de-zembro, durante dois dias seguidos. O acesso ao festival é gratuito e segundo Lú, este fator é de suma importância para a formação de um pú-

blico para a área. A professora conta que sua in-tenção é democratizar a dança, e por isso, nun-ca cobra ingresso para os eventos que promove. Depois de 43 anos formando profissionais, no Studium Danças, Lú Spinelli se dedicará a partir de 2015, a outros segmentos na área, e por esta razão estará fechando o centro de dança. “Estou fechando um ciclo, sinto que o meu papel na área de formação de profissionais já foi cumprido. Vou continuar atuando na área da dança, mas agora em outros setores, como participar de curado-rias, consultorias, palestras. Também preten-do coreografar em outros estados”, completou.

Giulia Santos Madureira é a segunda sergipana a ser aprovada na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. (Foto: Elson Mota)

Giulia dedica pelo menos três horas diárias para ensaiar os seus passos de ballet.(Foto: Elson Mota)

Page 15: A urgência do Velho Chico

cultura15

O CENÁRIO ATUAL DA DANÇA EM SERGIPEO ensino superior em dança

A dança também já tem um espaço garantido no estado, no que diz respeito ao ensino superior. Criado recentemente, o curso de licenciatura da Universidade Federal de Sergipe, possui duração de 4 anos e conta com cerca de 14 professores no corpo docente. A criação do curso possibili-tou que os interessados pela área não precisas-sem buscar formação fora do estado. Como é o caso da estudante Katharina Valesca, que ingres-sou no curso no primeiro semestre deste ano. A estudante afirma que possui uma relação muito forte com a dança e que o seu conta-to com a mesma, vem acontecendo desde a sua infância. “A dança faz parte da minha vida des-de muito cedo. Minha mãe se envolveu com a ginástica rítmica e com o ballet clássico, mas não levou à frente. No decorrer dos anos me envolvi muito com grupos de dança e partici-pei de apresentações do colegial”, comentou. Apesar de ter recebido o apoio total da famí-lia, quando prestou o vestibular para o curso, Katharina conta que algumas pessoas estra-nharam a sua escolha, no início, mas que de-pois se acostumaram. Ela tinha 13 anos quan-do decidiu que queria seguir a dança como profissão. A universitária acrescenta que a possibilidade de transmitir mensagens atra-vés do corpo, sem utilizar a fala, é fascinante.

Uma sergipana no Ballet Bolshoi

O Estado de Sergipe terá mais uma vez uma re-presentante na Escola do Teatro Bolshoi no Bra-sil, uma das mais importantes escolas de ballet do mundo. Localizada em Joinville, Santa Ca-tarina, ela é a única extensão do teatro, fora da Rússia. Há 15 anos, uma sergipana chegou a ser aprovada, porém não conseguiu concluir o curso. Agora é a vez de Giulia Santos Madureira, de apenas 13 anos de idade, natural de Nossa Se-nhora do Socorro, trilhar a sua história. Ela e sua família não mediram esforços para que fos-

se possível transformar em realidade, esse so-nho que é alimentado desde os primeiros anos de sua vida. Ela faz aula de dança há 9 anos. Até a aprovação final, Giulia participou de duas seletivas, com três etapas, cada. A primeira foi realizada em Camaçari, na Bahia, e a segunda em Joinville, Santa Catarina. A pequena bailari-na conta que recebeu a notícia de sua aprovação, poucas horas depois de ter feito a última audi-ção em Joinville. “Eu estava num táxi, voltando para o hotel, quando recebi a notícia. Minha mãe, meu professor e meu tio estavam comigo, quan-do recebemos a ligação de um amigo contando a novidade. Inicialmente não acreditamos, porque o resultado estava previsto para sair mais tarde, mas quando olhamos no site, tivemos a confir-mação. Foi um momento de muita felicidade, nós começamos a gritar de emoção”, comentou. Mas não foi fácil conseguir o dinheiro para cus-tear a viagem. Para que a participação de Giulia na segunda audição fosse possível, seus fami-liares e professores realizaram diversos eventos para arrecadar fundos. Eles ainda continuam re-alizando eventos, mas agora com intuito de arre-

ENTREVISTA

Lú Spinelli é um dos principais nomes da dan-ça, em Sergipe. Ao longo desses 43 anos de atu-ação no estado, ela já formou diversos profissio-nais e vem lutando para democratizar a dança e formar um público cada vez mais cativo. Lú é delegada do Conselho Brasileiro de Dança, há 23 anos, e conselheira de cultura do estado, na cadeira de dança. Na entrevista, a bailarina, co-reógrafa e professora fala do fechamento do Stu-dium Danças e da nova fase de sua carreira. Em 2015, ela se dedicará a novos segmentos da área.

Contexto - Quando você chegou ao estado, em 1971, ele não possuía escolas de dança, em atividade, e percebendo essa lacuna você criou o Studium Danças. Como foi o processo de cria-ção?

Lú Spinelli – Quando cheguei aqui, em 1971, já tinha existido uma escola de ballet, mas es-tava fechada e não existia nenhuma escola de dança moderna, dança contemporânea, afro ou jazz. Então decidi trazer esses estilos para o es-tado, através da criação do Studium Danças. Convidei um bailarino pernambucano, que mo-rou muito tempo na Europa, dançando em com-panhias de lá, para abrir a escola aqui. Ele ficou responsável pela parte do clássico, e eu, pela par-te de dança moderna e dança contemporânea.

Contexto – De que forma você contri-buiu para a evolução da dança em Sergipe?

Lú Spinelli - Acho que a minha contribuição foi significativa. Trouxe muitas pessoas importantes para Sergipe. Sempre busquei trazer professores renomados, palestrantes, coreógrafos e realizei eventos importantes na área. Além disso, for-mei diversos profissionais durante esses 43 anos. Nesse período também tenho assinado a direção do Festival de Dança Contemporânea, sempre lu-tando para proporcionar a entrada gratuita, para formar público para a dança, aqui no estado. Eu sou delegada do Conselho Brasileiro de Dança, há 23 anos, e conselheira de cultura do estado, na ca-deira de dança, e procuro contribuir, como posso.

Contexto – Você é um dos principais nomes da dança em Sergipe e já recebeu diversas home-nagens, não só no estado, mas também fora dele. Como se sente diante de todo esse reconhecimento?

Lú Spinelli - Eu fico muito feliz. Graças a Deus o meu trabalho sempre foi muito prestigiado, por-que eu também procurei dar o meu melhor, fazer tudo com seriedade e sempre busquei novos co-nhecimentos. Eu nunca fui uma pessoa que mer-cantilizei a dança, nunca procurei ganhar dinhei-ro com os meus eventos, pelo contrário, muito me sacrifiquei e lutei para democratizar a dança.

