a socioeconomia catarinense

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"A socioeconomia catarinense" é um livro que discute aspectos importantes da situação econômica e social do estado de Santa Catarina no início do século XXI. O livro permite aos leitores uma visão atualizada sobre as principais tendências da socioeconomia estadual e sobre os desafios que Santa Catarina se depara neste sentido, oportunizando interrogar a história acerca dos acontecimentos regionais e sociais.

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A socioeconomia catarinense

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Chapecó, 2010

A socioeconomia catarinense cenários e perspectivas no início

do século XXI

Lauro Mattei Hoyêdo Nunes Lins

(Orgs.)

Page 6: A Socioeconomia Catarinense

Reitor: Odilon Luiz Poli Vice-Reitora de Ensino, Pesquisa e Extensão: Maria Luiza de Souza LajúsVice-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Claudio Alcides Jacoski

Vice-Reitor de Administração: Sady Mazzioni

Diretor de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto Sensu: Ricardo Rezer

Conselho Editorial: Carla Rosane Paz Arruda Teo, César da Silva Camargo,

Érico Gonçalves de Assis, Maria Assunta Busato, Maria dos Anjos Lopes Viella, Maria Luiza de Souza Lajús,

Murilo Cesar Costelli, Ricardo Rezer, Rosana Maria Badalotti, Tania Mara Zancanaro Pieczkowski

Coordenadora: Maria Assunta Busato

Catalogação elaborada por Daniele Lopes CRB 14/989Biblioteca Central da Unochapecó

© 2010 Argos Editora da UnochapecóEste livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.

330.98164 A socioeconomia catarinense: cenários e perspectivas no S678s início do século XXI / Lauro Mattei, Hoyêdo Nunes Lins (Orgs.). – Chapecó, SC : Argos, 2010. 420 p. (Grandes temas ; 7) Inclui bibliografia ISBN: 978-85-7897-010-9 1. Santa Catarina – Economia. 2. Santa Catarina – Desenvolvimento. I. Mattei, Lauro. II. Lins, Hoyêdo Nunes. III. Título. CDD 330.98164

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Sumário

prefácio

Introdução

parte IFormação histórica e regionalização produtiva

Formação econômica de Santa Catarina: uma tentativa de síntese

Alcides Goularti Filho

A dinâmica espacial recente da economia catarinense Ivo Marcos Theis

Liberalização econômica e reestruturação produtiva: reflexos em Santa Catarina no limiar do novo século

Hoyêdo Nunes Lins e Lauro Mattei

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parte IIestrutura produtiva e inserção externa

Agricultura e agroindústria catarinenses: panorama, impasses e perspectivas do sistema agropecuário

Arlei Luiz Fachinello e Jonas Irineu dos Santos Filho

Indústria em Santa Catarina: processo de desindustrialização relativa e perda de dinamismo setorial

Silvio Antonio Ferraz Cario e Ricardo Lopes Fernandes

Inserção internacional de uma economia regionalizada: avanços e limitações para o caso catarinense

Fernando Seabra e Mohamed Amal

parte IIIa sociodemografia no século XXI

A realidade demográfica de Santa Catarina na virada para o século XXI

Beatriz Tamaso Mioto, Hoyêdo Nunes Lins e Lauro Mattei

Estrutura e dinâmica do mercado de trabalho em Santa Catarina na virada do século XX

Aline Venturi e Lauro Mattei

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Comportamento dos indicadores sociais em Santa Catarina entre 1991 e 2000: uma interpretação alternativa

Luiz Augusto Finger França Maluf,Hoyêdo Nunes Lins e Lauro Mattei

parte IVrumo a uma síntese

Tendências e desafios do desenvolvimento socioeconômico catarinense

Lauro Mattei e Hoyêdo Nunes Lins

Sobre os autores

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A socioeconomia catarinense: cenários e perspectivas no início do século XXI, organizado pelos professores da Universidade Federal de Santa Catarina Lauro Mattei e Hoyêdo Nunes Lins, é um livro extre-mamente oportuno e bem-vindo. Baseado em sólido projeto de refle-xão coletiva, tem excelência em sua sustentação teórico-metodológica, e deverá descortinar novos horizontes para indagações pertinentes sobre as especificidades da economia e da sociedade catarinense, suas potencialidades e desafios presentes e futuros.

