a 'saúde do idoso' no ensino superior de universidades … · À minha querida irmã...

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iii A 'Saúde do Idoso' no ensino superior de universidades públicas do Rio de Janeiro: o caso dos cursos de Educação Física, Enfermagem e Nutriçãopor Claudia Reinoso Araujo de Carvalho Tese apresentada com vistas à obtenção do título de Doutor em Ciências na área de Saúde Pública. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Élida Azevedo Hennington Rio de Janeiro, agosto de 2015.

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Page 1: A 'Saúde do Idoso' no ensino superior de universidades … · À minha querida irmã Cleide e ao meu cunhado Aurélio pelos dias produtivos em Rio ... Bourdieu's sociology forms

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“A 'Saúde do Idoso' no ensino superior de universidades públicas do

Rio de Janeiro: o caso dos cursos de Educação Física, Enfermagem e

Nutrição”

por

Claudia Reinoso Araujo de Carvalho

Tese apresentada com vistas à obtenção do título de Doutor em Ciências

na área de Saúde Pública.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Élida Azevedo Hennington

Rio de Janeiro, agosto de 2015.

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Esta tese, intitulada

“A 'Saúde do Idoso' no ensino superior de universidades públicas do

Rio de Janeiro: o caso dos cursos de Educação Física, Enfermagem e

Nutrição”

apresentada por

Claudia Reinoso Araujo de Carvalho

foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros:

Prof. Dr. Miguel Ângelo Montagner

Prof. Dr. Francisco Nilton Gomes de Oliveira

Prof. Dr. Daniel Groisman

Prof. Dr. Carlos Otávio Fiúza Moreira

Prof.ª Dr.ª Élida Azevedo Hennington – Orientadora

Tese defendida e aprovada em 14 de agosto de 2015.

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Ao meu marido, Francisco Carlos, e aos

meus filhos, Clara e Carlos, pelo amor e pela

compreensão.

Aos meus pais, Moacir (in memoriam) e

Cléa, pelo amor, pelo apoio incondicional e

incentivo constante.

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AGRADECIMENTOS

À minha querida orientadora Élida Hennington, pela paciência e parceria em todo esse

processo. Agradeço muito por todos os ensinamentos, pela confiança no meu projeto

desde o início, pelo acolhimento às minhas mudanças de ideia. Minha gratidão é

imensurável!

Ao professor Paulo Amarante, pela importância que teve na minha formação e por ter

me apresentado à Élida.

Ao querido professor Carlos Otávio Fiúza, eterno mestre, a quem expresso a minha

gratidão por todos os ensinamentos.

Aos professores Francisco Nilton de Oliveira, Miguel Montagner e Daniel Groisman.

À professora Lilian Koifman, pela valiosa contribuição na banca de qualificação.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Escola Nacional

de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz.

Aos coordenadores e professores participantes da pesquisa.

Às colegas da turma de doutorado de 2012, Mariana, Joseane, Louise, Danielle e

Karem, pelo agradável convívio e pela amizade.

À minha querida irmã Cleide e ao meu cunhado Aurélio pelos dias produtivos em Rio

das Ostras e Macaé.

Aos colegas professores do curso de graduação em Terapia Ocupacional da UFRJ.

A todos os meus alunos.

Aos queridos idosos da Central de Recepção de Idosos Pastor Carlos Portela, com os

quais tenho o prazer de conviver através do projeto de extensão que coordeno.

Não posso deixar de agradecer institucionalmente à ENSP/ FIOCRUZ, minha escola

desde a especialização. Não tenho palavras para descrever sua importância na minha

formação.

A todos, obrigada!

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RESUMO

Os idosos representam, hoje, um contingente de importância no conjunto da

população brasileira e a ausência de uma formação adequada compromete a conduta

resolutiva dos profissionais de saúde no cuidado ao idoso. A Política Nacional de Saúde

da Pessoa Idosa prevê a necessidade de adequar currículos e inserir, nos diversos níveis

de ensino formal, conteúdos voltados para o processo de envelhecimento. É necessário

que o tema do envelhecimento seja incluído nos currículos das diversas graduações da

área da saúde e que o conteúdo abordado na formação dos profissionais enfoque mais

do que as doenças comuns ao envelhecimento e contemple, entre outros, os aspectos

sociais e as políticas públicas direcionadas aos idosos.

Considerando que as instituições de ensino superior têm a responsabilidade de

formar profissionais qualificados para atender às necessidades de saúde da sociedade,

esta pesquisa teve por objetivo analisar a inserção da temática “Saúde do Idoso” em

cursos de graduação da área de saúde, a partir da posição ocupada pelos docentes no

campo universitário. Buscou-se identificar conteúdos e práticas voltados para a saúde do

idoso em cursos de graduação; analisar a posição dos docentes envolvidos com a saúde

do idoso em tais cursos; e conhecer as concepções desses docentes acerca da formação

voltada para a temática e a importância dada à mesma na formação em saúde.

O principal referencial teórico-metodológico deste estudo foi o sociólogo francês

Pierre Bourdieu, cuja sociologia forma um conjunto de noções e conceitos que,

articulados, são empregados em diversos campos do conhecimento. Este estudo

considerou a posição dos agentes envolvidos com a saúde do idoso no campo

universitário que pôde ser entendida em razão de suas estratégias de adesão ou

enfrentamento adotadas em relação à ordem social estabelecida no interior do campo.

O estudo, de abordagem qualitativa, incluiu entrevistas semiestruturadas com

docentes de universidades públicas do Rio de Janeiro, de cursos de graduação da área

de saúde, cujas diretrizes curriculares se referem diretamente ao envelhecimento ou ao

idoso. Foram estudados os cursos de Educação Física, Enfermagem e Nutrição. Os

docentes desenvolviam atividades relacionadas à temática “Saúde do Idoso”, seja

através de disciplinas obrigatórias ou eletivas, preceptoria de estágio e orientação de

alunos em projetos sob sua coordenação.

O tema é secundário na carreira dos docentes que atuam na área, cuja maioria é

recém-doutor e poucos são os credenciados em programas de pós-graduação stricto

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sensu. Observou-se a busca de aproximação com as esferas de poder e o investimento

no acúmulo de capital simbólico de notoriedade por parte desses agentes, especialmente

no curso de enfermagem. Assim, concluiu-se que a posição dos docentes da área, no

campo universitário, é um dos fatores determinantes para a pouca expressão da temática

nos currículos e que esta é pouco abordada na formação universitária nos cursos

estudados. Os docentes envolvidos com a temática mantêm pesquisas e atividades

isoladas e pouco articuladas, havendo a necessidade de se estabelecerem parcerias e

redes de cooperação mais consistentes para o maior desenvolvimento e visibilidade da

área de atuação.

Palavras chave: Educação Superior, Gerontologia, Envelhecimento, Formação

Profissional, Idoso.

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ABSTRACT

Elderly are now an important number of habitants in the overall population. The

National Health Policy for Elderly People provides the need to adapt the curriculum,

and insert, in various levels of formal education, contents focused on aging process. The

lack of a proper training compromises the solving conduct of health professionals in

elderly care. Therefore, it is necessary that the aging theme be included in the

curriculum of several undergraduate courses in health so that the analyzed content in the

training of professionals focuses not only on common diseases of aging but also

contemplates, among others, the social aspects and public policies directed to elderly

people.

Given that higher education institutions have the responsibility to train skilled

professionals to meet health needs of society, this study aimed to analyze the theme of

inclusion "Elderly Health" in undergraduate courses in heath from the position occupied

by teachers at the university field. The purpose was to identify contents and practices

that focused on elderly health in undergraduate courses; to analyze the position of the

teachers involved with elderly health in these courses and to know the conceptions of

these teachers about the oriented training directed toward this theme and the importance

given to it in health education.

The theoretical and methodological framework of this study was the French

sociologist Pierre Bourdieu. Bourdieu's sociology forms a set of notions and concepts

which, usually articulated, are employed in various fields of knowledge. This study

considered the position of involved agents with elderly health at the university field

could be understood because of their membership or coping strategies adopted in

relation to the social order established within the field.

The qualitative approach study included semi-structured interviews with public

university teachers in Rio de Janeiro for all undergraduate courses in the health field

whose curriculum guidelines referred directly to the aging or to elderly, with the

exception of medicine. Physical Education, Nursing and Nutrition courses were studied.

Teachers developed activities related to the "Elderly Health" theme, either through

mandatory or elective subjects, preceptorship of internship and mentoring students in

projects under their direction.

The theme is secondary in the career of teachers that work in the field, which are

mostly newly doctors and few are accredited in post-graduate studies programs. It was

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concluded that the position of the field teachers at the university campus is one of the

determining factors for the low expression of the theme in the curriculum. The purpose

was to observe the search of rapprochement with power and investment spheres in the

accumulation of notoriety symbolic capital by these agents. The theme is rarely

addressed in university education in the studied courses. The teachers involved with the

theme keep isolated and poorly articulated researches and activities and with the need to

establish partnerships and cooperation networks more consistent for the development

and visibility of the operating area.

Key words: Higher education, Gerontology, Aging, Training, Elderly.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CAAE- Certificado de Apresentação para Apreciação Ética

CAPES- Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEP- Comitê de Ética em Pesquisa

CNPq- Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CONEP- Comissão Nacional de Ética em Pesquisa

DATAPREV - Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social

DCN- Diretrizes Curriculares Nacionais

EUA- Estados Unidos da América

IBECS - Índice Bibliográfico Espanhol de Ciências da Saúde

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LILACS- Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde

INPS- Instituto Nacional de Previdência Social

LBA- Legião Brasileira de Assistência

MEC- Ministério da Educação

MEDLINE- Medical Literature Analysis and Retrieval System Online

MPAS- Ministério da Previdência e Assistência Social

OMS- Organização Mundial da Saúde

ONU- Organização das Nações Unidas

PAI - Programa de Assistência ao Idoso

PAPI - Projeto de Apoio à Pessoa Idosa

PNI- Política Nacional do Idoso

PNSPI- Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa

PPP- Projeto Político Pedagógico

PUBMED- National Library of Medicine

SCIELO- Scientific Electronic Library Online

SUS- Sistema Único de Saúde

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UERJ- Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFF- Universidade Federal Fluminense

UFRJ- Universidade Federal do Rio de Janeiro

UFRRJ- Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

UNIRIO- Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

USP- Universidade de São Paulo

WAC- Writing Across the Curriculum

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APRESENTAÇÃO

A motivação para esta pesquisa se deu pela minha própria inserção profissional

como professora no Curso de Terapia Ocupacional de uma universidade pública, e o

ponto de partida foi compreender o campo no qual estou inserida. Sendo professora de

uma disciplina que tem o envelhecimento humano como temática principal, e aos

poucos constatando que a temática não contava com o mesmo peso no currículo quando

comparada a outras, surgiu o interesse de conhecer a realidade de outros cursos de

graduação da saúde, além daquele em que eu estava inserida, e procurar compreender as

razões para essa situação.

Esta tese de doutorado buscou identificar e analisar como se dá a inserção da

temática saúde do idoso nos cursos superiores da área de saúde que fazem referência ao

idoso ou ao envelhecimento em suas Diretrizes Curriculares Nacionais. A pesquisa foi

realizada em cinco universidades públicas do Rio de Janeiro que possuem cursos de

graduação em Educação Física, Enfermagem e Nutrição. Buscou-se estudar a relação

entre a inserção curricular da temática e a posição dos docentes a ela relacionados no

campo universitário, sob a perspectiva do sociólogo francês Pierre Bourdieu.

Partiu-se do pressuposto de que o tema não vem sendo abordado de forma

suficiente em cursos de graduação, limitando-se a associar o envelhecimento a doenças

e dependência, negligenciando outros aspectos importantes na atenção aos idosos, tais

como as políticas públicas a eles direcionadas e as relações socioculturais do

envelhecimento.

Os resultados deste trabalho estão apresentados sob o formato de três artigos,

antecedidos pela contextualização do problema de pesquisa, objetivos, perguntas de

investigação e percurso metodológico, encerrando-se com as considerações finais.

O primeiro artigo, publicado na Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, é

de revisão integrativa e teve o objetivo de identificar, com base na literatura existente,

como a saúde do idoso e o envelhecimento têm sido abordados na formação

universitária dos profissionais de saúde e o que vem sendo considerado relevante nessa

temática.

O segundo artigo teve por objetivo analisar, a partir das informações coletadas

no currículo lattes, a posição de vinte e dois docentes cuja área de atuação está

relacionada à temática “Saúde do Idoso”. Foram estudados três dos quatro cursos de

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graduação da área da saúde de universidades públicas do estado do Rio de Janeiro que

fazem referência a atenção aos idosos em suas Diretrizes Curriculares Nacionais.

O terceiro artigo desta tese teve por objetivo analisar a inserção da temática

“Saúde do Idoso” nos cursos superiores em questão, a partir das entrevistas com os

docentes, analisando seu perfil; a estrutura e o conteúdo curricular das atividades

acadêmicas; além de suas concepções sobre a inserção do tema na formação profissional

em saúde.

A síntese e a articulação dos resultados apresentados nos artigos estão

contempladas nas considerações finais.

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INTRODUÇÃO

A Organização Mundial da Saúde adotou como orientador das políticas públicas

no âmbito mundial o “envelhecimento ativo”, definido como “processo de otimização

das oportunidades de saúde, participação e segurança com o objetivo de melhorar a

qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas, visando a superação da

visão tradicional de associar o envelhecimento a doenças e dependência 1 (p.13)”.

O “envelhecimento ativo” é uma estratégia de fortalecimento de um novo

paradigma que reconhece os idosos como participantes ativos da sociedade e deve

orientar a atenção à saúde desta parcela da população. Na perspectiva do

envelhecimento ativo, manter a autonomia e independência durante o processo de

envelhecimento é meta fundamental para indivíduos e governantes. Autonomia é a

habilidade de controlar, lidar e tomar decisões pessoais sobre como se deve viver

diariamente, de acordo com suas próprias regras e preferências. Independência é, em

geral, entendida como a habilidade de executar funções relacionadas à vida diária, isto

é, a capacidade de viver independentemente na comunidade, com alguma ou nenhuma

ajuda de outros1 (p.14).

Dessa forma, os princípios da independência e autonomia estão bastante

presentes nas políticas mundiais direcionadas à saúde dos idosos. No que se referem às

instituições de ensino superior, esses princípios são recomendados e deveriam ser

incorporados em disciplinas e outras atividades acadêmicas das diversas formações

profissionais em saúde. No entanto, nem sempre esses conteúdos fazem parte dos

currículos das graduações da área de saúde, apesar de sua importância para a atuação

dos futuros profissionais.

No Brasil, a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa2 reforça a necessidade

de adequar currículos e inserir, nos diversos níveis de ensino formal, conteúdos voltados

para o processo de envelhecimento, incluindo a Geriatria e a Gerontologia como

disciplinas curriculares nos cursos superiores. A Gerontologia é compreendida como

campo de conhecimento interdisciplinar que visa investigar o envelhecimento humano

em sua perspectiva mais ampla, considerando os aspectos clínicos, biológicos,

psicológicos, sociais, econômicos e históricos, enquanto a geriatria é direcionada à

promoção da saúde e ao tratamento de doenças e incapacidades entre os idosos. Nesta

pesquisa adotou-se o termo “Saúde do Idoso” por ser um termo mais abrangente que

inclui tanto a Gerontologia como a Geriatria.

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Historicamente, o termo gerontologia foi empregado pela primeira vez em 1903

pelo embriologista russo Elie Metchnikoff em sua obra “A natureza do homem” onde

estudou o envelhecimento de todas as coisas vivas, incluindo seus aspectos

sociológicos, psicológicos e outros. O termo geriatria foi criado, em 1909 por Ignas L.

Nascher, médico norte-americano e está relacionado estritamente aos problemas médicos

dos idosos. Em 1914 Nascher publicou ”Geriatria: as doenças da velhice e seu

tratamento” abordando o envelhecimento fisiológico, o cuidado domiciliar e

institucional e as relações médico-legais acerca do envelhecimento3.

Na atualidade o maior tempo de vida da população e o aumento das doenças

crônicas desafiam o sistema de saúde brasileiro. Os idosos constituem parcela

significativa de usuários dos serviços de saúde, resultando no aumento do consumo dos

serviços por parte desse grupo populacional nos últimos anos4,5

. De acordo com

Calíope et al6, fatores como variações geográficas, socioeconômicas, qualidade de vida

e nível de conhecimento sobre saúde, além de suas necessidades individuais específicas,

são apontados como determinantes na frequência e tipo de utilização de serviços de

saúde por idosos. A ausência de uma formação adequada compromete a conduta

resolutiva dos profissionais no cuidado ao idoso. É necessário que o envelhecimento

seja abordado na formação dos profissionais de maneira mais ampla, contemplando não

somente as doenças comuns ao envelhecimento, mas também os aspectos sociais e as

políticas públicas direcionadas aos idosos.

Considerando a mudança do perfil demográfico e epidemiológico no Brasil e o

crescente número de usuários idosos do sistema de saúde, entende-se que a formação

dos profissionais de saúde precisa contemplar o desenvolvimento de habilidades e

competências para o atendimento de qualidade aos idosos e estar em consonância com

as atuais políticas públicas de saúde, entre elas a Política Nacional de Saúde da Pessoa

Idosa e o Estatuto do Idoso. Sendo assim, a questão que norteou a pesquisa foi a

seguinte: por que, apesar da mudança na estrutura etária da população brasileira, do

aumento das doenças crônicas e do consequente aumento da quantidade de idosos

frequentando os serviços de saúde, além da legislação específica favorável, os

conteúdos e práticas relacionados à saúde do idoso ainda são pouco expressivos na

formação dos profissionais da área de saúde?

As pesquisas relacionadas à formação dos profissionais de saúde para o cuidado

e atenção à saúde do idoso ainda são escassas no Brasil7,8

. O presente estudo, voltado

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para a formação em nível de graduação na área de saúde, com foco na saúde do idoso,

pretende contribuir no sentido de dar mais visibilidade à questão. Trata-se de analisar a

inserção no ensino superior da temática Saúde do Idoso, apontando suas características,

limites e perspectivas. Os resultados da pesquisa deverão contribuir na formulação de

recomendações para uma melhor formação dos profissionais de saúde acerca do

processo de envelhecimento. Este estudo na área do ensino e formação em saúde poderá

ser útil para futuros ajustes em aspectos curriculares dos cursos das universidades

diretamente envolvidas na pesquisa e também de outras instituições de nível superior da

área de saúde.

OBJETIVOS

Objetivo Geral

- Analisar a inserção da temática Saúde do Idoso em graduações da área de

saúde nas universidades públicas do estado do Rio de Janeiro, a partir da posição

ocupada pelos docentes no campo universitário.

Objetivos Específicos

- Identificar conteúdos e práticas voltados para a Saúde do Idoso em cursos de

graduação.

- Investigar a posição dos docentes envolvidos com a temática Saúde do Idoso

no campo universitário.

- Conhecer as concepções de docentes de cursos de graduação acerca da

formação voltada para a Saúde do Idoso e a importância dada à temática na formação

em saúde.

O ENVELHECIMENTO NA AGENDA DE PROGRAMAS E POLÍTICAS

PÚBLICAS

Os programas sociais direcionados ao enfrentamento do processo de

envelhecimento das populações dos países desenvolvidos começaram a ganhar

expressão na década de 1970. Duas assembleias das Nações Unidas, uma realizada em

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Viena, em 1982, e outra em Madri, em 2002, influenciaram significativamente essa

agenda.

A primeira Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento ocorreu em Viena, em

1982, constituindo-se no primeiro fórum global intergovernamental centrado na questão

do envelhecimento populacional e que resultou na aprovação de um plano global de

ação com 66 recomendações para os Estados membros, referentes a sete áreas: saúde e

nutrição; proteção ao consumidor idoso; moradia e meio ambiente; família; bem-estar

social; previdência social e trabalho; e educação. Um dos principais resultados do Plano

de Viena foi o de colocar na agenda internacional as questões relacionadas ao

envelhecimento individual e da população. A concepção de idoso, traçada no plano, era

a de indivíduos independentes financeiramente e, portanto, com poder de compra.

Embora o foco da atenção tenha sido os países desenvolvidos, desde a assembleia a

agenda política de países em desenvolvimento passou a incorporar progressivamente a

questão do envelhecimento9.