Contexto – Após 43 anos, você decidiu fechar o Studium Danças. Por que tomou essa decisão?

Lú spinelli - Estou fechando o Studium Dan-ças para me dedicar a uma nova fase da minha carreira. Estou fechando um ciclo, sinto que o meu papel na área de formação de profissio-nais já foi cumprido. Vou continuar atuando na área, mas agora em outros setores, como par-ticipar de curadorias, consultorias, palestras. Também pretendo coreografar em outros esta-dos. Acho que a escola já cumpriu o seu papel, já profissionalizou muita gente. Agora só vou ficar com duas turmas antigas, em um lugar menor.Até a aprovação final, Giulia participou de duas

seletivas com 3 etapas, cada. (Foto: Elson Mota)

Lú Spinelli é bailarina, coreógrafa, produtora e professora de dança. (Foto: Elson Mota)

Lú Spinelli e sua trajetória na dança em Sergipe

cadar fundos para mantê-la no curso. No próxi-mo dia 22 de dezembro, às 19h, no Teatro Tobias Barreto, será realizado o espetáculo “Arte, So-nhos e Memórias”, o último da garota, este ano. Todo o valor arrecadado com o espetáculo será em prol da permanência de Giulia, em Joinville. Apesar da pouca idade, a garota mantém uma rotina regrada de ensaios e cumpre com to-das as suas obrigações escolares. Ela estuda no turno da manhã e faz suas atividades es-colares à noite. Pelo menos três horas de suas tardes são dedicadas ao ballet. Quando um espetáculo está próximo, os ensaios são inten-sificados e essa quantidade de horas aumenta.Giulia dará início aos estudos no Bolshoi, em ja-neiro de 2015. Ela ingressará no curso técnico de nível médio em dança clássica, que terá a duração de aproximadamente 5 anos. Ela já faz planos para quando estiver formada. “Quando eu me formar, pretendo ingressar em companhias de dança e sair em turnê pelo mundo, ou então abrir minha pró-pria academia de dança. Futuramente pretendo ajudar a realizar sonhos de meninas que tenham o mesmo sonho que eu tenho agora”, concluiu.

Page 16: A urgência do Velho Chico

16 tecnologiaOpinião

Menina do interior, filha da senhora Marta Tâ-nia dos Santos e do senhor José Basílio do

Santos, a estudante em jornalismo, Tatiana dos San-tos, quando adolescente sonhava em morar na cidade. Portadora de uma deficiência física (decorrente de pa-ralisia cerebral) com início na infância, em seus rela-tórios médicos apresenta um quadro de disfônia e ata-xia apendicular, ou seja, movimentos distônicos em membros superiores sendo investigados por equipes neurológicas, acompanhada por psicólogos, cirurgiões dentistas e entre outros.

Sempre amada pelas pessoas as quais teve a opor-tunidade de conviver no passado, conseguiu su-

peração para vencer os obstáculos. Seus avós foram inspiração para que a mesma não desistisse dos seus sonhos, já que a batalha destes era árdua e sofrida. Casada muito nova, minha mãe não teve a oportuni-dade de estudar porque precisava trabalhar para aju-dar meu pai a criar meus outros quatros irmãos todos relativamente bem de saúde, além disso, uma de suas filhas necessitava de cuidados especiais para poder vi-ver e com ajuda de vizinhos, amigos e familiares cria-ram seus cincos filhos.

Hoje todos nós nos encontramos bem. Até eu que era uma criança inocente, evolui fisicamente, psi-

cologicamente, mas nada disso foi fácil. Só quem me acompanhou durante o processo do vestibular é quem pode contar o tamanho do meu esforço para a sele-ção. Uma das testemunhas dessa experiência é a pro-pria cordenadora do concurso, a Dona Elena, poís ela foi a mais importante do que todas as outras pessaos que estiveram presente no periodo do vestibular, suas orientações, recepções e apoio me estimulou para que eu não desistisse. Sem contar das “velhas” amigas as quais chamava de tia Nete Oliveira e Nilda Oliveira, conquistadas aqui em Aracaju, que me acolheram em suas casas nos dias de provas. Uma delas era casada com o meu tio no ano do concurso vestibular.

Quando entrei na faculdade, ninguém viu minha tamanha felicidade devido às várias tentativas; mi-

nha irmã que sempre estava presente em cada ano do vestibular. Viajou para São Paulo em busca de novas oportunidades, já que suas tentavias na UFS para o curso de direito a fez desistir de continuar em Sergipe. Sempre persistente, insiti em continuar e conquistar minha vaga na UFS: depois de ter concluido o ensi-no médio no ano de 2004, fui aprovada no Enem pelo Prouni, em 2008, para escolher entre os cursos de tu-rismo, pisicologia e o tão sonhado jornalismo. Só que meus problemas de saúde pioraram neste ano e acabei perdendendo o periodo de matricula na Universidade Tiradente (UNIT).

Mas isso, não fez desistir, continuei estudando cur-sos prepratórios oferecidos pela prefeitura de mi-

nha cidade Moita Bonita, distante a 71 km da Capital, com a orientação de alguns professores conhecidos, assistindo as revisões finais de ano oferecido pelo Go-verno de Sergipe. Em 2010, chegou o resultado tão esperado: fui aprovada primeira colocada como por-tadora de deficiência e 29ª como regular. “Lutei” para que minha mãe me autorizasse a dar continuidade nos estudos, já que a mesma me mantinha sobre sua guar-da por na infância ter sido uma criança indefesa e to-talmente dependente das pessoas.

Às vezes não percebo acolhimento de algumas pes-soas ou colegas, sinto que estes me olham com um

olhar diferente. Lembro-me que, na época do meu en-sino fundamental e médio, havia disputa entre meus colegas quando tinham prova em dupla e trabalho os mesmos queriam que eu fizesse as atividades de classe com eles porque todos da turma me achavam inteli-gente. Hoje já não existe mais isso. Quando há traba-lho em grupo são raros os colegas que me aceitam na equipe e que estão dispostos a ajudar. Acho bem vinda a ajuda de alguém quando é dada com amor, coração e dedicação, agradeço a todos aqueles que direta ou indiretamente me incluiram e ajudaram, pois estes se sentirão orgulhosos com o meu sucesso.

UFS ABRE ESPAÇO PARA INCLUSÃOProjeto “Incluir” garante assistência à portadores de necessidades especiaisTatiana dos [email protected]

Ações no CampusNa UFS, o Núcleo de Inclusão e Acompanhamento

Acadêmico-Pedagógico (NIAAP) é o setor responsável pelo apoio e suporte aos alunos com necessidades es-peciais matriculados na instituição. Ana Priscila dos Santos Alves, Técnica em Assuntos Educacionais, en-tende a inclusão social como o direito de todos cida-dão que quer ser visto como integrante de uma mes-ma sociedade, sendo respeitado em suas diferenças e garantindo seus direitos. "Hoje a inclusão é discutida em todo o âmbito nacional e a UFS faz parte disso.Já existem resoluções próprias sobre a questão. Nela está a criação de uma divisão de ações inclusivas, os direi-tos dos alunos com deficiência e outra porque se trata da monitória para pessoas com deficiência", explica.

