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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE LINGUAGENS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGEM - MESTRADO MARCILENE RIBEIRO DA SILVA A TOPONÍMIA EM BONSUCESSO E PAI ANDRÉ NO RIO CUIABÁ-MT CUIABÁ - MT 2011

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Page 1: A TOPONÍMIA EM BONSUCESSO E PAI ANDRÉ NO RIO … · universidade federal de mato grosso instituto de linguagens programa de pÓs-graduaÇÃo em estudos de linguagem - mestrado marcilene

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE LINGUAGENS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

EM ESTUDOS DE LINGUAGEM - MESTRADO

MARCILENE RIBEIRO DA SILVA

A TOPONÍMIA EM BONSUCESSO E PAI ANDRÉ NO RIO

CUIABÁ-MT

CUIABÁ - MT

2011

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MARCILENE RIBEIRO DA SILVA

A TOPONÍMIA EM BONSUCESSO E PAI ANDRÉ NO RIO

CUIABÁ-MT

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Estudos de Linguagem-Mestrado

do Instituto de Linguagens da Universidade

Federal de Mato Grosso, como parte dos

requisitos para a obtenção do grau de Mestre em

Estudos Linguísticos.

Área de Concentração: Estudos Linguísticos

Linha de Pesquisa: História e descrição do

português brasileiro.

Orientador: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

CUIABÁ-MT

2011

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S586t

Silva, Marcilene Ribeiro da.

A Toponímia em Bonsucesso e Pai André no Rio Cuiabá./

Marcilene Ribeiro da Silva. Cuiabá: UFMT, 2011.

113 fls.

Dissertação - Mestrado em Estudos Linguísticos

Orientador: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

1.Toponímia. 2.Bonsucesso. 3.Pai André. 4.Estudos

Linguísticos. 5.Aspectos Geo-históricos. I.Título.

CDU 81

Ficha Catalográfica elaborada por Douglas de Faria Rios, Bibliotecário – CRB1/1610,

do Centro Universitário de Várzea Grande - UNIVAG.

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À minha mãe, Agostinha Maria da Silva, (in

memorian), que embora tivesse um grau de

escolaridade elementar sabia que a Educação era

importante e, por isso, jamais poupou esforços para

que seus filhos estudassem.

À Profª. Drª. Maria de Jesus das Dores Alves

Carvalho Patatas, educadora amiga que apresentou-

me à Toponímia e incentivou-me a pesquisar essa

relevante área da Linguística.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, Meu Pai Amoroso, toda honra e toda glória pelo mérito desta conquista!

Ao Prof. Dr. Elias Alves de Andrade, pela orientação eficiente e segura, em especial

pela compreensão demonstrada face aos replanejamentos que se fizeram necessários para a

realização desta pesquisa.

Aos professores Drª Maria Inês Pagliarini Cox (UFMT) e Dr. José Leonildo Lima

(UNEMAT), membros da banca examinadora, pelas valiosas contribuições.

À Profª Drª Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick, pela presteza com que aceitou

participar do meu Exame de Qualificação no qual contribuiu com relevantes sugestões para

que o objetivo desta dissertação fosse atingido.

Aos professores Drª Maria Rosa Petroni, Drª Claudia Graziano Paes de Barros, Drª

Simone de Jesus Padilha e Dr. Sérgio Flores Pedroso, todos da UFMT, pelos conhecimentos

compartilhados nas aulas do Mestrado.

Ao Sirval, meu esposo, pelo carinho, presença constante e apoio logístico na

implementação das atividades desta pesquisa.

Às colegas Carmen Lúcia Toniazzo e Maria Margareth Costa de Albuquerque Krause,

pela amizade, apoio, alegrias e preocupações compartilhadas.

Ao Prof. Me. Florisvaldo Fernandes dos Santos, pela amizade, incentivo e pelo

empréstimo das obras sobre Toponímia sem as quais este trabalho seria muito mais difícil.

À Profª Drª Suíse Monteiro Leon Bordest, da UFMT, filha do historiador Cel. Ubaldo

Monteiro, pelo empréstimo das obras de autoria de seu pai referentes à História de Várzea

Grande, Bonsucesso e Pai André.

Ao Prof. e historiador José Wilson Tavares, por disponibilizar-me documentos sobre a

História de Bonsucesso, além de conceder-me entrevista sobre o cotidiano daquele distrito.

Aos informantes de Bonsucesso e Pai André, que, gentilmente, receberam-me em suas

residências e forneceram-me dados sobre a História das respectivas localidades, os quais

constituíram-se na base empírica deste trabalho.

À Drª Eliane Moreno Heidgger da Silva, Procuradora-Chefe da Procuradoria da

Fazenda Nacional em Mato Grosso, pela concessão do horário especial para que eu pudesse

realizar este Mestrado.

À Celma Ferreira de Moraes, Chefe do Serviço de Ativos da Divisão de Recursos

Humanos da Superintendência de Administração do Ministério da Fazenda em Mato Grosso-

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SAMF/MT, pela eficiência e presteza dispensadas nas orientações administrativas quanto aos

direitos do servidor público-estudante.

À Profª Jayne Alves Martins dos Anjos, amiga e colega de trabalho que sempre dialoga

comigo a respeito do tema de minha pesquisa.

Aos meus irmãos, sinais concretos de minha existência, ramos das mesmas árvores que

nos legaram os valores de amor e ética.

Aos meus sobrinhos, que sempre reavivam a minha esperança num mundo melhor.

Ao Prof. Me. José da Silva, o sobrinho Zezinho, da UFMT de Barra do Garças, pela

assessoria em informática, elaboração dos slides para o VIII Seminário de Linguagens do

IL/UFMT e pelas críticas e sugestões em relação ao desenvolvimento desta pesquisa.

Aos servidores da Secretaria do Programa de Pós-Graduação do Instituto de

Linguagens, pela presteza com que desempenham o seu trabalho junto a nós, mestrandos.

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[...] Um rio saía do Éden para regar

o jardim, e dividia-se em seguida

em quatro braços. O nome do

primeiro é Fison, e é aquele que

contorna toda a região de Evilat,

onde se encontra ouro. O nome do

segundo rio é Geon, e é aquele que

contorna toda a região de Cusch. O

nome do terceiro rio é Tigre, que

corre ao oriente da Assíria. O

quarto rio é o Eufrates.

Gênesis, 2, 10-14.

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SILVA, Marcilene Ribeiro da. (2011)

A TOPONÍMIA EM BONSUCESSO E PAI ANDRÉ NO RIO CUIABÁ-MT. Cuiabá, 112p.

Dissertação de Mestrado – IL/MeEL/UFMT.

RESUMO

Esta pesquisa refere-se ao estudo da Toponímia tomando-se como cenário os distritos de

Bonsucesso e Pai André, ambos situados à margem direita do rio Cuiabá, no município de

Várzea Grande - MT, Baixada cuiabana, na rota dos bandeirantes paulistas, antigo caminho

fluvial de São Paulo até Mato Grosso. Elegeu-se como objetivos deste trabalho inventariar,

classificar e analisar, parcialmente, os topônimos dos dois distritos e, por extensão, alguns

topônimos dos municípios de Cuiabá, Várzea Grande, Santo Antônio de Leverger e Nossa

Senhora do Livramento, locais que possuem a mesma matriz linguística e geo-histórico-

cultural dos referidos distritos. Utilizou-se como técnica de investigação as modalidades de

pesquisa bibliográfica e de campo, que se efetivaram através de visitas in loco, conversas

informais, entrevistas e questionários. Os sujeitos da investigação foram 03 informantes de

cada distrito com idade a partir de 65 anos, que residem nos locais desde a infância e possuem

domínio da história oral da região em estudo. O aporte teórico ancorou-se principalmente em

Dick (1987, 1990 e 1996), Monteiro (1973 e 1987), Ferreira (2001, 2004 e 2008) e Houaiss

(2009). Esta pesquisa possui vínculo com os projetos: “Estudo do português em manuscritos

produzidos em Mato Grosso a partir do séc. XVIII - MeEL-IL-UFMT”, “História e variedade

do português paulista às margens do Anhembi” e “Edição de textos literários e não literários

em língua portuguesa” - FFLCH/USP. O resultado culminou em um inventário com 72

topônimos, os quais guardam estreita relação com o rio Cuiabá, principal produtor do pescado

que fomenta a economia local. O estudo demonstrou que os topônimos retratam o patrimônio

sócio-histórico e linguístico-cultural de um povo.

Palavras-chave: Toponímia, Bonsucesso, Pai André, Aspectos linguísticos e geo-históricos.

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SILVA, Marcilene Ribeiro da. (2011)

THE TOPONYMY IN BONSUCESSO AND PAI ANDRÉ IN THE CUIABÁ RIVER-MT.

Cuiabá, 112p. Master Dissertation – IL/MeEL/UFMT.

ABSTRACT

This research refers to the study of Toponymy having as a scenery the districts of Bonsucesso

and Pai André, both located on the right bank of the Cuiabá River, in the municipality of

Várzea Grande - MT, Cuiabá area, in the route of the “paulistas” forest explorers, an old

waterway from São Paulo to Mato Grosso. The main objectives of this study was to catalogue,

classify and analyze partially, the toponyms of two districts and, by extension, some

toponyms of the municipalities of Cuiabá, Várzea Grande, Santo Antônio de Leverger and

Nossa Senhora do Livramento, places that have the same linguistic and geo-historical-cultural

matrix of the mentioned districts. As a technique of investigation, the types of bibliographic

and field research that were undertaken through visits in loco, informal talks, interviews and

questionnaires were used. The subjects of this investigation were 03 informants of each

district with ages above 65 years that have lived in these places since their childhood and have

the domain of the oral history of the region that is being studied. The theoretical contribution

was mainly based on Dick (1987, 1990 and 1996), Monteiro (1973 and 1987), Ferreira (2001,

2004 and 2008) and Houaiss (2009). This research has a link with the projects: “The Study of

the Portuguese Language in manuscripts produced in Mato Grosso since the XVIIIth century -

MeEL-IL-UFMT”, “History and variety of the Portuguese spoken in São Paulo on the banks

of the Anhembi River” and “Edition of literary and non-literary texts in the Portuguese

language” - FFLCH/USP. The result of this study produced an inventory with 72 toponyms,

which maintain a strict relationship with the Cuiabá River, the main producer of fish that

boosts the local economy. The study showed that the toponyms portray the socio-historical

and linguistic cultural patrimony of a people.

Keywords: Toponymy, Bonsucesso, Pai André, Linguistic and geo-historical aspects

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LISTA DE ABREVIATURAS

Adj. = Adjetivo

Adj. masc. = Adjetivo masculino

Adj. 2g. = Adjetivo de dois gêneros

AF = Acidente físico

AH = Acidente humano

Alt. = Alteração

Conec.= Conectivo

Contr. = Contração

Fem. = Feminino

Fr. = Francês

Gen. = Gênero

LP = Língua portuguesa

LI = Língua indígena

LE = Língua estrangeira

Lat. = Latim

Lat. vulg. = Latim vulgar

Lat. medv. = Latim medieval

Masc. = Masculino

Nc = Nome composto

Ns = Nome simples

Suf. dim. = Sufixo diminutivo

Suf. aum. = Sufixo aumentativo

Sb. = Substantivo

Sb. masc. = Substantivo masculino

Sb.fem. = Substantivo feminino

T. = Tupi

T.G. = Tupi-Guarani

Vb = Verbo

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................11

CAPÍTULO 1

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DE MATO GROSSO, CUIABÁ, VÁRZEA

GRANDE, BONSUCESSO E PAI ANDRÉ .........................................................................17

1.1 Mato Grosso: Alguns Aspectos do seu Início................................................................ ....17

1.1.1 O Topônimo Mato Grosso...................................................................................... 19

1.2 Mato Grosso: Alguns Aspectos da Atualidade..............................................................21

1.3 Cuiabá, Várzea Grande, Bonsucesso e Pai André: Aspectos Geo-históricos.............. 23

1.3.1 Cuiabá: Aspectos Históricos e Geográficos................................................................. 25

1.3.1.1 Localização .................................................................................................................25

1.3.1.2 A Fundação..................................................................................................................26

1.3.2 Várzea Grande: Aspectos Históricos e Geográficos....................................................31

1.3.2.1 Localização.................................................................................................................31

1.3.2.2 A Fundação .................................................................................................................34

1.3.3 Bonsucesso...................................................................................................................35

1.3.4 Pai André .....................................................................................................................39

CAPÍTULO 2

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA TOPONÍMIA .............................................................43

2.1 Origem e Expansão dos Estudos Toponímicos...............................................................43

2.1.1 A Origem da Toponímia................................................................................................ 43

2.1.2 A Toponímia no Mundo..................................................................................................45

2.1.3 A Toponímia no Brasil .................................................................................................. .48

2.2 A Língua: veículo de difusão sócio-cultural e ideológico......................................... 51

2.3 Conceituação da Toponímia ....................................................................................... 53

2.4 A importância dos topônimos..................................................................................... 55

2.5 O Topônimo e a Motivação Toponímica .................................................................... 58

2.6 As Taxionomias Toponímicas .................................................................................. 61

2.6.1 Taxionomias de Natureza Física ................................................................................. 63

2.6.2 Taxionomias de Natureza Antropocultural ................................................................... 64

CAPÍTULO 3

ANÁLISE DO CORPUS .................................................................................................. 68

3.1 Procedimentos Metodológicos .................................................................................... 68

3.1.1 Coleta dos Dados ...................................................................................................... 69

3.1.2 Análise dos Dados ...................................................................................................... 70

3.2 O Corpus................................................................................................................... 70

3.2.1 Descrição e Análise do Inventário Toponímico....................................................... 71

3.2.1.1 Classificação Toponímica de Natureza Física......................................................... 71

3.2.1.2 Classificação Toponímica de Natureza Antrópica, Antropocultural ou Humana... 72

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3.2.1.3 Análise Toponímica dos Distritos de Bonsucesso, Pai André e Municípios

Circunvizinhos..................................................................................................................... 75

3.2.1.3.1 Ficha Lexicográfico-Toponímica........................................................................ 75

a) Ficha Lexicográfico-Toponímica dos Acidentes Físicos.................................................. 76

b) Ficha Lexicográfico-Toponímica dos Acidentes Antrópicos........................................... 81

3.3 Comentários Toponímicos ............................................................................................ 100

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 106

REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 109

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INTRODUÇÃO

O hábito de se nomear lugares integra a rotina humana desde o início da civilização.

Essa prática rotineira assegura a orientação espacial, a demarcação de território, assim como

solidifica a manutenção da posse/propriedade, considerando-se que quem nomeia é, via de

regra, o dono.

Foram múltiplos os processos utilizados pelo homem ao longo da história para

nominar os lugares. Sobre isso, Dick (1987, p. 6-7) nos informa que nos primeiros tempos

históricos os lugares tomavam os nomes dos seus possuidores, numa valorização do indivíduo

sobre a terra. O limite das terras era o alcance do olhar e a demarcação, o nome do homem

que as dominava. Essa forma designativa, segundo Dauzat (1932, apud Dick, 1987, p. 6-7), se

conservou por toda a Antiguidade. Todavia, no feudalismo, o homem passou a ser nomeado

conforme o seu lugar de origem, demonstrando, com isso, a sua sujeição à terra, como

preconizava a concepção do regime feudal.

Nesse sentido, Fazzio (2008, p. 15) afirma que, ao lado desses mecanismos

designativos, estabeleceu-se forte tendência à escolha de signos linguísticos descritivos do

lugar a ser nomeado. Essa classe de motivação tem ocorrência significativa no texto

toponímico brasileiro, em que os nomes podem advir da geomorfologia ou de qualquer outra

impressão física como tamanho, cor, etc. Mesmo que o lugar tenha sido nomeado em época

distante, esses designativos são passíveis de reconhecimento intelectivo pela manutenção de

sua carga semântica.

Já em outra perspectiva, trazida a lume por Benjamin (1992, p. 182), o homem é o

“senhor da natureza”; natureza e seres vivos comunicam-se, e ele, como “instância

privilegiada da criação”, nomeia-os e alcança assim o seu conhecimento. Ao mesmo tempo,

nomeando, o ser humano expressa sua própria essência espiritual no nome e, quando no

cotidiano designa as coisas, manifesta então a sua essência linguística.

Sobre esse assunto, Zamariano (2006, p. 20) diz que, ao servir-se de sua capacidade

linguística para nomear lugares, o homem estabelece algumas relações: primeiro consigo

próprio, ao demonstrar conhecer a realidade circundante e utilizar seu conhecimento para

designar um local; e depois com seus interlocutores, pois, através do topônimo por ele usado,

transmite com maior exatidão o real significado que lhe atribuiu.

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Assim sendo, justifica-se a investigação do signo toponímico, porque o topônimo

traz em si marcas que representam o universo sociocultural dos grupos humanos que habitam

ou habitaram determinadas regiões e, por esse motivo, configura-se como testemunho

histórico da vida social de uma população. Por carregar consigo um valor que extrapola o

próprio ato da nomeação, o inventário toponímico representativo de um povo constitui a sua

crônica, uma vez que conserva suas tradições e costumes, além do registro das características

topográficas locais.

Ainda reportando a Zamariano (2006, p. 22), convém lembrar que a sociedade

humana tem a capacidade de criar, recriar ou renovar o conhecimento. Neste processo

contínuo de vir a ser, alguns elementos, entre eles os topônimos, encontram-se guardando, no

tempo e no espaço, elementos de “outros tempos”, como a nos lembrar que somos o único

animal que constrói a própria história, de forma cumulativa e revisada. Esta história pode ser

presentificada quando se buscam, por meio dos topônimos, traços e vestígios que garantirão

que o passado não perderá seu lugar, mas se configurará como a fonte para a construção no

presente de uma memória que é de fundamental importância para as pessoas. A sensação de

que o presente está, sobretudo, na compreensão do passado é que faz com que o homem

busque nos estudos históricos a compreensão de si e do meio em que vive.

Abonando esta assertiva, Dargel (2003, p. 54) vê no léxico a somatória de

experiências vividas por um grupo sócio-linguístico-cultural, porque ao se apropriar da

linguagem o homem se constitui como uma figura positiva no campo do saber e, atuando

sobre a própria língua, pode criar e recriar o léxico. A língua, patrimônio de toda uma

comunidade linguística e instituição social, apresenta-se como veículo da difusão da cultura e

da ideologia, retratando as inclinações que abarcam cada momento histórico, a maneira de

pensar e as expectativas dessa sociedade. Ela representa a imensa herança que um povo confia

ao indivíduo e nele deposita. Nela estão contidas as experiências de todos os séculos.

Uma investigação toponímica é complexa por possuir vínculos interdisciplinares com

outras ciências, não obstante é muito prazerosa, pois através dessa interface se conhece a

história do local, as crenças, lutas, expectativas e os valores de seus habitantes do presente e

de outrora. É um processo que envolve emoção positiva e/ou negativa, tendo-se em vista que

nomear o espaço em que se vive é questão de sobrevivência, uma vez que o homem se

organiza e se orienta geograficamente por meio dos nomes.

Além disso, uma investigação toponímica, cujo objetivo é analisar linguisticamente o

topos, pode desencadear resultados de ordem social, política, histórica, religiosa, cultural,

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regional, econômica, sem prejuízo de outros aspectos que estão intimamente imbricados no

processo da linguagem que os exterioriza.

Feitas estas considerações, objetiva-se com esta pesquisa contribuir para o estudo da

Toponímia tomando-se como cenário os distritos de Bonsucesso e Pai André, ancorando-se

para isso no suporte teórico de Dick (1996, 1992, 1990 e 1987), o qual contribui com o seu

argumento de autoridade científica para o enriquecimento dos estudos toponímicos.

Outras contribuições teóricas advêm de estudos e pesquisas realizados no campo da

Toponímia os quais têm crescido ultimamente no Brasil. Desse labor intelectual resultam

obras, teses de doutorado, dissertações de mestrado, monografias de conclusão de cursos de

especialização e graduação, artigos, conferências, comunicações, entre outros, sobre o tema

em comento. Dentre eles, destacam-se: Carvalho (2010), Di Tizio (2008), Fazzio (2008),

Maeda (2006), Santos (2005), Souza (2009) e Zamariano (2006).

Para a consecução destas pretensões elegeu-se como objetivos norteadores deste

trabalho:

1. Inventariar, parcialmente, os topônimos dos distritos de Bonsucesso e Pai André e,

por extensão, alguns topônimos das localidades adjacentes como Cuiabá, Várzea Grande,

Santo Antônio de Leverger e Nossa Senhora do Livramento, por guardarem estreitas relações

com os referidos distritos;

2. Classificar os topônimos à luz da taxionomia metodológica proposta por Dick

(1987 e 1990), com vistas a buscar a possível motivação da toponímia das localidades em seu

conjunto;

3. Proceder à descrição e à análise dos dados, tendo em vista o ambiente físico e

antrópico em que se encontram inseridos.

Estes objetivos nortearam a estruturação deste trabalho que se dividiu em três partes

assim identificadas:

O primeiro capítulo, intitulado Contextualização Histórica de Mato Grosso, Cuiabá,

Várzea Grande, Bonsucesso e Pai André, apresenta uma breve abordagem geo-histórica do

estado de Mato Grosso, dos municípios de Cuiabá e Várzea Grande e dos distritos de

Bonsucesso e Pai André, com o intuito de se mostrar as raízes histórico-sociais que deram

origem ao povoamento da região. Para isso, tomou-se como referencial teórico as obras de

Monteiro (1987 e 1973), Ferreira (2008, 2004 e 2001), Silva (2010, 2007 e 2005), Póvoas

(1985), Mendonça (1982) e Tavares (2011 e 2004), por serem considerados autores e

pesquisadores que se sobressaem em seus trabalhos relativos à história e à geografia

regionais.

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No segundo capítulo, Os Pressupostos Teóricos da Toponímia, discutem-se os

fundamentos teóricos que orientam a pesquisa. Inicialmente, faz-se a abordagem sobre a

nomeação dos lugares como atividade humana, ressaltando-a como ato relevante para que o

homem possa entender a sua realidade circundante tanto em nível mundial como no Brasil. A

seguir, enfoca-se a linguagem sob a perspectiva linguística, o signo linguístico e a questão da

arbitrariedade, o sentido e a referência. Destacam-se como base teórico-metodológica dados

da Linguística Geral, na perspectiva de Saussure, associando-os ao signo toponímico, segundo

os fundamentos de Dick (1990 e 1987). Posteriormente, aborda-se o signo toponímico e os

estudos de natureza física e antrópica.

Já no terceiro capítulo, Análise do Corpus, examinam-se os dados, segundo sua

classificação toponímica e desenvolve-se um estudo linguístico sobre os dados lexicográficos

e toponímicos envolvendo a procedência, tipo de acidente, língua de origem, taxionomia e

estrutura morfológica do topônimo. Além disso, apresenta-se o estudo do topônimo em seu

aspecto linguístico e geo-histórico, demonstrando-se a taxionomia toponímica com maior

incidência nas localidades.

Tratar da toponímia de Bonsucesso e Pai André é compreender e definir o povo

daqueles locais, porque os topônimos agregam fatores que nos dão pistas sobre a identidade

do lugar de tal forma que cada local fala por si. Este estudo toponímico nos oportunizou

conhecer o modelo de ocupação ocorrido na região, a forma de exploração do solo, o regime

de trabalho, a linguagem, a cidadania, a religiosidade, o lazer, enfim, o modo de vida, a

cultura e a prática na construção do espaço geográfico iniciado pelos indígenas da etnia

Guaná, Guanu ou Guanaz, primeiros habitantes daquelas terras.1

Ribeiro (2008, p. 28) retrata bem essa relação homem-espaço, ao afirmar que,

para o habitante de determinado lugar, o território é corpo e alma. Ele

precisa adaptar-se a esse habitat, penetrar em sua essência como uma raiz

penetra na terra. Ele precisa viver seu espaço, criar os “anticorpos” que o

levarão a resistir ao tempo. [...] Ao constituir esse espaço, o homem,

1 Os índios da tribo Guaná situavam-se à margem esquerda do rio Paraguai e mantinham um relacionamento

pacífico com os brasileiros e os guaicuru. Dedicavam-se à tecelagem de algodão e à lavoura, além da caça e

pesca (DALMOLIN, 2004, p. 33). Monteiro (1987, p. 17) também traz informações a respeito desses índios a

quem chamava de guanás, guanus ou guanazes. Segundo o citado autor, esses povos além de pacíficos e

hospitaleiros viveram em contato com os brancos até meados do século XIX. Foram, portanto, os primeiros

habitantes das áreas onde atualmente encontram-se os municípios de Várzea Grande, N. S. do Livramento e

Santo Antônio de Leverger. Eram especialistas em navegação, canoeiros hábeis e laboriosos, sabiam fiar, tecer e

tingir o algodão com que fabricavam redes. Esses povos foram os precursores da indústria manual em Várzea

Grande, principalmente na produção de redes e cerâmica. A descoberta da região cuiabana, a abertura da estrada

boiadeira, a fundação do povoado, o aparecimento das usinas açucareiras e as fazendas de gado foram fatores

decisivos para o desaparecimento desses povos que se deslocaram para as paragens pantaneiras do rio abaixo.

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enquanto ser histórico, se constrói e, ao mesmo tempo, constrói novas

relações sociais.

Portanto, para o conhecimento das relações que o homem dos locais em estudo

estabelece em seu cotidiano, necessário se faz uma breve incursão pelos fatos histórico-sociais

que permearam a História de Mato Grosso, em especial, dos municípios de Cuiabá e Várzea

Grande, para se compreender a importância do inventário toponímico dos dois distritos como

reforço à idéia de que através dos topônimos pode-se conhecer a cultura e o conjunto de

valores de uma dada comunidade, assim como alguns traços que marcam a língua falada por

seus habitantes, já que por meio dela podem ser revelados os pensamentos e os costumes que,

simultaneamente, os identificam e os individualizam.

Face ao exposto, indaga-se: Justifica-se uma pesquisa sobre Toponímia?

A resposta é positiva considerando que todos os povos vivenciam a prática de

nomear o espaço em que vivem. Esse costume é tão relevante que a Organização das Nações

Unidas-ONU, enquanto órgão responsável pela união dos povos, trata dessa questão traçando

diretrizes para a padronização nacional de nomes geográficos como pode ser depreendido do

trecho a seguir:

A padronização de nomes geográficos é promovida em âmbito mundial pelas

Nações Unidas por intermédio de seu Grupo de Peritos em Nomes Geográficos,

criado na década de 1960 pelo Conselho Econômico e Social. Os países

signatários (o IBGE participa como representante do Brasil, ao lado do

Ministério das Relações Exteriores - MRE, representado pela Missão

Diplomática do Brasil na ONU) buscam promover a padronização nacional e

reportar os resultados por intermédio dos relatórios dos países, das divisões

regionais/linguísticas e dos grupos de trabalho temáticos que, em documentos

técnicos, sugerem resoluções para serem votadas nas grandes conferências

mundiais, realizadas a cada cinco anos. Além da Divisão da América Latina do

Grupo de Peritos em Nomes Geográficos (GPNUNG) o Brasil participa da

Divisão de Língua Portuguesa, criada em 2007. Diante do desafio da

padronização, existem duas atitudes possíveis. A primeira interpreta os nomes

como ferramentas de referência linguística que devem ser adequadas às normas

da língua, ou seja, grafadas de acordo com a pronúncia. A outra atitude encara

os nomes geográficos como nomes próprios, parte de nossa herança cultural, não

devendo, portanto, ser alterados e, sim, preservados.

Em síntese, justifica-se a realização desta pesquisa face à constatação de que os

nomes de lugares estudados pela Toponímia constituem-se em fontes preciosas de estudos

linguísticos, históricos, antropológicos, sociológicos, geográficos, jurídicos, econômicos e

políticos. Embora seja evidente a importância dos estudos toponímicos, uma vez que sua

característica interdisciplinar favorece a aquisição de múltiplas informações, as quais

contribuem para o entendimento das referidas áreas do saber, constata-se uma significativa

ausência desse ramo da Linguística na academia dado o seu pouco conhecimento ou, talvez,

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restrita relevância a ele atribuído, ocasionando com isso uma tímida divulgação de estudos

toponímicos no Brasil. Essa realidade pode ser constatada na Universidade Federal de Mato

Grosso-UFMT que, sequer, possui essa disciplina no currículo do curso de Letras ou em

outros cursos, notadamente, no de História e no de Geografia.

Este trabalho guarda vínculo com os projetos de pesquisa: “Estudo do português em

manuscritos produzidos em Mato Grosso a partir do séc. XVIII” - MeEL/IL/UFMT, “História

e variedade do português paulista às margens do Anhembi” e “Edição de textos literários e

não literários em língua portuguesa” - FFLCH/USP.

Fig. 01: Vista Aérea de Cuiabá.2

Fonte: http://www.cuiabanacopa2014.com.br

2 Esta foto contém quatro localidades cujos topônimos que as nomeiam integram o corpus desta pesquisa, quais

sejam: a cidade de Cuiabá, à esquerda, o rio Cuiabá, ao centro, a cidade de Várzea Grande à direita e a ponte

Júlio Muller que une as duas urbes.

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CAPÍTULO 1

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DE MATO GROSSO, CUIABÁ,

VÁRZEA GRANDE, BONSUCESSO E PAI ANDRÉ

Objetiva-se neste capítulo abordar aspectos geo-históricos do estado de Mato Grosso,

dos municípios de Cuiabá e Várzea Grande e dos distritos de Bonsucesso e Pai André, como

elementos para se entender a gênese do homem ribeirinho dessas duas localidades ora em

estudo.

Para a consecução desse objetivo faz-se necessária uma breve incursão pelos fatos

que permearam a história dessas esferas político-administrativas. O estudo dessa história

facilitará o conhecimento do seu inventário toponímico, o corpus desta dissertação, bem como

os elementos motivadores para a sua denominação. Espera-se que nesse processo fiquem

evidentes as formas de ocupação e expansão desses lugares, assim como as raízes

socioculturais que os identificam e individualizam, tornando-os inconfundíveis pelas marcas

que trazem consigo e pela sua exteriorização através da linguagem-toponímica da qual são

signatários.

1.1 MATO GROSSO: ALGUNS ASPECTOS DO SEU INÍCIO

Para contextualizar os distritos de Bonsucesso e Pai André é necessário revisitar a

história do Brasil, de Mato Grosso e dos municípios de Cuiabá e Várzea Grande, matrizes

sócio-histórico-político-culturais das duas comunidades, objetos desta investigação.

Ferreira (2001, p. 23) afirma que a vida humana em Mato Grosso teve início,

provavelmente, há quinze mil anos, com a chegada de povos indígenas de características

étnicas diversificadas oriundos das Ilhas do Pacífico. Esses povos migraram para essas terras

utilizando-se de caminhos tanto de oeste para leste, como de norte para sul.

No entanto, segundo esse mesmo autor, a documentação referente a Mato Grosso

tem início com as penetrações espanholas subindo o rio Paraguai, a partir de 1530. Contudo,

um governo organizado duradouro surgiu somente em 1724, com o estabelecimento do

distrito de Cuiabá, que significava um ponto na conquista portuguesa de terras espanholas.

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À guisa de esclarecimento, vale consignar que o território que atualmente compõe os

estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia foi, durante muitos séculos, apenas

Mato Grosso.

A organização governamental de Mato Grosso passou pelos seguintes períodos

político-históricos: Governo Regional que iniciou-se com a Capitania de Mato Grosso,

seguido da Província e Estado. Na República, em 1943, Mato Grosso perdeu parte de seu

território para a formação de Territórios Federais e Estado.

O Território Federal de Ponta Porã3, criado pelo Decreto-Lei-Federal nº 5812, de 13

de dezembro de 1943, teve vida efêmera, sendo reintegrado a Mato Grosso pelas Disposições

Transitórias da Constituição Federal de 18 de setembro de 1946.

Já o Território Federal do Guaporé, criado pelo mesmo Decreto-Lei-Federal nº

5812/43, gozou de estabilidade, passando mais tarde a Território Federal de Rondônia e,

finalmente, a estado de Rondônia, desmembrado de Mato Grosso que com essa perda passou

a medir 1.234.658 km².