O período de vinte anos, compreendido entre as assembleias de Viena e Madri,

foi marcado por mudanças profundas nos planos econômico, social e político dos

países. Na década de 1990, a questão do envelhecimento entrou de forma mais

expressiva na agenda dos países em desenvolvimento. A visão predominante foi a de

associar envelhecimento à dependência e a problemas sociais. Outro ponto de vista

considerava que as pessoas idosas podem contribuir significativamente para o

desenvolvimento econômico e social: “Muitas pessoas idosas são uma fonte viva de

recursos e contribuem para o bem-estar das suas famílias e comunidades”9. Essas duas

visões geram políticas diferentes. As políticas resultantes desta ultima perspectiva são

as que buscam reforçar a capacidade das pessoas idosas e aumentar a sua oportunidade

de contribuir com a sociedade.

A Assembleia Geral da ONU, de 1991, adotou dezoito princípios em favor da

população idosa, que podem ser agrupados em cinco grandes temas: independência

(requer políticas públicas que garantam a autonomia física e financeira, ou seja, o

acesso aos direitos básicos de todo ser humano: alimentação, habitação, saúde, trabalho

e educação); participação (busca-se a manutenção da integração dos idosos na

sociedade, o que requer a criação de um ambiente propício para que possam

compartilhar seus conhecimentos e habilidades com gerações mais jovens e se

socializar); cuidados (referem-se à necessidade do desfrute pelos idosos de todos os

direitos humanos e liberdades fundamentais, através do cuidado familiar ou

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institucional); autorrealização (significa a possibilidade de os idosos fazerem uso de

oportunidades para o desenvolvimento do seu potencial, por meio do acesso a recursos

educacionais, culturais, espirituais e recreativos); e dignidade (requer que se assegure

aos idosos a possibilidade de vida digna e segura, livre de toda e qualquer forma de

exploração e maus-tratos).

Em 1999, foi comemorado o Ano Internacional do Idoso. Os países membros

das Nações Unidas foram incentivados a aplicar os cinco princípios básicos em favor

dos idosos, já anteriormente adotados na Assembleia Geral de 1991.

No ano de 2000, apesar de não ter feito menção explícita à questão do

envelhecimento, a Declaração do Milênio10

convocou toda a humanidade a participar de

um esforço para a redução da pobreza e consagração dos direitos humanos.

A segunda Conferência Mundial sobre Envelhecimento, que aconteceu em

Madri, no ano de 2002, dedicou atenção especial aos problemas derivados do processo

de envelhecimento dos países em desenvolvimento. Um dos grandes avanços do Plano

de Madri diz respeito à contribuição dos idosos para a sociedade. Contendo 35 objetivos

e 239 recomendações para a adoção de medidas dirigidas aos governos nacionais, esse

amplo documento insiste na necessidade de parcerias com membros da sociedade civil e

do setor privado para a sua execução. O plano de ação11

fundamenta-se em torno de três

orientações prioritárias expostas resumidamente a seguir:

1- Participação ativa dos idosos na sociedade, no desenvolvimento e na luta contra a

pobreza - considera que o envelhecimento populacional não é um processo que,

necessariamente, esgota os recursos da sociedade. Em termos de políticas, pode-se

pensar na adequação das instituições para que o crescimento da população idosa seja um

elemento propulsor do bem-estar da sociedade. Nesse caso, políticas de trabalho,

integração social e seguridade social são importantes.

2- Fomento da saúde e bem-estar na velhice: promoção do envelhecimento saudável -

são necessárias políticas que promovam melhorias na saúde desde a infância e que se

prolonguem ao longo da vida. Dentre elas, citam-se a promoção à saúde, o acesso

universal aos serviços de saúde pública ao longo da vida e, em decorrência, a

consideração da importância de fatores ambientais, econômicos, sociais e educacionais,

dentre outros, no aparecimento de enfermidades e incapacidades. São necessários,

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também, programas de capacitação de profissionais nas áreas de geriatriaa, gerontologia

e de serviços sociais.

3- Criação de um entorno propício e favorável ao envelhecimento - promover políticas

voltadas para a família e a comunidade que assegurem um envelhecimento seguro e

promovam a solidariedade intergeracional. Para tanto, é necessário que as políticas

públicas sejam concebidas com base na colaboração entre o Estado e a sociedade civil,

de forma a construir um maior acesso ao entorno físico, aos serviços e recursos.

Para Camarano e Pasinato9, o Plano de Madri

11 consiste em um plano único,

geral, para uma realidade social bastante diversificada. Algumas das recomendações

parecem fundamentadas em um modelo pouco real, que seria o daqueles países

desenvolvidos que contam com um programa de bem-estar social avançado. As autoras

consideram que em alguns países os objetivos do Plano de Madri já estão sendo

atingidos, e, em outros, a sua implementação ainda irá demorar muito, isto é, no caso de

serem implementados.

Ainda acerca das políticas mundiais dirigidas aos idosos, um estudo recente,

realizado por Plath12

,comparando os princípios das políticas dirigidas aos idosos na

Austrália, Dinamarca, Índia e Reino Unido, concluiu que a independência e autonomia,

apesar de nortearem as políticas de três deles, nem sempre foi o princípio adotado. A

independência foi a orientação no caso da Austrália e do Reino Unido. Já na Dinamarca

as políticas enfocam o grau de autonomia. O alto nível na prestação de serviços oferece

liberdade de escolha para as pessoas mais velhas no que diz respeito a opções de

moradia, cuidado e assistência. Na Índia as políticas buscam reforçar a capacidade das

famílias para cuidar de seus parentes idosos, cabendo apenas aos idosos sem família os

serviços governamentais de cuidados, alojamento e outras garantias de segurançab.

a Acerca das definições de Geriatria e Gerontologia. A Gerontologia é aqui compreendida como campo

de conhecimento interdisciplinar que visa investigar o envelhecimento humano em sua perspectiva mais ampla, considerando os aspectos clínicos, biológicos, psicológicos, sociais, culturais, econômicos e históricos, e a Geriatria, ramo da medicina direcionado à promoção da saúde e ao tratamento de doenças e incapacidades entre os idosos (Brasil, 1999).

b De acordo com o referido estudo, mesmo entre os países que adotam o princípio da independência

como norteador das políticas, há diferenças entre a interpretação dada ao termo. A autora, para quem há sempre uma tensão entre independência e inclusão social, alerta para o fato de que independência, vista unicamente em relação à capacidade funcional, é uma interpretação individualista, pois não incorpora as funções sociais e emocionais (Phat, 2013).

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O envelhecimento populacional e as políticas públicas brasileiras

A implantação de uma política pública nacional direcionada aos idosos é recente

no Brasil, pois data de 1994. No entanto, houve iniciativas mais antigas em termos de

proteção a esse segmento populacional.

As origens do sistema de proteção social no Brasil remontam ao período

colonial, com a criação de instituições de caráter assistencial, como a Santa Casa de

Misericórdia, em Santos, e com a regulamentação, em 1888, do direito à aposentadoria

dos empregados dos Correios (Decreto 9.912-A, de 26 de março de 1888), após trinta

anos de serviço e com idade mínima de sessenta anos13

.

As primeiras políticas previdenciárias de iniciativa estatal para trabalhadores do

setor privado surgiram no início do século XX, como a primeira caixa de aposentadorias

e pensões, em 1923, a Lei Eloy Chaves.

Embora houvesse inúmeros decretos, leis e portarias mencionando os idosos e

garantindo-lhes alguns direitos, até a década de 70 do século XX todo o trabalho com

idosos era de cunho caritativo, desenvolvido por ordens religiosas ou entidades

filantrópicas.

Segundo Rodrigues13

, o primeiro documento do governo federal contendo

diretrizes para uma política social voltada à população idosa foi editado pelo MPAS, em

1976, e se baseou nas conclusões de três seminários regionais realizados no mesmo ano

em São Paulo, Belo Horizonte e Fortaleza e um nacional, em Brasília. Os seminários

objetivaram a identificação das condições de vida do idoso brasileiro e a apresentação

das linhas básicas de uma política de assistência e promoção social do idoso. Desses

seminários se originou um documento importante intitulado “Políticas para a 3ª idade -

Diretrizes Básicas”, cujas principais propostas diziam respeito à implantação de sistema

de mobilização comunitária, visando, dentre outros objetivos, à manutenção do idoso na

família; à revisão de critérios para concessão de subvenções a entidades que abrigam

idosos; à criação de serviços médicos especializados para o idoso, incluindo

atendimento domiciliar; à revisão do sistema previdenciário e preparação para a

aposentadoria; à formação de recursos humanos para o atendimento de idosos; e à coleta

de produção de informações e análises sobre a situação do idoso pelo Serviço de

Processamento de Dados da Previdência e Assistência Social (Dataprev) em parceria

com o IBGE9,13

.

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8

Rodrigues13

considera o ano de 1976 um marco de uma nova era na atenção

pública em relação ao idoso no Brasil, mas refere que no ano anterior já havia surgido o

primeiro Programa, em nível nacional, por iniciativa do então INPS. Foi o chamado PAI

- Programa de Assistência ao Idoso - que consistia na implementação de grupos de

convivência para idosos previdenciários nos postos de atendimento do INPS. Esses

grupos de convivência continuaram se desenvolvendo durante dois anos por todo o

Brasil. Com a reforma da Previdência, em 1977, o programa passou para a Fundação

Legião Brasileira de Assistência, que se tornou responsável pelo atendimento ao idoso

em todo o território nacional. A LBA prestava atendimento direto, em instalações

próprias, pelo seu pessoal técnico ou por meio de convênio com asilos, e o atendimento

aos idosos era individual ou em grupo.

Em 1987, com a reestruturação da LBA, o PAI foi transformado em PAPI -

Projeto de Apoio à Pessoa Idosa - e passou a integrar o programa de ações

complementares de apoio ao cidadão e à família.

O PAPI tinha ações voltadas para as pessoas idosas, visando dar-lhes

oportunidades de maior participação em seu meio social e, também,

desenvolver a discussão ampla de sua situação como cidadãos, suas

reivindicações e direitos, além de valorizar todo o potencial de vivência

dentro das comunidades13

(p.151).

Embora as ações em saúde do idoso em nível nacional ficassem, até então, a

cargo da LBA, de acordo com Rodrigues13

(p. 152), “na década de 80, surgiu no

Ministério da Saúde, o Programa da Saúde do Idoso, que concentrava ações na área da

promoção da saúde e estímulos ao autocuidado”.

O grande avanço em políticas de proteção social aos idosos brasileiros foi dado

pela Constituição de 198814

, que levou em consideração algumas orientações da

Assembleia de Viena e introduziu o conceito de seguridade social, fazendo com que a

rede de proteção social deixasse de estar vinculada apenas ao contexto estritamente

social-trabalhista e assistencialista e passasse a adquirir uma conotação de direito de

cidadania. A Constituição de 198814

contempla as pessoas idosas em seus artigos 14,

40, 201, 203, 229 e 230.

Diante da crescente demanda de uma população que envelhece e de acordo com

os direitos previstos na Constituição de 198814

, em 1994 foi promulgada a Política

Nacional do Idoso15

, através da Lei 8.842/94, regulamentada em 1996 pelo Decreto

1.948/96, incorporando os princípios da Conferência de Viena. As principais diretrizes

norteadoras da PNI consistem em incentivar e viabilizar formas alternativas de

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9

cooperação intergeracional; atuar junto às organizações da sociedade civil

representativas dos interesses dos idosos com vistas à formulação, implementação e

avaliação das políticas, planos e projetos; priorizar o atendimento dos idosos em

condição de vulnerabilidade por suas próprias famílias em detrimento ao atendimento

asilar; priorizar o atendimento do idoso em órgãos públicos e privados prestadores de

serviços; fomentar a discussão e o desenvolvimento de estudos referentes à questão do

envelhecimento; e promover a capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas

de Geriatria e Gerontologia.

Em 1999, a Portaria Ministerial nº 1.395/99 estabeleceu a Política Nacional de

Saúde do Idoso16

, uma reformulação da política anterior. De acordo com Camarano e

Pasinato9, esta foi consequência do entendimento de que os altos custos envolvidos no

tratamento médico dos pacientes idosos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) não

estavam resultando no real atendimento das suas necessidades específicas. A política

apresenta dois eixos norteadores: medidas preventivas, com especial destaque para a

promoção da saúde, e atendimento multidisciplinar específico para esse contingente.

Em 2003, foi sancionado o Estatuto do Idoso17

, aglomerando, em única peça

legal, muitas das leis e políticas já aprovadas, bem como incorporando novos elementos

e enfoques e dando um tratamento integral, e com uma visão de longo prazo, ao

estabelecimento de medidas que visassem proporcionar o bem-estar dos idosos. Com

118 artigos versando sobre diversas áreas dos direitos fundamentais e das necessidades

de proteção dos idosos, o documento apresenta a questão do envelhecimento articulada

com ações referentes ao meio ambiente e desenvolvimento sustentável e à defesa do

consumidor. A aprovação do Estatuto do Idoso representa um passo importante da

legislação brasileira no contexto de sua adequação às orientações do Plano de Madri11

.

O Capítulo IV do Estatuto do Idoso17

dedica um capítulo especialmente à saúde,

onde inclui as diretrizes acerca da prevenção e manutenção da saúde do idoso e de como

serão efetivadas. O capítulo versa, entre outros assuntos, sobre as unidades geriátricas

de referência, preconizando pessoal especializado nas áreas de geriatria e gerontologia

social; assegura ao idoso o direito de optar pelo tratamento de saúde que lhe for

reputado mais favorável; e obriga aos profissionais de saúde a notificação de casos de

suspeita ou confirmação de maus-tratos contra idoso aos órgãos competentes16

.

O compromisso brasileiro com a Assembleia Mundial para o Envelhecimento

(Plano de Madri), ocorrida em 2002, a vigência do Estatuto do Idoso e seu uso como

instrumento para a conquista de direitos dos idosos, a ampliação da Estratégia Saúde da

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10

Família que revela a presença de idosos e famílias frágeis e em situação de grande

vulnerabilidade social, inserção ainda incipiente das Redes Estaduais de Assistência à

Saúde do Idoso, além da necessidade do setor de saúde dispor de uma política

atualizada relacionada à saúde do idoso, tornaram necessária a readequação da até então

política vigente.

A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa - PNSPI (Portaria Nº 2.528, de 19

de outubro de 2006)18

resultou da conclusão do processo de revisão e atualização da

Política Nacional de Saúde do Idoso, de 199916

e apresentou como diretrizes:

a) promoção do envelhecimento ativo e saudável;

b) atenção integral, integrada à saúde da pessoa idosa;

c) estímulo às ações intersetoriais, visando à integralidade da atenção;

d) provimento de recursos capazes de assegurar qualidade da atenção

à saúde da pessoa idosa;

e) estímulo à participação e fortalecimento do controle social;

f) formação e educação permanente dos profissionais de saúde do SUS

na área de saúde da pessoa idosa;

g) divulgação e informação sobre a Política Nacional de Saúde da

Pessoa Idosa para profissionais de saúde, gestores e usuários do SUS;

h) promoção de cooperação nacional e internacional das experiências

na atenção à saúde da pessoa idosa;

i) apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas17

.

A PNSPI estabelece dois grandes eixos norteadores para a integralidade de ações

voltadas para o idoso: o enfrentamento de fragilidades da pessoa idosa, da família e do

sistema de saúde; e a promoção da saúde e da integração social em todos os níveis de

atenção18

.

Especificamente acerca da intersetorialidade, referindo-se à interface Saúde-

Educação, a PNSPI preconiza:

a) inclusão nos currículos escolares de disciplinas que abordem o

processo do envelhecimento, a desmistificação da senescência, como

sendo diferente de doença ou de incapacidade, valorizando a pessoa

idosa e divulgando as medidas de promoção e prevenção de saúde em

todas as faixas etárias;

b) adequação de currículos, metodologias e material didático de

formação de profissionais na área da saúde, visando o atendimento das

diretrizes fixadas nesta Política;

c) incentivo à criação de Centros Colaboradores de Geriatria e

Gerontologia nas instituições de ensino superior, que possam atuar de

forma integrada com o SUS, mediante o estabelecimento de referência

e contra referência de ações e serviços para o atendimento integral dos

indivíduos idosos e a capacitação de equipes multiprofissionais e

interdisciplinares, visando à qualificação contínua do pessoal de saúde

nas áreas de gerência, planejamento, pesquisa e assistência à pessoa

idosa;

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11

d) discussão e readequação de currículos e programas de ensino nas

instituições de ensino superiores abertas para a terceira idade,

consoante às diretrizes fixadas nesta Política18

.

A PNSPI considera que o modelo de atenção à saúde, baseado na assistência

médica individual, não se mostra eficaz na prevenção, educação e intervenção em

questões sociais, que ficam muitas vezes restritas às complicações advindas de afecções

crônicas. Assim sendo, em todo o seu texto enfatiza a promoção do envelhecimento

ativo, isto é, envelhecer mantendo a capacidade funcional e a autonomia é

reconhecidamente a meta de toda ação de saúde. Ela permeia todas as ações desde o

pré-natal até a fase da velhice. A abordagem do envelhecimento ativo baseia-se no

reconhecimento dos direitos das pessoas idosas e nos princípios de independência,

participação, dignidade, assistência e autorrealização determinados pela Organização

das Nações Unidas1.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos da área da saúde

Os Ministérios da Educação e da Saúde têm investido em manter na agenda as

políticas públicas de formação direcionadas aos serviços, buscando aproximar as

escolas de formação em saúde dos cenários de práticas que visam melhorar a qualidade

da assistência prestada19

.

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN)20

para os cursos da área da saúde

foram elaboradas em meados da década de 1990 e homologadas entre os anos de 2001 e

2004, para orientar a elaboração dos currículos de quatorze profissões visando,

sobretudo, à consolidação do SUS. A grande área da saúde compreende atualmente os

seguintes cursos: Biologia, Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, Farmácia,

Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia,

Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional21

. c

As DCN propõem um perfil profissional com formação geral, humanista, crítico

e reflexivo, por meio de Projetos Político-Pedagógicos (PPP) construídos coletivamente

pelos atores do curso nas IES e que utilizem metodologias de ensino-aprendizagem

centradas no estudante, em diferentes cenários22

. A formação de recursos humanos para

as profissões da área da saúde deve pautar-se no entendimento de que saúde é um

processo de trabalho coletivo do qual resulta, como produto, a prestação de cuidados de

c Atualmente há uma discussão no Conselho Nacional de Saúde (CNS) sobre o pleito dos cursos de graduação em Saúde Coletiva, para seu reconhecimento como profissão da área da saúde, tendo como implicação a mudança da Resolução CNS nº 287/98.

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12

saúde. De acordo com as DCN, as competências gerais desejadas para o graduado nos

cursos da saúde constituem elementos comuns da formação, que são complementadas

pelas competências específicas necessárias para cada curso/profissão.

O objetivo das diretrizes curriculares nacionais para os cursos da área da saúde é

formar profissionais com competências e habilidades para a atuação com qualidade e

resolutividade no SUS. Para isso, o aluno deve ser estimulado a pensar criticamente, a

analisar os problemas da sociedade e procurar soluções para os mesmos.

Procurando estabelecer uma relação entre as diretrizes e a atenção à saúde do

idoso, em seu estudo sobre a inclusão de diretrizes da PNSPI nos cursos da área de

saúde da Universidade Federal Fluminense, Xavier e Koifman21

avaliaram as DCNs de

cada um dos cursos considerados pelo Conselho Nacional de Saúde como profissões de

saúde e constataram que, em relação aos conhecimentos exigidos para se alcançarem as

competências e habilidades específicas por curso (conteúdos essenciais à formação de

cada um desses profissionais), apenas os cursos de Educação Física, Enfermagem,

Medicina e Nutrição se referem diretamente ao envelhecimento ou ao idoso em suas

respectivas DCN.

Cabe ressaltar que nas DCN de outros cursos da área de saúde, além dos já

mencionados, observam-se termos inespecíficos como “em todas as etapas do

desenvolvimento humano” e “nas diferentes populações”.

Embora aprovadas, não há garantias de que as DCN estejam implementadas

adequadamente em todas as instituições de ensino superior. Nos fóruns de discussão

sobre formação dos profissionais de saúde são apontados alguns fatores que contribuem

para esta incerteza: o desconhecimento de sua importância, a dificuldade de

compreensão de sua dinâmica e a interpretação equivocada dos objetivos propostos, o

que resulta em demora na revisão dos currículos e no desenvolvimento dos cursos para

a formação de um profissional compatível com a realidade e as demandas sociais do

país.

Segundo Mota e Aguiar7, para a efetiva implementação das diretrizes, é

necessário incluir conteúdos sobre envelhecimento, saúde do idoso, trabalho em equipe

e a noção de saúde ampliada em quase todas as disciplinas ao longo do curso, dado que

a Geriatria e a Gerontologia alicerçam-se nas áreas básicas (fisiologia, bioquímica,

farmacologia), na área Clínica e Cirúrgica, nas Ciências Humanas e na Saúde Pública.