Segundo Priscila, é importante o aluno ter um pon-to de apoio no ambiente de estudo. Na UFS existem dois deles que são o próprio setor NIAAP e a sala do "Incluir" na didática 6, os dois ligados ao Divisões de Ações Inclusivas (DAIN). Lá, eles podem solicitar apoio acadêmico com especialização em educação in-clusiva. "Algumas universidades estão bem à frente da nossa no trabalho com as politicas de acessibilidades e outras atrás. Vejo que é uma questão de tempo para

que, o que hoje está em atraso possa avançar em bene-ficio aos alunos com deficiência e esperamos que estes sejam nossos parceiros na melhoria dos serviços pres-tados.", diz.

O apoio que o DAIN oferece, permite que, por exem-plo, o aluno cego chegue à sala de aula sem nenhum acidente no percurso e que tenha a aula expositiva registrada em seu material didático e que possa reali-zar uma pesquisa na biblioteca com o apoio do aluno bolsista. Outro exemplo: há alunos que são usuários de cadeiras de rodas que podem solicitar na sala do in-cluir a utilização de cadeiras de rodas motorizada para facilitar a mobilidade deles. O recurso humano com a solicitação do apoio em sala de aula dos interpretes de libras e dos alunos do auxilio inclusão atualmente é o mais utilizado.

“A maior aliada para que o preconceito diminua é a informação. As vantagens de um portador de necessi-dade especial é a mesma de um aluno sem deficiência estudar ao lado de um com deficiência. A troca de ex-periências através do apoio humano e material, além dos esclarecimentos prestados aos alunos, familiares e departamentos ela ver que o programa inclusão con-tribui no aprendizado do aluno. Espero que o direito de igualdade de oportunidade na educação inclusiva seja atendido”, finaliza.

"Sou natural de São Cristóvão, 24 anos e estou no quarto período do curso de jornalismo. Eu não vou dizer que me sinto totalmente inclui-da na UFS, porque ainda tem muitas coisas que precisam melhorar. Mas a universidade já foi

pior, antes colocavam algumas de minhas aulas para as salas do primeiro andar e as plataformas não funcionavam. Então era preciso da ajuda dos meus colegas, me colocando nos braços, para que eu não perdesse as aulas. Porém, agora já facilita-ram e deixam as plataformas ligadas para assim

que eu chegar, possa subir com a pessoa que esti-ver me acompanhando."

(Lucivânia, estudante de Jornalismo)

Tatiana (à esquerda) e Lucivânia (à direita), estudantes do curso de Jornalismo da UFS. (Foto: André Teixeira)

“Sofro muito justamente por causa da aces-sibilidade. São várias didáticas sendo que temos

que transcorrer de uma pra outra e o acesso é ter-rível. Eles (os operários) estão escavando e quan-

do vou passar a cadeira atola. Estou estagiando no Codap. Outro dia fui desçer a rampa e quando virei para sair de um buraco a cadeira virou. Foi

horrível porque ali é deserto. Fiquei chamando e o pessoal não me viu e eu lá extendida no chão. En-tão incluir não é só jogar na UFS e dar assitência

ao aluno com necessidade especial.”(Elisângela dos Santos, estudante de

Letras-Inglês-Espanhol)

Tatiana entrevista Elisângela. (Foto: Marcos Pereira)

Page 17: A urgência do Velho Chico

tecnolo-17

Baruc Carvalho [email protected]

O JOGO DA ACESSIBILIDADEPesquisador da UFS utiliza o Kinect no auxílio do tratamento médico de pessoas com necessidades especiais

Um, dois, três, quatro... dez. Caiu. De novo. Um, dos, três, quatro, cinco...

dez. E foi ao chão. É sempre assim: o teste de resistência de ficar em um pé só sempre termina ou em desequilíbrio ou em queda. E não é difícil entender a relação: há uma par-te que falta, que desestrutura pela perda. É a deficiência. Imagine-se depois desse exercício ficar m pé, parado, com os dois pés juntos. Parece bobagem, mas essa é uma das ativi-dades mais difíceis para quem tem proble-mas com a coordenação motora. Parar, é, por isso, um desafio diário.

Imagine também, depois de todo o esfor-ço dispendido durante meses de tratamento, com movimentos repetitivos e monótonos, receber o resultado: “Parabéns... sua evo-lução foi muito boa. Aumentou um pouco os reflexos da perna.” A motivação, então, se esvai.

Foi assim, pensando em atender a um pú-blico que estava à margem da condição de normalidade que tomamos como adequada, que Michell Ângelo (29), professor dodepar-tamento de Artes Visuais e Design da Uni-versidade Federal de Sergipe (UFS), teve a ideia, depois de ver o sofrimento do sobri-nho de 5 anos que tem pa-ralisia cerebral, de fazer um jogo que pudesse servir no tratamento fisio-terápico de pessoas com necessidades especiais.

“Eu entendo a tecnologia co-mo uma construção cultu-ral”, repete Michell como um mantra. Não é à toa. O conta-to com o campo da arquitetu-ra de softwares já vem desde o período de realização do Tra-balho de Conclusão de Curso (TCC), quando ainda cursa-va Design Gráfico na Uni-versidade Tiradentes (Unit). E de lá já tomou a tecnolo-gia como necessidade para uma prática cotidiana, com função social. “A tecnologia precisa estar subordinada ao homem, não o homem à tecnologia”.

Mas para desenvolver uma pesquisa desse tamanho é ne-cessário do apoio de muitas mãos. Por isso, Michell com-partilha com a esposa, Elaine Matos, e mais três amigos – Renan Franca, Artur Verón e Luciana Meneguini – a tarefa de

desenhar esse universo lúdico para pessoas com necessidades especiais. A parte prática da pes-quisa se dá na empresa de tecnologia de Renan, a EurekaMob.

O lazer, a informação médica e a possibi-lidade de uma plataforma sem tantos apetre-chos foram as estruturas básicas do projeto. O jogo está sendo desenvolvido através do Ki-nect (dispositivo da Microsoft, utilizado com o Xbox 360 e One, que capta as ações atra-vés de sensores de movimento, sem a ajuda de um controle físico) e visa diminuir, prin-cipalmente, a desmotivação dos pacientes. “Primeiro, objetivamos o lazer dos pacientes para que eles possam se interessar pelo tra-tamento. Depois, a geração de relatórios por-que os resultados eram pequenos e fazer o acompanhamento [nesses casos] é fundamen-tal”, diz Michell.