A Lei Complementar nº 31, de 11 de outubro de 1977, criou o estado de Mato Grosso

do Sul com terras desmembradas de Mato Grosso que desta feita passou a contar com uma

área territorial de 901.420,7 km². É importante ressaltar que Mato Grosso do Sul foi instalado

como estado da República Federativa do Brasil somente em 1º de janeiro de 1979.

De acordo com Cruz (2007, p. 01), o processo de colonização de Mato Grosso

iniciou-se desde 1520, por aventureiros espanhóis, quando essa grande área pertencia à Coroa

Espanhola. Em 1525, o português Pedro Aleixo Garcia com uma expedição de

aproximadamente mil homens, descobriu muito ouro em expedições ao longo dos rios

Paraguai e Paraná chegando até a Bolívia. Aleixo Garcia foi o primeiro europeu a penetrar na

região de Mato Grosso. Náufrago da expedição de João Dias de Solis, atingiu seu objetivo,

porém, ao retornar com as riquezas obtidas, foi morto traiçoeiramente. Posteriormente, várias

incursões foram feitas e sempre traziam relatos de grandes riquezas, desencadeando o

interesse de portugueses e espanhóis que se lançavam nas novas terras com objetivos e

percursos diferentes.

Foi somente a partir da assinatura do Tratado de Madrid, de 13 de janeiro de 1750,

que o território mato-grossense passou a ser oficialmente da Coroa Portuguesa. Por isso, não

se pode enfocar o povoamento e colonização de Mato Grosso sem antes mencionar os fatos

que antecederam a fundação de Cuiabá, o seu primeiro núcleo urbano. Assim, a fundação

3 Ponta Porã, s.f., nome de rua na capital paulista; cidade de Mato Grosso do Sul. Palavra híbrida: Ponta,

português; Porã, tupi, bonita: Ponta Bonita. (SILVEIRA BUENO, 2008, p. 639).

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desse 1º distrito mato-grossense tem conexão com o processo de ocupação do território

brasileiro cujo início remonta ao séc. XVI com a criação do sistema das Capitanias

Hereditárias que garantiram a Portugal assegurar a sua soberania sobre toda a porção costeira

da Colônia, a fim de se evitar a invasão estrangeira. O interesse ibérico sintetizava-se apenas

no proveito econômico, uma vez que se tratava de um continente muito rico, principalmente

em recursos naturais.

No século XVI surgiram os movimentos das entradas e bandeiras, cujas finalidades

fundamentais eram promover a expansão e integração do território, exploração da terra,

povoamento, investigação e aproveitamento das riquezas da Colônia.

Com esses objetivos a Capitania de São Paulo organizou expedições mercantis e

embrenhou-se pelos sertões à caça de índios para comercializá-los e, nesse afã, ultrapassaram

a demarcação estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, de 07 de junho de 1494.

As bandeiras tinham como função, até meados do séc. XVII, aprisionar índios para

vendê-los no mercado escravagista do nordeste e outras regiões brasileiras, e na segunda

metade desse mesmo século surgiu o bandeirantismo prospector cujo objetivo era descobrir

ouro e pedras preciosas no interior do Brasil.

Essas incursões prospectivas levaram as bandeiras a ultrapassarem os limites do

Tratado de Tordesilhas o que garantiu à Coroa Portuguesa, pela posse (uti possidetis), a

incorporação de novas áreas. A atuação das “entradas” e “bandeiras” foi decisiva, sob o ponto

de vista político-administrativo, para a configuração geográfica do país e para a formação dos

primeiros núcleos populacionais estáveis no interior do país, como é o caso de Mato Grosso.

Todavia, o território ocupado por Mato Grosso no século XVII continuava

praticamente inalterado, pois não oferecia nenhum produto que pudesse ser comercializado na

metrópole portuguesa. Por ele passaram, esporadicamente, algumas expedições hispânicas

que construíram fortificações e por entradas e bandeiras que tinham como finalidade prear

índios, um dos negócios mais lucrativos da Colônia de Portugal.

As origens históricas, bem como a ocupação efetiva dessa região, estão ligadas às

descobertas de ricos veios auríferos, no início do séc. XVIII, pelos bandeirantes paulistas.

1.1.1 O TOPÔNIMO MATO GROSSO

O topônimo Mato Grosso, consoante relato de Ferreira e Silva (2008, p. 13-15)

surgiu no ano de 1734, época em que os irmãos sorocabanos Fernando (Fernão) e Arthur Paes

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de Barros adentraram à porção oeste do que hoje é o território do estado de Mato Grosso, em

área que viria a ser o município de Vila Bela da Santíssima Trindade e, se depararam com

uma [...] extensão de sete léguas de mato alto, espesso, quase impenetrável [...] Nesse

período, através desta ação pioneira, foram descobertas as Minas do Mato Grosso, dando

assim nome à Capitania, Província e Estado de Mato Grosso, sendo que esta denominação,

Mato Grosso, foi oficialmente consolidada a partir de 25 de setembro de 1748.

Através dos Anais de Vila Bela da Santíssima Trindade, documento escrito em 1754,

Francisco Caetano Borges, escrivão da Câmara Municipal de Vila Bela, assim relata fatos que

atestam, de forma oficial, os primeiros passos do topônimo Mato Grosso:

Saiu da Vila do Cuiabá Fernando Paes de Barros com seu irmão Artur Paes,

naturais de Sorocaba, e sendo o gentio Pareci4 naquele tempo o mais

procurado, [...] cursaram mais ao Poente delas com o mesmo intento,

arranchando-se em um ribeirão que deságua no rio da Galera, o qual corre do

Nascente a buscar o rio Guaporé, e aquele nasce nas fraldas da Serra

chamada hoje a Chapada de São Francisco Xavier do Mato Grosso, da parte

Oriental, fazendo experiência de ouro, tiraram nele três quartos de uma

oitava na era de 1734. (BORGES, 1734, apud FERREIRA; SILVA, 2008, p.

14).

Em 1780, o cronista José Gonçalves da Fonseca escreveu “Notícia da Situação de

Mato Grosso e Cuiabá”, publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro

de 1866 elucidando o porquê do nome Mato Grosso, dado às minas do mesmo nome pelos

irmãos Paes de Barros:

[...] se determinaram atravessar a cordilheira das Gerais oriente para poente;

e como estas montanhas são escalvadas, logo que baixaram a planície da

parte oposta aos campos dos Parecis (que só tem algumas ilhas de arbustos

agrestes), toparam com matos virgens de arvoredo muito elevado e

corpulento, que entrando a penetrá-lo, o foram apelidando Mato Grosso; e

este é o nome que ainda conserva todo aquele distrito.“Caminharam sempre

ao poente, e depois de vencerem sete léguas de espessura, toparam com o

agregado das serras [...]. (FONSECA, 1780, apud FERREIRA; SILVA,

2008, p.14).

Entendem os mencionados historiadores que a denominação adveio das Minas do

Mato Grosso, ponto que os irmãos Paes de Barros determinaram a partir de relatos sobre a

exuberância da mata que circundava o atual rio Galera, ainda em 1734. Em 09 de maio de

4 Os autores apresentam a grafia da palavra Pareci de duas maneiras. Na primeira citação, 2ª linha, o termo está

escrito no singular (Pareci), todavia na segunda citação, 3ª linha, a grafia está no plural (Parecis). Face a essa

instabilidade ortográfica, optou-se por respeitar a grafia original dos autores.

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1748, ocasião que se criou a Capitania de Mato Grosso, o governo lusitano assim se

pronunciou:

Faço saber a vós, Gomes Freire de Andrade, Governador e o General do Rio

de Janeiro, que por resoluto se criem dois governos, um nas Minas de Goiás,

outro nas de Cuiabá [...] por onde parte o mesmo governo de São Paulo com

os de Pernambuco e Maranhão e os confins de Mato Grosso e Cuiabá [...].

(BARROS, 1748, apud FERREIRA; SILVA, 2008, p. 14-15).

A consolidação toponímica de Mato Grosso deu-se quatro meses depois da data

oficial de criação da Capitania. A Rainha D. Mariana Vitória nomeou para o cargo de

Governador e Capitão-General Dom Antônio Rolim de Moura, em 25 de setembro de 1748,

expressando-se da seguinte forma:

Hei por bem de o nomear como pela presente o nomeio no cargo de

Governador e Capitão General da Capitania de Mato Grosso, por tempo de

três anos [...]. (VITÓRIA, 1748, apud FERREIRA; SILVA, 2008, p. 15).

Em 19 de janeiro, a Rainha D. Mariana Vitória, através de um documento formal que

continha instruções administrativas para Dom Antônio Rolim de Moura, lembrando da

importância da guarda das fronteiras como o Reino de Espanha, lhe diz o seguinte:

[...] fui servido criar uma Capitania Geral com o nome de Mato Grosso [...]:

1º - [...] atendendo que no Mato Grosso se querer muita vigilância por causa

da vizinhança que tem, houve por bem determinar que a cabeça do governo

se pusesse no mesmo distrito do Mato Grosso [...]; 2º - Por ter entendido que

no Mato Grosso é a chave e o propugnáculo do sertão do Brasil [...].

( VITÓRIA, 1748, apud FERREIRA; SILVA, 2008, p. 15).

No que se refere ao inventário toponímico mato-grossense, cabe elucidar que Vila

Bela da Santíssima Trindade também foi conhecida como Mato Grosso a partir de 17 de

setembro de 1818, perdurando até 29 de novembro de 1978, quando a Lei Estadual nº 4014/78

devolveu a antiga denominação do município: Vila Bela da Santíssima Trindade.

1. 2 MATO GROSSO: ALGUNS ASPECTOS DA ATUALIDADE

Mato Grosso sempre teve uma extensa área territorial. Mesmo perdendo uma

significativa porção de seu território para a formação do estado de Mato Grosso do Sul ainda

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é o maior da região Centro-Oeste com 903.357,9 km² e o terceiro do ranking nacional.5 A sua

capital é Cuiabá e sua estrutura geopolítica é composta de 141 (cento e quarenta e um)

municípios. Limita-se, internamente, com Rondônia, Pará, Amazonas, Tocantins, Goiás e

Mato Grosso do Sul e, externamente, com a Bolívia.

O estado de Mato Grosso ao longo do séc. XX começou a redirecionar suas

fronteiras econômicas. As atividades extrativistas foram perdendo força e cedendo espaço

para os demais setores econômicos de modo que, na agricultura, passou a produzir em grande

escala.

Com a expansão das atividades agropecuárias, a produção de arroz, milho, feijão,

mandioca, pecuária de corte, cana-de-açúcar, soja e algodão contabilizam milhares de

toneladas em todas as safras o que tem garantido uma economia sólida no ramo da produção

de gêneros alimentícios. Essa nova ordem econômica tem atraído a instalação de

agroindústrias que a ele chegam motivadas pela expressiva produção de grãos e carne e,

também, pelos incentivos fiscais, tornando-se a unidade da federação que mais cresce e gera

emprego e renda.

A população de Mato Grosso recenseada pelo IBGE em 2010 e divulgada em

04/11/2010 foi de 3.033.991 hab., sendo que 2.484.838 encontravam-se na zona urbana e

549.153 na zona rural. A densidade demográfica de Mato Grosso atingiu o índice de 3.36

hab/km². A representatividade da população urbana foi de 81,9% contra 18.1% da rural.

O turismo constitui-se, também, em outra fonte de renda, sendo o Pantanal mato-

grossense, a Chapada dos Guimarães, a Chapada dos Pareci, o Vale do Araguaia e o Vale do

Guaporé os locais mais visitados.

5 Mendes esclarece (2009, p. 109) que os valores das áreas das superfícies dos estados e municípios brasileiros

estão sendo periodicamente atualizados pelo IBGE conforme a evolução das metodologias ou as conclusões de

trabalhos em andamento. Esta área do estado de Mato Grosso (903.357,9 km²) é a que consta da Resolução da

Presidência do IBGE de nº 5 de 10 de outubro de 2002, publicada no Diário Oficial da União em 11 de outubro

de 2002. O valor da área anterior era 906.806,9 km².

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1.3 CUIABÁ, VÁRZEA GRANDE, BONSUCESSO E PAI ANDRÉ -

ASPECTOS GEO-HISTÓRICOS

Embora o foco desta pesquisa seja o levantamento, a descrição e a análise do

inventário toponímico existente nos distritos de Bonsucesso e Pai André, no município de

Várzea Grande-MT, ambos localizados à margem direita do rio Cuiabá, na rota dos

bandeirantes paulistas, antigo caminho fluvial de São Paulo através do rio Tietê6 até Mato

Grosso, necessário se faz, como já dito neste trabalho, rememorar alguns aspectos geo-

históricos de Cuiabá e Várzea Grande, uma vez que as duas comunidades, a exemplo de São

Gonçalo Velho, atual São Gonçalo Beira Rio, delas fazem parte ou têm com elas estreitos

laços socioculturais e linguísticos.

Por essa razão, justifica-se a inclusão nesta pesquisa de alguns topônimos

pertencentes aos municípios de Cuiabá, Várzea Grande, Nossa Senhora do Livramento e

Santo Antonio de Leverger, integrantes da Baixada Cuiabana, pelo imbricamento de relações

que os identificam como ramificações de um mesmo tronco geo-histórico e linguístico-

cultural dos dois distritos em foco.

A Baixada Cuiabana, Planície Cuiabana ou Vale do Cuiabá abrange uma área de

85.369,70 km². Além dos municípios anteriormente citados, outros como Acorizal, Barão de

Melgaço, Chapada dos Guimarães, Jangada, Nobres, Nova Brasilândia, Planalto da Serra,

Poconé e Rosário Oeste, compõem o seu território.

Essas localidades pertencem à bacia dos rios Cuiabá e Paraguai e têm como principal

polo de desenvolvimento e raízes socioculturais a cidade de Cuiabá, capital de Mato Grosso.

6 Tietê é o nome do rio que passa por S. Paulo. T. Sampaio interpreta: ty, rio, etê, fundo. Parece-nos que assim

não seja: etê, quer dizer verdadeiro, legítimo e não fundo. Seria então o rio verdadeiro, o rio por excelência

porque serviu de via principal aos indígenas e depois aos bandeirantes, ainda mais porque tal rio nasce, corre e

deságua sempre em território paulista. É, portanto, o rio paulista por excelência. Poderíamos ainda aventar outra

explicação: de tiê-tiê (muitos tiês) que se abreviou em tiete e seria então o rio dos tiês, em cujas margens há

muitos tiês. Esta explicação parece-nos a preferível (SILVEIRA BUENO, 2008, p. 353). Segundo o mesmo

autor tiê é uma ave também conhecida como canário da terra.

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BAIXADA CUIABANA, PLANÍCIE CUIABANA OU VALE DO CUIABÁ7

Fig. 02: Mapa da Baixada Cuiabana

Fonte: Sistema de informações territoriais (http://sit.mda.gov.br) .

7 Denomina-se Baixada Cuiabana, Planície Cuiabana ou Vale do Cuiabá a região formada pelos municípios e

comunidades que devem sua origem ao rio Cuiabá e seus afluentes, confluentes e defluentes. Segundo Santiago-

Almeida (2005, p. 21), “as águas desses rios foram utilizadas pelos monçoeiros e bandeirantes paulistas, no

século XVIII, como principal caminho de acesso, primeiramente, às aldeias indígenas (minas de escravos) e,

depois, às minas auríferas da dita região”. Tais atividades econômicas deram origem ao povoamento dessa

região, provendo-a de uma base cultural e linguística homogênea determinante na formação do falar cuiabano.

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1.3.1 CUIABÁ: ASPECTOS GEO-HISTÓRICOS

1.3.1.1 LOCALIZAÇÃO

Cuiabá, a capital do estado de Mato Grosso, está situada às margens do rio de mesmo

nome, na sua margem esquerda e forma uma conurbação com o município de Várzea Grande.

Faz limite com os municípios de Chapada dos Guimarães, Campo Verde, Santo Antônio de

Leverger, Várzea Grande e Acorizal. É um entrocamento rodoviário-aéreo-fluvial. É também

o Centro Geodésico da América do Sul e está localizada nas coordenadas geográficas 15° 35’

56”, 80 de latitude Sul e 56° 06’ 05”, 55 de longitude Oeste.

Segundo Lima (2007, p. 50-51) o quadro geomorfológico de Cuiabá é representado

pela Chapada dos Guimarães, pelo Planalto da Casca8 e pela Depressão Cuiabana. O relevo é

marcado por baixas amplitudes com altitudes que variam de 146 a 250 metros no perímetro

urbano. O ponto mais alto do município é o morro de São Jerônimo, localizado na serra da

Chapada, com a altitude aproximada de 1.000 m. A vegetação predominante nessa região é o

cerrado, porém o município é cercado por mais dois grandes ecossistemas: o pantanal e a

floresta amazônica.

Ainda, de acordo com esse mesmo autor, o clima predominante é o tropical, quente e

úmido. A precipitação pluviométrica média anual é de 1750 mm, com intensidade máxima

entre dezembro e fevereiro. A temperatura máxima, nos meses mais quentes, chega a 44°C. A

mínima varia entre 12°C e 14°C entre os meses de junho a agosto. Durante a seca, que vai de

maio a outubro, a umidade cai a níveis críticos, às vezes abaixo de 15%.

Quanto à hidrografia, cabe destacar que o município é o divisor das águas das Bacias

Amazônica e Platina. Entre os principais rios dessas redes hidrográficas estão o Cuiabá e o

das Mortes. Desde o século XVIII, o rio Cuiabá abriga em suas margens populações de

origem indígena, luso-brasileira e negra. Entre os séculos XVIII e início do século XX, foi o

rio que serviu de ligação entre Mato Grosso e as regiões Sudeste e Sul do país, bem como

com alguns países da América do Sul como Paraguai, Argentina, Uruguai e Bolívia. Somente

a partir da década de 1930 é que a navegação em Mato Grosso começou a ser desativada em

função da abertura de estradas de rodagem. Além desse rio, o município é banhado também

pelos rio Coxipó-açu, Pari, Mutuca, Claro, Coxipó, Aricá, Manso, das Mortes, São Lourenço,

Cumbuca, Suspiro, Culuene, Jangada, Casca, Cachoeirinha e Aricazinho.

8 O Planalto da Casca com feições geomórficas tabulares e convexas é uma das subunidades do Planalto dos

Guimarães (MENDES, p. 113).

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A economia centraliza-se no comércio, na indústria e, ultimamente, no turismo que

vem, aos poucos, despontando-se como fonte geradora de emprego e renda.

1.3.1.2 A FUNDAÇÃO

A história de Cuiabá, como a da maioria das cidades brasileiras surgidas nos séculos

XVII e XVIII, guarda estreita relação com o movimento desbravador dos bandeirantes

paulistas, e decorre de dois fatores: a captura de índios para comercialização e a descoberta de

ouro na região do rio Coxipó, afluente do rio Cuiabá.

A primeira notícia que se tem sobre esse território remonta ao período compreendido

entre 1670 a 1673, época em que o bandeirante paulista Manoel de Campos Bicudo subiu o

rio Cuiabá até confrontar-se com o Morro da Canastra, o atual Morro de São Jerônimo, em

Chapada dos Guimarães. Chegou à confluência do rio Cuiabá com o Coxipó, onde

estabeleceu acampamento, batizando o lugar de São Gonçalo. Bicudo ainda venceu os

contrafortes do Morro da Canastra, atingiu o rio que mais tarde seria denominado das Mortes

e por ele desceu em busca das famosas Minas dos Martírios, que, na opinião de Ferreira

(2001, p. 442), não passavam de lenda, criada pela imaginação fértil de sertanistas. Conclui o

historiador que as informações desencontradas de nomes e posições geográficas dos roteiros

foram confundindo mais e mais as informações sobre o lugar das minas, tendo sido

Diamantino o ponto de referência mais a oeste em Mato Grosso para se encontrá-las em

expedição organizada pelo Pe. Francisco de Sá Lopes, em 1820.

O segundo sertanista que chegou a Mato Grosso em 1718 foi Antonio Pires de

Campos, filho de Manoel de Campos Bicudo que, a exemplo de seu pai, acampou em São

Gonçalo, rebatizando-o de São Gonçalo Velho, onde encontrou os índios coxiponé (bororo),

dos quais aprisionou muitos, destruindo-lhes com fogo o aldeamento. Na opinião do autor,

Pires de Campos, que procurava as Minas dos Martírios, contentou-se com a preia dos índios.

De regresso a São Paulo, levando os índios cativos, Pires de Campos acampou, com

seu grupo, no local denominado “Bananal”, às margens do rio Cuiabá, plantando roças para o

abastecimento da comitiva, onde encontrou-se com a bandeira de Paschoal Moreira Cabral

Leme9, mostrando-lhe os índios aprisionados e dando-lhe indicações de que o rio Cuiabá na

9 Ferreira (2001, p. 36-37) ao referir-se ao descobrimento do ouro cuiabano enaltece os feitos de Paschoal

Moreira Cabral Leme, apresentando a opinião de renomados cronistas e historiadores a esse respeito. Vejamos:

1º) “...todos nós sabemos que o fundador de Cuiabá foi o bandeirante paulista Paschoal Moreira Cabral Leme,

mas o que muita gente ignora é que ele era bisneto pelo lado materno de PEDRO ÁLVARES CABRAL, Senhor

de Belmonte e descobridor do Brasil”(Rubens de Mendonça, em seu livro Nos Bastidores da História Mato-

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altura do Coxipó era o local propício à captura dos remanescentes da tribo coxiponé dada à

abundância deles ali existente. Sobre essa comitiva, esclarece Silva, O. (1982, p. 2-3) que a

bandeira de Moreira Cabral era composta de 56 homens brancos, aos quais se juntaram índios

e escravos que rumaram em direção ao Coxipó e, logo, às suas margens, encontraram ouro

pelo chão e índios admirados com o precioso metal.

Sobre o descobrimento de Cuiabá, Mendonça (1982, p. 13) afirma que:

“Foi sem dúvida alguma Antonio Pires de Campos quem descobriu

Cuiabá. Ele foi o primeiro homem civilizado a subir o rio em 1718, ao

qual deu o nome de Cuiabá, em virtude da existência de uma tribo de

índio de nome CUIABASES”.10

Como o intento de Moreira Cabral era capturar índios e levá-los para São Paulo

como mão-de-obra escrava, sua bandeira enveredou-se rio Cuiabá - Coxipó acima tendo sido,

nas proximidades do rio Mutuca, atacado pelos gentios, que o derrotou. Com o episódio,

retorna à barra do rio Coxipó onde acampa-se, fortifica-se e espera reforço para voltar à prea

de índios. Desse acampamento, originou-se o primeiro arraial, próximo ao lugar denominado

São Gonçalo Velho. Tudo indica que Moreira Cabral providenciou ali a primeira roça, pois

era costume dos paulistas plantar onde acampassem, assegurando a alimentação nas

percorridas pelo sertão.

Ao retroceder para o baixo curso do rio para recompor-se da batalha perdida, a

bandeira de Moreira Cabral que visava, a princípio, aprisionar índios encontrou, pelas

barrancas, granetes de ouro em tamanha quantidade que se extraía com as mãos e paus

pontudos. Como diz Capistrano de Abreu (1907, apud Lima, 2007, p. 52), os bandeirantes

viraram mineiros sem pensar e sem querer. Esse fato transformou, sobremaneira, o modus

vivendi dos bandeirantes, que extasiados ante a quantidade de ouro encontrado,

Grossense, página 15); 2º) “...era filho do paulista Pascoal Moreira Cabral, falecido em 1689, em Sorocaba, e de

Mariana Leme, filha de Bráz Esteves Leme, falecida também em Sorocaba, no ano de 1678. Paschoal Moreira

Cabral Leme, fundador de Cuiabá, tinha cinco filhos legítimos e três ilegítimos: De seus irmãos Tomé e Bráz,

moradores de Sorocaba, nada se conhece; apenas sabemos que eram genros do ilustre bandeirante André de

Zunaga, o companheiro das primeiras armas de Paschoal. De suas irmãs Sebastiana e Maria sabemos que

desposaram dois personagens de relevo, um filho do Capitão - Mor da Capitania de Itanhaém, Miguel Garcia

Lumbria e o ilustre bandeirante Bráz Mendes Paes” (idem, citando texto de Pedro Taques e Silva Leme); 3º)

“...somente Barbosa de Sá lhe fez justiça: homem de poucas palavras e pouco polido, mas de entendimento

agudo, sincero, sem maldade alguma e de extrema caridade; a todos servia e remediava com o que tinha e podia;

era amigo de Deus, experto nas milícias dos sertões e exercícios de mineiras; finalmente valoroso e constante

nos trabalhos”. Paschoal Moreira Cabral Leme faleceu a 10 de novembro de 1724, na Cuiabá que fez nascer. 10

O nome CUIABASES apresenta-se grafado em letras maiúsculas exatamente como consta na obra “História de

Mato Grosso, de Rubens de Mendonça (1982, p. 13). Nesta dissertação optou-se por respeitar a originalidade da

obra, mantendo-se , dessa forma, a grafia apresentada pelo autor.

O nome PEDRO ÁLVARES CABRAL foi mantido em letras maiúsculas em respeito à grafia original apresentada

pelo autor.

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desinteressaram-se da caça aos selvagens para se dedicarem ao garimpo estabelecendo, assim,

um núcleo minerador na região.

A notícia do ouro das minas do Coxipó provocou um gigantesco afluxo de paulistas,

mineiros e habitantes do litoral a Cuiabá de tal forma que o cronista Joseph Barbosa de Sá

(1975, p. 12) assim comentou:

Tamanho foi o alvoroço com a descoberta de ouro nesta região, que

em São Paulo, nas Minas Gerais e no litoral se aballarão muitas gentes

deixando cazas, fazendas, mulheres e filhos botando-se para estes

Sertoens como se fora a terra de promissam ou o Parahyso incoberto

em que Deus pos nossos primeiros paes.

Esses grupos de pessoas, principalmente paulistas, chegavam a Mato Grosso se

servindo de expedições fluviais denominadas monções que partiam, geralmente, do Porto de

Araritaguaba11, atual Porto Feliz, no rio Tietê, antigo Anhembi. Muitos caminhos fluviais com

destino à Vila do Senhor Bom Jesus do Cuiabá foram usados pelas monções, que demoravam

aproximadamente três meses nessa empreitada, passando da bacia do rio Paraná à do Paraguai

na Serra de Maracaju, a divisora das águas.

De acordo com Silva, P. (2007, p. 07), as monções legaram toda uma gama de

relações e marcas na paisagem, de apropriação dos meios naturais, de ação criativa nos

aspectos culturais, materiais e imateriais. Entende ademais que, embora as monções tenham

admitido formas e objetivos bastante diversos - de povoamento, comerciais, exploratórios,

militares, e até científicos, o elemento que as unifica como movimento e como método é o

emprego sistemático das bacias do rio Paraná e Paraguai como vias de transporte para os

sertões. Suas origens remontam ao estabelecimento do núcleo colonial à beira do rio Cuiabá e

às atividades de seu abastecimento, estendendo-se até o final da década de 1830, quando da

última monção.

Os grupos de paulistas que foram chegando subiam o rio Cuiabá e igualmente foram

se dedicando à extração do ouro. Subiram também o rio Coxipó e seus afluentes, assim como

se espalharam pelas regiões vizinhas. Como consequência, conforme relato de Póvoas (1985,

p. 14), foi abandonado o arraial primitivo e iniciou-se um agrupamento num ponto em que o

rio Coxipó se bifurca, formando um galho, semelhante a uma “forquilha”. Assim, fundou-se

Forquilha, o embrião do povoamento da futura Capitania de Mato Grosso, na confluência do

rio Mutuca com o Coxipó, sob a invocação de Nossa Senhora da Penha de França.

11

Conforme Sampaio (1987, p. 200) o topônimo Araritaguaba, de origem indígena tupi (s.c Arár-itá-guaba), quer

dizer o barreiro das araras ou dos papagaios; lugar abarrancado à margem do rio, onde essas aves vêm comer o

barro salitroso. São Paulo. V. Itaguaba. Era o primitivo nome da cidade de Porto Feliz.

Para Silveira Bueno (2008, p. 563), Araritaguaba, vem de arara-itáguaba: o barreiro das araras ou dos papagaios.

Paredão salitroso à beira do Tietê onde se encontram essas aves à procura do salitre.

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A notícia da descoberta das Minas do Cuyabá ensejou o afluxo de novas bandeiras

para o local, de tal modo que o povoado de Forquilha recebia mais gente, provocando a

ocupação desordenada do lugar, abrangendo, inclusive, as cabeceiras dos rios Coxipó, Mutuca

e Peixe. O adensamento populacional de Forquilha foi inevitável, o que preocupou a

comunidade quanto à manutenção da ordem e da estabilidade do núcleo. Este fato levou

Moreira Cabral, juntamente com alguns outros bandeirantes, a lavrar uma ata e fundar o

Arraial de Cuiabá, devendo, a partir de 08 de abril de 1719, seguir administrativamente os

preceitos e determinações legais da Coroa.

Na visão de Ferreira (2001, p. 36), a Ata de Criação de Cuiabá deixa nítida a

preocupação de Moreira Cabral em notificar à Coroa Portuguesa os seus direitos de posse

sobre as novas lavras12.

Mais tarde, em 1722, o sorocabano Miguel Sutil, agricultor, subindo o que viria a ser

o córrego da Prainha, próximo ao rio Cuiabá, descobriu no local denominado “Tanque do

Arnesto,” um dos veios auríferos mais importantes da área: as “Lavras do Sutil”, onde

atualmente encontra-se a Igreja Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito, em Cuiabá.

Com a descoberta das “Lavras do Sutil”, a povoação da Forquilha entrou em

decadência. Seus moradores transferiram-se para o novo povoado, em 1723, onde foi

descoberta uma das maiores manchas de ouro de que se tem notícia no Brasil, tendo sido

retirada dela mais de quatrocentas arrobas do metal o que provocou a vinda de aventureiros e

sertanistas de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Piauí e Maranhão.

Mendonça (1982, p. 15) noticia que era tal a fama da nova descoberta, que eles

enfrentavam perigos sem conta, atravessando o sertão bruto, vencendo mais de quinhentas

léguas, em canoas, partindo de Araritaguaba descendo o rio Tietê, que nasce no litoral e corre

para o interior, e o Grande subindo o Anhanduí acima da barra do rio Pardo, atravessando a

Vacaria, descendo pelo Mbotetéu e deste subindo pelo Paraguai, o rio Porrudos, até o Cuiabá.

A migração oriunda de todas as partes da colônia tornou-se mais intensa, fato que fez de

Cuiabá, no período de 1722 a 1726, uma das mais populosas cidades do Brasil.

Ainda em 1723, o Capitão Jacinto Barbosa Lopes construiu, às suas custas, a Igreja

Matriz, no mesmo local em que hoje se encontra, dando-lhe o título de Igreja do Senhor Bom

12

Sobre a Ata de Fundação de Cuiabá há duas versões antagônicas. A primeira defendida por Mendonça (1982,

p. 13), afirma que o documento viera pronto de São Paulo, cabendo, tão somente a Moreira Cabral, a quem

pertence a glória da fundação de Mato Grosso, convocar sua gente e assinar a certidão de nascimento de Cuiabá.

A segunda, encabeçada por Póvoas (1985, p. 15), está convicta de que a referida Ata foi lavrada e assinada no

Arraial da Forquilha, às margens do rio Coxipó.

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Jesus de Cuiabá, onde seu irmão, o Frei Pacífico dos Anjos, religioso franciscano, rezou a

primeira missa.

Depois de haver trocado várias cartas com Moreira Cabral, chega a 15 de novembro

de 1726, neste arraial, o Capitão General Governador da Capitania de São Paulo, Dom

Rodrigo César de Menezes, acompanhado de uma grande frota de canoas.

O primeiro ato de Rodrigo César de Menezes foi o de 1º de janeiro de 1727,

elevando Cuiabá à categoria de Vila, com o nome de Vila Real do Senhor Bom Jesus de

Cuiabá e instalando a sua Câmara. Nomeou o Capitão-Mor Jacinto Barbosa Lopes provedor

da Real Fazenda, e logo entrou este a cobrar os quintos de El-Rei em uma época em que a

Vila passava por uma das mais terríveis crises, como conta Barbosa de Sá, citado por

Mendonça (1982, p.17):

[...] a terra falta de mantimentos por falharem as roças, que brotavam os

milhos espigas sem grão algum; as doenças atuais os que escapavam delas,

não escapavam da fome; assim que tudo era gemer, chorar, morrer.

