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A Presença de Raymundo Faoro e Sergio Buarque de Holanda no Pensamento sobre Cultura Organizacional na Esfera Pública Brasileira

Autoria: Daniella Munhoz da Costa Lima, Paulo Emílio Matos Martins

Resumo:

Este ensaio buscou discutir a utilização do pensamento social brasileiro na produção acadêmica de administração pública. A discussão inicia-se com algumas reflexões sobre o conceito de cultura organizacional e sobre as relações entre cultura nacional e cultura organizacional. Depois são abordadas as principais ideias de Faoro e Holanda sobre aspectos da formação do Brasil. Após a exposição das ideias dos autores é feita uma análise da produção acadêmica nos últimos cinco anos, considerando a utilização do pensamento destes autores. O ensaio é finalizado com algumas reflexões sobre a forma de produção de conhecimento referente ao universo organizacional da esfera pública.

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1. Introdução Este ensaio foi elaborado considerando uma visão do ensaio teórico como instrumento de

reflexão crítica e possibilitador de idéias. Imbuído deste espírito de razão transgressora e considerando ser dever do pesquisador refletir sobre a forma como o conhecimento está sendo produzido, este trabalho parte de uma indagação inspiradora sobre a relação entre cultura organizacional e cultura nacional e sobre como esta relação é tratada pela academia, expressa na questão: é razoável que as análises da cultura organizacional em instituições da esfera pública brasileira prescindam das contribuições do pensamento social e das interpretações do Brasil?

O interesse dos estudos organizacionais pelas dimensões simbólicas do universo organizacional não é recente. Desde a primeira metade do século XX, estudos em administração registram autores que comentaram sobre a influência dos aspectos culturais na gestão das organizações (BARBOSA, 1996). Entretanto, é somente a partir da década de 1970 que a corrente da cultura organizacional experimenta um maior desenvolvimento no campo da teoria das organizações e passa a formar uma área disciplinar específica (JAIME JR, 2002). E, a partir da publicação em 1983 de edições especiais sobre o assunto nas revistas Administrative Science Quaterly e Organizational Dynamics, torna-se objeto cada vez mais freqüente de pesquisas acadêmicas (FREITAS, 1991; MASCARENHAS, 2002).

O tema cultura organizacional tem sido, assim, estudado com intensidade crescente no campo da administração. Apesar de todo interesse gerado pelo tema, os estudos têm-se restringido a poucos aspectos deste e, na sua grande maioria, não tratam profundamente de possíveis influências das culturas locais sobre a cultura das organizações.

Além disso, o enfoque dado ao tema pelo chamado mainstream é de clara inspiração funcionalista. Grande parte da pesquisa em administração sobre cultura organizacional tem uma abordagem pragmática, buscando uma instrumentalização do conhecimento, onde o objetivo é entender a cultura como elemento de gestão em proveito de uma maximização de resultados organizacionais (BARBOSA, 1996; JAIME JR., 2002; MASCARENHAS, 2002; ROSA; TURETA; BRITO, 2006).

Desse modo, apesar da discussão em torno do tema utilizar conceitos básicos da antropologia, o enfoque dos teóricos da administração é distante do enfoque antropológico. A abordagem antropológica da cultura não segue um caminho instrumental ou intervencionista e seus teóricos desenvolveram criativos estudos para a compreensão e interpretação de sistemas simbólicos. Enquanto que no campo da administração, o tema cultura organizacional é abordado por meio de estudos comparativos, esquemas classificatórios e metodologias de intervenção e mudança. O clássico trabalho de Hofstede (1991), um dos mais citados sobre o tema, é um exemplo desta abordagem comparativa. (MASCARENHAS, 2002)

Segundo Alcadipani e Crubellate (2003), que utiliza a perspectiva epistemológica pós-moderna para problematizar a produção nacional sobre cultura organizacional brasileira, esses estudos são fortemente influenciados pela pesquisa de Hofstede (1991), sem o devido questionamento dos pressupostos adotados pelo autor.

Assim sendo, apesar do pionerismo de Hofstede (1991), trata-se de um estudo realizado a partir de uma perspectiva de um “estrangeiro” numa empresa multinacional, que impõe sua visão de mundo e as dimensões que considera importantes como formas de análise e matriz de explicação. A adoção acrítica da classificação de Hofstede (1991) também é criticada pela perspectiva neocolonialista, que questiona esta homogeneização de elementos que são transpostos da realidade de um país específico para explicar a realidade de acordo com sua visão e a impõe sobre outros países e contextos (PRASAD; PRASAD, 2001).

O estudo do ambiente público é outra lacuna na produção acadêmica nacional sobre cultura organizacional brasileira. Considerando que a cultura organizacional seria condicionada à história e às estruturas de cada organização, seria razoável afirmar que as

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organizações públicas possuem especificidades em relação às organizações privadas (ZAGO et al, 2004). Entretanto, poucos são os trabalhos que abordam esta temática. Silva e Fadul (2008) realizaram um levantamento nos principais periódicos e encontros realizados pela ANPAD no período entre 1997 e 2007 e identificaram 440 artigos sobre cultura organizacional, sendo que apenas 47 (11%) destes trabalhos abordavam o setor público.

Neste sentido, é interessante notar uma postura de certa forma ambígua da academia. Pois, apesar da pequena produção acadêmica sobre a cultura organizacional do setor público, existe relativo consenso de que o sucesso de técnicas e reformas administrativas estaria diretamente ligado a esta cultura (CARBONE, 2000). Este ponto de vista é reforçado por vários autores brasileiros que, ao analisarem os resultados do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE) da Reforma Gerencial de 1995, apontaram a cultura organizacional das organizações públicas como o principal entrave ao processo de mudança (SILVA; FADUL, 2008).