De fato, o envelhecimento se coloca como temática que potencializa a integração do

currículo.

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13

REFERENCIAL TEÓRICO: A SOCIOLOGIA DE BOURDIEU

O principal referencial teórico-metodológico deste estudo foi o sociólogo francês

Pierre Bourdieu, cuja sociologia forma um conjunto de noções e conceitos, tais como

habitus, campo, capital simbólico, poder simbólico e violência simbólica, os quais,

geralmente articulados, são empregados em diversos campos do conhecimento, sendo

os dois primeiros considerados os conceitos centrais de sua teoria23

.

Não há estudos publicados por Bourdieu especificamente sobre sociologia da

saúde, mas isso não impediu que sua teoria tivesse aportado importantes contribuições

para estudos nessa área24

. Na Saúde Coletiva, o autor vem sendo utilizado em pesquisas

sobre diferentes temas, tais como aspectos históricos da constituição dos campos

profissionais25,26

, apoio e resistências às políticas públicas27

, prática dos trabalhadores

em saúde28

e mudanças na formação profissional29,30,31

.

Para Bourdieu32

, campo é um microcosmo que obedece a leis sociais mais ou

menos específicas, sendo dotado de autonomia relativa em relação ao mundo social

como um todo.

A respeito de campo, Bourdieu afirma:

Se, como macrocosmo, ele é submetido a leis sociais, essas não são as

mesmas. Se jamais escapa s imposições do macrocosmo, ele dispõe,

com relação a este, de uma autonomia parcial mais ou menos

acentuada32

(p.20).

Bourdieu diz que é preciso escapar à alternativa da "ciência pura", totalmente

livre de qualquer necessidade social, e da "ciência escrava", sujeita a todas as

determinações político-econômicas32

(p.20). O autor relaciona o grau de autonomia de

cada campo com a sua capacidade de refração às interferências externas. Quanto maior

é seu poder de refração, de retradução das interferências exteriores, maior é sua

autonomia. Por outro lado, quanto mais suscetível um campo se apresenta em relação às

interferências exteriores, especialmente às questões políticas, menor é a sua autonomia.

A configuração teórica do conceito de campo remete à dinâmica da regularidade

do social. Um campo traz em si mesmo as condições de sua própria reprodução33

.

Campo é também um espaço de luta entre os agentes que o compõem. São as

relações entre os agentes de um campo que o estruturam. A posição ocupada por seus

agentes se dá em função do capital desigualmente distribuído entre eles. Esse capital

não se restringe ao capital econômico (bens econômicos e de produção), mas também se

refere ao capital social (rede de relações, interconhecimento, vinculação a grupos), ao

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14

capital cultural (qualificação produzida pela família e pela educação escolar) e ao

capital simbólico (ligado às diversas formas de reconhecimento)33

.

Fazem parte do campo universitário: as faculdades, os institutos, os

departamentos, os professores das diversas áreas e suas produções teóricas e empíricas:

O que dá suporte ao campo são as relações de força entre os agentes

(indivíduos e grupos) e as instituições que lutam pela hegemonia, isto

é, o monopólio da autoridade que concede o poder de ditar as regras e

de repartir o capital específico de cada campo33

( p.114).

As relações de interdependência estabelecidas entre aqueles que fazem parte de

um campo podem ser de aliados ou adversários, de continuidade ou de ruptura. De

acordo com Bourdieu34

, os agentes que monopolizam a autoridade específica ao campo

tendem a organizar estratégias de conservação, em oposição aos novatos, que,

detentores de menos capital, procuram subverter a dominação, articulando estratégias de

subversão.

O objetivo da pesquisa foi analisar a inserção da temática Saúde do Idoso em

cursos de graduação a partir dos conteúdos curriculares, das concepções docentes sobre

a formação na área de saúde e da posição dos docentes envolvidos com a saúde do idoso

no campo universitário.

A Saúde do Idoso pode ser entendida dentro do espaço social em que se

produzem bens materiais e simbólicos por intermédio de práticas próprias dos agentes.

Refere-se a um conjunto de traços que caracterizam e diferenciam essa área e seus

agentes e que, ao definir-se, afirma um espaço próprio no campo e estabelece suas

fronteiras. O conhecimento produzido, selecionado e legitimado reflete a força de

organização dos grupos, suas divergências e define suas terminologias próprias.

O campo universitário é constituído por diferentes áreas do conhecimento,

algumas mais valorizadas e reconhecidas socialmente e outras menos. A posição

ocupada por determinada área no campo universitário pode, assim, ser entendida em

razão das estratégias de adesão ou enfrentamento adotadas pelos seus profissionais em

relação à ordem social estabelecida no interior do campo.

Em Homo Acadêmicos35

,

Bourdieu toma como objeto de estudo o meio

acadêmico, definido na obra como

o lugar de uma luta para determinar as condições e critérios de

pertencimento e de hierarquia legítimos, isto é, as propriedades

pertinentes, eficientes, próprias a produzir – funcionando como capital

– os benefícios específicos assegurados pelo campo. Os diferentes

conjuntos de indivíduos definidos por esses diferentes critérios ligam-

se a eles e ao reivindicá-los esforçam-se para fazê-los reconhecidos e

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15

afirmando sua pretensão em constituí-los como propriedades

legítimas, como capital específico, trabalham para modificar as leis de

formação dos preços característicos do mercado universitário e para

aumentar assim suas chances de lucro35

(p. 32).

Nessa obra, Bourdieu fala sobre as diversas formas de poder dentro do campo

universitário, relacionando-as com os diferentes níveis de capital cultural e social. Para

o autor, esses níveis são dados pelo prestígio intelectual e científico, como um poder

mais durável, e pelo poder universitário, reconhecido exclusivamente nos limites da

universidade e fundado, principalmente, no controle dos instrumentos de reprodução do

corpo professoral, assim como uma das formas de materialização do poder são as

atividades e funções exercidas.

O campo universitário reproduz na sua estrutura o campo do poder

cuja ação própria da seleção e de inculcação contribui para reproduzir

a estrutura. É na verdade no e por seu funcionamento como espaço de

diferenças entre posições (e da mesma maneira entre as disposições de

seus ocupantes) que se realiza, fora de toda intervenção das

consciências e das vontades individuais ou coletivas, a reprodução do

espaço das posições diferentes que são construtivas do campo do

poder35

(p.70).

Para Bourdieu35

, o poder propriamente universitário é fundado principalmente no

controle dos instrumentos de reprodução do corpo professoral, banca de agregação e nos

comitês que designam professores titulares, isto é, na posse de um capital que só se

adquire na universidade.

O capital universitário se obtém por meio da ocupação de posições que

permitem dominar outras posições e seus ocupantes. Tal poder sobre as instâncias de

reprodução do corpo universitário é o que, segundo o autor, assegura a seus detentores

uma autoridade que está muito mais ligada à posição hierárquica do que a propriedade

extraordinária da obra ou da pessoa.

O acúmulo de capital no meio universitário leva tempo e, dessa forma, o volume

de capital detido está estreitamente ligado à idade. As distâncias nesse espaço são

medidas em tempo, em distâncias temporais, em diferenças de idade. A estrutura do

campo se manifesta aos agentes sob a forma de uma carreira. Sendo as posições de

poder hierarquizadas e separadas pelo tempo, a reprodução da hierarquia supõe a

manutenção das distâncias.

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16

Ainda sobre a hierarquia dos campos, segundo Bourdieu35

, o número de teses

orientadas é suficiente para distinguir em diferentes disciplinas aqueles que detêm maior

poder.

A estrutura do campo universitário é o estado, num dado momento do tempo, da

relação de forças entre os agentes ou, mais exatamente, entre os poderes que eles detêm

a título pessoal e, sobretudo, por meio das instituições de que fazem parte. A posição

ocupada nessa estrutura está no princípio das estratégias que visam transformá-la ou

conservá-la, modificando ou mantendo a força relativa dos diferentes poderes ou as

equivalências estabelecidas entre as diferentes espécies de capital35

.

Para Bourdieu35

, as transformações globais do campo social afetam o campo

universitário por intermédio das mudanças morfológicas, das quais a mais importante é

o afluxo da clientela de estudantes que, em parte, determina o crescimento desigual do

volume das diferentes partes do corpo docente e, assim, a transformação da relação de

forças entre as faculdades e disciplinas e, sobretudo no interior de cada uma delas, entre

os diferentes graus.

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17

PERCURSO METODOLÓGICO

O ensino em saúde e a formação profissional foram abordados como objeto

essencialmente qualitativo, considerando-o historicamente construído, complexo,

contraditório, inacabado e em permanente transformação. O método qualitativo é capaz

de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, às

relações e às estruturas sociais, além de ser o mais adequado à compreensão de

fenômenos específicos e delimitáveis, mais pelo seu grau de complexidade interna do

que por sua expressão quantitativa36

(p.10).

Cenário da pesquisa

A pesquisa foi realizada em universidades públicas do estado do Rio de Janeiro,

segundo no ranking brasileiro em relação à proporção de idosos e índice de

envelhecimento, atrás apenas do Rio Grande do Sul. Sua capital é o município que

possui a maior proporção de idosos no país: dos doze bairros brasileiros com o maior

percentual de idosos, seis ficam na cidade do Rio de Janeiro (Copacabana, Campo

Grande, Tijuca, Bangu, Barra da Tijuca, Realengo) 37

.

Como critério de inclusão das instituições de ensino no estudo, foram

selecionadas as universidades públicas do estado do Rio de Janeiro que oferecem os

cursos na área de saúde que fazem referência direta aos idosos em suas DCN: Educação

Física, Enfermagem, Medicina e Nutrição. São elas: Universidade Federal do Rio de

Janeiro (UFRJ), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade

Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

(UNIRIO) e Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Embora o curso

de Medicina também faça menção aos idosos em suas diretrizes, o mesmo não foi

incluído na pesquisa, pois não foi possível operacionalizar as entrevistas com seus

docentes.

Sujeitos da pesquisa e fontes de informação

Os sujeitos da pesquisa foram os professores das instituições que desenvolviam

atividades docentes relacionadas à temática Saúde do Idoso, através de disciplinas

obrigatórias ou eletivas, preceptoria de estágio e orientação de alunos em projetos sob

sua coordenação e com qualquer vínculo empregatício. Foram excluídos docentes com

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menos de um ano no serviço público, aqueles incapazes ou impedidos de fornecer

informações, os que estavam afastados de suas atividades docentes por problemas de

saúde, licenças ou afastamentos e os que estavam de férias no período da realização das

atividades de campo.

Inicialmente foram realizados contatos com os coordenadores de cada curso

dessas universidades, identificados através dos sites institucionais, para agendamento de

entrevistas, conforme o quadro abaixo. A partir desses primeiros contatos, foram

identificados quem eram os docentes envolvidos com a temática em cada um dos

cursos. Nesse sentido, os coordenadores dos cursos foram considerados informantes-

chaves.

Em relação à dificuldade de inclusão do curso de Medicina no estudo, dos quatro

cursos houve resposta somente de dois dos quatro coordenadores inicialmente

contatados via email, que autorizaram a pesquisa. Apesar de ter sido solicitado um

encontro pessoal para informar sobre a pesquisa e obter indicação dos professores

envolvidos com a temática Saúde do Idoso, um deles solicitou que a autorização fosse

deixada com a secretária e esta foi posteriormente entregue assinada sem que houvesse

a possibilidade de contato pessoal direto. O outro coordenador agendou horário em que

a autorização foi entregue e o primeiro nome e o endereço eletrônico dos professores

relacionados à temática foi informado, mas não houve resposta desses professores às

tentativas de contato. Os outros dois coordenadores de curso não responderam às várias

tentativas de contato.

Dos 22 docentes indicados pelos coordenadores, dois recusaram-se a participar

do estudo alegando falta de tempo para a entrevista. Ao final, foram realizadas 20

entrevistas com os docentes, conforme o quadro a seguir:

Entrevistas- Cursos / número de docentes

CURSO N° DE DOCENTES

ENTREVISTADOS

UNIVERSIDADE DE

INSERÇÃO DOS DOCENTES

EDUCAÇÃO FÍSICA 5 UFRJ (1)

UFRRJ (2)

UERJ (1)

UFF (1)

ENFERMAGEM 10 UFRJ (3)

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19

UNIRIO (2)

UFF (5)

NUTRIÇÃO 5 UFRJ (3)

UNIRIO (2)

Outra fonte de produção de dados para a pesquisa foram os próprios sites

institucionais e os documentos neles disponíveis. Através da consulta à página

eletrônica das universidades e dos cursos foi possível conseguir o contato dos

coordenadores e também conhecer os currículos, o Projeto Político Pedagógico, as

disciplinas e outros documentos e informações referentes ao tema em foco.

Instrumentos, técnicas de pesquisa e perspectiva analítica

As técnicas de pesquisa utilizadas nesta pesquisa foram a entrevista, e a consulta

ao currículo lattes dos docentes e outros documentos que se constituíram em fontes ricas

e estáveis de dados além da elaboração de diário de campo.

O diário de campo, forma de registro de observações, comentários e reflexões

para uso individual do pesquisador, foi utilizado para registros de atividades de

pesquisas facilitando a observação, a descrição e reflexão acerca dos acontecimentos

mais significativos. A ferramenta propiciou uma constante revisão dos dados e permitiu

ainda perceber as dificuldades e limitações da pesquisa, contribuindo para a qualificação

de suas ações.

A análise dos currículos lattes, fonte importante de informação para a pesquisa,

foi utilizada amplamente para o conhecimento das informações referentes aos sujeitos

da pesquisa, tais como: formação profissional, produção acadêmica, participação em

bancas e outras atividades e projetos.

A entrevista é uma técnica que permite o desenvolvimento de interação entre as

pessoas, ao colocá-las face a face. Na pesquisa social, a entrevista recobre uma série de

modalidades técnicas e pode ser dividida em dois grandes grupos: entrevista estruturada

através de questionários (dirigidas) e entrevistas semiestruturadas ou não estruturadas

(não dirigidas)36

. Nesta pesquisa foi realizada a entrevista semiestruturada, a partir da

elaboração do roteiro de temas que foram tratados. Tal roteiro serviu de orientação, de

baliza para o pesquisador, e abordou os seguintes temas:

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20

Roteiro de entrevistas

Temas

Perfil docente Dados socioeconômicos e demográficos

Formação básica

Titulação

Tipo e tempo de vínculo institucional

Cargos ocupados

Participação em programas de pós-

graduação, bancas, pertencimento a

comissões

Linha de pesquisa

Orientação e Formação de RH

Estrutura e conteúdo curricular das

atividades acadêmicas

Políticas públicas de atenção aos idosos

Doenças e agravos prevalentes

relacionados ao envelhecimento

Questões socioculturais relacionadas ao

envelhecimento

Concepções sobre inserção da temática

Saúde do Idoso na formação profissional

em saúde

Relevância da temática para a formação

profissional

Conhecimentos, habilidades e

competências necessárias à formação em

saúde

Motivos da presença ou ausência de

conteúdos e práticas referentes à saúde do

idoso

O tratamento dos dados produzidos com as entrevistas foi realizado a partir da

análise temática proposta por Bardin por Minayo36

, que consiste em descobrir os

núcleos de sentido que compõem uma comunicação, cuja presença ou frequência

signifique alguma coisa para o objeto analítico visado.

Buscou-se aqui abordar em linhas gerais os aspectos metodológicos do presente

estudo. No entanto, nos três artigos que compõem a tese serão apresentados os métodos

distintos, descritos com mais detalhamento.

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21

CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

O projeto desta tese foi qualificado em 28/03/2014 e inserido na Plataforma

Brasil em 06/04/2014, recebendo o CAAE número: 30359414.5.0000.5240, tendo sido

avaliado e aprovado pelo CEP da Ensp/Fiocruz através do parecer Nº 699.936 de

25/06/2014, cumprindo todas as exigências estabelecidas pela legislação específica

envolvendo seres humanos.

Por meio da Plataforma Brasil, base nacional e unificada de registros de

pesquisas envolvendo seres humanos para todo o sistema CEP/Conep, foram inseridas

as autorizações para a realização da pesquisa nas seguintes instituições: Escola de

Enfermagem Ana Nery, da UFRJ; Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa, da

UFF; Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, da UNIRIO; Faculdade de Enfermagem da

UERJ; Escola de Educação Física e Desporto da UFRJ; Instituto de Educação Física da

UERJ; Departamento de Educação Física da UFF; Escola de Educação Física da

UFRRJ; Instituto de Nutrição Josué de Castro, da UFRJ; Escola de Nutrição da

UNIRIO; Faculdade de Nutrição Emília de Jesus Ferreiro, da UFF; Instituto de Nutrição

da UERJ; Faculdade de Medicina da UFRJ e Faculdade de Ciências Médicas da UERJ.

Apesar das autorizações, não foi possível operacionalizar as entrevistas em todas

as instituições.

A divulgação dos resultados deste estudo para a comunidade científica, bem

como para os sujeitos de pesquisa, será realizada por meio da publicação de artigos

científicos e de apresentação de trabalhos em congressos, seminários, encontros sobre a

temática de pesquisa e outros eventos tecnocientíficos.

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22

REFERÊNCIAS

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ARTIGO 1

A abordagem do envelhecimento na formação universitária dos profissionais de

saúde: uma revisão integrativa

The approach of aging in higher education of health professionals: an integrative

review

Título curto: A abordagem do envelhecimento na formação universitária

Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., Rio de Janeiro, 2015; 18(2):417-431

RESUMO

O objetivo deste artigo foi identificar, com base na literatura, como a saúde do idoso e o

envelhecimento têm sido abordados na formação universitária dos profissionais de

saúde e o que vem sendo considerado relevante nesta temática. Trata-se de um estudo

de revisão integrativa em que foi realizada busca por artigos nas bases de dados

PUBMED/ MEDLINE, LILACS, IBECS E SCIELO. Os aspectos discutidos na

literatura foram: os requisitos e as competências necessárias para a atenção de qualidade

aos idosos; as atitudes didáticas e as práticas formativas relacionadas ao tema “saúde do

Idoso”; a forma e disposição dos conteúdos ofertados acerca do envelhecimento na

formação profissional; a avaliação do ensino por parte de docentes, discentes e egressos

e os processos de implementação dos cursos de Gerontologia. Considerando os estudos

nacionais e internacionais, as discussões acerca do tema, de forma geral, foram

similares. Os conteúdos e práticas considerados relevantes à formação foram os

assuntos mais investigados e os enfermeiros e médicos os profissionais que mais

pesquisaram o tema.

Descritores: Educação Superior, envelhecimento, saúde do idoso, idoso.

ABSTRACT

This article aimed to identify, from the literature, how the health of the elderly and

aging have been addressed in the education of health professionals and what has been

considered relevant to this theme. This is an integrative literature review carried out

searching for items from PUBMED/MEDLINE, LILACS, IBECS and SCIELO

databases. The issues discussed were the requirements and skills needed for quality care

for the elderly, didactic training practices and attitudes related to the theme, the form

and arrangement of the content offered on aging in vocational training, assessment of

teaching and students and implementation processes of Gerontology courses.

Considering the national and international studies, we have noticed that discussions

about the subject were similar. The contents and practices considered relevant on

training were the most investigated aspects. Nurses and physicians were most likely

researching the topic.

Key words: Higher education, Aging, Healt of the Elderly, Elderly

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INTRODUÇÃO

A transição demográfica e epidemiológica são fenômenos mundiais que

precisam ser considerados na formação do profissional da saúde. É necessário que o

envelhecimento em sua complexidade seja incluído nos currículos das diversas

graduações da área e que o conteúdo abordado na formação dos profissionais enfoque

mais do que as doenças comuns ao envelhecimento e contemple, entre outros, aspectos

sociais e políticas públicas direcionadas aos idosos. No Brasil a adequação curricular é

mencionada na atual Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), vigente no

país desde 2006.1 A PNSPI é resultado da reformulação de políticas anteriores

direcionadas aos idosos implementadas no país principalmente a partir da década de

1990.

Especificamente acerca da interface saúde-educação, a PNSPI preconiza entre

outros aspectos, a adequação de currículos, metodologias e material didático de

formação de profissionais na área da saúde visando ao atendimento a suas diretrizes e o

incentivo à criação de Centros Colaboradores de Geriatria e Gerontologia nas

instituições de ensino superior que possam atuar de forma integrada com o Sistema

Único de Saúde (SUS). Busca-se, desta forma, valorizar a formação dos profissionais

de saúde, preconizando a abordagem de conteúdos e práticas referentes ao

envelhecimento em todos os níveis da formação e, especificamente no que se refere à

graduação, a PNSPI reafirma esta necessidade.