Cabe lembrar que essa é uma contribuição ímpar para um estado brasileiro carente de interpretações abrangentes. Exceto por contribuições individuais, algumas realizadas por autores deste livro em outras ocasiões, esse importante objeto de pesquisa em que se constitui essa rica e diversa unidade da federação não mereceu a devida atenção dos pesquisadores brasileiros. Nesse sentido, caberia lembrar que a essa carência se junta outra: a inexistência de uma instituição de pesquisa do governo estadual, instituição como o excelente Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).

prefácio

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Deve-se também ressaltar a amplitude e a profundidade da abordagem aqui empreendida, bastante vasta para contemplar, den-tre outras questões-chave da estrutura e dinâmica da socioeconomia catarinense, a dinâmica demográfica; suas formas de organização social da produção; a estrutura de ocupações geradas; os nexos externos de sua economia; os rebatimentos do ambiente macroeco-nômico brasileiro e da condução das opções de política econômica; as respostas desta economia regional; e outras dimensões do seu processo de desenvolvimento.

A obra demonstra a importância de se olhar e interrogar a História acerca das peculiaridades sociais e regionais. Olhar a constituição e a evolução das estruturas de propriedade; o sentido da “formação socioespacial”, sua específica inserção em uma dada divisão social do trabalho, desdobrada analiticamente em suas mais variadas dimensões (de suas ramificações produtivas, urbanas etc.).

Com alta precisão conceitual e procurando apreender em perspectiva histórica abrangente as especificidades dessa formação socioeconômica, este livro partiu de obstinada análise, desde as úl-timas décadas do século XIX, procurando entender a integração de Santa Catarina no contexto mais geral do sistema nacional de forças produtivas, as complementaridades de sua economia no mercado nacional, as especializações regionais, a diversificação econômica e a integração produtiva promovidas no bojo das transformações ocorridas nas escalas internacional e nacional.

A análise está baseada em rigorosa periodização: 1) o momen-to da hegemonia do capital mercantil (1880-1945), em que impor-tantes engates, diacronias e sincronias da socioeconomia catarinense com o sistema econômico nacional em formação naquele período, promoveram em seu espaço um processo de potente coerção im-

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posta pela lógica do capital mercantil; 2) o período da diversificação e ampliação da base produtiva catarinense (1945-1962), em que se destacaram o dinamismo dos setores carbonífero, têxtil, madeireiro e alimentar, engendrando processos típicos de maiores coerência inter-regional, diversificação produtiva e diferenciação social; 3) as circunstâncias da consolidação do capital industrial (1962-1990) comandado pelas grandes unidades produtivas industriais e agroin-dustriais e pelos investimentos estatais em infraestrutura, que prove-ram suporte aos diversos complexos industriais que foram formados e consolidados, com a densificação de seu aparelho produtivo. A partir da década de 1960, importantes grupos empresariais locais disputaram espaço no ambiente de coerção concorrencial, que se acirra a partir da integração do mercado nacional.

Caberia lembrar que esse processo integrativo da economia brasileira é decisivo para se pensar as dinâmicas dos espaços urba-nos, rurais e regionais do País. Integrando o mercado nacional, as estruturas produtivas regionais previamente existentes foram inseri-das em potentes processos de recondicionamento. Produziram-se ou se agravaram as enormes heterogeneidades e assimetrias estruturais, socioeconômicas e espaciais, no interior de cada estado da federa-ção. O intricado processo de concorrência, competição e rivalidades intercapitalistas entre as regiões submeteu-as a constrangimentos e potencialidades econômicas. Os diversos estratos sociais, setoriais e espaciais foram subjugados a processos de ganhos e perdas.

Mais expostas às vicissitudes da escala mundial, as economias brasileira e catarinense foram constrangidas a profundas mudanças mais recentemente. Ingressaram em processos de reorganização econômica e de desarticulação política (pós-1990). A partir desse

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momento, fica patente a perda de capacidade de regulação sistêmica e orgânica do aparato do Estado. Vários segmentos industriais do estado de Santa Catarina foram prejudicados com a abrupta abertu-ra econômica e com o processo deliberado de desnacionalização do sistema econômico nacional. Assiste-se à deterioração dos centros endógenos de decisão estratégica, ao aumento da precarização das condições de trabalho e à crescente exclusão social.