É dentro desta perspectiva de trabalho, de considerar de forma crítica as contribuições dos estudos sobre cultura organizacional e sobre cultura brasileira no entendimento das organizações do setor público e de como a academia considera (ou desconsidera) as contribuições dos intérpretes do Brasil, que este ensaio foi desenvolvido.

O trabalho está organizado em seis seções. Inicialmente, são abordados aspectos relativos à cultura organizacional. Depois, a partir de contribuições de diversos autores são levantados traços da cultura brasileira e discutidos alguns considerados mais relevantes para o estudo em questão. Na seção seguinte é abordado o pensamento de Raymundo Faoro em seus principais aspectos. A cordialidade do brasileiro observado por Sergio Buarque de Holanda é tratada em outra seção. Em seguida, é realizada uma avaliação da utilização do pensamento destes intérpretes pela produção acadêmica nacional. O estudo é encerrado com uma reflexão sobre a forma de produção de conhecimento na área de administração pública à luz de tudo que foi exposto.

2. Cultura Organizacional A preocupação com a questão da cultura nas organizações já está presente desde o

movimento das Relações Humanas, mas a noção de organização vista como cultura só ganha força a partir da década de setenta, quando a cultura organizacional passa a constituir uma área disciplinar específica (TONELLI; ALCADIPANI, 2000).

De acordo com Barbosa (1996), durante as décadas de 1970 e 1980, o termo cultura organizacional recebeu inúmeras definições e abordou variados aspectos do universo organizacional, como valores, mitos, heróis, ritos, práticas e políticas administrativas e projetos de mudança.

Smircich (1983) tentou categorizar as pesquisas sobre cultura organizacional por meio da elaboração de uma tipologia. Nesta tipologia, a autora distingue duas grandes linhas de pesquisa: a primeira aborda a cultura como uma variável, como alguma coisa que a organização tem; e a segunda linha entende a cultura como a raiz da organização, algo que a organização é.

Entre as definições mais citadas e representativas desta abordagem funcionalista da cultura organizacional, entendida, assim, como variável que existe para tornar a organização mais eficiente na sua busca de resultados estão as definições elaboradas por Hofstede e Schein. (SILVA; FADUL, 2007). Para Hofstede (1991, p. 210) a cultura organizacional seria “a programação coletiva da mente que distingue os membros de uma organização dos de outras”.

Para Schein (1989), outra concepção representativa da abordagem funcionalista, a cultura organizacional é definida como um conjunto de postulados e pressupostos básicos sobre a ação coletiva, expressos como símbolos, mitos, tabus e ritos, que um dado grupo criou,

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descobriu ou desenvolveu no processo de aprendizagem para lidar com problemas de adaptação interna e integração externa, que são considerados válidos e ensinados para os demais integrantes do grupo.

Já, na segunda linha de pesquisa da tipologia de Smircich, a cultura é vista como metáfora e o mundo social-organizacional existe como um padrão de relacionamento e de significado simbólico criado por um processo de interação humana. De acordo com Fleury (1987, p. 10), “Esta linha deriva o seu conceito de cultura da antropologia, adotando a idéia de cultura como recurso epistemológico que permite enfocar o estudo das organizações como fenômeno social, como metáfora do organismo (...)”.

Pode-se perceber, assim, a profusão de correntes existente na área de cultura organizacional. Neste ensaio, parte-se de conceitos de cultura, que se aproximam da Antropologia Social, para traçar um conceito de cultura organizacional que traz uma abordagem mais ao nível da exploração dos significados. A cultura é entendida como implicando numa interdependência entre história, estrutura social, condições de vida e experiências subjetivas das pessoas e seria um conjunto de elementos em relações dialéticas de ordem econômica, social e simbólica (AKTOUF, 1994).

Desse modo, entre a multiplicidade de abordagens possíveis para o estudo da cultura organizacional optou-se pela perspectiva sócio-antropológica, que entende a cultura como metáfora e que o mundo social-organizacional existe como um padrão de relacionamento e de significado simbólico criado por um processo de interação humana.

3. Aspectos e Traços da Cultura Brasileira Após a análise de algumas abordagens e conceitos da cultura organizacional vistas na

seção anterior, serão abordados, nesta seção, aspectos específicos de estudos sobre a cultura organizacional brasileira.

Um dos autores pioneiros na análise da influência das culturas nacionais sobre a cultura das organizações foi Hofstede (1991). O autor pesquisou funcionários de uma multinacional em mais de 40 países com a pretensão de identificar diferenças nos sistemas nacionais de valores a partir de cinco dimensões: distância do poder, feminilidade versus masculinidade, aversão à incerteza, coletivismo versus individualismo, orientação para o curto ou para o longo prazo. No seu estudo, o Brasil é apontado como um país mais coletivista do que individualista, com elevada distância do poder, com predominância de atitudes voltadas para evitar incertezas e com leve predominância de características típicas da feminilidade.

Um dos pontos criticados do trabalho de Hofstede é sua visão da cultura organizacional como uniforme. McSweeney (2002) um dos principais críticos da obra de Hofstede, organizou sua crítica em quatro pressupostos básicos. O primeiro destes pressupostos seria, justamente, supor uma programação coletiva da mente, o que implicaria na premissa de uniformidade da cultura organizacional e de considerar que o pequeno grupo que respondeu os questionários poderia representar o todo nacional. McSweeney discorda desta premissa e afirma que o Hofstede teria desconsiderado toda uma literatura contraria a respeito

Apesar das críticas, o estudo de Hofstede foi uma forte influência na produção acadêmica nacional e na concepção de cultura brasileira desenvolvido no campo de teoria organizacional. Grande parte dos artigos que referenciaram este estudo buscava explicar as diferenças de estilos gerenciais por meio das diferenças nacionais destacadas por Hostfede.