Nesse contexto, questiona-se como tem se dado o ensino da saúde do idoso e do

envelhecimento em cursos superiores da área de saúde e em que medida se tem

reconhecida a importância de tais temas na formação.

O objetivo deste artigo foi identificar, a partir da literatura existente, como a

saúde do idoso e o envelhecimento têm sido abordados na formação universitária dos

profissionais de saúde e o que vem sendo considerado relevante em relação a essa

temática.

MÉTODO

Trata-se de estudo de revisão de literatura em que foi realizada busca por artigos

em português, inglês, francês e espanhol nas bases de dados PUBMED/MEDLINE,

LILACS, IBECS e no SCIELO.

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Na base PUBMED/MEDLINE as palavras Gerontology e aging foram inseridas

no campo MeSH terms usando-se entre elas o operador booleano or e em seguida a

palavra curriculum precedida pelo operador booleano and foi inserida no campo MeSH

terms. Considerando-se os resultados referentes a humanos, publicados entre os anos de

2003 a 2013 sob a forma de artigos científicos nos idiomas inglês, português, espanhol

ou francês, chegou-se ao resultado inicial de 333 artigos. Estes foram submetidos

inicialmente ao critério de inclusão de estar disponível online em texto integral com

acesso livre e gratuito. Dessa forma, chegou-se ao total de 44 artigos que, por meio da

leitura dos títulos e resumos, foram submetidos ao critério de inclusão de enfocar a

formação profissional no nível universitário. Com base nesses critérios foram então

selecionados nesta busca 16 artigos, todos em inglês.

Na base LILACS as palavras “Gerontologia” e “envelhecimento” foram

inseridas no campo “descritor de assunto” usando-se entre elas o operador booleano or e

a palavra currículo foi inserida no campo “palavras” precedida pelo operador booleano

and. Foram encontradas 81 referências, que foram submetidas aos mesmos

procedimentos e critérios utilizados na base Pubmed/ Medline. Dessa forma foram

selecionados na busca, 26 artigos, todos em português.

A busca na base IBECS foi realizada com os mesmos critérios da base LILACS,

obtendo-se como resultado inicial oito artigos em espanhol. Destes apenas dois

atenderam aos critérios de inclusão estabelecidos e foram selecionados.

No SCIELO utilizando-se o formulário avançado as palavras “Gerontologia” e

“envelhecimento” foram inseridas no campo “palavra chave” usando-se entre elas o

operador booleano or e a palavra “currículo” foi inserida no campo “todos os índices”

precedida pelo operador booleano and. Foram encontradas somente três referências que

já constavam na base Lilacs.

Com base nesses resultados chegou-se ao total de 44 artigos que fizeram parte

do presente estudo. As teses, dissertações, monografias e documentos de projetos e

artigos em outros idiomas que não os já mencionados foram descartados.

De acordo com os conteúdos, os artigos selecionados foram assim categorizados:

1) requisitos e competências necessárias para a atenção de qualidade aos idosos- artigos

que enfocam os atributos necessários que deveriam estar incluídos na formação

universitária de profissionais da saúde visando a atenção de qualidade aos idosos; 2)

forma e disposição dos conhecimentos acerca do envelhecimento na grade curricular-

artigos que têm por objetivo principal abordar as diversas formas em que o tema

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“envelhecimento” está incluído na formação universitária de profissionais da saúde, seja

por meio de de projetos, disciplinas obrigatórias e outras ações; 3) avaliação do ensino

por parte de docentes, discentes e egressos- artigos que divulgam resultados de

pesquisas de avaliação do ensino de conteúdos referentes ao envelhecimento na

formação universitária de profissionais da saúde; 4) atitudes didáticas e práticas

formativas- artigos que abordam diversas práticas didáticas e experiências inovadoras

referentes à formação universitária de profissionais da saúde; 5) implementação dos

cursos de graduação em Gerontologia- artigos que versam sobre os cursos de graduação

em Gerontologia.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os artigos encontrados eram referentes a diferentes profissões da área da saúde:

Enfermagem, Medicina, Terapia Ocupacional, Odontologia, Educação Física, Farmácia,

Serviço Social e Gerontologia. As duas primeiras e a última foram as áreas relacionadas

à maioria dos artigos aqui analisados. Foram encontrados dez estudos que afirmam a

relevância de formação específica dos profissionais da saúde em geral para a atenção ao

idoso, sem ênfase numa categoria profissional específica, sendo, portanto, estudos que

envolvem mais de uma profissão. Foram analisados 24 artigos nacionais e 20

internacionais (15 dos EUA, dois da Espanha, um de Portugal, um de Cuba e um do

Paquistão). O ano com maior número de publicações foi 2009.

No que se refere às publicações nacionais, verifica-se que ao longo dos anos o

quantitativo de artigos foi crescente, principalmente a partir de 2006, o que está

relacionado a reformulações nas políticas públicas direcionadas ao idoso. Essas

passaram a focar a promoção da saúde e a atenção básica, o que exige reflexão acerca

da formação. Por outro lado, a implementação das diretrizes curriculares teve um papel

importante na avaliação dos diversos cursos superiores da área por parte do Ministério

da Educação, sendo este um fator que contribui para a maior atenção da academia em

relação ao tema. Observa-se aumento no volume das publicações em período mais

recente, principalmente a partir do ano de 2009.

Os artigos eram resultado de pesquisas originais, relatos de experiências, análise

documental, estudos teóricos e descrição de projetos pedagógicos de cursos de

graduação em Gerontologia (Tabela 1).

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Tabela 1: Distribuição de artigos de acordo com o tema principal, método, categoria

profissional, periódico e país de origem PUBMED, LILACS E SCIELO 2004-2013

Requisitos e competências necessárias à formação para a adequada atenção aos

idosos

Os requisitos e competências necessárias à formação profissional para a atenção

de qualidade aos idosos foram enfocados por 14 dos estudos analisados, 11 nacionais e

três internacionais.

Morgan2 em seu estudo acerca do que é relevante para ser estudado em sala de

aula, tendo em vista as questões-chave em Gerontologia, indica dois paradigmas

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emergentes, o biopsicossocial e do ciclo de vida, este mais relacionado às ciências

sociais e do comportamento. O primeiro capta um elemento essencial da Gerontologia

que é o cruzamento de fronteiras disciplinares para ampliar a compreensão do

envelhecimento e da vida adulta. O segundo foca as transições e trajetórias ao longo da

vida como um desenvolvimento temporalmente dinâmico e essencial com influências

sobre o envelhecimento humano. Para o autor a questão primordial é fazer o aluno

extrair dos paradigmas, a partir de seus limites e pressupostos, ferramentas capazes de

construir novos conhecimentos na direção de uma abordagem interdisciplinar.

Biz e Maia3 conseguem sintetizar o que, segundo os estudos analisados, seria o

perfil do profissional desejado para o cuidado ao idoso. Este deve ser pautado no

desenvolvimento de competências em múltiplas dimensões que envolvem: o

conhecimento da fisiologia e da fisiopatologia do envelhecimento humano; a conduta

resolutiva diante das principais doenças que afetam os idosos; a concepção de saúde na

sua dimensão biopsicossocial e não apenas como um distúrbio biológico; os aspectos

éticos e o relacionamento com a equipe multiprofissional, numa perspectiva de

integralidade.

A relevância do conhecimento da fisiologia e da fisiopatologia do

envelhecimento humano tal como indicado por Biz e Maia3 foi aspecto abordado

inclusive por outros autores. Segundo Câmara et al4 a formação médica não tem

contemplado adequadamente aspectos básicos sobre a fisiologia e prescrição de

exercícios físicos em geral, já que a formação generalista não têm abrangido aspectos

atuais relacionados à fisiologia do exercício e prescrição de atividades físicas

direcionadas para a população idosa. Os autores consideram de grande importância os

conhecimentos sobre o tema, possibilitando que mais indivíduos possam se beneficiar

com segurança da prática regular de atividade física, julgada essencial para

independência e qualidade de vida da população idosa.

Motta e Aguiar5 alertam para o fato de que conceitos específicos da

Gerontologia como síndromes geriátricas, reabilitação, fragilidade, independência

(capacidade de executar tarefas sem ajuda) e autonomia (capacidade de

autodeterminação) não constam habitualmente nos conteúdos da graduação, mas são

operacionais para a proposição de condutas adequadas. Para as autoras, os profissionais

recém-egressos das faculdades não dispõem de competências mínimas para

operacionalização da concepção ampliada de saúde na atenção aos idosos, o que

implicaria, entre outros fatores, identificação precoce das situações de risco para a

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fragilização, isto é, risco de perda de autonomia e independência, na utilização de

medidas preventivas e de suporte, e na prática do trabalho em equipe.

Sobre a fragilidade no envelhecimento, os estudos indicam que os profissionais

mencionam critérios diferentes para definir fragilidade, incluindo: vulnerabilidade,

incontinência urinária, sarcopenia, dependência nas atividades de vida diária,

problemas familiares, demência, perda do sentido da vida, redução do bem-estar

subjetivo, perda de pessoas queridas, institucionalização, déficit cognitivo, doenças,

sintomas depressivos, condição socioeconômica desfavorável e solidão. Os resultados

indicaram que não houve consenso sobre os critérios para identificar os idosos frágeis.6,7

De acordo com Huber et al8 para cuidar do envelhecimento da população que

sofre de várias doenças crônicas e incapacidades, é necessário um bom conhecimento da

avaliação funcional, e este tema deve ser abordado no currículo. O autor relata a sua

experiência em um seminário de avaliação funcional que envolveu estudantes de

diversas categorias profissionais. A conduta resolutiva diante das principais doenças que

afetam os idosos, apontado como uma das competências necessárias aos profissionais é

destacada por dois dos estudos analisados.9,10

Pioltini et al9 entrevistaram médicos de diferentes especialidades, Neurologia,

Psiquiatria e Geriatria e Medicina Geral, com objetivo de analisar as atitudes desses

profissionais de diferentes áreas de formação frente à incapacidade de pacientes com

doença de Alzheimer e sua competência para interferir com autonomia para tomada de

decisões. O estudo considerou evidente a falta de informações sobre aspectos legais e

éticos relacionados aos tutores e cuidadores dos idosos. O autor sugere que “aspectos

jurídicos” é um tema que deveria ser incorporado na formação profissional, a fim de

melhorar as atitudes em relação à gestão em longo prazo de pacientes com demência.

Conhecer sobre as características de transtornos cognitivos e demências na

clínica privada de especialistas e o preparo dos médicos nessa área foram objetivo do

estudo de Vale,10

que aplicou questionário de autoavaliação a 196 neurologistas

brasileiros do Estado de São Paulo e, apesar de as demências representam uma

proporção significativa na clínica privada desses especialistas (principalmente

Alzheimer e do tipo vascular), eles responderam não ter recebido boa formação em

transtornos cognitivos e demências. O autor considera necessária a incorporação de

medidas visando à melhoria do preparo do médico especialista para o atendimento

daqueles quadros clínicos.

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34

Segundo Viana et al,11

o acolhimento ao idoso em sua dimensão biopsicossocial

é visto como fundamental. Nesse sentido a relação médico-paciente assume papel de

destaque. Há uma pluralidade de contextos de encontros e uma diversidade de formas de

relação médico-paciente idoso. Assim, deve-se buscar a articulação do conhecimento

biomédico ao sistema de representações populares referentes à saúde-doença. Os

autores ressaltam a importância de uma formação que possibilite o nascimento de uma

nova imagem desse profissional, no caso o médico, responsável pela efetiva promoção

da saúde, ao considerar o paciente idoso em sua integridade física, psíquica e social, e

não somente do ponto de vista biológico.

Cuidados paliativos, finitude e morte são em geral temas relacionados ao

envelhecimento e não deixaram de ser indicados como importantes conteúdos a serem

trabalhados na formação. Destaca-se que os acadêmicos, neste caso de Enfermagem,

sentem-se despreparados para lidar com a morte, demonstrando certa angústia,

insegurança ao falar sobre o assunto. Atribuiu-se isto ao fato da discussão desta temática

não ser frequente durante a graduação. Os autores entendem que a criação de espaços

para autoconhecimento, sensibilização e reflexão sobre o tema nas universidades

possibilitaria a formação de profissionais não só capacitados para assistir a vida visando

à reabilitação ou a cura, mas também preparados para lidar com a morte.12,13

Em relação aos aspectos éticos, referidos como importantes na formação dos

profissionais, alerta-se que o impressionante crescimento da tecnologia na Medicina foi

sendo assimilado de maneira inadequada na prática profissional, pois originalmente

complementares, os métodos de semiologia armada transformaram-se em

procedimentos essenciais para a realização de qualquer diagnóstico.14

Faz-se necessário,

portanto, dentre outras medidas, introduzir com maior ênfase temas de bioética na grade

curricular dos cursos médicos.14

No sentido de assegurar que compentências necessárias ao cuidado adequado ao

idosos fossem abordados nos cursos de graduação, Thornlow et al15

relatam em seu

estudo o processo de desenvolvimento de protocolos realizado pela Associação

Americana de Faculdades de Enfermagem visando assegurar que os formandos das

universidades americanas estejam preparados para prestar cuidados eficientes para os

mais velhos. Estudos relacionados às áreas da Medicina e Enfermagem foram os mais

frequentes sob este aspecto.

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35

Forma e disposição dos conhecimentos acerca do envelhecimento na formação

Os conteúdos e práticas relacionados ao envelhecimento podem estar disponíveis

de diversas formas na formação dos profissionais de saúde, seja por meio de disciplinas

específicas de Geriatria ou Gerontologia, outras disciplinas ao longo do curso e ainda

por meio de projetos de pesquisa ou de extensão.

Xavier e Koifman,16

em seu estudo sobre a inclusão de diretrizes da Política

Nacional de Saúde da Pessoa Idosa nos cursos da área de saúde da Universidade Federal

Fluminense identificaram que dos 11 cursos da área de saúde que a universidade possui,

apenas os de Enfermagem e Medicina possuem disciplinas relacionadas ao

envelhecimento na modalidade obrigatória e os cursos de Educação Física, Odontologia

e Serviço Social apresentavam tais disciplinas na modalidade optativa.

O estudo de Leite et al17

destaca que 10% dos 74 profissionais entrevistados em

sua pesquisa mencionaram que receberam conteúdos relativos à Geriatria, Gerontologia

ou envelhecimento em disciplinas que não possuíam o objetivo único de tratar desses

temas, tais como Saúde Coletiva, Saúde do Adulto, Saúde da Comunidade e

Enfermagem Clínica-Cirúrgica. No entanto, segundo o estudo, 60% dos entrevistados

de nível superior contaram com esse componente curricular na forma de disciplinas

específicas.

Jiménez Díaz et al18

realizaram um estudo descritivo dos currículos dos cursos

de graduação em Enfermagem, Medicina, Fisioterapia, Serviço Social, Terapia

Ocupacional e Educação Física nas universidades espanholas e concluíram que apenas

os cursos de Enfermagem e Terapia Ocupacional possuíam disciplinas com tema central

relacionado ao envelhecimento.

A importância de se ter uma disciplina específica no tema pode ser constatada

no estudo de Guarniere et al,19

destacando que a existência da disciplina intitulada

“Enfermagem em Saúde do Idosos” obrigatória aos alunos do terceiro ano da graduação

em Enfermagem da Faculdade de Medicina do ABC foi o que despertou nos alunos o

interesse no tema e possibilitou a criação e implantação de um projeto de extensão

universitária com foco na promoção da saúde. Segundo os autores o envolvimento no

projeto de extensão facilita o interesse dos alunos para a especialização na área.

Sobre o mesmo assunto, Garuffi et al20

apresentam a experiência bem sucedida

de um projeto de extensão universitária envolvendo estudantes de graduação que, por

meio da prática de atividade física com doentes de Alzheimer, mostrou resultados

favoráveis no que se refere aos sintomas progressivos da doença.

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36

Falcão et al21

destacam a contribuição da Psicologia nas ações de ensino,

pesquisa e extensão do curso de graduação em Gerontologia da Universidade de São

Paulo (USP). Segundo os autores, o eixo psicológico é um dos três eixos estruturantes

do curso de graduação em Gerontologia da instituição. As contribuições da Psicologia

no curso de graduação em Gerontologia iniciam-se no ciclo básico, já no primeiro

período do curso e em todos os semestres da graduação há disciplinas de Psicologia. As

autoras mencionam, no estudo, as ações do grupo de pesquisadoras da área em projetos

de iniciação científica, atrelando-os, muitas vezes, às atividades de extensão realizadas.

As linhas de pesquisas desenvolvidas e mencionadas no estudo são as seguintes:

Envelhecimento Cognitivo e Plasticidade; Envelhecimento, Família, Relações Sociais e

Promoção da Saúde; Envelhecimento Bem-Sucedido e Educação.

Avaliação do ensino por parte de docentes, discentes e egressos

A avaliação dos discentes, docentes e profissionais acerca da formação adequada

para o cuidado ao idoso a qual foram submetidos na graduação foi tema de dois estudos

nacionais e quatro internacionais analisados.

Em pesquisa sobre a visão de 55 discentes de sete cursos de Enfermagem nas

universidades públicas de Minas Gerais acerca do ensino de Gerontologia e sua

contribuição do para a vida profissional, os discentes relataram acréscimo de

conhecimento e suporte para o desenvolvimento da assistência de enfermagem ao idoso.

Desse modo, constata-se que os discentes valorizam o conhecimento científico e o

considera base para um bom planejamento da assistência. Além disso, os alunos

relataram aumento do interesse pela área do envelhecimento e maior visualização da

perspectiva profissional na atenção aos idosos.22

A formação profissional em Gerontologia foi objeto de reflexão dos terapeutas

ocupacionais. Almeida et al23

realizaram uma pesquisa exploratória e descritiva com

egressos do Curso de Terapia Ocupacional da USP, para identificação de possíveis

contribuições da graduação para a atuação com pessoas idosas. Segundo o estudo, os

principais desafios relatados pelos participantes são o desconhecimento da Terapia

Ocupacional por outros profissionais, a diluição do discurso desse profissional no

discurso gerontológico e a superação da escassez de recursos para intervenções. Para

enfrentar os desafios, os egressos referiram recorrer à formação complementar, ao

contato com profissionais de outras áreas e à reflexão sobre a própria prática

profissional. Parte das estratégias adotadas pelo curso de Terapia Ocupacional da USP

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37

na área de Gerontologia- adequação de carga horária para formação, disciplinas

específicas e articulação teórica-prática é abordada em mais um estudo dos autores.24

O interesse dos odontólogos por uma formação mais adequada ao atendimento

de qualidade ao idoso pode ser constatado no estudo de Saintrain et al25

que

pesquisaram a Odontogeriatria no currículo de 17 cursos de Odontologia situados na

Região Norte e Nordeste do Brasil. Os autores constataram que a Odontogeriatria como

disciplina ou conteúdo, está ausente do currículo em dois terços dos cursos de

Odontologia pesquisados e os conhecimentos são geralmente transmitidos pela

disciplina Prótese Dentária. Segundo o referido estudo, para uma parcela expressiva de

alunos, nenhuma formação teórico-prática na área foi oferecida pelo curso, apesar de ser

expressiva a perspectiva do concluinte em trabalhar com idosos.

Sabzwari et al26

discutem o desenvolvimento do primeiro currículo com

conteúdos específicos de Geriatria em uma escola médica do Paquistão e seu efeito

sobre o conhecimento e as atitudes dos estudantes de Medicina do terceiro ano. O

currículo foi concebido seguindo o modelo interdisciplinar e com abordagem baseada

na resolução de problemas. Segundo os autores todos os alunos estavam satisfeitos com

a qualidade do ensino no tema, com 90% da avaliação como bom ou superior. Estus et

al27

descreveram a elaboração, implementação e avaliação de um curso eletivo de

Farmacoterapia geriátrica enfatizando uma abordagem centrada no paciente e em

estratégias ativas de aprendizagem. A avaliação dos alunos a respeito do curso foi

positiva e eles concordaram que as habilidades aprendidas foram importantes para o seu

sucesso nas experiências práticas de Farmácia.

As atitudes de 93 estudantes de Medicina do quinto período da Universidade de

Salamanca no que se refere à abordagem de pessoas idosas foi estudada por Bernardini

et al28

por meio da aplicação de questionário no início e no final da disciplina de

Geriatria. Os autores concluíram que a exposição aos conhecimentos e práticas baseadas

na atenção e cuidado de pessoas idosas modificaram positivamente as atitudes dos

estudantes de Medicina.

