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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL KIMBERLY SALOMÃO DA SILVA A REPRESENTAÇÃO DO HERÓI POR MEIO DO JORNALISMO LITERÁRIO: AS OLIMPÍADAS 2016 NA SÉRIE PERFIS DO JORNAL NACIONAL CAXIAS DO SUL 2017

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

KIMBERLY SALOMÃO DA SILVA

A REPRESENTAÇÃO DO HERÓI POR MEIO DO JORNALISMO LITERÁRIO: AS

OLIMPÍADAS 2016 NA SÉRIE PERFIS DO JORNAL NACIONAL

CAXIAS DO SUL

2017

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KIMBERLY SALOMÃO DA SILVA

A REPRESENTAÇÃO DO HERÓI POR MEIO DO JORNALISMO LITERÁRIO: AS

OLIMPÍADAS 2016 NA SÉRIE PERFIS DO JORNAL NACIONAL

CAXIAS DO SUL

2017

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para a aprovação na disciplina Monografia II. Orientadora: Profª Ma. Adriana dos Santos Schleder

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KIMBERLY SALOMÃO DA SILVA

A REPRESENTAÇÃO DO HERÓI POR MEIO DO JORNALISMO LITERÁRIO: AS

OLIMPÍADAS 2016 NA SÉRIE PERFIS DO JORNAL NACIONAL

Banca Examinadora

______________________________________________

Profª. Ma. Adriana dos Santos Schleder Universidade de Caxias do Sul ______________________________________________ Prof. Me. Jacob Raul Hoffmann Universidade de Caxias do Sul ______________________________________________ Profª. Me. Marliva Vanti Gonçalves Universidade de Caxias do Sul

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para a aprovação na disciplina Monografia II, do curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo da Universidade de Caxias do Sul.

Aprovado em: __/__/____

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, Raquel Spuldaro e Evandro Mota, que sempre me

apoiaram nas minhas escolhas e são meus exemplos de força de vontade e

perseverança. E também por me incentivar a ter minhas próprias decisões durante a

minha graduação.

Aos meus amigos que estiveram presentes durante a realização da minha

monografia, em especial a Marina Mondadori, Willber Bossle, Germano Fiorio,

Natan Dambros, Gisele Bergamini e Camila Magnaguagno por todo o apoio e

incentivo para fazer o meu melhor. Vocês são exemplos de uma grande amizade.

Ao meu parceiro, João Carlos, por me apoiar com suas palavras de carinho

nos momentos mais difíceis desse processo, onde eu estava esgotada. E também

todo o incentivo para continuar. Esses momentos foram não só importantes, mas

cruciais na produção da monografia.

A minha orientadora, professora Adriana dos Santos Schleder, por me

incentivar a fazer o meu melhor durante do processo da monografia. Por falar o que

estava errado e sempre me explicar a melhor maneira de chegar ao melhor

resultado durante um ano de processo. Além de todo convívio, aprendizado e bons

momentos.

E agradeço também ao coordenador do curso de Jornalismo, Marcell

Bocchese e a todos os professores do curso pelo apoio, aprendizado e convívio

durante a graduação.

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“Jornalismo e literatura são irmãos gêmeos que nasceram muito diferentes e que hoje são mais parecidos do que nunca”. Zuenir Ventura

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RESUMO

Esta monografia tem por objetivo analisar se a série de reportagens Perfis, do Jornal

Nacional, sobre os atletas olímpicos de 2016, ajudou a reforçar a representação do

herói por meio do Jornalismo Literário. A pesquisa foi realizada a partir de revisão

bibliográfica a respeito dos gêneros e formatos de programas de televisão, do

jornalismo esportivo, do processo de produção de conteúdo para a televisão, do

jornalismo literário e das representações sociais. O corpus do estudo foi analisado

tendo como referência o método de Análise do Discurso. Como técnicas, foram

utilizadas, além da revisão bibliográfica, a entrevista e a observação. Com a

realização da pesquisa foi possível perceber que o jornalismo esportivo se utiliza da

narrativa literária e de representações sociais para envolver seus espectadores nas

histórias contadas nas reportagens.

Palavras-chave: Televisão. Jornal Nacional. Série Perfis. Grande reportagem.

Jornalismo Esportivo. Jornalismo Literário.

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ABSTRACT

This objective of this monograph is to analyze if the series Perfis, of Jornal Nacional, about the 2016 Olympics athletes help to strengthen the hero representation through literary journalism. The research was conducted from the bibliographic review about genres and formats of TV programs, sports journalism, production process of content made for television, literary journalism and social representations. The core of the study was analysed by referencing the discourse analysis method. Besides bibliographic review, the interview and observation techniques were also adopted. With this research it was possible to realize that the sports journalism uses literary narrative and social representations to involve their viewers in the stories told in the series.

Keywords: Television. Jornal Nacional. Series. Perfis. Great story. Sports Journalism. Literary Journalism.

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LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Categoria, gêneros e formatos...............................................................18

Figura 2 – Imagem aérea de Arthur Zanetti...........................................................121

Figura 3 – Pedro Bassan durante a sua passagem...............................................122

Figura 4 – Repórter posicionado na canoa durante a passagem..........................123

Figura 5 – Recurso Gráfico....................................................................................125

Figura 6 – Arthur Zanetti revendo seus treinos......................................................126

Figura 7 – Imagens de arquivo das Olimpíadas de Atenas 2004..........................129

Figura 8 – Arthur Zanetti nas Olimpíadas de Londres...........................................132

Figura 9 – Pintura de Arthur Zanetti.......................................................................137

Figura 10 – Pintura de Yane Marques...................................................................137

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – VT 1 Perfil Arthur Zanetti......................................................................114

Quadro 2 – VT 2 Perfil Yane Marques.....................................................................116

Quadro 3 – VT 3 Perfil Sarah Menezes...................................................................117

Quadro 4 – VT 4 Perfil Fabiana Claudino................................................................118

Quadro 5 – VT 5 Perfil Isaquias Queiroz.................................................................119

Quadro 6 – VT 6 Perfil Serginho..............................................................................120

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................13

2. GÊNEROS E FORMATOS DE PROGRAMAS DE TELEVISÃO.....................16

2.1 CONCEITO.....................................................................................................16

2.2 CATEGORIA ENTRETENIMENTO................................................................19

2.3 CATEGORIA INFORMAÇÃO.........................................................................20

2.4 CATEGORIA OUTROS..................................................................................22

2.5 HIBRIDISMO..................................................................................................22

3. JORNALISMO ESPORTIVO............................................................................25

3.1 CONCEITO.....................................................................................................25

3.2 O ESPORTE E OS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO....................................26

3.2.1 O esporte no Jornalismo Impresso..........................................................26

3.2.2 O esporte no Rádio Brasileiro..................................................................29

3.2.3 O esporte na TV aberta e por assinatura.................................................31

3.2.4 O esporte na Internet.................................................................................35

3.3 ESPORTE NÃO É SÓ FUTEBOL...................................................................36

3.4 OLIMPÍADAS COMO EVENTO......................................................................37

3.4.1 Cobertura Esportiva..................................................................................40

3.4.2 Cobertura Olímpica do Grupo Globo.......................................................41

4. PRODUÇÃO DE CONTEÚDO NO TELEJORNALISMO.................................43

4.1 PAUTA............................................................................................................43

4.2 REPORTAGEM...............................................................................................45

4.2.1 Entrevista....................................................................................................46

4.2.2 Texto............................................................................................................47

4.2.3 Gravação.....................................................................................................49

4.3 PÓS-PRODUÇÃO...........................................................................................49

4.3.1 Edição..........................................................................................................50

4.4 GRANDE REPORTAGEM...............................................................................51

4.5 ANCORAGEM.................................................................................................53

4.6 EXIBIÇÃO........................................................................................................54

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5.JORNALISMO LITERÁRIO..............................................................................55

5.1 BREVE HISTÓRICO.......................................................................................55

5.2 CONCEITO.....................................................................................................57

5.3 CARACTERÍSTICAS......................................................................................58

5.4 A LINGUAGEM E A NARRATIVA LITERÁRIA...............................................60

5.5 A LINGUAGEM NA REPORTAGEM PERFIL.................................................61

5.6 EMOÇÃO NA NARRATIVA JORNALÍSTICA E LITERÁRIA..........................63

5.7 REPRESENTAÇÃO SOCIAL NA NARRATIVA JORNALÍSTICA...................64

5.7.1 Jornada do Herói.......................................................................................66

6. METODOLOGIA..............................................................................................69

6.1 MÉTODO........................................................................................................69

6.2 TÉCNICAS.....................................................................................................73

6.2.1 Revisão Bibliográfica................................................................................73

6.2.2 Entrevista...................................................................................................76

6.2.2.1 Perfil Pedro Bassan..................................................................................78

6.2.3 Observação.................................................................................................79

6.2.3.1 Perfil Jornal Nacional................................................................................81

6.2.3.2 Corpus da Pesquisa.................................................................................82

6.2.2.3 Decupagem..............................................................................................82

7. A REPRESENTAÇÃO DO HEROI NAS REPORTAGENS ESPORTIVAS DA

SÉRIE PERFIS...................................................................................................114

7.1 QUADROS PARA ANÁLISE.........................................................................114

7.2 GRANDE REPORTAGEM............................................................................121

7.3 JORNALISMO ESPORTIVO........................................................................126

7.4 JORNALISMO LITERÁRIO..........................................................................130

7.5 REPRESENTAÇÃO SOCIAL.......................................................................136

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................143

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................147

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ANEXO................................................................................................................153

APÊNDICE..........................................................................................................154

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1. INTRODUÇÃO

A olimpíada é o maior evento esportivo do mundo, que ocorre apenas de

quatro em quatro anos, e teve início na cidade de Olímpia na Grécia antiga. As

primeiras modalidades praticadas eram o arremesso de dardo, salto em altura,

lançamento de disco, corridas e lutas. Conforme o site1 oficial das olimpíadas, em

2016, foram 42 modalidades olímpicas, em 306 provas disputadas entre 207

países membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) e mais de 11 mil atletas.

Além disso, o esporte faz parte da cultura brasileira. O torcedor é estimulado a

acompanhar os jogos, a assistir às competições e também a despertar o seu lado

patriota pelo país.

O projeto Perfis teve início na Copa do Mundo e contou as histórias dos

jogadores da seleção brasileira. Com a realização dos jogos Olímpicos, o projeto

foi retomado e foram contadas 16 histórias sobre os atletas. Foram depoimentos

de superação, empecilhos, dificuldades e conquistas nos esportes. Dessa forma,

a série de reportagens Perfis, virou objeto de estudo desta monografia, sobre os

atletas olímpicos 2016. A série foi exibida no Jornal Nacional em julho de 2016.

Com produção do repórter Pedro Bassan, ela conta com a história de 16 atletas.

Entretanto, para a análise no projeto de pesquisa, foram escolhidas seis grandes

reportagens sobre os seguintes atletas: Arthur Zanetti, Yane Marques, Sara

Menezes, Fabiana Claudino, Isaquias Queiroz e Serginho. A escolha dos atletas

levou em consideração esportes mais populares entre o público e outros que não

possuem grande popularidade. A partir disso, o tema estabelecido para esta

monografia é: a representação do herói por meio do jornalismo literário: as

Olimpíadas 2016 na série Perfis do Jornal Nacional.

A definição do tema começou a partir do anúncio da realização das

Olimpíadas pela primeira vez no Brasil, em 2016. O fato fez com que várias

notícias sobre o evento, desde a construção do parque olímpico, até as

preparações dos atletas fossem veiculadas em várias redes de televisão. Além

disso, a vontade de trabalhar com produção audiovisual me incentivou a estudar

como é realizado esse processo. A monografia é a união de dois assuntos que eu

aprecio muito: olimpíadas e televisão. Conforme Vera Íris Paternostro, na obra O

1 Rio 2016. Disponível em: < www.olympic.org/rio-2016 > Acesso em: 22 jun. 2017.

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Texto na TV (1999), em telejornalismo, como em outros formatos de jornalismo,

não existem fórmulas. Dessa forma, apenas quem se dedicar ao trabalho na

televisão vai descobrir sozinho os caminhos e as soluções para o exercício do

jornalismo.

Neste sentido, desenvolveu-se a questão norteadora desta pesquisa: a

série Perfis, exibida no Jornal Nacional, se utiliza do jornalismo literário para

reforçar a representação do herói nas reportagens esportivas sobre os atletas

olímpicos de 2016? Para complementar a questão norteadora e o

desenvolvimento da pesquisa, foram elencadas três hipóteses: se o jornalismo

esportivo reforça a representação do herói nas suas reportagens; a grande

reportagem no jornalismo esportivo consegue se aproximar do público por meio

das histórias dos personagens e se a narrativa utilizada nas reportagens

esportivas envolve o espectador por meio do jornalismo literário.

Para responder esta questão, foram elaborados o objetivo geral e

específicos. Investigar se a série de reportagens Perfis, do Jornal Nacional, sobre

os atletas olímpicos de 2016, ajudou a reforçar a representação do herói por meio

do jornalismo literário é o objetivo geral. Entre os específicos estão conceituar os

gêneros de programas de televisão; definir o que é o jornalismo esportivo;

conhecer como é feita a produção de conteúdo de jornalismo esportivo;

caracterizar o jornalismo literário e como ele pode ser apresentado na grande

reportagem; conceituar e caracterizar a grande reportagem; pesquisar sobre

representação social; compreender a prática de produção por meio de entrevistas

com profissionais que elaboraram a série Perfis e analisar a série de reportagens

Perfis, por meio da decupagem.

A metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa foi a Análise

de Discurso. As técnicas utilizadas foram a revisão bibliográfica, a entrevista e a

observação, por meio da decupagem.

O estudo resultou em oito capítulos. No capítulo dois desta monografia,

Gêneros e formatos de programas de televisão, foram conceituados categorias,

gêneros e formatos com o objetivo de compreender em qual a categoria, o

gênero e o formato do Jornal Nacional, programa que exibiu a série Perfis, pode

se encaixar. Além disso, foi apresentado o conceito de hibridismo, visto que um

programa pode não se encaixar em apenas um gênero.

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O capítulo três, Jornalismo Esportivo, aborda o conceito do gênero e como

ele é apresentado no meio impresso, no rádio, na TV aberta e por assinatura e na

internet, e como o esporte é exibido na televisão. Foi relatado também, o esporte

em grandes eventos e a cobertura esportiva do Grupo Globo.

O quarto capítulo, Produção de conteúdo no telejornalismo, discorre sobre

o processo da criação de conteúdo para um telejornal, desde a elaboração da

pauta até exibição do material final. Além disso, como é feita essa produção no

jornalismo esportivo.

O quinto capítulo, Jornalismo Literário, é apresentado um breve histórico

sobre o gênero, assim como o seu conceito, características, a linguagem e a

narrativa literária. E, a literatura na reportagem perfil, a representação social e a

jornada do herói.

No capítulo seis, Metodologia, foi apresentado o método utilizado para o

desenvolvimento do projeto, Análise de Discurso, apontado o seu corpus, as

técnicas utilizadas, e a decupagem das seis reportagens analisadas.

O sétimo capítulo, A representação do herói nas reportagens esportivas da

série Perfis, está à interpretação dos dados da pesquisa, que integra a Análise de

Discurso, elaborada a partir da revisão bibliográfica e da observação dos

episódios da série. No último capítulo, encontram-se as considerações finais,

onde será respondida a questão norteadora e confirmada ou não as hipóteses da

pesquisa.

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2. GÊNERO E FORMATOS DE PROGRAMAS DE TELEVISÃO

Para o desenvolvimento desta pesquisa monográfica é necessário

conhecer como o conteúdo e seus diferentes formatos são apresentados na

televisão (TV). Sendo assim, neste capítulo serão apresentados os conceitos e

definições de categorias, gêneros e formatos de programas de TV, direcionado

ao estudo da pesquisa.

2.1 CONCEITOS

O Brasil está entre os países que mais produz e comercializa programas

de televisão, no segmento do entretenimento. O autor José Carlos Aronchi de

Souza explica, na obra Gêneros e Formatos na Televisão Brasileira (2004), que

todos os tipos de programas procuram além de entreter, informar espectadores

ao redor do mundo. A produção brasileira na televisão, em alguns segmentos,

não visa apenas o mercado nacional, mas também o internacional. As produções

dependem do orçamento que é disponibilizado pela rede, mas, em algumas

situações, o corte orçamentário impede a realização de grandes produções.

Souza explica que (2004, p. 26) “qualquer processo de produção em larga escala

na televisão mundial, conforme os princípios industriais requer a organização das

várias etapas e, principalmente, pessoal competente e bem treinado”.

De acordo com Souza (2004), a capacitação e a mão de obra necessária

para a realização dessas produções, no Brasil, são oriundas dos cursos de

graduação. Os profissionais têm a capacidade de colocar no ar os programas de

televisão, visto que os artistas têm apenas uma formação eclética e

desempenham a função de informar.

Além da mão de obra para a produção, a televisão, desde a sua criação, é

sinônimo de tecnologia e inovação, independente da popularidade dos veículos

de comunicação. Ela inovou a indústria dos equipamentos de transmissão de

sinais de dados. Para compreender o desenvolvimento da televisão, Souza

(2006) salienta que é necessário estudar os gêneros e formatos de programas de

televisão.

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A identificação dos recursos para produção de um gênero permite escolher tecnologia de áudio, os efeitos especiais no vídeo, o uso de equipamentos, enfim, as aplicações técnicas adequadas às várias produções, em canais diferentes. Com as informações sobre desenvolvimento histórico de cada gênero, com a abordagem conceitual e técnica dos recursos utilizados e também com os resultados alcançados no vídeo, chega-se a um perfil da produção em televisão, para compreender melhor o planejamento, a organização, a implantação e a criação de programas (SOUZA, 2004, p.30).

Além disso, Souza (2004) cita o manual de produção de programas da

British Broadcasting Corporation (BBC), emissora pública de rádio e televisão da

Grã-Bretanha. O manual explica que os programas devem entreter e informar. O

entretenimento tem como meta a audiência. Os programas de informação são

necessários em qualquer produção, para fazer com que a pessoa saiba mais

sobre assuntos que não sabia antes. Segundo Souza, independente da categoria

de programa da TV, ele deve sempre entreter, mas pode informar.

Também, de acordo com a autora Elizabeth Bastos Duarte, no artigo

Reflexões sobre gêneros e formatos televisivos, publicado no livro Televisão:

entre o mercado e a academia (2006), dizer que um programa é apenas

informativo ou entretenimento, não quer dizer nada. Dessa forma, “que programa

não traz informações? Que programa não tem como meta o entretenimento?

Nenhum subgênero dito informativo escapa à espetacularização [...].” (2006, p.

21).

A partir disso é possível definir cada conceito. Para explicar categoria,

Souza (2004) relembra que costumamos ordenar tudo que existe em grupos

diferentes. O princípio deste tipo de classificação é do filósofo grego, Aristóteles.

Dessa forma, “a separação dos programas de televisão em categorias atende a

necessidade de classificar gêneros correspondentes. Por isso, a categoria

abrange vários gêneros e é capaz de classificar um número bastante

diversificados de elementos” (SOUZA, 2004, p. 37).

Além de categoria, é viável definir gêneros. O autor Arlindo Machado, na

obra Televisão levada a sério (2014) cita o pensador russo Mikhail Bakthin. Para

Bakthin, “é o gênero que orienta todo o uso da linguagem no âmbito de um

determinado meio, pois é nele que se manifestam as tendências expressivas

mais estáveis e mais organizadas da evolução do meio” (BAKTHIN, 1987, apud

MACHADO, 2014, p. 68). Sendo assim, o gênero vai se renovando. Ao mesmo

tempo em que ele é novo, ele pode ser velho.

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Para explicar gêneros, Souza (2004) cita a definição do dicionário Aurélio:

“conjunto de espécies que apresentam certo número de caracteres comuns

convencionalmente estabelecidos. [...] Classe ou categoria de assunto ou de

técnica” (Aurélio Buarque de Holanda, apud SOUZA, 2004, p. 41). Souza ainda

apresenta os estudos do escritor e professor de cinema, Stuart M. Kaminsky

(1984). Ele fundamenta que gênero e categoria devem fazer parte da mesma

análise:

A própria palavra gênero significa simplesmente ordem. [...] No entanto, as questões básicas são: que categorias existem para se ordenar? Como chegaram aí? Quais são as relações entre as várias categorias? O que essas categorias significam? No livro A ordem das coisas, o filósofo Michel Foucault afirma que há diversas maneiras básicas de encarar a ordem e que precisamos estar conscientes dos métodos que escolhemos (KAMINSKY, 1984, apud SOUZA, 2004, p. 42).

E as definições de gêneros, entre os autores variam. De acordo com

Duarte (2006, p.20), “um gênero, é antes de tudo, uma estratégia de

comunicabilidade, e é como marca dessa comunicabilidade que se faz presente e

analisável no texto”.

Os programas de televisão possuem outra estrutura além do gênero e

categoria, o formato. Souza (2004) faz uma analogia com as diferenças entre as

espécies da biologia. O mesmo pode ser feito na televisão. Sendo assim, “em

televisão, vários formatos constituem um gênero de programa, e os gêneros

agrupados formam uma categoria [...]. Formato está sempre associado a um

gênero, assim como gênero está diretamente ligado a uma categoria.” (SOUZA,

2004, p. 45/46).

Figura 1 - Categorias, gêneros e formatos.

Fonte: SOUZA, 2004, p. 47

A partir das definições de categoria, gênero e formato será possível

apresentar suas classificações. Souza (2004) menciona as três categorias de

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José Marques de Melo, que envolvem a maioria dos gêneros: entretenimento,

informativo e educativo. Uma quarta categoria, especiais, é classificada com

programas infantis, de religião, de minorias étnicas, agrícolas e outros. O autor

exibe a sua própria classificação de cinco categorias.

a) Entretenimento: auditório; colunismo social; culinário; desenho animado;

docudrama; esportivo; filme; game show; humorístico; infantil; interativo; musical;

novela; quiz show; reality show; revista; série; série brasileira; sitcom; talk show;

teledramaturgia; variedades; western;

b) Informação: debate; documentário; entrevista; telejornal;

c) Educação: educativo; instrutivo;

d) Publicidade: chamada; filme comercial; político; sorteio; telecompra;

e) Outros: especial; eventos; religioso.

A partir da classificação das categorias e gêneros, serão apresentados na

sequência os gêneros esportivos, entrevista, telejornal e evento, pertinentes ao

tema da pesquisa, dentro de suas respectivas categorias.

2.2 CATEGORIA ENTRETENIMENTO

O gênero esportivo faz parte da categoria entretenimento, mas também

pode ser fazer parte da categoria informação. Conforme Souza (2004), as redes

de televisão brasileira elaboram seus programas em cima da paixão do torcedor

pelo futebol, por isso, muitas vezes não tem muita variedade no conteúdo da

programação. O autor explica que na Rede Globo, programa como e Esporte

Espetacular, consegue abranger outras categorias de esporte, não apenas o

futebol. O principal diferencial entre um canal e outro é o tempo que eles

destinam a esse conteúdo.

Souza (2004) explica porque o gênero esportivo se encaixa também na

categoria informação. Segundo ele:

o principal diferencial entre uma rede e outra é o tempo que cada qual destina ao gênero.[...] Por causa da necessidade de profissionais do jornalismo que utilizam equipamentos para gravação externa e também de infraestrutura de estúdio em horários descontínuos, os programas do gênero esportivo inserem-se na estrutura dos departamentos do telejornalismo das redes (SOUZA, 2004, p. 106).

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Dessa forma, os profissionais que fazem parte da programação esportiva

de uma rede de televisão, como narradores e comentaristas, desenvolvem suas

próprias técnicas para deixar a sua marca pessoal. Além disso, conforme

Heródoto Barbeiro e Patrícia Rangel na obra Manual do Jornalismo Esportivo

(2006), trabalhar com o jornalismo esportivo tem as suas características, pois ele

acaba se confundindo com o entretenimento.

Isto, por seu lado, propicia o aparecimento de alguns poucos “coroados” e o envolvimento com outras atividades incompatíveis com a prática do jornalismo, como o agenciamento de publicidade, marketing e política privada dos clubes, federações, confederações e empresas. (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 13).

As negociações de transmissão de campeonatos e eventos esportivos são

pontos importantes no gênero esportivo. Os horários de exibição são escolhidos

estrategicamente, atendendo aos interesses da empresa. De acordo com Souza

(2004, p. 107), “na maioria dos eventos esportivos, as negociações são feitas

entre as emissoras e as empresas de marketing esportivo detentoras dos direitos

de transmissão ou promotoras do evento”. Segundo o autor, essas negociações

mostram a força dos veículos, ainda mais a relação com os patrocinadores.

Sendo assim, o esporte é um gênero que gera lucro para uma rede de televisão.

Os programas ocupam até três horas da programação, e, apesar disso, os custos

de uma produção são baixos quando comparados com uma novela.

Porque dispensam cenários, a equipe técnica pode ser reduzida e os salários da equipe de produção e jornalismo são fixos, independentemente do número de programas durante o mês. Não é à toa que muitas das disputas pela compra de eventos esportivos, como a Copa do Mundo de futebol ou as Olimpíadas, vão parar na justiça (SOUZA, 2004, p. 107).

O formato é próximo do gênero telejornal, pois, no programa, existem

apresentadores, entrevistas realizadas em estúdio e na rua, sempre com os

padrões dos telejornais da emissora.

2.3 CATEGORIA INFORMAÇÃO

O gênero telejornal faz parte da categoria Informação. Para Souza (2004,

p. 149), “os programas da categoria informação poderiam estar, sob outra ótica,

reunidos num único gênero: o telejornalismo”. Conforme Machado (2014, p. 104),

o telejornal possui uma estrutura simples e o principal objetivo, e a consequência

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disso, é passar informações sobre fatos. Os apresentadores se revezam e

praticam atos de fala, e “o telejornal é, antes de mais nada, o lugar onde se dão

atos de enunciação a respeito dos eventos”.

De acordo com Souza (2004), o formato primário do gênero do telejornal

era o noticiário com o apresentador lendo os textos para a câmera. A fórmula

básica ainda se mantém: dois apresentadores leem os textos, chamam as

matérias que foram gravadas ou entram ao vivo. Para o autor, o telejornalismo

passa credibilidade para o público e um tom de atualidade, por esse motivo ele

ainda é apresentado ao vivo.

Conforme Souza (2004), o telejornalismo buscou outros formatos além do

telejornal. Segundo o autor, o telejornal se mantém na grade de programação por

suas variedades, como debates e entrevistas, documentários e reportagens

especiais.

O gênero entrevista também faz parte da categoria informação e está

ligado a programas jornalísticos das emissoras de televisão. Para Souza (2004,

p. 147), “os programas jornalísticos da emissora, procuram pessoas das mais

diversas áreas para ficar frente a frente com o apresentador, na maioria

jornalistas de renome. [...] O entrevistado é o foco e não há show comandado

pelo jornalista apresentador”. Os temas das entrevistas variam, podem ser sobre

a vida do entrevistado ou sobre algum tema que ele domine. No gênero

entrevista elas são gravadas, em estúdio ou locação externa. Para auxiliar esse

tipo de produção, são exibidas reportagens, ao vivo ou gravadas, que podem

complementar na abordagem do assunto.

De acordo com Souza (2004), para diferenciar o gênero entrevista do talk

show, é necessário fazer mudanças no cenário e no posicionamento do

apresentador. No talk show, o apresentador caminha no estúdio e anda pelo

cenário, tem plateia e apresentação musical. A movimentação é diferente na

entrevista, onde o convidado e o entrevistador permanecem sentados durante

todo o programa, dessa forma a entrevista tem duração mais longa que uma de

talk show.

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2.4 CATEGORIA OUTROS

As fórmulas de produção, a criatividade dos programas e dos diretores são

múltiplas. Para Souza (2004, p. 162), a multiplicidade de fórmulas “faz alguns

programas de TV não terem um rótulo que define seu gênero ou a sua origem.

Alguns são experiências únicas, que poderiam ser classificadas de “especiais”,

ou aproximam-se de certos gêneros, mas não são classificados pelas redes”.

O gênero evento, segundo Souza (2004), também pode estar ligado à

categoria informação, como em coberturas jornalísticas de eleições, por exemplo;

entretenimento, como em espetáculos artísticos; e educação, em congressos e

feiras. O formato para esse tipo de gênero é obrigatoriamente ao vivo, podendo

ser transmitido ao vivo ou gravado ao vivo. Além disso, especificamente para

eventos esportivos, a narração em off, o texto que será gravado para ilustrar as

imagens, é essencial para esclarecer o público do andamento da competição.

Dessa forma, qualquer evento pode se tornar um programa especial, passando

por uma reedição, em um formato compactado.

2.5 HIBRIDISMO

O hibridismo faz parte dos gêneros e programas de televisão. A autora

Miriam De Souza Rossini faz a sua própria definição de híbrido, no capítulo

Convergência tecnológica e os novos formatos híbridos de produtos audiovisuais,

publicado na obra Comunicação Audiovisual Gêneros e Formatos (2007).

Segundo ela, os mesmos meios possuem formas diferentes de recepção, mas

compartilham também das mesmas tecnologias e gestão de produção. A partir

disso,

desse hibridismo tecnológico ocasionado pela convergência tecnológica, estão surgindo os produtos híbridos, espécies de servidores de dois amos. No fundo, a aproximação entre eles sempre esteve no horizonte. O que hoje se vivencia é uma mudança nos próprios processos produtivos, que passa a marcar também aquilo que é produzido. [...] Ao traduzir as diferentes tradições audiovisuais, cada um dos meios se reinventa e cria as bases para a sua própria manutenção e existência (ROSSINI, 2007, p. 180).

Além disso, para as autoras Ana Carolina Rocha Pessoa Temer e Bruna

Vanessa Dantas Ribeiro, o hibridismo é a marca da televisão moderna. No artigo

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Hibridismo no Telejornalismo Brasileiro - A Liga e o Espetáculo Pseudo

Jornalístico (2015), as autoras explicam que “em meio há um ritmo frenético de

produção e consumo, as fronteiras entre categorias se apagam, gêneros se

misturam, formatos se confundem para formar novos formatos híbridos que se

estabelecem em um espaço entre gêneros e contribuem com a

espetacularização” (p. 03).

Em Quando a informação (con)funde-se com o entretenimento: a

hibridização de gêneros no telejornal (2015), o autor Vitor Belém, cita Guilherme

Jorge de Rezende para explicar que, nos meios televisivos, o hibridismo se

apropria de dois ou mais gêneros. Ele apresenta como exemplo a aproximação

da informação e o entretenimento. Sendo assim, “diante de um perfil de público

cada vez mais ativo e disperso em meio a múltiplos conteúdos/plataformas, um

conteúdo mais atrativo, capaz de entreter e, ao mesmo tempo, informar tem se

tornado estratégico para atraí-lo” (REZENDE, 2013, apud BELÉM, 2015)

Já Machado (2014, p. 67) explica que a definição de gênero está sofrendo

questionamentos por causa do hibridismo, “de parte inicialmente da crítica

estruturalista e posteriormente de pensamento dito pós-moderno”. Além disso, de

acordo com Machado, os gêneros estão sempre em transformação. As

variedades de gêneros são tantas que se misturam.

De fato, como colocar no mesmo pé de igualdade eventos audiovisuais tão distintos entre si, como uma narrativa de ficção seriada, a transmissão ao vivo de uma partida esportiva, o pronunciamento oficial de um presidente, um videoclipe, um debate político, uma aula de culinária, uma vinheta com motivos abstratos, uma missa ou um documentário sobre o fundo do mar? Os gêneros são categorias fundamentalmente mutáveis e heterogêneas (MACHADO, 2014, p. 70/71).

Duarte (2006) explica que os especialistas em televisão têm gasto tempo a

respeito das verdadeiras funções de gêneros, subgêneros e formatos para a TV.

Dessa forma,

os processos comunicativos televisivos se materializam em textos - os produtos televisuais, cuja característica principal é a complexidade e a hibridação: não só o seu conteúdo expressa-se simultaneamente, [...] como a gramática das formas televisuais está em processo de permanente apropriação em relação a outras mídias. [...] A discussão fica tanto mais acalorada quanto mais híbridos e complexos se tornam os produtos televisuais, tão mais relevantes quanto mais esses programas se mundializam, perdendo seu caráter de produção localizada (DUARTE, 2006, p. 20/21).

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Após as definições de categorias, gêneros e formatos e suas

classificações, serão apresentadas no próximo capítulo as definições de

jornalismo esportivo e como ele é apresentado.

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3. JORNALISMO ESPORTIVO

Para compreender o jornalismo esportivo e suas características nos dias de

hoje, 2017, este capítulo fará um resgate histórico de como a especialidade

surgiu, o que é, e como se apresenta, seja no jornalismo impresso, no rádio, na

televisão aberta, por assinatura e internet. Além disso, serão abordados outros

aspectos: o motivo do foco ser maior no futebol, a produção de conteúdo, as

olimpíadas como evento, a cobertura jornalística realizada nos jogos de 2016.

3.1 CONCEITO

O esporte faz parte do jornalismo esportivo, onde o repórter noticia os

acontecimentos de várias modalidades, jogos e atletas. Conforme Pascoal Luiz

Tambucci, na obra Jornalismo & Esporte (1997), é a comparação dos resultados

entre os participantes em competições, que são adquiridos em consequência de

critérios definidos, como normas e regulamentos. Os resultados dependem

também do desempenho, nível de habilidade e tempo de preparação física dos

atletas. O autor explica que é muito difícil o esporte passar despercebido, pois ele

está bastante presente nas mídias, ocupando espaço nos veículos de

comunicação. Mas o futebol é mais explorado que outras modalidades. Segundo

o autor, o futebol exerce forte atração junto à população. Dessa forma,

o esporte é considerado um fenômeno sócio-cultural, de dimensão social incontestável e, através dos meios de comunicação, pode-se constatar que o esporte tem ocupado, mundialmente, uma posição bastante destacada. Os canais internacionais, especialmente os que se dedicam exclusivamente ao esporte, mostram que a área está organizada e, deste modo, tem merecido um enfoque informativo altamente especializado (TAMBUCCI, 1997, p. 11).

O jornalismo esportivo é encarregado de divulgar tudo o que acontece

nesse meio, como competições e modalidades, visto que o esporte é uma

ferramenta de inclusão social. Na obra 1000 Perguntas - Jornalismo (2005),

Felipe Pena esclarece que:

o que vai desde o conceito de esporte como ferramenta de inclusão social até os noticiários especializados em modalidades esportivas de alto rendimento, onde estão condicionados aspectos como entretenimento e profissionalismo. Todo assunto de interesse da sociedade que envolva esporte é objeto do jornalismo esportivo (PENA, 2005, p. 81).

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Dessa forma, Pena (2005) explica o que diferencia o jornalismo esportivo

de outras editorias é como a paixão no esporte é despertada em seu público. O

profissional que escreve para jornal, rádio ou internet deve ter consciência que

está lidando com a paixão do leitor/espectador. A paixão é o principal motivo que

o esporte consegue atingir várias classes sociais.

3.2 O ESPORTE E OS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO

O jornalismo esportivo se apresenta em várias plataformas e de formas

diferentes. No jornalismo impresso; no rádio devido às narrações e transmissões

de jogos; na televisão aberta e por assinatura; e na internet, onde a agilidade faz

toda diferença nas postagens diárias.

3.2.1 O esporte no Jornalismo Impresso

O meio impresso é um dos mais antigos de veiculação de notícias. Na

obra Jornalismo Esportivo, Paulo Vinicius Coelho (2004) explica que no final da

década de 1960 foi lançada uma revista totalmente voltada para o esporte, a

Placar. Mas as informações nos veículos de jornalismo impresso começaram

mais cedo. Em 1910, existiam páginas sobre esporte no jornal Fanfulha. Coelho

relata que o Fanfulha “não se tratava de um periódico voltado para as elites, não

formava opinião, mas atingia um público cada vez mais numeroso na São Paulo

da época: os italianos. Um aviso não muito pretensioso de uma das edições

chamava-os a fundar um clube de futebol” (COELHO, 2004, p.8).

A Fanfulha é a fonte de consulta de arquivos antigos sobre o Palmeiras e

as primeiras décadas do futebol brasileiro. De acordo com Coelho (2004), na

época, o jornal cedia espaço de páginas inteiras sobre futebol, esporte que não

era tão popular. Além disso, apresentava a ficha de todos os jogos de clube

italianos. Em 1931 surgiu no Rio de Janeiro o Jornal dos Sports. Segundo

Coelho, a rigor, o primeiro diário exclusivo de esportes. A Gazeta Esportiva

nasceu em 1928, como um complemento do jornal A Gazeta.

A Revista do Esporte também foi outro impresso importante na época.

André Ribeiro, na obra Os Donos do Espetáculo: histórias da imprensa esportiva

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no Brasil (2007) relata que devido à conquista inédita do título mundial na Suécia,

Anselmo Domingos lançou a Revista do Esporte, com perfis dos principais

estrelas do futebol. Quem não lesse a revista estava por fora dos bastidores do

futebol. Mas a década foi tomada pela crise no mercado de trabalho na área do

Jornalismo. Conforme Ribeiro (2007), grandes jornais demitiram centenas de

profissionais no Rio de Janeiro e em São Paulo. A Gazeta Esportiva foi alvo

durante a crise. O autor explica que “a crise que se iniciava, e elevaria ao

fechamento do jornal quarenta anos depois não aconteceu em função dos

salários, mas foi resultado do sonho de construir uma sede monumental, em

pleno coração da cidade” (RIBEIRO, 2007, p. 181).

Devido ao golpe militar, alguns diários sofreram quedas, de acordo com

Ribeiro (2007). Um deles foi O Esporte, que chegava a vender 60 mil exemplares

por dia, mas enfrentou uma crise financeira grave.

Lifo Piccinini, dono do jornal, vendeu a empresa para T.J. Viana, testa de ferro do presidente Jânio Quadros, logo após a eleição de 1960. No ano seguinte, os novos proprietários investiram 1 milhão de cruzeiros no jornal com a aquisição de carros novos e equipamentos, mas a empresa não se sustentou, até fechar, logo após o golpe de 1964 (RIBEIRO, 2007, p. 193).

Entretanto, surgiu em São Paulo o Notícias Populares, que dedicava três

páginas de cada edição ao esporte, onde sete profissionais eram responsáveis

pela editoria em uma redação de quase 100 jornalistas, conforme Ribeiro (2007).