Segundo Renan, o jogo foi pensado para pessoas com cognitivo bom, com dificulda-des motoras média ou leve para que possam usufruir do Kinect. Mas, “nada impede que consiga atingir outras, independente de ida-de. Porém, não pode ser uma criança de dois anos porque não vai saber usar o Kinect”.

A fisioterapeuta Luciana Meneguini teve papel decisivo na construção da arquite-

tura do jogo. É ela que dá o Feedback e empresta os seus conhecimentos médicos para adequar os desafios de cada nível às deficiên-cias que os pacientes tratam. Como aponta: “O jogo [na concepção inicial] utilizava os braços e eu pensei em utilizar o tronco porque tem pacientes que não têm essa dificuldade [com os braços]”.

No Brasil, há alguns projetos que en-volvem softwares de games para auxiliar no tratamento médico. O mapeamento e diálogo com essas pesquisas tem sido feito e explorado tanto a nível nacional quanto internacional. “Aqui na UFS tem um professor que trabalha com [Nin-tendo] Wii e tem pesquisas também na Finlândia – onde mantemos contato”, revela Michell.

Dessa forma, o confronto que se põe aqui é o da própria vida e de um certo tipo de aceitação. Afinal, essas pessoas só se tor-nam deficientes quando acessam o nosso mundo, de pessoas tomadas como normais. Por isso, a deficiência só faz sentido quan-do a perna que falta é necessária para ficar de pé. E nisso, Michell, Renan, Artur e Lu-ciana sabem bem: não dá para selecionar humanos.

FOTO: BARUC CARVALHO MARTINS

O professor Michell Ângelo, 29, fala sobre a pesquisa que desenvolve utilizando o Kinect para a criação de jogos.

Page 18: A urgência do Velho Chico

tecnologia18

Camilla Araujo [email protected]

“SPOTTED” VIRA HIT NA UFSFanpages ajudam universitarios na busca pelo par perfeito. O “Aviãozinho da UFS” já atingiu mais de 7 mil

curtidas desde que foi criado em seis de julho de 2013

A inserção das tecnologias no cotidiano da nova geração vem gerando diversas discus-

sões sobre até que ponto elas podem ser preju-diciais ou não para nossa vida. Novas formas de se relacionar vem se desenvolvendo ao decorrer dessa era. Aplicativos vem sendo criados para estreitar distâncias que a vida moderna traz, o problema muitas vezes é a forma como eles estão sendo usados.

Mas o que é se relacionar e qual o modo certo para isso? A psicóloga e professora do departa-mento de psicologia da UFS, Danielle de Góes diz que nova geração tem uma perspectiva que sempre haverá um meio externo para fazer essa ligação de uma pessoa e outra. “É muito comum recebermos nos consultório pessoas com algu-mas dificuldades de interagir umas com as ou-tras. Elas acreditam que vão sempre existir uma forma tecnológica que possa fazer essa interação por elas”.

Prioridades estão sendo mudadas e inserir um meio de interação na hora de se relacionar é cada vez mais comum. Comprometendo a forma com que as pessoas interagem umas com as outras, fa-zendo assim surgir um novo fenômeno tecnológi-co. As redes sociais são importantes instrumentos de interação sociais, o Facebook, por exemplo, disponibiliza algumas ferramentas nesse sentido, a mais nova febre entre os jovens universitários do mundo são as páginas “Spotted”.

As famosas “Spotteds”, traduzindo seria “mar-cado”, ou seja, você marca alguém por suas carac-terísticas, foram criadas para quebrar aquele gelo nas universidades. Você se interessa por alguém, manda uma foto ou as características dessa pes-soa e deixa que a fanpage se encarregue de en-contrá-lo e fazer a interação de ambos. Em uma era em que a relações interpessoais estão cada vez mais incomuns esses meios se aproveitam e tomam conta desse espaço com maestria.

O Brasil não iria ficar de fora dessa febre e se for feita uma rápida pesquisa na internet pode-se encontrar diversas universidades com essas pági-nas. Na Universidade Federal de Sergipe (UFS),

a fanpage é intitulada de “Aviãozinho UFS”, cria-da no dia 6 de julho de 2013, por uma necessi-dade que um aluno percebeu. “Encontrei no cor-redor da UFS uma pessoa que fiquei louco para conhecer, mas não fazia ideia de como fazer isso e resolvi buscar na internet algum meio de que isso fosse possível e me deparei com as “Spotteds” e resolvi criar uma”, comenta o “piloto”, como é chamado moderador da página.

Há mais de um ano no ar, a página não para de interagir com seus seguidores e o número de cur-tidas só aumenta com o passar dos dias. Eles tem uma preocupação com a privacidade de quem é exposto e sempre em suas postagens deixam a possibilidade de exclusão caso a pessoa divulgada não queira se expor.

Os motivos que levam as pessoas a buscar esse tipo de ferramenta para se relacionar são diver-sos. Umas por serem tímidas demais, outras por não terem oportunidade de entrar diretamente em contato com a pessoa, já algumas seguem as páginas apenas para acompanhar o que acontece na universidade. Mas no final das contas todas seguem o mesmo caminho, colocar um interme-diador para facilitar o resultado final.

No caso do Aviãozinho UFS, a maioria dos se-guidores é composta pelo público feminino, e são elas que mais enviam recados. Uma explicação para isso pode estar relacionada nossa cultura, pois cabe a figura masculina procurar uma par-ceira e as mulheres utilizam as mídias sociais numa tentativa de quebrar esse dogma. “Mas de 70% dos nossos seguidores são as mulheres, achamos que elas saíram da zona de conforto e entraram na guerra também”, diz a “co-pilota”, como é chamada a segunda moderadora da pá-gina.

Muitas vezes os casos são frustrados e aquela pessoa que despertou seu interesse já está em um relacionamento, mas nem tudo esta perdido pois você pode ser aquilo que a outra pessoa esta procurando. “Na maioria das vezes só fi-camos sabendo porque pessoas conhecidas nos contam, mas já tivemos alguns casos de namoro a

partir da página. Ficamos felizes em poder ajudar de certa forma, as pessoas encontrarem alguém e firmarem um relacionamento”, afirma o piloto.

“Eu sou do tipo de homem que se esconde, por diversos motivos, esse é meu jeito. Fui procura-do por inbox pelos moderadores do Aviãozinho a respeito do interesse de alguém por mim. Fiquei surpreso de inicio, mas a surpresa foi boa e com-pletamos três meses de namoro. Então acho que a idealização da página esta cumprindo com seu propósito”, fala um dos alunos que começou um relacionamento através da página.

O medo de não ser aceito da forma que é, faz com que as pessoas procurem cada vez mais es-sas tecnologias para exercer interação com o meio em que vivem, tendo nos sites de relacio-namentos um meio eficaz de suprir essas neces-sidades. Em menos de dois anos de existência a pagina atingiu mais de 7 mil curtidas, mostrando o quanto as pessoas estão deslocando do mundo real para usar desse artificio tecnológico para se relacionar.

