a monarquia unida de israel - rei davi

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A Monarquia Unida de Israel: rei Davi (aproximadamente 1000 à 961) A popularidade do rei Saul não era a mesma. No lugar do furor carismático, acometiam-no acessos de depressão (“um espírito maligno de Deus” – 1Sm 16.14-23), dos quais somente as melodias da música podiam tirá-lo e durante os quais ele atacava cegamente todos os que estavam a sua volta. Ele começou a suspeitar que seu carisma havia desaparecido. Contudo foi a popularidade do jovem herói Davi que finalmente levou Saul além dos limites do comportamento racional. Nossas fontes não nos permitem dizer como foi que Davi, pela primeira vez, despertou a atenção de Saul. Ele era um jovem de Belém, se dizia hábil músico (que inclusive tocava para acalmar, o então, rei Saul) e que logo ficou famoso por suas proezas, em particular pela morte do gigante Golias (1Sm 17.1- 18.5). Quando os novos feitos de Davi aumentaram de tal modo sua popularidade, ofuscando a do rei, Saul virou-se completamente contra ele, que não teve outra alternativa a não ser fugir para o deserto de Judá (1Sm 22.1), onde seus parentes se reuniram em torno dele, juntamente com rebeldes, fugitivos e pessoas oprimidas de toda espécie. Formou-se logo uma crescente violenta força de combate, que atacava os Filisteus sempre que se oferecia uma oportunidade (1Sm 23.1-5), esquivando-se continuamente para escapar às garradas de Saul. Mas sua situação se tornou insustentável. Encurralado pelos filisteus e Saul, junto a uma população cuja maioria o considerava um incômodo, Davi viu-se logo numa situação desesperadora. Então pegou seus homens e ofereceu seus serviços para Aquis, rei de Gat. O rei filisteu, encantado com essa reviravolta, recebe-o cordialmente e aceitou-o como vassalo. Ele esperava que Davi causasse o maior problema possível a Israel, mas Davi não era traidor, e, não desejando que seus compatriotas pensassem isso dele, continuou a fazer um jogo duplo. Com a morte de Saul, que tirou sua própria vida, durante uma grande investida dos filisteus ao longo da costa norte, em direção à planície de Esdrelon, e a incompetência de seu remanescente filho, Isbaal, ao governar Israel, Davi torna-se rei primeiramente de Judá em Hebron (2Sm 2.1-4). Isso aconteceu com o consentimento tanto dos habitantes de Judá, afinal de contas, ele era um deles, quanto dos filisteus, já que era seu vassalo. E sua ascensão ao poder acarretava certas características novas: (1) Davi era soldado experimentado, que devia muito de sua reputação a suas tropas pessoais, além de já

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Resumo da parte sobre a Monarquia de Davi, relatada na Obra de John Bright.Por Luiz Lacerdahttp://luizlacerda.com

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Page 1: A Monarquia Unida de Israel - Rei Davi

A Monarquia Unida de Israel: rei Davi (aproximadamente 1000 à 961)

A popularidade do rei Saul não era a mesma. No lugar do furor carismático, acometiam-no acessos de depressão (“um espírito maligno de Deus” – 1Sm 16.14-23), dos quais somente as melodias da música podiam tirá-lo e durante os quais ele atacava cegamente todos os que estavam a sua volta. Ele começou a suspeitar que seu carisma havia desaparecido.

Contudo foi a popularidade do jovem herói Davi que finalmente levou Saul além dos limites do comportamento racional. Nossas fontes não nos permitem dizer como foi que Davi, pela primeira vez, despertou a atenção de Saul. Ele era um jovem de Belém, se dizia hábil músico (que inclusive tocava para acalmar, o então, rei Saul) e que logo ficou famoso por suas proezas, em particular pela morte do gigante Golias (1Sm 17.1-18.5). Quando os novos feitos de Davi aumentaram de tal modo sua popularidade, ofuscando a do rei, Saul virou-se completamente contra ele, que não teve outra alternativa a não ser fugir para o deserto de Judá (1Sm 22.1), onde seus parentes se reuniram em torno dele, juntamente com rebeldes, fugitivos e pessoas oprimidas de toda espécie. Formou-se logo uma crescente violenta força de combate, que atacava os Filisteus sempre que se oferecia uma oportunidade (1Sm 23.1-5), esquivando-se continuamente para escapar às garradas de Saul.