Porém, “com o golpe militar e uma censura ferrenha, o projeto do Notícias

Populares acabou afundando especialmente para os que trabalhavam na seção

de esportes” (RIBEIRO, 2007, p. 194).

Os concursos da Loteria Esportiva iniciaram na década de 1970. Ribeiro

(2007) relata que a operação deste concurso era entregue a José Dias, jornalista

e dono da primeira agência de notícias esportivas, a Sport Press. Sendo assim,

“além de escolher os jogos que fariam parte do concurso, Dias e sua Sport Press

forneciam matérias especiais sobre a Loteria Esportiva para revistas

especializadas que surgiram então, como O Curingão, Ponto 13 e Palpitão”

(RIBEIRO, 2007, p. 213).

Já em 1984, as torcidas organizadas estavam infelizes com a imprensa

esportiva na época. Conforme Ribeiro (2007), o chefe da revista Placar, Juca

Kfouri, passou a receber ameaças pela torcida do Palmeiras, visto que Juca

nunca escondeu a sua paixão pelo Corinthians e publicou várias capas que

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revelaram o doping do jogador do Palmeiras, Mário Sérgio. Além das críticas que

a revista recebia, a Placar estava perdendo cada vez mais leitores. No início, o

número de exemplares vendidos era de 120 mil por semana. Depois, passou para

40 mil. Dessa forma, o autor explica que, em 1988, o projeto editorial foi mudado

para evitar o fechamento da revista, e o nome passou para Placar Mais.

Outro fato que marcou a década de 1980 era a disputa pela informação.

Para Ribeiro, “a luta entre jornalistas da imprensa escrita pela exclusividade da

informação nas competições esportivas mais importantes do planeta sempre

dependeu basicamente da capacidade desses profissionais de cultivar fontes

sérias e seguras” (2007, p. 263).

Passaram a existir na década de 1990 revistas oficiais dos principais

clubes brasileiros. Além disso, Ribeiro (2007) descreve que a Placar estava

planejando uma revolução editorial, com investimentos de até 500 mil dólares. A

revista passou a ter uma venda de 240 mil exemplares na nova fase.

O novo formato da Placar pretendia atrair um público diferenciado,

especialmente os mais jovens. Estava criada a nova revista semanal que

carregava o subtítulo Futebol, sexo e rock’n’roll. Sendo assim “gente boa para

tocar o novo projeto era o que não faltava. Alguns cobras do jornalismo brasileiro

foram convocados, como Milton Abrucio Jr., Marcelo Duarte, Amauri Barnabé

Segalla, Paulo Vinícius Coelho, Sérgio Xavier e Sérgio Ruiz (RIBEIRO, 2007, p.

282). Entretanto, a revista que era impressa em um papel especial, passou a

custar muito caro, e o novo formato da Placar não conquistou. Segundo Ribeiro

(2007), em 1996 as vendas decaíram novamente e, em 1998, ela voltou a ser

vendida mensalmente.

Mas a maior mudança a partir de 1997 foi o surgimento do site Lance!,

tabloide que estava se popularizando. De acordo com Ribeiro, “enquanto os

outros diários esportivos de formato tradicional, como Jornal dos Sports (RJ), e

Gazeta Esportiva (SP), andavam muito mal das pernas, o tabloide, formato tão

polêmico no Brasil, dava resultado surpreendente” (2007, p. 292), se referindo ao

Lance! Em 2001, o jornal Gazeta Esportiva não estava mais nas bancas. O autor

relata que o jornal completou 73 anos e apresentou vendas enormes, mais de

500 mil exemplares, passando a 14 mil e em tempos mais críticos, quatro mil

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exemplares. O Jornal dos Sports encerrou suas atividades alguns anos depois,

em 2010.

Atualmente (2017), a revista Placar permanece nas bancas. Conforme

publicado no site do Grupo Abril2, a revista se tornou multiplataforma, com

lançamentos de livros, edições digitais, guias e dossiês sobre o universo do

futebol. Além disso, a revista se uniu ao portal Veja.com, onde todo o conteúdo

de futebol terá a marca Placar.

3.2.2 O esporte no rádio brasileiro

Na década de 1931, o rádio não havia se estabilizado no Brasil, pois tinha

apenas nove anos. Conforme Edileuza Soares, na obra A Bola no ar - O rádio

esportivo em São Paulo (1994, p. 17), “o veículo de comunicação ainda parecia

uma novidade exótica e mal começara a procura de uma linguagem própria do

meio. Predominavam a improvisação e o amadorismo”. Segundo a autora, na

época as emissoras de rádio ligavam para o clube para saber informações dos

jogos, para depois anunciar o resultado.

Soares (1994) relata que em 1932 o governo autorizou, por meio de um

decreto, a veiculação de publicidade no rádio. Dessa forma, Coelho fundamenta

que além dos jogos, o rádio era sinônimo de mercado publicitário. “Não faltavam

anunciantes. A maior parte deles não vinha das grandes empresas. Eram

fabricantes de pilhas, bebidas alcoólicas, cigarros. Gente interessada em atingir a

camada mais baixa da população” (COELHO, 2004, p. 28).

Nos anos 1940, a Rádio Record de São Paulo lançou um estilo mais objetivo

e técnico de narração, e uma maior descrição da jogada. No artigo Da Emoção à

Descrição - a História da narração esportiva do rádio (2011), de Emerson S. Dias

e Carlos Guilherme C. Lima, é relatado que o precursor desse estilo foi Geraldo

José de Almeida, e que o auge nas narrações esportivas paulistanas ocorreu em

1945, quando Paulo Machado de Carvalho adquiriu a Rádio Panamericana

(Jovem Pan). Além disso, os autores explicam que a maior mudança na década

foi a criação de duas funções: comentarista e repórter. Conforme Dias e Lima

2 Grupo Abril. Disponível em: < http://www.grupoabril.com.br/pt/imprensa/releases/placar-se-une-ao-

portal-vejacom-e-lanca-pacote-de-produtos-multiplataforma/ > Acesso em: 15 maio. 2017.

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(2011), na década de 1950, a Rádio Bandeirantes ingressou no ramo do esporte

e houve uma rivalidade saudável, elevando o nível dos jornalistas e aprimorando

a programação. Já os anos 1960 são definidos pelos autores como os anos em

que

as coberturas esportivas aumentaram e foram melhorando tecnicamente com a inserção de vinhetas.[...] a criatividade das emissoras em inovar em vinhetas foi aumentando e cada veículo adotou uma característica, com sinais indicativos de início de jogo (trilar o apito) ou de tempo de jogo, acionado a cada cinco minutos (DIAS; LIMA, 2011, p. 06).

Mas foi na década de 1970 que ocorreram as narrações e transmissões dos

principais jogos do Brasil. Segundo Coelho (2004), as principais redes eram a

Globo, Jovem Pan, Tupi, Record e Bandeirantes. Além disso, dependendo do

clube, o repórter sempre acompanhava a delegação, sendo os jogos do

campeonato brasileiro. Coelho explica que a rádio mais ouvida durante a Copa do

Mundo era a Globo, e também a mais sintonizada durante o dia no esporte

brasileiro. Entretanto, mesmo que a Globo fosse a mais ouvida, foi a

Bandeirantes que ganhou a fatia de anúncios sobre a Copa 2002. Em vista disso,

“a cobertura de uma Copa do Mundo ficou restrita a três estações. Em pouco

mais de vinte anos, a importância e a penetração do rádio caíram a tal ponto que

o mercado se espremeu a três emissoras em São Paulo e a duas no Rio”

(COELHO, 2004, p. 30).

Outro projeto nacional foi o da rádio CBN, que é afiliada da Rede Globo.

Conforme Coelho (2004), a rádio também transmite os jogos do campeonato

brasileiro, mas com a chegada do pay-per-view, do sistema da Globosat onde é

possível assistir quase todos os jogos da mesma rodada do campeonato, as

transmissões que a CBN fazia estavam virando alternativa. A CBN acabou

mudando o seu formato e criou o seu slogan “a rádio que toca notícia”. Mas isso

não significava esporte e cobertura esportiva. O autor relata que a rádio acabou

copiando um modelo usado na Europa.

Com novo formato, a CBN copiou um modelo muito difundido na Europa. Na Itália, por exemplo, não se transmite no rádio um jogo inteiro do Milan. Mas a rodada inteira do Campeonato Italiano, informando instantaneamente o que se passa em cada estádio e com uma rede de analistas para definir o impacto que cada resultado - ou jogada - terá no desenrolar da temporada europeia (COELHO, 2004, p. 31).

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Segundo Coelho (2004), a CBN foi a primeira rádio que atingiu caráter tão

nacional, desde a primeira narração esportiva na Copa do Mundo em 1938, entre

Brasil e Polônia, feita por Gagliano Neto.

Atualmente (2017), as rádios que foram citadas possuem programas

específicos sobre esportes. A Jovem Pan3 com Esporte em Discussão e Jornal

de Esportes; Rádio Bandeirantes4 com Esporte em Debate e Esporte Notícia

Internacional; Rádio Globo5 com os programas POP Bola, Globo Esportivo e

Panorama Esportivo; e a CBN6, que conta em sua programação com Quatro em

Campo e CBN Esportes. No Rio Grande do Sul, a Rádio Atlântida7 de Porto

Alegre apresenta o ATL Gre-nal, sobre os times da capital gaúcha. O mesmo

formato de programa estreou na Atlântida Serra e Gaúcha Serra, o ATL Ca-ju8,

sobre os times de Caxias do Sul.

3.2.3 O esporte na TV aberta e por assinatura

Além do rádio, o jornalismo esportivo também é apresentado na televisão.

Entre narrações de jogos e direitos de transmissão dos campeonatos e grandes

eventos esportivos, o real debate é conhecer a diferença do que é jornalismo

esportivo e do que é show. A TV Globo tem os direitos de transmissão do

Campeonato Brasileiro desde 1995. Direitos que foram valorizados em 1997. De

acordo com Coelho (2004), a Globo mostra os jogos como se fosse um show.

3 Jovem Pan. Disponível em: < http://jovempan.uol.com.br/ > Acesso em: 16 maio. 2017.

4 Rádio Bandeirantes. Disponível em: < http://radiobandeirantes.band.uol.com.br/ > Acesso em: 16

maio. 2017. 5 Rádio Globo. Disponível em: < http://radioglobo.globo.com/programacao/PROGRAMACAO.htm >

Acesso em: 16 maio. 2017. 6 CBN. Disponível em: < http://cbn.globoradio.globo.com/ > Acesso em: 16 maio. 2017.

7 Atlântida. Disponível em: < http://atl.clicrbs.com.br/#!/home > Acesso em: 16 maio. 2017.

8 Pioneiro. Disponível em: < http://pioneiro.clicrbs.com.br/rs/esportes/noticia/2017/03/programa-atl-

caju-estreia-na-noite-desta-quinta-feira-na-atlantida-e-na-gaucha-serra-9749567.html > Acesso em: 16 maio. 2017.

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Quase não se nota que o estádio, cenário do evento anda as moscas. Não se fala do gramado, do nível do técnico, de nada. Tudo é absolutamente lindo. Muitas vezes se dá exatamente o oposto nas emissoras concorrentes.[...] O brilho individual dos jogadores, as disputas táticas entre os técnicos, os gritos da torcida - quando ela existe.[...] Todos os elementos para construir uma boa matéria jornalística estão ali, à disposição das câmeras. dos locutores, comentaristas e repórteres. É só usar o microfone e salientar o que há de bom, mostrar o que há de ruim. Nenhuma matéria está assim tão escancarada diante do jornalista quanto o evento esportivo. E no entanto, é a matéria jornalística que menos aparece na transmissão. Tudo o que importa, afinal, é o show dos locutores e dos repórteres (COELHO, 2004, p. 64).

Nesse contexto, o espetáculo do futebol é transmitido duas vezes por

semana. Mas não foi sempre assim. Conforme Coelho (2004) no final dos anos

1980, a TV Globo não achava importante transmitir os jogos, então a disputa pela

audiência e direitos de transmissão ficavam entre a TV Record e a Bandeirantes.

Naquele tempo, quando a Globo transmitia algo sobre jogos, mostrava imagens

dentro do estádio, gravadas pelos seus próprios repórteres. Segundo o autor

(2004, p. 66), “com isso, só dois canais do eixo Rio-São Paulo têm direito de

divulgar gols e momentos dos jogos do Brasil, enquanto a Globo não tiver boa

vontade: a própria Globo e o SporTv, canal a cabo ligado ao grupo Roberto

Marinho”.

O autor expõe que foi em 1998 que a TV Globo comprou os direitos de

transmissão da Copa do Mundo por 220 milhões de dólares, para não ter o risco

de ser ultrapassada por alguma concorrente. Conforme Coelho (2004), a

emissora, durante a Copa de 2002, só cedia noventa segundos de imagens para

as concorrentes transmitirem em seus telejornais. Isso só ocorria após a exibição

do material no Globo Esporte.

Além da TV aberta, o esporte é exibido na TV por assinatura. Mas a

história da TV por assinatura começou em 1991, quando a Globosat e a TVA

colocaram a sua programação no ar. Mas, segundo Coelho (2004), o primeiro

reflexo de esporte nos canais fechados foi em 1992, com a criação do SporTV,

que tinha mais assinantes que a TVA Esportes, criada em 1993.

Com mais assinaturas havia mais chance de conseguir patrocinadores. Mas o que determinou de vez o caminho dos dois canais foi um contrato de transmissão dos principais jogos do futebol brasileiro por três anos, assinado em 1994 pela TVA Esportes e pelo Clube dos Treze, a entidade que reúne os principais clubes do país. Na mesma época a Globosat assinou contrato com a CBF, a entidade que comanda o campeonato. A rigor, os dois contratos poderiam ter validade jurídica (COELHO, 2004, p. 69).

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A TVA conseguiu transmitir os jogos por um ano, mas em 1995 quando a

emissora mudou de nome para ESPN Brasil, o veículo teve dificuldade para

continuar transmitindo os jogos. Segundo Coelho (2004), a ESPN entrava com

liminares nos finais de semana, mas na segunda-feira perdia os direitos das

gravações. Sendo assim, a ESPN e a SporTV fizeram um acordo, onde a ESPN

transmitia os jogos menores e o canal do grupo Globo transmitia os principais

jogos da rodada do brasileirão. Entretanto, após o fim do contrato, a ESPN não

teve mais direito de transmitir os jogos, apenas os campeonatos estaduais. Dessa

forma, a emissora acabou investindo no jornalismo.

Coelho (2004) ainda explica que em fevereiro de 2000 entrou ao ar o canal

PSN, que comprou os direitos de transmissão da Copa Libertadores. Os jogos

eram exibidos ao vivo e em videotape9. Além disso, cinco jogos do Campeonato

Italiano todos os domingos. O primeiro ano do canal foi bom, vários jornalistas

qualificados da época abandonaram suas emissoras para irem trabalhar na PSN.

Mas, segundo Coelho, em 2001 a empresa foi decaindo, o dinheiro era pouco, os

salários passaram a ser pagos com atraso e o grupo de investidores começou a

estudar a entrada de novos sócios. Os profissionais que se mudaram para os

Estados Unidos retornaram para o Brasil sem perspectiva de receber o seu salário

e pagar as contas, entrando com processos trabalhistas para poderem receber o

que era direito. Coelho descreve que (2004, p. 72) “a emissora saiu do ar em

janeiro de 2002, um mês antes de completar dois anos de vida. Foi o maior fiasco

de uma curta história da televisão por assinatura no Brasil”. Além disso, os

principais canais de esporte da TV paga da NET10 e que estão atualmente no ar

(2017) são: Esporte Interativo, ESPN, Fox Sports, SporTV, Sport +, Premiere,

Band Sports e Combate.

Na época de publicação de sua obra, Coelho (2004) disse que a TV por

assinatura não havia “explodido” no país e que o número de assinantes eram

poucos. Mas, conforme a Associação Brasileira de Televisão por Assinatura, de

1994 até 2000, o número de assinantes cresceu 750%. No decorrer dos anos, o

9 Videotape: “equipamento eletrônico que grava o sinal de áudio e vídeo” (BARBEIRO;LIMA, 2002, p.

169). 10

NET. Disponível em: < http://www.netcombo.com.br/tv-por-assinatura/programacao/guia-de-canais> Acesso em: 14 maio. 2017.

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número de assinantes foi crescendo, mas em outubro de 2016 a Anatel11 divulgou

que a cada mês o número de clientes vem caindo. Em agosto de 2016 houve uma

redução de 673 mil clientes, contando a partir de agosto do ano anterior.

Mas no Brasil, de acordo com Barbeiro e Rangel (2006), o que mais se

consagrou foi a transmissão do futebol, com o famoso bordão bola rolando!.

Dessa forma, “o locutor perseguia a ação de forma incansável e muitas vezes se

esquecia totalmente de fatos relevantes no estádio ou no campo. O ouvinte

percebia que alguma coisa estava ocorrendo, mas ele só ouvia a descrição da

bola” (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p.65).

Entretanto, o narrador não pode deixar transparecer o seu entusiasmo se

for narrar um jogo em que o seu time estiver jogando, pois isso pode comprometer

o profissional. Barbeiro e Rangel (2006) explicam que o jornalista deve controlar a

emoção e narrar na medida certa, e evitar a histeria, como alguns profissionais

em Copas do Mundo e Jogos Olímpicos. Mas, o narrador deve saber improvisar.

Além das coberturas, os conteúdos esportivos aparecem nos telejornais

por meio das reportagens, que é a essência do jornalismo. E o repórter é um

elemento importante na cadeia de produção, e no esporte não é diferente.

Barbeiro e Rangel (2006) esclarecem que o jornalista não deve se deixar

contaminar com a emoção durante a reportagem, e que a linguagem deve ser

acessível, mesmo que a matéria seja direcionada a um público alvo. Além disso,

uma boa reportagem só acontece se o profissional faz uma grande pesquisa com

fundamentação. Sendo assim, “a reportagem não é apenas notificação de um

fato. É necessário o detalhamento, a escolha de um ângulo ainda não explorado,

procurar descobrir o possível impacto daquelas informações no tema tratado”

(BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 21).

As reportagens fazem parte das grades de programação da TV Globo, que

possui atualmente (2017) quatro programas sobre esporte, segundo o Memória

Globo12. Reportagens como Copas do Mundo, Olimpíadas, Vôlei Brasileiro,

Roland Garros, Copa América e Muhammad Ali no Brasil são alguns exemplos

exibidos nos programas da TV Globo. Os programas são: o Esporte Espetacular,

11

Globo.com. Disponível em: < http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/10/tv-paga-perde-673-mil-clientes-em-um-ano-ate-agosto-diz-anatel.html > Acesso em: 24 mar. 2017. 12

Memória Globo. Disponível em: < http://memoriaglobo.globo.com/programas/esporte/programas-esportivos.htm > Acesso em: 14 maio. 2017.

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que estreou em 1973 e tinha objetivo de abrir espaço para diversas modalidades

esportivas; o Auto Esporte, que foi ao ar pela primeira vez em 2002, sobre

lançamentos automobilísticos, náutico e moto ciclístico, tanto no Brasil quanto no

exterior; o Corujão do Esporte, ao ar desde 2010, nas madrugadas de quartas-

feiras que comenta as principais competições do Brasil e Mundo; e o Globo

Esporte, no ar desde 1978 que exibe reportagens sobre emoção, dia a dia dos

atletas e apresenta cobertura completa sobre eventos esportivos no Brasil e

mundo.

3.2.4 O Esporte na Internet

O jornalismo esportivo também é apresentado na internet. De acordo com

Coelho (2004), a internet chegou ao Brasil na década de 1990, mas não era

grande o suficiente para virar algum tipo de negócio. O sinal de que a internet

estava chegando foi com o negócio realizado entre os grupos Abril e Folha que

se uniram para criar o UOL. Mas foi em 1997 que a internet começou a crescer

com a inauguração do Lance! no Brasil e também o site www.lancenet.com.br.

Entretanto, em 1999 a internet já era um fenômeno que começou a remover

grandes nomes do jornalismo esportivo das redações, para trabalhar em sites.

Coelho (2004) menciona alguns exemplos, como o jornalista José Eduardo

de Carvalho. O profissional trabalhava no Jornal da Tarde durante 18 anos como

editor de esportes, e foi convidado para gerenciar o site da PNS, o canal da TV a

cabo. Segundo o autor, o portal da PNS foi encarregado da criação do site do

Corinthians. Além de Carvalho, outros jornalistas deixaram um veículo e foram

trabalhar em sites com conteúdo esportivo, como o repórter André Rizek, que

saiu do Lance! para trabalhar no IG; Luiz Estevam Pereira deixou a Placar; e

Alexandre Gimenez, que saiu do Folha de São Paulo; ambos para trabalharem no

portal Pelé.net. Para Coelho (2004, p. 60), “parecia à redenção dos jornalistas.

Acostumados a salários minguados no final do mês, alguns receberam propostas

milionárias”. As redações tradicionais dos jornais passaram a ser convidadas a

fazer parte desse novo meio, visto que toda reportagem que era escrita para o

jornal seguia diretamente para a internet. Dessa forma, conforme Ribeiro (2007),

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a informação passava a ser praticamente instantânea. A velocidade com que uma notícia podia chegar ao público acirrava a competição e obrigava qualquer jornal ou revista a entrar no mundo da internet. Foi uma autêntica febre. Grandes investidores passaram a viabilizar a estruturação da informação via sites, tornando cada vez maiores os investimentos nesse segmento da mídia, e cada vez mais atrativas as vagas nessas redações (RIBEIRO, 2007, p. 295).

Contudo, segundo Coelho (2004), foi em 2001 que a festa dos sites

acabou. Naquele ano, o IG fez uma parceria com o Lancenet e dispensou toda a

equipe de esporte. Além disso, “a fuga dos investidores provocou uma catástrofe

nas redações de todos os veículos ligados à internet. [...] A estabilidade chegou

em 2002” (COELHO, 2004, p. 61). Em consequência disso, o autor descreve que

vários profissionais consagrados deixaram o mercado e tiveram dificuldades para

retornar. E também, o que vale mais é uma notícia publicada rapidamente do que

uma informação checada com cuidado.

Além disso, a linguagem do jornalismo foi sofrendo mudanças em

consequência do avanço tecnológico. E o jornalismo esportivo foi o segmento que

mais sentiu de perto essa mudança. De acordo com Maicon Pan, em

Webjornalismo Esportivo e as especificidades determinantes de sua qualidade:

um estudo de caso do blog Piccolo Esportivo (2014), a internet oferece formas

novas de recolher e repassar a informação. Sendo assim, o jornalista deve

desenvolver um conteúdo multimídia, visto que o público possui todos os

equipamentos possíveis de acesso a várias plataformas. Para o autor, “na

internet, o jornalismo esportivo deve oferecer um leque de opções para que o

leitor/usuário/internauta escolha o conteúdo desejado” (PAN, 2014, p. 51).

Os portais sobre esporte que estão no ar hoje (2017) são:

GloboEsporte.com, Terra.com.br/esportes, Esporte.uol.com.br, Esporte.ig.com.br

e o Lance.com.br.

3.3 ESPORTE NÃO É SÓ FUTEBOL

O foco é muito maior no futebol, mas existem outras modalidades

esportivas. De acordo com Coelho (2004), ser reconhecido como jornalista que

trabalha apenas com futebol é difícil, mas ser reconhecido em outras

modalidades é muito mais difícil. O autor cita alguns exemplos, como a jornalista

Cida Santos que trabalhou com esportes olímpicos na Folha de São Paulo até

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lançar um livro sobre o ouro olímpico do vôlei brasileiro. Agora ela é reconhecida

como jornalista exclusivamente desse esporte.

Coelho (2004) também relata que nas editorias ficam separadas as

equipes que se dedicam apenas ao futebol e a que trabalham com outras

modalidades. Entretanto, isso não significa que os jornalistas que produzem

conteúdo sobre futebol não vão produzir conteúdo sobre outros esportes. Sempre

há um revezamento. Dessa forma não existe jornalista de esportes, mas sim o

profissional que se empenha em transmitir as informações de modo geral.

Segundo Coelho (2004), esse profissional se torna melhor do que aqueles que só

sabem produzir conteúdo de um assunto específico.

O autor também explica que trabalhar com esportes que não são tão vistos

na mídia acaba exigindo especialização do profissional. Ele cita como exemplo o

jornalista Adalberto Leister Filho, que entrou no Lance! em 1997 e queria

trabalhar apenas com o futebol. Ele atuava na cobertura diária do Palmeiras. Mas

quando houve um revezamento entre os repórteres, o jornalista foi para a área de

esportes olímpicos, o que o deixou irritado. Conforme Coelho (2004, p. 49), “aos

poucos, no entanto, foi tomando gosto. Em menos de dois meses percebeu que

aquilo seria mais interessante que passar anos correndo atrás de jogadores de

futebol. Começou a acompanhar o vôlei com afinco, investiu em boas matérias de

boxe”. Após um ano, o profissional recebeu um convite para trabalhar com

esportes olímpicos na Folha de São Paulo.

Além de Adalberto, Coelho (2004) também cita os jornalistas Nicolau

Radamés e Marcelo Laguna, que se especializaram em esportes olímpicos de

modo geral, e Chiquinho Leite Moreira que acompanhava não só o tênis como o

atleta em si, o Guga. O autor explica que a especialização nunca é demais, mas

é necessário saber esperar a hora certa em que o trabalho irá aparecer.

3.4 OLIMPÍADAS COMO EVENTO

Para os eventos serem realizados necessitam de tempo, planejamento e

estratégia. No livro Organização e Gestão de Eventos (2003), os autores Johnny

Allen, William O’Toole, Ian McDonnell e Robert Harris explicam que o setor

governamental apoia e ajuda a promover os eventos por motivos de

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desenvolvimento econômico e marketing. Os autores esclarecem que, “os

eventos transbordam dos nossos jornais e telas de televisão, ocupam muito do

nosso tempo e enriquecem nossas vidas. À medida que os eventos emergem

como uma indústria em causa própria é válido considerar quais elementos

caracterizam tal indústria” (ALLEN et al, 2003, p. 04).

Nas categorias de eventos existem os “eventos especiais”, subdivididos

em megaeventos, eventos de marca e eventos de grande porte, conforme Allen

et al (2003). A olimpíada está inserida nos megaeventos, pois afeta a economia e

tem repercussão global. Os autores citam Donald Getz para definir

megaeventos. “Megaeventos, por sua grandiosidade ou significado, são aqueles

que produzem níveis extraordinariamente altos de turismo, cobertura de mídia,

prestígio ou impacto econômico para a comunidade local ou de destino” (GETZ,

1997, apud ALLEN et al, 2003, p. 06)

Além da definição de Getz, os autores citam a definição de Colin Michael

Hall.

Megaeventos tais como as Feiras Mundiais e Exposições, a Copa do Mundo ou as Olimpíadas são eventos especificamente direcionados para o mercado de turismo internacional e podem ser adequadamente descritos como “mega” em virtude de sua grandiosidade em termos de público, mercado-alvo, nível de envolvimento financeiro do setor público, efeitos políticos, extensão de cobertura televisiva, construção de instalações e impacto sobre o sistema econômico e social da comunidade anfitriã (HALL, 1992, apud, ALLEN et al, 2003, p. 06).

Na obra Legados de Megaeventos Esportivos (2014), o autor Nelson

Carvalho Marcellino, faz uma análise de como um megaevento pode ser

considerado notável. Marcellino menciona os autores Lamartine da Costa e Ana

Miragaya. Eles afirmam que um megaevento é categorizado dessa forma, devido

o número de participantes e a sua duração. Além disso, Marcellino (2014)

caracteriza os Jogos Olímpicos como megaeventos por encadear outros meios:

infraestrutura, mobilidade urbana, aeroportos, segurança, acessibilidade, energia,

telecomunicações, controle de doping, alfândega, educação, cultura, etc. O autor

explica que a realização dos Jogos Pan-Americanos em 2007 no Rio de Janeiro

foram exemplo de organização para o esporte mundial, e a experiência que

faltava para a realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos em 2016.

Além de encadear vários meios para a realização de uma olimpíada, o

legado econômico é um fator muito importante, visto que pode trazer lucro ou

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prejuízo para o país. Na obra Os estudos olímpicos e o olimpismo nos cenários

brasileiro e internacional (2011), de Katia Rubio e Roberto Maluf de Mesquita, os

autores explicam que os recursos utilizados para a realização do evento geram

benefícios, como aumento do turismo, melhoria da qualidade de vida, ou até

mesmo aumento dos negócios da cidade. Outro ponto que os autores evidenciam

é que os megaeventos servem para reformular e reordenar espaços que estão

em degradação na cidade.

Segundo Rubio e Mesquita (2011), qualquer cidade que venha a se

candidatar para sediar os jogos olímpicos necessitará que investimentos de

transporte público, estrutura de moradia para abrigar as delegações e turistas, e

até uma sofisticada rede de telecomunicações para proporcionar a circulação das imagens e notícias das competições, razão maior desses eventos. [...] Ou seja, o conceito de cidade olímpica não deveria ser um argumento para a busca de recursos, mas o guia para um planejamento urbano a partir dos recursos locais disponíveis. Hoje se assiste a uma acirrada disputa pela condição de cidade-sede dos Jogos Olímpicos, situação que envolve uma grande mobilização pública, privada, diplomática, política e também popular para a sensibilização dos avaliadores da postulação (RUBIO; MESQUITA, 2011, p. 66/67).

Os jogos olímpicos também dependem dos patrocínios, que vem

aumentando e mudando como os eventos são vistos pelos patrocinadores. Para

Allen e et al (2003), o patrocínio deixou de ser uma ferramenta básica de relações

públicas para gerar marketing e motivação da comunidade para empresas de

grande porte. Os autores ainda afirmam que os eventos de grande porte são

capazes de impulsionar vendas e oportunidade para intensificação do

relacionamento entre os anfitriões e os clientes.

A mídia é outro ponto que influencia na divulgação de megaeventos, como a

olimpíada. Conforme Allen e at al (2003), os eventos possuem espaço virtual na

mídia tão grande e poderoso quanto a realidade. Além disso, “o evento pode

estar sendo criado basicamente para o consumo de sua audiência televisiva. Os

eventos têm muito a ganhar com essa evolução, inclusive os patrocinadores da

mídia e o pagamento dos direitos de transmissão.

Até então, os eventos esportivos têm sido os maiores vencedores (ou perdedores) desse aumento de atenção da mídia. A série de esportes cobertos pela televisão sofreu um aumento vertiginoso, e alguns esportes, como por exemplo o basquete, conseguiram sair da relativa obscuridade na Austrália para uma posição de destaque na mídia, em grande parte por sua adequação à produção e programação televisiva (ALLEN et al, 2003, p. 31).

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A mídia tem muito a oferecer aos eventos, visto que a imprensa poderia

publicar um programa como editorial ou caderno especial, realizar uma série de

matérias segundo Allen e et al (2003). Assim como a televisão, o rádio pode

realizar transmissões ao vivo.

3.4.1 Cobertura Esportiva

A cobertura esportiva em um grande evento é essencial para um veículo

de comunicação. Para os autores Mariana Mendonça, Cristiano Mezzaroba e

Iracema Munarim, no artigo Jogos Pan-Americanos Rio/2007 e a Cobertura do

Jornal Nacional: ênfases e representações veiculadas (2009), o esporte é um

fenômeno na sociedade atual, visto que é só olhar e perceber o prestígio dado

aos esportes no país. Dessa forma,

o campo midiático, responsável pela produção e veiculação dos mais diversificados tipos de programas/ produtos midiáticos, seja por meio da mídia impressa (jornais e revistas), dos rádios (AM/FM), da mídia televisiva ou mais recentemente por meio da internet (LISBOA; MEZZAROBA; MUNARIM, 2009, p. 47).

As reportagens de cobertura esportiva também proporcionam aproximação

com temas que não teriam a mesma consideração. No artigo A pauta esportiva

no jornalismo: interfaces nos jogos do Rio 2016 (2015), de Carlos Augusto

Tavares Júnior, o autor relata sobre as pautas de modalidades que são

desconhecidas para o público. E também, “histórias dos atletas que passaram a

protagonizar sagas de luta e superação, a partir da conquista de uma medalha”

(JÚNIOR, 2015, p. 03).

Além disso, o esporte chama a atenção do público e instiga o telespectador

a acompanhar o jogo de perto. Mas nos primeiros anos de cobertura jornalística,

as pessoas não acreditavam que outros esportes além do futebol poderiam estar

nas capas dos jornais e revistas. De acordo com Coelho,

como poderia uma vitória nas raias - ou nos campos, nos ginásios, nas quadras - valer mais do que uma importante decisão sobre a vida política do país? Não, não poderia, mesmo que movesse multidões às ruas em busca de emoções que a vida cotidiana não oferecia (COELHO, 2004, p.8).

Também o tempo nas redações e nos meios de comunicação estão cada

vez mais curtos. Segundo Heródoto Barbeiro e Patrícia Rangel, na obra Manual

do Jornalismo Esportivo (2006), o profissional tem o desafio do serviço, onde o

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veículo deve ser colocar no lugar do público e analisar como as notícias podem

afetar o cotidiano de cada um; o desafio da criatividade, os jornalistas devem sair

do lugar comum e praticar novas fórmulas de produção; e o desafio da paixão,

visto que, o jornalista esportivo deve saber lidar com algumas situações, mas não

deve exceder os limites éticos da profissão. De acordo com Coelho, a cobertura

esportiva só se tornou brilhante quanto qualquer outro tipo de jornalismo devido à

noção de realidade que o jornalismo esportivo carrega nos tempos atuais. Dessa

forma “o ponto-chave é que, muitas vezes, tal cobertura exige mais do que noção

da realidade [...] Esse tipo de cobertura sempre misturou emoção e realidade em

proporções muitas vezes equivalentes” (COELHO, 2004, p. 22).

3.4.2 Cobertura Olímpica do Grupo Globo

Os jogos olímpicos de 2016 receberam a maior cobertura da história do

Grupo Globo, como foi publicado em seu site13. As equipes de jornalismo da

Globosat, Globo, Sistema Globo de Rádio e Infoglobo foram mobilizadas para

fazer uma cobertura diária entre os dias 5 e 21 de agosto de 2016. O SportTV

transmitiu 100% das competições ao vivo em 56 sinais da TV e internet, sendo 16

canais em HD e 40 sinais pela internet. Foram mais de quatro mil horas de

transmissão. A equipe contou com 35 narradores, 110 comentaristas renomados.

Além disso, o SporTV Play, que qualquer pessoa podia acessar todo o conteúdo;

e o aplicativo SporTV Rio 2016, que mostrava a grade de programação do canal,

o quadro de medalhas e vídeos de transmissões ao vivo.

A Globo mobilizou dois mil profissionais para acompanhar os 465 atletas

da delegação brasileira. Neste número o Time de Ouro, doze ex-atletas que

fizeram parte de um grupo de mais de 40 comentaristas. Foram, também, dez

horas diárias de conteúdo, totalizando 160 horas, sendo quase 100 transmissões

ao vivo. A rede Globo ofereceu conteúdo no Globo Play e no globoesporte.com.

As transmissões da Globo e SporTV foram feitas do Estúdio Olímpico, construído

no parque olímpico no Rio de Janeiro. Todos os jornais, desde o Bom Dia Brasil

até o Jornal da Globo, foram ancorados diretamente deste estúdio.

13

Grupo Globo. Disponível em: < http://www.grupoglobo.globo.com/noticias/empresas_grupo_globo_preparam_maior_cobertura_esportiva_da_sua_historia.php > Acesso em: 25 mar. 2017.

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O projeto de transmissão começou 500 dias antes da cerimônia de

abertura, em março de 2015. O conceito utilizado pela emissora foi “Somos

Todos Olímpicos”. Esse conceito tinha como objetivo traçar um paralelo entre a

motivação que levou os atletas a superar os seus próprios limites, com o apoio de

pessoas comuns para conquistarem o seus sonhos. Desde março de 2015 até o

fim dos jogos olímpicos, foram veiculadas mais de 250 reportagens e 30 séries

especiais. Entre elas, a série Perfis, transmitida no Jornal Nacional, produzida

pelo repórter Pedro Bassan, que, durante um ano, gravou 170 horas de material

em 21 viagens. A série é o objeto de estudo desta pesquisa.

Sendo assim, com base nas definições de esporte, como o jornalismo

esportivo é apresentado no meio impresso, no rádio, na televisão, na internet e as

olimpíadas como evento, o próximo capítulo trará a produção de conteúdo no

telejornalismo.

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4. PRODUÇÃO DE CONTEÚDO NO TELEJORNALISMO

A produção de conteúdo para a televisão até a sua a exibição é resultado

de um processo que surge a partir de uma ideia. E para evidenciar esse processo

complexo, no meio esportivo, é importante destacar como pode ser realizado,

desde a escolha da pauta até a exibição do conteúdo no telejornal.

4.1 PAUTA

A pauta na televisão tem um peso maior do que em outros veículos, por

causa das suas peculiaridades. Ela exige atenção aos detalhes para a sua

elaboração. Segundo Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo Lima, na obra Manual

do Telejornalismo (2002, p.89), “o pauteiro é aquele que na imensidão dos

acontecimentos da sociedade capta o que pode ser transformado em reportagem,

pensa o assunto por inteiro e indica os caminhos que devem ser percorridos para

que a matéria prenda a atenção do telespectador”.

De acordo com Ricardo Kotscho, na obra A Prática da Reportagem (2001),

o repórter não deve esperar a sua pauta sentado, dessa forma não consegue

seguir adiante. Conforme o autor, garimpar bons assuntos e cultivar as fontes é a

melhor solução. A pauta deve ser concisa e completa. Mas de acordo com Olga

Curado, na obra Notícia na TV: o dia a dia de quem faz telejornalismo (2002, p.

40), “a pauta de televisão só existe se ela puder ser proposta em três linhas. Se

não for assim é um simples enunciado ou fragmento de uma informação”. Além

disso, a autora explica que a pauta deve ser concisa e mostrar a notícia

completa, mas que precisará ser desdobrada.

Dessa forma, cabe ao pauteiro distinguir o que é informação e o que é

entretenimento. O jornalista não deve se ater apenas aos fatos do dia a dia, mas

é necessário criar, contextualizar e avançar. Toda informação que é fundamental

para a sociedade pode virar pauta: política, economia, cultura, ciência, religião,

comportamento, meio ambiente, esportes e problemas da cidade. A forma de

como abordar a pauta e a sua relevância para o público parte do pauteiro. Para

as autoras Luciana Bistane e Luciane Bacellar, na obra Jornalismo de TV (2008),

o repórter tem um desafio diário, que é relatar com precisão e síntese. As autoras

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indicam que “uma coisa é ouvir uma história; outra é entender o suficiente para

contá-la, transmitindo a relevância da informação de forma atraente e inteligível”

(2008, p.13).