Uma limitação desta produção acadêmica nacional baseada nos estudos comparativos de Hofstede, além do olhar “estrangeiro”, é a falta de problematização dos pressupostos que este autor assume sobre a cultura brasileira.

O estudo de Hofstede foi seguido, nas duas últimas décadas no Brasil, pelo desenvolvimento de uma série de trabalhos relacionando traços da cultura brasileira e cultura organizacional (CHU; WOOD JR, 2008; ROSA; TURETA; BRITO, 2006; MOTTA;

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ALCADIPANI, 1999; MOTTA; CALDAS, 1997; PRATES, BARROS,1997; FREITAS, 1997).

Alcadipani e Crubellate (2003), em levantamento realizado na produção nacional dos artigos publicados em periódicos e congressos nacionais durante a década de 1990, identificaram que grande parte destes trabalhos foi realizada como ensaio teórico e os traços culturais nacionais foram analisados desde suas origens históricas com base em autores consagrados do pensamento social brasileiro, como Sergio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Raimundo Faoro, Caio Prado Jr., Darcy Ribeiro e de antropólogos como Roberto DaMatta e Lívia Barbosa

Na maior parte destes trabalhos, os autores reconhecem a complexidade do tema cultura e justificam sua abordagem considerando o recorte de apenas alguns traços específicos a partir de critérios como a facilidade de observação, a sua influência dentro das atividades das organizações, entre outros. A escolha do traço mais relevante para análise de determinada situação também é um critério utilizado. Porém, o aspecto comum observado nestes trabalhos é a influência do traço cultural na dinâmica organizacional observada.

Para Freitas (1997), a cultura nacional seria um dos fatores de formação da cultura organizacional. Então, para este autor

Decifrarmos na organização o complexo “material-imaterial”, que forma a denominada “cultura da organização”, implica estabelecer uma interdependência entre esta “cultura de empresa”, em termo mais gerencial, e as estruturas sociais, a história, a formação de seu povo, o inconsciente impregnado no coletivo humano, as leis, a moral, enfim, todos os fatores formadores dos traços de seu povo. No caso brasileiro, de nossos “traços brasileiros” (FREITAS, 1997, p.41).

Em concordância com esta perspectiva, Prates e Barros (1997) desenvolveram um modelo denominado Sistema de Ação Cultural Brasileiro, onde demonstram como traços da cultura brasileira impactam na gestão organizacional. Assim, o personalismo, o paternalismo e o formalismo seriam traços que se entrelaçariam com outros, como concentração de poder, evitar conflito, impunidade, postura de espectador, lealdade pessoal e flexibilidade e estariam presentes, em menor ou maior grau, nas organizações brasileiras.

Entendendo que qualquer critério utilizado para definir o traço a ser abordado é uma escolha, neste ensaio escolheu-se abordar o patrimonialismo e a cordialidade. A justificativa para a escolha do patrimonialismo reside no fato deste trabalho considerar que a gestão de organizações do setor público pode ser analisada como refletindo propriedades das estruturas culturais, entendidas como produto histórico-social da sociedade brasileira (JUNQUILHO; MELO, 1999). Quanto à cordialidade, os autores entendem que este traço, na medida em que levanta as questões da mistura entre as esferas pública e privada e da extensão da estrutura de hierarquia e autoridade do engenho para o resto da vida em sociedade, está na origem de outros aspectos relevantes da cultura como o personalismo, o paternalismo e o formalismo ou jeitinho, tão mencionado por inúmeros autores.

A definição destes aspectos da cultura brasileira escolhidos para serem abordados neste trabalho – patrimonialismo e cordialidade-, por sua vez, remete diretamente a adoção da obra de alguns intérpretes do Brasil. Assim sendo, privilegiou-se a obra de Sergio Buarque de Holanda e Raymundo Faoro por terem sido os primeiros a levantarem os aspectos em questão e por os terem tratado com maior profundidade.

Na próxima seção será tratada a obra de Raymundo Faoro e suas contribuições para o entendimento da dinâmica organizacional do setor público.

4. O Pensamento Político de Raimundo Faoro Faoro pode ser classificado entre os pensadores que interpretam a história sob seus

aspectos estruturais, atribuindo papel explicativo a superestrutura representada pelo Estado. Faoro questionava, assim, a visão marxista de um passado feudal ainda não superado com a

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criação de uma burguesia nacional moderna que reduziria, então, o papel do Estado a mero executor dos interesses das classes dominantes. Ao invés disso, Faoro afirmava que o poder político era exercido em causa própria pelo grupo que dominava a máquina política e administrativa e derivava deste domínio seu poder, prestígio e riqueza.

De acordo com Comparato (2003), o conceito-chave de estamento foi emprestado de Weber por Faoro. Para Weber, a situação estamental seria uma situação de consideração social da qual gozam certos grupos de pessoas em situação de senhorio político tradicional e uma das modalidades desta situação seria justamente a estamental-patrimonial, em que o poder político é utilizado pelo estamento dominante.

Nesta abordagem, o Brasil pode ser entendido como uma nação que foi criada pelo Estado. Pois, a existência política do Brasil começou com a chegada do Governador-Geral Tomé de Souza em 1549, num momento em que não podia se considerar que existisse povo. Nas palavras de Lima (1981 apud COMPARATO, 2003, p. 333)

Foi-se vendo pouco a pouco – e até hoje o vemos ainda com surpresa, por vezes – que o Brasil se formara às avessas, começara pelo fim. Tivera Coroa antes de ter Povo. Tivera parlamentarismo antes de ter eleições. Tivera escolas superiores antes de ter alfabetismo. (...) Aspirara a potência mundial antes de ter a paz e a força interior. Começara em quase tudo pelo fim. Fora uma obra de inversão.