Imagem: Fanpage Aviãozinho da UFS

Fluxo de interação da página

Page 19: A urgência do Velho Chico

19 esporte

Rio de Janeiro, 24 de novembro de 2013. Fla-mengo x Corinthians disputam jogo válido pelo Campeonato Brasileiro no estádio do Maracanã. Sob os aplausos da torcida, os 22 jogadores sen-tam no gramado ao apito do árbitro, e recebem os aplausos dos quase dez mil torcedores. Em um minuto, um protesto com um calendário que exi-ge dos grandes clubes cerca de 80 jogos por ano e com a qualidade da gestão dos dirigentes.

Aracaju, um ano e quatro dias depois. Num va-zio estádio João Hora de Oliveira, o novato Ara-caju Futebol Clube realiza um dos últimos trei-nos para o jogo contra o Boca Júnior de Estância, pela última rodada da Segunda Divisão. Sentados para ouvir a preleção de Wolney Rodrigues, pre-sidente, técnico, roupeiro e uma espécie de “faz--tudo” do time. Os jogadores deixam que a tarde caia e saem aos poucos com o estádio às escuras, na expectativa de apenas jogar bem seu décimo jogo do ano.

Entre os dois cenários, vários pontos em co-mum na agenda de discussões do Movimento Bom Senso Futebol Clube (BSFC), que expõe um cenário desigual, onde 583 dos 684 clubes pro-fissionais não possui calendário anual, tendo que arcar com mais de 16 mil jogadores inativos por mais de seis meses e com salários que não chegam a dois salários mínimos. Em Sergipe, o número chega quase a sua totalidade, mesmo com pers-pectivas de melhoras pelo acesso do Confiança à Série C de 2015. Os clubes aumentaram suas dí-vidas líquidas de 74% em cinco anos – hoje num montante de R$ 4,75 bi, sendo que R$ 2,5 bi são de impostos e encargos pendentes ao Governo Federal. A Série A, considerada a elite do futebol, perde até para a Premier League da Austrália em média de público, com 12.471 torcedores no ano passado. Os dados, colhidos pelo próprio BSFC, latejam depois do bizarro 7x1 que a Seleção so-freu em casa, mesmo uma Copa do Mundo de grande sucesso.

Ataque e defesaApesar da relevância e do interesse do assunto,

o movimento pouco ressoa entre os desportistas sergipanos, e gera dúvidas entre os críticos. No ataque está o locutor esportivo Raimundo Mace-do, com 40 anos de carreira, e famoso pela fran-queza de opiniões que destila nos microfones de emissoras de rádios como Aperipê e Liberdade AM. Ele acusa o BSFC de não dar devida atenção para os clubes do Norte-Nordeste, em benefícios aos grandes clubes e os grandes empresários. “O Nordeste sempre foi e será revelador de craques. O Bom Senso só se preocupa com os grandes ti-mes, não se preocupa com quem revela os joga-dores.”, alfineta.

Macedo, inclusive, contou sobre uma analogia que fez nas tribunas esportivas com uma crian-

ça no calor do sertão do Piauí da década de 1980 querer se vestir como a apresentadora Xuxa: uma roupa de couro preta. “A mídia televisiva tem im-pacto imediato. Acho importante, mas é preciso saber diferenciar: o que às vezes serve para o fu-tebol do Rio Grande do Sul, de São Paulo pode não servir para Sergipe, Alagoas, Piauí”, explica, ao criticar a falta de calendário de grandes times regionais, como o Sergipe, o CSA, o Campinense, entre outros.

Na defesa está o presidente da Associação de Garantia ao Atleta Profissional em Sergipe (AGAP), Silvio Alves de Freitas. Ex-lateral-direito com passagens por Sergipe, Confiança e Itabaia-na – onde paticipou do histórico pentacampeo-nato estadual na década de 1980, ele participou de ações da federação nacional com o ex-volante Gilberto Silva (ídolo do Atlético-MG, Arsenal--ING e Seleção Brasileira, e um dos entusiastas do BSFC), fez vários paralelos com os seus tem-pos de jogador, com os trabalhos de assistência a outros jogadores (muitos deles desempregados) e os problemas de gestão dos clubes.

Sílvio admite estar preparado para discutir as ideias do movimento, mas é realista quanto à pontos considerados “avançados” para a realida-de sergipana, como o fair-play financeiro: “Não sei se nós vamos chegar ao Bom Senso ou o Bom Senso vai chegar à nós. A verdade que é não es-tamos ainda preparados, é que um mundo que ainda não é nosso”. E provoca: “O futebol profis-sional precisa de uma refundação”. Em tempo: ele está implantado desde 1960, na gestão de Ro-bério Garcia à frente da Federação Sergipana de Futebol (FSF).

“Devo, não nego...”A Federação já cumpriu determinações da CBF

com o calendário: férias em dezembro e pré-tem-porada para janeiro - com o Sergipão 2015 ini-ciando no dia 25. Outros campeonatos, como a Copa Governo do Estado e o Sergipão sub-19, es-tão programadas para o segundo semestre.

Pela instituição, falou o diretor técnico Diogo Andrade, que defendeu, em tom de crítica, as federações estaduais, acusadas de dar mais sus-tentação a dirigentes que aos jogadores: “As fe-derações gerenciam seus campeonatos e os clu-bes gerenciam seus plantéis. O que a gente vem cobrando é que as equipes tenham mais orga-nização sobre seus atletas e funcionários. Se os clubes são mal administrados, não adianta fazer cinco, dez, quinze competições, que os clubes au-mentam suas dívidas, o fair-play financeiro não vai chegar e o que mais vamos ver são clubes, inclusive tradicionais, sendo punidos”. Diogo não deixou de alfinetar a falta de transparência financeira de times. “As dívidas dos clubes têm se multiplicados nos últimos cinco anos de ma-neira preocupante. Tem clubes da Série A que já anteciparam as cotas de TV para 2017, e estamos terminando 2014.”, critica.

Na contenção pelos clubes sergipanos, Luís Roberto Dantas, presidente do Confiança, aten-tou para a preocupação em curto prazo com o calendário, que em sua visão, Sergipe não tinha até a bem sucedida campanha do Dragão Prole-tário na Série D nacional. E foi taxativo quanto a gestão dos clubes: “O próprio estatuto, a própria Lei Pelé, é bem claro quanto a gestão responsável. Você não pode gastar mais do que você arrecada? Beleza, agora você também não pode ganhar o que está ganhando”, afirmou, sem deixar de repudiar os altos salários dos jogadores (de até R$ 800 mil por mês), que segundo ele, sobrecarrega os cofres dos clubes com as obrigações trabalhistas a cum-prir. “Na forma como vem sendo conduzido, com salários impagáveis para o futebol brasileiro, as dívidas só tendem a crescer e os trabalhadores fi-carem sem receber sua contra partida. Eu acho que tem que ser aplicado o bom senso no sentido amplo e geral”, alerta.