Expõe, ainda, o historiador que Rodrigo César de Menezes fez na Vila uma série de

extorsões,

[...] basta dizer que tendo este ano, chegado uma monção por ordem do

General, foi o ajudante do Palácio com uns tantos homens, recebê-la na barra

de Cuiabá para que pagassem as entradas das fazendas que trazia, se não as

pagassem, logo a fazenda era posta em praça onde se as arrematavam todas

as vezes que cobriam os direitos reais, e salários do ajudante e seus

companheiros, que foram buscá-las, que era duas oitava13 de ouro cada uma

delas.

De tal forma se executavam essas cobranças, que os proprietários chegavam a

entregar todo o carregamento da monção que traziam para se verem livres do fisco.14

O estado da Villa Real do Senhor Bom Jesus de Cuyabá, quando Rodrigo César de

Menezes regressou a São Paulo era desolador. Sobre o assunto opina Barbosa de Sá:

A Villa só tinha 8 ou 9 casas de telha, entre as quais a melhor é a que foi do

General Rodrigo César; as mais são de capim, mas como sendo assim, não se

13

A expressão que era duas oitava consta no texto original e, por esse motivo foi mantida em respeito ao

conteúdo da obra constante em Mendonça (1982, p. 17). 14

Mendonça (1982, p. 17-18) descreve a contumácia com que eram promovidas algumas extorsões fiscais a

mando de Rodrigo César de Menezes. Dentre elas relata o caso em que o General enviou o Padre André dos

Santos Queiroz, em 1728, a São Paulo, com sete arrobas de ouro relativas aos quintos de El-Rei, a fim de que

fossem remetidas a Portugal. O ouro foi entregue ao Provedor da Real Fazenda, Sebastião Fernandes do Rego,

que o enviou à Corte em Lisboa. A dita remessa chegou ao seu destino adulterada, pois em lugar do ouro

encontrou-se chumbo em grão de munição. Ao apurar o fato não se materializou a autoria do crime, contudo,

tanto o General como o Provedor da Real Fazenda ficaram sob suspeição, pois a Administração de Rodrigo

César de Menezes foi caracterizada por uma série de extorsões, processos e atos da mais requintada violência e

rapacidade. Sebastião Fernandes do Rego na opinião de Viriato Corrêa, citado por Mendonça, “foi uma das

almas mais sórdidas que Portugal mandou ao Brasil”.

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vendiam quando cheguei, por mais pequenas que fossem, por menos de 200

a 500 oitavas cada uma, e as que tinham mais algum cômodo chegavam a

700, porém daí a dois anos as vi vender a 40 e 50 oitavas quando as não

desamparavam os donos que vinham para o povoado, o mesmo sucedeu às

roças que pedindo por algumas quando fui, 300 a 400 oitavas, vendiam ao

depois por 50 e 100, e muitas as abandonaram os seus donos retirando-se

para São Paulo.

A administração do governador Rodrigo César de Menezes que trouxe para Cuiabá

mais de 3000 pessoas operou transformações radicais em seu sistema econômico-

administrativo. A medida mais drástica foi a elevação do imposto cobrado sobre o ouro,

gerando aumento no custo de vida, devido ao crescimento populacional, agravando a situação

precária do garimpo já decadente. Esses fatos, aliados à grande violência que mesclou a sua

administração, bem como a escassez das minas de Cuiabá, tornaram-se fundamentais para a

grande evasão populacional para Vila Bela, Goiás e São Paulo.

Assim, em consequência da diminuição do ouro cuiabano e com a criação da

Capitania de Mato Grosso, grandes contingentes de mineradores e demais pessoas se

deslocaram para Villa Bela da Santíssima Trindade, a capital da Capitania de Mato Grosso,

deixando Cuiabá estagnada por um período de setenta anos.

1.3.2 VÁRZEA GRANDE: ASPECTOS HISTÓRICOS E

GEOGRÁFICOS

O município é novo, mas a terra é velha e não queremos ficar sem o registro

da nossa modesta história, desde a origem, para que a posteridade não nos

censure, afirmando: “Eles passaram - não sabemos quem somos - nem

disseram o que foram e o que foi Várzea Grande.”

Ubaldo Monteiro (1973, p. 13)

1.3.2.1 LOCALIZAÇÃO

Várzea Grande localiza-se na margem direita do rio Cuiabá e limita-se ao norte com

os municípios de Acorizal e Jangada, a leste, com Cuiabá e Santo Antônio de Leverger, pelo

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rio Cuiabá, ao sul e a oeste, com Nossa Senhora do Livramento, tendo sido, até 1948, o 3º

Distrito de Cuiabá e, segundo Monteiro (1973, p.185),

[...] parte integrante da Capital Mato-grossense, com a qual se irmana hoje,

como um só corpo, por onde o rio Cuiabá passa como a grande artéria a

beneficiar suas terras ribeirinhas, oriundas de um mesmo lustro de uma

mesma descoberta bandeirante, fadadas ao mesmo radioso destino que o

futuro lhes reserva.

De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-

IBGE/2009, o município tem como coordenadas geográficas e pontos extremos: 15° 38’ 49”,

de latitude Sul e 56° 07’ 58”, de longitude Oeste.

A altitude é de 185m acima do nível do mar. O município não possui elevações

notáveis, pode-se afirmar, com fulcro na lição de Monteiro (1987, p. 16), que a inclinação

mais forte em toda sua área é a rampa chamada Morro Vermelho - modelado do terreno que o

milenar serviço de erosão conquistou, para ajudar na formação do rio Cuiabá. O predomínio é

dos chapadões cobertos de cerrados e uns poucos capões, exceção feita da marginal área do

rio Cuiabá e do seu afluente, o rio Pari, onde a macega já fora densa.

Quanto ao clima, este é classificado como tropical, quente e úmido, com chuvas

abundantes em janeiro, fevereiro e março e a temperatura média anual é de 26°C.

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MAPA DO MUNICÍPIO DE VÁRZEA GRANDE15

Fig. 03: Mapa do município de Várzea Grande/MT destacando Bonsucesso e Pai André.

Fonte: Monteiro (1987, p. 24), com adaptação.

No tocante à flora, o cerrado domina na região, com matas mais densas em beiras de

rios e áreas úmidas, observando-se uma tendência de transição com o Pantanal.

Do ponto de vista econômico, Várzea Grande é predominantemente comercial e

industrial, sendo a agricultura de subsistência e a pecuária de cria, recria e corte. Através de

incentivos fiscais e doações de terras, indústrias se instalaram na região, constituindo,

juntamente com a capital, o principal pólo industrial do Estado.

Sua atual circunscrição geo-política é formada por 06 distritos e 107 bairros. As

localidades que representam os distritos são: a sede, Bonsucesso, Engordador, Pai André,

Praia Grande e Souza Lima.

15

Constam ainda neste mapa localidades que integram o corpus desta pesquisa e que são denominadas pelos

seguintes topônimos: Várzea Grande, Limpo Grande, Praia Grande, Capão Grande, Passagem da Conceição,

Cuiabá, Santo Antônio de Leverger, Nossa Senhora do Livramento e Rio Espinheiro.

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1.3.2.2 A FUNDAÇÃO

Várzea Grande, que forma uma conurbação com Cuiabá, da qual é separada apenas

pelo rio Cuiabá, tem seu início no século XVIII, quando Miguel Sutil transpôs o rio e tentou a

mineração nos córregos e encostas do Morro Vermelho (hoje Aeroporto Internacional

Marechal Rondon) onde nada encontrou, nem ouro nem índio.

O topônimo Várzea Grande foi motivado pela extensa planície, na qual o núcleo

urbano se originou e se desenvolveu, abrangendo enormes várzeas.

Ferreira e Silva (2008, p. 230-231) relatam que as origens históricas de Várzea

Grande se perdem nos primeiros dias de Cuiabá. Registra-se como data oficial da fundação da

Comuna o dia 15 de maio de 1867, época em que o General José Vieira Couto de Magalhães,

advogado e mineiro de Diamantina, presidia a Província de Mato Grosso.

Com o passar do tempo formou-se uma estrada, ligando Cuiabá a Livramento e

Poconé, passando por Várzea Grande, onde, mais tarde, criou-se um campo de refugiados

para abrigar paraguaios, no tempo da Guerra do Paraguai, para protegê-los do ódio dos

cuiabanos, sentimento nascido de notícias divulgadas das atrocidades de Solano Lopez contra

brasileiros.

Os presos paraguaios, hábeis no corte e secagem da carne bovina e, também, na

fabricação de arreios e curtume, atraíram compradores e tornou Várzea Grande uma povoação

famosa por ter a melhor carne seca da Província. Terminada a guerra, tanto os paraguaios

como os soldados brasileiros, os vaqueiros, os carniceiros16 e os lavradores, permaneceram na

localidade.

A Lei Provincial nº 145, de 06 de abril de 1886, elevou o povoado de Várzea Grande,

que sempre teve este nome, à categoria de Paróquia que pela Lei Estadual nº 126, de 23 de

setembro de 1948 é transformada em município, com território desmembrado do município de

Cuiabá.

Várzea Grande, denominada inicialmente de várzea do boiadeiro ou do vaqueiro

viria a transformar-se na cidade industrial de Mato Grosso. De acordo com o censo do

16

O termo carniceiro era atribuído aos paraguaios, prisioneiros da Guerra do Brasil com o Paraguai, em razão de

sua perícia no corte e secagem da carne, no fabrico do arreame e no curtume de couros. A respeito desse ofício

descreve Monteiro (1987, p. 19-20): “Por ser um ponto de negócios de gado, desde cedo iniciou-se a matança de

bois no povoado de Várzea Grande. Os presos paraguaios entrosados com os boiadeiros manteavam e secavam a

carne, diariamente, passando a vendê-la em Cuiabá, por intermédio de brasileiros que conduziam as mantas para

a Capital em bruacas de couro cru, ali mesmo fabricadas e postas sobre o dorso de burros e de bois até a margem

do Cuiabá para, então, após a travessia, colocá-las à venda no comércio do porto.”

Segundo Houaiss (2009, p. 408) o verbete carniceiro, s.m. é aquele que tem o ofício de abater reses; o que

esquarteja carne para vendê-la a retalho; açougueiro.

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IBGE/2010 tem 938.057 km² de extensão e possui 248.130 habitantes. Atualmente com sua

economia predominantemente comercial e industrial forma, com Cuiabá, a região

metropolitana mais importante do estado de Mato Grosso.

1.3.3 BONSUCESSO

Criado em 1823, à margem direita do rio Cuiabá, Bonsucesso, o mais antigo distrito

de Várzea Grande, é uma comunidade tradicional ribeirinha que cresceu em torno de um

engenho de açúcar.

A toponímia original nomeou o lugar de “Custa-me-ver”, em razão do grande

matagal e das poucas casas existentes, situação que não servia como atrativo para novos

moradores e visitantes. Mais tarde, seu fundador, Justino Antonio da Silva Claro, denominou

o lugarejo de Bom Sucesso, afirmando, com convicção: - “Aqui, ainda vai ser um sucesso!”.

Medeiros (2011) apresenta outra versão sobre esta frase profética relatada por

Petronilio Gonçalves da Silva17. Segundo relato, Justino Antônio enfiou o facão na bainha,

passou as costas da mão no rosto enrugado e suado, tirou o chapéu, olhou agradecido para o

céu e falou confiante: “Este lugar vai ser um bom sucesso!”

Esta afirmação otimista do fundador de Bonsucesso que vislumbra um futuro

promissor para a sua localidade coincide com a observação de Dick (1990, p. 94) a respeito de

topônimos que parecem trazer consigo a reminiscência de algumas das funções mágicas dos

nomes ou das crenças supersticiosas a eles atribuídas, desde os tempos mais remotos. Acredita

a autora que talvez mais evidentes se tornem tais crenças em topônimos do tipo Bom Futuro,

Bom Lugar, Bom Nome, Bom Princípio, que poderiam traduzir intenções, esperanças,

desejos, enfim, dos moradores, no sentido de que, realmente, tais localidades correspondam,

no decurso dos dias, à expectativa comum.

.

17

O Sr. Petronilio, popularmente conhecido como “Seo Fião” é irmão da Srª Belmira Ferreira Fontes, a Dona

“Buguela”, ambos bisnetos de Justino Antonio da Silva Claro, o fundador de Bonsucesso.

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Fig. 04: Rua João Gil da Silva, conhecida como Rua Principal ou Rua da Beira.

Fonte: Prefeitura Municipal de Várzea Grande/SECOM de Várzea Grande/MT.

Bonsucesso, a quem seu fundador vislumbrou muita prosperidade está localizado

na zona rural a uma distância de 08 (oito) km da sede de Várzea Grande. Sua rua principal,

denominada Rua João Gil da Silva ou, simplesmente, Principal, com cerca de um km, margeia

a barranca do rio Cuiabá, assim como as demais ruas de outras comunidades à beira-rio dessa

região da Baixada Cuiabana18. Integravam o seu território as localidades de Souza Lima

(antigo Sovaco), Capão Grande, Pai André, Praia Grande, Capela do Piçarrão (ou Pissarrão) e

Limpo Grande.

Segundo Tavares (2004, p. 02), esse distrito é fruto da ocupação portuguesa no início

do séc. XVIII, pelo método da expropriação e ocupação imediata impingida pelos

aventureiros e nobres portugueses que vinham em busca de ouro e, nessa busca, plantavam

roças como meio de assegurar sua subsistência.

A respeito dessas plantações, Ferreira, M. (1999, p. 136) relata que as primeiras

roças foram plantadas às margens do rio Cuiabá, próximo ao desaguadouro do rio Coxipó,

quando as expedições de Antonio Pires de Campos e Pascoal Moreira Cabral se estabeleceram

18

Nas comunidades ribeirinhas dessa região as casas são alinhadas formando uma rua ao longo da margem do

rio como pode ser constatado em Passagem da Conceição, São Gonçalo e Pai André.

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para se recuperar do confronto que tiveram com os Coxiponés19. Essas roças visavam ao

suprimento imediato das Monções.

As práticas sociais relativas à posse e uso das terras foram herdadas de caboclos e

pessoas simples nascidas no lugar que no passado abrigou bandeirantes, posseiros, donatários,

negros forros, escravos e índios, com suas atividades econômicas como plantio de roças em

geral, engenhos e alambique de cana-de-açúcar.

Bonsucesso era uma sesmaria,20 cuja posse das terras, por herança, coube a João

Baptista da Silva Claro e a Justino Antônio da Silva Claro, cabendo a este último, de fato a

origem do lugar já que montou um sítio com empregados e escravos nas terras herdadas de

seus pais.

Conforme narrativa de moradores antigos do lugar, as terras onde se situa

Bonsucesso pertenciam, no século XIX, a Justino Antônio da Silva Claro, fazendeiro que

possuía empregados e escravos. Seus herdeiros dividiram a área de terra e nela fizeram suas

criações e lavoura, sendo a cana-de-açúcar a principal plantação, da qual se produzia

aguardente de alambique, além do “açúcar de barro”, espécie de açúcar mascavo.

A história oral registra ainda a existência de senzala tanto na margem direita quanto

na esquerda do rio Cuiabá. No lado direito, havia uma senzala, um grande galpão que

abrigava um alambique e um engenho de cana-de-açúcar, cuja produção em regime de

sesmeiro remonta ao séc. XVIII e alimentava as máquinas dos engenhos e alambiques do Rio

Abaixo, principalmente as usinas São Gonçalo e Conceição, à força da mão-de-obra escrava

negra (TAVARES, 2004, p. 3).21

Atualmente, Bonsucesso vive economicamente da pesca que, embora já não

represente a única fonte de renda ou o suficiente para os pescadores locais, ainda gera

dividendos às famílias que complementam sua renda trabalhando aos finais de semana nas

iniciativas comerciais ligadas a gastronomia à base de peixe.

É importante consignar que, atualmente, Bonsucesso conta, em sua rua principal,

com dez peixarias22, sendo por isso integrante da chamada Rota do Peixe. O peixe, então,

19

O termo “Coxiponés” está escrito no plural e o termo “Monções” com inicial maiúscula em respeito à grafia

original da autora. 20

Sesmaria era uma área desmembrada do domínio público e concedida ao particular, para que este fizesse a sua

utilização econômica, conservando, no entanto, o monarca, a titularidade sobre o bem; o sesmeiro pagava ao rei

determinados privilégios e, não cumprindo a sua obrigação, ocorria o comisso, perdendo o direito sobre a

sesmaria (DI PRIETO, 2007, p. 630). 21

Sobre o trabalho escravo, Tavares (2004, p. 3) afirma que há herdeiros remanescentes do período, com

residência fixa à margem esquerda do rio Cuiabá, como pequenos chacareiros, os quais têm sua vida política e

econômica servida da pequena atividade comercial da vila, sede do distrito, e toda sua vida social ligada a ela. 22

As peixarias existentes na Rua João Gil da Silva, a denominada Rua Principal de Bonsucesso são: Peixaria da

Reserva, Raízes da Terra, Amigu’s, Magalhães, Caxara, Vovô Painha, Mangueiras, 4 R, Tarumã e Beira-

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constitui-se o carro-chefe da economia local, com a pesca profissional, organizada através da

Associação dos Pescadores, que possui 110 associados com registro profissional e é

responsável também pela realização da Festa de São Pedro que faz parte do calendário

turístico do estado de Mato Grosso.

Além do peixe, o distrito também se sustenta por pequenos estabelecimentos

comerciais, pelo artesanato marcado pela tecelagem de redes e bordados, pelo cultivo do

tabaco, horticultura, cana-de-açúcar e produção de doce e rapadura por método artesanal

durante todo o ano, comercializados no próprio local, principalmente nos fins de semana, nas

peixarias e feiras livres de Cuiabá e Várzea Grande.

Vale registrar que, embora o peixe seja a principal fonte da economia local, a maior

parte do pescado consumido atualmente é proveniente das pisciculturas da região que

comercializam o denominado “peixe de tanque.”

Sobre a escassez do pescado natural, Tavares (2004, p. 03) afirma que os pescadores

de Bonsucesso atribuem sua decadência à má conservação ambiental do rio Cuiabá, já que a

cidade de Cuiabá fica acima do distrito e tem boa parcela de seu esgoto tratada e seus detritos

descartados no rio contribuindo, dessa forma, para aumentar o nível de poluição do rio.

A questão do esgoto também é abordada por Romio (1999, p. 37) que afirma que no

ano de 1995 foram lançados no rio Cuiabá 41.201 kg DBO/dia. Também foi estimado que

cerca de 9378 kg /dia de nitrogênio e 2345 kg/dia de fósforo são lançados no referido rio, ao

longo de seu percurso.

No distrito há também uma grande produção de tijolos, telhas e areia para a

construção civil, com diversas dragas e cerâmicas instaladas em seu território, empresas que

ao mesmo tempo que geram emprego e renda para a população local, causam prejuízos ao

meio ambiente.

Outra fonte de renda é o turismo que atrai visitantes para as festas religiosas do

Divino Espírito Santo, São Benedito e São Pedro Pescador, além do carnaval de rua.

No início do século XX, existiam quinze casas rústicas em Bonsucesso, locais onde

se realizavam as festas juninas reunindo cantores de cururu e dançadores de siriri,23 acorrendo

Rio, sendo esta última (Beira Rio) a mais antiga e que possui o maior número de clientes, atendendo, em média,

por dia de domingo ou feriado, um contingente de 300 pessoas. 23

O cururu e o siriri são manifestações folclóricas típicas da Baixada Cuiabana e que fazem parte da cultura

popular de Mato Grosso. São danças de origem indígena, portuguesa e espanhola e são mais populares nas zonas

rurais e ribeirinhas. O cururu é um ritmo típico do Centro Oeste o qual é tocado somente por homens com

improvisações e repentes elaborados na hora ou, ainda, versos que já estão na memória do povo. Já o siriri, em

Mato Grosso, é dançado por crianças, mulheres e homens em rodas ou fileiras formadas por pares que

acompanham toadas alegres que exaltam a natureza, a vida cotidiana, as pessoas, as cidades, os amores, a

devoção aos santos, dentre outros temas. (Agência SEBRAE de Notícias, de 05/09/2008).

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a elas gente de todos os povoados para encontrar comida e, principalmente, diversão. Fruto

dessa tradição é o grupo “Os Cinco Morenos”, formado por músicos de Bonsucesso e Souza

Lima. Atualmente há mais de 200 casas com cerca de 1200 hab. e as festas com danças

tradicionais continuam com o mesmo entusiasmo de outrora.

A história da educação em Bonsucesso está ligada à criação da primeira escola

denominada Escola Rural Mista de Bonsucesso, em 1908. Sete anos depois, em 1915, foi

transferida para a comunidade de Capão Grande. Pelo Decreto-lei nº 511-A, Dom Aquino

Correa criou, em 16/03/1920, a segunda escola pública que veio transferida da localidade de

Sucuri, sendo denominada Escola Rural Mista, destruída com a enchente do rio Cuiabá em

1974. Reconstruída e autorizada a funcionar pelo Decreto nº 163/76, tem o nome de Escola

Municipal de 1º Grau Professora Maria Barbosa Martins.

A Associação de Moradores do Distrito de Bonsucesso foi criada em 1983 e

registrada em 18/06/1984 no Cartório do 1º Ofício de Cuiabá-MT. Outra organização, criada

em 07/12/2004, é a Associação de Cultura e Turismo de Bonsucesso, entidade civil de direito

privado sem fins lucrativos, que visa ao incentivo do turismo, à preservação da história, das

tradições, das festas de santo, como as de São Pedro e São João e demais manifestações

culturais de Bonsucesso. Essa entidade é resultante da parceria entre o Serviço Brasileiro de

Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE, a Comunidade Distrital e a Prefeitura

Municipal de Várzea Grande. A Festa de São Pedro de Bonsucesso foi declarada oficialmente

como evento tradicional da manifestação cultural e religiosa do patrimônio cultural mato-

grossense e, como tal, consta do calendário estadual de eventos culturais e turísticos.

1.3.4 PAI ANDRÉ

O distrito de Pai André, a exemplo de Bonsucesso, também é uma comunidade

ribeirinha24 cujo processo de reprodução de sua história sócio-econômico-cultural inicia-se

através do rio Cuiabá, com a chegada dos bandeirantes paulistas a partir do século XVIII,

quando começaram a surgir os primeiros povoados em decorrência das descobertas auríferas.

Na opinião de Ferreira, M. (1999, p. 136-137) os grupamentos humanos, nas

proximidades de Várzea Grande, foram povoados formados no passado por um grupo de

24

Denomina-se Comunidade Ribeirinha segundo Ferreira, M. (1999, p. 138) o núcleo humano menor existente

às margens do rio Cuiabá, onde seus componentes vivem da pesca e da agricultura de subsistência.

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famílias estabelecidas em determinadas áreas, mormente as ribeirinhas. Esses grupamentos

que se originaram das relações de escravos, proprietários de usinas, indígenas e garimpeiros

têm no rio Cuiabá o celeiro de alimento, de relações sociais e de cultura. Para a autora, a

condição de solos férteis das margens do rio Cuiabá proporcionou o desenvolvimento da

cana-de-açúcar que, a partir da metade do século XIX até o primeiro quarto do século XX, se

torna fonte econômica dominante na região.

No período da produção açucareira, o povoamento do vale do rio Cuiabá aumentou

em função da implantação de 12 usinas ao longo do rio, o que atraiu a atenção de muitas

pessoas de outras áreas, dada a necessidade de mão-de-obra para o cultivo e beneficiamento

da cana.

O referido distrito, a exemplo de outras comunidades ribeirinhas, é um pequeno

povoado formado por uma única rua denominada Antidio Manoel da Silva, porém é

popularmente conhecida como Principal, cujas habitações dispersas estão linearmente

distribuídas ao longo da margem direita do rio. As casas são simples, muitas delas de barrote,

estão alinhadas formando a referida rua onde circulam pedestres, animais, carros de bois e

automóveis.

Como se vê, a rua é de fundamental importância para um lugar, pois para ela tudo

converge, consoante abordagem de Dick (1996, p. 132). A assertiva é verdadeira mesmo em

se tratando de pequenas comunidades como é o caso de Pai André cuja função de sua rua

principal é a de refletir o seu cotidiano, considerando-se que,

A rua é um ponto singular de atração da cidade, um verdadeiro microcosmo

dentro do organismo maior do aglomerado urbano. Para ela tudo converge,

desde o fato corriqueiro do dia-a-dia, o simples entra e sai das casas até as

grandes comemorações solenes ou festivas. As religiões usaram-na para

levar ao povo a materialização da fé; eram mesmo, as procissões grandes

espetáculos, com os santos tradicionais percorrendo os caminhos para

receberem as homenagens dos devotos, nos passos ou oratórios que, de

distância em distância, ornavam o trajeto, tudo a rua testemunhando, numa

atitude cúmplice de aceitação.

O lugarejo situa-se entre os distritos de Bonsucesso e Praia Grande em frente ao

Morrinho, também conhecido como Morro de Santo Antônio. A maioria de sua população é

oriunda de Santo Antônio de Leverger e do Morrinho, localidades da margem esquerda do rio

Cuiabá, submetidas à frequentes inundações, decorrentes da baixa altitude de suas áreas

situação que as tornam alagadiças e insalubres. Por esse motivo, os moradores migraram-se

para o distrito de Pai André, margem direita do rio Cuiabá, em terras mais altas.

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De acordo com a Associação de Moradores do Distrito de Pai André, a comunidade

possui 235 hab. e grande parte de sua força produtiva atua na atividade pesqueira, sendo que

algumas famílias têm como fonte de renda a pesca, o aluguel de canoas e de pesqueiros.

Fig. 05: Pescador de Pai André

Fonte: Prefeitura Municipal de Várzea Grande/SECOM de Várzea Grande/MT.

A informação da referida Associação pode ser endossada pelo relato Monteiro (1973,

p. 107-108) que assim afirma:

essa povoação já teve muitos moradores, na época das usinas açucareiras, do

tráfego das lanchas e dos barcos a zinga (varejão)25

, quando ali floresceram

os canaviais. Com a decadência das usinas de açúcar, parte considerável da

população migrou-se para Várzea Grande e Cuiabá, o lugar empobreceu e

sua gente sobrevive hoje da horticultura, da pesca, bem como do aluguel de

canoas e de pesqueiros para turistas e pescadores amadores.26

A implantação da Cooperativa de Pescadores e Artesãos de Pai André e Bonsucesso –

COORIMBATÁ em 1997 deu novo alento ao distrito, pois desde que nasceu faz parte do Projeto

Agregação de Valor à Produção através da Agroindustrialização do Consórcio de Segurança

25

Zinga ou varejão, s. f. vara comprida com que se impulsiona embarcação miúda (canoa, jangada etc.) em

águas rasas. (HOUAISS, 2009, p. 1975). 26

Atualmente existem os seguintes pesqueiros/restaurantes na comunidade de Pai André: Pesqueiro do Honório,

Pesqueiro do Vivi, Pesqueiro do Baiano, Pesqueiro da Morena, Pesqueiro do Nhonhô e Pesqueiro do Ramón.

Vale esclarecer que em todos eles é praticada somente a pesca artesanal.

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Alimentar e Desenvolvimento Local - CONSAD da Baixada Cuiabana, que atua em projetos

de inclusão social gerando trabalho e renda para pescadores artesanais, agricultores e famílias

de baixo poder aquisitivo.

No passado, esse distrito tinha um importante papel no processo de crescimento

econômico da região ribeirinha por representar a mão de obra das usinas, por abastecê-las de

cana-de-açúcar ou como fornecedor de peixes para os trabalhadores das usinas.

A religiosidade está representada pela Festa do Imaculado Coração de Maria que é

homenageado com procissão, missa e festa social concretizada por um jantar comunitário.

Além dessa festa, a comunidade mantém há quase trinta anos uma tradição religiosa que

consiste na travessia do rio Cuiabá rumo ao Morro de Santo Antônio, para ao lado de uma

fogueira agradecer as graças recebidas e renovar os pedidos ao santo de devoção, culminando

com a procissão do morro, como é conhecida, realizada sempre no mês de julho e prestigiada

por muitos moradores e visitantes.

Consoante relato do Sr. Ercílio Honorato Magalhães27, Presidente da Associação de

Moradores do Distrito de Pai André, outra manifestação sociocultural realizada no distrito era

o Festival do Peixe, atividade extinta há mais de 15 anos em decorrência da instalação da

Mineração EMR3. Na opinião do informante, a utilização de dragas para retirar areia do rio

provocou a destruição da praia, maior atrativo dos turistas, afugentou o peixe, danificou o

meio ambiente e o asfalto. O mais agravante é que a empresa em questão não gera emprego,

tampouco renda para a população local, pois de um universo de 100 (cem) funcionários,

somente 02 (dois) são da comunidade.

Quanto ao aspecto educacional, a comunidade conta com uma unidade escolar

denominada Escola Municipal de 1° Grau “Zeno de Oliveira” e atende alunos da pré-escola

ao ensino fundamental.

A toponímia local, de acordo com a tradição oral, afirma que Pai André é uma

homenagem a um senhor negro e idoso, tido como caridoso e generoso, por isso era

respeitado por todos da região. Segundo comentário, este senhor não era da região, comprou

as suas terras e, depois de algum tempo, num gesto de desapego, dividiu-as com seus

agregados.

27

Relato ocorrido em 1º de maio de 2011, em Pai André.

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CAPÍTULO 2

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA TOPONÍMIA

Neste capítulo apresenta-se a Toponímia, sua origem, pressupostos teóricos e seu

desenvolvimento no Brasil e no mundo.

Inicialmente, faz-se a abordagem sobre a nomeação como atividade humana,

ressaltando-a como ato relevante para que o homem possa entender a sua realidade

circundante tanto em nível mundial quanto nacional. Em seguida, enfoca-se a linguagem sob a

perspectiva linguística, o signo linguístico e a questão da arbitrariedade, o sentido e a

referência, e, finalmente, discorre-se sobre o signo toponímico e os estudos de natureza física

e antrópica.

2.1 ORIGEM E EXPANSÃO DOS ESTUDOS TOPONÍMICOS

2.1.1 A ORIGEM DA TOPONÍMIA

A história da civilização demonstra que a nomeação de pessoas e de lugares sempre

foi atividade exercida pelo homem como uma prática rotineira. Uma evidência desse costume

está presente no episódio da criação do mundo, quando a Bíblia, em Gênesis, O Livro

Sagrado dos Cristãos, capítulos 1 e 2, relata que Deus, pelo poder da palavra, ordenou que o

universo existisse e que cada ser que o habitasse desempenhasse uma função, que deveria

constituir-se no elemento caracterizador da identificação e da individualização desse ser em

relação aos demais e, com isso, estabelecer a devida correspondência entre si mesmo e seu

respectivo nome. Ao criar Adão28, o primeiro homem, Deus delegou-lhe o poder de nomear

todos os animais dos campos e todas as aves dos céus, cabendo também ao próprio Adão

nomear a mulher Eva29, que recebeu por companheira.

Essas passagens bíblicas, por conterem significativo rol de topônimos e

antropônimos, nomeados segundo a cosmovisão do povo hebreu, enumeram elementos que,

dentre outros, justificam a postulação da Onomástica como ciência.

28

O antropônimo Adão vem do hebraico cujo significado é homem de terra vermelha, do barro, assim

denominado por causa do solo vermelho da Palestina do qual foi gerado. 29

O antropônimo Eva vem do hebraico “hawwâh”, que significa vida e, por essa razão, é considerada a mãe da

humanidade.

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No episódio da criação, pode-se perceber alguns topônimos. Um rio tinha suas

nascentes no jardim do Éden, o qual era responsável pela sua irrigação e se dividia em quatro

braços. O nome do primeiro é Pison (ou Fison), rio que contorna toda a região de Evilat (ou

Hevilá), onde se encontra ouro. O nome do segundo rio é Ghion (ou Geon), é aquele que

contorna toda a região de Cusch (ou Cuche). O nome do terceiro rio é Tigre (ou Tigris), que

corre ao oriente da Assíria. O quarto rio é o Eufrates (ou Euphrates) que está localizado na

Ásia Ocidental e possui 2780 km de extensão. Nasce nos planaltos da Armênia, na Turquia, e

atravessa este país, a Síria e o Iraque. No seu curso inferior, no sudeste do Iraque, junta-se ao

Tigre, formando o rio Chatt al-Arab, que deságua no Golfo Pérsico. Os rios Eufrates e Tigre

compõem a Mesopotâmia, que em grego quer dizer “terra entre rios” e é conhecida por ser um

dos berços da civilização que se localiza no Oriente Médio, atual região histórica que constitui

o território do Iraque, considerada uma das mais antigas da história.