O texto analisa detalhadamente cada dimensão desses pro-cessos mais gerais que ocorreram no Brasil e seus rebatimentos específicos na economia e na sociedade catarinenses.

Demonstram-se as potencialidades e os desafios da economia do estado. A competitividade de segmentos como carnes, leite, fumos, bebidas, alimentos, madeira e móveis, têxteis e máquinas e equipamentos e suas configurações socioespaciais. Ao se analisar detidamente o aparelho industrial catarinense, sugere-se a hipótese de uma “desindustrialização precoce” ou de uma especialização re-gressiva, posto que ramos de maior conteúdo tecnológico perderam participação relativa no processo de adição de valor estadual. A diversificação industrial continua a ser um desafio estadual. Os en-cadeamentos intersetoriais, que poderiam dinamizar sua economia, ainda deixam muito a desejar. De forma correta, os autores desta obra lembram a necessidade de cautela na extração de resultados mais definitivos, pois

[...] o resultado desse duplo comportamento (queda da parti-cipação dos setores com alta intensidade tecnológica no VTI e escassa capacidade dos setores com baixa e média intensidade tecnológica para gerar efeitos positivos sobre as cadeias produ-tivas) deve ser considerado cuidadosamente, tendo em vista o

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processo de reestruturação produtiva levado a cabo no estado durante a década de 1990 [...] (p. 408-409).

Para além da riqueza das análises empreendidas nesta obra, gostaria de chamar a atenção para alguns pontos temáticos rigoro-samente tratados ao longo do livro.

A experiência da institucionalidade montada em Santa Catarina, que o restante do Brasil observa com atenção, buscou promover a descentralização administrativa, estabelecida no pri-meiro mandato do governador Luiz Henrique da Silveira, o Plano 15 (2003-2006), experimento que foi reforçado para o segundo mandato (2007-2010). No texto, são apontadas, pertinentemente, inquietações sobre os riscos de fratura da coesão e cooperação entre as diversas regiões do estado.

Outro ponto importante é a identificação das distintas espa-cialidades do desenvolvimento catarinense, quando é apresentada a centralidade das atividades econômicas mais dinâmicas nesse processo. Numa abordagem correta do processo de produção social do espaço, é demonstrado, ao longo de todo o trabalho, como o território é uma construção social conflituosa, que impõe questio-namentos sobre identidades e interesses.

Na análise da agricultura, da pecuária e da agroindústria, gostaria de lembrar que, de forma correta, partiu-se da estrutura de propriedade fundiária rural, a fim de discutir que, entre diversas importantes questões, o valor da produção agropecuária do estado, ainda que crescente, está especialmente concentrado na suinocultura e na avicultura, que são cadeias produtivas altamente competitivas nos cenários nacional e internacional e fortemente inseridas no sistema agroindustrial. Por outro lado, esse sistema altamente especializado

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e concentrado em termos de número de produtores e alcance social contrasta com a debilidade da sua base agrícola produtora, calcada na produção de lavouras temporárias. A agropecuária catarinense é caracterizada pela predominância da pequena propriedade de produção diversificada e de cunho familiar. Convivem dois tipos de agricultura: uma dinâmica, internacionalizada e de grande com-petitividade e outra local, frágil e de baixa competitividade. Esse ambiente dicotômico cria impasses, especialmente nas áreas social e ambiental, que colocam em cheque a manutenção da produção local no futuro próximo.

Discutem-se as atividades predominantes em cada região e se indaga acerca da importância do papel das instituições de ensino. As pesquisas demostraram que as “regiões ganhadoras” abrigam universidades, indicando forte associação entre a presença de Ins-tituições de Ensino Superior e o processo de desenvolvimento nas três regiões mais dinâmicas do estado. Aliás, essa obra lembra a questão fundamental da função social que essas e outras instituições devem ter na geração de diagnósticos precisos e críticos sobre as características peculiares do estado e a correlação de forças políticas capaz de levar à frente processos de transformação socioeconômica.

