a mina de são domingos (mértola, baixo alentejo, portugal...

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1 A Mina de São Domingos (Mértola, Baixo Alentejo, Portugal): actividade industrial moderna (1854-1966). Rui Jorge Narciso Palma Guita 1 Resumo Palavras-chave Indústria, mineração, trabalho A Mina de São Domingos (Mértola, Baixo Alentejo, Portugal) faz parte da província metalogénica de classe mundial conhecida como Faixa Piritosa Ibérica (FPI), uma região com 30 a 60 km de largura e 240 km de comprimento que se estende desde o rio Sado e Setúbal (Portugal) até ao rio Guadalquivir e Sevilha (Espanha) e se constitui como uma fonte decisiva de metais básicos (Cu, Zn, Pb, Sn, Ag, Au, Fe, Co, Cd, etc.) e de outros elementos como o enxofre (S). O depósito pirítico de São Domingos foi explorado em diversos períodos históricos, nomeadamente: durante vários séculos do primeiro milénio a.C. (período Oriental), durante o período que mediou entre o ano 14 a.C. e o ano de 395 d.C. (período romano), durante o período islâmico e durante o período delimitado pelos anos de 1854 e 1966 (período moderno). Esta comunicação procura caracterizar a actividade industrial moderna no couto mineiro de São Domingos, a sua implantação no território e o impacto sobre este, assim como a população operária mobilizada pelo empreendimento. 1 - Licenciado em Antropologia Social pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (Lisboa, 1988), mestre em Museologia Social pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia (Lisboa, 2006); coordenador da Fundação Serrão Martins [email protected]

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A Mina de São Domingos (Mértola, Baixo Alentejo, Portugal): actividade industrial

moderna (1854-1966).

Rui Jorge Narciso Palma Guita1

Resumo

Palavras-chave – Indústria, mineração, trabalho

A Mina de São Domingos (Mértola, Baixo Alentejo, Portugal) faz parte da província metalogénica de classe

mundial conhecida como Faixa Piritosa Ibérica (FPI), uma região com 30 a 60 km de largura e 240 km de

comprimento que se estende desde o rio Sado e Setúbal (Portugal) até ao rio Guadalquivir e Sevilha

(Espanha) e se constitui como uma fonte decisiva de metais básicos (Cu, Zn, Pb, Sn, Ag, Au, Fe, Co, Cd,

etc.) e de outros elementos como o enxofre (S). O depósito pirítico de São Domingos foi explorado em

diversos períodos históricos, nomeadamente: durante vários séculos do primeiro milénio a.C. (período

Oriental), durante o período que mediou entre o ano 14 a.C. e o ano de 395 d.C. (período romano), durante o

período islâmico e durante o período delimitado pelos anos de 1854 e 1966 (período moderno). Esta

comunicação procura caracterizar a actividade industrial moderna no couto mineiro de São Domingos, a sua

implantação no território e o impacto sobre este, assim como a população operária mobilizada pelo

empreendimento.

1 - Licenciado em Antropologia Social pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (Lisboa, 1988), mestre em

Museologia Social pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia (Lisboa, 2006); coordenador da Fundação Serrão

Martins – [email protected]

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1. Enquadramento institucional

Esta comunicação e a sua apresentação a O Mundo do Trabalho – Áreas Industriais e Comunidades

Mineiras são eventos que decorrem das funções profissionais que exerço como coordenador da Fundação

Serrão Martins. Esta tem por fundadores a Câmara Municipal de Mértola e a empresa La Sabina, a empresa

que obteve no século XIX a concessão para a exploração de cobre e enxofre no depósito pirítico de São

Domingos. A C. M. de Mértola e La Sabina contribuem de formas distintas para a manutenção da Fundação

e para a formação do seu património: a autarquia financia a operacionalidade da instituição e define a sua

linha de actuação através de uma maioria decisiva no Conselho de Administração (dois terços) e a empresa

cede à fundação, a titulo gracioso ou oneroso, itens patrimoniais propriedade sua e mantém uma posição

minoritária no Conselho de Administração (um terço).

Os estatutos da Fundação Serrão Martins foram publicados no dia vinte e três de Novembro de dois

mil e quatro, tendo sido lavrada escritura de constituição a folhas três do livro de notas para escrituras

diversas número Cento e Catorze – C, do Cartório Notarial de Almodôvar. Os artigos Quarto e Quinto

desses estatutos definem, respectivamente, os Fins e as Actividades previstos para a instituição:

Artigo Quarto

Fins

1. A Fundação prossegue fins sociais, culturais, artísticos, educativos, científicos, económicos visando a

elevação do nível sócio cultural e técnico do concelho de Mértola de harmonia com os princípios

tradicionais da região, promovendo o desenvolvimento socioeconómico e cultural da Mina de S.

Domingos e recuperando a sua tradição Mineira.

2. Além dos fins gerais mencionados no número anterior, a Fundação tem por fim especial assegurar a

manutenção e funcionamento regular do complexo da Mina de S. Domingos e Pomarão, tal como a

administração e o desenvolvimento do Património que lhe está afecto.

Artigo Quinto

Actividades

1. Para a realização dos fins a que se propõe a Fundação poderá promover e desenvolver as seguintes

actividades:

a)Actividades Turísticas e Culturais, nomeadamente:

Criação do Museu Mineiro;

Casa do Mineiro – Centro de Documentação;

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Promoção dos Percursos Turísticos na área envolvente;

Criação de um Parque Temático;

Criação de um site na Internet;

Organização de eventos Culturais, Desportivos e Gastronómicos;

Criação, elaboração de publicações sobre as “Memórias da Mina”, tais com outras, sob qualquer forma,

desde que relacionadas com a Actividade Mineira;

A criação de um Fórum Cultural, para a promoção de Iniciativas de ordem diversa, constituído por um

Auditório, Salas para a realização de Conferências, Workshops e Reuniões, tal como uma galeria de

Exposições, ou manifestações de qualquer outro tipo desde que contribuam para a realização dos fins da

presente Fundação;

b) Actividades de Desenvolvimento Social;

c) A Cooperação e o intercambio com outras Instituições congéneres nacionais ou estrangeiras no domínio

das suas actividades;

d) Realização de Pesquisas de índole histórico, antropológico e arqueológico;

e) Promoção do avanço cientifico e tecnológico associado aos problemas ambientais causados pelo

abandono da Mina de S. Domingos;

f) Quaisquer outras Actividades que se ajustem às finalidades e objectivos da Fundação. “

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2. Enquadramento geológico

A origem do depósito pirítico de São Domingos é em tudo semelhante à dos demais depósitos de poli

sulfuretos metálicos da Faixa Piritosa Ibérica (FPI): há cerca de 360 milhões de anos a actividade

hidrotermal submarina trouxe da profundidade geológica em fusão massas de água a muito elevadas

temperatura (300 a 400 ºC) e pressão, capazes de arrastar em solução grandes quantidades de sulfuretos

dissolvidos (principalmente o sulfureto de ferro ou pirite – FeS2, com quantidades menores de cobre, zinco,

chumbo, estanho, arsénio, prata, ouro, cobalto, cádmio, etc.) que, ao atingirem a superfície do fundo

marinho, libertam por precipitação os sulfuretos que não podem continuar dissolvidos num líquido muito

mais frio e menos denso. As zonas dos fundos marinhos onde ocorre este tipo de nascente termal

metalogénica tornam-se, com o acumular de precipitados, espessas massas mineralizadas ricas nos metais

referidos. A evolução geológica haveria ainda de criar a zona Sul de Portugal e fazer emergir a Faixa

Piritosa Ibérica do mar cheio de vulcões em que se formou mas os depósitos de pirite de Portugal e Espanha

estavam já formados e à espera dos primeiros mineiros. Cerca de 1700 milhões de toneladas geradas2, cerca

de metade já erodida ou já extraída, a Espanha cabem 90% das ocorrências e a Portugal 10%. Dentro dos

parâmetros da FPI, o depósito da Mina de São Domingos é de tamanho médio: cerca de 27 milhões de

toneladas de pirite cuprífera com teor médio de 1,25% de cobre (Cu), 1% de chumbo (Pb), 2% de zinco (Zn)

45-48% de enxofre (S)3, além de ferro (Fe), e arsénio (As). De forma diversa da maior parte da centena de

depósitos minerais da FPI, que comportam quase sempre duas ou mais massas distintas, o depósito da Mina

de São Domingos revelou ser uma única massa de pirite, distribuída entre a superfície e os 420m de

profundidade.

2 - ALVAREZ-VALERO et al, 2008: 1797. 3 - ALVAREZ-VALERO et al, 2008: 1798.

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3. Enquadramento histórico

A Mina de São Domingos é uma aldeia portuguesa e alentejana, situada no distrito de Beja, concelho de

Mértola e freguesia de Corte do Pinto.4 É, além disto, uma aldeia mineira criada a partir da exploração

moderna do depósito mineral que teve lugar, oficialmente, entre 1858 e 1966. O depósito pirítico de São

Domingos foi explorado antes da época moderna em, pelo menos, dois períodos históricos5: durante a época

romana (os numismas romanos apresentados por James Mason na Exposição Internacional do Porto em

1865 foram cunhados sob um conjunto de governações que começou em 14 d. C e terminou em 395 d. C.)6

foram extraídos cobre, prata e, provavelmente, ouro; durante o milénio anterior à ocupação romana foram

explorados7 os mesmos depósitos secundários

8 mas, provavelmente, apenas para a extracção de prata.

9

Durante o período islâmico poderá ter sido explorada qualquer uma das virtualidades mineiras,10

reconhecendo-se a presença islâmica11

e sendo certo que três moedas árabes foram anunciadas como parte

do espólio da mineração antiga em S. Domingos presente na Exposição Internacional do Porto em 1865.12

A

exploração moderna incidiu sobre a massa de pirite inalterada, buscando, essencialmente, o cobre e,

colateralmente, o enxofre.