Na obra Jornal Nacional - Modo de Fazer (2009), o jornalista e autor

William Bonner explica que os temas factuais têm prioridade no Jornal Nacional

(JN). É importante ressaltar que a série Perfis, corpus desta pesquisa, é conteúdo

do JN. A partir disso, o profissional explica que nem todos os dias existe assuntos

relevantes nacionalmente. A pauta é escolhida conforme:

fenômenos que têm ocorrido, mas que não precisam ser abordados obrigatoriamente hoje, porque poderemos tratar deles amanhã ou depois. Reportagens desse tipo são muito importantes para ajudar o espectador a compreender o mundo em que vive, a conhecer problemas, a discutir soluções. Tudo sem aquele caráter urgente dos temas factuais (BONNER, 2009, p. 117).

Direcionando para o tema da pesquisa, o maior clichê do jornalismo

esportivo são as matérias produzidas sobre treinos e jogos. Segundo Barbeiro e

Rangel (2006), muitas vezes esse tipo de conteúdo não é mais relevante para o

público. O jornalista deve ser rápido e ágil para contar histórias que sejam do

interesse do público. Além disso, existem as pautas a respeito das coberturas de

eventos como as Olimpíadas e Copas do Mundo, os comitês e federações

esportivas, ministério e secretarias do esporte. Assim, o jornalista deve pensar

como vai ser a construção da reportagem.

De acordo com o jornalista esportivo Sérgio Carvalho (1988, p.122), no

texto Esporte e Jornalismo, publicado na obra do mesmo nome, “o jornalismo

esportivo está se diversificando. Aos poucos os jornalistas estão se

especializando em determinadas modalidades e, dessa forma, as matérias fogem

do lugar comum”. Desse modo, os jornalistas estão escrevendo e falando com

mais competência. O público não se interessa mais com o clichê e o improviso

despreparado dos repórteres. Carvalho salienta que o jornalismo esportivo pode

ganhar mais diversificação para os profissionais competentes e criativos. E para

que a área seja bem-sucedida, é necessário buscar o entendimento mais

profundo das especialidades do esporte.

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4.2 REPORTAGEM

A reportagem é a fonte de matérias do telejornalismo. Ela serve para que o

telespectador possa esclarecer dúvidas sobre os fatos do dia a dia. Para realizar

a reportagem, o jornalista deve sempre cultivar as suas fontes de informação e

acompanhar as informações em outros veículos de comunicação. Barbeiro e

Lima (2002) indicam alguns pontos importantes na construção da reportagem:

a) As imagens e palavras andam juntas, sendo assim, o repórter deve estudar

que imagens devem ser gravadas de acordo com o texto;

b) Cabe ao repórter escolher as locações das matérias e não ao cinegrafista;

c) O tempo de gravação é significativo, gravar apenas o necessário facilita o

trabalho do editor;

d) Além disso, o repórter deve pedir ao cinegrafista para gravar cenas livres, elas

são essenciais na falta de imagens na edição;

e) Também é responsabilidade do cinegrafista estudar os melhores ângulos antes

de gravar;

f) O repórter deve ter o máximo de informação sobre o assunto.

Curado (2002) explica que cada história tem início, meio e fim, mas a

apresentação nem sempre é feita nessa ordem. O formato da reportagem varia

de acordo com o estilo do repórter e do programa. Segundo a autora, as

reportagens são construídas a partir de um tripé: tensão, plasticidade e

atualidade. A autora explica que

a tensão tem como objetivo manter o espectador “ligado”, [...] a plasticidade envolve a audiência [...]. Atualidade não quer dizer que a reportagem esteja sempre enfocando acontecimento recente, mas sim que se trata de algo até aquele momento inédito para o público do programa” (CURADO, 2002, p.96).

Dessa forma, para a construção da reportagem é necessário imagens.

Bistane e Bacellar (2008) fundamentam que a imagem é um recorte da realidade

e que na construção da reportagem é importante ter consciência que uma

imagem qualifica uma reportagem para ser veiculada, que talvez não fosse para o

ar se o cinegrafista não gravasse algum flagrante.

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4.2.1 Entrevista

De acordo com Barbeiro e Lima (2002), a escolha das fontes para a

reportagem é um desafio, visto que elas passam a credibilidade e certeza que a

matéria precisa. Sendo assim,

a entrevista em televisão tem o poder de transmitir o que o jornalismo impresso nem sempre consegue: a exposição da intimidade do entrevistado. Os gestos, o olhar, o tom de voz, o modo de se vestir, a mudança no semblante influenciam o telespectador e a própria ação do entrevistador, que ao adquirir experiência consegue tirar do entrevistado mais do que ele gostaria de dizer (BARBEIRO; LIMA, 2002, p. 85).

Uma boa entrevista pode revelar acontecimentos importantes e também

esclarecer fatos relevantes ao tema. Conforme Barbeiro e Lima (2002), quando

isso acontece a reportagem avança, dando oportunidades para outras entrevistas

e matérias. Segundo Curado (2002), a entrevista é a maior fonte de informação

para o jornalismo, o elemento essencial, pois ocorre uma relação dinâmica com o

entrevistado. Além disso, a autora relata que a entrevista pode ocorrer a partir do

momento em que for definido o assunto, identificar a melhor pessoa para falar

sobre, pesquisar a respeito do tema e planejar as perguntas.

A entrevista também faz parte da produção de conteúdo no jornalismo

esportivo. Conforme Barbeiro e Rangel (2006, p. 36), “é dela (entrevista) que vem

a informação exclusiva, o furo, o gancho para futuras matérias. [...]. O jornalista

esportivo, quando está diante de um entrevistado, deve saber que é o

representante do público diante deste tema”. Em uma entrevista, o jornalista

exerce o papel de milhares de torcedores que querem fazer aquela

pergunta. Segundo Barbeiro e Rangel:

os repórteres esportivos precisam pôr um fim nas piadas que fazem a respeito do seu trabalho, e mostrar que é possível produzir boas reportagens, como em qualquer outro assunto. Por isso é essencial, fugir daquelas perguntas eternamente repetidas para os atletas antes, durante ou depois das competições como: “o que você acha do jogo” ou “como você está vendo o jogo”. Caso contrário, o repórter corre o risco de ouvir uma resposta como a que o técnico Osvaldo Brandão deu certa vez: “Com os olhos” (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p.20).

Além disso, Barbeiro e Rangel explicam que existe uma diferença entre os

veículos eletrônicos e o meio impresso. Enquanto no meio eletrônico há um

diálogo entre o atleta e o torcedor, no impresso o jornalista deve descrever o que

vê, o ambiente e o grau de emoção do entrevistado. Além disso, as entrevistas no

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jornalismo esportivo são viciadas no sentido de que as perguntas são previsíveis,

e as respostas também. Os autores relatam que “muitas vezes, a pergunta do

jornalista já dá a resposta ao entrevistado que, assim, nem precisa se dar ao

trabalho de pensar para responder” (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 36). Os

autores ainda explicam que na entrevista é necessário avaliar o atleta por todo

trabalho que realizou em uma temporada, e não pelos últimos desempenhos.

Assim, o jogador ou atleta pode dar a sua versão dos fatos.

4.2.2 Texto

O texto para a televisão é outro aspecto que deve ser levado em conta na

produção da reportagem. Segundo a autora Vera Íris Paternostro, na obra O

Texto na TV - Manual de Telejornalismo (1999), o jornalista tem um desafio e

deve se perguntar se a imagem vai comandar o seu texto. Ela explica que a

imagem que está em movimento, viva, passa uma dose maior de emoção. Dessa

forma, as palavras devem acompanhar a imagem. Conforme Paternostro (1999,

p. 61), o texto jornalístico possui algumas características, ele deve ser “coloquial,

claro e preciso. Objetivo, direto. Informativo, simples e pausado”. Além disso, de

acordo com a autora, o texto escrito no script14 será lido em voz alta por outra

pessoa, e esse texto vai ser captado apenas uma vez pelo telespectador. No

telejornalismo, a sonoridade do texto é bastante importante, visto que a audição é

muito explorada. Demonstradas essas particularidades, Paternostro (1999, p. 72)

salienta que “em telejornalismo, a preocupação é fazer com que o texto e imagem

caminhem juntos, sem um competir com o outro: ou o texto tem a ver com o que

está sendo mostrado ou não tem razão de existir, perde a sua função”.

A autora explica que não tem necessidade de descrever o que o público

está vendo, porque é óbvio demais e pode se tornar chato. Assim, a narrativa

será redundante e cansativa. Dessa forma, a autora indica que o texto deve

apresentar os elementos fundamentais do fato, sendo simples e direto, se

conectando um com o outro. Inclusive Paternostro (1999) fala que às vezes a

emoção pode ser acrescentada no texto.

14

Script: “a lauda no telejornalismo. Possui características especiais e espaços que devem ser obedecidos na operação do telejornal” (BARBEIRO; LIMA, p. 168, 2002).

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Na prática do trabalho com imagem, a sensibilidade também se desenvolve. Unir imagem, informação e emoção é uma boa saída para transmitir a notícia com qualidade ideal. E cada um que escreve para a TV deve ainda encontrar um estilo próprio, pessoal, intransferível de forma a se destacar do estilo padronizado que encontramos na televisão brasileira (PATERNOSTRO, 1999, p. 87).

Bonner (2009) explica que no Jornal Nacional são observados alguns

procedimentos para que a linguagem fique adequada a um telejornal. O primeiro,

o jornalista explica que é fundamental flexionar os verbos em seu tempo real. Em

segundo, é utilizar termos de compreensão mais imediata para o entendimento

do público. Em terceiro, colocar adjetivos, quando necessários, depois dos

substantivos, visto que o JN conta fatos. Em quarto lugar, quando houver frases

muito longas, desdobrar ela em outras mais curtas. Em quinto e último lugar,

evitar a intercalação das orações e sempre construí-las na ordem direta. Bonner

ainda relata que escrever para um telejornal é diferente do que escrever para um

jornal.

Os melhores textos de telejornalismo são os que se apropriam desse mecanismo. O problema é que escrever como se fala não é nada instintivo. Não somos treinados para isso. Não é assim que aprendemos na escola, na faculdade e, mesmo, nas redações de jornal. Mas essa é a maneira mais indicada de aproximar um texto do universo do espectador. Escrever textos parecidos com o falar das pessoas de maneira sintética e clara. Eis a forma ideal do texto de telejornalismo (BONNER, 2009, p. 235).

O texto, além de fazer parte dos conteúdos do telejornalismo, também é

uma etapa do processo de produção no jornalismo esportivo. Barbeiro e Rangel

(2006) fundamentam que a linguagem usada pelos repórteres, na maioria das

vezes, é sem graça e cheia de clichês, quase banalizada. Os redatores usam das

mesmas expressões para descrever situações ou eventos. Em consequência

disso, o jornalista deve fugir do comum e ser criativo, e também “colocar paixão

sem abdicar dos rigores da informação. Paixão jornalística e não clubística”

(BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 51). O jornalista deve fugir do descritivo, contar

histórias interessantes e achar aquela que se destaque entre as outras. Os

autores ainda falam que a sensibilidade do repórter é importante para fazer uma

boa seleção dos fatos e ver quais informações podem fazer parte da matéria.

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4.2.3 Gravação

Os repórteres e os cinegrafistas saem da redação com um roteiro

amarrado, de acordo com Bistane e Bacellar (2008). Ou seja, com os nomes dos

entrevistados, local, horário das gravações, o que esperar da matéria e respostas

programadas para os entrevistados.

Se a missão do repórter se limitasse a trazer exatamente o que a apuração levantou, ele seria dispensável. Bastaria orientar o cinegrafista para que captasse as imagens necessárias, e o editor redigiria o texto. No trabalho de campo, a cumplicidade entre repórter e cinegrafista contribui muito para o bom resultado. Conversar sobre o encaminhamento da matéria com quem está gravando é fundamental para que haja sintonia entre texto e imagem. Para o repórter iniciante, cinegrafista experiente é de grande ajuda, por já terem trabalhado com diversos profissionais e feito matérias sobre quase tudo. Eles, inclusive, costumam dar boas orientações sobre a postura correta no vídeo, o posicionamento do microfone, onde gravar para valorizar o cenário (BISTANE; BACELLAR, 2008, p. 52).

Para realizar a gravação o cinegrafista deve ter o conhecimento da pauta,

saber qual é o objetivo da reportagem e não se limitar em gravar apenas o que foi

delimitado pelo assunto. Conforme Curado, o cinegrafista “procura compreender

o contexto, o enfoque da matéria. Ao encaminhar a fita [sic] para a edição o

cinegrafista conversa com o repórter, com os editores de imagem e de texto

sobre as cenas que fez e opina sobre o uso delas” (CURADO, 2002, p. 50). A

autora também esclarece que o repórter cinematográfico sempre estará atento às

normas técnicas sobre a linguagem do programa e o enquadramento.

Dessa forma, de acordo com Bistane e Bacellar (2008), para facilitar o

trabalho na pós-produção, edição, é importante desenvolver uma boa pauta, com

imagens bem feitas e com um repórter competente.

4.3 PÓS-PRODUÇÃO

Depois de feito todo o planejamento para elaborar uma reportagem com as

gravações de imagens e entrevistas realizadas, se inicia o processo de pós-

produção. Esse processo conta com a edição de todo o material que foi gravado

para a reportagem e a sua exibição no veículo de comunicação.

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4.3.1 Edição

Construir uma matéria para a televisão é um quebra-cabeça. De acordo

com Bistane e Bacellar (2008), algumas falas se encaixam melhor na passagem

do repórter, outras nas falas dos entrevistados e o restante no off15 juntamente

com as imagens. A passagem é o momento em que o repórter aparece na

matéria, é a assinatura do profissional no trabalho que está sendo exibido, além

disso, é uma intervenção e só é necessária quando for acrescentar alguma

informação que valorize a reportagem.

Após a gravação da reportagem, passagem, offs e entrevistas, o processo

de edição é iniciado. A edição é a montagem da reportagem que vai ser exibida

nos programas de televisão. De acordo com Barbeiro e Lima,

é nessa etapa da elaboração da matéria que fica mais clara a ação do jornalista em excluir e suprimir parte do material colhido, sob ação da subjetividade. É preciso reduzir a complexidade do real para torná-lo inteligível em uma reportagem de TV. [...] Editar uma reportagem para a TV é como contar uma história, e como toda história a edição precisa de uma sequência lógica que pelas características do veículo exigem a combinação de imagens e sons (2002, p. 102).

O processo de edição, segundo Barbeiro e Lima (2002), não é tão fácil

quanto parece. Às vezes o editor leva duas ou mais horas para organizar uma

matéria de um minuto e meio. De acordo com os autores, o trabalho é iniciado

com a decupagem do material, onde o editor anota no roteiro todos os detalhes

da imagem, sonoras, passagens e o off do repórter. Assim, ele pode selecionar o

que vai ser usado na reportagem, mas sempre mantendo uma ordem, que pode

ser cronológica, mas também uma ordem de acordo com a estrutura do texto.

Além disso, Barbeiro e Lima explicam que é importante variar o estilo de edição

para que o telejornal não fique monótono. E, por último, é imprescindível que a

revisão dos textos seja feita por duas pessoas, uma lendo em voz alta e a outra

conferindo no script.

O processo de edição, para Curado (2002), requer alguns requisitos. O

primeiro é a avaliação do conjunto de informações, ou seja, juntar todos os dados

colhidos durante a reportagem. O segundo é a decupagem, sendo a avaliação do

material bruto com as imagens e as entrevistas, selecionando as partes

15

Off: “gravar um texto de uma reportagem [...], sobre a qual posteriormente serão inseridas imagens relativas àquela reportagem” (BARBEIRO; LIMA, p. 166, 2002).

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principais. O terceiro é a roteirização. “Estruturar a reportagem a partir da

sequência das imagens e falas que irão compor a matéria, construindo o

“esqueleto” da reportagem” (CURADO, 2002, p. 131). O quarto é a redação,

escrever o texto levando em conta as imagens e as entrevistas. O quinto, o uso

de outros recursos. Identificar se pode ser possível adicionar gráficos, mapas,

animações e reconstituições para ilustrar a reportagem. O sexto é a gravação do

texto, onde o repórter grava o texto que será colocado junto com as imagens

selecionadas. O sétimo e o último, a montagem, adequar o texto e as imagens

em uma narrativa.

São os editores de texto de telejornalismo que orientam os repórteres

sobre a montagem da reportagem. De acordo com Bonner (2009), os editores de

texto tem a missão de fazer com que a notícia seja contada de maneira mais

clara para os telespectadores. O jornalista explica que os editores de texto fazem

um trabalho parecido com o de roteiristas de cinema, mas com uma diferença.

A matéria-prima deles é a realidade, a obsessão deles é a fidelidade aos fatos. O que há de semelhança é o fato de que o bom editor determinará a ordem em que as informações de uma reportagem serão fornecidas ao espectador - de maneira a facilitar ao máximo a compreensão - e, simultaneamente, se possível for, de forma a despertar o máximo interesse de quem assiste à reportagem, de quem ouve a notícia contada pelo apresentador (BONNER, 2009, p. 53).

A edição no jornalismo esportivo ocorre a partir da seleção de material

para o produto final, e isso começa desde a escolha da pauta. Conforme Barbeiro

e Rangel (2006, p. 41), “é a escolha de assuntos e sua importância que vão dar

ritmo ao programa ou à publicação que chega às bancas”. Então, dependendo do

tipo de veículo, as edições são diferentes. No rádio, as edições de conteúdo

devem ser curtas e objetivas, mas com bastante informação. Na televisão, a

pessoa responsável pela edição é o editor, que deve contar uma história que

precisa ter sentido. Os autores relatam que o esporte proporciona imagens

maravilhosas e que o editor deve utilizar o máximo de recursos audiovisuais para

conseguir uma boa edição.

4.4 GRANDE REPORTAGEM

Diferente da reportagem que busca esclarecer fatos do dia, a grande

reportagem é a matéria mais extensa que procura explorar todos os ângulos

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possíveis de um assunto. Para Kotscho (2001), não é porque elas são grandes,

em número de linhas e por ocuparem páginas de um jornal, que elas têm esse

nome, mas pelo fato dela exigir um investimento muito grande, não só em termos

humanos, como financeiros para a empresa. A série Perfis, do repórter Pedro

Bassan, que faz parte do corpus desta pesquisa, é uma segmentação, ela foi

dividida em episódios. A série de reportagens ocupou em média oito minutos do

Jornal Nacional durante o mês de julho de 2016.

No artigo Resgate da Grande Reportagem: uma experiência do programa

Profissão Repórter (2015), as autoras Camila Papali, Karen Krinchev e Karen

Debértolis explicam que existem duas características representativas na TV a

respeito da grande reportagem: “ela pode se concentrar sobre uma situação, um

fenômeno ou um acontecimento. E pode ser intensiva, quando se trata os

assuntos em profundidade e aborda vários aspectos” (p. 05).

As autoras ainda citam o autor Jean-Jacques Jespers para definir a grande

reportagem. “É uma série de informações respeitantes a um acontecimento

particular da atualidade, ou a um fenômeno particular da sociedade, numa

mensagem real de certa duração” (JESPERS, 1998 apud PAPALI; KRINCHEV;

DEBÉRTOLIS, 2015, p. 05).

Yara Medeiros dos Santos, em seu artigo Design Editorial e o Especial de

Grande Reportagem em O Povo (2015), fundamenta que a grande reportagem

apresenta ao público uma narrativa mais detalhada, sendo um contraponto as

superficialidades do jornalismo. A autora transcreve a consideração de Edvaldo

Pereira Lima, na obra Páginas Ampliadas O livro-reportagem como extensão do

jornalismo e da literatura (2004), sobre a grande reportagem.

A grande reportagem, aquela que possibilita um mergulho de fôlego nos fatos e em seu contexto, oferecendo, a seu autor ou a seus autores, uma dose ponderável de liberdade para escapar aos grilhões normalmente impostos pela fórmula convencional do tratamento da notícia [...] (LIMA, p.18, 2004).

Santos (2015) esclarece que as pautas de grande reportagem são

realizadas por meio de um grande planejamento e de um fato importante. Sendo

assim, “quando a pauta é planejada, na maioria das vezes, exclusiva daquele

meio, foi desenvolvida a partir de equipes específicas da redação, até porque

financeiramente esse tipo de narrativa necessita de investimento extra da

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empresa para recursos materiais e humanos” (SANTOS, p. 03/04, 2015). Além

disso, o autor expõe que a grande reportagem está conectada ao gênero

jornalístico interpretativo.

Lima (2004) relata em sua obra que o livro-reportagem incorpora

elementos do jornalismo e os meios de produções. Dessa forma, “dos elementos

que compõem o livro-reportagem como subsistema do jornalismo, seu

catalisador, ou disparador, é a grande reportagem, assim como no jornalismo

cotidiano o catalisador é a notícia” (LIMA, p. 39, 2004). Dessa forma, o livro relato

é composto por técnicas de reportagem, visando uma narrativa mais ampliada. O

autor explica que ao passar uma informação, o público se motiva a um

detalhamento e aprofundamento na grande reportagem.

4.5 ANCORAGEM

O âncora acumula as atividades de apresentar o programa e de ser o

editor-chefe ou o editor-executivo. Conforme Curado (2002, p. 54), “o âncora

funciona como o nome que tem: nele se apoia a identidade editorial do programa

e a identidade visual. Ele dá a “cara” ao telejornal e também as diretrizes que

serão seguidas pela produção”.

Além disso, Curado (2002) explica que o âncora conhece todas as etapas

da produção jornalística, sendo a pessoa com autoridade na equipe. O

profissional não é só âncora, mas também um editor, um produtor, um pauteiro,

um apurador e um repórter. Dessa forma, “as qualidades exigidas de um âncora

são muitas; é um profissional raríssimo e, portanto, bastante valorizado em

qualquer mercado” (CURADO, 2002, p. 55).

Para Barbeiro e Lima (2002), o âncora é o apresentador que participa da

confecção do telejornal, em todas as suas etapas, como acompanhar o

desenvolvimento das notícias durante todo o dia. Os autores destacam que a

participação ativa faz com que na maioria das vezes o âncora seja também o

editor-chefe do telejornal.

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4.6 EXIBIÇÃO

A exibição é chamada por Curado (2002, p. 178) como o momento em que

decola, é o termo que indica que o telejornal vai entrar no ar, mesmo que ainda

tenha tempo para fazer alterações no script e no espelho, que é a ordem de

entradas de matérias do telejornal. A única coisa que não pode ser mudada é o

material que já foi gravado e editado. Os textos são lidos ao vivo, assim como a

condução das entrevistas são encaminhadas pelas chefias pelo ponto eletrônico

e mensagens via computador. Para Curado (2002), “o conflito essencial está no

embate entre o show e a notícia. Como cativar o público sem transformar a

notícia em espetáculo” (p. 181). De acordo com Barbeiro e Lima (2002), o

apresentador não é artista, muito menos a notícia, ele trabalha a favor dela. Para

os autores, o apresentador

não é a estrela do telejornal, mas é o rosto mais conhecido e familiar do telespectador. [...] O âncora é o apresentador que acompanha e participa do processo de confecção do telejornal em todas as suas etapas. Deve acompanhar a evolução das notícias durante todo o dia, estando ou não na redação. É isso que o distingue de quem apenas grava o off e lê o script. Essa participação ativa, em uma ou mais etapas da produção do telejornal, faz com que em muitos casos o âncora seja também o editor-chefe do telejornal (BARBEIRO; LIMA, 2002, p. 78).

Após a escolha de pauta e formato, reportagem, entrevista, gravação,

texto, edição, exibição e ancoragem, é possível visualizar como é realizada a

produção de conteúdo no telejornalismo, visto que é um processo é complexo.

A partir do processo de produção no telejornalismo, no próximo capítulo

será apresentado o jornalismo literário, e como a narrativa literária pode ser

utilizada na grande reportagem, como também a influência da representação do

herói, no jornalismo literário.

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5. JORNALISMO LITERÁRIO

A partir do tema desta pesquisa, o presente capítulo abordará o gênero do

jornalismo literário, a linguagem, a narrativa, a emoção no Jornalismo Esportivo

em conexão com a Jornada do Herói, abordagem com origem na Psicologia.

5.1 BREVE HISTÓRICO

Edvaldo Pereira Lima fundamenta em sua obra, O que é livro-reportagem

(1993), que a literatura tem influência sobre o jornalismo, mas não apenas no

aspecto da escrita. Conforme o autor é proveniente de uma corrente literária

chamada realismo social. Esta corrente tem herança nos livros da reportagem

avançada moderna, chamada nos Estados Unidos de new journalism e na

Espanha de periodismo informativo de creación. Segundo Lima, um dos

principais escritores que seguiu no realismo social foi Ernest Hemingway. O autor

fundamenta que Hemingway nunca negou que sofreu influência do jornalismo em

suas produções.

A conduta de Hemingway era a do escritor que alimenta seu enfoque inicial nas fontes profícuas do realismo social literário, mas que ia buscar no jornalismo tanto o aperfeiçoamento dos processos de captação quanto à lapidação da sua técnica de expressão. No início, era o jornalismo inspirando-se na literatura. Depois, era a literatura alimentando-se do jornalismo (LIMA, 2004, p. 188).

Além disso, o jornalismo literário é classificado de diferentes maneiras no

Brasil. Felipe Pena, em sua obra Jornalismo Literário (2006), explica que para

alguns escritores é apenas um período da história do jornalismo. Mas alguns

autores acreditam que significa as críticas de obras literárias que eram veiculadas

nos jornais. E outros identificam o conceito de jornalismo literário com o

movimento do new journalism.

Lima (1993) relata que o jornalismo sempre foi inferior em relação à

literatura quando se trata de narração. A primeira influência é o new journalism,

que iniciou na década de 1960. Conforme Lima (1993, p. 45) é uma “tendência

que reviveu a tradição do jornalismo praticado com requintes literários, revigorou

sobremaneira a grande reportagem, em especial na forma de livro, fazendo muita

gente rever suas críticas. Por que o salto de qualidade foi considerável”.

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Lima (1993) menciona Tom Wolf como um dos fundadores do new

journalism. Na visão de Wolf (apud LIMA, 1993, p. 48), “o jornalismo alcançou um

status literário próprio a partir de então, constituindo um gênero que não mais

poderia ser considerado inferior”. Deste modo, Lima explica que a tendência do

new journalism não existe mais, mas que foi apenas uma expressão moderna de

algo que sempre existiu ao lado do jornalismo: o jornalismo literário.

Entretanto, de acordo com Pena (2006), o new journalism é um estilo de

jornalismo literário americano, da qual Wolf não é precursor do estilo. Pena cita o

professor Carlos Rogé para explicar que o

termo Novo Jornalismo apareceu pela primeira vez em 1887, mas foi usado de forma jocosa para desqualificar o britânico WT Stead, editor da Pall Mall Gazette. Ele era um repórter engajado nas lutas sociais, recriava a atmosfera das entrevistas em seus textos e fazia matérias participativas. Em uma delas, “comprou” uma menina de 13 anos da própria mãe para denunciar a prostituição infantil - o que lhe custou dois meses de cadeia. Considerado inconsequente por seus adversários, recebeu a alcunha de novo jornalista, cujo significado mais aproximado era o de “cabeça oca” ou cérebro de passarinho”. Bem diferente do conceito atual (PENA, 2006, p. 52).

Assim sendo, Lima (2004) explica que, nas décadas de 1960 e 1970, os

jornalistas ainda estavam amarrados à linha editorial e não cobriam nada disso.

Eles estavam presos a fatos e não se davam conta da situação que o país estava

vivendo, como as tendências e implicações sociais. Aos poucos, os profissionais

foram percebendo as mudanças na sociedade americana e, para registrar tudo,

eram necessários novos procedimentos, e aos poucos foram despontando em

veículos alternativos, em jornais, revistas para alcançar a expressão máxima em

livros-reportagens. Segundo Pena (2006, p. 53), o período foi “a insatisfação de

muitos profissionais da imprensa com as regras de objetividade do texto

jornalístico, expressas na famosa figura do lead, uma prisão narrativa que

recomenda começar a matéria respondendo às perguntas básicas do leitor”.

Pena (2006) também relata a ideia básica de Wolf: que o novo jornalismo

deveria ser subjetivo; os repórteres deveriam se livrar do escravismo do manual

de redação que era seguido. Só assim o texto poderia ser trabalhado

esteticamente. Portanto, Pena aponta os quatro recursos básicos do novo

jornalismo de Wolf: “reconstruir a história cena a cena; registrar diálogos

completos; apresentar as cenas pelos pontos de vista de diferentes personagens

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e registrar hábitos, roupas, gestos e outras características simbólicas do

personagem” (PENA, 2006, p. 54).

Mas Pena (2006) indica que não é tão fácil aplicar esses recursos. O autor

esclarece que o jornalista deve passar alguns dias com as pessoas sobre as

quais vai escrever, mostrar pontos de vista diferentes para realizar uma descrição

que ultrapasse os romances realistas. Dessa forma, características como os

detalhes do ambiente, costumes, expressões faciais das pessoas, só poderiam

fazer sentido se o repórter souber como lidar com símbolos.

5.2 CONCEITO

Quando falamos de conceito, o jornalismo literário é dividido em duas

abordagens básicas. De acordo com Felipe Pena, na obra 1000 perguntas -

Jornalismo (2005), a primeira abordagem é o jornalismo que é exercido nos

suplementos literários de grandes jornais. A segunda abordagem é dedicar

cuidados não só com a apuração, mas também com a linguagem. Além disso,

Pena explica que ocorre a inclusão de características literárias em matérias.

Porém, em outra obra de Pena, Jornalismo Literário (2006), o autor expõe

mais uma definição sobre o jornalismo literário.

Defino jornalismo literário como linguagem musical de transformação expressiva e informacional. Ao juntar os elementos presentes em dois gêneros diferentes, transformando-os permanentemente em seus domínios específicos, além de formar um terceiro gênero, que também segue pelo inevitável caminho da infinita metamorfose. Não se trata da oposição entre informar ou entreter, mas sim de uma atitude narrativa em que ambos estão misturados. Não se trata nem de jornalismo, nem de literatura, mas sim de melodia (PENA, 2006, p.21).

Lima (2004) relata que o jornalismo e a literatura sempre tiveram em

comum o ato da escrita, pois havia a necessidade de aprimoramento das técnicas

de tratamento da mensagem. Dessa forma, “os jornalistas sentiam-se então

inclinados a se inspirar na arte literária para encontrar os seus próprios caminhos

de narrar o real” (LIMA, 2004, p. 174). O autor também explica que o jornalismo

absorve fatores da literatura, podendo se direcionar a outro fim. Conforme Lima, o

profissional pode sair do real para coletar as informações e reportar, mas adaptar

e transformar essas informações em diferentes formas de expressão. Portanto,

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para Lima, o jornalismo tem dois momentos e, após isso, pode ser caracterizado

como Jornalismo Literário.

Num primeiro movimento, o jornalismo bebe na fonte da literatura. Num segundo, é esta que descobre, no jornalismo, fonte para reciclar sua prática, enriquecendo-a com uma variante bifurcada em duas possibilidades: a de representação do real efetivo, uma espécie de reportagem - com sabor literário - dos episódios sociais, e a incorporação do estilo de expressão escrita que vai aos poucos diferenciando o jornalismo, com suas marcas distintas de precisão, clareza, simplicidade (LIMA, 1995, p. 178).

Para explicar o que é jornalismo literário, Lima cita as ideias do tradutor e

escritor ucraniano Boris Schnaiderman. Conforme Schnaiderman (apud LIMA,

2004, p. 179), “o jornalismo e a literatura estão tão próximos quanto ligados, que

o jornalismo está se apropriando das técnicas da literatura, assim como a

literatura utiliza das técnicas do jornalismo, bem como o jornalismo atribui

veracidade à literatura moderna, visto que uma reportagem bem feita possui

elementos literários”. Nessa lógica, Schnaiderman afirma que são formas

diferentes de um mesmo processo.

5.3 CARACTERÍSTICAS

Para o autor Felipe Pena (2006), a profissão de jornalista deve ser ligada

às causas da coletividade, mas está se transformando em um palco de futilidades

e exploração. Dessa forma, “os jornalistas sérios, comprometidos com a

sociedade, têm seu espaço reduzido e buscam alternativas. O jornalismo literário

é uma delas” (PENA, 2006, p. 13). Mas fugir do comum é muito mais complexo

do que se imagina. Pena explica que seria necessário potencializar os recursos

utilizados pelos profissionais, expor visões mais amplas do fato, romper com o

lead e garantir os relatos da notícia com profundidade. Para explicar isso de

forma mais clara e objetiva, o autor criou um esquema que apelidou de estrela de

sete pontas.

A primeira ponta é potencializar os recursos do jornalismo. Segundo Pena

(2006, p. 14), “o jornalista literário não ignora o que aprendeu no jornalismo

diário. Nem joga suas técnicas narrativas no lixo. O que ele faz é desenvolvê-las

de tal maneira que acaba constituindo novas estratégias profissionais”. A

segunda ponta é ultrapassar os limites do acontecimento cotidiano. O autor

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explica que o profissional deve romper com a periodicidade e a atualidade, dessa

forma, “o jornalista não está mais enjaulado pelo deadline16, [...] e nem se

preocupa com a novidade [...]. Seu dever é ultrapassar esses limites e

proporcionar uma visão ampla da realidade” (PENA, 2006, p. 14). A terceira ponta

da estrela é a contextualização da informação de forma mais abrangente

possível, visto que essa é uma preocupação do jornalismo literário. Segundo o

autor, “é preciso mastigar as informações, relacioná-las com outros fatos,

compará-las com diferentes abordagens e, novamente, localizá-las em um

espaço temporal de longa duração” (p. 14).

A quarta ponta é o exercício da cidadania. O autor explica que quando o

jornalista escolhe um tema, deve pensar como a sua abordagem na pauta vai

contribuir para a vida do cidadão, para o bem comum. Isso é chamado de espírito

público. A quinta ponta do jornalismo literário rompe com as correntes do lead. O

lead é composto por seis questões, que o texto deve responder: Quem? O quê?

Como? Onde? Quando? Por quê? Entretanto, o autor explica que faltam

criatividade e estilo no texto quando essas perguntas são respondidas. Então,

seria necessário fugir dessa fórmula para aplicar técnicas literárias para construir

a narrativa.

A sexta ponta da estrela é impossibilitar os definidores primários. Pena

(2006) classifica como os entrevistados de plantão. São as pessoas que sempre

aparecem na mídia, como, por exemplo, fontes oficiais de governo. O autor

explica que como o tempo no jornalismo diário é muito curto, os profissionais

recorrem a essas fontes. Mas é necessário criar alternativas, como “ouvir o

cidadão comum, a fonte anônima, as lacunas, os pontos de vista que nunca

foram abordados” (PENA, 2006, p. 15). A última e sétima ponta da estrela é a

perenidade. Conforme Pena:

uma obra baseada nos preceitos do jornalismo literário não pode ser efêmera ou superficial. [...] Para isso, é preciso fazer uma construção sistêmica do enredo, levando em conta que a realidade é multifacetada, fruto de infinitas relações, articulada em teias de complexidade e indeterminação (PENA, 2006, p. 15).

Além disso, Pena (2005) cita como características o acompanhamento das

tendências literárias brasileiras e também no resto do mundo. O autor cita

16

Deadline: “prazo final para o repórter retornar à redação com uma reportagem” (BARBEIRO; LIMA,2002, p. 165).

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Edvaldo Pereira Lima, onde fala que o jornalismo literário demanda o mergulho

do repórter naquilo que ele quer retratar. Ou seja, uma observação detalhada.

5.4 A LINGUAGEM E A NARRATIVA LITERÁRIA

A linguagem no Jornalismo Literário tem como característica a estética, a

observação sensível dos fatos, e a descrição meticulosa. De acordo com Pena

(2005, p. 176), “o texto literário pressupõe um compromisso com a qualidade, já

que permite a incorporação de elementos subjetivos e figuras simbólicas,

deslocando a linguagem do viés de mero instrumento para o centro das

preocupações”. O autor explica o que difere o texto literário dos demais é a sua

construção refinada e como sua linguagem é usada.

Pena (2005) apresenta como deve ser o texto de Jornalismo Literário para

a televisão, visto que o mesmo deve ser mais apurado e bem cuidado.

Na televisão, este rebuscar na linguagem tem de ser pensado sob o prisma de um veículo onde a velocidade e a objetividade são ideias principais. Ou seja, no jornal, o leitor tem a possibilidade da releitura em caso de não haver compreendido alguma coisa. Já na televisão isto não ocorre. O telespectador deve entender o que está se falando no momento em que algum assunto esteja sendo tratado (PENA, 2005, p. 180).

Além do mais, Lima (2004) indica que o texto jornalístico deve se

rejuvenescer. A narrativa é entendida pelo autor como um relato de vários

acontecimentos. No caso da grande reportagem, existe uma renovação no estilo

do jornalismo como também uma renovação na força de comunicar. Portanto,

a narrativa jornalística de melhor qualidade beira a arte, assume alguns dos nobres ideais de que esta pode revestir-se. Potencialmente, pode ao menos desencadear um processo de catarse parcial - mental, nesse caso, ou quiçá também emocional - no leitor [...]. Sistematicamente, instaura uma ordem em seguida a uma desordem, leva o leitor a uma nova desordem e permite que ele próprio constitua um reordenamento possível, para o qual o próprio texto oferece sua contribuição (LIMA, 2004, p. 138/139).

Essa ordem e desordem que o texto oferece pode ser entendida sob o

enfoque da psicologia. Lima (2004) esclarece que quando Dante Moreira Leite

examinou uma obra literária, ele afirmou que a leitura pode transportar o leitor por

uma tensão intelectual. Em primeiro lugar, o caos é criado devido ao conflito da

história. Posteriormente, a ordem é estabelecida com um final feliz podendo ser

superficial e nada revelador. Em segundo lugar, existe a possibilidade do leitor

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criar soluções, visto que é possível organizá-la de várias formas, onde a

interpretação final pode ser definitiva. Lima relata que

esse conceito de tensão-equilíbrio-desequilíbrio - teoria que Dante Moreira Leite traz da Gestalt, por isso aproveitada por nós neste livro, uma vez que consideramos essa linha do pensamento psicológico como uma das mais imbuídas do senso sistêmico, contextual, de compreensão da realidade humana - permite entender a possibilidade de reestruturação cognitiva e emocional que a obra de arte oferece. E não é essa reestruturação cognitiva e emocional da contemporaneidade o que a grande reportagem procura oferecer? Não é esse restabelecimento de um novo ordenamento sistêmico dos dados da realidade o que propõe o jornalismo de profundidade acionar no leitor? (LIMA, 2004, p. 139)

Sendo assim, a maneira que o autor ordena e distribui as informações dos

relatos criando uma interação que flui entre o texto e o leitor, só pode estar

presente na obra literária ou na grande reportagem, de acordo com Lima (2004).