Observou-se na revisão de literatura que os três estudos internacionais26,27,28

apresentam resultados mais favoráveis, mas se referem a casos específicos e

experiências cincunscritas, enquanto que os três estudos nacionais,22,23,24

apesar de

apresentarem resultados menos favoráveis, apresentam enfoque parecem mais

abrangentes.

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38

Atitudes didáticas e práticas formativas

De acordo com Karasik29

apesar das tendências demográficas favoráveis a uma

ampla gama de oportunidades de emprego relacionadas ao cuidado e assistência ao

idoso e maior segurança no mercado de trabalho, o envelhecimento é raramente a

primeira escolha dos estudantes quando se trata de escolhas de carreira. O autor destaca

o papel das estratégias de ensino como importante para motivar os alunos em relação à

atuação com idosos.

Algumas diferentes estratégias podem ser consideradas como formas potentes no

sentido de melhor aproveitar as experiências didáticas relacionadas ao envelhecimento e

foram abordadas por estudos internacionais. Schafer30

relata o uso de Tai Chi chuan

como estratégia de ensino na qual os estudantes relataram insights sobre o processo de

envelhecimento, comparando e contrastando os seus movimentos com os dos adultos

mais velhos.

Alguns estudos destacaram as narrativas como estratégia de atenção aos idosos,

e os autores relatam que os fragmentos narrativos fornecem ampla informação sobre as

experiências, valores e aspectos da vida dos idosos que podem ser usados para ajudar os

alunos a compreender os conceitos-chave sobre o envelhecimento e da aborgagem do

curso de vida.31,32

Shapiro Cho33

e Sutin et al34

abordaram o papel do teatro no ensino de disciplinas

relacionadas a questões do envelhecimento. O primeiro destaca que o teatro é uma

forma inovadora e simples de ajudar os estudantes de Medicina na reflexão e discussão

de temas difíceis, como os estereótipos de envelhecimento, invalidez e perda de

independência, sexualidade, vida assistida, os relacionamentos com adultos e crianças e

as questões de fim de vida. O segundo usa o teatro para ajudar os alunos no uso de

testes padronizados visando identificar os principais problemas funcionais dos idosos.

As atitudes didáticas, no que se refere à disciplina relacionada ao

envelhecimento em graduação de Medicina, foi tema da pesquisa de Reye Mediaceja

at al,35

a fim de implementar uma estratégia para a melhoria da processo de formação de

futuros médicos em Santiago de Cuba. A estratégia foi realizada em três etapas: a

primeira, sensibilização e diagnóstico, a segunda de planejamento e treinamento, e a

terceira de implementação e avaliação (cada etapa inclui objetivos, ações, formas e

resultados esperados). Para os autores, a estratégia de organização da disciplina é um

processo dialético que permite diferentes ações na formação do profissional para o

desenvolvimento de competências na área de Gerontologia e Geriatria.

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39

Práticas de cuidado em Enfermagem desenvolvidas nas unidades de saúde são

entendidas e descritas como experiências formadoras por Moniz.36

Os enfermeiros

mobilizam diversos recursos formativos ao longo das suas experiências práticas com

pessoas idosas. Para o autor, trata-se de compreender os processos de formação dos

enfermeiros por meio do significado e expressões que eles conferem às suas

experiências de prestadores de cuidados a pessoas idosas. O mesmo destaca as

experiências práticas com idosos como meio no qual cada um vai adquirindo,

descobrindo e desenvolvendo novas competências.

A importância da interdisciplinaridade na formação e sua inclusão no currículo

foram relatadas nos estudos de Demiris37

e Lam.38

O primeiro descreve uma abordagem

educacional interdisciplinar, a chamada “Gerontechnology” descrita pelos autores como

um novo campo interdisciplinar que se concentra no uso de tecnologia para suportar o

envelhecimento. O autor destaca como o currículo promove a colaboração de disciplinas

dos cursos de Enfermagem, Engenharia, Ciências da Computação e Administração. O

segundo estudo relata a experiência do curso de Farmácia em programas que oferecem

atividades para que os alunos alcancem competências interprofissionais. Os programas,

com a supervisão de preceptor, estabelecem planos curriculares que são implementados

mediante resolução de desafios.

Kolb39

descreve o uso da Writing Across the Curriculum- WAC - metodologia

de ensino-aprendizagem que enfatiza a importância da escrita como ferramenta de

ensino nas diversas disciplinas- em uma disciplina sobre envelhecimento no curso de

Serviço Social. Segundo o autor, quando os alunos começam a escrever suas reações à

informação, sua compreensão e retenção da informação melhoram e a escrita pode

facilitar a aplicação do novo conteúdo a própria vida e interesses dos aluno. Segundo o

autor o uso da técnica em questão resultou na melhoria das habilidades de escrita e

facilitou o desenvolvimento do conhecimento sobre a prática gerontológica e teorias

sociológicas.

Implementação dos cursos de gradução em Gerontologia

Os cursos de graduação e bacharelado em Gerontologia tem como foco a com-

preensão dos fenômenos que acompanham o envelhecimento humano, formando

profissionais específicos, os gerontólogos. O processo de implementação desses cursos

em diferentes universidades é descrito em distintas publicações, que incluem as

disciplinas que compõem o referido currículo, o perfil do egresso desejado, a

organização dos estágios, entre outros. De forma geral a ênfase está na promoção do

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40

envelhecimento ativo e saudável e no monitoramento das condições sociais e de saúde

dos idosos.40,41,42,43

As quatro publicações nacionais40,41,42,43,44

encontradas relacionadas à área de

Gerontologia limitaram-se a apresentar os projetos dos cursos. A graduação em

Gerontologia foi implantada no país em 2005 e apesar do fato de gerontólogos terem

sido formados no período considerado pelo presente estudo, observou-se ausência de

artigos publicados em revistas indexadas versando sobre a formação profissional. A

exceção foi o estudo de Falcão21

et al que como já referido, aborda a contribuição da

Psicologia na formação do gerontólogo.

Dois estudos internacionais44,45

abordam a accreditation dos cursos de

Gerontologia, as habilidades profissionais e a empregabilidade dos gerontologos

diplomados. Segundo Haley et al44

, de acordo com os critérios norte americanos, a

Gerontologia ainda carece de muitos elementos necessários para a creditação

profissional, incluindo escopo definido de práticas, currículo corpo docente com

profissionais adequados. Para Pelham et al45

a accreditation de programas de

Gerontologia, dos diplomados em Gerontologia, e o emprego de gerontólogos

profissionais deve ser realizado pela Associação Americana de Gerontologia no Ensino

Superior.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A abordagem do envelhecimento na formação universitária dos profissionais de

saúde vem sendo mais investigada sobretudo no que se refere aos conteúdos e práticas

considerados relevantes a formação. Esse aspecto foi enfocado pela maioria dos artigos

analisados, especialmente se considerarmos as publicações nacionais.

As discussões acerca do tema de uma forma geral são similares nos estudos

nacionais e internacionais, mas não acerca das atitudes didáticas e práticas formativas

que foram aspectos discutidos apenas nos estudos internacionais, indicando que no

Brasil os docentes da área não costumam ou têm dificuldade de publicar o resultado de

suas experiências didáticas. Há distinções também no que se refere aos cursos de

Gerontologia pois as publicações nacionais restringem-se a descrever os processos de

implementação dos cursos, enquanto as internacionais tratam da accreditation e

avaliação dos mesmos e analisam a profissão do gerontólogo, o que demosntra, de certa

forma, um estágio mais adiantado do curso e da profissão nos Estados Unidos em

relação ao Brasil.

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41

Apesar de esse estudo ter enfocado a formação universitária, considera que a

formação para o enfrentamento das questões referentes ao envelhecimento populacional

não se restringe à graduação. A formação compreende níveis educacionais anteriores à

graduação e avança para a educação permanente e continuada.

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45

ARTIGO 2

A posição de docentes envolvidos com a temática “Saúde do Idoso” nas

graduações da Saúde

The position of teachers involved with the “Elderly Health” theme in health

undergraduate courses

RESUMO

O objetivo deste artigo foi discutir a inserção da temática “Saúde do Idoso” na formação

em saúde, a partir da análise da posição de 22 docentes de três cursos de graduação que

contêm a atenção aos idosos em suas Diretrizes Curriculares Nacionais. A fonte

principal de informação foi o Currículo Lattes. Baseadas em Bourdieu, foram analisadas

as seguintes categorias: a titulação e posição dos professores no campo universitário; o

monopólio da autoridade e controle dos instrumentos de reprodução do corpo

professoral; o prestígio científico dos professores; homenagens e prêmios. Concluiu-se

que a temática é secundária na carreira dos docentes que atuam na área, de maioria

recém-doutora e com poucos credenciados em programas de pós-graduação stricto

sensu. Observou-se a busca de aproximação com as esferas de poder e investimento no

acúmulo de capital simbólico de notoriedade por parte desses agentes.

Palavras chave: Saúde do Idoso, Envelhecimento, Currículo, Profissões de Saúde,

Educação Superior

ABSTRACT

The purpose of this article was to discuss the inclusion of "Elderly Health" theme in the

education of health professionals from the analysis of the position of twenty-two

teachers of three graduation courses referring to the attention to the elderly in their

National Curriculum Guidelines. The main source of information was the Lattes

curriculum. Based on Bourdieu, the following categories were analyzed: the titration

and position of teachers at university field; the monopoly of authority and control of the

reproductive apparatus of teachers body; the scientific prestige of teachers; honors and

awards. It was concluded that the theme is secondary in the career of teachers working

in the area, most recently doctors and few people are accredited in post-graduation

studies programs. It was observed a search for rapprochement with power and

investment spheres in the accumulation of symbolic capital of notoriety by these agents.

Key words: Elderly Health, Aging, Curriculum, Health professions, Higher Education

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46

INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é uma tendência no século XXI e apresenta

implicações importantes para todos os domínios da sociedade. Em 2012, o número de

pessoas com sessenta anos ou mais era de 810 milhões, constituindo 11,5% da

população global, e a cada ano quase 58 milhões de pessoas atingem os sessenta anos1.

Na sociedade contemporânea o envelhecimento está comumente relacionado à

invalidez, aposentadoria, doença e dependência. A fim de contribuir com a superação

dessa visão, desde final dos anos 1990 a Organização Mundial da Saúde adotou como

orientador das políticas públicas no âmbito mundial o “envelhecimento ativo”, definido

como “processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança

com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais

velhas”2.

A abordagem do envelhecimento ativo baseia-se nos princípios de

independência, participação, dignidade, assistência e autorrealização. Ela reconhece os

direitos das pessoas mais velhas e a importância da participação política dessa parcela

da população e em outros aspectos da vida comunitária de acordo com seus desejos,

necessidades e capacidades, fortalecendo um novo paradigma que considera os idosos

como participantes ativos da sociedade2.

No que se refere às instituições de ensino superior, esse novo paradigma deveria

ser incorporado em disciplinas das diversas formações profissionais em saúde.

Contudo, nem sempre conteúdos referentes à “saúde do idoso” fazem parte dos

currículos das graduações da área de saúde, apesar de sua importância para a atuação

dos futuros profissionais.

Neste estudo se fez a opção pelo uso do termo “saúde do idoso” que inclui tanto

conteúdos referentes à Gerontologia quanto à Geriatria. A Gerontologia é compreendida

como campo de conhecimento interdisciplinar que visa investigar o envelhecimento

humano em sua perspectiva mais ampla, considerando os aspectos clínicos, biológicos,

psicológicos, sociais, culturais, econômicos e históricos. Já a Geriatria é direcionada à

promoção da saúde e ao tratamento de doenças e incapacidades entre os idosos 3.

A necessidade de adequar currículos, inserir conteúdos voltados para o processo

de envelhecimento dos indivíduos e populações e atenção à saúde nos diversos níveis de

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ensino formal e incluir a Gerontologia como disciplina curricular nos cursos superiores

da área da saúde é prevista no Brasil pela Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa4.

Nos últimos anos, os Ministérios da Educação e da Saúde têm investido em

aproximar as escolas de formação em saúde dos cenários de práticas, visando melhorar

a qualidade da assistência prestada5. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para

os cursos de graduação foram elaboradas, no Brasil, em meados da década de 1990 e

homologadas entre os anos de 2001 e 2004, a fim de orientar a elaboração dos

currículos das quatorze profissões de saúde visando, sobretudo, à consolidação do SUS.

A grande área da saúde compreende os seguintes cursos: Biologia, Biomedicina,

Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina,

Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Serviço Social e Terapia

Ocupacional3.

As Diretrizes Curriculares Nacionais propõem um perfil profissional com

formação geral, humanista, crítico e reflexivo, por meio de projetos pedagógicos

construídos coletivamente pelos diversos seguimentos envolvidos nas instituições de

ensino superior. De acordo com as diretrizes, as competências gerais desejadas para o

graduado nos cursos da saúde constituem elementos comuns da formação, que são

complementadas pelas competências específicas necessárias para cada curso/profissão6.

Entre os quatorze cursos da área de saúde, apenas os cursos de Educação Física,

Enfermagem, Medicina e Nutrição se referem diretamente ao envelhecimento ou ao

idoso em suas respectivas DCN.

Apesar das diretrizes curriculares, nem sempre esses cursos de graduação

ofereciam disciplinas específicas sobre o envelhecimento. Pesquisando-se as matrizes

curriculares dos cursos de graduação em Educação Física, Enfermagem, Medicina e

Nutrição nas cinco mais importantes universidades públicas do Rio de Janeiro,

constatou-se que apenas o curso de Educação Física de uma delas possui disciplina

obrigatória específica. Disciplinas intituladas “Enfermagem na Saúde do Adulto e do

Idoso” que, portanto, não abordam exclusivamente o tema, já que incluem os adultos,

foram encontradas na modalidade obrigatória em três das quatro universidades

pesquisadas que oferecem curso de Enfermagem. Não foram identificadas disciplinas

com tema central relacionado ao envelhecimento e saúde do idoso nos cursos de

Medicina e Nutrição em nenhuma das universidades pesquisadas.

A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa4 e as diretrizes curriculares dos

cursos pesquisados são favoráveis à inserção de professores com interesse no assunto,

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para que ampliem o espaço dessa temática nos currículos. No entanto, isso ainda não

parece acontecer.

Segundo a literatura, alguns aspectos dos conteúdos de saúde do idoso são

abordados, ainda que de maneira insuficiente, nos currículos dos cursos de

graduação7,8,9,10,11,12

. São exemplos desses conteúdos: fisiologia e prescrição de

exercícios físicos em geral7; síndromes geriátricas

8; critérios para se estabelecer a

fragilidade no envelhecimento8,9,10

; cuidados paliativos, finitude e morte11,12

.

A introdução limitada de conteúdos relacionados à saúde do isoso nos currículos

pode ser, em parte, explicada em razão da inserção dos agentes à ela relacionados no

campo universitário.

Considerando que fazem parte do campo universitário as faculdades, os

institutos, os departamentos, os professores das diversas áreas e suas produções teóricas

e empíricas, a proposta deste estudo é analisar, a partir das informações coletadas no

Currículo Lattes, a posição de 22 docentes relacionados à temática em três dos quatro

cursos de nível superior que fazem referências ao idoso em suas DCN.

A teoria de Bourdieu e o campo científico

Pierre Bourdieu nasceu na França, em 1930, e faleceu em 2002, no mesmo país.

Sua produção intelectual caracterizou-se por uma variedade de objetos e temas de

estudo, fazendo com que o autor se tornasse referência na Sociologia e na Antropologia,

através da publicação de trabalhos sobre educação, cultura, literatura, arte, mídia,

linguística e política. Bourdieu13

estudou a sociedade sob a lógica da distinção, aplicada

aos espaços sociais, e argumentava que há estruturas objetivas no mundo social que

podem coagir a ação dos indivíduos. Uma das questões mais importantes apresentadas

no seu pensamento é a análise de como os indivíduos incorporam a estrutura social,

legitimando-a e reproduzindo-a14

.

O modo como Bourdieu forma seus conceitos é característico. Os conceitos que

utiliza são sistêmicos, pressupõem uma referência permanente ao sistema completo de

suas inter-relações, ou seja, inferem uma teoria. Em vez de tomar conceitos consagrados

ou de depurar conceitos de uso comum, ele elabora novos conceitos a partir de termos

conhecidos. Com isso, não só ilumina segmentos obscuros do fenômeno social, como

renova conteúdos e traz luz nova ao que se pretendia conhecido e sabido15

.

Ao se colocar entre o subjetivismo, que desconsidera a gênese social das

condutas individuais, e o estruturalismo, que despreza a história e as determinações dos

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indivíduos, Bourdieu trabalha com agentes e não com sujeitos: em sua concepção,

agente é o ser que age e luta dentro do campo de interesses. Para ele, a ideia de interesse

é central à compreensão da realidade, assim como a noção de estratégia como

instrumento de ruptura com o ponto de vista objetivista e com a ação sem agente,

suposta pelo estruturalismo (que recorre, por exemplo, à noção de inconsciente).

Estratégia, para o autor, é produto do senso prático, que é a origem das práticas rituais

que estabelecem a coerência parcial em um determinado campo15

.

A Sociologia de Bourdieu forma um conjunto de noções e conceitos, entre eles,

habitus, campo, capital simbólico, poder simbólico e violência simbólica, os quais,

geralmente articulados, são empregados em diversos campos do conhecimento, sendo

os dois primeiros considerados os conceitos centrais de sua teoria.

Na saúde coletiva, o autor vem sendo utilizados em pesquisas sobre diferentes

temas, tais como aspectos históricos da constituição dos campos profissionais16,17

, apoio

e resistências às políticas públicas,18

prática dos trabalhadores em saúde19

e mudanças

na formação profissional20,21,22

. Montagner23

menciona o fato de que a rigor não há

estudos publicados por Bourdieu especificamente sobre a saúde ou sociologia médica e

que isso não impediu que sua teoria tenha aportado contribuições reais e também

potenciais para estudos nessas áreas.

Segundo Bourdieu, campo é um espaço de luta entre os agentes e instituições

que o compõem. A posição ocupada por seus agentes se dá em função do capital

desigualmente distribuído entre eles. Esse capital não se restringe ao capital econômico

(bens econômicos e de produção), mas também se refere ao capital social (rede de

relações, interconhecimento, vinculação a grupos), ao capital cultural (qualificação

produzida pela família e pela educação escolar) e ao capital simbólico (ligado às

diversas formas de reconhecimento).

O que dá suporte ao campo são as relações de força entre os agentes (indivíduos

e grupos) e as instituições que lutam pela hegemonia, isto é, o monopólio da autoridade

que concede o poder de ditar as regras e de repartir o capital específico de cada

campo13

.

No que diz respeito a essas relações de força inerentes ao campo, Bourdieu usa o

termo “violência simbólica” para explicar a adesão dos dominados em um campo: trata-

se da dominação consentida, pela aceitação das regras e crenças partilhadas como se

fossem “naturais” e da incapacidade crítica de reconhecer o caráter arbitrário de tais

regras impostas pelas autoridades dominantes de um campo.

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Em Homo Acadêmicos,25

Bourdieu toma como objeto de estudo o campo

universitário, definido na obra como

o lugar de uma luta para determinar as condições e critérios de

pertencimento e de hierarquia legítimos, isto é, as propriedades

pertinentes, eficientes, próprias a produzir – funcionando como capital

– os benefícios específicos assegurados pelo campo. Os diferentes

conjuntos de indivíduos definidos por esses diferentes critérios ligam-

se a eles e ao reivindicá-los esforçam-se para fazê-los reconhecidos e

afirmando sua pretensão em constituí-los como propriedades

legítimas, como capital específico, trabalham para modificar as leis de

formação dos preços característicos do mercado universitário e para

aumentar assim suas chances de lucro25

(p. 32).

Bourdieu25

aborda as diversas formas de poder dentro do campo universitário

relacionando-as com os diferentes níveis de capital cultural e social. Para o autor, estes

são dados pelo prestígio intelectual e científico como um poder mais durável, e pelo

poder universitário, reconhecido exclusivamente nos limites da universidade e fundado,

principalmente, no controle dos instrumentos de reprodução do corpo professoral.

Ainda segundo o autor, uma das formas de materialização do poder são as atividades e

funções exercidas.

O campo universitário reproduz na sua estrutura o campo do poder

cuja ação própria da seleção e de inculcação contribui para reproduzir

a estrutura. É na verdade no e por seu funcionamento como espaço de

diferenças entre posições (e da mesma maneira entre as disposições de

seus ocupantes) que se realiza, fora de toda intervenção das

consciências e das vontades individuais ou coletivas, a reprodução do

espaço das posições diferentes que são construtivas do campo do

poder25 (p.70).