A história moderna da Mina de São Domingos pode, em traços largos, ser resumida da seguinte forma.

Em meados do século XIX, a procura de metais estava em crescendo na Europa e na América do Norte. Por

essa altura (1850-51) foram publicados13

na Revista Minera por João Maria Leitão artigos referindo e

chamando a atenção para os vários depósitos piríticos portugueses explorados em épocas antigas. No último

dia do ano de 1852 foi exarada pelo governo português conhecido como de Regeneração uma nova lei de

minas que abriu à iniciativa privada a exploração dos depósitos minerais portugueses. Em 1853, um

4 - Quando o empreendimento mineiro moderno teve início, a linha divisória entre as freguesias de Corte do Pinto e Santana de

Cambas passava sobre o depósito mineral de São Domingos e sobre a aldeia mineira. Numa aparente tentativa de racionalização

das relações territoriais, em dado momento, os limites entre freguesias foram oficiosamente mudados, passando a Mina de São Domingos, aldeia e depósito mineral, a estar incluída apenas na freguesia de Corte do Pinto, ou seja, os limites desta freguesia

foram alargados para Sul, recuando os da freguesia de Santana de Cambas. No entanto, como observou Helena Alves (ALVES,

1997), esta mudança não chegou a ser oficialmente instituída pela República Portuguesa. 5 - Alguns autores admitem explicitamente uma mineração calcolítica em São Domingos: “Although the São Domingos orebody

was mined since the Calcolithic age, the main activity began in Roman times.” (ALVAREZ-VALERO et al, 2008: 1798, referindo

CUSTÓDIO, 1996). Não tendo sido ainda demonstrada, a possibilidade de mineração do depósito de S- Domingos durante o

Calcolítico é uma hipótese com altas probabilidades. Não parece crível que por toda a região decorresse a revolução mineira

calcolítica e o conspícuo chapéu de ferro de S. Domingos permanecesse intocado. 6 - MASON, 1865: 19-20. Concretamente, foram apresentados numismas cunhados nas épocas de Tibério (14-37), Calígula (37-

41), Cláudio (41-54), Nero (54-68), do Coliseu Vespasiano (70-80), de Domiciano (81-96), de Adriano (117-138), de Antonino

Pio (138-161), de Aurélio (161-169) e, após um hiato numismático de 137 anos, de Constantino Magno (306-337), Constâncio II (337-361), Juliano (360-363) e Arcádio, último dos imperadores romanos (383-395). 7 - CUSTÓDIO, 2002: 95 e ss. 8 - Depósito secundário é o que ocorre por alteração do depósito primário: a oxidação e a lixiviação da parte superficial do

depósito pirítico produz uma acumulação lateral de bolsas enriquecidas em minérios menos móveis ricos em chumbo, cobre, prata

e ouro (a jarosite é um destes minerais, alvo para a extracção de prata). Estas bolsas são depósitos secundários e foram estes

depósitos que ocuparam a actividade dos mineiros romanos e pré romanos. 9 - CUSTÓDIO, 2002: 99.

10 - MACÍAS, 1999. 11 - CUSTÓDIO, 2002: 101-2. 12 - MASON, 1865: 20. Estas moedas e outros achados árabes são referidos em CUSTÓDIO, 2002: 101-2. 13 - Segundo CRUZ, 1990, p.3, citando ALVES, 1996, p. 148, referido também por CUSTÓDIO, 2002, p.92.

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empresário de minas francês com actividade na FPI espanhola, Ernest Deligny, procurando alargar a

actividade além da região já conhecida de Rio Tinto, iniciou a exploração da zona fronteiriça espanhola e

encontrou os trabalhos antigos e os depósitos de pirite de Tharsis, Calañas e Vuelta Falsa14

, entre outros. No

ano seguinte, 1854, um italiano de nome Nicolau Biava residente no Alosno (Huelva, Espanha) e capataz

numa das minas dirigidas por Deligny, registou a descoberta de vários depósitos de pirite já explorados em

épocas antigas no território português. Especificamente, em 16 de Junho de 1854, Nicolau Biava requereu à

Câmara Municipal de Mértola o direito de descobridor legal das minas de S. Domingos 1 e 2, da mina da

Bicada (imediata aos dois depósitos de S. Domingos) e da mina do Cerro do Ouro, 5 km para Nordeste dos

sítios antes mencionados, junto à ribeira de Chança, fronteira entre Espanha e Portugal. Esta última mina

mais não é do que o prolongamento para território português do depósito de Vuelta Falsa (trata-se de um

pequeno depósito com 1 milhão de toneladas que se estende dos dois lados da fronteira e é cortado pela

ribeira de Chança).

No ano seguinte, prosseguindo a sua política de aquisição de direitos legais sobre depósitos minerais,

Ernest Deligny comprou15

ao seu capataz Nicolau Biava os direitos sobre os quatro depósitos que este havia

registado na região de São Domingos. Entre 1855 e 1857 a actividade mineira na Mina de São Domingos foi

tendo lugar, apesar de não estar legalmente habilitada, sob a égide de Deligny e Biava, consistindo no

desentulhamento e esgotamento dos trabalhos antigos. Para a exploração do depósito de S. Domingos,

aquele que apresentava as condições mais favoráveis e interessantes, foi constituída a empresa La Sabina,

tendo como sócios três cidadãos franceses: Ernest Deligny, Eugène Duclerc (banqueiro parisiense) e Louis

Descazes (aristocrata, duque de Glucksbierg, próximo da casa real francesa). Foi a estes três empresários em

nome individual que foi feita pelo estado português, em 12 de Janeiro de 1857, a concessão provisória da

mina de S. Domingos.16

Uma vez adquirido este direito, a empresa La Sabina arrendou a exploração da mina

de S. Domingos a uma empresa inglesa, entretanto constituída, denominada Mason & Barry. Para que a

relação entre estas empresas e empresários fique esclarecida convém acrescentar que um dos empresários

ingleses, James Mason, era engenheiro de minas, formado na École des Mines de Paris, trabalhou em minas

no Norte de Espanha antes de rumar à FPI e era, à altura, o director técnico das minas de Tharsis e Calañas,

cuja exploração Deligny havia já iniciado. Por sua vez, o sócio de James Mason na Mason & Barry, Francis

Barry, foi um aristocrata inglês que chegou a ser membro da Câmara dos Lordes britânica e cunhado de

Mason.

A partir do momento em que a mina de S. Domingos foi arrendada à empresa Mason & Barry o

empreendimento mineiro moderno começou a tomar forma. Os elementos necessários à mineração em

14 - DELIGNY, 1863 (1953/2001): 16 e ss. 15

- DELIGNY, 1863 (1953/2001): 18. 16 - BRAGA, 1861: 400. O texto exacto é: “A concessão definitiva da mina de cobre, sita na Serra de S. Domingos, foi feita por

decreto de 12 de Janeiro de 1857 a Ernesto Deligny, duque de Glucksberg e Eugénio Duclerc.” No entanto, o reconhecimento da

propriedade legal da descoberta da mina apenas foi concedido a Nicolao Biava por uma portaria de 7 de Outubro de 1857

(CUSTÓDIO, 1999: 265), nove meses depois.

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grande escala foram implantados no terreno e, em poucos anos, aquilo que hoje reconhecemos como os

vestígios mais antigos do empreendimento moderno foram instalados: quartéis para os mineiros (as

habitações, construídas pela empresa e arrendadas aos trabalhadores), oficinas e armazéns, equipamentos de

tracção, de esgoto e de extracção, vários equipamentos de carácter social (hospital, igreja católica, cemitério

protestante, teatro, clube recreativo, mercado, campo de jogos), o porto fluvial do Pomarão, indispensável ao

escoamento do minério, a linha do caminho-de-ferro ligando a mina ao Pomarão17

, além dos vários pólos

urbanos criados ao longo da linha férrea e dos pontos chave do empreendimento: a Moitinha, local da

trituração do minério, a Achada do Gamo, sítio privilegiado para as operações metalúrgicas, o Telheiro,

estação ferroviária, a estação dos Salgueiros, local de abastecimento e manutenção de equipamento

ferroviário circulante e, claro, a estação final do trajecto no Pomarão.

O empreendimento mineiro moderno interveio directamente sobre um território com a extensão máxima

superior a 20 km lineares de Norte a Sul (Cerro do Ouro ao Pomarão), com uma superfície superior a 6.000

hectares, alterou radicalmente 296 destes hectares, mobilizou mais de 20 milhões de toneladas de materiais,

produziu cerca 14,7 milhões de toneladas de resíduos acumulados em escombreiras de até 14 metros de

altura com uma dezena de materiais diferentes (pirite, gossan, escórias, cinzas, óxidos de ferro, rocha estéril,

lamas, entulhos, etc.)18

, cinco núcleos urbanos (de Sul para Norte, Pomarão, Telheiro, Achada do Gamo,

Moitinha e Mina de São Domingos), algumas centenas de hectares ocupados com matas de exóticas

(Eucaliptus spp. e Pinus spp.), outras tantas ocupadas com reservatórios de água doce e água ácida, tantas

outras esterilizadas pelo processamento metalúrgico. Indirectamente, a influência do empreendimento

mineiro moderno fez-se sentir no Algarve, na margem esquerda do Guadiana e em todo o Baixo Guadiana

devido a ser este a via de comunicação privilegiada. 1966 foi o último ano em que foi extraído minério da

mina de S. Domingos. Em 1968 a empresa Mason & Barry faliu com dívidas a trabalhadores e segurança

social. A empresa La Sabina retomou a concessão mineira e reconheceu como seus19

os bens imóveis

advindos da exploração da mina de S. Domingos, accionando o clausulado20

do contrato de arrendamento

que as duas empresas mantiveram desde o século XIX. Em 1984 a concessão mineira de S. Domingos viu

findar a validade.