Neste contexto, o poder no Brasil foi dividido entre a classe dominante e a elite funcional governante, esquema este que permaneceu inalterado mesmo durante a República. Assim sendo, a política nacional-popular nasceu aberta à influência das elites tradicionais e da burocracia estatal e não possibilitou a diferenciação das classes e do povo, os setores subalternos, como um “corpo comunitário com vida própria” (VIANNA, 2009). Então, para a ideologia nacionalista seria impossível realizar suas promessas de emancipação, pois esta não estava orientada para romper a velha forma de Estado e tenderia a favorecer um rearranjo do poder estamental.

No ensaio Existe um Pensamento Político Brasileiro? Faoro mantém sua diretriz de análise sobre a reflexão da realidade sociopolítica brasileira no caráter dualista de nossa mentalidade, identificando as origens do atraso brasileiro e nossas ambigüidades e dicotomias na peculiaridade de formação do Estado brasileiro, como um legado do passado lusitano. Estes elementos já haviam sido previamente identificados pelo autor na sua consagrada obra anterior Os donos do Poder (1958).

Para responder a pergunta do título do ensaio (Existe um pensamento político brasileiro?), Faoro (2007), reflete sobre a afirmativa de que “se há um pensamento político brasileiro, há um quadro cultural autônomo, moldado sobre uma realidade social capaz de gerá-lo ou de com ele se soldar” (FAORO, 2007, p.29). Faoro (2007) começa a esboçar a resposta a esta pergunta afirmando que o pensamento político na sua origem é o pensamento português.

Faoro (2007) descreve o Renascimento em Portugal como fraco e cujo ímpeto reformador e revolucionário teria sido rapidamente esgotado. O “reino cadaveroso” não emancipou seu pensamento da Idade Média. O princípio de soberania popular não vingou e a crença na origem divina do poder, que implicava numa incondicional obediência ao príncipe, retardaria, em relação ao resto da Europa, a aceitação dos direitos do homem. Portugal apostou, assim, “todos os trunfos (...) na carta aleatória do comércio de trânsito” e desde meados do século XVI, “o povo, abandonando os campos e sem emprego, aglomerou-se em torno de mosteiros para viver de caridade. O Estado, promotor de favores e de riquezas, foi entregue, junto com a Igreja, às classes altas, à numerosa e empobrecida fidalguia.” (FAORO, 2007, p. 52)

Este Estado patrimonialista foi transplantado para o Brasil como herança portuguesa transmitida pela colonização. O liberalismo brasileiro não conseguiu alterar a estrutura do Estado e instituiu um Estado protetor de direitos, dado não tratar-se de um liberalismo como consciência do possível e sim, de liberalismo como tática absolutista. Então, as elites

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utilizaram o discurso do liberalismo para seus próprios fins, incluindo as massas nas reformas políticas e econômicas e excluindo as opções democráticas. Desse modo, a peculiaridade do pensamento político brasileiro foi tentar agregar o liberalismo sem ser adequadamente liberal e manter uma estrutura hierárquica desfavorável a alternativas democráticas.

Assim, a ausência de um liberalismo autêntico estagnou o movimento político e não permitiu a emancipação de uma classe da indústria nacional. O território democrático e participativo não foi desenvolvido, nem os direitos e garantias liberais o foram, e, a democracia não pode atingir o status de um valor permanente, ao invés, de meramente instrumental.

A incompletude que deu origem ao Brasil persiste no confronto das teses de modernização e modernidade. Faoro contrapõe as duas teses afirmando que o que se instaurou no Brasil foi a modernização, justamente o caminho que não levaria a profundas mudanças na estrutura do poder. A modernização feita de cima e sem o envolvimento de toda a sociedade não alterará a estrutura social, nem seus valores dominantes. Os atores do estamento podem se alterar, mas o fundamental para Faoro é que a natureza das relações estamentais não são alteradas.

O pensamento de Raymundo Faoro recebeu inúmeras críticas, questionou-se desde sua infidelidade ao embasamento weberiano do conceito de patrimonialismo, até se seria possível atribuir caráter estamental a sociedade brasileira. Uma das críticas feitas à obra de Raimundo Faoro é o caráter anistórico de suas idéias. Pois, apesar de identificar as raízes históricas do conceito de estamento, Faoro não considera a possibilidade de mudanças ou evolução neste conceito. Assim, para Faoro (1958, p.733) "De D. João I a Getúlio Vargas, numa viagem de seis séculos, uma estrutura político-social resistiu a todas as transformações fundamentais, aos desafios mais profundos, à travessa do oceano largo”. Outra importante crítica à interpretação de Faoro encontra-se na corrente que discorda do iberismo para explicar as peculiaridades da formação do Brasil e do Estado brasileiro.

Independente das críticas recebidas, a importância de Raymundo Faoro para o pensamento social brasileiro é inquestionável. Pois, Faoro representa o pionerismo de uma postura crítica, que denuncia as diferenças e peculiaridades das instituições no Brasil, o que, por sua vez, abre caminho para uma postura crítica em relação à importação de teorias formuladas com bases em contextos tão diversos do nosso.

Outro grande mérito da obra de Raymundo Faoro reside em tratar a questão ética da relação entre dominados e dominadores subjacente à análise da ação política. Faoro estaria orientado assim, para além de uma visão pessimista por uma preocupação ética com o alcance de direitos humanos universais ainda não atingidos nesta parte da América. Faoro poderia ser considerado, então, um autêntico educador político na concepção de Ricoeur, entendido como um intelectual que “busca exercer uma ação eficaz de educação e crítica política pelo pensamento, pela palavra ou pela escrita, intervindo nas transformações de seu tempo” (MENDONÇA, 1999, p. 93).

Após a exposição de algumas das principais idéias de Raymundo Faoro vistas nesta seção, na próxima seção serão abordados os aspectos centrais do conceito de cordialidade de Sergio Buarque de Holanda.