Defendo que o Brasil precisa vencer a negligência e o precon-ceito, que grassam nas últimas décadas nos meios universitários e políticos, sobre os processos de elaboração e debate de bons diagnós-ticos de suas realidades concretas e sobre a busca de soluções para seus problemas peculiares. É preciso realizar análises, como as aqui promovidas, em que se destaque um conjunto de dimensões que dão o estilo de desenvolvimento à determinada sociedade histórica e geograficamente constituída: investigar a constante reorganização de seu sistema social de produção, identificando a estrutura e a

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dinâmica de cadeias, circuitos, complexos e segmentos produtivos; discutir os contextos microdinâmicos, macroestruturais e institu-cionais em que está inserida; examinar não setores estanques, mas justamente as ramificações e as intersetorialidades construídas em determinado aparelho produtivo, vencendo a equivocada visão de que existem um setor primário, outro secundário e outro terciário, ou, pior, de que existe uma trajetória linear de passagem de um para outro; avaliar profundamente a dinâmica social, demográfica e do mercado de trabalho; esmiuçar a capacidade de oferta de suporte infraestrutural; averiguar os impactos das opções realizadas na-cionalmente na condução da política macroeconômica, buscando verificar as suas repercussões setoriais, regionais, sociais específicas; aquilatar os nexos e a inserção concreta da economia nos planos nacional e internacional, dentre outros aspectos.

Essas questões e outras são muito bem tratadas neste livro. Não é o caso de pontuarmos todas aqui, permitindo ao leitor que faça sua própria avaliação das instigantes análises realizadas nesta obra.

Pontos fundamentais das heterogeneidades estruturais pre-sentes no território catarinense são avaliados. Levantam-se proble-máticas decisivas como os possíveis sinais de desindustrialização relativa ou de especialização regressiva, o drama social resultante da precarização das relações de trabalho, os impasses e os desafios da atual configuração regional da produção.

Como todo bom trabalho sobre a dimensão espacial do pro-cesso de desenvolvimento, este livro busca apanhar as hierarquias, os enquadramentos impostos pela “lógica maior”, pela divisão social do trabalho, pelas centralidades que induzem ou limitam algumas dinâmicas mais ou menos endogeneizadas. Questiona as decisões em suas dimensões intersetoriais, inter-regionais e da interurbanidade.

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Identifica quais são seus interesses concretos, seus instrumentos táticos e estratégicos, lança luz sobre o ponto fundamental de quais sejam os agentes e os sujeitos portadores de projetos de transfor-mação. Aponta as principais transformações que ocorreram e os processos em curso. Ajuda a qualificar uma pendência central para armar estratégias que alarguem os horizontes de oportunidades regionais: o que é o Estado, enquanto unidade da federação bra-sileira, hoje? O que pode esse nível de governo no estranho pacto federativo que montamos (ou estamos desmontando)? Qual o papel das análises na escala meso?

Por fim, caberia lembrar a conjuntura concreta em que se instala o debate promovido por este livro: a abrangência, a profun-didade e os prováveis desdobramentos da crise estrutural capitalista atual, formalmente marcada pela falência do Lehman Brothers, em setembro de 2008, que ainda não puderam ser vislumbrados adequadamente por nenhum analista sério. No capitalismo, os momentos de crise sistêmica são momentos de queima e destruição desorganizada de riqueza não sancionada socialmente pelos mer-cados. Nesse sentido, são momentos disruptivos de trajetórias em aberto, imprevisíveis. São também momentos propícios ao debate não ingênuo. A conjuntura crítica demonstra que as análises devem ser multiescalares e não seria desejável ter uma interpretação loca-lista ou regionalista, mas pensar os fatores determinantes, condicio-nantes e coadjuvantes que constroem as problemáticas concretas.

Gostaria de ressaltar outro grande mérito deste livro: o de ter um importante capítulo de fechamento (ou abertura?) de questões, demonstrando que o livro não é um amontoado de capítulos, como arriscam ser as coletâneas.

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Certamente, este livro terá boa acolhida entre todos aqueles que desejarem pensar criticamente e sem dissimulações a estrutura e a dinâmica da socioeconomia catarinense.

Não tenho dúvida de que o resultado de todo esse esforço coletivo contribuirá muito para o debate regional e urbano brasi-leiro, e, sobretudo, de que se torna, já ao nascer, um clássico para se refletir sobre os dilemas, as potencialidades e os desafios postos para a sociedade catarinense.