O autor também aponta a definição de narração dos autores Muniz Sodré e Maria

Helena Ferrari. Conformes os autores, são os acontecimentos em uma sequência

temporal, a ordenação dos fatos, mesmo eles sendo de conteúdo diferente e

externo ao narrador, quando o mesmo participa dos fatos. O autor também

fundamenta que Sodré e Ferrari encontraram elementos relevantes na narração.

O primeiro deles é a situação, que constitui em compreender o acontecimento,

envolvendo as questões básicas do lead, que, o quê, quando, onde, como e

porquê; o segundo é a intensidade, sendo a repercussão emocional do fato; e o

terceiro é o ambiente, que equivale a descrição do lugar onde ocorreu o fato.

Dessa forma, Lima fundamenta que a grande reportagem utiliza um item como

foco e, a partir disso, desenvolve o texto que o envolve.

5.5 A LITERATURA NA REPORTAGEM PERFIL

É possível ver que as características do Jornalismo Literário estão

presentes no perfil jornalístico, que é construído a partir da história de vida de

uma pessoa. A narrativa é explorada com técnicas de reportagem jornalística

juntamente com esses recursos. Para os autores Danilo Christofoletti e Julio

Hildebrans, no artigo A utilização dos pilares do jornalismo literário na construção

de perfis jornalísticos (2015, p.02), “se um perfil caminha sem contemplar essas

duas facetas, corre-se o risco de gerar um resultado que tenda para a literatura

ficcional ou para um texto jornalístico convencional, sem nenhum apelo narrativo”.

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O perfil jornalístico é definido por Kotscho, como o “filão mais rico das

matérias chamadas humanas” (2001, p. 42). De acordo com o autor, o perfil

oferece ao repórter a oportunidade de fazer um texto detalhado. O autor explica

que um bom perfil pode ser feito em algumas horas ou também pode levar mais

de um mês para ficar pronto. O perfil exige paciência do jornalista, sendo assim o

repórter pode ouvir o seu entrevistado e montar o produto final.

Lima (2004) elenca o livro reportagem perfil. Para o autor, esse tipo de

obra tem como objetivo evidenciar uma personalidade pública ou uma

personagem anônima que passou ser interessante. Sendo assim, “no primeiro

caso, trata-se em geral de uma figura olimpiana. No segundo, pessoalmente

representa por suas características e circunstâncias de vida, um determinado

grupo social, passando como que a personificar a realidade do grupo em

questão” (LIMA, 2004, p. 52).

Da mesma forma que um perfil jornalístico pode ser publicado em um

jornal impresso, ele pode ser apresentado na televisão. Paulo Eduardo Silva Lins,

no artigo O texto de TV e o novo jornalismo literário (2010, p. 03), “na narrativa

audiovisual, o telespectador se envolve, junto com o enunciador/narrador e o

enunciatário/público, numa coparticipação do objeto não ficcional permeado de

efeitos de sentido que garantem a melhor compreensão da realidade da história”.

Sendo assim, a narrativa literária é um modo diferente de relatar a vida das

pessoas que aparecem nas reportagens e nos perfis.

Entretanto, diferente das ideias de Lima (1993) de que a tendência do new

journalism foi passageira, Lins (2010) explica que esse novo jornalismo está

presente quando o repórter empresta ao público não apenas o espaço da notícia,

mas também a possibilidade de o personagem contar o fato do seu ponto de

vista, fazendo uma comparação entre a construção de texto para TV e para o

impresso.

Logo, por meio do mecanismo audiovisual, as reportagens com características do novo jornalismo moldam as manifestações dos personagens a um estilo subjetivo, dando-lhe determinados sentidos e valores, gerando simulacros perfeitamente absorvidos pela sociedade. Dessa maneira, cada reportagem exibida na televisão deixa de ser mero produto pelo qual a sociedade se identifica para tornar-se um produto audiovisual de entretenimento, com as características do jornalismo literário (LINS, 2010, p. 06).

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Dessa forma, Lins (2010) conclui que o texto jornalístico é cheio de signos

linguísticos verbais e não verbais, cores, formatos, palavras e sons que conduz o

telespectador a perceber o texto, relacionado com as imagens, mediante a

utilização das técnicas do Jornalismo Literário na construção das reportagens,

onde a emoção se faz presente, como também no Jornalismo Esportivo.

5.6 EMOÇÃO NA NARRATIVA JORNALÍSTICA E LITERÁRIA

A emoção também faz parte do Jornalismo. Conforme a autora Hadassa

Ester, no artigo A Narrativa Jornalística: Objetividade versus Subjetividade (2015,

p. 12), “as narrativas literárias são mais abertas à emoção e à sensibilidade e

podem substituir a frieza do texto do jornalismo factual, trazendo mais

humanização e uma linguagem mais livre”.

Ester (2015) apresenta as ideias do autor Carlos Alberto di Franco, onde

esclarece que não se faz jornalismo sem emoção, e que a frieza não é humana.

Ester também aponta a opinião do autor e jornalista Eugênio Bucci. “Bucci

acredita que as convicções pessoais não comprometem ou estragam um texto

porque um bom jornalismo não está ligado à indiferença ou à neutralidade do

sujeito. Para promover a cidadania, o jornalismo precisa se valer da indignação e

outras emoções humanas” (ESTER, 2015, p. 10).

Além disso, o pensamento do jornalista Gustavo de Castro é mencionado

por Ester (2015) em seu artigo. Castro fundamenta que a emoção é importante

para o jornalismo desde que ela não seja exagerada, banalizada e não vire

espetáculo como o sensacionalismo. Dessa forma, a sensibilidade é necessária

para poder educar, inspirar e interagir.

Dessa forma, direcionando para o tema da pesquisa, a emoção faz parte

do jornalismo esportivo, fazendo conexão com o jornalismo literário por meio da

narrativa. Sendo assim, o telespectador quer que o repórter informe o

acontecimento. Mas, segundo Heródoto Barbeiro e Patrícia Rangel, na obra O

Manual do Jornalismo Esportivo (2006), todo jornalista esportivo deve saber que

as emoções são contagiosas. O jornalismo não se faz sem emoção, mas o

profissional também tem compromisso com a verdade. Dessa forma,

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a emoção é a própria alma do esporte. Ele está nos olhos do jogador que faz o gol do título, na decepção da derrota, nas piscinas, quadras e pistas. Em nenhuma outra área do jornalismo a informação e o entretenimento estão próximos. [...] O esporte em si já tem certo grau de emoção. E sabemos que não é fácil, no jornalismo esportivo, dosar coração com razão (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p.45).

O jornalista esportivo, pela especificidade do seu trabalho, deve estar

preparado para lidar com frustrações e também controlar as suas emoções.

Barbeiro e Rangel (2006) explicam que a demonstração dessas emoções tem

consequências imediatas para o público. Os autores apresentam um depoimento

do jornalista brasileiro Luis Roberto, que foi o narrador da corrida em que Ayrton

Senna morreu. Na declaração, o jornalista conta que após a batida do carro,

imaginava que a situação era dramática, mas teve que controlar os nervos e

continuar narrando à corrida. Ao final, se direcionou até o hospital e era o único

profissional que estava ao vivo quando foi anunciada a morte do piloto. Sendo

assim, “mesmo Senna sendo um ídolo e muito querido por todos nós, tive que

manter a frieza, controlar a emoção e sair atrás da notícia, que é o trabalho de

todo jornalista” (ROBERTO, apud BARBEIRO; RANGEL, 2006, p.50).

Os autores ainda explicam que a emoção em um evento esportivo, como a

Copa do Mundo, deve ser contida na medida certa. Entretanto,

sabemos que esse evento teve um preço. Até que ponto ficamos “imunes” à televisão quando sabemos que o veículo precisará do máximo de audiência para que compense financeiramente o valor investido na compra do evento? Até que ponto podemos endeusar atletas e criar ídolos para aumentarmos ao máximo a audiência e, assim, o retorno com patrocinadores ser satisfatório? (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 50).

Deste modo, de acordo com Barbeiro e Rangel (2006), o público quer a

informação que o profissional vai passar e o jornalista esportivo não precisa,

necessariamente, torcer com o torcedor, muito menos pelo torcedor. Por fim,

Ester (2015) relata que é dessa mistura de racionalidade e sensibilidade que o

Jornalismo Literário nasce. Dessa forma, a Representação Social se faz presente

na narrativa literária da grande reportagem no Jornalismo Esportivo.

5.7 REPRESENTAÇÃO SOCIAL NA NARRATIVA JORNALÍSTICA

Para definir o que é representação social, o autor Erving Goffman, na obra

A Representação do Eu na Vida Cotidiana (2004, p. 29), usa o termo

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“representação” para se “referir a toda atividade de um indivíduo que se passa

num período caracterizado por sua presença contínua diante de um grupo

particular de observadores e que tem sobre estes alguma influência”.

Quando uma pessoa, sendo ela uma representação, está diante dos

outros “seu desempenho tenderá a incorporar e exemplificar os valores

oficialmente reconhecidos pela sociedade e até realmente mais do que o

comportamento do indivíduo como um todo” (GOFFMAN, 2004, p. 41). Dessa

forma, Goffman esclarece que quando uma representação destaca os valores

oficiais de uma sociedade, ela pode ser considerada uma cerimônia,

rejuvenescimento e reafirmar os valores morais de uma comunidade.

No entanto, para o autor Celso Pereira de Sá, na obra O Conhecimento no

cotidiano - as representações sociais na perspectiva da psicologia social (1993,

p.19), organizado por Mary Jane Spink, “o termo representações sociais designa

tanto um conjunto de fenômenos quanto o conceito que os engloba e a teoria

construída para explicá-los, identificando um vasto campo de estudos

psicossociológicos”. Sá relata que o esboço desse conceito surgiu no trabalho do

francês Serge Moscovici, chamado de La psychanalyse, son image et son public

(1961). Conforme o autor, o francês desejava redefinir os conceitos da Psicologia

Social a partir do conceito de Representação Social. Sendo assim

em uma Psicologia Social mais socialmente orientada, é importante considerar tanto os comportamentos individuais quanto os fatos sociais (instituições e práticas, por exemplo) em sua concretude e singularidade histórica e não abstraídos como uma genérica presença de outros. [...] Além disso, não importa apenas a influência, unidirecional, dos contextos sociais sobre os comportamentos, estados e processos individuais, mas também a participação destes na construção das próprias realidades sociais (SÁ, 1993, p. 20).

O autor ainda esclarece que a representação social pode ocorrer em

várias ocasiões e lugares, onde os indivíduos se encontram e se comunicam,

fazendo parte da vida em conjunto, sociedade. Além disso, Sá (1993) aponta a

definição de Representação Social da professora Denise Jodelet. Ela fundamenta

que “representações sociais são uma forma de conhecimento, socialmente

elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para a construção

de uma realidade comum a um conjunto social” (JODELET, 1989 apud SÁ, 1993,

p. 32).

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A teoria das representações sociais é singular, podendo se tornar uma

teoria específica dos fenômenos psíquicos. Na obra Representações Sociais -

Investigação em psicologia social (2005), o autor Serge Moscovici fundamenta

que “certamente existem poder e interesses, mas para serem reconhecidos como

tais na sociedade devem existir representações ou valores que lhes dêem

sentido” (2005, p. 173). O autor relata que as representações são semelhantes a

teorias que organizam em torno de um tema. Dessa forma, o autor faz uma

comparação entre o dinheiro e as representações.

Do mesmo modo que o dinheiro, sob outros aspectos, as representações são sociais, pelo fato de serem um fato psicológico, de três maneiras: elas possuem um aspecto impessoal, no sentido de pertencer a todos; elas são a representação de outros, pertencentes a outras pessoas ou a outro grupo; e elas são uma representação pessoal, percebida efetivamente como pertencente ao ego (MOSCOVICI, 2005, p 211).

Sendo assim, Moscovici (2005) relata que não é apropriado declarar que

as representações são como uma cópia do mundo ou um reflexo dele, mas

também porque as representações relembram o que está ausente desse mundo.

Dessa forma, elas constituem o mundo mais do que simulam. A partir da

Representação Social, é possível identificar a jornada do herói na grande

reportagem do Jornalismo Esportivo.

5.6.1 Jornada do Herói

Para explicar a Jornada do Herói, os autores Gabriela Gimenes, Gustavo

Larón e Fabiano Ormaneze, no artigo Análise da Narrativa no Jornalismo Literário

(2015), indicam a estratégia de narração de Monica Martinez, visto que a origem

desse conceito veio a partir de mitos e contos populares, seguindo três pontos: a

partida, a iniciação e o retorno.

De fato, a jornada do herói ilustra o caminho que leva a pessoa compreender vivências que fazem mudar padrões de comportamento conscientes e inconscientes. De forma sintética, o percurso da aventura mitológica do herói reproduz os rituais de passagem, comuns nas sociedades primitivas, nas quais ocorre o padrão separação-iniciação-retorno (MARTINEZ, 2008 apud GIMENES; LARÓN; ORMANEZE, 2015, p. 02).

Gimenes, Larón e Ormaneze (2015) indicam a divisão feita por Monica

Martinez, que foi adaptada da divisão da Jornada do Herói criada pelo mitólogo

Joseph Campbell, para a escrita do jornalismo sobre histórias de vida. São sete

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etapas: cotidiano; chamado à aventura; recusa do chamado; testes;

internalização; recompensa e retorno ao cotidiano.

Os autores apontam a fala de Monica Martinez em relação à aventura, que

pode ser um convite de trabalho em uma cidade diferente, ou em uma área nova.

Em relação aos aliados, a autora se refere às pessoas que ajudam em tarefas

realizadas pelo o protagonista. Dessa forma,

já quanto à Jornada do Herói, proposta por Campbell e adaptada ao jornalismo por Martinez (2008), podemos observar que as passagens da aventura (partida, iniciação e retorno) ajudam a transformar uma pessoa comum em alguém com uma história tão interessante a ponto de ser perfilada (GIMENES; LARÓN; ORMANEZE, 2015, p. 8).

Além disso, as autoras Samantha Diefenthaeler e Miriam de Souza

Rossini, no artigo Tiro, Porrada e Bomba: a Jornada do Herói em Tropa de Elite

2, 2010, de José Padilha (2015), apontam que um personagem desenvolve um

papel importante em um enredo, mesmo sendo reproduzido em tramas

diferentes. Elas transcrevem a definição de herói feita pelo autor Christopher

Vloger (2006, apud DIEFENTHAELER; ROSSINI, 2015, p. 3): “a palavra herói

vem do grego, de uma raiz que significa “proteger e servir”. [...] A raiz da ideia de

Herói está ligada a um sacrifício de si mesmo”. Dessa forma, as autoras

transcrevem a fala de Joseph Campbell, que o mito do herói passa por uma

jornada da alma, com dificuldades a serem ultrapassadas.

Joseph Campbell em sua obra O Herói de Mil Faces (1990), explica que o

herói é um homem ou uma mulher que conseguiu vencer as suas limitações

históricas, pessoais alcançando formas válidas. Essa característica faz parte do

corpus desta pesquisa, visto que em cada histórias dos atletas, é apresentada a

sua jornada, entre acertos e erros no esporte. Dessa forma, “as visões, idéias

[sic] e inspirações dessas pessoas vêm diretamente das fontes primárias da vida

e do pensamento humano” (p. 13). Além disso, o autor fundamenta que o herói

vem do mundo cotidiano e se aventura em uma região, onde encontra forças para

obter uma vitória decisiva. Posteriormente, o herói retorna da sua aventura para

poder transmitir seus conhecimentos aos seus semelhantes. Dessa forma “toda a

vida do herói é apresentada como uma grandiosa sucessão de prodígios, da qual

a grande aventura central é ponto culminante” (CAMPBELL, 1990, p. 168).

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Após a revisão bibliográfica dos temas pertinentes ao estudo, no próximo

capítulo serão apresentados outros procedimentos metodológicos que foram

essenciais para o desenvolvimento à pesquisa.

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6 METODOLOGIA

O objetivo deste trabalho é investigar se a série Perfis, exibida no Jornal

Nacional, se utiliza do jornalismo literário para reforçar a representação do herói

nas reportagens esportivas sobre os atletas olímpicos de 2016. O método da

investigação será por meio da Análise de Discurso e como técnicas a revisão

bibliográfica, a observação e a entrevista. A referência aplicada será a obra

bibliográfica Análise de Discurso: Princípios e Procedimentos (2000) de Eni P.

Orlandi e Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação (2005).

6.1 MÉTODO

O método Análise de Discurso significa linguagem em curso, em

movimento. Segundo Eduardo Manhães (2005, p. 305), na obra Métodos e

Técnicas de Pesquisa em Comunicação, “a discursividade implica a

compreensão de que a mensagem é construída no interior de uma conversa e a

concretização de um ato”. Conforme Eni P. Orlandi, no livro Análise de Discurso -

Princípios e Procedimentos (2000) é possível observar a fala do homem a partir

da prática da linguagem estudando o discurso dele.

Manhães (2005) explica que o discurso é resultante da ideia de

interpretação e do significado formado no interior da fala do sujeito. Ele depende

da pessoa para existir. É quando o locutor estimula mostrar o seu ponto de vista

em alguma situação para outra pessoa. Em outras palavras, o discurso é a posse

da linguagem por um locutor, que compõe um sujeito da ação social. Conforme

Manhães, um sujeito da ação social é aquele que cria um modo de falar, tem a

capacidade de persuadir o emissor, ordena e organiza. A consequência disso é

que o discurso se torna uma mediação para o homem, em relação à realidade

natural e social.

Além disso, Manhães (2005) fala que o entendimento do discurso é uma

contradição da interpretação dos textos, do sentido das palavras. Pois, se o único

modo de as pessoas se expressarem é apropriando-se da linguagem para

explicarem suas ideias e pensamentos, as pessoas acabam virando prisioneiras

da linguagem. Para se expressarem, são obrigados a usar as estruturas

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linguísticas e suas regras.

De acordo com Manhães (2005), existem dois tipos de análise de discurso.

“A análise de discurso francesa, é caracterizada pela ênfase no assujeitamento

do emissor, que se expressaria mediante a incorporação de discursos sociais já

instituídos: o religioso, o científico, o filosófico [...] etc” (2005, p 306). A análise de

discurso inglesa é baseada na ação das palavras do sujeito. É aquela pessoa que

usa as palavras para praticar ações. Manhães esclarece que o sujeito é obrigado

a obedecer a uma estrutura linguística, se expressando em situações específicas,

para emitir o ato da fala. Em resumo, a análise de discurso significa desmontar o

texto, na fala, para saber e entender como ele foi elaborado. É a identificação de

quem conduz a narrativa. Conforme Manhães (2005, p. 306), a análise inglesa,

ainda visa atingir o auge de uma conversa como “daquilo que se objetiva alcançar

na vida cotidiana quando se conversa com alguém”.

Manhães (2005) fundamenta: para que o sujeito construa o seu discurso e

se expresse, é necessário que ele domine três instâncias: a conversacional, a

indexical e a acional. O autor esclarece que o âmbito da conversa determina que

a mensagem seja compreensível para os interlocutores, emissor e receptor. A

partir disso, “embora o discurso indique a presença de um sujeito que fala de uma

subjetividade, a significação construída deve ser intersubjetiva, deve fazer sentido

na situação e no contexto social, por isso obedece a regras e procedimentos

linguísticos” (MANHÃES, 2005, p. 307). Na obra Metodologia de pesquisa em

Jornalismo, a autora Márcia Benetti (2010, p.108) explica que “a

intersubjetividade nos obriga a refutar a visão ingênua de que o discurso poderia

conter uma verdade intrínseca ou uma literalidade”. Para a autora, a literalidade é

algo natural e óbvio. O sujeito se apropria da linguagem para expressar o seu

ponto de vista em determinadas situações. É dessa forma que os indicadores

podem ser definidos.

Manhães (2005) também menciona que o indicador mostra que o sujeito

deixa marcas, pistas, que identifica sua presença na construção do discurso. As

pistas, por exemplo, são indicadores de pessoa, de lugar e de tempo. Segundo o

autor, o pronome pessoal “eu” é a indicação de que a pessoa se apropria da

linguagem para elaborar o discurso, assim assume o lugar do locutor. “O ‘eu’ não

é necessariamente nem o indivíduo físico, biológico, o autor do texto, nem o

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sujeito do ponto de vista gramatical. É a pessoa que assume a posição de sujeito

do discurso no texto” (2005, p. 309).

Em relação aos indicadores de tempo e espaço, eles não têm

necessariamente o sentido gramatical dos advérbios, segundo Manhães (2005).

As noções discursivas de tempo podem não reproduzir a ordem cronológica com a qual organizamos a sucessão de nossos dias e organizamos nossas tarefas habituais. Passado, presente e futuro também são funções discursivas, definidas pelo momento indicado pelo locutor como sendo “agora”, assim como as noções discursivas de lugar são indicadas pelo locutor como “aqui”. Tanto “aqui” como o “agora” podem ser referências imaginadas (MANHÃES, 2005, p. 310).

A ação, chamada de instância acional, define que a comunicação é uma

ação simbólica e social, simultaneamente. Quando alguém fala e escuta, o

locutor faz e, ou realiza atos de fala. Conforme Manhães (2005, p. 312), “o sujeito

apropria-se da linguagem para ordenar, explicar ou pedir e, ao fazê-lo, mostra o

mundo a partir de seu ponto de vista para interlocutores em conversas que

acontecem em determinadas situações, que, por sua vez, possuem indicações de

tempo e espaço”.

Assim, para a análise de discurso, a fala é independente e tem sua ordem

própria, a história tem sua realidade afetada pelo simbólico e o sujeito não tem

controle sobre como a linguagem é afetada. De acordo com Eni P. Orlandi

(2000),

a Análise do Discurso visa fazer compreender como os objetos simbólicos produzem sentidos, analisando assim os próprios gestos de interpretação que ela considera como atos no domínio simbólico, pois eles intervêm no real do sentido. A análise do Discurso não estaciona na interpretação, trabalha seus limites, seus mecanismos, como parte dos processos de significação. Também não procura um sentido verdadeiro através de uma “chave” de interpretação (ORLANDI, 2000, p. 26).

Após a definição e contextualização da Análise de Discurso, é necessário

aplicar o método. De acordo com Orlandi (2001), o pesquisador deve se

perguntar e que deve ouvir para compreender na opacidade da linguagem para

aplicar o método. Sendo assim, o autor propõe a construção de um dispositivo da

interpretação.

Esse dispositivo tem como característica colocar o dito em relação ao não dito, o que o sujeito diz em um lugar com o que é dito em outro lugar, o que é dito de um modo com o que é dito de outro, procurando ouvir, naquilo que o sujeito diz aquilo que ele não diz, mas que constitui igualmente os sentidos de suas palavras (ORLANDI, 2000, p. 59).

A partir disso, o pesquisador deve explicitar os processos da análise, visto

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que falamos a mesma língua, mas sempre de forma diferente. Orlandi (2000)

relata que o analista deve construir um dispositivo que seja capaz de mostrar

essa didática. “O dispositivo, a escuta discursiva, deve explicitar os gestos de

interpretação que se ligam aos processos de identificação dos sujeitos, suas

filiações de sentidos: descrever a relação do sujeito com sua memória”

(ORLANDI, 2000, p. 60). A consequência disso é a relação entre a descrição e a

interpretação.

Orlandi (2000) menciona que existem dois momentos da análise onde a

interpretação aparece. O primeiro, é que o analista deve descrever o gesto de

interpretação, visto que o sujeito que fala, interpreta. O segundo é que o analista

está envolvido na interpretação, pois não tem descrição sem interpretação. Dessa

forma, o autor salienta que a análise de discurso trabalha nos limites da

interpretação. Com base nisso, o pesquisador constrói o seu dispositivo analítico

para prosseguir na análise. Então, “um dos primeiros pontos a considerar, se

pensarmos na análise, é a constituição do corpus. A delimitação do corpus não

segue critérios empíricos (positivistas), mas teóricos” (ORLANDI, 2000, p. 62).

O processo de análise começa pelo o estabelecimento do corpus, e se

organiza pelo o seu ponto de vista. Orlandi (2000) relata que é a partir disso que

existe a necessidade da intervenção da teoria para mediar a relação entre o

pesquisador e o seu objeto de estudo. Logo, a análise deve ser o menos

subjetiva para exemplificar o modo de produção. Depois que o objeto for

analisado, ele está pronto para novas abordagens.

Ele não se esgota em uma descrição. E isto não tem a ver com a objetividade da análise com o fato de que todo o discurso é parte de um processo discursivo mais amplo que recortamos e a forma do recorte determina o modo da análise e o dispositivo teórico da interpretação que construímos. Por isso o dispositivo analítico pode ser diferente nas diferentes tomadas que fazemos do corpus, relativamente à questão posta pelo analista em seus objetivos. Isto conduz a resultados diferentes (ORLANDI, 2000, p. 64).

Segundo Orlandi (2000), será trabalhado em desfazer os efeitos dessa

ilusão. Em outras palavras, construir, a partir do material bruto, um objeto

discursivo onde é analisado o que é dito nesse discurso e em outros, mas em

condições diferentes. Em uma primeira etapa dessa análise, é necessário

converter o material bruto em um objeto teórico. Então, já é possível analisar

propriamente a discursividade.

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Em uma segunda etapa, é iniciada a avaliação pela configuração do corpus,

traçar os limites, fazer recortes, retomando os conceitos e noções da análise de

discurso. Orlandi (2000) relata que é a observação da construção, estruturação,

modo de circulação e os gestos de leitura. A análise é a compreensão dos

processos de significação dentro do texto.

Compreender como um texto funciona como ele produz sentidos, compreendê-lo enquanto objeto linguístico-histórico é explicar como ele realiza a discursividade que o constitui. [...] Todo texto é heterogêneo: quanto à natureza dos diferentes materiais simbólicos (imagem, som, grafia etc); quanto à natureza das linguagens (oral, escrita, científica, literária, narrativa, descrição etc); quanto às posições do sujeito. Além disso, podemos considerar essas diferenças em função das formações discursivas: em um texto não encontramos apenas uma formação discursiva, pois ele pode ser atravessado por várias formações discursivas que nele se organizam em função de uma dominante (ORLANDI, 2000, p. 70).

Sendo assim, o objetivo do analista é explorar a ordem do discurso e a

estruturação do texto. O efeito da análise é a compreensão dos processos de

produção dos sentidos e as posições dos sujeitos. Após a escolha do método, é

possível definir as técnicas que serão utilizadas.

6.2 TÉCNICAS

Para auxiliar no estudo do método de Análise de Discurso, serão utilizadas

as técnicas de revisão bibliográfica, entrevista, por meio de questionário, e

observação.

6.2.1 Revisão bibliográfica

A revisão bibliográfica é o planejamento da pesquisa. É a localização e a

identificação de autores que falam sobre o assunto a ser estudado. De acordo

com Ida Regina C. Stumpf, no artigo Pesquisa Bibliográfica (2005, p. 51), a

revisão significa “selecionar os documentos pertinentes ao tema estudado e

proceder à respectiva anotação ou fichamento das referências [...] para que

sejam posteriormente utilizados na redação de um trabalho acadêmico”. Dessa

forma, a autora salienta que para seguir adiante na pesquisa, o aluno deve

conhecer o que já foi escrito, para acrescentar ao seu trabalho.

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Segundo Stumpf (2005), a revisão é constante durante todo o trabalho

acadêmico e segue uma ordem de tópicos: definição do problema; revisão da

literatura; hipóteses; metodologia; análise dos dados e conclusões. Mas cada

etapa é pré-requisito das outras. Entretanto, a autora afirma que (2005, p. 53) “o

foco de interesse será buscado na sua vida real, especialmente na vida

profissional para os já graduandos, mas precisa ser estimulado através de um

programa de leituras que indique haver um ponto obscuro que precisa ser

investigado”.

Após a definição do problema da pesquisa, o aluno deve explorar os

conceitos e temas do seu trabalho acadêmico e organizar uma sequência de

ideias. Stumpf esclarece que,

todo auxilio externo que conseguir é uma complementação à bagagem pessoal do pesquisador e um enriquecimento à análise que pretende elaborar, uma vez que nada substitui o conhecimento próprio, formado através de leituras direcionadas que fez para a elaboração do trabalho (2005, p. 54).

Sendo assim, a autora exemplifica os passos necessários para que a

revisão bibliográfica seja bem sucedida.

A primeira etapa é a identificação do tema e assuntos. A autora expõe que

o pesquisador precisa definir um assunto que lhe instiga e elaborar palavras-

chaves ou termos relacionados à temática. A autora explica que o aluno pode

direcionar a sua busca a alguns pontos do tema, pois é impossível abordar o

trabalho de todos os ângulos. A segunda etapa é a seleção das fontes. Para

Stumpf (2005), a primeira fonte que vai indicar a bibliografia relacionada ao tema

é o orientador. Ele pode indicar o melhor material para o pesquisador. Entretanto,

o aluno não pode se ater apenas a isso. Ele deve realizar a sua própria busca.

A terceira etapa é a localização e obtenção do material. Após identificar os

nomes dos autores e das obras,

o pesquisador dará início à etapa de localização dos documentos. Para isto, o primeiro passo é a consulta à biblioteca local e nela começar pelo catálogo. O catálogo, automatizado ou não, permite consultar por três tipos de entradas: pelo sobrenome do autor, pelo título e pelo (s) assunto (s), no caso de livros, teses e dissertações, folhetos e monografias. [...] Devem-se então anotar os dados e a localização (STUMPF, 2005, p. 58).

Além disso, o pesquisador pode variar na obtenção do material, comprado

ou via empréstimo na biblioteca, exceto aqueles que são apenas para consulta

local. A quarta etapa é a leitura e transcrição dos dados. Conforme Stumpf

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(2005), o resultado da leitura pode ser anotado em fichas, também chamado de

fichamento do material. A autora descreve o processo em pequenas etapas,

como anotar os nomes dos autores, título, edição, local (cidade) de publicação,

editora e ano de publicação. Para artigos do periódico deve ser anotado o

volume, número, páginas iniciais e finais do artigo, mês e ano. Para teses e

dissertações, também deve ser anotado o nome da universidade e da titulação a

que se refere. E para os documentos que foram acessados na internet, devem

ser anotados o site e a data de acesso.

Após essas etapas, é importante identificar quais os tipos de pesquisas

bibliográficas. O autor Antonio Carlos Gil, na obra Métodos e Técnicas de

Pesquisa Social (1989), divide a revisão bibliográfica em seis categorias. A

primeira categoria é a pesquisa bibliográfica. De acordo com o autor, essa

categoria é desenvolvida a partir de material que já foi elaborado e faz parte de

livros e artigos científicos. A segunda é a pesquisa documental. Ela é bastante

parecida com a pesquisa bibliográfica, mas se difere pela natureza das fontes.

Segundo Gil (1989, p. 73), “a pesquisa documental vale-se de materiais que não

receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados

de acordo com os objetivos da pesquisa”.

A terceira categoria é a pesquisa experimental, e, conforme Gil (1989) é o

melhor exemplo de pesquisa científica. O autor explica que essa pesquisa

“consiste em determinar um objeto de estudo, selecionar as variáveis que seriam

capazes de influenciá-lo, definir formas de controle e de observação dos efeitos

que a variável produz no objeto” (GIL, 1989, p. 73). A quarta categoria é a

pesquisa ex-post-facto. De acordo com Gil, nessa categoria é realizado um

experimento depois dos fatos.

Não se trata rigorosamente de um experimento, posto que o pesquisador não tem controle sobre as variáveis. Todavia, os procedimentos lógicos do delineamento ex-post-facto são semelhantes aos dos experimentos ditos. Basicamente neste tipo de delineamento são tomadas como experimentais situações que se desenvolveram naturalmente e trabalha-se sobre elas como se estivessem submetidas a controles (GIL, 1989, p. 75/76).

A quinta categoria é chamada de levantamentos. Conforme Gil (1989),

essa pesquisa se caracteriza pela interrogação direta das pessoas cujo

comportamento deseja conhecer. “Basicamente, procede-se à solicitação de

informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado

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para, em seguida, mediante análise quantitativa, obter as conclusões

correspondentes aos dados coletados” (GIL, 1989, p. 76). A sexta e última

categoria é o estudo de caso. Para o autor, essa categoria é um estudo profundo

de um ou poucos objetos, para obter o conhecimento amplo do mesmo. Gil

explica que,

este delineamento se fundamenta na ideia de que a análise de uma unidade de determinado universo possibilita a compreensão da generalidade do mesmo ou, pelo menos, o estabelecimento de bases para uma investigação posterior, mais sistemática e precisa. A experiência acumulada com delineamentos desta natureza confere validade a essa suposição, muito embora não seja possível sua sustentação do ponto de vista lógico (GIL, 1989, p. 79).

Sendo assim, de acordo com Stumpf (2005), pesquisar o que outros

autores já escreveram sobre o assunto e juntar as ideias pode tornar a revisão

bibliográfica criativa e prazerosa. Dessa forma, a revisão pode ser bem sucedida.

Como resultado da revisão bibliográfica dentro desta monografia foram

apresentados quatro capítulos: Gêneros e formatos dos programas de televisão;

Jornalismo Esportivo; Produção de conteúdo no telejornalismo e Jornalismo

Literário.

6.2.2 Entrevista

A entrevista é um meio em que o pesquisador se coloca frente a frente

com o investigado, sendo possível fazer um questionário, com a intenção de

obter informações que possam ser relevantes à pesquisa. É definida por Gil

(1989) como uma interação social, onde uma das partes deseja obter dados e a

outra se coloca como fonte de informação.

O autor afirma que a entrevista é a técnica mais apropriada para a

conquista de informações a respeito do que o entrevistado sabe, sente e crê a

respeito de seus conhecimentos sobre o conteúdo que o pesquisador está

estudando. A técnica de entrevista é considerada por muitos autores como

excelência na investigação social. Dessa forma, “a entrevista é adotada como

técnica fundamental de investigação nos mais diversos campos e pode-se afirmar

que parte importante do desenvolvimento das ciências sociais nas últimas

décadas foi obtida graças à sua aplicação” (GIL, 1989, p. 113).

A utilização da entrevista tem como vantagem a conquista de dados

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importantes referente à pesquisa. Para Gil (1989), se a aplicação da entrevista for

eficiente, o assunto pode ser aprofundado. Entretanto, a entrevista pode ter

algumas limitações, como a falta de motivação do entrevistado em responder às

perguntas, o fornecimento de respostas falsas, a incapacidade do entrevistado

em responder adequadamente e a opinião pessoal do entrevistador sobre as

respostas do entrevistado.

Além disso, o autor classifica as entrevistas em quatro categorias. A

primeira delas é a entrevista informal. O autor explica que esse tipo de entrevista

quase não tem estrutura, e é baseada em uma simples conversa, que tem como

objetivo principal a coleta de dados e uma visão mais ampla do problema que

está sendo pesquisado. De acordo com Gil, “a entrevista informal é recomendada

nos estudos exploratórios, que visam abordar realidades pouco conhecidas pelo

pesquisador, ou então oferecer visão aproximativa do problema pesquisado”

(1989, p. 116).

O segundo tipo de entrevista é definido como entrevista focalizada. Para o

autor, a focalizada permite que o entrevistado fale livremente sobre o assunto.

Esse tipo de entrevista é aplicado em situações experimentais. Conforme Gil, “é

bastante utilizada com grupos de pessoas que passaram por uma experiência

específica, como assistir a um filme, presenciar um acidente etc. O entrevistador

confere ao entrevistado ampla liberdade para expressar-se sobre o assunto”

(1989, p. 116).

O terceiro tipo é entrevista por pautas. Para o autor, essa categoria exige

estruturação, pois ela é conduzida por causa das relações de interesse que o

profissional vai explorar. Conforme o autor, o entrevistador faz poucas perguntas

diretas, dessa forma o entrevistado pode falar livremente. “As entrevistas por

pautas são recomendadas, sobretudo nas situações em que os respondentes não

se sintam à vontade para responder a indagações formuladas com maior rigidez”

(GIL, 1989, p. 117).

A última categoria de entrevista é a estruturada. Ela é desenvolvida a partir

de uma relação de perguntas, “por possibilitar o tratamento quantitativo dos

dados, este tipo de entrevista torna-se o mais adequado para o desenvolvimento

de levantamentos sociais” (GIL, 1989, p. 117). Além disso, esse tipo de

entrevista permite uma análise estatística dos dados obtidos. O autor explica que

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a lista de perguntas é chamada de questionário ou formulário. Para o autor (1989,

p. 118) “as entrevistas deste tipo podem assumir maior ou menor grau de

estruturação em função do tipo de perguntas que aparecem nos formulários”.

Nessa monografia, vamos utilizar da entrevista estruturada. Dessa forma, será

elaborado um questionário com dez perguntas para ser enviado ao entrevistado,

via e-mail.

6.2.2.1 Perfil Pedro Bassan

Pedro Bassan começou a trabalhar com jornalismo ainda na infância, na

Rádio Tupã, no interior de São Paulo, fazendo comerciais. O repórter se formou

em Comunicação Social pela Faculdade Cásper Líbero. Teve experiência nas

Rádios Jovem Pan e Bandeirantes. E iniciou sua carreira na televisão como

freelancer na ESPN Brasil. Em seu currículo, já cobriu cinco Olimpíadas e cinco

Copas do Mundo, a Fórmula 1, os Jogos de Inverno de 2006 e os Jogos Pan-

Americanos no Rio de Janeiro em 2007. Além disso, foi correspondente em

Pequim, na China.

A série Perfis, tema desta monografia, foi conduzida por Pedro Bassan.

Para o desenvolvimento da análise das reportagens escolhidas, comecei a busca

de como poderia entrar em contato com o repórter. Durante a realização do

projeto de pesquisa, conheci o ex-aluno de jornalismo da UCS, Matheus Guaresi.