Mas sua situação se tornou insustentável. Encurralado pelos filisteus e Saul, junto a uma população cuja maioria o considerava um incômodo, Davi viu-se logo numa situação desesperadora. Então pegou seus homens e ofereceu seus serviços para Aquis, rei de Gat. O rei filisteu, encantado com essa reviravolta, recebe-o cordialmente e aceitou-o como vassalo. Ele esperava que Davi causasse o maior problema possível a Israel, mas Davi não era traidor, e, não desejando que seus compatriotas pensassem isso dele, continuou a fazer um jogo duplo.

Com a morte de Saul, que tirou sua própria vida, durante uma grande investida dos filisteus ao longo da costa norte, em direção à planície de Esdrelon, e a incompetência de seu remanescente filho, Isbaal, ao governar Israel, Davi torna-se rei primeiramente de Judá em Hebron (2Sm 2.1-4). Isso aconteceu com o consentimento tanto dos habitantes de Judá, afinal de contas, ele era um deles, quanto dos filisteus, já que era seu vassalo. E sua ascensão ao poder acarretava certas características novas: (1) Davi era soldado experimentado, que devia muito de sua reputação a suas tropas pessoais, além de já ser senhor feudal. (2) Embora rei de Judá, Davi não era um chefe tribal. Sua autoridade se estendia sobre uma área que incluía, além de Judá, vários outros povos (1Sm 27.10; 30.14; Jz 1.1-21). Com o assassinato de Isbaal, não havendo ninguém mais para pretender à casa de Saul, o povo acorreu a Davi e, numa aliança solene, o aclamou rei de todo Israel (2Sm 5.1-3). Todo este incidente ilustra a tenacidade da tradição carismática. O que decidiu a favor de Davi foi o fato de que o povo via nele o homem em cujo espírito Iahweh descansava.

Os filisteus compreenderam perfeitamente que a aclamação de Davi constituía uma declaração de independência por parte de um Israel novamente Unido. E Isso eles não podiam tolerar, então, rapidamente organizaram um ataque imediato, do qual saíram derrotados. Como resultado desta e das batalhas subsequentes, a ameaça dos filisteus tinha acabado: eles estavam reduzidos à importância e obrigados a reconhecer a supremacia israelita (2Sm 8.12).

Livre dos perigos externos, Davi já podia voltar sua atenção para a consolidação interna de seu poder. Foi com isso em mente que, após alguns anos de governo em Hebron, ele se apossou da cidade jebusita de Jerusalém e para lá transferiu sua residência. Com esse ato, Davi não só eliminou o enclave canaanita do centro da região como também ganhou uma capital, onde poderia governar toda a nação. Jerusalém foi conquistada com as tropas pessoais de Davi (2Sm 5.6), logo, pertencia a ele (a cidade de Davi); e tinha uma excelente posição,

Page 2: A Monarquia Unida de Israel - Rei Davi

porque, além de estar localizada entre as duas regiões (tribos do norte e sul), não estava no território de nenhuma delas. A nova capital, incontestavelmente, serviu para elevar o governo a um grau acima da rivalidade das tribos. Mas o fato de Israel ser governado de uma capital de tradições não-israelitas e que era possessão pessoal do rei certamente representava um passo a mais no desligamento da antiga ordem.

Em todas as mudanças que introduziu, Davi sentiu bastante a força espiritual das velhas instituições de Israel. Isso pode ser observado pela decisão que tomou – não muito depois de ter-se estabelecido em Jerusalém – de transferir para a nova capital a Arca da Aliança do Senhor (2Sm 6), que se encontrava desprezada por todos já mais de uma geração. Ele construiu um tenda-santuário e designou novos sacerdotes (1Sm 22.20; 14.3). O significado deste ato não deve ser superestimado, pois era objetivo de Davi fazer de Jerusalém a capital política e religiosa do reino. Através da Arca, ele buscava unir o Estado recentemente criado à antiga ordem de Israel, como seu legitimo sucessor, mostrando-se como o novo patrono e protetor das instituições sagradas do passado. Foi um golpe de mestre. Isso deve ter contribuído mais do que se pode imaginar para unir o sentimento das tribos a Jerusalém.