5. A Cordialidade de Sergio Buarque de Holanda Sergio Buarque de Holanda (1995) e Raymundo Faoro (2007; 1958) faziam parte do

grupo de autores nacionais da primeira metade do século XX, que estavam preocupados com a questão da formação do Brasil e como aspectos desta impactariam no desenvolvimento do país. Apesar de num primeiro olhar estes dois autores não costumarem ser enquadrados como próximos, dado que Holanda (1995) seria considerado como culturalista enquanto Faoro

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(2007; 1958) seria institucionalista nas tipologias disponíveis entre os comentadores do pensamento social brasileiro, suas obras apresentam importantes aspectos em comum.

Entre estes aspectos observa-se que ambos compartilham o empréstimo de conceitos weberianos para o desenvolvimento de suas teorias. Além disso, Holanda (1995) e Faoro (2007; 1958) atribuíram relevante papel à herança ibérica na formação da cultura nacional, os dois autores também se debruçaram sobre os aspectos da modernização e do desenvolvimento do país e os “entraves culturais” a esta modernização.

Assim, enquanto Faoro (2007; 1958) aborda o aspecto do liberalismo de fachada e argumenta que o Brasil apenas passou por um processo de modernização, ao invés de uma modernidade que levaria a um verdadeiro estágio de desenvolvimento e democracia. Holanda (1995) atribui parte destes descompassos da modernização a uma dificuldade de transposição de um modelo agrário, rural e baseado na cordialidade para um modelo industrial, urbano e baseado na civilidade.

O argumento central do livro Raízes do Brasil, segundo Hollanda (2003), é o de que o país atravessava uma crise de transição desde o século XIX de uma ordem tradicional para uma ordem moderna. Seria a passagem de uma modelo agrário e patriarcal para um modelo industrial e democrático. Os entraves que a estrutura colonial deixou como legados dificultavam esta ultrapassagem.

De acordo com Esteves (1998), a indagação sobre a possibilidade de convergência entre um ethos cordial e uma ordem racionalizadora atravessaria a obra de Holanda (1995) que busca a gênese deste ethos na influência ibérica durante o período colonial. Assim sendo, o autor inicia sua obra com um exame da mentalidade ibérica e desenvolve uma tipologia dos contrários para desenvolver os conceitos de trabalhador e aventureiro e semeador e ladrilhador, antes de apresentar o conceito de homem cordial.

A mentalidade ibérica seria caracterizada pelo desenvolvimento extremado da “cultura da personalidade”, que resultava de uma concepção personalista de autonomia da pessoa. Uma das conseqüências desta concepção aliada à ausência do princípio de hierarquia seria a dificuldade do desenvolvimento de qualquer forma de associação com base em interesses ou baseadas em solidariedades livremente pactuadas (AVELINO FILHO, 1990; SALLUM JR, 1999).

Quanto ao processo de colonização, teria predominado o tipo aventureiro entre os portugueses e os espanhóis (SALLUM JR, 1999). Enquanto o aventureiro buscava a compensação imediata, o trabalhador considerava imoral a concepção aventureira do mundo - de audácia, imprevidência e imediatismo - e valorizava o esforço metódico. Para Holanda (1995, p.18), “o que o português vinha buscar era, sem dúvida, a riqueza, mas riqueza que custa ousadia, não riqueza que custa trabalho’.

Holanda (1995) utiliza os tipos opostos semeador e ladrilhador para fazer uma caracterização dos sistemas de colonização dos portugueses e dos espanhóis. O ladrilhador representava a colonização espanhola, onde se observava uma valorização das cidades e preocupação com a urbanização, com a organização e com o planejamento. Os portugueses, por sua vez, não tinham ordem em suas colônias. Portavam-se a semelhança de semeadores que jogam as sementes ao acaso.

Essa despreocupação com a formação de cidades juntamente com o ruralismo e o patriarcalismo têm como conseqüência a formação do homem cordial. De acordo com Esteves (1998), a cordialidade seria um “padrão de convívio humano” que teria como modelo as relações privadas características do meio rural, patriarcal. Assim, o ambiente doméstico acompanharia o indivíduo mesmo quando este estivesse fora dele e o privado transbordaria para o público.

Nas palavras do próprio Sergio Buarque de Holanda, a cordialidade seria um dos aspectos mais marcantes do caráter brasileiro: “a lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade,

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virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro” (HOLANDA, 1995, p. 146).

Holanda mostra que a cordialidade é tão forte na sociedade brasileira que penetrou até nas relações comerciais, geralmente marcadas pela racionalidade e impessoalidade. Assim,

O quadro familiar torna-se tão poderoso e exigente que sua sombra persegue os indivíduos mesmo fora do recinto doméstico. A entidade privada precede sempre neles a entidade pública. A nostalgia desta organização compacta, única, intransferível, onde prevalecem necessariamente as preferências fundadas em laços afetivos, não podia deixar de marcar nossa sociedade, nossa vida pública, todas as nossas atividades. (HOLANDA, 1995, p. 50)

Para Prates e Barros (1997), a cordialidade associada ao personalismo dela resultante combinados com a concentração de poder resultariam no paternalismo, que, por sua vez, teria duas facetas: o patriarcalismo e o patrimonialismo. Pode-se perceber, então, a cordialidade como estando na origem de vários traços marcantes do caráter brasileiro, pois

A cordialidade parecia ser a condensação de um conjunto de elementos que haviam se plasmado ao longo de séculos e que se manifestavam agora no caráter do brasileiro. O privilégio da emoção sobre a razão era um dos aspectos que saltava à vista na observação das relações sociais e políticas no Brasil. Aqui, o prestígio pessoal se antepôs, na prática, ao princípio da isonomia e da cidadania. A indistinção conceitual entre o bem público e o bem particular estava na base de uma psicologia social do brasileiro, o que constituía grande empecilho para o estabelecimento da cooperação interna nacional. (HOLLANDA, 2003, p.157-158)

O destaque destes traços culturais é uma importante contribuição de Sergio Buarque de Holanda ao pensamento social brasileiro. Sua postura - original para época - de buscar o entendimento da formação do Brasil nos aspectos culturais, quando a intelectualidade estava debruçada sobre aspectos raciais também deve ser considerada.