17 - Nos primeiros anos, o minério extraído foi carregado até ao Pomarão em carroças puxadas por muares, na fase seguinte o transporte foi feito com animais puxando vagões sobre carris, numa fase posterior os vagões passaram a ter tracção por

locomotivas a vapor numa via estreita (a bitola 0,56 m, usada nos trabalhos internos, é uma possibilidade) para, finalmente, passar

a ser feito por locomotivas a vapor sobre uma ferrovia com a bitola de 3 pés e 6 polegadas (uma via estreita muito comum, com

1,0668 m). A transformação do traçado da primeira via estreita a vapor para a segunda implicou o adoçamento de curvas e

desníveis, sendo possível, hoje, encontrar ao lado da via mais recente os troços e obras abandonados do primeiro traçado. 18

- MATEUS et al, 2011: 137. 19 - Segundo Helmfried Horster (comunicação oral durante a reunião de apresentação do projecto REHMINE na Mina de São

Domingos, 6 de Maio de 2011, Centro Republicano 5 de Outubro), em 1972. 20 - Uma versão do texto do contrato foi transcrita em português e publicada por SEQUEIRA, 1883: 190-1. Existe no acervo

documental da Fundação Serrão Martins uma cópia manuscrita do contrato com a versão francesa de 1876.

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8

4. O mundo do trabalho

Antes de iniciar uma leitura do mundo do trabalho industrial moderno na Mina de São Domingos é

necessário adiantar alguns elementos gerais sobre a organização do empreendimento mineiro.

Primeiro, é preciso salientar que se tratou de um processo com muitas actividades diferentes e,

portanto, experiências laborais muito diversas, consoante a actividade exercida: trabalhar na extracção

em profundidade (contra mina) não equivaleu a trabalhar na extracção à superfície (corta) nem a

trabalhar no caminho-de-ferro ou na dragagem do Guadiana ou, ainda, no laboratório, no hospital ou no

cinematógrafo. Trabalhar como maquinista de locomotivas não foi o mesmo que trabalhar como

fogueiro, limpador de máquinas ou chefe de estação. Ser caldeireiro ou fundidor não representou o

mesmo que ser electricista, polícia ou carpinteiro, quer na experiência de vida, quer no salário, quer na

aprendizagem e na formação das relações de cada trabalhador com o grupo de trabalho e a sociedade

local.

Depois, é também importante recordar que, ao longo da duração da actividade (1854-1966), várias

formas de exploração e tratamento metalúrgico tiveram lugar, algumas em simultâneo com outras,

algumas em momentos distintos da vida do complexo mineiro: extracção à superfície e em profundidade,

metalurgia pela via seca (ustulação da pirite em teleiras ou em fornos), metalurgia pela via húmida

(dissolução da pirite, tanto à superfície, em escombreiras irrigadas, como dentro da mina, inundando

sectores já explorados e bombeando a água enriquecida em metais para a superfície), venda da pirite sem

qualquer tratamento excepto a trituração, venda da pirite após a lixiviação (após o tratamento pela via

húmida), venda de núcleos enriquecidos seleccionados após ustulação e lixiviação, produção de enxofre

em fornos (processo Orkla, a partir de 1932).

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9

Antes do início do empreendimento mineiro, a área do chapéu de ferro estava ocupada apenas por

um ermitério dedicado ao santo dominicano, no extremo da aba Sudoeste do cerro. No terço mais

oriental do monte pirítico estava uma zona conhecida como Curral do Concelho, sem que se saiba se

existia, à altura, uma estrutura para este fim ou se o topónimo alude um uso anterior do local. No

extremo oriental do cerro de São Domingos passava a estrada de Santana de Cambas para Corte do Pinto

e Espanha. No extremo Noroeste do chapéu de ferro, no barranco depois represado pela Tapada Pequena

(Represa nº3), estava localizado o Pego da Sarna.

O pego era conhecido e utilizado pela água sulfurosa drenada a partir do chapéu de ferro, muito

provavelmente pela galeria e vala de esgoto romana, reutilizada durante a exploração moderna. Eis a

descrição que dele foi feita em 1758 pelos párocos das freguesias de, respectivamente, Corte do Pinto,

Mértola e Santana de Cambas.

“ [23, 24] Meya legoa distante desta aldeya está hum pego cujas agoas curão os enfermos da sarna.

Chamace o tal pego de São Dominguos por estar próximo a huma ermida do dicto Santo que he da

freguezia de Santa Anna. Será prencipalmente por virtude do santo, mas a tal agoa tem sabor de

enchofa.”21

“23º. Se há na terra, ou perto della alguma fonte, ou lagoa célebre, e se as suas agoas têm alguma especial

qualidade?

Em distancia de pouco mais de duas legoas, dentro da freguezia de Santa Anna de Cambas, está hua ermida

de S. Domingos, e perto della há hum lago, ou pego de agoa, a qual lavando as pessoas sarnozas as cura do

seo mal, ou por virtude do Santo, a quem os lavados deixam as suas camizas, ou por natural virtude da

agoa, perto da qual estam humas covas, que mostram serem minas de ferro, enxofre e vitriolo, por cujo

mineral parece passar aquella agoa, como me informa o medico desta villa, e de que dará melhor conta o

paroco daquelle destrito.”22

21 - BOIÇA e BARROS, 1995: 47. 22 - BOIÇA e BARROS, 1995: 68.

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10

“ [1] Respondendo ao premeyro interrogatório digo que esta serra se chama serra de Sam Domingos.

[2] Ao cegundo digo que terá de comprimento hum quarto de legoa e o mesmo de largura e prencipia na

portela a que chamão das Ferrarias e acaba no pego do Servo.

[6] Ao sexto digo que no seu districto há hum pego que conçerva// agoa todo anno, que tem vertude pera

curar sarna assim há gente como aos gados, a que chamão pego de Sam Domingos por estar próximo a

hum ermida de Sam Domingos.

[7] Ao septimo digo que nesta serra ouve antigamente minas de metaes e de prata pelo que mostra asim em

varias covas que se achão na dita serra, como por outros signais que se devisão nela.

[9] Ao nono digo que junto da serra está huma ermida com a imagem de Sam Domingos, onde vão algumas

peçoas e juntamente para se lavarem no pego asima dito a que chamão pego da sarna ou de Sam

Domingos.”23

Depois de 1854, a pacatez, solidão e aridez do local sofreram grandes transformações. Nos primeiros

anos, dedicados à desobstrução dos poços e galerias antigas e ao esgoto da zona inundada (só os níveis

superiores à vala de esgoto romana estavam emersos), a população operária começou por ser da ordem das

cinco dezenas24

de trabalhadores, recrutados maioritariamente entre a população operária mineira da

província de Huelva (Andaluzia, Espanha)25

, já de si uma população heterogénea, contendo cidadãos e

súbditos de vários países europeus - ingleses, escoceses, galeses, italianos, franceses, alemães, belgas - além

da maioria espanhola26

e da componente local e regional portuguesa, da margem esquerda do Guadiana ao

Algarve.

A composição específica destes contingentes e a sua vinda de Huelva e do Andévalo para Portugal

foi ainda descrita por outro autor: “Das Minas de Tharsis, com início de laboração em 1853, saiem mineiros

para Portugal, numa corrida que se iniciara já em 1846. Em Aljustrel estabelecem-se primeiramente

espanhóis, em S. Domingos, Aljustrel e Grândola piemonteses (1854-55) em nome de Ernesto Deligny

(1819-1891).”27

A componente nacional, que se tornou maioritária quando o empreendimento industrial

23 - BOIÇA e BARROS, 1995: 79-80. 24 - CUSTÓDIO, 1999: 262. O relatório de Carlos Ribeiro fonte desta informação foi datado em 12 de Agosto de 1857 e refere: “

Os novos trabalhos d’exploração encetados ha pouco mais d’um anno, embora tenhão sido feitos com grande vigor empregando

50 operários diários …”. 25 - GUIMARÃES, 2004: 16. A versão consultada é o “Texto provisório – versão 0.0” apresentado ao VII Congresso da

Associação de Demografia Histórica (Córdova, 1 a 3 de Abril de 2004) disponível na rede digital global. 26 - BRAGA, 1861: 400. A nota 1 refere: “Os mineiros de Tharsis e de outras minas da provincia do Huelva a quatro e oito

leguas de S. Domingos vem ali pedir trabalhos, alem de que já concorrem bastantes mineiros portuguezes educados pela

empreza.” (grafia conforme o original tal como em todas as citações). 27 - CUSTÓDIO, 1999: 255.