O JARDIM DO ÉDENO JARDIM DO ÉDEN

[...] Um rio saía do [...] Um rio saía do ÉdenÉdenpara regar o jardim, e para regar o jardim, e dividiadividia--se em seguida se em seguida em quatro braços. O em quatro braços. O nome do primeiro é nome do primeiro é FisonFison, e é aquele que , e é aquele que contorna toda a região contorna toda a região de de EvilatEvilat,, onde se onde se encontra ouro. O encontra ouro. O nome do segundo rio nome do segundo rio é é GeonGeon, e é aquele , e é aquele que contorna toda a que contorna toda a região de região de CuschCusch.. O O nome do terceiro é nome do terceiro é TigreTigre,, que corre ao que corre ao oriente da oriente da AssíriaAssíria.. O O quarto rio é o quarto rio é o EufratesEufrates.. GnGn, 2, 10, 2, 10--1414

Fig. 06: O Jardim do Éden Fonte: Bíblia Ave Maria, Gn, 2, 10-14.

Di Tizio (2008, p.7), ao referir-se a estes lugares, afirma que Éden e os nomes dos

rios são o próprio elemento geográfico toponimizado: Éden, em hebraico, quer dizer “jardim”

ou “estepe”, chamado Jardim das Delícias ou Paraíso Terrestre, por evocar a ideia de

“delícias”. Pison, em babilônio, significa “corrente”, “fluxo”; Ghion”, “rio”, “córrego”, Tigre,

em sumério, quer dizer “água corrente, água rápida, e Eufrates, água doce.

No que se refere ao ato nominativo propriamente dito, Dick (1987, p. 6-7) enfatiza

que o poder denominador de Adão sobre todos os animais da terra configura a posse

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intelectual de uma espécie sobre as outras, através da manifestação simbólica da linguagem. O

ato de “dar nomes” e o de “conhecer os nomes dados”, para os primitivos em geral, tinha

realmente uma conotação própria, porque pressupunha toda uma recorrência ao mecanismo de

domínio do ente, cujo nome de batismo, o primeiro, clânico, por certo, se tornava público.

A necessidade de se organizar o mundo atribuindo nomes aos seres e coisas que dele

fazem parte revelou-se atributo tão relevante para o homem a ponto de ser considerado o seu

primeiro patrimônio. Tanto isso é verdadeiro que, ainda hoje, usa-se afirmar, como adágio

popular, que [...] “só tem o nome para dar em garantia ou de um negócio ou de uma palavra

empenhada”.

Na Bíblia, o nome, que também denota reputação ou fama, está sempre associado ao

caráter da pessoa, como faz prova a citação a seguir:

Bom nome vale mais que grandes riquezas; a boa reputação vale mais

que a prata e o ouro.

Provérbios: 22, 1.

O nome sempre teve importância para todos os povos desde o começo da civilização.

Cada pessoa tinha o próprio nome e não o transmitia aos descendentes, pois era uma

identificação pessoal e não de grupo ou de família.

Definida como um ramo da Onomástica ou Onomatologia, a Toponímia é a ciência

linguística que se ocupa do estudo dos nomes próprios de lugares, seus significados e sua

importância para a cultura social dos povos. O vocábulo que a nomeia é de origem grega

formado pelo radical topos (lugar) e o sufixo onoma (nome).

2.1.2 A TOPONÍMIA NO MUNDO

A Toponímia apareceu de forma sistematizada na França, por volta de 1878, quando

o filólogo Auguste Longnon introduziu os seus estudos, em caráter regular, na École Pratique

des Hautes-Études e no Colège de France. Este pesquisador não chegou a publicar sua obra,

isto ocorrendo somente após sua morte, em 1912, por iniciativa de um grupo de seus ex-

alunos que a publicaram sob o título de Les Noms de Lieux de la France, em 1912,

considerada como clássica.

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Este marco fez surgir outras perspectivas teóricas que têm norteado as pesquisas

toponímicas. A mais conhecida dessas teorias é a de Albert Dauzat que, em 1922, retomou os

estudos onomásticos interrompidos com a morte de Auguste Longnon e redirecionou os

estudos toponímicos principalmente com a sistematização dos processos de pesquisa que, a

partir de então, passaram a investigar o fato baseado em dados mais sólidos da história, da

geografia e da língua regionais, objetivando, com essas diretrizes, recuperar tanto a etimologia

como o significado do nome. Da pesquisa pormenorizada de Dauzat originou-se a obra Les

Noms de Lieux Origine et Evolution, a qual proporcionou o conhecimento de um sistema de

normas ainda hoje seguido pelos pesquisadores dessa área.

Coube a Dauzat a organização e realização, em 1938, do 1º Congresso Internacional

de Toponímia e Antroponímia, com a participação de vinte e um países os quais traçaram

normas a serem seguidas pelos pesquisadores nas investigações toponímicas.

Os Congressos de Onomástica idealizados por Dauzat continuaram sendo realizados

com regularidade em diferentes países, a exemplo do 3º Congresso Internacional de

Toponímia e Antroponímia, que teve lugar em Bruxelas em 1949, e o 8º, realizado em Haia,

em 1966.

A contribuição dos dois linguistas franceses Longnon e Dauzat foi muito importante

para a evolução dos estudos toponímicos porque, a princípio, conforme opina Dick (1987), a

toponímia era genética, ou seja, tinha como objetivo tão-somente recuperar a etimologia dos

nomes, elemento considerado suficiente para satisfazer a teoria.

Além da França, berço da toponímia, outros países também se destacam nessa área.

Estes primeiros estudos despertaram o interesse e a dedicação de pesquisadores em vários

países e em várias áreas do conhecimento humano, como a Geografia, História, Lexicologia,

Lexicografia, Antropologia, Cartografia, dentre outras.

Nos Estados Unidos e Canadá, onde essa ciência está atualmente mais desenvolvida,

os pesquisadores dessa área contam com a Revista Names, publicação oficial da American

Name Society, fundada em Detroit, em 1951, que tem, como alguns de seus objetivos, o

estudo da etimologia, origem, significado e aplicação das categorias do nome: geográfico,

pessoal, científico, comercial e popular, e a divulgação desses resultados.

No Canadá, desde 1966, há um Grupo de estudos de Coronímia e de Terminologia

Geográfica, associado ao Departamento de Geografia da Universidade Laval, Québec, aberto

a pesquisadores de todas as disciplinas, notadamente a linguística, a história e a antropologia.

Henri Dorion e Louis Hamelin (Dick, 1987, p. 03) sugeriram, em um artigo, a substituição do

termo Toponímia por Coronímia, mais abrangente, segundo eles, por englobar uma gama

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mais extensa de fenômenos e um campo mais amplo de pesquisas, como a análise de

diferentes partes do espaço terrestre, extraterrestre e submarino, além dos nomes de

estabelecimentos comerciais, de ensino e de edifícios residenciais. Esta proposta foi feita por

ocasião da II Conferência das Nações Unidas para Normalização e Padronização dos Nomes

Geográficos, em 1972.

Dorion considera a Toponímia uma ciência de cruzamentos “carrefour”, isto é, que

interliga várias ciências. A partir desta visão, foi responsável pela instituição do caráter

multidisciplinar da Commission de toponymie du Québec, órgão oficial que reúne linguistas,

geógrafos, historiadores, arquitetos e a população para a elaboração de inventário, estudo e

indicação de topônimos em Québec (DI TIZIO, 2008, p. 12).

Pospelov, citado por Dick (1987, p. 03), fazendo uma retrospectiva da Toponímia na

Europa russa, cita três modelos de “orientações temáticas” seguidos pelos pesquisadores: a)

problemas gerais da teoria toponímica e dos métodos de pesquisas geográficas; b) os nomes

geográficos da URSS; e c) os nomes geográficos de países estrangeiros, salientando, entre os

centros linguísticos existentes, o papel desenvolvido pelo Instituto de Linguística da

Academia de Ciências da Ucrânia e pela Sociedade Geográfica Russa, onde funcionam onze

Comissões Toponímicas.

Em Portugal, destacou-se o trabalho do filólogo José Leite de Vasconcelos,

particularmente o seu livro Opúsculos - Vol. III: Onomatologia, publicado em 1931, obra

pioneira que apresenta considerável pesquisa sobre a onomástica portuguesa. Nessa obra, o

autor concebe a Toponímia como [...] estudo dos nomes de sítios, povoações, nações, [...]

rios, montes, vales, etc. e estuda os topônimos com base nas diretrizes francesas: [...] estudo

da origem do nome classificado por línguas [...]; [...] estudo das transformações fonéticas e da

formação gramatical do topônimo e [...] divisão de categorias dos nomes segundo as causas

que deram origem ao nome (DI TIZIO, 2008, p. 11).

Na América Latina também se tem feito investigações toponímicas. Zamariano

(2006, p. 34) cita o antropólogo Salazar - Quijada30 como um dos autores mais completos e

recentes da toponímia venezuelana. Na opinião desse toponimista, não há em seu país, do

ponto de vista legal, nenhum organismo encarregado de oficializar a cartografia dos nomes

geográficos e nem há critérios objetivos para designar nomes e acidentes ou outros elementos

naturais e culturais.

30

Salazar-Quijada é referência teórica em muitas pesquisas toponímicas realizadas no Brasil, principalmente no

aspecto que diz respeito à importância da Toponímia. A título de exemplo citam-se: Santos (2005), Zamariano

(2006), Sousa (2007), DI TIZIO (2008).

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48

Ainda sobre o pesquisador em referência, Di Tizio (2008, p. 20) traz a informação de

que ele apresenta em sua obra “La toponímia en Venezuela,” um panorama histórico daquele

país. Nesse panorama, destaca a importância do signo linguístico em função toponímica,

como “acervo científico e patrimonial de um país” e, a partir desse levantamento, propõe um

modelo taxionômico de classificação toponímica que considera cinco aspectos dos topônimos:

seus elementos, sua extensão, sua localização, sua aplicação e seus motivos.

2.1.3 A TOPONIMIA NO BRASIL

No Brasil, destacam-se, dentre outros, os seguintes especialistas em estudos

toponímicos: Armando Levy Cardoso, Theodoro Sampaio, Carlos Drumond e Maria

Vicentina de Paula do Amaral Dick sendo que esta última nos mostra, em profundidade, como

o homem brasileiro nomeou os seus acidentes físicos e humanos.

Cardoso (1961, apud Dick, 1987, p. 4-5) faz um levantamento dos estudos

toponímicos realizados por especialistas, pondo em evidência o caráter histórico das

publicações, voltadas para a lexicologia indígena, inclusive ele próprio um especialista nos

topônimos brasílicos da Amazônia, notadamente os de origem karib e arawak. Em sua obra

“Toponímia Brasílica” afirma que pelo estudo da toponímia de uma região podem ser

esclarecidas questões de natureza étnica e linguística como migrações indígenas e procedência

das diversas famílias de línguas que existiram em determinado lugar.

Conforme este autor, ainda falta um plano sistematizado que abranja as diversas

zonas do território brasileiro, tarefa que só seria levada a cabo mediante auxílio e colaboração

oficiais, através do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE. Contudo, ressalta o

valor da obra O tupi na geografia nacional, de Sampaio (1987), que considera clássica para a

Toponímia brasileira pela criteriosa análise a que foram submetidos todos os vocábulos,

profundeza dos conhecimentos do tupi e seriedade de suas investigações, uma vez que

explorou como fontes de pesquisa crônicas antigas, relatos de viagens e consultas históricas, a

fim de descobrir a verdadeira grafia primitiva dos vocábulos, para a perfeita elucidação de seu

sentido e a rigorosa determinação de sua etimologia.

Por sua vez Drumond (1965, apud Dick, 1987, p.5), com a obra Contribuição do

Bororo à toponímia brasílica, sua tese de Livre Docência que versa sobre a contribuição do

povo indígena Bororo da região Centro-Oeste à toponímia brasileira, dá ênfase à Toponímia

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no Brasil. Esse autor conclui que as pesquisas até então implementadas eram assistemáticas,

sem métodos apropriados e que os trabalhos realizados sobre toponímia tinham sido feitos

mais a título de curiosidade, visando, em sua maioria, destacar a ocorrência dos nomes de

origem tupi, fatos que o levaram a deduzir, na época, que no Brasil ainda não se tinha

verdadeiros toponimistas.

Conhecido como um dos primeiros estudos toponímicos de origem indígena do

Brasil, Sampaio (citado por Dick, 1992, p. 41), direciona sua pesquisa com vista a verificar a

presença da língua tupi na nomeação toponímica brasileira. Em sua obra O tupi na geografia

nacional afirma que os estudos etimológicos e históricos dos topônimos são bases que devem

ser estudadas, pois há a possibilidade de o significado do signo toponímico refletir

características físicas e históricas do topônimo em que foi criado, tese defendida em razão da

forma de se nomear topônimos de origem tupi baseada no caráter descritivo do ambiente em

que o nome se inseria, transformando [...] “um topônimo em espécime simbólico de ícone

[...]”, uma vez que demonstraria que o topônimo tinha vínculo com os traços ambientais.

Embora com os avanços decorrentes da própria evolução da história e dos estudos

realizados, a Toponímia, no Brasil, ainda é um assunto pouco explorado. Carvalinhos (s/d) em

“Estudos de Onomástica em Língua Portuguesa no Brasil: perspectivas para inserção

mundial”, assim comenta: “ No Brasil, a disciplina “toponímia” ainda não se difundiu como o

esperado; mesmo com todos os esforços de sistematização e consecução de projetos

realizados até a presente data, faz-se necessário traçar metas para o futuro tendo em vista o

exemplo de outros países”.31

Segundo Dick (1996, p. 12), a Toponímia caminha ao lado da história, servindo-se de

seus dados para dar legitimidade a topônimos de um determinado lugar, inteirando-se de sua

origem para estabelecer as causas motivadoras, num espaço e tempo precisos, procurando

relacionar um nome ao outro, de modo que, da distribuição conjunta, se infira um modelo

onomástico dominante ou vários modelos simultâneos. Busca apreender essa tendência

também em função dos acidentes geográficos que servem de base física ao nome empregado,

a fim de que se verifique a sua projeção no denominativo e em que termos isso ocorre. Visa,

ainda, estabelecer pontos de intersecção entre os designativos e as línguas faladas no local, de

maneira a determinar as tendências linguísticas manifestadas nos topônimos, ou em que

medida estes expressam formas antigas de linguagem.

31

A Toponímia pertence aos quadros de disciplinas da graduação do curso de Letras da Universidade de São

Paulo/USP com o nome “Toponímia Geral e do Brasil” desde, pelo menos, a década de 60 do séc. XX, com

conteúdo desenvolvido desde 1934 junto à cadeira de Etnografia e Língua Tupi, vinculada ao curso de Geografia

e História.

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Face ao exposto, infere-se que o topônimo traz em si, então, aspectos linguísticos e

sócio-históricos que refletem os diferentes estágios da vida de uma comunidade e de um povo.

Além do mais, através dele é possível serem identificados aspectos histórico-culturais de uma

localidade, recuperar as características do passado, evidenciar e recuperar características

linguísticas, assim como os valores e as crenças de seus habitantes. Sob esse prisma, o

topônimo pode representar a cosmovisão daqueles que o criaram, certamente motivados pela

realidade que os circundava, refletindo, pois, uma época pretérita específica, cujas

características se estendem ao longo da história da comunidade, no tocante aos hábitos, usos,

costumes, moral, ética, religião, relações de poder, língua, dentre outros aspectos.

Partindo-se da premissa de que cada grupo social possui características culturais

próprias, deduz-se que tais características são projetadas nos nomes escolhidos para

identificação dos lugares, aspectos da sua realidade cultural, social, histórica, físico-

geográfica, inclusive linguística, dentre outras.

De acordo com Sousa (2007, p. 02),

[...] o topônimo - objeto de estudo da Toponímia - ao ser criado, tal como um

ser vivo, está sujeito às conseqüências do tempo: às influencias, às

modificações e, até mesmo, ao desaparecimento do seu significado original,

uma vez que escapa da consciência ou da memória do povo. Esses aspectos,

segundo o autor, permitem afirmar que a Toponímia possui uma dupla

dimensão: do referente espacial geográfico (função toponímica) e do

referente temporal (memória toponímica).

Corroborando essa assertiva, Dick (1990, p. 24) esclarece que:

[...] a aproximação do topônimo aos conceitos de ícone ou de símbolo,

sugerido pela própria natureza do acidente nomeado, [...], vai pôr em relevo

outras das características do onomástico toponímico, qual seja, não apenas a

identificação dos lugares, mas a indicação precisa de seus aspectos físicos ou

antropoculturais, contido na denominação.

Por esse caráter pluridisciplinar do topônimo, pode-se afirmar, conforme lição de

Sousa (2007, p.3) que ele se constitui num meio para conhecer:

a história dos grupos humanos que vivem ou viveram na região;

as características físico-geográficas da região;

as particularidades sócio-culturais do povo (o denominador);

os extratos linguísticos de origem diversa da que é usada contemporaneamente,

ou mesmo línguas que desapareceram;

as relações estabelecidas entre os agrupamentos humanos e o meio ambiente.

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Desse seu caráter pluridisciplinar, depreende-se que a toponímia estabelece uma

estreita relação com o patrimônio cultural de um povo e sua preservação, constitui a

perpetuação do histórico (este entendido como todos os aspectos físico-geográficos e sócio-

histórico-culturais inerentes) e dos valores desse mesmo grupo.

Dick (2007, p. 144) postula o topônimo como signo da língua

com forma expressiva e um conteúdo unívoco ou biunívoco, “incorpora”, ele

próprio, as características do espaço que nomeia”. Ou seja, do ponto de vista

semântico, “nome e coisa nomeada passam a significar o mesmo dado”.

Como disciplina linguística, a Toponímia guarda relações com a língua do país, com

as línguas estrangeiras ou com as já extintas. É, pois, de grande relevância tanto para a

Linguística como para outras áreas tendo em vista que sua função é recuperar aspectos

linguísticos e sócio-históricos de uma localidade investigada.

Sob esse prisma, a definição que mais se afina com a Toponímia pós-moderna é a de

Dick (1990, p. 19) que, como Longnon e Dauzat, na França, deu novo direcionamento à

toponímia brasileira.

A Toponímia é um imenso complexo línguo-cultural, em que dados

das demais ciências se interseccionam necessariamente e, não,

exclusivamente.

Como já dito antes, a Toponímia como disciplina sistematizada é ministrada apenas

na Universidade de São Paulo-USP. Em outros estados, há grupos que desenvolvem estudos

toponímicos, porém em nível de pós-graduação como Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de

Janeiro, Tocantins, Acre e Minas Gerais.32

2.2 A LÍNGUA: VEÍCULO DE DIFUSÃO SÓCIO-CULTURAL E

IDEOLÓGICO

O homem é um ser que fala, utilizando-se, para tanto, da língua para comunicar suas

idéias e difundir sua cultura em um determinado espaço, de tal forma que é pela linguagem

que ele se situa no tempo, lembrando o que ocorreu no passado e antecipando o futuro pelo

pensamento. Isso quer dizer, na opinião de Aranha e Martins (2002, p. 4-5), que pela

32

Mato Grosso conta com dois mestres e um doutor, todos obtidos pela USP entre 2005 e 2010.

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linguagem, entendida como meio de representação simbólica e abstrata, é que capacita o

homem a compreender e agir sobre o mundo que o cerca.

Na esteira desse pensamento, Zamariano (2006, p. 31) aduz que a língua, na

qualidade de instituição social, cumpre sua tarefa de veículo de difusão da cultura e da

ideologia, uma vez que reflete as inclinações que envolvem cada momento histórico, trazendo

à luz o modo de pensar e as expectativas de uma comunidade, em um dado tempo, espaço

geográfico e em certas circunstâncias.

A autora abona a sua assertiva recorrendo-se ao pensamento de Houaiss (1983, apud

Manzolillo, 2001, p. 02) que assim entende:

Ao dominar a natureza, ao dominar as técnicas, ao dominar o conhecimento,

só se pode fazê-lo e transmiti-lo dando nome às coisas, dando nome às

idéias, criando conceitos. Então, um dos traços fundamentais disso é que a

memória do homem tem que ser amparada pela criação vocabular contínua.

Em suma, o que o indivíduo vê, pressente, imagina, descobre ou inventa

pode ser nomeado pela palavra. Uma vez nomeado, o conhecimento pode ser

socializado e integrar-se na cultura coletiva.

A esse respeito, Isquerdo (1996, p. 90-91) citada por Zamariano, afirma que, através

da dinamicidade da língua, evidenciada altamente no léxico, nível linguístico que melhor

expressa a mobilidade das estruturas sociais, é que se pode perceber a maneira como uma

sociedade vê e representa o mundo. Assim, pode-se acrescentar que, examinando-se o léxico,

caracteriza-se não apenas a língua, mas também a cultura que evidencia elementos da história,

do sistema de vida e da visão de mundo de um determinado grupo, compreendendo-se o

próprio homem e sua maneira de ver e representar tudo que há em seu mundo.

Também Biderman (1998, p. 179) comunga dessa idéia ao afirmar que:

o vocabulário exerce um papel crucial na veiculação do significado,

que é, afinal de contas, o objeto da comunicação linguística. [...] o

léxico é o lugar da estocagem da significação e dos conteúdos

significantes da linguagem humana. [...] no aparato linguístico da

memória humana, o léxico é o lugar do conhecimento sob o rótulo

sintético de palavras - os signos linguísticos.

Assim, o léxico caracteriza-se como um guia de referência para todo trabalho que

pretende analisar aspectos que envolvam a relação entre sociedade, cultura, ambiente, língua e

homem. Afirmativa corroborada por Sapir (1969, p. 45), que vê no léxico de uma língua o

elemento que mais nitidamente reflete o ambiente físico e social dos falantes. Sob esse

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enfoque, os topônimos como integrantes do léxico e, consequentemente, da língua, podem

trazer em seu bojo uma gama de valores identificadora da realidade social de um grupo.

Ao afirmar que a Toponímia é uma das disciplinas que incorpora diversificadas

nuanças do léxico de uma língua, Zamariano (2006, p. 32) explica que isso ocorre pela

inserção dos topônimos originados de diversos estratos linguísticos, para tanto, ancorando-se

em Dick (1999, apud Dargel, 2003, p. 55):

A Toponímia, principalmente, serve-se dessas circunstâncias de base,

equivalente ou próxima a um substrato vocabular, para aí deitar suas raízes,

aproveitando-se do material linguístico que mais se adeque à configuração

dos conceitos que deve transmitir. Uma nomenclatura local ou uma cadeia

onomástica que interage com vários segmentos culturais, num aparato

semiótico de relações e procedências diversas, constitui, realmente, uma

base de pesquisa linguística altamente produtiva.

2.3 CONCEITUAÇÃO DA TOPONÍMIA

O ato de nomear as pessoas e os lugares é objeto de estudo da Onomástica ou

Onomatologia, ramo da Linguística que se ocupa da investigação da etimologia, das

transformações, da explicação e da catalogação dos nomes próprios de pessoas e de lugares. A

Onomástica, por sua vez, subdivide-se em Antroponímia, que estuda os nomes próprios de

pessoas, e em Toponímia que se refere ao estudo dos nomes próprios de lugares, seus

significados e sua importância para a cultura social dos povos. O vocábulo que a nomeia é de

origem grega formado pelo radical topos (lugar) e o sufixo onoma (nome).

Dick (1990, p. 35-36) entende que, como ramo da Onomástica cabe à Toponímia

estudar a procedência da significação dos nomes dos lugares, considerando os aspectos geo-

históricos, socioeconômicos e antropo-linguísticos que deram origem aos nomes de lugares e

suas subsistências. Seu campo não se limita somente ao aspecto linguístico ou etimológico,

pois um topônimo sempre está relacionado à história e à cultura de uma localidade em estudo.

Por essa razão, segundo a mesma autora, a Toponímia é uma das disciplinas que

integram a ciência linguística por investigar o léxico toponímico considerando-o expressão

linguístico-social que reflete aspectos culturais de um núcleo humano existente ou

preexistente e propõe o resgate da atitude do homem diante do meio, através da nomeação dos

lugares.

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Na mesma direção, Zamariano (2006, p. 33), em sua análise sobre o estudo dos

topônimos, afirma que se evidencia neles uma inter-relação homem-ambiente-língua-cultura,

idéia que foi defendida por Sapir (1969, p. 44), para quem a língua de um povo é influenciada

pelo ambiente, como assim se expressa o linguista:

[...] tratando-se da língua, que se pode considerar um complexo de

símbolos refletindo todo o quadro físico e social em que se acha

situado um grupo humano, convém compreender no têrmo “ambiente”

tanto os fatores físicos como os sociais. Por fatores físicos se

entendem aspectos geográficos, como a topografia da região (costa,

vale, planície, chapada ou montanha) clima e regime de chuvas, bem

como o que se pode chamar a base econômica da vida humana,

expressão em que se incluem a fauna, flora e os recursos minerais. Por

fatores sociais entendem as várias fôrças da sociedade que modelam a

vida e o pensamento de cada indivíduo. Entre as mais importantes

dessas forças sociais estão a religião, os padrões éticos, a forma de

organização política e a arte.

Em suas reflexões sobre esse pensamento, a pesquisadora anteriormente citada

conclui que, embora o linguista não se refira diretamente à Toponímia, pode-se conceber o

topônimo como um signo linguístico, ou seja, uma unidade de língua enriquecida. As

constatações de Sapir podem ser adequadas à toponímia, haja vista que, ao estudar a

toponímia de uma região, pode-se perceber indícios de que o ambiente está refletido na

língua, por meio dos topônimos. Esta também é a posição de Dick (1990, p.19):

A história dos nomes de lugares, em qualquer espaço físico

considerado, apresenta-se como um repositório dos mais ricos e

sugestivos, face à complexidade dos fatores envolventes. Diante desse

quadro considerável dos elementos atuantes, que se entrecruzam sob

formas as mais diversas, descortina-se a própria panorâmica regional,

seja em seus aspectos naturais ou antropo-culturais.

Delimitar o campo de trabalho e caracterizar o objetivo da Toponímia como

disciplina autônoma foi sempre uma das grandes dificuldades para os estudiosos, seja para sua

conceituação ou para situá-la em um ramo distinto do conhecimento humano. Para muitos,

com orientações e perspectivas novas, suas questões poderiam, se inscrever nos quadros da

História, da Geografia ou das Ciências Sociais, e por elas solucionadas.

Essa assertiva pode ser confirmada pelas concepções de renomados toponimistas que

assim a definem:

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Toponímia é a ciência cuja finalidade é investigar a significação e a origem dos

nomes de lugares e também de estudar suas transformações (ROSTAING, 1961, p. 07).

Já Salazar-Quijada (1985, p. 18) define a Toponímia como o ramo da Onomástica

que se ocupa do estudo integral, no espaço e no tempo, dos aspectos geo-históricos, sócio-

econômicos e antropo-linguísticos que permitiram e permitem que um nome de um lugar se

origine e subsista.

A Toponímia é uma ciência ampla que demonstra uma infinita gama de

características sociais, políticas, históricas, econômicas, culturais e antropolinguísticas, não só

de um indivíduo, mas de um grupo social, ou seja, de uma região (DICK, 1992, p. 3).

Por sua vez, Sousa (2009, p. 3) entende que ao designar um lugar com um nome,

estabelece-se uma relação binômica, ou seja, uma conexão entre o acidente geográfico (rio, o

igarapé, o município, o seringal, etc.) e o nome atribuído a ele, em que as partes formam um

todo representativo. Nesse ato de nomeação, diferentes fatores interferem (influenciam,

motivam) na escolha do denominativo, tanto de ordem físico-ambiental (as características do

próprio acidente), quanto de ordem antropocultural (a cosmovisão do grupo humano).

O citado pesquisador afirma que para Dick, apesar do caráter eclético da disciplina,

que parece inicialmente se chocar com o pensamento de Charles Rostaing, que via na

Linguística o princípio essencial da Toponímia, não há contradição entre as duas posições,

uma vez que em sua feição intrínseca, deve ser considerada como um fato do sistema das

línguas humanas.

2.4 A IMPORTÂNCIA DOS TOPÔNIMOS

Considerando-se que o topônimo guarda íntima relação com o contexto histórico-

político da comunidade, ele já nasce enriquecido pela circunstância que designa, sendo [...] “o

portador do que se poderia chamar de espírito coletivo [...]”, trazendo consigo uma carga

histórico-social bastante ampla (DICK, 1990, p. 105).

Salazar-Quijada (1985, p. 29-30), entende que a “[...] Toponímia permite conhecer as

características culturais de homens que habitaram ou habitam uma determinada região [... ]” e,

como a Antropologia, às vezes os topônimos podem ser a “[...] única evidência da presença

histórica de grupos humanos em determinada área”. Para ele, os topônimos constituem um

bem patrimonial de qualquer país, uma vez que é por meio dos designativos de lugares que as

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nações apresentam sua personalidade geográfica e se particularizam em relação aos demais

territórios do mundo.

Sob esse prisma, o mencionado autor aponta a relevância da Toponímia em diversos

segmentos da vida humana, como:

a) importância cartográfica: os mapas, frutos da atividade cartográfica, possuem,

como os homens, um corpo e um espírito. O corpo corresponde à representação do território e

o espírito, à da sua nomenclatura geográfica. Em uma equipe de cartografia é fundamental a

presença de um toponimista com formação sólida, pois um erro na nomenclatura de um mapa

pode trazer graves consequências para seus usuários;

b) importância jurídica: ressalta-se que a imprecisão de nomes geográficos em

propriedades públicas e privadas pode levar a sérios problemas de ordem legal. Se os limites

de uma propriedade não estiverem sustentados por uma base toponímica clara e firme, ela se

encontra em situação de problema de difícil solução;

c) importância geográfica: por meio dos topônimos, identificam-se acidentes

naturais e culturais, pois os geógrafos necessitam conhecer em detalhes a geografia física, a

geografia humana, a geografia regional e urbana. Os topônimos são vitais para a área espacial

por relacionarem o homem ao ambiente. Assim, para a geografia, eles constituem pontos de

partida para numerosas investigações;

d) importância histórica: um topônimo é um dado histórico por meio do qual o

historiador pode reconstruir a cultura de um povo: sua economia, seus movimentos

migratórios, aspectos linguísticos e aspectos da vida social e espiritual das pessoas que

habitam ou habitaram uma região. A toponímia indígena, numa zona onde esses grupos já

desapareceram, permite, conjuntamente com os restos arqueológicos, abordar estudos para o

conhecimento histórico de antigos habitantes de uma área geográfica;

e) importância folclórica: várias são as influências toponímicas feitas pelos povos

em suas manifestações folclóricas. Os topônimos aparecem em inúmeras produções literárias

e expressões culturais como os nomes de acidentes geográficos, estados e cidades que fazem-

se presentes em músicas e poemas;

f) importância político-administrativa: a toponímia é também de suma importância

para as atividades político-administrativas, uma vez que permite fixar as referências dos

limites de um município, distrito, estado e até limites internacionais. A política cadastral de

arrecadação de impostos fundamenta-se em referências toponímicas, já que os topônimos

permitem situar as propriedades públicas e privadas, diferenciá-las e demarcá-las com

precisão.

