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A MENINA QUE SABIA DE TUDO

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A MENINA

QUE SABIA

DE TUDO

Maria França

A MENINA

QUE SABIA

DE TUDO

Revisão: Nadir de Santana

Capa e diagramação: Maria França

1ª Edição - 2014

São Paulo

ISBN:978-85-8196-827-8

PREFÁCIO

Maria não nasceu chorando. Nasceu sorrindo para a

parteira, já achando graça da situação. Maria é uma

dessas raras pessoas que todo mundo quer ter por

perto. De espírito leve e altruísta, bem-humorada e com

uma capacidade incrível de espantar do cotidiano da

vida aquela seriedade que com o tempo se transforma

em amargura. Maria revela em suas crônicas que só

haverá rotina enfadonha na vida se nós permitirmos e

que o bom humor e a simplicidade são o caminho para

sermos felizes.

Maria Felícia

Agradecimentos

Às minhas famílias:

maranhense

paraense

paulistana

À Nadir,

minha amiga querida

que além de personagem,

a incentivadora

e dos textos, a revisora.

Aos amigos que viveram comigo as

histórias que pude contar.

SUMÁRIO 7................O choro da lagartixa 13............A menina que sabia de tudo 20...............Cuncum 24............O quintal 29............. O embaixador 36.............Parábolas 40............. A aposentadoria 44.............O bicho folharal 49..............A capital 54.............Festa junina 58..............O nascimento de uma lenda 63.............Questão gastronômica 68..............Cócegas 72.............Na Imigrantes 77..............O buquê 80.............A vida imita a arte 84...............Caipira, quem? 88.............O nervo ciático 92...............Tufão 95.............O jogo de futebol 99............... O azedinho 103...........A lição de estatística 106..............Confusão no estacionamento 112...........A mesa 117.............. Coceira nas mãos 121...........Reciclando 125...............A barata e o boi 131..........No cinema 135...............À amiga 139..........Gratidão literária

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O choro da lagartixa

O fardão de João Ubaldo. Uma herança imortal, mas

nós “morrendo” de rir.

A TV da cozinha dava conta do enterro de João Ubaldo.

Enquanto esperávamos o cafezinho que eu fazia, íamos

falando de como seria a operação para sermos

herdeiras do tão falado fardão. O fardão, esse traje

confeccionado em sarja inglesa na cor verde escuro

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com ramos de café bordados em ouro, o que o

encarece, segundo as prefeituras, já que elas, em

primeiro lugar, é quem deve oferecer a roupa ao seu

ilustre filho. Se a cidade for muito pobre, o Estado é

quem lhe fornecerá. De nós quem se achava mais

habilitada era eu:

- Assim como ele, vim de uma ilha. A dele, Itaparica –

BA, a minha no MA. Não vou dizer o nome agora para

que o prefeito não fique preocupado, já que vai ter que

desembolsar algo em torno de uns setenta mil reais,

para pagamento da peça. Não é uma despesa comum.

- Não se esqueça que é caro. Possui fios de ooouuro.

Outro problema sério, levantado ali, na cozinha, é quem

iria pagar. Espero que não tenha tanta discussão, como

no caso de FHC (Fernando Henrique Cardoso). As

prefeituras de RJ e SP levaram dias argumentando pelo

direito de dar-lhe o formoso presente. Por isso, dizia à

minha amiga:

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- Nasci no MA, vivi muito tempo no PA e há bastante

tempo em SP. Será que vai dar briga?

Melhor se unirem prá não ficar pesado prá ninguém,

incluindo a minha ilhota. Mas acho, que como é para a

ABL, quem deveria pagar era o DF, assumiria o caráter

nacional do fardão.

ABL para quem não sabe é Academia Brasileira de

Letras. Dinheiro arrumado, vamos à obra.

- É, a Obra. Essa sim é a mais difícil. Ela começou e

continuou:

- Você tem pelo menos uma frase, algum escritinho,

para concorrer assim pelo fardão?

Ela também não tinha, mas ficou me cutucando. Eu

argumentei:

- Sei que tem muita gente, escritor, de olho no Fardão,

uns também de primeira viagem, como ela. Neste

momento aparecia na TV da cozinha, Fernanda Torres,

a filha da Fernanda Montenegro, dando uma entrevista.

Dias atrás ela esteve no Jô, falando do livro FIM, que

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ela escreveu, que pelo jeito era bom, pois ficava até em

pé e segundo a avó dela, isso por si só já era um bom

sinal. Falando em Jô, o Soares, um concorrente de

peso. Rimos pelo “de peso”. O café ficou pronto:

- Uma delícia, aprovou ela.

Continuou me cobrando a obra. E eu prá ganhar tempo:

- Tá bom, tá bom. Amanhã vou começar a fazer um

curso de redação, destes que tem na internet e em

vinte e quatro horas você já sabe tudo. Vais ver!

Depois desta ameaça rimos a valer da nossa ousadia.

Nisso, ela está na minha frente, já que é dada às

Letras, é professora dos idiomas, mas no resto,

estamos no mesmo barco, queremos nos eternizar.

Uma hora a gente acha que é melhor plantar uma

árvore, mas uma, diz:

- Árvore demora prá crescer!

Não tivemos filhos e adotado não vale. Passou. Só nos

resta mesmo, para o caso da eternização, eu disse:

- Escrever um livro.

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Sei que bastaria. Mas, pode-se querer também o

fardão, o Fardão do João Ubaldo. Outra sessão de

risos.

Vale a intenção. Falando em intenção eu comecei a

dizer e ela me interrompeu:

- Para, para. Certeza. Sei que já sabes sobre a Obra.

- É, comecei. E se a gente reescrever aquela obra do

Ubaldo? Aquela que fala do não sei o quê do lagarto.

- O Sorriso do Lagarto, disse a cutucadora.

Não pode ser com o mesmo nome. Lógico que eu sei

disso, mas a ideia é a seguinte:

- Vamos mudando tudo no livro, sinonimizando todas as

palavras. A gente muda a numeração das páginas, por

exemplo: se é numeral cardinal a gente põe em

algarismos romanos.

Rimos muito desta grande mudança.

- Mudamos a capa, é fundamental, disse ela.

- A gente ajeita o livro bem ajeitadinho, uma cor bem

diferente.

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- E o nome? Ela queria saber.

- O que você acha de “O Choro da Lagartixa”?

Na cozinha agora, era só risadas, gargalhadas mesmo.

Que bom é rir assim!

Isso sim é que é ser eterno, como João Ubaldo.

- Sua obra.

- O seu Casaco!

- Vá em paz, João!