Wolney Rodrigues, o faz-tudo do Aracaju, re-vela: “Me senti na obrigação de pegar essa equi-pe, na qual a marca hoje, em minhas mãos, já vale em mais de R$ 120 mil reais, onde praticamente você não tem como repor esse dinheiro através do futebol feito aqui em Sergipe, mas se faz isso porque gosta”, desabafa.

Mais realidade, mais fantasiaSergipano, amante do futebol e crente no es-

porte como educação. Este é o cartão de visita de Wolney, agente da Guarda Municipal. Ele assume não ter muito conhecimento do que seja o BSFC, mas a experiência de quem foi auxiliar dos junio-res do Confiança lhe permite discorrer com preci-são a realidade do futebol sergipano e suas ideias de melhoria – como um Brasileirão com cam-peões e vice estaduais e uma atualização maior dos dirigentes – e também sobre as propostas de trabalho do clube, voltado para jogadores até 23 anos e com promessas de fugir às regras dos grandes clubes.

A obstinação e o investimento no Aracaju se explica no ambicioso projeto de base, onde se in-clui a padronização tática em todas as categorias, como se vê no Barcelona-ESP. “Em bom percen-tual, o atleta, quando você pergunta: ‘Qual é o sis-tema de jogo que você gosta de jogar?’, geralmen-te ele não sabe”, justifica.

Perguntados sobre alguma melhoria no âm-bito técnico, os entrevistados acreditam que as demandas do BSFC permitem uma maior valo-rização do jogador brasileiro e um trunfo para aumentar a pífia média de público nos estádios brasileiros, que carecem de jogos com mais qua-lidade. Nisto, Luís Roberto arremata: “Você tem a realidade, o planejamento, a receita e despesa fora de campo, e lá dentro é uma arte, um espetá-culo. Você vê lá dentro a arte de um futebol bem jogado e com tranquilidade, porque você sabe que o jogador vai receber seus 30, 40 mil”.

QUAL O BOM SENSO DO FUTEBOL SERGIPANO?Após um ano de sua criação Bom Senso Futebol Clube ainda gera dúvidas e polêmicas em Sergipe.

Daniel Damá[email protected]

Page 20: A urgência do Velho Chico

esporte20

ARACAJU NA ROTA DO ESPORTEEm 2014, a cidade de Aracaju, começou a escre-

ver seu nome na rota obrigatória do esporte bra-sileiro, sobretudo o escolar e universitário, sendo palco para a realização de eventos esportivos de destaque. Entre os dias 30 de outubro e nove de novembro, a capital sergipana recebeu mais de três mil atle-tas, dos 26 estados brasileiros e mais o Distrito Federal, para a participar da 62ª edição dos Jogos Universitários Brasi-leiros (JUBs 2014). Já entre os dias 05 e 11 de dezembro, a cidade foi palco para os XX Jogos Sul-A-mericanos Escola-res, que contou com dois mil atletas de 11 países da América do Sul (Argentina, Bolí-via, Colômbia, Chile, Equador, Paraguai, Uruguai, Suriname, Guiana, Venezuela e o Brasil). Em 2015, de 07 a 19 de junho, ela sediará o Campe-onato Mundial Escolar de Vôlei de Praia, que reunirá mais de 30 países. E o que tudo indica mais novi-dades ainda deven aparecer por aqui.

O secretario Municipal de Juventude e Es-porte, Carlos Eloy, fala sobre a importância e o legado que estes eventos deixam para a cidade. Segundo ele, uma das coisas mais relevantes que ficam é o aumento na autoestima do aracajuano, pois a cidade provou que consegue realizar even-tos de grande porte. Ele destaca também o estí-mulo à prática de esportes motivada pelo evento, o crescimento do turismo e a exposição do nome de Aracaju e de Sergipe para todo o país: “As pes-soas, principalmente, os jovens, ao verem sua ci-dade movimentada esportivamente têm, sem dú-vidas, mais chances de sentirem-se estimuladas a praticar esportes. Com relação aos JUBs, este

foi o maior evento que cidade já viu, com muitas pessoas envolvidas, o que movimentou bastante a economia e o turismo. Além de toda a mídia espontânea a um custo baixíssimo, divulgando o nome da cidade e o estado para todo o país, em

TV’s, rádios, mídia impressa e online.

Mais novidadesSegundo o secretário, mais novidades ainda es-

tão por vir, pois uma universidade particular da capital está construindo uma pista de atletismo oficial, a segunda do Norte/Nordeste, e o objeti-vo, a partir de uma parceria entre Prefeitura de Aracaju e a instituição, é trazer, entre fevereiro e março, a seletiva brasileira para os Jogos Mun-diais Universitários (Universíade), que acontece em 2015, na Coréia do Sul, e ainda uma etapa do Campeonato Brasileiro de Atletismo, onde Araca-ju, durante um mês poderá ser o centro do atle-tismo no país.

Ele destaca também a parceria entre o Governo do Estado e a Prefeitura para a construção de uma arena multiuso na Orla de Atalaia, que poderá receber várias modalidades esportivas, pois terá um piso especial que poderá ser trocado através da tecnologia a ser implementada na área, a de-pender do esporte a ser praticado. “Já temos o va-lor para obra em caixa e agora estamos na fase de licença ambiental, pois é uma construção à beira mar e envolve uma série de órgãos competentes. Também tem a parte da acessibilidade, e estamos a adequando gradativamente. Porém, acredita-mos que em 2015, sua construção seja iniciativa e dure cerca de 10 meses.”, explica.

Os Esportistas e o Bolsa AtletaOs eventos esportivos estão vindo para Ara-

caju e a cidade está os recebendo bem. Isto já é um fato. Mas, como anda a realidade do jovem atleta de alto rendimento que é ou sonha em ser profissional e levar o nome da cidade e do estado mundo afora? Não dá para falar sobre o assunto sem mencionar o programa Bolsa Atleta, parceria entre o Governo Federal e a Prefeitura de Araca-

ju, desde agosto de 2011. O Programa que consiste em um incentivo fi-

nanceiro para os atletas, em plena atividade, de modalidades olímpicas, não olímpicas e paralim-picas filiadas, reconhecidas e vinculadas aos comi-

tês olímpicos e paraolímpicos bra-sileiros, contempla mensalmente aqui exatos 80 esportistas de alto rendimento, de 14 modalidades distintas, durante um ano, com a possibilidade de renovações, nas categorias ouro (R$ 1.500), prata (R$ 800) e bronze (R$ 400), cada uma com critérios específicos.