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g) importância linguística: um dos principais fundamentos da toponímia está ligado

à explicação etimológica dos topônimos e, nesse sentido, está intimamente ligada à

Linguística. De fato, a Toponímia é um fenômeno linguístico aplicado a fenômenos

geográficos. O homem, pela sua fala, designa e diferencia cada um dos fenômenos

geográficos e culturais ao seu redor. O linguista, ao estudar os nomes geográficos antigos e

históricos, pode chegar a conclusões importantes, ao obter nomes geográficos aborígenes e

com sua consequente análise etimológica proporcionar à História valiosos dados de

reconstrução do passado;

h) importância patrimonial: por refletir o acervo cultural de um país, a Toponímia

deve ser considerada patrimônio nacional. Todo país anseia ressaltar seus valores pátrios:

sente-se orgulho do nome do país, do estado e do município. Esses topônimos, produto

histórico de conquistas e colonização, particularizam seus moradores do resto do mundo;

i) importância viária: nas estradas é por meio da Toponímia nos mapas, além de

placas, que os viajantes se orientam determinando a origem e o destino de sua viagem.

j) importância social: os topônimos podem ter um significado afetivo essencial para

os habitantes de uma comunidade e assim uma pessoa estranha não pode entendê-lo

inteiramente. Para os habitantes de uma determinada localidade não é cabível alterar nomes

usados em honra a pessoas proeminentes da história local, em memória de fatos históricos e

do cotidiano. Erros em ortografia e pronúncia do nome da localidade podem ocasionar

situações constrangedoras, pois há um sentimento social de orgulho pela associação do

topônimo com o lugar que designa. Da mesma forma, é arbitrário que se altere um topônimo

sem que seus habitantes permitam. O topônimo é para o lugar o que o nome próprio é para a

pessoa, não se muda sem o consentimento da própria pessoa.

Além disso, Berwanger e Leal (2008, p. 35) acrescentam que a Toponímia, ao tratar

da evolução e da mudança de nomes de lugares, presta imensos serviços à Diplomática,

campo da Filologia, por informar nomes antigos de lugares citados nos documentos.

Outra área em que a toponímia pode ser aplicada, com sucesso, é no processo ensino-

aprendizagem da língua materna através da aplicabilidade do princípio da

interdisciplinaridade. A inclusão de estudos toponímicos no currículo escolar, entre os

assuntos tratados nas aulas de Língua Portuguesa, permite a aplicação da referida orientação,

já que essa disciplina onomástica caracteriza-se, no entender de Sousa (2007, p. 04), pela

interdisciplinaridade inerente, e necessária, para análise e compreensão do sentido que o

topônimo possui. O trabalho com a toponímia articulará saberes geográficos, históricos,

biológicos, matemáticos, antropológicos e linguísticos, de modo que haja uma mudança de

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foco no ensino da língua materna que passará do excesso de regras e tradicionalismos

estruturais para as diferentes práticas discursivas, conforme preconizam os Parâmetros

Curriculares Nacionais - PCN (1998, 2000)33.

2.5 O TOPÔNIMO E A MOTIVAÇÃO TOPONÍMICA

A motivação para se nomear os lugares não tem fronteiras, pois todas as culturas

possuem traços comuns de ordem psicológica, antropológica e sociológica que são

motivadoras para o batismo de um lugar. À guisa de exemplo, Maroneze (2004, p. 01) abona

esta afirmação mostrando alguns nomes de lugares que se repetem pelo mundo. Uns,

relacionados a cores, como o Rio Amarelo, na China, o Mar Vermelho, no Egito, Rio Negro,

no Brasil, Montanha Azul, na Pensylvania e Montanha Vermelha, no Alabama. Outros,

relacionados às dimensões como Praia Grande, Brasil, Long Beach (EUA), Ilha Comprida,

Brasil e Long Island (EUA). Alguns, de origem indígena como Cuiabá, Tietê e Pernambuco,

Brasil; Mississipi, Quebec e Kansas, na América do Norte e na Europa, de origem pré-céltica

como o Rio Dordonha, na França e o Rio Douro, na Península Ibérica.

A questão da definição, classificação e denominação do signo linguístico foi objeto

de discussão dos estudiosos ao longo do tempo. Já na Antiguidade constata-se que os filósofos

voltaram suas atenções para os estudos linguísticos dedicando-se à motivação ou

arbitrariedade do signo linguístico. Esses estudos engendraram dois pensamentos: um

naturalista, liderado por Platão que defendia a existência de uma relação intrínseca entre a

imagem acústica e o sentido; o outro, convencionalista, representado por Aristóteles, o qual

sustentava ser a relação puramente arbitrária (ULLMANN, 1964, p. 07).

Em que pese a oposição entre elas, estas duas correntes têm, entre si, um ponto

convergente, pois ambas procuram identificar se havia conexão entre o significado de uma

palavra e a sua forma.

Sobre essa questão destaca-se Ferdinand Saussure que, no início do séc. XX retoma

os postulados aristotélicos e conclui que a arbitrariedade do signo e a linearidade do

significante são características fundamentais do signo linguístico e, sob essa ótica, define a

língua como “um sistema de signos que exprime idéias” e que funciona devido a um contrato

social entre os falantes de uma mesma língua (SAUSSURE, 1970, p. 24).

33

A propósito ver Sousa em “Aplicação dos estudos toponímicos no Ensino Fundamental e Médio: propostas

teórico-didáticas”, 2007.

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59

Em sua abordagem sobre significação, Guiraud (1973, p. 35) concebe o signo como

“um estímulo, isto é, uma substância sensível, cuja imagem mental está associada no nosso

espírito à de outro estímulo que ele tem por função evocar com vista a uma comunicação.”

Desse raciocínio, depreende-se que há um vínculo entre o signo e algo que ele representa, ou

seja, a realidade.

Nesse mesmo raciocínio Ullmann (1964, p. 134-140), embora reconheça o caráter

imotivado e arbitrário do signo em muitas situações, afirma que, em outras, pelo menos em

certo grau, os signos são motivados e transparentes e que tal motivação pode ocorrer no nível

fonético, as onomatopéias, por exemplo, no morfológico, palavras simples ou compostas,

sendo que nas simples os componentes, os morfemas, veiculam um determinado significado, e

as compostas são formadas da mesma maneira que as simples.

Em síntese, ao questionar a noção saussureana de arbitrariedade do signo linguístico,

Ullmann toma para sua defesa o fato de ocorrer motivação semântica do signo dentro de uma

relação metafórica ou metonímica.

A teoria da motivação linguística não consolidou-se no percurso das investigações

realizadas. A arbitrariedade do signo conforme destacou Saussure ainda é objeto das

pesquisas nos estudos de linguagem. Não obstante, no caso específico do signo linguístico em

função toponímica, de acordo com Dick (1990, p. 33), não se deve desconsiderar a relação

significante/significado apresentada por Saussure. Contudo, a toponimista inadmite a

possibilidade da existência de signos imotivados na Toponímia porque:

o elemento linguístico comum, revestido, aqui, de função onomástica

ou identificadora de lugares, integra um processo relacionante de

motivação onde, muitas vezes, torna possível deduzir conexões hábeis

entre o nome propriamente dito e a área por ele designada (DICK,

1990, p. 34).

Assim, na abordagem do signo toponímico, explica a autora em comento (1990, p.

38-39) que a priori, pode-se acatar a noção saussureana de arbitrariedade, uma vez que o

topônimo, como qualquer outra forma da língua, é, estruturalmente, um significante animado

por uma substância de conteúdo; todavia, considerando o seu aspecto funcional ele, topônimo,

adquire uma dimensão maior e passa a ser marcado duplamente: primeiro, pela

intencionalidade do denominador no ato da seleção de um determinado nome para identificar

um lugar; segundo, pela origem semântica da denominação pelo significado que revela, de

modo transparente ou opaco. Tanto a intencionalidade quanto a origem semântica da

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denominação, enquanto modalidades da motivação toponímica, configuram perspectivas

diacrônicas e sincrônicas no estudo da toponímia e irão influir na formalização das

taxionomias dos nomes de lugares.

Em conformidade com o entendimento da referida linguista, isso ocorre porque:

[...] o que era arbitrário, em termos de língua transforma-se, no ato do

batismo de um lugar, em essencialmente motivado, não sendo exagero

afirmar ser essa uma das principais características do topônimo

(DICK, 1990, p. 38).

Assim, a motivação semântica, característica principal do signo toponímico, pode

estar relacionada a aspectos sociais, culturais ou ambientais, que motivam, ou são levados em

consideração, no ato de nomear acidentes físicos ou humanos. Por esta perspectiva os

topônimos - signos linguísticos em função toponímica - são motivados por fatores não

linguísticos podendo ser considerados como “verdadeiros testemunhos históricos” os quais

contêm “valor que transcende o próprio ato da nomeação” Prosseguindo em sua

argumentação, a pesquisadora comenta que

[...] iconicamente simbólico, vai permitir, portanto, através de uma

reconstituição de suas características imanentes, a captação de

elementos os mais diferenciadores da própria mentalidade do homem,

em sua época e em seu tempo, em face das condições ambientais de

vida, pelo menos de forma considerável (DICK, 1990, p. 22).

A esse respeito, Santos (2005, p. 31) afirma que a posição assumida pela toponimista

sobre o caráter motivador do signo linguístico contradiz o conceito de arbitrariedade

linguística de Saussure que é a diferença entre o signo linguístico e o topônimo a que este está

ligado. Isto é, apesar de se inscrever como parte do sistema de uma língua e, por isso,

pertencer ao seu universo lexical, ele é motivado por desejos pessoais ou eventos sócio-

culturais e históricos, embora seja similar a outros signos. Por se inscrever como parte do

sistema da língua, ele nos fornece dados sobre a relação língua-sociedade e cultura. Este

fenômeno recobre o conceito de léxico para Biderman (1981, p. 132):

O léxico pode ser considerado como o tesouro vocabular de uma

língua. Ele inclui a nomenclatura de todos os conceitos linguísticos e

não linguísticos que se referem ao mundo e ao universo cultural,

criado por todas as culturas humanas atuais e do passado. Por isso o

léxico é o menos linguístico de todos os domínios da linguagem. Na

verdade, é uma parte do idioma que se situa entre o linguístico e o

extralinguístico.

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Ao se juntarem as posições de Biderman (1981), o léxico como tesouro vocabular de

uma língua, e de Dick (1992), a motivação semântica por elementos extralinguísticos do

topônimo como uma fonte de pesquisa histórica de um povo, percebe-se como os elementos

de uma linguagem trazem, em sua essência, os conceitos elaborados pela comunidade que

quando os utiliza para nomear um acidente físico ou humano, passam a refletir, de certa

forma, a mentalidade coletiva dessa comunidade.

Sobre a questão da nomeação dos acidentes geográficos, Aguilera (1999, p. 125)

citada por Zamariano (2006, p. 40), atesta que a nomeação dos acidentes geográficos não é

feita aleatoriamente pelo homem. Ao contrário, o denominador a faz [...] “movido por alguma

impressão sensorial e/ou sentimental que o acometa no momento da denominação”.

Existem outras teorias que buscam estabelecer e fixar a origem da motivação e a

natureza dos motivos dos topônimos. Sobre esse assunto Mouly (1970, p. 35) explica que o

motivo da denominação de um espaço pode originar-se de fontes diversas tais como fatores

biológicos, sociológicos, psíquicos, sobrenaturais e o próprio auto-racionalismo humano, já

que o [...] “termo motivo é frequentemente empregado para abranger tanto as condições,

quanto os padrões apreendidos do comportamento, através do qual procura satisfazer suas

necessidades;” o que revela a interação das condições do homem com o seu ambiente.

Por todos os argumentos aqui expostos, pode-se afirmar que os topônimos são signos

linguísticos semelhantes aos demais signos e pertencentes ao mesmo sistema. Entretanto não

possuem, como muitos deles uma natureza arbitrária ou convencional. A esse respeito, Dick

(1990, p. 22) esclarece que

[...] se, em nível de língua, a função denominativa se define pelo

arbitrário ou convencional, no plano da Toponímia ela se apresenta

essencialmente motivada, ou impulsionada por fatores de diferentes

conteúdos semânticos, que poderão conduzir à localização de áreas

toponímicas, em correspondência, ou não, às respectivas áreas

geográfico-culturais.

2.6 AS TAXIONOMIAS TOPONÍMICAS

Ao tratar da classificação dos topônimos, Di Tizio (2008, p. 16) afirma que Dick

identifica o topônimo como o nome próprio do lugar que possui capacidade de designar,

sendo o sintagma toponímico a união de um acidente geográfico a um nome. No modelo

classificatório proposto, figura, portanto, em primeiro plano, o termo ou elemento genérico,

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relativo ao acidente geográfico e, em segundo plano, o elemento específico, ou topônimo

propriamente dito, no qual pode-se identificar a intenção do denominador no ato da

nomeação.

A partir desta divisão, Dick classificou as estruturas dos topônimos, segundo sua

formação em:

topônimo ou elemento específico simples – [...] “é aquele que se faz definir por um só

formante seja substantivo ou adjetivo, de preferência, podendo, contudo, se apresentar

também acompanhado de sufixações (diminutivas, aumentativas ou de outras procedências

linguísticas)”;

topônimo composto ou elemento específico composto – [...] “é aquele que se apresenta

com mais de um formador, de origens diversas entre si, do ponto de vista do conteúdo,

gerando, por isso, às vezes, formações inusitadas que, apenas a história local poderá elucidar,

convenientemente”;

topônimo híbrido ou elemento específico híbrido – [...] “é aquele designativo que recebe

em sua configuração elementos linguísticos de diferentes procedências: a formação que se

generalizou no país é portuguesa + indígena ou a indígena + portuguesa.

Em sua tese de doutorado intitulada “A Motivação Toponímica e a Realidade

Brasileira”, Dick (1990, p. 367) apresenta princípios teóricos de investigação, o diacrônico e

o sincrônico, considerando que a investigação, na segunda perspectiva, permite [...] “o exame

das séries motivadoras, que conduziram à elaboração das taxes toponímicas, vinculadas, de

modo genérico, aos campos físico e antropocultural”. Ainda nessa tese, a referida linguista

formula uma terminologia técnica para a matéria e destaca os principais motivos que

comandam a organização da nomenclatura geográfica.

Considerando que a Toponímia tem por objetivo, entre outros, a busca da origem e

da significação dos nomes de lugares, recorre-se, a modelos taxionômicos nos ordenamentos

sistemáticos das ciências humanas que guardam vínculo com ela, de tal modo que a aproxima

definitivamente de outras ciências linguísticas.

Assim, como contribuição para o avanço das investigações toponímicas, Dick (1987,

p. 38-40) elaborou um modelo taxionômico idealizado para a realidade brasileira.

Inicialmente, em 1975, a pesquisadora criou uma proposta com 19 (dezenove) taxes.

Posteriormente, esse modelo foi reformulado pela própria autora e publicado em 1990,

passando a englobar 27 (vinte e sete) taxes, distribuídas em 02 (dois) blocos, de acordo com a

natureza motivacional (semântica): 11(onze) taxes relacionam-se ao ambiente físico e,

portanto, denominadas “Taxionomias de Natureza Física”, e 16 (dezesseis) ligadas às relações

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que envolvem o homem inserido em um grupo com seus aspectos sócio-culturais,

denominadas “Taxionomias de Natureza Antropocultural”.

As referidas categorias taxionômicas são descritas e exemplificadas a seguir:

2.6.1 TAXIONOMIAS DE NATUREZA FÍSICA

1- Astrotopônimos: topônimos relativos aos corpos celestes em geral. Ex: Estrela (AH BA);

Rio da Estrela (ES); Saturno (AH ES)34

.

2-Cardinotopônimos: topônimos relativos às posições geográficas em geral. Ex: Praia do

Leste (PR); Serra do Norte (MT); Entre-Rios (AH AM); Ribeirão do Norte (MG); Lagoa do

Sul (SC).

3-Cromotopônimos: topônimos relativos à escala cromática. Ex: Rio Branco (AM); Rio

Negro (AM); Rio Pardo (SP); Serra Azul (SP).

4-Dimensiotopônimos: topônimos relativos às características dimensionais dos acidentes

geográficos, como extensão, comprimento, grossura, largura, espessura, altura, profundidade.

Ex: Ilha Comprida (AM); Serra Curta (BA); Larga (AH GO); Riacho Grosso (CE); Morro

Alto (GO); Córrego Fundo (MT); Igarapé Profundo (RO).

5- Fitotopônimos: topônimos de índole vegetal, espontânea, em sua individualidade. (Arroio

Pinheiro, RS), em conjuntos da mesma espécie (Pinheiral, AH RJ), ou de espécies diferentes

(Morro da Mata, MT; Caatinga, AH BA; Serra da Caatinga (RN), além de formações não

espontâneas individuais (Ribeirão Café, ES) e em conjunto (Cafezal, AH PA).

6-Geomorfotopônimos: topônimos relativos às formas topográficas: elevações (montanha -

Montanhas, AH RN; monte - Monte Alto, AH SP; morro - Morro Azul, AH RS; colina -

Colinas, AH GO; coxilha - Coxilha, AH RS) e depressões do terreno (vale – Vale Fundo, AH

MG; baixada - Baixadão, AF/AH MT) e às formações litorâneas (costa - Costa Rica, AH MT;

cabo - Cabo Frio, AH RJ; angra - Angra dos Reis, AH RJ; ilha - Ilhabela, AH SP; porto -

Porto Velho, AH RO).

7- Hidrotopônimos: topônimos resultantes de acidentes hidrográficos em geral. Ex: água -

Serra das Águas (GO), Água Boa, AH MG; rio - Riozinho, AH PI, Rio Preto, AH SP;

34

Cumpre-nos esclarecer que neste trabalho as siglas AF diz respeito aos acidentes físicos representados pelos

topônimos de natureza física como rios, serras, morros, lagos, cachoeiras, vegetais, animais e minerais, etc. e AH

refere-se aos acidentes humanos ou aglomerados humanos, representados pelos topônimos de natureza humana

como fazendas, rodovias, municípios, cidades, bairros, ruas, pontes, vilas, favelas, porto, escolas, etc.

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córrego-Córrego Novo, AH MG; ribeirão - Ribeirão Preto, AH SP; braço - Braço do Norte,

AH BA; foz - Foz do Riozinho, AH AM.

8- Litotopônimos: topônimos de índole mineral, relativos também à constituição do solo,

representados por indivíduos (barro, Lagos do Barro (BA); barreiro - Córrego do Barreiro

(AM); tijuco - Tijuco Preto, AH SP; ouro - Arroio do Ouro (RS), conjunto da mesma espécie

(Córrego Tijucal (SP) ou de espécies diferentes (Minas Gerais, AH MG, Cristália, AH MG,

Pedreiras, AH MG).

9- Meteorotopônimos: topônimos relativos a fenômenos atmosféricos. Ex: vento - Serra do

Vento (PB); Ventania, AH SP, Botucatu, AH SP; neve - Riacho das Neves (BA); chuva -

Cachoeira da Chuva (RO), Cachoeira do Chuvisco (MT); Chuva, AH MG; trovão - Trovão,

AH AM; Cachoeira Trovoada (PA).

10- Morfotopônimos: topônimos que refletem o sentido de forma geométrica. Ex.: Curva

Grande, AH AM; Ilha Quadrada (RS); Lagoa Redonda (BA); Triângulo, AH MT.

11- Zootopônimos: topônimos de índole animal, representados por indivíduos domésticos

(boi - Rio do Boi (MG), e não domésticos (onça - Lagoa da Onça (RJ), e da mesma espécie

em grupos (boiada - Ribeirão da Boiada (SP), Vacaria, AH RS, Tapiratiba, AH SP.

2.6.2 TAXIONOMIAS DE NATUREZA ANTROPOCULTURAL

1-Animotopônimos ou Nootopônimos: topônimos relativos à vida psíquica, à cultura

espiritual, abrangendo a todos os produtos do psiquismo humano, cuja matéria prima

fundamental, e em seu aspecto mais importante como fato cultural, não pertence à cultura

física. Ex.: vitória - Vitória, AH CE; triunfo - Triunfo, AH AC; saudade - Cachoeira da

Saudade (MT); belo - Belo Campo, AH BA; feio - Rio Feio (SP).

2- Antropotopônimos: topônimos relativos aos nomes próprios individuais. Ex.: prenome -

Abel, AH MG, Benedito (igarapé, MT), Fátima, AH MT; hipocorístico - Bentinho, AH MG,

Chiquita (ilha MT), Nico - (igarapé, AC); prenome + alcunha - Fernão Velho, AH AL,

Joaquim Preto (igarapé do, PA), Jorge Pequeno (ribeirão, MG), Maria Magra – (serra da,

MG), Pedro Ligeiro, AH GO); apelidos de família - Abreu, AH RS, Barbosa (arroio, RS),

Silva, AH PA, Tavares (rio, SP); prenome + apelido de família - Antonio Amaral, AH MG,

Francisco Dantas, AH RN, Manoel Alves (rio, GO).

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3- Axiotopônimos: topônimos relativos aos títulos e dignidades de que se fazem acompanhar

os nomes próprios individuais. Ex.: Presidente Prudente, AH SP, Doutor Pedrinho, AH SC,

Duque de Caxias, AH RJ.

4- Corotopônimos: topônimos relativos aos nomes de cidades, países, estados, regiões e

continentes. Ex.: Brasil, AH AM; Europa, AH AC, Amazonas, AH BA, Uruguai, AH MG.

5-Cronotopônimos: topônimos que encerram indicadores cronológicos, representados, em

Toponímia, pelos adjetivos novo/nova, velho/velha. Ex.: Velha Boipeba, AH BA; Rio Novo

Mundo (GO), Nova Viçosa (AH BA), Velha e Nova Emas, AH SP.

6- Ecotopônimos: topônimos relativos às habitações de um modo geral. Ex.: Casa da Telha,

AH BA; Ocauçu, AH SP; Sobrado, AH BA.

7- Ergotopônimos: topônimos relativos aos elementos da cultura material. Ex.: flecha -

Córrego da Flecha (MT); jangada - Jangada, MT; relógio - Relógio, AH PR.35

8- Etnotopônimos: topônimos referentes aos elementos étnicos, isolados ou não (povos,

tribos, castas). Ex.: Guarani, AH PE; Ilha do Francês (RJ), Rio Xavante (MT), Chavantes,

AH SP; Árabe (arroio, RS).

9- Dirrematotopônimos: topônimos constituídos por frases ou enunciados linguísticos. Ex.:

Há Mais Tempo, AH MA; Valha-me Deus, AH MA; Vai Quem Quer (igarapé, AM), Deus me

Livre, AH BA.

10 -Hierotopônimos: topônimos relativos aos nomes sagrados de diferentes crenças: cristã,

hebraica, maometana, etc. Ex.: Cristo Rei, AH PR; Jesus (rio GO), Alá (lago, AM); Nossa

Senhora da Glória, AH AM; às efemérides religiosas: Natividade, AH GO; Natal, AH AC; às

associações religiosas: Cruz de Malta, AH SC; aos locais de cultos: igreja - Serra da Igreja

(PR)); capela - Capela, AH AL; Capelazinha, AH MG. Os hierotopônimos podem apresentar,

ainda, duas subdivisões: a) hagiotopônimos - topônimos relativos aos santos e santas do

hagiológio romano: São Paulo, AH SP; Santa Tereza, AH GO; Santana da Boa Vista, AH RS;

b) mitotopônimos: topônimos relativos às entidades mitológicas: saci - Ribeirão do Saci

(ES); curupira - Lago Curupira (AM)); jurupari – Jurupari, AH AM; anhangá - Anhangá, AH

BA.

11 -Historiotopônimos: topônimos relativos aos movimentos de cunho histórico-social e aos

seus membros, assim como as datas correspondentes. Ex.: Independência, AH AC; Rio 7 de

35

Entre os ergotopônimos, será possível também a inclusão dos manufaturados como: farinha - Rio das Farinhas

(ES); pinga - Riacho da Pinga (PI); vinho - Córrego do Vinho (MG); óleo - Óleo, AH SP; azeite - Morro do

Azeite (MT).

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Setembro (MT); Inconfidência, AH RJ; Inconfidentes, AH MG, Rua Vinte e Um de Abril

(SP).

12 -Hodotopônimos (ou Odotopônimos): topônimos relativos às vias de comunicação rural

ou urbana. Ex.: Estradas, AH AM; Avenida, AH BA; Córrego do Atalho (GO); Travessa, AH

BA; Rua de Palha, AH BA; Ladeira, AH MA.

13 -Numerotopônimos: topônimos relativos aos adjetivos numerais. Ex.: Duas Barras, AH

BA; Duas Pontes, AH RO; Três Coroas, AH RS.

14-Poliotopônimos: topônimos constituídos pelos vocábulos “vila”, “aldeia”, “cidade”,

“povoado”, “arraial”. Ex.: Rio da Cidade, RJ; Serra da Aldeia (PB); Arraial, AH BA; Taubaté,

AH SP.

15 -Sociotopônimos: topônimos relativos às atividades profissionais, aos locais de trabalho e

aos pontos de encontro dos membros de uma comunidade (largo, pátio, praça). Ex.:

Sapateiro (serra do, SP); Pescador, AH MG; Serra dos Tropeiros (MG), Córrego Engenho

Novo (MG), Oficina, AH MG.

16 - Somatotopônimos: topônimos empregados em relação metafórica às partes do corpo

humano ou do animal. Ex.: Cotovelo, AH MG; Pé de Boi, AH SE; Pé de Galinha, AH BA;

Rio da Mão Esquerda (AL); Lagoa da Mão Quebrada (PI); Igarapé do Dedo (RR); Córrego do

Dedo Cortado (GO), Dedo Grosso, AH SC.

Vale assinalar que outros pesquisadores brasileiros trouxeram contribuições ao

modelo classificatório de Dick. São eles:

Isquerdo (1996, apud Sousa, 2009, p. 5) propõe uma subclassificação para a taxe dos

animotopônimos ou nootopônimos: animotopônimos ou nootopônimos eufóricos marca

uma impressão agradável, otimista. Ex. (Bonsucesso); e animotopônimos ou nootopônimos

disfóricos marca uma impressão desagradável, pessimista. Ex. Seringal Solidão.

Lima (1997, apud Sousa, 2009, p. 5), por sua vez, apresenta uma subdivisão para os

hagiotopônimos: hagiotopônimos autênticos, nomes de inspiração religiosa que recuperam

um santo ou santa aceitos e aprovados pelos dogmas da Igreja Católica Apostólica Romana,

ex: Santo Antonio; e hagiotopônimos aparentes nomes de inspiração política que prestam

tributos a um fundador ou uma pessoa influente da localidade. Ex.: Fazenda Santa Elina -

homenagem à proprietária de um imóvel rural em Mato Grosso.36

Já em Francisquini (1998, apud Sousa, 2009, p. 6-7), encontra-se o acréscimo das

seguintes taxes:

36

Os topônimos Bonsucesso e Fazenda Santa Elina são exemplos apresentados pela autora desta dissertação.

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Acronimotopônimos - relativos às siglas. Ex: CIANORTE (PR);

Estematotopônimos - os percebidos pelos sentidos. Ex: Ribeirão Doce;

Grafematopônimos - os que apresentam entre os elementos distintivos letras do alfabeto. Ex:

Seção C (PR);

Higietopônimos - relativos à saúde, à higiene, ao estado de bem-estar físico. Ex: Água

Limpa.

Necrotopônimos - os que se referem ao que são ou que está morto, a restos mortais. Ex:

Córrego Caveira (PR).

Sousa (2009, p. 6-7) afirma que as 05 (cinco) taxes anteriormente citadas são de

autoria de Francisquini, enquanto Zamariano (2006, p. 92) atribui as duas primeiras

acronimotopônimos e estematotopônimos, à sugestão da professora Drª Vanderci de Andrade

Aguilera e Ignez de Abreu Francisquini em sua Monografia de Especialização; as demais,

grafematopônimos, higietopônimos e necrotopônimos, foram criadas com a ajuda de Aluysio

Fávero, professor de Latim e Literatura Latina do Departamento de Letras Vernáculas e

Clássicas da Universidade Estadual de Londrina.

Não cabe aqui, discutir a autoria das referidas taxes, apenas registrá-las em função da

importância que o assunto traz para o enriquecimento da taxionomia toponímica.

Carvalho (2010, p. 149) apresenta 01 (uma) taxe que não integra a classificação

toponímica de Dick. Trata-se do igneotopônimo cujas unidades lexicais se referem ao fogo,

abrangendo todos os produtos resultantes de sua ação direta, quando usadas para denominar

acidentes físicos e acidentes antrópicos. Ex: Morro do Fogo, no município de Alto Araguaia -

MT.

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CAPÍTULO 3

ANÁLISE DO CORPUS

Neste capítulo apresenta-se a metodologia utilizada nas várias etapas da investigação

e a análise do corpus.

Tendo-se em vista que a Toponímia trabalha com a carga cultural do nome,

considerou-se importante levantar os traços característicos das comunidades no tocante aos

seus aspectos físicos gerais neles incluindo informações geomorfológicas e hidrográficas,

condições econômicas, fauna, flora, religiosidade, processo de ocupação, enfim, todos os

fatores que podem ser verbalizados em formas denominativas.

Para isso, visitamos regularmente as duas comunidades para conhecer a sua

dinâmica, buscamos informações e/ou dados nos órgãos oficiais como a Prefeitura Municipal

de Várzea Grande-MT, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, o Arquivo

Público de Mato Grosso - APMT, o Cartório de Registro Civil de Várzea Grande, a Fundação

Júlio Campos, as Secretarias Municipais de Educação e de Cultura de Várzea Grande, a

Biblioteca Central da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, o Núcleo de

Documentação e Informação Histórica Regional da UFMT - NDHIR, o Instituto Memória da

Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso, a Biblioteca Pública Municipal de Cuiabá,

a Biblioteca Pública Municipal de Várzea Grande, livrarias e livrarias de livros usados

(sebos). Também participamos de seminários de linguagem e de cursos sobre o tema,

adquirimos acervo bibliográfico, tomamos, por empréstimo, obras sobre Toponímia, já

usados, uma vez que há escassez dessas obras no mercado. Realizamos leituras sobre obras de

Linguística e sobre a História de Várzea Grande, assim como consultamos sítios da rede

mundial de computadores - Internet e conversamos com os moradores dos dois distritos e

outras pessoas, tudo com vistas a conhecer, através da toponímia local, como se constituiu

e/ou como se constitui a história linguística dessas duas comunidades ribeirinhas.

3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa toponímica pode ser realizada por meio de fontes documentais, como

mapas, cartas topográficas, documentos oficiais e de particulares, por pesquisa de campo,

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quando o próprio pesquisador faz o levantamento da nomenclatura ou, ainda, pela junção da

modalidade bibliográfica com a de campo.

Esta pesquisa foi desenvolvida através de uma abordagem qualitativa, a qual não

começa com um conjunto de hipóteses a serem verificadas, mas, sim, com uma aproximação

ao cenário ou lugar de investigação, levantando alguns problemas e refletindo sobre eles.

A elaboração deste trabalho ocorreu de forma sistêmica utilizando-se como técnica

de investigação as modalidades de pesquisa bibliográfica e de campo, necessárias para dar

conta da constituição do corpus a ser analisado. O levantamento do inventário toponímico

ocorreu em duas fases, descritas a seguir:

3.1.1 COLETA DOS DADOS

Para a coleta das informações quanto à ocorrência dos topônimos relativos às

localidades de Bonsucesso e Pai André, lançou-se mão de dois diferentes instrumentos. O

primeiro instrumento, usual em pesquisa sociocultural, a entrevista, semiestruturada, através

da qual, utilizando-se gravador, foram colhidas informações de pessoas residentes nas

localidades.

Vale registrar que as entrevistas gravadas foram precedidas de preenchimento de

formulário impresso com dados desses informantes como: nome, apelido, idade, local de

nascimento, atividade profissional, local de nascimento dos pais e avós, grau de escolaridade,

tempo de residência no local.

Considerando que, dentre os objetivos da pesquisa, está a identificação de topônimos

atuais e anteriores, bem como a sua significação, foram realizadas entrevistas com 03

informantes de cada distrito com idade a partir de 65 anos, que residem nos locais desde a

infância e possuem domínio da história oral da região em estudo.

As entrevistas gravadas, sempre com a anuência dos entrevistados, foi, de certa

forma, direcionada pela entrevistadora/pesquisadora, quanto aos objetivos da pesquisa,

através do estímulo a que os entrevistados procurassem narrar a história oral de Bonsucesso,

de Pai André e localidades contíguas.

Além das referidas entrevistas observamos as ruas, as placas e visitamos algumas

residências, locais de trabalho, escolas, comércio e restaurantes (peixarias), assim como

mapas, fotografias e informações bibliográficas obtidas nas leituras sobre o assunto.