A estrutura do campo universitário é o estado, num dado momento do tempo, da

relação de forças entre os agentes ou, mais exatamente, entre os poderes que eles detêm

a título pessoal e, sobretudo, por meio das instituições de que fazem parte. A posição

ocupada nessa estrutura está no princípio das estratégias que visam transformá-la ou

conservá-la, modificando ou mantendo a força relativa dos diferentes poderes ou as

equivalências estabelecidas entre as diferentes espécies de capital25

.

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MÉTODO

O critério de inclusão dos cursos da área de saúde no estudo foi o de mencionar

claramente a atenção à saúde do idoso em suas diretrizes curriculares nacionais, e o das

universidades foi ser pública e possuir pelo menos um dos cursos em questão. Foi

realizado contato pessoal por meio de agendamento de horário com doze coordenadores

dos cursos de graduação de Educação Física, Enfermagem e Nutrição das cinco

universidades públicas do Rio de Janeiro, visando obter a indicação de nomes de

professores ligados a cada curso que tivessem relação com a Saúde do Idoso, através

das disciplinas ministradas, dos interesses de pesquisa, dos projetos de extensão ou

qualquer outra forma de relação com a temática “saúde e envelhecimento”.

A partir de relação nominal fornecida pelos coordenadores dos três cursos das

cinco universidades pesquisadas, foi possível realizar a consulta ao Currículo Lattes de

cada um dos docentes.

Entre os quatro cursos superiores que mencionam diretamente a atenção à saúde

do idoso em suas diretrizes, encontra-se o de Medicina, que, no entanto, não foi objeto

do presente estudo por falta de adesão dos profissionais da área. Somente dois dos

quatro coordenadores inicialmente contatados via email, responderam e autorizaram a

pesquisa. Apesar de ter sido solicitado um encontro pessoal para informar sobre a

pesquisa e obter indicação dos professores envolvidos com a temática Saúde do Idoso,

um deles solicitou que a autorização fosse deixada com a secretária e esta foi

posteriormente entregue assinada sem que houvesse a possibilidade de contato pessoal

direto. O outro coordenador agendou horário em que a autorização foi entregue mas

somente o primeiro nome e o endereço eletrônico dos professores relacionados à

temática foi informado. Esses professores também não responderam as diversas

tentativas de contato.

Analisaram-se 22 currículos de professores dos cursos e universidades

selecionados que, inicialmente, foram classificados segundo os cursos nos quais

estavam inseridos,

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Quadro 1: Distribuição dos currículos analisados de acordo o curso e

universidade, 2014

CURSOS/

UNIVERSIDADE

EDUCAÇÃO

FÍSICA

ENFERMAGEM NUTRIÇÃO

UFRJ 1 3 3

UERJ 1 0 0

UNIRIO 0 2 4

UFF

UFRRJ

1

2

5

0

0

0

TOTAL 5 10 7

O Currículo Lattes, fonte principal de informação para a pesquisa, integra a

Plataforma Lattes desenvolvida pelo CNPq. Esse modelo de currículo é o adotado pelo

Ministério de Ciência e Tecnologia, pela CAPES e pelo MEC, além de ser usado

amplamente pela comunidade científica, como um sistema fidedigno de informação

curricular.

O Currículo Lattes se tornou um padrão nacional no registro da vida

pregressa e atual dos estudantes e pesquisadores do país, e é hoje

adotado pela maioria das instituições de fomento, universidades e

institutos de pesquisa do País. Por sua riqueza de informações e sua

crescente confiabilidade e abrangência, se tornou elemento

indispensável e compulsório à análise de mérito e competência dos

pleitos de financiamentos na área de ciência e tecnologia26

.

Os Currículos Lattes contêm, entre outras, as seguintes informações: formação

profissional, atividades e projetos, produção acadêmica, participação em bancas, além

de pequena autobiografia.

Um documento englobando as categorias analisadas, titulação e posição dos

professores no campo universitário; monopólio da autoridade e controle dos

instrumentos de reprodução do corpo professoral; prestígio científico dos professores;

homenagens e prêmios, que serão descritas a seguir, foi elaborado visando facilitar a

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análise dos dados. A produção científica foi computada referindo-se ao período todo de

atividade do professor e, no que se refere ao número de orientações na graduação, foi

considerada a quantidade de orientações referentes aos últimos cinco anos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados foram apresentados e discutidos tendo por base os temas já

mencionados.

1- Titulação: O acúmulo de capital no meio universitário leva tempo e, dessa

forma, o volume de capital detido está estreitamente ligado à idade. As distâncias nesse

espaço são medidas em tempo, em distâncias temporais, em diferenças de idade. A

estrutura do campo se manifesta aos agentes sob a forma de uma carreira, sendo as

posições de poder hierarquizadas e separadas pelo tempo.

Através do Currículo Lattes não foi possível ter acesso à idade dos

pesquisadores, mas pôde-se inferir a faixa etária por meio do tempo de formatura na

graduação e titulação. Assim, os professores que fizeram parte do presente estudo têm, a

maioria, mais de vinte anos de formados, com exceção de sete que contam entre dez e

vinte anos após a graduação - três ligados ao curso de Enfermagem e quatro ao curso de

Nutrição- e de um ligado ao curso de Enfermagem que tinha menos de dez anos após a

graduação.

Dos 22 professores, dezoito possuíam a titulação de doutor, incluindo dois pós-

doutores e quatro eram mestres. A quantidade de pós-doutores e doutores foi maior na

Enfermagem.

Em relação ao tempo de titulação, a maioria possui o título de doutorado em

período de tempo compreendido entre cinco e dez anos. Houve clara distinção, neste

caso, entre os três cursos analisados. Na Enfermagem, a metade dos professores teve o

título de doutorado há mais de dez anos, enquanto nos cursos de Educação Física e

Nutrição somente um docente de cada área teve a titulação há mais de dez anos.

A titulação e o tempo de titulação estão relacionados diretamente ao cargo, pois

o título pode ser considerado um capital simbólico que legitima o cargo ocupado.

Em todos os currículos analisados neste estudo, a formação profissional dos

docentes correspondeu ao curso em que estavam inseridos. Ou seja, os docentes

relacionados ao curso de Enfermagem eram enfermeiros, ao de Nutrição eram

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nutricionistas e ao de Educação Física eram professores ou bacharéis em Educação

Física.

Na Enfermagem, quase a metade ocupava o cargo de professor associado. Nos

cursos de Educação Física e Nutrição a maioria dos professores relacionados à temática

em questão ocupava o cargo de professor adjunto, sendo o numero de associados apenas

de um em cada curso.

A titulação, o tempo de titulação e os cargos ocupados refletiram uma posição

diferenciada do curso de Enfermagem em relação aos outros dois cursos. Como

consequência, na Enfermagem se observou maior destaque e prestígio da temática na

universidade, na medida em que existem cursos de pós-graduação lato sensu em Saúde

do Idoso/Envelhecimento, nos quais esses professores estavam envolvidos. Tal

realidade ainda não se apresentou aos outros dois cursos, embora alguns de seus

docentes tenham registrado em seus currículos que colaboram de forma coadjuvante em

pós-graduações ligadas à Enfermagem.

Os cursos de Enfermagem como nível superior, surgiram no contexto do

movimento sanitarista brasileiro do início do século XX, sendo os cursos da UNIRIO e

da UFRJ os pioneiros no Brasil27

, datando respectivamente dos anos de 1923 e 1926.

Segundo as informações que constam nos sites institucionais, os cursos de Enfermagem

da UERJ e da UFF foram criados na década de 40 do mesmo século. Já se tinha

programa de pós-graduação na área desde os anos 4027

e o primeiro curso de Mestrado

surgiu em 1972, na Escola de Enfermagem Anna Nery, da UFRJ. Após dez anos, em

1982, criou-se o primeiro programa de Doutorado em Enfermagem por meio do

Programa Interunidades de Doutoramento, parceria entre a UFRJ e a USP27

. Os outros

dois cursos estudados, Educação Física e Nutrição, foram implantados decorridos no

mínimo vinte anos em relação aos de Enfermagem. Os primeiros cursos de Nutrição

datam dos anos de 1940, o da UNIRIO em 1940, o da UERJ em 1944 e, o da UFRJ em

1948. O curso de graduação em Nutrição da UFF foi criado em 196828

. Os cursos de

Educação Física estudados foram ainda mais recentes, com exceção do curso da UFRJ

que foi criado no Rio de Janeiro em 1939, na Universidade do Brasil, atual UFRJ29

, os

outros foram criados na década de 1970, o da UERJ em 1970 e o da UFRRJ em 1976.

Portanto essa maior tradição e história dos cursos de Enfermagem certamente contribuiu

para os resultados encontrados.

2- Monopólio da autoridade/controle dos instrumentos de reprodução do corpo

professoral - A ocupação de posições que permitem dominar outras posições e seus

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ocupantes é estratégica25

. Esse poder sobre as instâncias de reprodução do corpo

universitário é o que, segundo Bourdieu, assegura a seus detentores uma autoridade que

está muito mais ligada à posição hierárquica do que às propriedades de suas obras.

A maioria dos professores relacionados aos três cursos já participou de uma a

cinco bancas de concursos para professores, ou seja, teve, de certa forma, controle dos

meios de reprodução do corpo professoral. Houve uma tendência de aumento na

participação desses docentes nas bancas, que pôde ser constatada ao longo dos últimos

anos em maior número de bancas, seja para professores efetivos ou para substitutos.

Outra forma de controle dos instrumentos de reprodução são os cargos

ocupados. Nesse sentido, observou-se certa fragilidade dos docentes relacionados à

temática, posto que não ocupavam cargos chave no momento em que foi realizada a

pesquisa. Nenhum era coordenador de curso ou chefe de departamento, cargos que

alguns docentes mais antigos já ocuparam. Observou-se, inclusive, certo decréscimo dos

cargos ocupados nos últimos anos.

3- Prestígio científico - Essa forma de capital pode ser entendida como a

capacidade técnica e o poder social de falar legitimamente em nome da ciência.

Legitimidade esta socialmente outorgada, geralmente pelos pares concorrentes, a um

agente ou grupo de agentes no interior do próprio campo25

.

No caso deste estudo, consideramos que o prestígio científico estava relacionado

aos produtos acadêmicos valorizados no campo universitário que podem ser

materializados sob a forma de publicações, orientações, coordenação ou participação em

projetos e pesquisas. No entanto, importa falar que Bourdieu30

não reduz a autoridade

científica a um conjunto de capacidades técnicas ou teóricas determinadas e sim enfatiza

que é impossível dizer até onde vai a competência científica e onde começa a

competência política.

A maioria dos professores considerados neste estudo já publicou pelo menos um

livro, de forma que a quantidade dos que não publicaram livros foi maior entre os

educadores físicos e nutricionistas. No que se refere a capítulos de livro, com exceção

de um dos professores ligados ao curso de Nutrição, todos os outros publicaram de um a

cinco capítulos de livros.

Quando considerada a produção sob a forma de artigos científicos, a maioria dos

professores publicou mais de dez artigos ao longo da carreira. O tempo médio de

carreira dos professores na universidade onde estão vinculados foi de dezessete anos.

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Observou-se, no entanto, que a maioria das publicações não abordou o

envelhecimento, o que demonstrou que o tema pode não ser a única nem a principal área

de interesse desses professores, embora os docentes tenham sido indicados pelos

respectivos coordenadores de curso como tendo relação com a temática em questão.

Para se compreender o funcionamento e a estrutura do campo científico, dentre

outros aspectos, é preciso considerar a posição de cada disciplina na hierarquia das

disciplinas que constituem o campo quanto à posição dos diferentes produtores e

agentes na hierarquia própria de cada uma das disciplinas científicas30

.

Segundo Bourdieu25

, há, no campo científico, um sistema de classificação em

vigor, nem sempre explícito, que trata determinados domínios, objetos, métodos e

teorias como “dignos” ou “indignos” de receber o interesse e o investimento dos agentes

do campo. Os pesquisadores participam sempre da importância e do valor simbólico que

a representação dominante atribui a seus objetos de trabalho e de pesquisa, aos seus

problemas e métodos de investigação.

A hierarquia de disciplinas de um campo científico sofre a mediação de fatores

como a sua aproximação com o campo do poder e o capital cultural de que os diversos

agentes são portadores. Assim, os temas e questões não apresentam a mesma

rentabilidade simbólica25

. Os agentes que costumam ter mais visibilidade no campo, os

mais prestigiados e reconhecidos por seus pares, são os que, além de autoridade

científica, detêm certa proximidade com o campo político. Essa distribuição desigual de

legitimidade no campo científico pode explicar a tendência dos pesquisadores a se

concentrarem em torno de temas de pesquisa mais prestigiosos e, portanto, passíveis de

conferir mais visibilidade e autoridade científica aos que a eles se dedicam. Ou ainda

pode mesmo explicar os fluxos de migração de pesquisadores em direção a objetos que,

mesmo sendo menos prestigiosos, têm a vantagem de atrair um menor número de

agentes, o que implica um nível de competição relativamente menor e, por isso, maiores

possibilidades de distinções e reconhecimento31

.

Nos currículos dos docentes analisados neste estudo, verificou-se que somente

metade dos professores da Enfermagem referiu o envelhecimento como área principal

de pesquisa na apresentação de seu Currículo Lattes, embora todos tivessem sido

citados por seus coordenadores como pesquisadores associados ao tema. Igualmente, a

metade teve, como tema de doutorado, questões relacionadas ao envelhecimento.

Em relação aos sete professores dos cursos de Nutrição que foram considerados

no presente estudo, somente um deles declarou o envelhecimento como principal área

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de pesquisa no texto inicial de seu Currículo Lattes, e três realizaram doutorado

abordando o tema.

Na área da Educação Física, dois professores indicados pelos coordenadores dos

cursos como associados à temática realizaram, de fato, suas pesquisas de doutorado

relacionadas ao tema e declararam, em seu Currículo Lattes, o envelhecimento como

sua principal área de atuação.

A maioria dos professores ligados à temática não orientou doutorado, pois não

estava vinculada a programas de pós-graduação stricto sensu. Segundo Bourdieu25

, a

quantidade de teses orientadas é suficiente para distinguir, em diferentes disciplinas,

aqueles que detêm maior poder. Houve distinções entre os docentes relacionados aos

três cursos nesse aspecto. Na Enfermagem, três dos professores já realizaram pelo

menos uma orientação de doutorado, na Educação Física um e na Nutrição nenhum.

As orientações de mestrado, embora bem mais frequentes do que as de

doutorado, ainda não fazem parte da realidade dos professores que participaram do

presente estudo, com exceção para seis dos dez ligados ao curso de Enfermagem e dois

dos cinco de Educação Física. Nenhum dos professores pertencentes ao curso de

Nutrição orientou, ainda, uma dissertação de mestrado.

Observou-se que os professores dos cursos de Enfermagem já se envolveram em

programas de pós-graduação stricto sensu, ou seja, já possuem capital cultural e já

acumularam em suas carreiras os títulos necessários para tal, o que não acontece com

professores dos outros dois cursos considerados.

As orientações de trabalhos finais de especialização foram comuns entre os

professores das três diferentes áreas. Quase todos já orientaram pelo menos um trabalho

final de especialização em Saúde do Idoso, com a exceção de quatro: dois do curso de

Nutrição e dois do curso de Educação Física. Algo que contribui para esse fato é que as

especializações em Saúde do Idoso ou em temas afins aconteceram em três das cinco

universidades alvos da análise.

Especialmente relevante para o presente estudo foram as orientações dos

trabalhos finais de cursos de graduação, pois, de certa forma, foram indicativas do

interesse das novas gerações para com a temática. Para este estudo consideramos o

número total de orientações realizadas nos últimos cinco anos por cada um dos docentes

e a partir desses dados consideramos as orientações na temática. Dessa forma,

constatou-se nos cursos de Enfermagem que seis dos dez professores participantes da

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pesquisa orientaram, em sua maioria, trabalhos finais com temas relacionados ao

envelhecimento, contra dois nos cursos de Nutrição e um nos de Educação Física.

Os dados acima, acerca das orientações na graduação, reafirmaram a inserção

secundária da temática na carreira acadêmica dos professores, apesar de terem sido

citados por seus coordenadores como fortemente envolvidos com ela. Talvez essa

inserção secundária, aliada à abordagem insuficiente do tema ao longo do curso de

graduação, contribua para o pouco prestígio da Saúde do Idoso entre as novas gerações,

o que limitou o desenvolvimento dessa área de pesquisa nos cursos cujas próprias

diretrizes curriculares enfatizam sua importância.

Os projetos de extensão são citados na literatura como experiências bem

sucedidas, pois propiciam envolvimento com a área de atuação e funcionam também

como incentivo à especialização na área32,33

. Analisados os currículos dos professores

que fizeram parte do presente estudo, constatou-se que a extensão na temática foi pouco

implementada. A maioria se dedicou a projetos de pesquisas em detrimento dos de

extensão, pois a pesquisa é, em geral, mais prestigiada no campo universitário,

rendendo mais financiamento e pontos na carreira docente, além de gerarem produtos

acadêmicos mais valorosos como, por exemplo, os artigos científicos.

4- homenagens, prêmios e entrevistas em meios de comunicação - Estes são

formas de capital simbólico de notoriedade que muitas vezes separam os professores

eruditos dos professores ordinários, funcionando como uma extensão do poder

institucionalizado.

A oblação de tempo que implica a participação em ritos, cerimônias,

representações, é também a condição mais rigorosamente necessária

da acumulação desta forma particular de capital simbólico que é a

reputação de honorabilidade universitária25

(p. 133).

Parte dos professores cujo currículo foi analisado pelo presente estudo pareceu

investir em certa aproximação com situações que os levaram à notoriedade. Dez dos 22

já deram, pelo menos, uma entrevista em programas de TV ou rádio, e destes, oito

tornaram a fazê-lo pelo menos mais uma vez.

Receberam homenagens e prêmios dezessete dos 22 professores. As mais

comuns foram menções honrosas por melhores trabalhos apresentados em eventos.

Homenagens no âmbito da própria universidade também foram comuns, tais como a

escolha para paraninfo, patrono e professor homenageado por turmas de formandos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No que se referiu aos cursos estudados, a inserção secundária da Saúde do Idoso

na carreira acadêmica dos professores foi um fator que não favoreceu a notoriedade e

consequentemente a ocupação de maior espaço de tais temas nos currículos. Mereceu

atenção o fato de que, apesar de serem indicados e reconhecidos pelos coordenadores de

cursos dos quais fazem parte como pertencentes a essa área de atuação, os próprios

professores não se afirmaram no Currículo Lattes como pesquisadores prioritariamente

dessa área, identificando-se com outras áreas temáticas e de atuação.

A titulação e os cargos ocupados refletiram um corpo docente em busca de

maiores espaços na universidade. De todos os professores referidos, nenhum foi titular,

e o número de associados é menor em relação ao de adjuntos e assistentes. Como

consequência desses aspectos, ainda é pequena a quantidade de professores envolvidos

em programas de pós-graduação stricto sensu, apenas oito do total pesquisado.

Percebeu-se clara distinção do curso de Enfermagem em relação aos outros dois cursos,

principalmente com relação ao tempo de titulação de doutorado e quantidade de pós-

doutores, o que pode ser justificado pela tradição e história. De uma forma geral, os

docentes dos três cursos ainda eram recém-doutores. Como reflexo da inserção

secundária na temática em todos os cursos pesquisados estava o fato de esses

professores não estarem sendo efetivos no que se refere a despertar o interesse das

novas gerações, o que pôde ser constatado ao se verificar que a maioria não orientou

trabalhos finais de cursos de graduação com temas afins.

Alguns resultados que podem vir a favorecer a maior inserção da temática nesses

cursos foram o investimento dos professores em formas de aproximação com os

mecanismos de controle, o que foi verificado no aumento de participação em bancas de

concurso e suas produções acadêmicas que foram ampliadas ao longo dos anos,

principalmente sob a forma de artigos científicos, altamente valorizados pelas

instituições acadêmicas e de pesquisa. Houve certo investimento no que se referiu ao

acúmulo de capital simbólico de notoriedade, refletido pela busca de aproximação com

as esferas de poder dentro e fora das universidades.

As políticas e programas relacionados à saúde do idoso ainda são relativamente

recentes no Brasil, e as mudanças na academia possivelmente são dificultadas pelas

próprias propriedades do campo científico, onde as estratégias de reprodução e

manutenção das realidades são mais fortes do que as de subversão, tornando mais lenta

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a emergência de áreas de atuação menos tradicionais e não diretamente relacionadas aos

setores mais valorizados pelo próprio campo científico e pela sociedade.