Conversei com ele, juntamente com a minha orientadora, para verificar se poderia

nos ajudar, pelo fato de que Matheus conheceu Pedro Bassan em seu

treinamento do Passaporte SporTV. Agora ele é repórter do canal. Após esse

primeiro contato, enviei uma mensagem para Matheus, relembrando de nossa

conversa na universidade e se ele estaria disposto a me ajudar. Ele concordou, e

no mesmo dia entrou em contato com Bassan. Alguns minutos depois de minha

mensagem, Matheus enviou a resposta positiva de Pedro, que concordou em ser

entrevistado por e-mail a respeito da série, e que se sentia honrado pelo projeto

ter virado tema de TCC. Ele passou o seu e-mail da Rede Globo e o seu contato

pessoal de WhatsApp.

Fiz o primeiro contato, no dia 3 de janeiro de 2017, via WhatsApp.

Entretanto, sem resposta. No mesmo dia, enviei o primeiro e-mail, mas também

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não tive resposta. Enviei o segundo e-mail no dia 6 de março, sem resposta

novamente. Entrei em contato com Matheus novamente, pedindo ajuda para ver

se o repórter havia recebido minhas mensagens, no dia 9 de março. Matheus, na

mesma hora respondeu que tentaria falar com ele novamente. Enviei um terceiro

e-mail no dia 31 de março, mas sem resposta, como nas outras vezes. Minha

última tentativa de contato foi no dia 28 de abril, via e-mail, e da mesma forma,

sem resposta.

A partir da ausência de respostas, a análise foi conduzida a partir da

decupagem do corpus da pesquisa e da revisão bibliográfica.

6.2.3 Observação

A observação é importante para o projeto de pesquisa, desde o início do

tema. A observação “entende-se aquela em que o pesquisador, permanecendo

alheio à comunidade, grupo ou situação que pretende estudar, observa de

maneira espontânea os fatos que aí ocorrem” (GIL, 1989, p. 105).

O autor classifica três categorias de observação: a participante, a

sistemática e a observação simples. A observação participante também é

chamada de observação ativa. Conforme Gil (1989, p. 107/108), “consiste na

participação real do observador na vida da comunidade, do grupo ou de uma

situação determinada”. Dessa forma, o observador assume um papel dentro do

grupo que está observando. O autor esclarece que a observação é utilizada pelos

antropólogos para estudar comunidades e culturas diferentes. A observação

participante pode ocorrer de duas formas. Para ele, ela pode acontecer de forma

natural, quando o observador já faz parte daquele grupo que está investigando,

ou de forma artificial, quando o observador integra o grupo que pretende

investigar.

Na visão do autor, a principal desvantagem é a restrição que pode haver

dentro de uma comunidade. De acordo com o autor, “mesmo quando o

pesquisador consegue transpor as barreiras sociais de uma camada a outra, sua

participação poderá ser diminuída pela desconfiança, o que implica limitações na

qualidade das informações obtidas” (GIL, 1989, p. 109).

A segunda categoria é a observação sistemática, “é frequentemente

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utilizada em pesquisas que têm como objetivo a descrição precisa dos

fenômenos ou tese de hipóteses” (GIL, 1989, p. 109). Nessa observação, o

pesquisador já sabe o que deve analisar. Dessa forma, é elaborado um plano de

observação prévio, a antecipação de análise do produto. O autor explica que a

observação sistemática ocorre em situações de campo ou de laboratório.

Gil (1989) relata que o registro da observação sistemática pode ser feito

com folhas de papel com a lista de categorias, com espaços onde são anotadas

as gravações de som e imagem. Entretanto, para o autor, “torna-se necessário

definir as categorias significativas para o registro do comportamento, bem como

decidir acerca das unidades de tempo e estabelecer critérios para o registro das

ações” (GIL, 1989, p 111).

A terceira categoria de observação é a simples. Segundo Gil (1989), ela

pode ser qualificada como espontânea, e eleva o seu nível para um plano

científico, visto que é muito mais do que apenas apuração de fatos. Essa

categoria de observação segue um processo de análise e interpretação,

apresentando algumas vantagens. O autor exemplifica três vantagens. A primeira

é a oportunização do ganho de informações para a delimitação do problema do

projeto de pesquisa. A segunda auxilia a criação das hipóteses em relação ao

problema que está sendo pesquisado. E a terceira vantagem ajuda a conquista

de dados sem suspeitas do meio que está sendo estudado.

Entretanto, a observação simples apresenta algumas fraquezas. Gil

(1989) cita três limitações que podem atrapalhar na observação. A primeira é que

o lado emocional do pesquisador pode influenciar na observação, a atenção pode

ser desviada para informações que são desnecessárias. A segunda é definida por

Gil (1989, p. 106), como “o registro das observações depende, frequentemente,

da memória do investigador”. A terceira limitação é que a observação dá uma

grande possibilidade para interpretação subjetiva e parcial da pesquisa. Dessa

forma, o pesquisador deve estar sempre atento aos acontecimentos, tanto

previstos como os nãos previstos.

Conforme Gil (1989), o registro da observação simples é feito a partir de

diários ou cadernos de notas. E “também podem ser utilizados outros meios para

o registro da observação, tais como gravadores, câmeras fotográficas, filmadoras

etc” (GIL, 1989, p. 107).

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Dessa forma, vamos utilizar da observação simples nesse projeto de

pesquisa. A observação vai ser realizada a partir da reprodução das reportagens

que integram o corpus do estudo e a decupagem das mesmas; além do

levantamento dos aspectos mais importantes de cada uma que se relacionam ao

tema da pesquisa.

6.2.3.1 Perfil Jornal Nacional

O Jornal Nacional (JN) é o telejornal que exibiu as reportagens da série

Perfis e que neste sentido, é relevante conhecer um pouco mais da história do

programa. O telejornal foi exibido pela primeira vez no dia 1º de setembro de

1969, para competir com o Repórter Esso da TV Tupi. O telejornal foi criado por

Armando Nogueira, diretor de jornalismo da TV Globo na época. A exibição

contava com 15 minutos de exibição e três editorias: local, nacional e

internacional. Os apresentadores, até 1983, eram Sérgio Chapelin e Cid Moreira.

O quadro do tempo foi criado em 1991 e era apresentado por Sandra

Annenberg. E após muitos anos apresentando o JN, Cid Moreira e Sérgio

Chapelin foram substituídos por William Bonner e Lillian Witte Fibe. A

apresentadora foi substituída por Fátima Bernardes em 1998. Bernardes dividiu a

bancada com Bonner por 14 anos e foi substituída por Patrícia Poeta em 2011.

No ano de 2013, o telejornal passou a ser produzido, editado e exibido em

alta definição. Dessa forma, 80% da programação do canal passou a ser em HD

(high definition). Após a mudança para HD, a última troca de bancada ocorreu em

2014, quando Patrícia Poeta foi substituída por Renata Vasconcellos, que

constitui a bancada atual (2017) do Jornal Nacional com William Bonner.

O telejornal já exibiu muitas reportagens. Entre elas estão: sobre a Lei da

Anistia e volta dos Exilados (década de 1970), campanha pelas Diretas Já e

eleições de Fernando Collor e Lula (década de 1980), Guerra do Golfo e Rio 92

(década de 1990), 11 de Setembro, eleição do Lula e Barack Obama, caso

Isabella Nardoni e Copa do Mundo na África do Sul (anos 2000), terremoto no

Haiti, Rio +20, incêndio na boate Kiss e Copa do Mundo no Brasil (anos 2010).

Além das reportagens, as séries de reportagens também integram a grade do JN,

como a série Perfis, corpus da presente pesquisa.

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6.2.3.2 Corpus da Pesquisa

O objetivo dessa pesquisa é investigar se a série de reportagens Perfis, do

Jornal Nacional, sobre os atletas olímpicos de 2016, ajudou a reforçar a

representação do herói por meio do jornalismo literário. Para isso, a observação

vai ocorrer por meio da decupagem de seis grandes reportagens da série Perfis

do Jornal Nacional, de um total de 16 reportagens, que variam de oito a dez

minutos de duração, totalizando 53 minutos de gravação. O projeto vai

transcrever os principais detalhes do texto produzido nas reportagens.

O critério de escolha levou em consideração esportes mais populares

entre o público e outros que não possuem grande popularidade. As reportagens e

os atletas selecionados foram: Arthur Zanetti, da ginástica artística, no dia 11 de

julho; Yane Marques do pentlato, no dia 12 de julho; Sara Menezes, do judô

feminino, no dia 18 de julho, Fabiana Claudino, do vôlei feminino, no dia 19 de

julho; Isaquias Queiroz, da canoagem, no dia 25 de julho; e Serginho, do vôlei

masculino, no dia 26 de julho. Todas as reportagens foram exibidas em 2016, nas

segundas e terças feiras, respectivamente.

6.2.2.3 Decupagem

a) Perfil Arthur Zanetti - 11 de julho de 2016, 9’31’’

O apresentador William Bonner está no estúdio do Jornal Nacional em pé em

frente ao um telão que passa imagens de Arthur Zanetti.

William Bonner (WB): A partir de hoje o Jornal Nacional vai apresentar uma série

especial de reportagens sobre representantes do Brasil nos jogos do Rio. Uma

forma de homenagear esses atletas e ao mesmo tempo é uma oportunidade de

revelar a história, o talento e o empenho de cada um. Na primeira reportagem da

série, o Pedro Bassan vai trazer um campeão, o ginasta Arthur Zanetti.

A reportagem inicia com imagens do aparelho das argolas ao ar livre, com

céu azul ao fundo, elas balançam devagar. Essa imagem se mescla com cenas da

entrevista do treinador.

Pedro Bassan (PB): Ginástica. Um outro jeito de ver o mundo.

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Marcos Goto - treinador de Arthur (MG): Ginástica é um esporte diferente né. Não

é o cotidiano do ser humano, né. Andar de ponta cabeça, o ser humano anda de

ponta cabeça, entendeu.

Imagem das argolas balançando em câmera lenta, logo após o atleta aparece

no vídeo. Uma imagem de uma mão passando um spray no metal das argolas em

um centro de treinamento. O atleta, Arthur Zanetti, se posiciona no aparelho e

treinar acrobacias. Essa cena se intercala com imagens do pai de Zanetti

manuseando equipamentos de treinamento e também com cena de Arthur olhando

a gravação de seu treino em um Ipad. A cena troca, e Arthur sobe em uma pequena

escada e caminha em uma plataforma para alcançar as argolas. A plataforma se

movimenta com o peso, sem peso em cima, ela se levanta.

PB: E até de ponta cabeça aparece as maravilhas do Brasil. O céu, o vento e Arthur

Zanetti. Primeiro passo, desenferrujar. Depois, aperfeiçoar os movimentos. Para nós

parece perfeito, mas eles sempre querem melhorar. Um trabalha no ginásio, o outro

na oficina. Os dois se chamam Zanetti. A firmeza das mãos é um talento que une o

filho e o pai. Archimedes Zanetti fabrica equipamentos que ajudam Arthur a treinar.

É normal a família dar suporte ao atleta, mas nesse caso, a família construiu o

suporte do atleta, com as próprias mãos.

Archimedes Zanetti - pai de Arthur (AZ): Funciona. Até já deve tá trabalhando

aqui há 8 ou 10 anos.

As cenas da entrevista com Arthur se intercalam com cenas do atleta em

cima de um carrinho para fazer força.

Arthur Zanetti (AZ): Plataforma para subir nas argolas, argolinhas de chão, um

carrinho para fazer força. Ele ajudou bastante e ajuda até hoje.

As cenas são divididas entre o pai do atleta analisando as barras de ferro,

trocando para um close das mãos da mãe de Arthur segurando um pingente de

argolas de ouro no pescoço, mudando para imagens de Arthur entrando na cozinha

de casa e recebendo um abraço da avó que abre uma panela que está no fogão. A

câmera faz um close na panela de arroz doce, em seguida o atleta bagunça o

cabelo da avó. Depois, imagens do atleta com seu irmão Vítor caminhando na rua, o

irmão bagunça o cabelo do atleta, pois é mais alto e Arthur não consegue alcançar o

cabelo do irmão. Em seguida, Vítor aparece com a camiseta levantada e a câmera

faz um close no peito onde ele exibe uma tatuagem com o rosto de Arthur. As

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imagens trocam para cenas de arquivo do atleta competindo nas Olimpíadas de

Londres e nos jogos Pan Americanos e a reação da comemoração da medalha de

ouro em Londres. A narração do repórter termina com o motorista olhando o atleta

treinando.

PB: O carinho do pai se manifesta em objetos de ferro e aço. O da mãe em argolas

de ouro e também foi ela quem fez. O carinho da avó é bem recompensado. Toda

vez que dona Neide faz arroz doce, ganha de presente um penteado novo. Arthur

não consegue balançar o cabelo do Vítor. À primeira vista, os dois irmãos parecem

muito diferentes. Mas para encontrar a semelhança é só olhar para o coração. E

assim, nesse esforço conjunto de uma família inteira, foi forjado o talento de um

campeão panamericano. Campeão mundial. Campeão olímpico. Chamado no

mundo todo de “O rei das argolas”. Arthur Zanetti.

Ademir Valmor - motorista da prefeitura de São Caetano (AV): Tutu.

PB: Como é que é?

Imagem da entrevista no centro de treinamento com os equipamentos ao

fundo.

AV: Pra mim, é como um filho pra mim.

Cenas de Arthur treinando se intercalam com imagens do atleta ajudando

outros atletas a treinarem.

PB: Ademir é motorista. Há quase 20 anos leva Tutu e seus amigos para competir.

AV: Eu apostava né. Se eles fossem campeão eu ia pagar pizza pra ele e eu só

saia perdendo. Ele só era campeão.

Cenas de arquivo de Arthur criança, competindo, correndo para fazer

acrobacias, trocando para uma cena do atleta em cima do pódio em terceiro lugar,

cumprimentando o menino que ficou em primeiro lugar. Após essa cena, imagem de

Arthur correndo para fazer um salto, essa imagem se intercala com cenas das

argolas ao ar livre com imagens de arquivos de Arthur competindo nas argolas e

subindo no pódio em primeiro lugar.

PB: O prejuízo do Ademir tá bem documentado nos vídeos da família Zanetti. Se o

foco era o pódio, Arthur estava em cena. Quando não ficava em primeiro, era o

primeiro a estender a mão. Já impressionava no salto. Mas onde será que ele se

destacava ainda mais? Aos 10 anos, Arthur Zanetti foi campeão brasileiro nas

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argolas, pela primeira vez. Com a medalha no peito, adorou aquele negócio

chamado ginástica.

A cena da entrevista se passa no centro de treinamento.

AZ: Tipo, é um negócio legal, é um negócio que eu gosto de fazer, é um negócio

que vou seguir para a minha vida.

Imagens de Arthur com o uniforme azul do Brasil de treinamento, em cima de

um grande colchonete posicionado para subir nas argolas. O aparelho está em cima

de uma estrutura reta em um morro do Rio de Janeiro. Essa cena se intercala com

cenas de arquivo do treinador se posicionando para levantar o atleta nas argolas

quando criança, a cena troca com imagem dos dois, adultos, na mesma posição em

uma competição, onde o atleta é levantado pelo treinador para alcançar as argolas.

PB: E a vida já tem tanta história. Das lentes amadoras para as câmeras mais

modernas do mundo. O equipamento mudou, mas a imagem é a mesma. Marcos

Goto e Arthur Zanetti. Inseparáveis.

Cenas da entrevista se intercalam com imagem de um abraço do treinador no

atleta nas Olimpíadas de Londres.

AZ: Treinar em outro clube, com outro técnico, não dá. Não dá. Eu não consigo me

ver em outro lugar, e sem também o Marcos como técnico.

A entrevista do treinador no centro de treinamento se intercala com uma foto

de Arthur quando era criança.

MG: Eu já tive... Praticamente... Trabalhando com grupo, uma equipe inteira sair

para outro grupo. O Arthur era pequeno. Eu sei o que eu passei e hoje eu dou muito

valor a ser campeão olímpico e ser campeão mundial. E eu exijo respeito.

Cenas de arquivo de Arthur realizando a série de exercícios nas argolas

durante as Olimpíadas de Londres. Essa imagem se intercala com o treinador

dando instruções durante o treino no centro de treinamento.

PB: Na ginástica, o técnico não pode das instruções para o atleta durante o

exercício. Ali, Marcos fica em silêncio. Porque quando ele pode falar, ele fala.

Cenas do treino com o treinador falando com os atletas.

MG: Vai cara, sai do tablado. O problema é quando juntar tudo. Se eu tiver aqui vai

atrás de outro né. Afasta as pernas, tem mais equilíbrio. Se eu sair daqui, senta.

Sacanagem.

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Imagem da entrevista no centro de treinamento, trocando para cenas do

treino.

MG: Todos os atletas que estão aqui dentro tem que me obedecer. Se não me

obedecer, porta pra fora.

PB: Marcos Goto. Um metro e cinquenta e quatro de autoridade concentrada.

MG: Cria vergonha na sua cara meu chapa. Fazer uma pirueta.

Cenas da entrevista se intercala com cenas de arquivo das Olimpíadas de

Londres.

MG: Eu sempre conversei muito com a minha mãe sobre isso. Porque assim, por eu

ser baixinho, ser negro, não adianta ficar reclamando da vida. O que que eu tenho

que fazer para mudar isso? Tudo o que eu faço da minha vida eu tento fazer o

melhor possível. E o tentar não é só falar e tentar. É fazer.

Imagens de Arthur treinando nas argolas com Marcos auxiliando e instruindo

o atleta. A cena termina com o atleta fazendo acrobacias nas argolas.

PB: E há 18 anos essa é a receita do sucesso. Ele manda e o Arthur faz. O

atleta é só dois centímetros mais alto que o treinador. Mas vira um gigante voando a

quase três metros do chão. De tanto obedecer não é que Zanetti aprendeu a

mandar.

Arthur brinca com a sua cachorra no pátio da casa, com uma bolinha.

AZ: Não! Pega. Que bonita.

Imagens de Arthur entrando no bondinho no Rio de Janeiro, olhando a vista e

batendo foto. Essa cena se intercala com cenas de treino e de Arthur saindo de seu

carro, entrando na garagem e abraçando a sua mãe.

PB: Antes de conquistar a medalha, Arthur conquistou o respeito de todos. Com

essa mistura de seriedade e simpatia, disciplina e inspiração. Com essa carinha de

bom rapaz. Será que ele nunca fez bagunça na vida? Com a palavra, dona

Roseane.

Cenas da entrevista de Roseane intercalam com uma foto de Arthur quando

criança junto com os seus amigos e uma segunda foto do atleta com a sua mãe em

um quadriciclo, onde Arthur fingia que pilotava.

Roseane Zanetti - mãe de Arthur (RZ): Quando criança ele sempre foi criança. Na

rua, tinha uma época que tinha 40 crianças, daí eles brincavam com bicicleta,

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carrinho rolimã. E eles para fazer emoção, com a rua asfaltada, eles jogavam areia

ou eles colocavam papel. Papel para passar com a bicicleta, para derrapar.

Arthur caminha na rua e passa por Pedro Bassan, ficando só o repórter em

cena. O repórter se aproxima de um muro pintado de roxo em que está desenhado

o símbolo das Olimpíadas e Arthur ilustrado três vezes. Duas vezes em posições

nas argolas, chamadas de “cristo” e de “prancha”. Entre esses dois desenhos, a

pintura de Arthur com uma medalha no peito segurando a bandeira do Brasil. A

cena troca para imagens de arquivos do atleta comemorando o título nas

Olimpíadas de Londres carregando a bandeira do Brasil.

PB: Um pedaço de asfalto cercado por um muro. Foi esse espaço que o menino

Arthur Zanetti transformou em um parque de diversões. Ele cresceu, e com a

ginástica continuou enxergando a vida de uma maneira diferente. E, assim,

transformou uma rua sem saída em um horizonte do tamanho do mundo. Carregar a

bandeira pesa, e o mundo ficou impressionado com a força desse brasileiro. Em

2012, essa força virou ouro. Campeão olímpico.

AZ: Eu sempre gostei de fazer força.

Imagens de arquivo da competição, onde a bandeira brasileira está sendo

hasteada durante o hino brasileiro, após a entrega das medalhas.

PB: Em 2013, mais forma, mais ouro. Campeão mundial.

Cenas da entrevista do centro de treinamento.

MG: Se não tiver força não faz argolas.

Imagem do atleta treinando nas argolas ao ar livre em cima do morro no Rio

de Janeiro (RJ), parando na posição de “cristo”. Logo após, Arthur caminha com a

sua namorada em frente ao muro pintado de roxo com as ilustrações do atleta.

PB: Mais forte que Arthur Zanetti, só o amor. Há cinco anos conheceu Juliana em

uma festa e foi vencido na hora.

A entrevista com os dois ocorre na frente do muro.

AZ: Vamo ali né, mais tranquilo. Dá pra conversar e se entender. Daí eu tava

chegando nela e ela me agarrou. Ela me agarrou!

Juliana Francesco - namorada de Arthur (JF): Ele conta isso para todo mundo!

AZ: Ela me agarrou. Meu Deus do céu, que que tá acontecendo.

O casal caminha e dá vários beijos rápidos. A situação se intercala com

cenas de arquivo de Arthur beijando a sua medalha de ouro das Olimpíadas de

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Londres em 2012, e do treinador e do atleta se abraçando. Foto do atleta criança

segurando um troféu, as imagens são finalizadas com a cena do muro com as

ilustrações do atleta.

PB: Desde então, o campeão do mundo revelou-se o mais beijoqueiro do mundo. O

Juliana, nós temos que te contar uma coisa. Ele adora beijar medalha também. O

mesmo técnico, o mesmo clube. Desde a infância, tudo mudou muito rápido na vida

do menino que nunca mudou.

Cenas de arquivo das Olimpíadas de Pequim em 2008, quando Cielo ganhou

ouro na natação e entrevista da mãe de Arthur Zanetti.

RZ: Que nem o Cielo quando ganhou em Pequim. Nossa, eu fiquei super

emocionada. Cinquenta metros, eu fiquei, que legal um brasileiro ganhou. Aí depois

em Londres foi o meu filho. Agora é o meu. (risadas). Agora é o meu!

Cenas de arquivo de Arthur criança subindo no pódio. Sobe o som do vídeo

com o hino brasileiro e a imagem troca para o pódio de Londres com o hino tocando

ao fundo. A reportagem termina com imagem de Zanetti fazendo acrobacias nas

argolas ao ar livre, a câmera afasta e mostra o aparelho em cima de um dos morros

do Rio de Janeiro.

PB: Parece que foi ontem aquele primeiro título brasileiro. A diferença é que na hora

do hino ele era um menino entre muitos de todo o Brasil. Agora, quando o hino toca,

Zanetti é o Brasil inteiro. Especialmente naquela parte, “conseguimos conquistar

com braço forte”.

b) Perfil Yane Marques - 12 de julho de 2016, 8’41’’

Sandra Annenberg inicia apresentando em pé no estúdio do Jornal Nacional

em frente ao um telão que mostra cenas da atleta comemorando o título em outra

competição.

Sandra Annenberg (SA): No segundo episódio da série de reportagens com os

nossos personagens olímpicos, o repórter Pedro Bassan, conta hoje a história de

uma sertaneja que saiu do interior de Pernambuco.

Cantor está em uma praça ao ar livre, no fundo existe um chafariz. Ele

declama um verso de frente para o gaiteiro que toca ao ritmo das palavras.

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Gaiteiro: Em um lugar cheio de estrelas onde a gente possa vê-las facilmente a

olho nu com astros de canto a canto e bênçãos de mesmo tanto ou é céu ou é

Pajeú.

A música da gaita toca ao fundo quando imagem de um pôr do sol rosado

surge, enquanto uma carroça e um cavalo passam, onde só é possível ver a

silhueta deles devido à sombra. Após, cenas do interior se intercalam com imagens

de lagos, close nos galhos de uma árvore e o nascer do sol. O repórter cavalga no

sertão, ao fundo o céu está rosado. No início, só é possível ver a silhueta do

repórter em cima do cavalo. Ao ponto que ele vai se aproximando da câmera é

possível ver ele nitidamente. Pedro Bassan fica parado no cavalo por alguns

segundo, mas desce e caminha e se posiciona em frente a um cacto. Depois,

imagens de Yane treinando na piscina, esgrimindo, treinando com o revólver,

fazendo hipismo e correndo aparecem se intercalando.

Pedro Bassan (PB): No vale do Pajeú, o sertanejo já viu de tudo. Mas medalha

brotando desse chão é a primeira vez. Essa história é de um esporte que surgiu

bem longe daqui. Diz a lenda, que durante uma guerra na Europa o soldado

recebeu uma missão: entregar uma mensagem cruzando os campos de batalha. O

soldado pegou um cavalo que não conhecia e saiu. Para atravessar as linhas de

frente, teve que combater usando o revólver e uma espada. Mas no meio do

caminho, um problema sério tornou a missão ainda mais difícil. O cavalo se feriu e o

soldado teve que completar o percurso a pé e atravessando lagos e rios. Surgiu

assim, o pentatlo moderno. Cavalgar, correr, nadar, atirar e enfrentar adversários

com a espada. Aqui, no sertão nordestino, surgiu uma brasileira capaz de fazer tudo

isso. Para juntar cinco esportes em um só, Yane Marques carrega a força do sertão.

Yane, o quanto daquela menina sertaneja ainda existe em você?

A atleta está sentada em uma cadeira branca com uma piscina ao fundo.

Partes da entrevista se misturam com imagens do sertão. Nessa hora, uma carroça

aparece, assim como pássaros no céu.

Yane Marques (YM): Muito (risos). Ah, acho que essa origem né, do sertão, ela tá

assim em mim e não tem como eu me desvincular disso. Né, são características e

valores que a gente leva pra vida toda. Uma vez sertaneja eternamente sertaneja.

Uma igreja verde clara com detalhes em branco aparece no vídeo, com o

som do sino tocando ao fundo. Após, uma dançarina de frevo dança sob o sol, e

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crianças brincam no parque da praça da cidade. No gira-gira, com close nos pés

delas e nos rostos, enquanto o brinquedo gira.

PB: Afogados da Ingazeira, Pernambuco. Aqui, o quintal de cada criança é a cidade

inteira.

Cena de uma menina cantando enquanto gira a corda. A câmera faz um

close nos pés de outra menina que está pulando a corda. A câmera afasta e a

menina que está pulando é mostrada por inteiro. Ela usa uma blusa listrada de rosa

e branco e um short rosa, com cabelos loiros. Além disso, duas meninas assistem a

brincadeira ao redor, enquanto um menino está segurando a ponta da outra corda.

Criança: Suco gelado, cabelo arrepiado, qual é a letra do seu namorado? A, B, C,

D.

Imagens da criança loira correndo e sorrindo se intercalam com cenas do

gira-gira e do pula-corda.

PB: As brincadeiras antigas, o esforço e o sorriso andam juntos. E assim, sem

perceber, aos poucos, as meninas vão se tornando atletas. Vão se tornando Yane

Marques.

Entrevista com duas mulheres. Elas estão sentadas em um cômodo da casa,

ao fundo vários vasos de plantas verdes. O nome delas não aparecem no GC.

Sem GC : Ela sempre fez tudo ao mesmo tempo.

Imagens da menina loira correndo e subindo nas árvores se intercalam com

imagem da Dona Tila na sala de casa.

Dona Tila - avó de Yane: Corria demais. Subia nas árvores. Era pior do que um

gato.

Sem GC: Teimosinha.

Sem GC: Teimosinha.

No vídeo aparecem fotos da atleta quando criança, que intercala com as

crianças correndo no parque da cidade. A câmera faz um close no boletim de Yane

e nas notas dela que variava entre 8,7 e 10 nas disciplinas. A atleta aparece

treinando corrida e em seguida uma foto dela, com a equipe de vôlei, quando

criança.

PB: Determinada. Desde pequena quebrando recordes. A escola guarda até o hoje

o boletim da melhor aluna. Em qualquer matéria, a vontade de estudar. E em

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qualquer esporte a vontade de se superar. Aos 11 anos quando a família se mudou

para Recife ela escolheu o vôlei.

A entrevista da professora acontece ao ar livre.

Mônica Andrade - professora de Educação Física (MA): Pelo biotipo dela. Pela

força dela. Com certeza no voleibol ela ia se dar bem.

Yane aparece de short branco e regata preta fazendo embaixadinha e

fazendo pontos na cesta de basquete na parte aberta da casa. E parte da entrevista

em frente à piscina.

PB: E pelo jeito também no futebol, no basquete. Faltou alguma coisa?

YM: Nas minhas férias eu aproveito para viver um pouquinho isso. Eu brinco que no

tênis eu chego na bola mas erro a raquetada.

Foto da atleta criança com uma touca de natação se intercala com cenas do

treino de Yane na piscina.

PB: Aos 15 anos, finalmente Yane sossegou em um lugar só. Na piscina,

chegou a ser campeã brasileira de revezamento. Mas, de repente, no meio do

caminho tinha uma palavra. Pentatlo. Se você nunca tinha ouvido, não se preocupe.

Mãe de Yane é entrevistada em uma sala e ao fundo uma prateleira com

vários troféus.

Goretti Fonseca - mãe de Yane (GF): Ela também não sabia né, o que era

pentatlo. Quando ela recebeu o convite, ela também não sabia.

PB: Treinador explicou.

A imagem do treinador sendo entrevistado se intercala com cenas de Yane

treinando todas as modalidades do pentatlo.

Nuno Trigueiro - treinador (NT): A estratégia era justamente essa. A gente tentar

fazer que uma nadadora conseguisse aprender a cavalgar, aprender a atirar, a

aprender a esgrimir, aprender a correr.

Cenas do treinamento da atleta com close nos tênis de corrida, na bota do

hipismo, na espada da esgrima, nos óculos de natação e no revólver.

PB: Depois do espanto inicial, Yane descobriu que tinha acertado na mosca. Não

parou mais. Até porque no pentatlo, pra pendurar as chuteiras, é preciso pendurar

os tênis, a bota, a espada, os óculos, o revólver, o alvo.

Close na placa de no ar, onde o pai da atleta está dentro de um estúdio de

rádio, fazendo uma gravação.

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Vanderlei - pai de Yane: Em afogados são 18 horas e cinquenta minutos. Nós

queremos, com muita satisfação, registrar a presença a equipe da TV Globo.

O repórter está dentro do estúdio de rádio junto com o pai da atleta. Após,

aparecem imagens do esporte da vaquejada.

PB: E nós queremos com muita satisfação apresentar o locutor. Vanderlei é o pai de

Yane. E o que ele tem a ver com pentatlo? Sem saber, teve muito. Locutor de

vaquejada apresentou para a filha uma das modalidades.

O pai da atleta narra no estúdio de rádio, enquanto aparecem imagens da

vaquejada.

V: A gente, como locutor de vaquejada, eu sempre levava a Yane comigo e também

Mario Vanderlei, meu filho. E a Yane não deixava os amigos vaqueiros sossegados.

E no cavalo, ela queria andar no cavalo e aquela história toda. E hoje ela foi

juntando uma coisa com a outra e nós temos uma das melhores pentatletas do

mundo.

Partes da entrevista de Yane se intercalam com imagens dela cuidando do

cavalo e treinando os saltos. Cenas de Yane treinando o hipismo se mesclam com

imagem da mãe da atleta em frente a uma mesa com várias estátuas de santos. A

câmera faz close no terço.

PB: O destino foi preparando aos poucos a menina sertaneja. Só não preparou o

coração da mãe. Enquanto as mãos de Yane levam o cavalo, dona Goretti leva nas

pontas dos dedos a fé. A senhora já se acostumou ou não?

A entrevista é feita em frente a prateleira com os troféus. A imagem troca

para outra cena de Goretti fazendo o sinal da cruz em frente a mesa com as

estátuas dos santos.

GF: Ainda não. Não. Eu ainda tenho medo da prova de equitação. É perigoso, né.

Ela levou uma queda já e foi grande, e eu fiquei muito assustada. Ainda hoje eu

tenho medo. Eu não vejo a prova dela.

A entrevista de Yane é realizada na frente da piscina.

YM: Quando eu termino a equitação, onde eu tiver eu tenho que ir atrás de um

telefone ou de alguma coisa e dizer: - Mainha, tudo bem!

Um desenho gráfico nas cores branca e cinza em movimento aparece no

vídeo, realizando as poses e movimentos das cinco modalidades do pentatlo. Após,

cenas de arquivo de outra olimpíada que a atleta participou.

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PB: Pentatlo. Com Yane Marques, o Brasil aprendeu a pronunciar o nome de cinco

esportes de uma vez só. E num dia só. Às dez da manhã, natação. Meio dia,

esgrima. Três da tarde, hipismo. Às seis o apogeu. O evento combinado. A atleta sai

da calma absoluta do tiro pra agitação da corrida. Pentatlo é a arte de se

transformar.

A entrevista da atleta se intercala com cenas de arquivo de outras

competições de Yane.

YM: Largar aquela pistola, agora eu não estou mais tranquila. Agora sou tipo uma

leoa, vou correr.

Cenas de arquivo do pódio do Pentatlo das Olimpíadas de Londres.

PB: Ás seis e quarenta, premiação. Em Londres ela estava lá, pegando o bronze.

Surpreendendo o mundo. Surpreendendo quase todo mundo.

A entrevista da mãe da atleta é intercalada com imagens de Yane treinando a

corrida.

GF: A gente que acompanha de perto a gente sabe o que é que o atleta está

fazendo e toda a preparação, eu sabia que era possível. Eu sabia que era possível.

Cena do cantor ao ar livre na praça, declamando alguns versos sobre Yane.

Após, imagem da atleta treinando todas as modalidades do esporte e uma pintura

de Yane em um muro com uma medalha de ouro, usando o uniforme da seleção

brasileira. Em baixo, está escrito ouro sertanejo.

Gaiteiro: Ser campeã no pentatlo exige superação, mas entende muito disso quem

bem conhece o sertão. Correr, nadar, atirar, usar cavalo e espada, pra uma

autêntica sertaneja isso tudo não é nada. Pois sertaneja é assim, faz de tudo e nada

erra e ainda não abre mão de exaltar a sua terra. Yane para onde vai, leva

Afogados com ela. Quem da terra se orgulha, também vira orgulho dela. Em

Afogados da Ingazeira, onde o sol mais forte brilha, brilha o brilho de Yane, a sua

mais brilhante filha.

c) Perfil Sarah Menezes - 18 de julho de 2016, 8’06’’

A âncora inicia apresentando em pé no estúdio do Jornal Nacional, com um

telão ao fundo, onde aparece uma foto da atleta.

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Renata Vasconcellos (RV): Quatrocentos e sessenta e dois atletas vão representar

o Brasil nas Olimpíadas do Rio. É um recorde para o nosso país. E no meio de tanta

gente talentosa, uma judoca do Piauí vai tentar o bicampeonato olímpico.

A narração do repórter começa com uma imagem do nascer do sol.

Pedro Bassan (PB): Bem vindos a cidade do céu de cor de caju. Agora vamos

ouvir uma moradora local.

A atleta é entrevistada em uma sala. Ao fundo uma cortina branca e um vaso

de flor.

Sarah Menezes (SM): Osoto-gari. Tem o seoi nage. Tem o sukui nage. Tem a

chuaze que é a parte de perna. Deashi harai e yoko-otoshi.

O repórter utiliza de imagens do nascer do sol e de uma ponte para ilustrar a

sua fala. Em seguida, o jornalista aparece no vídeo, em pé, em frente a uma pilha

de garrafas com um líquido amarelo, a Cajuína. A cena troca com um close em uma

mão que lava o caju na água, assim como a produção da bebida do Piauí. A cena

troca novamente, sendo assim, o treinador aparece entrando em uma quadra de

uma escola.

PB: Não é difícil de entender. Essa é a história de uma menina que construiu uma

ponte entre o Japão e o Piauí. De Tóquio a Teresina. Aqui, o judô encontrou a

primeira mulher brasileira a conquistar o ouro nos tatames. Nenhuma surpresa. O

brilho da medalha de Sarah Menezes combina muito bem com o antigo tesouro do

Piauí. Cajuína. O conhecimento que vai passando de pai para filha em várias

gerações, faz nascer esse ouro engarrafado. Com o judô também é assim. Mas

faltava a matéria prima para produzir o ouro. Faltavam judocas no Piauí. O professor

Miguel resolveu encarar esse desafio. De porta em porta.

A entrevista do treinador é realizada na quadra da escola. No vídeo aparece

o treinador e o repórter. Cenas de Miguel arrumando colchonetes azuis no chão da

quadra se intercalam com a entrevista.

Miguel Mendes - primeiro professor de Sarah (MM): Fiz divulgação nas salas de

aula, tudo. E aí com divulgação para os pais dai a gente começou. Em torno de 15,

16 alunos que faziam aula de judô aqui.

A entrevista é realizada no mesmo lugar, na sala.

SM: Quando eu vi a demonstração que tinha que derrubar o outro aí eu achei legal.

Aquilo me chamou atenção. Aí eu acabei entrando através dessa brincadeira.

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O vídeo troca e retorna para a quadra da escola. Para fazer a pergunta o

repórter gesticula com as mãos, para se referir ao lugar.

PB: Você montava onde mais ou menos?

MM: Aqui! Ali na frente.

PB: Perto do gol.

MM: Perto do gol. Passa a boa vontade né.

A imagem de uma igreja sob o sol. A câmera realiza um close no sol. A atleta

aparece no vídeo, treinando com as cordas e no tatame. Na última imagem, é com

foco no movimento que Sarah faz para apertar a faixa preta do kimono, onde está

escrito Menezes em dourado.

PB: E a vontade de Sarah era bem maior que a quadra da escola. Um mês depois

ela foi levada ao inspetor Expedito Falcão. Ele quase não acreditou no que viu. E

ensinou Sarah a acreditar.

A entrevista do treinador, que veste um kimono branco, é realizada no local

de treinamento, com um tatame ao fundo. Para ilustrar a fala de Expedito, aparece

cenas de arquivo de Sarah treinando.

Expedito Falcão - treinador de Sarah (EF): Era um dom natural. Só que era uma

coisa bruta. Uma coisa sem técnica. Eu simplesmente fui começando a moldar

aquilo ali. A lapidar aquele diamante bruto que estava chegando nas minhas mãos.

Cenas de Sarah treinando com os colegas no tatame.

PB: Desde então, Sarah viu o tempo passar nesse mesmo tatame. Aos nove anos,

começou a aprender todos os verbos do judô. Treinar, lutar, suar. Derrubar. Só não

conjugava o verbo perder.

Imagens do treino de Sarah se intercalam com a imagem da entrevista da

atleta.