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atingiu a fase cruzeiro, alguns anos depois, teve também origens diversas, tal como é demonstrado pelo

documento reproduzido no Anexo I.28

Em 1859 a média diária de operários empregados na mina foi 221 (mínimo de 101 em Janeiro e

máximo de 396 em Dezembro)29

, tendo sido retiradas 14.658 toneladas de pirite. A extensão de galerias

abertas orçava 815 metros. É útil conhecer a diversidade das formas como o trabalho era executado e

contratado. As relações contratuais para com prestadores de serviços exteriores são elucidadas nalgumas

passagens do relatório de João Ferreira Braga: “As obras subterrâneas são todas feitas por pequenas

empreitadas e no fim de cada mez são medidas e no dia 2 pagas. Quatro mineiros (dois de dia, e dois de

noite), não avançam n’um mez mais de 3 metros correntes de galeria com as dimensões 2 metros por dois

metros, e o preço por que tomam estes contratos é entre 24 e 30 duros ou 22$080 e 27$600 réis por metro

corrente, sendo por conta do empreiteiro a polvora, a illuminação e a deterioração das brocas e mais

ferramentas.”30

Sobre o transporte do minério até ao porto, que nessa altura era feito em carroças puxadas

por muares, diz-nos: “O mineral de S. Domingos é levado em cavalgaduras desde as praças junto à boca

dos poços ao Pomarão, porto de embarque sobre o Guadiana, próximo da foz do Chança. Começou este

serviço de transporte em 7 de fevereiro, e ate ao fim de dezembro empregaram-se 115:379 cavalgaduras

que levaram 685:333 arrobas de mineral. A distancia ao Pomarão é de 17 kilometros. O preço do

transporte por arroba foi nos primeiros mezes 50 réis; concertado o caminho passou a 40 réis. Actualmente

está a 50 réis, a fim de dar vasão ao mineral que está sobre as praças, chamando por este alto preço

remunerador cavalgaduras de pontos mais afastados. (…) O mineral levado ao Pomarão é posto sobre

grandes medas junto à margem esquerda do Guadiana e depois embarcado.”31

Como vemos por estes exemplos, a procura de força de trabalho para realizar os diversos processos

necessários ao funcionamento do empreendimento não redundou necessariamente em contratos de trabalho

28 - “1867, Copy of agreement signed by portuguese fitters in Lisbon, 22nd April” é um contrato de trabalho por seis meses para a

prestação de serviços de 3 oficiais e um aprendiz de serralheiro, lavrado em Lisboa por um contratador, João Rodrigues Blanco,

agente do Barão de Pomarão, James Mason.

29 - BRAGA, 1861: 400. 30 - BRAGA, 1861: 400. 31 - BRAGA, 1861: 401.

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num sentido estrito, ligando o trabalhador à empresa, podendo ser igualmente uma relação comercial32

a

preencher a lacuna: dois anos depois da concessão provisória o transporte era feito por carregadores externos

pagos à arroba e a escavação por empreitadas pagas ao metro. Pela mesma altura, João Maria Leitão redigiu

numa Consulta do Conselho de Minas sobre o relatório do Inspector-Geral das Minas que trata do jazigo

de Cobre de S. Domingos o seguinte: “A extracção faz-se actualmente por meio de sarilhos de mão a uma

profundidade média de 33 a 43 metros. É evidente que este estado de cousas não póde ser senão

temporário. Junto aos poços nº4 e nº5 já principiaram a construir dois malacates ou sarilhos de bestas. O

effeito util desta machina movida por quatro mulas boas, trabalhando doze horas, pode chegar nas vinte e

quatro de 6:000:000 a 8:000:000 kilogrammas. Portanto cada malacate póde elevar por dia de uma

profundidade de 75 metros umas 83 toneladas de 1125 kilogrammas, e por anno, trabalhando 300 dias,

umas 25:000 toneladas.”33

Sobre a forma como eram esgotadas as águas freáticas da mina redigiu algo que é, no que concerne

os modos técnicos adoptados, semelhante: “O esgoto é feito actualmente (Julho de 1860) no poço nº1 por

meio de duas bombas de duplo effeito. O corpo é de bronze e os tubos de gutta-percha para resistirem às

aguas vitriolicas. (…) Estas bombas empregam nas 24 horas 40 homens, que se revezam muito a miudo, e

que só vem a trabalhar 4 a 5 horas por dia, ganhando a 440 réis por ser o trabalho muito violento. O nivel

das aguas acha-se a uns 8 ½ metros por baixo da galeria de desague, e desce, ainda que lentamente, com

uma extracção que se pode calcular em 400 metros cubicos diarios.”34

Tal como para a extracção, estava já prevista a mudança para uma forma de esgoto mais barata

dentro do mesmo complexo técnico mas o autor não deixa de analisar a futura mudança de paradigma, da

tracção animal (uma eo técnica35

) para a tracção a vapor (uma paleo técnica): “A machina de esgoto movida

por mulas deve começar a funcionar em breve, o que fará baixar o nivel mais rapidamente e com menos

despeza. Ainda mesmo suppondo uma aflluencia de 1:000 metros cubicos a 50 metros debaixo da galeria de

desague, e um effeito util de 50 por cento na machina de vapor, bastam 15 a 16 cavalos vapor com um gasto

de uma tonelada diaria de hulha, que a 5$000 réis occasiona um gasto annual de 1:825$000 réis em

combustivel, o que, dividido por 100:000 toneladas, dá por tonelada 18 ¼ réis.”36

Em 1865 o empreendimento estava já instalado e a laboração seguia em bom ritmo, sendo

gradualmente implantadas formas de processamento industrial características do complexo paleo técnico

substituindo as formas próprias do complexo eo técnico (força humana e animal substituída pelo vapor,

carroças substituídas por vagões, caminhos por vias férreas, velas e candeias por iluminação eléctrica e

32 - Uma lista completa com os trabalhos entregues a empreiteiros durante o período 1868-1880 (gastos anuais entre 100 e 200

contos de réis) foi disponibilizada em SEQUEIRA, 1883: 154-7. 33

- LEITÃO, 1861: 529. 34 - LEITÃO, 1861: 530. 35 - Conforme a proposta de classificação de complexos técnicos de Lewis Munford (Técnica e Civilização, 1934), citado em

GUITA, 2006: 8. 36 - LEITÃO, 1861: 530.

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gasómetros, correios por telégrafo e telefone, processos manuais por mecanismos). O responsável pela

direcção da mina aproveitou o ensejo para mostrar a Portugal e ao mundo, na Exposição Internacional do

Porto, os progressos feitos e os vestígios da mineração antiga encontrados durante os trabalhos mineiros

feitos em S. Domingos. No catálogo que editou para a exposição, James Mason fez, entre outros, um resumo

da força de trabalho envolvida na construção da Mina de São Domingos: “É elevado o numero de pessoas

empregadas nos differentes serviços; a direcção technica, a administração, os trabalhos subterraneos e da

superficie, as differentes officinas, o caminho de ferro, e o serviço do porto do Pomarão, occupam hoje

perto de 900 pessoas. Entretanto este numero já foi mais elevado e subiu a 5:000 em quanto durou a

construção do caminho de ferro.”37

Em 1867 começou a escavação a céu aberto da Mina de São Domingos: “To diminish the cost and

facilitate the mining; to be able to increase rapidly the production, if necessary, and to allow the pulling out

of all the ore with less danger for the miners, it was undertaken in the year 1867, the cutting away of the

sterile earth covering the mass to the depth of 32 metres. This project was quickly put in execution, and is

to-day very much ahead; the surface of the ore has been already reached, and the work is at present carried

in the open air. The walls of the excavation were made in steps comunicating with the surface by tunnels,

and by these means work is being carried out in different steps at the same time, and there are employed

locomotives of 20 to 30 horse-power to bring out the dirt. The volume of earth taken out up to the end of

1875 is 2,134,772 cubic metres, at an expense of about £200,000, and the terrace made is used for planting

olive groves and grape vines and lately Eucalyptus globulus.” 38

Esta opção resultou na modificação radical da paisagem local (transformando-a, em grande medida,

no que é hoje) e no desaparecimento da maior parte da aldeia mineira original, construída sobre o chapéu de

ferro em moldes análogos aos que foram seguidos para a sua reconstrução, nomeadamente, com as ruas

formadas pelos quartéis dos mineiros alinhados em banda. O método de exploração a céu aberto não estava

contemplado no plano de exploração inicial mas acabou por vir a ser posto em prática, algo que,

37 - MASON, 1865: 11. 38.- MALHEIRO e SEQUEIRA, 1876: 70-71

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curiosamente, havia sido previsto por Carlos Ribeiro dez anos antes, em 1857: “ O projecto de exploração

adoptado pelo interessado é communicar os poços nº 4 e 5, S. Carlos e Sta. Barbara no Curral do Conselho

por meio de galerias abertas na parte virgem da massa metallifera, e preparar assim um campo de lavra.

Creio porém que este projecto será modificado no futuro, e (se) seguirá aquelle (da lavra em ceo aberto)

que já está adoptado para a mina de Tharsis na Provincia de Huelva, tanto por serem os mesmos

interessados e os mesmos engenheiros nestas duas minas, como por que as condições dos dois jazigos são

muito semelhantes.”39

Em 1876 a Mina de S. Domingos esteve presente na International Exhibition de Philadelphia com

exposição própria. Os diversos expositores e as suas colecções foram descritos num catálogo, sendo a mina

que nos interessa descrita sob o número 32 e o título Mine of “S. Domingos” – Cupreous pyrites.40

Por esta

altura a mina empregava 1500 a 2500 trabalhadores, consoante a necessidade e premência da actividade. O

porto do Pomarão podia carregar 1500 a 2000 toneladas por dia e era demandado por 400 a 500 navios por

ano, com capacidade entre 250 e 1500 toneladas. Sobre a Mina de São Domingos, aldeia, informa o catálogo

da International Exhibition: “The population of S. Domingos, founded by the enterprise, has at present 500

dwellings, a hospital and pharmacy where the wounded are cared for gratuitously, a church, a large

building wherein are the offices and also a public hall and a library, besides this large factories for the

construction and repairing of cars and maintenance of the locomotives, foundries, and blacksmith shops,

&c.”41

Além de um registo dos vestígios antigos encontrados no decorrer dos muitos trabalhos já

efectuados, por essa altura já acrescidos com a descoberta42

do conjunto de 10 rodas de elevar água de época

romana (um modelo de uma destas rodas foi enviado à exposição43

), os autores informam sobre o trabalho

na mina o seguinte: “ The excavating is done by contract at so much per cubic meter; the tools, gunpowder

and other necessary materials are supplied to the miners by the enterprise at cost price. The enterprise has,

at the same time, for the making and repairing of the tools, a certain number of blacksmiths, by contract, to

charge a fixed price for each article made or repaired; this price comprises only the actual labor, the

39

- CUSTÓDIO, 1999: 262. 40 - MALHEIRO e SEQUEIRA, 1876: 67-73. 41 - MALHEIRO e SEQUEIRA, 1876: 72. 42 - MALHEIRO e SEQUEIRA, 1876: 69-70. 43 - MALHEIRO e SEQUEIRA, 1876: 73 (item nº 37, “ Model of a Roman wheel ”).

