a quem pertence o céu
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Cristina Pape
A quem pertence o céu?
Fevereiro 2007
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Céu de brigadeiro e de pássaros
Brisa delicada ao cair da tarde
Reflexos cerúleos no espelho d’água
Flores
Amarelas
Rio carregava
Brisa
Subitamente ventania de céu
Prenunciando tempestade
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Chovia agora
As águas caiam
fluíam
Escorriam em rios novos criados à beira do outro
e
Ela debaixo do toldo nem se lembrava
O que fora ali fazer
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As flores carreadas
Amarelas coloriam o riacho
Janeiro
16 horas de um ano qualquer
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Águas e mais águas
Tantas as águas em matizes diversos
Quase impossível distinguir uma da outra
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Talvez uma em linha perpendicular
A outra escorria sobre seus pés
Enquanto outras simplesmente choviam
Ponto de observação
Como se locomover?
Nem as aves ousavam migrar
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Sentou-se à mesa do bar acima do rio
Não chegara a ser por ele tragado
aguardou
Tanto percebeu que aguardara
Se ainda eram 16 horas não tinha importância
O rio mudava sua cor
Movimento da luz indicando um céu furioso
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Quase noite
Céu de todos nos proteja de si próprio
A natureza liquefeita
Nada a garantir sua própria imagem
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Tempo
Por quanto a prendestes ali a observar as águas que desciam dos
morros
Pelas pedras em cachoeiras brancas
Quase sempre brancas?
O céu branco de nuvens
que
Na paleta sempre violeta misturado ao cinza
Porque então falar de cor
Nuvens de meu branco céu
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Águas em disforme de água
Em amorfo de granizo
Fluido de rio
Barulhentas cachoeiras que por caminhos corre
Esgueira-se
Escorre
Aventura-se naquela brancura de nuvens cheias de água.
Seus pés não obedeciam mais seus passos atolados nas botas
Brancas não brancas mais
Agora amarelas de terra que formava rios Barrentos
Qual a cor de sua chuva?
Raios, trovões e a tempestade causavam mais medo
Fascínio inicial
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Amarelo guarda-chuva minúsculo naquela natureza
Plenitude de montanha
Mais do que chuvas de verão
Dizia da cor do objeto poético pelo metal contido
Um para-raio
Aventurou-se sem o amarelo no céu de tempestade
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A água escorria em seu corpo
Por todas as pedras
Entranhas do mundo no alto da serra
Como se o branco do céu pudesse ser o dela
Misturou-se às águas que procuraram aquele canto do mundo
para cair
Sobre todos e tudo
Antes do mar
Tempo ruim molha a terra
Exala o cheiro de todos
Além desta água e chuva
De ventos e turbilhões
Tempestade deslocando pedaços de terra
Daqui para lá e de lá para mais lá
Contínuo movimento
Águas que ao mar arrastam também o barro
A cor que é só minha
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De que cor está o céu?
Por todas as cores passou a água
Naquele rio e o bar em que ela se sentara à mesa para esperar
Chuva chover
Não passava a sensação
Nada poder fazer
Realidade imóvel na imensidão mutante das águas
O céu,
Provedor do espetáculo fascinante,
A quem pertenceria?
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Passo a passo
Medita O jabuti
O animal continuava a caminhar Polegada por polegada
Como pedra a rolar
Se agora terra colorida O era pelo mesmo céu que a todos deveria proteger
Ali Mas só o jabuti carregava sua casa
As outras Pelas águas levadas
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Crédito fotográfico
Cristina Pape