SM: Fui conhecer essa palavra quando entrei na seleção brasileira. Com 15 anos.

Então passei seis anos da minha vida sem saber o que era derrota.

Cenas de arquivo de outras competições são intercaladas com a vista da

cidade.

PB: Com as vitórias de Sarah Menezes o Piauí entrou no mapa do judô mundial.

Imagens de arquivo de outras competições em que Sarah participou.

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SM: Eu sempre fui um pouco marrenta. Eu nunca tive medo. Eles que tinham medo

da Piauiense, quando via lá nas costas que a gente fica compete, quando tinha pi,

tinham receio e não eu.

Cena da entrevista do treinador se mescla com uma imagem de Sarah

realizando um movimento em outro judoca, derrubando ele. A cena se passa em

câmera lenta.

EF: Ela era tipo, a seleção brasileira. Do Piauí. Estado sem retrospectiva de atleta

de alto rendimento. É uma coisa que eu mais me orgulho. Por que a Sarah é uma

atleta made in Piauí. Ela nasceu e treinou a vida inteira dentro do Piauí.

Cenas de arquivo da derrota da atleta nas Olimpíadas de Pequim em 2008.

PB: Sarah aprendeu o verbo perder em português e em chinês. Na Olimpíada de

Pequim.

EF: Com 18 anos. Muito jovem. Então, ela não aguentou a pressão.

PB: Talvez por isso, quatro anos depois, quase ninguém acreditava.

Cenas de arquivo do início de uma luta de Sarah nas Olimpíadas de Londres

em 2012.

Locutor: Pra cima dela Sarah! Pra cima dela Sarah.

O pai e a mãe de Sarah são entrevistados em uma sala, ao fundo está uma

cortina branca e um vaso de flores. A cena troca para uma foto de arquivo, do

momento do embarque da atleta, com os familiares segurando placas com as letras

formando boa sorte.

Dina Menezes - mãe de Sarah (DM): Quando a Sarah foi viajar para as olimpíadas

de 2012, na hora do embarque, um rapaz fez uma surpresa. Na hora do embarque,

vamo tirar aqui uma foto. Aí ele tirou do bolso a palavra boa sorte. E nós só éramos

em sete, então teve que o João segurar duas letras para formar a frase.

Cenas de arquivo da chegada de Sarah no Brasil após as Olimpíadas de

Londres, no aeroporto com uma multidão de pessoas, repórteres, pessoas nas ruas

comemorando e a atleta em cima de uma caminhão de bombeiro segurando a sua

medalha.

PB: Quando Sarah voltou de Londres, no aeroporto também eram sete. E mais

sete, mais sete. Mais sete, mais sete, mais sete.

SM: Eu tomei um susto. O Piauí realmente todo parou. O aeroporto lotado. Eu até

fiquei com medo de sair de dentro do aeroporto, porque a multidão era incrível.

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Cenas da entrevista se intercalam com imagens de arquivo das lutas de

Sarah nas Olimpíadas de Londres em 2012.

EF: Quando ela ganhou a primeira luta, poucas pessoas assistiram. Na segunda

luta o Piauí começou a parar. Na terceira luta dela o Piauí parou. Na quarta o Brasil

parou.

Cenas de arquivo da comemoração de Sarah do ouro olímpico de Londres se

intercalam com a atleta caminhando num terraço fechado em um prédio e olhando a

vista da cidade.

PB: Na quinta luta a medalha de ouro. Vinte e dois anos, melhor do mundo.

Locutor: Uma vitória incontestável de Sarah Menezes!

PB: Foi então que Sarah começou ouvir várias vezes a mesma frase, mais difícil

que chegar ao topo é se manter lá. Porque será que repetiam tanto isso? Por que é

verdade.

SM: Foi de ladeira a baixo. O meu ano de 2014 e 2015 não foi positivo.

Imagens de treino da atleta com outro judoca.

PB: No judô quem derruba hoje cai hoje mesmo.

Cenas da entrevista se intercalam com Sarah, com seu uniforme,

autografando umas camisetas de crianças que assistiam ao treino.

EF: A garota começou a ser conhecida, querendo ou não começou a ter recurso.

Ela poder comprar o que ela quer. Ela poder ir aonde ela quiser. Em 2014 eu

acredito que veio essa…

As derrotas de Sarah são ilustradas com cenas de arquivo de outras

competições.

PB: Os resultados foram tão ruins que ela correu o risco de nem participar das

olimpíadas do Rio.

Locutor: Eliminada na segunda rodada a campeã olímpica, Sarah Menezes.

Cenas dos treinos de Sarah com outros atletas e imagens das vitórias de

outras competições.

PB: De repente, Sarah voltou. Receita para recuperar o tempo perdido: treino e

muito treino. E depois do treino, mais treino. Parece um filme de super herói. Mas a

super Sarah em ação, ela voltou a ficar entre as três melhores do mundo. Só vai

parar no dia seis de agosto. Primeiro dia de medalhas dos jogos.

EF: Quem quiser tirar a medalha dela vai ter que fazer mais do que ela fez.

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SM: Todos nós temos capacidade né. Você pode ser de qualquer lugar, não ter

receio de falar da onde você é, de acreditar mesmo e fazer por onde as coisas

acontecerem.

Imagem de arquivo da vitória de Sarah nas Olimpíadas de Londres em 2012,

deitada no tatame olhando para cima, gritando e comemorando, se mesclam com

paisagens da cidade natal da atleta.

PB: A menina que botou o Piauí no mapa do judô vai mostrar aos estrangeiros as

belezas do Brasil. Começando pelo o nosso chão. Não que ela não goste da nossa

terra, mas Sarah Menezes prefere olhar para o céu.

d) Perfil Fabiana Claudino - 19 de julho 2016, 9’07’’

O âncora introduz a matéria em pé no estúdio do Jornal Nacional. Ao fundo,

um telão com uma foto da atleta com o uniforme do Brasil, segurando a bola de

vôlei.

William Bonner (WB): Hoje você vai conhecer uma brasileira de um metro e

noventa e três de altura que saiu do interior de Minas Gerais para se tornar uma

referência na seleção de vôlei. No Rio de Janeiro ela vai buscar o tricampeonato

olímpico.

Para iniciar a reportagem, o repórter utilizou de cenas do altar de uma igreja,

com muitas cores douradas. Como também imagens rápidas de arquivo da atleta

em outras competições, a entrada da igreja e partes da cidade, com o sino tocando

ao fundo e, por último, a atleta.

Pedro Bassan (PB): Vamos falar de ouro. Muito ouro. Vamos falar de uma

brasileira brilhante. A cidade inteira ouviu quando foi batizada Fabiana. Em Minas

Gerais, a riqueza do passado ainda está diante dos olhos, nos casarões e nos

altares. Em Santa Luzia, Fabiana aprendeu que o ouro vale menos que o carinho da

família.

A entrevista da atleta se intercala com fotos dela criança, junto com os pais.

Fabiana Claudino (FB): Nos momentos em que eu mais preciso eles estão comigo

e nos momentos mais feliz eles estão comigo. Então, acho que também ter essa

ajuda e esse suporte, pra mim não tem coisa melhor. Eu sai daqui uma meninona,

uma criançona.

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A atleta e a mãe caminham em direção ao ponto de ônibus. Nesse momento,

o repórter entra em cena, enquanto as duas entram no veículo. As imagens passam

a ser dentro do ônibus em movimento.

PB: Partiu ao lado da mãe. Por essas ruas que não mudaram nada desde o século

XVIII. Trezentos anos depois, a moradora de Santa Luzia reencontrou o caminho do

ouro. E ele começa em uma viagem de ônibus. Que sai daqui de Minas Gerais e

passa por vários continentes e termina no alto do pódio olímpico. Para Fabiana,

andar de ônibus é bem mais do que ir daqui até ali. Ela só existe porque 38 anos

atrás, a passageira Maria do Carmo encontrou o motorista Vital.

A entrevista dos dois é realizada separadamente, mas no mesmo ambiente.

Ao fundo, uma janela com grades brancas, parede de tijolos e alguns vasos de

plantas.

Vital Claudino - pai de Fabiana (VC): É uma coisa que tava mesmo para ser

escrito né.

Maria do Carmo Claudino - mãe de Fabiana (MCC): A gente espera o cupido em

um cavalo branco. Mas de repente vem de ônibus.

Imagem da mãe da atleta, na cozinha, tentando abrir a porta de um armário.

Fabiana aparece para ajudar a mãe que não alcança os objetos.

PB: Nasceu assim uma família alta. Com quase um metro e oitenta, Maria do

Carmo é a baixinha da casa.

MCC: Aí me chamam de tampinha.

Fabiana e seu irmão estão no pátio da casa pegando frutas de uma árvore,

sem nenhum esforço. Logo em seguida, a avó da atleta aparece em cena. A avó de

Fabiana tem a metade da altura da atleta.

PB: Os filhos, Fabiana e Bruno, pegam fruta do pé sem escada. A atleta de um

metro e noventa e três também herdou a grandeza da avó. Aos oitenta anos, dona

Rita é gigante no pensamento.

A avó da atleta aparece no vídeo. Ao fundo uma parede rosa, com uma

janela branca e vasos de plantas.

Rita Zacaris da Silva - avó de Fabiana (RZS): Não gosto de ficar diminuindo não.

Eu gosto de sonhar alto.

No vídeo, aparece uma foto de Fabiana aos 13 anos, em pé. O que se

percebe é a altura da atleta naquela idade. As cenas se intercalam entre imagens

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de treinamento da atleta na Seleção Brasileira, cenas de arquivo de outras

competições, a entrevista, e ela em uma quadra de vôlei, com pouca luz, praticando

os movimentos básicos do vôlei: manchete, cortada e toque.

PB: Aos 13 anos, Fabiana percebeu que altura era destino. Já tinha um metro e

oitenta e cinco. Era perfeita para o vôlei. Esporte que desde criança, ela detestava.

FC: No início eu não queria fazer de jeito nenhum. Eu falava, ai mãe não quero ir.

Eu chorava.

PB: A menina alta só não desistiu por insistência da mãe. E persistência da primeira

professora. Yara Ribas. Um nome para guardar.

FC: Eu não sabia nada. Eu não sabia movimentos. Eu não tinha noção de nada. E

ela sempre me pegava no cantinho, me ensinava toque, manchete. Ela eu posso

dizer que foi uma professora e construiu uma jogadora.

PB: Horas e horas de bola na parede e solidão. Manchete. Cortada. Toque. O

beabá do vôlei. A recompensa de todo esse esforço pode ser uma única bola. Um

único ponto de Fabiana calou os críticos que ela teve de aguentar durante anos e

anos.

A entrevista da atleta se intercala com cenas de arquivos das Olimpíadas de

Atenas em 2004, o jogo contra Rússia, junto com a entrevista da mãe.

FC: Foi um time que sempre fomos taxadas de amarelona. A gente batia na trave e

não chegava em lugar nenhum.

PB: Na Olimpíada de Atenas, em 2004, a seleção brasileira teve seis chances de

fechar o jogo contra a Rússia. Desperdiçou todas e acabou fora da decisão.

MCC: Ah, não chega a final, por que vocês amarelam. Então isso foi a pior parte.

Cenas de arquivo dos jogos das Olimpíadas de Pequim em 2008 e Londres

em 2012. As imagens se intercalam com a fala da atleta.

PB: Em 2008, um inédito ouro em Pequim, essa história parecia ter ficado para trás.

Mas nos jogos de Londres vieram derrotas inexplicáveis. Quase ninguém acreditava

na medalha. Veio então o jogo contra a Rússia, a grande favorita.

Locutor: A postura do time brasileiro, se terá equilíbrio psicológico para jogar este

grande jogo.

FC: Tem hora que até eu paro pra pensar: gente como que eu saí daquele

momento? Ontem eu tava chorando, uma noite sem dormir e no outro dia eu tinha

que estar jogando 100% e com sorriso na cara.

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A câmera, do lado de fora da casa, filma a avó e Fabiana dentro da cozinha,

uma do lado da outra. A imagem troca, para a entrevista de Rita.

PB: A avó tem uma explicação bem simples.

RZS: Índio não tem medo de nada não. Ela carrega essa tradição.

Cenas de arquivo do jogo contra a Rússia nas Olimpíadas de Londres em

2012, o ponto final do jogo foi de Fabiana. A cena troca para a entrevista do técnico

da seleção brasileira.

PB: Assim como o Brasil em 2004, dessa vez foi a Rússia que teve seis chances de

fechar o jogo com o último ponto. E não conseguiu. Brasil teve uma só, nas mãos de

uma filha de negros, neta de índios, a Rússia conheceu Fabiana do Brasil.

José Roberto Guimarães - técnico da Seleção Brasileira (JRG): E hoje ela

passa, para essas jogadoras, principalmente as mais novas, tudo o que significa

vestir a camisa da seleção brasileira e representar o nosso país.

Locutor: Que momento mágico!

Cenas de arquivo da atleta jogando pelo Sesi em Belo Horizonte. A imagem

troca para a entrevista de Fabiana, em um vestiário, vestindo a camiseta do time do

Sesi, vermelha, e ao fundo uma prateleira com troféus. As imagens se intercalam

com as entrevistas do pai e da mãe de Fabiana.

PB: Essa história poderia terminar nas lágrimas de felicidade no ginásio de Londres.

Fabiana nunca poderia imaginar que um choro bem mais amargo estaria por vir. No

dia 27 de janeiro de 2015, a bicampeã olímpica foi jogar em Belo Horizonte, como

visitante pelo time do Sesi. No mesmo lugar onde aprendeu a jogar e amar o vôlei,

ela demorou a acreditar no que estava ouvindo.

FC: Olha a macaca! Joga a banana pra macaca.

PB: A família estava na arquibancada e também ouviu.

VC: Ah, machucou muito.

MCC: Pobre de espírito, resumindo.

FC: É uma coisa que fica na cabeça da gente. É difícil você vir e passar por isso.

Acho que quem passa por isso um dia vai entender.

VC: Não sabe que vai machucar a mãe, o pai. E pedi pra Deus e graças a Deus,

passou. Mas, no momento, machucou muito.

Cenas das olimpíadas onde Fabiana é abraçada por vários colegas de

equipe individualmente. A imagem troca para a entrevista do técnico da seleção.

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PB: A agressão atingiu a jogadora mais querida da seleção.

JRG: Fabiana, ela foi escolhida pela equipe como capitã. Ela foi escolhida por

unanimidade.

Cenas de arquivo do time de vôlei no pódio no mundial e nas olimpíadas de

Londres 2012, mordendo a medalha de ouro. A imagem troca para o início do

revezamento da tocha olímpica no Brasil, onde Fabiana foi a primeira atleta a

carregá-la. A imagem troca para Fabiana e sua mãe indo em direção ao lugar onde

treinou pela primeira vez, Centro Cultural Minas Clube.

PB: Quem melhor que a líder do time com duas medalhas de ouro a ser a primeira

atleta no Brasil a receber a tocha olímpica no país. Antes de ir uma quarta vez a

uma olimpíada, Fabiana faz questão de mostrar o lugar onde tudo começou. Ela

quer falar sobre Yara Ribas, lembram? A primeira professora. A que ensinou tudo.

A entrevista é feita dentro da quadra de vôlei. A atleta está de frente para o

repórter, que fica de costa para a câmera. Ao fundo, Yara Ribas vem em direção a

atleta para fazer uma surpresa para ela, as duas se abraçam por alguns segundos.

Os três aparecem no vídeo.

FC: O papel dela era quase como segunda mãe. Por que ela que teve paciência, ela

quem me ensinou todos os movimentos. Ela fez eu confiar e acreditar cada vez

mais… ah você tá aqui!

PB: Você se sente como uma segunda mãe dela?

Yara Ribas - primeira treinadora (YR): Nossa, muito emocionada. De ver essa...

PB: Chegar aonde ela chegou e ter esse reencontro

YR: Essa menina chegou aqui muito pequenininha, né.

FC: Acho que eu não tenho nem palavras para agradecer acho que todo o amor,

carinho e toda a dedicação que ela sempre teve comigo. Toda paciência de me

ensinar tudo e praticamente foi ela que me ensinou tudo. Eu não sabia nada. Eu

cheguei aqui sem saber andar. Até andar, ela me ensinou.

Cenas da seleção treinando, com foco em Fabiana, se mesclam com

paisagens da cidade natal da atleta e das igrejas, com o sino tocando ao fundo. Ao

fim, cenas de arquivo da comemoração do ouro em Londres. A atleta levanta a

bandeira brasileira em frente a câmera.

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PB: Os jogos vão começar. Em Santa Luzia, todo mundo aprendeu a esperar o

futuro com paciência e fé. Os sinos estão sempre prontos para soar o toque de

festa. Afinal, já faz tempo que o povo daqui conhece o caminho do ouro.

Locutor: Aí estão as jogadoras de ouro mais inacreditável da história olímpica.

f) Perfil Isaquias Queiróz - 25 julho de 2016, 9’33’’

A apresentadora inicia apresentando em pé no estúdio do Jornal Nacional.

Ao fundo, um telão com um vídeo que se transforma em foto.

Ana Paula Araújo (AP): O repórter Pedro Bassan vai apresentar hoje a história de

um brasileiro que saiu do interior da Bahia para se tornar o melhor atleta do mundo

na canoagem.

O repórter utiliza uma cena de um rio, depois de alguns segundos aparecem

canoeiros remando em suas canoas. Logo em seguida, imagens da cidade à noite,

com as luzes nos prédios, e os canoeiros durante o dia fazendo a travessia dos

moradores de Ubaitaba. O repórter entra em cena, sentado na ponta da canoa, no

meio do rio. Enquanto ele fala, o canoísta Isaquias Queiróz aparece remando a sua

canoa com velocidade. As imagens se intercalam com cenas dos canoeiros e os

canoístas no rio, com foco no atleta e a mãe de Isaquias sentada em um sofá com o

seu filho atrás.

Pedro Bassan (PB): Mesmo com tanta água, o Brasil nunca foi uma potência na

canoagem. Até que no interior da Bahia, uma cidade decidiu remar contra a corrente

e mudar história. Quantos sóis tem a Bahia? Tem um que vale por muitos. Por isso,

essa terra é tão bonita quando ele está pra nascer. O canoeiro espera o sol com

uma pergunta: em qual das margens vai surgir o primeiro passageiro? Logo o

trânsito já é intenso na principal Avenida de Ubaitaba, avenida líquida e silenciosa.

É o Rio de Contas, espalhando beleza pelo sul da Bahia, pelo caminho tranquilo até

o mar. Pra quem nasce aqui, remar é quase um destino. Em Tupi-guarani, Ubaitaba

quer dizer cidade das canoas. E as canoas já estavam aqui bem antes da cidade.

Há séculos elas levavam os índios a rios abaixo e rios acima. Durante décadas,

transportaram o cacau, que é a grande riqueza da região. E há alguns anos, as

canoas descobriram uma outra riqueza. Agora, elas passam pelo rio, levando ouro,

prata e bronze. Os canoeiros passaram a dividir o espaço com os canoístas. E um

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desses remadores velozes descobriu que o Rio de Contas era uma estrada pra

ganhar o mundo. Ele é o filho prodígio da cidade das canoas. Vamos conhecer uma

mulher que teve seis filhos, adotou mais quatro e se pudesse cuidava do mundo

inteiro.

A mãe do atleta é entrevistada na sala da casa, ela está sentada no sofá e ao

fundo uma cortina verde. A imagem se intercala com a cena de Isaquias abraçando

a mãe, e ela mostrando os presentes que ganhou do filho, como um fogão e artigos

de decoração da sala.

Dilma Francisca Queiroz - mão de Isaquias (DFQ): Eu vejo tanto jovem assim, se

eu pudesse, mas não posso abraçar todos.

PB: A mãe que abraçou todos, hoje ganha o abraço musculoso do filho mais forte.

Musculoso e generoso. Os presentes de Isaquias são outra forma de carinho. E aqui

da casa, o que que ele já ajudou a senhora? O que que tem aqui, o que ele, o que

que foi?

DFQ: Tudo! Não tinha nada não.

As imagens nesse momento são da fachada da casa onde o atleta cresceu,

da rua, e uma imagem aérea das casas ao lado do rio.

PB: Isaquias não mora mais aqui, e mesmo quando morava em Ubaitaba, já tinha

duas casas: a casa de tijolo e a casa de água.

O atleta é entrevistado perto do rio, que aparece ao fundo. A entrevista se

intercala com cenas de Isaquias treinando.

Isaquias Queiroz (IQ): Eu acho que a canoagem me pegou, né, invés de eu ter

pego ela. E acabou dando certo a parceria, né. Então eu acho que foi, foi um

esporte assim que eu me adaptei fácil, até pela parte de eu estar sempre na água,

mas eu acabei gostando muito dessa parte. Ficar onde eu gosto, de ficar no meu

habitat natural ali, né.

Cenas do rio em Ubaitaba se intercalam com uma foto de Isaquias criança,

com mais duas pessoas em frente ao rio.

PB: Ubaitaba fica numa esquina do mapa. Entre a estrada e o rio. Depois de

aprender a remar, o próximo passo era pegar o asfalto. Isaquias tinha 13 anos e

nenhum dinheiro quando foi chamado para disputar o Campeonato Brasileiro de

Canoagem.

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José é entrevistado com o rio ao fundo, onde canoístas treinam no momento.

Logo após, uma foto de arquivo do atleta com a equipe e com as medalhas no peito.

A imagem se intercala com cena de Isaquias na canoa no Rio de Contas e troca

para o litoral paulista.

José Carlos Lona Almeida - pioneiro da canoagem em Ubaitaba (JCLA): Eu

tava na escola, faltava duas horas para o ônibus sair para Cascavel. Eu fui lá,

Isaquias você vai, vou pagar a sua passagem, passei o cartão e você vai para

Curitiba, e trouxe na bagagem quatro medalhas de ouro.

PB: No ano seguinte, seleção brasileira. Em vez de um até logo, o Rio de Contas

tinha que ouvir um adeus. Destino, São Vicente, no litoral paulista. Um lugar onde

Isaquias encontrou uma nova família.

A entrevista do atleta se intercala com cena dele com os companheiros de

equipe, arrumando a canoa, treinando e conversando entre eles.

IQ: Aqui a gente não se chama de companheiro. Aqui a gente se chama de irmão.

Aí já depois de uma vida juntos né.

PB: Elon, Ronilson e Nivalter. Oito anos depois, os irmãos da seleção continuam

juntos. Treinando em Lagoa Santa, em Minas Gerais. Isaquias é o caçula dessa

família. Nivalter, o irmão mais velho. O que nunca deixou nada faltar.

IQ: Acabava comprando sabonete, escova de dente, essas coisas. Às vezes até

roupa já me deu, escolhe uma roupa aí que eu vou te dar. Aí acabava me dando

coisa assim né, de coração, até porque ele sabia que da parte minha eu não podia

ter nada.

Cenas da equipe treinando no rio se intercalam com a entrevista de Nivalter.

PB: Hoje os presentes de Nivalter são os conselhos, embrulhados na sabedoria que

o tempo traz.

Nivalter Santos - canoísta da seleção brasileira (NS): Por eu ser um atleta mais

velho, mais experiente, às vezes eu dou um puxão de orelha nele, às vezes ele

aceita, às vezes não. No fundo, no fundo, ele acaba aceitando, as nossas brigas

não passam de um dia sem falar, depois já tá tudo tranquilo já.

As imagens se intercalam entre a entrevista e cenas da equipe se

preparando para o treino.

PB: E de repente a canoagem brasileira fez barulho. Em cinco meses, a vida de

Isaquias mudou. O melhor do Brasil, virou o melhor do mundo.

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IQ: Foi um milagre!

PB: Impossível imaginar um nome mais apropriado que o autor desse milagre.

Jesus. Jesus Morlan. O treinador espanhol que já conquistou cinco medalhas

olímpicas. Veio ao Brasil para ganhar mais medalhas. E não para fazer mais

amigos.

O técnico é entrevistado perto do rio. A entrevista se intercala com cenas da

equipe treinando e da entrevista de Isaquias.

Jesus Morlan - técnico da seleção brasileira (JM): Eu lembro que no primeiro dia

eles chegaram pra mim e falaram “ah, a gente acha que…”. Mas eu não perguntei o

que vocês acham. Quando eu quiser saber a sua resposta, eu vou fazer uma

pergunta.

PB: No começo, o pessoal estranhou. E continuam estranhando até hoje.

IQ: Ele era muito exigente. Um jeito de treinamento muito diferente do que a gente

tava acostumado, né.

JM: Vão fazer isso! Por quê? Porque sim, falo eu. Pronto!

IQ: Quando ele chegou, tinha que obedecer a ordem dele, né. Que ele é o cara, né.

JM: Ele sabe que eu quero o bem dele, mas ele sabe que eu não sou amigo dele.

PB: Se ele não é amigo nem dos atletas, imagina dos adversários. Ainda bem que

agora Jesus Morlan é do Brasil.

JM: Então passamos de ser aqueles brasileiros engraçados…”ah, olha, que

engraçado o Brasil”... você deixa de ser engraçado porque você passa a ser o

favorito na raia, você passa a pegar medalhas.

Cenas de arquivo de outras competições de Isaquias e das comemorações,

se intercalam com a entrevista do atleta.

PB: E foram muitas. Seis nos últimos campeonatos mundiais. Três de ouro e três de

bronze. Isaquias só não ganhou mais um ouro em 2014 porque se desequilibrou a

um metro do fim. Ele é o único do mundo capaz de ganhar medalhas nos duzentos,

quinhentos e nos mil metros. O fenômeno Isaquias Queiroz junta explosão e

resistência.

IQ: Um dia era, queria ser mil, eu fui ser mil, ser um duzentos, ser duzentos. E o ano

passado, acabei quebrando esse tabu, né.

Cenas do treino se intercala com a câmera fazendo um close no cabelo do

atleta, e imagem do Rio de Contas.

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PB: Na canoa e na vida, a regra é surpreender, fugir do comum. O penteado de

hoje, pode ser outro amanhã. Esse estilo imprevisível é temperado com uma

certeza: Isaquias sempre volta para o mesmo lugar.

Cenas da cidade de Ubaitaba, do atleta na rua da cidade, onde a câmera faz

um foco nas caixas de som que ficam nos postes de luz.

Locutor: Alô, Isaquias meu irmão. Tudo bem? Como é que tá você, rapaz?

Imagens de Isaquias na cidade, batendo fotos e sendo abraçado por

moradores de Ubaitava.

PB: Alô, alô, Ubaitaba, a cidade inteira gosta de ter certeza que ele chegou. Por que

uma vez ele disse que ia chegar e não chegava. Não chegava…

A entrevista da mãe do atleta se intercala com fotos de arquivo de Isaquias e

do carro acidentado, onde o atleta estava quando sofreu um acidente, imagens de

Isaquias carregando a sua canoa na cidade, e de crianças na beira do rio olhando o

atleta treinando no Rio de Contas.

DFQ: Tava orando a madrugada já. Não senhor, já tá passando do horário do meu

filho chegar. Não deixe chegar notícia ruim. Quero notícia boa.

PB: A notícia boa veio, depois de um susto. A menos de um ano da olimpíada, uma

das maiores promessas do Brasil saiu desse carro sem nenhum arranhão.

DF: O carro não prestou não. O carro já se foi. Agora a vida deles tão aí. Sempre

quando ele volta, a cidade para. A bola não rola. Aqui o estádio é de água corrente.

A arquibancada é a margem do rio. O ídolo não usa chuteira. Descalço, ele dá

exemplo de equilíbrio e direção. E ensina que canoa é outro nome para liberdade.

A entrevista da professora é feita na beira do rio, se intercala com cenas das

crianças treinando no rio e carregando as suas canoas e, por último, uma imagem

aérea do rio com os canoístas.

Camila Lima - professora de canoagem em Ubaitaba (CL): Só de ver o sorriso

dele, ele chegar assim pra mim “tia, eu quero ser igual o Isaquias”.

PB: O futuro chega flutuando sobre o Rio de Contas pra quem é criança em

Ubaitaba. E daqui a alguns dias, quando Isaquias for pra água, o Brasil inteiro vai se

transformar numa única, imensa, cidade das canoas.

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e) Perfil Serginho - 26 de julho de 2016, 9’03’’

A apresentadora introduz a reportagem em pé no estúdio do Jornal Nacional.

Ao fundo, um telão com a foto de Serginho.

Renata Vasconcellos (RV): Hoje a nossa série especial vai apresentar a trajetória

de um brasileiro que se reinventou para se tornar o melhor do mundo.

A reportagem inicia com a cena de Serginho, que não aparece

completamente no vídeo, usando as três medalhas olímpicas, uma de ouro e duas

de prata. As imagens se intercalam com a fachada da casa onde cresceu, o número

da casa é 10, e a ladeira onde ela fica.

Pedro Bassan (PB): O barulho vem dessa casa e o endereço confirma. Chegamos

aonde mora o camisa 10 da seleção. O menino cresceu no meio de uma ladeira.

Pra baixo, o abismo.

A mãe do atleta é entrevistada apoiada em uma janela da casa, ela está

dentro e a câmera está do lado de fora.

Didi Dutra Santos - mãe de Serginho (DDS): Lá na nossa vila tinha dia que todo

fim de semana, era um, dois morto em cada esquina. Morreu muitos amigos dele.

A cena da entrevista é da primeira professora. É rápida e logo troca para uma

imagem de Serginho no pódio de Atenas em 2004.

Silvia Souza Lima - primeira professora (SSL): Ele tinha tudo pra dar errado.

DDS: Ele saiu daquele local e hoje conquistou o mundo.

Imagem de um menino subindo a ladeira da rua do Atleta, nesse caso, é

possível ver que a câmera está no chão. Logo em seguida, cenas de arquivo da

comemoração do ouro olímpico em Barcelona, em 1992, e o último ponto do jogo. A

imagem troca para uma foto de Serginho ainda criança.

PB: Um gesto muito distante ajudou o filho da dona Didi a enfrentar a ladeira

inclinada.

Técnico da seleção brasileira: O ouro é nosso! Essa vai para o Brasil!

PB: Quando Marcelo Negrão caminhava pra sacar, no último ponto da Olimpíada de

Barcelona, não imaginava ou nem podia imaginar que naquele momento estava

transformando a vida de um menino em Pirituba, na Zona Leste de São Paulo. O

menino era Serginho.

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Serginho é entrevistado em uma sala. Ele está em uma poltrona e, ao fundo,

uma cortina branca. Logo após, a cena troca para imagens de arquivo do último

jogo da seleção nas Olimpíadas de Barcelona, e o ponto final. As imagens se

intercalam entre a entrevista e a cena de um menino na ladeira brincando com a

bola de vôlei.

Serginho: Eu lembro que eu tava assistindo a final olímpica em casa, o Marcelo

Negrão fez o último ponto e eu sai correndo no meio da rua chorando. Eu queria ser

igual aos caras. Queria ser igual ao Maurício e ao Marcelo Negrão. Eu quero isso aí

para a minha vida.

PB: Mas como, se ali na vizinhança ninguém jogava vôlei?

S: Nenhum menino da favela queria jogar voleibol.

PB: E assim, a primeira quadra do menino de Pirituba foi a ladeira.

S: Eu pegava e jogava a bola lá em cima. A bola descia. Eu ficava brincando assim.

A treinadora aparece em uma quadra de vôlei, auxiliando adolescentes em

um treino. A entrevista dela é feita ao ar livre, ao fundo existem algumas estátuas de

mármore. O outro treinador também foi entrevistado na rua. As imagens se

intercalam com a cena da treinadora ao lado de um menino, de costas para a

câmera, caminhando nas dependências da quadra.

PB: Silvia também achava que o vôlei tinha que buscar talentos na periferia. Mas

nem ela acreditou quando Serginho apareceu para fazer um teste.

SSL: Ele chegou magrelo, aquelas pernas fininhas, shortinho e camisetinha branca

assim. Eu falei meu Deus, será que isso joga, né.

Outro treinador: Ele era um atacante de mediano pra baixo, né.

PB: E os outros problemas eram gigantes, que pareciam condenar Serginho ao

fracasso no vôlei.

SSL: Ele passou necessidade, ele passou fome, ele teve dificuldade, mas ele não

desistiu.

PB: Silvia foi a primeira técnica e a segunda mãe. Com ela, Serginho cresceu no

vôlei e na vida.

SSL: Um líder. Um líder nato, né.

PB: Mas certo dia, nem Silvia pode evitar uma notícia ruim.

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A entrevista de Serginho se intercala com a fala de Chicão, que está em uma

quadra de vôlei, ao fundo a rede. E também cenas de arquivo familiar de Serginho

com o seu filho, e uma foto do atleta com o seu time.

S: O time era da prefeitura, eles decidiram acabar com o time.

Chicão - técnico de vôlei (C): Ele ficou meio desesperado. Ele ligou pra mim, ele

precisava, ele tinha um filho, né cara, era casado.

PB: Ao telefone, o amigo Chicão disse uma palavra que Serginho nunca tinha

ouvido.

S: Pra você vir aqui em São Caetano fazer uma peneira. E eu achando que era de

atacante. Tá bom. Mas não é de atacante não. É pra ser líbero. O que que é isso?

Desenhos gráficos em movimento ilustram as posições que o líbero deve

fazer. Após, cenas de arquivo de Serginho, já na seleção brasileira, defendendo a

bola, na posição de líbero. Às imagens se intercalam com a entrevista do atleta e a

do treinador.

PB: Em 1997 a regra do vôlei mudou. Foi criada uma posição nova. Um jogador

especialista em passar a bola e defender. Proibido de atacar, ele tinha que jogar

longe da rede. A mudança foi perfeita para um jogar de um metro e oitenta e quatro,

um baixinho no mundo do vôlei. Líbero não precisa de altura, precisa de vontade e

coragem. E, isso, Serginho sempre teve de sobra.

C: Eu olhei pra ele, imagina que a bola de voleibol é o leite do seu filho, o pão do

seu filho. Então faz ela subir cara.

S: Se a bola for na estação de trem lá em São Caetano, você corre atrás da bola.

Eu falei, deixa comigo.

Cenas de arquivos de Serginho em outras competições como Campeão

Paulista e Brasileiro. Imagens da competição se intercalam com cenas de arquivo

familiar, a entrevista do atleta, imagens do técnico da Seleção Brasileira de Futebol.

PB: Bola pra cima e troféu pro alto. Campeão paulista, brasileiro. Todo mundo já

imaginava o próximo passo. Menos o menino de Pirituba, que lembra exatamente

da surpresa da primeira convocação.

S: Tocou o celular, era a Érica, uma repórter. “Você viu a convocação?”. Eu disse,

não Érica, eu to indo pro treino agora e eu nem sei quem o Parreira convocou. Falei

pra ela, nem sei. “Que Parreira moleque, você tá louco? O Bernardinho”. Eu falei

não Érica, não sei. Ela falou o seu nome tá na lista. Quando ela falou, o seu nome tá

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na lista, o telefone caiu, eu tomei um choque, o telefone caiu no chão. Eu falei, o

meu nome tá na lista, como assim o meu nome tá na lista? O Bernardinho, eu nunca

vi o cara de perto.

Cenas de arquivo das Olimpíadas de Barcelona em 1992, do time

comemorando o ouro olímpico. Em seguida, cena de um corredor de hotel, com a

luz baixa, com alguém caminhando em direção a uma porta. As imagens se

intercalam com a entrevista de Serginho.

PB: Naquela época, os ídolos do ouro de 92 ainda estavam na seleção. Serginho ia

ficar perto deles. Quem sabe até trocar umas palavras. Com o coração acelerado,

chegou ao hotel onde o vôlei brasileiro se concentrava.

S: Você está no quarto com o seu Maurício Lima. Eu falei, o quê? Eu não conhecia

o cara, o cara, o meu ídolo, eu tinha sido convocado, como que vai ser como é que

eu vou morar com o cara? Daí eu fui e apertei a campainha. Aí ele saiu e me olhou,

ele olhou pra minha cara e eu olhei pra cara dele, aí eu falei, e aí Maurício, daí ele

me deu um abraço cara. Aí ali eu comecei a chorar.

Cenas de arquivo da comemoração do ouro Olímpico de Atenas em 2004. A

imagem se intercala com a entrevista do atleta, que nessa parte começa a chorar.

PB: Aí quando o Brasil ganhou de novo a medalha de ouro na olimpíada, o menino

de Pirituba estava dentro da televisão.

S: Eu me lembro como se fosse ontem andando de carrinho de rolimã, de ter

arregaçado o dedo e ter cortado tudo o dedo. Depois as pessoas falaram que eu

sou herói olímpico. Pelo amor de Deus, eu não sou, cara. Não sou mesmo. Sou o

Sérgio filho da dona Didi.

A câmera aproxima do rosto dos três filhos do atleta. Enquanto um fala, os

outros dois estão sentados ao lado de Matheus.

PB: Pai do Marlon, do Matheus e do Martin.

Matheus Dutra Santos - filho de Serginho (MDS): O meu pai me disse que ele ia

treinar só pra comer um lanche depois. Por que eles davam e ele não tinha

condição. E isso me tocou, por causa que hoje eu tenho tudo que ele pode me dar.

E ele é um espelho pra mim. Com certeza.

Imagem da uma prateleira repleta de medalhas, com foco nas de Atenas,

Pequim e Londres e o troféu de melhor líbero. As imagens se intercalam com cenas

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de arquivo das competições e da comemoração do prêmio de melhor jogador do

mundo.

PB: Na prateleira, Serginho também tem tudo. Além do ouro em Atenas, duas

pratas, em Pequim e em Londres. Troféu de melhor líbero do mundo. E, em 2009,

um líbero com o prêmio de melhor jogador do mundo. No vôlei, Serginho já tinha

conseguido tudo. Era hora de se dedicar a outras grandes amizades.

A entrevista de Serginho é feita do celeiro e se intercala com imagens dele

cuidando de seus cavalos. Em seguida, o repórter entra em cena, apoiado em uma

grade, enquanto o atleta e outra pessoa cavalgam do lado de dentro da grade de

madeira. Em seguida, imagens de Serginho jogando na Seleção Brasileira.

S: Se Deus quiser, boa parte da minha vida eu vou estar aqui dentro, com certeza

perto dos animais, dos cavalos. O cavalo que é um animal que eu amo de paixão.

PB: Uma vida no campo. Um futuro garantido longe das quadras e perto da família.

Mas a lembrança das três medalhas, juntando poeira no fundo da memória,

começou a incomodar. Essa tranquilidade vai ter que esperar mais um pouco. Aos

40 anos, o melhor líbero do mundo está de volta às olimpíadas. Os torcedores mais

fiéis nunca tinham aceitado a despedida da seleção.