Carlos BrandãoProfessor Titular do Instituto de Economia

da Unicamp e bolsista do CNPq

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Parte IFormação histórica

e regionalização produtiva

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Introdução

Tendo como eixo o processo de acumulação capitalista e a construção das relações sociais de produção, o propósito deste texto é entender a formação econômica de Santa Catarina desde 1880, perpassando pelas vertentes sociológicas, geográficas e antropoló-gicas. Dentro do movimento de mudança secular e lenta, buscou-se compreender a forma pela qual Santa Catarina deixou de ser uma economia de subsistência para se inserir no capitalismo brasileiro: um capitalismo específico, tardio e desorganizado. Dentro desta formação econômica, procurou-se entender a integração de Santa Catarina no sistema nacional de economia, a complementaridade da economia catarinense ao mercado nacional, a especialização regional, a diversificação econômica e a integração produtiva.

O texto está dividido em quatro itens. No primeiro item serão discutidos a origem e o crescimento do capital industrial em Santa Catarina durante o período de 1880 a 1945, quando o padrão de crescimento era dado pelo capital mercantil e pela pequena proprie-

Formação econômica de Santa Catarina:uma tentativa de síntese

Alcides Goularti Filho

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dade. Naquele período, nasceu e se expandiu a indústria têxtil em Blumenau e Brusque, a extração da erva-mate no planalto norte, a extração do carvão no sul, o corte da madeira e a produção alimen-tar no vale do Itajaí. O período também se destacou pela chegada dos imigrantes, com a fundação de vários núcleos coloniais, pela expansão da fronteira agrícola no oeste, pela construção de ferrovias e pela atuação das companhias colonizadoras.

Em seguida, será estudado o período de 1945 a 1962, quando houve uma diversificação e ampliação da base produtiva catarinen-se. Por um lado, os setores carbonífero, têxtil, madeireiro e alimentar se expandiram ainda mais, integrando-se à economia nacional. Por outro lado, surgiram novas indústrias, como a metal-mecânica em Joinville, a cerâmica no sul e a de papel e celulose no planalto. Com a rápida expansão da indústria catarinense, que estava fortemente se integrando à industrialização pesada brasileira, houve um es-trangulamento na infraestrutura básica, com deficiência na malha rodoviária, na oferta de energia e na disponibilidade de linhas de créditos a longo prazo.

No terceiro item, serão abordadas a integração e a consoli-dação do capital industrial, que vão de 1962 a 1990. Naquela fase, o padrão de crescimento da economia catarinense passou a ser comandado pelo grande capital industrial e agroindustrial e pelos investimentos estatais em infraestrutura. A economia catarinense se integrou ao mercado internacional, e o planejamento estadual se tornou uma marca dos sucessivos governos. Os diversos complexos industriais e agroindustriais foram formados e consolidados.

No quarto item, serão discutidas a desarticulação política e a reestruturação econômica iniciada pós-1990. A partir desse

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momento, o Estado começou a se retirar de cena, dando vez à ló-gica exclusiva do mercado, despolitizando as relações econômicas. Vários segmentos industriais catarinenses foram prejudicados com a abertura econômica e com o processo de desnacionalização. A conclusão, além de ter um caráter reflexivo, também disserta sobre a possível totalidade das economias da região Sul do Brasil e acerca das especificidades de Santa Catarina.

Origem e crescimento do capital industrial (1880 a 1945)

Mesmo não havendo uma integração comercial e produtiva intrarregional em Santa Catarina até o início da década de 1960, podemos tomar o território catarinense como um todo a partir de 1880 e iremos constatar que havia características que o unificavam. Como o objetivo neste texto-resumo é estudar Santa Catarina na sua totalidade, o marco inicial de nosso estudo começa em 1880. A vinda de novos imigrantes para as lavouras de café e para o Brasil meridional se tornou uma política econômica deliberada pelo go-verno imperial somente a partir do último quartel do século XIX. Com a chegada de novos e de mais imigrantes em Santa Catarina, a ocupação e a fundação de novos núcleos coloniais começaram a se dispersar, saindo do eixo norte-Vale do Itajaí e chegando até o sul da província. Antes da chegada dos imigrantes ao sul da província, já havia as localidades de Laguna, fundada em 1682; Tubarão, fun-dada em 1836; Araranguá, em 1848; Jaguaruna, em 1867; e outras pequenas localidades. Araranguá, Jaguaruna e outras localidades do

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litoral foram colonizadas basicamente por açorianos, que pratica-vam as atividades de pesca, artesanato, e agricultura de subsistência.