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enterprise furnishing the work-shop, coal and other implements. The labor on the miners’ tools is paid by

themselves. ”44

.

As diferenças para com a situação de 1861 são óbvias. Outras diferenças podem ser encontradas face

à extracção e ao transporte: “ The extraction of the ore of the upper stories is made by locomotives of 30

horse-power, and that of the lower ones is made by a stationary steam-engine of 90 horse-power placed at

about 180 metres from the mouth of the tunnel that communicate with them. A second stationary engine

works the draining of the mine, transmitting the movement to a single-acting pump at a distance of 200

metres. ”45

O texto do catálogo para a exposição internacional de Filadélfia é-nos muito útil para conhecer

pormenores sobre o equipamento usado e um de fulcral importância é a bitola da via férrea em diferentes

serviços. O trecho seguinte descreve o material ferroviário usado nessa época em S. Domingos: “The

transportation of the ore to the landing place is done over a railroad three feet six inches wide by

locomotives built in Leith, in Scotland, of an average of 55 horse-power. The distance is about 17

kilometres, but in part of the way the traffic is automatic. The construction of this road has been very

difficult, with grades of 1:19 and curves of 50 metres of radius. It was necessary to have locomotives of

great strength and very short; the transport reaches from 150 to 200 tons. In 1875 there were employed in

this service eight locomotives and 400 cars; besides this, 15 locomotives were used in extracting the ore and

earth digging. ”46

44 - MALHEIRO e SEQUEIRA, 1876: 70. 45 - MALHEIRO e SEQUEIRA, 1876: 71. 46 - MALHEIRO e SEQUEIRA, 1876: 71.

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O assunto pode ser ainda melhor elucidado recorrendo ao catálogo de uma outra exibição, a

Exposição Nacional das Indústrias Fabris, promovida pela Associação Industrial Portuguesa em 1889:

“Transporte interior e extracção. – Este serviço, subordinado como todos os outros, à melhor economia, é

executado por differentes formas, segundo as condições em que tem de se fazer. Assim, para evitar tanto

quanto possível as baldeações do minério, assentam-se, sempre que a natureza dos trabalhos o permitte,

linhas ferreas definitivas ou provisorias de bitola igual à da linha ferrea exterior para que n’ellas circulem

os mesmos wagons, que são rebocados por locomotivas sempre que é possível. Onde porém o seu acesso é

difficil ou perigoso, nas manobras nas linhas de resguardo para a formação de comboios, no transporte de

wagons de esteril que descarregam por movimento de bascula, e nos trabalhos subterraneos, emprega-se a

força animal exercida por muares. Nos trabalhos subterraneos, cuja largura não permite o assentamento

desta linha, emprega-se uma outra de bitola mais estreita, 0m,56, em que wagonetes que transportam uma

tonelada, tirados por animais, ou empurrados por homens nos percursos mais curtos, transportam o

produto do desmonte ate as bocas ou camaras de extracção. Nos pontos dos trabalhos preparatorios da

lavra, em que nem estes mesmo podem circular, o transporte é feito em espartões às costas, ou em carrinhos

de mão ou padiolas. Casos ha tambem, embora raros, em que o minerio tem de ser elevado em espartões

pelas chaminés de um piso para o superior.”47

Em 1883 e no ano seguinte, uma pessoa que fiscalizara nos anos anteriores a actividade mineira no

distrito de Beja, Pedro Victor da Costa Sequeira, publicou na Revista de Obras Publicas e de Minas uma

Notícia sobre o estabelecimento mineiro de S. Domingos abrangendo o período entre 1868 e 1880. Durante

estes 13 anos considerados a mina ocupou diariamente uma média de 1320 trabalhadores.48

Em 1883, com a

mina na sua terceira década de actividade, Sequeira escrevia, elucidando a evolução da população mineira:

“Afora os poucos artistas inglezes, contratados pela empreza e que constantemente alli teem trabalhado,

encontram-se sempre maior ou menor numero de hespanhoes, que quasi todos trabalham como barreneiros,

por ser o serviço para que estão mais aptos e que melhor lhes agrada, e alguns, muito poucos, piemontezes,

reconhecidos ordinariamente como entivadores de prestimo. As outras nacionalidades teem sido sempre

47 - CABRAL, 1889: 71. 48 - SEQUEIRA, 1883: 230.

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representadas na mina por individuos que ali estacionam por tempo muito limitado, não sendo facil registar

a sua passagem. A permanência dos hespanhoes e piemontezes tambem se não póde considerar duradoura,

excepto para um numero muito limitado estabelecido definitivamente em S. Domingos; mas a proximidade

dos estabelecimentos mineiros hespanhoes contribue para que nunca deixem de aparecer no

estabelecimento de S. Domingos mineiros daquelle paiz, embora se revezem constantemente. A grande

maioria da população mineira é formada por algarvios e alemtejanos, vindo este últimos especialmente das

povoações vizinhas e das diversas localidades do Baixo Alentejo. Nos trabalhos da corta, onde se não

precisam conhecimentos especiais do serviço mineiro, abundam, quasi sempre, os algarvios, predominando

os alemtejanos em todos os outros serviços superficiais e subterrâneos. A população mineira de S.

Domingos, se é variável pelo facto da permanência irregular dos operarios estrangeiros, não o é menos

pela constante mudança do pessoal de nacionalidade portuguesa. Especialmente o mineiro, propriamente

dito, d’esta região do Sul do paiz tem uma tendencia notavel para ser nomada, e raras vezes se ajusta para

trabalhar n’uma mina depois de ter sido empregado alli em duas empreitadas seguidas.”49

E, acrescenta o autor noutra parte do texto, para melhorar as condições de salubridade pública, de

vida dos operários e de atractividade da mina: “Como medida hygienica a empreza mandou construir em

1878, á sahida dos tunneis de extracção, uma casa de banho para uso dos operarios, onde elles se lavam e

mudam de fato, terminado que seja o trabalho. (…) A empresa fornece tambem aos operarios empregados

nos trabalhos subterraneos, desde 1878, fato de excelente baeta, recommendado como conveniente para

aquelles serviços, e calçado proprio (tamancos) que melhor resista á acção corrosiva das aguas da mina,

filtradas através da massa.”50

A variedade de trabalhos e ocupações dos operários do complexo mineiro assim como o peso

específico de cada sector de actividade estão bem patentes no Quadro nº 6 da referida Notícia. Dos grupos

com maior peso para aqueles com o menor, temos: 505 trabalhadores na corta ($325 réis de salário diário),

178 trabalhadores à superfície ($308), 92 safreiros ($367) 42 almocreves ($363), 38 serralheiros e ajudantes

49 - SEQUEIRA, 1883: 245. 50 - SEQUEIRA, 1883: 224.

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($490), 31 maquinistas e fogueiros, 20 empregados na preparação mecânica ($160), 18 carpinteiros de

branco ($478), 18 pedreiros e ajudantes ($451), 17 limpadores de máquinas ($321), 17 abegões e

carpinteiros de vagões ($438), 17 cultivadores e assistentes ($473), 16 bombeiros ($500), 15 guardas e

polícias ($357), 12 empregados em serviços diversos ($411), 6 empregados na cementação ($200), 6

ferreiros e malhadores ($629), 4 torneiros ($585), 4 correeiros ($453), 1 fundidor ($907), 1 ajudante de

fundidor ($423), 1 funileiro ($520), 1 caldeireiro ($362), 1 ferrador ($576).51

É interessante notar a ausência de uma categoria como “mineiro” de uma lista como esta. Seria

certamente uma causa de indagação se não soubéssemos já que os trabalhos de escavação eram feitos por

empreitadas. A este respeito, Sequeira descreve a situação que já vimos outros autores caracterizar e

acrescenta alguns pormenores interessantes: “No desmonte, as ferramentas, rastilho, polvora, dynamite,

papel, azeite, são fornecidos pela empreza e pagos pelo empreiteiro, sendo-lhes depois descontada a

importância d’esse recebimento, na occasião da liquidação do trabalho feito. No desmonte a empreitada é

dada a tanto por metro cúbico; no arranque do mineral a descoberto, a tanto por tonelada, sendo os

waggons pesados na ponte-balança á sahida da mina.”52

Os trabalhadores da extracção estão, nesta lista,

incluídos sob os três itens iniciais: trabalhadores na corta (505), trabalhadores à superfície (178) e safreiros

(92). Esta lista não abrange, contudo, todos os trabalhadores sustentados pela empresa, deixando de fora um

conjunto decisivo, descrito noutro apartado do texto, como segue: “Todos os trabalhos technicos da mina de

S. Domingos são dirigidos, superiormente, pelo visconde Mason de S. Domingos. A superintendência na

execução desses serviços está hoje confiada na mina: a um empregado, chefe de todos os serviços technicos

e encarregado especialmente do tratamento metallurgico; a um empregado que dirige os trabalhos de

mineração, propriamente dita, subterraneos e superficiaes; a um empregado que dirige todos os serviços de

transporte e as officinas acessórias (serralharia, fundição, forjas, carpinteria, etc.). Cada um d’estes chefes

de serviço tem um ajudante para o auxiliar no desempenho das suas obrigações. O serviço technico

emprega ainda actualmente: um desenhador e o seu ajudante; um empregado especial para dirigir a

reparação e construcção de poços, assentamento e conservação de bombas de esgoto, reparação de

entivações, etc., etc.; um encarregado da pesagem de mineral e outros serviços de menor importancia; um

apontador geral dos trabalhos incumbido da distribuição dos quarteis aos operários; capatazes, olheiros e

guardas diversos. Em S. Domingos existem dois laboratorios para ensaios, um na mina outro na Achada do