Marlon é entrevistado no pátio de uma casa, ao ar livre. A fala de Marlon se

intercala com imagens do atleta jogando, defendendo a bola, com a fala da primeira

treinadora, a entrevista do técnico da Seleção Brasileira em uma quadra de vôlei e

da fala de Dona Didi, e, por último, a paisagens do campo e Serginho em cima de

seu cavalo.

Marlon Dutra Santos - filho de Serginho (MDS): Eu fiquei no pé dele pra voltar,

com certeza.

SSL: Vai lá velhinho. Vai lá.

MD: Tá ficando velho, tá jogando mais, parece.

Bernardinho - técnico da seleção brasileira: Ele sabe que nós não somos os

favoritos, mas que vamos brigar. Ele está disposto a ser um dos soldados que vai

estar naquela trincheira.

DDS: Ele não sabe da imensidão que ele representa pro Brasil e pro mundo, né. Ele

continua sendo aquele moleque simples que saiu lá de Pirituba.

PB: Na beleza da paisagem, a vida vai passando diante dos olhos. Sérgio Dutra

Santos. Empacotador de supermercado, office boy, vendedor ambulante. Jogador

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de vôlei. Melhor do mundo. Hoje o caminho é plano, mas se aparecer pela frente

uma ladeira bem inclinada, força cavalinho. Por que o menino de Pirituba com

certeza vai subir.

Após a aplicação do método e das técnicas, será possível realizar a

interpretação dos dados, assunto do próximo capítulo.

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7. A REPRESENTAÇÃO DO HERÓI NAS REPORTAGENS ESPORTIVAS DA

SÉRIE PERFIS

A partir da observação do corpus da pesquisa e da revisão bibliográfica,

será possível realizar a análise e interpretação dos dados propostos pelo método

Análise de Discurso. O objetivo é responder a questão norteadora: a série Perfis,

exibida no Jornal Nacional, se utiliza do jornalismo literário para reforçar a

representação do herói nas reportagens esportivas sobre os atletas olímpicos de

2016? Para o desenvolvimento do capítulo foram elencados quatro temas que

merecem análise aprofundada no sentido de auxiliar no encaminhamento da

resposta da questão norteadora e da confirmação ou não das hipóteses desta

pesquisa: Grande Reportagem; Jornalismo Esportivo; Jornalismo Literário e

Representação Social.

7.1 QUADROS PARA ANÁLISE

Para desenvolver a interpretação dos dados, foram elaborados seis

quadros, um por VT, com pontos importantes a serem analisados durante este

capítulo. Além desses pontos, aparecem prints de cada reportagem para

evidenciar os fragmentos da decupagem. A partir disso, a análise seguirá nos

quatro temas escolhidos.

Quadro 1 - VT 1 Perfil Arthur Zanetti

Grande Reportagem

Jornalismo Literário

Representação Social

Jornalismo Esportivo

Referindo-se a produção, locais de filmagens e espaço no telejornal.

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

Aspecto de narrativa e linguagem feita pelo repórter, sendo apresentado por trecho da decupagem.

“Pedro Bassan: “E

até de ponta cabeça aparece as maravilhas do Brasil. [...] É normal a família dar suporte ao atleta, mas nesse caso, a família construiu o suporte do atleta, com as próprias mãos.” (Jornal Nacional –

A representação do atleta, que imagem do atleta é repassada para o público. “PB: Antes de conquistar a medalha, Arthur conquistou o respeito de todos. Com essa mistura de seriedade e simpatia, disciplina e inspiração. Com essa carinha de bom rapaz. Será que ele nunca fez bagunça na vida? Com a palavra, dona

Aspecto de dedicação do atleta ao esporte, sempre treinando e revendo as imagens gravadas do seu próprio treino.

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

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Característica em local de filmagem (produção).

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

O tempo da grande reportagem se diferencia de uma reportagem comum, passando de oito minutos.

Perfil Arthur Zanetti, 2016). PB: “Desde então, o campeão do mundo revelou-se o mais beijoqueiro do mundo. Oh Juliana, nós temos que te contar uma coisa. Ele adora beijar medalha também. O mesmo técnico, o mesmo clube. Desde a infância, tudo mudou muito rápido na vida do menino que nunca mudou.” (Jornal Nacional – Perfil Arthur Zanetti, 2016).

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

“PB: Parece que foi ontem aquele primeiro título brasileiro. A diferença é que na hora do hino ele era um menino entre muitos de todo o Brasil. Agora quando o hino toca, Zanetti é o Brasil inteiro. Especialmente naquela parte, “conseguimos conquistar com braço forte” (Jornal Nacional – Perfil Arthur Zanetti, 2016).

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

Roseane.” (Jornal Nacional – Perfil Arthur Zanetti, 2016). “PB: Um pedaço de asfalto cercado por um muro. [...] Em 2012, essa força virou ouro. Campeão olímpico.” (Jornal Nacional – Perfil Arthur Zanetti, 2016).

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

PB: Parece que foi ontem aquele primeiro título brasileiro. A diferença é que na hora do hino ele era um menino entre muitos de todo o Brasil. Agora quando o hino toca, Zanetti é o Brasil inteiro. Especialmente naquela parte, “conseguimos conquistar com braço forte” (Jornal Nacional – Perfil Arthur Zanetti, 2016).

“PB: E a vida já tem tanta história. Das lentes amadoras, para as câmeras mais modernas do mundo. O equipamento mudou, mas a imagem é a mesma. Marcos Goto e Arthur Zanetti. Inseparáveis. [...] AZ: Treinar em outro clube, com outro técnico, não dá. Não dá. Eu não consigo me ver em outro lugar, e sem também o Marcos como técnico.” (Jornal Nacional – Perfil Arthur Zanetti, 2016).

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

Característica de ser evento especial, Olimpíadas, e ter espaço durante a programação e no telejornal. Isso pode ser representado com as imagens de arquivo de outras competições e das Olimpíadas de Londres 2012, na reportagem. Vale ressaltar que o atleta ganhou a medalha de ouro em 2012.

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

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Quadro 2 - VT 2 Perfil Yane Marques

Grande Reportagem Jornalismo Literário Representação Social

Jornalismo Esportivo

A imagem se refere a algo incomum que o repórter faz (estar no cavalo). Mas por ser grande reportagem e devido ao tema, o repórter se aventurou a fazer algo diferente para chamar a atenção do público. Isso se refere à passagem do repórter durante a reportagem.

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

Parte de pós-produção, com o nome da atleta.

Desenho gráfico para ilustrar o esporte em suas cinco fases. Parte desenvolvida na pós produção para a exibição da reportagem.

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016. Locais de gravações, como paisagens também fazem parte da grande reportagem.

Trechos das decupagens. O primeiro, sobre a narrativa que o repórter faz, para explicar o surgimento do esporte. O segundo trecho é do Gaiteiro e a rima que ele faz sobre a atleta e a origem dela. “(PB): No vale do Pajeú, o sertanejo já viu de tudo. Mas, medalha brotando desse chão é a primeira vez. [...] Para juntar cinco esportes em um só, Yane Marques carrega a força do sertão. Yane, o quanto daquela menina sertaneja ainda existe em você?” (Jornal Nacional – Perfil Yane Marques, 2016).

“Gaiteiro: Ser campeã no pentatlo exige superação, mas entende muito disso quem bem conhece o sertão. Correr, nadar, atirar, usar cavalo e espada pra uma autêntica sertaneja isso tudo não é nada. Pois sertaneja é assim, faz de tudo e nada erra e ainda não abre mão de exaltar a sua terra. Yane para onde vai, leva Afogados com ela. Quem da terra se orgulha, também vira orgulho dela. Em Afogados da Ingazeira, onde o sol mais forte brilha, brilha o brilho de Yane a sua mais brilhante filha” (Jornal Nacional – Perfil Yane Marques, 2016).

Trecho referente à representação da atleta em sua cidade natal, pelo fato que as crianças estão se inspirando em Yane Marques. “PB: As brincadeiras antigas, o esforço e o sorriso andam juntos. E assim, sem perceber, aos poucos, as meninas vão se tornando atletas. Vão se tornando Yane Marques” (Jornal Nacional – Perfil Yane Marques, 2016).

No trecho, subentende-se que o país só passou a conhecer o esporte após as vitórias da atleta. “PB: Pentatlo. Com Yane Marques, o Brasil aprendeu a pronunciar o nome de cinco esportes de uma vez só. E num dia só. Às dez da manhã, natação. Meio dia, esgrima. Três da tarde, hipismo. As seis o apogeu. O evento combinado. A atleta sai da calma absoluta do tiro pra agitação da corrida. Pentatlo é a arte de se transformar” (Jornal Nacional – Perfil Yane Marques, 2016).

Desenho da atleta no muro no sentido do que ele representa para a população da cidade.

O repórter conta que desde pequena a atleta se interessava por esportes, envolvendo a dedicação que ela oferecia a qualquer um. “PB: Determinada. Desde pequena quebrando recordes. A escola guarda até o hoje o boletim da melhor aluna. Em qualquer matéria, a vontade de estudar. E em qualquer esporte a vontade de se superar. Aos 11 anos, quando a família se mudou para Recife, ela escolheu o vôlei” (Jornal Nacional – Perfil Yane Marques, 2016).

Descoberta do pentlato, onde a atleta pode conciliar as cinco modalidades que praticava. “PB: Depois do espanto inicial, Yane descobriu que tinha acertado na mosca. Não parou mais. Até porque no pentatlo, pra pendurar as chuteiras, é preciso pendurar os tênis, a bota, a espada, os óculos, o revólver, o alvo.”

Cenas de arquivo de Yane nas Olimpíadas de Londres.

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Quadro 3 - VT 3 Perfil Sarah Menezes

Grande Reportagem Jornalismo Literário

Representação Social

Jornalismo Esportivo

Recurso de pós-edição com a inclusão do nome da atleta no VT; O uso do microfone sem fio; A forma como foi gravado o treinamento de Sarah, realizado pelo cinegrafista, que pode trabalhar a iluminação de forma diferente; O recurso de câmera lenta foi utilizado em parte da reportagem para exaltar os movimentos da atleta; Locais de gravações, como paisagens, também fazem parte da grande reportagem. O tempo da grande reportagem se diferencia de uma reportagem comum, passando de oito minutos.

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

“PB: Não é difícil de entender. Essa é a história de uma menina que construiu uma ponte entre o Japão e o Piauí. De Tóquio a Teresina. Aqui, o judô encontrou a primeira mulher brasileira a conquistar o ouro nos tatames. Nenhuma surpresa. O brilho da medalha de Sarah Menezes combina muito bem com o antigo tesouro do Piauí. Cajuína. [...]” (Jornal Nacional – Perfil Sarah Menezes, 2016).

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

“PB: De repente, Sarah Voltou. Receita para recuperar o tempo perdido: treino e muito treino. E depois do treino, mais treino. Parece um filme de super herói. Mas a super Sarah em ação. Ela voltou a ficar entre as três melhores do mundo. Só vai parar do dia seis de agosto. Primeiro dia de

medalhas dos jogos” (Jornal Nacional – Perfil Sarah Menezes, 2016). .

Trechos da decupagem que indicam que a atleta passou a representar o seu estado no esporte. “PB: Com as vitórias de Sarah Menezes, o Piauí entrou no mapa do judô mundial” (Jornal Nacional – Perfil Sarah Menezes, 2016). “Expedito Falcão: Ela era tipo, a seleção brasileira. Do Piauí. Estado sem retrospectiva de atleta de alto rendimento. É uma coisa que eu mais me orgulho. Por que a Sarah é uma atleta made in Piauí. Ela nasceu e treinou a vida inteira dentro do Piauí” (Jornal Nacional – Perfil Sarah Menezes, 2016).

- “PB: Quando Sarah voltou de Londres, no aeroporto também eram sete. E mais sete, mais sete. Mais sete, mais sete, mais sete. Sarah Menezes: Eu tomei um susto. O Piauí realmente todo parou. O aeroporto lotado. Eu até fiquei com medo de sair de dentro do aeroporto, porque a multidão era incrível. [...]

EF: Quando ela ganhou a primeira luta, poucas pessoas assistiram. Na segunda luta o Piauí começou a parar. Na terceira luta dela o Piauí parou. Na quarta o Brasil parou” (Jornal Nacional – Perfil Sarah Menezes, 2016).

Trechos da decupagem referente ao treinamento da atleta. Além disso, imagens da atleta em outras olimpíadas. “PB: Desde então, Sarah viu o tempo passar nesse mesmo tatame. Aos nove anos, começou a aprender todos os verbos do judô. Treinar, lutar, suar. Derrubar. Só não conjugava o verbo perder” (Jornal Nacional – Perfil Sarah Menezes, 2016). “PB: Sarah aprendeu o verbo perder em português e em chinês. Na olimpíada de Pequim. EF: Com 18 anos. Muito jovem. Então, ela não aguentou a pressão. PB: Talvez por isso, quatro anos depois, quase ninguém acreditava” (Jornal Nacional – Perfil Sarah Menezes, 2016).

“PB: Na quinta luta a medalha de ouro. Vinte e dois anos, melhor do mundo.”

-

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

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Tabela 4 - VT 4 Perfil Fabiana Claudino

Grande Reportagem

Jornalismo Literário

Representação Social Jornalismo Esportivo

Características de pós- produção, como a inclusão dos nomes da atleta e da treinadora; Locais de gravação diferentes em cada reportagem; Passagem do repórter em frente ao ponto de ônibus que segue com imagens dentro do veículo em movimento; Entrevista com Yara Ribas, onde o repórter entrevista a atleta e aconteceu uma surpresa, onde a treinadora aparece surpreendendo Fabiana; O tempo da grande reportagem se diferencia de uma reportagem comum, passando de oito minutos.

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

“PB: Partiu ao lado da mãe. Por essas ruas que não mudaram nada desde o século dezoito. Trezentos anos depois, a moradora de Santa Luzia reencontrou o caminho do ouro. E ele começa em uma viagem de ônibus. Que sai daqui de Minas Gerais e passa por vários continentes e termina no alto do pódio olímpico. [...]” (Jornal Nacional – Perfil Fabiana Claudino, 2016).

“PB: Vamos falar de ouro. Muito ouro. Vamos falar de uma brasileira brilhante. A cidade inteira ouviu quando foi batizada Fabiana.[...]” (Jornal Nacional – Perfil Fabiana Claudino, 2016).

“PB: Assim como o Brasil em 2004, dessa vez foi a Rússia que teve seis chances de fechar o jogo com o último ponto. E não conseguiu. Brasil teve uma só, nas mãos de uma filha de negros, neta de índios, a Rússia conheceu Fabiana do Brasil” (Jornal Nacional – Perfil Fabiana Claudino, 2016). “José Roberto Guimarães - (JRG): E hoje ela passa, para essas jogadoras, principalmente as mais novas, tudo o que significa vestir a camisa da seleção brasileira e representar o nosso país” (Jornal Nacional – Perfil Fabiana Claudino, 2016).

“JRG: Fabiana, ela foi escolhida pela equipe como capitã. Ela foi escolhida por unanimidade” (Jornal Nacional – Perfil Fabiana Claudino, 2016).

“PB: Quem melhor que a líder do time com duas medalhas de ouro a ser a primeira atleta no Brasil a receber a tocha olímpica no país. [...]”(Jornal Nacional – Perfil Fabiana Claudino, 2016).

“PB: Horas e horas de bola na parede e solidão. Manchete. Cortada. Toque. O beabá do vôlei. A recompensa de todo esse esforço pode ser uma única bola. Um único ponto de Fabiana calou os críticos que ela teve de aguentar durante anos e anos” (Jornal Nacional – Perfil Fabiana Claudino, 2016)

Olimpíadas de Atenas/ Pequim e Londres: espaço na Rede Globo para as transmissões; as imagens de arquivo representam isso. “FC: Foi um time que, sempre fomos taxadas de amarelona. A gente batia na trave e não chegava em lugar nenhum. PB: Na olimpíada de Atenas em 2004, a seleção brasileira teve seis chances de fechar o jogo contra a Rússia. Desperdiçou todas e acabou fora da decisão” (Jornal Nacional – Perfil Fabiana Claudino, 2016).

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016. “PB: Em 2008, um inédito ouro em Pequim, essa história parecia ter ficado para trás. Mas nos jogos de Londres, vieram derrotas inexplicáveis. Quase ninguém acreditava na medalha. Veio então, o jogo contra a Rússia, a grande favorita. [...] (Jornal Nacional – Perfil Fabiana Claudino, 2016).

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Quadro 5 - VT 5 Perfil Isaquias Queiroz

Grande Reportagem

Jornalismo Literário Representação Social

Jornalismo Esportivo

A grande reportagem se caracteriza por várias imagens aéreas; Locações de filmagem em duas cidades: Ubaitaba e São Vicente, em São Paulo; O tempo de reportagem ultrapassa nove minutos; Características de pós- produção na inclusão do nome do atleta e do nome da cidade.

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

“(PB): Mesmo com tanta água, o Brasil nunca foi uma potência na canoagem. Até que no interior da Bahia, uma cidade decidiu remar contra a corrente e mudar história. [...] E alguns anos, as canoas descobriram uma outra riqueza. Agora, elas passam pelo rio, levando ouro, prata e bronze. Os canoeiros passaram a dividir o espaço com os canoístas.[...]” (Jornal Nacional – Perfil Isaquias Queiroz, 2016).

“PB: Isaquias não mora mais aqui, e mesmo quando morava em Ubaitaba, já tinha duas casas: a casa de tijolo e a casa de água” (Jornal Nacional – Perfil Isaquias Queiroz, 2016).

- “PB: Impossível imaginar um nome mais apropriado que o autor desse milagre. Jesus. Jesus Morlan. O treinador espanhol que já conquistou cinco medalhas olímpicas. Veio ao Brasil para ganhar mais medalhas. E não para fazer mais amigos” (Jornal Nacional – Perfil Isaquias Queiroz, 2016).

“PB: O carro não prestou não. O carro já se foi. Agora a vida deles estão aí. Sempre quando ele volta, a cidade para. A bola não rola. Aqui o estádio é de água corrente. A arquibancada é a margem do rio. O ídolo não usa chuteira. Descalço, ele dá exemplo de equilíbrio e direção. E ensina que canoa, é outro nome para liberdade” (Jornal Nacional – Perfil Isaquias Queiroz, 2016).

“PB: E de repente a canoagem brasileira fez barulho. Em cinco meses, a vida de Isaquias mudou. O melhor do Brasil virou o melhor do mundo” (Jornal Nacional – Perfil Isaquias Queiroz, 2016).

“Camila Lima - professora de canoagem em Ubaitaba (CL): Só de ver o sorriso dele, ele chegar assim pra mim “tia, eu quero ser igual o Isaquias”. PB: O futuro chega flutuando sobre o Rio de Contas pra quem é criança em Ubaitaba. E daqui alguns dias, quando Isaquias for pra água, o Brasil inteiro vai se transformar numa única, imensa, cidade das canoas” (Jornal Nacional – Perfil Isaquias Queiroz, 2016).

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

“PB: Ubaitaba fica numa esquina do mapa. Entre a estrada e o rio. Depois de aprender a remar, o próximo passo era pegar o asfalto. Isaquias tinha 13 anos e nenhum dinheiro quando foi chamado para disputar o campeonato brasileiro de canoagem” (Jornal Nacional – Perfil Isaquias Queiroz, 2016).

“PB: E foram muitas. Seis nos últimos campeonatos mundiais. Três de ouro e três de bronze. Isaquias só não ganhou mais um ouro em 2014 porque se desequilibrou a um metro do fim. Ele é o único do mundo, capaz de ganhar medalhas nos duzentos, quinhentos e nos mil metros. O fenômeno Isaquias Queiroz, junta explosão e resistência. IQ: Um dia era, queria ser mil, eu fui ser mil, ser um duzentos, ser duzentos. E o ano passado acabei quebrando esse

tabu né” (Jornal

Nacional – Perfil Isaquias Queiroz, 2016).

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Quadro 6 - VT 6 Perfil Serginho

Grande Reportagem

Jornalismo Literário

Representação Social

Jornalismo Esportivo

Locais de filmagem, na cidade e no campo; O tempo ultrapassa nove minutos; O nome do atleta é exibido duas vezes via recurso de arte gráfica em pós-produção, assim como a palavra líbero; Desenho gráfico para representar a posição do líbero; Imagens aéreas; Recurso de câmera lenta em imagens de arquivo; Imagens de arquivo pessoal.

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

“PB: Quando Marcelo Negrão caminhava pra sacar, no último ponto da Olimpíada de Barcelona, não imaginava ou nem podia imaginar que naquele momento estava transformando a vida de um menino em Pirituba, na Zona Leste de São Paulo. O menino era Serginho” (Jornal Nacional – Perfil Serginho, 2016).

“PB: Uma vida no campo. Um futuro garantido longe das quadras e perto da família. Mas a lembrança das três medalhas, juntando poeira no fundo da memória, começou a incomodar. Essa tranquilidade vai ter que esperar mais um pouco. Aos 40 anos, o melhor líbero do mundo está de volta às olimpíadas. Os torcedores mais fiéis, nunca tinham aceitado a despedida da seleção” (Jornal Nacional – Perfil Serginho, 2016).

“PB: Aí quando o Brasil ganhou de novo a medalha de ouro na olimpíada, o menino de Pirituba estava dentro da televisão. S: Eu me lembro como se fosse ontem andando de carrinho de rolimã, de ter arregaçado o dedo e ter cortado tudo o dedo. Depois as pessoas falaram que eu sou herói olímpico. Pelo amor de Deus, eu não sou cara. Não sou mesmo. Sou o Sérgio, filho da dona Didi” (Jornal Nacional – Perfil Serginho, 2016).

“Bernardinho: Ele sabe que nós não somos os favoritos, mas que vamos brigar. Ele está disposto a ser um dos soldados que vai estar naquela trincheira. DDS: Ele não sabe da imensidão que ele representa pro Brasil e pro mundo né. Ele continua sendo aquele moleque simples que saiu lá de Pirituba”. PB: Na beleza da paisagem, a vida vai passando diante dos olhos. Sérgio Dutra Santos. Empacotador de supermercado, office boy, vendedor ambulante. Jogador de vôlei. Melhor do mundo. Hoje o caminho é plano, mas se aparecer pela frente uma ladeira bem inclinada, força cavalinho. Por que o menino de Pirituba, com certeza vai subir” (Jornal Nacional – Perfil Serginho, 2016).

Recurso de imagens de arquivo de outras olimpíadas que o atleta participou. Esse recurso evidencia o espaço que o esporte tem no veículo de comunicação e no telejornal. “S: Eu lembro que eu tava assistindo a final olímpica em casa, o Marcelo Negrão fez o último ponto e eu sai correndo no meio da rua chorando. Eu queria ser igual aos caras. Queria ser igual ao Maurício e ao Marcelo Negrão. Eu quero isso aí pra minha vida. PB: Mas como, se ali na vizinhança ninguém jogava vôlei” (Jornal Nacional – Perfil Serginho, 2016).

“PB: Bola pra cima e troféu pro alto. campeão paulista, brasileiro. Todo mundo já imaginava o próximo passo. Menos o menino de Pirituba, que lembra exatamente da surpresa da primeira convocação. S: Tocou o celular, era a Érica, uma repórter. Você viu a convocação?. Eu disse, não Érica, eu to indo pro treino agora e eu nem sei quem o Parreira convocou.[...]” (Jornal Nacional – Perfil Serginho, 2016).

- “PB: Na prateleira, Serginho também tem tudo. Além do ouro em Atenas, duas pratas, em Pequim e em Londres. Troféu de melhor Líbero do mundo. E em 2009, um líbero com o prêmio de melhor jogador do mundo. No vôlei, Serginho já tinha conseguido tudo. Era hora de se dedicar a outras grandes amizades” (Jornal Nacional – Perfil Serginho, 2016).

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7.2 GRANDE REPORTAGEM

A grande reportagem tem por objetivo explorar todos os ângulos possíveis

de um assunto, apresentando uma narrativa mais detalhada. Sendo assim, foi

possível identificar um padrão de características de grande reportagem nos seis

VT’s analisados para esta pesquisa. Aspectos sobre a entrevista no meio

esportivo, como a gravação, edição e tempo de exibição fazem parte da série

Perfis. Conforme abordado no capítulo quatro desta monografia, Lima (2004)

explica que a grande reportagem permite o mergulho do jornalista no assunto que

quer retratar e garante uma liberdade para escapar da fórmula convencional em

que a notícia é tratada. Isso é perceptível nos seis VT’s analisados, visto que o

repórter explora todas as narrativas possíveis de cada atleta, o que resulta em

um produto final de mais de oito minutos por vídeo.

Outro ponto importante a ser destacado são os locais de filmagem

escolhidos para desenvolver parte das histórias. No capítulo quatro, Bistane e

Bacellar (2008) relatam que “no trabalho de campo, a cumplicidade entre o

repórter e cinegrafista contribui muito para o bom resultado. Conversar sobre o

encaminhamento da matéria com quem está gravando é fundamental para que

haja sintonia entre texto e imagem” (p. 52). Isso é evidente nos seis VT’s que se

utilizam de várias imagens de paisagens e aéreas. Elas são perceptíveis na

reportagem do atleta Arthur Zanetti, exibida no dia 11 de julho de 2016, onde o

ginasta realiza os movimentos de ginástica artística no aparelho, que está em

cima de um morro no Rio de Janeiro.

Figura 2 – Imagem aérea de Arthur Zanetti

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

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Além das imagens aéreas, o trabalho com uma iluminação diferenciada

também é visível no VT da atleta Sarah Menezes exibido no dia 18 de julho de

2016, onde o cinegrafista fez imagens do treinamento da atleta utilizando de luz

baixa, praticamente no escuro, apenas com um pequeno foco de luz.

A passagem na grande reportagem também se diferencia de uma

reportagem comum. No capítulo quatro desta monografia, Bistane e Bacellar

(2006) explicam que a passagem é o momento em que o repórter aparece na

matéria, é a assinatura do profissional no trabalho que está sendo exibido, além

disso, é uma intervenção e ela só é necessária quando for acrescentar alguma

informação que valorize a reportagem. A passagem comum que os jornalistas

realizam no hard news é uma fala curta, objetiva, em algum lugar importante que

contextualiza a matéria. Na série Perfis, ocorre, mas de forma diferente. Nos seis

vídeos, o repórter aparece fazendo a sua passagem apenas uma vez, mas ele

utiliza microfone de lapela e faz ela de forma incomum. A forma atípica é evidente

no VT da atleta Yane Marques, onde Pedro Bassan começou a reportagem com

uma passagem, iniciando a narrativa em cima de um cavalo, fazendo alusão a

uma das modalidades do Pentatlo, esporte praticado pela atleta.

Figura 3 – Pedro Bassan durante a passagem

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

Pedro Bassan também realiza uma passagem inusitada no VT do atleta

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Isaquias Queiroz, exibido no dia 25 de julho de 2016. O repórter inicia a

reportagem com uma passagem, sentado na ponta de uma canoa no meio do rio,

o foco está nele, mas a imagem vai afastando, ficando subentendido que o

cinegrafista está filmando na margem do rio.

Figura 4 – Repórter posicionado na canoa durante a passagem

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

A entrevista é a parte principal da série Perfis, sendo que a construção de

cada episódio é repleto de depoimentos, não só dos atletas, mas de familiares,

treinadores e amigos. Conforme abordado no capítulo quatro desta monografia,

Barbeiro e Lima (2002) relatam que a escolha das fontes é um desafio, visto que

elas transmitem a credibilidade que a reportagem precisa. Os autores ainda

afirmam que a entrevista na televisão proporciona a exposição da intimidade do

entrevistado, como gestos, olhar, o tom de voz, modo de se vestir e a mudança

do semblante. Isso fica claro e mais evidente no vídeo de Fabiana Claudino,

quando ela relata em um momento da entrevista o caso de racismo que sofreu

durante um jogo no Brasil.

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Pedro Bassan: Essa história poderia terminar nas lágrimas de felicidades no ginásio de Londres. Fabiana nunca poderia imaginar que um choro bem mais amargo estaria por vir. No dia 27 de janeiro de 2015, a bicampeã olímpica foi jogar em Belo Horizonte, como visitante pelo time do Sesi. No mesmo lugar onde aprende a jogar e amar o vôlei, ela demorou a acreditar no que estava ouvindo. Fabiana Claudino: Olha a macaca! Joga a banana pra macaca. PB: A família estava na arquibancada e também ouviu. Vital Claudino: Ah, machucou muito. Maria do Carmo Claudino: Pobre de espírito, resumindo. FC: É uma coisa que fica na cabeça da gente. É difícil você vir e passar por isso. Acho que quem passa por isso um dia vai entender. VC: Não sabe que vai machucar a mãe o pai. E pedi pra Deus e graças a Deus, passou. Mas no momento, machucou muito (Jornal Nacional - Perfil Fabiana Claudino - 19 de julho 2016).

No VT de Fabiana Claudino também é possível ver uma entrevista

diferente, que é caracterizada por uma surpresa. Enquanto Pedro Bassan

entrevista Fabiana, a respeito de sua antiga treinadora, em uma quadra de vôlei,

Yara Ribas, a treinadora, aparece para surpreender a atleta. O repórter acaba

entrevistando as duas juntos. Dessa forma é possível afirmar que para que a

surpresa ocorresse foi realizada uma produção da entrevista, preparando a

treinadora a entrar em cena, sendo um fato criado e não uma surpresa de

verdade. Além disso, a grande reportagem também se diferencia do hard news

pelo processo de produção, com características do fictício para o real. Neste

caso, se trata de um depoimento real, mas com uma produção não factual.

A edição é outro aspecto a ser analisado. Conforme abordado no capítulo

quatro, a edição é a montagem da reportagem. Segundo Barbeiro e Lima (2002,

p. 102), “editar uma reportagem para a TV é como contar uma história, e, como

toda história, a edição precisa de uma sequência lógica que pelas características

do veículo exigem a combinação de imagens e sons”. O processo de edição,

conforme Curado (2002), relatado no capítulo quatro desta monografia, é dividido

em sete requisitos. O quinto requisito, é chamado pela autora de outros recursos,

que se baseia em uma possível adição de gráficos, mapas, animações e

reconstituições para ilustrar a reportagem. A inclusão de outros recursos é

notável nos seis vídeos analisados. Em cada um houve o acréscimo do nome do

atleta em letras grandes, mas de cores e formas diferentes, para evidenciar cada

personagem. Entretanto, no VT de Fabiana Claudino, exibido no dia 19 de julho

de 2016, não só o nome da atleta, mas também o nome de sua treinadora, Yara

Ribas, aparecem no VT. Isso não é diferente no VT de Isaquias Queiroz, exibido

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no dia 25 de julho de 2016, onde é apresentado o nome do atleta como também o

nome de sua cidade natal, Ubaitaba. No VT do Serginho, exibido no dia 26 de

julho de 2016, o nome do atleta é apresentado duas vezes e de formas

diferentes.

Figura 5 – Recurso gráfico

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

Além dos nomes dos atletas, dois VT’s utilizam desenhos gráficos para

explicar o jogo de cada personagem. No primeiro, de Yane Marques, exibido no

dia 12 de julho de 2016, o desenho apresenta como é realizado o pentatlo, em

suas cinco modalidades: natação, esgrima, hipismo, tiro e corrida. Vale ressaltar

que o desenho gráfico na reportagem fica em movimento, simulando o esporte.

O segundo VT que utiliza de outros recursos, chamado assim por Curado (2002),

é o de Serginho. O recurso é utilizado para explicar a posição do líbero na quadra

de vôlei e como o jogador deveria atuar nos jogos.

A partir disso, a estrutura da reportagem define como o conteúdo vai ser

apresentado e como será exibido. O caminho da reportagem também define

como a narrativa vai ser exposta e envolver o espectador durante a história. O

jornalismo esportivo faz isso de forma diferenciada, pois cada personagem tem

uma história diferente, o que será apresentado no próximo subtítulo.

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7.3 JORNALISMO ESPORTIVO

O jornalismo esportivo é encarregado de divulgar tudo o que acontece

nesse meio. Na série Perfis, cada episódio aborda um atleta, um esporte, uma

história diferente. Conforme levantado no capítulo três, Barbeiro e Rangel (2006)

esclarecem que em uma reportagem a linguagem deve ser acessível, isso só

acontece se o jornalista realizar uma grande pesquisa. Dessa forma (BARBEIRO;

RANGEL, 2006, p. 21), “a reportagem não é apenas notificação de um fato. É

necessário o detalhamento, a escolha de um ângulo ainda não explorado,

procurar descobrir o possível impacto daquelas informações no tema tratado”.

Nos VT’s analisados, é possível perceber que o repórter dedicou tempo

em suas pesquisas e no processo de produção, prezando pelos detalhes, como

quando relata a dedicação do atleta em seu esporte, desde criança. Em cada VT,

ele evidencia o esforço do atleta, em relação ao treinamento. No VT de Arthur

Zanetti, exibido no dia 11 de julho de 2016, o esforço do atleta é apresentado de

duas formas diferentes. Na primeira vez, o atleta revê os vídeos de seus treinos,

para poder aperfeiçoá-los com o tempo.

Figura 6 – Arthur Zanetti revendo seus treinos

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

Na segunda vez, o repórter evidência a parceria entre o atleta e o treinador.

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Parceria de muitos anos, desde criança.

PB: E a vida já tem tanta história. Das lentes amadoras para as câmeras mais modernas do mundo. O equipamento mudou, mas a imagem é a mesma. Marcos Goto e Arthur Zanetti. Inseparáveis. Cenas da entrevista se intercalam com imagem de um abraço do treinador no atleta nas Olimpíadas de Londres. Arthur Zanetti: Treinar em outro clube, com outro técnico, não dá. Não dá. Eu não consigo me ver em outro lugar, e sem também o Marcos como técnico (Jornal Nacional - Perfil Arthur Zanetti - 11 de julho de 2016).

No capítulo três desta monografia, Barbeiro e Rangel (2006) fundamentam

que a reportagem deve procurar descobrir qual é o impacto das informações para

o público. Essa característica é perceptível em três VT’s, representados abaixo

por partes das decupagens. O primeiro é de Sarah Menezes, exibido no dia 18 de

julho de 2016, e retrata a dedicação da atleta até chegar à Seleção Brasileira de

Judô. O segundo VT é de Fabiana Claudino, exibido no dia 19 de julho de 2016,

sobre o início do seu treinamento. O terceiro VT é de Isaquias Queiroz exibido no

dia 25 de julho de 2016, a respeito da sua idade quando disputou pela primeira

vez um campeonato brasileiro de canoagem.

PB: Desde então, Sarah viu o tempo passar nesse mesmo tatame. Aos nove anos, começou a aprender todos os verbos do judô. Treinar, lutar, suar. Derrubar. Só não conjugava o verbo perder. Cenas do treino de Sarah se intercalam com a imagem da entrevista da atleta. Sarah Menezes: Fui conhecer essa palavra quando entrei na seleção brasileira. Com 15 anos. Então passei seis anos da minha vida sem saber o que era derrota. (Jornal Nacional - Perfil Sarah Menezes - 18 de julho de 2016).

PB: Horas e horas de bola na parede e solidão. Manchete. Cortada. Toque. O beabá do vôlei. A recompensa de todo esse esforço pode ser uma única bola. Um único ponto de Fabiana calou os críticos que ela teve de aguentar durante anos e anos. A entrevista da atleta se intercala com cenas de arquivos das Olimpíadas de Atenas em 2004, o jogo contra Rússia, junto com a entrevista da mãe. Fabiana Claudino: Foi um time que, sempre fomos taxadas de amarelona. A gente batia na trave e não chegava em lugar nenhum (Jornal Nacional - Perfil Fabiana Claudino - 19 de julho 2016). PB: Ubaitaba fica numa esquina do mapa. Entre a estrada e o rio. Depois de aprender a remar, o próximo passo era pegar o asfalto. Isaquias tinha 13 anos e nenhum dinheiro quando foi chamado para disputar o campeonato brasileiro de canoagem (Jornal Nacional - Perfil Isaquias Queiróz - 25 julho de 2016).

Além disso, de acordo com, Allen e et al (2003), abordado no capítulo três,

classificam a olimpíada como um megaevento. Dessa forma, eventos desse porte

possuem um espaço enorme na mídia. Além disso, o evento pode ser criado para

o consumo de audiência televisiva. Sendo assim (ALLEN et al, 2003, p. 31) “até

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então, os eventos esportivos têm sido os maiores vencedores (ou perdedores)

desse aumento de atenção da mídia”. Os autores também esclarecem que a

imprensa poderia criar um editorial ou caderno especial e realizar uma série de

matérias sobre o evento. A televisão e o rádio podem também realizar

transmissões ao vivo. Essa característica é perceptível, pois a série Perfis foi

produzida para ser exibida antes das olimpíadas, para mostrar histórias dos

atletas que participaram do evento. Além disso, eventos desse porte também

ocupam bastante espaço na mídia, o que não é diferente em relação à série.

Durante o seu período de exibição, cada reportagem ocupava em média oito

minutos do Jornal Nacional. Esses minutos ultrapassam o tempo de uma

reportagem comum de hard news. Por esse motivo, ela passa a ser caracterizada

como grande reportagem. Além disso, os episódios da série fidelizam o público

visando à audiência nas transmissões nas olimpíadas, visto a Rede Globo

realizou um investimento alto para a transmissão do evento. E que a série Perfis

fez parte de todo um planejamento realizado pela a emissora, fazendo parte das

30 séries especiais criadas para as olimpíadas, conforme elencado no capítulo

três.

Também foi abordado no capítulo três que as reportagens de cobertura

esportiva proporcionam aproximação com temas diferentes. Tavares Júnior

(2015) explica, sobre reportagens a respeito de modalidades desconhecidas do

público. As modalidades abordadas nos episódios escolhidos para a analise da

série Perfis não são tão populares entre os espectadores, como por exemplo, o

pentatlo, canoagem e o judô. Elas não são populares, pois a mídia não dá

espaço, apenas quando algum atleta conquista uma medalha ou algum prêmio. A

mídia dá mais atenção para o futebol, mas as olimpíadas é o único momento em

que a modalidade não fica em evidência, pois se mistura entre tantos outros

esportes e jogos.