No sul da província, a ocupação pelos imigrantes, primeiro os italianos, seguidos dos poloneses e alemães, iniciou-se em 1877. Eles desembarcavam em Desterro e desciam até Laguna e Tubarão, estabelecendo-se próximo aos rios, onde fundaram os primeiros núcleos coloniais. Mesmo com a presença de alguns municípios e vilas, ao longo do litoral sul, e de núcleos coloniais mais no interior, a região passou a ter destaque econômico somente com o início das atividades carboníferas e com o início da construção da ferrovia pós-1880 (Dall’Alba, 1983).

O oeste e o meio-oeste da província foram definitivamente demarcados após o conflito diplomático entre Brasil e Argentina, conhecido como a Questão de Palmas, encerrado em 1895. Em 1850, o governo imperial já havia determinado a criação de uma colônia militar na região de Palmas. No entanto, somente com o agravamento do conflito diplomático é que foi apressada a ocupa-ção na região, e fundada, em 1882, a Colônia Militar de Chapecó (Heinsfeld, 1996). Um ano após a assinatura do Tratado, começaram as negociações entre o governo e os agentes privados para a conclu-são da construção da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, que cortava todo o meio-oeste no sentido norte-sul (Thomé, 1983). Com a inauguração do trecho ferroviário, em 1910, e com a colonização da região por imigrantes ítalo e teuto-brasileiros, provenientes do Rio Grande do Sul, pós-1916, a região efetivamente passou a ter um destaque econômico mais expressivo, devido à exploração da madeira e da erva-mate e de pequenas atividades agropecuárias (Radin, 1997). Na realidade, a região se integrou definitivamente

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ao território catarinense somente depois de assinado o Acordo de Limites com o Paraná, em 1916. Mesmo assim, tomaremos como data inicial o ano de 1880, para termos uma unidade espacial de análise em Santa Catarina. Quando foi fundada a Colônia Militar e demarcado o território para a construção da ferrovia, já havia claras intenções do governo catarinense em anexar a região oeste, tanto que, na questão dos limites, foi dado ganho de causa para Santa Catarina.

Com base nestes fatos: imigração e atividades carboníferas no sul, fundação da Colônia Militar de Chapecó, exploração da madeira e aumento do fluxo de imigrantes para o norte e Vale do Itajaí, podemos tomar como ponto de partida o ano de 1880 para traçarmos uma nova periodização da formação econômica de Santa Catarina, que terá como base a mudança no padrão de crescimento. Como o objetivo é estudar o estado como um todo e entendê-lo dentro de uma unidade de análise, a partir de 1880, já podemos identificar elementos unificadores da sua formação econômica.

Quando afirmamos que, no período entre 1880 e 1945, predo-minou o padrão de crescimento baseado na pequena propriedade mercantil e nas atividades tradicionais, não estamos excluindo o planalto serrano. Sabe-se que a grande propriedade pecuária e extrativista mercantil constituiu a base econômica do planalto serrano por um longo período (Costa, 1982). O padrão hegemô-nico em Santa Catarina era o da pequena propriedade, ele ditava o ritmo de grande parte da economia catarinense. Porém, em ambos os regimes de propriedades (grande e pequena), predominava o capital mercantil.

continua...