Embora a bíblia relate somente a tomada de Jerusalém, Davi também conquistou outras cidades-estados dos cananeus que ainda existiam na Palestina. É provável que a maioria dessas cidades tenham sido tributárias ou aliadas dos filisteus e que, com a derrota destes, tenham transferido sua fidelidade sem resistência. Isso representou uma grande expansão do território de Israel. Foi realmente o término da conquista de Canaã. O nome de “Israel” representava agora uma entidade geográfica abrangendo praticamente toda a região. Numerosos canaanitas passaram a integrar a estrutura de Israel, mas não foram, talvez exceto em ocasiões isoladas, integrados pelo sistema tribal. Suas cidades-estados eram anexadas a Israel e seus governantes e população tornavam-se súditos da coroa. É evidente que isso significava mais um afastamento da ordem antiga (um reino constituído por tribos) e que o problema do ajustamento e do atrito com a cultura e a religião dos canaanitas assumiu com isso novas dimensões.

Page 3: A Monarquia Unida de Israel - Rei Davi

Quem era Davi?• Nascido em Belém (leste do Mar Morto, sul de Jerusalém)• Hábil Músico• Famoso por suas proezas

o Habilidoso guerreiroo (Morte do gigante Golias)

• Devido a perseguição de Saul, que se sentiu ameaçado pela popularidade do Jovem Músico-Guerreiro de Belém, Davi foge para o Deserto de Judá. Lá formou-se uma crescente e violenta força de combate formada por fugitivos, rebeldes e pessoas oprimidas de toda a espécie.

o É importante dizer que nesse período Davi, por pressão circunstancial, resolve se tornar vassalo1 do rei de Gate, enganando-o com informações de falsas investidas contra Israel, quando na verdade, estava fazendo papel duplo e até atacando outros povos e dividindo os despojos com Judá.

Ascensão de Davi ao Poder

• Davi e Isbaal: reis rivaiso Com a morte de Saul, que tirou sua própria vida, durante uma grande

investida dos filisteus ao longo da costa norte, em direção à planície de Esdrelon, e a incompetência de seu remanescente filho, Isbaal, ao governar Israel, Davi torna-se rei primeiramente de Judá em Hebron (2Sm 2.1-4). Isso aconteceu com o consentimento tanto dos habitantes de Judá, afinal de contas, ele era um deles, quanto dos filisteus, já que era seu vassalo. E sua ascensão ao poder acarretava certas características novas:

(1) Davi era soldado experimentado, que devia muito de sua reputação a suas tropas pessoais, além de já ser senhor feudal.

(2) Embora rei de Judá, Davi não era um chefe tribal. Sua autoridade se estendia sobre uma área que incluía, além de Judá, vários outros povos (1Sm 27.10; 30.14; Jz 1.1-21).

• O Fim de Isbaalo O Reino de Isbaal durou apenas 2 anoso Morreu assassinado por 2 oficiais

• Davi, o rei de todo Israelo Sem sucessores, Davi foi aclamado Rei por toda Israel.o Todo este incidente ilustra a tenacidade da tradição carismática. O que decidiu

a favor de Davi foi o fato de que o povo via nele o homem em cujo espírito Iahweh descansava.

A Segurança e a Consolidação do Estado

Ao Davi subir ao trono, os filisteus compreenderam perfeitamente que isso constituía uma declaração de independência por parte de um Israel novamente Unido. E Isso eles não podiam tolerar, então, rapidamente organizaram um ataque imediato, do qual saíram derrotados.

1 vas.sa.lo: Indivíduo dependente de um senhor feudal, ao qual estava ligado por juramento de fé e submissão; súdito, feudatário. adj 1 Diz-se do príncipe tributário de outro.

Page 4: A Monarquia Unida de Israel - Rei Davi

• A Nova Capital: Jerusalémo Depois de alguns anos em Hebron, se apossou de Jerusalém.o Jerusalém foi conquistada com as tropas pessoais de Davi (2Sm 5.6), logo,

pertencia a ele (a cidade de Davi);o Tinha uma excelente posição, porque, além de estar localizada entre as duas

regiões (tribos do norte e sul), não estava no território de nenhuma delas.o Estrategicamente acima de qualquer rivalidade entre as triboso De tradição não-israelitas + Propriedade particular = um passo a mais no

desligamento da antiga ordem.• O Traslado da Arca para Jerusalém

o Cariat-Jearim -> Jerusalémo Foi um golpe de mestre

Mais um passo para consolidar a imagem de Jerusalém como Capital política e religiosa

Davi mostrando-se como o novo patrono e protetor das instituições sagradas do passado.