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3.1.2 ANÁLISE DOS DADOS

A partir dos procedimentos metodológicos utilizados e das referências teóricas sobre

Toponímia, procedemos à análise do corpus valorizando as observações de campo as quais

foram registradas em caderno de anotações, assim como as entrevistas gravadas e as

conversas espontâneas com os moradores de ambos os locais, com os diretores das escolas,

com as tecelãs, os pescadores, os presidentes das Associações de Bairro, os proprietários das

peixarias e bares e as vendedoras de rapaduras e doces.

3.2 O CORPUS

Nesta seção examinamos os dados segundo sua classificação toponímica,

desenvolvendo-se um estudo linguístico sob os aspectos geo-históricos, lexicográficos e

toponímicos, relativos à procedência, tipo de acidente, língua de origem, taxionomia e

estrutura morfológica do topônimo.

A análise do corpus ancora-se nos pressupostos teóricos de Dick (1990, p. 10) a qual

afirma que o topônimo se liga ao acidente geográfico que o identifica, constituindo um

conjunto ou relação binômica, passível de desmembramento para melhor se distinguirem os

seus termos formadores que, ligados, produzem uma nova unidade semântica.

Destacam-se como base teórico-metodológica dados da Linguística Geral, na

perspectiva de Saussure, associando-os ao signo toponímico segundo os fundamentos de Dick

(1990 e 1987).

Ainda nesta parte, apresenta-se o estudo global do topônimo em seu aspecto

linguístico e geo-histórico demonstrando-se a taxionomia toponímica com maior incidência

nas localidades.

Assim, nessa relação dúplice há um termo ou elemento genérico, relativo à entidade

geográfica que irá receber a denominação, e o outro, o elemento ou termo específico, ou

topônimo propriamente dito, que particularizará a noção espacial, identificando-a e

singularizando-a, conforme bem ilustra o gráfico a seguir:

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Rio Cuiabá

3.2.1 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO INVENTÁRIO TOPONÍMICO

3.2.1.1 CLASSIFICAÇÃO TOPONÍMICA DE NATUREZA FÍSICA

Nº de

Ordem

Procedência Tipo de

Acidente

Topônimo Língua(s)

de origem

Taxionomia Estrutura

morfológica

do topônimo

01 Bonsucesso Córrego Formigueiro LP Zootopônimo Simples

02 Córrego Piçarrão LP Litotopônimo Simples

03 Córrego Traíra LI Zootopônimo Simples

04 Cuiabá Microrregião Baixada

Cuiabana

LP+LI Geomorfotopônimo Híbrido

05 Rio Coxipó LI Zootopônimo Simples

06 Rio Cuiabá LI Zootopônimo Simples

07 Rio Manso LP Animotopônimo Simples

08 Rio Pari LI Ergotopônimo Simples

09 V. Grande Morro Vermelho LP Cromotopônimo Simples

10 Ribeirão Aguaçu LP Fitotopônimo Simples

11 Ribeirão Espinheiro LP Fitotopônimo Simples

12 Santo Antônio

de Leverger

Morro de Santo

Antônio

LP Hagiotopônimo Composto

13 N. Sª. do

Livramento

Ribeirão Cocais LP Fitotopônimo Simples

Termo ou elemento genérico

Termo ou elemento específico

(o topônimo propriamente dito)

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72

3.2.1.2 CLASSIFICAÇÃO TOPONÍMICA DE NATUREZA ANTRÓPICA,

ANTROPOCULTURAL OU HUMANA

Nº de

ordem

Procedência Tipo de

acidente

Topônimo Língua(s)

de origem

Taxionomia Estrutura

morfológica

do topônimo

01 Bonsucesso Chácara Bom Jardim LP+LE Animotopônimo ou

nootopônimo

Composto

02 Distrito de Bonsucesso LP Animotopônimo ou

nootopônimo

Composto

03 Distrito de Água

Branca

LP Hidrotopônimo Composto

04 Distrito de Capão

Grande

LP+LI Fitotopônimo Híbrido

05 Distrito de Praia

Grande

LP Dimensiotopônimo Composto

06 Distrito de Souza

Lima

LP Antropotopônimo Composto

07 Distrito do Sovaco LP Somatotopônimo Simples

08 Escola Profª Maria

Barbosa

Martins

LP Axiotopônimo Composto

09 Engenho da Dona

Buguela

LP Axiotopônimo Composto

10 Igreja do Divino

Espírito

Santo

LP Hierotopônimo Composto

11 Localidade de Capão do

Pequi

LI Fitotopônimo Composto

12

Localidade de Capela do

Piçarrão

LP+LE Litotopônimo Híbrido

13 Localidade de Capelinha LP Hierotopônimo Simples

14 Localidade de Curicaca

LI Zootopônimo Simples

15 Localidades da Rota do

Peixe

LP+LE Zootopônimo Híbrido

16 Localidade de Limpo LP Dimensiotopônimo Composto

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73

Grande

17 Rua João Gil da

Silva

LP Antropotopônimo Composto

18 Usina Cachoeira do

Pau

LP Hidrotopônimo Composto

19 Cuiabá Arraial da

Forquilha37

LE Geomorfotopônimo Simples

20 Arraial de São

Gonçalo

LP Hagiotopônimo Composto

21 Bairro do Porto LP Geomorfotopônimo Simples

22 Município de Cuiabá LI Zootopônimo Simples

23 Distrito do Coxipó da

Ponte

LP+LI Zootopônimo Híbrido

24 Estado de Mato

Grosso

LP Fitotopônimo Composto

25 Porto Passagem

Velha

LP+LE Cronotopônimo Híbrido

26 Pai André Distrito de Pai André LP Axiotopônimo Composto

27 Localidade Céu LP Astrotopônimo Simples

28 Cooperativa de

Pescadores

COORIMBA

LP Acronimotopônimo Simples

29 Comunidade do Morrinho LP Geomorfotopônimo Simples

30 Pesqueiro da Dona

Morena

LP Axiotopônimo Composto

31 V. Grande Aeroporto Marechal

Rondon

LE Axiotopônimo Composto

32 Alameda Julio Müller LP Historiotopônimo Composto

33 Avenida Couto

Magalhães

LP Historiotopônimo Composto

34 Avenida da FEB LP Acronimotopônimo Simples

35 Avenida Profª Alzira

Santana

LP Axiotopônimo Composto

36 Cidade de Várzea

Grande

LP Dimensiotopônimo Composto

37

Vale registrar que não foi elaborada a Ficha Lexicográfico-toponímica dos topônimos Arraial da Forquilha,

Pesqueiro da Dona Morena, Ribeirão Aguaçu e Rodovia dos Imigrantes, por insuficiência de dados sobre eles.

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74

37 Estrada Boiadeira LP Zootopônimo Simples

38 Localidade Bosque LP Fitotopônimo Simples

39 Localidade do

Carrapicho

LP Fitotopônimo Simples

40 Distrito do

Engordador

LP Sociotopônimo Simples

41 Localidade do Poço

Grande

LP Dimensiotopônimo Composto

42 Localidade Umbauval LI Fitotopônimo Simples

43 Povoado de Passagem

da Conceição

LP Antropotopônimo Composto

44 Ponte do Poço

Grande

LP Dimensiotopônimo Composto

45 Ponte Julio Müller LP Historiotopônimo Composto

46 Povoado de São

Gonçalo

LP Hagiotopônimo Composto

47 Complexo

viário

do Trevo do

Lagarto

LP Zootopônimo Composto

48 Rodovia dos

Imigrantes

LP Etnotopônimo Composto

49 Usina São Gonçalo LP Hagiotopônimo Composto

50 Santo

Antônio de

Leverger

Usina Aricá LI Fitotopônimo Simples

51 Usina Conceição LP Antropotopônimo Simples

52 Usina Flechas LP Ergotopônimo Simples

53 Usina Itaycy LI Litotopônimo Composto

54 Usina Maravilha LP Animotopônimo ou

nootopônimo

Simples

55 Usina Tamandaré LI Antropotopônimo Simples

56 Usina São Sebastião LP Hagiotopônimo Composto

57 Usina São Miguel LP Hagiotopônimo Composto

58 Município de Stº.

Antonio de

Leverger

LP+LE Hagiotopônimo Composto

59 N. Sª. do

Livramento

Município de N. Sª. do

Livramento

LP Hagiotopônimo Composto

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75

3.2.1.3 ANÁLISE TOPONÍMICA DOS DISTRITOS DE BONSUCESSO,

PAI ANDRÉ E MUNICÍPIOS CIRCUNVIZINHOS

3.2.1.3.1 FICHA LEXICOGRÁFICO-TOPONÍMICA

No item anterior, os topônimos foram classificados quanto à sua procedência, ao tipo

de acidente, à sua identificação, à língua de origem, à taxionomia à qual está filiado e à sua

estrutura morfológica.

Nesta parte, apresenta-se o estudo do topônimo em seu aspecto linguístico e geo-

histórico, demonstrando-se a característica toponímica mais recorrente nas localidades

pesquisadas.

Apoiando-se no modelo de análise proposto por Dick (1990), elaborou-se a ficha

lexicográfico-toponímica38 própria para classificar o topônimo conforme a sua natureza, que

serve como instrumento para orientar o pesquisador dando a ele a possibilidade de estudar o

topônimo no que se refere aos aspectos linguísticos, históricos, geográficos, etimológicos e

taxionômicos.

Vale consignar que para o tratamento e análise dos topônimos levantados, tem-se

utilizado a metodologia de tratamento de dados do Projeto ATESP (Atlas Toponímico do

Estado de São Paulo), coordenado por Dick (2004,1999), combinada com a perspectiva

teórica da mesma toponimista (2001; 1992; 1990). O modelo que se segue é o idealizado por

Dick e adotado no Projeto ATESP (2004, p. 130).

MODELO DE FICHA LEXICOGRÁFICO–TOPONÍMICA

N° de ordem: Informações enciclopédicas:

Localização/Município: Fonte:

Topônimo: Data da coleta:

Taxionomia: Pesquisador:

Etimologia: Revisor:

Estrutura morfológica

Fig.05 - Ficha Lexicográfico-toponímica

Fonte: DICK (2004, p. 130).

38

Este tipo de ficha, modelado por Dick ao longo dos anos (1980-2004), pode ser adaptável, em seus campos, de

acordo com cada pesquisa, mas sua essência permanece e é um modelo que tem revelado grande praticidade e

eficácia nas pesquisas toponímicas, sendo adotada pelo Projeto Atlas Toponímico do Estado de São Paulo,

coordenado por essa autora, como também por outros Atlas Toponímicos em fase de desenvolvimento, no Brasil

(CARVALINHOS, 2005, p. 143).

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76

Com fundamento em Dick (2004, p. 130) elegeu-se os seguintes componentes para

elaborar a ficha lexicográfico-toponímica desta pesquisa:

Nº de Ordem: este campo refere-se à numeração de ordem de cada topônimo.

Localização: corresponde ao local de registro/ocorrência do topônimo.

Município: indica o município ao qual a localidade a que o topônimo se refere está

localizado.

Topônimo: refere-se ao nome do acidente físico ou humano coletado.

Taxionomia: registra-se a taxe do topônimo.

Etimologia: indica a procedência do topônimo contida em dicionários, livros ou outras

fontes.

Estrutura morfológica: indica a classe gramatical a que pertence o topônimo.

Informações enciclopédicas: referem-se às informações mais completas e genuínas do local

pesquisado.

Fonte: indica o local de onde foi coletado o topônimo.

Data da coleta: refere-se ao período em que foi coletado o dado.

Pesquisadora: refere-se à pessoa responsável pela coleta dos dados.

Revisor: refere-se ao orientador da pesquisa.

a) FICHA LEXICOGRÁFICO -TOPONÍMICA DOS ACIDENTES

FÍSICOS

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 01 Localização: Bonsucesso

Topônimo: Córrego Formigueiro Taxionomia: Zootopônimo

Etimologia: Do lat. formica, ae, formiga, inseto.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc. + suf.).

Informações enciclopédicas: Habitação de formigas, onde vivem em sociedade, geralmente na

terra ou em velhos tocos ou troncos de árvores.

O córrego Formigueiro em Várzea Grande possui declive leve e abrange o trecho da estrada

boiadeira que liga os municípios de Poconé e N. Sª do Livramento. Geralmente é de suave

correnteza, contudo, torna-se torrentoso e de difícil acesso no período de grandes chuvas, época

em que é comum o seu transbordamento o qual atinge ruas e casas.

Fonte: Monteiro (1987) e Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 02 Localização: Bonsucesso

Topônimo: Córrego Piçarrão Taxionomia: Litotopônimo

Etimologia: Piçarrão, suf. aumentativo de piçarra (piçarra +ao) do espanhol pizarra, ardósia,

quadro-negro, material encontrado logo abaixo do cascalho diamantífero. Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc. + suf.)

Informações enciclopédicas: Curso d’água de declive leve que forma a hidrografia de Várzea

Grande, porém em períodos de grandes chuvas costuma transbordar causando prejuízos à

população.

Fonte: Monteiro (1987) e Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov./10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 03 Localização: Bonsucesso

Topônimo: Córrego Traíra Taxionomia: Zootopônimo

Etimologia: Do tupi tare’ïra. Segundo Sampaio (1987, p. 325) o correto é Tara-guira ou tar-a-

guira, o que bamboleia, ou se contorce. É o nome do peixe d’água doce que vive mergulhado na

vasa. (Erythrinus Tareíra). Alt. Trahíra, Tareíra, Taraíra.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem).

Informações enciclopédicas: A traíra é um peixe encontrado em ambientes lênticos da América

Central até a Argentina e com ampla distribuição no Brasil. Em Várzea Grande, o córrego

Traíra localiza-se na região oeste no caminho da antiga estrada que demanda à cidade de Nossa

Senhora do Livramento, itinerário que influenciou o crescimento do distrito de Capão Grande.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009) e Sampaio (1987). Data da coleta: mar/09 a nov./10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 04 Localização: Cuiabá

Topônimo: Baixada Cuiabana Taxionomia: Geomorfotopônimo

Etimologia: Do português baixada + do bororo cuiabana, microrregião do estado de Mato

Grosso caracterizada pelo predomínio de terrenos sedimentares planos a suavemente inclinados,

de baixa altitude, com ocorrência de solos profundos e bem drenados. Etimologia toponímica:

Cuiabá + ana.

Estrutura morfológica: Nc (LP: Baixada + Cuiabana: LI indígena. Baixada, s.f. do particípio

baixado + adj. fem. resultante de Cuiabá + ana, refere-se a depressão de terreno junto de uma

lombada. Cuiabana, s.f. adj. relativo à microrregião de Cuiabá).

Informações enciclopédicas: Baixada Cuiabana, Planície Cuiabana ou Vale do Cuiabá – Região

de Mato Grosso cujo território abrange uma área de 85.369,70 km² sendo constituído por 14

municípios que margeiam os rios Cuiabá e Paraguai, juntamente com seus afluentes,

confluentes e defluentes, e têm como principal pólo de desenvolvimento e raízes socioculturais

a cidade de Cuiabá, capital de Mato Grosso.

Fonte: Monteiro (1987) Houaiss (2009), Lima (2007). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias A. de Andrade

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 05 Localização: Cuiabá/Coxipó

Topônimo: Rio Coxipó Taxionomia: Zootopônimo

Etimologia: Na língua Bororo (Macro-Jê), o termo “coxipó” é corruptela da palavra “kugibo” e

significa kugi - peixe; po= bo – rio (rio de peixe). Há, ainda, outra versão que traduz kugibo

como “córrego do mutum.” O nome também é conhecido como Cojipó e Cujipó. Silveira Bueno

(2008, p. 109 e 579) apresenta as seguintes grafias: Cochipó e Cogipó.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc.)

Informações enciclopédicas: O Coxipó é um rio que banha o estado de Mato Grosso. Ele nasce

na Área de Proteção Ambiental de Chapada dos Guimarães e passa pelo Parque Nacional da

Chapada dos Guimarães, formando a cachoeira Véu de Noiva ao despencar pela escarpa. O

referido rio cruza a área urbana de Cuiabá e como um dos afluentes do rio Cuiabá pela margem

esquerda neste deságua próximo à Comunidade de São Gonçalo Beira Rio. A sua região era

habitada pelos Bororo, também denominados Coxiponé, Araripoconé, Araés, Cuiabá, Coroados,

Porrudos, dentre outros. Esses índios rechaçaram, na confluência dos rios Coxipó e Mutuca, a

expedição de Moreira Cabral. Fonte: Ferreira (2001), Houaiss (2009), Silveira Bueno (2008) e

Chiaradia (2008). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 06 Localização: Cuiabá

Topônimo: Rio Cuiabá Taxionomia: Zootopônimo

Etimologia: Cuiabá, topônimo de origem indígena e de estrutura simples que nomeia um rio no

município do mesmo nome.

Vale registrar que há inúmeras acepções para a origem do topônimo Cuiabá. Nesta pesquisa

optou-se pela hipótese apresentada por Agustín Castañares que justifica, com argumentos

plausíveis, que a origem do nome Cuiabá (rio da lontra brilhante) foi motivada pela quantidade

de ariranhas existentes no rio.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc.)

Informações enciclopédicas: O rio Cuiabá nasce na Serra Azul e possui 98 km de extensão,

separa os municípios de Cuiabá e Várzea Grande e fornece 95% da água potável utilizada na

cidade de Cuiabá e nos demais municípios ribeirinhos da região, além de contribuir com o

pescado para subsistência e comercialização. Desde o séc. XVIII abriga em suas margens

populações de origem indígena, luso-brasileira e negra. Somente a partir da década de 1930 é

que a navegação no estado de Mato Grosso começou a ser desativada em função da abertura de

estradas de rodagem. Foi a principal via de comunicação da capital para o centro sul brasileiro,

bem como para alguns países da América do Sul como o Paraguai, Argentina, Uruguai e

Bolívia. Essa via fluvial foi usada principalmente pelos bandeirantes paulistas através das

monções.

Fonte: Ferreira (2001), Silva (2007),Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 07 Localização: Cuiabá

Topônimo: Rio Manso Taxionomia: Animotopônimo

Etimologia: do lat. vulg. mansuetus, a, um, rio de pouca correnteza, sereno.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc. + adj.)

Informações enciclopédicas: O Rio Manso é o principal afluente do rio Cuiabá e constitui com

este uma sub-bacia do rio Paraguai. Nasce a aproximadamente 800 m de altitude entre as serras

Azul e Mutum, no município de Chapada dos Guimarães-MT e possui cerca de 200 km de

extensão até a confluência com o rio Cuiabá. No trecho médio, onde sua declividade é menor, o

rio Manso recebe o rio Palmeiras e, posteriormente, seu afluente mais importante, o rio da

Casca, com o qual controla uma área de drenagem de 9.364 km², que representa cerca de 40%

da bacia do rio Cuiabá em Cuiabá e, aproximadamente, 2% da bacia hidrográfica formadora do

Pantanal de Mato Grosso. Nesse rio fica a Usina Hidrelétrica de Manso entre os municípios de

Chapada dos Guimarães e Nova Brasilândia.

Fonte: Andrade (2008), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 08 Localização: Cuiabá

Topônimo: Rio Pari Taxionomia: Ergotopônimo

Etimologia: Do Tupi (pa’ri) cujo significado é canal de tomar peixe = Pari. É uma barragem de

madeira, espécie de armadilha para apanhar peixe. Sampaio o define como cercado para apanhar

peixe, a caniçada ou curral. Chiaradia (2008, p. 503) o define como esteira ou cerca móvel de

varas, com que se fazem tapagens nos rios ou nas praias (maré) para pesca; paritá, cacuri, cauri,

curral de peixe, caiçara e ibapari.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc.)

Informações enciclopédicas: O Rio Pari é afluente do rio Cuiabá, divide ao meio o município de

Várzea Grande sendo o limite natural do povoado de Passagem da Conceição e Guarita. O

ribeirão é famoso pela Lenda do Minhocão do Pari, um grande monstro que surge como um

rebojo e que vem do leito do rio levantando água, areia e folhas, fenômeno na verdade causado

pela presença de um gás natural existente no referido rio.

Fonte: Monteiro (1987), Sampaio (1987), Houaiss (2009) e Chiaradia (2008).

Data da coleta: mar/09 a nov/10. Pesquisadora: Marcilene R. da Silva

Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 09 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Morro Vermelho Taxionomia: Cromotopônimo

Etimologia: do lat. vermiculus, relativo a cor vermelha. Em Várzea Grande designa um morro.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc. + adj.)

Informações enciclopédicas: Trata-se o referido topônimo de uma rampa de terreno modelada

pela erosão, contribuindo para a formação do rio Cuiabá. Esse morro é a maior elevação do

município de Várzea Grande. Após as descobertas de ouro em Cuiabá, o bandeirante Miguel

Sutil transpôs o rio Cuiabá e tentou a mineração nos córregos e encostas desse morro,

vasculhando as terras varzea-grandenses que nada lhe ofereceram, nem ouro nem índio.

Fonte: Dick (1987) Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

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80

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 10 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Ribeirão Espinheiro Taxionomia: Fitotopônimo

Etimologia: Formado pela unidade lexical espinho + o sufixo eiro. Arbusto pequeno que possui

casca fina, cinzenta, e ramos com espinhos recurvados. A casca, frutos e folhas tem uso

medicinal e gastronômico, como condimento.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc. + suf.)

Informações enciclopédicas: O ribeirão Espinheiro é afluente do rio Cuiabá que constitui o

limite inicial do município de Cuiabá com Várzea Grande sendo este último banhado por suas

águas em toda extensão ocidental. Está localizado numa região de relevo acidentado na zona

rural. A área de preservação permanente está conservada, o que indica boa qualidade da água

superficial.

Fonte: Monteiro (1987) e Houaiss (2009), Michaelis (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 11 Localização: Santo Antonio de Leverger

Topônimo: Morro de Santo Antonio Taxionomia: Hagiotopônimo

Etimologia: Do lat. sanctus, que pertence à religião, aos ritos sagrados e à divindade, a Deus,

sendo essencialmente puro e perfeito. Antonio – nome popular, do lat. Antonius, significa

inestimável ou digno de apreço. Este santo pertence ao hagiológio católico romano de origem

portuguesa.

Estrutura morfológica: Np (Adj. masc. + Sb. próprio).

Informações enciclopédicas: O Morro de Santo Antonio, topônimo de origem geográfica,

localiza-se no município de Santo Antônio de Leverger. É tombado como patrimônio histórico,

cultural e ambiental. Distante 35 km de Cuiabá, está a 500 metros acima do nível do mar, é

margeado pelo rio Cuiabá e pelo Pantanal. É frequentemente citado em livros de história por ter

sido ponto de observação dos soldados mato-grossenses, que protegiam o estado de uma

possível invasão de inimigos durante a Guerra do Paraguai.

Fonte: Ferreira (2008), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R.da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 12 Localização: Nossa Senhora do Livramento

Topônimo: Ribeirão Cocais Taxionomia: Fitotopônimo

Etimologia: Constituído pela unidade lexical portuguesa coco+ al (ais).

Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc.)

Informações enciclopédicas: Ribeirão Cocais, topônimo formador da hidrografia do município

de Nossa Senhora do Livramento. Está situado a 36 km de Cuiabá e a 03 km do local onde mais

tarde se formou a primeira povoação, berço da atual cidade de Nossa Senhora do Livramento.

Nesse ribeirão, que passa por Praia Grande antes de desembocar no rio Cuiabá, em 1730, os

paulistas sorocabanos Antônio Aures e Damião Rodrigues descobriram ouro.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

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81

b) FICHA LEXICOGRÁFICO-TOPONÍMICA DOS ACIDENTES

ANTRÓPICOS

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 01 Localização: Bonsucesso

Topônimo: Distrito de Bonsucesso Taxionomia: Animotopônimo ou nootopônimo

Etimologia: Bom, do lat. bonus, a, um + Sucesso, do lat. successus,us. A lexia Bom, que

designa uma qualidade em oposição ao mau + a lexia Sucesso que designa êxito, triunfo, grande

popularidade. Bonsucesso, topônimo idealizado para sagrar-se vitorioso em todos os seus

empreendimentos.

Estrutura morfológica: Nc (Adj. + Sb.).

Informações enciclopédicas: Bonsucesso é um distrito de Várzea Grande-MT, localizado à

margem direita do rio Cuiabá tendo, no passado, sido uma sesmaria constituída das povoações

de Souza Lima (Sovaco), Capão Grande, Pai André, Praia Grande, Capela do Piçarrão e Limpo

Grande. Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009), Tavares (2004). Data da coleta: mar/09 a

nov/10. Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias A. de Andrade.

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 02 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Distrito de Água Branca Taxionomia: Hidrotopônimo

Etimologia: Do lat. aqua, líquido essencial à vida, a parte líquida do globo terrestre.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem.)

Informações enciclopédicas: O hidrotopônimo Água Branca refere-se à primeira denominação

do distrito de Souza Lima, ex-integrante da sesmaria de Bom Sucesso.

Fonte: Monteiro (1987), Ferreira (1980), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 03 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Distrito de Capão Grande Taxionomia: Fitotopônimo

Etimologia: Do tupi (Capão= ka’a pu’ã) + adjetivo (Grande), porção de mato isolado no meio

do campo. Sampaio, assim o define: Capão: corr. Caá-pãu, caá, mato; pãu (ou paum), ilha: a

ilha de mato; o mato crescido e isolado no meio do campo, da planície.

Capão - fitogeografia: formação arbórea de pequena extensão, volume e composição variados,

e de aspecto diverso da vegetação que o circunda; caapuã, capuão, capuão de mato, ilha de

mato.

Estrutura morfológica: Nc de estrutura híbrida (Sb. masc.+ adj.).

Informações enciclopédicas: Capão Grande, reduto mais populoso do Bom Sucesso antigo do

qual se desmembrou. No início, tinha como atividade principal o abate de reses para a produção

de carne seca que era dividida em mantas de oito libras, de meia ou de uma arroba, que,

enroladas e amarradas com cipó verde, eram acomodadas em bois cargueiros que as

transportavam para comercialização em Várzea Grande e Cuiabá.

Fonte: Cunha (1978), Monteiro (1987), Ferreira (1980), Sampaio (1987) e Silveira Bueno

(2008). Data da coleta: mar/09 a nov/10. Pesquisadora: Marcilene R. da Silva

Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 04 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Distrito de Praia Grande Taxionomia: Dimensiotopônimo

Etimologia: do lat. medv. plaga, ae + adjetivo 2g. grande, do lat. grandis,e.

Estrutura morfológica: Ns (Sb.fem. + adj. 2g.).

Informações enciclopédicas: Praia Grande, localidade que no passado pertencia a Bom Sucesso,

foi formada no início do século XX tendo sua povoação se intensificado a partir de 1940 com a

abertura da estrada que dá acesso a Várzea Grande. O lugar é próprio para lavoura e atividade

pesqueira. A sua motivação toponímica está relacionada à grande praia fluvial do rio Cuiabá.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 05 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Distrito de Souza Lima Taxionomia: Antropotopônimo

Etimologia: Topônimo formado por dois nomes próprios de família (Souza + Lima).

Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc.).

Informações enciclopédicas: Souza Lima – Antigo “Sovaco” ou “Subaco de Cobra”39, integrava

antigamente o distrito de Bonsucesso, com o nome de Água Branca. Denominado “Sovaco” até

1948, teve esse nome substituído por “Souza Lima” através da lei nº 178, de 30/10/48, em

homenagem ao médico cuiabano Agostinho Souza Lima.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 06 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Distrito do Sovaco Taxionomia: Somatotopônimo

Etimologia: Origem contrv., o mesmo que axila. Há a variante sobaco.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc).

Informações enciclopédicas: Sovaco, denominação antiga do distrito de Souza Lima. A

motivação toponímica do lugar, nada sugestiva, na opinião de Monteiro (1987, p.168), foi

decorrente do crescimento da população.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

39

A denominação “Subaco de Cobra” não tem caráter oficial. É utilizada por populares e, principalmente, por

uma significativa parcela de alunos da localidade como manifestação pejorativa ao extinto “Sovaco”, topônimo

que identificou, oficialmente, o distrito de Souza Lima até 1948.

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Ficha Lexicográfico-Toponímica

N° de ordem: 07 Localização: Bonsucesso

Topônimo: Escola Profª Maria Barbosa Martins Taxionomia: Axiotopônimo

Etimologia: Do lat. professore (professora), mulher que ensina ou exerce o professorado.

Estrutura morfológica: Nc (Sb. fem. + nomes próprios de família).

Informações enciclopédicas: A EMEB Profª Maria Barbosa Martins está situada na Av. João Gil

da Silva. Funciona nos três turnos sendo o matutino e o vespertino destinados à clientela da pré-

escola e ao ensino fundamental e o noturno, à alfabetização de jovens e adultos e ao ensino

médio. O prédio dessa unidade escolar foi totalmente destruído pela enchente de 1974. Quando

a água baixou a escola foi reconstruída sob a liderança da Profª Maria Barbosa Martins. Por este

trabalho a professora recebeu a homenagem da comunidade, tendo seu nome na identificação da

EMEB de Bonsucesso.

Fonte: Ferreira (2010), Revista Ótima (2011), Houaiss (2009) Data da coleta: mar/09 a jan/11.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 08 Localização: Bonsucesso

Topônimo: Engenho da Dona Buguela Taxionomia: Axiotopônimo

Etimologia: Dona, do lat. domina, proprietária, mulher, senhora, esposa + Buguela (apelido

familiar de Belmira Ferreira Fontes).

Estrutura morfológica: Nc (Sb. fem. ).

Informações enciclopédicas: O engenho da D. Buguela é um dos remanescentes de um total de

32 unidades que sustentou economicamente o distrito no auge do “Ciclo do Tacho” cuja

produção era para o consumo interno e para o abastecimento dos garimpos que compravam toda

produção. Dona Buguela é bisneta de Justino Antonio da Silva Claro, o fundador de Bonsucesso

e aprendeu com seus pais a arte de fazer rapadura, um dos símbolos do distrito. Segundo dela,

está nessa lida há mais de 40 anos.

Fonte: Ferreira (2010), Monteiro (1987). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 09 Localização: Bonsucesso

Topônimo: Igreja do Divino Espírito Santo Taxionomia: Hierotopônimo

Etimologia: Divino, do lat. divinus, a, um, id. Designação dada ao Espírito Santo, a 3ª Pessoa da

Santíssima Trindade. Espírito, do lat. spiritus, us significa sopro, exalação, alma. Santo, do lat.

sanctus, a, um que tem caráter sagrado.

Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc.).

Informações enciclopédicas: A igreja local é a expressão da religiosidade católica dos

bonssucessianos. O altar e as imagens emergem de um painel onde o destaque é o rio Cuiabá, a

mata ciliar e o Morro de Santo Antonio, elementos marcantes na paisagem dessa comunidade.

Uma das formas de a comunidade expressar sua religiosidade é a comemoração da Festa de

Nossa Senhora Auxiliadora, São Benedito, Senhor Divino e São Pedro, este último é o

padroeiro do local, cuja festa é a maior delas.

Fonte: Ferreira (2010), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 10 Localização: Bonsucesso

Topônimo: Capão do Pequi Taxionomia: Fitotopônimo

Etimologia: Do Tupi (Capão= ka’a pu’ã + Pe’ki ¨+ o conectivo do) O fitotopônimo Pequi enseja

essa conotação, porque refere-se a designação comum as árvores do gênero Caryocar, de boa

madeira para construção civil e naval, além de seus frutos serem utilizados na culinária. Para

Silveira Bueno (2008, p. 274) trata-se de nome de uma planta, pyqui, de casca espinhenta e de

cujo fruto se faz um afamado licor em Mato Grosso. Chiaradia (2008, p. 512) o define como

T.G. pi-qui cujo significado é casca áspera, espinhenta.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc.).

Informações enciclopédicas: Capão do Pequi, antiga sesmaria de Várzea Grande - MT, surgida a

partir de 1800, onde se concentrava grande população de escravos. As negras desenvolveram a

tecelagem, em teares, e passaram a fabricar as redes de dormir da região. Atualmente integra o

distrito de Capão Grande, sendo seu mais velho núcleo populacional.

Fonte: Cunha (1978), Monteiro (1987), Silveira Bueno (2008), Chiaradia (2008).