A jovem atleta Bárbara Santos, 16, que pratica o triathlonm acerca de dois anos e meio (esporte que une natação, corrida e bicicleta numa só prova) e pelos bons re-sultados já vai integrar, a partir de 2015, a Seleção Brasileira da modalidade é uma das contempla-das pelo programa. Para ela, que conta com pequenos apoios, mas nenhum patrocínio fixo, a iniciati-va é de grande de importância. “O Bolsa Atleta me ajuda para que eu possa me manter no esporte, desta forma tenho a possibilidade de so-nhar em trazer resultados cada vez melhores para o meu estado e meu

país. E o melhor, leva-los no peito com coragem, lutando para dar alegrias para o nosso povo.”, conta.

Já o atleta Garcez Freitas, 24, que pratica o atletismo há mais de nove anos e acumula uma série de resultados expressivos, o mais recen-te deles se deu nos JUBs, onde conquistou duas medalhas de prata (1.500 e 3.000 metros) e está entre os melhores atletas universitários de sua modalidade no país, também destaca a ajuda do programa de incentivo esportivo: “O Bolsa Atleta não é muito, mas me ajuda bastante com minhas despesas. Sem ele já teria desistido do esporte de alto rendimento, pois ser um atleta de ponta é muito caro, então preciso de uma boa condição para me manter entre os melhores”.

O secretário Carlos Eloy acredita que o progra-ma consegue valorizar a meritocracia e acabar com o assistencialismo, sobretudo, por ser um incentivo financeiro fixo e que prioriza os resul-tados do atleta. “O esportista sabe que vai receber essa prestação durante 12 meses, então ele pode se programar durante o ano e comprar sua passa-gem, seus materiais e ver quais competições irá participar. Em contraponto ao que acontecia an-tes, o atleta chegava à Secretaria buscando uma passagem para uma competição e, havia vezes, em que não tinha orçamento e ele perdia o even-to. Por isso, assumimos o compromisso de man-ter o programa até o último dia da nossa gestão.”, finaliza.

Garzez Freitas, medalha de prata no JUBs nas provas de 1500 e 2000 metros no atletismo. (Foto: Ana Lícia Menezes)

Carlos Eloy - Secretário Municipal de Juventu-de e Esporte de Aracaju. (Foto: Ascom/PMA).

Eduardo [email protected]

Whagner Alcâ[email protected]

Page 21: A urgência do Velho Chico

esporte21

PROZA COM O PRESIDENTE DA FSBdEleito em 2013 para a presidência da Fede-

ração Sergipana de Badminton (FSBd), esporte que é muito similar ao tênis, tendo como princi-pal diferença a utilização de uma peteca, ao invés de uma bola, o profissional de educação física Wendel Mota Ribeiro,29, em entre-vista ao Jornal Contexto, faz uma análise da modalidade no estado. O presidente destaca que o badminton de Sergipe, apesar da carência de recursos financeiros, está em cres-cimento, tanto em resultados, quan-to em número de adeptos. E que os focos da entidade são melhorar sua estrutura para receber a esta deman-da e também conseguir patrocínios para os atletas participarem de mais competições.

Jornal Contexto: Como o bad-minton começou a se profissio-nalizar aqui no estado?

Wendel Mota Ribeiro: Em 2010, o professor Marcelo Haiachi, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), ele que dá aulas de voleibol e de esportes adaptados, e mais al-guns professores da instituição co-meçaram a descobrir a modalidade, a praticando de maneira amadora, inclusive com uma rede de vôlei im-provisada. Depois, o professor Mar-celo procurou a Secretaria do Estado de Educação (SEED) e o Conselho Regional de Educação Física (CREF13-BA/SE), e juntos, no final de 2010, conseguiram trazer um profissional da Confederação Brasileira de Bad-minton (CBBd) para ministrar um curso para professores de educação física, estes que tiveram um papel muito importante na disseminação do esporte. E depois desse curso, a gente sentiu a necessidade de fundar a Federação Sergipana de Badminton (FSBd), pois vimos que era um es-porte em potencial, sobretudo nas escolas. Hoje, temos 120 atletas filiados e uma estimativa entre 500 e 600 praticantes.

J.C: Quais as categorias que o esporte possui atualmente?

W.M.R: São as seguintes: sub-11, sub-13, sub-15, sub-17, principal (adulto) e master (acima dos 35 anos), todas podendo ser em duplas ou simples (individuais), que podem ser: masculi-nas, femininas ou mistas. Além de uma categoria para atletas com deficiência, pois o badminton é hoje um esporte paralimpico e estará nas Pa-raolimpiadas de 2020. Enfim, cadeirantes, am-putados, pessoas que possuem nanismo, dentre outros, podem participar sem problemas, pois o esporte é muito democrático.

J.C: Qual o calendário anual da modali-dade em Sergipe?

W.M.R: Temos o Campeonato Sergipano de Badminton, que este ano foi dividido em três eta-pas – Aracaju (março), Nossa Senhora do Socor-ro (junho), e Itabaiana (novembro). Temos tam-bém a Copa Universitária de Badminton (maio). Ambos os eventos realizados pela Federação. E os eventos externos, que são: Jogos da Primave-ra (em agosto e outubro) e Jogos Escolares da TV Sergipe (maio).

J.C: Quais foram os resultados mais expressi-vos dos atletas sergipanos no esporte?

W.M.R: Em abril deste ano, os alunos do Co-légio Estadual Governador Valadares foram à cidade de Lindóia (SP) disputar o Campeonato

Brasileiro Escolar de Badminton e sagraram-se campeões, um feito, sobretudo, inédito e muito expressivo, por ser um esporte novo no estado. E com este título, eles conseguiram uma vaga para disputar o Campeonato Mundial Escolar de Badminton, em Taiwan, o grande polo do espor-te. Outro resultado bastante importante, este em julho, foi o da dupla Breno Guerra e Ricardo Nas-cimento, que conquistou a medalha de bronze na categoria principal da “Taça Super Badminton”, na Paraíba.

J.C: A Federação conta com algum apoio ou parceria, seja da iniciativa pública ou privada, para realização de suas ativida-des?

W.M.R: A UFS é nosso maior parceiro, ela nos ajuda desde os nossos primeiros passos. Nos ofereceu local para os treinos, nos ajuda na re-alização da Copa Universitária de Badminton, disponibilizando alunos, dentre outras coisas. A Universidade, às vezes, consegue nos dar apoio em relação ao transporte dos atletas para compe-tições fora do estado, inclusive, foi graças a essa ajuda que os atletas Breno Guerra e Ricardo Nas-cimento puderam ir ganhar a medalha de bronze na Paraíba. Estamos tentando ir agora para uma competição em Gravatá (RJ) também com ajuda da instituição. Outro parceiro é a Secretaria de Es-tado da Educação (SEED), esta que também nos ofereceu local para treinar e nos dá outros tipos de suportes. Fora isso, esporadicamente, conse-guimos pequenos apoios de empresas esportivas para comprar de medalhas, troféus e água.