Os resultados da pesquisa realizada apontaram determinadas características e

direcionamentos em relação à inserção da temática Saúde do Idoso em cursos da área de

saúde e devem ser considerados no contexto das universidades públicas do estado do

Rio de Janeiro, não podendo ser generalizados. Novos estudos, mais abrangentes,

devem ser implementados para aprofundar o entendimento desta realidade.

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ARTIGO 3

A inserção da temática “Saúde do Idoso” nos cursos de graduação em

Enfermagem, Educação Física e Nutrição das universidades públicas do Rio de

Janeiro

The inclusion of the “Elderly Health” theme in Nursing, Physical Education and

Nutrition undergraduate courses of Rio de Janeiro public universities

RESUMO

O presente estudo teve por objetivo analisar a inserção da Saúde do Idoso em três cursos

superiores da área da saúde das universidades públicas do Rio de Janeiro que fazem

referência direta aos idosos em suas Diretrizes Curriculares Nacionais. São eles:

Educação Física, Enfermagem e Nutrição. O principal referencial teórico utilizado na

pesquisa foi a sociologia de Bourdieu, especialmente o conceito de campo. Foram

realizadas entrevistas com docentes que mantêm relação direta com a temática em suas

atividades acadêmicas, tendo sido discutidos os seguintes aspectos: perfil docente,

estrutura e conteúdo curricular das atividades acadêmicas e concepções sobre a inserção

da temática na formação profissional em saúde. Concluiu-se que a temática ainda é

pouco abordada na formação universitária nos cursos estudados. Segundo os docentes,

as principais causas para a pouca expressão da saúde do idoso nos currículos foram o

número reduzido de docentes na área, a própria formação a que foram submetidos que

também não foi suficiente em relação à temática e o fato do envelhecimento

populacional ser algo relativamente recente no país. Os docentes envolvidos mantêm

pesquisas e atividades isoladas, havendo a necessidade do estabelecimento de parcerias

e redes de cooperação mais consistentes para o maior desenvolvimento e visibilidade da

área de atuação.

Descritores: Educação Superior, Envelhecimento, Saúde do Idoso, Idoso

ABSTRACT

This study aimed to analyze the insertion of Elderly Health in three graduation courses

of public universities of Rio de Janeiro that make direct reference to elderly in their

National Curriculum Guidelines, they are: Physical Education, Nursing and Nutrition,

from interviews with teachers who are involved with the theme in their academic

activities. The following aspects were discussed: teachers profile, structure and

curriculum contents of academic activities, views on the inclusion of the theme in the

professional education in health. According to teachers, the main causes for the low

expression of elderly health in the curricula were reduced number of teachers in the

area, the proper training they have undergone it was also insufficient in relation to the

theme and the fact that population aging is something relatively new in the country. We

conclude that the theme is still rarely addressed in higher education in the studied

courses. Involved teachers keep isolated research and activities, with the need to

establish partnerships and cooperation networks more consistent for the development

and visibility of the operating area.

Key words: Higher Education, Aging, Elderly Health, Elderly

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INTRODUÇÃO

Na docência do ensino superior na área da saúde, além da relação

professor/aluno, quase sempre se estabelece ligação com mais um sujeito: aquele que é

alvo de cuidados, assim como com sua família, sua história e sua particular visão de

mundo1. No que se refere à Saúde do Idoso, os conteúdos abordados na formação dos

profissionais precisam enfocar mais do que as doenças comuns ao envelhecimento, e

contemplar, entre outros, os aspectos sociais e as próprias políticas públicas

direcionadas aos idosos, que preveem a adequação de currículos, metodologias e

material didático específico para a formação de profissionais da saúde, visando ao

atendimento às suas diretrizes2.

No presente estudo, o foco da discussão foi a formação de profissionais de saúde

no que se refere à Saúde do Idoso, o que inclui tanto conteúdos referentes à

Gerontologia quanto à Geriatria. A Gerontologia é compreendida como campo de

conhecimento interdisciplinar que visa investigar o envelhecimento humano em sua

perspectiva mais ampla, considerando os aspectos clínicos, biológicos, psicológicos,

sociais, culturais, econômicos e históricos. Já a Geriatria é direcionada à promoção da

saúde e ao tratamento de doenças e incapacidades entre os idosos3.

Estudos internacionais recentes sobre a formação dos profissionais de saúde no

que diz respeito à Saúde do Idoso4,5,6,7

apontaram as fragilidades no ensino ou até a

ausência desses conteúdos nos currículos e as consequências negativas na assistência

aos idosos.

Pesquisa desenvolvida por Alsenany e Alsaif4 com o objetivo de conhecer a

atitude dos docentes de Enfermagem em relação às pessoas mais velhas e suas reflexões

sobre a Geriatria e a Gerontologia nos currículos de graduação na Arábia Saudita,

destacou que os currículos sauditas da Enfermagem deveriam incluir conteúdo mais

extenso em Geriatria e Gerontologia e a experiência clínica com as pessoas mais velhas.

De acordo com Oeseburg et al5, os profissionais de saúde da Holanda,

especialmente os que atuam na atenção primária, são desafiados a uma mudança de

paradigma na ênfase do tratamento da doença para a promoção da saúde. Os autores

enfatizaram a interdisciplinaridade como aspecto necessário para realizar essa mudança

de atitude profissional, a fim de prestar cuidados aos idosos de forma eficaz, integrada e

bem coordenada.

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Mateos-Nozal et al6 realizaram pesquisa onde comparavam a regulamentação

espanhola com as recomendações europeias para o ensino da Geriatria e da

Gerontologia em nível de graduação. A conclusão a que chegaram é que a Espanha

adota apenas de um terço à metade de tais recomendações. Os autores consideraram que

seria conveniente que as exigências oficiais do país convergissem com as

recomendações europeias, sendo essa uma tarefa a ser realizada pelas escolas de saúde

espanholas.

Na Austrália, o estudo de Flicker7 apontou que, embora tenha havido grandes

progressos na educação dos profissionais de saúde em aspectos inerentes à Geriatria e à

Gerontologia no país, são necessários ainda mais esforços concentrados na formação em

saúde para lidar com o envelhecimento da população.

A ausência de formação específica na área traz consequências negativas para os

profissionais de saúde no Brasil. Para Montanholi et al9, os profissionais da saúde

geralmente não enxergam o idoso como um indivíduo que apresenta necessidades

diferentes dos demais adultos e, consequentemente, os estudantes não são estimulados a

aplicar conhecimento e conceitos específicos relacionados à Saúde do Idoso em sua

dinâmica assistencial. Os autores alertaram para a necessidade de desenvolvimento de

atividades acadêmicas que não apenas informem a respeito do envelhecimento, mas que

formem profissionais que respeitem os limites e as peculiaridades decorrentes do

envelhecimento, tornando-os capazes de reconhecer as modificações físicas, emocionais

e sociais do idoso para melhor assisti-lo.

No Brasil, Willig et al8 constataram, em seu estudo, que a capacitação e

formação específica em Saúde do Idoso no país são deficitárias e a legislação

direcionada aos idosos, apesar de bem estruturada e avançada, mostra-se incipiente em

sua prática. Os autores ressaltaram ainda que o conhecimento a respeito do processo de

envelhecimento não está presente na maioria dos currículos dos cursos de graduação na

área da saúde e que este fato, aliado à falta de sintonia entre as instituições de ensino

superior com a nova realidade demográfica e epidemiológica brasileira, gera escassez de

recursos humanos e materiais direcionados para a atenção aos idosos, o que dificulta a

abordagem interdisciplinar e multidimensional preconizadas pela Política Nacional de

Saúde da Pessoa Idosa2.

Tendo em vista a necessidade de se pensar a formação dos profissionais de

saúde acerca do processo de envelhecimento, o presente estudo teve por objetivo

analisar a inserção da Saúde do Idoso em três cursos superiores que fazem referência

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direta a este grupo populacional em suas diretrizes curriculares são eles: Educação

Física, Enfermagem e Nutrição, apontando suas características e singularidades na

perspectiva dos docentes envolvidos com a área. A pesquisa foi realizada nas cinco

universidades públicas do estado do Rio de Janeiro

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de ética em pesquisa da Ensp/Fiocruz

através do parecer Nº 699.936 de 25/06/2014, cumprindo as exigências estabelecidas

pela legislação específica envolvendo seres humanos.

MÉTODO

Foram realizadas entrevistas com docentes dos cursos de Enfermagem,

Educação Física e Nutrição em cinco universidades públicas do Rio de Janeiro que

possuíam pelo menos um desses cursos.

Após a seleção das universidades e dos cursos, buscou-se contato pessoal com

todos os seus respectivos coordenadores, que autorizaram a pesquisa e informaram

quais docentes tinham relação com a temática “Saúde do Idoso”, através de disciplinas,

projetos, estágio ou qualquer outra ação que envolvesse idosos. Em seguida, os docentes

indicados foram contatados para agendamento das entrevistas, que aconteceram durante

o período compreendido entre junho de 2014 e abril de 2015 e a partir de um roteiro

pré-definido, sendo precedidas pela assinatura do termo de consentimento livre e

esclarecido. Ao final, foram realizadas 20 entrevistas com os docentes, conforme o

quadro a seguir:

Quadro 1: Distribuição dos docentes entrevistados de acordo com o curso de

graduação no qual estavam inseridos e universidades.

CURSO N° DE DOCENTES

ENTREVISTADOS

UNIVERSIDADE DE INSERÇÃO

DOS DOCENTES

EDUCAÇÃO FÍSICA 5 UFRJ (1)

UFRRJ (2)

UERJ (1)

UFF (1)

ENFERMAGEM 10 UFRJ (3)

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UNIRIO (2)

UFF (5)

NUTRIÇÃO 5 UFRJ (3)

UNIRIO (2)

O sociólogo francês Pierre Bourdieu foi o referencial teórico que sustentou a

análise, especialmente as noções de campo, agente e posição. Campo entendido como

espaço social de concorrência e disputa interna no qual são determinadas a posição

social dos agentes e onde se revelam, por exemplo, as figuras de “autoridade”,

detentoras de maior volume de capital. A análise do campo foi o que permitiu

identificar a posição dos agentes, nesse caso, dos professores sujeitos da pesquisa.

A análise temática proposta por Minayo10

, que consiste em descobrir os núcleos

de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou frequência signifiquem

alguma coisa para o objeto analítico visado, foi o referencial analítico utilizado no

estudo. Os resultados foram discutidos a partir dos seguintes temas: perfil docente e

suas linhas de pesquisa; conteúdo e natureza das atividades acadêmicas relacionadas à

temática em questão; e concepções dos docentes acerca da inserção da temática na

formação universitária.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A posição dos docentes no campo universitário

Todos os docentes entrevistados possuem formação profissional correspondente

ao curso ao qual estavam vinculados, ou seja, ou seja, eram enfermeiros, nutricionistas

e professores de Educação Física.

Dentre eles, dezesseis têm a titulação de doutor, incluindo dois pós-doutores, e

quatro são mestres. Da Enfermagem, participaram cinco doutores, dois pós-doutores e

três mestres. Da Educação Física, foram quatro doutores e um pós-doutor; e da

Nutrição, quatro doutores e um mestre.

O Quadro 2 mostra a distribuição dos docentes segundo os cargos ocupados.

Quadro 2- distribuição dos docentes entrevistados segundo o cargo ocupado na

universidade.

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Curso Professor Associado Professor Adjunto Professor Assistente

Educação Física 1 3 1

Enfermagem 3 4 3

Nutrição 1 3 1

O gráfico 1 apresenta o tempo de vinculação dos docentes com as universidades.

Gráfico 1- Docentes entrevistados segundo o tempo de serviço

Entre os entrevistados da Enfermagem, a maioria possuía mais de dez anos de

vínculo com suas universidades, enquanto na Educação Física a maior parte estava

vinculada entre cinco e dez anos; e na Nutrição, por menos de cinco anos. Cabe ressaltar

que neste último, parte dos docentes entrevistados pertence a um campus recém-

inaugurado, localizado no interior do estado.

O grupo entrevistado constituiu maioria feminina (76,2%) e resultou em média

de idade de 46 anos, sendo que o mais jovem estava com 26 anos e a mais velha, 69.

As principais linhas de pesquisa referidas pelos docentes do curso de

Enfermagem foram: “Cuidado aos grupos humanos”; “Segurança ao paciente

hospitalizado”; “Resiliência”; e “Oncologia”. Apesar de serem indicados pelos

coordenadores dos cursos como sendo professores relacionados à temática, somente

duas das docentes citaram o envelhecimento como sendo sua linha principal de

pesquisa. No caso do curso de Educação Física, as principais linhas de pesquisas

apontadas por seus professores foram: “Atividade física e envelhecimento”; “Educação

física adaptada”; “Estudos do lazer e ludicidade”; e “Prevenção de quedas”. Já para o

48%

19%

33% mais de 10 anos

de 5 a 10 anos

menos de 5 anos

Docentes vinculação n=20

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curso de Nutrição, encontrou-se: “Avaliação nutricional”; “Diagnóstico e intervenção

nutricional de coletividades”; e “Nutrição e envelhecimento”.

Considerando o perfil geral dos docentes entrevistados dos três cursos,

observou-se que sua posição no campo universitário é mediana, pois são professores

adjuntos com a titulação de doutor. Nenhum deles ocupava o cargo de professor titular,

ou seja, o topo da carreira universitária, e nenhum dos entrevistados ocupava cargo de

chefia ou coordenação. De acordo com Bourdieu11

e tendo em vista que a hierarquia de

disciplinas de um campo científico sofre a mediação de fatores como a sua aproximação

com o campo do poder e o capital cultural de que os diversos agentes são portadores, os

agentes que costumam ter mais visibilidade no campo, os mais prestigiados e

reconhecidos por seus pares são os que, além de autoridade científica, detêm certa

proximidade com o campo político. Para o autor, referindo-se ao capital universitário,

reconhecido exclusivamente nos limites da universidade e fundado, principalmente, no

controle dos instrumentos de reprodução do corpo professoral, “o capital universitário

se obtém e se mantém por meio da ocupação de posições que permitem dominar outras

posições e seus ocupantes"11

.

As distintas linhas de pesquisas apontadas pelos docentes entrevistados

indicavam que eles, possivelmente não estavam articulados entre si, ainda que

vinculados ao mesmo curso e universidade. Trabalhando desarticulados entre si, os

docentes relacionados à saúde do idoso nem sempre conseguem estabelecer uma rede

passível de conferir-lhes mais visibilidade e autoridade científica. Para Bourdieu11

, o

campo universitário é, como todo campo, o lugar de uma luta para determinar as

condições e os critérios de pertencimento e de hierarquia legítimos. Os diferentes

conjuntos de indivíduos, constituídos em grupos, precisam se esforçar para fazer de seus

interesses propriedades legítimas e para aumentar suas chances de lucro no mercado

universitário.

Quando trabalham de forma mais articulada, fazendo parte de um mesmo grupo

de pesquisa, os docentes conseguem se fortalecer e se estabelecer no campo, situação

identificada no caso dos docentes relacionados à Enfermagem que, em uma das

universidades estudadas, mantêm um curso de especialização lato sensu abordando a

Saúde do Idoso. A existência da especialização na temática tem impacto na graduação e

pode atrair os alunos para a área de atuação, na medida em que desperta neles a

expectativa de seguir seus estudos em nível de pós-graduação. A quantidade de alunos

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com interesse na temática é algo que favorece o desenvolvimento do campo de

conhecimento.

Estrutura e conteúdo curricular das atividades acadêmicas

A natureza das atividades acadêmicas na temática em questão foi variável de

acordo com cada curso.

Nos cursos de Enfermagem não havia disciplinas obrigatórias que enfocassem

exclusivamente o tema envelhecimento. Segundo os docentes, tal conteúdo fazia parte

de disciplinas intituladas “Enfermagem na Saúde do Adulto e do Idoso”; “Modelos

Assistenciais de Enfermagem”; e em outras disciplinas práticas realizadas em hospitais

e outros serviços de saúde, onde os idosos acabavam sendo parte considerável da

clientela atendida. Entre os conteúdos referentes à temática foram mais citadas as

grandes síndromes geriátricas, as principais doenças presentes na população idosa e as

orientações aos cuidadores dos idosos. Foram menos mencionadas as políticas públicas,

o estatuto do idoso e a questão da violência. As ações de extensão na temática incluíram

raros projetos e cursos envolvendo a população idosa e seus cuidadores. Muito dos

docentes entrevistados ligados à Enfermagem estavam vinculados à pós-graduação lato

sensu e suas ações referentes à saúde do idoso eram prioritariamente realizadas nesse

nível, em detrimento da graduação. Poucos docentes fazem parte de programas de pós-

graduação stricto sensu e, quando fazem, estão vinculados a linhas de pesquisa

desvinculadas do tema.

O depoimento de um docente relacionado ao curso de Enfermagem atenta para

o momento curricular da oferta da disciplina “Enfermagem na Saúde do Adulto e do

Idoso” que favorece de certa forma a continuidade do interesse dos alunos na temática:

Eu percebi que antes da disciplina o interesse era zero e depois da

disciplina parece que eles atentam o tempo todo, daí no final da

disciplina eles começam a se atentar para o TCC. No final do 5º

período eles fazem o TCC 2 que é a construção de um projeto de

pesquisa, uma coisa se junta a outra. Se mostram mais interessados.

Nos cursos de Educação Física foram encontradas disciplinas específicas, com

o envelhecimento sendo tema principal, em duas das universidades: a disciplina

obrigatória intitulada “Educação Física e Gerontologia” e a disciplina optativa intitulada

“A Escola Preparando para o Envelhecimento Saudável”. De acordo com os

entrevistados, os conteúdos na temática estavam presentes em outras disciplinas, tais

como “Treinamento Físico Individualizado”; “Educação Física Adaptada”; e "Nutrição

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e Fisiologia”. Os entrevistados chamaram a atenção para o fato de que os idosos são

sempre exemplos quando se fala em educação física para grupos especiais (ex.

diabéticos, hipertensos). Metade dos docentes entrevistados afirmou incluir a Política

Nacional de Saúde da Pessoa Idosa em suas disciplinas, sejam específicas ou não.

Foram referidos projetos de pesquisas no tema, assim como de extensão.

A importância da disciplina optativa pôde ser constatada no depoimento a seguir

onde o docente do curso de Educação Física faz referência ao momento curricular de

oferta da disciplina optativa, considerando inclusive a faixa etária dos alunos:

Aos 17 anos que vão talvez pela primeira vez perceber que eles vão

ficar grandes, então na primeira aula eu já falo pra eles falarem sobre a

vida deles no momento em que eles tiverem mais de 60 anos. Coisas

que nunca passaram pela cabeça deles né, então eu vou procurar fazer

com que eles reflitam sobre o envelhecimento do outro, então a partir

do envelhecimento do outro, pensar no seu próprio envelhecimento. E

aí causa um estranhamento... segundo período, alunos de 17 anos... e o

que a gente percebe depois mais tarde é que a gente tem alguns desses

alunos apresentando trabalhos de conclusão de curso, com relação à

discussão dessa tal intergeracionalidade na escola, como a educação

de jovens e adultos pode estar acontecendo. Quer dizer então, muitos

dos elementos que nós trabalhamos numa disciplina passam a ser foco

central de trabalho de conclusão de curso que vai acontecer seis

períodos depois.

Nos cursos de Nutrição não há disciplinas obrigatórias nem eletivas específicas

para a temática. Segundo os entrevistados, o conteúdo associado ao tema é ministrado

em disciplinas como “Avaliação Nutricional”; “Alimentação e Saúde”; e “Terapia

Nutricional I e II”. Todas as docentes entrevistadas realizavam pesquisas ou projetos de

extensão na área, algumas, inclusive, com financiamentos de agências de fomento.

Tanto as pesquisas como os projetos de extensão afins ao tema tiveram aproximação

com a promoção da saúde, a qualidade de vida e o lazer.

O depoimento da docente do curso de Nutrição relata a importância de uma

abordagem interdisciplinar no currículo, o que segundo ela não é comum:

Eu acho que a gente pode melhorar mais, tá faltando ainda, precisa

primeiro preparar mais o profissional, e incluir a disciplina nos cursos.

Ter mais a questão interdisciplinar que abranja o universo do idoso,

que está faltando. Eu acho que... não sei te dizer de outros cursos, né,

mas a Nutrição tá ligada a outras profissões, à outros cursos como

“Odonto” que diretamente interfere na ingestão do alimento. A parte

emocional também, quando a gente vê um idoso que para de comer ou

que diminui a ingestão de alimentos e você percebe que ali tem um

problema de depressão, então muitas vezes a Psicologia entrando para

poder solucionar, a própria Fonoaudiologia em casos de disfagia.