Data da coleta: mar/09 a nov/10. Pesquisadora: Marcilene R. da Silva

Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 11 Localização: Bonsucesso

Topônimo: Chácara Bom Jardim Taxionomia: Animotopônimo

Etimologia: Bom, do lat. bonus, a, um + Jardim, do francês jardin, terreno cercado em que se

cultivam vegetais ornamentais ou comestíveis.

Estrutura morfológica: Nc (Adj. + Sb.).

Informações enciclopédicas: A Chácara Bom Jardim está localizada na Rua do Alto, no lado

direito da saída para o distrito de Pai André. É de propriedade do Sr. Petronilo Gonçalves da

Silva, popular Fião, bisneto de Justino Antonio da Silva Claro, fundador de Bonsucesso.

Segundo relato oral de “Seo Fião” a sua chácara se chama “Bom Jardim, o meu paraíso” porque

nela ele vive, cultiva suas frutas e cria os seus animais (gado e aves) e, além de tudo isso, tem

bons vizinhos, motivos que lhe dão tranquilidade para dormir e acordar com Deus, ou seja, em

sua opinião,“lugar assim é um paraíso”.

Fonte: Relato oral, colhido em 21/11/2010, na própria chácara. Data da coleta: nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 12 Localização: Bonsucesso

Topônimo: Capela do Piçarrão ou (Pissarrão) Taxionomia: Litotopônimo

Etimologia: Capela (do lat. Cappella, ae = a pequeno lugarejo) Piçarrão (piçarra + ao) do

espanhol pizarra, ardósia, quadro-negro= material encontrado logo abaixo do cascalho

diamantífero).

Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem. + conectivo + Sb. masc. + suf. aum.).

Informações enciclopédicas: Capela do Piçarrão ou Pissarrão, povoado que integrava o

distrito de Bonsucesso em 1823. Está ligado à sede da antiga sesmaria de Capão do Pequi,

onde os negros das senzalas foram residir após a libertação dos escravos em 1888.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009) Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 13 Localização: Bonsucesso

Topônimo: Capelinha Taxionomia: Hierotopônimo

Etimologia: do lat. cappella, ae + o sufixo inha, pequena comunidade.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem.+ suf. diminutivo).

Informações enciclopédicas: Capelinha, pequena povoação surgida a um quilômetro ao sul de

Capão Grande, constituída, em sua maioria, de famílias capoanas.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 14 Localização: Bonsucesso

Topônimo: Curicaca Taxionomia: Zootopônimo

Etimologia: do tupi kuri’kaka, ave aquática, da fam. dos tresquiornitídeos, nome pelo qual se

conhece em Mato Grosso a ave maçarico real.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem.).

Informações enciclopédicas: Curicaca, localidade situada no distrito de Praia Grande cuja

atividade de subsistência predominante é a agricultura e a criação de gado.

Fonte: Monteiro(1987) e Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 15 Localização: Bonsucesso

Topônimo: Rota do Peixe Taxionomia: Zootopônimo

Etimologia: Rota (do francês route = via, caminho) + peixe (do lat. piscis), nomeia a região de

Bonsucesso e circunvizinha representativa do peixe tanto na produção (pesca) quanto na

comercialização e culinária.

Estrutura morfológica: Nc (Sb. fem. +conectivo+Sb.masc. de estrutura híbrida).

Informações enciclopédicas: A Rota do Peixe refere-se às localidades de Bonsucesso, Pai

André, Praia Grande, Souza Lima, Limpo Grande e Passagem da Conceição nas quais os

empresários e os pescadores comercializam o peixe in natura e também, tendo o pescado como

o prato principal de sua gastronomia, sobressaindo-se nessa atividade Bonsucesso sobre as

demais localidades por reunir mais de dez peixarias em sua rua principal.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009), Tavares (2011). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 16 Localização: Bonsucesso

Topônimo: Localidade de Limpo Grande Taxionomia: Dimensiotopônimo

Etimologia: Limpo (do lat. limpidus,a,um) + Grande (do lat. grandis, e), denomina uma

localidade do antigo Bom Sucesso.

Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc.+ adj. 2g.).

Informações enciclopédicas: Limpo Grande, grande área descampada, desmembrada do

município de Nossa Senhora do Livramento em 1948. Tem como principal atividade a lavoura

devido às boas condições do solo e a tecelagem de redes e similares, tradição que passa de

geração para geração.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 17 Localização: Bonsucesso

Topônimo: Rua João Gil da Silva Taxionomia: Antropotopônimo

Etimologia: Nome próprio (João Gil) + nome próprio de família (Silva).

Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc.).

Informações enciclopédicas: O nome da Rua Principal (por ser a mais importante) ou Rua da

Beira (por localizar - se bem próxima à orla do rio Cuiabá) homenageia João Gil da Silva, um

dos troncos da família Claro. Esse cidadão era neto de Justino Antonio, o fundador da

comunidade. João Gil era morador da comunidade e pescador profissional cadastrado na

Marinha, Agência CP Cuiabá.

Fonte: Relato oral do Prof. Tavares em 21/11/10. Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 18 Localização: Bonsucesso

Topônimo: Usina Cachoeira do Pau Taxionomia: Hidrotopônimo

Etimologia: Derivado de cachão (do lat. cactione) sob a forma radical cacho (com perda de

nasalidade) + o sufixo eira, denomina extinta usina açucareira do antigo Bom Sucesso.

Estrutura morfológica: Nc (Sb. fem. + conectivo + Sb. masc.).

Informações enciclopédicas: Usina Cachoeira do Pau, empresa do ramo açucareiro,

localizada no distrito de Bonsucesso, que consumia toda a produção de cana local na

fabricação de rapadura, aguardente de alambique e açúcar. Atualmente está desativada a

exemplo das outras usinas existentes na região, como a São Gonçalo e a Conceição.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 19 Localização: Cuiabá

Topônimo: Bairro do Porto Taxionomia: Geomorfotopônimo

Etimologia: Do lat. portus,a,um, trecho de mar, rio ou lago, próximo à costa, que tem

profundidade suficiente e é protegido por baia ou enseada, onde as embarcações podem

fundear e ter acesso fácil à margem.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc.).

Informações enciclopédicas: Porto, bairro antigo de Cuiabá, assim chamado em razão de

nele estar localizado o porto fluvial de Cuiabá que foi destino e ponto de retorno dos

bandeirantes paulistas a Araritaguaba, atualmente Porto Feliz-SP. Nele, além das moradias

dos monçoeiros, surgiram as primeiras pensões e hospedarias que acolhiam os viajantes e

comerciantes, e onde também residia parte significativa das famílias cuiabanas. Suas ruas e

praças recebiam os visitantes, viajantes e comerciantes, sendo palco de retretas,

apresentações de bandas e de festas, por ocasião da chegada dos navios, recebidos sempre

festivamente pela população. O contato com Várzea Grande e o oeste e norte mato-

grossense era feito através da balsa que operou na travessia do rio Cuiabá entre 1874 e

1942. No Porto situa-se também o antigo Mercado do Porto como ponto intermediário dos

negócios servindo, principalmente, aos pescadores, produtores e lavradores de Cuiabá,

Várzea Grande e Nossa Senhora do Livramento.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 e nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 20 Localização: Cuiabá

Topônimo: Município de Cuiabá Taxionomia: Zootopônimo

Etimologia: Registra-se que há inúmeras acepções sobre a origem do topônimo Cuiabá que

nomeia um município e sua cidade-sede e um rio. Nesta pesquisa optou-se por apresentar as

duas versões consideradas mais importantes pelos argumentos que as justificam, quais sejam: a

de origem Bororo e a de origem Guarani. Adotou-se para efeito de classificação taxionômica a

versão Guarani (ariranha = lontra brilhante).

Versão fundada na língua Bororo: De acordo com Albisetti e Venturelli (1962), o termo

Cuiabá é uma corrupção e sonorização de Ikuiapá – ikuia= flecha-arpão; pá = lugar (lugar da

flecha-arpão). O termo é uma designação de uma localidade onde se pesca com a flecha-arpão.

Diz respeito também a uma localidade onde antigamente os bororo costumavam pescar com

flecha-arpão, correspondente à foz do Ikuiebo, córrego da Prainha, afluente esquerdo do Rio

Cuiabá. Para os citados autores, o nome da capital de Mato Grosso, justamente edificada nas

duas margens do córrego da Prainha, não seja outra coisa que a corrupção e sonorização de

Ikuiapá. Essa idéia é corroborada também por Carlos Drumond no livro Contribuição do Bororo

à toponímia brasílica (1965).

Versão fundada na língua Guarani: De origem guarani, formada de kyya = nutra o lontra,

verá = resplandeciente .

Nesta versão há a hipótese apresentada por Agustín Castañares citado por Ferreira e Silva

(2008, p. 73-74) que afirma, com argumentos plausíveis, que a origem do nome Cuiabá (rio da

lontra brilhante) foi motivada pela quantidade de ariranhas existentes no rio. Relatam os

referidos autores que apareceu neste séc. XXI uma nova teoria bastante sólida e

documentalmente bem instruída sobre a origem do topônimo Cuiabá, baseada em uma carta do

padre jesuíta Agustín Castañares a D. Rafael de la Moneda, Adelantado da Província do

Paraguay, escrita em Assunção em 16 de setembro de 1741, que informa sobre o Arroyo

Cuyaverá, segundo quem a palavra “Cuyaverá”, de origem guarani, é formada de “kyya = nutra

o lontra, en portugues, y verá = resplandeciente”, portanto, “rio da lontra brilhante”, em alusão

aos bandos de ariranhas existentes no rio Cuiabá, o seu habitat. Assim, a palavra “Kyaverá” ou

“Rio da Lontra Brilhante”, por corruptela e por aglutinação, transformou-se em Cuyaverá”,

“Cuiaverá”, “Cuiavá” e, finalmente, “Cuiabá.”

Outras versões: Ferreira e Silva citam outras hipóteses que são aventadas sobre o significado

do nome Cuiabá: “Fazedor de cuia”, “gente caída”, “cuia que vai, “índios Cuiabases”, “homem

que faz farinha”, “índio do Pantanal”, “Pantanal mato-grossense”, “madeira líquida”, “cuia

rodando”, “gente forte”, “índio das águas”, “nação das cuias” e “mulher corajosa.” Na opinião

dos citados historiadores, elas são baseadas mais em lendas e em suposições do que lastreadas

em pesquisa histórica consistente.

Fonte: Ferreira e Silva (2008), Silva (2007), Albisetti e Venturelli (1962), Drumond (1965).

Data da coleta: mar/09 a nov/10. Pesquisadora: Marcilene R. da Silva

Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 21 Localização: Cuiabá

Topônimo: Distrito do Coxipó da Ponte Taxionomia: Zootopônimo

Etimologia: Na língua Bororo, o termo “coxipó” é corruptela da palavra “kugibo” e significa

kugi - peixe bo – rio, rio de peixe. Há, ainda, outra versão que traduz kugibo como “córrego do

mutum.” Coxipó, do Bororo também denominado Coxiponé e do lat. pons, pontis, em referência

à ponte construída sobre o rio Coxipó.

Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc., de estrutura híbrida (LP+LI).

Informações enciclopédicas: O Coxipó da Ponte é um distrito de Cuiabá, surgido em função do

rio Coxipó e dos índios Coxiponé (Bororo) que habitavam em suas margens. A partir da

instalação da ponte com estrutura metálica, em 1897, a denominação se estendeu à

circunvizinhança e, posteriormente, ao distrito cuiabano. A estrutura da ponte, atualmente

tombada pelo Patrimônio Histórico Estadual, foi construída e importada da Inglaterra e montada

pelo engenheiro inglês Jacques Marckwalder.

Fonte: Ferreira (2001), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 22 Localização: Cuiabá

Topônimo: Porto Passagem Velha Taxionomia: Cronotopônimo

Etimologia: Passagem (do francês, passage= a travessia) + Velha (do lat. vetulus,a,um = que

tem muito tempo de existência).

Estrutura morfológica: Nc (Sb. fem. + adj. fem. de estrutura híbrida).

Informações enciclopédicas: Passagem Velha, porto improvisado nas barrancas da margem

esquerda do rio Cuiabá, no início da expedição dos bandeirantes rumo ao norte e ao oeste. Este

porto era considerado ponto estratégico, porque servia como ancoradouro de canoas e batelões,

origem da estrada boiadeira que se prolongava até dois mil metros num plano só. Quando em

curvas de morrotes ganhava a altura de uns 15 metros, para formar o planalto onde se localiza

Várzea Grande-MT.

Fonte: Monteiro (1987), Houais (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 23 Localização: Cuiabá

Topônimo: Arraial de São Gonçalo Velho Taxionomia: Hagiotopônimo

Etimologia: Santo da hagiologia portuguesa. Aquele que foi canonizado e/ou a quem os fiéis

rende culto. Gonçalo significa aquele que se preserva mesmo no combate e indica uma pessoa

que não foge à luta, quando se trata de alcançar seus objetivos, mas que não se deixa seduzir por

causas que não sejam suas. A palavra “São” é empregada diante de nomes que iniciam por

consoante.

Estrutura morfológica: Nc (Adj.+Sb. masc. + Adj. masc.).

Informações enciclopédicas: São Gonçalo Velho, atual São Gonçalo Beira Rio, é arraial

pioneiro de Cuiabá, fundado no séc. XVIII, localizado à margem esquerda do rio Cuiabá, a 11

km do centro da cidade, próximo à barra do rio Coxipó, no distrito do Coxipó da Ponte. Esse

local, antigamente, serviu de pouso aos bandeirantes paulistas, sendo Antonio Pires de Campos

o mais famoso deles. Fonte: Ferreira (2001), Houaiss (2009), Barbosa (1984) Data da coleta:

mar/09 a nov/10. Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias A. de Andrade.

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 24 Localização: Cuiabá

Topônimo: Estado de Mato Grosso Taxionomia: Fitotopônimo

Etimologia: De origem portuguesa, significando mato elevado, espesso, de difícil penetração.

Estrutura morfológica: Nc (Sb.masc.+ Adj. masc.).

Informações enciclopédicas: Mato Grosso, estado da região Centro-Oeste do Brasil, assim

nomeado pelos irmãos sorocabanos, bandeirantes paulistas, Fernão e Arthur Paes de Barros, em

1734, devido à existência de mato elevado, espesso, quase impenetrável na região noroeste, em

que mais tarde foi fundada Vila Bela da Santíssima Trindade, a primeira capital da Capitania de

Mato Grosso, região também rica em ouro. Pelo Alvará Régio de 1820, Vila Bela perde a

condição de sede da Capitania de Mato Grosso e recebe o título de cidade, com a denominação

alterada para Matto Grosso, e, por ser município de fronteira, em região limítrofe com a Bolívia,

passa a ser área de Segurança Nacional, voltando a ser denominada Vila Bela da Santíssima

Trindade. O topônimo Mato Grosso teve essa nomenclatura atribuída à Capitania em 1748, à

Província, em 1822, com a independência do Brasil, e ao Estado de Mato Grosso, a partir da

proclamação da República Federativa do Brasil, em 1892. A configuração geográfica inicial do

estado de Mato Grosso abrangia os atuais estados de Mato Grosso do Sul e Rondônia. Pela Lei

Complementar Federal nº 31, de 11 de outubro de 1977, o então Presidente do Brasil, Ernesto

Geisel, criou o estado de Mato Grosso do Sul, desmembrando-o da parte meridional do estado

de Mato Grosso e instalando-o, oficialmente, em 01/01/1979. Entre os argumentos

justificadores do ato de criação da nova unidade federativa incluíam-se imposições

administrativas - o território de Mato Grosso era grande demais para ser gerenciado por uma só

máquina administrativa e preceitos da Doutrina de Segurança Nacional - que considera pouco

recomendável a existência de estados grandes e potencialmente ricos na região de fronteira.

Embora recente, a divisão geopolítica do antigo estado de Mato Grosso já vinha sendo

arquitetada por movimentos separatistas desde o século XIX motivada pelo desenvolvimento

desigual entre o norte e o sul. Desde a Constituinte de 1823, já havia a preocupação com os

enormes vazios demográficos existentes em alguns estados, dentre eles, Mato Grosso, nome

original, em 1978.

Fonte: Ferreira e Silva (2008), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 25 Localização: Pai André

Topônimo: Distrito de Pai André Taxionomia: Axiotopônimo

Etimologia: Pai (dignidade, de prov. evolução do lat. vulgar, patre>padre>pade>pai + André,

nome próprio de pessoa). Nesta pesquisa Pai André tem a conotação de aquele que pratica o

bem, que ajuda ou favorece; benfeitor, protetor.

Estrutura morfológica: Nc (Sb.masc + Sb. masc.).

Informações enciclopédicas: O axiotopônimo Pai André, formado por uma dignidade e um

nome próprio designa a localidade que constitui parte do corpus desta pesquisa, o distrito de Pai

André.

O referido distrito está situado entre Praia Grande e Bom Sucesso, à margem direita do rio

Cuiabá, de frente para o “Morrinho”, povoação localizada à margem esquerda do citado rio.

Rico em canaviais, nele se instalaram, no passado, usinas açucareiras, devido à facilidade de

transporte por se localizar junto ao rio. Hoje, com o desaparecimento das usinas e a redução do

transporte fluvial, a população vive da horticultura e da pesca em pequena escala. Segundo

relato, Pai André era um senhor negro, idoso, bondoso e caridoso, qualificativos que motivaram

o nome do povoado. Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 26 Localização: Pai André

Topônimo: Localidade Céu Taxionomia: Astrotopônimo

Etimologia: Do lat. caelum, i , significa claro, luzente, brilhante.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc.).

Informações enciclopédicas: Céu, lugar às margens do rio Cuiabá, distante um quilômetro da

sede de Pai André. Nesse local existia a Usina Manoel Nobre que fabricava a famosa

aguardente “Nobre”, além de outros produtos como rapadura e melado de cana-de-açúcar.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

Ficha lexicográfico-toponímica

Nº de ordem: 27 Localização: Pai André

Topônimo: COORIMBATÀ Taxionomia: Acronimotopônimo

Etimologia: Resultante da sílaba inicial do intitulativo da palavra cooperativa + o nome de um

peixe comum e abundante na região, o curimbatá (do Tupi kurimatá), também chamado de

papa-terra ou papa-lama, por alimentar-se de lodo e remexer a terra nas lagoas, características

que contribuem para a sua desvalorização econômico-gastronômica.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem.).

Informações enciclopédicas: A Cooperativa dos Pescadores e Artesãos de Pai André e

Bonsucesso - COORIMBATÁ, tem sua sede no distrito de Pai André. Criada em 1997 tem por

objetivo fazer o processamento de carnes de peixes, jacarés e seus derivados, o fabrico de sucos

e frutas passas (banana, caju, manga, goiaba) com a produção local, além de húmus de minhoca.

A partir de 2000 passou a congregar também a pesca artesanal e o artesanato.

Fonte: SECOM/MT (2008), Houaiss (2009) e Ferreira, M. (1980).

Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha Lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 28 Localização: Pai André

Topônimo: Comunidade do Morrinho Taxionomia: Geomorfotopônimo

Etimologia: De origem controversa, que tem sido ligada a línguas pré-romanas, ao latim e ao

germânico, sem que as diversas hipóteses consigam explicá-la satisfatoriamente. Monte de

poucas dimensões.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc. + Suf. diminutivo).

Informações enciclopédicas: Morrinho nomeava uma localidade no distrito de Pai André. A

então comunidade estava localizada à margem esquerda do rio Cuiabá na qual a população de

Bom Sucesso era qualificada quando dos alistamentos eleitorais durante o Brasil-Império. Esse

local não progrediu porque sua área, junto à margem do rio, era baixa, alagadiça e insalubre,

razão que motivou o êxodo da população para a margem oposta do rio dando origem à

comunidade de Pai André.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 29 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Aeroporto Marechal Rondon Taxionomia: Axiotopônimo

Etimologia: Do francês aéroport, superfície terrestre dotada de pista, prédios e equipamentos

necessários ao tráfego aéreo.

Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc. + nome de família).

Informações enciclopédicas: O axiotopônimo Marechal Rondon denomina o Aeroporto

Internacional de Cuiabá, em homenagem ao sertanista Cândido Mariano da Silva Rondon, o

Marechal Rondon.

O referido aeroporto é o principal de Mato Grosso. O complexo aeroportuário não está situado

em Cuiabá, mas sim em Várzea Grande, na antiga localidade denominada Morro Vermelho,

distante cerca de 8 km do centro da capital mato-grossense. O local foi escolhido por possuir

melhores condições de operabilidade que as da capital. Em 1996 foi classificado como

internacional e desde 2007 vem ultrapassando a marca de 1 milhão de passageiro/ano.

Fonte: Houaiss (2009), Monteiro (1987). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 30 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Alameda Júlio Müller Taxionomia: Historiotopônimo

Etimologia: Julio do lat. = cheio de juventude, Müller, do alemão= o que moe, o moedor.

Originalmente era nome de profissão. Atualmente é usado como sobrenome. Em Mato Grosso,

a família Müller faz parte da História da Política do Estado.

Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc. de estrutura composta).

Informações enciclopédicas: O historiotopônimo Müller é um nome próprio que identifica uma

família tradicional de Cuiabá-Várzea-Grande-MT, sendo que alguns de seus membros integram

ou integraram a História Política do estado de Mato Grosso. O citado nome designa dois

topônimos na região pesquisada, a Alameda Júlio Müller e a Ponte Júlio Müller.

A Alameda Júlio Müller é caminho de pescadores desde o século XVIII, transformando-se

pouco a pouco em estrada carroçável. Essa via pública beira-rio recebeu esse nome em 1942 em

homenagem ao Governador Interventor de Mato Grosso, Júlio Müller, durante sua gestão. Nesse

local instalou-se a empresa Sadia Oeste, importante fonte geradora de emprego e renda no setor

de produção, indústria e exportação de carne.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 31 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Avenida Couto Magalhães Taxionomia: Historiotopônimo

Etimologia: Couto, do lat., significa defesa. Magalhães, de origem portuguesa, significa O

Grande.

Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc. + nomes de família (Couto + Magalhães)).

Informações enciclopédicas: Couto Magalhães denomina uma das principais vias de Várzea

Grande, a Avenida Couto Magalhães. A referida avenida é uma importante artéria de

comunicação onde se concentra a maior parte do comércio central. Foi palco das festas nos

tempos da Vila, importante caminho monçoeiro e estrada boiadeira no séc. XVIII. O nome é

uma homenagem ao fundador de Várzea Grande, o Gal. José Vieira Couto de Magalhães.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 32 Localização: Várzea-Grande

Topônimo: Avenida da FEB Taxionomia: Acronimotopônimo

Etimologia: Da sigla FEB - Força Expedicionária Brasileira, composta de mais de 25 mil

militares que lutaram ao lado dos aliados na Itália durante a Segunda Guerra Mundial.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem.).

Informações enciclopédicas: A Avenida da FEB é uma das principais artérias comerciais e

industriais de Várzea Grande. Inicia-se na Ponte Júlio Müller e termina no marco zero km. A

avenida recebeu esta nomenclatura em homenagem à Força Expedicionária Brasileira. Como

estrada, nos tempos monçoeiros, foi a primeira rota das Bandeiras que demandaram ao norte e

ao oeste de Mato Grosso.

Fonte: Monteiro (1987) e Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 33 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Avenida Profª Alzira Santana Taxionomia: Axiotopônimo.

Etimologia: do lat. professore (professora).

Estrutura morfológica: Nc (Sb. fem. + dois nomes de família).

Informações enciclopédicas: O axiotopônimo professora acompanha o nome de Alzira Santana

para denominar a Av. de Várzea Grande que dá acesso aos distritos de Bonsucesso, Pai André,

Praia Grande e Capão Grande. Esta via pública recebeu o nome da referida professora pela Lei

nº 411, de 7 de julho de 1970, em homenagem a uma das primeiras diretoras das Escolas

Reunidas Pedro Gardés. É uma via de intenso movimento, sendo artéria escoadoura de veículos

e cargas para os citados distritos.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 34 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Cidade de Várzea Grande Taxionomia: Dimensiotopônimo

Etimologia: Várzea, do celta varga, do latim varcëna (séc.XV), uarzea (séc. XVI), designando

grande extensão de terras, terreno plano entre morros ou planície fértil e cultivada à beira ou

próximo a rio, e “grande”, do latim grandis,e, refere-se a tamanho, volume, intensidade, valor,

de grande extensão.

Estrutura morfológica: Nc (Sb. fem. + adj. 2g.) .

Informações enciclopédicas: A denominação Várzea Grande se deve, portanto, à existência de

uma extensa planície, uma grande várzea em volta do planalto - Morro Vermelho - na estrada

boiadeira, utilizada como ponto de encontro e de descanso de viajantes e boiadeiros em viagem

para o norte ou para o oeste de Mato Grosso, motivo pelo qual Várzea Grande era denominada

Vila dos Vaqueiros, Terra dos Vaqueiros ou Várzea dos Boiadeiros. O município, forma, com

Cuiabá, a região metropolitana mais importante do estado de Mato Grosso.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009), Ferreira (2008). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 35 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Estrada Boiadeira Taxionomia: Zootopônimo

Etimologia: Estrada, do lat. imp. stratus, a, um caminho por onde passava a boiada. Boiadeira,

rad. do part. boiada + sufixo eira.

Estrutura morfológica: Ns (Adj.fem. derivado de boiada).

Informações enciclopédicas: A Estrada Boiadeira corta Várzea Grande em três destinos: oeste

Cocais, Nossa Senhora do Livramento pelo Pantanal, derivando-se mais para o sul, Poconé,

enquanto que uma terceira estrada, a partir da várzea, com destino a Acorizal, Rosário Oeste e

Diamantino forma a estrada do espigão, a atual BR- 364. É essa estrada velha a primeira via de

penetração do município. Dela, no km 5, surgiu uma outra estrada rumo ao sul que atravessa o

distrito de Bonsucesso para penetrar na região leiteira livramentense, depois de passar por Praia

Grande, último reduto no extremo sul várzea-grandense. A estrada boiadeira, antiga rota dos

bandeirantes, transformou-se na atual BR 364.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 36 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Localidade Bosque Taxionomia: Fitotopônimo

Etimologia: do lat. boscus, i, formação vegetal dominada por árvores e arbustos, não muito

extensa.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc.).

Informações enciclopédicas: Bosque era o local onde Mestre Bilão, o 1º professor de Várzea

Grande, montou uma escola na qual ministrava o ensino do abecedário, da cartilha e da tabuada.

O topônimo foi motivado devido à existência de árvores altas no local.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 37 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Localidade do Carrapicho Taxionomia: Fitotopônimo

Etimologia: Angios designação comum a diversas plantas do gên. Desmodium.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc.).

Informações enciclopédicas: O carrapicho é semente espinhosa de certas plantas. Erva daninha

cujos frutos aderem ao pelo dos animais. Trata-se de uma comunidade localizada ao lado das

terras de São Gonçalo de Várzea Grande, habitada por pescadores e agricultores que fazem da

terra e do rio seu meio de subsistência.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 e nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 38 Localização/Município: Várzea Grande-MT

Topônimo: Distrito do Engordador Taxionomia: Sociotopônimo

Etimologia: Do verbo engordar + radical em+ sufixo ador.

Estrutura morfológica: Ns (Vb. engordar + radical + suf.).

Informações enciclopédicas: Engordador, distrito situado próximo à sede do município de

Várzea Grande e faz divisa com o Aeroporto Internacional Marechal Rondon. O nome da

comunidade deve-se ao fato de ali se concentrar gado para engorda, principalmente de

propriedade de grandes fazendeiros que vinham de lugares distantes, uma vez que o lugar tem

uma várzea com excelente capinzal. Por esse motivo, a ocupação dos seus habitantes resumia-se

basicamente à agropecuária, além da pesca, cujos produtos eram comercializados no Porto de

Cuiabá. Hoje, a economia local é baseada na produção pesqueira, pomares e produção

hortifrutigranjeira

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 39 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Localidade de Poço Grande Taxionomia: Dimensiotopônimo

Etimologia: Do lat. puteus, i e grande, do lat. grandis, e.

Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc. + adj. 2g.).

Informações enciclopédicas: Poço Grande, local situado entre as comunidades do Engordador e

de Bonsucesso. No início, o lugar era de posse de uma única família que pescava com redes de

arrastão, cujo ponto de lance era um grande poço no rio, motivo que deu origem ao nome do

lugar.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 40 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Localidade Umbauval Taxionomia: Fitotopônimo

Etimologia: Do Tupi, Emba-yba.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc. + suf.).

Informações enciclopédicas: Vale esclarecer que não foi encontrado no dicionário o verbete

umbauval e, sim, umbaubal, derivado de umbaúba e embaubal, derivado de embaúba. Como

embaúba, o topônimo é de origem tupi embayba= s.c Emba-yba, a árvore de oco, ou cujo

tronco é cheio de câmaras ou vazios. É a árvore da mata, vulgarmente chamada imbaúba

(Cecropia peltata). Alt. Ambahyba, Embahuba, Imbahyba, Umbahuba.

Umbauval – Local onde se deu a fundação de Várzea Grande, área cheia de cacimbas de águas

azuis que ficava ao lado do extremo oeste da várzea, ponto de parada para bandeirantes e, mais

tarde, boiadeiros.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009), Sampaio (1987). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 41 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Passagem da Conceição Taxionomia: Antropotopônimo

Etimologia: Passagem do fr. passage = travessia; da Conceição, pertencente ou sob a

responsabildade de alguém de nome Conceição. Conceição, do lat., nome usado em honra de N.

Sª da Conceição.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem. + conectivo + nome próprio de pessoa.).

Informações Enciclopédicas: Passagem da Conceição, povoado surgido de uma sesmaria

composta predominantemente por negros escravos. É patrimônio histórico estadual e está

separado da capital pelo rio Cuiabá. A origem de seu nome remonta ao ano de 1813, quando o

lavrador Manoel Antônio da Conceição ali se fixou e fazia a travessia das pessoas em sua canoa

para a margem oposta do rio Cuiabá na altura do ribeirão Pari. A adaptação do nome para o

feminino deu-se após a construção de uma igreja com a imagem de Nossa Senhora da

Conceição.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 42 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Ponte do Poço Grande Taxionomia: Dimensiotopônimo.

Etimologia: Do lat. puteus, i e do lat. grandis, e.

Estrutura morfológica: Nc (Sb. fem. + contr. + Sb. masc.+adj. 2g.).

Informações enciclopédicas: Ponte do Poço Grande construída sobre o rio Cuiabá, une os

municípios de Cuiabá e Várzea Grande e foi idealizada para descongestionar o tráfego de

automóveis e caminhões pesados em demanda ao nortão e ao oeste mato-grossense e ao estado

de Rondônia. A sua denominação foi motivada pelo nome da localidade. Essa ponte atende aos

distritos de Bonsucesso e Capão Grande.

Fonte: Monteiro(1987); Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 43 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Ponte Julio Müller Taxionomia: Historiotopônimo

Etimologia: Julio, do lat. = cheio de juventude, Müller, do alemão= o que moe, o moedor.

Originalmente era nome de profissão. Atualmente é usado como sobrenome. Em Mato Grosso,

a família Müller faz parte da História Política do Estado.

Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc.).

Informações enciclopédicas: A Ponte Júlio Muller sobre o rio Cuiabá liga as cidades de Várzea

Grande e Cuiabá. Foi construída pelo interventor federal Júlio Müller e inaugurada em 20 de

janeiro de 1942. Essa ponte representou o início de uma fase promissora para as duas cidades e,

consequentemente, a conquista do norte e oeste do estado de Mato Grosso.

Fonte: Monteiro (1987); Houaiss (2009); http://www.marquardt.com.br/hist_nomemuller.htm.

Acesso: 07/01/2010. Data da coleta: mar/09 a nov/10. Pesquisadora: Marcilene R. da Silva

Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 44 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Povoado de São Gonçalo Taxionomia: Hagiotopônimo

Etimologia: Santo da hagiologia portuguesa. Aquele que foi canonizado e/ou a quem os fiéis

rendem culto. Gonçalo significa aquele que se preserva mesmo no combate e indica uma pessoa

que não foge à luta, quando se trata de alcançar seus objetivos, mas que não se deixa seduzir por

causas que não sejam suas. Outra versão diz que Gonçalo, do teutônico = salvo na guerra. A

palavra “São” é empregada diante de nomes que iniciam por consoante.