Finalmente, a postura crítica mantida pelo autor deve ser destacada. Sergio Buarque de Holanda foi um crítico do academicismo de fachada que usava recursos como palavras difíceis, discursos rebuscados e citações em língua estrangeira e da subordinação à pensamentos estrangeiros e da importação de sistemas filosóficos e de ideologias políticas. (HOLLANDA, 2003).

6. Lembranças e Esquecimentos das Interpretações do Brasil na Produção

Acadêmica Nacional Depois de terem sido abordados aspectos ligados ao conceito de cultura organizacional,

aos traços culturais brasileiros e as idéias de Raymundo Faoro e Sergio Buarque de Holanda, cabe voltar-s e para a questão original deste ensaio. Assim, para poder avaliar se - é razoável que as análises da cultura organizacional em instituições da esfera pública brasileira prescindam das contribuições do pensamento social e das interpretações do Brasil?-, é necessário considerar a relevância da questão do patrimonialismo e do personalismo quando estudamos as organizações públicas brasileiras.

Nesse sentido, a resposta à questão colocada neste ensaio sobre a relevância da utilização do pensamento social brasileiro para o estudo da cultura organizacional passa por responder até que ponto a cultura nacional teria influência sobre a cultura organizacional.

Conforme mencionado anteriormente, vários autores abordaram esta relação entre cultura nacional e cultura organizacional. Para Freitas (1997), a cultura nacional seria um dos fatores de formação da cultura organizacional.

Barros e Prates (1997) corroboram esta visão com a elaboração do modelo Sistema de Ação Cultural Brasileiro, onde demonstram como traços da cultura brasileira como o personalismo, o paternalismo e o formalismo entre outros estariam presentes, em menor ou maior grau, nas organizações brasileiras.

Em relação ao setor público, o patrimonialismo, apresentado por Faoro como parte da nossa herança ibérica e fazendo parte da formação do Estado nacional, é apontado por

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diversos autores como entrave ou obstáculo a processos de modernização e racionalização do Estado brasileiro.

Assim sendo, pelo que foi exposto, parece ser relevante a consideração dos traços culturais brasileiros no estudo da cultura organizacional do setor público, o que, por sua vez, tornaria também relevante o estudo de autores clássicos do pensamento social brasileiro que trataram destes traços com tanta propriedade.

É necessário responder ainda a segunda parte da indagação inspiradora deste ensaio teórico – como a academia trata a obra dos autores do pensamento social brasileiro, no caso Raimundo Faoro e Sergio Buarque de Holanda?

Nesse sentido, Martins et al (2011) destacaram a baixíssima utilização deste pensamento na produção acadêmica da área de administração pública. Analisando vinte encontros, que englobam os encontros do EnANPAD no período de 1995 a 2010 e os encontros do EnAPG de 2004 a 2010, foi observado que os autores considerados intérpretes do Brasil receberam pouquíssimas referências. No período estudado, a participação destes autores considerados clássicos oscilou entre 0,3 e 2,2% do total das referências bibliográficas.

Verifica-se assim, que parte da indagação de como a academia trata o pensamento social brasileiro pode ser respondida com esquecimento ou obscurecimento, dado sua pequena participação como referencial teórico da produção acadêmica nacional.

Esta preocupação com a origem do referencial teórico utilizado na produção acadêmica, já foi manifestada anteriormente por autores de importantes meta-estudos sobre a produção científica nacional (JABBOUR et al, 2008; TONELLI et al, 2003; VIEIRA, 2003; VERGARA; PINTO, 2000).

A outra parte da indagação refere-se a quando este pensamento social é utilizado, de que forma a academia o faz. E para responder a esta indagação, este ensaio foi buscar no período de 2006 a 2020, nos anais da EnANPAD, devido a sua representatividade no Brasil no que se refere à divulgação da pesquisa científica em Administração, os artigos da área de administração pública que utilizaram as idéias de Raymundo Faoro e Sergio Buarque de Holanda.

Entre os 664 artigos dos cinco eventos analisados foram encontrados 15 artigos (2,3%) que faziam referências as obras de Sergio Buarque de Holanda e Raymundo Faoro, sendo que quatro deles (Bergue; 2008; Gattai; Alves; 2007; Valentim; 2007; Silva et al; 2006) citaram apenas o primeiro autor, dez deles (Nascimento; Zuquim; 2010; Imasato; Véras; 2010; Faria; 2009; Fadul; Silva; 2009; Candler et al; 2009; Teodósio; 2009; Cabral et al; 2008; Lustosa da Costa; 2008; Pieranti et al; 2007; Andriolo; 2006) apenas o segundo e um deles (Helal et al; 2008) citou ambos.

Em relação à utilização do pensamento de Sergio Buarque de Holanda, os trabalhos de Bergue (2008), Helal et al (2008), Gattai e Alves (2007), Valentim (2007) e Silva et al (2006) tiveram como referência Raízes do Brasil. Porém, a profundidade com que as idéias do autor são tratadas diverge bastante entre os trabalhos. Enquanto alguns trabalhos apenas o citam como referência para confirmar a sociedade brasileira como personalista, clientelista e patriarcal (HELAL et al; 2008; VALENTIM; 2007), outros trabalhos exploram mais os conceitos do autor como o aspecto de aventureiro (GATTAI; ALVES, 2007) e o estrangeirismo ou mimetismo do brasileiro que resulta em importação de tecnologias e conceitos sem reflexão crítica a respeito (BERGUE, 2008).