Pode ter contribuído mais do que se pode imaginar para unir o sentimento das tribos a Jerusalém.

• Consolidação Posterior do Estadoo É provável que a maioria dessas cidades tenham sido tributárias ou aliadas dos

filisteus e que, com a derrota destes, tenham transferido sua fidelidade sem resistência

o Cidades-estados integravam a estrutura de Israel, mas não foram integrados pelo sistema tribal. Suas cidades-estados eram anexadas a Israel e seus governantes e população tornavam-se súditos da coroa.

o Isso significava mais um afastamento da ordem antiga (um reino constituído por tribos).

o Término da conquista de Canaã.

Page 5: A Monarquia Unida de Israel - Rei Davi

A Construção do Império

Com sua casa em ordem, Davi estava livre para atacar seus vizinhos e, com êxito, o fez.

• Guerra dos Amonitas: Intervenção dos Arameuso Operação complexa e difícil, porém, com êxito.o Durante essa operação, Davi possuiu Bate-Seba.

• A Conquista do Sul da Transjordâniao Moabe e Edomo Foram instituídos governadoreso Era uma província conquistada

• Conquista de Davi na Síriao São os Aramitaso Campanha como resultado de vingança por ter ajudado os Amonitas.o Muito lucrativa.

O Estado de Davi

• As dimensões e a Composição do estadoo Para os padrões modernos, a extensão territorial pode não ser muita coisa,

porém, para os padrões antigos, é respeitável.o Reino de Saul + Aram + Amon + Moabe + Edom

Page 6: A Monarquia Unida de Israel - Rei Davi

o Nova organização: Israel não era mais uma confederação tribal governada por um líder

carismático aclamado pelo povo. Complexo império organizado sob coroa. O centro desse império realmente era Davi e seu exército, não os

contingentes2 tribais.• Administração do Estado

o Pouco se sabe. No que se sabe, há oficiais principalmente para gestão militar.o A impressão que temos é que, apesar dos Governadores das províncias, era o

próprio Davi que administrava diretamente.

Últimos Anos de Davi

• O Problema da sucessão do Tronoo O novo Israel estava tão centrado na pessoa de Davi, que pensava-se que

somente um filho seu poderia governa-lo. Mas quem?o Muitas intrigas dentro da corte

Em parte, por negligencia de Davi.• A Rebelião de Absalão (2 Sm 13-19)

o Motivado pela impunidade do abuso do seu irmão com a princesa, sua irmã; pelo tempo que passou exilado, Absalão se preparou (durante 4 anos), e se rebelou contra Davi, que teve que fugir.

o Não houve golpe contra a Casa de Davio A rebelião foi sufocada e o próprios Absalão morreuo De todos os lugares de Israel vinham pessoas se desculparem com Davi e

restabelece-lo rei.• A Rebelião de Seba (2 Sm 20)

o Antes de Davi retornar a Jerusalemo Seba, um Benjaminita, possível parente de Saul, incita a tentativa de separação

do reino do Norte de Judá.o A campanha foi breve.o Seba fugiu para regiões longínquas do norte, onde foi assassinado por

cidadãos.o Demonstra fragilidade da União Reino do Norte + Reino do Sul

• A Ascensão de Salomão ao Trono (1 Rs 1)o Adonias dá uma festa e tenta se proclamar rei.o O profeta Natan e o Sacerdote Sadoc avisam Davi.o Davi ordena que Salomão, escoltado pelo exerxito) fosse sagrado Rei

imediatamente.o Duas observações:

Problema: Intriga de corte A palavra de Davi pesou, mas as tropas foram decisivas.

Velho padrão de Liderança quebrado: Salomão tinha sido aclamado, mas de forma falsa pelo povo.

Ele não possuía os mesmos dons carismáticos que os seus antecessores tinham.

2 Porção de homens que uma povoação pode fornecer para certos serviços públicos. Porção de homens armados que se destaca de um batalhão para qualquer diligência; destacamento.