A transmissão de um evento tão grande quanto as olimpíadas é sempre

um assunto importante. Conforme abordado no capítulo três, em 2016 o projeto

de transmissão da Rede Globo foi iniciado 500 dias antes da cerimônia de

abertura. Desde março de 2015 até o fim dos jogos olímpicos, foram veiculadas

mais de 250 reportagens e 30 séries especiais. O fato de que a Rede Globo

sempre se preocupou com as transmissões de grandes eventos em que

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transmitiu nos anos de 2004, 2008 e 2016, perdendo para a TV Record em 2012,

revela a possibilidade de um grande depósito de imagens de arquivos, matérias,

reportagens e telejornais que foram guardados. Isso é perceptível em cinco VT’s

analisados, onde, na edição, imagens de arquivo de olimpíadas passadas e de

outras competições foram utilizadas para evidenciar a trajetória do atleta em

edições passadas até o evento Rio 2016. Os VT’s que apresentam esse material

são o de Arthur Zanetti, exibido no dia 11 de julho de 2016, com imagens de

arquivo das Olimpíadas 2012; Yane Marques, exibido no dia 12 de julho de 2016

apresentando imagens das Olimpíadas de 2012; Sarah Menezes, exibido no dia

18 de julho de 2016, com imagens das Olimpíadas de 2008; Fabiana Claudino,

exibido no dia 19 de julho com imagens das Olimpíadas de 2004, 2008 e 2012; e

Serginho, exibido no dia 26 de julho com imagens das Olimpíadas de 2004,

Campeonato Paulista e Brasileiro. As imagens de arquivo são mais evidentes no

VT de Fabiana, as cenas das Olimpíadas de 2004 (Atenas), 2008 (Pequim) e

2012 (Londres) são apresentadas para exaltar a história do time feminino de vôlei

brasileiro, sobre as vitórias e derrotas.

Figura 7 – Imagens de arquivo das Olimpíadas de Atenas 2004

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

Outros aspectos que diferenciam as reportagens do jornalismo esportivo para

as do hard news são a linguagem e a narrativa literária. Assunto que será abordado

no próximo subtítulo.

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7.4 JORNALISMO LITERÁRIO

O Jornalismo literário é definido por Pena (2006), no capítulo cinco desta

monografia, como uma linguagem musical de transformação expressiva e

informacional. O perfil literário é construído a partir da história de vida de uma

pessoa e se utiliza de técnicas de reportagens jornalísticas. Dessa forma, de

acordo com Christofoletti e Hildebrans (2015, p.02), “se um perfil caminha sem

contemplar essas duas facetas, corre-se o risco de gerar um resultado que tenda

para a literatura ficcional ou para um texto jornalístico convencional, sem nenhum

apelo narrativo”. Essa característica fica clara, quando o repórter entrevista outras

pessoas do convívio dos atletas, como familiares, treinadores, colegas de time e

amigos. Essas entrevistas acrescentam informações à história que, na maioria

das vezes, os atletas não contariam sozinhos.

Além disso, o perfil jornalístico é definido por Kotscho, como o “filão mais

rico das matérias chamadas humanas” (2001, p. 42). Características de

humanização na narrativa literária estão presentem nos episódios da série. No VT

de Arthur Zanetti, quando o repórter relata o apoio da família, e o irmão do atleta

mostra a tatuagem da face de Arthur em seu peito.

PB: O carinho do pai se manifesta em objetos de ferro e aço. O da mãe em argolas de ouro e também foi ela quem fez. O carinho da avó é bem recompensado. Toda vez que dona Neide faz arroz doce, ganha de presente um penteado novo. Arthur não consegue balançar o cabelo do Vítor. À primeira vista, os dois irmãos parecem muito diferentes. Mas para encontrar a semelhança é só olhar para o coração. E assim, nesse esforço conjunto de uma família inteira, foi forjado o talento de um campeão panamericano. Campeão mundial. Campeão olímpico. Chamado no mundo todo de “O rei das argolas”. Arthur Zanetti (Jornal Nacional - Perfil Arthur Zanetti - 11 de julho de 2016).

Outro exemplo de humanização na narrativa é no VT de Isaquias Queiroz. Na

reportagem, um dos atletas mais velhos da equipe de canoagem é referência para

Queiroz, não só no esporte, mas na vida.

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PB: Elon, Ronilson e Nivalter. Oito anos depois, os irmãos da seleção continuam juntos. Treinando em Lagoa Santa, em Minas Gerais. Isaquias é o caçula dessa família. Nivalter, o irmão mais velho. O que nunca deixou nada faltar. IQ: Acabava comprando sabonete, escova de dente, essas coisas. Às vezes até roupa já me deu, escolhe uma roupa aí que eu vou te dar. Aí acabava me dando coisa assim né, de coração, até porque ele sabia que da parte minha eu não podia ter nada. Cenas da equipe treinando no rio se intercala com a entrevista de Nivalter. PB: Hoje os presentes de Nivalter são os conselhos, embrulhados na sabedoria que o tempo trás. Nivalter Santos - canoísta da seleção brasileira (NS): Por eu ser um atleta mais velho, mais experiente, às vezes eu dou um puxão de orelha nele, as vezes ele aceita as vezes não. No fundo no fundo ele acaba aceitando, as nossas brigas não passam de um dia sem falar, depois já tá tudo tranquilo já (Jornal Nacional - Perfil Isaquias Queiróz - 25 julho de 2016).

Sendo assim, esse tipo de reportagem oferece ao repórter a oportunidade

de fazer um texto mais detalhado. O que é possível perceber nos seis VT’s, onde

o repórter pode trabalhar de uma forma diferente e minuciar a narrativa. A estrela

de sete pontas foi proposta por Pena (2006), abordado no capítulo cinco.

Segundo ele, a profissão do jornalista deve estar ligada as causas de

coletividade, mas está se transformando em um palco de futilidades. Dessa

forma, para o jornalista fugir do lugar comum seria necessário potencializar os

recursos utilizados pelos profissionais, expor visões mais amplas do fato, romper

com o lead e garantir os relatos da notícia com profundidade. Assim, podemos

analisar e relacionar trechos da decupagens com quatro das sete pontas da

estrela.

A primeira ponta é fundamentada por Pena (2006) em potencializar os

recursos do jornalismo. Ou seja, “o jornalista literário não ignora o que aprendeu

no jornalismo diário. Nem joga suas técnicas narrativas no lixo. O que ele faz é

desenvolvê-las de tal maneira que acaba constituindo novas estratégias

profissionais” (2006, p. 14). Isso fica evidente em trechos da narrativa realizada

pelo repórter, no VT de Arthur Zanetti, exibido no dia 11 de julho de 2016. Na

primeira parte, Bassan buscou oferecer outro significado em relação a “dar

suporte ao atleta”, visto que, nesse caso, o pai do atleta constrói os aparelhos de

exercício de Zanetti. Na segunda parte, o jornalista procurou fazer uma relação

diferente entre os beijos que o atleta dava em sua medalha e em sua namorada.

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PB: E até de ponta cabeça, aparece às maravilhas do Brasil. O céu, o vento e Arthur Zanetti. Primeiro passo, desenferrujar. Depois, aperfeiçoar os movimentos. Para nós parece perfeito, mas eles sempre querem melhorar. Um trabalha no ginásio, o outro na oficina. Os dois se chamam Zanetti. A firmeza das mãos é um talento que une o filho e o pai. Archimedes Zanetti fabrica equipamentos que ajudam Arthur a treinar. É normal a família dar suporte ao atleta, mas nesse caso, a família construiu o suporte do atleta, com as próprias mãos. [...] PB: Desde então, o campeão do mundo revelou-se o mais beijoqueiro do mundo. Ah Juliana, nós temos que te contar uma coisa. Ele adora beijar medalha também. O mesmo técnico, o mesmo clube. Desde a infância, tudo mudou muito rápido na vida do menino que nunca mudou” (Jornal Nacional - Perfil Arthur Zanetti - 11 de julho de 2016).

Figura 8 – Arthur Zanetti nas Olimpíadas de Londres

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

A segunda ponta da estrela é ultrapassar os limites do cotidiano. Dessa

forma, “o jornalista não está mais enjaulado pelo deadline, [...] e nem se preocupa

com a novidade [...]. Seu dever é ultrapassar esses limites e proporcionar uma

visão ampla da realidade” (PENA, 2006, p. 14). A característica de oferecer uma

visão maior da realidade fica evidente no VT de Fabiana Claudino, exibido no dia

19 de julho de 2016. A narrativa do repórter foi focada no início da trajetória da

atleta, mas sempre fazendo relação com a medalha de ouro.

PB: Partiu ao lado da mãe. Por essas ruas que não mudaram nada desde o século dezoito. Trezentos anos depois, a moradora de Santa Luzia reencontrou o caminho do ouro. E ele começa em uma viagem de ônibus. Que sai daqui de Minas Gerais e passa por vários continentes e termina no alto do pódio olímpico. Para Fabiana, andar de ônibus é bem mais do que ir daqui até ali. Ela só existe porque 38 anos atrás a passageira Maria do Carmo encontrou o motorista Vital” (Jornal Nacional -Perfil Fabiana Claudino - 19 de julho 2016).

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A terceira ponta da estrela é a contextualização da informação de forma

mais abrangente. De acordo com Pena (2006, p. 14), “é preciso mastigar as

informações, relacioná-las com outros fatos, compará-las com diferentes

abordagens e, novamente, localizá-las em um espaço temporal de longa

duração”. Bassan consegue fazer relações e comparações quando narra a

história de Isaquias Queiroz, no VT 5. O repórter faz uma associação onde o

trânsito da cidade é o rio, os canoeiros, os carros. Como também o estádio é o

rio, e a arquibancada é a margem do rio. E uma comparação, onde o atleta

possui duas casas, a de tijolo e a de água, principal local de treinamento de

Isaquias. Essa forma de relação é uma abordagem diferente que fica perceptível

no trecho da decupagem.

Pedro Bassan (PB): Mesmo com tanta água, o Brasil nunca foi uma potência na canoagem. Até que no interior da Bahia, uma cidade decidiu remar contra a corrente e mudar história. Quantos sóis tem a Bahia? Tem um que vale por muitos. Por isso, essa terra é tão bonita quando ele está pra nascer. O canoeiro espera o sol com uma pergunta: em qual das margens vai surgir o primeiro passageiro? Logo o trânsito já é intenso na principal Avenida de Ubaitaba, avenida líquida e silenciosa. É o Rio de Contas, espalhando beleza pelo sul da Bahia pelo caminho tranquilo até o mar. Pra quem nasce aqui, remar é quase um destino. Em tupi-guarani, Ubaitaba quer dizer cidade das canoas. E as canoas já estavam aqui bem antes da cidade. Há séculos, elas levavam os índios a rios a baixos e rios acimas. Durante décadas, transportaram o cacau, que é a grande riqueza da região. E alguns anos, as canoas descobriram uma outra riqueza. Agora, elas passam pelo rio, levando ouro, prata e bronze. Os canoeiros passaram a dividir o espaço com os canoístas. E um desses remadores velozes, descobriu que o Rio de Contas era uma estrada pra ganhar o mundo. Ele é o filho prodígio da cidade das canoas. Vamos conhecer uma mulher que teve seis filhos, adotou mais quatro e, se pudesse, cuidava do mundo inteiro. [...] PB: Isaquias não mora mais aqui, e mesmo quando morava em Ubaitaba, já tinha duas casas: a casa de tijolo e a casa de água.[...] PB: O carro não prestou não. O carro já se foi. Agora a vida deles estão aí. Sempre quando ele volta, a cidade para. A bola não rola. Aqui o estádio é de água corrente. A arquibancada é à margem do rio. O ídolo não usa chuteira. Descalço, ele dá exemplo de equilíbrio e direção. E ensina que canoa, é outro nome para liberdade (Jornal Nacional - Perfil Isaquias Queiróz - 25 julho de 2016).

A sétima ponta da estrela é a perenidade. Conforme Pena, quando uma

obra é baseada nos preceitos do jornalismo literário, ela não pode ser superficial.

Dessa forma “é preciso fazer uma construção sistêmica do enredo, levando em

conta que a realidade é multifacetada, fruto de infinitas relações, articulada em

teias de complexidade e indeterminação” (PENA, 2006, p. 15). Essa

característica fica evidente nos seis vídeos analisados. O repórter elabora uma

construção de enredo levando em conta vários aspectos das histórias, sempre

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entrevistando outras pessoas do convívio dos atletas, para apresentar uma visão

diferente da história.

Também foi abordado no capítulo cinco, que o jornalismo e a literatura

sempre tiveram em comum o ato da escrita, mas com o intuito de aprimorar as

técnicas e o tratamento da mensagem. Segundo Lima (2004, p. 174), “os

jornalistas sentiam-se então inclinados a se inspirar na arte literária para

encontrar os seus próprios caminhos de narrar o real”. Dessa forma, o jornalista

poderia escolher a melhor forma de elaborar o seu texto e trabalhar a narrativa.

Essa característica fica evidente no VT de Isaquias Queiroz, abordado

anteriormente, e no VT da atleta Yane Marques. Bassan inicia a reportagem

contando o surgimento do Pentatlo, mas de uma forma mais elaborada e poética,

apresentando uma lenda sobre um soldado que enfrentou vários obstáculos para

cumprir uma missão.

PB: No vale do Pajeú, o sertanejo já viu de tudo. Mas, medalha brotando desse chão é a primeira vez. Essa história é de um esporte que surgiu bem longe daqui. Diz à lenda que, durante uma guerra na Europa, o soldado recebeu uma missão: entregar uma mensagem cruzando os campos de batalha. O soldado pegou um cavalo que não conhecia e saiu. Para atravessar as linhas de frente teve que combater usando o revólver e uma espada. Mas no meio do caminho um problema sério tornou a missão ainda mais difícil. O cavalo se feriu e o soldado teve que completar o percurso a pé e atravessando lagos e rios. Surgiu, assim, o pentatlo moderno. Cavalgar, correr, nadar, atirar e enfrentar adversários com a espada. Aqui, no sertão nordestino, surgiu uma brasileira capaz de fazer tudo isso. Para juntar cinco esportes em um só, Yane Marques carrega a força do sertão. Yane, o quanto daquela menina sertaneja ainda existe em você? (Jornal Nacional - Perfil Yane Marques - 12 de julho de 2016).

Além disso, uma das características da linguagem utilizada no jornalismo

literário é a sua estética e a descrição meticulosa. De acordo com Pena (2005, p.

176), “o texto literário pressupõe um compromisso com a qualidade, já que permite

a incorporação de elementos subjetivos e figuras simbólicas, deslocando a

linguagem do viés de mero instrumento para o centro das preocupações”. A

incorporação de elementos diferenciados, como rimas, metonímias, linguagem

figurada e metáforas está presente no VT 2, da atleta Yane Marques, visto que

elementos subjetivos expressam uma visão pessoal do autor. É importante ressaltar

que nesse VT, quem realiza as rimas não é o repórter e, sim, um gaiteiro que

declama uma poesia, tanto no início do vídeo, quanto no final.

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Gaiteiro: Ser campeã no pentatlo exige superação, mas entende muito disso quem bem conhece o sertão. Correr, nadar, atirar, usar cavalo e espada pra uma autêntica sertaneja isso tudo não é nada. Pois sertaneja é assim, faz de tudo e nada erra e ainda não abre mão de exaltar a sua terra. Yane para onde vai, leva Afogados com ela. Quem da terra se orgulha, também vira orgulho dela. Em Afogados da Ingazeira, onde o sol mais forte brilha, brilha o brilho de Yane a sua mais brilhante filha. (Jornal Nacional - Perfil Yane Marques - 12 de julho de 2016).

A emoção também está presente no jornalismo, tanto no gênero literário

quanto no esportivo. Conforme abordado no capítulo cinco, Ester (2015) afirma

que as narrativas literárias estão mais abertas à emoção, o que pode substituir a

frieza de um texto do jornalismo factual. As histórias abordadas na série foram

motivadas por um assunto factual, a realização dos Jogos Olímpicos no Brasil,

visto que os episódios foram exibidos um mês antes da abertura oficial do evento.

Os perfis são mais abrangentes, pois falam da história de vida dos atletas que

irão participar da competição, mas apenas foram elaborados por que o evento

estava para acontecer. Além disso, as histórias de vida por si só já provocam

emoções, pois apresentam frustrações, perdas, desafios e superações. E se

conectam com o público porque todos têm uma história parecida para contar.

Mas é importante ressaltar que a emoção está mais presente no jornalismo

esportivo, e em tempos de olimpíadas a emoção dos atletas é muito maior por ser

um evento tão grande. E um fato que evidencia isso é que o Brasil sediou as

Olimpíadas 2016, onde é a principal competição entre os atletas, visto que revela

os melhores do mundo em diferentes modalidades. E também sobre o espírito

olímpico que incentivou os esportistas.

Conforme levantado no capítulo cinco, Barbeiro e Rangel (2006)

esclarecem que todo jornalista esportivo deve ter consciência que as emoções

são contagiosas. Dessa forma (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p.45), “a emoção é

a própria alma do esporte. Ela está nos olhos do jogador que faz o gol do título,

na decepção da derrota, nas piscinas, quadras e pistas. Em nenhuma outra área

do jornalismo a informação e o entretenimento estão próximos”. Quando os

autores falam que a emoção está nos olhos do jogador e atleta, ela se manifesta

nas lágrimas e na voz embargada. Isso fica claro em dois VT’s; o primeiro de

Fabiana, quando retrata o caso de racismo que sofreu durante um jogo, onde sua

voz fica embargada.

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Cenas de arquivo da atleta jogando pelo Sesi em Belo Horizonte. A imagem troca para a entrevista de Fabiana, onde começa a chorar, em um vestiário, vestindo a camiseta do time do Sesi, vermelha, e ao fundo uma prateleira com troféus. As imagens se intercalam com as entrevistas do pai e da mãe de Fabiana. PB: Essa história poderia terminar nas lágrimas de felicidades no ginásio de Londres. Fabiana nunca poderia imaginar que um choro bem mais amargo estaria por vir. No dia 27 de janeiro de 2015, a bicampeã olímpica foi jogar em Belo Horizonte, como visitante pelo time do Sesi. No mesmo lugar onde aprendeu a jogar e amor o vôlei, ela demorou a acreditar no que estava ouvindo. FC: Olha a macaca! Joga a banana pra macaca. PB: A família estava na arquibancada e também ouviu. VC: Ah, machucou muito. MCC: Pobre de espírito, resumindo. FC: É uma coisa que fica na cabeça da gente. É difícil você vir e passar por isso. Acho que quem passa por isso um dia vai entender. VC: Não sabe que vai machucar a mãe o pai. E pedi pra Deus e graças a Deus, passou. Mas, no momento, machucou muito (Jornal Nacional - Perfil Fabiana Claudino - 19 de julho 2016).

O segundo é o VT do Serginho, quando relembra que era uma criança de

família simples e que na época (da reportagem) era considerado herói olímpico.

Cenas de arquivo da comemoração do ouro Olímpico de Atenas em 2004. As imagens se intercalam com a entrevista do atleta, que nessa parte começa a chorar. PB: Aí quando o Brasil ganhou de novo a medalha de ouro na olimpíada, o menino de Pirituba estava dentro da televisão. S: Eu me lembro como se fosse ontem andando de carrinho de rolimã, de ter arregaçado o dedo e ter cortado tudo o dedo. Depois as pessoas falaram que eu sou herói olímpico. Pelo amor de deus, eu não sou cara. Não sou mesmo. Sou o Sérgio filho da dona Didi (Jornal Nacional - Perfil Serginho - 26 de julho de 2016).

A construção narrativa percebida nas reportagens analisadas também

contribuem para reforçar junto ao público algumas representações sociais

construídas a partir das histórias de vida dos atletas. Abordagem que será

aprofundada no próximo subtítulo.

7.5 REPRESENTAÇÃO SOCIAL

O termo representação, abordado no capítulo cinco desta monografia, do

autor Erving Goffman (2004, p. 29), é usado para “se referir a toda atividade de

um indivíduo que se passa num período caracterizado por sua presença contínua

diante de um grupo particular de observadores e que tem sobre estes alguma

influência”. Quando o autor fala em uma presença contínua em algum grupo, fica

evidente que a representação se refere a uma pessoa, que exerce uma atividade

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e passa a ter influências sobre um pequeno grupo. Isso fica visível no VT de

Arthur Zanetti e de Yane Marques. Nos dois vídeos, um grafite em uma rua das

cidades é apresentado, com os desenhos dos dois atletas. No primeiro, Arthur em

três posições e, no segundo, Yane, segurando uma medalha de ouro. Com o

desenho é possível perceber a influência que esses dois atletas têm sobre as

pessoas de suas cidades, a ponto de suas imagens ilustrarem o local.

Figura 9 – Pintura de Arthur Zanetti

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

Figura 10 – Pintura de Yane Marques

Fonte: Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, 2016.

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No capítulo cinco desta monografia, foi abordada também a

fundamentação de Goffman sobre as representações. Elas significam que, “seu

desempenho tenderá a incorporar e exemplificar os valores oficialmente

reconhecidos pela sociedade e até realmente mais do que o comportamento do

indivíduo como um todo” (GOFFMAN, 2004, p. 41). Nessa fundamentação,

podemos dizer que o desempenho dos atletas, assim como a sua trajetória, são

utilizados para reforçar a representatividade deles perante seus públicos. O

desempenho de cada um foi tratado nos seis VT’s analisados, com imagens dos

treinos e ilustrados também pelas imagens de arquivo pessoal como as de outras

competições.

De acordo com Sá (1993), abordado no capítulo cinco, as representações

podem ocorrer em várias ocasiões e lugares. Dessa forma, a representação

ultrapassa as fronteiras de cidades e países. Esse aspecto fica bastante evidente

no VT de Sarah Menezes, quando ela retornou ao seu estado após a sua

primeira medalha de ouro em uma olimpíada, onde o aeroporto estava lotado de

fãs e profissionais da imprensa esperando para falar com ela. Na época dessa

premiação, a atleta também não era muito conhecida, apenas em sua cidade, e

com as vitórias, o estado e o país passaram a conhecer o seu nome, passando a

ser uma representação além da sua cidade.

PB: Quando Sarah voltou de Londres, no aeroporto também eram sete. E mais sete, mais sete. Mais sete, mais sete, mais sete. SM: Eu tomei um susto. O Piauí realmente todo parou. O aeroporto lotado. Eu até fiquei com medo de sair de dentro do aeroporto, porque a multidão era incrível. Cenas da entrevista se intercalam com imagens de arquivo das lutas de Sarah nas Olimpíadas de Londres em 2012. Expedito Falcão: Quando ela ganhou a primeira luta, poucas pessoas assistiram. Na segunda luta o Piauí começou a parar. Na terceira luta dela o Piauí parou. Na quarta o Brasil parou (Jornal Nacional - Perfil Sarah Menezes - 18 de julho de 2016).

A definição da professora Denise Jodelet a respeito de Representação

Social, apontada por Sá (1993), no capítulo cinco desta monografia, é baseada

no fato de que as “representações sociais são uma forma de conhecimento,

socialmente elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para

a construção de uma realidade comum a um conjunto social” (JODELET, 1989

apud SÁ, 1993, p. 32). Sendo assim, quando uma representação social é

baseada no conhecimento, ela pode ser compartilhada e dividida, onde é possível

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construir uma realidade comum entre todos. Isso fica evidente no VT de Sarah

Menezes, quando o repórter menciona que o estado da atleta, Piauí, passou a

ser reconhecido mundialmente com as vitórias dela. Principalmente pelo fato de

que o estado nunca havia apresentado uma atleta com alto rendimento como

Menezes.

PB: Com as vitórias de Sarah Menezes, o Piauí entrou no mapa do judô mundial. [...] EF: Ela era tipo, a seleção brasileira. Do Piauí. Estado sem retrospectiva de atleta de alto rendimento. É uma coisa que eu mais me orgulho. Por que a Sarah é uma atleta “made in Piauí”. Ela nasceu e treinou a vida inteira dentro do Piauí (Jornal Nacional - Perfil Sarah Menezes - 18 de julho de 2016).

Também foi abordado por Sá (1993) a importância da participação do

indivíduo, no caso desta pesquisa o personagem/atleta, na construção das

próprias realidades sociais. Nos VT’s de Yane Marques, Fabiana Claudino e

Isaquias Queiroz, a importância desses atletas na construção de uma realidade

nos seus grupos sociais é muito grande. No primeiro VT o repórter fala sobre as

meninas da cidade da atleta, onde estão se tornando Yane Marques: “PB: As

brincadeiras antigas, o esforço e o sorriso andam juntos. E assim, sem perceber,

aos poucos, as meninas vão se tornando atletas. Vão se tornando Yane

Marques” (Jornal Nacional - Perfil Yane Marques - 12 de julho de 2016).

No segundo VT, o treinador fala sobre a importância de Fabiana ser

escolhida capitã e passar uma confiança para as atletas mais novas.

PB: Assim como o Brasil em 2004, dessa vez foi à Rússia que teve seis chances de fechar o jogo com o último ponto. E não conseguiu. Brasil teve uma só, nas mãos de uma filha de negros, neta de índios, a Rússia conheceu Fabiana do Brasil. José Roberto Guimarães - (JRG): E hoje ela passa, para essas jogadoras, principalmente as mais novas, tudo o que significa vestir a camisa da seleção brasileira e representar o nosso país. [...] JR: Fabiana, ela foi escolhida pela equipe como capitã. Ela foi escolhida por unanimidade (Jornal Nacional - Perfil Fabiana Claudino - 19 de julho 2016).

E no terceiro VT, onde as crianças de Ubaitaba falam sobre querer ser

como Isaquias Queiroz. Essas falas descrevem indiretamente como é feita a

construção de uma realidade, em seus diferentes lugares.

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Camila Lima - professora de canoagem em Ubaitaba (CL): Só de ver o sorriso dele, ele chegar assim pra mim “tia, eu quero ser igual o Isaquias. PB: O futuro chega flutuando sobre o Rio de Contas pra quem é criança em Ubaitaba. E daqui alguns dias, quando Isaquias for pra água, o Brasil inteiro vai se transformar numa única, imensa, cidade das canoas (Jornal Nacional - Perfil Isaquias Queiróz - 25 julho de 2016).

Além disso, no capítulo cinco desta monografia, Moscovici (2005)

fundamenta que para que uma representação exista e seja reconhecida, deve

haver valores que lhes deem sentido. O francês também fundamenta que não é

apropriado declarar as representações como uma cópia do mundo ou um reflexo

dele, mas também porque as representações relembram o que está ausente

deste mundo, como pobreza, preconceito, dificuldades. São preceitos que não

são evidenciados no coletivo, mas aparecem para ressaltar a trajetória de

superação, característica presente em todos os VT’s analisados. Dessa forma,

elas constituem o mundo mais do que simulam. Isso fica visível no VT de

Serginho, na fala da mãe do atleta, onde ele continua a mesma pessoa, mesmo

que tenha passado dificuldades e se tornado um ícone no vôlei brasileiro.

Bernardinho: Ele sabe que nós não somos os favoritos, mas que vamos brigar. Ele está disposto a ser um dos soldados que vai estar naquela trincheira. DDS: Ele não sabe da imensidão que ele representa pro Brasil e pro mundo né. Ele continua sendo aquele moleque simples que saiu lá de Pirituba (Jornal Nacional Perfil Serginho - 26 de julho de 2016).

A série tinha como objetivo fazer com que o público criasse uma expectativa

sobre o desempenho desses atletas nas Olimpíadas 2016. Ela indica aqueles que

devem ser idolatrados, visto que o público não conhece nem metade dos atletas

que participaram das Olimpíadas. Os atletas são vistos como heróis, mas o

repórter e a produção escolheram alguns para se tornarem ídolos. O

desempenho de cada atleta em sua modalidade pode ser a justificativa para

Bassan contar a história de cada um. A construção narrativa evidenciou a falta de

oportunidade e a chegada ao auge com muito esforço e dedicação. A fidelização

com o público é criada a partir do apelo emocional e a identificação de

representação social de idolatria. E também com a expectativa de apresentação

de cada em suas respectivas modalidades durante os jogos olímpicos.

Além das definições de representação social, foi abordada no capítulo

cinco, a definição de Jornada do Herói. As autoras Samantha Diefenthaeler e

Miriam de Souza Rossini (2015) apontam que um personagem desenvolve um

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papel importante em um enredo. Elas transcrevem a definição de herói feita pelo

autor Christopher Vloger (2006, apud DIEFENTHAELER; ROSSINI, 2015, p. 3):

“a palavra herói vem do grego, de uma raiz que significa “proteger e servir”. [...] A

raiz da ideia de Herói está ligada a um sacrifício de si mesmo”. Dessa forma, as

autoras explicam a fala de Joseph Campbell, que o mito do herói passa por uma

jornada da alma, com dificuldades a serem ultrapassadas. A característica da

jornada da alma fica perceptível no VT de Sarah Menezes, quando o repórter

conta que a atleta quase nunca perdia, mas veio a perder em uma olimpíada.

Após esse episódio, ela se reergueu.

PB: Sarah aprendeu o verbo “perder” em português e em chinês. Na olimpíada de Pequim. EF: Com 18 anos. Muito jovem. Então, ela não aguentou a pressão. PB: Talvez por isso, quatro anos depois, quase ninguém acreditava. Cenas de arquivo do início de uma luta de Sarah nas Olimpíadas de Londres em 2012. [...]

EF: Quando ela ganhou a primeira luta, poucas pessoas assistiram. Na segunda luta o Piauí começou a parar. Na terceira luta dela o Piauí parou. Na quarta o Brasil parou. Cenas de arquivo da comemoração de Sarah do ouro olímpico de Londres se intercalam com a atleta caminhando em um terraço fechado em um prédio e olhando a vista da cidade. PB: Na quinta luta a medalha de ouro. Vinte e dois anos, melhor do mundo Piauí (Jornal Nacional - Perfil Sarah Menezes - 18 de julho de 2016).

No capítulo cinco desta monografia, também foi abordado conceitos de

Joseph Campbell (1990). O autor fundamenta que o herói vem do mundo

cotidiano e se aventura em uma região, onde encontra forças para obter uma

vitória decisiva. Posteriormente, o herói retorna da sua aventura para poder

transmitir seus conhecimentos aos seus semelhantes. Dessa forma “toda a vida

do herói é apresentada como uma grandiosa sucessão de prodígios, da qual a

grande aventura central é ponto culminante” (CAMPBELL, 1990, p. 168). O autor

relata que o herói transmite seus conhecimentos para os seus semelhantes, isso

fica evidente nos VTs de Fabiana Claudino, que foi escolhida para ser capitã do

time e de Serginho, que tinha decidido a se aposentar, mas resolveu voltar à

seleção para uma última olimpíada. São atletas que são exemplos para várias

gerações.

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A partir da análise de discurso, será possível responder a questão

norteadora e confirmar ou não as hipóteses da pesquisa nas considerações finais

desta monografia.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Jornalismo Esportivo e Jornalismo Literário. Dois gêneros, que juntos,

podem contar uma bela história. O que motivou a pesquisadora a desenvolver

este estudo foi a vinda dos jogos olímpicos para o Brasil. Oportunidade de

explorar a produção audiovisual esportiva. Neste sentido, a série Perfis, do Jornal

Nacional, exibida antes das olimpíadas de 2016, surgiu como estímulo para o

desenvolvimento da pesquisa.

Com isso, estabeleceu-se a questão norteadora: A série Perfis, exibida no

Jornal Nacional, se utiliza do jornalismo literário para reforçar a representação do

herói nas reportagens esportivas sobre os atletas olímpicos de 2016? A análise

de discurso realizada fez com que a pesquisadora percebesse que o Jornalismo

Literário reforça e evidencia a representação social do atleta nas reportagens

esportivas. O jornalismo esportivo, além de demonstrar a emoção e envolver os

espectadores, abre possibilidades para uma narrativa diferenciada. Outro fator

importante é que as olimpíadas são o auge do esporte mundial, e a conquista de

uma possível medalha aproxima o atleta de uma representação social. Em todos

os vídeos analisados, características de linguagem e narrativa literária estão

evidentes, visto que o repórter trabalha com uma narrativa mais detalhada, com

um toque mais subjetivo. Além disso, como foi abordado por Lima (2004, p. 174),

“os jornalistas sentiam-se então inclinados a se inspirar na arte literária para

encontrar os seus próprios caminhos de narrar o real”. Isso fica claro, visto que o

repórter escolheu a melhor forma de desenvolver os textos de cada reportagem.

A representação do herói pode ser reforçada a partir dos grafites de Arthur

Zanetti e Yane Marques. Com os desenhos é possível ver o tamanho da

influência que os atletas têm em suas cidades e a presença deles sobre um

grupo. Outro exemplo que confirma o reforço das representações sociais é o

retorno de Sarah Menezes para o Brasil, após ganhar a sua primeira medalha

olímpica, onde o aeroporto estava lotado de pessoas. Segundo Campbell (1990),

o herói vem do mundo cotidiano e se aventura em uma região, onde encontra

forças para obter uma vitória decisiva. Posteriormente, o herói retorna da sua

aventura para poder transmitir seus conhecimentos aos seus semelhantes.

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Para auxiliar na resposta da questão norteadora, foram levantadas três

hipóteses. A primeira delas é que o jornalismo esportivo reforça a representação

do herói nas suas reportagens. Nesse sentido, seguindo a linha da questão

norteadora, essa hipótese foi confirmada. O texto no jornalismo esportivo, focado

na trajetória do atleta, é mais elaborado e poético do que um texto objetivo de

uma reportagem hard news. Segundo Barbeiro e Rangel (2006), na reportagem,

a linguagem deve ser acessível e isso só vai acontecer se o jornalista realizar

uma grande pesquisa. Bassan dedicou tempo, para retratar a dedicação de cada

um dos atletas rumo ao ouro olímpico. Eles são tratados como heróis, devido aos

obstáculos que enfrentaram em sua jornada, para chegar ao auge, classificado

aqui como as Olimpíadas. Dessa forma, o desempenho de cada um, retratado em

todos os VTs, são reconhecidos pela sociedade. Como os desenhos de Arthur

Zanetti e Yane Marques em muros na rua; a construção de realidade sociais onde

as crianças querem ser como o canoísta Isaquias Queiroz; e as imagens de

arquivo pessoal e de outras competições para evidenciar a trajetória dos atletas.

A segunda hipótese é se a grande reportagem no jornalismo esportivo

consegue se aproximar do público através das histórias dos personagens. Essa

hipótese pode ser confirmada, visto que as reportagens analisadas possuem

mais de oito minutos em média, sendo classificada como grande reportagem. E

também por relatar a história de vida de uma pessoa. De acordo com Barbeiro e

Rangel (2006), a reportagem deve procurar descobrir qual é o impacto da

informação para o público. Dessa forma, quando se trata de trajetórias de atletas,

o público tende a se identificar com situações de superação, esforço e conquista,

pelo fato de que todos, em algum momento da vida, já passaram por algum

cenário que exigiu superação. Como por exemplo, Sara Menezes se dedicou

durante muito tempo e conseguiu chegar a Seleção Brasileira de Judô,

demonstração de dedicação e conquista. Fabiana Claudino treinava sozinha, e,

com esforço e superação, aprimorou o toque na bola de vôlei. Isaquias Queiroz

disputando pela primeira vez o campeonato brasileiro de canoagem evidencia o

esforço e conquista do atleta, mesmo com apenas 13 anos de idade.

A terceira hipótese afirma que a narrativa utilizada nas reportagens

esportivas envolve o espectador por meio do jornalismo literário. Essa hipótese

também pode ser confirmada nesta pesquisa. A reportagem oferece ao repórter

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a oportunidade de criar um texto mais detalhado, podendo minuciar a narrativa.

Dessa forma a narrativa nas grandes reportagens é diferente, mas ao mesmo

tempo específica para cada reportagem. Segundo Pena (2006, p. 14), “o

jornalista não está mais enjaulado pelo deadline [...]. O seu dever é ultrapassar

esses limites e proporcionar uma visão ampla da realidade”. Sendo assim o texto

apresenta uma renovação no estilo de escrita. Além disso, as informações são

relacionadas com outros fatos, onde Bassan fez diferentes abordagens, como no

VT de Isaquias Queiroz. O atleta possui duas casas, a de tijolo e a de água,

principal local de treinamento do atleta. Como também no VT de Arthur Zanetti,

quando o repórter conta que o pai do atleta construiu os equipamentos de

treinamento, dando suporte a Zanetti, não só no trabalho manual, mas também

no pessoal. É nesse contexto que a presença do jornalismo literário é reforçada,

visto que a narrativa jornalística se utiliza de poesia e elementos subjetivos para

contextualizar a história de vida do atleta.

Após as hipóteses, foram definidos os objetivos. Investigar se a série de

reportagens Perfis, do Jornal Nacional, sobre os atletas olímpicos de 2016,

ajudou a reforçar a representação do herói por meio do jornalismo literário é o

objetivo geral desta pesquisa. Durante o desenvolvimento desta monografia foi

possível alcançar sete dos oito objetivos propostos. Entre eles, conceituar os

gêneros de programas de televisão; definir o que é o jornalismo esportivo;

conhecer como é feita a produção de conteúdo de jornalismo esportivo;

caracterizar o jornalismo literário, e como ele pode ser apresentado na grande

reportagem; conceituar e caracterizar a grande reportagem; pesquisar sobre

representação social e analisar a série de reportagens Perfis, por meio da

decupagem. O objetivo que tinha o propósito de compreender a prática de

produção por meio de entrevistas com profissionais que elaboraram a série

Perfis, não foi atingido, pois não houve retorno das tentativas de contato com o

repórter Pedro Bassan.

A partir desta pesquisa foi possível perceber a importância da relação

entre o Jornalismo Esportivo e Jornalismo Literário, gêneros pouco abordados em

conjunto, uma vez que, em uma grande reportagem, os dois se complementam.

Esse trabalho teve um acréscimo muito importante na formação acadêmica da

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pesquisadora, não só por ser um assunto que a intrigou durante todo o processo,

mas também no preparo para a inserção no mercado de trabalho.

É preciso reconhecer que o Jornalismo Literário é pouco abordado na

academia e pesquisas acadêmicas, e ampliar os estudos neste sentido pode

qualificar ainda mais o papel do jornalista na construção narrativa das

reportagens audiovisuais, tendo como foco o receptor da informação.

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ANEXO A - GRAVAÇÃO DAS SEIS REPORTAGENS PERFIS DO JORNAL NACIONAL

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APÊNDICE A - PROJETO DE PESQUISA MONOGRAFIA I

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APÊNDICE B - CONTATO COM MATHEUS GUARESI VIA FACEBOOK

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APÊNDICE C - TENTATIVA DE CONTATO COM REPÓRTER PEDRO BASSAN

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