Gamo; um salão para desenhadores e gabinetes para engenheiros, onde se encontram os aparelhos,

instrumentos e utensílios necessários para proceder a todos os trabalhos technicos de gabinete, de campo,

ou subterraneos exigidos por uma bem entendida direcção technica.”53

51

- SEQUEIRA, 1883: 249. 52 - SEQUEIRA, 1883: 252. 53 - SEQUEIRA, 1883: 193-4. Esta passagem foi, em grande parte, reproduzida por António Gião em 1923 (GIÃO, 1923: 9, sem

referência à origem) e é interessante verificar que tenha sido reproduzido o primeiro período de forma quase exacta (“Todos os

trabalhos técnicos da Mina de S. Domingos são superiormente dirigidos pelo engenheiro visconde Mason de S. Domingos.” é o

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Para termos uma ideia da evolução do uso da força animal, é útil compulsar a continuação da Notícia

sobre o estabelecimento mineiro de S. Domingos, editada em 1884: “Até 1868 o transporte e extracção de

entulhos da corta foi feito em carros e wagons movidos a sangue e só n’esse anno é que as locomotivas

tiveram ingresso nos trabalhos a céu aberto. A partir d’essa epocha, o motor animal foi sendo successiva e

completamente substituido pelo motor a vapor nos longos trajectos e apenas é empregado actualmente nas

manobras do material circulante, onde seria perigoso o uso de locomotivas.”54

O mesmo tipo de evolução

teve lugar face à remoção de blocos rochosos: “ Para remover as grandes pedras que se encontram no

interior da capa de estéril, que cobre a massa de mineral, pedras soltas de forma arredondada e de notável

pezo, comprou a empreza em 1871 um guindaste locomóvel com força necessária para elevar 5 toneladas; o

que facilitou notavelmente a extracção, porque essas pedras só podiam ser conduzidas para o exterior

depois de convenientemente partidas e reduzidas a pedaços que pudessem ser carregados à mão nos

wagons. O transporte interior nos trabalhos em construção no interior da mina faz-se em carrinhos de mão

e com espartões. Nos trabalhos subterrâneos o transporte interior propriamente dito, isto é, o transporte

através dos trabalhos preparatórios de lavra até ás bocas ou camaras de extracção, é feito em wagonetes,

que percorrem diversas linhas férreas de 0m,56 com rails de ferro de 13k,61 por metro corrente, puxados

por animaes e empurrados nos pequenos percursos pelos próprios trabalhadores. Esses wagons

transportam uma tonelada, teem como já dissemos rodas de ferro fundido, caixas de madeira e ferro, eixos

próximos e rodas independentes, a fim de poderem mais facilmente percorrer as curvas dos caminhos. São

descarregados próximo ás praças ou bôcas de extracção e o mineral é carregado á pá para o wagon que o

conduz à superficie.”55

fraseado de Gião) quando James Mason havia falecido 20 anos antes, em 1903. No entanto, convenhamos, Gião acrescenta algo

significativo ao original: por ele ficamos a saber que o tratamento metalúrgico estava, por essa altura, confiado a Frederick Rich, a

mineração a Francis Roserow (a grafia correcta do segundo nome seria Roskrow, tal como está escrito em RICH, 1919: 20 e 22) e

os transportes e oficinas a Arthur Brown. 54 - SEQUEIRA, 1884: 514. 55 - SEQUEIRA, 1884: 515.

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20

Os espartões56

são alcofas feitas de esparto e, tal como os candis do exemplo seguinte, são utensílios

usados há milénios na mineração ibérica, exemplos clássicos da presença das eo técnicas nos

empreendimentos mineiros modernos e antigos. Espartões e candis foram usados durante as épocas romana

e islâmica e são restos muito comuns nas minas exploradas nesses períodos, não sendo a Mina de São

Domingos excepção a esta regra.

Para um período uma década posterior, o já citado catálogo da Exposição Nacional das Indústrias

Fabris, realizada pela Associação Industrial Portuguesa em 1889, oferece-nos um panorama da iluminação

usada no interior da mina e dos métodos alternativos: “A illuminação nos trabalhos subterraneos é feita

pelos candis dos mineiros alimentados a azeite e custa 40 a 50 réis por candil e por posto de oito horas de

trabalho. Nas câmaras de extracção há lampiões fixos de petroleo e os trabalhos nocturnos na corta eram

até há pouco illuminados por pharoes constituídos por grandes lâmpadas de folha de Flandres em que, por

meio de grossas mechas, se queimava oleo de naphta, cujo baixo custo, 27 réis por litro, fazia com que fosse

adoptado este systema apesar de fornecer uma luz muito fuliginosa. Os direitos de importação com que este

oleo, assim como todos os que servem para illuminação, é tributado por legislação recente, tornam o seu

uso dispendioso e estão agora em experiencia comparativa vários apparelhos de illuminação especialmente

inventados no estrangeiro para tirar d’uma quantidade relativamente pequena de petróleo o maior poder

illuminante.”57

É com certeza elucidativo sobre a convivência de técnicas características de paradigmas diversos nas

actividades industriais em geral saber que no, à altura, empreendimento mineiro mais moderno e pujante do

país, o trabalho de mineração continuava a utilizar espartões e candis, repetindo os mineiros de S. Domingos

no fim do século XIX os mesmos gestos que os mineiros romanos fizeram com os mesmos instrumentos, tal

como muitos outros antes e depois deles.

56

- Na Mina de São Domingos, um dos muitos dichotes desdenhosos possíveis e imediatamente compreensíveis envolvia a

associação do espartão ao leito de nascimento do alvejado, retirando-lhe a dignidade social de nascer no hospital (da mina,

evidentemente). Uma versão, ouvida repetidamente durante a infância de uma mulher, era: “Cala-te que tu nasceste no espartão da

terra encarnada!”. 57 - CABRAL, 1889: 74.

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21

O progresso, como sempre, estava em marcha e, como sempre, ao seu próprio ritmo. O uso de

perfuradoras pneumáticas já era uma realidade na Mina de São Domingos mas ainda concorria

desvantajosamente em custo com a força de trabalho manual: “É assim que na perfuração de tunneis, quer

nos da mina, quer nos dos trabalhos acessorios, se tem recorrido ao emprego de perfuradoras Barrow, que

trabalham pelo ar comprimido, de que a empreza possui alguns exemplares, mas a que se recorre em

trabalhos em que a economia tem de ser sacrificada á brevidade da execução.”58

A última versão do caminho-de-ferro estava já instalada e podemos ter uma ideia de como era pelas

palavras do catálogo coordenado por Neves Cabral: “Alem das linhas ferreas de caracter mais ou menos

provisorio, que já indicámos e que servem para o transporte e extracção de minerios e entulhos da mina,

tanto nos trabalhos subterraneos, como na córta e na superfície, existem duas de construcção definitiva,

uma que liga a mina com o porto do Pomarão e outra, segunda via de parte da primeira, que liga a mina

com o estabelecimento da Achada do Gamo. A linha principal mede 18,210 kilometros e o percurso da

segunda linha é de cerca de 3 kilometros. Depois das varias transformações que tem soffrido esta linha, já

no seu traçado em planta e perfil, já no material, o raio mínimo das curvas é de 200 metros, a rampa

máxima é de 5,26 por cento, e a via, formada por carris de aço do systema Vignolles , mede 1,07 metros

entre as faces internas dos carris e está munida das necessárias agulhas e placas rotatorias.”59

Por essa altura, 1889: “O numero de operários empregados na mina de S. Domingos, apesar de

variavel com a maior ou menor actividade com que, em harmonia com as condições do mercado, se procede

a lavra, mantem-se sempre superior a mil, podendo attribuir-se-lhe uma media de 1400. Os seus salarios,

cujos minimo e maximo são respectivamente 200 e 960 réis, podem computar-se pela media de 383 réis,

que, apesar de baixa para trabalhos d’esta natureza, é sufficiente para que á empreza nunca faltem

operários que ali encontram condições de vida e um certo conforto e bem estar, que não é facil obter nos

58 - CABRAL, 1889: 70. 59 - CABRAL, 1889: 85.

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trabalhos ruraes, facto para que tem efficazmente contribuido também a facilidade de liquidação dos

trabalhos de empreitada, que são os predominantes… “60

Por esta altura a Mina de São Domingos estava lançada e experimentava mesmo os primeiros

solavancos. Os períodos de baixa de cotação do cobre e os de instabilidade macro regional e mundial

conduziram sistematicamente à quebra de produção e ao despedimento de trabalhadores, generalizando o

desemprego e a miséria na região. Entre altos e baixos a Mina de São Domingos virou o século, conheceu

em 1916 o seu pico como empregadora de mão-de-obra, com 2400 trabalhadores61

, atravessou a 1ª Grande

Guerra, lançou em 1932 a produção de enxofre para a Companhia União Fabril numa unidade nova na

Achada do Gamo, funcionando pelo sistema Orkla, reforçou esta capacidade em 1943 com uma segunda

unidade no mesmo local e, aproximando-se o fim das reservas minerais, preparou-se para encerrar a

exploração.