Apesar de nem todos os artigos estudados explorarem profundamente as idéias de Buarque de Holanda, pode-se perceber uma similaridade entre eles. Pois, há uma valorização do contexto histórico e cultural nos referenciais estudados e observa-se também a presença nos artigos de outros intérpretes do pensamento social brasileiro como: Octavio Ianni, Milton Santos, Caio Prado Jr, Darcy Ribeiro, Gilberto Freyre, Celso Furtado e Guerreiro Ramos.

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Outro ponto que deve ser ressaltado é que nenhum dos trabalhos mencionados tratou diretamente do conceito de homem cordial, considerado uma das maiores contribuições de Holanda para o entendimento do caráter nacional.

Em relação ao pensamento de Raymundo Faoro, a obra que serviu de base para a produção acadêmica da área de administração pública apresentada nos cinco eventos da EnANPAD de 2006 a 2010 foi Os donos do poder, que foi utilizada nos trabalhos de Nascimento e Zuquim (2010), Faria (2009), Fadul e Silva (2009), Candler et al (2009), Teodósio (2009), Cabral et al (2008), Lustosa da Costa (2008), Helal et al (2008), Pieranti et al (2007), Andriolo (2006). O artigo de Imasato e Véras (2010) além desta obra utilizou também A questão nacional: a modernização.

Assim como nos artigos que abordaram a obra de Sergio Buarque de Holanda, também foi possível perceber uma valorização do contexto histórico e social nos trabalhos que trataram do pensamento de Raymundo Faoro. Mesmo os trabalhos que não se aprofundam no pensamento deste último autor e o citam apenas para referenciar uma situação ou contexto histórico específico como Nascimento e Zuquim (2010), Teodósio (2009), Faria (2009), Lustosa da Costa (2008) e Cabral et al (2008) entendem este contexto como de um Estado marcado por práticas patrimonialistas, herança do período colonial e que este cenário coloca desafios adicionais para a gestão pública brasileira e para o desenvolvimento e implementação de políticas públicas, dado que estas “não podem ser consideradas como fenômenos descontextualizados de processos históricos de média e longa duração” (NASCIMENTO; ZUQUIM; 2010, p.1).

Fadul e Silva (2009, p.5), por sua vez, abordam o pensamento de Faoro para contestar o caráter de imutabilidade atribuído a cultura por este autor. Este ponto destacado por Fadul e Silva (2009) sobre a não possibilidade de mudança cultural é uma das principais críticas recebidas por Faoro pelo caráter anistórico de suas idéias, conforme foi mencionado anteriormente na seção 4.

Helal et al (2008) e Pieranti et al (2007), por sua vez, já tratam com mais profundidade as ideias de Raymundo Faoro. Os dois trabalhos desenvolvem o conceito de patrimonialismo e suas raízes históricas e utilizam-se também de outros autores do pensamento social brasileiro como Victor Nunes Leal e Celso Furtado.

Helal et al (2008) destaca que as relações patrimonialistas podem ser evidenciadas desde a escolha dos donatários das capitanias, que eram escolhidos entre os homens próximos e fiéis a Coroa e não entre os homens de negócios. Os autores apontam também para o aspecto de formação “às avessas” do Estado brasileiro. Andriolo (2006, p. 1) também aborda este relato de Faoro sobre a formação invertida do Brasil mencionando que “as estruturas administrativas da colônia precederam a população”.

Pieranti et al (2007) mencionam a formação do Estado brasileiro com os coronéis de Leal e o patronato de Faoro para falar da impossibilidade de separação entre administração e política. Assim, num país marcado pela sobreposição dos interesses privados aos públicos, não seria de se esperar que algo diferente acontecesse.

Outro tema importante da obra de Faoro e abordado pela produção acadêmica nacional é o de modernidade versus modernização. Faoro defende a tese de que o que ocorreu no Brasil foi um processo de modernização orquestrado pelas elites, pois a modernidade somente poderia ser fruto de profundas mudanças, com alteração da estrutura social e envolvimento de toda a sociedade. Os trabalhos de Imasato e Véras (2010), Candler et al (2009), Lustosa da Costa (2008) e Andriolo (2006) tocam neste tema.

Candler et al (2009) e Andriolo (2006) abordam um outro aspecto que de certa forma também é associado a modernidade que é a valorização ao estrangeiro. Segundo Andriolo (2006, p.1) “Faoro destaca que os donos do poder na sociedade local sempre valorizaram os modos de vida dos países tidos como referência em cada época (...), como forma de

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articulação com o mundo desenvolvido”. Então, o brasileiro associaria o ser estrangeiro a ser moderno e de boa qualidade e isto seria uma espécie de catalisador para a adoção de modelos oriundos do chamado Primeiro Mundo. Candler et al (2009) corroboram esta visão de valorização do estrangeiro e acrescentam a questão de “colonização epistemológica”, na medida em que as elites locais ajudariam a perpetuar o status de superioridade do conhecimento eurocêntirco em oposição ao atraso local.

Finalmente, apesar de nem todos os artigos estudados explorarem profundamente as idéias de Faoro e Holanda, percebe-se nos trabalhos analisados uma valorização do contexto histórico e cultural nos referenciais estudados e observa-se também a presença de outros intérpretes do Brasil como: Victor Nunes Leal, Octavio Ianni, Milton Santos, Caio Prado Jr, Darcy Ribeiro, Gilberto Freyre, Celso Furtado e Guerreiro Ramos.

7. Considerações Finais

Resgatando o propósito inspirador deste ensaio de servir como instrumento de reflexão crítica, o presente trabalho teve a pretensão de lançar luzes sobre a produção acadêmica nacional sobre cultura organizacional na Área de Administração Pública, problematizando a questão da utilização do pensamento social brasileiro.