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72

No que se refere aos conteúdos curriculares acerca do envelhecimento nos

cursos estudados, foi possível inferir que a inserção da temática aconteceu mais por

meio da abordagem das doenças comuns ao envelhecimento do que pelo aspecto da

promoção da saúde ou das políticas públicas. Isso pode ser constatado no depoimento a

seguir.

Eu falo sobre o adulto e o idoso. No momento que a gente fala sobre

idoso, é das alterações fisiológicas e das alterações patológicas que a

gente pode esperar no público idoso

(Depoimento de docente do curso de Enfermagem)

A Enfermagem é uma profissão com foco no cuidado e em procedimentos

muitas vezes padronizados, e a inserção do tema em questão aconteceu principalmente

nos cenários de prática, onde quase sempre os idosos são exemplos do quê e como se

deve proceder em situações de saúde adversas.

Ainda que a Educação Física e a Nutrição sejam profissões cujas características

possam favorecer a abordagem por meio da Promoção da Saúde - que se refere às ações

sobre os condicionantes e determinantes sociais da saúde, dirigidas a impactar

favoravelmente a qualidade de vida12

-, ainda é por meio da abordagem das doenças

comuns aos idosos e de suas limitações que, na maioria das vezes, tais conteúdos são

inseridos nos currículos.

Embora as Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de saúde13

preconizem

que a formação dos profissionais deve atender às necessidades sociais da saúde, com

ênfase no SUS, e assegurar a integralidade da atenção, a universidade ainda não parece

muito permeável a essa ideia. Sabe-se que, historicamente, a formação profissional em

saúde se deu a partir de uma visão tecnicista do cuidado, centrada na cura e no

tratamento de doenças.

Em relação à admissão de novos quadros nos cursos e universidades que

permitiria a renovação dos conteúdos e práticas de ensino, Bourdieu12

considera que

para proteger “as invariâncias sociais do corpo professoral” nos processos de admissão,

os responsáveis por essa seleção recorrem a “um sistema de critérios implícitos” e

hierarquizados, contudo fora de toda a premeditação, mas que tendem a “assegurar sua

própria reprodução, produzindo mestres dotados de características sociais e escolares

quase constantes e homogêneas”.12

Isto dificulta mudanças na dinâmica acadêmica,

repercutindo na conformação de currículos e na constante valorização de determinados

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73

conteúdos na formação profissional em detrimento de mudanças e da inclusão de temas

emergentes.

.

Concepção docente sobre a inserção da temática Saúde do Idoso na

formação profissional em saúde

Foi consenso entre os entrevistados a relevância da temática para a formação dos

profissionais de saúde e, por outro lado, sua pouca valorização nos currículos. Quando

questionados sobre as possíveis razões para essa desvalorização, foi possível verificar

aproximações, mas também distinções nas explicações dos docentes, de acordo com os

cursos aos quais estavam vinculados.

Os docentes dos cursos de Educação Física consideraram que o espaço da

temática no currículo ainda é pequeno, mas vem crescendo. Em geral, explicam que a

carreira, historicamente, sempre foi pensada para os jovens e crianças, e que o grande

mercado de trabalho, até então, era formado pelas escolas e academias, o que afastava o

foco da profissão para o envelhecimento. Segundo os docentes, esta é uma discussão

mais recente na Educação Física, no entanto, há uma oportunidade econômica,

representada pelo treinamento individualizado de idosos, já vislumbrada pelos alunos, o

que está fortalecendo a abordagem do tema na formação. De acordo com os

entrevistados, a área não está mais desenvolvida porque as mudanças na universidade

são lentas.

Para os docentes enfermeiros, o pouco espaço da temática na formação

universitária pode ser explicado através dos seguintes aspectos: "rede de atenção ao

idoso precária, o que dificulta os cenários específicos de prática”; “número reduzido de

docentes na área quando comparado a outras áreas de atuação”; “docentes voltados para

à temática pouco envolvidos politicamente e cientificamente”; “trajetória da temática

ainda fraca na enfermagem, pois a maioria dos docentes é do tempo em que o

envelhecimento não era valorizado”; e “poucos congressos e eventos científicos na

temática”. Outras razões menos referidas foram: “excessivo foco da profissão na Saúde

da Criança e da Mulher”; “existência na cidade de grupo fechado de pesquisadores na

temática que dificulta novas inserções” e “dificuldade em se pensar o papel social do

curso”.

Em geral, os docentes nutricionistas mencionaram a falta de profissionais com

interesse na temática como o principal fator para o pouco espaço dela nos currículos.

Como consequência, apontaram que não há na profissão muita novidade e nem

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pesquisas no tema, fazendo com que os jovens pesquisadores se interessem por outras

áreas da Nutrição.

Os docentes dos três cursos tiveram dificuldades em manifestar suas opiniões

acerca da razão pela qual o tema vem sendo pouco explorado nos currículos de

formação dos profissionais de saúde. Em comum, apontaram como questão central a

própria formação a que foram submetidos, que também não foi suficiente em relação à

temática, e o fato de o envelhecimento populacional ser algo relativamente recente no

país e que só agora o tema vem despertando mais atenção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das entrevistas, foi possível identificar aspectos que interferem no pouco

desenvolvimento da temática na formação dos profissionais das três áreas: Enfermagem,

Nutrição e Educação Física. O primeiro é o fato de os docentes relacionados à temática

ocuparem posições ordinárias no campo universitário, isto é, no momento sem tanta

aproximação com as esferas de poder e controle.

Apesar de serem indicados e reconhecidos pelos coordenadores de cursos dos

quais faziam parte como envolvidos com a temática Saúde do Idoso, ao se referirem

como pesquisadores de outras áreas temáticas e estarem inseridos em diferentes linhas

de pesquisa, mesmo estando na mesma instituição, os docentes evidenciaram que

trabalham de forma desarticulada, tendo o tema em questão como secundário em suas

carreiras. Como consequência, deixaram de fomentar movimentos e articulações

necessárias ao seu desenvolvimento e fortalecimento no campo universitário.

Essa pouca articulação implica aspectos que os próprios docentes referiram

como possíveis causas da inserção limitada da temática na formação universitária dos

profissionais, como, por exemplo, poucos congressos e eventos científicos que abordem

o tema e pouco envolvimento científico e político dos docentes.

Na própria universidade são produzidos os critérios de ascensão e o prestígio de

determinada temática. É no interior do campo que os pares definem diferentes critérios e

se esforçam para fazê-los legítimos. Dessa forma, para o desenvolvimento da temática

Saúde do Idoso na formação, é necessária uma rede capaz de garantir o crescimento da

população dos estudantes e de professores interessados, a criação de pesquisas e de

disciplinas relacionadas, além do aumento da influência em instâncias de consagração

externa, tais como a mídia.

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Foi possível perceber com esta pesquisa que ainda há necessidade de se

estabelecer redes de cooperação e grupos de pesquisas mais consistentes entre os

docentes alinhados à Saúde do Idoso dos três cursos de graduação pesquisados como

forma de valorizar e fortalecer esta abordagem na formação em saúde.

.

REFERÊNCIAS

1- Cavalcante, L I P, et al. "A Docência no ensino superior na área da saúde:

formação continuada/desenvolvimento profissional em foco."Revista Eletrônica

Pesquiseduca 2012; 3.6: 162-182.

2- Brasil. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro do Estado da Saúde. Portaria

nº2.528, de 19 de outubro de 2006. Aprova a Política Nacional de Saúde da

Pessoa Idosa. Diário Oficial da União, Brasília, 2006a. Seção 1, p.142.

3- Brasil, Ministério da Saúde. Portaria nº 1.395, de 10 de dezembro de 1999

4- AlSenany, S; AlSaif A A. Gerontology course in the nursing undergraduate

curricula. Revista da Escola de Enfermagem da USP 2014; 48(6): 1077-1084.

5- Oeseburg, B, et al. "Interprofessional education in primary care for the elderly: a

pilot study." BMC medical education 2013; 13(1): 161.

6- Mateos-Nozal, J A.J; Cruz-Jentoft, and JM Ribera Casado. "A systematic review

of surveys on undergraduate teaching of Geriatrics in medical schools in the XXI

century." European Geriatric Medicine 2014; 5(2): 119-124.

7- Flicker, L. "Advances in research, education and practice in geriatric medicine,

1982–2012." Australasian journal on ageing 2013; 32(S2): 35-39.

8- Willig, MH., Lenardt, M H., & Méier, M J. A trajetória das políticas públicas do

idoso no Brasil: breve análise. Cogitare enferm 2012; 17(3): 574-577.

9- Montanholi, L L., Tavares, DD S., Oliveira, G. D., Simões, A D A.. Ensino sobre

idoso e gerontologia: visão do discente de enfermagem no Estado de Minas

Gerais. Texto Contexto Enferm, 2006; 15(4): 663-71.

10- Minayo, M. C. de S. O Desafio do Conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Saúde. São Paulo, Rio de Janeiro: HUCITEC, ABRASCO, 2007.

11- Bourdieu, P. Homo Academicus. Florianópolis, Ed. UFSC, 2011.

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12- Buss, P M, Carvalho, A I. Desenvolvimento da promoção da saúde no Brasil nos

últimos vinte anos (1988-2008). Ciênc. saúde coletiva [online]. 2009;.14(6):

2305-2316.

13- Diretrizes curriculares nacionais para os cursos universitários da área da saúde.

Rede Unida, 2003.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No primeiro artigo desta tese, de revisão integrativa, pude constatar que as

discussões acerca do tema, de uma forma geral, foram similares nos estudos nacionais e

internacionais e que a pouca inserção da temática nos currículos da área de saúde,

segundo a literatura, é uma realidade mundial.

O segundo artigo apresentado, que teve por objetivo discutir a inserção da

temática “Saúde do Idoso” na formação em saúde a partir da análise da posição de 22

docentes de três cursos de graduação que referem a atenção aos idosos em suas

Diretrizes Curriculares Nacionais, tendo como fonte principal de informação o

Currículo Lattes, teve como principal conclusão a característica secundária do tema na

carreira dos docentes.

A investigação em campo relatada no terceiro artigo desta tese constatou

principalmente que os docentes envolvidos com a temática mantêm pesquisas e

atividades isoladas e sem muita articulação, havendo a necessidade de estabelecimento

de parcerias e redes de cooperação mais consistentes para o maior desenvolvimento e

visibilidade da área de atuação.

Os três artigos produzidos possibilitaram o entendimento da inserção da temática

Saúde do Idoso nos cursos de graduação que fizeram parte da pesquisa, a partir da

identificação de conteúdos e práticas voltados para a matéria nesses cursos, da análise

da posição dos docentes envolvidos com o tema e de suas concepções acerca da

formação voltada para a Saúde do Idoso. Cabe registrar na trajetória da pesquisa a

dificuldade de acesso aos professores dos cursos de Medicina, o que acabou

inviabilizando a inclusão deste curso no estudo.

Em síntese, foi possível concluir, com base nos investimentos teóricos e a partir

dos dados e informações produzidos no campo, que a inserção da temática nos

currículos se dá mais por meio da abordagem das doenças comuns ao envelhecimento

do que pelo aspecto da promoção da saúde e das políticas públicas. Ainda é pelo viés

das doenças comuns aos idosos e de suas limitações que, na maioria das vezes, tais

conteúdos são inseridos.

A titulação e os cargos ocupados pelos professores relacionados à temática

refletem um corpo docente em busca de maiores espaços na universidade. A inserção

secundária da Saúde do Idoso na carreira acadêmica docente, nos próprios cursos de

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graduação que mencionam a atenção aos idosos como relevante em suas diretrizes

curriculares, é um fator que não favorece a notoriedade e consequentemente a ocupação

de maior espaço de tais temas nos currículos. Merece atenção o fato de que apesar de

serem indicados e reconhecidos pelos coordenadores de cursos dos quais fazem parte

como pertencentes à determinada área de atuação, no caso da temática saúde do

idoso/envelhecimento, os próprios professores não se afirmam como pesquisadores

prioritariamente dessa área, identificando-se com outras áreas temáticas e de atuação,

como, por exemplo: “cuidado aos grupos humanos”, “segurança ao paciente

hospitalizado”, “resiliência”, “oncologia’, “diagnóstico e intervenção nutricional de

coletividades”, “Educação Física adaptada”, “prevenção de quedas”, “estudos do lazer e

ludicidade”. Ao se referirem como pesquisadores de diferentes linhas de pesquisa,

mesmo aqueles que estavam na mesma instituição, os docentes evidenciaram que

trabalham de forma desarticulada, tendo a temática em questão como secundária em

suas carreiras. Como consequência, deixam de fomentar as articulações necessárias ao

seu desenvolvimento e fortalecimento.

Essa pouca articulação implica aspectos que os próprios docentes citaram como

possíveis causas da inserção limitada da temática na formação universitária dos

profissionais, como, por exemplo, poucos congressos e eventos científicos na temática e

pouco envolvimento científico e político dos docentes.

Na própria universidade são produzidos os critérios de ascensão e o prestígio de

determinada temática. É no interior do campo que os pares definem diferentes critérios,

esforçam-se para fazê-los legítimos. Desta forma para o desenvolvimento da temática

Saúde do Idoso na formação, é necessária uma rede capaz de garantir o aumento da

influência em instâncias de consagração externa, tais como a mídia, a criação de centro

de pesquisa e a emancipação de algumas disciplinas relacionadas à temática.

Um resultado favorável a maior inserção da temática nos cursos estudados foi o

investimento dos professores em formas de aproximação com os mecanismos de

controle, o que foi verificado no aumento de participação em bancas de concurso e suas

produções acadêmicas que foram ampliadas ao longo dos anos, principalmente sob a

forma de artigos científicos, altamente valorizados pelas instituições acadêmicas e de

pesquisa.

Os resultados da pesquisa realizada apontaram características e direcionamentos

em relação à abordagem do envelhecimento em três cursos da área de saúde –

Enfermagem, Nutrição e Educação Física – e devem ser considerados no contexto das

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universidades públicas do estado do Rio de Janeiro. Estudos mais abrangentes devem

ser realizados para uma maior compreensão e aproximação da realidade a respeito da

inserção da temática Saúde do Idoso nos cursos de graduação de modo a contribuir para

sua valorização e o aprimoramento da formação dos futuros profissionais.

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APÊNDICE

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ROTEIRO DE ENTREVISTA COM DOCENTES

Perfil docente

NOME:

Idade:

Instituição:

Formação básica:

Titulação: ( ) pós doutorado ( ) doutorado ( ) mestrado ( ) especialização ( )

graduação

Tipo e tempo de vínculo institucional: ( ) 5 anos ou menos ( ) 5 a 10 anos ( )

mais de 10 anos

Cargos ocupados:

Participação em programas de pós-graduação, bancas, pertencimento a comissões:

Principal linha de pesquisa:

Número aproximado de orientações em andamento e concluídas (teses, dissertações,

trabalhos de conclusão de curso)

Bolsista de agência de fomento: ( ) sim ( ) não

Estrutura e conteúdo curricular das atividades acadêmicas

1) Os conteúdos acerca do envelhecimento estão presentes nas disciplinas que o

senhor(a) ministra? Se sim, em quais disciplinas?

2) Quais os conteúdos relacionados ao envelhecimento que estão presentes nas

disciplinas que o senhor(a) ministra? (Políticas públicas de atenção ao idoso,

agravos e doenças prevalentes nos idosos, questões socio-antropológicas

relacionadas ao envelhecimento)

3) Além de aulas em disciplinas, o envelhecimento é tema de outro tipo de

atividade docente/acadêmica que desenvolve? (projetos de pesquisa, extensão,

preceptoria, organização de seminários). Se sim, quais?

Concepções sobre inserção da temática Saúde do Idoso na formação profissional

em saúde

1) Para senhor(a) qual a relevância desta temática para a formação dos futuros

profissionais da saúde?

2) Qual a sua percepção sobre a abordagem do envelhecimento nos cursos da área

Ministério da Saúde

FIOCRUZ

Fundação Oswaldo Cruz

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

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de saúde em geral? E na instituição em que está vinculado?

3) Caso julgue insuficiente, responda por que acha que isso acontece?

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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Prezado participante,

Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa “A inserção da temática saúde

do idoso nas graduações da área de saúde a partir da posição ocupada pelos

docentes no campo universitário”, desenvolvida por Claudia Reinoso Araujo de

Carvalho, discente de Doutorado em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde

Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/FIOCRUZ), sob orientação

da Professora Dra. Élida Azevedo Hennington.

O objetivo central do estudo é analisar a inserção da temática Saúde do Idoso nos cursos

de graduação da área de saúde a partir da posição ocupada pelos docentes no campo

universitário.

O convite a sua participação se deve ao fato de você ser docente de cursos de graduação

da área de saúde em disciplinas que de alguma forma abordam questões referentes ao

envelhecimento, ou por ser preceptor ou coordenador de projetos acerca do tema, ou por

ser coordenador de curso superior na área de saúde. Sua participação é voluntária, isto é, ela não é obrigatória, e você tem plena autonomia para

decidir se quer ou não participar, bem como retirar sua participação a qualquer momento. Você

não será penalizado de nenhuma maneira caso decida não consentir sua participação, ou desistir

da mesma. Contudo, ela é muito importante para a execução da pesquisa.

Serão garantidas a confidencialidade e a privacidade das informações por você prestadas.

Qualquer dado que possa identificá-lo será omitido na divulgação dos resultados da pesquisa, e

o material será armazenado em local seguro.

A qualquer momento, durante a pesquisa, ou posteriormente, você poderá solicitar do

pesquisador informações sobre sua participação e/ou sobre a pesquisa, o que poderá ser feito

através dos meios de contato explicitados neste Termo.

A sua participação consistirá em responder perguntas de um roteiro de entrevista à

pesquisadora do projeto. A entrevista será gravada. O tempo de duração da entrevista é

de aproximadamente uma hora.

As entrevistas serão transcritas e armazenadas, em arquivos digitais, mas somente terão

acesso às mesmas a pesquisadora e sua orientadora.

Ao final da pesquisa, todo material será mantido em arquivo, por pelo menos 5 anos,

conforme Resolução 466/12 e orientações do CEP/ENSP.

O benefício relacionado com a sua colaboração nesta pesquisa é o de contribuir no

sentido de dar mais visibilidade à Saúde do Idoso, apontando as características, limites e

Ministério da Saúde

FIOCRUZ

Fundação Oswaldo Cruz

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

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perspectivas da formação na área, a partir dos quais sugestões para uma melhor

formação dos profissionais de saúde acerca do processo de envelhecimento e suas

consequências possam ser pensadas.

Existe a possibilidade de você sentir-se constrangido ao conceder a entrevista e com

receio de comprometer a sua instituição, no entanto, todos os cuidados serão tomados

no sentido de diminuir este risco. Não haverá referência direta a sua instituição e esta

não será nomeada e citada no texto final da tese. Os resultados a serem divulgados serão

referentes ao conjunto de instituições públicas de ensino superior do Rio de Janeiro.

Não é de interesse da pesquisa evidenciar ou identificar instiuições específicas.

Os resultados serão divulgados em palestras dirigidas ao público participante, relatórios

individuais para os entrevistados, artigos científicos e na tese.

Se você sofrer qualquer tipo de dano previsto ou não neste termo de consentimento e

resultante de sua participação no estudo, além do direito à assistência integral, você tem

direito à indenização, conforme itens III. 2.0,IV.4.c, V.3, V.5 e V.6 da Resolução CNS

466/12.

Este termo é redigido em duas vias, sendo uma para o participante e outra para o

pesquisador.

Em caso de dúvida quanto à condução ética do estudo, entre em contato com o Comitê

de Ética em Pesquisa da ENSP. O Comitê de Ética é a instância que tem por objetivo

defender os interesses dos participantes da pesquisa em sua integridade e dignidade e

para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos. Dessa forma o

comitê tem o papel de avaliar e monitorar o andamento do projeto de modo que a

pesquisa respeite os princípios éticos de proteção aos direitos humanos, da dignidade,

da autonomia, da não maleficência, da confidencialidade e da privacidade.

Tel. e Fax - (0XX) 21- 25982863

E-mail: [email protected]

http://www.ensp.fiocruz.br/etica

Endereço: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/ FIOCRUZ, Rua

Leopoldo Bulhões, 1480 –Térreo - Manguinhos - Rio de Janeiro – RJ - CEP: 21041-210

___________________________________________

Claudia Reinoso Araujo de Carvalho

e-mail: [email protected]

local e data:

Declaro que entendi os objetivos e condições de minha participação na pesquisa e

concordo em participar.

_________________________________________

(Assinatura do participante da pesquisa)

Nome do participante:

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