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Publicação

Impressão e acabamento

A socioeconomia catarinense: cenários e perspectivas no início do século XXI

Lauro MatteiHoyêdo Nunes Lins

Grandes Temas

Alexsandro Stumpf

Neli Ferrari

Alexandra Fatima Lopes de Souza

Neli FerrariJocimar Vazocha WescinskiLuana Paula Biazus

Alexsandro Stumpf

Alexsandro StumpfCaroline KirschnerSara Raquel Heffel

Carlos Pace Dori

Carlos Pace DoriAraceli Pimentel GodinhoCristiane Santana dos SantosLúcia Lovato Leiria

16 X 23 cm

Minion Pro entre 10 e 14 pontos

Capa: Supremo 250 g/m2

Miolo: Pólen Soft 80 g/m2

420

1000

outubro de 2010

Gráfica e Editora Pallotti – Santa Maria (RS)

Argos – Editora Universitária – UNOCHAPECÓAv. Atílio Fontana, 591-E – Bairro Efapi – Chapecó (SC) – 89809-000 – Caixa Postal 1141

Telefone: (49) 3321 8218 – E-mail: [email protected] – Site: www.unochapeco.edu.br/argos

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Sobre os autores

Alcides Goularti Filho: Graduado em Economia pela Universi-dade do Sul de Santa Catarina, com Mestrado em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina e Doutorado em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas. É professor da Universidade do Extremo Sul Catarinense. E-mail: [email protected]

Aline Venturi: Graduada em Ciências Econômicas pela Univer-sidade Federal de Santa Catarina e com Especialização em Admi-nistração Pública pela FGV-RJ. É servidora pública da Prefeitura Municipal de Joinville. E-mail: [email protected]

Arlei Luiz Fachinello: Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Catarina, com Mestrado em Eco-nomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Douto-rado em Ciências (Economia Aplicada) pela Universidade de São Paulo. É professor da Universidade Federal de São Carlos. E-mail: [email protected]

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Beatriz Tamaso Mioto: Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestranda em Economia no Instituto de Economia da Unicamp. E-mail: [email protected]

Fernando Seabra: Graduado em Economia pela Universidade Fe-deral do Rio Grande do Sul, com Mestrado em Economia Rural pela mesma universidade, Doutorado em Economia pela University of Essex e Pós-Doutorado pela McGill University. É professor do Depar-tamento de Ciências Econômicas e do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected]

Hoyêdo Nunes Lins: Graduado em Ciências Econômicas e em Di-reito pela Universidade Federal de Santa Catarina, com Mestrado em Planejamento do Desenvolvimento Regional pela University College of Swansea e Doutorado em Geografia – Organização do Espaço pela Université de Tours. É professor do Departamento de Ciências Econômicas e do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected]

Ivo Marcos Theis: Graduado em Ciências Econômicas pela Funda-ção Universidade Regional de Blumenau, com Mestrado em Admi-nistração pela Universidade Federal de Santa Catarina e Doutorado em Geografia pela Universität Tübingen. É professor da Fundação Universidade Regional de Blumenau. E-mail: [email protected]

Jonas Irineu dos Santos Filho: Graduado em Agronomia pela Universidade Federal de Viçosa, com Mestrado em Economia

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Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa e Doutorado em Ciências (Economia Aplicada) pela Universidade de São Paulo. É pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

Lauro Mattei: Graduado em Agronomia pela Universidade Federal de Santa Catarina, com Especialização em Políticas Públicas pela University of Texas, Doutorado em Ciências Econômicas pela Uni-versidade Estadual de Campinas e Pós-Doutorado pela University of Oxford. É professor do Departamento de Ciências Econômicas e do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected]

Luiz Augusto Finger França Maluf: Graduado em Ciências Econô-micas pela Universidade Federal de Santa Catarina, com Mestrado em Economia pela mesma universidade. Professor da Universidade Nove de Julho. E-mail: [email protected]

Mohamed Amal: Graduado em Ciências Econômicas pela Université Hassan II, de Casablanca, com Especialização em Comércio Exterior e Negócios Internacionais pela Fundação Universidade Regional de Blumenau, Mestrado em Economia e Doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina. É professor da Fundação Universidade Regional de Blumenau. E-mail: [email protected]

Ricardo Lopes Fernandes: Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade de Sorocaba, com Mestrado em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Doutorando no Instituto de Geociências da Unicamp. E-mail: [email protected]

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Silvio Antonio Ferraz Cario: Graduado em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, com Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina, Mestrado em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Doutorado em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas. É professor do Departamento de Ciências Econômicas e do Programa de Pós-Graduação em Economia da Uni-versidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected]

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Este livro está à venda:

www.unochapeco.edu.br/argos

www.travessa.com.br

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