Partiu-se assim, de uma primeira indagação sobre a possibilidade de tratar a cultura organizacional do setor público prescindindo do pensamento social brasileiro. Para ser respondida, esta indagação foi dividida em duas partes: a) como se dá a relação entre cultura nacional e cultura organizacional; e b) como a produção acadêmica nacional da área de administração pública está utilizando as contribuições de Raymundo Faoro e Sergio Buarque de Holanda.

A relação entre cultura nacional e cultura organizacional é vastamente demonstrada na literatura (FREITAS; 1997; PRATES; BARROS; 1997). Além disso, o próprio conceito de cultura organizacional adotado na perspectiva sócio-antropológica torna impossível não considerar as questões relativas ao contexto histórico e social, dado que a cultura é entendida como implicando numa interdependência entre história, estrutura social, condições de vida e experiências subjetivas das pessoas e seria um conjunto de elementos em relações dialéticas de ordem econômica, social e simbólica (AKTOUF, 1994). Não seria razoável assim, tratar do universo organizacional do setor público sem considerar traços culturais brasileiros como o patrimonialismo e o personalismo e seus impactos na dinâmica organizacional.

Quanto ao uso que a academia tem feito do pensamento destes intérpretes do Brasil, o quadro continua um pouco sombrio. Não foi objetivo deste estudo realizar levantamento bibliométrico, mas mesmo assim foi possível verificar que a utilização deste pensamento é efetivamente muito baixa, pois em 664 artigos pesquisados apenas 15 (2,3%) citaram um dos autores estudados.

O incômodo causado por este quadro é fruto do pressuposto dos autores deste trabalho de que as referências bibliográficas utilizadas são um indício da importância atribuída pelo pesquisador ao contexto brasileiro e ao seu condicionamento acrítico a proposições teóricas elaboradas com base em contextos diversos da nossa realidade.

A análise dos trabalhos, porém, mostrou a riqueza de possibilidades de aplicação das idéias dos intérpretes do pensamento social. Com temáticas que tratavam desde reforma do Estado e governança, transposição de tecnologias, inovação, confiança, reciclagem e até da construção de Brasília, os artigos abordaram aspectos como o patrimonialismo, a modernização e valorização do estrangeiro de Faoro (2007; 1958) e o personalismo, o aventureiro e também o estrangeirismo de Holanda (1995).

É importante observar que as idéias destes autores ainda podem ser mais profundamente exploradas. O conceito de estamento de Faoro (1958) praticamente não é abordado. Como se tratam de artigos da área de administração pública, é razoável supor que o conceito de

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patrimonialismo seja predominante entre as citações. Porém, seria de se esperar também que abordagens mais críticas e reflexivas sobre a administração pública mencionassem a questão do estamento, entendido como uma “elite burocrática” que tem entre suas principais preocupações manter a ordem estabelecida e conseqüentemente seu poder de influência na mesma. O conceito de homem cordial, considerado central na obra de Sergio Buarque de Holanda também não é abordado. Este conceito poderia ser de grande utilidade no estudo da realidade organizacional para entender implicações de características como o personalismo e o jeitinho, por exemplo

Outro aspecto que chama a atenção nos artigos analisados é a crítica à importação de teorias e modelos sem a devida reflexão prévia. Este estrangeirismo era apontado (e criticado) por Faoro (1975) e Holanda (1995). Além do trabalho de Candler et al (2009) que fala explicitamente de colonização epistemológica, Imasato e Véras (2010), Bergue (2008) e Andriolo (2006) abordam em seus trabalhos a questão da valorização do estrangeiro.

Uma constatação adicional que emerge deste trabalho é a inferência de que o “esquecimento” dos intérpretes clássicos do Brasil não seria fortuito, e sim deliberado. Refletindo sobre a questão de que praticamente todas as menções às ideias destes autores ocorreram de forma favorável, com exceção da feita por Fadul e Silva (2009), pode-se considerar que suas ideias seriam, então, plenamente aceitas? A inferência mais lógica seria admitir que as abordagens sejam favoráveis, porque as referências a estes intérpretes são feitas por pesquisadores que já estariam atuando como uma espécie de força de resistência, tentando retirar da obscuridade o que seriam importantes contribuições para a área da administração.

Como desafio aos pesquisadores, coloca-se, então, esta questão de atuar de forma aberta e ao mesmo tempo “resistente”, buscando uma maior visibilidade para autores “esquecidos” que possuem tão ricas contribuições para a compreensão dos fenômenos relativos ao contexto organizacional da esfera pública no Brasil.

Como sugestão de trabalhos futuros, o escopo de investigação poderia ser ampliado incluindo a análise do pensamento de outros autores do pensamento social brasileiro no período estudado de 2006 a 2010, como Celso Furtado e Octavio Ianni, que também abordam questões bastante pertinentes ao contexto organizacional da esfera pública. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: AKTOUF, O. O simbolismo e a cultura de empresa: dos abusos conceituais às lições empíricas, In CHANLAT, Jean-François (org.), O indivíduo na organização – dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas, 1994. ALCADIPANI, R.; CRUBELLATE, J. M. cultura Organizacional: generalizações improváveis e conceituações imprecisas. Revista de Administração de Empresas, v.43, n.2, p.64-77, 2003. ANDRIOLO, L.J. A Reforma do Estado de 1995 e o contexto Brasileiro. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 30, 2006, Salvador. Anais... Salvador: ANPAD, 2006. AVELINO FILHO, GEORGE. Cordialidade e civilidade em Raízes do Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais. v.5, n. 12. São Paulo, Fev. 1990. BARBOSA, L. N. H. Cultura administrativa: uma nova perspectiva das relações entre antropologia e administração. Revista de Administração de Empresas, v.36, n.4, 1996. BERGUE, S.T. A Redução Gerencial no Processo de Transposição de Tecnologia de Gestão para Organizações Publicas. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 32, 2008, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2008.

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