Durante o período de vida da mina a população trabalhadora foi sendo predominantemente

substituída por descendentes directos dos operários e empregados ao serviço. Uma expressão muito clara

deste procedimento é-nos dada pela leitura do Anexo V, que consiste numa lista de pessoas do serviço

ferroviário, maquinistas, fogueiros, limpadores, capatazes e empregados de estação. Esta lista é um

documento (a fotocópia de uma só folha dactilografada sem autoria) do acervo do Centro de Documentação

da Fundação Serrão Martins e descreve um momento final da história do empreendimento. O autor, além da

lista, acrescentou um pequeno conjunto de observações muito esclarecedor: “Verifica-se neste serviço o

seguinte: uma grande percentagem de maquinistas, fogueiros, e limpadores é natural do Monte dos Bens

(a).62

Dizia-se nos BENS, quando nascia um rapaz, que os familiares do recém-nascido pediam: Deus te

faça um bom Maquinista!”

60 - CABRAL, 1889: 93. 61 - Ver Anexo II. 62 - A letra (a) entre parêntesis indica as pessoas da lista originárias dos Bens.

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23

No fim da década de 50 do século XX a previsão apontava 1965 ou 1966 como o ano do

encerramento. Nos sete anos que mediaram, sondaram-se as possibilidades de reconversão da mina para uma

ou várias actividades industriais que pudessem ocupar a força de trabalho após o fim da actividade mineira.

É no Relatório da Comissão de estudo das possibilidades económicas de reconversão da Mina de

São Domingos63

que encontramos a informação reproduzida no Anexo III, referente a 1959. Nesse ano

estavam empregados na mina 1471 trabalhadores64

com a seguinte discriminação de ocupações, das

categorias mais povoadas para as menos: 919 operários diversos, 105 capatazes e encarregados, 65

escriturários, 62 assentadores de via, 39 maquinistas, 36 marítimos, 31 marteleiros, 31 ferreiros, 23

pedreiros, 21 carpinteiros, 19 serralheiros, 18 electricistas, 15 caldeireiros, 12 canalizadores, 9 criados,

cozinheiros e serventes, 9 motoristas, 9 torneiros, 5 fundidores, 5 enfermeiros, 4 caixeiros, 4 desenhadores, 3

soldadores, 3 fresadores e furadores, 2 contínuos, 1 ajudante de farmácia, 1 funileiro, 1 sacristão. A

distribuição destes trabalhadores pelos sectores específicos da mina pode ser seguida no referido relatório65

.

Vejamos, entre os 13 sectores distinguidos na operação do empreendimento, dois em particular (dados de 31

de Dezembro de 1959): na fábrica de enxofre existiam 257 operários, 17 capatazes e encarregados, 7

electricistas, 4 escriturários e um director da operação; no caminho-de-ferro existiam 54 assentadores de via,

46 operários diversos, 15 maquinistas e fogueiros, 9 capatazes e encarregados, 4 escriturários e um director

de operação.66

Em Janeiro de 1964 o número de trabalhadores na mina fora já reduzido a 1025. O Anexo IV contém

uma lista com a distribuição deste total pelas várias secções de operação e o tipo de contrato laboral regendo

a relação com cada um dos grupos profissionais. Das categorias mais povoadas para aquelas com menor

incidência: 450 operários na exploração interior, 104 no caminho-de-ferro, 75 nos serviços gerais, 66 na

63 - LEANDRO et al, 1960: 37. 64 - 164 trabalhadores tinham mais de 58 anos à data do relatório e atingiriam a idade de reforma até ao fim da vida activa do

empreendimento (LEANDRO et al, 1960: 23). Este relatório faz parte do acervo documental da Fundação Serrão Martins,

encontra-se digitalizado e pode ser pedido ao Centro de Documentação da fundação, na Casa do Mineiro

([email protected]). 65 - LEANDRO et al, 1960: 28-31. 66 - LEANDRO et al, 1960: 28.

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24

exploração exterior, 54 na preparação de carga e embarque, 33 carpinteiros e pedreiros, 2 na trituração.

Todos estes trabalhadores estavam contratados pelo acordo colectivo de trabalho para os operários mineiros

e ofícios correlativos. Para além destes existiam ainda os seguintes trabalhadores: 94 pelo contrato colectivo

de trabalho para as indústrias metalúrgicas e metalo-mecânicas, 34 pelo contrato colectivo de trabalho para

os profissionais de escritório, 31 pela lei geral, 4 empregados técnicos e de controlo fabril, 3 pelo contrato

colectivo de trabalho dos motoristas, 2 pelo contrato colectivo de trabalho dos ajudantes de farmácia.

A relação laboral, ao longo do empreendimento e de uma forma geral, consistiu numa procura, por

parte da empresa Mason & Barry, de assegurar a força de trabalho necessária e adequada para cada

momento com o menor dispêndio possível e o conjunto de condições de atractividade necessário e suficiente

(habitação, assistência médica, escolarização, ocupação de tempos livres, salário) e numa procura, por parte

da população assalariada, de melhoria do rácio esforço/benefício da relação. Se em 1883 Pedro Victor da

Costa Sequeira podia escrever que em S. Domingos nunca se tinham manifestado greves67

também é

verdade que podia relatar uma página antes que “Uma notável sedição que poz em risco a vida dos

empregados superiores da mina determinou em 1865 a requisição da força armada para manter a ordem

entre a população mineira.”68

, ou seja, no mesmo ano em que James Mason exibiu a Mina de S. Domingos

na Exposição Internacional do Porto a população local sublevou-se.69

A vinda do exército iniciou uma

permanência de uma década, sendo substituído em 1875 por um corpo de polícia privado.

A relação, como se pode depreender da leitura do Anexo II, foi várias vezes tensa. Dois excertos

finais permitem caracterizar a atitude genérica da empresa Mason & Barry face à população assalariada,

nomeadamente, a manutenção dos salários em níveis suficientes para a sustentação dos trabalhadores e seus

agregados domésticos.

67 - SEQUEIRA, 1883: 213. A formulação é: “ No estabelecimento S. Domingos nunca se teem manifestado greves. Este facto

deve atribuir-se ao cuidado que a empreza tem tido em estabelecer minimos, perfeitamente acceitaveis, para os trabalhos de

empreitada, em fornecer habitações commodas e baratas aos operarios, soccorros pecuniários, tratamento medico e medicamentos

gratuitos…” 68 - SEQUEIRA, 1883: 212. 69 - Ver também, sobre este assunto, o Anexo II.

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25

O relatório Memorandum of points raised during visit to Mina de S. Domingos of Commercial

Manager – November/December 1919 contém, sob o item Portuguese Employees on Monthly Pay, o

seguinte texto: “At a meeting of all chiefs it was emphatically pointed out that the recent rise of 200 reis a

day was not sufficient for employees on monthly pay. Attached is a list of these showing their present

monthly earnings (total) including all bonuses and showing proposed new total pay. The increases

suggested involve about £270 a year on clerks, and £280 a year with Capatazes, the increase for clerks

being 17% and for capatazes 17 ½ %. It is recommended that for these employees a flat rate should be once

more adopted, i. e., no bonuses. It is felt that this is the only course to pursue as the prospects of declining

food prices seem to be more remote than ever. But it was strongly emphasised that we should probably have

to adopt the same principle with the men’s pay at a fairly early date. The difficulty is the fact that a man’s

total earnings now are so much influenced from a comparative point of view by the size of his family.

Careful consideration was given to this subject and the conclusion come to was that the only possible way

would be to take the average amount of bonus paid to a man with five in family as a standard. This on our

present personnel would cost us 30/35 contos or about £4,000 a year – representing about 16d per ton.”70

O relatório equivalente àquele que acabámos de referir, para o ano de 1922, Memorandum of points

raised during visit to Mina de S. Domingos of Commercial Manager – Spring 1922, informa-nos sobre o

mesmo tipo de consideração numa situação em que as condições são diferentes. Sob o item E.1., Labour

Wages & Cost of Living, foi escrito o seguinte: “Immediately on arrival at the mine I was informed that the

Underground men were asking for an increase. As cost of living was actually slightly less than in December

last when last increase (was) made the General Manager said he could not recommend any increase. This

reply has been taken quietly. It would appear as if there were one or two agitators among the junior men.

Undoubtedly the wages and conditions of work at S. Domingos are better than any other Mine in Portugal.

The workmen appear quite happy and the womenfolk well dressed. Men also absent themselves more

frequently then formerly which indicates they are not very hard up, and Wine shops are very flourishing and

the Cinematograph packed to the door. All chiefs – except Mr. Clinch – do not favour the bonus system of a

70 - RICH, 1919: 23.

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26

month’s pay. At the moment labour is ample and as the harvest is bad there will not be such a large exodus

as usual.”71

Rui Guita

Mina de São Domingos

15 de Junho de 2011

Agradecimentos a Sara Ribeiro, Susana Colaço e Lea Fernandes pela assistência na preparação da

apresentação e da comunicação, à equipa organizadora e às instituições anfitriãs, assim como a Deolinda

Folgado pelo convite para apresentar a Mina de São Domingos e a Fundação Serrão Martins no encontro O

Mundo do Trabalho no Sul de Portugal.

71 - RICH, 1922: 14.

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in Revista de Obras Publicas e de Minas, Tomo XV, nºs 165 e 166, Lisboa, Imprensa Nacional,

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72 - O relatório faz parte da Pasta de Arquivo Reports on Visits to Mine and General Manager’s Visits to London (1914-1922) do

acervo da FSM. 73 - O relatório faz parte da Pasta de Arquivo Reports on Visits to Mine and General Manager’s Visits to London (1914-1922) do

acervo da FSM.

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30

ANEXOS

I

1867

Copy of agreement signed by portuguese fitters in Lisbon

22nd

April

Os abaixos assignados contrataram com João Rodrigues Blanco, como agente do exmo. Sr. Barão de

Pomarão, o irem trabalhar como officiaes e aprendiz do officio de serralheiro que exercem, na Mina de S.

Domingos debaixo das seguintes condições.