J.C: Quais as maiores dificuldades da FSBd para o crescimento e a consolidação

do esporte?W.M.R: A carência de recursos financeiros

para manter a Federação e realizar seus eventos é um dos nossos maiores problemas. Não recebe-mos verba fixa de nenhum lugar e não temos sede

própria, ocupamos uma emprestada somente para a burocracia. Busca-mos recursos junto ao poder público e da iniciativa privada, mas temos a preocupação de sermos autossufi-cientes, por isso tentamos fazer com que nossos eventos sustentem-se por si sós. Outro grande problema são as dificuldades para encontrar patrocinadores para os nossos atle-tas, visto que eles não foram con-templados com o Programa Bolsa Atleta, e mesmo classificados para eventos em outros estados, pois são de bom nível, bem treinados e dedi-cados, acabam, muitas vezes, fican-do de fora.

J.C: Como você avalia a situ-ação do badminton sergipano e quais as perspectivas para o futuro?

W.M.R: Ele vem numa crescente muito grande, e o ano de 2014 com-prova isto, tanto com relação aos resultados das competições, como também o crescimento do número de atletas inscritos nos eventos. Um bom exemplo são as etapas do Cam-

peonato Sergipano de Badminton, na primeira delas tivemos 30 atletas, a segunda já contou com 70 e a terceira 100 participantes. A gente percebe que as pessoas estão se motivando bastante para a prática do badminton, e nós da Federação es-tamos nos organizando para aguentar toda essa procura de maneira estruturada e com qualidade, o que demandará mais custos.

Em 2015, pela primeira vez, teremos um even-to nacional aqui em Aracaju, que é a Copa Nor-te-Nordeste de Badminton, de 14 a 17 de maio, tendo como provável sede o Ginásio de Esportes Constâncio Vieira. O evento será uma excelente oportunidade de fazermos um bom intercâmbio, trazendo cerca de 300 atletas de fora do estado.

J.C: O que uma pessoa comum, que nun-ca teve contato com a modalidade, deve fa-zer se quiser praticá-la?

W.M.R: Qualquer um, de qualquer faixa-etá-ria, pode dirigir-se a um dos nossos dois locais de treinamento. O primeiro, situado no Ginásio de Esportes do Departamento de Educação Física (DEF/UFS), que funciona às terças e quintas-fei-ras, das 17 às 20h. Agora, caso o futuro praticante possua alguma deficiência, os dias são segundas e quartas-feiras, também das 17 às 19h. Já o outro local é situado no antigo Colégio Brasília (Rua D. José Tomaz, 715, São José, Aracaju/SE) e funcio-na às terças e quintas-feiras também, só que das 16 às 20h. Os interessados devem chegar apenas com uma roupa de treino, que todo o material (raquete e peteca) e a ajuda de professores para iniciar no esporte são gratuitos.

Wendel Mota (Foto: Arquivo Pessoal)

Eduardo [email protected]

Whagner Alcâ[email protected]

Page 22: A urgência do Velho Chico

esporte22

RETROSPECTIVA FOTO-ESPORTIVAOs principais registros das competições esportivas sediadas em Sergipe em 2014, pelas lentes do repórter fotográfico Arthur Leite.

Circuito Sergipano de Kart (26 de abri).

Campeonato Sul-Americano de Esportes Escolares, realizado em 06 de dezembro.

Dedicação. Disciplina. A máxima esportiva é levada à sério pelo repórter fotográfico Arthur Leite, ao longo dos seis anos de prática profissional. Mas, a sensibilidade do seu olhar e a precisão dos registros produzidos por ele são traços peculia-res que sintetizam sua relação com o esporte: “Estou envolvido com o esporte desde a minha infância. Fui praticante de Bodyboarding por 25 anos, onde passei por todas as categorias do esporte”.

Se por um lado, a veia esportiva guia seu olhar fotográfico, por outro, a técnica fotográfica apresenta-se sem mistérios: “Aprendi a fotografar com uma câmera de bolso, uma máquina Cybershot W110”. Para Arthur, a arte de fotografar é fruto do exercício persistente e da prática contínua. Uma analogia possível à prática esportiva. “Muita gente pensa que para fa-zer boas fotos precisa de bons equipamentos, errado. Isso é mentira. Foi assim que aprendi a fotografar. Sem ninguém me mostrando, apenas mexendo no equipamento e lendo livros, vendo filmes... Tudo depende da criatividade de como você irá trabalhar a imagem”, explica.

E, sua inquietação com o fazer fotográfico e a dedicação para o aprimoramento da técnica renderam-lhe bons frutos que o tornam uma fonte com propriedade para falar do assunto: três premiações na bagagem (Concurso “Sua Foto”, da National Geographic Brasil, em 2011; 2º colocado no Salão de Fotografia de Aracaju, em 2013; Menção Honrosa no Salão de Fotografia de Aracaju, em 2014), além de publicações em revistas de circulação nacional como Viagem e Turismo, Cum-bica e National Geographic Brasil.

Nas coberturas esportivas, Arthur considera o trabalho final gratificante devido ao resultado surpreendente capturado pelos registros. “O esporte tem suas belezas exclusivas, não é apenas um registro, mas todo um estudo de técnicas para conseguir captar detalhes imperceptíveis ao olho humano e todo o contexto que envolve as atividades”. Porém, é crítico em relação ao cenário esportivo em Sergipe. Ele reconhece o crescimento de algumas modalidades, com destaque para alguns atletas, mas considera o desenvolvimento fraco: “A cultura esportiva em Sergipe deixa muito a desejar. Os gestores polí-ticos ainda se esforçam para trazer grandes competições, mas com parques esportivos sem investimento e pouca comuni-cação no setor, a maioria dos eventos passam despercebidos. Um grande exemplo dessa falta de interação da mídia com o esporte foi o Sul-Americano de Esportes Escolares, o público presente em todas as modalidades não existiu por parte da comunidade local. E assim como a grande maioria das atividades em Aracaju”, finaliza.

Campeonato Sul-Americano de Esportes Escolares, realizado em 09 de dezembro, na Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Stand Up Paddle (SUP) BR - Etapa do Brasileiro de Race, na Orla Pôr do Sol, em 18 de Outubro.

Fotos Autorais: Stand Up Paddle, na Orla Pôr do Sol. A fotografia à esquerda foi publicada na Revista Viagem e Tu-rismo, da Editora Abril, em Setembro de 2014. À direita, o registro do Movimento Feminino “Remada Rosa”, em 8 de março.

Kite Surf

Michele [email protected]

Fotos: Arthur Leite