Estrutura morfológica: Nc (Adj.+ Sb. masc.).

Informações enciclopédicas: Este povoado está localizado na margem direita do Rio Cuiabá,

sendo no passado habitado por famílias de lavradores e pescadores em choupanas ao longo da

barranca ribeirinha. Nas proximidades do povoado foi montada a Usina São Gonçalo, no séc.

XIX. Ela era responsável pela fomentação econômica local, pois os lavradores plantavam seus

canaviais para o consumo do engenho. Atualmente, com o desaparecimento da usina e da

navegação pelo rio Cuiabá o povoado tem na agricultura de subsistência e no comércio de

cerâmica suas principais fontes de renda.

Fonte: Monteiro (1987); Houaiss (2009), Dick (1987). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias A . de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 45 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Complexo Viário Trevo do Lagarto Taxionomia: Zootopônimo

Etimologia: Do latim vulgar trifolum, ii = complexo de vias para se evitar cruzamentos de nível

em rodovias de tráfico intenso), Lagarto, do lat. lacertus= designação comum a várias espécies

de lacertílios.

Estrutura morfológica: Nc (Sb. masc. + conectivo + Sb. masc.).

Informações enciclopédicas: Trevo do Lagarto, ponto convergente para o oeste e norte de Mato

Grosso, para o estado de Rondônia e para o sul do país. É o principal cruzamento viário da BR

364 no município de Várzea Grande e, pela importância, é considerado o Portal da Amazônia.

Fonte: Monteiro (1987), Houaiss (2009), Dick (1987). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 46 Localização: Várzea Grande

Topônimo: Usina São Gonçalo Taxionomia: Hagiotopônimo

Etimologia: Santo da hagiologia portuguesa. Aquele que foi canonizado e/ou a quem os fiéis

rendem culto. Gonçalo significa aquele que se preserva mesmo no combate e indica uma pessoa

que não foge à luta, quando se trata de alcançar seus objetivos, mas que não se deixa seduzir por

causas que não sejam suas. Outra versão diz que Gonçalo, do teutônico = salvo na guerra. A

palavra “São” é empregada diante de nomes que iniciam por consoante.

Estrutura morfológica: Nc (Sb.fem. + Adj. masc. + Sb. masc.).

Informações enciclopédicas: Ex-empresa do ramo açucareiro, montada nas proximidades do

povoado de São Gonçalo no fim do séc. XIX, propriedade dos irmãos Manoel e Joaquim

Martins Pereira, de descendência portuguesa. Funcionou até 1942, quando foi vendida à firma

CAPI que, por problemas de gestão, foi desmontada, tendo-se aproveitado a maquinaria em

outras usinas de Stº Antônio de Leverger. Principal fonte de economia do povoado, pois os

lavradores a ela vendiam seus canaviais. Atualmente, suas instalações físicas pertencem ao

Governo de Mato Grosso. Fonte: Barbosa (1984), Houaiss (2009), Dick (1987). Data da coleta:

mar/09 a nov/10. Pesq.: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 47 Localização: Santo Antonio de Leverger

Topônimo: Usina Aricá Taxionomia: Fitotopônimo

Etimologia: Do T.G. u-ri-canhê- o que morde e foge ligeiro; u- comer, beber, morder; ri-

correndo; canhê – fugir. Palmeira conhecida com as seguintes denominações: guaricana-de-

folha-miúda, aricanga, guaricanga, aricá, aricã, arucanga, guaricana e guaricanga-da-vagem.

Estrutura morfológica: Ns (Sb.fem.).

Informações enciclopédicas: Aricá nomeia uma das usinas açucareiras outrora existentes no rio

Cuiabá no trecho Cuiabá-Várzea Grande-Santo Antônio de Leverger-Barão de Melgaço. Nessa

usina eram fabricados açúcar e cachaça.

Fonte: Ferreira (1999), Póvoas (2011), Chiaradia (2008). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

Ficha lexicográfico-toponímica

Nº de ordem: 48 Localização: Santo Antonio de Leverger

Topônimo: Usina Conceição Taxionomia: Antropotopônimo

Etimologia: Nome português, de origem cristã, em alusão a N. Senhora da/ou Imaculada

Conceição.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem.).

Informações enciclopédicas: O nome próprio empregado em sentido genérico, reflete bem a

questão da intersecção existente entre Antroponímia e Toponímia. Nesse caso, ocorre o que

Dick (1990, p. 294) chama de denominação espontânea, distinta daquele imposta por

autoridades ou eventuais detentores do poder de mando e que, tantas vezes, se distinguem pelo

distanciamento da realidade ambiental ou do gosto popular.

Conceição, formado por um pré-nome ou nome próprio de pessoa designa uma ex-empresa do

complexo açucareiro de Leverger. A usina Conceição e a Itaycy eram as duas maiores da região.

Só fabricavam açúcar que abasteciam o mercado de Cuiabá, as comunidades do rio abaixo até

Corumbá.

Fonte: Barbosa (1984), Houaiss (2009), Dick (1987). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias A. de Andrade.

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 49 Localização: Santo Antônio de Leverger

Topônimo: Usina Itaycy Taxionomia: Litotopônimo.

Etimologia: Do Tupi ita, pedra; ici, cortada = Pedra cortada, despedaçada (Silveira Bueno,

2008, p. 406). Do T.G. ita=pedra, icii= miúdo, pedrinha. (Chiaradia, 2008, p. 327).

Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem.).

Informações enciclopédicas: A extinta Usina Itaicy (Itaici ou Itaycy), era a mais importante do

ramo açucareiro da época. Era de propriedade do Cel. Antônio Paes de Barros – o Totó Paes,

tendo surpreendido por sua estrutura, bastante moderna para o período, destacando-se por

avançada tecnologia de produção. Possuía escola, banda de música, capela, luz elétrica,

farmácia, armazém, dezenas de casas em estilo padronizado e, até mesmo, moeda própria,

cunhada ali mesmo e, além disso, lidava com um contingente de cinco mil pessoas. Atualmente

encontra-se desativada, bastante danificada devido à ação do tempo, conservando, ainda, apesar

disso, boa parte de sua estrutura física, maquinários, casas e mobiliário. Esta usina é tombada

pelo patrimônio histórico estadual. Fonte: Ferreira, M. (1999), Dick (1987), Chiaradia (2008),

Silveira Bueno (2008).

Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 50 Localização: Santo Antonio de Leverger

Topônimo: Usina Maravilha Taxionomia: Animotopônimo ou nootopônimo.

Etimologia: Do lat. mirabilia, ium = aquilo que desperta grande admiração em virtude de suas

realizações, perfeição e beleza.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. fem.).

Informações enciclopédicas: Maravilha designa uma ex-usina do complexo açucareiro de Santo

Antonio de Leverger. Nessa usina fabricavam-se açúcar e cachaça. Destacava-se pelo fabrico de

uma cachaça considerada de excelente qualidade denominada “Formidável”.

Fonte: Dick (1987), Houaiss (2009), Póvoas (2011). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 51 Localização: Santo Antonio de Leverger

Topônimo: Usina Tamandaré Taxionomia: Antropotopônimo

Etimologia: Do T.G. que significa o fundador do povo. Segundo Sampaio (1987, p. 320),

Tamanda-ré, depois da volta ou em seguida ao rodeio. É também o nome do Noé da lenda do

dilúvio entre o gentio brasileiro. Silveira Bueno (2008, p. 331) cita Baptista Caetano para quem

Tamandaré deriva de Tamoindaré (tab-moi-inda-re) e significa: aquele que fundou um povo,

isto é, o repovoador da terra. O referido linguista ainda informa que para Thevet, citado por

Frederico Edelweiss, o topônimo procede de Taman-duá-ré, insinuando vestígios de totemismo

entre os Tupi.

Chiaradia (2008, p. 613) apresenta os significados acima e ainda relata que Tamandaré é figura

mitológica da tribo Tupi; filho de Sumé que fez brotar uma fonte cujas águas invadiram vales e

serras; salvou-se com sua mulher subindo numa palmeira (carnaúba); seu irmão Aricute e

esposa salvaram-se subindo num jenipapo, que lhes forneceu alimento; os dois casais

repovoaram a terra: Tamandaré originou os Tupinambá e Aricute, os Temiminó; Tamandonaré,

Tamendonare (Thevet), Tamenduaré (Pe. S. Vasconcelos), Tamoiidare, Tamoindaré e Aré.

Estrutura morfológica: Ns (Sb. masc.).

Informações enciclopédicas: A exemplo das demais usinas esta também pertence ao grupo das

do Rio Abaixo (Stº Antonio de Leverger). Nela eram fabricadas as famosas aguardentes

“Verdinha” e “Tamandaré”.

Fonte: Monteiro (1987); Dick (1987), Póvoas (2011), Sampaio (1987), Silveira Bueno (2008) e

Chiaradia (2008).

Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 52 Localização: Santo Antônio de Leverger

Topônimo: Usina São Miguel Taxionomia: Hagiotopônimo

Etimologia: Miguel, do hebraico que significa “Quem é como Deus?” “São”, do latim sanu;

forma apocopada de santo, aquele que foi canonizado.

Estrutura morfológica: Nc (Adj. Sb.masc.).

Informações enciclopédicas: Este topônimo foi classificado como hagiotopônimo em razão de

adotar-se a seguinte acepção: que ou aquele que foi canonizado e/ou a quem os fiéis rendem

culto. A palavra “São” é empregada diante de nomes que iniciam por consoante. São Miguel

nomeia uma das ex-grandes usinas do complexo açucareiro de Leverger.

Fonte: Barbosa (1984), Dick (1987), Houaiss(2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 53 Localização: Santo Antonio de Leverger

Topônimo: Usina São Sebastião Taxionomia: Hagiotopônimo

Etimologia: São, do latim sanu; forma apocopada de santo, aquele que foi canonizado.

Sebastião, do grego, sagrado, reverenciado.

Estrutura morfológica: Nc (Adj. masc. + Sb. masc).

Informações enciclopédicas: Este topônimo foi classificado como hagiotopônimo em razão de

adotar-se a seguinte acepção: que ou aquele que foi canonizado e/ou a quem os fiéis rendem

culto. A palavra “São”é empregada diante de nomes que iniciam por consoante. São Sebastião

nomeava uma usina do complexo açucareiro de Leverger.

Fonte: Barbosa (1984), Dick (1987), Houaiss (2009). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 54 Localização: Santo Antonio de Leverger

Topônimo: Santo Antônio de Leverger Taxionomia: Hagiotopônimo

Etimologia: Santo adj. do lat. sanctus, que pertence à religião, aos ritos sagrados e à divindade,

a Deus, sendo essencialmente puro e perfeito. Antonio – nome popular, do lat. Antonius,

significa inestimável ou digno de apreço. de - preposição (posse). Leverger - sobrenome de

origem geográfica, vindo do francês “le Verger” , significa pomar.

Estrutura morfológica: Nc (Adj. masc. + Sb. masc. + nome próprio de família.)

Informações enciclopédicas: As origens de Santo Antonio de Leverger se ligam às de Cuiabá. A

tradição popular guardou a história da imagem de Santo Antonio que recusou-se a seguir

viagem com seus donos monçoeiros que subiam o rio Cuiabá em demanda das minas de ouro do

Sutil. A resistência foi de tal forma que quando colocavam a imagem na embarcação esta

encalhava. Ao contrário, quando a retirava, a frota seguia o seu fluxo normal.

Fonte: Ferreira (2008), Dick (1987). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade.

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Ficha lexicográfico-toponímica

N° de ordem: 55 Localização: N.Sª. do Livramento

Topônimo: Nossa Senhora do Livramento Taxionomia: Hagiotopônimo

Etimologia: Nossa, interjeição do lat. nostra, próprio. Senhora, do lat. Seniores, designa a

Virgem Maria, Mãe de Jesus. do, contração da preposição de (posse), com o artigo masculino o.

Livramento, do lat. liberamentu, significa libertação, resgate.

Estrutura morfológica: Nc (Interjeição + Sb. fem.+ Contração + Sb. masc.).

Informações enciclopédicas: A crendice popular atribui a origem do lugar à imagem de uma

santa que veio de Portugal e passava por ali no lombo de um burro. Quando parou para

descansar o burro empacou. Ao retirar-lhe a imagem do lombo, este se punha a andar. A cada

tentativa de se colocar a santa o animal empacava. Decidiram, então, construir um ranchinho e

entronizar a santa.

Fonte: Ferreira (2008), Dick (1987). Data da coleta: mar/09 a nov/10.

Pesquisadora: Marcilene R. da Silva Revisor: Prof. Dr. Elias Alves de Andrade

3.3 COMENTÁRIOS TOPONÍMICOS

No levantamento do inventário toponímico nas duas comunidades, foram

selecionados 72 (setenta e dois) topônimos, grande parte deles representativa de acidentes

geográficos, que guardam estreita relação com o rio Cuiabá e com o peixe, como é o caso de

Baixada Cuiabana, COORIMBATÁ, rio Cuiabá, rio Coxipó, ribeirão Cocais, Praia Grande,

Rota do Peixe, Porto, córregos Traíra, Piçarrão e Formigueiro, refletindo a forte influência do

rio Cuiabá na formação sócio-histórico-econômica dos dois distritos, cenários desta pesquisa.

Componente mais significativo da paisagem e de importância econômica nos

diferentes momentos históricos de Bonsucesso e Pai André, o rio Cuiabá foi no passado o

elemento de integração, via de comunicação, espaço de obtenção de proteína e fonte

inspiradora na construção dos conhecimentos e da cultura da população, sendo atualmente, o

principal atrativo turístico, que é a atividade econômica de maior expressão, das localidades

em estudo.

O rio Cuiabá, a exemplo de outros rios, é elemento aglutinador das povoações

humanas e, em sendo considerado como um dos mais antigos meios de transporte,

desempenharam, ou ainda desempenham importante papel na penetração, povoamento e

ocupação do interior dos continentes, funcionando como verdadeiros caminhos naturais e

mantendo a integração de diferentes povoados e vilarejos.

Sampaio (1928), Dauzat (1946), Leite de Vasconcelos (1931) e Levy Cardoso

(1961), citados por Di Tizio (2008, p. 137), indicam tendências de se nomear os primeiros

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aglomerados humanos, formados às margens de rios, pelo próprio hidrônimo, demonstrando

assim a importância do curso d’água para a população que se estabelece em suas margens.

Sobre o assunto Dick (1996, p. 361) afirma que é comum em toponímia o rio dar seu

nome às povoações que se situam às suas margens ou próximas a elas.

É o que ocorre, à guisa de exemplo, com significativa parte de municípios do estado

de Mato Grosso conforme tabela abaixo:

N° de Ord.

Topônimo (município) Nome do rio motivador do topônimo

01 Araguaiana Araguaia

02 Araguainha Araguaia

03 Alto Araguaia Araguaia

04 Alto Garças Garças

05 Alto Paraguai Paraguai

06 Alto Taquari Taquari

07 Apiacás Apiacás

08 Arenápolis Areias

09 Aripuanã Aripuanã

10 Barra do Bugres dos Bugres

11 Barra do Garças Garças

12 Bom Jesus do Araguaia Araguaia

13 Cuiabá Cuiabá

14 Diamantino Diamantino

15 Feliz Natal Feliz Natal

16 Itiquira Itiquira

17 Jangada Jangada

18 Jauru Jauru

19 Juruena Juruena

20 Paranatinga Paranatinga

21 Peixoto de Azevedo Peixoto de Azevedo

22 Pontal do Araguaia Araguaia

23 Poxoréo Poxoréu

24 Reserva do Cabaçal Cabaçal

25 Ribeirãozinho Riacho Ribeirãozinho

26 Rio Branco Rio Branco

27 São José do Rio Claro Rio Claro

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28 São Félix do Araguaia Araguaia

29 Sapezal Sapezal

A quantificação dos topônimos da região pesquisada retrata que não há

homogeneidade nos resultados, haja vista que três tipologias se sobrepõem às demais como

são os casos dos fitotopônimos que totalizaram 10 (dez) denominações, os hagiotopônimos 09

(nove) e os zootopônimos 06 (seis). Esses dados revelam que as ocorrências de natureza física

suplantaram as de natureza antrópica.

A grande incidência dos fitotopônimos na presente pesquisa vem confirmar o que se

tem observado nos estudos toponímicos, ou seja, a supremacia dos designativos de origem

vegetal na toponímia brasileira, o que significa a sua importância para o homem, para os

animais e para o solo.40

A tipologia dos hagiotopônimos figura em 2º lugar nesta pesquisa, fato explicado

pela forte presença religiosa nas comunidades investigadas, principalmente em Bonsucesso,

onde há residências repletas de nichos ou oratórios com imagens de santos do hagiológio

católico e que estão, por tradição, ligados à vida das pessoas. Também nesse distrito há muitas

casas que ostentam uma faixa em sua porta principal com a seguinte epígrafe: “Católico,

graças a Deus!”

Os santos de devoção que marcam a religiosidade dos locais pesquisados são: Senhor

Divino, Santo Antônio, São João, São Gonçalo, São Benedito, Nossa Senhora da Conceição,

Nossa Senhora Auxiliadora e São Pedro, este último, o mais festejado, cuja festa conta com a

participação de cerca de dez mil pessoas todos os anos, oriundas de vários locais. O culto a

estes santos é exteriorizado através de missa, novenas com a oração do terço, procissão por

terra e por água, peregrinação das bandeiras e danças do siriri, cururu e de São Gonçalo.

A religiosidade é tão marcante nas comunidades de Cuiabá e Várzea Grande que

num ínfimo espaço geográfico tem-se o mesmo santo, São Gonçalo, a toponimizar três locais:

Comunidade de São Gonçalo Beira-Rio, lado esquerdo do rio Cuiabá (Cuiabá), Comunidade

São Gonçalo de Várzea Grande, lado direito do rio e Usina São Gonçalo (Várzea Grande).

Ademais, há em Cuiabá um estabelecimento educacional de grande porte, uma igreja, três

40

Sobre esse assunto Isquerdo (s/d) confirma que os fitotopônimos situam-se sempre entre as categorias mais

produtivas, quando não a primeira, em termos de ocorrência em estudos sobre a toponímia brasileira. Diz a

pesquisadora que os projetos do Atlas Toponímico do estado de Mato Grosso do Sul (Projeto ATEMS) e do

Atlas Toponímico do estado de Minas Gerais (Projeto ATEMIG), por exemplo, apontam essa categoria de topônimos como a mais produtiva (1º lugar de ocorrência), nas duas unidades da Federação cobertas por esses

projetos.

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bairros, um córrego e um cemitério denominados, respectivamente de Colégio São Gonçalo,

Igreja São Gonçalo, Bairros São Gonçalo I, II e III, Córrego São Gonçalo que banha os três

citados bairros e deságua no rio Cuiabá na altura do Bairro São Gonçalo Beira Rio (São

Gonçalo Velho) e Cemitério São Gonçalo, existente na região que atende aos três referidos

bairros São Gonçalo e regiões circunvizinhas do distrito do Coxipó da Ponte.

Além da recorrência constatada nas mencionadas comunidades, a religiosidade

também está presentificada nos municípios de Santo Antônio de Leverger e Nossa Senhora do

Livramento, nos quais a tradição popular atribui aos seus respectivos santos padroeiros, a

motivação toponímica para a sua denominação.

Essa prática comum de os católicos usarem designações com nomes de santos

significa que estão atribuindo a eles a proteção de tal local. É como assinala Isquerdo (2006,

p. 142-143) que “dar o nome de um santo a alguém ou a algum lugar significa colocar esse ser

ou esse local nomeado sob os cuidados específicos desse santo”.

A grande incidência de hagiotopônimos na toponímia dos lugares pesquisados pode

ser justificada, sobretudo, pela tradição religiosa dos colonizadores portugueses, considerando

que Portugal é um país eminentemente católico e, ao deslocarem-se para o Brasil trouxeram

consigo a sua religiosidade e a disseminaram por todos os quadrantes em que pisavam, pois

não se pode ignorar que o Brasil nasceu sob o signo da Cruz e da Fé.41

A relevância da taxe dos hagiotopônimos é assim enfatizada por Dick (1990, p. 311):

A razão de ser dessa toponímia de origem religiosa encontra no

homem, ou no denominador, a sua expressividade, objetiva e concreta.

Legítimo produto de uma mentalidade de época, liga-se a todo um

processo subjetivo de reflexão, muito mais próximo, portanto, do

intangível, que das manifestações reais do mundo sensível, a cercar o

ambiente natural onde o indivíduo se movimenta.

A terceira categoria em escala de ocorrência é a de zootopônimos, com 06 (seis)

topônimos, numa demonstração de que os animais também se constituem em seres

motivadores dos quais o homem lança mão para designar o seu espaço circundante.

Ao referir-se aos zootopônimos, Dick (1996, p. 356) fala da importância do animal

para a realidade cotidiana do índio, sendo comprovado esse fato através da quantidade

41

De acordo com Dick (1990, p. 312-314) o Brasil nasceu sob o signo da Cruz e da Fé. O monte Pascoal teve

seu batismo relacionado à Páscoa cristã que então se celebrava, enquanto a origem do nome da terra, Ilha de

Vera Cruz, transformado, depois, em Terra de Santa Cruz, também de natureza católica, são exemplos de

acidentes recém-nomeados à época do descobrimento e que se enquadraram na sistemática denominativa

genérica, de se buscar os motivos nas inscrições do calendário religioso.

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elevada de zootopônimos difundidos pelo território. Para a autora, os nomes dos animais

fazem parte de uma realidade perceptível ou do mundo concreto.

Chamou a atenção a recorrência da lexia grande que nomeia os topônimos Várzea

Grande, Capão Grande, Limpo Grande, Poço Grande, Ponte do Poço Grande e Praia

Grande qualificativos que nesta pesquisa foram tipologicamente classificados como

dimensiotopônimos, ou seja, topônimos relativos às características dimensionais dos acidentes

geográficos, como extensão, comprimento, largura, espessura, altura e profundidade. Esse

atributo, no caso específico de Várzea Grande, é sugestivo de poder, influência e ostentação,

levando a crer, numa leitura empírica rasa, que o seu denominador, assim como seus

cidadãos, querem enaltecê-la pelas suas riquezas materiais e pelo seu potencial humano e, por

essas razões, querem exteriorizar que a referida localidade e todos os seus acidentes físicos e

humanos, são importantes.

No decorrer deste trabalho, buscou-se destacar a relevância do nome e do ato de

nomear tanto para pessoas quanto para países, lugares e bens do domínio público. Nomear e

legalizar o espaço é essencial para a evolução da humanidade considerando que o nome é o

primeiro atributo da vida civil do homem e da existência legal para os lugares.

Isso evidenciou o caráter multidisciplinar da Toponímia como um ramo da

Linguística que intersecciona-se com outras ciências que têm um compromisso com o homem

enquanto ser linguístico que usa a língua para expressar a sua cultura, comunicar o seu

pensamento e, sobretudo, relacionar-se com o outro exercitando a sua cidadania.

Embora a cana-de-açúcar também seja um produto presente na economia de

subsistência local, não se constatou sua influência na designação dos topônimos, o que leva a

crer que a repercussão socioeconômica do peixe é decisiva, provavelmente, por gerar

dividendos mais imediatos e palpáveis, uma vez que as usinas açucareiras entraram em

decadência há muito tempo e hoje desapareceram.

O levantamento e a descrição toponímica dessa região, que integra a microrregião da

Baixada Cuiabana, também denominada de Vale do Cuiabá ou Planície Cuiabana, como se

procurou fazer aqui, são muito significativos já que os nomes dos lugares trazem em si marcas

que são verdadeiros testemunhos da história de um povo, considerando que eles retratam o

seu patrimônio sócio-linguístico-cultural, além de propiciarem o conhecimento de parte das

matrizes genealógicas que formam a história linguística do cidadão varzea-grandense.

Ter esta visão a respeito de um lugar é compreender as relações que o permeiam, ou

seja, outras dimensões que extrapolam questões meramente nominativo-descritivas, pois o

topônimo condensa muitas informações, principalmente àquelas relacionadas ao homem

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situado num determinado ambiente no qual constrói e reconstrói a sua história linguística e

sociocultural. Nessa linha de raciocínio há que se fazer muitas reflexões sobre as vivências

locais sem perder de vista o que foi prejudicado e, tampouco, a capacidade de responder aos

estímulos internos e externos com diferentes velocidades e, para que isso se torne possível a

Toponímia precisa ser estudada considerando a relação homem-espaço-nome.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Elegemos como objetivos neste trabalho inventariar, parcialmente, os topônimos dos

distritos de Bonsucesso e Pai André, classificá-los sob o método taxionômico de Dick (1987,

p. 38-40), com vistas a buscar a sua possível motivação.

O suporte teórico utilizado demonstrou-se compatível com as ações planejadas e

implementadas, pois contribuiu para a elucidação da teoria linguística que fundamenta a

Toponímia como objeto de estudo.

No decorrer da pesquisa entendemos que a Toponímia é uma ciência complexa que

exige uma sólida base de erudição, uma metodologia apropriada à investigação e domínio nas

áreas de Filologia, Dialetologia, História, Geografia, Paleografia, Etnologia, Religião, dentre

outras. Isso porque uma investigação toponímica não se restringe somente à questões

linguísticas, ela possui vínculos interdisciplinares com outras ciências que lhe auxiliam na

análise de seu objeto, o topônimo.

Contudo, necessário se faz esclarecer que mesmo com tais domínios, muitas dúvidas

persistem, muitos equívocos são cometidos, porque nem sempre o topônimo se apresenta de

forma transparente, o que dificulta, em muito, a sua correta categorização. São topônimos

que, no dizer de Dick (s/d), se mostram desvinculados do motivo gerador da denominação;

não apresentam, muitas vezes, relação com a paisagem que os acolhe, não trazem o

continuum denominativo necessário para marcar a tradição local do uso, significam, nesses

casos, unidades lexicais virtuais, sem vínculos referencializáveis.

Foi possível constatar, também, que a Toponímia está presente na vida de todos, pois

está intimamente relacionada com as matrizes histórico-culturais que se constróem em torno

de um lugar. Ela é, portanto, a fonte de referência para a compreensão da história de uma

localidade, por retratar a sua memória coletiva ao mesmo tempo que a identifica,

considerando que o topônimo, nessa função, fala por ela.

Para o alcance dos objetivos propostos e dada à complexidade do objeto a ser

pesquisado utilizamos como procedimento metodológico uma modalidade híbrida de

pesquisa, qual seja, a de campo e a bibliográfica.

Como pesquisa bibliográfica foram estudadas as obras “A motivação toponímica e a

realidade brasileira” e “Toponímia e antroponímia no Brasil”, ambas de Maria Vicentina

Dick. Em seguida, foram analisadas as obras “Várzea Grande passado presente confrontos”,

de Ubaldo Monteiro e “Mato Grosso e seus municípios”, de João Carlos Vicente Ferreira,

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suportes teóricos indispensáveis para a realização desta pesquisa. Agregadas a elas foram

analisadas outras obras, teses, dissertações, monografias e artigos sobre o assunto visando

obter subsídios para a composição deste trabalho.

No tocante à pesquisa de campo, foi feito o levantamento toponímico de Bonsucesso e

Pai André utilizando-se, para tanto, entrevista gravada, precedida de questionário. Este foi

aplicado a 03 habitantes de cada localidade que nela sempre residiu, com idade a partir de 65

anos e que soubesse narrar a história do local e adjacências. Ao todo, foram 02 entrevistas

com essas pessoas. Todavia, no decorrer da pesquisa entrevistei, sem gravação, o historiador e

diretor da escola estadual de Bonsucesso, o presidente da Associação de Moradores, algumas

tecelãs, proprietários de peixarias, pescadores, comerciantes e demais moradores. Em Pai

André, além das referidas entrevistas, conversei com o presidente da Associação de

Moradores, com pescadores, pequenos comerciantes e com a diretora da escola. Vale

consignar que todas essas comunicações foram direcionadas quanto aos objetivos da pesquisa.

Ao todo, foram inventariados 72 (setenta e dois) topônimos. Parte deles consta na

história oficial de Várzea Grande, na citada obra de Ubaldo Monteiro e parte foi levantada

através de relato oral e constatação in loco. Após, foi registrada a informação histórica de

cada topônimo e sua classificação taxionômica. Em seguida, concluiu-se a análise do corpus

com a elaboração de uma Ficha lexicográfico-toponímica que serviu como instrumento para

orientar a pesquisadora dando-lhe a possibilidade de analisar o topônimo segundo a sua

motivação que pode estar relacionada a características do espaço físico, a crenças, à cultura

ou a sentimentos do próprio denominador.

Essa ficha é de fundamental relevância no estudo toponímico, pois o levantamento

dos dados para a sua montagem é, no entendimento de Andrade e Cavalcante (2009, p. 866-

867), um estímulo para o saber-conhecer a história da própria comunidade, compreender a

cosmovisão individual e coletiva que forma a identidade cultural e linguística de um povo.

Por essas vantagens, julgamos oportuna a realização desta pesquisa tendo como

cenário os dois distritos, pois possibilitará a sua inserção no contexto linguístico-toponímico

do estado de Mato Grosso, o resgate de sua história sociocultural local tão desvalorizada ou

desconhecida pelas autoridades e população em geral.

Este trabalho pretende, portanto, contribuir para a Academia e para a população

levando-se em conta que o homem ao denominar os espaços (topônimos) vivencia suas

experiências e as armazena na memória e, com esse processo, preserva o patrimônio histórico

e linguístico-cultural da sociedade.

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Realizar esta pesquisa foi uma experiência enriquecedora, pois através dela foi

possível compreender que os nomes são repositórios de significados que nem sempre se

apreende de imediato quando nos relacionamos com os lugares. Alguns têm origem obscura

em razão de não fazer parte do nosso cotidiano tanto do ponto de vista linguístico quanto geo-

histórico-cultural. Mesmo com todas essas limitações uma coisa é certa, este estudo

oportunizou-me um novo olhar em relação à Toponímia. Sei que as designações dos lugares

possuem uma função muito clara na organização social e que ao deparar com um topônimo

estabelecerei com ele uma atitude investigatória, sobretudo no sentido de querer saber que

valores/conteúdos traz consigo que o particulariza tornando-o único no universo.

Por tudo isso, temos a convicção de que os objetivos propostos foram alcançados e

que este trabalho servirá de estímulo para a realização de outras pesquisas na área da

Toponímia, a exemplo dos diversos estudos já realizados no país. Todos eles são importantes

para a consolidação da Toponímia como uma das disciplinas da ciência linguística,

destacando sua importância não só como fonte de informações dos aspectos relacionados à

localidade, como também quanto aos níveis social, econômico, político e cultural de uma

região.

Além do mais, acredita-se que esta pesquisa nas duas localidades possibilitará a sua

inserção no contexto linguístico-toponímico do estado de Mato Grosso, a presentificação de

sua história sócio-cultural local, tão desvalorizada ou desconhecida pelas autoridades e

população em geral. Pretende-se, assim, manter viva a história dos dois distritos e de seus

moradores que contribuem para o seu desenvolvimento econômico e turístico. Por fim,

oferecer à população local e demais interessados um documento científico sobre a sua história

linguística e realidade sociocultural.

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REFERÊNCIAS

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séculos XVIII e XIX: edições fac-similar e semidiplomática. Tese (Doutorado) em Filologia

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elaboração de trabalhos na graduação. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

ANDRADE, Karylleila dos Santos; CAVALCANTE, Lynara Raquel. O estudo dos nomes

no contexto da BR Belém-Brasília: análise das Fichas Lexicográfico-toponímicas. Anais

do XII CNLF. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2009, p. 862.

ANDRADE, Nara Luiza Reis de. Caracterização morfométrica e pluviométrica da Bacia

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BÍBLIA. Gênesis, 2, 10-14. Português. Bíblia Sagrada. 121. ed. Tradução dos Originais

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BARBOSA, Osmar. Um nome para o bebê. Coleção Ediouro, Rio de Janeiro: Tecnoprint,

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CARVALHO, Maria Aparecida de. Contribuições para o Atlas Toponímico do Estado de

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CARVALINHOS, [s.d.]. Estudos de onomástica em língua portuguesa no Brasil:

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CHIARADIA, Clóvis. Dicionário de palavras brasileiras de origem indígena. São Paulo:

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