1ª que eles se comprometem a partirem para aquela localidade por toda a semana corrente

2ª que chegados que sejam alli se comprometem a trabalharem pelo seu officio com zelo e

actividade, e sujeitando-se as practicas e regulamentos alli estabelecidos.

3ª o exmo. Sr Barão se obriga a dar-lhe este trabalho durante seis meses do dia da sua chegada a

mina – a pagar-lhes nove libras por mês aos três officiais e quatro libras ao aprendiz – a addiantar-lhes um

mês de ordenado, que será descontado, metade no vencimento do 2º mês de serviço e a outra metade no

terceiro mês –

4ª que a obrigação de lhes dar trabalho durante 6 meses só poderá cessar no caso de algum ou alguns

d´elles operários commeterem algumas faltas graves no seu serviço ou faltarem aos regulamentos e practicas

estabelecidas na mina.

Estando concordes nestas condições e tendo recebido

Alexandre Lino, quarenta mil e quinhentos reis

Gabriel José Ferreira Neves, quarenta mil e quinhentos reis

Caetano José Ferreira, quarenta mil e quinhentos reis

José Valente da Costa, dezoito mil reis

Assignaram todos este compromisso em Lisboa aos 22 de Abril de 1867. (assignado) Por mim e por

Alexandre Lino = Gabriel José Ferreira Neves = Caetano José Ferreira = José Valente da Costa

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31

II

- Mina de S. Domingos, 150 anos de História,

“Do Rosto que Olha para Terra”

Painel A

Mineiros, barreneiros, safreiros, entivadores, fundidores, serralheiros, caldeireiros, mecânicos,

fogueiros, funileiros, apontadores…Algumas das profissões de uma mina que chegou a ter cerca de 2400

empregados (1916). Ao longo da sua história repetiram-se os episódios de revolta dos “mineiros”,

reivindicando melhores condições de trabalho e de vida, ordenados mais justos, coisas tão simples como

água potável para beber. A primeira revolta em São Domingos teve lugar a 3 de Maio de 1865. Os mineiros

exigiam o pagamento dos trabalhos de extracção de minério. Alguns feridos e 10 presos marcaram esta

jornada de luta.

Em 1875, a Mason & Barry constitui um corpo de polícia privada. Em 1907, entre 28 de Agosto e 5

de Setembro, uma greve obriga à diminuição do horário de trabalho de 12 para 10 horas. Em 1911, ano

marcado pela criação da Associação dos Trabalhadores de Mineral do Pomarão, os mineiros e os barreneiros

provocam uma peonada que fixa em 8 as horas de trabalho diário. Em 1924, são presos os operários mas

activos do grupo anarquista União e Progresso (criado em 1923), ao mesmo tempo que era criado o

Sindicato dos Mineiros de S. Domingos. Em 1927, mais prisões em massa, entre os quais Manuel Patrício,

irmão de Valentim Adolfo João, conhecido sindicalista.

É no rescaldo dessas prisões e da situação de violência que se abate sobre os mineiros de S.

Domingos que Ferreira de Castro visita a mina, em 1929. A sua reportagem não passou às mãos da censura e

só seria publicada a 30 de Maio de 1974. No ano seguinte inicia-se a publicação d’A Voz do Mineiro, são

editados 22 números, ano em que a mina de S. Domingos serve de sede ao Sindicato dos Mineiros do

Distrito. Em 1931, entre 12 de Novembro e 6 de Dezembro, greve, por melhores condições de trabalho,

redução dos dias de trabalho e aumentos salariais. A 12 de Outubro de 1932, inicia-se a maior greve jamais

realizada na aldeia mineira, tendo durado 26 dias. São feitas várias prisões e despedidos cerca de 50

mineiros e activistas. A violência abateu-se sobre a aldeia, tendo as forças de cavalaria atacado, inclusive,

um funeral que se dirigia para Corte do Pinto. O Sindicato foi extinto. A criação do Sindicato Nacional dos

Operários Mineiros e Ofícios Correlativos do Distrito de Beja, a 15 de Outubro de 1937, e o aumento da

repressão policial e política, muito motivada pela reacção à Guerra Civil de Espanha, acabam de vez com os

movimentos operários em S. Domingos.

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32

III

Pessoal Empregado na Mina de S. Domingos

Em 31 de Dezembro de 1959

III – resumo por categorias

=======================

Categorias Por idades

Até 41

anos

De 42 a 58

anos

De 59 a 66

anos

Mais de 66

anos

Total

A – Pessoal Superior

B – Escriturários

C – Capatazes e

encarregados

5

31

19

4

30

65

1

4

16

1

-

5

11

65

105

D – Ajudantes de

Farmácia

E – Assentadores de via

F - Caixeiros

1

21

3

-

30

1

-

9

-

-

2

-

1

62

4

G – Caldeiros

H – Canalizadores

I – Carpinteiros

4

4

6

11

8

13

-

-

2

-

-

-

15

12

2

J – Contínuos

K – Criados, cosinheiros

e serventes

L - Desenhadores

2

2

3

-

3

1

-

2

-

-

2

-

2

9

4

M – Electricistas

N – Empregados do

laboratório de análises

químicas

O - Enfermeiros

7

3

2

11

5

2

-

-

-

-

-

1

18

8

5

P – Ferreiros

Q – Fresadores e

furadores

R - Fundidores

3

1

1

25

2

3

3

-

1

-

-

-

31

3

5

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33

S – Funileiros

T – Maquinistas

U – Marteleiros

V - Motoristas

-

6

10

5

1

25

20

2

-

6

1

2

-

2

-

-

1

39

31

9

X – Operários diversos

Y – Pedreiros

Z – Pessoal marítimo

ZA - Sacristães

427

12

13

-

411

11

7

1

72

-

8

-

9

-

8

-

919

23

36

1

ZB – Serralheiros

ZC – Soldadores

ZD - Torneiros

4

-

3

9

3

5

5

-

1

1

-

-

19

3

9

Totais Gerais 598 709 133 31 1 471

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34

IV

NÚMERO DE TRABALHADORES AO SERVIÇO DA EMPRESA MASON & BARRY, LIMITED NA

MINA DE S. DOMINGOS, NO MÊS DE JANEIRO DE 1964, como segue:

31 Lei geral

34 Pelo contrato colectivo de trabalho para os profissionais de Escritório

450 Pelo acordo colectivo de trabalho para os operários mineiros e ofícios correlativos – EXPLORAÇÃO

INTERIOR

66 Pelo acordo colectivo de trabalho para os operários mineiros e ofícios correlativos – EXPLORAÇÃO

EXTERIOR

2 Pelo acordo colectivo de trabalho para os operários mineiros e ofícios correlativos – SECÇÃO DE

TRITURAÇÃO

104 Pelo acordo colectivo de trabalho para os operários mineiros e ofícios correlativos – SECÇÃO DE

CAMINHO DE FERRO

73 Pelo acordo colectivo de trabalho para os operários mineiros e ofícios correlativos – SECÇÃO DE

PREPARAÇÃO, CARGA E EMBARQUE – ACHADA DO GAMO

54 Pelo acordo colectivo de trabalho para os operários mineiros e ofícios correlativos – SECÇÃO DE

PREPARAÇÃO, CARGA E EMBARQUE – POMARÃO

75 Pelo acordo colectivo de trabalho para os operários mineiros e ofícios correlativos – SERVIÇOS

GERAIS

33 Pelo acordo colectivo de trabalho para os operários mineiros e ofícios correlativos – SERVIÇOS

GERAIS – CARPINTEIROS E PEDREIROS

94 Pelo contrato colectivo de trabalho para as indústrias metalúrgicas e metalo-mecânicas

4 Empregados Técnicos e de Controlo Fabril

3 Pelo contrato colectivo de trabalho dos Motoristas

2 Pelo contrato colectivo de trabalho dos Ajudantes de Farmácia

1025 Total de trabalhadores ao serviço (Empregados e operários)

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35

V

MINA DE S. DOMINGOS

Caminho-de-ferro – Serviço de Maquinistas, Fogueiros e Limpadores

Capatazes

Domingos José (a)

Jerónimo dos Santos

Maquinistas e Fogueiros Limpadores

Manuel Eugénio Afonso Joaquim Constantino

Manuel Barão Medeiros (a) José António Evaristo

Inácio Marçalo Leonardo Barão (a)

Manuel Zacarias (a) Francisco Mira

Domingos Neves (a) Domingos Reis Barão (a)

José Barão António (a) Vitoriano António Mestre (a)

Manuel Barão dos Santos (a) António Manuel Jacinto

António Madeira (Serra) Manuel Francisco (Vapor)

Manuel Domingos da Eira António Salvador Rosa

Manuel António Correia (a) José Dias Teixeira

António Torres Pereira João Gualdino do Carmo

Mariano Francisco dos Reis

Francisco Marques (a) Empregados de

Estação

Domingos Correia Lourenço Telheiro: José Afonso Aleixo

Domingos António Jacob(a) Salgueiros: Maria Sande Coriel

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36

António José dos Santos (a) (Sr. Maria da Estação)

Joaquim Bento Corte Machado: António Joaquim Pereira

Manuel Jacinto Altura Santana:

Manuel António (a)

Augusto Luís

António Guerreiro

Manuel Luís

António Barão (a)

António André

João da Palma Borges

António Lopes Lourenço

Verifica-se neste serviço o seguinte: uma grande percentagem de maquinistas, fogueiros, e

limpadores é natural do Monte dos Bens (a).

Dizia-se nos BENS, quando nascia um rapaz, que os familiares do recém-nascido pediam: Deus te

faça um bom Maquinista!

O maquinista Manuel Barão dos Santos foi a primeira pessoa a conduzir a locomotiva “José

Danino”, tendo sido premiado, por esse motivo, pelo próprio inglês José Danino com um relógio de

bolso.

FIM